FILOSOFIA: PORTAL PARA A EDUCAÇÃO TRANSFORMADORA PERSPECTIVAS E DESAFIOS* Carolina Mendes de Oliveira**
[email protected] Cristina Pires
[email protected] Denise Elisabete do Espírito Santo Luciana Oliveira da Silveira
[email protected] Marelise de Fátima Griebeler Reis
[email protected] Marilisa Machado
[email protected] Riviane Buhler da Rosa
[email protected] Rosângela Beatriz M. Moreira
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Introdução “O meu olhar é nítido como um girassol Tenho o costume de andar pelas estradas Olhando para a direita e para a esquerda, E de vez em quando olhando para trás... E o que vejo a cada momento É aquilo que nunca antes eu tinha visto...” (Fernando Pessoa)
Encontramos
hoje
uma
sociedade
extremamente
contraditória. De um lado percebemos ainda com força a perspectiva modernista, cartesiana, que divide, classifica, seleciona e discrimina, comprometendo
a
existência
da
humanidade.
Enquanto
que,
simultaneamente, movimentos mesmo que frágeis, sinalizam para a necessidade de transformação do Ser Humano e, conseqüentemente,
*
Artigo elaborado em março de 2007 por educadores da E.M.E.F. Cinco de Maio. Instituição: Escola Municipal de Ensino Fundamental Cinco de Maio. Rua Padre Alberto Trasel, s/nº. Bairro Cinco de Maio, Montenegro – RS. CEP 95780 000 Fone: (051) 3632 42 51. Todos os autores do texto são desta instituição.
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da sociedade. Assmann (2004, p.28), refere-se a esta situação, ao afirmar que: A humanidade chegou numa encruzilhada ético política, e ao que tudo indica não encontrará saídas para a sua própria sobrevivência, como espécie ameaçada por si mesma, enquanto não construir consensos sobre como incentivar conjuntamente nosso potencial de iniciativas e nossas frágeis predisposições à solidariedade.
Notamos nos últimos tempos, que a tecnologia avança em ritmo acelerado causando vários impactos nas relações de um modo geral. No entanto, mudanças significativas em outras esferas, tais como:
ética,
alteridade,
política,
espiritualidade,
encontram-se
estagnadas. Sendo assim, a evolução material, muitas vezes, tornase uma ameaça à evolução do Ser Humano. Este desequilíbrio, entre avanços
e
estagnações,
compromete
a
utilização
ética
das
tecnologias e, conseqüentemente, comprometem a continuidade da vida no planeta. Entretanto, ainda que sutis, percebem-se movimentos atentos à necessidade de mudanças, a fim de contribuir com a preservação do Ser Humano, porém, com novos parâmetros e valores menos utilitários e antropocêntricos. Entendemos que estes movimentos devem
se
fortalecer
através
da
formação
de
rede.
Também
percebemos que as instituições escolares são potencialidades para que estas redes se consolidem, pois acreditamos que a transformação dos sujeitos ocorre através das convivências e intersecções entre os vários âmbitos que auxiliam na constituição do ser humano sóciohistórico-cultural. A escola, integrada a estes movimentos, expressa o seu real sentido como mediadora na tessitura do ser mais humanizado, conforme Assman (2004, p.24) ao afirmar que: “A educação se confronta com essa apaixonante tarefa: formar seres humanos para os quais a criatividade e a ternura sejam necessidades vivenciais e elementos definidores dos sonhos de felicidade individual e social”. 2
A partir desta concepção, entendemos que se faz necessário trabalhar com uma perspectiva que busque, entre outras coisas, a preservação da própria espécie humana e do meio que a cerca. O paradigma emergente nos traz a necessidade de termos uma escola diferente da que está posta hoje. Precisamos de uma escola que trabalhe
a
diversidade,
que
pense
no
ser
humano
com
a
multiplicidade de identidades que comporta cada ser. Nesse sentido, o trabalho com a filosofia emerge como viés para a transcendência da própria escola e da sociedade.
