Dois Reinos - Completo.pdf

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  • Pages: 1,180
Two Kingdoms Dois Reinos Robert G. Clouse, Richard V. Pierard, Edwin M. Yamauchi Para nossas esposas — Bonnidell, Charlene e Kimie

Sobre os autores Robert G. Clouse (Bacharel em Teologia — Grace Theological Seminary; Mestre e Ph.D. — University of Iowa) é professor de História na Indiana State University. Foi presidente da Conferência Central da Renascença e diretor da Conferência de Fé e História. Seus numerosos artigos foram publicados em The Bulletin of the Evangelical Theological Society, Harvard Theological Review, Grace Journal, Fides et Historia e outros. É co-editor de Protest and Politics: Christianity & Contemporary Affairs e The Cross and the Flag. Contribuiu para The New International Dictionary of the Christian Church, Evangelical Dictionary of Theology, Great Leaders of the Christian Church e Dictionary of Christianity in America. Também trabalhou como editor de The Meaning of the Millennium; War: Four Christian Views; e Wealth & Poverty: Four Christian Views. Richard V. Pierard (Bacharel e Mestre — California State University; Ph.D. — University of Iowa) é professor de História na Indiana State University. É autor (ou co-autor) de Twilight of the Saints, Streams of Civilization II, Bibliography on the Religious Right e Civil Religion and the Presidency. Contribuiu para The New International Dictionary of the Christian Church, Lion Handbook of the History of Christianity, Evangelical Dictionary

of Theology, Great Leaders of the Christian Church e Dictionary of Christianity in America. Foi secretário-tesoureiro da Conferência de Fé e História e presidente da Sociedade Evangélica Teológica. Edwin M. Yamauchi (Mestre e Ph.D. — Brandeis University) é professor de História na Miami University (Ohio) e editor sênior de Christianity Today. Foi presidente da Conferência de Fé e História de 1974 a 1976. Além de inúmeros artigos e críticas em vários periódicos, escreveu mais de uma dúzia de textos de estudo durante um período de vinte e cinco anos, incluindo The Stones and the Scriptures. Pre-Christian Gnosticism, The Scriptures and Archeology, Harper’s World of the New Testament, Foes from the Northern Frontier e Persia and the Bible. Também contribui para mais de trinta e cinco livros e obras de referência, incluindo The New Dictionary of Christian Theology, The Illustrated Bible Dictionary e Great Leaders of the Christian Church.

Conteúdo Lista de ilustrações Créditos Prefácio

Parte 1: A Igreja primitiva e medieval (1-1450 d.C.) 1.

A fundação da Igreja

2.

A Igreja no Estado romano

3.

Desenvolvimento doutrinário da Igreja

4.

A Igreja depois de Constantino

5.

Expansão européia da Igreja

6.

A Igreja sob a monarquia papal

7.

A Igreja medieval no Ocidente

8.

A Igreja medieval no Oriente

Parte 2: A Igreja reformada e reavivada (1300-1789) 9.

O declínio da Igreja medieval

10.

Os impactos da reforma sobre a Igreja

11.

Conflitos religiosos assolam a Europa

12.

A Igreja se expande para além da Europa

13.

Ortodoxia e absolutismo moldam a Igreja

14.

Puritanismo e Pietismo despertam a Igreja

15.

Ciência e Iluminismo desafiam a Igreja

16.

A Igreja mostra vigor renovado

Parte 3: A Igreja global e em progresso (1789 - presente) 17.

A Igreja numa era revolucionária

18.

A Igreja numa era de ideologia

19.

A Igreja numa era industrial

20.

A expansão mundial da Igreja

21.

A Igreja no crepúsculo do Ocidente

22.

A Igreja no mundo dividido pelas guerras

23.

A Igreja como instituição global

Epílogo: Desafios contínuos ao avanço da Igreja Notas Bibliografia

Índice de pessoas

Lista de ilustrações

Capítulo 1 Cronologia Territórios romanos (50 a.C. — 100 d.C.) Igrejas primitivas As viagens missionárias de Paulo

Capítulo 2 Cronologia O Coliseu em Roma Expansão da Igreja primitiva O Mithraeum de Carrawburgh no Muro de Adriano

Capítulo 3 Cronologia Orígenes de Alexandria Lugares dos Patriarcas da Igreja Agostinho de Hipona

Capítulo 4 Cronologia Igreja de Santa Sofia em Constantinopla

A expansão do monasticismo Imperatriz Teodora, esposa de Justiniano

Capítulo 5 Cronologia Cruz celta em frente a uma torre redonda irlandesa Bonifácio, “apóstolo dos germânicos” Missões para a Escandinávia e Europa ocidental

Capítulo 6 Cronologia A dinastia carolíngea A Europa no século 9º A dinastia Hohenstaufen

Capítulo 7 Cronologia As Cruzadas Tomás de Aquino Catedral de Rheims, na França

Capítulo 8 Cronologia Impérios bizantino e carolíngeo A expansão do Cristianismo no Oriente Igreja de São Basílio em Moscou

Capítulo 9 Cronologia Final do papado medieval Moisés de Miquelângelo Basílica de São Pedro em Roma

Capítulo 10 Cronologia Quatro reformadores: Farel, Calvino, Beza e Knox A Reforma Catedral de Mainz na Alemanha

Capítulo 11 Cronologia Soluções para as questões religiosas As guerras religiosas Oliver Cromwell

Capítulo 12 Cronologia Impérios comerciantes dos séculos 16 e 17 Igreja russa ortodoxa de São Miguel em Sitka, Alasca.

Capítulo 13 Cronologia

Pedro o Grande Estados absolutistas na Europa George Frederic Handel

Capítulo 14 Cronologia Francke em Halle, Alemanha O crescimento da Áustria e Prússia-Brandenburg Oposição dos ideais puritanos

Capítulo 15 Cronologia A teoria geocêntrica A Europa em 1715 Adam Smith

Capítulo 16 Cronologia Exemplo da escrita de John Wesley George Whitefield Conde Nikolaus Ludwig Zinzerdorf

Capítulo 17 Cronologia Denominações proeminentes nas treze colônias Hannah More

A seita Clapham

Capítulo 18 Cronologia Timothy Dwight John Nelson Darby Friedrich August Tholuck

Capítulo 19 Cronologia Anthony Ashley Cooper, Sétimo Conde de Shaftesbury Os males da Revolução Industrial William Booth, fundador do Exército da Salvação

Capítulo 20 Cronologia Samuel Crowther Importantes sociedades protestantes missionárias estrangeiras Mary Slessor

Capítulo 21 Cronologia Nicholas I, Czar da Rússia Dwight L. Moody William Jennings Bryan

Capítulo 22 Cronologia Presidente Woodrow Wilson Judeus num gueto em Varsóvia As desonras da guerra

Capítulo 23 Cronologia O Cristianismo como fé global Harold J. Ockenga Desmond Tutu

Créditos Fotos: Divisão de Turismo do Alasca Museu do Centro Billy Graham Revista Christian History Robert G. Clouse Irmãos Loizeaux Edwin Yamauchi

Outros: Figuras - Ron Mazellan Linhas do tempo, quadros e mapas - Mary Ragont

Prefácio

A história da Igreja é empolgante e nunca deixa de encorajar e inspirar os cristãos onde quer que estejam. Isso porque as boas novas do Salvador crucificado e ressurreto não se restringem a uma certa nação ou período. Quando Jesus estava prestes a deixar Seu pequeno grupo de seguidores e voltar para o Seu Pai no céu, disse-lhes que deveriam ir e fazer discípulos de todas as nações. Eles receberiam poder do Espírito Santo para proclamar a mensagem do evangelho, não apenas para pessoas ao seu redor mas também para os confins da terra (Mt 28.19; At 1.8). Isso significou que desde o princípio o Cristianismo teria dimensões globais. Nas páginas seguintes veremos como um movimento de fé que se originou numa parte obscura do poderoso Império Romano cresceu e se espalhou até que seu poder espiritual fosse sentido por todo o mundo. Certamente a história do Cristianismo é marcada por fracassos bem como sucessos. Isso não deve causar surpresa tendo em vista que a Igreja, apesar de instituída por Deus (Mt 16.18), ainda era uma instituição humana e seus líderes e membros viviam em um mundo onde o poder do pecado ainda exercia domínio. A narrativa não irá esquivar-se das falhas e erros dos cristãos, particularmente quando eles tornaram-se prisioneiros da cultura em que viviam, pois isso faz parte da História como um todo. Quando as testemunhas de Deus falharam e tudo parecia estar perdido, outros foram levantados e deram continuidade à obra. Consequentemente, ao encerrar-se o século 20, há mais seguidores de Cristo no mundo do que em qualquer outra época da História. O fato é que, nas áreas em que a fé não havia tido grande impacto sobre a cultura, a Igreja parece estar crescendo mais rapidamente. Falar de dois milênios de história do Cristianismo é uma tarefa intimidante mas cremos que uma nova narrativa dessa história será de grande valor para a geração de crentes que estão entrando no terceiro milênio. Cada um

de nós passou três décadas lecionando História de um ponto de vista global e estamos convencidos de que a Igreja deve ser compreendida desse modo. Também encaramos o conteúdo com nossos próprios compromissos como cristãos e lutamos com as questões da fé e com nossos estudos através do envolvimento com a Conferência sobre Fé e História. Tendo em vista que, em termos práticos, é impossível mencionar em um único volume cada pessoa, idéia e movimento importante na epopéia da Igreja, a necessidade fez com que fôssemos seletivos. Procuramos ser equilibrados na forma como tratamos as várias manifestações de Cristianismo, mas optamos por enfocar alguns de seus aspectos negligenciados. Assim, dedicamos mais espaço à era moderna do que é costume em livros deste tipo enfatizando o envolvimento dos protestantes evangélicos. Demos menos atenção às controvérsias doutrinárias e eclesiásticas e ao desenvolvimento institucional de denominações específicas e, no período moderno, nos concentramos consideravelmente na Igreja fora das regiões anglo-americanas. Fica a cargo do leitor decidir se fomos justos em nossa abordagem. Contudo, quer este concorde ou não com nossas escolhas e ênfases, certamente reconhecerá que a sobrevivência e crescimento da Igreja são um tributo admirável ao poder de Deus no mundo. Afinal, essa é a mensagem implícita do livro. Desejamos mencionar com gratidão a ajuda recebida de Charlene Pierard na preparação dos manuscritos, o constante apoio de nossos editores da Moody Press — Gary Knussman, Joseph O‟Day, Robert Ramey — e nosso editor Gary Thornton. Sem o seu encorajamento e paciência este livro nunca teria se tornado realidade.

Parte 1 A Igreja primitiva e medieval (1 — 1450 d.C.)

Capítulo 1 A fundação da Igreja O mundo nunca viu um regime político tão dinâmico e abrangente quanto o império cujo centro era Roma. Os romanos usavam um sistema de datas baseado no começo de sua comunidade, A.U.C. (ab urbe condita - “da fundação da cidade [de Roma]”). Porém, um monge quase desconhecido, Dionísio Exíguo, substituiu o cálculo romano por um novo método baseado no papel central de Jesus Cristo como aquele que mudou o curso da História. Dali em diante, os cristãos passaram a datar os acontecimento usando os termos a.C. (antes de Cristo) e d.C. (depois de Cristo, ou anno Domini — “no ano de nosso Senhor”). Assim, considera-se que o nascimento de Jesus foi no início do ano 1 e a fundação de Roma no ano 753 a.C. Esse sistema de datas introduzido em 525 d.C. tornou-se aceito no Ocidente e, mais tarde no mundo todo, mesmo que por respeito aos membros de outras religiões, hoje em dia algumas pessoas substituam a.C. por A.E.C. (“antes da era comum”) e d.C. por E.C. (“era comum”). A nosso ver, mais de dezenove séculos mais tarde, é absolutamente notável que um judeu que viveu num canto quase desconhecido do Império

Romano e sofreu uma morte vergonhosa numa cruz, tenha inspirado um movimento que espalhou-se por todo o mundo e transformou inúmeras vidas. Até hoje, os cristãos crêem que Jesus de Nazaré não apenas era o Messias prometido no Antigo Testamento (o “Cristo” ou “Ungido” que traria salvação e livramento para o seu povo) mas também o Filho ressurreto de Deus.

