Drogas, por quê? Drogas ou substâncias psicoativas1 “... são aquelas que modificam o estado de consciência do usuário. Os efeitos podem ir desde uma estimulação suave causada por uma xícara de café ou chá até os efeitos ...produzidos por alucinógenos tais como o LSD...” (Seibel e Toscano Jr., 2001, p.1). Masur & Carlini (1989) definem drogas como substâncias que interferem com o funcionamento dos neurotransmissores, provocando alterações e distúrbios no comportamento.
Os alimentos são assimilados de modo imediato e utilizados para renovar e ampliar nossa massa física, bem como para produzir energia. Há ainda dois tipos de substâncias que podem ser ingeridas. Aquelas, como os plásticos e alguns metais, que o corpo não consegue digerir, tampouco absorver, eliminado-as na sua forma intacta e aquelas que provocam uma intensa reação. Esse segundo tipo compreende as drogas em geral. Nos dias de palavra droga é rapidamente associada às substâncias que alteraram estados da mente, proporcionando experiências de prazer capazes de levar parte seus usuários ao uso contínuo e à dependência. Essas substâncias (drogas) também se tornaram sinônimas de coisas ruins (isso é uma droga!) e de situações indesejadas (que droga!). O que chamamos hoje de droga está muito longe daquilo que antes essa palavra designava. A origem etimológica da palavra DROGA é incerta. A palavra pode ter derivado de DROWA (árabe), cujo significado é bala de trigo. Droga, ainda, pode ser originária de DROOGE VATE (holandês), cujo significado são tonéis de folhas secas. Isto porque antigamente quase todos os medicamentos eram feitos à base de vegetais. A primeira língua a utilizar a palavra tal como a conhecemos hoje foi o francês: DROGUE (ingrediente, tintura ou substância química ou farmacêutica, remédio, produto farmacêutico). Atualmente, a medicina define droga como sendo: qualquer substância capaz de modificar o funcionamento dos organismos vivos, resultando em mudanças fisiológicas ou de comportamento. Portanto, nota-se que a palavra droga se refere a qualquer substância capaz de modificar um funcionamento orgânico, seja essa modificação considerada medicinal ou nociva. Os antigos, inclusive, não acreditavam que as drogas fossem exclusivamente boas ou más. Os gregos, por exemplo, entendiam que qualquer droga se constitui em um veneno potencial e um remédio potencial, dependendo da dose, do objetivo do uso, da pureza, das condições de acesso a esse produto e dos modelos culturais de uso. As drogas capazes de alterar o funcionamento mental ou psíquico são denominadas drogas psicotrópicas ou simplesmente psicotrópicos. Psicotrópico advém da junção de psico (mente) e trópico (atração por). Desse modo, drogas psicotrópicas são aquelas que atuam sobre o nosso cérebro, alterando nossa maneira de sentir, de pensar e, muitas vezes, de agir. Mas estas alterações do nosso psiquismo não são iguais para toda e qualquer droga. Cada substância é capaz de causar diferentes reações. O consumo de substâncias psicoativas existe desde os primórdios da história do homem, em praticamente todas as culturas conhecidas. Curiosidade, desejo de transcendência, busca da imortalidade, do prazer, da sabedoria, são alguns dos motivos que aparecem, desde sempre, associados ao desejo por alguma droga.
As drogas estão cada vez mais presentes em nossas vidas. Amigos, parentes, colegas, vizinhos... estamos rodeados de usuários de drogas, e no atual contexto o consumo esta mais associado aos jovens. Segundo pesquisas, o álcool é a droga mais amplamente utilizada pelos jovens, más porque os jovens bebem tanto? Para analisarmos a situação dos jovens devemos primeiro analisar a situação dos adultos, onde a incidência do consumo excessivo de bebidas alcoólicas ocorre, e isso por si só talvez seja a possível resposta para a questão. Os adultos exercem enorme influência na formação e no comportamento dos jovens de forma que os exemplos dados pelos adultos de como lidar com a realidade é fator determinante nas escolhas feitas pelos adolescentes, todavia várias dúvidas e inquietações são próprias da idade, como conhecer seus limites e possibilidades, principalmente no que tange as questões amorosas e profissionais. Essas dúvidas geram inseguranças e temores frente aos quais podem tentar evadir-se, o que expõe o jovem a formas de escape, e que pode refletir, entre outras formas, no uso excessivo da bebida. Também podemos considerar o próprio grupo de convívio do jovem e a influência que podem exercer sobre ele. Os jovens procuram afirmar sua identidade espelhando-se muito no seu grupo de convívio e, nesta fase, transgredir, excedendo-se no uso de bebidas pode parecer, para alguns, interessante no que diz respeito a status. Ah... é só bicadinha... .....Os primeiros goles, que há uma década aconteciam por volta dos 15 a 16 anos, atualmente já ocorrem com 53% dos adolescentes entre 10 e 12 anos. Pesquisas mostram ainda que a grande maioria entra em contato com a bebida em casa, portanto é necessário que os pais estejam atentos desde cedo para iniciar a prevenção. Limites claros devem ser colocados com maior firmeza, quanto mais nova for a criança. Dizer não é papel dos pais, e não apenas intransigência careta e gratuita! Não tenha dúvida, é mais fácil acostumar os pequenos do que enfrentar a rebeldia dos adolescentes. Isso vale inclusive para aquela bicada na sua caipirinha ou cerveja com a desculpa de que é para acostumar com o gosto. O cuidado e a proteção dos filhos são funções dos pais. No caso das drogas, a proibição representa exatamente isso. Quanto mais tempo você conseguir mantêlos longe da bebida melhor. Eles vão tentar dobrá-lo, fazer cara feia, dizer que os pais dos amigos permitem e usar de todos os argumentos para tirar você da sua proposta, mas é preciso ser firme, ainda que a sua cerveja esquente...
Exemplo é fundamental Estudos comprovaram que o combate ao alcoolismo deve ser iniciado em casa. A maioria dos jovens com alto grau de dependência começou o consumo em família. É grande o número de filhos dependentes graves, cujos pais têm problemas de alcoolismo. Segundo alguns estudos, há um componente genético que colabora com o desenvolvimento da doença. Não se espante com a terminologia, pois o alcoolismo é considerado doença pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Famílias em que esse problema é presente em avós, tios ou pais têm mais chances de se defrontar com a dependência dos jovens. Além disso, o ambiente familiar e social é um fator importante.
O hábito de usar a bebida para aliviar a tensão, por exemplo, é um comportamento aprendido em casa, e é aí que as coisas se complicam. A questão não está em abrir uma garrafa de vinho ao jantar ou na cerveja do final de semana, mas sim em precisar de um trago nas situações estressantes, para enfrentar obstáculos ou relaxar do dia estafante. A adolescência é uma fase complicada e o álcool não pode assumir o papel de facilitador, no sentido de ajudar os jovens a lidar com suas dificuldades. Se os pais fazem isso, é provável que os filhos repitam esse comportamento. Procure ser coerente. Discurso e ação devem combinar entre si, pois a moçada aprende não só através das falas e conselhos formais, mas - também e principalmente - a partir dos modelos concretos vivenciados no dia-a-dia. Exemplo é fundamental, fique atento, inclusive, para comentários ambíguos envolvendo questões relacionadas ao álcool: as crianças tudo registram... Excessos e cuidados Diante desse panorama, cabe lembrar ainda que, se é grande a quantidade de adultos que perdem o controle após alguns goles a mais, o que dizer da moçada com o seu metabolismo ainda em formação? Os excessos alcoólicos são responsáveis, até, pelo alto índice de acidentes fatais no trânsito, o que é uma ótima razão para alertar seu filho adolescente para que, de forma alguma, aceite carona com um amigo que bebeu. As estatísticas mostram, também, que o álcool está presente, de forma expressiva, nos traumas físicos, brigas, mortes violentas e suicídios. Todo esse quadro, mesmo sendo assustador, não atinge a onipotência da moçada. Sabe como é... de acordo com eles, isso só acontece com os outros, não é verdade? .Além do fascínio que a bebida representa para os jovens, ainda há a pressão do grupo. Para não se sentirem por fora, acabam entrando no jogo. Com receio de serem chamados de pirralhos, não enfrentam os companheiros. Daí para chegar de pileque em casa falta pouco, muito pouco mesmo... .Se isso acontecer, espere seu filho estar totalmente sóbrio para ter uma conversa. Nem tente entrar num bate-boca desgastante enquanto o comportamento dele estiver alterado. Esse papo precisa ser franco e aberto. Evite o tom moralizante e procure passar informações consistentes a respeito dos efeitos do álcool sobre o cérebro e o organismo em geral. .Enquanto for possível, acompanhe a garotada até as festas, leve-os e busque-os e, se vierem com outro pai, espere por sua chegada em casa e observe o seu comportamento, isso vai dar pistas sobre a presença de bebidas à disposição, ou levadas por algum convidado. .Mais importante do que essas orientações e cuidados possam sugerir, é fundamental manter, sempre, um canal de comunicação aberto com seu filho, desde pequeno. Procure, sempre que possível, conversar sobre o cotidiano dele, suas amizades, problemas na escola e outros tantos assuntos que possam surgir. Ao invés de falar, tendência de muitos pais, procure ouvi-lo, pois somente assim você poderá perceber suas dúvidas e angústias e se transformar no tão necessário apoio para sua complicada e difícil passagem da infância para a vida adulta.
