Evol Canetas

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[ a evolução no design da caneta ] História da Técnica e do Desenho Industrial

Docente

Sandra Medeiros

Dicentes

Dimitri Santos Neves Nilton C. Sodré Paulo Sérgio Nunes Walter de Aguiar

Universidade Federal do Espírito Santo Setembro de 2003

apresentação

[ moto-contínuo tecnológico-evolutivo coletivo ]

Uma análise aprofundada no desenvolvimento dos vários objetos que hoje povoam nosso cotidiano faz invariavelmente transparecer bastante do que podemos chamar de evolução dos meios de produção, bem como das técnicas e, a grosso modo, das possibilidades legadas à indústria por aqueles que exerceram o design através dos séculos. Apresentamos A Evolução no Design da Caneta com a proposta de aprofundarmos estudos no campo da história do design, através de pesquisas pautadas pelas obras de autores consagrados como Bernd Löbach, McLuhan e Rafael Denis Cardoso, nas abordagens diretamente ligadas ao design, e, nos aspectos tecnológico e econômico, Nathan Rosenberg. Nossa escolha por um objeto presente em toda a história recente da cultura e da civilização permitirá ao leitor vislumbrar não só o desenro-

lar do que podemos propriamente chamar design, ou seja: a evolução pós Bauhaus - mas irá muito antes deste momento, próximo mesmo das primeiras manifestações de escrita, quando o uso da tinta trouxe a necessidade de dispositivos cada vez mais engenhosos, capazes de acompanhar o ritmo da produção dos documentos e obras literárias. E como a evolução tecnológica é algo que se multiplica geometricamente mediante as possibilidades de combinações e o surgimento de sempre novas necessidades (muitas vezes decorrentes dos avanços anteriores, numa espécie de motocontínuo coletivo), nos vemos obrigados a analisar também os meandros do processo através da história, tentando ressaltar a natureza cíclica com que soluções geram problemas a serem solucionados, numa progressão infinda. Imagens dispostas ao longo das páginas tra-

A Evolução no Design da Caneta

“A cada nova técnica novas tensões e novas necessidades levam o homem a desenvolver novas técnicas.” Bernd Löbach

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[ vision of the future ]

A Magic Pen é um dispositivo inteligente de recepção. Informações geradas durante a escrita e o desenho são gravadas. Elas podem ser carregadas depois da caneta, através do “tinteiro”, para dentro do computador. Pode inclusive ser utilizada para gravar falas, usando o processo de ditado voz-texto. www.philips.com/design/vof

“Hoje o Personal Digital Assistant (PDA) é composto de uma caixa preta inteligente (tablet) e uma caneta de contato; imagine reverter a descrição, colocando a inteligência na caneta mesma. Você cria de repente algo muito poderoso, quase mágico.” Khody Feiz, design de produto.

nos valemos de cronogramas encontrados em websites como: www.metmuseum.org, www.historychannel.com, e www.pbs.org. A seguir, conforme se estruturava o estudo, contamos com a orientação da dosecente Sandra Medeiros enquanto desenvolvíamos, paralelamente, um leiaute que se adequasse às nossas aspirações: o resultado é apresentado nas próximas páginas, divididas em 4 seções, sendo que na última parte reunimos algumas informações complementares. A caneta foi, portanto, entre tantos outros objetos, aquele que nos aprazou explorar, e não fosse o bastante a sua presença marcante na história e no cotidiano de todo o mundo, gostaríamos de ressaltar um seu valor mais resguardado, talvez mesmo despercebido pelo leitor em sua ingenuidade e leviana curiosidade. Escolhemos este instrumento porque percebemos que não obstante tenha vindo de há muito, está ainda fadado a acompanhar longos capítulos de nossa história, como ficará claro. Mais ainda - e aqui exprimimos algo do orgulho de nosso fazer diário nos decidimos por um tal objeto por simbolizar, não em seu caráter fetichista e sim no funcional, o nosso exercício de designers gráficos. Pois diferentemente do carbono do carvão, evoluído até o grafite, a caneta representa não só o gesto do designer, mas também a impressão. O uso da tinta, sempre adequada à aplicação e seus processos, garante à caneta a representação de nosso fazer profissional, e a torna, incontestavelmente, merecedo ra desse estudo.

apresentação

cínio proposta, possibilitando uma compreensão mais abrangente e precisa deste percurso percorrido pelo objeto em seu desenvolvimento. A cada novo capítulo, uma chamada dará a tônica da abordagem, fortalecida por títulos que se farão claros à medida que a leitura se dá, compondo-se diante do leitor uma apresentação não puramente linear, mas cheia de intertextos e observações fundamentais para se evidenciar a correspondência das obras pesquisadas com a realidade histórica da caneta. As imagens apresentadas foram obtidas através dos websites dos fabricates Bic, Montblanc, Parker e Waterman; do site conceitual Vision of the future mantido pela Philips; e também extraídas de livros como O design do Século, Design de A a Z, A palavra Escrita e o Anuário 2003 de canetas da Fountain Pen Hospital. Para embasamento teórico foram fundamentais os capítulos Estética do design industrial e configuração simbólico-funcional de produtos industriais da obra de Löbach; a introdução ao desenvolvimento da escrita de Wilson Martins apresentada em A palavra escrita; trechos da obra de McLuhan, Os meios de comunicação como extensões do homem, além de O Design do Século, de Michael Tambini e artigo de J. G. Fraga publicado pela revista ArcDesign. Depois de feita uma triagem e desbastado o material, tratamos de compor uma estrutura cronológica a fim de localizar na história as diversas informações, e assim, podermos tratá-las de forma mais concisa e dinâmica. Neste momento

A Evolução no Design da Caneta

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 çam paralelos com a linha de racio-

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“Um problema central no exame dos avanços técnicos, e que torna difícil até mesmo definir ou caracterizá-lo prontamente, é que ele toma vários aspectos diferentes. Porque o processo técnico não é uma coisa, é muitas coisas...” Nathan Rosenberg

“Economistas vêm tratando o fenômeno tecnológico como se compondo de eventos que transpiram dentro de uma caixa preta. Eles logicamente perceberam que estes eventos têm conseqüências econômicas significativas, e de fato devotaram esforços e ingenuidade consideráveis pa-

ra traçar, e até medir, algumas dessas conseqüências. Não obstante, a profissão dos economistas aderiu mais diretamente a uma conduta autoimposta por não pesquisar muito seriamente a respeito do que transpira dentro daquela caixa.”

