Elvis Melo Ufsm

  • October 2019
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RECONSTRUÇÃO EM EDUCAÇÃO: IMAGENS CULTURAIS E A FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA CRÍTICA Elvis Francis Furquim de Melo* [email protected] Orientador: Amarildo Luiz Trevisan**

1. Adorno e a formação cultural

O

pensamento

filosófico

de

Adorno

torna

possível

o

conhecimento mediante a reflexão crítica das imagens estéticas. Entretanto, a indústria cultural1, como processo formador de opinião, tentará condicionar a formação de sujeitos autônomos. “Na indústria cultural o indivíduo é ilusório não só pela estandarlização das técnicas de produção. Ele só é tolerado na medida em que sua identidade sem reservas com o universal permanece fora de contestação” (Lima, 1969, p.189). Conseqüentemente, uma análise rigorosa das culturas das imagens pelo método hermenêutico, poderá despertar no sujeito a capacidade de julgar e decidir conscientemente. A propósito, o mundo informatizado por uma tecnologia sofisticada, criado pelo protótipo capitalista, tornou favorável a manipulação da racionalidade humana através do controle da razão técnica. A humanidade se vê envolvida em diversos dilemas e crises existenciais das quais, em especial a cultura do espetáculo, a partir das imagens midiáticas que mostram uma tendência globalizante. Cabe salientar que o silêncio do pensamento filosófico ao longo da história desafiou a humanidade a pensar novos caminhos e construir ou reconstruir a civilização todas as vezes em que reinou o caos, sobretudo na educação. Nessa ótica, o valor humano, em nível *

Licenciado em Filosofia Plena pela Universidade Federal de Santa Maria. Membro do Grupo de Pesquisa “Formação Cultural, Hermenêutica e Educação” (www.ufsm.br/filosofiaform) – Certificado pelo CNPq. ** Prof. Dr. Pesquisador do CNPq e Coordenador do Grupo de Pesquisa “Formação Cultural, Hermenêutica e Educação” na Universidade Federal de Santa Maria.

1

de desenvolvimento intelectual, poderá ser substituído pelo interesse econômico. Segundo Adorno, “A racionalidade técnica hoje é a racionalidade do próprio domínio, é o caráter repressivo da sociedade que se auto-aliena” ( Lima, 1969, p.158). A partir dessa constatação, a ideologia predominante deve alienar a maioria dos sujeitos num ritmo espetacular mediante uma atuação massificante. Desse modo, os indivíduos que não conseguem engatilhar no processo dominante, necessariamente estarão à margem da sociedade, ou seja, não fazem parte do modelo econômico capitalista. Nesse aspecto, o ter é mais importante do que o ser, e conseqüentemente, surge o individualismo imponente que é a prole da indústria cultural. A indústria cultural é considerada um mundo de negócios, onde os indivíduos são coisificados2 e mediatizados pela cultura do espetáculo. Em contraponto, o valor real da arte era o instrumento de lazer e hoje tornou objeto de manipulação. Nesse sentido, Adorno & Horkheimer em Dialética do Esclarecimento, comentam que, “o preço da dominação não é meramente a alienação dos homens com relação aos objetos dominados; com a coisificação do espírito, as próprias relações dos homens foram enfeitiçadas, inclusive as relações de cada

indivíduo

consigo

mesmo”

(Adorno,

1997,

p.40).

Dessa

maneira, a indústria cultural traz elementos inerentes ao mundo industrial moderno. Com isso, o homem de hoje não passa de mero instrumento de trabalho e, principalmente, de consumo. O mercado cultural baseado na racionalidade técnica deve influir na mente do sujeito. A partir dessa tendência, torna possível a necessidade do consumidor

de

não

pensar:

parece

cômodo;

restará

somente

deliberar sobre tal produto. A principal tentativa da indústria cultural é obscurecer a percepção sensitiva dos sujeitos, em especial os formadores de 1

O termo indústria cultural foi empregado pela primeira vez no livro: Dialektik der Aufkrung que Horkeimer e Adorno publicam em 1947, em Amesterdã. 2 Os sujeitos racionais tornam-se objetos enquanto os objetos tornam-se sujeitos. Há uma inversão de valores.