Alcoolismo
O que é? O alcoolismo é o conjunto de problemas relacionados ao consumo excessivo e prolongado do álcool; é entendido como o vício de ingestão excessiva e regular de bebidas alcoólicas, e todas as conseqüências decorrentes. O alcoolismo é, portanto, um conjunto de diagnósticos. Dentro do alcoolismo existe a dependência, a abstinência, o abuso (uso excessivo, porém não continuado), intoxicação por álcool (embriaguez). Síndromes amnéstica (perdas restritas de memória), demencial, alucinatória, delirante, de humor. Distúrbios de ansiedade, sexuais, do sono e distúrbios inespecíficos. Por fim o delirium tremens, que pode ser fatal. Assim o alcoolismo é um termo genérico que indica algum problema, mas medicamente para maior precisão, é necessário apontar qual ou quais distúrbios estão presentes, pois geralmente há mais de um.
O fenômeno da Dependência (Addiction) O comportamento de repetição obedece a dois mecanismos básicos não patológicos: o reforço positivo e o reforço negativo. O reforço positivo refere-se ao comportamento de busca do prazer: quando algo é agradável a pessoa busca os mesmos estímulos para obter a mesma satisfação. O reforço negativo refere-se ao comportamento de evitação de dor ou desprazer. Quando algo é desagradável a pessoa procura os mesmos meios para evitar a dor ou desprazer, causados numa dada circunstância. A fixação de uma pessoa no comportamento de busca do álcool, obedece a esses dois mecanismos acima apresentados. No começo a busca é pelo prazer que a bebida proporciona. Depois de um período, quando a pessoa não alcança mais o prazer anteriormente obtido, não consegue mais parar porque sempre que isso é tentado surgem os sintomas desagradáveis da abstinência, e para evitá-los a pessoa mantém o uso do álcool. Os reforços positivo e negativo são mecanismos ou recursos normais que permitem às pessoas se adaptarem ao seu ambiente. As medicações hoje em uso atuam sobre essas fases: a naltrexona inibe o prazer dado pelo álcool, inibindo o reforço positivo; o acamprosato diminui o mal estar causado pela abstinência, inibindo o reforço negativo. Provavelmente, dentro de pouco tempo, teremos estudos avaliando o benefício trazido pela combinação dessas duas medicações para os dependentes de álcool que não obtiveram resultados satisfatórios com cada uma isoladamente.
Tolerância e Dependência A tolerância e a dependência ao álcool são dois eventos distintos e indissociáveis. A tolerância é a necessidade de doses maiores de álcool para a manutenção do efeito de embriaguez obtido nas primeiras doses. Se no começo uma dose de uísque era suficiente para uma leve sensação de tranqüilidade, depois de duas semanas (por exemplo) são necessárias duas doses para o mesmo efeito. Nessa situação se diz que o indivíduo está desenvolvendo tolerância ao álcool. Normalmente, à medida que se eleva a dose da bebida alcoólica para se contornar a tolerância, ela volta em doses cada vez mais altas. Aos poucos, cinco doses de uísque podem se tornar inócuas para o indivíduo que antes se embriagava com uma dose. Na prática não se observa uma total tolerância, mas de forma parcial. Um indivíduo que antes se embriagava com uma dose de uísque e passa a ter uma leve embriaguez com três doses está tolerante apesar de ter algum grau de embriaguez. O alcoólatra não pode dizer que não está tolerante ao álcool por apresentar sistematicamente um certo grau de embriaguez. O critério não é a ausência ou presença de embriaguez, mas a perda relativa do efeito da bebida. A tolerância ocorre antes da dependência. Os primeiros indícios de tolerância não significam, necessariamente, dependência, mas é o sinal claro de que a dependência não está longe. A dependência é simultânea à tolerância. A dependência será tanto mais intensa quanto mais intenso for o grau de tolerância ao álcool. Dizemos que a pessoa tornou-se dependente do álcool quando ela não tem mais forças por si própria de interromper ou diminuir o uso do álcool. O alcoólatra de "primeira viagem" sempre tem a impressão de que pode parar quando quiser e afirma: "quando eu quiser, eu paro". Essa frase geralmente encobre o alcoolismo incipiente e resistente; resistente porque o paciente nega qualquer problema relacionado ao álcool, mesmo que os outros não acreditem, ele próprio acredita na ilusão que criou. A negação do próprio alcoolismo, quando ele não é evidente ou está começando, é uma forma de defesa da auto-
imagem (aquilo que a pessoa pensa de si mesma). O alcoolismo, como qualquer diagnóstico psiquiátrico, é estigmatizante. Fazer com que uma pessoa reconheça o próprio estado de dependência alcoólica, é exigir dela uma forte quebra da auto-imagem e conseqüentemente da auto-estima. Com a auto-estima enfraquecida a pessoa já não tem a mesma disposição para viver e, portanto, lutar contra a própria doença. É uma situação paradoxal para a qual não se obteve uma solução satisfatória. Dependerá da arte de conduzir cada caso particularmente, dependerá da habilidade de cada psiquiatra.
Aspectos Gerais do Alcoolismo A identificação precoce do alcoolismo geralmente é prejudicada pela negação dos pacientes quanto a sua condição de alcoólatras. Além disso, nos estágios iniciais é mais difícil fazer o diagnóstico, pois os limites entre o uso "social" e a dependência nem sempre são claros. Quando o diagnóstico é evidente e o paciente concorda em se tratar é porque já se passou muito tempo, e diversos prejuízos foram sofridos. É mais difícil de se reverter o processo. Como a maioria dos diagnósticos mentais, o alcoolismo possui um forte estigma social, e os usuários tendem a evitar esse estigma. Esta defesa natural para a preservação da auto-estima acaba trazendo atrasos na intervenção terapêutica. Para se iniciar um tratamento para o alcoolismo é necessário que o paciente preserve em níveis elevados sua auto-estima sem, contudo, negar sua condição de alcoólatra, fato muito difícil de se conseguir na prática. O profissional deve estar atento a qualquer modificação do comportamento dos pacientes no seguinte sentido: falta de diálogo com o cônjuge, freqüentes explosões temperamentais com manifestação de raiva, atitudes hostis, perda do interesse na relação conjugal. O Álcool pode ser procurado tanto para ficar sexualmente desinibido como para evitar a vida sexual. No trabalho os colegas podem notar um comportamento mais irritável do que o habitual, atrasos e mesmo faltas. Acidentes de carro passam a acontecer. Quando essas situações acontecem é sinal de que o indivíduo já perdeu o controle da bebida: pode estar travando uma luta solitária para diminuir o consumo do álcool, mas geralmente as iniciativas pessoais resultam em fracassos. As manifestações corporais costumam começar por vômitos pela manhã, dores abdominais, diarréia, gastrites, aumento do tamanho do fígado. Pequenos acidentes que provocam contusões, e outros tipos de ferimentos se tornam mais freqüentes, bem como esquecimentos mais intensos do que os lapsos que ocorrem naturalmente com qualquer um, envolvendo obrigações e deveres sociais e trabalhistas. A susceptibilidade a infecções aumenta e dependendo da predisposição de cada um, podem surgir crises convulsivas. Nos casos de dúvidas quanto ao diagnóstico, deve-se sempre avaliar incidências familiares de alcoolismo porque se sabe que a carga genética predispõe ao alcoolismo. É muito mais comum do que se imagina a coexistência de alcoolismo com outros problemas psiquiátricos prévios ou mesmo precipitante. Os transtornos de ansiedade, depressão e insônia podem levar ao alcoolismo. Tratando-se a base do problema muitas vezes se resolve o alcoolismo. Já os transtornos de personalidade tornam o tratamento mais difícil e prejudicam a obtenção de sucesso.