Filosofia na Contemporaneidade Entendemos que a filosofia está intrincada com uma postura de vida, com caráter interdisciplinar e transdisciplinar. Sendo assim, a filosofia é processo, superando os limites dos conceitos disciplinares definidos para provocar o pensar além desses conceitos, ou seja, transcendendo-os. Sobre este aspecto, Aranha e Martins (2003, p.91) assim definem: A filosofia é um modo de pensar que acompanha o ser humano na tarefa de compreender o mundo e agir sobre ele. Mais que postura teórica, é uma atitude diante da vida, tanto nas condições corriqueiras como nas situações –limites que exigem decisões cruciais. Por isso no encontro com a tradição filosófica não devemos nos restringir a recebê-la passivamente como um produto, mas ser capazes, cada um de nós, de nos aproximarmos da filosofia como processo, ou seja, como reflexão crítica e autônoma a respeito da realidade vivida. Lembrando Jaspers mais uma vez, a filosofia é a procura da verdade, não a sua posse, porque “fazer filosofia é estar a caminho; as perguntas em filosofia são mais essenciais que as respostas e cada resposta transforma-se numa nova pergunta.”
Entender
a
filosofia
como
processo,
que
valoriza
o
questionamento investigativo, respeitando a construção individual e coletiva das respostas, faz emergir o vetor para o desenvolvimento das demais habilidades sócio-cognitivas entre os aprendentes. 3
Assim sendo, entendemos que através da filosofia, o ser humano desenvolve um conjunto de habilidades intelectivas que o levam a “pensar bem”, isto é, pensar por si mesmo mobilizando suas capacidades equilibradamente e socializando-as em um clima de busca e cooperação. Souza (2003, p.55), salienta: O pensar bem ou o “bom pensamento” acontece quando somos capazes de mobilizar, orquestradamente, nossas habilidades de investigação, as habilidades de formação de conceitos, e as habilidades de tradução ou interpretação. Essas quatro habilidades são quatro aspectos do pensamento que, desenvolvidos, tornam as pessoas mais racionais e formam o que Lipman chama de habilidades de pensamento ou as grandes ou megahabilidades.
As mega-habilidades, descritas por Lipman, as quais Souza (2003) se remete, traduzem o que a escola deseja para a tessitura dos cidadãos e, também, vem ao encontro das denúncias dos professores com relação aos considerados déficits na aprendizagem. Cabe salientar que o desenvolvimento dessas mega-habilidades repercute sinergicamente no âmbito da ética, alteridade, criatividade e espiritualidade, mediados pelo diálogo reflexivo. Assim, compreendemos que as mega-habilidades se constituem em conjunto e em sincronia com outras múltiplas habilidades e na convivência subjetiva ou intersubjetiva. Desta maneira, habilidades como
atenção,
concentração,
argumentação,
formulação
de
conceitos, formulação de hipóteses, descrição, análise, estimativa, generalização, conclusão, síntese, auto-correção e outras tantas habilidades que são invisíveis ao(s) olhar(es) do(s) observador(es), se manifestam, por vezes, através dos sentimentos, alcançando uma dimensão em que as próprias palavras encontram-se limitadas para explicar. Percebemos que no ambiente em que estes sentimentos são fermentados, deixam rastros de solidariedade, compaixão, respeito, cooperação, empatia, generosidade, alegria, humildade, bondade, 4
consideração, sinceridade, cumplicidade, comprometimento, enfim, situações que possibilitam entender a filosofia como portal para uma Educação Transformadora. Aproximamos esta concepção do que Sardi (1999) aborda sobre a filosofia, citando: [...] visando ao mesmo tempo, a amplificar, a aprofundar e a continuamente questionar a nossa visão de mundo, o filosofar poderá tornar-se uma dimensão do nosso modo de agir, sentir e pensar. Dimensão fundamental, porque, evidentemente, criativa. Com isso, criamos algo, não apenas em nós, mas operamos criativamente com relação a nós mesmos.
Desta forma, associamos a filosofia como fonte inesgotável de autopoiese, pois é capaz de ao mesmo tempo desencadear complexos pensamentos que se materializam em ações e posteriormente modificam o próprio pensamento, conseqüentemente, provocando novas e criativas ações. Entendendo a filosofia neste processo de cocriação, legitimamos a capacidade do ser Humano como autor de sua história, capaz de mudar sua realidade. A partir do momento que se (re)organiza o pensamento, através da reflexão filosófica, ocorrem mudanças na constituição do interior de cada ser que, por sua vez, provoca mudanças na realidade exterior e vice-versa. Sob esta ótica, sublinhamos: o ser humano (re)cria as relações no ambiente, consciente ou inconscientemente. Essas concepções se identificam com os movimentos do novo paradigma. A Educação é uma instituição preponderante para fomentar
estes
caracterizam
movimentos
por
serem
que,
segundo
não-lineares,
Capra
(1996),
cooperativos,
se
flexíveis,
sustentáveis, holísticos, ecológicos, ecocêntricos e tendo a saúde como principal valor. Cabe aos profissionais da educação se deixar seduzir pelos efeitos quânticos das ondas de transformação, integrando-se a rede do novo paradigma, tendo a Filosofia com Crianças como parceira deste processo.
