LÍNGUAS TEPÉ Por Félix Maranganha I.O grupo lingüístico O Tepé é o nome da região de onde quase todas as línguas do grupo parecem ter vindo. São pessoas de pele escura, brevilíneos, de cabelos lisos e avermelhados, e olhos de íris igualmente avermelhada. Uma análise mais acurada revela que os Tepés não têm os caninos, estes substituídos por dois pares de incisivos, o que talvez indique sua mudança alimentar estrita para vegetais. Eles também têm o apêndice funcional, o que corrobora essa teoria. Mesmo assim, eles, às vezes, alimentam-se da carne dos animais que criam. Os Tepé são originários do Oeste, além das Terras Verdes, de uma região distante conhecida como Tepa, ou Tepasói. São povos plantadores que chegaram em Sonniar pelo menos mil anos antes dos Avnais, seis mil antes dos Zhud'zunik-Gestihabo. Esses povos plantavam grura, um misto de milho e feijão, que crescia nas estepes do oeste. Eles eram também famosos por serem ótimos arquitetos, fazendo quase tudo em pedra. Eram famosos pelos aquedutos que desafiavam até mesmo as leis da gravidade. As obras mais famosas desses povos são as pirâmides, que funcionavam como escolas de filosofia, religião ou história para os jovens. Entre os palas, essas pirâmides são centros de treinamento mental e físico para os futuros membros do exército. Algumas civilizações pertenciam a esse grupo, como os Giwpr (que colonizaram as imediações dos rios Sika e Enpnolent), os Potep (que conquistaram os povos da região oeste) e os Pala (praticamente uma cultura belicosa e intelectual, como os espartanos da Terra). Como correlações, escolhemos as quatro línguas mais antigas desse grupo, das quais surgiram outras mais recentes, ou que são ainda usadas no comércio: o giwpr, o potep, o pala e o liopiat. Português
Proto-Tepé
Giwpr
Potep
Pala
Liopiat
Grura
*/brakfse/
/matfi/
/raiBe/
/atva/
/rai/
Lavoura
*/xjaspine/
/jaiGi/
/jane/
/XApna/
/paLzi/
Estepe
*/swapkae/
/wukpa~hi/
/kpazZe/
/vapXa/
/sepxi/
Água
*/bzanke/
/savaj/
/taZeNe/
/biXaNa/
/vaLZi/
Maçã
*/ajZeppe/
/ajzepi/
/ajjepe/
/iwpa/
/i:pi/
Mão
*/d'axe/
/da~hi/
/dalSise/
/tSeLZa/
/cALZi/
*/ksawxe/
/zuvi/
/koeZe/
/s{Xa/
/soZi/
*/Nakle/
/Nawi/
/Na:ge/
/Nat(v)La/
/Nakli/
*/egzep(eg)e/
/eZepi/
/depele/
/piga/
/izpej/
Pé Corvo Sanguessuga
A desconfiança é que o PT tenha vindo em duas migrações, trazendo primeiro povos como os giwpr e os potep, vindo mais tarde os liopiat e os pala. Esses povos seriam todos lavradores, e talvez uma seca os tivesse feito migrar para o leste, talvez fugindo para regiões mais férteis.