A conduta descrita desses economistas é mais ou menos a mesma adotada pela massa que, diante das inovações surgidas no mercado, demonstram um misticismo semelhante, explorado cada vez mais pelo marketing. Os comerciais criados para marcas como OMO ou Wella, por exemplo, trazem sempre a imagem de poderosos laboratórios equipados com o que há de mais fantasticamente distante da realidade da dona de casa, sempre num visual futurista e com animações didáticas de estruturas moleculares que mostram a magia da ação daquele produto inovador, ou mesmo milagroso. Parece ser destes recôndi-

A Evolução no Design da Caneta

Pensar no desenvolvimento técnico de um objeto pode parecer, a princípio, uma consideração dos diversas etapas por que passou até alcançar seu estagio atual: resultado da intervenção de mentes inventivas que, aqui e ali, se esforçaram por trazer ao mundo suas concepções do que se convencionou chamar inovação. Assim, inovação após inovação, os nossos “objetos modernos” viriam sendo construídos por um clã de gênios, recolhidos em seus complexos universos pessoais. Nathan Rosenberg em sua obra Inside the Black Box: Technology and Econo-mics (1982), descreve o seguinte:

desenvolvimento

[ desmistificação do processo criativo ]

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desde que lave melhor a roupa ou deixe os cabelos parecidos com os da última vedete holywoodiana. Em nossa análise, entretanto, demonstraremos que por detrás das atitudes inventivas de personalidades (com suas equipes de colaboradores) há um emaranhado de circunstâncias responsáveis por gerar a demanda, os meios, e até as características da inovação, elementos que poderiam ser tomados como simples competência ou preferência do designer. Todo processo engendrado o é por força de uma energia, uma tensão, que se configura a partir das condições sociais, culturais e, em se tratando de um mundo capitalista: econômicas. Tais condições formam uma malha de tensões capaz de, numa espécie de convulsão, impulsionar ou possibilitar um avanço tecnológico, que por sua vez permitirá outros tantos, numa espécie de reação em cadeia, pois a cada resposta obtida surgem novas questões decorrentes. Cada avanço, cada inovação ou incremento levanta, invariavelmente, questões novas. A transformação no cotidiano de uma sociedade implica numa transformação mais ou menos radical. Adaptar-se às novas condições estabelecidas é sempre um processo que gera novas questões, novas tensões que requerem novos esforços. O homem está fadado à evolução contínua enquanto houver dentre nós espíritos questionadores ou simplesmente dispostos a mudanças. O designer mais experimentado certamente concluirá, cedo ou tarde, que nada está pronto, evoluído até o limite; e que seu exercício não é conclusivo e sim evolutivo, indefinidamente aperfeiçoador. 

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cos e cheios de luz que vêm as inovações tecnológicas. E isso basta,

A Evolução no Design da Caneta

 tos misteriosos, divinamente bran-

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“Os romanos chegaram a fabricar calami de bronze, que foram, assim, um prenúncio da pena metálica, dela separados pelo reinado da pena propriamente dita, a pena das aves.” Wilson Martins

Já no correr dos 3000 a.C. registrase o uso de pincéis pelos egípcios, para sua escrita pictórica. Os romanos, por volta de 1300 a.C. utilizavam, além de uma modalidade própria de estilete, o calamus: uma espécie de caniço para escrita sobre papiros ou pergaminhos. Nas palavras de Wilson Martins: “Esse caniço, chamado comumente calamus, foi, por conseguinte, o antepassado direto da nossa pena. Os calami eram conservados em estojos apropriados, que muitas vezes se carregavam pendurados na cintura, junto com os recipientes de tinta. Os romanos chegaram a fabricar calami de bronze, que foram, assim, um prenúncio da pena metálica, dela separados pelo reinado da pena propriamente dita, a penas das aves.”

Os calami foram largamente utilizados até pelo menos o século VI de nossa era, havendo registros de sua  aplicação ainda no século XVI.

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Buscar um início para a história da caneta remete a um momento muito anterior a seu surgimento, de forma que se faz necessária uma regressão prévia, a fim de situar o leitor no contexto de seu aparecimento. Podemos definir por escrita o ato de gravar formas sobre um suporte com a intenção de uma construção lingüística. Das mais primitivas modalidades de escrita até as mais sofisticadas, existe sempre a necessidade de instrumentos adequados. Os ancestrais da caneta remontam, sob esta ótica, aos mais primitivos intentos da humanidade pré-histórica. Faz-se providencial a separação, a fim de direcionar mais objetivamente a atenção do leitor, entre instrumentos de entalhe ou desgaste e instrumentos a tinta, mais diretamente aparentados ao nosso objeto de estudo.

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[ a caneta embrionária ]

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de materiais não é de valia prática à produção de artefatos até que se dominem as técnicas necessárias para trabalhá-los. E uma vez dominando-se a técnica, cabe ainda averiguar a validade de sua aplicação. Dificuldades na manipulação do aço, por exemplo, (já conhecido desde aquela época) podem ter levado a uma predileção pelo cobre na confecção dos calami. O mesmo quadro se repete hoje na indústria, enquanto que no extremo oposto, chega-se a projetar objetos em função de um dado material, notadamente quando a facilidade de obtenção, e conseqüentes possibilidades de lucro, são consideravelmente elevadas (seja por baixos custos de processamento ou por um forte apelo estético, por exemplo). Já a partir de 600 d.C., com a crescente dificuldade para se conseguir calami de boa qualidade, as penas passaram a ser utilizadas como  instrumento de escrita.

A Evolução no Design da Caneta

Cálamo com estojo, segundo uma pintura de pompéia.