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A proposta de Filosofia com Crianças permite a ressignificação do
processo
educativo,
descentralizando
o
conhecimento
que
historicamente estaria único e exclusivamente no professor. Este passa a exercer o papel de mediador, problematizador, interventor e organizador. Assim, os estudantes exercem e desenvolvem suas autonomias nas aprendizagens. Dessa forma, o conhecimento transcende a linearidade, com maior significação e criatividade para a comunidade aprendente que, através do diálogo reflexivo, organiza e expressa o pensamento em prol da cidadania, com uma postura democrática, firmando o respeito pelo Outro e a alteridade.
Retrospectiva
No ano de 1995, ocorreu no Município de Montenegro-RS, na Fundação Municipal de Artes de Montenegro (FUNDARTE), o Encontro Nacional de Arte-Educação, sendo que uma das oficinas oferecidas denominava-se Filosofia para Crianças, ministrada pelo Prof. Dr. Marcos Antônio Lorieri1. A partir daí, profissionais simpatizantes desta proposta começaram a estudar a possibilidade de oferecer cursos de Filosofia, a fim de ampliar o entendimento desta proposta e oportunizar a um maior número de professores o acesso às reflexões filosóficas e metodológicas. Integrou-se a este grupo o Prof. Filósofo Élvio Duarte2 que contatou o Prof. Dr. Sérgio A. Sardi3, articulador dos estudos da Filosofia com Crianças. Desta maneira, no ano de 2001, contando com a organização da Secretaria de Educação e Cultura (SMEC) e em parceria com o Sindicato dos Professores (SINPRO), o que era apenas uma possibilidade, potencializou-se. Desde então, através do apoio da SMEC, os estudos sobre Filosofia com Crianças têm sido constantes, através de cursos 1 2 3
Prof. Dr. em Filosofia – PUC/SP (1995) Professor de Filosofia da rede pública de ensino Prof. Dr. em Filosofia – PUC/RS
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ministrados pelo Prof. Sérgio A. Sardi, oficinas com profissionais indicados por este, e encontros periódicos com educadores do município interessados no assunto. Em nossa Escola, a partir do suporte teórico – vivencial referido acima, formou-se um grupo dedicado à continuidade destes estudos e sua prática.
Ensaio
Entendemos por ensaio, nesse contexto, a possibilidade de aventurar-se, permitindo-se sair da obviedade com relação às propostas realizadas com os estudantes e, também, a reorganização dos nossos próprios conceitos. Atualmente
articulamos,
mesmo
que
timidamente,
esta
proposta nos setores da Biblioteca, Informática, Laboratório de Aprendizagem, na prática da Orientação Educacional e Supervisão Escolar. Também, anualmente, ocorrem oficinas de Brincar de Pensar na programação da LITERARTE4. Em
meio
a
estranhamentos,
admiração,
enfrentamentos,
silêncio, diálogo e, também, diálogo no silêncio, a provocação realizada
nos
encontros
de
estudos
filosóficos
nos
foi
muito
significativa. Muitos de nossos conceitos foram descristalizados e (re)criados. Ilustramos, através dos seguintes recortes, algumas idéias desencadeadas, que possibilitaram ampliar nossa concepção:
Entender que a vivência não é atividade, mas que a vivência é o que se dá a partir de geradores de vivências.
Compreendemos, por exemplo, que uma técnica pode provocar uma vivência, porém, a vivência não está atrelada a uma técnica. Uma vivência é ímpar, singular, única, intransferível, insubstituível, 4
Programação realizada na Semana da Criança que visa vivenciar a Literatura e a Arte na Escola M. E. F. Cinco de Maio.
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inusitada e muitas vezes inexplicável. Está conectada aos sentidos e sentimentos, consciente ou inconscientemente. A vivência impregna de significado o contexto no qual o sujeito está inserido no momento presente. Ela está relacionada ao estranhamento, encantamento e/ou admiração. A vivência emana do interior e se reflete no exterior, ou seja, transforma internamente e repercute externamente. Assim sendo, a vivência interfere na realidade.
A diferença é a condição da igualdade. Somos todos diferentes e é por isso que somos iguais. Nestas diferenças constituímos nossa identidade.
