Rua das Mercês, 8 9000-420 – Funchal Telef (+351291)214970 Fax (+351291)223002
Email:
[email protected] [email protected] http://www.madeira-edu.pt/ceha/
VIEIRA, Alberto (1996), A Madeira no contexto do mundo atlântico. O Mercado do açúcar,
COMO REFERENCIAR ESTE TEXTO: VIEIRA, Alberto (1996), A Madeira no contexto do mundo atlântico. O Mercado do açúcar, Funchal, CEHA-Biblioteca Digital, disponível em: http://www.madeiraedu.pt/Portals/31/CEHA/bdigital/avieira/hsugar-mercado.pdf, data da visita: / /
RECOMENDAÇÕES O utilizador pode usar os livros digitais aqui apresentados como fonte das suas próprias obras, usando a norma de referência acima apresentada, assumindo as responsabilidades inerentes ao rigoroso respeito pelas normas do Direito de Autor. O utilizador obriga-se, ainda, a cumprir escrupulosamente a legislação aplicável, nomeadamente, em matéria de criminalidade informática, de direitos de propriedade intelectual e de direitos de propriedade industrial, sendo exclusivamente responsável pela infracção aos comandos aplicáveis.
A MADEIRA NO CONTEXTO DO MUNDO ATLÂNTICO
O MERCADO DO AÇÚCAR ALBERTO VIEIRA 1996 FUNCHAL-MADEIRA EMAIL:
[email protected]
http://www.madeira-edu.pt/ceha/
A ILHA E O MUNDO ATLÂNTICO. A Madeira foi o primeiro e mais importante entreposto de comércio do Atlântico insular desde o século XV. O acelerado ritmo de crescimento condicionou a atracção de diversas correntes migratórias e veio a colocar o Funchal no centro do mundo de influências do Ocidente. Os descobrimentos e a actividade comercial catapultaram a cidade para esse protagonismo. Testemunho de tudo isso é a rápida elevação da vila à categoria de cidade(1508). 0 COMÉRCIO E O AÇÚCAR. O comércio da Madeira derivou da importância atribuída pelo mercado europeu às suas ofertas: madeiras, urzela, trigo, açúcar e vinho. O comércio do açúcar destaca-se no mercado madeirense dos séculos XV e XVI como o principal animador das trocas com o mercado europeu. Durante mais de um século a riqueza das gentes da ilha e o fornecimento de bens alimentares e artefactos dependeu do comércio do produto. Todavia neste período a sua venda e valor sofreu diversas oscilações, mercê da conjuntura do mercado consumidor e da concorrência dos mercados insulares e americanos. O açúcar foi, durante mais de um século, o principal activador das trocas com o exterior. As dificuldades sentidas com a penetração no mercado europeu levaram a coroa a intervir no sentido de manter um comércio controlado, que a partir de 1469 passou a ser feito sob o permanente olhar do senhorio e coroa, situação que se manteve até 1508, altura em que a coroa aboliu o regime de contrato. O CONTROLE DOS CIRCUITOS COMERCIAIS. A partir de uma dessas medidas tomadas pela coroa (o contingentamento de 1498), no sentido da defesa do mercado do açúcar madeirense, poderse-á fazer uma ideia dos principais mercados consumidores. As praças do mar do norte dominavam esse comércio, recebendo mais de metade das escápulas estabelecidas: aqui a Flandres adquire uma posição dominante, o mesmo sucedendo com os portos italianos para o espaço mediterrânico. Se compararmos estas escápulas com o açúcar consignado às diversas praças europeias no período de 1490 e 1550, verifica-se que o roteiro não estava muito aquém da realidade. As únicas diferenças relevantes surgem nas Praças da Turquia, França e Itália, sendo de salientar na última um reforço acentuado de posição, que poderá resultar da actuação das cidades italianas como centros de redistribuição no mercado levantino e francês. Os dados disponíveis para o comércio do açúcar na Madeira evidenciam a constância dos mercados flamengo e italiano. O reino, circunscrito aos portos de Lisboa e Viana do Castelo surge em terceiro lugar apenas com 10%. Observe-se que o porto de Viana do Castelo adquiriu, desde 1511, grande