O contexto político (Roma) A fé cristã nasceu num período de transição política. Uma pequena cidade-Estado na Itália que, alguns séculos antes havia se transformado numa república, foi aos poucos espalhando seu poder por todo o mundo mediterrâneo ao massacrar sua rival no norte da África (Cartago) e vencer os estados helênicos sucessores do império de Alexandre o Grande no Oriente. No 1º século a.C. Júlio César surgiu como um político ambicioso e um líder militar implacável. No ano 60 a.C. formou uma aliança secreta (triunvirato) com Crasso, o homem mais rico de Roma e Pompeu, um general jovem porém brilhante. Juntos, Crasso e Pompeu haviam acabado com a revolta de escravos de Espártaco em 71 a.C. e Pompeu havia sido designado para enfrentar Mitrídates, a grande rival de Roma na região oriental do Mediterrâneo. Enquanto estava no Oriente, Pompeu interveio numa disputa entre dois irmãos pelo cargo de sumo sacerdote, entrou em Jerusalém (63 a.C.) e estabeleceu o governo romano sobre a Palestina. A Judéia transformou-se num reino subordinado e foi colocada sob supervisão romana. A fim de obter glória militar, Crasso lançou-se a uma campanha imprudente contra os partianos que resultou em sua morte na batalha de Carrae (Arã) no norte da Mesopotâmia em 53 a.C. Numa brilhante série de campanhas como procônsul da Gália (50-51 a.C.), César ganhou a aclamação pública assustando Pompeu e a maioria do

Senado romano com seu poder cada vez maior. Desafiando a ordem do Senado de deixar as armas, ele cruzou o rio Rubicão na região norte da Itália e marchou para o sul em 49 a.C. fazendo explodir uma guerra civil que terminou com sua vitória em Farsalo, Grécia, no ano seguinte. César perseguiu Pompeu até o Egito onde este último foi morto por ordem do rei Ptolomeu XII. Enquanto estava no Egito, César enamorou-se da lendária rainha Cleópatra, irmã e esposa de Ptolomeu. Grato pela ajuda que havia recebido dos judeus quando estava sitiado em Alexandria (Egito), César concedeu aos judeus privilégios especiais, incluindo a permissão de observar o Sábado, isenção do serviço militar e o direito de enviar ofertas ao Templo em Jerusalém. Quando estava prestes a alcançar a posição de ditador absoluto, César foi assassinado (44 a.C.) e o mundo romano mais uma vez caiu em guerra civil. Dentro de um ano, um segundo triunvirato havia se formado e incluía o herdeiro de César, Otaviano; seu braço direito, Marco Antônio e Lépido, governador da região norte da Itália. Eles derrotaram as forças dos assassinos de César e dividiram entre si o controle do mundo romano. Antônio, que era casado com a irmã de Otaviano e havia recebido a região leste, ficou desesperadamente apaixonado pela beleza de Cleópatra. Divorciou-se de sua esposa, casou-se com a rainha egípcia e declarou o filho dela — ao invés de Otaviano — herdeiro de César. Na guerra que se seguiu, Otaviano derrotou Antônio na famosa batalha naval de Actium em 31 a.C. Antônio e Cléopatra cometeram suicídio no ano seguinte. Com isso, Otaviano viu-se sem opositores e, quando estabeleceu o regime imperial em 27 a.C., o Senado o aclamou como Augusto (“honrado”). Ele tornou-se o primeiro e, não sem controvérsia, o melhor dos imperadores romanos. Com sagacidade, consolidou todos os principais poderes do Estado em

suas mãos e, ao contrário do arrogante César, não deixou de fora os senadores. Foi responsável por muitas medidas de governo sábias e visionárias em relação a Roma e às províncias. Em sua autobiografia gabou-se de ter transformado Roma de uma cidade de tijolos em uma cidade de mármore. A devoção de Augusto, retratada no Altar da Paz que ainda existe nos dias de hoje, resultou na restauração de oitenta templos. Ele também procurou regulamentar padrões morais e encorajar os casamentos e nascimentos e, de acordo com o seu censo, a população da Itália cresceu quinze por cento num período de vinte e dois anos. Foi nessa época que Jesus nasceu em Belém, na Judéia, para onde seus pais tinham viajado por causa de um censo. Mesmo que continuasse a haver guerras esporádicas nas fronteiras, Augusto havia iniciado a era de “paz romana” (Pax Romana). Apesar dos vários ofícios e poderes que havia acumulado tecnicamente não terem como ser passados para um herdeiro, Augusto conseguiu contornar as diversas restrições legais e nomeou seu enteado Tibério como sucessor. Isso marcou a fundação da linhagem Júlio-Claudiana de imperadores. Um soldado competente, que havia defendido a fronteira no meio do Danúbio, Tibério (1437 d.C.) tentou governar o império com cautela e dar continuidade às políticas de Augusto. Seu reino, porém, foi arruinado por uma proliferação de julgamentos de traição. Ao envelhecer, o imperador foi influenciado por seu sinistro chefe da guarda pretoriana — Sejano — que no ano de 26 o persuadiu a aposentar-se em sua luxuosa villa na ilha de Capri. Enquanto isso, Sejano conspirou contra vários membros da família de Tibério, mas foi desmascarado e sumariamente executado em 31. Seu protegido, Pôncio Pilatos, serviu como procurador (governador) da Judéia (26-36 d.C.). Inseguro com a perda de seu patrono e temendo que as

críticas à sua administração resultassem em sua demissão ou coisa pior da parte de Tibério, ele mandou que Jesus de Nazaré fosse crucificado, mais provavelmente em 33. O imperador seguinte, Gaius Calígula (37-41 d.C.) era mentalmente desequilibrado e conhecido por sua extrema crueldade e excessos sexuais. Ele afirmava ser divino e exigia que o adorassem, mas sua tentativa de erigir uma estátua de si mesmo no Templo judeu em Jerusalém não teve sucesso. Assassinado depois de quatro anos de mau governo, Calígula foi sucedido por seu tio Cláudio (41-54 d.C.). Vítima de poliomielite, Cláudio não era levado a sério em Roma, porém mostrou-se um imperador cônscio que expandiu as fronteiras do império e desenvolveu uma burocracia eficiente. Ele indicou homens libertos (ex-escravos) para diversos cargos administrativos, incluindo Palas como secretário do tesouro. Paulo realizou a maior parte de suas atividades missionárias durante o reinado de Cláudio. O apóstolo ficou preso em Cesaréia sob Félix, irmão de Palas e governador da Judéia. Infeliz na sua escolha de esposas, a última mulher de Cláudio, a ambiciosa Agripina, chegou a dar-lhe cogumelos venenosos para que Nero — o filho de um casamento anterior — pudesse sucedê-lo no trono. Nero (54-68 d.C.) começou bem o seu governo sob a orientação do filósofo Sêneca e de Burro, chefe da guarda pretoriana e logo eliminou sua mãe dominadora. Em 64 a capital foi devastada por um incêndio. Mesmo que provavelmente não tenha sido responsável pelo fogo, apesar de acusações de fontes antigas, evitou que a culpa fosse colocada sobre ele. Para isso fez da seita que crescia rapidamente e que era conhecida como “os cristãos” os bodes expiatórios, executando-os em seus jardins. Na perseguição que se seguiu, Paulo e Pedro tornaram-se mártires em Roma.

Um megalomaníaco que construiu a grandiosa Casa Dourada para mostrar as coroas que havia recebido nos Jogos Pan-Helênicos na Grécia e que ergueu uma estátua de 30 metros retratando a si mesmo como Apolo, Nero tornou-se cada vez mais paranóico à medida que via-se cercado de conspirações. Ordenou que Sêneca e seu irmão Gálio (governador de Corinto diante do qual Paulo apareceu) cometessem suicídio, mas a guarda pretoriana e o Senado voltaram-se contra ele e Nero se matou, lamentando seu destino com estas palavras: “Morre um grande artista”. Depois de uma rápida sucessão de três generais e de um ano de luta violenta pelo trono, Vespasiano (69-79 d.C.) saiu vencedor e estabeleceu a linhagem flaviana de imperadores. Competente em seu serviço na Grã-Bretanha sob o comando de Cláudio, ele havia sido orientado por Nero para reprimir a revolta de judeus iniciada em 66. Quando foi aclamado imperador por suas tropas, deixou a cargo de seu filho Tito a tarefa de completar a conquista de Jerusalém. Vespasiano restaurou as finanças públicas, estendeu as fronteiras do império e começou a construção de um imenso anfiteatro público, o Coliseu. O breve reinado de Tito (79-81 d.C.) foi marcado por outro incêndio em Roma, pela conclusão do Coliseu e pela inesperada erupção do monte Vesúvio que soterrou as cidades de Pompéia e Herculano. Tito era bem aceito pelo povo, exceto por seu envolvimento com a princesa herodiana Berenice (At 25.23). Domiciano (81-96 d.C.), o irmão mais novo de Tito, governou como um déspota. Exigia ser chamado de “Senhor e Deus” (Dominus et Deus) e perseguiu tanto cristãos quanto judeus. O reinado de terror de Domiciano, durante o qual João escreveu Apocalipse, foi interrompido por seu assassinato num golpe no palácio.

O contexto religioso (Judaísmo) Durante séculos, depois da destruição dos reinos de Israel e Judá pelos assírios e babilônios, vários povos estrangeiros governaram a região ao sul da Síria conhecida a princípio como “Cananéia” ou “Israel” mas chamada pelos romanos de “Palestina”. Sob o governo assírio, a província de Samaria foi habitada por estrangeiros que trouxeram consigo sua religião pagã. Os exilados que retornaram a Judá — que havia passado a se chamar província da Judéia — e que reconstruíram o Templo, questionavam a pureza racial de seus vizinhos e os dois coexistiam num estado de hostilidade permanente. Os habitantes da Judéia eram chamados de judeus e eram conhecidos por sua rígida observância da fé histórica. Muitos judeus também se espalharam (na Diáspora ou dispersão) por todo o mundo helênico da região leste do Mediterrâneo e o oeste da Ásia. Quatro décadas depois da revolta dos macabeus contra os governadores sírios de Judá no século 2º a.C., estabeleceu-se um reino judeu independente em 128 a.C. pela família hasmonéia de sumo sacerdotes, sob o governo de João Hircano. A fim de proteger sua posição os hasmoneus chegaram a fazer um tratado de aliança com os romanos. Os anos seguintes foram marcados por lutas constantes até que finalmente Pompeu interveio em 63 a.C. para acabar com os conflitos civis. A Judéia tornou-se então um protetorado romano. Na região sul da Judéia havia um povo conhecido como os idumeus. Eles assentaram-se ali depois de terem sido expulsos de suas antiga terra natal de Edom pelos árabes nabateus. Em 126 a.C., os governantes hasmoneus forçaram esse povo a converter-se ao Judaísmo. Antipater, o governador da Iduméia, era fortemente favorável aos romanos e persuadiu os judeus a socorrerem Júlio César no Egito sendo que em troca, César nomeou Antipater procurador da Síria

em 47 a.C. Seu filho Herodes era amigo tanto de César quanto de Antônio e ficou do lado dos romanos contra os partianos. O Senado o nomeou “Rei dos Judeus” em 40 a.C. e o autorizou a governar sobre o reino da Judéia em favor dos interesses de Roma como seu amigo e aliado. Em 37 a.C. Herodes depôs o rei hasmoneu e casou-se com a princesa real num esforço para legitimar seu governo aos olhos do povo judeu, sendo que muitos destes o consideravam um usurpador estrangeiro. Quando Otaviano derrotou Antônio, Herodes mais que depressa transferiu sua lealdade para o vencedor. Normalmente conhecido como Herodes o Grande, ele foi o mais extraordinário construtor da história dos judeus. Reformou completamente o Templo, transformando-o num deslumbrante monumento arquitetônico que ainda estava em construção nos tempos de Jesus (Jo 2.20). Também construiu um magnífico palácio para si, um forte com vista para o Templo que ele chamou de Antônia em homenagem a seu patrono, um porto marítimo de águas profundas no Mediterrâneo chamado de Cesaréia e um assentamento para seus veteranos em Samaria que passou a ser chamada de Sebaste, a palavra grega para Augusto. Um governante extremamente desconfiado e brutal, assassinou a maioria dos principais hasmoneus, incluindo sua própria esposa e vários de seus filhos. Um exemplo da paranóia de Herodes foi seu pânico diante da notícia de que um possível rival (Jesus) havia nascido em Belém e sua ordem para matar todas as crianças pequenas da região. Depois de sua morte em 4 d.C. o reino de Herodes foi dividido entre seus três filhos. Arquelau (mencionado em Mateus 2.22) foi seu sucessor na Judéia e Samaria, mas seu governo foi tão ruim que Augusto respondeu a um pedido formal da aristocracia judaica para tirá-lo de seu cargo e transformar o território

numa província romana. Ela passou a ser administrada por um procurador imperial subordinado ao governador da Síria. Felipe governou sobre a região gentio do nordeste (Lc 3.1) enquanto Antipas herdou a Galiléia e a Peréia (a Transjordânia). Este último ordenou a execução de João Batista a pedido de sua esposa Herodias. Também teve um breve encontro com Jesus quando Herodes o enviou a ele para julgamento. O governo procuratorial foi suspenso entre 41 e 44 d.C. quando foi concedido a Herodes Agripa I, neto de Herodes o Grande — criado em Roma e amigo pessoal tanto de Calígula quanto de Cláudio — o poder de governar sobre um território na Palestina que eqüivalia aproximadamente àquele que pertencera a seu avô. Depois de sua morte súbita registrada em Atos 12.23, foi restaurado o governo procuratorial pois seu filho Agripa II foi considerado jovem demais para governar. Paulo testemunhou diante do jovem Agripa (At 25.23 — 26.32), que procurou evitar que uma revolta de judeus irrompesse em 66 e permaneceu leal a Roma durante esse período difícil. No 1º século depois de Cristo, havia diversas seitas judias importantes. Os mestiços samaritanos da região norte da Judéia eram os mais desprezados. Eles apegavam-se à sua própria versão do Torá (os cinco primeiros livros do Antigo Testamento) e insistiam em prestar culto em seu lugar santo no monte Gerizim (Jo 4.20). Jesus viajou por Samaria onde confrontou a mulher perto do poço e chocou a sensibilidade judaica com sua história sobre um “bom samaritano”. Os cristãos primitivos encontraram nessa região um público receptivo (At 8.4-25). Ainda há em torno de quinhentos samaritanos em Israel nos dias de hoje. Os saduceus afirmavam ser descendentes de Zadoque, o sumo sacerdote nos tempos de Davi e Salomão. A maior parte deles pertencia à famílias aristocráticas que controlavam o ofício de sumo sacerdote. Aceitavam somente a

