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˜ EQUAC ¸ OES DIFERENCIAIS PARA A ENGENHARIA VIA EXEMPLOS RICARDO BIANCONI

Resumo. Este ´e um resumo de equa¸co ˜es diferenciais ordin´ arias para a disciplina de C´ alculo IV para Engenharia. O foco ´e a solu¸ca ˜o de cada tipo de equa¸ca ˜o, com exemplos tirados de modelos da F´ısica, Biologia e outras a ´reas afins. Algumas equa¸co ˜es a derivadas parciais podem ser reduzidas a um sistema de equa¸co ˜es diferenciais ordin´ arias (independentes) pelo M´etodo da Separa¸ca ˜o de Vari´ aveis. Este m´etodo ser´ a ilustrado no caso especial da Equa¸ca ˜o de Laplace (que ´e satisfeita por potencial eletrost´ atico em uma regi˜ ao sem cargas; ou por difus˜ ao de calor; e outras aplica¸co ˜es).

´ rio Suma 1.

Introdu¸c˜ ao

2

2.

Teoremas de Existˆencia e Unicidade

2

3.

Equa¸c˜ oes de primeira ordem

5

3.1.

Equa¸c˜ oes exatas

5

3.2.

Equa¸c˜ oes a vari´ aveis separ´aveis

6

3.3.

Equa¸c˜ oes a coeficientes homogˆeneos

9

3.4.

Fator integrante dependendo de uma vari´avel

10

3.5.

Redu¸c˜ ao de ordem

13

4. 4.1. 5.

Equa¸c˜ oes lineares de segunda ordem Redu¸c˜ ao de Ordem

14 14

Equa¸c˜ oes lineares com coeficientes constantes

16

5.1.

Equa¸c˜ oes homogˆeneas

17

5.2.

M´etodo da varia¸c˜ ao de parˆametros

18

5.3.

M´etodo dos coeficientes a determinar

20

Apˆendice A.

N´ umeros Complexos e Exponencial Complexa

Esta vers˜ ao: agosto de 2016. 1

22

2

RICARDO BIANCONI

Apˆendice B.

Exponencial de Matrizes e Sistemas Lineares

Referˆencias

23 24

˜o 1. Introduc ¸a Equa¸c˜ oes diferenciais aparecem em muitas modelagens matem´aticas de fenˆomenos f´ısicos, qu´ımicos, biol´ ogicos e at´e em finan¸cas. Algumas dessas equa¸c˜oes diferenciais s˜ ao a derivadas parciais (abreviadas EDP), ou seja, admitem mais de uma vari´avel independente (por exemplo, a equa¸c˜ao do calor, a equa¸c˜ao da onda, a equa¸c˜ao de Laplace, etc), cuja teoria pode ser bem complicada. As que admitem apenas uma vari´ avel independente s˜ ao chamadas de equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias (EDO), que tˆem uma teoria mais trat´ avel e tamb´em servem para resolver algumas das EDP’s. Este texto ´e voltado para os cursos de engenharia e pretende apresentar o problema de como resolver certas equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias que possam surgir em modelagens diversas. O foco principal deste texto ´e a apresenta¸c˜ao de equa¸c˜oes espec´ıficas que aparecem em diversas ´areas, indicadas em cada exemplo. Esse material tamb´em serve como requisito para o estudo mais aprofundado de Sistemas Dinˆamicos e Controle. Uma quest˜ ao que surge naturalmente aqui ´e por que obter solu¸c˜ oes exatas de equa¸c˜ oes, se podemos resolvˆe-las com um computador ? De fato, existem m´etodos num´ericos bastante eficientes para resolver alguns tipos de equa¸c˜ oes. Dois problemas podem aparecer (e, pela Lei de Murphy, quase sempre aparecem) s˜ao: (A) o custo da computa¸c˜ ao (problemas que requerem muita precis˜ao exigem muito tempo de computa¸c˜ ao) pode ser reduzido se obtivermos uma solu¸c˜ao exata que requeira menor custo computacional; consulte o livro de Birkhoff e Rota [1, Cap´ıtulos 8 e 9] sobre m´etodos de aproxima¸c˜ao de solu¸c˜oes; (B) singularidades ou aproxima¸c˜oes imprecisas podem gerar uma resposta falsa ao problema (por exemplo, a discretiza¸c˜ao usada pode ocultar componentes de alta frequˆencia da solu¸c˜ ao). O segundo desses problemas j´a ´e tratado na Se¸c˜ao 2, que apresenta o Teorema de Existˆencia e Unicidade de solu¸c˜oes de uma equa¸c˜ao. ˆncia e Unicidade 2. Teoremas de Existe Toda equa¸c˜ ao diferencial ordin´aria de ordem n, F (x, y, y 0 , y 00 , . . . , y (n) ) = 0, pode ser transformada em um sistema de equa¸c˜oes de primeira ordem pela introdu¸c˜ao de novas vari´ aveis. Digamos que y (n) possa ser isolada em F ; sen˜ao, utilizamos ∂F ∂F 0 ∂F G(x, y 0 , . . . , y (n+1 )) = + y + . . . (n) y (n+1) ; ∂x ∂y ∂y

˜ EQUAC ¸ OES DIFERENCIAIS PARA A ENGENHARIA VIA EXEMPLOS

3

isolamos y (n) = H(x, y, y 0 , . . . , y (n−1) (ou y (n+1) = H(x, y, y 0 , . . . , y (n) ), no segundo caso), e introduzimos novas coordenadas Y0 , . . . , Yn−1 (no caso de usarmos F ; Yn , se usarmos G) e escrevemos o sistema de equa¸c˜oes Y00 = Y1 , Y10 = Y2 , . . . , Yn0 = H(x, Y0 , Y1 , . . . , Yn−1 ). Resumidamente, denotamos este sistema como Y 0 = A(x, Y ), com Y , Y 0 e A(x, Y ) vetores de fun¸c˜oes. Passemos ao problema da possibilidade de solu¸c˜ao do sistema Y 0 = A(x, Y ). Seja (x0 , ξ0 ) um ponto do dom´ınio de A(x, Y ). A primeira pergunta a ser respondida ´e se existe (pelo menos localmente) uma solu¸c˜ao Y (x) desse sistema satisfazendo a condi¸ c˜ ao inicial Y (x0 ) = ξ0 . O primeiro resultado, devido a G. Peano, d´a resposta afirmativa `a quest˜ao, no caso de A(x, Y ) ser cont´ınua e limitada em uma regi˜ao. Teorema 1 (Teorema de Existˆencia de Peano). Suponha que a fun¸c˜ao A(x, Y ) seja cont´ınua se |x − x0 | ≤ T e kY − ξ0 | ≤ K, e que nesta regi˜ao valha kA(x, Y )k ≤ M . Ent˜ ao existe uma solu¸c˜ ao Y (x), |x − x0 | ≤ T1 = min{T, K/M }, da equa¸c˜ao Y 0 = A(x, Y ), satisfazendo a condi¸c˜ao inicial Y (x0 ) = ξ0 . A demonstra¸c˜ ao deste teorema encontra-se, por exemplo, em [1, Cap´ıtulo 6, §10, Teorema 9, pp. 191-193]. A ideia ´e escrever esta equa¸c˜ao de uma forma equivalente Z x Y (x) = ξ0 + A(x, Y (x)) dx. x0

A partir disso, definimos uma sequˆencia de fun¸c˜oes y0 (x) = ξ0R, constante, e para x n ≥ 1, yn (x) = ξ0 , se x0 ≤ x − leqx0 + T1 /(n + 1), e yn (x) = ξ0 + x0 A(x, yn−1 (x) dx, se T1 /(n + 1) < x ≤ T1 . A parte dif´ıcil ´e mostrar que esta sequˆencia de fun¸c˜oes possui uma subsequˆencia que converge para uma solu¸c˜ao no intervalo dado. Pode haver mais de uma solu¸c˜ ao neste caso. Exemplo 1 (Uma equa¸c˜ ao sem unicidade de solu¸c˜oes). A equa¸c˜ao y 0 = 3y 2/3 tem infinitas solu¸c˜ oes com a condi¸c˜ao inicial y(0) = 0. Por exemplo, y(x) = 0 ´e uma solu¸c˜ ao, bem como y(x) = x3 . Mais solu¸c˜oes, s˜ao y(x) = 0, se x ≤ 0 e y(x) = x3 se x ≥ 0; ou y(x) = (x − a)3 , se x < a, y(x) = 0, se a ≤ x < 0 e y(x) = x3 , se x ≥ 0, para algum a < 0; ou ainda, y(x) = x3 se x < 0 e y(x) = 0 se x ≥ 0; e n˜ao esgotamos todas as possibilidades! Isto ´e um desastre para engenheiros. Se esta equa¸c˜ao modelar alguma coisa, n˜ao se pode prever qual ser´ a seu comportamente. Qualquer ru´ıdo pode fazer que a solu¸c˜ao mude de uma para outra. Onde est´ a o problema? Observe que a fun¸c˜ ao A(x, y) = y 2/3 ´e cont´ınua e limitada em qualquer retˆangulo do plano, centrado na origem; e que ela ´e diferenci´avel apenas nos pontos fora do eixo x (isto ´e, fora da reta y = 0), e sua diferencial n˜ao ´e limitada em nenhuma regi˜ao que contenha algum ponto do eixo x em seu interior. Na verdade, este ´e o problema.

