Jean Lira - Mito X Filosofia.docx

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO – UFRPE

CAMPUS RECIFE

JEAN TÁCIO TÔRRES DE LIRA

MITO X FILOSOFIA. SURGIMENTO DA FILOSOFIA

RECIFE, 2019

JEAN TÁCIO TÔRRES DE LIRA

MITO X FILOSOFIA. SURGIMENTO DA FILOSOFIA Trabalho de pesquisa apresentado para entrega de exercicio na disciplina Fundamentos de filosofia, no Curso de Bacharelado de Ciências Biológicas, na Universidade Federal Rural de Pernambuco. Prof. Leonardo Cisneiros

RECIFE, 2019

O MITO DA ORIGEM DO MUNDO SEGUNDO A CRENÇA IORUBÁ De acordo com a crença iorubá, o mundo começou no Ilê-Ifê quando o orixá Obatalá comunicou ao deus supremo, Olodumaré, o seu desejo de criar a Terra, chamada de Ilê Aiyê. Como na época o Ilê Aiyê era apenas água primordial, Olodumaré deu a Obatalá um punhado de areia, que deveria ser jogado sobre a água, e uma galinha ficaria encarregada de espalhá-la sobre a superfície, dando origem às porções de terra do planeta. Segundo a história, Obatalá perdeu a oportunidade de ser o criador do mundo ao embriagar-se com um vinho de palmeira chamado emo, restando-lhe a tarefa de criar a humanidade a partir do barro, enquanto Olodumaré daria o sopro da vida aos indivíduos. Por essa razão, os filhos de Obatála que se espalharam pelo mundo, foram proibidos de consumir bebidas alcoólicas, tradição que se mantém até hoje entre os seus seguidores. Essa é uma das múltiplas visões sobre a origem da humanidade, crenças que são a base da cultura de cada povo, com explicações tão diferentes entre si, mas que carregam pontos comuns como as respostas às indagações “De onde viemos?” ou “como surgiu o mundo?”, justificando hábitos e costumes. Dúvidas como essas continuam a intrigar pessoas e no decorrer da história humana, várias teorias foram criadas, adaptadas e reconstruídas para explicar os mistérios do universo.

O MITO DE NARCISO Conta-se que, certa vez, Narciso passeava nos bosques. Perto dali havia uma bela ninfa, Eco, amante dos bosques e dos montes, companheira favorita de Diana em suas caçadas, acompanhava-o, admirando sua beleza, mas sem deixar que a notasse. Mas Eco tinha um grande defeito: falava demais, e tinha o costume de dar sempre a última palavra em qualquer conversa da qual participava. Um dia Hera, desconfiada - com razão - que seu marido estava divertindo-se com as ninfas, saiu em sua procura. Eco usou sua conversa para entreter a deusa enquanto suas amigas ninfas se escondiam. Hera, percebendo a artimanha da ninfa, condenoua a não mais poder falar uma só palavra por sua iniciativa, a não ser responder quando interpelada. Por sua vez, Narciso, suspeitando de que estava sendo seguido, perguntou: “quem está aí?”. E ouviu: “Alguém aí?” Então, ele gritou novamente: “Por que foges de mim?”. E ouviu “foges de mim”. Até dizer “Juntemo-nos aqui” e ter como resposta “juntemo-nos aqui”. Toda essa repetição acabou deixando Narciso angustiado por desejar amar algo que não poderia ver. Dessa forma, Narciso entristeceu-se e foi à beira de um lago, onde, de modo surpreendente, deparou-se com sua imagem nos reflexos da água. Como nunca antes havia se olhado, enamorou-se perdidamente, acreditando ser a pessoa com quem estava “dialogando”. Por isso, tentou buscar incessantemente o seu reflexo, imergindo nas águas nesse intento, mas acabou morrendo afogado. A ninfa Eco sentiu-se culpada e transformou-se em um rochedo, vivendo a emitir os últimos sons que ouve. No lugar onde faleceu o jovem Narciso, encontraram apenas uma flor roxa, rodeada de folhas brancas. E, em memória, aquela flor passou a ser conhecida pelo seu nome. Numa interpretação livre do mito, acreditamos que a ninfa é o que está lá fora, que pode nos auxiliar no processo de maturidade, individuação e emancipação intelectual. A cultura e a educação que nos levarão à plenitude de nosso ser. Mas, nos extraviamos, a ninfa não nos convence e só ouvimos suas ultimas palavras. O mito só declara que Narciso apaixonou-se por sua própria imagem. E isso foi sua tragédia. A realidade não pode ser alcançada apenas com a contemplação da imagem. O mito de Narciso pode servir de metáfora para muitos de nós, quando não conseguimos nos olhar com imparcialidade, e o nosso trabalho interior se torna um meio de projetar a vaidade

humana na cantiga do eu sozinho: eu faço, eu sou, eu quero, eu posso. Narciso morreu embriagado pela própria beleza e encantamento, e os deuses o transformaram numa flor.

