EFEITOS DO AMBIENTE DE TEMPERATURA ELEVADA
CURSO DE MEDICINA OCUPACIONAL
Prof. Alexandre Freire Guimarães
O AMBIENTE DE TEMPERATURA ELEVADA IMPORTÂNCIA 1. Alta freqüência de ambientes quentes com importância econômica : minas, fabricação de vidro, metalúrgicas, siderúrgicas, etc 2. Alta freqüência de fadiga ocasionada por ambientes quentes: envelhecimento precoce.. As doenças causadas pelo calor são resultantes da resposta fisiológica ao calor. 3. Outras considerações: área geográfica, época do ano, condições climáticas, , condições individuais ( idade, obesidade, nutrição, etc.)
MECANISMOS DE GANHO E PERDA DE CALOR GANHO DE CALOR 1. METABOLISMO 2. ATIVIDADE MUSCULAR 3. HORMÔNIOS
PERDA DE CALOR 1. RADIAÇÃO 2. CONDUÇÃO – CONVEXAÇÃO 3. EVAPORAÇÃO
EQUAÇÃO DO EQUILIBRIO HOMEOTERMICO M = ±C ± R ± E
, ONDE
M = Metabolismo C = troca de calor por Condução-Convecção R = troca de calor por Radiação E= Evaporação Temperatura do ar Tº do Ar < Tº do Corpo Calor Radiante Sem fonte apreciável de M=C+R+E calor radiante Com fonte Apreciável de M+R=C+E calor radiante
Tº do Ar > Tº do Corpo
M+C=R+E M+ C + R + E
SITUAÇÃO DE SOBRECARGA TÉRMICA: situação em que o organismo só tem a evaporação como única forma de perder calor a para o ambiente
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O AMBIENTE DE TEMPERATURA ELEVADA O CONTROLE DA TEMPERATURA CORPÓREA 1. O controle da T° tem como base o centro termoregulador, localizado no hipotálamo, que responde a estímulos da temperatura do próprio sangue que o irriga e a sinais dos receptores cutâneos de temperatura.
2. A temperatura é mantida através de: • alteração de tonus simpático para a pele, o que leva a alterações da vascularização cutânea e alterações da sudorese; • alteração do grau de atividade muscular, o que leva a alterações na produção endógena de calor; • alteração dos níveis de hormônios que têm efeito sobre o metabolismo, que leva a alterações da produção endógena de calor.
3. Num ambiente de Trabalho com Temperaturas Altas, temos como resultado o aquecimento da pele e do sangue que retorna ao coração mais quente, e ao estimular o Centro Termoregulador desencadeia os mecanismos de retroalimentação negativa: • inibição do tônus simpático adrenérgico para a pele, com consequente vasodilatação afim de facilitar a perda de calor por condução e irradiação. Porém se o ambiente tem uma fonte de calor radiante com temperatura maior que a do corpo, haverá uma irradiação para o organismo, além da transferencia de calor por condução visto que o ar estará também aquecido, situações estas acentuadas pela vasodilatação cutânea, que contribui ainda mais para o aquecimento do sangue. • estimulação do simpático colinérgico, com grande estimulação das glândulas sudoríparas e consequente aumento da sudorese. O suor pode ser evaporado, e assim esfria o organismo. A evaporação pode sofrer influencia da umidade do ar, da ventilação do ambiente. • alteração do grau de atividade muscular e no nível de hormônios que tem efeito sobre o metabolismo para consequente diminuição da produção de calor endógeno. A manutenção do esforço para a realização da tarefa faz produzir mais calor endógeno.
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O AMBIENTE DE TEMPERATURA ELEVADA DOENÇAS CAUSADAS PELA EXPOSIÇÃO AS ALTAS TEMPERATURAS HIPERTERMIA , INTERMAÇÃO (OU INSOLAÇÃO): • quadro grave que ocorre principalmente nos indivíduos não adaptados, nos obeso, com o do uso de bebidas alcoólicas antes do trabalho, com uso de roupas inadequadas. • Com a temperatura corpórea em 40-43°C = desnaturação das proteínas e morte. • Quadro clínico: desorientação, delírio, cessação da sudorese com pele quente e seca. Pode ocorrer convulsões. • Tratamento: medidas de urgência para baixar a temperatura (<39°C) com imersão em banheira de água fria; compressas de álcool no corpo e evaporação com ajuda de ventilador; massagem nas áreas resfriadas.