Tratamento do Alcoolismo O alcoolismo, essencialmente, é o desejo incontrolável de consumir bebidas alcoólicas numa quantidade prejudicial ao bebedor. O núcleo da doença é o desejo pelo álcool; há tempos isto é aceito, mas nunca se obteve uma substância psicoativa que inibisse tal desejo. Como prova de que inúmeros fracassos não desanimaram os pesquisadores, temos hoje já comprovadas, ou em fase avançada de testes, três substâncias eficazes na supressão do desejo pelo álcool, três remédios que atingem a essência do problema, que cortam o mal pela raiz. Estamos falando naltrexona, do acamprosato e da ondansetrona. O tratamento do alcoolismo não deve ser confundido com o tratamento da abstinência alcoólica. Como o organismo incorpora literalmente o álcool ao seu metabolismo, a interrupção da ingestão de álcool faz com que o corpo se ressinta: a isto chamamos abstinência que, dependendo, do tempo e da quantidade de álcool consumidos pode causar sérios problemas e até a morte nos casos não tratados. As medicações acima citadas não têm finalidade de atuar nessa fase. A abstinência já tem suas alternativas de tratamento bem estabelecidas e relativamente satisfatórias. O Dissulfiram é uma substância que força o paciente a não beber sob a pena de intenso mal estar: se isso for feito, não suprime o desejo e deixa o paciente num conflito psicológico amargo. Muitos alcoólatras
morreram por não conseguirem conter o desejo pelo álcool enquanto estavam sob efeito do Dissulfiram. Mesmo sabendo o que poderia acontecer, não conseguiram evitar a combinação do álcool com o Dissulfiram, não conseguiram sequer esperar a eliminação do Dissulfiram. Fatos como esses servem para que os clínicos e os não-alcoólatras saibam o quanto é forte a inclinação para o álcool sofrida pelos alcoólatras, mais forte que a própria ameaça de morte. Serve também para medir o grau de benefício trazido pelas medicações que suprimem o desejo pelo álcool, atualmente disponíveis. Podemos fazer uma analogia para entender essa evolução. Com o Dissulfiram o paciente tem que fazer um esforço semelhante ao motorista que tenta segurar um veículo ladeira abaixo, pondo-se à frente deste, tentando impedir que o automóvel deslanche, atropelando o próprio motorista. Com as novas medicações o motorista está dentro do carro apertando o pedal do freio até que o carro chegue no fim da ladeira. Em ambos os casos, é possível chegar ao fim da ladeira (controle do alcoolismo). Numa o esforço é enorme causando grande percentagem de fracassos; noutro o esforço é pequeno, permitindo grande adesão ao tratamento. Vejamos agora algumas informações sobre as novas medicações. Naltrexona A naltrexona é uma substância conhecida há vários anos; seu uso restringia-se ao bloqueio da atividade dos opióides. É uma espécie de antídoto para a intoxicação de heroína, morfina e similares. Recentemente verificou-se que a naltrexona possui um efeito bloqueador do prazer proporcionado pelo álcool, cortando o ciclo de reforço positivo que leva e mantém o alcoolismo. A naltrexona foi a primeira substância a atingir a essência do alcoolismo: o desejo pelo consumo de álcool. Como era uma medicação conhecida quanto aos efeitos benéficos e colaterais, sua utilização para o alcoolismo foi relativamente rápida pois já se encontrava no mercado há muitos anos: bastou que se acrescentasse na bula uma nova indicação, o tratamento do alcoolismo. Os principais efeitos colaterais da naltrexona, o enjôo e o vômito não são intensos o suficiente para impedir o seu uso. Os principais efeitos da naltrexona são inibir o desejo pelo álcool e mesmo que se beba, o prazer da sensação de estar "alto" é abolido. Assim, a bebida para o alcoólatra em uso de naltrexona se torna sem graça. Como não há uma interação danosa entre Álcool e naltrexona, a naltrexona exerce uma real atividade terapêutica. Os estudos mostram que a recaída do alcoolismo é menor entre as pessoas que fazem uso de naltrexona em relação ao placebo; o baixo índice de efeitos colaterais da naltrexona permite que os pacientes adiram ao tratamento prolongado. Agora ficou mais fácil diferenciar o alcoólatra impotente perante seu vício daquele que simplesmente não quer abandonar o prazer da embriaguez. O paciente que se nega a tratar-se por perceber que a naltrexona abole o prazer é o alcoólatra por opção; aquele que adere ao tratamento era a vítima do vício. Por fim, não podemos esquecer que nem todos os pacientes se beneficiam da naltrexona, ou seja, há uma parcela da população que mesmo em uso da naltrexona mantém o prazer da bebida e nesses o tratamento é ineficaz. A naltrexona foi o primeiro e grande passo para o tratamento do alcoolismo, mas não resolveu todo o problema sozinho. Acamprosato Essa substância ao contrário da naltrexona é nova e foi criada especificamente para o tratamento do alcoolismo. Está sendo introduzida no mercado brasileiro pela Merck, mas já é usada na Europa há alguns anos. O mecanismo do acamprosato é distinto da naltrexona embora também diminua o desejo pelo álcool. O acamprosato atua mais na abstinência, reduzindo o reforço negativo deixado pela supressão do álcool naqueles que se tornaram dependentes. Podemos dizer que há basicamente dois mecanismos de manutenção da dependência química ao álcool: inicialmente há o reforço pelo estímulo positivo, pela busca de gratificação e prazer dadas pelo álcool. À medida que o indivíduo se torna tolerante às primeiras doses passa a ser necessária sua elevação para voltar a ter o mesmo prazer das primeiras doses. Nessa fase o indivíduo já é dependente e está em aprofundamento e agravamento da dependência. A bebida não dá mais prazer algum e por outro lado trouxe uma série de problemas pessoais e sociais; o alcoólatra está preso ao vício porque ao tentar interromper o consumo de álcool surgem os efeitos da abstinência. Nessa fase o alcoolista bebe não mais por prazer, mas para não sofrer os efeitos da abstinência alcoólica. É nesta fase que o acamprosato atua. Além de inibir os efeitos agudos da abstinência como os benzodiazepínicos fazem, o acamprosato inibe o desejo pelo álcool nessa fase, diminuindo as taxas de recaída para os pacientes que interromperam o consumo de álcool. A principal atividade do acamprosato é sobre os neurotransmissores gabaérgicos, taurinérgicos e
glutamatérgicos, envolvidos no mecanismo da abstinência alcoólica. O acamprosato tem poucos efeitos colaterais: os principais indicados foram consufão mental leve, dificuldade de concentração, alterações das sensações nos membros inferiores, dores musculares, vertigens. Ondansetrona Esta medicação vem sendo usada e aprovada como inibidor de vômitos, principalmente nos pacientes que fazem uso de medicações que provocam fortes enjôos como alguns quimioterápicos. Está em estudo a utilização na bulimia nervosa para conter os vômitos induzidos por esses pacientes. Mais recentemente vem sendo estudado seu efeito no tratamento do álcool. Esses estudos ainda estão em fase preliminar; uma possível aprovação para o alcoolismo deverá levar talvez alguns anos. Essa medicação tem um efeito específico como antagonista do receptor serotoninégico 5-HT3. Por enquanto há poucos estudos da eficácia da Ondansetrona no alcoolismo, o que se obteve, por enquanto, é uma maior eficácia no tratamento do alcoolismo nas fases iniciais. Alcoolistas de longa data e doses altas não apresentaram resultado muito superior ao placebo. Se aprovada hoje, sua utilização recairia sobre os pacientes alcoólatras há pouco tempo. A forma de ação é parecida a da naltrexona, inibindo o reforço positivo, o prazer que o álcool dá nas fases iniciais do alcoolismo. Os pacientes que tomam Ondansetrona tendem a beber menos que o habitual. Os autores de um recente trabalho com a Ondansetrona (JAMA. 2000;284:963-971) consideraram-se frustrados com o resultado clínico obtido.