autoridade do Torá e recusavam-se a acreditar em anjos ou na ressurreição do corpo. O sacerdote principal que condenou Jesus e tentou impedir Pedro de pregar sobre a ressurreição de Cristo era um saduceu. Tendo em vista que sua única razão de existir era o Templo, eles não sobreviveram à destruição de Jerusalém em 70 d.C. Os saduceus eram maioria no Sinédrio, o concílio ou suprema corte dos judeus, composto de setenta homens. Presidido pelo sumo sacerdote, o Sinédrio tinha considerável autoridade para julgar casos religiosos mas a emissão de sentenças de morte exigia uma ação do governador romano. Os fariseus, um grupo bem mais rígido que era minoria no Sinédrio, surgiu durante o governo dos sacerdotes-reis hasmoneus. O nome significa “os separados”. Muitos deles eram escribas — mestres da lei que interpretavam as Escrituras segundo as tradições orais que vinham desde Moisés. Eles procuravam “cercar a Lei por todos os lados”, ou seja, tomavam as precauções mais extremas para evitar qualquer violação da lei, por menor que fosse. Jesus condenou esse zelo excessivo como sendo hipocrisia. Entre os mais devotos mestres da lei que pertenciam ao partido dos fariseus, estava o Rabino Hillel que proferiu a “Regra de Prata” — “Não faças aos outros o que não desejas que te façam” — e Gamaliel, que foi mestre de Saulo de Tarso. Antes de sua conversão, Saulo era um fariseu devoto. Eles estavam dispostos a fazer acordos com os governantes romanos e opor-se aos judeus que lutavam pela liberdade. Depois que a grande revolta foi reprimida, o imperador Vespasiano permitiu que os fariseus abrissem uma escola rabínica em Jâmnia e suas discussões orais, o Mishnah, foram escritas em 200 d.C. Estas discussões e os comentários feitos mais tarde e conhecidos como Gemara formaram o Talmude, o grande repositório de tradições legais que os

judeus ortodoxos até hoje consideram como referência oficial para a fé e a vida. Os essênios, um grupo extremista e separatista, não são mencionados no Novo Testamento mas outras fontes da mesma época descrevem sua vida e crenças. Sua comunidade em Qumram produziu os famosos Papiros do Mar Morto, descobertos em 1947. Apesar de alguns essênios serem casados e viverem em vilarejos, seu mais alto ideal foi alcançado em Qumram, perto do Mar Morto. Os membros dessa comunidade eram celibatários, tinham propriedades comuns a todos, praticavam repetidas imersões em água e comiam juntos. Seu líder, cujo nome é desconhecido e que era chamado de “Mestre da Retidão”, foi perseguido pelo sumo sacerdote. Eles procuravam dois Messias — um sacerdotal da tribo de Levi e um nobre, de Judá. Pensavam estar vivendo os últimos dias antes da guerra final entre os filhos da luz e os filhos das trevas. Não se ouviu mais falar dos essênios depois da destruição de Qumram pelos romanos em 68 d.C. Em 6 d.C. uma pesquisa (censo) para a coleta de impostos romanos provocou uma rebelião liderada por Judas da Galiléia e que não teve sucesso. Ele considerava o pagamento de tributos por Israel para um governante pagão uma traição a Deus. Seus seguidores eram conhecidos como zelotes pois demonstravam zelo para com a lei de Deus. Apesar de, a princípio, seu grupo ser um partido religioso, tornou-se rapidamente também um movimento nacional de resistência. Dois dos filhos de Judas foram crucificados pelo procurador Tibério Alexandre em 46 d.C. e um terceiro filho foi um líder na guerra contra Roma. Um dos doze discípulos de Jesus foi chamado de “zelote” (Lc 6.15). Os inimigos de Jesus que buscavam o apoio de Pilatos para executá-lo alegaram que Jesus afirmava ser um rei. Paulo foi confundido com uma figura messiânica egípcia que havia organizado oposição aos romanos em Jerusalém (At 21.38).

No final da década de 50, radicais zelotes começaram a assassinar judeus que colaboravam com os romanos e as tentativas por parte dos governadores de reprimir aquilo que estava tornando-se um movimento de guerrilha levou à Guerra Judaico-Romana entre 66 e 74 d.C. Mais tarde, uma outra figura messiânica — Simão Bar-Kochba — liderou a segunda revolta de judeus de 132 a 135 que foi reprimida pelo imperador Adriano. Jerusalém foi então transformada na cidade romana de Aelia Capitolina, da qual os judeus foram banidos. Depois desse desastre, líderes judeus perderam a esperança da vinda iminente de um messias que iria livrar o povo da opressão estrangeira e estabelecer um reino de retidão. Tendo em vista que eles não haviam esperado como o Messias por alguém divino, nascido de uma virgem, crucificado e ressurreto, é compreensível que a maioria dos judeus não considerasse Jesus como sendo aquele por quem eles procuravam. Com a destruição do Templo, a sinagoga tornou-se a principal instituição do Judaísmo, o local de reunião para orar e adorar. As sinagogas tiveram sua origem no período pós-exílio e “lugares de oração” já existiam no Egito em 250 a.C. Os evangelhos relatam que Jesus ensinou e realizou milagres nas sinagogas em Nazaré e Cafarnaum. Para formar uma sinagoga era necessário um quorum de dez homens. Este era liderado por um “chefe da sinagoga” como Jairo (Lc 8.41) que trabalhava com um grupo de anciãos. Havia também um “assistente” (hazzan) que cuidava dos rolos com as Escrituras (Lc 4.20). Os cultos na sinagoga incluíam elementos como a recitação da prece Shema (Dt 6.4-9), a oração em posição voltada para Jerusalém, a resposta “Amém” da congregação, a leitura de trechos selecionados dos rolos do Torá (At 15.21), tradução das Escrituras Hebraicas em paráfrases no aramaico, um sermão e uma bênção. Em pé, uma pessoa recitava as “Dezoitos Bênçãos” às

quais no final do 1º século d.C. foi acrescentada uma décima nona, sendo esta a maldição contra os minim ou hereges, em clara alusão aos cristãos. Qualquer pessoa do sexo masculino podia ser chamada para orar ou ler trechos das Escrituras. Em uma ocasião, Jesus leu uma parte do livro do profeta Isaías na sinagoga de Nazaré. Um indivíduo qualificado também podia ser convidado para dar o sermão (ver At 13.15, 42; 14.1; 17.2). Não há evidência de que as primeiras sinagogas tivessem separado os lugares das galerias para as mulheres, como era o caso na Idade Média. Como principal construção da comunidade, a sinagoga era usada para cultos religiosos, para lecionar para crianças e como lugar de julgamento e punição para os que desobedeciam as leis (Mc 13.9; 2Co 11.24). Os apóstatas podiam ser excomungados (Jo 9.22; 12.42). Na Palestina, há restos arqueológicos de mais de cem sinagogas, três das quais construídas no 1º século d.C.

O ministério fundamental de Jesus Há algumas importantes referências extrabíblicas sobre Jesus. O biógrafo romano Suetônio (começo do século 2º) relata que Cláudio expulsou os judeus de Roma “por causa dos tumultos que estes constantemente causavam, sendo instigados pelo Chrestus”. Esta é, provavelmente, uma referência a Cristo. Atos 18.2 faz referência à chegada de Áquila e Priscila em Corinto “pois Cláudio havia ordenado que todos os judeus deixassem Roma”. O historiador Tácito, escrevendo em 115 d.C., descreve como Nero culpou os cristãos pelo incêndio devastador de 64. Relata que “seu nome veio de Cristo, que foi executado por sentença do procurador Pôncio Pilatos no reinado de Tibério”. Plínio o Jovem, governador de Bitínia na região noroeste da Ásia

Menor, escreveu ao imperador Trajano perguntando o que deveria fazer com os cristãos. Seus interrogatórios haviam revelado que eles “estavam se encontrando num dia determinado antes do nascer do sol e recitando um hino em forma de antífona a Cristo como Deus”. Flávio Josefo, o escritor judeu que registrou uma extensa história de seu povo, observa na obra Antigüidade Judaica, de 93 d.C., que o sumo sacerdote Anás “realizou uma sessão judicial do Sinédrio e trouxe perante ele o irmão de Jesus, o chamado Cristo — irmão cujo nome era Tiago — e alguns outros os quais ele condenou de quebrar a lei e os entregou para que fossem apedrejados até a morte”. Em outra passagem mais longa e controversa, na qual estudiosos descobriram que um editor cristão havia mais tarde feito alterações no texto, Josefo tratava de Jesus. As possíveis modificações estão em itálico:

Nesse tempo apareceu Jesus, um homem sábio, se é que deve ser chamado de homem. Pois ele realizava feitos admiráveis, era mestre de pessoas que recebem a verdade com prazer. E ele ganhou seguidores tanto entre judeus como entre muitos de origem grega. Ele era o Messias. E quando Pilatos, por causa de uma acusação feita pelos líderes entre nós, o condenou à cruz, aqueles que antes o amavam não deixaram de fazê-lo. Pois ele apareceu para eles no terceiro dia, novamente vivo, exatamente como os profetas haviam dito destas e outras coisas maravilhosas sobre ele. E até o dia de hoje a tribo de cristãos - assim chamada por causa dele — não desapareceu. (Os Tempos Antigos 18.3.3)

Apesar de sem dúvida saber hebraico bem como grego, Jesus costumava falar em aramaico, um dialeto semita que originara-se na Síria mas havia se tornado língua internacional desde o século 8º antes de Cristo. Ele gentilmente

ressuscitou a filha de Jairo dizendo a ela “ „Talitha koum!’ (que significa, „Menina, eu vos digo, levanta-te!‟)” (Mc 5.41) e realizou a cura de um homem surdo e mudo ordenando “ „Ephphatah!‟ (que quer dizer, „Abre-te!‟)” (Mc 7.34). Na cruz ele exclamou o profundo lamento “ „Eloi, Eloi, lama sabachthani?‟ que significa „Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?‟” (Mc 15.34). Apesar de Jesus saber ler e escrever (Jo 8.6), ele não deixou nenhum material escrito. É possível que os discípulos tenham anotado alguns de seus dizeres, mas a maior parte era transmitida oralmente. Fora dos quatro evangelhos, relativamente poucas citações de Jesus foram preservadas. A mais conhecida é a passagem da Ceia do Senhor em 1 Coríntios 11.23-25. Várias obras apócrifas, como O Evangelho de Tomé, também contém declarações atribuídas a Jesus, mas a Igreja nunca as aceitou como sendo oficiais. Mateus, Marcos, Lucas e João preservam muitos dizeres, mas o escritor de cada evangelho selecionou alguns para um determinado público. Mateus, por exemplo, que cita com freqüência o Antigo Testamento, dirigia-se a um público de judeus cristãos. Muitos estudiosos acham que o evangelho segundo João Marcos, que foi companheiro de Paulo e Pedro (Cl 4.10; 1Pe 5.13), foi escrito aproximadamente uma geração depois da morte de Jesus. Os outros evangelhos sinópticos, Mateus e Lucas, usaram muito de Marcos e de uma fonte comum de dizeres chamada de Quelle (“fonte”). Mateus foi um dos doze primeiros discípulos, enquanto Lucas acompanhou Paulo em suas viagens e escreveu um segundo livro, Atos dos Apóstolos. Tendo em vista que este último termina com Paulo em prisão domiciliar em Roma antes do grande incêndio, provavelmente foi escrito por volta de 62 d.C. Lucas deve ter composto seu evangelho antes dessa data. O evangelho de João foi escrito bem mais tarde, perto do final do 1º

século, pelo apóstolo João ou por um seguidor próximo a ele. Há diversas diferenças entre ele e os sinópticos. João concentra-se no trabalho de Jesus na Galiléia. Nos sinópticos, Jesus ensina através de dizeres e parábolas curtas e repletas de significado; em João ele faz longos discursos. Ele é mostrado como “Filho do Homem” nos sinópticos enquanto João ressalta afirmações de sua divindade e união com o Pai. João também especifica um objetivo evangelístico — convencer os leitores de que Jesus é o Cristo e de que em seu nome podem encontrar vida eterna (Jo 20.31). Apesar de haver eternas “Buscas pelo Jesus Histórico”, muitos fatos básicos sobre ele são indiscutíveis. Ele nasceu em Belém, filho de Maria, cujo esposo era José — sendo ambos da linhagem de Davi — durante o reinado de Herodes o Grande e Augusto. Ao contrário dos evangelhos apócrifos sobre sua infância que surgiram no século 2º (e mais tarde) e que estavam cheios de histórias dos milagres do jovem Jesus, apenas um incidente de sua infância é relatado no Novo Testamento (por Lucas), quando o precoce menino de doze anos separou-se de seus pais e participou de discussões com os mestres no Templo em Jerusalém. Os evangelhos falam dos irmãos e irmãs de Jesus, mas só o nome dos primeiros aparece (Mc 3.31; 6.3; Mt 12.46; 13.55,56). Durante sua vida, eles eram incrédulos quanto a suas afirmações (Jo 7.5), porém mais tarde dois deles tornaram-se seguidores e contribuíram com as epístolas de Tiago e Judas. Tiago, aliás, tornou-se líder da igreja em Jerusalém (At 15) e de acordo com Josefo, foi martirizado em 62. Jesus cresceu em Nazaré, na Galiléia, uma vila tão pouco conhecida que não é mencionada nem no Antigo Testamento, nem por Josefo e nem no Talmude. Seu pai era carpinteiro e, ao que parece, morreu quando Jesus era jovem.

