Justificativa Da Pedagogia Do Oprimido

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Justificativa da “Pedagogia do Oprimido.” Fabiana de Melo, Rudinei Manoel e Eduardo Tasca.

Santa Catarina Outubro de 2008.

Fabiana de Melo, Rudinei Manoel e Eduardo Tasca

Justificativa da “ Pedagogia do Oprimido.”

Professora Doutora: Marivone Piana. Disciplina: Sociologia da Educação I. Curso: Pedagogia Fase II.

USJ- São José- Santa Catarina - 13 de outubro de 2008.

Introdução.

Pensar a relação entre educação, sociedade, poder, democracia e classes na visão de Paulo Freire, mas precisamente em sua obra “Pedagogia do Oprimido”, é o objetivo deste trabalho. Perceber quais são as perspectivas teóricas a que esse autor se refere também se faz presente. No ocidente seus livros são editados assim como nos EUA, em diversas universidades da Europa e em vários países da África. É indispensável conhecer a obra deste renomado autor que, ainda hoje, é uma personalidade respeitável no campo da Pedagogia. Pretende-se, baseado em sua obra Justificativa da Pedagogia do Oprimido, discursar sobre o desafio dramático ao qual o homem encontra-se atualmente e onde se percebe como um problema(descobre que pouco sabe sobre si mesmo). O problema de sua humanização (civilidade). Para isso é preciso “aceitar” que existe a desumanização (crueldade) como realidade histórica. Sendo assim os homens são seres inconclusos e conscientes de sua inconclusão. Apresentaremos aspectos que constituem a Pedagogia do Oprimido que Paulo Freire ministrou como sendo o caminho para a reflexão dos oprimidos sobre sua real situação no momento atual. A Pedagogia que tem que ser trabalhada com o oprimido e não para ele.

Justificativa da “Pedagogia do Oprimido.”

Educação. Teoria da Ação Dialogal (Temas geradores). A proposta de educação do autor é baseada em seus estudos sobre a relação que há entre opressores e oprimidos. Freire ministrava sobre a importância do tema e sua relação com a com libertação “num primeiro momento, por meio da mudança do mundo opressor por parte dos oprimidos; num segundo momento, pela expulsão dos mitos criados e desenvolvidos na estrutura opressora e que se preservam como espectros míticos, na estrutura nova que surge da transformação revolucionária.” (Freire, Paulo- Pedagogia do Oprimido) Para que isso aconteça sugeriu uma educação que se preocupasse com o processo de permanente libertação. Pressupôs um sistema educacional baseado em sua teoria da ação dialogal. Um autêntico trabalho de educação que identifica a alfabetização como um processo de conscientização, capacitando o oprimido tanto para a aquisição dos instrumentos de leitura e escrita quanto para a sua libertação. “O método de Freire não ensina a repetir palavras, não se restringe a desenvolver a capacidade de pensá-las segundo as exigências lógicas do discurso abstrato; simplesmente coloca o alfabetizando em condições de poder re-existenciar criticamente as palavras de seu mundo, para, na oportunidade devida, saber e poder dizer a sua palavra. Eis por que, em uma cultura letrada, aprende a ler e escrever, mas a intenção última com que o faz vai além da alfabetização (temas geradores).” (Freire, Paulo - Pedagogia do Oprimido). Assim dar-se a proposta onde a educação se adéqua ao aluno, ao seu cotidiano. Os professores dialogando com os alunos, buscando informações sobre seus particulares e as usando no ensino (o conteúdo dos diálogos é justamente o conteúdo programático da educação) estariam amoldando a educação a eles. Não o aluno à educação, a um sistema narrativo já predeterminado. O autor critica a narração titulando-a como quase enfermidade no processo educativo. Ela é falha uma vez que o educador tem a tarefa de “encher” os alunos de seus conteúdos prontos, de suas narrações (verbosidade alienada e alienante). Para Freire existem dois tipos de educador como nos mostra Vera Lúcia Câmara Zacharias: O educador bancário: aquele que define o conteúdo antes mesmo de um primeiro contato com os educandos.

O educador libertador: para o educador libertador esse conteúdo é a devolução organizada, sistematizada e acrescentada ao educando daqueles elementos que este lhe entregou de forma desestruturada. Este conteúdo deve ser buscado na cultura do educando e na consciência que ele tem da mesma. O momento da busca do conteúdo programático dá início ao processo de diálogo em que se produz a educação libertadora. Essa busca deve investigar o universo temático do educando ou o conjunto dos temas geradores do conteúdo. Por ser dialógica já é problematizadora e permite que se obtenha a consciência dos indivíduos sobre esses temas; a participação na investigação de seu próprio universo temático leva o educando a admirar esse universo, e, essa admiração possibilita a capacidade de criticá-lo e transformá-lo. Mesmo tratando-se de um método para adultos analfabetos não é difícil para educadores mais conscientes perceberem a importância na utilização do universo temático para as crianças, por exemplo.

Sociedade, Amor e Poder.