Vivemos em uma sociedade permeada por diferenças étnicas, culturais, físicas, sexuais, raciais, religiosas, entre outras, o que nos torna singulares. Esta diferença é que nos caracteriza, nos faz ser o que somos. Somos diferentes uns dos outros, e por isso crescemos e aprimoramos nossa forma de olhar o mundo. Assim, através das relações, construímos nossa história e, concomitantemente, nossa identidade. Entendemos que os seres são classificados conforme suas propriedades, ou seja, as semelhanças e diferenças categorizam as espécies. Com as pessoas ocorre o mesmo, porém, dentro das várias características do ser humano, a de ser único e inigualável torna cada indivíduo diferente. A identidade de cada um se fortalece nas relações estabelecidas e na diferença. Assim sendo, a qualidade da/na diferença, torna todos iguais.
Vou me conhecer a partir de como me relaciono com o Outro.
A perspectiva de trabalho de Filosofia com Crianças favorece de forma muito concreta a questão da alteridade, de respeito e escuta à 8
opinião e à postura do Outro. Vindo daí uma concepção maior de que podemos nos colocar no lugar do Outro e entender-nos como parte de um todo. Nesse sentido uma forma de perceber-se, de conhecer-se está relacionada à forma como se acolhe, como se relaciona e como se dá a interação com o Outro. Entendendo esse Outro como parte de um mesmo universo e que o todo é mais do que a soma das partes. O todo se dá na interação porque essa possibilita que eu me conheça e conheça o Outro.
O falar, o escrever, o ler e o pensar para além da reprodução.
O ato do pensar já faz parte do ser humano desde a sua concepção, no entanto, a escola não se apropria dessa habilidade de forma a desenvolvê-la em todas as suas possibilidades. Com o tempo, o meio sócio-cultural no qual estamos inseridos não amplia o espectro de abrangência dessa habilidade. Já a fala, peculiar do ser humano,
permite
a
comunicação
pela
linguagem
oral
e
o
desenvolvimento das relações como um todo. O ler transcende a decodificação apenas do código escrito, pois lemos também a palavra falada, as imagens, os movimentos e tudo o que não está explicitamente demonstrado. O escrever constitui uma representação da fala que também é uma representação do pensamento. Percebemos então, que o pensamento está como base de todo o processo que é complexo e demanda um ambiente estimulador que propicie,
através
de
situações
vivenciais
benéficas,
momentos
oportunos ao desenvolvimento. A escola, com a função de formar cidadãos, deveria buscar desenvolver as mais variadas habilidades para o bom desenvolvimento global da criança.
A capacidade de admirar-se.
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A capacidade de admiração envolve a curiosidade natural das crianças, que não se satisfaz com qualquer resposta pronta, que busca os porquês dos fatos e das ações que se apresentam a elas diariamente. Assim, conseguem questionar o cotidiano, descobrir diversas significações nas situações que, para os adultos, muitas vezes já estão cristalizadas, ditas como certas e incontestáveis. Além disto, percebe-se uma grande abertura das crianças ao novo, elas aceitam proposições diferentes das habituais e também as propõem; criando e recriando conceitos e atitudes. Esta atitude filosófica e capacidade de admirar-se aproximam as crianças da filosofia e as potencializam para novas descobertas.
A pergunta
As perguntas não são feitas para serem respondidas no sentido de serem resolvidas. Elas permitem reconhecer o limite e ultrapassalo, explorando obviedades. É necessário ao professor com uma postura filosófica, ter claro o significado da pergunta para que a mesma não seja a indução da idéia do propositor. Esta atitude serve como antídoto contra as verdades que pretendem se impor.
Desafios e Perspectivas
Com relação às nossas tímidas experimentações articulando a Filosofia com Crianças na escola, tanto em trabalhos com os estudantes como com os professores, percebemos que os desafios são
constantes.
tradicional,
Por
sermos
precisamos
constituídos
desequilibrar
por
uma
constantemente
educação nossas
concepções e nos reconstituir a partir de novos parâmetros. Portanto, temos que desenvolver uma atenção aguçada sobre a própria postura pedagógica, através de um olhar observador sobre o 10
próprio
fazer.
Sermos
e
estarmos
abertos
ao
imprevisível.
