Educação a Distância: diferentes possibilidades de aprendizagem Por Eguimara Branco
[email protected] Palavras chave: Educação a Distância; Formação de professores, Tecnologias Apresentação Neste trabalho proponho-me a apresentar o movimento de aprendizagem vivenciados por mim na disciplina Seminário de Educação a Distância, ministrada pela professora Dra. Suely Scherer, no Programa de Pós-Graduação em Educação Linha de Educação Matemática, da Universidade Federal do Paraná (UFPR) no segundo semestre de 2008. A disciplina é organizada com momentos presenciais e momentos a distância, via ambiente virtual de aprendizagem1. No ambiente virtual, discutimos, socializamos, crescemos e aprendemos sobre Educação a Distância, por meio das diferentes leituras sugeridas, das ferramentas disponíveis no ambiente virtual de aprendizagem e das mediações feitas pela professora propositora da disciplina. Começamos a disciplina identificando a partir de nosso entendimento, cinco palavras-chave que pudessem representar a EaD.
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Plataforma Moodle, hospedado no EscolaBR. Ver:
Figura 1 - Na figura aparece a interação no fórum a respeito dos meus conceitos prévios. Fonte: EscolaBR
Acredito que minha escolha das palavras-chave: educação, espaço, tempo, comunicação e interação, seria num sentido de ressignificar a educação a distância a partir das possibilidades que as tecnologias de informação e comunicação nos trazem em um novo contexto de ensinar e aprender por meio dos ambientes virtuais. Observo uma desvalorização da EaD por conta dos diversos modelos que se instalaram na educação ao longo do tempo. Belloni (1999) apresenta uma análise interessante a partir da definição elaborada por Peters (1973), que compara o processo educativo com o paradigma econômico Fordista. “Educação a Distância é um método de transmitir conhecimento competências e atitudes que é racionalizado pela aplicação de princípios organizacionais e de divisão de trabalho, bem como pelo uso intensivo de meios técnicos, especialmente com o objetivo de reproduzir material de ensino de alta qualidade, o que torna possível instruir um maior número de estudantes, ao mesmo tempo, onde quer que eles vivam. É
uma forma industrializada de ensino e aprendizagem.” ((Peters apud Belloni, 1999:27)
Belloni (1999) conceitua a EaD dentro de várias e diferentes definições decorrentes da evolução da modalidade ao longo do tempo, definições que tratam da EaD não pelo que ela é, mas a partir de uma perspectiva do ensino convencional da sala de aula. Assim, é freqüente encontramos entendimentos distorcidos, uma vez que são várias as abordagens apresentadas ao longo da história. Rompendo pré-conceitos na EaD É muito comum ouvirmos a expressão “Ensino a Distância” e “Educação a Distância” como se fossem sinônimos, expressando o mesmo sentido para ensino e educação. É preciso ficar claro os diferentes conceitos que perpassam os dois termos. Buscando no dicionário Aurélio2, encontramos: Ensino: Transmissão de conhecimentos, informações ou esclarecimentos úteis ou indispensáveis à educação ou a um fim determinado; instrução. Esforço orientado para a formação ou a modificação da conduta humana; educação. Adestramento, treinamento. Educação: Ato ou efeito de educar(-se). Processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando à sua melhor integração individual e social. Os conhecimentos ou as aptidões resultantes de tal processo; preparo. Aperfeiçoamento integral de todas as faculdades humanas. Conhecimento e prática dos usos de sociedade; civilidade, delicadeza, polidez, cortesia. (AURÉLIO online)
Segundo Moran, “No ensino se organizam uma série de atividades didáticas para ajudar os alunos a que compreendam áreas específicas do conhecimento (ciências, história, matemáticas). Na educação o foco, além de ensinar, é ajudar a integrar ensino e vida, conhecimento e ética, reflexão e ação, a ter uma visão de totalidade. (MORAN, 2000)
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Dicionário Aurélio Eletrônico, 1999.