II.Gramática comparada O Proto-Tepé (PT) tinha, como características básicas, uma raíz central feita por CVC ou conjuntos de C e V, em estrutura C(C)V(V)C(C), criando assim um sistema de raízes complexo, evitando que grandes modificações sejam feitas nas raízes para que signifiquem o que querem significar. As palavras variáveis nessa língua são os substantivos (gênero, número, caso e afirmatividade), adjetivos (mesma que nos substantivos), pronomes (idem) e verbos (tempo, modo e grau). Substantivos O sistema flexivo dos substantivos obedece a um sistema número + gênero-afirmatividade + caso. A flexão de número sempre se faz por meio de partícula, e geralmente serve para marcar o singular. A afirmatividade é um sufixo que serve para orações negativas: se o sujeito vier no negativo, a frase estará no negativo, se vier no positivo, a oração será positiva. O objeto concorda com o sujeito nesse quesito. A flexão de caso ocorre por meio de desinência prefixal. Observe: GÊNERO-AFIRMATIVIDADE (Masculino) Proto-Tepé Giwpr Potep
Pala
Liopiat
Positivo
*/-e/
/-i/
/-e/
/-a/
/-i/
Negativo
*/-e:d/
/-i~/
/-e:n/
/-ad/
/-it/
Proto-Tepé
Giwpr
Potep
Pala
Liopiat
Nominativo
*/a:-/
/a-/
/e-/
/a:-/
/e-/
Objetivo
*/u:-/
/u-/, /w-/
/u-/
/-/
/u:-/
Genitivo
*/de:-/
/ti-/
/de-/
/s-/, /z-/
/da-/
Instrumental
*/ke-/
-
/k(@)-/
/k-/, /g-/
/ke-/
CASO
Flexão de número Os nomes do PT não recebem uma flexão de número como conhecemos. O nome primitivo é sempre plural, uma vez que a língua é genérica (fala dos objetos em forma de generalizações, o que fomentou, por muitos anos, as teorias platonistas para a lingüística). Assim, o plural não recebe flexão, enquanto o singular, para ser marcado, necessita de um /ge:/ antes da frase ou da palavra que se queira singularizar. No Giwpr evoluiu para a partícula /Ge/, em Potep tornou-se o prefixo /ke-/, em Pala o sufixo /-k/ e em Liopiat torno-se a partícula /gi/. Adjetivos Os adjetivos, tratando-se de nomes modificados, costumam receber apenas a flexão de genitivo. Por isso, costuma-se dizer que nas línguas Tepés não existem adjetivo, mas uma análise mais aprofudada revela que eles existem sim, mas os adjetivos puros são raros. Pronomes Uma comparação dos pronomes pessoais é o que permitiu fazer um estudo detalhado da
morfologia do PT. Os pronomes possuem uma mesma raíz, que se flexiona de forma semelhante ao substantivo, e têm raízes diferentes para cada número em que se flexiona. Veja abaixo:
1ª pessoa 2ª pessoa 3ª pessoa
PA
Proto-Tepé
Giwpr
Potep
Pala
Liopiat
Singular
*/tute/
/ui/
/u:ze/
/ota/
/tezi/
Plural
*/t'enbe/
/siNi/
/tibe/
/bia/
/vuj/
Singular
*/t'ajbe/
/haj/
/sibe/
/t{ba/
/Zaj/
Plural
*/tajpse/
/hui/
/ae/
/t{ba/
/Zej/
Singular
*/tso:nbe/
/oNi/
/du:be/
/tSA:/
/caLi/
*/dbade/ /fuj/ /we/ /Zata/ /Ze:j/ Plural Quando caracteriza um pronomes reflexivo, usa-se o mesmo pronome com a terminação /-j/ ou /-jik/. Essa terminação confluiu para um /-j/ em Giwpr, um /-k/ em Potep, um /-g/ em Pala e um /-i:x/ em Liopiat. As mesmas raízes pronominais servem para caracterizar outras classes pronominais, como pronomes demonstrativos, possessivos e reflexivos. Veja abaixo
PRONOMES POSSESSIVOS PA Proto-Tepé 1ª pessoa 2ª pessoa 3ª pessoa
2ª pessoa 3ª pessoa
Potep
Pala
Liopiat
Singular
*/tuteg/
/uiki/
/u:zek/
/otta/
/tez/
Plural
*/t'enbeg/
/siNiki/
/tibek/
/bija/
/vu/
Singular
*/t'ajbeg/
/hajki/
/sibek/
/t{bba/
/Za/
Plural
*/tajpseg/
/huiki/
/aek/
/t{bba/
/Ze/
Singular
*/tso:nbeg/
/oNiki/
/du:bek/
/tSA:/
/caL/
Plural
*/dbadeg/
/fujki/
/wek/
/Zatta/
/Ze:/
Giwpr
Potep
Pala
Liopiat
PRONOMES DEMONSTRATIVOS PA Proto-Tepé 1ª pessoa
Giwpr
Singular
*/tutalle/
/uoloj/
/u:zale/
/otwa/
/-ez-/
Plural
*/t'enballe/
/siNoloj/
/tibale/
/biwa/
/-vu-/
Singular
*/t'ajballe/
/haoloj/
/sibale/
/t{bwa/
/-Za-/
Plural
*/tajpsalle/
/huoloj/
/aele/
/t{bwa/
/-Ze-/
Singular
*/tso:nballe/
/oNoloj/
/du:bale/
/tSAwa/
/-ca-/
*/dbadalle/ /fuoloj/ /wele/ /Zatwa/ /-Ze:-/ Plural O liopiat transformou as raízes dos pronomes pessoais em demonstrativos infixais.