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Cabe acentuar que o conhecimento

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As remígias, penas das asas, dos gansos eram as mais procuradas: as hastes possuíam um bom comprimento, além de uma espessura adequada tanto à boa empunhadura quanto ao corte, que permitia uma ponta de espessura apropriada. Tinham também a capacidade de reter a tinta no interior do bulbo até que se lhe aplicasse leve pressão. O preparo das penas era um processo bastante artesanal. A ponta da pena era aparada até a espessura desejada e, em seguida, mergulhada em areia aquecida para que ficasse mais rígida. Por causa das diferenças naturais das próprias penas e dos cortes feitos, além da própria pressão exercida pela mão (que causava variações na espessura dos caracteres), cada pena tornava-se um instrumento de escrita

único. O uso dessas penas resultou ainda na modificação do estilo da escrita da época. Inicialmente utilizadas para o desenho das letras maiúsculas, elas foram usadas mais tarde nas minúsculas, permitindo maior velocidade da escrita. As notáveis restrições impostas pelo sistema que se estendeu por séculos a fio, certamente causarão alguma exaltação nos leitores menos experimentados na área das evoluções. Partamos das chateações mais evidentes: os respingos por toda a superfície desenhada caligraficamente (constituía então uma arte de poucos, e para poucos) e a lenta secagem do excesso de tinta nas páginas (o que era, antes de mais nada, um desperdício do líquido) eram características da ferramenta tão sumariamente aparada à medida do desgaste. A secagem das páginas demandava superfícies

A Evolução no Design da Caneta

“Eram escolhidas, como se sabe, as penas da asa, chamadas remígias, o que provavelmente deveria facilitar os vôos da imaginação.” Wilson Martins

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[ evolução a duras penas ]

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lhas ainda úmidas seria catastrófico. Mas a mais impressionante das limitações não se encontra entre estes fatores. Trata-se de um aspecto ligado ao raciocínio e à capacidade de vazão das idéias pelo escritor. Imaginemos que ritual não constituía a escrita. A cada tantas sílabas havia a necessidade de molhar a pena, retirar os excessos e conduzir a ponta molhada por sobre o papel (tentando de todas as formas evitar os respingos) para então imprimir à página mais umas tantas letras e retomar o ritual. A este compasso penoso estava limitada sua expressão escrita: horas a fio para produzir uma seqüência razoável de páginas, em caracteres exuberantes, certamente muitas vezes maiores que os encavalados nas páginas digitadas da atualidade (o que constituía uma outra dificuldade relativa à obtenção do suporte). A pena será utilizada numerosas vezes na produção de diversos dos documentos que nos contam hoje um pouco de nossa história e nos transmitem a poética e a ciência de tempos passados. Sua valorização comercial, entretanto, não se poderia desenvolver muito, uma vez que se tratava de objeto tão simplório, praticamente aplicado em estado bruto, e, em geral abundante. 

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amplas, uma vez que ajuntar as fo-

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A pena era ainda vastamente utilizada em torno de 1800. Nessa época um ourives americano, não se adaptando às inconveniências da ferramenta, criou para si uma pena de aço. Chamado Pellegreno Williamson, trabalhara inclusive uma fenda a fim de conferir maior elasticidade à ponta metálica. A patente é requerida três anos mais tarde, por Bryan Donkin, um engenheiro inglês, que, entretanto, não explorou o invento comercialmente. O novo invento breve traria a necessidade de novos incrementos. O mundo assiste ao florescimento da primeira revolução industrial. A crescente demanda por velocidade e capacidade nos transportes torna estes dois fatores sinônimos de lucratividade. A indústria do aço desenvolve-se para compor locomotivas e estradas de ferro mais eficientes. Logo resultaria daí que um grupo de fabricantes ingleses, através de um processo de alimentação por placas

de aço, desenvolve uma forma de produzir penas com grande potencial comercial (preços menores e maior qualidade). O processo de corte de lâminas e moldagem é semelhante ao dos dias atuais. 1830 via nascer uma nova indústria de massa que homogeneizou a espessura dos traços a pena. Entretanto, o desgaste continuava, e a forma de proteger as novas penas foi introduzir um material mais duro a suas pontas: o rubi, inicialmente, e o irídio passam a ser aplicados. A necessidade de molhar a pena no tinteiro permaneceria ainda por algumas décadas, mas era evidente que diante de tantas evoluções técnicas, a pena não poderia se demorar como gargalo da produção escrita. A própria revolução industrial trazia consigo a necessidade de novos e mais detalhados registros de produção, contratos, acordos,  vendas, entre outros.

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“Sem a escrita, privilégio do homem, cada indivíduo, reduzido à sua própria experiência, seria forçado a recomeçar a carreira que o seu antecessor teria percorrido, e a história dos conhecimentos do homem seria quase a da ciência da humanidade”. Encyclopédie

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[ uma ferramenta mais resistente ]

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Década de 1910, Waterman. O n.º 420 é um dos modelos mais raros das canetas em filigrana, existem apenas quatro no mundo hoje. Como na caneta acima, a tinta era colocada no reservatório com conta-gotas.

Os desenvolvimentos técnicos de uma nova era trariam novas questões ao design da caneta: um modelo em níquel de 1850 marca a transição tecnológica. De produtor desconhecido, a caneta com reservatório em couro de porco não funcionava muito bem, mas já tentava evitar que se mergulhasse a pena no tinteiro a cada palavra. Surge neste momento uma série de canetas com os mais diversos implementos na busca por incorporar uma carga de tinta e aposentar o tinteiro definitivamente. O processo, entretanto, não é linear, e várias marcas se esforçavam por desenvolver a melhor solução e fazer o melhor uso comercial dela. Na segunda metade do século, a ciência era posta a serviço da indústria em nome do desenvolvimento de técnicas que permitissem maior produção, melhor aproveitamento de

materiais ou energia e força de trabalho, ou no melhor aproveitamento do tempo. Conforme as novas possibilidades iam surgindo, os projetistas e designers iam-se valendo delas em seus projetos, no caso das canetas produzidas em massa, restringidos pela viabilidade comercial, enquanto que no caso dos artigos de luxo, aproveitando-se dos novos processos, mais complicados e menos comuns para, a despeito do custo da produção, confeccionar objetos únicos, desejados pelas altas classes. Desenvolveram-se vertiginosamente os meios de transporte, a fim de escoar a produção e fornecer suprimentos à indústria. Como conseqüência, o transporte de passageiros evolui de tal forma, que viagens antes inconcebíveis pela mente da época se tornam possíveis. Rosenberg aponta que: 

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“Em 1900, os pricípios fundamentais para uma caneta-tinteiro bemsucedida estavam estabelecidos: um reservatório para tinta, um sistema de carregamento e um método para conduzir a tinta até a ponta. Encontrar a melhor combinação era um desafio constante...” O Design do Século

A Evolução no Design da Caneta

1899, Paul E. Wirt. As canetas decoradas em ouro eram muito comuns da década. A similaridade entre os desenhos de várias marcas sugere que usados os mesmos fornecedores.