Problemas Clínicos Diversos são os problemas causados pela bebida alcoólica pesada e prolongada. Fugiria ao nosso objetivo entrar em detalhes a esse respeito, por isso abordaremos o tema superficialmente. Sistema Nervoso - Amnésias nos períodos de embriaguez acontecem em 30 a 40% das pessoas no fim da adolescência e início da terceira década de vida: provavelmente o álcool inibe algum dos sistemas de memória impedindo que a pessoa se recorde de fatos ocorridos durante o período de embriaguez. Induz a sonolência, mas o sono sob efeito do álcool não é natural, tendo sua estrutura registrada no eletroencefalograma alterado. Entre 5 e 15% dos alcoólatras apresentam neuropatia periférica. Este problema consiste num permanente estado de hipersensibilidade, dormência, formigamento nas mãos, pés ou ambos. Nas síndromes alcoólicas pode-se encontrar quase todas as patologias psiquiátricas: estados de euforia patológica, depressões, estados de ansiedade na abstinência, delírios e alucinações, perda de memória e comportamento desajustado. Sistema Gastrintestinal - Grande quantidade de álcool ingerida de uma vez pode levar a inflamação no esôfago e estômago o que pode levar a sangramentos além de enjôo, vômitos e perda de peso. Esses problemas costumam ser reversíveis, mas as varizes decorrentes de cirrose hepática além de irreversíveis, são potencialmente fatais devido ao sangramento de grande volume que pode acarretar. Pancreatites agudas e crônicas são comuns nos alcoólatras constituindo-se uma emergência à parte. A cirrose hepática é um dos problemas mais falados dos alcoólatras; é um problema irreversível e incompatível com a vida, levando o alcoólatra lentamente à morte. Câncer - Os alcoólatras estão 10 vezes mais sujeitos a qualquer forma de câncer que a população em geral. Sistema Cardiovascular - Doses elevadas por muito tempo provocam lesões no coração provocando arritmias e outros problemas como trombos e derrames conseqüentes. É relativamente comum a ocorrência de um acidente vascular cerebral após a ingestão de grande quantidade de bebida. Hormônios Sexuais - O metabolismo do álcool afeta o balanço dos hormônios reprodutivos no homem e na mulher. No homem o álcool contribui para lesões testiculares o que prejudica a produção de testosterona e a síntese de esperma. Já com cinco dias de uso contínuo de 220 gramas de álcool os efeitos acima mencionados começam a se manifestar e continua a se aprofundar com a permanência do álcool. Essa deficiência contribui para a feminilização dos homens, com o surgimento, por exemplo, de ginecomastia (presença de mamas no homem). Hormônios Tireoideanos - Não há evidências de que o alcoolismo afete diretamente os níveis dos hormônios tireoideanos. Há pacientes alcoólatras que apresentam alterações tanto para mais como para menos nos níveis desses hormônios; presume-se que quando isso ocorre seja
de forma indireta por afetar outros sistemas do corpo. Hormônio do crescimento - Alterações são observadas em indivíduos que abusam de álcool, mas essas alterações não provocam problemas detectáveis como inibição do crescimento ou baixa estatura, pelo menos até o momento. Hormônio Antidiurético - Esse hormônio inibe a perda de água pelos rins, o álcool inibe esse hormônio: como resultado a pessoa perde mais água que o habitual, urina mais, o que pode levar a desidratação. Ociticina - Esse hormônio é responsável pelas contrações do útero no parto. O álcool tanto pode inibir um parto prematuro como atrapalhar um parto a termo, podendo tanto ser terapêutico como danoso. Insulina - O álcool não afeta diretamente os níveis de insulina: quando isso acontece é por causa de uma possível pancreatite que é outro processo distinto. A diminuição do açúcar no sangue não se deve a ação do álcool sobre a insulina ou sobre o glucagon (outro hormônio envolvido no metabolismo do açúcar). Gastrina - Este hormônio estimula a secreção de ácido no estômago preparando-o para a digestão. O principal estímulo para a secreção de gastrina é a presença de alimentos no estômago, principalmente as proteínas. É controverso o efeito do álcool sobre a gastrina, alguns pesquisadores dizem que o álcool não provoca sua liberação, outros dizem que provoca, o que levaria ao aumento da acidez estomacal. Podem provocar úlceras no aparelho digestivo.
Recaída A taxa de recaída (voltar a beber depois de ter se tornado dependente e parado com o uso de álcool) é muito alta: aproximadamente 90% dos alcoólatras voltam a beber nos 4 anos seguintes a interrupção, quando nenhum tratamento é feito. A semelhança com outras formas de dependência como a nicotina, tranqüilizantes, estimulantes, etc, levam a crer que um há um mecanismo psicológico (cognitivo) em comum. O dependente que consiga manter-se longe do primeiro gole terá mais chances de contornar a recaída. O aspecto central da recaída é o chamado "craving", palavra sem tradução para o português que significa uma intensa vontade de voltar a consumir uma droga pelo prazer que ela causa. O craving é a dependência psicológica propriamente dita.
As mulheres são mais vulneráveis ao álcool que os homens? Aparentemente as mulheres são mais vulneráveis sim. Elas atingem concentrações sanguíneas de álcool mais altas com as mesmas doses quando comparadas aos homens. Parece também que sob a mesma carga de álcool os órgãos das mulheres são mais prejudicados do que o dos homens. A idade onde se encontra a maior incidência de alcoolismo feminino está entre 26e 34 anos, principalmente entre mulheres separadas. Se a separação foi causa ou efeito do alcoolismo isto ainda não está claro. As conseqüências do alcoolismo sobre os órgãos são diferentes nas mulheres: elas estão mais sujeitas a cirrose hepática do que o homem. Alguns estudos mostram que o consumo moderado de álcool diário aumenta as chances de câncer de mama. Um drink por dia não afeta a incidência desse câncer.
Filhos de Alcoólatras Milhões de crianças e adolescentes convivem com algum parente alcoólatra no Brasil. As estatísticas mostram que eles estarão mais sujeitos a problemas emocionais e psiquiátricos do que a população desta faixa etária não exposta ao problema, o que de forma alguma significa que todos eles serão afetados. Na verdade 59% não desenvolvem nenhum problema. O primeiro problema que podemos citar é a baixa auto-estima e auto-imagem com conseqüentes repercussões negativas sobre o rendimento escolar e demais áreas do funcionamento mental, inclusive em testes de QI. Esses adolescentes e crianças tendem quando examinados a subestimarem suas próprias capacidades e qualidades. Outros problemas comuns em filhos e parentes de alcoólatras são persistência em mentiras, roubo, conflitos e brigas com colegas, vadiagem e problemas com o colégio.
O alcoolismo é genético? Esta pergunta bastante antiga vem sendo mais bem estudada nas últimas décadas através de estudos com gêmeos, e será mais aprofundada com o projeto genoma. A influência familiar do alcoolismo é um fato já conhecido e aceito. O que se pergunta é se o alcoolismo ocorre por influência do convívio ou por influência genética. Para responder a essa pergunta a melhor maneira é a verificação prática da influência, o que pode ser feito estudando os filhos dos alcoólatras. Estudos como esses podem investigar os gêmeos monozigóticos (idênticos) e os dizigóticos. Constatou-se que quando um dos gêmeos idênticos se torna alcoólatra o irmão se torna mais freqüentemente alcoólatra do que os irmãos gêmeos não idênticos. Essa constatação mostra a influência genética real, mas não explica porque, mesmo tendo os "gens do alcoolismo," uma pessoa não se torna alcoólatra. Os estudos familiares mostraram que a participação genética é inegável, mas apenas parcial, os demais fatores que levam ao desenvolvimento do alcoolismo não estão suficientemente claros.
Problemas Psiquiátricos Causados pelo Alcoolismo Abuso de Álcool A pessoa que abusa de álcool não é necessariamente alcoólatra, ou seja, dependente e faz uso continuado. O critério de abuso existe para caracterizar as pessoas que eventualmente, mas recorrentemente têm problemas por causa dos exagerados consumos de álcool em curtos períodos de tempo. Critérios: para se fazer esse diagnóstico é preciso que o paciente esteja tendo problemas com álcool durante pelo menos 12 meses e ter pelo menos uma das seguintes situações: a) prejuízos significativos no trabalho, escola ou família como faltas ou negligências nos cuidados com os filhos. b) exposição a situações potencialmente perigosas como dirigir ou manipular máquinas perigosas embriagado. c) problemas legais como desacato a autoridades ou superiores. d) persistência no uso de álcool apesar do apelo das pessoas próximas em que se interrompa o uso.
