LÍNGUAS AVNAI Por Félix Maranganha I.O grupo lingüístico O grupo Avnai recebe esse nome por ter surgido, segundo relatos dos mitos e dos guardiãos, na região de Avnaia, além das terras áridas do Nordeste. Englobam-se nessa família o Gerrull, o Fon Holk, o Dodhix, o Riaca, o Dailai, o Utrux, o Lerivpi e muitas outras. Apesar de ter perdido espaço para as línguas Zhud'zunik-Gestihabo, o Avnai é ainda muito abundante nas regiões do Leste e Nordeste. Os povos Avnais são humanos de pele levemente azulada, longuilíneos e de cabelos variando entre o preto liso e o marrom ondulado. Alguns membos dessa raça crescem consideravelmente, podendo alcançar até três metros e meio. Como não se trata de uma língua comum ao tronco Nostrático, supõe-se que o Avnai tenha sido falado por povos naturais da Índia e China há pelo menos 30 mil anos antes de Cristo, mas também foram trazidas tribos da mesma raça vindas da França e da Inglaterra. O Avnai seria portanto muito próximo a uma proto-língua, apesar de apresentar diferenças gritantes em relação às línguas da terra. A fonética das línguas avnais tendem a privilegiar as últimas consoantes, levantando a suposição de que as línguas avnais no passado tenham se flexionado principalmente por prefixos e desinências prefixais. Algumas de suas palavras são recorrentes nas recontruções mais antigas de línguas terrestres, o que talvez seja um indício de que elas tenham deixado suas marcas. As raízes mais comuns do Proto-Avnai (PA) demonstram que essa língua desenvolveu-se primeiramente nos desertos. Português
Proto-Avnai
Lerivpi
Dodhix
Utrux
Gerrull
Fon Holk
Taberna
*/plEtad/
/prEtad/
/tlEZafiks/
/rateks/
/pLEsad/
/rat laTe/
Água
*/upfak/
/zga/
/psajks/
/ufEks/
/wah/
/uggae/
Barriga
*/zlidanX/
/de~s/
/sidaxiks/
/dre~deks/
/Ldans/
/Zepsi/
Vara
*/raram/
/fris/
/mafiks/
/raBeks/
/Ondat/
/iggEtsE/
*/bolisk/
/GOTr/
/mozviks/
/broxeks/
/bLOgz/
/Goksu/
Cacto
*/tkag/
/tsGag/
/Zzaziks/
/dgageks/
/ziwdgag/
/Tutkagu/
Anel
*/lonip/
/luppa/
/nElajks/
/jiJEks/
/Opa/
/illEpE/
Dedo
*/t{ki/
/difik/
/SeSiks/
/k&keks/
/awk/
/diki/
Pedra
*/kr{mb/
/ZEb/
/FEjiks/
/kr&beks/
/LEhb/
/Zejbe/
Escorpião
A correlação entre as diferentes raízes, a princípio, não nos parece familiar, mas basta uma olhada com maior atenção para perceber que todas parecem manter terminações iguais ou semelhantes. Segundo o Avnaísta Faba Kororam: “O Avnai parece ter tido, em algum momento de seu desenvolvimento, uma tendência a desinências prefixais. Isso criaria 'raízes filhas' com a parte inicial divergente entre as várias línguas, enquanto a parte final da palavra se manteria praticamente a mesma”.
II.Mitologia comparada A mitologia dos povos Avnais envolve histórias similares à de outros povos caçadores. Segundo um mito original, um deus menor, geralmente um pastor de ovelhas, bois ou cavalos, teria se afastado de seu grupo e, da primeira montanha que avistou, teria escalado. Desceu de lá com o fogo da maldade humana e com a pedra da bondade. O fogo se extinguiu logo, mas se espalhou rápido. A pedra teria permanecido fiel até que derreteu por causa do fogo, transformando-se em água. Desde esse dia, fogo e água lutam, e o universo vem se formando em vários estágios decorrentes da maneira como esses elementos lutam entre si. Os nomes dos deuses não é uma constante, mas sabe-se que o nome do deus das nuvens, chamado */bon/, teria permanecido em formas derivadas, e */goloS/, deus do fogo, seria reverenciado pelos diversos povos Avnais. Sugere-se que essa crença tenha se originado de uma espécie de totemismo, em que uma tribo se dividiria em três totens básicos: Fogo, Céu e Terra. O totem da Água, segundo alguns estudiosos, teria desaparecido com suas lendas, pelo que sugerem as lendas de */upfak/, o deus da água que viajou para o sul e transformou-se no Oceano. Atualmente, a religião dos povos Avnais oscila entre um politeísmo e um dualismo simples, com ritos bastante arcaicos e a presença de xamãs. São, porém, esses mesmos xamãs que, com a chegada dos povos Zhud'zunik-Gestihabo, transformaram os rituais de alguns dos invasores, criando um verdadeiro sincretismo.