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Década de 1850, produtor desconhecido, Esta ca neta em níquel com reservatório em couro de porco pretendia evitar que se mergulhasse a pena no tinteiro a cada palavra. Apesar do avanço técnico, este tipo de modelo ainda não funcionava muito bem.

[ aposentadoria do tinteiro ]

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Costumava-se usar um conta-gotas para encher o reservatório

Especificações País: EUA Material: Borracha rígida com aro de ouro Comprimento: 13 cm Waterman Conta-gotas c. 1903 Lewis E. Waterman, pioneiro em canetas-tinteiro, fundou sua empresa de sucesso patenteando um design que aperfeiçoava o carregamento, incluindo delicados sulcos sob a ponta.

Eis um exemplo da potencialidade de uma segunda fase da revolução industrial. A busca simultânea de soluções técnicas nas diversas áreas possibilitou que resultasse de suas interações práticas um sal-to historicamente inigualável até então. O desenvolvimento do automóvel particularmente, com os conseqüentes desenvolvimentos das tecnologias dos combustíveis e da borracha para os pneus vieram a promover um crescente domínio das possibilidades químicas do petróleo, o que, por fim, possibilitou o a produção dos emborrachados e, já em 1930, dos plásticos que utilizamos, dentre outras coisas, na confecção de nossas canetas mais a-cessíveis. Conforme aponta Rosenberg, isso não seria o bastante se os processos não fossem economicamente atraentes. O prodígio foi, portanto, a simultaneidade com

que se deu o desenvolvimento nas mais diversas áreas, gerando uma disponibilidade cada vez maior e progressivamente mais atraente, do ponto de vista econômico, dos novos meios e possibilidades de produção. Foi anos antes, em 1880 que a Paul E. Wirt & Mabie e a Todd & Bard, duas companhias norte-americanas, patentearam a mesma invenção. Criavam a primeira caneta-tinteiro baseada no princípio da capilaridade: sem formar vácuo, a tinta fluía suavemente do reservatório para o papel: finalmente um objeto prático, simples e portátil, mas que logo demandaria novos desenvolvimentos. Dois anos mais tarde, Lewis Edson Waterman experimenta as restrições do novo processo ainda prematuro: corretor de imóveis, diante de um importante negócio, perde o cliente para um concorrente simplesmente porque sua caneta, além de não escrever, respingara todo o contrato. Decepcionado, dedica-se ao projeto de uma caneta com a qual pudesse contar sempre, e dá origem à Waterman, uma das mais tradicionais marcas de canetas-tinteiro ao receber, na Exposition Universelle de 1889, medalha de bronze – a mais alta honra concedida a uma caneta tinteiro. A configuração econômica e a disponibilidade da tecnologia configuram uma proliferação de empresas no ramo: ainda em 1882 a inglesa Waterman; a Parker em 1891; em 1908 é fundada na Alemanha a Montblanc (então conhecida como Simplo Filler Pen Company); a Sheaffer em 1912, nos EUA; as já instintas Thomas de La Rue (1881 – 1957) e  LeBoeuf (1918 – 1936).

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A pena é feita de borracha rígida preta, com um aro decorado em ouro

“Uma invenção que reduza o custo da geração de energia afeta de formas diversas diferentes indústrias. No passado, tais reduções de custo eram essenciais para o desenvolvimento da indústria do alumínio, uma intensa consumidora de eletricidade. Essas reduções tiveram um papel expressivo no barateamento de fertilizantes comerciais e no aumento da intensidade com que eram utilizados na produção de alimentos. Sua significância para a produção de esferográficas ou guarda-chuvas, entretanto, foi provavelmente muito pequena. Na medida em que essas inovações na geração de energia puderam promover uma redução massiva no custo da energia (a consumação de algo há muito desejado!) inovações subseqüentes, conhecidas por serem tecnicamente viáveis, mas economicamente pouco atrativas, puderam passar ao campo da viabilidade econômica.”

A Evolução no Design da Caneta

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1940, Parker. Uma das ca netas mais famosas do mundo, Parker n.º 51 sobreviveu, em várias formas, por duas décadas. Quando foi lançada, seu sistema de enchimento “vacumatic” era o mais avançado da época. Década de 1900, Aurora . Um dos primeiros modelos da Aurora, esta caneta em borracha dura vermelha é do tipo “safety pen”. Nelas, um sistema de espiral interno impedia que a tinta vazasse quando a caneta não estava sendo usada. 1936, Montblanc. A mais cobiçada da linha Montblanc Platinum Lined, a n.º 128PL tem um sistema de rosca para colocar a tinta. A celulóide especial de que é feita era produzida pela Bayer.

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ramificação em sua linha de desenvolvimento: diferentes dispositivos de segurança antivazamento, processos de recarga variados, protegidos pelas várias marcas através das patentes, que lhes garantiam o direito de exclusividade da aplicação de seus dispositivos por vários anos, gerando uma multiplicidade de soluções, uma vez que este ou aquele fabricante só poderia se valer da inovação do concorrente mediante sua aprovação, e pagamento dos direitos. Em 1900, Waterman alcança uma produção anual de 227.000 unidades: um marco significativo para a época. Os mercados ainda eram suficientes para absorver a produção limitada das várias marcas, mas os acontecimentos do século que hora se iniciava transformariam definitivamente aqueles mol des comerciais.