4

RICARDO BIANCONI

Defini¸ c˜ ao 1. A fun¸c˜ ao A(x, Y ) satisfaz a condi¸ c˜ ao de Lipschitz em uma regi˜ao D (e nas vari´ aveis Y ) se existir uma constante positiva L, tal que se (x, Y ), (x, Z) ∈ D, ent˜ ao kA(x, Y ) − A(x, Z)k ≤ LkY − Zk. A fun¸c˜ ao A(x, y) = y 2/3 n˜ao satisfaz a condi¸c˜ao de Lipschitz em nenhuma regi˜ ao contendo pontos do eixo x (ou seja, y = 0): |y 2/3 − 0| = |y −1/3 | |y − 0|, e o termo |y −1/3 | n˜ ao ´e limitado perto de y = 0. Observa¸c˜ ao 1. Se a fun¸c˜ ao A(x, Y ) for deriv´avel em D, ent˜ao ela satisfar´a a condi¸c˜ ao de Lipschitz em qualquer subconjunto fechado e limitado desta regi˜ao. Teorema 2 (Existˆencia e Unicidade). Se a fun¸c˜ao A(x, Y ) for cont´ınua e satisfizer a condi¸c˜ ao de Lipschitz em uma regi˜ao D (em particular, se for de classe C 1 neste regi˜ ao), ent˜ ao existe uma u ´nica solu¸c˜ao Y (x) satisfazendo a condi¸c˜ao inicial Y (x0 ) = ξ0 . M´etodo de Picard. A sua demonstra¸c˜ao segue as linhas do Teorema de Peano acima, e a condi¸c˜ ao de Lipschitz garante que a sequˆencia de fun¸c˜oes yn (x) converge para uma u ´nica fun¸c˜ ao que resolve a equa¸c˜ao diferencial. Em uma regiˆao em que kY k ≤ M e |x − x0 | ≤ B, temos

Z x

Z x



, kYn+1 (x) − Yn (x)k = (A(t, Y (t)) − A(t, Y (t))) dt ≤ K M dt n n−1

x0

x0

ou seja, teremos kYn+1 (x) − Yn (x)k ≤ KM |x − x0 |. Usando esta desigualdade, obtemos Z |x − x0 |2 kYn+2 (x) − Yn (x)k ≤ KM |t − x0 | dt = KM , 2 Z |t − x0 |2 |x − x0 |3 kYn+3 (x) − Yn (x)k ≤ KM dt = KM , 2 3! e assim por diante, obtendo, em geral, Z |t − x0 |`−1 |x − x0 |` kYn+` (x) − Yn (x)k ≤ KM dt = KM , (` − 1)! `! que tende a zero. Esta desigualdade, junto com teoremas apropriados de An´alise Matem´ atica, garante que a sequˆencia de fun¸c˜oes (vetoriais) Yn (x) convergir˜ao `a solu¸c˜ ao 0 da equa¸c˜ ao Y = A(x, Y ), com |x − x0 | ≤ B.  Observa¸c˜ ao 2. No exemplo y 0 = 3y 2/3 vale a existˆencia e unicidade em qualquer regi˜ ao (conexa) que n˜ ao contenha pontos do eixo x. Exemplo 2 (Ilustra¸c˜ ao do M´etodo de Picard). Considere a equa¸c˜ao y 0 = y, que tem por solu¸c˜ ao a fun¸c˜ ao exponencial y(x) = Cex . Aplicamos o M´etodo de Picard ` a

˜ EQUAC ¸ OES DIFERENCIAIS PARA A ENGENHARIA VIA EXEMPLOS

5

equa¸c˜ ao, com condi¸c˜ ao inicial y(0) = 1, e obtemos y0 (x) = 1

=1

y1 (x) = 1 +

Rx

y2 (x) = 1 +

Rx

y3 (x) = 1 +

Rx

y4 (x) = 1 +

Rx

y4 (x) = 1 +

Rx

0

0

1 dt

=1+x

(1 + t) dt

=1+x+

x2 2

=1+x+

x2 2

+

x3 3!

=1+x+

x2 2

+

x3 3!

+

x4 4!

dt = 1 + x +

x2 2

+

x3 3!

+

x4 4!

0

0

0

1+t+

t2 2

1+t+

t2 2

1+t+

t2 2



dt

+

t3 3!

+

t3 3!



dt

+

t4 4!

.. .



+

x5 5!

.. .

Perceba que a sequˆencia yn (x) comp˜oe-se dos polinˆomios de Taylor da fun¸c˜ao y(x) = ex . A condi¸c˜ ao de Lipschitz do campo vetorial tem ainda uma consequˆencia importante. As solu¸c˜ oes variam continuamente com a condi¸c˜ao inicial. Teorema 3 (Continuidade de Solu¸c˜oes). Se a fun¸c˜ao A(x, Y ) for cont´ınua e satisfizer a condi¸c˜ ao de Lipschitz (kA(x, Y1 ) − A(x, Y2 )k ≤ LkY1 − Y2 k) em uma regi˜ao D (em particular, se for de classe C 1 nesta regi˜ao), ent˜ao duas solu¸c˜oes Z1 (x) e Z2 (x) da equa¸c˜ ao Y 0 = A(x, Y ) satisfazem |Z1 (x) − Z2 (x)| ≤ exp(L(x − x0 ))|Z1 (x0 ) − Z2 (x0 )|, x > x0 . Ou seja, as solu¸c˜ oes variam continuamente com a varia¸c˜ao da condi¸c˜ao inicial.

˜ es de primeira ordem 3. Equac ¸o Vamos resolver equa¸c˜ oes diferenciais de primeira ordem. Elas podem aparecer nas formas y 0 = f (x, y), ou P (x, y)+Q(x, y)y 0 = 0, ou tamb´em P (x, y) dx+Q(x, y) dy = 0 (na forma de campo vetorial ~v +(P, Q)). Todas s˜ao equivalentes e resolvˆe-las reduz-se a achar uma fun¸c˜ ao de duas vari´aveis (de classe C 1 ) F (x, y), de modo que suas curvas de n´ıvel sejam solu¸c˜ oes (impl´ıcitas) da equa¸c˜ao. Na forma vetorial, isto significa que o campo vetorial (P, Q) ser´ a paralelo ao campo ∇F (o gradiente de F ). Seria bom se esses campos fossem iguais. 3.1. Equa¸ c˜ oes exatas. As equa¸c˜oes exatas podem ser resolvidas diretamente, resolvendo ∇F = (P, Q). Para campos (P, Q) de classe C 1 , isto significa que eles admitem

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RICARDO BIANCONI

∂P um potencial F (campos conservativos). Da´ı, devem ser irrotacionais, ∂Q ∂x − ∂y = 0. Entretanto, sabemos que isto n˜ao ´e suficiente, pois o bem conhecido campo   x −y , x2 + y 2 x2 + y 2

´e irrotacional, mas n˜ ao ´e conservativo no plano menos a origem; mas ´e localmente conservativo (restringindo a um dom´ınio simplesmente conexo). Exemplo 3 (Campo de for¸cas central). Um campo de for¸cas central ´e da forma ~v = g(x2 + y 2 )(x, y) (em um sistema de coordenadas conveniente), com g de classe C 1 fora da origem. O campo el´etrico (ou tamb´em gravitacional) gerado por part´ıcula carregada colocada na origem ´e assim, com g(x2 + y 2 ) = k/(x2 + y 2 ), para uma constante adequada k. Um campo central d´ a origem a uma equa¸c˜ao de primeira ordem exata g(x2 + R x2 +y2 g(t) dt. y 2 )x dx + g(x2 + y 2 )y dy = 0 com potencial F (x, y) = a Exemplo 4. Restrimos o dom´ınio D = R2 \ {(x, y) ∈ R2 : x ≤ 0 & y = 0} (o plano, menos o semieixo negativo dos x, que ´e simplesmente conexo), e, assim, o campo   −y x , x2 + y 2 x2 + y 2 torna-se conservativo em D e admite um potencial F (x, y) = 2 arctg

y p x + x2 + y 2

! .

3.2. Equa¸ c˜ oes a vari´ aveis separ´ aveis. Mesmo com campos com rotacional n˜ ao nulo, ´e poss´ıvel resolver a equa¸c˜ao P dx + Q dy = 0. O caso geral ´e bem dif´ıcil, mas existem alguns casos trat´ aveis. O primeiro caso, o mais simples, trata-se de equa¸c˜ oes a vari´ aveis separ´ aveis, em que P (x, y) = P1 (x)Q1 (y) e Q(x, y) = P2 (x)Q2 (y). A ideia ´e separar tudo que depende de x de tudo que depende de y, ou seja, transformar a equa¸c˜ ao P1 (x)Q1 (y) dx+P2 (x)Q2 (y) dy = 0 em P1 (x)/P2 (x) dx+Q2 (y)/Q1 (y) dy = 0, que ´e irrotacional e, portanto, localmente conservativo. Mas, CUIDADO! Isto significa dividir a equa¸c˜ao pela express˜ao Q1 (y)P2 (x), o que imp˜ oe a restri¸c˜ ao Q1 (y)P2 (x) 6= 0. Isso descarta as poss´ıveis solu¸c˜oes constantes y(x) = y0 , para cada y0 que anula Q1 (y). Assim, o problema divide-se em: (1) primeiro verificar a existˆencia de solu¸c˜oes constantes y(x) = y0 , para cada y0 que anula Q1 (y); (2) depois resolver a equa¸c˜ao exata P1 (x)/P2 (x) dx + Q2 (y)/Q1 (y) dy = 0.