Sobre sociedade, bem como educação, o autor tem como tema central a liberdade. Baseou-se no clássico Karl Marx, que sustentou uma “teoria de divisão de classes onde a grande massa (proletariado) é definida como oprimida e a burguesia como opressora.”(Marx, Karl e Engels, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista). Tais divisões geram certa violência desumana, por parte dos opressores, “que tendem a transformar tudo que os cerca em objetos de seu domínio. Assim a realidade apresenta-se de forma desafiadora para o oprimido “ordem” que os frustra no seu atuar. Muitas vezes os leva a exercer um tipo de violência horizontal com que agridem os próprios companheiros.” (Freire, Paulo Pedagogia do Oprimido).

Freire ensinava que somente através da superação das divisões de classes pode-se chegar ao verdadeiro amor. Os opressores estariam agindo com uma “falsa generosidade” dentro desta ordem social injusta que nutre a morte, o desalento e a miséria. Pensava que o opressor só se solidariza com o oprimido quando o seu gesto deixa de ser de caráter individual e passa a ser um ato de amor aqueles. Quando os oprimidos deixarem de ser uma designação abstrata e passarem a serem os homens concretos, injustiçados e roubados. Roubados na sua palavra, por isto, no seu trabalho comprado, que significa sua pessoa vendida.

Neste contexto os oprimidos têm papel de destaque, tarefa humanista e histórica: libertar-se a si e aos opressores. “Quem melhor que os oprimidos para entender a necessidade de libertação? Libertação que não chegarão pelo acaso, mas pela práxis (reflexão e ação dos homens sobre o mundo para transformá-lo. Sem ela é impossível a superação da contradição entre opressor-oprimidos.) de sua busca: pelo conhecimento e reconhecimento da necessidade de lutar por ela. Buscando recuperar sua humanidade não se sentem como eles, nem se tornam, de fato, opressores, mas restauradores da humanidade de ambos(Freire, Paulo - Pedagogia do Oprimido). Este papel de libertação é dado ao oprimido pelo poder que nasce da sua debilidade (pureza, generosidade) e que lhe é suficiente forte para libertar a todos. Os opressores oprimem, exploram,

violentam em razão do seu poder por isso não possuem a força da libertação (generosidade). “Lutando pela restauração de sua humanidade estarão, sejam homens ou povos, tentando a restauração da generosidade verdadeira. A verdadeira generosidade está em lutar para que desapareçam as razões que alimentam o falso amor.” (Freire, Paulo - Pedagogia do Oprimido).

A autodesvalia. Sobre o poder o autor igualmente refere-se aos oprimidos e opressores percebendo o oprimido passivo, alheado, com relação à necessidade de sua própria luta pela conquista da liberdade e de sua afirmação no mundo. “Nisto reside sua “conivência” com o regime opressor. É preciso que comece haver exemplos da vulnerabilidade deste último para que, no oprimido, vá operandose convicção oposta à anterior.“ (Freire, Paulo - Pedagogia do Oprimido). Nesta relação os oprimidos incorporam a visão que deles têm os opressores (autodesvalia): “De tanto ouvirem de si mesmos que são incapazes, que não sabem nada, que não podem saber, que são enfermos, indolentes, que não produzem em virtude de tudo isto, terminam por se convencer de sua “incapacidade”. Os homens são seres inconclusos e conscientes de sua inconclusão.” (Freire, Paulo - Pedagogia do Oprimido).

O oprimido alienado espelha-se no opressor. Deseja ser como ele:

“ Há em certo momento da experiência existencial dos oprimidos, uma irresistível atração pelo opressor. Pelos seus padrões de vida. Participar desses padrões constitui uma incontida aspiração.” (Freire, Paulo - Pedagogia do Oprimido). A consciência servil (servo) é característica do oprimido em relação à consciência do senhor (chefe), é fazer-se quase “coisa” e transformasse como salienta Hegel um dos pensadores clássico também estudado pelo autor.

Considerações finais:

“Contudo é preciso que creiamos nos homens oprimidos. Que os vejamos como capazes de pensar certo também.” (Freire, Paulo. Justificativa da Pedagogia do Oprimido)

Se esta crença nos falha abandonamos a idéia do diálogo. Conseqüentemente abandonamos a reflexão e caímos nos slogans, nos comunicados, na manipulação, nas armas da dominação. Não há outro caminho senão o da prática de uma Pedagogia Humanizadora, em que a liderança revolucionária, em lugar de se sobrepor aos oprimidos e continuar mantendo-os como quase “coisas”, com eles estabelece uma relação dialógica permanente. Prática Pedagógica em que o método deixa de ser instrumento do educador (liderança revolucionária) com o qual o manipula os educandos (no caso os oprimidos) porque é já a própria consciência.

Referências bibliográficas: Freire, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. Freire, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. Engels, F. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Global, 1998. Zacharias, Vera Lúcia Câmara. Centro de Referências Educacionais – Consultoria e Assessoria em Educação. Endereço na Web: http://www.centrorefeducacional.com.br/

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