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1925, Wahl-Everrsharp. Em pau-rosa, esta ca neta apresenta mais uma inovação na tecnologia desses instrumentos: a pequena alavanca lateral permitia encher a caneta sem desmontá-la.

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Neste contexto, a caneta sofre uma

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Outra face do desenvolvimento decorrido da segunda revolução industrial é a necessidade crescente por mercado, fator determinante para a eclosão da I Grande Guerra. Vários fabricantes, capazes de produzir mercadorias inéditas em várias partes do globo, ousam expandir suas fronteiras comerciais bem cedo. Investem no mercado exterior através de agentes ou filiais que se vão posicionando estrategicamente. Se para alguns a presença de mão-deobra e facilidade de obtenção de matérias-primas são determinantes, para outros vale a credibilidade de uma localização nobre, conquanto independentemente das desvantagens econômicas, seus clientes certamente comprarão seus artigos de luxo conforme as possibilidades de seu extrato social mais elevado. A dominação imperialista se consolidava com desvantagens para a potência que mais crescia industri-

almente: a Alemanha, berço de várias das tradicionais marcas de canetas nascidas naquele início de século. Às guerras cabe o mérito de catalisadoras do desenvolvimento tecnológico. São incontáveis as vezes em que desenvolvimentos militares geram incrementos técnicos no âmbito comercial. Citemos por exemplo o caso da indústria aeronáutica que se desenvolveu em grande parte devido ao interesse dos países em se valerem de aeronaves nos combates. Se novamente consultarmos Rosenberg, leremos: “A indústria de aeronaves comerciais é a única entre as indústrias produtoras em que uma organização de pesquisa do governo, a National Advisory Committee on Aeronautics (NACA), ainda se mantém para servir às necessidades do design de aeronaves. Organizações de pesquisa similares, mantidas conjuntamente pelo gover-

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“Competição feroz de preços coexiste com níveis muito altos de concentração do produtor e diferenciação significante dos produtos.” Nathan Rosenberg

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[ uma nova ordem mundial ]

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Os cartuchos das esferográficas convencionais são abertos para permitir que a tinta alimente a ponta. O segredo por trás da Fisher Space Pen reside em características singulares do design da tinta e nas tolerâncias da fabricação de alta perfrmance da ponta esferográfica e do soquete.

A tinta é levada à ponta por pressão à gás, permitindo à caneta escrever em qualquer posição. Um benefício adicional do design hermético é que ele evita que a tinta se resseque, dando à Fisher Space Pen uma vida útil estimada de 100 anos.

................................................................ [ sistema de carregamento snorkel ]

O método Snorkel, da sheaffer, utiliza um tubo fino que emerge do lado inferior da ponta quando o usuário gira o botão na extremidade da caneta. O tubo é, então, mergulhado na tinta. Estendendo e contraindo o mecanismo de sucção, a tinta é sugada para dentro da bolsa de borracha. A ponta permanece seca em todo o processo.

Caneta Snorkel, da Sheaffer

1960, Shaeffer. “Pen for men VII”, em plástico, tem um sistema exclusivo chamado Snorkel. O mecanismo era tão complexo que sobrava pouco espaço para o reservatório de tinta.

Para a indústria de aviões comerciais, as reduções nos custos de ferramentas e maquinário de produção foram consideráveis, proporcionan-do a existência das grandes companhias aéreas da atualidade. A NACA viria a se chamar NASA anos depois. Para as canetas, assim como para vários objetos produzidos nessa época, a mudança mais notável que o consumidor pôde acompanhar foi a apropriação das formas aerodinâmicas, que reforçaremos à diante.

Processos de produção mais ágeis davam vazão a quantidades cada vez maiores de produtos com considerável economia, decorrente do barateamento causado por pesquisas em setores de maior consumo energético, como a indústria bélica ou do alumínio. Conforme barateavam-se os processos, gradativamente os lucros davam lugar a uma democratização dos produtos, frente à sempre crescente concorrência. Cresce o mercado de capitais, surgem as Sociedades Anônimas (S.A.) e os holdings. Para empresas como a Waterman, devido à tradição de negócios em família, apenas em 1971 seria incorporado o S.A. e, dadas as pressões de uma nova organização econômica mundial, em 1987 a marca passaria a fazer par-te do grupo Gillete: reflexos das mudanças que se impunham já a partir do início do século. Em 1928 surge o famoso e poderoso cartel de companhias petrolíferas conhecido como “sete irmãs”, reunindo a Exxon, Chevron, Gulf Oil, Móbil Oil, Texaco, British Petroleum e Royal Dutch/Shell. Mais poderoso do que muitos Estados, o cartel controla, em muitas regiões, todas as etapas da atividade petrolífera. A incorporação das várias etapas da produção torna-se mais tarde uma tendência das grandes empresas para obtenção de maiores lucros e controle da qualidade. A produção aumenta tanto que não encontra vazão frente aos baixos salários pagos e traz como conseqüência a crise de 1929 com a quebra da Bolsa de NY. Segundo Rafael Cardoso Denis, em Uma introdução à história do design, após Quebra da Bolsa, com a queda nas ven-

desenvolvimento

A maior parte das canetas depende da gravidade para alimentar suas pontas. Assim sendo, não escrevem de cabeça para baixo, ou mesmo perpendiculares às paredes. Situação similar é encontrada no espaço, dada a ausência de campo gravitacional.

no e pela indústria para desenvolver pesquisas de inovações tecnológicas diversificadas, vêm sendo recentemente defendidas para outras indústrias pelos consultores. (...) É crucial notar, além disso, que a NACA desenvolveu poucas pesquisas básicas durante este período. Antes de 1940, ela funcionava primariamente para prover infra-estrutura de pesquisa, o que disponibilizou grandes estruturas de informações e testes em design, como os túneis-de-vento.”

A Evolução no Design da Caneta

[ a escrita no espaço ]

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Especificações País: EUA Material: Plástico Comprimento: 11 cm Pen for Men, da Sheaffer 1960 O carregamento por alavanca de Waltre A. Sheaffer d e1907, usado muito nas quatro décadas seguintes, alçou-o à liderança no design de canetas. A Pen for Men emprega o sistema Snorkel (veja acima).