2

opinião crítica. Ou seja, a opinião é o julgamento, um juízo sustentando por um sujeito sobre determinada questão. Nesse sentido,

a

forma

ideológica

da

indústria

cultural

regerá

o

comportamento dos sujeitos. Assim sendo, a felicidade, vontade, desejo

são

conceitos

caracterizados

como

subjetivos

e

estão

determinados pela cultura da magia. É importante salientar que a força motriz da indústria cultural reside em provocar ao homem necessidades,

tais

como:

alimento,

remédio,

casa,

vestuário,

educação controlada, ect. E, estas prioridades são importantes para o homem bem viver, mas a forma como é conduzida pelo sistema vigente contém um consumismo avassalador. Com isso, o consumidor será escravo de seus objetos de consumo e viverá insatisfeito na medida que o seu consumo de bens não têm limites. Em se tratando de sujeito enquanto objeto de consumo, o páthos3 é inovado constantemente pelo progresso científico e tecnológico em que o sujeito é o meio a ser usado pela indústria cultural. Nesse sentido, a constelação social figura num determinado lugar sistematicamente controlado. Em contrapartida, as tentativas de livrar-se o sujeito das teias

da

ignorância

são

em

vão

quando

não

educadas

adequadamente. Mas, na visão Adorniana há uma luz racional calcada na própria cultura do homem a partir de uma determinação do sistema e estética. A Aísthesis4, enquanto estudo real de seu objeto pelo sujeito, tentará buscar a emancipação do homem, pois na junção da filosofia criteriosa com uma sensibilidade mais estética do que científica, podem verificar que por princípio e definição situa além da possibilidade de toda ideologia dominante. Cabe dizer ainda, na arte o homem é livre na medida que usa sua racionalidade educada mediante a sua sensibilidade perceptiva na

3

A palavra páthos de origem grega significa: acontecimento, experiência, emoção, sentimento e outros. 4 O filósofo Baumgarten ressuscitou o termo grego aísthesis a fim de remediar o problema nas áreas da sensibilidade e da arte. Pode ser: estética, percepção, sensação e outros.

3

leitura de uma obra de arte. Nesse rumo, a experiência da arte enquanto tal, de sua verdade ou inverdade, é além de uma vivência subjetiva. Portanto, a filosofia adorniana poderá ser edificar ao interpretar potencialmente

o

mundo

mediante

uma

patologia

estética

fundamentada numa razão filosófica. Assim, a arte pode ser solução, devido seu caráter subjetivo e não influenciado pela indústria cultural. Nessa perspectiva, os comportamentos humanos que se encontravam alienados, frente ao progresso técnico e ideológico, mas com o estudo minucioso da mesma por Adorno, foi possível descortinar o véu da ignorância dos sujeitos. E, a filosofia foi imprescindível na inserção do problema, pois ela contribui decisivamente no progresso humano-consciente da realidade presente.

2. As propostas da hermenêutica de Gadamer

A oposição à ideologia moderna restringiu a atuação do cientificismo na tentativa de resgatar as experiências do momento histórico na poesia e estética. Essa idéia é uma crítica que Gadamer faz à estética moderna e a teoria da compreensão histórica. Desse modo, o seu objetivo é reconstruir uma nova hermenêutica filosófica. Nesse sentido, o método hermenêutico é dotado de quatro níveis: o primeiro está ligado ao texto em si, o segundo ligado ao universo social, o terceiro ligado ao mundo histórico e o quarto está no nível psicológico. A partir de uma hermenêutica filosófica, fundamentada numa racionalidade crítica, poder-se-á viabilizar o papel de elucidar e analisar os dados empíricos mediante os sujeitos. Nesse caso, a interpretação filosófica é uma atividade no sentido de uma arte e nunca no sentido de um método. Sendo assim, o autor propõe uma historicidade da compreensão atuante na tradição cultural e na

4

linguagem. Desse modo, o empírico5 de uma obra de arte ultrapassa o conceito subjetivo-interpretativo referente ao artista e o apreciador de arte. Além do grande filósofo Gadamer, posso citar ainda, o relevante Heidegger que juntos são de extrema importância ao criticar o pensamento mecanicista. Sendo assim, a investigação gadameriana poderá orientar-se pela natureza de sua proposta hermenêutica