Ele começou seu ministério público no décimo quinto ano do reinado do imperador Tibério, depois de ser batizado no rio Jordão por seu primo João (Batista). Reuniu um grupo de doze discípulos, alguns dos quais eram simples pescadores como João, Tiago, Pedro e André. Em seu grupo ainda havia um detestado coletor de impostos (Mateus) e um antigo Zelote (Simão), certamente um mostruário de contrastes. Durante pelo menos três anos Jesus realizou um ministério itinerante à partir de sua base em Cafarnaum, na margem oeste do mar da Galiléia, mas em três ocasiões registradas em João ele viajou a Jerusalém para o festival da Páscoa. Jesus ensinava que Iavé estava estabelecendo o Reino de Deus e que as pessoas precisavam aceitá-lo como Filho de Deus para que pudessem entrar nesse reino. A consciência de Jesus quanto a seu relacionamento próximo com Deus era caracterizada pelo uso extraordinário que fazia do termo aramaico familiar para pai, “Abba” ao dirigir-se a Deus (Mc 14.36). Trabalhando como enviando de Deus, tinha o poder de reinterpretar a lei de Moisés, curar os enfermos e perdoar pecados. Ele afirmou que a lei deveria ser cumprida não por meros atos externos mas pela pureza interior. Ensinou as pessoas a amar não apenas seus amigos e companheiros judeus, mas também seus inimigos e até os “cães” gentios. Jesus realizou muitos milagres — chamados nos evangelhos de “atos de poder” ou “sinais”. Dentre eles podemos citar quinze curas, cinco exorcismos de demônios, cinco milagres sobre a natureza e a ressurreição de duas pessoas mortas. Estes sinais convenceram os discípulos de seu mandato divino e ganharam muitas pessoas para a causa, mas os descrentes diziam que seus poderes vinham de Belzebu. O fato é que, em seus ensinamentos e atividades, Jesus conseguiu ofender pessoas de todos os grupos de judeus, exceto os

samaritanos. Ao virar as mesas dos cambistas e afugentar os vendedores de pombos nos arredores do templo, ele desafiou a autoridade do sumo sacerdote saduceu. Ao intencionalmente curar num Sábado, criticando a observação estrita da lei ritual pelos fariseus e chamando-os de hipócritas, ele deixou de fora os membros daquela seita. Ao reconhecer como legítima a cobrança de impostos (dai “a César o que é de César” - Mateus 22.21) ele irritou os simpatizantes zelotes. Além disso, pode ter aludido aos essênios no Sermão do Monte quando referiu-se a pessoas que ensinavam que deve-se amar o próximo e odiar os inimigos (Mt 5.43). Ele desencorajou aqueles que o viam como o Messias de acordo com as expectativas populares, ou seja, aquele que iria estabelecer um reino político (Jo 6.15). Na verdade, ele revelou sua identidade messiânica a uns poucos escolhidos, como a mulher de Samaria (Jo 4.26) e os doze, mas numa ocasião mais tarde, nem Pedro podia acreditar que Jesus estava destinado a ser rejeitado pelos líderes religiosos e a uma morte cruel (Mt 16.16-23). Apesar de ter sido aclamado pela multidão que estava em Jerusalém para a Páscoa no dia que mais tarde foi chamado pela Igreja de Domingo de Ramos, a crescente oposição e hostilidade culminaram com a prisão de Jesus, um ato que teve a ajuda de sua traição por um membro de seu círculo íntimo, Judas Iscariotes. Ele foi examinado perante o Sinédrio, que havia se reunido ilegalmente antes do amanhecer na sexta-feira, primeiro por Anás e depois Caifás, o antigo e o então sumo sacerdotes. Quando perguntado diretamente se era o Cristo (Messias), Jesus deu uma resposta sem rodeios: "Eu o sou, e vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo com as nuvens do céu" (Mc 14.62; Dn 7.13). Isso convenceu os líderes religiosos de que ele era um blasfemo, mas quando o entregaram ao governador romano para receber a

pena de morte, eles o acusaram de afirmar que era Rei dos Judeus. O procurador Pôncio Pilatos havia tido muitos problemas com seus súditos judeus e suas relações com eles nem sempre eram das melhores. Ele percebeu que Jesus era inocente e queria libertá-lo, mas os principais sacerdotes pressionaram para que ele fosse morto e a multidão do lado de fora do palácio gritava pedindo a libertação de Barrabás que havia se envolvido numa insurreição armada. Como a essa altura Pilatos estava preocupado com sua própria posição em Roma, relutantemente ordenou a execução de Jesus. Ele foi levado para fora da cidade, para um monte chamado em aramaico de Golgotha (Calvário em latim) ou “lugar da caveira”. Alguns afirmam que a Igreja do Santo Sepulcro foi mais tarde construída nesse lugar. Lá ele sofreu a crucificação, uma forma agonizante de morte no abandono, ladeado por dois ladrões. Porém, pelo fato da morte ter chegado tão rapidamente, os ossos de suas pernas não foram quebrados como aconteceu com os dois homens que estavam ao seu lado. Tendo em vista que era proibido realizar enterros no Sábado, Jesus foi sepultado às pressas num túmulo doado por seu admirador José de Arimatéia antes do sol se pôr. Então, logo cedo no domingo, as mulheres que foram terminar de embalsamar o corpo descobriram que a pedra circular que fechava a entrada estava fora do lugar e o túmulo encontrava-se vazio. Alguns explicaram esse acontecimento intrigante dizendo que seus discípulos haviam roubado o corpo, mas durante os quarenta dias subseqüentes, Jesus apareceu vivo — audível, visível e até mesmo tangivelmente — para seus seguidores em pelo menos dez ocasiões. Como as mulheres na sociedade judaica daqueles dias não eram aceitas como testemunhas legais, é notável que suas primeiras manifestações tenham sido para elas ao invés de apóstolos como Pedro e João.

De acordo com o testemunho de Paulo (1Co 15.3-7), o Salvador ressurreto também apareceu para o desolado Pedro que o havia negado três vezes e tinha voltado ao seu trabalho como pescador, para o seu irmão Tiago e outros quinhentos “irmãos”, sendo que a maioria destes ainda estava viva pelo menos vinte anos depois do ocorrido. Ao invés de desaparecer de cena como os essênios de Qumram, os discípulos de Jesus, inabalavelmente convencidos de sua ressurreição, cresceram em força e número à medida em que pregavam as boas novas de que Jesus era, de fato, o Cristo que havia morrido pelos pecados de todas as pessoas e havia ressuscitado para garantir sua salvação.

A liderança proeminente de Pedro Pedro é o discípulo que aparece de modo mais destacado nos evangelhos e nos primeiros capítulos de Atos. Um pescador da região norte da Galiléia (Mc 1.16-18), ele e seu irmão André eram, a princípio, seguidores de João Batista. Ele era casado (1Co 9.5) e Jesus certa vez curou sua sogra na casa da família em Cafarnaum (Mc 1.29-31). Seu nome era, originalmente, Simão Bar-Jonas, mas Jesus deu-lhe o apelido de “Rocha”, Cepha em aramaico e Petros em grego (Mt 16.18). Juntamente com Tiago e João, os filhos de Zebedeu, Pedro pertencia ao círculo íntimo que testemunhou a ressurreição da filha de Jairo e a transfiguração (Mc 5.37; 9.2). Depois de sua vergonhosa negação quando Jesus foi levado preso, Pedro foi transformado pela aparição do Cristo ressurreto. Quando o poder do Espírito Santo desceu sobre os discípulos no dia de Pentecostes (o festival judaico de Shabuoth, ou “Semanas”), de maneira ousada, ele pregou um sermão que levaria à conversão de três mil pessoas. Pedro e João curaram então um mendigo paralítico perto da entrada do Templo e apesar das ordens do Sinédrio para que

parassem, os apóstolos continuaram a proclamar a ressurreição de Jesus. Quando Ananias e Safira mentiram sobre o quanto haviam dado para a igreja, Pedro expôs o fingimento deles e o casal caiu morto sob o julgamento divino. Ele também ofereceu bênçãos aos samaritanos que haviam aceito o evangelho mas condenou o mágico Simão Magno que desejava comprar o poder do Espírito Santo (essa é a origem do termo medieval “simonia” usado para a compra de um ofício na Igreja). Mais importante ainda, depois de uma relutância inicial em permitir gentios na comunhão cristã, Pedro obedeceu a visão para receber bem a Cornélio, um centurião romano (comandante militar). Porém, mais tarde teve uma breve recaída e se recusou a comer com gentios e por isso foi repreendido por Paulo (Gl 2.11-14). Apesar de sua missão ser, a princípio, com os judeus (Gl 2.7), no Concílio de Jerusalém Pedro apoiou a posição de Paulo de que os gentios deveriam ser aceitos sem antes terem que tornar-se judeus. Devido ao fato das atividades posteriores de Pedro não terem sido registradas em Atos, é difícil reconstruí-las. Alguns cristãos em Corinto declararam que ele era seu cabeça (1Co 3.22). Além disso, é dele o crédito pelas epístolas de 1 e 2 Pedro, provavelmente enviadas de Roma. Mais tarde, dois escritores — Inácio e Eusébio — fizeram referência ao seu martírio em Roma durante as perseguições depois do grande incêndio e admiradores do século 2º ergueram um santuário em sua memória na região do Vaticano. Há, porém, poucas evidências de que ele foi o fundador da Igreja em Roma ou seu primeiro bispo.

A missão de Paulo entre os gentis Sem dúvida o maior missionário e teólogo da Igreja do Novo Testamento

foi Paulo, cujas atividades são relatadas em Atos. Antes chamado de Saulo, ele era da tribo de Benjamim (Fp 3.5), nascido em Tarso, a mais importante cidade da Cilícia, na região sudoeste da Anatólia. Seu pai judeu havia obtido a cidadania romana que automaticamente passou para o filho. Apesar de Tarso ser um centro para o estudo da filosofia grega, é bastante provável que Saulo tenha saído de casa quando ainda era jovem para ser educado pelo famoso rabino Gamaliel em Jerusalém. Lá, tornou-se fariseu e superou seus colegas no zêlo pela lei (Gl 1.14). O primeiro contato registrado de Saulo com a Igreja primitiva foi no apedrejamento de Estevão — o primeiro mártir cristão — onde Saulo era um observador conivente. Assustado com o crescimento do novo movimento, ele tornou-se um dedicado perseguidor e foi responsável pela prisão de homens e mulheres, forçando-os a negar seu Salvador publicamente e até mesmo aprovando sua morte. Mais tarde, arrependeu-se amargamente do papel que teve na perseguição da Igreja (1Co 15.9; Gl 1.23; 1Tm 1.13). Não se contentando em eliminar essa “heresia” da Palestina, Saulo obteve autorização dos sumo sacerdotes para atacar a comunidade cristã em Damasco. Estava tão determinado a levar a cabo sua missão que, ao contrário do que era habitual, viajou durante o calor do dia. No caminho, Saulo foi atingido por uma visão brilhante do Cristo ressuscitado que o repreendeu por sua atitude. Por ter ficado temporariamente cego devido à aparição, Saulo precisou ser guiado por seu companheiro até a cidade. Apesar da maioria dos cristãos o temerem, Ananias obedeceu à ordem do Senhor dada por uma visão dizendo para recebêlo como um irmão. Saulo voltou a enxergar e tornou-se um seguidor tão devoto de Jesus quanto antes ele havia sido um opositor fanático. Depois de sua conversão dramática, Saulo passou três anos na “Arábia”

(provavelmente na região onde hoje é a Jordânia) e em Damasco (Gl 1.17). Fez, então, uma breve visita a Jerusalém e voltou para Tarso. Depois de dez anos, Saulo foi chamado para auxiliar no ministério em Antioquia, a principal cidade no norte da Síria e local onde os crentes foram chamados pela primeira vez de “cristãos” (At 11.26). Acompanhado de Barnabé, ele foi a Jerusalém para ajudar durante a grande fome de 46-47 d.C. A igreja de Antioquia nomeou os dois como missionários e, acompanhados do jovem João Marcos (Cl 4.10), primo de Barnabé, eles partiram para Chipre e para o sul da Anatólia. Pregaram em Salamis e Pafos nos extremos opostos da ilha. Saulo expôs os falsos ensinamentos de um mágico na corte de Sérgio Paulo, o procônsul (governador) de Chipre e ganhou este último para Cristo. Nesse ponto da narrativa, Lucas introduz o nome romano de Saulo, Paulo (At 13.9), um nome em latim que significa “pequeno”. Quando chegaram a Perga, no continente, João Marcos abandonou o grupo (Por causa desse lapso, Paulo recusou-se a levar Marcos consigo na segunda viagem missionária.). Saulo e Barnabé foram para o interior da Galácia e visitaram Antioquia na Pisídia, Icônio, Listra e Derbe. Falando a princípio nas sinagogas, tiveram mais sucesso em ganhar os “tementes a Deus”, gentios que freqüentavam a casa de oração mas ainda não tinham se convertido completamente ao Judaísmo através da circuncisão. Depois de voltar para Antioquia, Paulo aparentemente repreendeu Pedro por desassociar-se dos crentes gentios e escreveu uma carta para os gálatas advertindo-os dos falsos mestres do legalismo que estavam minando o princípio da salvação pela fé em Cristo, independente da lei mosaica. Por causa do grande número de gentios que se haviam voltado para o Cristianismo, seguiu-se uma enorme discussão sobre se deveria também ser exigida sua iniciação ao

Judaísmo através do ritual da circuncisão. Para resolver a questão, um concílio da Igreja reuniu-se em Jerusalém por volta de 50 d.C. Paulo foi apoiado em sua posição por Pedro e Tiago, o líder da igreja local. O concílio decidiu que os gentios deveriam ser aceitos tal como eram, mas foram orientados a abster-se de comida oferecido a ídolos, de comer carne contaminada com sangue e da impureza. Depois de um sério desentendimento, Barnabé e Marcos partiram numa missão para Chipre enquanto Paulo levou Silas (também chamado de Silvano), um cidadão romano de Jerusalém, numa segunda viagem para a Ásia Menor. Enquanto visitavam novamente as igrejas na Galácia, o jovem Timóteo, que era descendente de judeus, juntou-se a eles. Em algum ponto depois que os três chegaram à costa oeste da Anatólia, o médico Lucas tornou-se um membro do grupo. Na cidade de Troas (próxima da antiga Tróia), Paulo recebeu o famoso “chamado macedônio”, uma visão de um homem no norte da Grécia que pedia que ele “viesse ajudá-los”. Logo em seguida eles cruzaram o mar Egeu e foram para Filipo, a maior cidade da região. Encontraram com algumas mulheres judias num lugar de oração e várias delas se converteram. Uma delas, uma rica comerciante de púrpura chamada Lídia, os recebeu em sua casa. Quando Paulo exorcizou uma jovem escrava que estava sendo usada para fazer adivinhações, seus donos incitaram uma multidão contra eles e Paulo e Silas foram lançados na prisão. À meia-noite um terremoto libertou todos os prisioneiros e o carcereiro aterrorizado foi convencido por Paulo a voltar-se para Cristo pela fé. Quando as autoridades ficaram sabendo que eles eram cidadãos romanos, foram libertados imediatamente e receberam permissão para continuar a viagem. Depois de evangelizar em Tessalônica e Beréia, Paulo chegou a Atenas.