A Parker 61 era produzida em plástico preto, vermelho, cinza ou turqueza

Especificações País: EUA Material: Plástico com aro de ouro Comprimento: 11 cm Parker 61 1956 Embora semelhante à Parker 51, a modelo 61 tem carregamento incomum, usando uma nova tinta chamada Super Quink. A bolsa de tinta, e não a ponta, é imersa na tinta, que é puxada para dentro da bolsa por atração capilar.

Com 13,25 cm de comprimento e bem larga, a Montblanc é uma caneta sólida, pesada

Especificações País: Alemanha Material: Plástico com aro de ouro Comprimento: 13,25 cm Montblanc 149 Masterpiece c. 1970 A caneta Masterpiece data de 1924, e este modelo 149 foi lançado nos anos 70. A cifra 4810 gravada na ponta refere-se á altura da montanha, e simboliza os altos padrões de fabricação da empresa.

A reformulação estética ficou conhecida como styling, e tornou-se uma poderosa aliada dos fabricantes para a venda de seus produtos, que tornavam-se rapidamente obsoletos, ultrapassados mediante constantes mudanças nos valores estéticos. Torna-se evidente a necessidade de estar presente em diferentes países e de diversificar a produção a fim de se obter uma estabilidade frente às bruscas mudanças econômicas. Percebemos um canibalismo empresarial: empresas maiores comprando as menores enfraquecidas ou mesmo quebradas após as crises. A Montblanc, por exemplo, adquire em 1935 uma facção de produtos em couro e passa a oferecer acessórios para escritó-

desenvolvimento

“No design, a admiração pela velocidade como elemento estético deu origem a um modismo bastante peculiar durante a década de 1930. Inspirados nas formas aerodinâmicas aplicadas a trens, automóveis e principalmente aviões (...), um grande número de objetos industrializados passou a sofrer um arredondamento e/ou alongamento assimétrico das formas, às vezes com aplicação de nervuras estruturadas na horizontal, remetendo claramente às linhas de força das histórias em quadrinhos. Essa tendência ficou conhecida como streamlining em referência à palavra inglesa streamline, que denota a linha de fluxo de uma corrente de ar – marcou de forma extraordinária a configuração de muitos produtos, inclusive alguns que dificilmente teriam necessidade de qualidades aerodinâmicas, como canetas ou rádios.”

rio. Conforme a tendência se torna mais forte, expandiu negócios para as áreas de jóias, relógios, perfumes, e bolsas executivas de classe, sendo hoje uma refinada bouti que.

A Evolução no Design da Caneta

A Pen for Man foi projetada com um corpo amplo , de forma supostamente masculina

A estrela branca representa o pico do Mont Blanc coberto de neve

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A caneta pode ser carregada sem a necessidade de mergulhar a ponta na tinta

A ponta da Parker 61 era vulnerável

das, diversos produtos foram reformulados estéticamente com o intuito de aumentar as vendas.

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Com uma produção de 20 milhões por dia em todo o mundo, a caneta mais democrática de todos os tempos dispensa apresentações. O sistema “rollerball” revolucionou a indústria de canetas, colocando na ponta do reservatório uma bolinha que é molhada de tinta na medida em que se escreve. A transparência foi outra inovação, que permite ver quando a tinta vai acabar.

Em 1919 a Bauhaus vem revolucionar o design dos objetos e dos prédios. A busca de uma concepção funcionalista, em que a estética era a estética da função, faz enorme sucesso, principalmente nos Estados Unidos. A caneta, entretanto, trazia de sua longa jornada evolutiva, traços cada vez mais personalizados, buscando atender a diferentes gostos. Se já trazia alguma varieda-de antes e durante a adoção gene-ralizada da estética fria da Bauhaus, depois que essa frieza se mostrou nociva à psique humana, como afirma o próprio Löbach, pudemos observar uma explosão de estilos e variações, mais ou menos ousadas, que se por um lado se justificou pe-la concorrência, por outro configu-rou um fetiche muitas vezes caro, mas bastante difundido. Mais mudanças significativas ocorrem com a eclosão da II Guerra (3945) e desenvolvimentos tecnológicos subseqüentes. Ainda em 1938,

Lázló Biró desenvolvera uma caneta com sistema de esfera alimentado por ação capilar e com tinta de secagem rápida. Entretanto, desconsiderando possíveis problemas no funcionamento do protótipo, seria apenas em 1958 que a indústria estaria madura para produzir a “Volkswagen das canetas”: a Bic era o modelo das massas. Mais barata e descartável, a caneta aprimorada por Marcel Bich cresceu no mercado, sua empresa incorporou várias outras no ramo de artigos de papelaria (incluindo a americana Sheaffer) e, na década de 90, vendia exorbitantes 3 trilhões de unidades ao ano. Até o fim do século haveria uma reviravolta no mercado de canetas. O sucesso dos modelos descartáveis vem demonstrar um momento social de democratização do produzir da escrita. As pessoas são incitadas a escrever pela disputa no mercado de trabalho bem como para seu bem-estar cotidiano. 

A Evolução no Design da Caneta

Da coleção 1999 da Cartier, a “Dandy” é banhada a ouro e decorada com listas em laque incrustada. Grip em onix.