TONTURAS E DESFALECIMENTO POR DEFICIÊNCIA DE SÓDIO (alteração do potencial de ação dos músculos). • que ocorre em indivíduos não aclimatizados, inadequada reposição salina. • Quadro clínico: fraqueza, cansaço e caimbras, e também cefaléia, náuseas, vômitos e irritabilidade, taquicardia. • Tratamento: reposição hidrosalina adequada e aclimatização.
TONTURAS E DESFALECIMENTO POR HIPOVOLEMIA RELATIVA (sincope • • • •
do calor ou Prostração Térmica) ocorre em indivíduos com força aeróbica inadequadas a atividade ou não aclimatizados. O trabalho muscular alto (grande debito de sangue para a musculatura) mais o alto debito circulatório na pele (vasodilatação) diminuem o retorno venoso, com consequente diminuição do débito e da P.A. e quadro sincopal. Quadro clínico: desmaio comum, tonturas, náuseas, sudorese fria, palidez facial, respiração suspirosa, pulso lento e hipotensão. Tratamento: reposição volemica, uso de vasocontrictores. Aclimatização.
TONTURAS E DESFALECIMENTO POR EVAPORAÇÃO INADEQUADA, • ocorre em indivíduos devido ao uso de roupas impermeáveis à água ou nos trabalhos em ambientes úmidos ou sem ventilação. • Quadro clínico: cansaço, sente-se quente, piora com o esforço físico, taquipnéia, taquicardia, e rush cutâneo que não coçam.
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AMBIENTE DE TEMPERATURA ELEVADA DOENÇAS CAUSADAS PELA EXPOSIÇÃO AS ALTAS TEMPERATURAS DESIDRATAÇÃO: A PERDA DE ÁGUA. • Perda de 5 a 8% do peso corpóreo pode levar a diminuição da eficiência no trabalho, sede, irritabilidade e sonolência, oligúria, taquicardia e hipertermia. • Perda de 10% é incompatível com o trabalho e de 15% pode levar ao choque hipovolemico. • Tratamento: reposição volemica adequada.
DISTÚRBIOS CUTÂNEOS (GOLPES DE CALOR) • são associados a disfunção das glândulas sudoríparas em ambientes quentes e úmidos. • Quadro clínico: rushs cutâneos pruriginosos nas partes cobertas pela roupa, e que durante a sudorese levam o indivíduo a sentir picadas incômodas, sensação de calor e queimação.
QUEIMADURAS • como resultados da exposição à radiação ultravioleta da luz solar, e que ocorre quando a temperatura da pele é maior que 45°C. • Tratamento: pomada de calamina, banho frio e ingestão de água.
CATARATA •
pode ocorrer devido a exposição à radiação infravermelha, por provável desnaturação de suas proteínas. • Prevenção: uso de óculos protetor.
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O AMBIENTE DE TEMPERATURA ELEVADA MEDIDAS PREVENTIVAS DE ATUAÇÃO SOBRE O PESSOAL: 1. 2. 3. 4. 5. 6.
