Judith Butler. Odradek and Capitalism. 2011 https://www.youtube.com/watch?v=YMDAB-nZhFo Judith Butler, philosopher and author, talking about Adorno and Benjamin's dispute over Kafka's articulation of the phantasmagoric form. In this lecture, Judith Butler discusses Adorno and Benjamin's correspondence, reconciling Marx with the messianic, Benjamin's essays on Baudelaire, the structure of consumer desire and empathy as a methodology in relationship to Franz Kafka, Theodor W. Adorno, Walter Benjamin, Karl Marx and Charles Baudelaire focusing on commodity fetishism, history, time, life, illumination, mysticism, positivism, mediation, exchange value and the atypical. Public open lecture for the students and faculty of the European Graduate School EGS Media and Communication Studies department program Saas-Fee Switzerland Europe. 2011. Judith Butler.
- Discute correspondência entre Benjamin e Adorno. Cruzamentos de Benjamin para França e Espanha. 1938. - Sentiu raiva por Adorno como pessoa, apesar de respeitar o trabalho dele. - Marx – “O fetichismo da mercadoria e o seu segredo” (capítulo 1, seção4, 1º volume de Capital). Marx usa a linguagem da ‘fantasmagoria’ para descrever as relações entre pessoas e coisas. - Substituições metafóricas entre as pessoas e as coisas e o dinheiro tende a não só homogeneizar as coisas, a tornar tudo quantificável, mas também a investir os objetos com valor excessivo, às vezes com qualidades personificadas, muitas vezes tratando os trabalhadores como valor de trabalho, os quais podem ser comprodos e vendidos. Então a comoditização opera de forma a transformar as relações entre humano e objeto, os humanos podem ser tratados como objetos e os objetos podem ser personificados. Então o dinheiro produz fantasmagoria. Há objetos que se tornam supernatuais em seu valor (tabaco, vinho, quando Adorno estava escrevendo sobre essa leitura de Benjamin a partir de Baudelaire). É possível compilar listas desses objetos investidos de fantasmagoria. Dois objetos completamente diferentes – como uma arma e uma pintura – podem ter o mesmo valor de mercado (ou valor de troca), e isso não tem muito a ver com o seu significado anterior ou seu uso diário necessariamente. - Segundo Benjamin (apud Butler), as próprias relações objeto-humano-animal foram transformadas pelo capitalismo, por seus modos de produção, pelo poder do valor de troca, e não há como separar a fantasmagoria e seus efeitos de uma ‘realidade objetiva’. Precisamos ver como se deram essas transformações historicamente, não é possível retornar a um estado anterior, ou supor que houve um estado mais natural ou formal que é mais verdadeiro ou mais objetivo do que a forma agora assumida por esses objetos ou relações. A realidade para Benjamin se tornou fantasmagórica. - Butler vê na escrita de Benjamin o comprometimento de uma articulação entre as ideias que não termina em uma “análise total” ou uma síntese. Nisso ele se relaciona a Kafka e a Baudelaire, mas há muitos outros precedentes, na opinião dela, para o estilo de escrita dele. - O flaneur (figura muito importante para Baudelaire), aquele que anda pelas cidades, que está aberto a ver as vitrines, as mercadorias, ele se acomoda às mercadorias, ele as imita. Benjamin chega a descrever (nessas correspondências, ali pela página 310) que em certo estágio o flaneur estaria confortável com carregar uma placa de vendas sobre sua cabeça (como o anúncio de um sanduíche) – um tipo de chapéu que não deve ser muito confortável, imagino. Isso mais uma vez lembra o homem de Magritte com o rosto coberto por algum objeto (como uma maça ou pássaro, eu acho), o homem do chapéu de coco.
- Butler – de um lado a fantasmagoria é uma ilusão, de outro as mercadorias são assombradas ou, em certo sentido, são como restos ou vestígios (remnants) de um tempo que não é totalmente recuperável e que anima a própria mercadoria. Mas é apenas através de uma entrada empática no mundo da commodity (ao invés de uma tentativa de separação desse mundo) que isso se torna possível. É aí que Benjamin se distancia do marxismo dialético de Adorno e se torna, ele mesmo, um tipo de teórico flaneur. O CAPITAL – VOL. 1, capítulo 1, seção 4 - O Fetichismo da Mercadoria e o Seu Segredo - Ao invés, a forma mercadoria e a relação de valor dos produtos do trabalho [na qual aquela se representa] não tem a ver absolutamente nada com a sua natureza física [nem com as relações materiais dela resultantes]. É somente uma relação social determinada entre os próprios homens que adquire aos olhos deles a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas. Para encontrar algo de análogo a este fenómeno, é necessário procurá-lo na região nebulosa do mundo religioso. Aí os produtos do cérebro humano parecem dotados de vida própria, entidades autónomas que mantêm relações entre si e com os homens. O mesmo se passa no mundo mercantil com os produtos da mão do homem. É o que se pode chamar o fetichismo que se aferra aos produtos do trabalho logo que se apresentam como mercadorias, sendo, portanto, inseparável deste modo-deprodução. [Este carácter fetiche do mundo das mercadorias decorre, como mostrou a análise precedente, do carácter social próprio do trabalho que produz mercadorias.] - A recente descoberta científica, de que os produtos do trabalho, enquanto valores, são [objectiva] pura e simplesmente a expressão do trabalho humano gasto na sua produção, marca uma época na história do desenvolvimento da humanidade, mas não dissipou de modo algum a fantasmagoria que faz aparecer o carácter social do trabalho como uma qualidade das coisas, dos próprios produtos. O que é verdadeiro apenas para esta forma particular de produção, a produção mercantil —; a saber, que o carácter [especificamente] social dos mais diversos trabalhos [privados, independentes uns dos outros], consiste na sua igualdade como trabalho humano, e reveste uma forma objectiva, a forma-valor dos produtos do trabalho -, isso parece aos olhos dos homens imersos nas engrenagens das relações da produção de mercadorias, hoje como antes daquela descoberta, tão definitiva e tão natural como a forma gasosa do ar que permaneceu idêntica mesmo depois da descoberta dos seus elementos químicos.
BUTLER, Judith. Odradek and Capitalism. Palestra na European Graduate School EGS, Media and Communication Studies Department Program Saas-Fee, Suíça, 2011. Disponível em: . Acesso em 20 jul. 2018. MARX, Karl. O capital. Volume I. 1ª ed. 1867. Tradução de: J. Teixeira Martins e Vital Moreira. Transcrição desta edição: Alexandre Linares. HTML por: José Braz. [In: Centelha Promoção do Livro, SARL, Coimbra, 1974.] Marxists Internet Archive: s./ local, 2005. Disponível em: . Acesso em 20 jul. 2018.