˜ EQUAC ¸ OES DIFERENCIAIS PARA A ENGENHARIA VIA EXEMPLOS

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Exemplo 5 (Equa¸c˜ oes lineares homogˆeneas). Para resolver a equa¸c˜ao a(x)y 0 + b(x)y = 0, com coeficientes a(x) e b(x) de classe C 1 , observe que a fun¸c˜ao constante y = 0 ´e solu¸c˜ ao. Obtemos outras solu¸c˜oes, com y 6= 0, separando as vari´aveis y0 b(x) =− , y a(x) e resolvemos por integra¸c˜ ao, com condi¸c˜ao inicial y(x0 ) = y0 6= 0, Z x 0 Z y(x) Z x y 1 b(t) |y(x)| dx = dy = ln =− dt. y |y0 | x0 y y0 x0 a(t) Isto resulta em

x

 b(t) dt . x0 a(t) Observe que o sinal positivo, ou negativo, de y(x) tem que ser igual ao de y0 , devido `a unicidade da solu¸c˜ ao (pois, sen˜ao, y(x) teria que trocar de sinal, passando pelo zero e, a´ı, cruzaria com a solu¸c˜ ao nula). Assim, a solu¸c˜ao sem m´odulo ´e   Z x b(t) dt . y(x) = y0 exp − x0 a(t)  Z |y(x)| = |y0 | exp −

Exemplo 6 (Movimento resistido em fluido-I). Sabe-se que um corpo esf´erico de massa m caindo verticalmente sob a a¸c˜ao da gravidade, em meio fluido de alta viscosidade e com baixa velocidade, sofre resistˆencia do fluido proporcional `a sua velocidade, F = −kv. dv m = mg − kv. dt A fun¸c˜ ao constante v(t) = mg/k ´e solu¸c˜ao. As outras solu¸c˜oes s˜ao obtidas pelo m´etodo da separa¸c˜ ao de vari´ aveis m dv = 1. mg − kv dt Integramos, usando a condi¸c˜ ao inicial v(0) = v0 6= mg/k, Z T Z v(T ) Z T dv m m kv(T ) − mg m dt = dv = − ln = 1 dt = T. mg − kv k kv0 − mg 0 mg − kv dt v0 0 Pela unicidade da solu¸c˜ ao, os sinais das express˜oes (kv(T ) − mg) e (kv0 − mg) s˜ao os mesmos (pois se fossem opostos, a solu¸c˜ao v(t) deveria cruzar a solu¸c˜ao constante v(t) = mg/k). Da´ı, o m´ odulo no logaritmo ´e desnecess´ario. Assim, mg  mg  −kT /m v(T ) = + v0 − e . k k Exemplo 7 (Movimento resistido em fluido-II). Sabe-se que um corpo esf´erico de massa m caindo verticalmente sob a a¸c˜ao da gravidade em meio fluido de baixa viscosidade sofre resistˆencia do fluido proporcional ao quadrado de sua velocidade, F = −kv 2 . A Segunda Lei de Newton descreve o movimento (for¸ca resultante igual `a massa vezes acelera¸c˜ ao) dv m = mg − kv 2 dt

8

RICARDO BIANCONI

Esta ´e uma Equa¸c˜ ao de Riccati, que ser´a explorada no Exemplo 18, p´agina 14. p A fun¸c˜ ao constante ao p v(t) = mg/k ´e solu¸c˜ao. Consideremos agora a condi¸c˜ inicial v(0) = v0 6= mg/k. A equa¸c˜ao pode ser resolvida por separa¸c˜ao de veri´aveis m dv = 1. 2 mg − kv dt Integramos ambos os membros Z T Z v(T ) Z T dv 1 m 1 dt = T, dv = dt = 2 mg − kv 2 0 v0 0 mg − kv dt obtemos Z

v(T )

T = v0

! Z v(T ) 1 1 m 1 p dv = √ +p dv = mg − kv 2 kmg v0 mg/k − v mg/k + v p mg/k + v(T ) pmg/k − v m 0 p =√ ln p . kmg mg/k − v(T ) mg/k + v0

A unicidade da solu¸c˜ ao garante que os sinais das express˜oes p p mg/k + v(T ) mg/k − v0 p e p mg/k − v(T ) mg/k + v0 s˜ ao iguais e, portanto o m´ odulo n˜ao ´e necess´ario no logaritmo. Da´ı, a resposta ser´ a ! p ! p √ mg/k + v(T ) mg/k − v0 p p = eT kmg/m , ou mg/k − v(T ) mg/k + v0

v(T ) =

mg(eT T

mg(e

√ √

kg/m kg/m

− 1) + − 1) +

√ √

kmgv0 (eT T

kmgv0 (e

√ √

kg/m

+ 1)

kg/m

+ 1)

.

Exemplo 8 (Fio Flex´ıvel-Caten´aria). Um fio flex´ıvel de densidade linear ρ e comprimento ` > 2x0 tem suas extremidades fixas em dois pontos (−x0 , y0 ) e (x0 , y0 ), e est´ a em equil´ıbrio est´ atico sob a a¸c˜ao da gravidade (na dire¸c˜ao vertical paralela ao eixo y). A fun¸c˜ ao y(x) descreve sua forma e, devido `a simetria do problema, dever´ a ser uma fun¸c˜ ao par, y(−x) = y(x), com ponto de m´ınimo em x = 0. Seja T0 a for¸ca de tens˜ ao nesse ponto (que deve ser na dire¸c˜ao horizontal) e seja T (x) a tens˜ao em um outro ponto x > 0 (que deve ser na dire¸c˜ao da reta tangente ao gr´afico de y em x). O equil´ıbrio de for¸cas no trecho da corda entre 0 e x implica a igualdade das componentes horizontais T0 = T (x) cos θ e verticais gρ`(x) = T (x) sen θ, onde θ ´e o ˆangulo que a reta tangente ao gr´afico de y em x faz com o eixo x, e `(x) ´e o comprimento do trecho do fio entre 0 e x, e gρ`(x) ´e o peso deste segmento do fio. Dividimos uma equa¸c˜ ao pela outra Re obtemos gρ`(x) = T0 tg θ = T0 y 0 (x). O comprimento do xp 0 segmento de fio ´e `(x) = 0 1 + [y (t)]2 dt. Assim, a equa¸c˜ao ´e Z xp T0 y 0 (x) = gρ 1 + [y 0 (t)]2 dt. 0

˜ EQUAC ¸ OES DIFERENCIAIS PARA A ENGENHARIA VIA EXEMPLOS

9

A derivada em rela¸c˜ ao a x de ambos os membros desta equa¸c˜ao produz p T0 y 00 = gρ 1 + (y 0 )2 , que√ ´e uma equa¸c˜ ao de primeira ordem em z = y 0 a vari´aveis separ´aveis, T0 z 0 = gρ 1 + z 2 . √ Podemos dividir a equa¸c˜ ao por 1 + z 2 (que nunca se anula) e calcular a integral indefinida Z Z Z z0 1 gρ √ √ dx + C, dx = dz = T0 1 + z2 1 + z2 com a substitui¸c˜ ao z = senh t, dz = cosh t dt, e obtemos gρ t= x + C, ou z = senh (C + gρx/T0 ), T0 com C = 0, pois z(0) = y 0 (0) = 0 (x = 0 ´e ponto de m´ınimo de y). Da´ı y(x) = K + Tgρ0 cosh(gρx/T0 ) e, com a condi¸c˜ao y(x0 ) = y0 , determinamos K = y0 − Tgρ0 cosh(gρx0 /T0 ). Observe que o comprimento do fio ´e Z x0 q 2T0 `= 1 + senh2 (gρt/T0 ) dt = cosh(gρx0 /T0 ), gρ −x0 o que fornece uma rela¸c˜ ao impl´ıcita entre T0 e `. 3.3. Equa¸ c˜ oes a coeficientes homogˆ eneos. A equa¸c˜ao P (x, y) + Q(x, y)y 0 = 0 chama-se de equa¸c˜ ao a coeficientes homogˆeneos se existir um n´ umero k ∈ R, tal que k k para todo t > 0, P (tx, ty) = t P (x, y) e Q(tx, ty) = t Q(x, y) (o parˆametro t pode ser tirado em evidˆencia em ambas as fun¸c˜oes, elevado `a mesma potˆencia k). Observe que se a equa¸c˜ ao vier na forma y 0 = f (x, y), ent˜ao Q(x, y) = 1 e, portanto, k = 0. Observe que um campo vetorial com coeficientes homogˆeneos tem dire¸c˜ao e sentido constantes em cada semirreta partindo da origem. O m´etodo de solu¸c˜ ao ´e via a transforma¸c˜ao y = xv, com y 0 = xv 0 + v (ou dy = x dv + v dx), que transforma a equa¸c˜ao em uma outra a vari´aveis separ´aveis. Exemplo 9 (Campos Homogˆeneos). Algumas EDOs exatas tamb´em podem ser vistas como equa¸c˜ oes a coeficientes homogˆeneos. (x2 + y 2 )β (x dx + y dy), ou, tamb´em, (x2 + y 2 )β (−y dx + x dy). Ambos s˜ ao campos conservativos em R2 . Mas o m´etodo desta se¸c˜ao tamb´em se aplica. Exemplo 10 (Espelho Parab´ olico). A par´abola ´e uma curva que tem a propriedade de todo raio partindo de um ponto (o foco da par´abola) refletir-se sempre numa mesma dire¸c˜ ao (paralela ao eixo da par´abola). Vamos determinar as curvas dadas por gr´aficos de fun¸c˜ oes y = f (x) com a propriedade que toda reta que passa pela origem O = (0, 0) reflete-se em um reta vertical pela curva. A reta y = ax encontra o gr´afico de f (x) em A = (x, f (x)) formando uma ˆangulo (agudo) com a reta tangente ao seu

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RICARDO BIANCONI

gr´ afico igual ao ˆ angulo que a reta vertical faz com a reta tangente. Consideremos os pontos em que x 6= 0. Seja B o ponto do eixo y pertencente `a reta tangente. O ˆangulo agudo que a reta tangente forma com o eixo y ´e igual ao ˆangulo (agudo) que a reta y = ax faz com a reta tangente, que tamb´em ´e igual ao ˆangulo (agudo) que a reta tangente faz com a reta vertical emp A. Assim, o triˆangulo 4OAB ´e is´osceles, o que implica na p igualdade OB = OA = x2 + f 2 . A cotangente do ˆangulo OBA ’e igual a (f (x) + x2 + f 2 )/x, que tamb´em ´e igual `a tangente do ˆangulo que a reta tangente faz com o eixo x, que ´e f 0 (x). Escrevemos f (x) = y e obtemos a equa¸c˜ ao (a coeficientes homogˆeneos) p y + x2 + y 2 0 y = , x 6= 0. x p Se x > 0, ent˜ ao |x| = x e a equa¸c˜ao torna-sep y 0 = (y/x) + 1 + (y/x)2 , e se x < 0, |x| = −x e a equa¸c˜ ao torna-se y 0 = (y/x) + 1 + (y/x)2 . A substitui¸c˜ao y = xv, 0 0 y = v + xv transforma a equa¸c˜ao em p p v 0 = 1 + v 2 , se x > 0; ou v 0 = − 1 + v 2 , se x < 0; t