Movido pela religiosidade da grande cidade ele pregou o seu famoso sermão para o Concílio do Aerópago na Colunata Real na Ágora (e não no monte Marte como é comum acreditar-se). Os filósofos gregos ouviram com atenção enquanto Paulo declarava para eles a identidade do “Deus Desconhecido” que eles adoravam, mas ficaram ofendidos com sua referência à ressurreição de Jesus, um conceito que os gregos consideravam tanto impossível quanto indesejável. Ele não ganhou muitos convertidos nessa metrópole intelectual. O apóstolo teve bem mais sucesso no grande centro marítimo de Corinto. Lá, trabalhou como fazedor de tendas junto com Priscila e Áquila que haviam recentemente chegado da Itália. Começou a ensinar na sinagoga e converteu algumas pessoas importantes. Isso perturbou a muitos dentro da comunidade dos judeus e ele foi levado perante o tribunal do governador Gálio, irmão de Sêneca. Tendo em vista que Gálio era indiferente quanto às práticas religiosas judaicas, dispensou as queixas contra Paulo. Depois de um ano e meio, Paulo voltou para Jerusalém. A “Terceira Viagem Missionária” passou-se principalmente em Éfeso, a cidade metropolitana da província da Ásia na região oeste da Anatólia. Com uma população em torno de duzentos e cinqüenta mil pessoas, era a quarta maior cidade do mundo romano. Nela encontrava-se uma das Sete Maravilhas do Mundo — o templo de Artêmis, que os romanos chamavam de Diana. O templo, que media aproximadamente 120 por 80 metros, era a maior construção do mundo grego e a primeira desse tamanho a ser feita completamente de mármore. Estátuas de Diana mostram seus seios cobertos por objetos, indicando que ela era uma deusa da fertilidade. O ministério de três anos de Paulo em Éfeso havia sido precedido pelo ministério de Apolo de Alexandria, um orador inteligente e fervoroso. Faltava a

Apolo a compreensão da doutrina cristã básica, mas Priscila e Áquila que a essa altura moravam na cidade, deram-lhe instrução. Durante três anos Paulo ensinou na sinagoga e então durante os dois anos seguintes esteve diariamente na escola de Tirano. Alguns estudiosos acreditam que ele passava as primeiras horas do dia fazendo tendas e durante o meio-dia ia proclamar o evangelho. Ele falava com tamanho entusiasmo que as pessoas deixavam de lado seu costumeiro horário de descanso para ouvi-lo e através dessas palestras públicas é possível que tenha ganho a amizade de oficiais proeminentes que mais tarde o alertaram do perigo (At 19.31). Ele não apenas superou os exorcistas judeus que lançavam suas formulações ocultas numa fogueira (a gramata de Efésios, uma combinação de letras sem sentido, semelhante ao nosso “abracadabra”, que era bastante conhecida na Antigüidade) como também ganhou tantos pagãos para Cristo que chegou a afetar os negócios lucrativos dos ourives que faziam estátuas de Artêmis. Seu líder incitou uma multidão a protestar contra o trabalho missionário de Paulo e foi somente com grande dificuldade que as autoridades locais conseguiram dispersar o povo. Durante sua estadia em Éfeso em 56 d.C. Paulo escreveu 1 Coríntios e enquanto viajava pela Grécia mais tarde naquele ano, escreveu 2 Coríntios. Em Corinto, escreveu sua magnífica epístola aos Romanos, que foi entregue por uma diaconisa chamada Febe. Nessa carta ele desenvolveu sua teologia da salvação pela graça por meio da fé em Cristo tanto para judeus quanto para gentios. Em seguida, voltou para a Palestina com uma oferta que havia juntado das igrejas gregas para ajudar os cristãos pobres na Judéia. Apesar do profeta Ágabo ter advertido Paulo dos perigos que o aguardavam em Jerusalém, ele foi assim mesmo. Para demonstrar que, de fato,

não era um apóstata do Judaísmo, Paulo concordou em acompanhar alguns nazireus até o Templo e pagar por seus sacrifícios. Porém, espalhou-se um boato de que ele estava trazendo um gentio para dentro da área que era reservada apenas para judeus, o que causou um tumulto. A parte interna do Templo era separada de uma outra área aberta para os não-judeus por uma parede de mais de um metro que continha o ameaçador aviso de que qualquer gentio que entrasse naquele local cercado estaria colocando sua vida em perigo. A intervenção oportuna das tropas romanas do forte de Antônia salvou Paulo de um linchamento. Ele pediu, então, uma chance de explicar a situação em aramaico, o dialeto do povo, mas seu discurso enraiveceu tanto a multidão que o capitão teve que colocá-lo sob custódia para protegê-lo. Ele estava prestes a açoitar o prisioneiro (o açoitamento era usado durante interrogatórios) mas parou quando Paulo revelou sua cidadania romana. Seguiu-se uma audiência conturbada perante o Sinédrio, onde Paulo afirmou que, como fariseu ele estava sendo questionado sobre sua crença na ressurreição. Quando o comandante romano ficou sabendo de uma conspiração para assassinar Paulo, levou-o sob guarda armada para Cesaréia, no litoral. Lá, um advogado dos líderes judeus o acusou perante o procurador. Alguns dias mais tarde, Paulo apresentou o evangelho a Félix e sua esposa judia Drusila — irmã de Herodes Agripa II — de forma tão eloqüente que o governador “estremeceu”. Porém, Félix estava mais interessado na possibilidade de receber um suborno do que na mensagem de retidão e deixou que Paulo sofresse na prisão durante dois anos (d.C. 57-59). Quando Festo, o novo governador, encontrou-se com as autoridades dos judeus, foi imediatamente confrontado com o caso. Ele recebeu bem o desejo de Herodes Agripa II e sua irmã Berenice de ouvir a defesa de Paulo. O rei

reconheceu que as acusações contra ele eram infundadas mas rejeitou a mensagem do evangelho: “Por pouco me persuades a me fazer cristão” (At 26.28). Porém, ao se dar conta de que não havia esperanças do caso ser recusado, Paulo aproveitou seu direito legal como cidadão de apelar diretamente à corte de Nero e Festo o enviou a Roma. Tendo em vista que o inverno se aproximava, o navio no qual Paulo e dois companheiros estavam viajando foi pego numa enorme tempestade e naufragou na praia de Malta, ao sul da Sicília. Paulo, que já havia sobrevivido a outros três naufrágios (2Co 11.25), persuadiu os soldados a não matar os prisioneiros que estavam no navio, garantindo que nenhum deles iria escapar. Na primavera, Paulo e sua escolta seguiram viagem até Roma onde ele foi colocado sob prisão domiciliar. Apesar de estar acorrentado a um membro da guarda pretoriana, tinha liberdade de receber visitas, incluindo uma delegação das sinagogas. O livro de Atos termina com o apóstolo preso em Roma, um período que pode ter durado até dois anos, de 60 a 62 d.C. Durante esse tempo, Paulo compôs as epístolas da prisão — Filipenses, Filemon, Colossenses e Efésios. Supõe-se que foi libertado porque seus acusadores de Jerusalém não chegaram a tempo ou então não conseguiram apresentar um caso convincente. Apesar de não haver nenhuma evidência direta, ao que parece ele visitou novamente as igrejas na Macedônia e na Ásia Menor e é possível que tenha até mesmo viajado para a Espanha (Rm 15.24). Durante esse tempo, Paulo escreveu suas epístolas pastorais — 1 e 2 Timóteo e Tito. Fontes cristãs posteriores sugerem que foi perto do final do reinado de Nero que Paulo sofreu o martírio, misericordiosamente pela espada, como cidadão romano, e não através da crucificação.

Outros judeus cristãos O último dos doze apóstolos a falecer foi João, a quem Irineu atribuiu o evangelho, as três cartas e o livro de Apocalipse. Acredita-se que tenha sido bispo de Éfeso e que seu exílio na ilha de Patmos (Ap 1.9) aparentemente tenha ocorrido durante a perseguição no reinado de Domiciano. Assim, Apocalipse reflete as tensões daquela época. Nem todos os judeus cristãos ficaram contentes com a solução de Paulo para o problema dos crentes gentios. Na Galácia, seus opositores eram os “judaizantes” que insistiam na importância da circuncisão. Indivíduos desse grupo mais tarde escreveram obras apócrifas como O Evangelho dos Nazarenos, O Evangelho Segundo Hebreus e O Evangelho dos Ebionitas, que são citados pelos Patriarcas da Igreja. Os ebionitas (literalmente “os pobres”) são mencionados por Irineu e Orígenes. Eram judeus que aceitavam Jesus como o Messias ao mesmo tempo que continuavam a afirmar que Paulo era um apóstata da lei, negavam o nascimento virginal, praticavam a circuncisão, observavam o Sábado, a Páscoa e outras festas judaicas. Vários outros grupos judaico-cristãos menores, como os elcasaítas, sobreviveram a leste do Jordão até o século 5º.

Como funcionava a Igreja primitiva Os cristãos da Palestina — quase todos judeus — ainda iam ao Templo até sua destruição em 70 d.C. Também freqüentavam as sinagogas, apesar de que mais para o fim do 1º século foram expulsos da maior parte das congregações e, como mencionamos anteriormente, uma maldição sobre os “hereges” foi incluída nas orações diárias. Tendo em vista que os cristãos se encontravam regularmente no primeiro dia da semana, isso os diferenciava dos

judeus que se congregavam no Sábado. Ao contrário das várias purificações que os judeus praticavam em seus miqvaoth (banhos rituais), o batismo cristão tornou-se um rito de iniciação. Além disso, os cristãos não tinham uma casta sacerdotal (kohanim), mas assim como os judeus, escolhiam “presbíteros” (presbyteroy) ou “supervisores” (episcopoi) que presidiam suas congregações. As reclamações dos judeusgregos de Jerusalém de que suas viúvas sofriam discriminação quando era distribuída a comida levaram à seleção de sete homens como diáconos (diakonai ou “servidores”) para cuidar das necessidades físicas dos crentes (At 6). Dois deles — o mártir Estevão e Filipe — que evangelizavam em Samaria e converteram o tesoureiro do distante reino de Meroé na Núbia, eram pregadores eloqüentes. Algumas mulheres, como Febe, serviam como diaconisas e viúvas mais idosas que eram sustentadas pela igreja participavam de vários ministérios sociais (1Tm 5.9,10). Apesar da maior parte dos cristãos ser de origem humilde, havia algumas exceções dignas de menção. Erasto, o diretor de obras públicas, desempenhava um papel-chave na comunidade de Corinto (Rm 16.23; 2Tm 4.20). Em Corinto arqueólogos também escavaram algumas casas grandes (que obviamente pertenciam a pessoas de posses) que podem ser parecidas com aquelas que eram usadas para as reuniões da igreja, apesar de provavelmente terem capacidade de abrigar apenas quarenta ou cinqüenta crentes. Na verdade, durante grande parte de três séculos, os cristãos reuniam-se em casas e não em construções públicas. A evidência arqueológica de uma construção desse tipo é a “Casa de São Pedro”, próxima da sinagoga em Cafarnaum. Uma estrutura bizantina posterior com uma forma hexagonal marcava o local da Igreja primitiva, que era feita de pedras de basalto e

pavimentada com pedras arredondadas. Dentro dela, pesquisadores encontraram objetos de barro, moedas e anzóis. O tipo de piso de pedra ilustra como podia-se perder uma moeda entra as fendas (Lc 15.8). As paredes não tinham como suportar um telhado de alvenaria, mas somente um feito de galhos, palha e terra (ver Mc 2.1-12; Lc 5.18-26). Mais para o final do 1º século, as paredes e o piso da sala principal foram rebocados, refletindo a transformação da casa em igreja.