MITO O termo Mito vem do Grego MYTHÓS, que se originou na Grécia Antiga (onde reinava sem rival, pois é um tempo em que o mito não era reconhecido como tal), tinha um grande número de significados dentro de uma ideia básica: “discurso, mensagem palavra, assunto, invenção, lenda, relato imaginário”. Modernamente está fixada nestes últimos sentidos. O mito é uma narrativa. É um discurso, uma fala. É uma forma de as sociedades espelharem suas contradições, exprimirem seus paradoxos, dúvidas e inquietações. Pode ser visto como uma possibilidade de se refletir sobre a existência, o cosmos, as situações de "estar no mundo" ou as relações sociais. Também podem ser entendidos como representações de verdades profundas da mente, as uniões deles em conjunto, de acordo com suas origens, formam as diversas mitologias que conhecemos. A consciência humana afirma-se desde sua origem como estrutura do universo. O mito é um instrumento sociocultural de reafirmação de valores necessários à continuidade da sociedade; representação indireta das normas e contradições da vida cultural e social; funciona como exemplo significativo da cultura e da estrutura social de um povo. O mito não é uma realidade independente, mas evolui com as condições históricas e étnicas relacionadas a uma dada cultura, que procura explicar e demonstrar, por meio da ação e do modo de ser das personagens, a origem das coisas (do mundo; dos homens; dos animais; das doenças; dos objetos; das práticas de caça, pesca, medicina entre outros; do amor; do ódio; da mentira e das relações, etc.). Sendo dessa maneira, é correto dizer que o mito depende de um tempo e espaço para existir e para ser compreendido.

PRIMEIROS FILOSOFOS Os primeiros filósofos gregos, chamados de pré-socráticos, tentaram entender o mundo com o uso da razão, sem recorrer à religião, à revelação, à autoridade ou à tradição. Buscavam conhecer a “Physis”, substrato último que permeia todas as coisas. Para eles, a origem do mundo e de tudo mais, não só se deu, mas também se dá em um substrato uno e imutável que está presente em toda parte. Acreditavam que, mesmo se os objetos se modificassem, a “Physis” continuaria ali única e intacta. Os primeiros filósofos ficaram conhecidos como físicos, justamente por estudarem a “Physis”, mas essa não foi uma busca coletiva. Cada pensador procurou isoladamente essa substância. Além disso, também eram professores que ensinavam seus discípulos a usar a razão e a pensar por si mesmos. Eles os encorajavam a discutir, argumentar, debater e propor ideias próprias. Enfim, os pré-socráticos refletiram sobre a natureza do mundo procurando explicá-lo a partir de sua própria natureza e, se muito do que pensarem pode ser considerado um absurdo hoje em dia, seu pensamento inegavelmente foi o ponto de partida para o entendimento racional do mundo.

A FILOSOFIA Sabemos que um dos elementos originantes da filosofia foi a inquietação humana na busca de explicações para o real. Nessa busca, uma das primeiras formas de se tentar explicar o mundo foi com os mitos. Com o transcorrer dos tempos as explicações míticas já não satisfaziam mais e a constatação disso se deu na Grécia. Mas por quê? Não há um livro sagrado grego, o que significa que a religião pública grega nunca chegou a constituir uma classe sacerdotal que lutasse para preservar dogmas. Isso deixou um amplo espaço cultural para o desenvolvimento do pensamento filosófico, o que não aconteceu nos países em que havia uma religião comandada por sacerdotes zelosos dos ensinamentos sagrados. Também se beneficiavam de uma grande liberdade política, em comparação aos outros povos; foi o primeiro povo da história que conseguiu construir instituições políticas livres. Nos séculos VII e VI, a Grécia passou por um desenvolvimento econômico muito acentuado. De país agrícola, tornou-se país comercial e desenvolveu uma indústria artesanal. Com isso, fundaram-se centros de distribuição comercial fora da Grécia. Essas colônias rapidamente criaram riqueza suficiente para sustentar uma classe livre de obrigações de trabalho, que fez oposição à concentração do poder político que estava nas mãos da nobreza fundiária. Por estarem longe da mãe-pátria e menos ligadas às tradições políticas, as colônias construíram instituições livres antes das cidades-estados gregas. Justamente nas colônias gregas surgiu a filosofia. A filosofia é grega, mas não surgiu no interior da Grécia: surgiu nas colônias gregas. Mileto foi uma das primeiras colônias a atingir uma situação de bem-estar social que proporcionou uma liberdade política inédita; e foi justamente nessa colônia, localizada onde hoje é a Turquia, que surgiram os primeiros filósofos. A forma desenvolvida pelos gregos fez tanta diferença porque a estrutura lógico-sistemática dos gregos se fez mais eficiente para o contexto sócio-político-econômico em que estava inserido o mundo ocidental. Foi essa estruturação ideológica e filosófica que ofereceu a base de organização, sustentação e manutenção para o poder político e religioso da civilização, chamada ocidental, que se desenvolveu na Europa. A Europa se fez, principalmente, a partir da filosofia grega e da fé cristã.

A filosofia grega possibilitou a estruturação racional das realidades e das relações sociais e políticas que se desenvolveram na Europa; e a fé cristã possibilitou a estruturação da moralidade das relações sociais e políticas nesse continente, possibilitando que essa civilização se impusesse a quase todo o mundo. Tanto que nós, na América, mantemos esses valores.

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