PRONOMES RELATIVOS PA
Proto-Tepé
Giwpr
Potep
Pala
Liopiat
Lugar
*/-tban(n)-/
/-so-/
/-ta:N-/
/-baN-/
/-cvoN-/
Tempo
*/-baLan(n)-/
/-sa~n-/
/-vaLe:N-/
/-baL-/
/-LAN-/
Quantidade
*/-takab-/
/-sizip-/
/-doeke:p-/
/-tSob-/
/-cvaZ-/
Modo
*/-t'awe-/
/-si-/
/-doe-/
/-tSob-/
/-cvoNzaL-/
Pessoa
*/-tbar-/
/-ser-/
/-tje-/
/-tS{-/
/-cver-/
Animal
*/-xisan(n)-/
/-Gia-/
/-SjeN-/
/-jAs-/
/-ZyN-/
Objeto
*/-tbax-/
/-sav-/
/taZ-/
/-buX-/
/-cvaZ-/
/Zo~G(Gi)-/ /-soS(Se)-/ /-ZAvot(L)-/ /-zuZ(Zo)-/ Deus ou Idéia */-zbo(zo:)-/ Abstrata Os pronomes relativos em PT são infixivos, ou seja, geralmente acompanham o substantivo infixo quando a ele se referem. Quando isolados na forma interrogativa, eles acompanham o verbo como um infixo.
Verbos O verbo em PT flexiona-se em Tempo, Modo e Grau. As flexões dividem-se primeiramente em modos. Assim, o modo Normal, ou Indicativo, comporta os tempos Presente, Passado, Futuro e Condicional. O mesmo servindo para o Imperativo e para o Subjuntivo. INDICATIVO Proto-Tepé
Giwpr
Potep
Pala
Liopiat
Presente
*/oro-/
/uru-/
/or-/
/oro-/
/ru-/
Passado
*/zeb-/
/zip-/
/ze-/
/dev-/
/si-/
Futuro
*/ago-/
/aku-/
/ak-/
/ago-/
/ek-/
*/o:b-/ /o:b-/ /u:b-/ /o:-/ Condicional O condicional indicativo funciona somente quando se propõe o uso isolado do mesmo, por exemplo: “Ele viria hoje”, “Você faria”?
SUBJUNTIVO Proto-Tepé
Giwpr
Potep
Pala
Liopiat
Presente
*/mir-/
/mir-/
/mi-/
/m-/
/mi-/
Passado
*/mer-/
/mir-/
/me-/
/m-/
/mi:-/
Futuro
*/mar-/
/mir-/
/ma-/
/mo-/
/mo-/
*/mor-/ /mu-/ /mo-/ /mo:-/ Condicional O modo subjuntivo serve para expressar subordinação do verbo a outro verbo, tal como acontece em português. A diferença, porém, está no fato de haver um condicional (geralmente usado como o nosso condicional em português em “se ele viajasse, não saberia onde estaria”, note que o verbo principal em PT viria no indicativo, sem a conjunção, e o segundo verbo acompanharia o modo subjuntivo).
