Madalena Heinen Ufsc

  • October 2019
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  • Pages: 10
JOSEPH CORNELL E O APRENDIZADO SEQÜENCIAL Uma interface entre a educação ambiental e a filosofia com crianças jovens e adultos Madalena Heinen* [email protected]

O seu humano está cada vez mais afastado da natureza. As informações de que o meio ambiente deve ser respeitado e preservado estão sendo mais e mais divulgadas mas atitudes respeitosas ainda não estão presentes na vida da maioria das pessoas. Por quê? Talvez porque as pessoas estejam tão distantes dos ambientes ditos naturais que a natureza não tem significado para elas. Não nos sentimos responsáveis pelo que não faz parte de nossas vidas. Não respeitamos, admiramos nem sentimos necessidade de conservar o que não temos por importante. A proposta de Joseph Cornell é aproximar o ser humano da natureza para mudar o cenário descrito acima. Joseph Cornell é um dos principais educadores naturalistas do mundo. Possui trabalhos voltados para a sensibilização em relação à natureza. Seu método de ensino pode ser usado em variadas situações e com grupos etários diversos. O presente trabalho tem como objetivo divulgar a proposta de Cornell para que esta valiosa forma de educar seja cada vez mais utilizada, transformando o aprendizado em uma atividade agradável, divertida e realmente marcante. Todas as idéias e metodologias aqui apresentadas foram extraídas de três livros do autor: “Brincar e aprender com a natureza” (Cornell, 1996); “A alegria de aprender com a natureza” (Cornell, 1997) e “Vivências com a natureza” (Cornel, 1998), assim como informações do Instituição da graduação: Universidade Federal de Santa Catarina Telefone para contato: (51) 302207108 Endereço: Rua Chile, 284/401 / Bairro Jardim Botânico / Porto Alegre – RS. CEP 90670-140 *

Instituto Romã, representante oficial da Sharing Nature Foundation no Brasil. Os livros de Cornell são escritos numa linguagem simples, como se fosse uma conversa em que são dadas sugestões de atitudes e são contadas experiências. Tentou-se manter esta mesma linguagem no presente texto. Vida e Obra Joseph Cornell iniciou suas atividades como educador ambiental no início da década de 1970. Com o tempo e a prática começou a perceber que muitas pessoas se interessavam por passeios ao ar livre, mas não sabiam como tirar o melhor de suas visitas, não conseguiam realmente sentir a natureza, o que impedia o aproveitamento ideal das atividades de educação ambiental. Sendo ele, desde muito jovem, uma pessoa com forte ligação com os mistérios e belezas da natureza, começou a dedicar-se a mostrar aos outros essas maravilhas. Adaptou e criou diversas atividades dinâmicas e eficazes no aprendizado de pessoas de todas as idades. Já em 1979 lançou seu primeiro livro: "Sharing Nature with children", que foi traduzido para o português em 1996. Após o sucesso desse livro e o desenvolvimento de workshops em todo o mundo, o professor Cornell foi percebendo que a ordem em que utilizava as atividades era muito importante para conseguir a atenção, envolvimento e empatia dos participantes. Foi assim que ele criou a metodologia do Flow Learning que, em português, recebeu o nome de Aprendizado Sequencial. Esta metodologia está detalhada em seu livro "Sharing the Joy of Nature", traduzido para o português em 1997 por “A Alegria de Aprender com A Natureza”. Também em 1979 criou a Sharing Nature Foundation, dedicada ao desenvolvimento e difusão de atividades facilitadoras da interação dos

