Elegia com vegetais e outros tantos
I miosótis quem te baste que desate o escândalo azul de toda face
II margarida que te lida rosa maior te queira do que a vida
III jasmim porque assim é bastante ser só para estar sem mim.
IV açucena vale a pena truncar o jeito de flor em ser, apenas
V dália que te vista teu vestido de planta reprimida
VI boa noite que te traga o tempo escancarado em que caibas
VII girassol que te deságuas em ser um quê do sol a que te abraças
VIII flor-de-lis porque te quis rasgo das tranças que te fiz
IX sempre-vivas quando queiras inventar o sangue das horas que incendeias
X lirios porque qui-los estreitos assim em mim os meus sentidos
XI petúnias assim forjadas na dança maior da vida desatadas
XII rosedás porque me dás a culpa mais urgente que me traz
XIII orquídea porque tanta a desavisada floresta da garganta
XIV verbena que te quisera um tanto menos que flor e muitas léguas
XV trevo porque me atrevo a gerir meu riso mesmo medo ?
XVI espada de são Jorge porque vige esse jeito de ingratidão em que se vive ?
XVII antúrio assim pacato quem te prende no sonho que me faço ?
XVIII palmeira por que tal aprumo em apontar o nunca como rumo ?
XIX araçá por quem será a razão de quem não é porque está ?
XX avenca despenteada quem te lavra tão basta em quase nada
XXI alfinete nem te prezas assim em vão lançado para a terra
XXII maracujá por quem está traçado um destino que já nem há ?
XXIII vagalume quem te pune a ser candeia de mundo tão sem rumo ?
XXIV grilo que desandas a gritar um amor que nem proclamas
XXV rosa quem nervosa rasgou o ventre do chão por que se goza?
XXVI pardal por que do verbo nunca te fizeste carne apesar de tão sincero ?
XXVII jibóia quem te apóia a ser compasso do mundo que nem notas ?
XXVIII papoula do teu ócio quem te fez ofício do que mostras ?
XXIX capim santo que nem tanto te pareces maior que meu espanto.
XXX vitória régia que nem é tanta como se tamanha fosse se não planta.