Lopes, Marcelo. Praticas Espaciais..docx

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MARCELO LOPES DE SOUZA, PRÁTICAS ESPACIAIS

O autor faz inicialmente um pequeno retorno às questões da geografia, lembrando os avanços a partir de 70 com a “desnaturalização” do espaço, sendo então, o espaço geográfico, também e, sobretudo, espaço SOCIAL, proporcionando assim a historicização da relação entre sociedade e natureza. Ele alerta ainda, que esse destaque para os processos e fenômenos sociais pode ter provocado, em alguns casos, uma desvalorização dos processos geoecológicos, colando que em sua perspectiva, isso não era necessário. Ele traz com ênfase que o espaço é produto e condicionador das relações sociais, acreditando, portanto que não há como mudar as relações sociais sem mudar também a organização espacial. Ele acredita que a justiça social não deve ser apenas uma questão de mudanças nas relações sociais, mas deve envolver também mudanças no espaço social. A justiça social só poderia ser alcançada pela mudança sócio-espacial. Assim, as práticas humanas que se orientam para a mudança, para busca da justiça social, não são apenas práticas sociais, são também práticas espaciais. Ele acredita que elucidar e valorizá-las é necessário. Portanto, quaisquer transformações sociais – sejam elas, conservadoras ou emancipatórias – são impensável à revelia do espaço. Para pensar (estudar) as relações sociais, é preciso pensar (estudar) junto o espaço – ao contrário do que muitos cientistas sociais têm feito, ignorando esse ponto. Ao contrário, deve-se também tomar cuidado para não cair no perigo do fetichismo espacial, onde se exagera o papel do espaço e as imbricações entre ele e as relações sociais em suas tantas dimensões. Para evitar esse perigo, é importante valorizar os agentes sociais e suas relações entre si. O conceito de prática espacial faz a ponte entre as relações sociais e o espaço. Ele traz a contribuição de Lefebvre que aponta a prática espacial como a projeção sobre o terreno dos aspectos, elementos e momentos da prática social. Ainda argumenta que a prática espacial expele (secreta) o espaço, produzindo-o e se apropriando dele, em uma relação dialética. Assim, para descobrir as práticas espaciais de uma sociedade, tornar-se-ia necessário inicialmente, desvendar o seu espaço. O autor utiliza essas noções de Lefebvre como uma aproximação inicial do conceito de práticas espaciais, como contribuições, para adaptá-las e recontextualizálas a partir dos seus entendimentos. Para o autor, a prática espacial é uma prática social, mas não necessariamente um subconjunto delas. Da mesma forma que não existe prática espacial que não é social, não existe também uma prática social que seja totalmente e completamente

desvinculada do espaço. Portanto, as práticas espaciais são aquelas em que o vínculo com o espaço é mais direto, denso, complexo; são um tipo particular de prática social em que a espacialidade é central, destacada e nítida (seja em termos de organização do espaço, territorialidade, lugaridade, etc.) da forma de organização, do meio de expressão ou dos objetivos a serem alcançados com tal prática. Toda prática espacial (e mais amplamente, toda prática social) é uma ação ou um conjunto de ações inscritas em relações sociais. Por isso, o autor articula os conceitos de relações sociais e ação social à prática espacial. No sentido weberiano, a ação remete a interação. A ação social é aquela que possui sentido, significado e é direcionada ao outro (direta ou indiretamente). As relações sociais são a trama formada pelo conjunto das ações dos múltiplos agentes, são o resultado das ações individuais compartilhadas. As práticas sociais que dependem da dimensão espacial de maneira indireta, fraca ou sem complexidade não podem ser consideradas práticas espaciais. Estas, por sua vez, são carregadas densamente de espacialidade, sendo que essa carga espacial pode se mostrar em aspectos da identidade (individual ou do grupo) e também da organização espacial (política, por ex.). As práticas espaciais podem ser heterônomas – mais comuns e perpetuadas pelos grupos dominantes – que visam, por exemplo, a dominação, imposição, hierarquias rígidas, submissão. São exemplos: a (auto)segregação, o confinamento, a interdição de acesso, o monopólio ou oligopólio dos recursos espaciais exploração do trabalho. Podem ser também práticas espaciais autônomas (ou contra a heteronomia), visando a emancipação, o autogoverno, a autodeterminação. Corrêa faz uma classificação de práticas espaciais das corporações empresariais capitalistas, podendo ser: de seletividade espacial (seleção de localizações por prioridades estabelecidas para controle da organização do espaço); de fragmentação espacial (de cunho político para a subdivisão de unidades espaciais ou ao reagrupamento delas); marginalização espacial (perda de importância do espaço ou localização em decorrência de transformações econômicas, políticas ou tecnológicas). Essa classificação é útil, mas atém apenas ao olhar capitalista. Classificação de Souza foca nas práticas espaciais insurgentes, que remetem à ideia de práxis. A práxis é uma ação que visa à transformação da realidade, no sentido político (é uma ação política). Quando a práxis é emancipatória seu sentido é crítico e visa o questionamento do status quo heterônomo, direta ou indiretamente, por isso, busca influenciar ou transformar as relações de poder. O autor traz um quadro de referência que classifica 6 tipos de práticas espaciais insurgentes:

1)

Territorialização strito sensu

“apropriação” e controle do espaço com a presença física: ocupação urbana, pode ser permanente ou momentânea, como bloqueio de ruas, estradas em protestos. É ruidosa e aberta, pública. 2)

Territorialização lato sensu

Sem presença física duradoura, infringe as regras espaciais da propriedade privada para passar mensagem/símbolo. É silenciosa e escondida, ex. grafiteiros ou pichadores. 3)

Refuncionalização/reestruturação

Ajuste no substrato material para as novas necessidades decorrentes de novas relações sociais ali instaladas. Pode ser feito por meio de atribuir novas funções (refuncionalização) que envolve adaptação, intervenções físicas mínimas nos espaços e formas espaciais já existentes de maneira criativas. Ou por meio de reestruturação que reconstrói ou modifica fortemente o substrato e suas organização. 4)

Ressignificação de lugar

Disputas no âmbito cultural: simbolismos, discursos, toponímias, história dos lugares, visões para o futuro dos espaços são discutidos entre as perspectivas e práticas hegemônicas e não hegemônicas. 5)

Construção de circuitos econômicos alternativos

Movimentos emancipatório criam alternativas econômicas com relação à produção, comercialização e consumo. Tentativa de fugir do mercado e das relações de produção capitalistas (emprego assalariado, hierarquia de rendimentos, etc.). 6)

Redes espaciais

Integração de práticas espaciais de diferentes escalas e localizações para dar visibilidade aos movimentos (inclusive, as causas, as demandas, os protestos), criar redes de solidariedade, ajuda mútua e compartilhamento de experiências

Essas práticas espaciais insurgentes são muitas vezes combinadas, como estratégias sócio-espaciais. Ex, as ocupações de prédios ociosos e abandonados pelos sem-teto, onde é feita uma revitalização “de baixo para cima” pelos ocupantes desses lugares, que realizam, em conjunto, as intervenções cabíveis no seu espaço e assumem o controle dos espaços para lhes dar uma função social legítima. Representam, geralmente, combinações entre territorialização (strito sensu) + refuncionalização/reestruturação + ressignificação de lugares e, às vezes, até construções de circuitos econômicos alternativos.

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