com

a

finalidade

de

entender

os

pressupostos

ideológicos vigentes. A

problemática

da

questão

estética

é

priorizada

nos

aprofundamentos hermenêuticos, na medida em que a compreensão de uma obra de arte revela a sensibilidade estética. Para tal, é prioritário abordar o problema do saber: como são possíveis os juízos de beleza? O problema é que não podemos demonstrar ou reduzir a qualquer regra. Uma possível solução se baseia na consciência harmoniosa entre imaginação e entendimento, para qualquer ser racional. Assim, o juízo de gosto deve ser partilhado por outros, atingindo a necessária objetividade. Nesse sentido, a transformação da obra de arte é a sua significação mediatizada por uma imagem e sua contribuição no campo educacional. Por isso, a arte ocupa espaço e tempo, e precisa incluir arte com história para uma melhor compreensão da mesma. Diante disso, Gadamer se baseia na linguagem do ser no mundo, estar no mundo, fazer parte mo mundo e refuta a autoconsciência do sujeito. Para tal, a linguagem é fundamental na compreensão por parte do ser enquanto ser racional. A hermenêutica é a conexão entre o ser e a lingüística. Com isso, a própria característica humana viabiliza a linguagem numa hermenêutica com a função de pesquisar os entraves filosóficos. Cabe dizer

ainda

que

a

consciência

histórica

é

apodícticamente6

5

Segundo a concepção Kantiana: Tudo o que é empírico é provindo da experiência. A segurança oferecida pela experiência é sempre comparativa por isso pode ser uma regra, mas nunca uma lei. 6 Segundo a concepção Kantiana, Apodícticamente são juízos e proposições que estão vinculados á consciência de sua necessidade.

5

importante, na medida que o sujeito instruído transforme a sua realidade a partir de critérios interpretativos. A compreensão gadameriana remete a uma linguagem do nosso modo de vida que é distinto do mundo científico. Nessa direção, o sujeito poderá fazer a experiência hermenêutica num texto revelado. No entanto, na perspectiva do autor ocorre uma dialética textual impregnado de sentido. Seguindo esta linha de raciocínio, a modernidade se faz obrigatoriamente direcionada ao saber científico, baseado na experiência-comparativa e interpretativa. A partir disso, o conhecimento histórico não se faz necessário. A hermenêutica filosófica busca entender as revelações da vida dos

sujeitos

e

gerir

alternativas

contrapondo

ao

pensamento

mecanicista moderno. Segundo Trevisan, “Gadamer promove aí uma revitalização da força de efetividade da obra de arte para a vida, valorizando o aspecto pedagógico da compreensão como uma forma de diálogo com o passado” (Trevisan, 2002, p.77). Em vista desta situação, a arte pode ser fonte de libertação do sujeito quando a mesma é interpretada coerentemente. Para isso, é fundamental a decodificação da obra de arte contribuindo para uma educação pedagógica alentadora por parte do sujeito. Em termos gerais, a linguagem é efetivamente universal na completude da compreensão. Porém, a linguagem e a compreensão necessitam de objetos na tentativa de conhecê-los mediante uma interpretação lingüística. Dessa maneira, o entendimento de Gadamer busca algo observável para um significado racional mediado pela lingüística. Nisso, será possível verificar o caráter lingüístico da realidade

humana

apoiada

na

hermenêutica, que

pesquisa

os

empecilhos filosóficos na inerência do ser e na linguagem. Segundo Gadamer, Uma hermenêutica filosófica chegará ao resultado de que a compreensão somente é possível de forma que o sujeito coloque em jogo seus próprios pressupostos. O aporte produtivo do intérprete forma parte

6

inexoravelmente do sentido da compreensão. É a linguagem que permite ao intérprete (ou ao tradutor) atualizar o compreendido. A hermenêutica se acerca assim, em certo sentido, por sua própria base a filosofia analítica, que parte da crítica neopositivista à metafísica. (Gadamer, 1994, p.111).

Assim, será possibilitada uma hermenêutica solidária num certo sentido, na medida em que se coloca a ouvir o outro. Nesse gesto simples, caracteriza uma abertura no diálogo sob a perspectiva de uma transformação proposta pelo outro. Em sua compreensão, a linguagem mostra o nosso mundo da vida, contrastando-o como mundo científico. É bem provável que a filosofia e a linguagem existente poderão interrogar de maneira verdadeira, onde as artes ilustres das palavras buscam formas de compreensão da realidade. Contudo, a linguagem é o modo como compreendemos ou não aquilo que nos apresentam como objeto de estudo. Assim sendo, o entendimento necessariamente passa pela linguagem na medida em que regula os passos compreensivos a seguir pelos sujeitos enquanto pesquisadores hermenêuticos.