importância neste circuito com o reino e daí com Espanha e Europa nórdica. Esta função redistribuidora dos portos a norte do Douro ficara já evidenciada entre 1535 e 1550, pois das cinquenta e seis embarcações entradas no porto de Antuérpia com açúcar da Madeira, dezasseis são do norte e apenas uma de Lisboa. Na primeira 50% são provenientes de Vila do Conde, 31% do Porto e 19% de Viana do Castelo. Aliás, em 1505 o monarca considerava que os naturais dessa região tinham muito proveito no comércio do açúcar da ilha. O mesmo sucede nas transacções com o mundo mediterrânico onde se contava com os entrepostos de Cádis e Barcelona. Estas cidades surgem no período de 1493 a 1537 com os portos de apoio ao comércio com Génova, Constantinopla, Chios e Águas Mortas. OS MERCADOS E AS BOTICAS. Os dados da exportação, que reunimos para o período de 1490 a 1550, testemunham esta realidade: a Flandres surge com 39% e a Itália com 52%. Todavia, é de salientar a posição dominante dos mercadores italianos na condução do açúcar, uma vez que foram responsáveis pela saída de 78% do açúcar. Note-se que no início puseram-se inúmeras as dificuldades para a presença de estrangeiros. Somente a partir da década de oitenta do século XV surgiram os primeiros como vizinhos, que se comprometeram com a cultura e comércio do açúcar. Na segunda metade do século dezasseis escasseiam os dados sobre o comércio do açúcar madeirense. O que não é relevante uma vez que neste momento a concorrência doutros mercados fizera destronar a sua posição maioritária. A partir de princípios do século XVI o comércio do açúcar diversifica-se. A Madeira que na centúria de quatrocentos surgira como o único mercado de produção, debater-se-á, a partir de finais desse século, com a concorrência do açúcar das Canárias, de Berberia, de S. Tomé e, mais tarde, do Brasil e das Antilhas. Esta múltipla possibilidades de escolha, por parte dos mercadores e compradores, condicionou a evolução do comércio açucareiro. Todavia, o açúcar madeirense manteve uma situação preferencial no mercado europeu (Florença, Anvers, Ruão), sendo o mais caro. Talvez, devido a este favoritismo encontramos com frequência referências à escala na Madeira de embarcações que fazem o seu comércio com as Canárias, Berberia e S. Tomé. DA EXPANSÃO À CONCORRENCIA. O comércio açucareiro na primeira metade do século XVI era dominado na Europa do Norte pelas ilhas e litoral do Atlântico, nomeadamente, entre as primeiras, a Madeira, Tenerife, Gran Canaria e La Palma. Assim, na década de 30 os navios normandos ocupados neste comércio dirigiam-se preferencialmente a esta área. Convém anotar que a maioria das embarcações que rumavam a Marrocos, com escala na Madeira à ida e no regresso, o que valorizou a Madeira no comércio com a Normandia. A situação dominante do mercado madeirense perdurará nas décadas seguintes, não obstante a forte concorrência da ilha de S. Tomé que se firmou, entre 1536 e 1550, como o principal fornecedor de açúcar à Flandres. Todavia, esta posição cimeira da ilha de São Tomé só é patente a partir de 1539. A Madeira, que até à primeira metade do século dezasseis havia sido um dos principais mercados do açúcar do Atlântico, cede lugar a outros (Canárias, S. Tomé, Brasil e Antilhas). Deste modo as rotas desviam-se para novos mercados, colocando a ilha numa posição difícil. Os canaviais foram abandonados na quase totalidade, fazendo perigar a manutenção da importante industria de conservas e doces. O porto funchalense perdeu a animação que o caracterizara noutras épocas. Mas cedo os madeirenses souberam encontrar outro produto capaz de cativar o mercado externo. O vinho sucede ao açúcar, na definição de uma nova realidade sócio-económica.