É nesta segunda concepção que defendo o significado e as dimensões que abordam a EaD. Lembrando sempre que a EaD é educação, apenas com formas e organizações específicas. Para Petters (2002), na educação a distância o falar e ouvir são substituídos por escrever e ler. A interação educacional também não é natural, pois precisa ser planejada, construída, testada e avaliada a partir dos objetivos pedagógicos. Estas questões certamente são favorecidas pelas possibilidades oriundas da evolução das tecnologias de informação e comunicação. A distância entre professor e aluno passa a ser próxima de acordo com a abordagem de Valente (2006), do “estar junto virtual”. Essa abordagem permite múltiplas interações, no sentido de acompanhar o aluno para entender o que ele faz e como faz, e dessa forma, o professor pode auxiliá-lo a produzir significado para aquilo que está fazendo. As novas tecnologias modificaram
as relações de aprendizagem,
possibilitando ressignificar a Educação a Distância como uma modalidade capaz de aproveitar ao máximo a inserção tecnológica da sociedade informacional. A existência de uma cibercultura e o uso das tecnologias de informação e comunicação (TICs) no processo de formação, vem promovendo essa modificação na educação formal no país e no mundo. O uso das tecnologias de informação e comunicação hoje têm possibilitado um avanço interessante para a EaD, pois permitem romper com as barreiras das distâncias, das dificuldades de acesso à educação e dos problemas de aprendizagem por alunos que estudam sozinhos, mas não isolados. Ao longo do tempo, a EAD retrata os diversos períodos da evolução tecnológica, através de mídias como: o material impresso, o telefone, o fax, o rádio, a televisão e a internet, tecnologias utilizadas no processo evolutivo. Hoje, as tecnologias de interação e comunicação não são mais meios para distribuir as informações e o conhecimento, mas têm diferentes papéis indispensáveis a qualquer processo educativo, trazendo novas atitudes e novos enfoques aos processos de ensino e de aprendizagem. Historicizando a EaD
Na perspectiva de um renomado filósofo francês, Gilbert de Simondon (1969), o homem iniciou seu processo de humanização, ou seja, a diferenciação de seus comportamentos em relação aos dos demais animais, a partir do momento em que utilizou os recursos existentes na natureza em benefício próprio. Pedras, ossos, galhos e troncos de árvores foram transformados em ferramentas pelos nossos ancestrais pré-históricos. Com esses materiais, procurava superar fragilidades físicas em relação às demais espécies. Contava o homem primitivo com duas ferramentas naturais e distintas das demais espécies: o cérebro e a mão criadora (CHAUCHARD, 1972). Frágil em relação aos demais animais, sem condições de se defender dos fenômenos da natureza – a chuva, o frio, a neve... –, o homem precisava de equipamentos que ampliassem suas competências. Não podia garantir sua sobrevivência e sua superioridade apenas pela conjugação das possibilidades do seu raciocínio com sua habilidade manual. A utilização dos recursos naturais para atingir fins específicos ligados à sobrevivência da espécie foi a maneira inteligente que o homem encontrou para não desaparecer (KENSKI, 2006).
A partir do fragmento texto da Kenski, pode-se observar que a tecnologia não se restringe aos novos equipamentos e produtos. A tecnologia existe desde que o homem primitivo utilizou-se de recursos naturais, para atingir fins específicos ligados à sobrevivência. A evolução tecnológica confunde-se com a evolução social do homem, dessa forma, à medida que a humanidade evolui, surgem novas tecnologias, ampliando possibilidades e recursos. Mas, essa evolução social não se limita apenas ao uso dos novos equipamentos e produtos, uma vez que ela também altera comportamentos. “O homem transita culturalmente mediado pelas tecnologias que lhe são contemporâneas. Elas transformam suas maneiras de pensar, sentir, agir. Mudam também suas formas de se comunicar e de adquirir conhecimentos” (KENSKI, 2006).