3. A racionalidade comunicativa e a opinião pública crítica segundo Habermas A racionalidade comunicativa habermasiana busca fundamentos necessários ao enfrentamento da cientificidade moderna. Em meios possíveis ao confronto com o pensamento moderno, a opinião pública crítica poderá capacitar os indivíduos mediante uma razão pensante e atuante. Nesse sentido, a razão pós-metafísica com o caráter de telos (fim) deverá criar possibilidades na discursividade entre sujeito e objeto. Desse modo, o agir comunicativo, compreendido num desenvolvimento circular, possibilita o sujeito a ser um dualista. Também, começa suas ações imputáveis e paralelamente produto das tradições em seu meio. Com isso, a finalidade da ação informativa pelo sujeito é proclamar a veracidade ou legitimar a razão teórica.

7

Assim, a teoria comunicativa buscará instrumentos analíticos que poderá conduzir ao discurso idealizado pelos sujeitos autônomos. Por outro lado, os sujeitos informatizados, através de uma moralidade educada, tentam uma opinião pública diferenciada da trivialidade mundana. Em outro ponto, entende-se que a opinião pública foi gerada a partir de uma comunicação pública articulada pela vontade geral da população. Para isso, Habermas utiliza o uso público da razão na tentativa de estabilizar a política. Sendo assim, a teoria discursiva democrática tenta harmonizar as liberdades públicas com as privadas, priorizando a essência de cada uma. Assim, o agir comunicativo ressuscita o uso da racionalidade prática visando uma intersubjetividade compreensiva pelos sujeitos engajados. Segundo Habermas, “o conceito do agir orientado para o entendimento mútuo implica os conceitos, que carecem de explicação, de mundo social e de interação guiada por normas” (Habermas, 1989, p.163). Atualmente, os processos de comunicação são influenciados pela cultura de massa de modo direto. Desse modo, os protagonistas de opinião são sujeitos especializados e capacitados ao medir racionalmente seu logos (razão, discurso, relato). A partir disso, a hermenêutica habermasiana, usada na metodologia como parte integrante de uma práxis (agir) comunicativa deve almejar um entendimento resultante da opinião pública crítica participativa entre os sujeitos. Com isso, a hermenêutica deverá desembocar em sentido teleológico7 pautado numa linguagem estruturada racionalmente, possibilitando um novo modelo na compreensão social. Assim sendo, a razão deve ser a busca incessante pelos sujeitos, mediatizada pela interpretação que auxilie a arte do entendimento socializado. Produzir idéias, ultrapassando as linhas do obscurantismo onde o “ser sujeito”, interiorizando a sua capacidade de pensar, liberte-se da superficialidade de uma estética aparente e ilusória onde poucos se aproveitam e muitos são os perdedores. Com esse propósito, os

8

novos conceitos se contrapõem às imagens direcionadas e inculcadas, enquanto “a força” na opinião pública que age mais com o sentimento consumista do que com a razão e a sobriedade. Habermas diz: “e como

que

entrar

no

mundo

da

vida,

compartilhado

intersubjetivamente por uma comunidade lingüística, a fim de poder apoiar a descrição de uma ação executada por palavras sobre a compreensão do auto comentário implícito nessa ação verbal”. (Habermas, 1990, p.67). A opinião pública crítica deriva da tipicidade da opinião e possui a finalidade em libertar o sujeito das trevas racionais. Nessa dimensão, ao sujeito se faz prioritário analisar sócio-psicologicamente as relações grupais as quais identificam o sujeito enquanto opinião pública no processo do entendimento empírico que vise uma metodologia comunicativa. Para tal, é preciso definir a noção de grupo devido à necessidade de uma interpretação da realidade objetiva.

Assim,

desenvolvimento

o

sujeito

público

enquanto

pode

comunicador

estabelecer

normas

em para

seu uma

razoabilidade crítica e integrada. Nesse processo interativo do sujeito comunicante, a racionalidade é a maneira de os sujeitos autosuficientes, na medida em que o saber enquanto tal, dizem e agem em função do saber. Ou seja, das ações de fala derivam um saber proposicional, entretanto, as atividades ditas não lingüísticas possui uma forma reflexiva em sentido interpretativo. Portanto,

a

particularidade

do

saber

exemplifica

a

sua

universalidade e objetivamente, necessária no objetivo dos graus de assentimentos

da

racionalidade,

servida

através

do

agir

comunicativo. Em contrapartida, quando se utiliza o uso nãocomunicativo em determinações teleológicas, perceber-se-á a noção de uma racionalidade instruída para um fim. Nesse sentido, o entendimento pode ser guiado pela idéia da compreensão e, é sedimentado pelo uso comunicativo do saber. Na ótica de Habermas, 7

Segundo Kant, teleológico é aquela expressão em termos de fins últimos.