−t

, dv = cosh t dt, integramos em rela¸c˜ ao a x (com a substitui¸c˜ao v = senh t = e −e 2 √ 2 2 2 et +e−t 1 + senh t = cosh t e, como cosh t = 2 > 0, cosh t = cosh t) Z Z Z v0 1 √ √ dx = dv = 1 dt = t = ± ln |x| + C; 1 + v2 1 + v2 da´ı, y/x = v = senh t = senh(± ln |x| + C) = ± senh(ln |x| + C) = ±(eC |x| − e−C /|x|)/2. Tanto para x < 0, quanto para x > 0, obtemos equa¸c˜ao de par´abolas y = Kx2 − K. 3.4. Fator integrante dependendo de uma vari´ avel. A ideia de que que uma EDO de primeira ordem n˜ao exata pode ser sempre ser transformada em outra equa¸c˜ ao exata com mesmas solu¸c˜oes pela multiplica¸c˜ao por um fator integrante µ(x, y) j´ a era conhecida no tempo do matem´atico alem˜ao Leonhard Euler. Ele publicou em 1763 um trabalho1 sobre um m´etodo geral de fatores integrantes, obtendo a equa¸c˜ ao ∂µP ∂µQ = , ∂x ∂y ou, em mi´ udos, ∂Q ∂µ ∂P ∂µ µ +Q =µ +P . ∂x ∂x ∂y ∂y Em geral, essa equa¸c˜ ao a derivadas parciais ´e muito complicada e at´e imposs´ıvel de se obter solu¸c˜ oes expl´ıcitas. No entanto, alguns casos particulares u ´teis em aplica¸c˜ oes s˜ ao trat´ aveis, como veremos a seguir. 1Leonhard Euler. “De integratione aequationum differentialium”, Novi Commentarii academiae scientiarum Petropolitanae 8, 1763, pp. 3–63; Opera Omnia: Series 1, Volume 22, pp. 334 - 394. Veja o Teorema 16, pp. 12–13. Veja a referˆencia bibliogr´ afica [2].

˜ EQUAC ¸ OES DIFERENCIAIS PARA A ENGENHARIA VIA EXEMPLOS

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Fator integrante que depende somente de x. Se a equa¸c˜ ao P (x, y) dx+Q(x, y) dy = 0 (ou equivalentemente, P (x, y)+Q(x, y)y 0 = 0) admitir um fator integrante que dependa somente da vari´avel x, ent˜ao ∂µ ∂y = 0 e a equa¸c˜ ao do fator integrante reduz-se a   ∂Q ∂µ ∂P 1 ∂µ 1 ∂P ∂Q µ +Q =µ , ou = − ∂x ∂x ∂y µ ∂x Q ∂y ∂x A fun¸c˜ ao Z µ(x) = exp

1 Q



∂P ∂Q − ∂y ∂x



 dx

resolve a equa¸c˜ ao do fator integrante. ˜ ATENC ¸ AO: Verifique se realmente µ s´o depende de x: a express˜ao n˜ao pode depender de y.

1 Q



∂P ∂y



∂Q ∂x



Exemplo 11 (Equa¸c˜ oes lineares). Equa¸c˜oes lineares de primeira ordem tˆem a forma 0 a(x)y + b(x)y = c(x), ou (b(x)y − c(x)) + a(x)y 0 = 0. Assim, vemos que o campo vetorial correspondente (P, Q) = (b(x)y − c(x), a(x)). Neste caso   ∂Q b(x) − a0 (x) 1 ∂P − = , Q ∂y ∂x a(x) que realmente n˜ ao depende de y. R Um fator integrante ´e µ(x) = exp[ (b(x) − a0 (x))/a(x) dx] e a solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ ao ´e  Z    Z  Z C b(x) − a0 (x) b(x) − a0 (x) y(x) = + c(x) exp dx dx exp − dx a(x) a(x) a(x) Exemplo 12 (Equa¸c˜ ao de Bernoulli). A equa¸c˜ao diferencial de Bernoulli y 0 + p(x)y = q(x)y a tem a solu¸c˜ ao trivial y(x) = 0 constante (se a > 0), e transforma-se em uma equa¸c˜ao linear (com y 6= 0), multiplicando-a por y −a , y −a y 0 + p(x)y 1−a = q(x), e com a mudan¸ca de vari´ avel u = y 1−a , u0 = (1 − a)y −a y 0 , (1 − a)−1 u0 + p(x)u = q(x). A condi¸c˜ ao inicial y(x0 ) = y0 transforma-se na condi¸c˜ao inicial u(x0 ) = y01−a (com y0 > 0, se a n˜ ao for n´ umero racional com denominador ´ımpar). Exemplo 13 (Equa¸c˜ ao Log´ıstica). A equa¸c˜ao diferencial log´ıstica ´e um caso particular da equa¸c˜ ao diferencial de Bernoulli, y 0 − y = −y 2 ,

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RICARDO BIANCONI

que se transforma em u0 + u = 1, com solu¸c˜ao u(x) = Ce− (x − x0 ) + 1 (com C = u(x0 ) − 1 = y0−1 − 1), ou y(x) =

1 y0−1 e−(x−x0 ) + 1

=

e(x−x0 ) . e(x−x0 ) + y0−1

Em particular, se x0 = 0 e y0 = 1/2, obtemos a fun¸c˜ ao log´ıstica, com aplica¸c˜ oes diversas, ex y(x) = x e +1 Fator integrante que depende somente de y. Se a equa¸c˜ ao P (x, y) dx+Q(x, y) dy = 0 (ou equivalentemente, P (x, y)+Q(x, y)y 0 = 0) admitir um fator integrante que dependa somente da vari´avel y, ent˜ao ∂µ ∂x = 0 e a equa¸c˜ ao do fator integrante reduz-se a   ∂P ∂µ ∂Q 1 ∂µ 1 ∂Q ∂P µ +P =µ , ou = − ∂y ∂y ∂x µ ∂y P ∂x ∂y A fun¸c˜ ao Z µ(y) = exp

1 P



∂Q ∂P − ∂x ∂y



 dy

resolve a equa¸c˜ ao do fator integrante. ˜ ATENC ¸ AO: Verifique se realmente µ s´o depende de y: a express˜ao n˜ ao pode depender de x.

1 P



∂Q ∂x



∂P ∂y



Observa¸c˜ ao 3. Observe que se o campo ~v (x, y) = (P (x, y), Q(x, y)) admitir um fator integrante que dependa somente de x, ent˜ao o campo w(x, ~ y) = (Q(y, x), P (y, x)) admitir´ a um fator integrante que depender´a somente de y (fa¸ca as contas). Exemplo 14. A equa¸c˜ ao (y 2 + 1) dx + (xy + y 3 − y) dy = 0 tem fator integrante que depende somente de y, pois   −y 1 ∂Q ∂P − = 2 , P ∂x ∂y y +1 p e,pportanto, µ(y) = 1/ py 2 + 1. Um potencial F , cujo p gradiente ´e (µP, µQ) = ( y 2 + 1, (xy + y 3 − y)/ y 2 + 1) ´e F (x, y) = (x − 2) y 2 + 1 + (y 2 + 1)3/2 , e a solu¸c˜ ao geral ´e F (x, y) = C. √ Exemplo 15. A equa¸c˜ ao (y 2 − 1) dx + [x − (y 2 − 1) y + 1] dy = 0 admite fator integrante que depende somente de y, pois r   1 ∂Q ∂P 1 − 2y 1 y−1 − = 2 , ou µ(y) = 2 . P ∂x ∂y y −1 y −1 y+1

˜ EQUAC ¸ OES DIFERENCIAIS PARA A ENGENHARIA VIA EXEMPLOS

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Um potencial para o campo (µP, µQ) ´e r y − 1 2(y − 1)3/2 F (x, y) = x − , y+1 3 e a solu¸c˜ ao geral ´e F (x, y) = C. 3.5. Redu¸ c˜ ao de ordem. Certas EDOs de segunda ordem podem ser reduzidas a equa¸c˜ oes de primeira ordem e resolvidas pelos m´etodos acima. Exemplo 16 (Equa¸c˜ ao do Pˆendulo). Um pˆendulo simples consiste em uma barra s´olida de comprimento `, presa em um ponto com articula¸c˜ao e de massa desprez´ıvel em rela¸c˜ ao ` a massa m um corpo preso `a outra extremidade da barra. Este corpo est´a sujeito ` a a¸c˜ ao da gravidade. O movimento do corpo restringe-se `a circunferˆencia de raio `. A componente da for¸ca peso mg que age na massa provocando o movimento ´e a componente tangente ` a circunferˆencia, mg sen θ, onde θ ´e o ˆangulo orientado no sentido antihor´ ario em rela¸c˜ ao `a reta vertical. Aplicamos a Segunda lei de Newton, obtendo d2 θ g d2 θ = − sen θ. m` 2 = −mg sen θ, ou dt dt2 ` Observe que as fun¸c˜ oes constantes θ = 0 + 2kπ e θ = (2k + 1)π, k ∈ Z, s˜ao solu¸c˜ oes. Procuremos as solu¸c˜ oes n˜ao constantes pelo artif´ıcio de considerar a veloci˙ dade angular ω(t) = θ(t) como fun¸c˜ao de θ e composta com com θ(t). Isso ´e poss´ıvel em qualquer intervalo em que possamos inverter a fun¸c˜ao θ(t), fazendo t = g(θ), e tomando ω(θ) = ω ◦ t(θ). Com isso, dω dθ dω dω = =ω . dt dθ dt dt A equa¸c˜ ao do pˆendulo transforma-se em dω g ω = − sen θ, dθ ` que ´e de primeira ordem em ω e a vari´aveis separ´aveis e tem solu¸c˜ao g ω 2 = (cos θ − cos θ0 ), ` com θ0 = θ(t0 ) a condi¸c˜ ao inicial. Para obter a solu¸c˜ao θ(t), precisamos integrar em p rela¸c˜ ao a t as fun¸c˜ oes ω = ± C − (g/`) cos θ (a escolha do sina tamb´em depende da condi¸c˜ ao inicial. Z θ(t) θ˙ 1 p p = ±1, ou seja, dθ = ±(t − t0 ). C − (g/`) cos θ C − (g/`) cos θ θ0 A integral do lado esquerdo ´e uma integral el´ıptica. Exemplo 17 (Equa¸c˜ ao de Li´enard). Algumas equa¸c˜oes de segunda ordem podem ser reduzidas a equa¸c˜ oes de primeira ordem. A equa¸c˜ao de Li´enard ´e um exemplo u ´til para o estudo e modelagem de circuitos el´etricos oscilantes (em geral n˜ao lineares; veja mais adiante o caso particular do oscilador de van der Pol). Sejam f, g : R → R