Aqui o termo tecnologia, abrange todas as novas tecnologias de informação e comunicação, ou seja, a Internet e seus desdobramentos e inovações. Inclui-se t também o uso de programas televisivos, filmes e vídeos, e ainda, outros meios, como o rádio, o jornal e as outras formas midiáticas impressas etc. Associado a evolução das mídias aos processos da Educação a Distância, surgem no Brasil, a EaD por volta de 1904, quando escolas internacionais (instituições privadas) ofereciam cursos por meio de material impresso
disponibilizados por correspondência. Um modelo deste é o Instituto Universal Brasileiro, em 1939. Também o rádio foi uma mídia importante na difusão da modalidade, pois oferecia baixo custo para aquisição, atingia quase todo o território nacional e, praticamente, todas as pessoas dispunham de um aparelho em suas casas. Os programas eram gravados e encaminhados as emissoras que distribuíam as emissões, atingindo um grande número de participantes. Na década de 1970, destaca-se o projeto Minerva, que se utilizava desta mídia. Os programas tinham por objetivo a reprodução de textos e programas de um convênio entre o Governo Federal e a Inglaterra. Em 1976 aparece o Sistema Nacional de Teleducação, programa que iniciou com o ensino por correspondência, mais tarde, outros recursos também passaram a ser explorados: o rádio, a televisão, o videocassete e o telefone. Esses modelos de Teleducaçâo são ofertados até hoje, como por exemplo, os da Fundação Roberto Marinho. Porém, o auge da utilização de recursos na educação a distância se deu ao final da década de 80 e início dos anos 90, com o uso do computador e da Internet. Almeida (2003) nos diz que a educação a distância, por meio dos ambientes digitais numa perspectiva de interação e construção colaborativa, favoreceu o desenvolvimento de conhecimentos relacionados à produção escrita propiciando aos alunos expressar o próprio pensamento, a leitura e a interpretação de textos, hipertextos e idéias registradas por outros participantes. São muitas as mídias utilizadas em atividades educativas. Assim como cada modalidade de ensino requer o tratamento diferenciado do mesmo conteúdo – de acordo com os alunos, os objetivos a serem alcançados, o espaço e tempo disponível para a sua realização – cada um dos suportes midiáticos tem cuidados e formas de tratamento específicas que, ao serem utilizadas, alteram a maneira como se dá e como se faz a educação. (KENSKI, 2006)
Hoje em dia, wikis, blogs, podcasts e redes sociais fazem parte do cotidiano de boa parte dos usuários da rede. Essas possibilidades de uso estão abrindo tendências e dando novos rumos aos aplicativos baseados em web, bem como, a educação a distância.
Em tempos de Web 2.0 Em 2004, o termo Web 2.0 foi apresentado pela primeira vez por Tim O’Reilly para definir aplicativos utilizados na rede, que aproveitavam a inteligência coletiva dos usuários, propondo uma experiência de uso parecida com os desktops, na qual os softwares são disponibilizados na internet como um serviço, e a web, como uma plataforma. Esse modelo prima pela interatividade, os usuários deixam de ser consumidores e passam a ser também produtores de conteúdo. Enquanto no modelo antigo, que chamamos de “Web 1.0” o usuário era apenas como um expectador em uma página, na “Web 2.0” ela passa a ser também autor, acrescentando opiniões e conteúdos, pode ler, participar, modificar e (re)criar conteúdos. Não há mais armazenamento ou processamento local, agora os dados migram para servidores online que podem ser acessados em qualquer lugar. O privado torna-se público. Arquivos, compromissos, agenda, lista de favoritos, tudo é compartilhado na rede, tornando-se acessíveis a todos os usuários. Inúmeras são as mudanças, bem como as aplicações dessas novas ferramentas à proposta e encaminhamentos metodológicos da educação a distância. Blogs tornam-se espaços para debates, discussões e anotações de aula que podem ser comentadas. Wikis permitem a criação e edição conjunta de conteúdo, na elaboração de textos e trabalho cooperativo para montagem de projetos, tanto entre os alunos como os docentes. O podcast, uma espécie de programa em áudio utilizado para divulgar opiniões, entrevistas, música ou informações pela internet, serve de suporte ao conteúdo escrito do curso. Alunos podem gravar seu próprio programa e distribuí-los na forma de MP3 e baixar para serem escutados no iPod. E ainda, tudo isso pode ser reunido em um agregador RSS para receber avisos de atualização automática do conteúdo. O m-learning (ou mobile learning) surge como uma solução aos altos executivos que precisam de mobilidade alternativa ao notebook. Os fornecedores de plataforma para EaD já correm para achar um padrão compatível para a diversidade de modelos de aparelhos do mercado. (AKAGI, 2008)