9

“O recurso reflexivo àquilo que Kant havia fixado na imagem das operações constitutivas do sujeito, ou, como, dizemos hoje, a reconstrução de pressupostos universais e necessários sob os quais os sujeitos capazes de falar e agir se entendem mutualmente sobre algo no mundo...”(Habermas, 1989, p.145). A linguagem da opinião pública é desempenhada por ações planejadas no intuito de controlar os sujeitos na sua forma de ação. Entretanto, quando o sujeito fundamenta seu agir através de uma opinião pública crítica, terá possibilidade e capacidade racional em seus planos de ação. Sendo assim, os sujeitos estarão orientados na direção da sua plenitude e iniciarão seu agir possibilitando o seu progresso intelectual a partir do conhecimento real do objeto. Nessa perspectiva de seus agentes, o objeto instruído por um sujeito para a sua realização produzirá algo no mundo. Com isso, abre caminho ao entendimento do falante que tenta compreender a segunda pessoa no mundo. A opinião coletiva

é uma comunicação normatizada

que

possibilita o consenso, numa esfera racional, impedindo os equívocos do entendimento racional. É evidente que o entendimento total da linguagem será penoso, mas o relevante é a compreensão acerca da essência da realidade por meio da linguagem. Nessa direção, a aprendizagem de uma língua não é somente uma disciplina rigorosa visando um consenso em nível racional, mas também um interpretar e reinterpretar a realidade diminuindo as distâncias que possibilitam o dialogar-se entre sujeitos racionais. Por assim, o diálogo é a produção de algo mediado pelo intérprete que viabilize o seu parecer de significações textuais. A pseudocomunicação8 distancia as desordens da própria linguagem devido à falsa compreensão num consenso, mas não

8

A pseudocomunicação origina um sistema de equívocos que não pode ser reconhecido como tal, sob a orientação de um falso consenso. Numa pseudocomunicação os participantes não conseguem reconhecer uma quebra na sua comunicação; apenas um observador exterior percebe que os interlocutores não estão se compreendendo. (Bleicher, 1992, p.269).

10

interfere na linguagem do conteúdo. Nessa ordem, os equívocos consumados no consenso baseiam-se no domínio dos manipuladores de opinião pública. Nessa perspectiva, o movimento da opinião pública como produto coletivo podem sim, se transformar numa ação consensual em consciência e peso de opinião na mudança de seu agir pedagógico. Embora, muitas vezes as decisões não sejam unânimes, elas sempre partem de uma escolha individual da formação do sujeito. O conhecimento de uma linguagem é aquilo que objetiva o cotidiano com o entendimento subjetivo. Nisso, poderá haver uma relação necessária entre a subjetividade e a objetividade na obtenção do conhecimento lingüístico. Em contraponto, a dimensão racional no mundo

é

caracterizada

por

uma

larga

escala

de

níveis

de

conhecimento do que os níveis de entendimento lingüístico. Visto que a proposta de Habermas, referente ao agir comunicativo, possui a sua aplicabilidade segundo uma relação formalizada entre sujeitos comprometidos com a intersubjetividade partilhada. Potencialmente,

os

conteúdos

transmitidos

pela

mídia

e,

portanto, formadores de opinião pública, participam diretamente do potencial

crítico

do

sujeito.

Entretanto,

é

fundamental

uma

hermenêutica que busca o logos partilhado entre os sujeitos, para poder chegar a um nível de consenso razoável, e somente a nível da razão poderá obter o sucesso de uma opinião fundamentada. Assim, os processos de agir e falar do sujeito poderão sofrer menos desgaste cultural e lingüístico.

4. Considerações finais

Acerca da temática, a decodificação de espírito, ou seja, uma espécie de cultura de informação necessita de uma reissificação que re-estabeleça

o

predomínio

do

sujeito

frente

ao

objeto.