III.Gramática comparada O Proto-Avnai (PA) apresentava características peculiares que se desdobraram de maneiras curiosas nas línguas filiais. A primeira delas é a flexão de caso, de classe e de número de forma aglutinativa (tornou-se flexiva com o tempo). Outra característica está na temporização verbal, com a distinção de três tempos verbais (próximo, distante e imperfeito), cinco modos (repetitivo, anterior, simultâneo, posterior e imperativo) e um tom verbal (o gerúndio). Também nessa língua as conjunções concordam com o verbo a cuja oração estão conectando. As classes dividem-se em: substantivos, adjetivos, números, advérbios e artigos. Substantivos Os substantivos flexionam-se em caso de maneira diferente do que ocorre com as classes restantes. A iniciação dos substantivos é */aks-/, que se desdobra nos casos nominativo, acusativo, dativo, instrumental, genitivo, ablativo e vocativo. Quando no singular, essa desinência funciona como um prefixo. No plural, ela passa a ser um prefixo. No gênero nêutro é sempre um prefixo. Mas. Sin. Mas. Pl. Fem. S.
Fem. Pl.
Neut.
Nominativo
*/aks-/
*/-aks/ */a:ks-/ */-a:ks/
*/an-/
Acusativo
*/Eks-/
*/-Eks/ */E:ks-/ */-E:ks/
*/En-/
Dativo
*/i:ks-/
*/-i:ks/ */Iks-/
*/-Iks/
*/i:n-/
Instrumental
*/u:ks-/ */-u:ks/ */Uks-/ */-Uks/
*/u:n-/
Genitivo
*/Oks-/
*/-Oks/ */}ks-/ */-}ks/
*/Un-/
Vocativo
*/O:ks-/
*/-O:ks/ */}:ks-/ */-}:ks/
*/O:n-/
Ablativo
*/Aks-/
*/-Aks/ */A:ks-/ */A:ks/
*/An-/
Quadro comparativo dos substantivos Algumas línguas avnais perderam por completo o sistema de caso, outras perderam o sistema de classe, outras perderam ambos. Algumas línguas mantêm os casos e as classes como prefixos, outras mantêm a sufixação. Portanto, é bem variável o sistema. Veja abaixo o quadro comparativo entre as diversas declinações substantivas. PA
Lerivpi
Dodhix
Utrux
Gerrull
Fon Holk
Nominativo
*/akst{ki/
-
-
/k&keks/
/awk/
/diki/
Acusativo
*/Ekst{ki/
-
-
/k&ke~ks/
/fawk/
/dike/
Dativo
*/i:kst{ki/
-
/SeSiks/
/k&ki~/
/lawk/
/diki:/
Instrumental */u:kst{ki/
-
-
-
/fawk/
/diku/
Genitivo
*/Okst{ki/
/-ti/
-
/k&keks/
/bawk/
/diko/
Vocativo
*/O:kst{ki/
-
-
-
/gawk/
/diko:/
*/Akst{ki/ /k&ku~fs/ /ifawk/ /dika/ Ablativo O Dodhix é uma língua indeclinável, mas mantém como terminação de classe o afixo de dativo do PA.