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RICARDO BIANCONI

duas fun¸c˜ oes de classe C 1 em R, tais que f seja fun¸c˜ao par (f (−x) = f (x)) e g seja ´ımpar (g(−x) = −g(x)). A equa¸c˜ao (de Li´enard) de segunda ordem d2 x dx + f (x) + g(x) = 0 dt2 dt n˜ ao tem nenhum coeficiente que dependa da vari´avel t e, consequentemente, pode ser reduzida a uma equa¸c˜ ao de primeira ordem pela mudan¸ca de vari´aveis v = dx/dt. Para que seja reduzida a uma equa¸c˜ao que n˜ao dependa explicitamente de t, assumimos que, pelo menos localmente em algum intervalo I, x : I → R seja invert´ıvel (ou seja, podemos isolar t = t(x)) e, portanto, podemos fazer v(x) = dx dt (t(x)), e da´ı, d2 x/dt2 = dv/dt = (dv/dx)(dx/dt) = v(dv/dx). Assim, a equa¸c˜ao de Li´enard torna-se uma equa¸c˜ ao de primeira ordem dv + f (x)v + g(x) = 0. v dx ˜ es lineares de segunda ordem 4. Equac ¸o Nesta se¸c˜ ao tratamos de EDOs de segunda ordem lineares a2 (x)y 00 + a1 (x)y 0 + a0 (x)y = b(x)

(∗),

com sua equa¸c˜ ao homogˆenea associada a2 (x)y 00 + a1 (x)y 0 + a0 (x)y = 0

(†).

N˜ ao existe um m´etodo geral para resolvˆe-las (mas veja a se¸c˜ao sobre resolu¸c˜ao por s´eries), por´em v´ arios casos particulares s˜ao pass´ıveis de solu¸c˜oes expl´ıcitas. 4.1. Redu¸ c˜ ao de Ordem. O matem´atico italiano Jacopo Riccati (1676-1754) obteve em [5] um m´etodo de redu¸c˜ao de ordem de uma equa¸c˜ao linear homogˆenea de segunda ordem a uma equa¸c˜ao (n˜ao linear) de primeira ordem, o que pode facilitar sua resolu¸c˜ ao. A equa¸c˜ ao de primeira ordem obtida hoje leva seu nome. Exemplo 18 (Equa¸c˜ ao de Riccati). Estas s˜ao equa¸c˜oes da forma v 0 + a2 (x)v 2 + a1 (x)v + a0 (x) = 0

(‡)

em que a2 (x) n˜ ao ´e identicamente nula e a0 (x), a1 (x) e a2 (x) s˜ao fun¸c˜oes cont´ınuas (em um intervalo I). Propriedades: (a) vale o Teorema de Existˆencia e Unicidade para esta equa¸c˜ao; (b) se v1 (x) for uma solu¸c˜ao particular da equa¸c˜ao (‡), ent˜ao a substitui¸c˜ao v = v1 + 1/w transforma esta equa¸c˜ao em uma equa¸c˜ao linear de primeira ordem y10 −w0 /w2 +a2 (x)[y1 +1/w]2 +a1 (x)[y1 +1/w]+a0 (x) = −w0 /w2 +[2a2 (x)y1 (x)+ a1 (x)]/w + a2 (x)/w2 ] = 0, ou w0 − [2a2 (x)y1 (x) + a1 (x)]w + a2 (x) = 0, cuja solu¸c˜ ao geral ´e

˜ EQUAC ¸ OES DIFERENCIAIS PARA A ENGENHARIA VIA EXEMPLOS

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(c) sejam y1 (x) e y2 (x) duas solu¸c˜oes distintas da equa¸c˜ao (‡); consideremos a express˜ ao   d y 0 − y10 y 0 − y20 y − y1 = − ; log dx y − y2 y − y1 y − y2 substitu´ımos y = −a2 (x)y 2 − a1 (x)y − a0 (x) (o mesmo para y10 e y20 ), e o lado direito da equa¸c˜ ao acima torna-se a2 (x)(y2 − y1 ); igualamos primitivas de ambos os lados e obtemos uma express˜ao para as outras solu¸c˜oes da equa¸c˜ao de Riccati Z  y(x) − y1 (x) = C exp a2 (x)[y2 (x) − y1 (x)] dx ; y(x) − y2 (x) (d) do item anterior deduzimos que se y1 (x), y2 (x) e y3 (x) forem trˆes solu¸c˜oes distintas da equa¸c˜ ao (‡), ent˜ ao a solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao de Riccati ´e y(x) − y1 (x) y3 (x) − y2 (x) · = C; y(x) − y2 (x) y3 (x) − y1 (x) (e) suponha que a0 , a1 e a2 sejam constantes; ent˜ao as ra´ızes (reais) de a2 λ2 +a1 λ+a0 provˆem solu¸c˜ oes constantes da equa¸c˜ao (‡). Equa¸c˜ oes lineares de segunda ordem podem ser transformadas em equa¸c˜oes de Riccati pela mudan¸ca de vari´ aveis v = y 0 /y. Exemplo 19 (Equa¸c˜ ao linear homogˆenea com coeficientes constantes). A mudan¸ca de vari´ aveis v = y 0 /y transforma a equa¸c˜ao linear homogˆenea de segunda ordem y 00 + a1 (x)y 0 + a0 (x)y = 0 na equa¸c˜ao de Riccati v 0 + v 2 + a1 (x)v + a0 (x) = 0. Assim, para resolver a primeira equa¸c˜ ao, resolvemos a segunda e depois resolvemos a equa¸c˜ao linear de primeira ordem y 0 (x) = v(x)y(x). y 00

Vamos resolver com esse m´etodo as equa¸c˜oes lineares y 00 − (r + s)y 0 + rsy = 0 e − 2ay 0 + (a2 + b2 )y = 0.

Exemplo 20 (Resolu¸c˜ ao da equa¸c˜ao y 00 − (r + s)y 0 + rsy = 0, com r 6= s). J´a temos duas solu¸c˜ oes particulares constantes distintas y1 (x) = r e y2 (x) = s da equa¸c˜ao de Riccati v 0 + v 2 − (r + s)v + rs = 0. A solu¸c˜ao geral (n˜ao constante) desta equa¸c˜ao ´e v−r r − sC e(s−r)x r erx − sC esx = C e(s−r)x , ou v(x) = . = v−s erx − C esx 1 − C e(s−r)x Resolvemos a equa¸c˜ ao linear de primeira ordem y 0 = vy, para chegarmos `a solu¸c˜ao da equa¸c˜ ao original. Esta equa¸c˜ao pode ser reescrita assim: d y0 r erx − sC esx d ln |y| = = rx = ln |erx − C esx |, sx dx y e −Ce dx cuja solu¸c˜ ao geral ´e y(x) = K[erx − C esx ] = C1 erx + C2 esx . Exemplo 21 (Resolu¸c˜ ao da equa¸c˜ao y 00 − 2ay 0 + (a2 + b2 )y = 0). A equa¸c˜ao de 0 Riccati associada ´e v + v 2 − 2av + (a2 + b2 ) = 0. O polinˆomio v 2 − 2av + (a2 + b2 ) n˜ao

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RICARDO BIANCONI

tem ra´ızes reais e, portanto nunca se anula. Assim, podemos resolver esta equa¸c˜ ao pelo m´etodo de separa¸c˜ ao de vari´aveis Z v0 1 = −1 ou dv = −x + C; v 2 − 2av + (a2 + b2 ) v 2 − 2av + (a2 + b2 ) a integral do lado esquerdo resulta em 1b arctg( v−a ı, v(x) = a + tg(−bx + C); b ) e, da´ y0 0 voltamos para y = vy, ou y = v, e obtemos y0 sen(bx − C) d d ln |y| = = v(x) = − =a+ ln | cos(bx − C); dx y cos(bx − C) dx ou seja, y(x) = K eax cos(bx − C) = C1 eax sen(bx) + C2 eax cos(bx). Exemplo 22 (Resolu¸c˜ ao da equa¸c˜ao y 00 − 2ry 0 + r2 y = 0). Agora temos apenas uma solu¸c˜ ao constante v(x) = r da equa¸c˜ao de Riccati associada v 0 + v 2 − 2rv + r2 = 0, a qual produz a solu¸c˜ ao y(x) = C erx . Observa¸c˜ ao 4. Se conhecermos uma solu¸c˜ao y1 (x) n˜ao nula da equa¸c˜ao homogˆenea a2 (x)y 00 + a1 (x)y 0 + a0 (x)y = 0, podemos resolver a equa¸c˜ao (n˜ao necessariamente homogˆenea) a2 (x)y 00 + a1 (x)y 0 + a0 (x)y = b(x) com a substitui¸c˜ao y(x) = v(x)y1 (x). Fazemos y 0 = v 0 y1 + vy10 , y 00 = v 00 y1 + 2v 0 y10 + vy100 e substitu´ımos em (∗), ficando com a equa¸c˜ ao linear de primeira ordem a2 (x)y1 (x)v 00 + [2a2 (x)y10 (x) + a1 (x)y10 (x)]v 0 = b(x), pois o termo que falta, [a2 (x)y100 + a1 (x)y10 + a0 (x)y1 ]v, anula-se devido a y1 (x) ser solu¸c˜ ao da equa¸c˜ ao homogˆenea. Esta ´e uma equa¸c˜ ao linear de primeira ordem em v 0 . Exemplo 23. Voltemos ao exemplo anterior. J´a conhecemos uma solu¸c˜ao y1 (x) = erx da equa¸c˜ ao y 00 − 2ry 0 + r2 y = 0. A substitui¸c˜ao y = vy1 = erx v reduz esta equa¸c˜ ao rx 00 a e v = 0, cuja solu¸c˜ ao geral ´e v(x) = C1 +C2 x e, portanto, y(x) = C1 erx +C2 x erx . ˜ es lineares com coeficientes constantes 5. Equac ¸o Resolvamos as equa¸c˜ oes lineares de ordem n, da forma y (n) + an−1 y (n−1) + · · · + a1 y 0 + a0 y = b(x).