Em

11

contrapartida, o educador contemporâneo está preocupado em passar informações ou ensinar o aluno a pensar pela sua razão e aí torna o sujeito de seu próprio ato. Nesse sentido, o sujeito preparado para o pensamento calcado pela hermenêutica gera uma sociedade de sujeitos responsáveis que, mesmo ainda em conjuntos se alinham numa reação determinada, e se dirigem para uma decisão cujo posicionamento não necessariamente seja unânime. Tendo em vista o mundo cientificista de hoje marcado por grandes descobertas tecnológicas, estas tornam os sujeitos robotizados e passivos. Entretanto, é possível alcançar a autonomia do sujeito mediante a análise do mito da alegoria da caverna de Platão. Para isso acontecer, é preciso tirar o sujeito do mundo das sombras, das trevas, da escuridão. É necessário conduzi-lo ao inteligível, à luz, ao sol, mas isso deve ser gradativamente, para que nessa saída do sensível, das sombras a caminho do inteligível, o sujeito possa não somente vê-lo como também dele participar. O ideal é o equilíbrio de luz e sombra para que o sujeito seja instruído adequadamente, para poder ver o objeto sensível mediante a razão inteligível. Cabe salientar ainda, a possibilidade de o sujeito almejar sua auto-suficiência fazendo parte de um processo de opinião pública crítica a nível coletivo. Para isso, é importante uma discussão voltada à realidade do mundo que o cerca. Assim, na passagem para um mundo mais humano, necessariamente cabe ao sujeito ser o agente ativo de sua própria emancipação. A educação estética em sentido amplo poderá contribuir para o crescimento

crítico

na

formação

da

opinião

pública

crítica.

Atualmente, opinar sobre “terrorismo” por exemplo, que nos choca quase que diariamente, torna-se algo mais relevante do que o próprio posicionamento crítico libertador do sujeito. É preciso que o conceito filosófico escancare o que de fato é o terrorismo, isto porque a opinião pública se move pelas imagens impressionistas dos estados mecanicistas sem considerar os fatos. Nesse sentido, a destruição de um país e o assassinato de um povo se justifica frente à força militar

12

de um estado que usurpa outra nação? A reação dos agredidos em desigualdade de força é terrorismo? Será que com igualdade de poder as coisas não seriam diferentes? Isso são pequenos exemplos para desmistificar a imagem distorcida da ética e da estética, utilizada pelos “espertalhões” da mídia para mover a opinião pública a seu favor. Cabe dizer ainda, a proposta de Habermas é construir e reconstruir as alternativas viáveis na construção de um modelo estritamente racional que tenha a finalidade emancipatória do sujeito, enquanto inserido no processo formativo coletivo da opinião pública crítica. Em meios às possíveis alternativas, a saída do sujeito de sua menoridade para uma práxis discursiva possibilita o seu desempenho empreendedor. Sendo assim, a validade objetiva, enquanto agir comunicativo

é

determinada

necessariamente

por

vontades

subjetivas enquanto sujeitos críticos conscientes. Com isso, a teoria de Habermas tentará re-estabelecer o credenciamento do poder crítico referente à exclusividade racional-humanizada, mediante uma ação pedagógica transformadora e libertadora. A necessidade educacional atual deve ser um processo público, fundamentado numa opinião pública crítica, visando o grupo que respeita a individualidade de cada membro. Nesse sentido, o caráter autônomo do sujeito requer uma disciplina intelectual, interessada na opinião pública crítica coletiva. Desse modo, análise estrutural de uma

mensagem

instrumentalizada,

a

partir

de

uma

leitura

interpretativo-crítico-filosófica, despertará o educador a refletir a conjuntura de uma educação mecanizada. Sendo assim, o espírito crítico de um educador, não busca informação, seu objetivo é dissecar os padrões informativos a partir dos métodos sistemáticos. Assim,

é

preciso

analisar

os

conteúdos

de

uma

imagem

qualitativamente e quantitativamente observando o que se esconde por

trás

da

aparência.

Nessa

direção,

será

possível

um

descortinamento revelando a essência da cultura de massa.

13

Contudo,

sem

uma

preparação

adequada

com

métodos

eficazes, ficaremos a mercê da cultura midiática. Em contrapartida, os sujeitos educadores fundamentados num agir comunicativo, possibilitarão um desenvolvimento no processo intelectual e humano, na medida do uso reflexivo racional enquanto opinião pública crítica participativa e coletiva.

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