Adjetivos Os adjetivos dividem-se em duas classes: duradouros e espontâneos. Os duradouros recebem o prefixo /bEkE-/, e os espontâneos o prefixo /apfa-/. SINGULAR Duradouro
PA
Lerivpi
Dodhix
Utrux
Gerrull
Fon Holk
*/bEkElonip/
/luppav0n/
/bEGinEla/
/jiJEbi~ke/
/Opajs/
/illEpEbEkE/
/luppa:/
/afnEla/
/jiJEjfe/
/Opajs/
/illEpEOpa/
PA
Lerivpi
Dodhix
Utrux
Gerrull
Fon Holk
*/bEkElonipi/
/luppav0n/
/bEGi:nEla/
/jiJEbi~ke/
/Opajs/
/illEpEbEki/
/luppa:/
/afinEla/
/jiJEjfe/
/Opajs/
/illEpEOpi/
Espontâneo */apfalonip/ PLURAL Duradouro
Espontâneo */apfalonipi/
Números Os números no grupo Avnai não têm nomeclatura precisa, mas costumam indicar, por meio de sufixação, uma quantidade equivalente ao número indicado, além de indicar se o número está sendo citado como adjetivo ou substantivo. Veja abaixo: ADJETIVO PA
Lerivpi
Dodhix
Utrux
Gerrull
Fon Holk
1
*/-npu/
/-pu/
/-lu/
-
-
/pu/
2
*/-v9hk/
/Esk/
/-vboS/
-
/-OEk/
/-ewk/
3
*/-tard/
/TEZ/
/-vjemZ/
-
/-awLd/
/-eZ/
4
*/-ridzag/
/dazg/
/-Zaps/
-
/-dawg/
/-dazg/
5
*/-gidis/
/gizg/
/-zi~v/
-
/-gEnz/
/-ginDd/
6
*/-kErEhk/
/TrET/
/-vbev/
-
/-ziz/
/-jeT/
7
*/-bEdEt/
/dbET/
/-Zev/
-
/-dES/
/-iddET/
8
*/-dibo/
/tsGO/
/-Zbo/
-
/-i:/
/-iddo/
9
*/-psOpO/
/sOp/
/-fOl/
-
/-vOEp/
/-sop/
10
*/-gadak/
/gEk/
/-vbES/
-
/-zik/
/-DdEjk/
100
*/-dawank/
/de~g/
/-benv/
-
/-anz/
/-dEnDd/
1000
*/-linbs/
/in/
/-pir/
-
/-lin/
/-in/
Os mesmos números, funcionando como substantivo, recebem a terminação plural dos casos do substantivo (um número nunca se flexiona no singular, nem mesmo o número 1). Veja abaixo.
SUBSTANTIVO PA
Lerivpi
Dodhix
Utrux
Gerrull
Fon Holk
1
*/npuks/
/pu/
/luks/
/Jweks/
-
/puj/
2
*/v9kiks/
/Esk/
/vboSoks/
/xokeks/
/-OEk/
/ewki/
3
*/tardeks/
/TEZ/
/vjemZeks/
/xerdeks/
/-awLd/
/eZi/
4
*/ridzagaks/
/dazg/
/Zapsaks/
/rdazgeks/
/-dawg/
/dazgi/
5
*/gidisaks/
/gizg/
/zi~vi~ks/
/gi~Seks/
/-gEnz/
/ginDdi/
6
*/kErEkEks/
/TrET/
/vbeveks/
/xexeks/
/-ziz/
/jeTi/
7
*/bEdEtEks/
/dbET/
/Zeveks/
/d&xeks/
/-dES/
/iddETi/
8
*/diboks/
/tsGO/
/Zboks/
/Zoeks/
/-i:/
/iddoj/
9
*/psOpOks/
/sOp/
/fOlOks/
/z7Jeks/
/-vOEp/
/sopi/
10
*/gadakEks/
/gEk/
/vbESEks/
/x&keks/
/-zik/
/DdEjki/
100
*/dawankeks/
/de~g/
/be~veks/
/e~jxeks/
/-anz/
/dEnDdi/
1000
*/linbeks/
/in/
/piriks/
/lineks/
/-lin/
/ini/
Advérbios Os advérbios no PA recebem um prefixo indicativo, que pode ser colocado antes ou depois da raíz, e um subjuntivo, colocado geralmente como sufixo. Quando os advérbios se referiam a outros advérbios ou a adjetivos, a terminação também mudava. Essa indicação auxilia na compreensão dos verbos, uma vez que o modo subjuntivo é desconhecido no uso verbal. PA
Lerivpi
Dodhix
Utrux
Gerrull
Fon Holk
Indicativo
*/a-/, */-a/
-
/-e/
-
-
-
Subjuntivo
*/-}:hg/
-
/-uke/
-
-
/-uGi/
Adjetivo
*/-ba/
-
/-ve/
-
-
/-ba/
*/-E:lli/ /-il/ /-li/ Adverbial Na maioria das línguas avnais, as terminações são resquiciais, ou seja, são apenas indícios de que funcionava assim no passado, mas podemos encontrar essa regra em outras línguas menores, no Fon Holk e no Dodhix.
Artigo Artigo, ou índice de determinação, é usado no PA para se determinar o tipo de tratamento que se dará à paralvra. Inicialmente os artigos eram os básicos, indeclináveis e sempre acompanhavam o nome. A terminação dos artigos servia para definir as palavras em relação às mesmas que anteriormente eram nomes soltos em alguma linguagem Pré-PA. Os artigos dividem-se em Definidos, Indefinidos, Partitivos e Verbais. Os Definidos servem para criar uma determinação do substantivo. Os Indefinidos ajudam na indeterminação. Os Partitivos criam uma idéia de parte, ou separação, de algo do substantivo. O Verbal (também chamado inclusivo, por ter também essa função) sempre acompanha o verbo ou dá a idéia de inclusão de vários objetos num mesmo campo semântico.