IMPERATIVO Proto-Tepé
Giwpr
Potep
Pala
Liopiat
Presente
*/si-/
-
/si-/
/s-/
/si-/
Passado
*/se-/
-
/se-/
/s-/
/si:-/
Futuro
*/sa-/
-
/sa-/
/s-/
/so-/
*/so-/ /su-/ /s-/ /so:-/ Condicional Observação: o Giwpr substituiu o prefixo imperativo por uma modificação da ordem frasal.
O grau dos verbos é indicado por uma modificação na estrutura frasal. Há seis graus no verbo: o Equalitivo, o Intensivo, o Diminutivo, o Interrogativo, Causativo e Receptivo. Cada ordem frasal indica que o verbo assume determinada função. Assim, no quadro abaixo: Proto-Tepé
Giwpr
Potep
Pala
Liopiat
Equalitivo
Suj Obj Verb
-
Suj Obj Verb
Suj Obj Verb
Suj Obj Verb
Diminutivo
Suj Verb Obj
-
Suj Verb Obj
Suj Verb Obj
Suj Verb Obj
Intensivo
Obj Suj Verb
-
-
Obj Suj Verb
Obj Suj Verb
Interrogativo
Obj Verb Suj
-
Obj Suj Verb
Obj Verb Suj
Obj Verb Suj
Causativo
Verb Suj Obj
-
Verb Suj Obj
-
-
Verb Obj Suj Receptivo Em Giwpr, a posição frasal se comporta como um auxílio ou opção na flexão temporal. O grau é um processo sintático que permite modificar o sentido do verbo. O grau equalitivo é o significado primitivo do verbo. O grau diminutivo serve para acrescentar, em português, o advérbio “menos”, ouo para abrandar o significado. O rau intensivo funciona como o “muito” em português, ou para intensificar o significado do verbo. O interrogativo serve para se transformar a sentença em uma pergunta. O causativo é usado para a tradução portuguesa “aquele que faz” ou “causar ... de”. O grau receptivo serve para a tradução “aquele que recebe” ou “receber ... de”.
III.Mitologia comparada Os povos Tepé desenvolveram similaridades em sua mitologia, o que sugere uma origem comum. Em primeiro lugar, tanto culturalmente como religiosamente todos são referidos no plural, ou seja, não há nada que não seja, na verdade, uma idéia. Isso se mostra na linguagem na concepção de “idéia flúida”, ou seja, semanticamente temos um vocabulário pobre por sempre que se referem a um objeto, se referirem à sua idéia, deixando as singularidades para o Singular e para os adjetivos. Isso torna a sentença maior, mas os povos Tepé não parecem importar-se com isso. Sua religião não possui deuses no sentido próprio, mas idéias que simbolizam elementos da realidade, todos viventes de um universo em que nada possui falha. Isso levou a discussões recentes entre muitos platonistas, gerando uma escola conhecida como Platonismo Lingüístico, fazendo parte dela quase todos os Tepeístas da academia. Porém, mesmo sendo “idealistas”, os Tepés têm uma coleção de deuses femininos voltados para a agricultura, geralmente fortes e bastante dominadoras. Há uma trindade original de deusas: a Mãe Terra, a Mãe Árvore e a Mãe Água. As entidades masculinas são fracas, voltadas geralmente para as águas e para os ventos. Assim há uma trindade da água (Pai Oceano, Pai Rio e Pai Chuva) e uma trindade dos ventos (Pai Nuvem, Pai Céu, Pai Estrelas). Portanto, cada deusa seria bígama, tendo a companhia de dois homens. As culturas tepés agem de forma semelhante, mas o trabalho bélico é deixado com os homens, deixando às mulheres a função administrativa das cidades-estados. A criação do mundo, segundo os Tepé, ocorreu quando a divindade tomou sua palavra e resolveu gerar as coisas pelo simples falar, assim o universo seria, na verdade, uma manifestação do pensamento divino. A semelhança com o primeiro livro de gênesis deixa a perceber que esse povo talvez tenha sido monoteísta no passado, mas a presença de inúmeros deuses é ainda um fato sem explicação.