“Somente quando um produto for capaz de prender a atenção do usuário durante um certo tempo, torna-se possível a posse psíquica deste produto, sobrepujando seu uso prático.” Bernd Löbach

desenvolvimento

[ dicotomia e síntese do objeto-instrumento ]

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Canetas com ponta de fibra 1963 As primeiras canetas com ponta de fibra, desenvolvidas no Japão em 1963 pela Pentel, usavam um tubo interno de bambu, que foi substituído por outro de fibra, que conduzia a tinta até a ponta por ação capilar, num sistema usado ainda hoje. Especificações País: Japão Material: Plástico

Canetas Lamy 1982 Os design de canetas de Walter Fabiam para a empresa alemã Lamy foram um enorme sucesso, elevando-as imediatamente à categoria de “clássicos”. As ca netas ganharam popularidade devido ao estilo, e não a avanços técnicos. Especificações País: Alemanha Material: Plástico

já no fim dos anos 20, o plástico admite variedade de cores, notamos o emprego, pelos diferentes designers, de cores primárias, mais fortes, quando o produto é destinado às classes populares, ao passo que às classes de maior poder aquisitivo destinavam produtos de cores mais sóbrias. Mais à frente virá uma série de atributos de ordem meramente estética assumidos pelos vários e diferentes modelos Bic (um reflexo das neces-sidades dos diferentes usuários); ao passo que grifes mais caras tenderão a diluir os altos preços em linhas colecionáveis, a fim de alcançar extratos um pouco mais baixos sem castrar as possibilidades de lucros que os produtos de luxo oferecem. A Bic 4Cores por exemplo, ainda que útil, teve seu grande sucesso não pela necessidade de 4 cores, mas pelo prazer de tê-las todas à mão. Tanto marcas tradicionais quanto as emergentes tratam de disponibilizar uma variedade cada vez maior de modelos para a escrita. Cores, formas, pesos e até os sons das tampas e mecanismos retráteis são explorados na busca por destaque dentre os diversos concorrentes. As qualidades técnicas se desenvolvem tanto que as garantias vitalícias antes oferecidas já não têm mais importância do que as características estéticas quando da escolha do comprador. O início dos anos 80 vê surgir a empresa Lamy, com canetas que se tornaram rapidamente populares, mais pelo apelo estético do que por inovações técnicas propriamente ditas. O fetichismo entre os colecionadores é prontamente explorado pelos

desenvolvimento

tira das mãos do escriturário o privilégio da lida com documentos. Contratos os mais variados passam a ser firmados diretamente entre usuário e bancos ou lojas, financeiras, imobiliárias, advogados e ou-tros. Escrever torna-se imprescindível na vida moderna: é a caneta a ferramenta mais adequada à maioria dos casos. Delineia-se assim uma divisão clara no momento em que se faz possível produzir uma caneta para as massas. De um lado a caneta instrumento, ferramenta de escrita. De outro, a caneta objeto, luxo, fetiche. Observando-se as formas imutáveis da Bic ao lado da Aurora Diamond (atualmente a mais caras) percebere-mos que a primeira não se presta ao preenchimento de cheques multimilionários, e a segunda não é fruto de um esforço por democratizar a escrita. Mas os extremos parecem ilustrar apenas o confronto inicial das diferentes linhas, no que Bernd Löbach chama de configurações prático-funcional e simbólico-funcional, numa dualidade entre instrumento vs. status, questões cada vez mais presentes na concepção estética quanto na viabilidade eco-nômica dos produtos. Immanuel Kant sugeriu que “os objetos podem ser julgados belos quando satisfazem a um desejo desinteressado”. Acrescentou que “os fundamentos da resposta do indivíduo à beleza existem em sua estrutura de pensamento”. Partindo desse princípio, a satisfação do homem não estaria restrita apenas a suas necessidades práticas, mas também àquelas de fundo psicológico. A partir do momento em que,

A Evolução no Design da Caneta

Canetas Bic 1938 László Biró desenvolveu em 1938 a Biro, uma caneta que utilizava tinta de secagem rápida, ação capilar e ponta de esfera. Marcel Bich adquiriu a patente em 1958 e criou uma versão descartável, a Bic. Na década de 90, três milhões de Bics são vendidas por ano. Especificações País: França Material: Plástico

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 A evolução das estruturas sociais

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A Evolução no Design da Caneta

tóricos e passam a renovar os atributos estéticos com muito maior freqüência do que são atualizadas as tecnologias da escrita. Parece que a caneta alcançou finalmente um patamar de excelência funcional, sendo possível apenas as diversas variações decorativas, muitas vezes apoiadas em ícones da cultura pop ou estreantes nas telas do cinema. Mera ilusão. Surgem canetas capazes de escrever em diferentes suportes que se disseminam no cotidiano: canetas para transparências, para CD´s, para tecidos ou que escrevem de cabeça para baixo e até dentro d´água (mostrando que há ainda muito o que explorar). Canetas com tinta especial possível de desmanchar, proibidas pela possibilidade de fraudes em documentos e cheques. Novas esferográficas capazes de quilometragens extraordinárias de escrita com cargas que durariam tranqüilamente por 80 anos. Mas quem quer carregar o mesmo objeto por tanto tempo? É preciso renovar sempre o interesse do consumidor. Adicionar elementos capazes de prender sua a-tenção, elementos para todos os gostos e todas as idades. A novidade é o carro-chefe das vendas e inovar continua sendo palavra de ordem  no mercado.

desenvolvimento

 fabricantes: resgatam modelos his-

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Rádio e televisão: As bases da comunicação moderna têm caráter gerador de informação. Exercem uma espécie de monólogo hipnótico ao qual as populações dos vários países se vêm adequando com o passar do tempo. Não se pode falar de democracia dos meios, uma vez que para difundir uma idéia é preciso ser “eleito” para tanto. O telefone pertence a uma outra gama de meios de comunicação que permite a interação e é, portanto de natureza mais democrática. Celulares e Internet se localizam entre os dois extremos, pois combinam o caráter democrático da livre interação, com comunicação em duas vias, à necessidade de decodificadores mais ou menos elitizados por seu custo. Ainda assim, a interatividade a nível global interpenetra sistemas empresariais, governamentais e financeiros a ponto de se falar de “aldeia global”. A economia se entrelaça de forma que a quebra na economia de um país se faz ecoar nas bolsas de valores de todo o mundo.