indivíduos com a natureza. A sede da fundação fica na comunidade de Ananda, município de Nevada, Califórnia, uma comunidade voltada para o desenvolvimento espiritual que segue os ensinamentos do grande mestre indiano Paramahansa Yogananda. Estes ensinamentos permeiam profundamente toda a proposta da Sharing Nature, porém de forma sutil e respeitosa, buscando tocar a alma humana naquilo que ela tem de universal, indo além das identidades culturais e/ou religiosas (Instituto Romã, 2007). Algumas sugestões para ensinar bem Segundo Cornell (1998, p 25), existem algumas regras básicas para trabalhar de modo eficiente com crianças e a natureza. São regras de respeito pelas pessoas e reverência pela natureza, exemplos de como interagir com a natureza e com os colegas que fazem parte do ensinamento. Essas servem não só pra ensinar bem, mas para viver bem. 1. Ensine menos e compartilhe mais. Informações como o nome e as principais características de uma espécie podem ser rapidamente esquecidas se não forem atreladas a experiências pessoais, impressões e questionamentos que nos despertem interesse por ela. Da mesma forma a reação das crianças diante de uma nova descoberta despertam no educador um respeito e admiração ainda mais profundos pela espécie em questão e assim se faz a troca de experiência em que todos ganham. 2. Seja receptivo. Receptividade significa ouvir e estar atento. Cada pergunta, cada comentário ou exclamação e uma oportunidade para a comunicação, uma oportunidade de ampliar o interesse da criança a partir de sua própria curiosidade. Um passeio de um grupo de pessoas em

um

ambiente

natural

é

extremamente

rico

em

situações

emocionantes e interessantes, tanto no que diz respeito às reações das pessoas, quanto ao que está acontecendo no ambiente. Ser receptivo é estar atento a esses dois universos de possibilidades. Não há como planejar exatamente o que o grupo verá durante uma caminhada por uma floresta, por exemplo. O planejamento deve ser feito passo-apasso de acordo com o que se apresenta e com as reações provocadas. 3. Concentre a atenção dos participantes. Alguns deles não estão acostumados a observar o mundo e precisam que lhes seja chamada a atenção para o que está a sua volta. Podem-se fazer perguntas intrigantes, perguntas sem resposta, ou mesmo perguntas facilmente respondidas, mas que estimulam o olhar, o escutar, o sentir. Pode-se ainda indicar sons, cheiros, aspectos interessantes. 4. Observe e sinta primeiro; fale depois. Não se preocupe em explicar o que está acontecendo, não se preocupe por não saber o nome das plantas e animais que ali estão. Sinta, questione, tente adivinhar e estimule os participantes a fazerem o mesmo, sem medo de errar. Divirta-se.

Assim

você

passará

de

professor

a

companheiro

de

aventuras. 5. Um clima de alegria deve prevalecer durante a experiência. As crianças, assim como os adultos, estão mais dispostas a aprender e participar quando há uma atmosfera de alegria e entusiasmo. O entusiasmo é contagiante e essa, talvez, seja sua ferramenta mais poderosa como educador. Da mesma forma deve-se cuidar para não passar uma sensação de medo e desconforto diante do desconhecido que é aquele ambiente natural. Alguns educadores podem ficar preocupados com picadas de insetos ou aranhas, com a possibilidade de encontrar uma cobra ou outro animal “perigoso”. Porém demonstrar temor poderá afastar as pessoas daquele ambiente e torná-lo algo indesejado, hostil, que deve ser destruído, ou ao menos, deixado longe do seu cotidiano. Para que o

educador fique tranqüilo durante toda a vivência é importante conhecer o local, as espécies que possam oferecer algum perigo e se informe sobre o melhor jeito de agir caso alguma delas cruze o seu caminho. Essas informações servem para dar tranqüilidade, mesmo que nunca sejam colocadas em prática . É importante lembrar que as atividades propostas por Cornell são ideais para o ar livre, mas também podem ser feitas em lugares fechados, em dias

de

chuva.