Valorizarmos os múltiplos conceitos lançados pela
comunidade
aprendente e, ao mesmo tempo, termos a capacidade de intervir, “amarrando” as idéias, tornando-as com sentido individual e coletivo, sem desrespeitar os encaminhamentos e/ou posicionamentos da turma. Em nossos ensaios de Filosofia com Crianças nos damos conta do quanto necessitamos de estratégias para provocar o pensar. E, quando conseguimos um clima favorável em que os estudantes expressam várias idéias, nos deflagramos com a dificuldade de explorar as contribuições e problematizar de maneira mais perspicaz. Enfim, sem nos darmos conta, centralizamos ou induzimos os assuntos às conclusões, a partir do nosso ponto de vista, receitando o nosso entendimento. Outro desafio é administrarmos a participação de todos de modo que se sintam pertencentes ao processo, minimizando o monopólio de poucos e a exclusão da maioria. Cabe ressaltar que as salas de aula são estruturadas sob o velho paradigma, mais precisamente com influências do modelo capitalista, valoriza a produção em massa. Isso implica em um número
excessivo
de
estudantes
nas
turmas,
sendo
que
a
aprendizagem é testada com a finalidade de quantificar resultados, tornando o conhecimento limitado, restrito e homogêneo. Enfim, ao nos depararmos com estas situações que sinalizam que há muito que fazer para superar nossos entraves, delineamos avanços também importantes, tais como: uma percepção mais ampla e crítica sobre a própria prática; oportunidades de maior participação entre os diferentes segmentos da comunidade escolar; melhorias nos relacionamentos em geral; pré-disposição e abertura para o novo, através da curiosidade; desenvolvimento de maior autonomia e criatividade;
desmitificação
referente
à
forma
como
se
dá
o
desenvolvimento do conhecimento. 11
No entanto, evidenciamos que o trabalho da Filosofia com Crianças está se arquitetado na teoria e na prática de uma minoria de profissionais da educação em nossa Escola. Ainda há os que não foram ou não se permitiram ser iniciados neste trabalho. Porém, não se exclui a prática de um número significativo de docentes, que mesmo sem se perceberem, estão integrados ao processo. Isso se apresenta para nós como uma perspectiva esperançosa de ampliação do trabalho.
Considerações Finais Uma Escola pode e deve mudar o seu fazer e ser pedagógico. Atualmente, nos permitimos ensaiar a Filosofia com Crianças em alguns momentos do período letivo. Percebemos-nos iniciados a esta rede da comunidade filosófica, que deseja ajudar na tessitura de seres mais humanizados e, portanto, colaboradores na construção de um mundo melhor. Também reconhecemos, como foi explicitado anteriormente, que ainda estamos engatinhando neste processo. As dificuldades em manter uma conduta de abertura e de acolhimento ao pensamento, aos questionamentos e às pistas que os alunos nos dão sobre seu modo de ser e sentir, nem sempre são devidamente aproveitadas ou exploradas por nós, professores, enquanto coordenadores
das
atividades. Porém, temos a certeza de que o importante é começar. Entendemos que o caminho vai se fazendo ao caminhar; não pelo simples caminhar, mas pela observação da trajetória, da atenção ao que já foi feito e vivenciado, da vontade de experimentar novas trilhas, amparados pela busca de novos conhecimentos e da ressignificação dos conhecimentos já adquiridos. Tendo em vista estas considerações, temos a convicção que a Filosofia
com
Crianças
contribui
para
o
desenvolvimento
das 12
habilidades do pensamento superior e a formação moral da mesma, na medida em que se tornam mais autônomas intelectualmente, e que aprendem a agir em comunidade, respeitando o Outro e a si próprias, mediados pelo diálogo reflexivo. Por isso, a consideramos de vital importância, pois o objetivo da escola é o desenvolvimento do estudante como um todo. Avaliamos que o ser e fazer da Filosofia com Crianças, além de contribuir para que a Escola cumpra com o seu papel em uma concepção interacionista, modifica o nosso entendimento sobre a própria docência. Nesse sentido, professor e estudante tornam-se, simultaneamente, ensinante e aprendente. Assim sendo, o trabalho com a Filosofia encontra campo fértil no cotidiano escolar, quando voltado para os estudantes e construído com os estudantes, desde a Educação Infantil.
Bibliografia ARANHA, de Arruda Maria Lúcia. MARTINS, Pires Maria Helena. Filosofando Introdução à Filosofia. 3ª ed. São Paulo, SP, editora Moderna, 2003. ASSMANN, Hugo. Reencantar a Educação. 8ª ed. Petrópolis, editora Vozes, 2004. CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida. São Paulo, SP, Editora Cultrix, 1996. SARDI, A. Sérgio. Partilhando a Admiração in: KOHAN, W. & LEAL, B. (org.) Filosofia para crianças – em debate. Petrópolis /RJ, editora Vozes, 1999. SOUZA, Nivaldo Alves de. A Criança e o Pensar. Florianópolis, SC, Sofhos, 2003.
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