Especulação, sistemas de crédito, compras eletrônicas: o capital se volatiliza e assume a forma de dígitos nos monitores dos computadores e nos letreiros das bolsas. O homem desenvolve uma realidade paralela, virtual. Os documentos deixam de ser assinados para sofrerem autenticação mecânica ou mediante 4 dígitos. Empresas nos mais diversos setores nascem para funcionarem apenas no nível dos bits, sem qualquer estrutura concreta. Os contatos sociais assumem a forma de Chats, incorporam-se personagens: a sociedade se transforma, e a caneta é transportada para os novos aparatos eletrônicos, desprovida do bulbo de tinta, capaz de escrever nos PDA´s ou nas mesas digitalizadoras. Reassume aí sua função e vai sendo trabalhada para permitir a expressão humana sujeita a novas leis nada físicas. A sensibilidade ao toque ganha gradações para garantir maior controle

A Evolução no Design da Caneta

“Qual será o impacto das novas tecnologias sobre os indivíduos e as comunidades, e quais as oportunidades que elas irão oferecer para aprimorar e estender nossa experiência?” Philips, Vision of the Future

desenvolvimento

[ desmaterialização do meio ]

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A Evolução no Design da Caneta

evolução que apenas os concept designers conseguiram perceber mais amplamente, e aguardam o momento em que o imaginável se torne necessário, e logo obsoleto, para então projetarem-se num futuro ainda mais distante preparando os caminhos para as transformações posteriores. 

desenvolvimento

 ao usuário, num prenúncio de uma

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[ o homem sem fim ]

besse individualmente tinha o alcance exato da fala. Com a escrita a cultura passa a ter além da dimensão fenomênica, do instantâneo, uma dimensão histórica, registrada e passiva de transporte. Dimensão que expande os horizontes da humanidade. Passamos a um desenvolvimento que sempre se continua a partir de onde pararam os antecessores, o que trás questões sempre novas. Cada vez que o potencial do escritor ultrapassa as possibilidades do instrumento de escrita, faz-se necessário um avanço. Este avanço terá sempre sua validade equivalente ao tempo gasto para o novo objeto se tornar novamente restritivo, nascendo então a necessidade por novo desenvolvimento, por um novo objeto. Assim ocorre com todos os artefatos em uso: conforme têm suas capacidades ultrapassadas pelas de-

A Evolução no Design da Caneta

A escrita está tão arraigada no processo de transformação social que faz da caneta e demais próteses da expressão peças-chave neste processo. Retomamos a Encyclopédie para reforçar que “Sem a escrita, privilégio do homem, cada indivíduo, reduzido à sua própria experiência, seria forçado a recomeçar a carreira que o seu antecessor teria percorrido, e a história dos conhecimentos do homem seria quase a da ciência da humanidade”. A caneta e seus ancestrais são, já que a fala não necessita de próteses, o mais antigo instrumento de registro da cultura. A mensagem foi, por muito tempo, do tamanho exato que a fala permitiu, para ser limitada mais tarde pela escrita, e, conseqüentemente, pelo instrumento que possibilita escrever. As restrições que um processo primitivo de escrita impunha eram a membrana delimitadora da cultura, além da qual, tudo o que se sou-

conclusão

“O meio é a mensagem. As sociedades sempre foram moldadas mais pela natureza do meio pelo qual os homens se comunicavam do que pelo conteúdo da comunicação.” Marshall McLuhan

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www.philips.com/design/vof A simplicidade de interfaces naturais tais como escrita e fala, combinada com a simples metáfora de uma caneta, permitem o desenvolvimento de um produto que é de uso fácil e altamente pessoal.

Entretanto, a demanda do usuário não é meramente funcional. Há paralelamente uma demanda psíquica, seja de ordem auto-afirmativa ou afetiva. Busca-se através dos objetos, conforme assinala Löbach, uma auto-representação: o homem “se esforça por ser reconhecido pelos outros membros do seu grupo. Isto lhe proporciona, tendo atingido a meta, uma sensação de aceitação e segurança social”, o que vale para demandas de ambas as naturezas. A posse psíquica do produto é, portanto, essencial para o equilíbrio psíquico dos homens e, conforme suas capacidades vão sendo expressas através dos diversos meios em evolução, as necessidades psíquicas também evoluem. São os meios que possibilitam, portanto, não apenas a expansão quantitativa como também a expansão qualitativa, psíquica, da cultura. Cabe ao designer posicionar-se conscientemente dentro do contexto da sociedade que o cerca, e que está em constante transformação, para realizar de forma dinâmica e interativa os desenvolvimentos e inovações de meios que possibilitem o pleno desenvolvimento psíquicocultural de sua época. Nesta evolução constante, a caneta hoje não passa de mero coadjuvante, mas talvez por força de um reconhecimento por sua atuação pioneira, vem sendo incorporada pelas novas tecnologias áudio-visuais, e se mantém como meio de expressão, prótese que permite ao homem imprimir cifras binárias num univer so virtual.

conclusão

[ vision of the future ]

tensões que levam à busca por um incremento ou uma inovação capazes de permitir o pleno exercício da função.

A Evolução no Design da Caneta

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 mandas de seus usuários, geram

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[ Caneta de R$ 2,6 milhões em exposição em Vila Velha ]

A Evolução no Design da Caneta

Cerca de R$ 2,6 milhões. Este é o preço da caneta Diamond Aurora, uma peça única que esteve em exposição, nesta terça-feira, na joalheria Oswaldo Moscon do Shopping Praia da Costa, em Vila Velha. Muitos curiosos estiveram na frente da loja para, pelo menos, conseguir ver a caneta mais cara do mundo. Também não faltou música clássica para dar um clima charmoso ao evento. Vila Velha é a primeira cidade brasileira a conhecer a Diamond Aurora. A caneta italiana durou dois anos para ser fabricada. Segundo o diretor comercial da Aurora no Brasil, Dário Castilho, a caneta possui cerca de 1.919 diamantes. “A parte superior da caneta conta com um diamante de 20 quilates. A composição da caneta mais cara do mundo conta ainda com 200g de platina”, disse o diretor. Dário Castilho informou ainda que já existem duas pessoas interessadas na Diamond Aurora. “Já existem dois xeiques árabes interessados na peça. Quando a caneta chegar na fábrica, na Itália, ela deverá seguir para os dois interessados”. O diretor comercial da Aurora no Brasil destacou que é um grande privilégio dos capixabas conhecerem primeiro a Diamond Aurora. A Diamond Aurora realizará uma pequena turnê pelo Brasil. A caneta deverá permanecer no país por dez dias. Em seguida, a Diamond Aurora entra em exposição em São Paulo.

complemento

Bruno Faustino

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A Evolução no Design da Caneta

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