Dependência ao Álcool Para se fazer o diagnóstico de dependência alcoólica é necessário que o usuário venha tendo problemas decorrentes do uso de álcool durante 12 meses seguidos e preencher pelo menos 3 dos seguintes critérios: a) apresentar tolerância ao álcool -- marcante aumento da quantidade ingerida para produção do mesmo efeito obtido no início ou marcante diminuição dos sintomas de embriaguez ou outros resultantes do consumo de álcool apesar da continua ingestão de álcool. b) sinais de abstinência -- após a interrupção do consumo de álcool a pessoa passa a apresentar os seguintes sinais: sudorese excessiva, aceleração do pulso (acima de 100), tremores nas mãos, insônia, náuseas e vômitos, agitação psicomotora, ansiedade, convulsões, alucinações táteis. A reversão desses sinais com a reintrodução do álcool comprova a abstinência. Apesar do álcool "tratar" a abstinência o tratamento de fato é feito com diazepam ou clordiazepóxido dentre outras medicações. c) o dependente de álcool geralmente bebe mais do que planejava beber d) persistente desejo de voltar a beber ou incapacidade de interromper o uso. e) emprego de muito tempo para obtenção de bebida ou recuperando-se do efeito. f) persistência na bebida apesar dos problemas e prejuízos gerados como perda do emprego e das relações familiares.
Abstinência alcoólica A síndrome de abstinência constitui-se no conjunto de sinais e sintomas observado nas pessoas que interrompem o uso de álcool após longo e intenso uso. As formas mais leves de abstinência se apresentam com tremores, aumento da sudorese, aceleração do pulso, insônia, náuseas e vômitos, ansiedade depois de 6 a 48 horas desde a última bebida. A síndrome de abstinência leve não precisa necessariamente surgir com todos esses sintomas, na maioria das vezes, inclusive, limita-se aos tremores, insônia e irritabilidade. A síndrome de abstinência torna-se mais perigosa com o surgimento do delirium tremens. Nesse estado o paciente apresenta confusão mental, alucinações, convulsões. Geralmente começa dentro de 48 a 96
horas a partir da ultima dose de bebida. Dada a potencial gravidade dos casos é recomendável tratar preventivamente todos os pacientes dependentes de álcool para se evitar que tais síndromes surjam. Para se fazer o diagnóstico de abstinência, é necessário que o paciente tenha pelo menos diminuído o volume de ingestão alcoólica, ou seja, mesmo não interrompendo completamente é possível surgir a abstinência. Alguns pesquisadores afirmam que as abstinências tornam-se mais graves na medida em que se repetem, ou seja, um dependente que esteja passando pela quinta ou sexta abstinência estará sofrendo os sintomas mencionados com mais intensidade, até que surja um quadro convulsivo ou de delirium tremens. As primeiras abstinências são menos intensas e perigosas.
Delirium Tremens O Delirium Tremens é uma forma mais intensa e complicada da abstinência. Delirium é um diagnóstico inespecífico em psiquiatria que designa estado de confusão mental: a pessoa não sabe onde está, em que dia está, não consegue prestar atenção em nada, tem um comportamento desorganizado, sua fala é desorganizada ou ininteligível, a noite pode ficar mais agitado do que de dia. A abstinência e várias outras condições médicas não relacionadas ao alcoolismo podem causar esse problema. Como dentro do estado de delirium da abstinência alcoólica são comuns os tremores intensos ou mesmo convulsão, o nome ficou como Delirium Tremens. Um traço comum no delírio tremens, mas nem sempre presente são as alucinações táteis e visuais em que o paciente "vê" insetos ou animais asquerosos próximos ou pelo seu corpo. Esse tipo de alucinação pode levar o paciente a um estado de agitação violenta para tentar livrar-se dos animais que o atacam. Pode ocorrer também uma forma de alucinação induzida, por exemplo, o entrevistador pergunta ao paciente se está vendo as formigas andando em cima da mesa sem que nada exista e o paciente passa a ver os insetos sugeridos. O Delirim Tremens é uma condição potencialmente fatal, principalmente nos dias quentes e nos pacientes debilitados. A fatalidade quando ocorre é devida ao desequilíbrio hidro-eletrolítico do corpo.
Intoxicação pelo álcool O estado de intoxicação é simplesmente a conhecida embriaguez, que normalmente é obtida voluntariamente. No estado de intoxicação a pessoa tem alteração da fala (fala arrastada), descoordenação motora, instabilidade no andar, nistagmo (ficar com olhos oscilando no plano horizontal como se estivesse lendo muito rápido), prejuízos na memória e na atenção, estupor ou coma nos casos mais extremos. Normalmente junto a essas alterações neurológicas apresenta-se um comportamento inadequado ou impróprio da pessoa que está intoxicada. Uma pessoa muito embriagada geralmente encontra-se nessa situação porque quis, uma leve intoxicação em alguém que não está habituado é aceitável por inexperiência mas não no caso de alguém que conhece seus limites.
Wernicke-Korsakoff (síndrome amnéstica) Os alcoólatras "pesados" em parte (10%) desenvolvem algum problema grave de memória. Há dois desses tipos: a primeira é a chamada Síndrome Wernicke-Korsakoff (SWK) e a outra a demência alcoólica. A SWK é caracterizada por descoordenação motora, movimentos oculares rítmicos como se estivesse lendo (nistagmo) e paralisia de certos músculos oculares, provocando algo parecido ao estrabismo para quem antes não tinha nada. Além desses sinais neurológicos o paciente pode estar em confusão mental, ou se com a consciência clara, pode apresentar prejuízos evidentes na memória recente (não consegue gravar o que o examinador falou 5 minutos antes) e muitas vezes para preencher as lacunas da memória o paciente inventa histórias, a isto chamamos fabulações. Este quadro deve ser considerado uma emergência, pois requer imediata reposição da vitamina B1(tiamina) para evitar um agravamento do quadro. Os sintomas neurológicos acima citados são rapidamente revertidos com a reposição da tiamina, mas o déficit da memória pode se tornar permanente. Quando isso acontece o paciente apesar de ter a mente clara e várias outras funções mentais preservadas, torna-se uma pessoa incapaz de manter suas funções sociais e pessoais. Muitos autores referem-se a SWK como uma forma de demência, o que não está errado, mas a demência é um quadro mais abrangente, por isso preferimos o modelo americano que diferencia a SWK da
demência alcoólica.
Síndrome Demencial Alcoólica Esta é semelhante a demência propriamente dita como a de Alzheimer. No uso pesado e prolongado do álcool, mesmo sem a síndrome de Wernick-Korsakoff, o álcool pode provocar lesões difusas no cérebro prejudicando além da memória a capacidade de julgamento, de abstração de conceitos; a personalidade pode se alterar, o comportamento como um todo fica prejudicado. A pessoa torna-se incapaz de sustentar-se.
Síndrome de abstinência fetal A Síndrome de Abstinência Fetal descrita pela primeira vez em 1973 era considerada inicialmente uma conseqüência da desnutrição da mãe, posteriormente viu-se que os bebês das mães alcoólatras apresentavam problemas distintos dos bebês das mães desnutridas, além de outros problemas que esses não tinham. Constatou-se assim que os recém-natos das mães alcoólatras apresentam um problema específico, sendo então denominada Síndrome de Abstinência Fetal (SAF). As características da SAF são: baixo peso ao nascer, atraso no crescimento e no desenvolvimento, anormalidades neurológicas, prejuízos intelectuais, más formações do esqueleto e sistema nervoso, comportamento perturbado, modificações na pálpebra deixando os olhos mais abertos que o comum, lábio superior fino e alongado. O retardo mental e a hiperatividade são os problemas mais significativos da SAF. Mesmo não havendo retardo é comum ainda o prejuízo no aprendizado, na atenção e na memória; e também descoordenação motora, impulsividade, problemas para falar e ouvir. O déficit de aprendizado pode persistir até a idade adulta.
O estresse pode provocar alcoolismo? O estresse não determina o alcoolismo, mas estudos mostraram que pessoas submetidas a situações estressantes para as quais não encontra alternativa, tornam-se mais freqüentemente alcoólatras. O álcool possui efeito relaxante e tranqüilizante semelhante ao dos ansiolíticos. O problema é que o álcool tem muito mais efeitos colaterais que os ansiolíticos. Numa situação dessas o uso de ansiolíticos poderia prevenir o surgimento de alcoolismo. Na verdade o que se encontra é a vontade de abolir as preocupações com a embriaguez e isso os ansiolíticos não proporcionam, ou o fazem em doses que levariam ao sono. O homem quando submetido a estresse tende a procurar não a tranqüilidade, mas o prazer. Daí que a vida sexualmente promíscua muitas vezes é acompanhada de abuso de álcool e drogas. O fato de uma pessoa não encontrar uma solução para seu estresse não significa que a solução não exista. A Logoterapia, por exemplo, ajuda o paciente a encontrar um significado na sua angústia. Não suprime a fonte da angústia, mas a torna mais suportável. Quando uma dor adquire um sentido, torna-se possível contorná-la, continuar a vida com um sorriso, desde que ela não seja incapacitante. Sob esse aspecto a logoterapia pode ajudar a vencer o alcoolismo nas suas etapas iniciais, quando ainda não surgiu dependência química. Uma situação de estresse real que passamos atualmente é o desemprego. Este problema social é de difícil resolução e geralmente faz com que as pessoas se ajustem às custas de elevação da tensão emocional prolongada, que é a mesma coisa de estresse.