(∗)

Observe que se y1 (x) e y2 (x) forem duas de suas solu¸c˜oes, ent˜ao a diferen¸ca yH (x) = y1 (x) − y2 (x) ser´ a solu¸c˜ ao da equa¸ c˜ ao homogˆ enea associada y (n) + an−1 y (n−1) + · · · + a1 y 0 + a0 y = 0.

(†)

Assim, para resolver totalmente uma equa¸c˜ao linear, basta conhecer uma solu¸c˜ ao particular, yP (x), da equa¸ca˜o (∗) e a solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao homogˆenea associada (†), yH (x), que a solu¸c˜ ao geral da equa¸c˜ao (∗) ser´a y(x) = yP (x) + yH (x). A solu¸c˜ ao yH (x) conter´ a constantes a serem determinadas pelas condi¸c˜oes iniciais do problema.

˜ EQUAC ¸ OES DIFERENCIAIS PARA A ENGENHARIA VIA EXEMPLOS

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5.1. Equa¸ c˜ oes homogˆ eneas. Comecemos com considera¸c˜oes de existˆencia e unicidade de solu¸c˜ oes da equa¸c˜ ao linear homogˆenea (†). Observa¸c˜ ao 5. Consideremos o polinˆ omio caracter´ıstico da equa¸c˜ao (†), p(λ) = λn + an−1 λn−1 + · · · + a1 λ1 + a0 . Um teorema (dif´ıcil) de ´algebra real declara que todo polinˆ omio com coeficientes reais pode ser fatorado como produto de termos de grau 1 ou de grau 2 (sem ra´ızes reais). Assim, podemos fatorar este polinˆomio n1 n2 Y Y p(λ) = (λ − aj )mj · [(λ − bk )2 + c2k ]rk , j=1

P

k=1

P

com n = ao todos j mj + k rk , ck > 0 (1 ≤ k ≤ n2 ), e os fatores exibidos s˜ distintos. Uma conta simples mostra que y (n) + an−1 y (n−1) + · · · + a1 y 0 + a0 y = #rk " 2 mj Y n1  n2  Y d d = − aj − bk + c2k y. · dx dx j=1

k=1

Teorema 4 (Existˆencia e Unicidade). O conjunto de solu¸c˜oes da equa¸c˜ao linear homogˆenea (†) forma um subespa¸co vetorial real de dimens˜ao n dentro do espa¸co de todas as fun¸c˜ oes de classe C ∞ em R. As solu¸c˜oes tˆem a seguinte forma: (1) Se o polinˆ omio caracter´ıstico p(λ) da equa¸c˜ao tiver um fator (λ − a)m (com m > 0 o maior poss´ıvel), ent˜ao o espa¸co das solu¸c˜oes tem o subespa¸co gerado pelas fun¸c˜ oes xj eax , 0 ≤ j < m. (2) Se o polinˆ omio caracter´ıstico tiver um fator [(λ − a)2 + b2 ]m (com m > 0 o maior poss´ıvel, e b 6= 0), ent˜ao o espa¸co das solu¸c˜oes tem o subespa¸co gerado pelas fun¸c˜ oes xj eax sen(bx) e xj eax cos(bx), 0 ≤ j < m. Demonstra¸c˜ ao. Primeiramente observe que se y1 (x) e y2 (x) forem duas solu¸c˜oes de (†), ent˜ ao qualquer combina¸c˜ ao linear y(x) = λ1 y1 (x) + λ2 y2 (x) ser´a tamb´em uma solu¸c˜ ao. Al´em disso, temos a solu¸c˜ao constante y(x) = 0. Portanto, o conjunto de todas as solu¸c˜ oes de (†) forma um subespa¸co vetorial das fun¸c˜oes de classe C 1 e, 0 como Y = AY , as solu¸c˜ oes devem ser de classe C 2 ; indutivamente, obtemos que as ∞ solu¸c˜ oes s˜ ao de classe C . Podemos transformar a equa¸c˜ao de ordem n (†) em um sistema de equa¸c˜oes de primeira ordem Y 0 = AY , com o vetor de fun¸c˜oes Y = [Y0 , . . . , Yn−1 ]t (o transposto de um vetor linha) e A uma matriz real quadrada n × n,   0 1 0 ... 0 0   0 0 1 ... 0 0     . . . . . .. .. .. .. .. A= .     0 0 0 ... 0 1 −an−1 /an −an−2 /an −an−3 /an . . . −a1 /an −a0 /an

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RICARDO BIANCONI

Para cada condi¸c˜ ao inicial ξj = [0, . . . , 0,

1 |{z}

j−´ esima

, 0, . . . , 0], o Teorema de

posi¸c˜ao

Existˆencia e Unicidade garante a existˆencia e unicidade da solu¸c˜ao Y(j) (x) (em torno de x = 0), que satisfa¸ca a condi¸c˜ao inicial Y(j) (0) = ξ0 . A primeira coordenada de cada um detes vetores, yj (x) (1 ≤ j ≤ n) ´e uma solu¸c˜ao da equa¸c˜ao de ordem n. Precisamos mostrar que elas s˜ao linearmente independentes. P Se a combina¸c˜ ao linear de solu¸c˜oes j λj Y(j) (x) se anular, dever´a anular-se tamb´em P em x = 0, ou seja, o vetor j λj ξj = [λ0 , . . . , λn−1 ] ser´a nulo. Como a (j + 1)-´esima coordenada de cada Yi ´e a derivada de sua j-´esima coordenada, conclu´ımos que as fun¸c˜ oes y1 , . . . , yn dever˜ ao ser linearmente independentes. Para terminarmos a demonstra¸c˜ao, escrevemos a equa¸c˜ao homogˆenea como #rk " 2 mj Y n1  n2  Y d d − aj − bk + c2k · y = 0. dx dx j=1

k=1

Vejamos asexpress˜ oes que s˜ao anuladas pela aplica¸c˜ao de cada fator, come¸cando mj d d com dx − aj . Se mj = 1, a solu¸c˜ao de dx − aj y = 0 ´e y = Cj,1 eaj x ; se  2 d − aj y = 0 ´e y(x) = Cj,1 eaj x + Cj,2 x eaj x . Aplimj = 2, ent˜ ao a solu¸c˜ ao de dx  k d d cando indutivamente dx − aj u = 0 e u = dx − aj y, obtemos a solu¸c˜ao geral de mj Pmj −1 d y = 0, y(x) = k=0 Cj,k+1 xk eaj x . dx − aj irk h 2 d 2 Agora, consideremos os termos − b + c . O caso rk = 1 j´a foi trak k dx i h 2 d 2 y = 0, y(x) = − b + c tado acima, onde calculamos a solu¸c˜ao geral de k k dx Dk,1 ebk x sen(ck x) + Ek,1 ebk x cos(ck x).



5.2. M´ etodo da varia¸ c˜ ao de parˆ ametros. Se conhecermos um conjunto linearmente independente, {Y1 , . . . , Yn }, de solu¸c˜oes do sistema linear homogˆeneo Y 0 = A(x)Y , podemos resolver a equa¸c˜ao n˜ao homogˆenea Y 0 = A(x)Y + B(x) pelo chamado m´eP todo da varia¸c˜ ao de parˆametros, em que procuramos uma solu¸c˜ao da forma Y (x) = nj=1 Cj (x)Yj (x), cujas inc´ognitas s˜ao fun¸c˜oes escalares C1 (x), . . . , Cn (x). Vamos enunciar este resultado como um teorema, cuja demonstra¸c˜ao descreve o uso do m´etodo e sua justifica¸c˜ ao. Teorema 5. Seja {Y1 , . . . , Yn } um conjunto linearmente independente de solu¸c˜ oes (de classe C 1 ) do sistema de n equa¸c˜oes de primeira ordem P Y 0 = A(x)Y . Ent˜ ao existem fun¸c˜ oes escalares C1 (x), . . . , Cn (x), tais que Y (x) = nj=1 Cj (x)Yj (x) ser´ a 0 solu¸c˜ ao do sistema n˜ ao homogˆeneo Y = A(x)Y + B(x), em que B(x) ´e uma fun¸c˜ ao vetorial cont´ınua. Demonstra¸c˜ ao. Primeiramente, observe que a matriz M = [Y1 . . . Yn ], cujas colunas s˜ ao as fun¸c˜ oes vetoriais Y1 , . . . , Yn , ´e invert´ıvel devido `a condi¸c˜ao de sua independˆencia linear.