Seleção adequada do ponto de vista médico; Aclimatização; Reposição hídrica e eletrolítica adequadas; Pausas de recuperação; Roupas adequadas e uso de óculos com filtro infravermelho; Controle periódico;
1. SELEÇÃO MÉDICA ADEQUADA: RECOMENDA-SE CONTRA-INDICAR: • Idade acima de 45 anos, capacidade de sudorese menor; maior demora para alcançar a temperatura normal após cessada a exposição; força aeróbica menor e portanto menor capacidade de adaptação. • Obesidade, menor capacidade de perda de calor por evaporação e acúmulo maior de calor do metabolismo (tecido adiposo como isolante térmico). Obeso estará adequadamente indicado para trabalhos com duração de poucos minutos e que não exigem esforço. • Doenças do Sistema Circulatório, a insuficiência cardíaca (mesmo compensada) por incapacidade de compensar as necessidades do esforço e da vasodilatação periférica necessários ao ambiente de calor. Síndromes varicosas são também contra-indicações, devido ao agravamento provocado pela vasodilatação pelo calor. • Doenças do Aparelho Respiratório, como asma, enfizema, rinites, faringites, broquites crônicas, pioram nos ambientes de calor devido a desidratação das vias respiratórias. • Nefropatias, coma as calculoses renais e insuficiência renal mesmo compensada, são pioradas pela diminuição da diurese nos induzida nos ambientes quentes. • Doenças Psicossomáticas são pioradas pelo desconforto provocado pelos ambientes quentes, tais como: úlcera péptica, colo irritável, epilepsia, alcoolismo, etc. • Doenças oculares: portadores de cataratas e conjuntivites de repetição. • Outras doenças: Dermatites úmidas, hipertireoidismo, etc.
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O AMBIENTE DE TEMPERATURA ELEVADA MEDIDAS PREVENTIVAS DE ATUAÇÃO SOBRE O PESSOAL: 2.
ACLIMATIZAÇÃO AO CALOR:
• manifesta-se como uma tolerância aumentada do indivíduo para trabalhar em locais quentes, mantendo a sua temperatura em níveis adequados, manifesta-se por: • Aumento da sudorese manifesta-se por aparecimento precoce, aumentada principalmente no dorso, explicado pelo funcionamento das glândulas sudoríparas inativas, e que é desenvolvida não somente pelo fator ambiental, mas também pela força aeróbica do indivíduo. • Diminuição da concentração de sódio no suor acontece devido ao efeito da Aldosterona. • Diminuição da frequência cardíaca ocorre devido a: melhora gradativa do coração como bomba (adaptação natural ao esforço); sudorese aumentada e diminuição da temperatura da pele e diminuição das necessidades de fluxo para esta (menor trabalho cardíaco); redistribuição do fluxo sanguíneo mais adequada ( diminuição do débito visceral, renal e muscular. Acredita-se porém que o aumento do acido lático ocasionado nos esforços nos ambientes de calor possa ser causa de danos ao sistema hepático. • Fatores que influenciam a aclimatização: obesidade ( os magros tem maior capacidade); desnutridos ( tem menor capacidade por limitação da força aeróbica); mulheres (tem capacidade de adaptação menor devido a potencial de sudorese glândulas sudoríparas- menor); força aeróbica (indivíduos com capacidade de captação de O2 maior tem mais possibilidades de adaptação); Aldosterona ( usada 3 dias antes da exposição favorece a aclimatização); hiperidratação (favorece a aclimatização); efeitos de drogas ( que diminuem a sudorese: pilocarpina, hioscina, atropina, espirolactona, salicilatos, anfetaminas, etc.) • Métodos de aclimatização . Deve estabelecer: limitação do tempo de exposição nas primeiras semanas; manter a temperatura alta neste período pelo menos 120 minutos/dia; observação das alterações circulatórias (serão as que mais tempo demoram); observar o grau de sudorese e o tempo de aparecimento, a temperatura (retal é mais significativa) e a frequência cardíaca. Lembrar que a aclimatização é especifica para uma carga de trabalho num determinado ambiente quente, e o afastamento do ambiente ou a mudança da carga de trabalho podem alterar significativamente.
3. REPOSIÇÃO HÍDRICA E ELETROLÍTICA • A sede é proporcional a aclimatização (maior capacidade de perda por suor e de esforço). Deve ser bebida parceladamente e com temperatura maior que 15º, pois gelada inibe a sede e pode contribuir para o aparecimento de irritação das vias aéreas superiores. Proporcionar a reposição de eletrólitos, principalmente de sódio.