Alcoolismo e desnutrição As principais funções do processo alimentar são a manutenção da estrutura corporal e das necessidades energéticas diárias. Uma alimentação equilibrada proporciona o que precisamos. O álcool é uma substância bastante energética, em épocas passadas, chegou a ser usado em pacientes após cirurgias para uma reposição mais rápida da energia perdida na cirurgia. Apesar de altamente calórico o álcool não é armazenável. Não fossem os efeitos prejudiciais ao longo do tempo, o álcool seria um excelente meio de perder peso. Para que se possa entender como o álcool fornece energia e ao mesmo tempo não é armazenável é necessário entender seu mecanismo metabólico o que não será abordado aqui. Pelo fato do usuário de
álcool possuir suas necessidades energéticas supridas ele não sente muita ou nenhuma fome, assim não há vontade de comer. A diminuição da oferta das substâncias (proteínas, açucares, gorduras, vitaminas e minerais) usadas na constante reconstrução dos tecidos, não interrompe o processo de destruição natural das células que estão sendo substituídas constantemente. Assim o corpo do alcoólatra começa a se consumir. Esse processo leva a desnutrição.
Testes Neuropsicológicos Os pacientes alcoólatras confirmados ao se submeterem a testes de inteligência apresentam 45 a 70% normais. Contudo, esses mesmos ao fazerem testes mais específicos em determinadas áreas do funcionamento mental, como a capacidade de resolver problemas, pensamento abstrato, desempenho psicomotor, memória e capacidade de lidar com novidades, costumam apresentar problemas. Os testes normalmente representam atividades desempenhadas diariamente e não situações especiais ou raras. Este resultado mostra que os testes superficiais deixam passar comprometimentos significativos. Os testes neuropsicológicos são mais adequados e precisos na medição de capacidades mentais comprometidas pelo álcool. Tem sido observado também que no cérebro dos alcoólatras ocorrem modificações na estrutura apresentada nos exames de tomografia ou ressonância, além de comprometimento na vascularização e nos padrões elétricos. Como esses achados são recentes, não houve tempo para se estudar a relação entre essas alterações laboratoriais e os prejuízos psicológicos que eles representam.
Efeitos do Álcool sobre o Cérebro Os resultados de exames pos-mortem (necropsia) mostram que pacientes com história de consumo prolongado e excessivo de álcool têm o cérebro menor, mais leve e encolhido do que o cérebro de pessoas sem história de alcoolismo. Esses achados continuam sendo confirmados pelos exames de imagem como a tomografia, a ressonância magnética e a tomografia por emissão de fótons. O dano físico direto do álcool sobre o cérebro é um fato já inquestionavelmente confirmado. A parte do cérebro mais afetada costumam ser o córtex préfrontal, a região responsável pelas funções intelectuais superiores como o raciocínio, capacidade de abstração de conceitos e lógica. Os mesmos estudos que investigam as imagens do cérebro identificam uma correspondência linear entre a quantidade de álcool consumida ao longo do tempo e a extensão do dano cortical. Quanto mais álcool mais dano. Depois do córtex, regiões profundas seguem na lista de mais acometidas pelo álcool: as áreas envolvidas com a memória e o cerebelo que é a parte responsável pela coordenação motora.
O Processo Metabólico do Álcool Quando o álcool é consumido passa pelo estômago e começa a ser absorvido no intestino caindo na corrente sanguínea. Ao passar pelo fígado começa a ser metabolizado, ou seja, a ser transformado em substâncias diferentes do álcool e que não possuem os seus efeitos. A primeira substancia formada pelo álcool chama-se acetaldeído, que é depois convertido em acetado por outras enzimas, essas substâncias assim com o álcool excedente são eliminados pelos rins; as que eventualmente voltam ao fígado acabam sendo transformadas em água e gás carbônico expelido pelos pulmões. A passagem do intestino para o sangue se dá de acordo com a velocidade com que o álcool é ingerido, já o processo de degradação do álcool pelo fígado obedece a um ritmo fixo podendo ser ultrapassado pela quantidade consumida. Quando isso acontece temos a intoxicação pelo álcool, o estado de embriaguez. Isto significa que há muito álcool circulando e agindo sobre o sistema nervoso além dos outros órgãos. Como a quantidade de enzimas é regulável, um indivíduo com uso contínuo de álcool acima das necessidades estará produzindo mais enzimas metabolizadoras do álcool, tornando-se assim mais "resistente" ao álcool. A presença de alimentos no intestino lentifica a absorção do álcool. Quanto mais gordura houver no intestino mais lenta se tornará a absorção do álcool. Apesar do álcool ser altamente calórico (um grama de álcool tem 7,1 calorias; o açúcar tem 4,5), ele não fornece material estocável; assim a energia oferecida pelo álcool é utilizada enquanto ele
circula ou é perdida. A famosa "barriga de chop" é dada mais pelos aperitivos que acompanham a bebida.
Consequências corporais do alcoolismo À medida que o alcoolismo avança, as repercussões sobre o corpo se agravam. Os órgãos mais atingidos são: o cérebro, trato digestivo, coração, músculos, sangue, glândulas hormonais. Como o álcool dissolve o mucus do trato digestivo, provoca irritação na camada externa de revestimento que pode acabar provocando sangramentos. A maioria dos casos de pancreatite aguda (75%) são provocados por alcoolismo. As afecções sobre o fígado podem ir de uma simples degeneração gordurosa à cirrose que é um processo irreversível e incompatível com a vida. O desenvolvimento de patologias cardíacas pode levar 10 anos por abusos de álcool e ao contrário da cirrose pode ser revertida com a interrupção do vício. Os alcoólatras tornam-se mais susceptíveis a infecções porque suas células de defesas são em menor número. O álcool interfere diretamente com a função sexual masculina, com infertilidade por atrofia das células produtoras de testosterona, e diminuição dos hormônios masculinos. O predomínio dos hormônios femininos nos alcoólatras do sexo masculino leva ao surgimento de características físicas femininas como o aumento da mama (ginecomastia). O álcool pode afetar o desejo sexual e levar a impotência por danos causados nos nervos ligados a ereção. Nas mulheres o álcool pode afetar a produção hormonal feminina, levando diminuição da menstruação, infertilidade e afetando as características sexuais femininas.
A Busca pela cura Reconhecer que a bebida se converteu em um problema e que não consegue mais beber normalmente é uma das grandes dificuldades de um alcoolista e também o primeiro passo para a cura. Apesar de existir uma enorme variedade de explicações teóricas para as causas da dependência de álcool, nicotina e outras drogas, há um conceito unânime: dependência é uma relação alterada entre um indivíduo e seu modo de consumir uma substância. Essa relação alterada é capaz de trazer problemas para o seu usuário. Muitos indivíduos, porém, não apresentam problemas relacionados ao seu consumo. Outros apresentam problemas, mas não podem ser considerados dependentes. Por último, mesmo entre os dependentes, há diferentes níveis de gravidade. Não é preciso ser dependente para ter problemas Portanto, buscar um conceito sobre dependência a substâncias psicoativas não se completa pela constatação de sua presença ou ausência. Mais do que saber se ela está lá, é preciso identificar e determinar seu grau de desenvolvimento. Além disso, é preciso entender como os sintomas observados são moldados pela personalidade dos indivíduos e pelas influências sócio-culturais. O conceito atual dos transtornos relacionados ao uso de álcool e outras drogas rejeitou a idéia da existência apenas do dependente e do não-dependente. Existem, ao invés disso, padrões individuais de consumo que variam de intensidade e gravidade ao longo de uma linha contínua (figura 3). Não existe um consumo absolutamente isento de riscos. Quando este é comedido e cercado de precauções preventivas, é denominado consumo de baixo risco. Quando o indivíduo apresenta problemas sociais (brigas, faltas no emprego), físicos (acidentes) e psicológicos (heteroagressividade) relacionados estritamente àquele episódio de consumo, diz-se que tais indivíduos fazem uso nocivo da substância.