Durante seu breve tempo de vida Jesus conseguiu confundir e ofender vários grupos judeus. Quando foi morto, seus seguidores desesperaram-se e foi só sua forte convicção posterior de que ele havia ressuscitado que os inspirou a desafiar a perseguição e propagar o evangelho tanto para judeus quanto gentios. Dentre os missionários, o que mais se destacou foi Paulo, que antes havia sido o mais fanático dos perseguidores. Num esforço incansável, ele espalhou a mensagem cristã por toda a Ásia Menor e Grécia. Suas cartas profundas juntamente com os quatro evangelhos que retratam a vida e os ensinamentos de Cristo, constituem o cerne do Novo Testamento. A crença dos judeus cristãos de que o Messias tinha vindo e triunfado sobre a morte fez com que fossem capazes não apenas de sobreviver ao tumulto da revolta judia e à destruição do Templo de Jerusalém, como também de disseminar o evangelho por todo o mundo mediterrâneo. Sua decisão crítica de que os gentios deveriam fazer parte da comunhão sem antes exigir que se tornassem judeus garantiu que o Cristianismo não seria apenas mais uma seita judaica, mas sim uma fé universal relevante a todas as pessoas. Já no final do 1º século, os cristãos eram gentios em sua maioria.

2 A Igreja no Estado romano

À medida que os cristãos propagaram as boas novas de salvação, encararam imensos obstáculos, incluindo uma sociedade pagã hostil, grupos religiosos rivais e perseguições esporádicas por parte das autoridades civis. Apesar dessas barreiras, sua fé resistiu ao desafio das heresias divisoras e espalhou-se rapidamente por todo o Império Romano no 2º e 3º séculos. Com a adesão do imperador Constantino ao Cristianismo em 312 d.C., a natureza das relações entre Estado e Igreja mudou drasticamente em relação ao que tinha sido até então.

As religiões de mistério e o culto imperial Como a religião tradicional greco-romana não conseguiu satisfazer a fome espiritual das massas, várias das chamadas religiões de mistério vindas do Oriente encontraram aceitação no mundo romano. Elas funcionavam como sociedades secretas fechadas, cujos membros eram cuidadosamente escolhidos e iniciados. Cada uma atraía um diferente segmento da sociedade. Um dos primeiros mistérios a entrar em Roma foi o culto à Magna Mater ou “Grande Mãe”, Cibele, da Ásia Menor e cujas origens remontam à Idade da Pedra. Em 204 a.C., durante a invasão de Aníbal à Itália, desesperados, os Romanos importaram Cibele como objeto de adoração, homenageando-a com um templo no monte Palatino. Porém, foi só um século depois que os próprios cidadão romanos passaram a ser aceitos dentro da seita. Cibele tinha um amante chamado Átis que era infiel a ela. Sedenta de vingança, ele o levou à loucura de modo que ele acabou se castrando. Por causa disso, era exigido que os sacerdotes de Cibele fossem eunucos (Os comentários severos de Paulo sobre os “judaizantes” em Filipenses 3.2 podem ser uma referência a esse ato de castração.).

Um ritual sangrento do culto a Cibele era o taurobolium. Nele um iniciante ficava em pé dentro de um buraco enquanto um touro era abatido sobre ele, encharcando-o num banho de sangue. Suas festividades incluíam uma procissão de sacerdotes que se flagelavam ao som de tambores e címbalos enquanto pranteavam a morte de Átis. Durante o 2º século, a idéia de ressurreição foi introduzida nessa seita, talvez como um reflexo do impacto do Cristianismo. Outra religião de mistério era uma versão atualizada do culto a Ísis-Osíris. Para unir seus súditos, Ptolomeu I do Egito (323-285 a.C.) substituiu Osíris por um deus greco-egípcio híbrido — Serápis — que serviu como novo consorte da divindade feminina Ísis. Ela tornou-se popular rapidamente no mundo grecoromano e, por volta de 150 a.C., essa era uma das seitas mais praticadas em Atenas. Dentro de outros cinqüenta anos já havia entrado na Itália. Durante um século as autoridades romanas tentaram reprimir a seita, mas Calígula a favoreceu chegando até mesmo a construir um grande templo a Ísis e Serápis no Campo de Marte. Domiciano e Cômodo foram outros imperadores que homenagearam a deusa. Os coloridos rituais de origem egípcia incluíam procissões com sacerdotes de cabeça raspada vestindo linho branco e sacerdotisas chacoalhando sistros. O culto a Ísis atraía especialmente as mulheres. A principal religião de mistério da Síria era o culto à deusa Atargatis da cidade de Hierápolis (Bambice) no rio Eufrates. Assim como os sacerdotes de Átis, seus ministros também eram eunucos. Notoriamente, eram mendigos que se flagelavam para chamar a atenção e receber esmolas. Nero tinha uma certa consideração pelos ritos dessa deusa síria e Alexandre Severo construiu um templo para ela em Roma.

Outra religião de mistério digna de observação era promovida por Júlia Domna, esposa de Sétimo Severo. Ela era filha do sumo sacerdote do deus-sol adorado em Emesa (Homs) na Síria. Quando seu sobrinho-neto Elagabalo tornou-se imperador, ele elevou o deus-sol de sua cidade natal à posição de divindade suprema do império. Porém, foi tão desprezado que seu deus não gozou de muito favor, mas meio século depois Aureliano reintroduziu o deus de Emesa como sol invictus ou “Sol Invencível”. Ele construiu um magnífico templo em Roma e o aniversário do deus era celebrado no dia 25 de dezembro, logo depois do solstício de inverno. O mitraísmo, que girava em torno da deusa persa Mitras, era o mais forte rival do Cristianismo. O primeiro contato entre os romanos e os adoradores de Mitras foi resultado da conquista de Pompeu sobre os piratas da Cilícia em 6765 a.C., mas o mitraísmo só foi se desenvolver como religião de mistério 150 anos mais tarde. Os santuários do mitraísmo eram mithraea, pequenas construções semelhantes a cavernas. É possível que houvesse centenas deles na capital. Em alguns lugares, como em São Clemente e Santa Prisca, em Roma, santuários mitraicos e igrejas conviviam lado a lado. Em cada santuário mitraico havia uma tauroctonia, um relevo entalhado de Mitras esfaqueando o touro. Pelo fato de apenas uns poucos textos mitraicos terem sobrevivido, os estudiosos não tem certeza de qual é o significado exato desse feito. Mitras normalmente aparece junto de duas figuras, Cautes e Cautopates, que representam o nascer e o pôr do sol. Como alguns desses relevos são acompanhados de signos do Zodíaco, é possível que a tauroctonia tivesse significado astrológico. Os iniciantes, que eram todos homens, passavam por sete graus que correspondiam aos cinco planetas conhecidos, ao sol e à lua. No começo do 2º século, o mitraísmo havia se espalhado entre os mercadores e

soldados romanos, especialmente em áreas mais remotas do império como a Grã-Bretanha, a Alemanha e o Danúbio. O elemento religioso que ameaçou mais diretamente a sobrevivência do Cristianismo foi o culto imperial ou “adoração ao imperador”. Suas origens estão na declaração feita por Augusto e pelo Senado de que, depois de seu assassinato em 44 a.C., Júlio César passava a ser “divino”. Como imperador, porém, Augusto desencorajava honrarias divinas para si mesmo em Roma, aceitando-as porém quando vinham do Oriente, onde Herodes o Grande construiu templos para ele em Cesaréia e Sebaste. Quando Agripa criou o Panteão em Roma, Augusto se recusou a tê-lo dedicado como um templo a si mesmo. Foi somente após sua morte que o Senado o deificou. Tibério proibiu a deificação de sua mãe, a imperatriz Lívia e o Senado, que o considerava um imperador perverso, também lhe negou essa honra. O cruel Calígula, porém, não apenas exigia as honrarias divinas para si mas chegou até mesmo a deificar sua irmã Drusila quando ela faleceu. Cláudio não se entusiasmava com honrarias divinas mas concordou em aceitar um templo em sua homenagem na recém-conquistada província da Grã-Bretanha como sinal de lealdade política. O vaidoso Nero ordenou que se erigisse uma estátua gigantesca de Apolo Hélio com seu próprio semblante, mas recusou a construção de um templo para Divus Nero (“Nero divino”). Comentou que: “Um chefe de Estado não recebe a honra de um deus até que tenha cessado de estar entre os homens”, mas quando de sua morte o Senado lhe negou essa honra. Vespasiano, que era considerado um bom imperador, brincou quando estava morrendo: “Ó céus! Devo estar me transformando em um deus”. Tito, seu filho, querido pelo povo e cujo breve reinado foi interrompido por uma doença, foi depois da morte elevado a

divindade por seu irmão Domiciano. Alguns estudiosos acreditam que Domiciano, que exigia que as pessoas o chamassem de “Senhor e Deus”, pode ter perseguido os cristãos pois estes se recusavam a reconhecer sua divindade. Alguns também afirmam que o contexto de Apocalipse 13 era a instauração do culto a Domiciano em Éfeso, que incluía uma enorme estátua dele. O culto imperial tinha tanto significado político quanto religioso. Em todas as províncias era organizado por magistrados civis como uma instituição que refletia a lealdade a Roma. Os cidadãos abastados da Ásia Menor que cuidavam dos centros de culto eram chamados de Asiarcas (At 19.31). Por volta de setenta templos e santuários foram erigidos por toda essa província em homenagem ao imperador. Apesar de, em muitos aspectos, os imperadores serem tratados como deuses, não há evidências de que qualquer oração fosse oferecida a eles pedindo a cura de doenças. Os cristãos que estavam bastante dispostos a proferir preces pelo imperador (1Tm 2.2) e obedecer as autoridades romanas (Rm 13.1-2; 1Pe 2.17), não estavam, porém, prontos a fazer sacrifícios ao imperador. Os judeus também haviam assumido essa posição, mas sua fé era tolerada como religio licita (“religião reconhecida”) nacional. A nova seita de cristãos, que logo passou a incluir muitos grupos étnicos, era suspeita de ser uma sociedade secreta imoral. Aqueles que se recusavam a fazer sacrifícios para o imperador eram considerados culpados de traição e julgados nesses termos.

Perseguição romana e mártires cristãos As primeiras perseguições aos cristãos partiram de autoridades judias na palestina. O primeiro mártir registrado nas Escrituras foi o diácono Estevão (At 6 — 7), apedrejado por uma multidão, possivelmente em 36 d.C. O próximo foi

Tiago — filho de Zebedeu e um dos doze apóstolos — morto por Herodes Agripa I em 44 (At 12). De acordo com Josefo e Eusébio, Tiago, o irmão de Jesus e líder da igreja de Jerusalém foi apedrejado como resultado da instigação do sumo sacerdote em 62, logo depois da morte do governador Festo. A expulsão dos judeus de Roma ordenada por Cláudio e registrada por Suetônio pode ter sido resultado de um tumulto causado por cristãos judeus que estavam pregando sobre Cristo nas sinagogas. Nero queria fazer dos cristãos os bodes expiatórios do incêndio na capital em 64 d.C. Suetônio declarou laconicamente: “O castigo foi infligido sobre os cristãos, uma classe de homens dados a superstições maldosas”. A descrição vívida feita por Tácito da brutalidade de Nero vem há séculos mexendo com a imaginação:

Consequentemente, para livrar-se da delação, Nero colocou a culpa e infligiu as mais terríveis torturas sobre uma classe odiada por suas abominações, chamada pelo populacho de cristãos. Christus, do qual o nome é originado, sofreu a pena capital durante o reinado de Pôncio Pilatos... Além de sua morte, houve zombarias de todo o tipo. Cobertos por peles de animais, eles foram rasgados por cães e pereceram, ou pregados a cruzes, ou condenados pelo fogo e queimados, para servir de iluminação noturna quando a luz do dia havia expirado. Nero ofereceu seus jardins para o espetáculo.1

Uma fonte cristã mais recente (Sulpício Severo) relata: “Naquele tempo, Paulo e Pedro foram condenados a morte, sendo o primeiro decapitado com a espada enquanto Pedro sofreu a crucificação”. Algumas tradições populares, porém, não tem fundamento histórico. Uma delas é de que Pedro estava fugindo de Roma para evitar a perseguição de Nero e encontrou Jesus na Via Ápia. Ele disse: “Aonde vais, Senhor?” (Quo vadis domine?) Jesus respondeu: “Vou a

Roma para ser crucificado novamente”. Foi então que o apóstolo voltou à capital para encontrar-se com seu destino. Uma outra lenda afirma que Pedro pediu para ser crucificado de cabeça para baixo. Eusébio indica que, por volta do ano de 95, Domiciano baniu muitos cristãos de Roma, inclusive sua sobrinha Flávia Domitila. Clemêncio, marido de Domitila e primo do imperador, foi executado por “ateísmo”, que na época significava a conversão ao Judaísmo. Só alguns séculos depois é que surgiu a idéia de que Clemêncio era cristão. Outra evidência indireta de perseguição sob o governo desse imperador foi a expulsão de João de Patmos (Ap 1.9) e alguns comentários em I Clemente. A carta do governador romano Plínio para Trajano (cerca de 112 d.C.) contém uma referência explícita à perseguição. Ele pediu conselho ao imperador sobre se deveria tomar medidas contra aqueles que eram acusados de serem cristãos, tendo em vista que ele próprio não estava certo se “o simples nome de cristão” era uma ofensa punível. Em todos os casos, ele acreditava que a “teimosia e obstinação inabalável” desse povo deveriam ser punidas. Ele também relatou que havia usado de tortura para interrogar “duas escravas, que eles chamam de diaconisas”, para saber mais sobre as práticas cristãs. Por algum motivo desconhecido, Inácio, bispo de Antioquia, foi para Roma durante o reinado de Trajano e lá sofreu o martírio. Seu amigo próximo, Policarpo, mais tarde também foi martirizado em Esmirna depois de recusar-se a negar a Cristo com estas memoráveis palavras: “Oitenta e seis anos eu O servi e Ele não me fez mal algum. Como posso, então, blasfemar contra meu Rei que me salvou?” A base legal para a perseguição dos cristãos ainda é assunto de debate entre os estudiosos. Em várias ocasiões eles foram acusados de “traição”,