Existem

inúmeras

atividades

que

proporcionam

“experiências com a natureza” com a ajuda da imaginação para quando não há espaços verdes disponíveis. Sendo assim, para colocar em prática essas atividades, não há restrições quanto ao local. Também não há restrição quanto ao grupo participante: crianças, jovens e adultos podem se divertir e vivenciar a natureza. Há diversos relatos de grupos desestimulados, de jovens rebeldes, adultos céticos, que acabaram surpreendendo pelo grande envolvimento nas atividades. Cabe ao educador perceber a atividade mais adequada a cada situação e grupo. Muitas vezes um grupo desestimulado desestimula também o educador. Nessa situação é importante deixar de lado os preconceitos e acreditar que todos têm uma capacidade latente de participar do passeio de forma agradável e levar o melhor de cada atividade proposta. "Quanto mais acreditamos no alto potencial das pessoas, melhores condições temos de extrair seus mais altos sentimentos e aspirações" (Cornell, 1997, p.158). Aprendizagem seqüencial Cornell diz que no decorrer dos anos conduzindo atividades relacionadas à natureza, passou a compreender que havia uma seqüência para que as

brincadeiras

e

atividades

se

tornassem

mais

produtivas,

independentemente da idade dos participantes, do seu estado de

espírito ou do local onde as atividades se realizavam. Concluiu que as pessoas reagiam melhor a essa seqüência porque ela se harmonizava a determinados

aspectos

da

natureza

humana.

Assim

surgiu

o

Aprendizado Seqüencial - um sistema de quatro estágios que fluem de um para o outro de forma suave e natural (Cornell, 1997, p. 15). São eles: ESTÁGIO 1: Despertar o entusiasmo Sem entusiasmo não é possível ter uma experiência significativa com a natureza. Não se trata de pulos de alegria ou uma empolgação descontrolada pois isto também atrapalha o aprendizado, mas de um fluxo calmo e intenso de interesse e uma dose de vitalidade. Sem esse tipo de entusiasmo aprendemos muito pouco. Como o nome diz, este é um estágio ativo e as brincadeiras devem gerar um intenso fluxo de energia. Você saberá que atingiu o objetivo se todos estiverem participando com alegria e entusiasmo. Os primeiros minutos de um grupo ao ar livre são extremamente importantes pois as pessoas percebem desde o início se uma atividade será divertida ou não. Prove que você é capaz de diverti-las. Se começar animado é quase certo que o grupo participará até o fim. Qualidade: Divertimento e Entusiasmo Vantagens: 

desenvolve na criança o gosto de brincar;



cria um ambiente de entusiasmo;



um começo dinâmico estimula uma maior receptividade;



incentiva um alto grau de atenção e supera a passividade;



cria envolvimento;



reduz problemas de disciplina;



estabelece uma aproximação com o educador;



cria uma boa dinâmica de grupo;



proporciona direção e estrutura;



prepara para as atividades mais sensíveis dos estágios seguintes.

ESTÁGIO 2:

Concentrar atenção

O entusiasmo sozinho não é suficiente. Se os pensamentos se dispersam, não teremos condições de observar a natureza ou outra coisa qualquer. Então precisamos encaminhar esta energia para uma tranqüila concentração. Para observarmos a natureza necessitamos acalmar nossas mentes. Porém, se você começar com esse tipo de atividade as pessoas estarão muito agitadas para apreciá-las. O estágio 2 é uma ponte entre as brincadeiras enérgicas e divertidas do estágio 1 e as brincadeiras que requerem atenção tranqüila e concentrada do estágio 3. Durante o estágio 2 é importante ficar atento ao grau de entusiasmo e receptividade do grupo. Antes de finalizá-lo pergunte a si mesmo: “este grupo está pronto para experiências que despertem ainda mais sua sensibilidade?”. Caso negativo, utilize sucessivas atividades deste estágio. Qualidade: Receptividade Vantagens: 

aumenta o nível de atenção;



aumenta a percepção por meio da atenção concentrada;



canaliza do modo positivo o entusiasmo gerado no estágio 1;



desenvolve habilidades perceptivas;



tranqüiliza a mente;