Vale aqui lembrar que não precisamos nos utilizar de todas essas novidades, mas o fato é que a educação a distância já se vale dessas ferramentas. O Orkut, o MySpace e o Face Box propiciam uma série de
discussões por meio de seus fóruns. No Second Life, os usuários existem virtualmente, e por meio de seus avatares interagem, assistem palestras, exploram diferentes ambientes. Dentro desse espaço já funcionam verdadeiros campus virtuais. Mas e como fica a educação a distância nestes ambientes? Falamos em diferentes possibilidades de ensino e de aprendizagem, falamos em comunicação e interação, falamos em múltiplas vozes. Falamos em professores e alunos virtuais. Segundo Scherer (2003), em tempos de Web 2.0, um professor virtual precisa planejar o ambiente, pensar o design, criar sozinho ou em equipe os materiais, dando-lhes vida. Ele deve disponibilizar um ou vários espaços para interagir com seus alunos acerca dos conteúdos a serem discutidos em um curso ou em sua disciplina: espaços de fóruns e chats. Além disso, falamos também em educação dialógica, pois é na dialogicidade que o professor contextualiza, interage e indica caminhos na orientação até achar o caminho da resposta. Essa abordagem comunicativa tem tudo a ver quando relacionamos com a Web 2.0." (AKAGI, 2008) Enfim, vivemos uma grande evolução, mas não basta criar redes, é preciso sim, criar redes de aprendizagem e neste contexto ressignificar o papel da educação a distância, uma vez que acredito que é possível habitar e educar nos diferentes ambientes virtuais, é preciso estar atento a tudo e a todos: aos movimentos, ao design, as aprendizagens, ao fazeres, aos saberes e aos seres que ali estão. Ao atentar aos saberes, é preciso ainda preocupar-se com as informações que irá disponibilizar, com as questões que os alunos trazem, e aquelas que estão disponíveis por toda a WEB. São inúmeros os desafios que encontraremos pela frente, mas somos educadores e precisamos decidir entre “sermos professores ou simplesmente tutoriar os alunos; entre visitar ou habitar os ambientes virtuais; entre informar ou educar; entre apenas ensinar ou sermos aprendizes/pesquisadores.” (SCHERER, 2003)
Referências
BELLONI, Maria Luiza. Educação a Distância. Campinas, SP: Autores Associados, 1999. MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos T.e BEHRENS, Marilda Aparecida. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. São Paulo: Papirus: 2000. PETERS, Otto. Didática do Ensino a Distância. São Leopoldo, RS: Editora Unisinos, 2001. AKAGI, André. E-Learning 2.0. Portal WebAula Disponível em http://portal.webaula.com.br/artigo.aspx?sm=artigos&codartigo=13. Acesso em 29 out. 2008. KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias de ensino presencial e a distância. São Paulo, Papirus, 2006 (3. ed). _____. Gestão e uso das mídias em projetos de Educação a Distância. Revista E-Curriculum, São Paulo, n.1, v.1, dez. 2005. Disponível em:. Acesso em 29 out. 2008. LITWIN, Edith (org). Educação a Distância: Temas para Debate de uma Nova Agenda Educativa. Porto Alegre, Artmed, 2001. SÁ, Iranita M. A. Educação a Distância: Processo Contínuo de Inclusão Social. Fortaleza, C.E.C., 1998. SCHERER, Suely. O papel do professor nos ambientes virtuais de aprendizagem. In: CONGRESSO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – MERCOSUL, 7, 2003, Florianópolis. Anais... Florianópolis-SC: CTAI-Senai, 2003. p. 270-274. VOIGT, Emilio. Web 2.0, E-Learning 2.0, EaD 2.0: Para onde caminha a educação a distância? http://www.abed.org.br/congresso2007/tc/55200750254PM.pdf. Acesso em 01/12/2008