“crimes”, “atos vergonhosos” e “obstinação”. O preconceito e a falta de compreensão alimentavam vários rumores populares. Os cristãos que se recusavam a tomar parte nas cerimônias e atividades pagãs eram suspeitos de serem desleais e anti-sociais. Por tratarem uns aos outros como “irmãos” e “irmãs” e encontrarem-se em segredo, eram acusados de imoralidade. Referências feitas na Ceia do Senhor sobre comer o corpo e beber do sangue de Cristo davam origem a suspeitas de canibalismo. Justino Mártir foi morto durante o governo do imperador estóico Marco Aurélio, enquanto o heroísmo dos mártires em Viena e Lião no sudeste da Gália (França) em 177 d.C. é um dos grandes episódios da história do Cristianismo. Eusébio descreve como quarenta e oito cristãos foram mortos nos anfiteatros, incluindo a escrava Blandina que foi chifrada por um touro, diante de multidões pagãs sedentas de sangue. Marco Aurélio desdenhosamente chamou esses mártires de tolos obstinados. Seu filho Cômodo era um imperador farrista que se divertia com jogos de gladiadores e deixou os cristãos em paz. Porém, uma dúzia deles foi executada pelo governador da Sília no norte da África em 180 d.C. e muitos cristãos foram mortos na província da Ásia. É possível que estes últimos fossem montanistas tendo em vista que esse grupo tinha um zelo especial em procurar o martírio. Em 202, cinco foram mortos em Cartago, sendo as mais conhecidas dentre eles Perpétua — uma mãe que ainda amamentava — e sua escrava Felícitas. O diário de Perpétua, que registrou as visões que Deus enviou para encorajá-la, era especialmente apreciado entre os montanistas, tendo em vista que enfatizavam a importância de revelações diretas pelo Espírito Santo. Leônidas, pai do conhecido estudioso Orígenes, foi morto em Alexandria em 202. O filho desejava muito juntar-se ao pai, mas sua mãe frustrou a

tentativa ao esconder suas roupas. Mais tarde, em 206, oito dos alunos de Orígenes foram mortos. Em 211 um soldado cristão foi executado ao recusar-se a usar uma coroa de louros por estar associada ao paganismo. Tertuliano, que elogiou o exemplo desse mártir militar, desencorajou os cristãos a servirem no exército já que isso poderia levá-los a ter que aceitar práticas pagãs. A primeira tentativa sistemática de eliminar o Cristianismo por todo o império ocorreu em 250 sob o governo de Décio, um dos efêmeros “Imperadores de Quartel”. Ele exigiu que todos fizessem oferendas em honra a ele próprio e proferissem juramentos pela fortuna dele como demonstração de sua lealdade. As pessoas tinham que obter um libelo, um documento que atestava que haviam feito um sacrifício. Aqueles que se recusassem a participar desse ritual civil e religioso encaravam duras conseqüências. Vários bispos foram executados, inclusive Fabiano de Roma, Alexandre de Jerusalém e Bábilos de Antioquia. Outro foram encarcerados, como Dionísio de Alexandria; Orígenes morreu depois de ser submetido a tortura em 251. Durante essa época, literalmente centenas de pessoas foram martirizadas por causa de sua fé. Cipriano, bispo de Cartago, descreve em seus escritos os problemas gerados pelas perseguições. Para seu desespero, amedrontada, a maioria dos cristãos abandonava a fé e oferecia sacrifícios para se proteger. O próprio Cipriano se escondeu e justificou esse ato referindo-se ao conselho de Jesus para fugir (Mt 10.23). Alguns cediam ao comprar libelos sem ter na verdade feito os sacrifícios. Depois do falecimento de Décio, os líderes da Igreja assumiram posições diferentes em relação àqueles que fraquejavam. Novaciano um antipapa de Roma, adotou a postura mais rigorosa e excluiu todos aqueles que haviam negado a fé. Porém, Cipriano e Cornélio, os bispos de Roma concordaram em

aceitar de volta à comunhão aqueles que haviam comprado libelos depois da devida demonstração de arrependimento, enquanto aqueles que haviam de fato realizado sacrifícios só seriam readmitidos em seu leito de morte. Alguns anos mais tarde, Valeriano redigiu uma série de éditos voltados para os líderes da Igreja. Esses éditos exilavam bispos, proibiam todos os encontros de cristãos e legalizavam a demissão de servos cristãos da casa imperial, sendo estes banidos para trabalhar em propriedades imperiais. Um dos resultados foi a execução dos bispos Cipriano e Sisto II de Roma. A perseguição final ocorreu sob o governo de Diocleciano, o último grande imperador pagão antes de Constantino. Diocleciano e seu assistente Galério ofenderam-se com cristãos que fizeram o sinal da cruz justamente quando sacerdotes pagãos procuravam prever o futuro ao olhar as entranhas de animais sacrificados. Assim, ele lançou quatro éditos, cada um mais severo que o anterior. De acordo com Eusébio, “uma carta imperial foi promulgada por toda a parte, ordenando a destruição das igrejas e a queima das Escrituras”. 2 Aqueles que distribuíam as Escrituras ou outros objetos sagrados eram conhecidos como traditores (traidores). Líderes da Igreja foram presos e pressionados a fazer sacrifícios para o imperador. Somente na cidade de Nicomédia, duzentos e sessenta e oito cristãos foram executados. Um segundo édito ordenava a prisão do alto clero enquanto um terceiro édito lhes oferecia a anistia caso eles fizessem sacrifícios. O quarto ordenava todos os cristãos a fazerem sacrifícios ou enfrentar a pena de morte ou trabalho forçado. A perseguição cessou quando Diocleciano se aposentou em 305. Galério admitiu que essa política havia fracassado e lançou um édito de tolerância em 311, enquanto sofria de uma terrível doença que certos membros da Igreja da época interpretaram como sendo castigo divino. Dois anos mais tarde,

Constantino deu fim a era de perseguição com um decreto: “Nosso propósito é dar tanto aos cristãos como a todos os outros a autoridade de seguir qualquer tipo de adoração que cada um deseje”.

A expansão da Igreja e sua crescente influência Depois que os romanos destruíram o Templo e grande parte de Jerusalém no ano 70 d.C. e em seguida a transformaram numa cidade pagã logo após a segunda revolta dos judeus em 135, eles a declararam local proibido para judeus e, por conseguinte, também para judeus cristãos. Com a posição de Jerusalém gravemente enfraquecida, os cristãos desenvolveram novos centros em outros lugares. Um dos primeiros a surgir foi Antioquia, no oeste da Síria, onde os discípulos receberam pela primeira vez o nome de “cristãos” (At 11.26). A uns duzentos e quarenta quilômetros a noroeste de Antioquia ficava a importante cidade comercial de Edessa (hoje chamada de Urfa). Ela foi tomada pelos romanos em 116 d.C. e completamente incorporada ao império em 216. Quando foi que o Cristianismo chegou, de fato, ao leste da Síria ainda é uma questão amplamente discutida pois as fontes de informações são bastante tardias e de confiabilidade duvidosa. Uma lenda afirma que um discípulo de Jesus realizou a evangelização de Edessa, mas o primeiro rei cristão foi Abgar IX que governou no final do 2º século. A obra do 6º século, Crônica de Edessa, registra que em 201 uma igreja lá foi destruída por uma enchente. É de acordo geral que Edessa foi a primeira cidade-Estado autônoma que, como tal, adotou o Cristianismo. Os livros apócrifos Evangelho de Tomé e Atos de Tomé podem ter sido escritos em Edessa no 2º ou 3º século. O primeiro é importante por seu caráter extremamente ascético e o segundo, por seu retrato docético de Jesus. O

Cristianismo na Síria era conhecido por sua atitude negativa em relação ao casamento e à procriação. O próprio discípulo Tomé teve uma interessante carreira lendária. Apesar de um escritor afirmar que ele foi enterrado em Edessa, outros dizem que ele levou o evangelho a Pártia (Pérsia) ou que ele chegou até a Índia e lá foi martirizado. Sabe-se ao certo que o Cristianismo na Pérsia usava a língua siríaca. Além disso, por causa das lutas com Roma que estavam ocorrendo naquela época, os persas perseguiam os cristãos, considerando-os aliados de seus inimigos no Ocidente. O Cristianismo chegou à Armênia, a região montanhosa do leste do Mar Negro, no 3º século quando Gregório, o Iluminador (cerca de 240-332), ganhou o rei Tirídates para Cristo em 301. Assim, a Armênia foi a primeira nação que, como tal, tornou-se cristã. Existem até hoje manuscritos bíblicos importantes e composições cristãs na distinta escrita armênia. Os estudiosos não sabem dizer com precisão quando o Cristianismo chegou ao Egito, apesar de possivelmente ter sido levado por convertidos judeus. A tradição de que Marcos fundou o Cristianismo lá é tão tardia (de Eusébio, no 4º século) que muitos duvidam de sua validade. A idéia antes amplamente aceita de que a principal forma de Cristianismo primitivo no Egito era heterodoxa foi refutada pelos documentos em papiros encontrados lá há poucos anos. Dos quatorze papiros cristãos que foram datados como sendo anteriores ao ano 200, só um deles, um fragmento grego do Evangelho de Tomé de Oxirinco foi considerado não-ortodoxo. O primeiro convertido do Sudão (Núbia ou região do Alto Nilo) foi o conhecido “eunuco etíope” evangelizado por Felipe (At 8.26-40), tesoureiro da rainha Candace do reino de Meroé. Conforme seu uso por gregos e romanos, o termo etíope significava “negro” (literalmente “queimado de sol”). Infelizmente,

não há nenhum vestígio textual ou arqueológico do Cristianismo ao sul do Egito antes do 4º século. Nessa época, ele foi levado à corte de Axum — um reino na região leste da Etiópia dos dias de hoje — por Frumêncio de Tiro. O rei Ezana (320-60), que converteu-se ao Cristianismo, introduziu-o então no Vale do Nilo. Cirene, na Líbia, possuía uma forte comunidade judaica e alguns cirineus também tinham uma sinagoga em Jerusalém (At 6.9). Dentre os primeiros convertidos cirineus estava Simão, que carregou a cruz (Mc 15.21) e seus filhos Alexandre e Rufo (Rm 16.13) que não apenas ajudaram a evangelizar a Antioquia (At 11.20) como talvez também sua terra natal. É provável que tenha sido de Cirene que o evangelho espalhou-se para a Tripolitânia na região oeste da Líbia e de lá para Cartago na Tunísia. Cartago, originalmente uma colônia fenícia e depois a capital da África Proconsular, era um importante posto remoto da civilização romana. Não se sabe ao certo quando o Cristianismo chegou a essa metrópole, mas a cidade vizinha de Sila foi, desde cedo, palco de vários martírios. Tertuliano, o primeiro importante porta-voz do Cristianismo em latim, atuou na cidade por volta do ano 200. O mais antigo bispo conhecido de Cartago, Agripino, reuniu um conselho nessa cidade em 220 para considerar o novo batismo dos hereges recuperados. O bispo mais conhecido da cidade, Cipriano, pastoreou seu rebanho em meio à perseguição de Décio e teve um papel importante nas controvérsias sobre a readmissão dos desviados. Oitenta e sete bispos de toda a parte oeste da região norte da África compareceram a um concílio no ano de 256. No final do 2º século, a fé já havia se espalhado para a Alemanha, tendo em vista que há relatos de cristãos em Mainz por volta do ano 200. Na metade do 3º século havia bispos em Trier (a capital dessa província romana) e Colônia. Materno, um bispo desta última cidade, compareceu aos concílios de Roma

(313) e Arles (314). Além disso, é possível que nessa época houvesse bispos em Mainz e Augsburg. O Cristianismo foi levado para a região sudeste da Gália (França) a partir da Ásia Menor, onde as igrejas em Viena e Lião, no vale do Rio Reno eram especialmente ativas. Eusébio registra que as notícias do martírio de cinqüenta crentes em 177 d.C. foram transmitidas através de uma carta aos “irmãos das províncias da Ásia e Frígia”. Irineu, um dos que tinha vindo do Oriente, foi sucessor do mártir Pótino como bispo de Lião. Na metade do 3º século, bispos haviam se estabelecido em Arles, Viena, Toulouse, Reims e Paris. Havia dezesseis bispos da Gália no Concílio de Arles. Mesmo que tanto o Novo Testamento (Rm 15.24, 28) quanto Clemente de Roma sugiram que Paulo pode ter ido à Espanha, os cristãos espanhóis afirmam há muito tempo que seu país foi evangelizado pelo apóstolo Tiago. Apesar de suas relíquias serem veneradas no famoso santuário de Santiago de Compostela (Santiago e San Diego são formas no espanhol para São Tiago), essa lenda só tornou-se conhecida no 8º século. A primeira grande assembléia de cristãos na Espanha foi o Concílio de Elvira (por volta de 305), que estabeleceu regras rigorosas de penitência para várias infrações e exigiu o celibato do clero. Além disso, Hósio, bispo de Córdoba, foi um influente conselheiro do imperador Constantino. Uma lenda popular na Grã-Bretanha afirma que José de Arimatéia levou o Santo Graal (o copo usado na Última Ceia) para a ilha. Diz-se que uma árvore de espinhos no mosteiro de Glastonbury brotou dos espinhos da coroa de Jesus, que também foi trazida por José. As declarações de Tertuliano e Orígenes são mais realistas ao declarar que o Cristianismo chegou à Grã-Bretanha em sua época (começo do 3º século). Houve três mártires da Grã-Bretanha na

perseguição de Décio e cinco bretões participaram do Concílio de Arles. Há extensas evidências arqueológicas da presença cristã na Grã-Bretanha datadas do 4º século. No tempo da ascensão de Constantino ao poder, entre cinco e quinze por cento da população do império havia se tornado cristã. No ano de 325 (quando ocorreu o famoso concílio de Nicéia) os cristãos eram maioria na Ásia Menor, Trace, Chipre, Edessa e Armênia. Eram um importante segmento da população na Síria, Grécia, Itália, Egito, África Proconsular, Numídia (Algéria) e no sul da Gália, mas pouco representativos na Arábia, Mauritânia (Marrocos), Tripolitânia, na costa do Mar Negro, norte da Gália, Grã-Bretanha, Alemanha e região do Danúbio.