Todo artigo termina em */-e/ para o masculino e */-a/ para os demais gêneros. PA
Lerivpi
Dodhix
Utrux
Gerrull
Fon Holk
Definido
*me/, */ma/
/is/
/m(i)-/
/me/, /ma/
-
/mi/
Indefinido
*/re/, */ra/
/is/
-
-
-
/ri/
Partitivo
*/se/, */sa/
/is/
/s(i)-/
-
-
/is/
Verbal
*/le/, */la/
/is/
/m(i)-/
/me/, /ma/
-
/li/
Verbo O verbo PA é bastante curioso. Não há distinção entre os tempos Presente-Passado-Distante. Há apenas uma diferenciação entre Próximo Espacial, Próximo Temporal, Distante Espacial, Distante Temporal. Os tempos espaciais são considerados presente na tradução, os tempos Temporais são traduzidos como passado ou futuro, dependendo do contexto. Há, porém, um tempo no passado, o Imperfeito, que é usado pelos PA como uma marca clara de passado. Observe: TEMPOS PA
Lerivpi
Dodhix
Utrux
Gerrull
Fon Holk
P. Espacial
*/-o:ge/
/(laj)-/
/-ok/
/-ge/
/-Ok/
/-oki/
P. Temporal
*/-laZ/
/(laj)-/
/-laj/
/-ge/
/-Ok/
/-la/
D. Espacial
*/-a:/
/(laj)--e/
/-O/
/t(i)--e/
/-iZ/
/-a/
D. Temporal
*/-eg/
/(laj)--e/
/-ig/
/t(i)--e/
/-iZ/
/-e/
*/-alla/ /-ala/ /-ula/ /-el/ Imperfeito Em Lerivpi, os tempos Próximo e distante se desdobram em Próximo Anterior e Distante Anterior, funcionando como tempos de relação, quando outro verbo estiver na sentença. Para isso, o Lerivpi toma emprestado o sufixo /-laj/ do próximo temporal e o usa como prefixo.
A felxão de modo também é bastante interessante. Os verbos dividem-se em cinco modos: repetitivo (idéia repetindo-se), anterior (transposto para os tempos em Lerivpi, indicando anterioridade da ação), simultâneo (indicando ações simultâneas ou aditivas), posterior (indicando ação posterior à do verbo principal) e imperativo. No PA eram partículas que podiam vir antes do verbo (frases no singular) ou depois do verbo (frases no plural). PA
Lerivpi
Dodhix
Utrux
Gerrull
Fon Holk
*/gene/
VE + VE
/kE-/
/ge-/
/GEnE/
/kjE-/
*/ollo/
-
/o:l-/
/ul-/
-
/ul-/
Simultâneo
*/bogo/
-
/bo:g-/
/buZ-/
-
/bo-/
Posterior
*/nomo/
-
/nu:-/
-
-
/nom-/
*/Ra/
/O-/
/G(i)-/
/-u/
-
/a-/
Repetitivo Anterior
Imperativo
A forma nominal do verbo é geralmente aquela que, em PA, modifica-se para receber o artigo. Essa forma recebe o nome de Tom Verbal, por mudar a forma como o verbo é tratado na oração (ou o tom em algumas línguas). As modificações são interpretadas geralmente como um geríndio, mas podem funcionar como um particípio ou infinitivo, de acordo com a função que
exerce: TOM VERBAL PA
Lerivpi
Dodhix
Utrux
Gerrull
Fon Holk
Próximo
*/-Ratan-/
/(laj)--at/
/-Gata-/
/-to/
/GEto~n/
/-ata-/
Distante
*/a--Ratan-/
/(laj)--u/
/O--Gata-/
/aw--to/
/GEto~n/
/-ata-/
Conjunções Talvez o mais curioso no PA seja a flexão conjuntiva. A conjunção concorda em gênero com o sujeito da oração à qual introduz. Geralmente seu uso implica na eliminação do gênero e, conseqüentemente, do caso e do número, do sujeito da oração seguinte. Assim, se alguém dissesse “Eu estudo para que eu passe na prova”, a conjunção “para que” deveria concordar em gênero com o pronome “eu”. Parece estranho, mas só a prática permite que se tenha compreensão do porquê. PA
Lerivpi
Dodhix
Utrux
Gerrull
Fon Holk
Masculino
*/-e:r/
-
/-wer/
/-e/
/-er/
-
Feminino
*/-a:r/
/-wa/
/-war/
/-a/
/-ar/
-
*/-o:r/ /-wOr/ /-o/ /-or/ Neutro Observação O Gerrull transformou a flexão de gênero em flexão de número, assim, o masculino deve ser compreendido como singular, o feminino como plural e o neutro como coletivo.