˜ EQUAC ¸ OES DIFERENCIAIS PARA A ENGENHARIA VIA EXEMPLOS

Substitu´ımos a fun¸c˜ ao Y (x) = (

n X

Cj Yj )0 =

j=1

n X j=1

Pn

j=1 Cj (x)Yj (x)

Cj yj0 +

n X

19

na equa¸c˜ao Y 0 = AY + B:

Cj0 Yj = A(

j=1

n X

Cj Yj ) + B,

j=1

Yj0

e, dado que = AYj , desta equa¸c˜ao sobra a equa¸c˜ao M C = B, em que M = [Y1 . . . Yn ] e C ´e a matriz de uma coluna [C1 . . . Cn ]t (transposta). A primeira observa¸c˜ ao acima indica que o sistema de primeira ordem (exato!) C0 = M −1 B tem solu¸c˜ ao. Isto resolve o problema.



Isto tamb´em resolve equa¸c˜ oes lineares de ordem n an (x)y (n) + an−1 (x)y (n−1) + · · · + a1 (x)y 0 + a0 (x)y = b(x).

(∗)

Teorema 6. Seja {y1 (x), . . . , yn (x)} um conjunto linearmente independente de solu¸c˜oes da equa¸c˜ ao P homogˆenea associada a (∗). Ent˜ao existem fun¸c˜oes c1 (x), . . . , cn (x), tais que y(x) = nj=1 cj (x)yj (x) resolve a equa¸c˜ao (∗). Demonstra¸c˜ ao. Basta usarmos o resultado anterior com o sistema de primeira ordem equivalente Y = AY + B, com     Y0 0  ..    ..     . Y =  . ; B =  ;  Yn−2    0 Yn−1 b(x)/an (x)   0 1 0 ... 0 0   0 0 1 ... 0 0     .. .. .. .. .. A= . . . . . .     0 0 0 ... 0 1 −an−1 /an −an−2 /an −an−3 /an . . . −a1 /an −a0 /an Neste caso, a matriz M ´e chamada de Wronskiano da equa¸c˜ao de ordem n e tem a forma   y1 . . . yn  y10  . . . yn0   M =  .. ..   .  . (n−1) (n−1) y1 . . . yn Seu determinante ´e diferente de zero, pois as colunas s˜ao vetores linearmente independentes e, portanto, a matriz ´e invert´ıvel.  Exemplo 24. O polinˆ omio caracter´ıstico da equa¸c˜ao homogˆenea associada `a equa¸ √ c˜ao 00 2 de segunda ordem y +y = tg x ´e p(λ) = λ +1, com as ra´ızes complexas λ = ± −1 = ±i; a solu¸c˜ ao geral da equa¸c˜ ao homogˆenea associada ´e yH (x) = C1 sen x + C2 cos x.

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RICARDO BIANCONI

Usamos o m´etodo da varia¸c˜ao de parˆametros para determinar uma solu¸c˜ao particular yP (x) = c1 (x) sen x + c2 (x) cos x:   0    sen x cos x c1 (x) 0 = ; cos x − sen x c02 (x) tg x obtemos c01 (x) = sen x, ou c1 (x) = − cos x, e c02 (x) = − sen x tg x = − sec x + cos x, ou c2 (x) = sen x − ln | sec x + tg x|. A solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao homogˆenea ´e y(x) = C1 sen x + C2 cos x + sen x − ln | sec x + tg x|. 5.3. M´ etodo dos coeficientes a determinar. Substitui¸c˜ao de express˜oes do tipo p(x)eax sen(bx) + q(x)eax cos(bx), com p(x) e q(x) polinˆomios de grau m ≥ 0, em an y (n) + an−1 y (n−1) + · · · + a1 y 0 + a0 y resulta em uma express˜ao b(x) do mesmo tipo. Isto sugere um procedimento simples para determinar uma solu¸c˜ao particular de uma equa¸c˜ ao linear de coeficientes constantes, quando a express˜ao b(x) for desta forma. Supomos que a solu¸c˜ao particular seja desta forma, substitu´ımos na equa¸c˜ ao e obtemos os coeficientes dos polinˆomios que fazem parte da mesma. Observa¸c˜ ao 6. Precisamos determinar os graus dos polinˆomios envolvidos. Se as express˜ oes xi eax sen(bx) e xi eax cos(bx), 0 ≤ i ≤ k forem solu¸c˜oes da equa¸c˜ao homogˆenea an (x)y (n) + an−1 (x)y (n−1) + · · · + a1 (x)y 0 + a0 (x)y = 0, ent˜ao os polinˆomios da express˜ ao b(x) ter˜ ao coeficientes iguais a zero nos monˆomios de graus maiores que m − k. Se o polinˆomio caracter´ıstico da equa¸c˜ao possuir um fator da d forma (λ − a)k , ent˜ ao cada vez que aplicamos a transforma¸c˜ao linear ( dx − a) ` a express˜ ao xm eax , obtemos mxm−1 eax (diminui o grau do polinˆomio em uma unidade). Se o polinˆ omio caracter´ıstico possuir um fator da forma [(λ − a)2 + b2 ]k , d d2 d ent˜ ao cada vez que aplicarmos a transforma¸c˜ao [( dx − a)2 + b2 ] = [ dx 2 − 2a dx + 2 2 m ax m ax (a + b )] ao termo x e sen(bx) (respectivamente, ao termo x e cos(bx)), obtemos m(m − 1)xm−2 eax sen(bx) + xm−1 [2m(eax sen(bx))0 − 2ameax sen(bx)] (respectivamente, m(m − 1)xm−2 eax cos(bx) + xm−1 [2m(eax cos(bx))0 − 2ameax cos(bx)]), ou seja, diminui o grau do polinˆomio em uma unidade. Por outro lado, se xi eax sen(bx) e xi eax cos(bx), 0 ≤ i ≤ k n˜ao forem solu¸c˜oes da equa¸c˜ao homogˆenea, os graus dos polinˆ omios ser˜ ao os mesmos na express˜ao que resultar da substitui¸c˜ao destes termos no lado esquerdo da equa¸c˜ ao. Exemplo 25. A equa¸c˜ ao y 000 −3y 00 +3y 0 −y = 0 tem polinˆomio caracter´ıstico (λ−1)3 , com solu¸c˜ ao geral y(x) = Aex + Bxex + Cx2 ex . A substitui¸c˜ao y(x) = xm+3 ex na express˜ ao do lado esquerdo da equa¸c˜ao resulta em y 000 − 3y 00 + 3y 0 − y = (m + 3)(m + 2)(m + 1)xm ex . Isto sugere o M´etodo dos Coeficientes a Determinar para obter uma solu¸c˜ao particular da equa¸c˜ ao diferencial linear n˜ao homogˆenea a coeficientes constantes quando a fun¸c˜ ao b(x) for combina¸c˜ ao linear de fun¸c˜oes do tipo p(x)eax sen(bx)+q(x)eax cos(bx), com p(x) e q(x) polinˆ omios de grau no m´aximo m ≥ 0. Teorema 7 (M´etodo dos Coeficientes a Determinar). Se a fun¸c˜ao b(x) for combina¸c˜ ao linear de fun¸c˜ oes do tipo p(x)eax sen(bx)+q(x)eax cos(bx), com p(x) e q(x) polinˆomios

˜ EQUAC ¸ OES DIFERENCIAIS PARA A ENGENHARIA VIA EXEMPLOS

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de grau no m´ aximo m ≥ 0, ent˜ ao uma solu¸c˜ao particular yP (x) da equa¸c˜ao an (x)y (n) + (n−1) 0 an−1 (x)y + · · · + a1 (x)y + a0 (x)y = b(x) ser´a uma combina¸c˜ao linear de fun¸c˜oes do mesmo tipo. √ Se λ = a ± b −1 for raiz de multiplicidade k ≥ 0 do polinˆomio caracter´ıstico da equa¸c˜ ao, e b(x) contiver um termo da forma p(x)eax sen(bx), ou p(x)eax cos(bx), com o polinˆ omio p(x) de grau m ≥ 0, ent˜ao yP (x) conter´a um termo (cm xm + cm−1 xm−1 + · · · + c1 x + c0 )xk eax sen(bx) + (dm xm + dm−1 xm−1 + · · · + d1 x + d0 )xk eax cos(bx). Demonstra¸c˜ ao. Se b 6= 0, substitui¸c˜ao desta express˜ao no lado esquerdo da equa¸c˜ao e a compara¸c˜ ao do resultado com o termo correspondente de b(x) produz um sistema linear determinado de 2m + 2 equa¸c˜oes nas 2m + 2 inc´ognitas cj e dj , 0 ≤ j ≤ m. Se b = 0, substitu´ımos b(x) = (dm xm + dm−1 xm−1 + · · · + d1 x + d0 )xk eax e obtemos um sistema linear determinado de m + 1 equa¸c˜oes nas m + 1 vari´aveis d0 , . . . , dm .  Exemplo 26 (Circuito RLC). Um circuito el´etrico RLC em s´erie (com resistˆencia R 6= 0 em Ohm, capacitˆ ancia C 6= 0 em Faraday e indutˆancia L 6= 0 em Henry), sujeito a uma fonte externa de tens˜ao tem a carga q = q(t) de seu capacitor regida pela equa¸c˜ ao d2 q dq 1 L 2 + R + q = E(t). (∗) dt dt C λ2

O polinˆ omio caracter´ıstico da equa¸c˜ao homogˆenea associada (quando E(t) = 0) ´e + (R/L)λ + (1/LC), cujas ra´ızes s˜ao s  R R 2 1 λ=− ± − . 2L 2L LC

p Observe que R/2L > (R/2L)2 − (1/LC). Se o termo dentro da raiz for positivo, ent˜ ao as p ra´ızes do polinˆomio caracter´ısticopser˜ao ambas reais e negativas −a = R/2L − (R/2L)2 − (1/LC) e −b = R/2L + (R/2L)2 − (1/LC). A solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ ao homogˆenea ser´a q0 (t) = C1 e−at + C2 e−bt . Suponhamos que o circuito seja excitado por uma tens˜ao E(t) = E0 cos(ωt). Uma resposta particular a essa excita¸c˜ao ser´a da forma q1 (t) = Q1 sen(ωt) + Q2 cos(ωt). Substitu´ımos esta express˜ ao na equa¸c˜ao (∗) −Lω 2 [Q1 sen(ωt) + Q2 cos(ωt)] + Rω[Q1 cos(ωt) − Q2 sen(ωt)] + 1 [Q1 sen(ωt) + Q2 cos(ωt)] = E0 cos(ωt); C comparamos os dois lados desta equa¸c˜ao e obtemos o sistema linear nas inc´ognitas Q1 e Q2  (−Lω 2 + 1/C)Q1 − RωQ2 = 0 (coeficiente de sen(ωt)) RωQ1 + (−Lω 2 + 1/C)Q2 = E0 (coeficiente de cos(ωt)) +