Por fim, quando o consumo se mostra compulsivo e destinado à evitação de sintomas de abstinência e cuja intensidade é capaz de ocasionar problemas sociais, físicos e ou psicológicos, fala-se em dependência. :: Critérios diagnósticos de uso nocivo Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uso nocivo é "um padrão de uso de substâncias psicoativas que está causando dano à saúde", podendo ser esse de natureza física ou mental (quadro 1). A intoxicação aguda ou 'ressaca', dependendo de sua intensidade, por si só, não é considerada dano à saúde. A presença da síndrome de abstinência ou de transtornos mentais relacionados ao consumo (p.e. demência alcoólica) exclui esse diagnóstico. :: Quadro 1 - Critérios do CID-10 para uso nocivo (abuso) de substância O diagnóstico requer que um dano real deva ter sido causado à saúde física e mental do usuário. Padrões nocivos de uso são freqüentemente criticados por outras pessoas e estão associados a conseqüências sociais diversas de vários tipos. O fato de um padrão de uso ou uma substância em particular não seja aprovado por outra pessoa, pela cultura ou possa ter levado a conseqüências socialmente negativas, tais como prisão ou brigas conjugais, não é por si mesmo evidência de uso nocivo. A intoxicação aguda ou a "ressaca" não é por si mesma evidência suficiente do dano à saúde requerido para codificar uso nocivo. O uso nocivo não deve ser diagnosticado se a síndrome de dependência, um transtorno psicótico ou outra forma específica de transtorno relacionado ao uso de drogas ou álcool está presente. Indivíduos que fazem uso nocivo não desenvolveram síndrome de abstinência, tampouco tem um padrão diário de consumo, visando a evitar sintomas de mal-estar e desconforto. No entanto, quando usam drogas se comprometem socialmente (acidentes automobilísticos ou de trabalho, brigas, faltas no emprego ou escola no dia seguinte). :: Critérios diagnósticos da dependência A dependência possui sinais e sintomas específicos. Portanto não se fala em intuição, tampouco em achismos quando se identifica alguém com problemas de dependência. De modo geral, há alguma perda do controle sobre o uso, associado com sintomas de abstinência e tolerância. Para evitar o surgimento de tais sintomas, os usuários passam a consumir a substância constantemente e a privilegiar o consumo a outras coisas que antes valorizava. Os sinais e sintomas da dependência serão discutidos de maneira mais detalhada nesta mesma sessão (Dependência), dentro do texto Sinais e sintomas da dependência química (quadro 2).
:: Quadro 2 - Critérios diagnósticos da dependência de substâncias psicoativas A experiência de um desejo incontrolável de consumir uma :: Compulsão para substância. O indivíduo imagina-se incapaz de colocar o consumo barreiras a tal desejo e sempre acaba consumindo. :: Aumento da tolerância
A necessidade de doses crescentes de uma determinada substância psicoativa para alcançar efeitos originalmente obtidos com doses mais baixas.
:: Síndrome de abstinência
O surgimento de sinais e sintomas de intensidade variável quando o consumo de substância psicoativa cessou ou foi reduzido.
:: Alívio ou evitação da abstinência pelo aumento do consumo
O consumo de substâncias psicoativas visando ao alívio dos sintomas de abstinência. Como o indivíduo aprende a detectar os intervalos que separam a manifestação de tais sintomas, passa a consumir a substância preventivamente, a fim de evitá-los.
:: Relevância do consumo
O consumo de uma substância torna-se prioridade, mais importante do que coisas que outrora eram valorizadas pelo indivíduo.
:: Estreitamento ou empobrecimento do repertório
A perda das referências internas e externas que norteiam o consumo. À medida que a dependência avança, as referências voltam-se exclusivamente para o alívio dos sintomas de abstinência, em detrimento do consumo ligado a eventos sociais. Além disso passa a ocorrer em locais onde sua presença é incompatível, como por exemplo o local de trabalho.
O ressurgimento dos comportamentos relacionados ao :: Reinstalação da consumo e dos sintomas de abstinência após um período de síndrome de abstinência. Uma síndrome que levou anos para se dependência desenvolver pode se reinstalar em poucos dias, mesmo o indivíduo tendo atravessado um longo período de abstinência. Baseada nos critérios da dependência química, a Organização Mundial da Saúde (OMS) elaborou suas diretrizes diagnósticas para a síndrome de dependência de substâncias psicoativas (quadro 3).
:: Quadro 3 - Critérios do CID-10 para dependência de substâncias Um diagnóstico definitivo de dependência deve usualmente ser feito somente se três ou mais dos seguintes requisitos tenham sido experenciados ou exibidos em algum momento do ano anterior: A. um forte desejo ou senso de compulsão para consumir a substância; B. dificuldades em controlar o comportamento de consumir a substância em termos de seu início, término e níveis de consumo; C. um estado de abstinência fisiológico quando o uso da substância cessou ou foi reduzido, como evidenciado por: síndrome de abstinência para a substância ou o uso da mesma substância (ou de uma intimamente relacionada) com a intenção de aliviar ou evitar sintomas de abstinência; D. evidência de tolerância, de tal forma que doses crescentes da substância psicoativa são requeridas para alcançar efeitos originalmente produzidos por doses mais baixas; E. abandono progressivo de prazeres e interesses alternativos em favor do uso da substância psicoativa, aumento da quantidade de tempo necessária para se recuperar de seus efeitos; F. persistência no uso da substância, a despeito de evidência clara de conseqüências manifestamente nocivas. Deve-se fazer esforços claros para determinar se o usuário estava realmente consciente da natureza e extensão do dano. :: Critérios de gravidade da dependência química Os critérios diagnósticos de dependência possuem níveis de gravidade distintos para cada caso. Dessa forma, após identificar a presença destes critérios no padrão de consumo de um indivíduo, o segundo passo é determinar sua gravidade. Esta análise é fundamental para individualizar o diagnóstico e coletar subsídios para o tratamento. É importante ressaltar que qualquer diagnóstico deve ser feito por profissional especializado.
Sintomas do Alcoolismo A décima versão da Classificação Internacional das Doenças (CID-10)3 estabeleceu diretrizes diagnósticas para a dependência. O conceito de dependência envolve os seguintes critérios: 1. desejo intenso ou compulsão para ingerir bebidas alcoólicas. 2. tolerância: necessidade de doses crescentes de álcool para atingir o mesmo efeito obtido com doses anteriormente inferiores ou efeito cada vez menor com uma mesma dose da substância;
3. abstinência: síndrome típica e de duração limitada que ocorre quando o uso do álcool é interrompido ou reduzido drasticamente. 4. aumento do tempo empregado em conseguir, consumir ou recuperar-se dos efeitos da substância; abandono progressivo de outros prazeres ou interesses devido ao consumo. 5. desejo de reduzir ou controlar o consumo do álcool com repetidos insucessos. 6. persistência no consumo de álcool mesmo em situações em que o consumo é contraindicado ou apesar de provas evidentes de prejuízos, tais como, lesões hepáticas causadas pelo consumo excessivo de álcool, humor deprimido ou perturbação das funções cognitivas relacionada ao consumo do álcool. De acordo com o CID-10, para que se caracterize dependência, pelo menos três critérios devem estar presentes em qualquer momento durante o ano anterior. Entre os indivíduos dependentes, há diferentes níveis de gravidade que dependerão da presença de sintomas de abstinência e da quantidade e impacto das perdas e prejuízos advindos do uso da substância. Você é a única pessoa que poderá dizer, com certeza, se deve ou não procurar um grupo de ajuda ou um tratamento especializado. Se a resposta for SIM, existem diversas vias, que serão citadas mais adiante que teram satisfação em mostrar-lhe como conseguir parar de beber.