desenvolve receptividade para experiências mais sensíveis com a

natureza. ESTÁGIO 3: Dirigir a experiência Concentrados, captamos melhor o que vemos, ouvimos, tocamos, cheiramos e sentimos. Absorvemos o que está à nossa volta. A atenção concentrada gera uma calma interior que pode até mesmo superar medos que as pessoas possam ter de algum elemento da natureza. Apesar de o estágio 2 e 3 serem semelhantes, diferem pelo maior potencial que os jogos do estágio 3 para envolver de uma forma direta as pessoas na natureza. Por exemplo, se as pessoas são privadas da visão, com vendas nos olhos, ou no escuro, tornam-se mais atentas às informações recebidas dos outros sentidos e percebem o ambiente de uma forma nova. Cada atividade do estágio 3 tem a finalidade de intensificar um ou mais sentidos para um contato direto com a natureza. As experiências diretas são necessárias para desenvolver sentimentos de amor e preocupação pela Terra, e de admiração pelo mundo que nos rodeia. Caso contrário, as pessoas passarão a conhecê-la de um modo superficial e teórico. Qualidade: Absorção Vantagens: 

facilita o aprendizado por meio de descobertas pessoais;



proporciona compreensão direta, excepcional e intuitiva;



incentiva a admiração, a empatia e o amor;



desenvolve comprometimento pessoal com os ideais ecológicos.

ESTÁGIO 4: Compartilhar a inspiração O quarto estágio é o compartilhamento da inspiração porque a ação de compartilhar intensifica e esclarece nossas próprias experiências. É a

oportunidade para as pessoas falarem a respeito das experiências que tiveram enquanto participavam das atividades. Também é muito importante para o guia perceber o que foi importante e o que pode ser melhorado para as atividades com o próximo grupo. Você pode se surpreender com o que será narrado neste momento. Muitas vezes fatos muito simples e aparentemente sem importância, tocam profundamente uma pessoa. Ou um aluno que parecia não estar totalmente envolvido com as atividades dá um depoimento que emociona a todos. Você também pode pedir que os participantes se expressem através de gestos,

desenhos,

poesia...

Todos

devem

ser

encorajados

a

se

manifestar da forma que acharem mais válida. É possível também que algum deles não queira se manifestar, o que deve ser respeitado. Neste momento, o guia pode compartilhar sua inspiração contando histórias

de

grandes

naturalistas

ou

colocando

reflexões

aos

participantes. Qualidade: idealismo Vantagens: 

aclara e fortalece as experiências pessoais;



eleva o estado de espírito;



introduz modelos inspiradores da vida de outras pessoas;



reforça o sentido de união entre os participantes;



aproxima o grupo;



cria um ambiente de união e participação;



fornece referências ao educador;



oferece ao educador a possibilidade de compartilhar a inspiração

com um grupo receptivo. Cornell e a Filosofia com crianças

O Aprendizado Seqüencial, sendo uma ferramenta para aguçar nossa percepção da natureza, acaba por aguçar nossa percepção de mundo, das relações ser humano - natureza, ser humano - ser humano e de todas as relações que pudermos enumerar. Esta é a interface do Aprendizado Seqüencial com a filosofia com crianças, jovens e adultos. A partir das atividades propostas por Cornell podemos criar tantas outras que se adaptam aos interesses e objetivos de cada aula ou atividade. Da mesma forma as "sugestões para ensinar bem" não se restringem às atividades de Educação Ambiental, mas podem ser aplicadas a todas as áreas da vida, inclusive pessoal. A simplicidade das idéias de Cornell e sua ampla aplicabilidade é o que as torna tão especiais sendo assim tão importante a sua divulgação. Bibliografia CORNELL, J. Brincar e aprender com a natureza - guia de atividades infantis para pais e monitores. São Paulo: Companhia Melhoramentos, Ed. SENAC, 1996. 121p. CORNELL, J. A alegria de aprender com a natureza - atividades ao ar livre para todas as idades. São Paulo: Companhia Melhoramentos, Ed. SENAC, 1997. 186p. Instituto Romã. Disponível na internet http://www.institutoroma.com.br. Visitado em 23 mar. 2007

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