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O AMBIENTE DE TEMPERATURA ELEVADA MEDIDAS PREVENTIVAS DE ATUAÇÃO SOBRE O PESSOAL: 4. PAUSAS DE RECUPERAÇÃO: Índices de Avaliação ambiental: IST (Índice de Sobrecarga Térmica) = o mais adequado. IBUTG (Índice de Bulbo Úmido Termômetro de Globo) = usado na legislação brasileira, NR 15 anexo 3. a) para ambientes com carga solar ou externos: IBUTG = 0,7Tbn +0,2Tg +0,1Tbs b) para ambientes internos ou sem calor radiante: IBUTG=0,7Tbn + 0,3Tg onde: Tbn= Temperatura de Bulbo Úmido Natural, Tg= Temperatura de Globo, e Tbs= Temperatura de Bulbo Seco Descanso no local de trabalho (por hora) Trabalho Contínuo 45 minutos trabalho 15 minutos descanso 30 minutos trabalho 30 minutos descanso 15 minutos trabalho 45 minutos descanso Não é permitido Trabalho
Atividade Leve (até 150 Cal/h) até 30 30,1 à 30,6
Atividade Moderada (de 150 a 300 Cal/h) até 26,7 26,8 à 28
Atividade Pesada (mais de 300 Cal/h) até 25 25,1 à 25,9
30,7 à 31,4
28,1 à 29,4
26 à 27,9
31,5 à 32,2
29,5 à 31,1
28 à 30
acima de 32,2
acima de 31,1
acima de 30
Quadro: Limites de Tolerância para exposição ao calor, em regime de trabalho intermitente, com descanso no local de trabalho
TIPO DE ATIVIDADE Sentado em repouso TRABALHO LEVE Sentado, com movimentos moderados de braços e tronco (ex: datilografia) Sentado, com movimentos moderados de braços e pernas (ex: dirigir) De pé, trabalho leve em máquina ou bancada, principalemnte com os braços TRABALHO MODERADO Sentado, movimentos vigorosos com braços e pernas De pé trabalho leve, em máquinas ou bancada, com alguma movimentação De pé trabalho moderado, em máquinas ou bancada, com alguma movimentação Em movimento, trabalho moderado de levantar e empurrar TRABALHO PESADO Trabalho intermitente de levantar,. Empurrar, ou arrastar peso ( ex: remoção com pá) Trabalho fatigante
Kcal/h 100 125 150 150 180 175 220 300 440 500
Quadro: Taxas de metabolismo por tipo de atividade
5. ROUPAS ADEQUADAS e ÓCULOS INFRAVERMELHO • Roupas de amianto quando absolutamente necessárias a evitar queimaduras. Quando se tratar simplesmente de conforto térmico uma roupa adequada é a que absorve pouco calor radiante e permite uma adequada evaporação. Os tecidos de cor escura absorvem mais radiação ultravioleta. O uso de óculos com filtro infravermelho impede o aparecimento de lesões oculares (catarata).
6. AVALIAÇÃO PERIÓDICA • Pesquisar a adaptação ao calor e a ocorrência de eventos médicos ( controle do peso, cataratas, conjuntivites, dermatites, queimaduras, alterações renais e cardiovasculares, etc.) Aula 12 - O AMBIENTE DE TEMPERATURA ELEVADA.doc – Transparência 7
O AMBIENTE DE TEMPERATURA ELEVADA MEDIDAS PREVENTIVAS DE CONTROLE SOBRE O AMBIENTE DE TRABALHO: 1. REFRIGERAÇÃO E DIMINUIÇÃO DA UMIDADE DO AR: • Através de ventilação exaustora, facilitando a sudorese.
2. MECANIZAÇÃO DO TRABALHO: • Através da mecanização e/ou automação diminuímos o esforço e portanto o metabolismo.
3. VENTILAÇÃO DO AMBIENTE: Através da insuflação de ar (ventilação ventiladora) poderemos facilitar as trocas • por condução e convecção.
4. INTERPOSIÇÃO DE BARREIRAS DE METAL POLIDO: • O uso de barreiras de Alumínio polido para reflexão o calor, permite uma atuação principalmente no calor radiante.
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