A internação Mesmo que o paciente seja contrário à internação, que pode durar de cinco a 14 dias, a desintoxicação costuma ser completada. Em seguida, vem o período mais determinante: a pós-internação. Segundo especialistas, são necessários pelo menos dois anos de acompanhamento até atingir a estabilidade do quadro. Porém, quando não há vontade do próprio paciente nessa etapa, a desintoxicação pode se tornar inócua. – A efetividade é muito maior quando existe um desejo do paciente. Quando isso não ocorre, o ideal é fazer um trabalho junto à família para que, a partir dela, se produzam mudanças no comportamento e o usuário perceba a necessidade de tratamento e procure ajuda por livre vontade – acredita a psicóloga Loiva De Boni Santos. Uma das estratégias é fazer com que os familiares aprendam a responsabilizar o alcoolista. Hábitos como a superproteção para ajudá-lo na recuperação de uma ressaca, por exemplo, devem ser abolidos. – No caso de um jovem, os pais podem proibi-lo de dirigir o carro. Trata-se de uma forma de responsabilizá-lo pelas suas escolhas que poderá levá-lo a repensar a situação. Porém, é muito importante fazer isso com acompanhamento de profissionais especializados– exemplifica.
Loiva também ressalta que a doença se instala no núcleo familiar, portanto, toda a família precisa de ajuda. Mas, afinal, quando alguém realmente deve ser internado contra a vontade? Para o psiquiatra Pedro Eugênio Ferreira, coordenador do Ambulatório de Dependências Químicas do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), somente em casos bem específicos: risco de suicídio ou de homicídio, de dano significativo ao patrimônio material ou moral. Também é indicado nos casos de psicose alcoólica ou risco de morte por causa da condição. – Em cerca de 75% dos acidentes de trânsito com vítimas fatais e em 80% dos abusos sexuais cometidos por familiares, a motivação é a embriaguez. São casos dramáticos que comprovam que a internação involuntária ou compulsória é necessária e inadiável – diz o psiquiatra.
Alcoólicos Anônimos (AA) ALCOÓLICOS ANÔNIMOS é uma irmandade de homens e mulheres que compartilham suas experiências, forças e esperanças, a fim de resolver seu problema comum e ajudar outros a se recuperarem do alcoolismo. O único requisito para tornar-se membro é o desejo de parar de beber. Para ser membro de A.A. não há taxas ou mensalidades; somos auto-suficientes, graças às nossas próprias contribuições. A.A. não está ligada a nenhuma seita ou religião, nenhum movimento político, nenhuma organização ou instituição; não deseja entrar em qualquer controvérsia; não apóia nem combate quaisquer causas. Nosso propósito primordial é mantermo-nos sóbrios e ajudar outros alcoólicos a alcançar a sobriedade. Contato: Telefone: (11) 3315-9333 -Telefone Nacional Plantão 24hSite: http://www.alcoolicosanonimos.org.br
Narcóticos Anônimos (NA) Narcóticos Anônimos é uma associação comunitária de adictos a drogas em recuperação. Iniciado em meados de1953, o movimento de NA é um dos maiores e mais antigos deste tipo, com aproximadamente quarenta mil reuniões semanais em 130 países. Através das informações disponíveis nas páginas a seguir, pretendemos explicar o que é Narcóticos Anônimos e o que seu programa de recuperação oferece a adictos a drogas.
Vamos descrever como os serviços de NA estão organizados nacional e internacionalmente, falaremos como Narcóticos Anônimos coopera com outros no que diz respeito a abuso de drogas em suas comunidades e, finalmente, vamos fornecer informações sobre afiliação à NA e indicadores do sucesso de Narcóticos Anônimos. Para ter acesso a estas informações clique nos links abaixo. Contato: TELEFONE MG - BELO HORIZONTE (31) 9684-3223 Email:
[email protected] Site: http://www.na.org.br
Depoimentos Ex-Alcoólatra "Sandro Fernandes Poleto" Olá, meu nome é Sandro Fernandes Poleto, atualmente moro no Municipio de Cajamar. Minha decadencia com o alcoolismo começou com a idade de 13 anos, quando meu pai faleceu; Meu pai sendo velado e eu sendo tragado pelo vício, ele no caixão e eu com o copo na mão, começou ai meu martírio. Minha mãe, que sempre tentava me aconselhar, não via caminho pra eu sair do vício, mas um dia quando muito alterado, briguei com ela e com meu irmão mais velho, vim parar na cidade de Cajamar. Três meses após eu estar aqui, ela veio pra cá também; minha mãe é evangélica (prefiro não relatar qual igreja) e me convidou pra congregar com ela, no decorrer do culto, na exortação da palavra, eu me senti muito bem, senti que Deus, através da palavra que era lida e exortada, falava com minha alma. Passados os dias eu senti uma diferença na minha vida e nas minhas atitudes, ja não era mais dominado pelo alcool, podia passar na porta de um bar sem precisar entrar ou "molhar o bico". Desse dia pra cá, me dedico a congregar sempre que posso, e posso dizer: DEUS ME RESGATOU.
Saudades e Felicidade "Jana" Meu marido está nesse momento numa clinica de recuperação. Estou me sentindo muito só muita saudade, mas muito feliz. Pois tenho a certeza que as coisas vão melhorar muito, já estão melhores. Ultimamente meu filho de onze anos, tinha medo da presença do pai, não porque houvesse agressão, e sim por sua aparência,ele só chorava,pedia ajuda, estava em total depressão, sua aparência estava horrível...
Meu pai, meu herói "Bruna" Essa é a história de um homem que venceu na vida! Meu pai veio de família humilde, trabalhou desde os 8 anos de idade como engraxate na praça da Sé para sustentar sua família de 4 irmãos, o pai e a mãe. Sua infância foi simplória, nunca teve brinquedos, nem muitos amigos, sempre foi muito introspectivo. Os anos de escola se passaram e ele começou a trabalhar na polícia e estudar para passar no vestibular.
Dependente escreve depoimento para ajudar seu amigo internado em uma clínica de recuperação. Conheça a Carta de Resgate. Caro amigo(a) em recuperação, Fico imensamente feliz em poder compartilhar o que foi o álcool e as drogas em minha vida. Como entrei nesse mundo, o que vivi e como consegui me recuperar. Deixo aqui um depoimento do que foi minha trajetória diante do álcool e demais drogas. Nunca sabemos quem será um dependente, muitas são as causas do uso freqüente e indiscriminado do álcool: por carências, por falta de auto-estima, por decepções, por falta de coragem em enfrentar o duvidoso; o que pode levar ao vicio, à dependência. Um fator que faz fatalmente a diferença é a existência da carga genética. Vanessa namorada de um dependente químico em recuperação escreve esse depoimento como forma de apoio às famílias que muitas vezes se desesperam no meio do caminho e não sabem como agir. Carta de Amor e Esperança
No mundo não há culpados. Há escolhas, e o livre arbítrio. Mas buscar a sabedoria e a sensatez em um mundo esdrúxulo e sem valores é tarefa árdua. Muitos jovens são vencidos pelo vício, derrotados pelo medo, pela falta de possibilidades, por falta de valores e de fé. Por falta de amor, por falta de escolhas. De repente as verdades em que acreditamos se escoam. Mas quais são as verdades que não podem ser transformadas, quais caminhos não podem ser mudados? Eu acredito na vida, no amor, e acredito na esperança. E é acreditando no ser humano e no amor, que venho superando todas as adversidades, todas as dúvidas, meus medos, e a solidão.
"R" Americana - SP Sofri de depressão e pânico e para diminuir os sintomas comecei a beber. Durante meses tive a falsa impressão que o álcool ajudava, mas quando me dei conta ele piorava meu problema, chegava a passar o dia na cama chorando e me odiando pelo que fazia, e a destruição que a bebida causava não só em mim mas também a minha família, meus filhos principalmente. Eu não tinha vida social e só vegetava, resolvi que tinha que mudar esse quadro horrível e infeliz, foi aí que descobri uma clinica, quando cheguei para a primeira consulta eu era a pessoa mais triste, deprimida e de baixa estima que podem imaginar, mas com tanta assistência profissional que recebi em um dia, descobri coisas incríveis sobre mim mesma que ajudaram a solucionar mistérios que me levavam a beber, e a cada sessão as coisas ficavam mais fáceis, até que quando você conta com profissionais tão qualificados que dão a você assistência 24 horas, todos os dias da semana, faz com que você se sinta seguro e renovado. Esse apoio todo me transformou em outra pessoa, nunca mais bebi e não precisei, não tenho mais depressão, tenho minha vida de volta, sou feliz e vivo bem com minha família e filhos e principalmente estou me amando.
Fontes: Matéria: Os jovens e o álcool -Veículo: Jornal do Comércio – Pg.4 Sites: http://www.alcoolismo.com.br http://scielo.bvs-psi.org.br http://www.redepsi.com.br http://www.na.org.br http://www.mulherdeclasse.com.br/Oalcool_e_a_mocada.htm