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RICARDO BIANCONI

com solu¸c˜ ao RωE0 ω[R2 + (−Lω − 1/ωC)2 ] (−Lω + (1/ωC)ωE0 Q2 = ω[R2 + (−Lω − 1/ωC)2 ] Q1 =

ˆndice A. Nu ´ meros Complexos e Exponencial Complexa Ape O conjunto dos n´ umeros complexos C estende o dos n´ umeros reais R juntando as 2 , em ra´ızes quadradas de n´ umeros reais negativos e pode ser realizado como C = R√ que os pares ordenados (a,√b) representam o que se espera de algo como a + b −1. Reservamos a letra i para −1. Definimos as opera¸c˜oes (a, b) + (c, d) = (a + b, c + d), (a, b) · (c, d) = (ac − bd, ad + bc), que correspondem ao que se espera de (a + bi) + (c + di) = (a+c)+(c+d)i e (a+bi)·(c+di) = ac+bd i2 +(ad+bc)i = (ac−bd)+(ad+bc)i. O conjugado de z√ = a + bi ´e o n´ umero complexo z¯ = a − bi; o m´odulo de z = a + bi ´e √ |z| = a2 + b2 = z z¯; observe que 1/z = 1/(a + bi) = (a − bi)(a2 + b2 ) = z/|z|2 . Os n´ umeros reais s˜ ao inclu´ıdos nos complexos pela identifica¸c˜ao a = a + 0i. Um resultado importante, mas um pouco dif´ıcil de ser demonstrado ´e o ´ Teorema 8 (Teorema da Algebra). Todo polinˆomio de coeficientes Pn Fundamental k n > 0 e a = 6 0) pode ser fatorado como produto complexos p(x) = k=0 ak x (com n Qn de n termos lineares p(x) = an k=1 (x−ck ), com c1 , . . . , cn ∈ C (n˜ao necessariamente distintos). Como consequˆencia simples, mas u ´til, temos Teorema 9 (Ra´ P ızes Complexas de Polinˆomios Reais). Todo polinˆomio de coeficientes reais p(x) = nk=0 ak xk (com Q n > 0 e an 6= 0) pode ser fatorado como produto de n termos lineares p(x) = an nk=1 (x − ck ), com c1 , . . . , cn ∈ C, de modo que se alguma raiz cj = aj + bj i for complexa e n˜ao real e de multiplicidade mj > 0, ent˜ao existe uma raiz ck = aj − bj i de mesma multiplicidade mj . Observa¸c˜ ao 7. Os polinˆ omios de Taylor da fun¸c˜ao real ex , com resto de Lagrange, em um intervalo [−a, a], a > 0 satisfazem n X xk ex¯ |x|n+1 ea |x|n+1 ex = + En (x), com |En (x)| = ≤ . k! (n + 1)! (n + 1)! k=0

Como |En (x)| → 0, se n → ∞, isto significa que a sequˆencia desses polinˆomios converge uniformemente para a fun¸c˜ao ex , no intervalo [−a, a] (isto ´e, dado ε > 0, existe n0 , quePs´ o depende de ε e n˜ao de x, tal que, para todo x ∈ [−a, a] e todo n ≥ n0 , |ex − nk=0 xk /k!| < ε). Esse limite tamb´em faz sentido se tomarmos x = z ∈ C, com |z| ≤ a, e podemos definir a exponencial complexa ez como tal limite; e ele herda a propriedade ez1 +z2 = ez1 ez2 .

˜ EQUAC ¸ OES DIFERENCIAIS PARA A ENGENHARIA VIA EXEMPLOS

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Em particular, se z = bi, temos n X (bk ik ) k=0

k!

=

X 0≤j≤n/2

((−1)j b2j ) +i (2j)!

X 0≤j≤n/2

((−1)j b2j+1 ) , (2j + 1)!

√ (quebrou como soma de polinˆ omio de Taylor de cos b mais i = −1 vezes polinˆomio de Taylor de sen b) o que implica que eib = cos b+i sen b. Assim, ea+ib = ea (cos b+i sen b). 00 0 2 2 ) = 0 fatorando Exemplo 27. Podemos tamb´ em resolver equa¸c˜oes y −2ay +(a +b d d (a+bi)x c˜ao geral y = C1 e + C2 e(a−bi)x , dx − (a + bi) dx − (a − bi) y = 0, com a solu¸ com C1 , C2 ∈ C. Para que a solu¸c˜ao seja uma fun¸c˜ao real, devemos impor que y(x) = y(x), ou seja, C2 = C 1 , ou, se C1 = c1 − c2 i, y(x) = 2c1 eax cos(bx) + 2c2 eax sen(bx).

ˆndice B. Exponencial de Matrizes e Sistemas Lineares Ape A ideia de estender a fun¸c˜ ao exponencial aos n´ umeros complexos tamb´em pode ser feita para matrizes quadradas. Uma no¸c˜ ao deqm´ odulo de n´ umero complexo estende-se `as matrizes de maneira Pn 2 e coman´aloga: kAk = i,j=1 |ai,j | , se a matriz A tiver entradas ai,j (reais ou at´ plexas). Assim, faz sentido definir exp A = eA como o limite para n → ∞ de

Ak k=0 k! .

Pn

CUIDADO: nem sempre vale a igualdade eA+B = eA eB . Valer´a somente nos casos em que A e B comutarem, AB = BA. −1

Se P for matriz invert´ıvel, ent˜ao ´e simples verificar que eP AP = P −1 eA P . Isto facilita o c´ alculo de eA . Usamos a forma de Jordan da matriz A, que ´e uma matriz B = diag(B1 , . . . , Bm ), com blocos quadrados B1 , . . . Bm na diagonal, e zeros no resto, cada bloco da forma Bj = λj Ij + Nj , Ij uma matriz identidade mj × mj , λj ∈ C e Nj uma matriz quadrada de ordem mj × mj , com entradas ni+1,1 = 1 (primeira diagonal abaixo da principal) e zeros no resto. Observe que exp B = diag(exp B1 , . . . , exp Bm ). Calculemos a exponencial de cada bloco, exp Bj . mj

Como λj Ij comuta com Nj , temos que exp(λj Ij + Nj ) = eλj Ij eNj . Como Nj (a matriz nula),   1 0 0 ... 0  1 1 0 ... 0  mj −1   X Njk 1  1 1 . .. 0  2! exp Nj = = . .. .. .. ..   k! k=0  . . . .  1 1 1 . . . 1 (mj −1)! (mj −2)! (mj −3)!

=0

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RICARDO BIANCONI

d Como dx exp(A(x−x0 )) = A exp(A(x−x0 )), vemos que resolvemos o sistema Y 0 = AY , dada a condi¸c˜ ao inicial Y (x0 ) = C (um vetor coluna), com Y = exp(A(x−x0 ))C.

Para resolver um sistema n˜ao homogˆeneo Y 0 = AY + B(x), dada a condi¸c˜ao inicial Y (x0 ) = C, com Z x exp(−At)B(t) dt. Y = exp(Ax)C + exp(Ax) x0

Exemplo 28. Resolveremos o sistema Y    2 0 0 0 2  1 2 0 0   0   A=  0 1 2 0 = 0 0 0 1 2 0

0

= AY , com   0 0 0  2 0 0  +   0 2 0 0 0 2

0 1 0 0

0 0 1 0

0 0 0 1

 0 0   0  0

1

0

Temos  eAx

e2x

   0 =   0  0

0

0

e2x

0

0

e2x

0

0

0



1

  0  x   2 0   x2!  x3 2x e 3!

0 1 x x2 2!

0 0





     x 0 0   = e2x    x2  2! 1 0    x3 x 1 3!

1 x x2 2!

0 0



  0 0    1 0   x 1

ˆncias Refere [1] Garrett Birkhoff, Gian-Carlo Rota. Ordinary Differential Equations, 4a ed., John Wiley & Sons, Nova Iorque, 1989. [2] Leonhard Euler. “De integratione aequationum differentialium” (On the integration of differential equations) Novi Commentarii academiae scientiarum Petropolitanae 8, 1763, pp. 3-63 Original em latim dispon´ıvel em E269 (acesso em agosto de 2016). Neste artigo, Euler trata do fator integrante, das equa¸co ˜es a coeficientes homogˆeneos e da Equa¸ca ˜o de Riccati, entre outras. [3] Morris W. Hirsch e Stephen Smale. Differential Equations, Dynamical Systems and Linear Algebra. Academic Press, Nova Iorque, 1974. [4] Donald L. Kreider, Robert G. Kuller e Donald R. Ostberg, Equa¸co ˜es Diferenciais, tradu¸ca ˜o de Elza Gomide, Editora Edgard Blucher Ltda. e Editora da Universidade de S˜ ao Paulo, 1972. [5] Jacopo Riccati, “Animadversiones in aequationes differentiales secundi gradus”(Observations regarding differential equations of the second order), Actorum Eruditorum, quae Lipsiae publicantur, Supplementa, 8 (1724): 66-73. Tradu¸ca ˜o em inglˆes aqui (acesso em agosto de 2016). [6] Balthasar van der Pol. On relaxation-oscillations, The London, Edinburgh and Dublin Phil. Mag. & J. of Sci., 2(7), 978–992 (1926).

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