A organização da Igreja Uma vez que os primeiros discípulos eram judeus, eles visitavam o Templo em Jerusalém e continuaram freqüentando as sinagogas até que foram expulsos. Os apóstolos e outros mestres, dotados pelo Espírito Santo com uma diversidade de talentos, compunham a liderança. Os diáconos e diaconisas eram escolhidos para cuidar de assuntos quotidianos como a distribuição de comida. Não havia um sacerdócio formal pois todos os crentes constituíam um “sacerdócio sagrado” (1Pe 2.9), cujo sumo-sacerdote era Jesus exaltado. Seus sacrifícios eram uma liturgia espiritual (Rm 12.1) que envolvia ofertas de louvor e boas obras (Hb 13.15,16). Com o tempo, começaram a fazer-se distinções entre os leigos (do grego Laos, “povo”) e os clérigos ordenados e desenvolveu-se uma estratificação dentro da Igreja. No final do 1º século, Clemente de Roma introduziu o termo “leigos” e Clemente de Alexandria foi o primeiro a usar a palavra “clero” (tirada

da palavra grega kleros ou “destino”) para referir-se a indivíduos que exerciam um ministério permanente na Igreja. Durante os primeiros séculos, persistiu o ideal bíblico de sacerdócio dos crentes. Tertuliano escreveu: “Não somos nós, leigos, também sacerdotes?” Orígenes disse “Ou não sabeis que para vós também, ou seja, para toda a Igreja de Deus e povo dos crentes, lhes foi dado o sacerdócio? "3 Mas a realidade era muito diferente. Orígenes reclamou que os bispos das grandes cidades se recusavam a permitir que “até mesmo os mais nobres dos discípulos de Jesus” falassem. O próprio Orígenes criou uma controvérsia e tanto quando os bispos da Palestina pediram que ele falasse em igrejas quando ainda não era ordenado. Com o passar do tempo, a distância entre os dois grupos cresceu e o Concílio de Cartago (398) acabou proibindo formalmente os leigos de ensinar na presença de clérigos sem que estes últimos dessem seu consentimento. Os diáconos ofereciam uma série de serviços nos primeiros séculos. Distribuíam a ceia, ajudavam nos batismos, organizavam os lugares nas reuniões e supervisionavam os bens da Igreja. Os diáconos também eram responsáveis pelos enterros e encarregados dos cemitérios e ainda serviam de assistentes do bispo. As diaconisas como Febe (Rm 16.1; 1Tm 3.11) tinham um papel vital na Igreja primitiva. Elas auxiliavam no batismo das mulheres e ministravam às mulheres enfermas. As Constituições Apostólicas (4º século) requeriam que as diaconisas fossem virgens ou viúvas que tivessem se casado apenas uma vez e que fossem ordenadas pelo bispo. Em geral, as viúvas ocupavam uma posição semelhante à das diaconisas. Paulo aconselhou as mais jovens a se casarem novamente (1Tm 5.14), enquanto as mais velhas (normalmente com mais de sessenta anos) deveriam receber assistência da igreja, desde que fossem de bom caráter e tivessem praticado boas obras. Orígenes declarou que em sua época a

“ordem das viúvas” era considerada uma parte da hierarquia eclesiástica. Elas cuidavam dos enfermos e evangelizavam as mulheres pagãs. O leitor (aquele que lia as Escrituras durante a liturgia) foi mencionado pela primeira vez por Tertuliano. Na metade do século eles já eram considerados uma ordem definida, normalmente o primeiro estágio na hierarquia clerical. De acordo com a Ordem Apostólica da Igreja (de cerca do ano 300) “Uma pessoa deve ser apontada para leitor depois de ter sido cuidadosamente provado... que ela é capaz de interpretar de maneira clara, tendo em mente que assume o cargo de um evangelista”. No 4º século, o leitor lia de outras partes das Escrituras, mas os diáconos ou alto clero liam o evangelho. Além dos leitores, outras ordens do baixo clero incluíam os acolitas, exorcistas e sub-diáconos. Na metade do 3º século, de acordo com uma carta citada por Eusébio, os seguintes clérigos estavam servindo em Roma: um bispo, quarenta e seis presbíteros, sete diáconos, sete sub-diáconos, quarenta e dois acolitas e cinqüenta e dois exorcistas, leitores e porteiros. A palavra grega presbyteros, transliterada como “presbítero” significava um homem de mais idade (Em inglês, a palavra “priest” — sacerdote — é derivada de uma antiga contração saxônica de presbítero para prester ou priester). No Novo Testamento, os presbíteros da igreja constituíam a liderança coletiva de uma igreja local (At 11.30; 15.6; 1Tm 5.17). Pedro considerava-se um presbítero (1Pe 5.1). Textos cristãos primitivos como a Epístola de Policarpo indicam que havia diversos presbíteros encarregados de uma congregação. A importante igreja de Alexandria era liderada por doze presbíteros. No Novo Testamento, a palavra episcopos, traduzida como “bispo” ou “supervisor” era simplesmente um outro termo para presbítero (At 20.17, 28; Fp 1.1). Clemente testificou que esse também era o caso em Roma no final do 1º

século. Porém, algumas décadas mais tarde em Antioquia, Inácio introduziu o “monoepiscopado” que fazia distinção entre os presbíteros e um único “bispo” que presidia sobre eles. Esse padrão de ministério dividido em três partes (diáconos e presbíteros sob um único bispo numa cidade) já era prevalecente na maioria das igrejas urbanas na metade do 2º século. Os presbíteros serviam como uma junta de conselheiros para o bispo. Com o tempo, começaram a formar-se sub-congregações (paróquias) além da própria igreja do bispo. O local da igreja do bispo passou a ser conhecido como “catedral” pois era lá que ficava sua cadeira (cathedra em latim). Nas diversas igrejas locais os presbíteros, que começaram a ser chamados de “sacerdotes”, foram designados para “celebrar” ou seja, exercer atividades como a Eucaristia (Ceia do Senhor). O bispo gradativamente assumiu a maior parte das funções de pregação e ensino na Igreja. Hipólito (3º século) relata que somente o bispo tinha o poder de ordenar sacerdotes/presbíteros, apesar da congregação ter que ratificar as escolhas que ele fazia. Em Alexandria, os doze presbíteros que lideravam ali elegeram um novo bispo dentre pessoas de seu próprio nível. A aprovação da congregação era necessária para a seleção de um novo bispo, mas era preciso que houvesse a presença de três bispos para que um fosse ordenado. O bispo que liderava uma província era conhecido como “bispo metropolitano”. Os mais influentes eram aqueles da Cesaréia na Palestina, de Antioquia, Alexandria, Roma e (depois de 330) Constantinopla. A tradição Católica Romana mais recente afirma que Pedro foi o fundador e primeiro bispo da Igreja em Roma. Lançando mão da autoridade escriturística dada a ele em Mateus 16.18, a Igreja medieval considerava Pedro e seus sucessores em Roma os “papas” (da palavra latina papa, “pai”) ou pontífices (do latim Pontifex Maximus, o mais alto “construtor de pontes” ou sacerdote). A

mais antiga lista de bispos de Roma, compilada por Irineu, contém o nome de Pedro e dois sucessores obscuros, Lino e Anacleto, bem como o primeiro bispo claramente oficializado, Clemente (91-101 d.C.) que é conhecido através de uma epístola aos coríntios. Uma importante controvérsia sobre autoridade ocorreu quase no final do 2º século, quando Vítor I (189-98 d.C.), um africano que foi o primeiro bispo claramente latino de Roma, ameaçou cortar a comunhão com os cristãos da Ásia Menor por causa da controvérsia Quartodecimana. Os asiáticos seguiam a prática judaica e ligavam a data da Páscoa com a saída do Egito, que caía no dia quatorze (do latim, quartodeciman) de Nisan. Tendo em vista que essa data vinha do calendário lunar, muitas vezes a Páscoa não era observada no domingo. A Igreja romana insistia que, como Jesus havia ressuscitado no primeiro dia da semana, a Páscoa deveria sempre cair no domingo. Irineu de Lião, apesar de concordar com a prática romana, interveio para conseguir que houvesse paz entre as duas comunidades ao persuadir o pontífice romano a permitir que os asiáticos continuassem com sua prática divergente. Pelo fato dos “papas” nem sempre serem exemplos de virtude, muitas pessoas questionavam sua autoridade. Hipólito, por exemplo, criticou duramente o bispo Severino (198-217 d.C.) por ser desinstruído e avarento e acusou Calisto (217-22) de erro teológico e disciplina frouxa:

Ele declarou que, se um bispo é culpado de qualquer pecado, mesmo um pecado mortal, não deve ser deposto. Em seu tempo, homens que haviam se casado duas, três vezes começaram a ser ordenados para o ofício clerical como bispos, sacerdotes e diáconos. Porém, se também qualquer um sob as santas ordens viesse a se casar, Calisto permitia que continuasse nas santas ordens como se não tivesse pecado.4

Hipólito também atacou Urbano I (222-30) e Pontiano (230-35), mas então o imperador Maximino Trácio exilou tanto ele quanto Pontiano nas minas da Sardenha. Sob condições desanimadoras os dois se reconciliaram e Hipólito pediu aos que o apoiavam que aceitassem e reconhecessem a liderança da Igreja romana. Outro conflito ocorreu durante o bispado de Cornélio (252-53). Ele era a favor da readmissão daqueles que haviam se desviado durante a perseguição de Décio, mas Novaciano e seus seguidores de linha dura da Espanha até a Mesopotâmia opuseram-se violentamente à sua restauração. Na metade do 3º século, Cipriano de Cartago apelou para o bispo de Roma para confirmar algumas de suas decisões. Seu tratado Sobre a Unidade da Igreja Universal (251) fala da “cadeira de Pedro” e enfatiza o papel do bispado romano como ponto central da unidade da Igreja. Sua frase mais memorável é “Não se pode ter a Deus como pai se não se tem a Igreja como mãe”. Ainda assim, Cipriano discordava completamente do Bispo Estevão (254-57) na questão do batismo. Este último reconhecia os batismos realizados pelos novacianos e até mesmo pelos marcionitas, enquanto para Cipriano tais ritos eram totalmente inválidos.

Os ataques pagãos e os apologistas cristãos Romanos como Suetônio e Tácito viam o Cristianismo como uma “superstição maldosa”. Os cristãos eram suspeitos de ateísmo, deslealdade, imoralidade e canibalismo. Numa obra do 3º século intitulada O Otávio, numa conversa entre um cristão e um pagão, o escritor norte-africano Minúcio Félix coloca algumas dessas acusações na boca do porta-voz pagão, Cecílio:

Tendo juntado da ralé mais baixa do povo alguns homens ignorantes e mulheres

crédulas sempre prontos a acreditar em qualquer coisa, eles formaram uma turba de conspiradores ímpios; em suas reuniões noturnas, jejuns solenes e refeições bárbaras o laço de união entre eles não é nada de teor sagrado, mas sim o crime. É um povo que fica à espreita na escuridão e aparta-se da luz, são silenciosos em público e falantes pelos cantos; desprezam nossos templos e túmulos, insultam nossos deuses, ridicularizam nossas cerimônias e, estando eles próprias precisando de piedade, se permitidos, afirmaram apiedar-se de nossos sacerdotes; eles próprios seminus, com desprezo recusam ofícios e dignidade.5

Ele acrescentou também: “Mais uma vez, dizer que um homem que sofreu a pena capital por um crime e o madeiro da cruz são objetos de sua veneração, é dar altares adequados para miseráveis abandonados e afirmar que eles adoram aquilo que merecem adorar”.6 Até mesmo um homem culto como Fronto, tutor de Marco Aurélio, afirmava que os cristãos eram culpados de imoralidade durante seus banquetes. O satirista Luciano fez gozações dos cristãos ingênuos que demonstravam generosidade até mesmo com charlatães. Os ataques ponderados de Celso e Porfírio foram mais sérios. Celso, que já foi chamado de “Voltaire do 2º século”, escreveu A Verdadeira Doutrina em 178 d.C. Apesar do original não ter sobrevivido, a maior parte do seu conteúdo foi registrada em Contra Celsum de Orígenes, escrito aproximadamente setenta anos depois. Celso ridicularizou o Deus do Antigo Testamento como sendo de caráter antropomórfico blasfemo, enquanto seu próprio conceito de divindade era de um ser desapaixonado e imutável que existia além da esfera do pensamento humano. Para Celso, o ensinamento sobre a encarnação era particularmente uma afronta. Ele não apenas negou que as profecias do Antigo Testamento haviam se cumprido em Jesus, mas também repetiu a calúnia (também encontrada no Talmude) de que Jesus era filho ilegítimo de um soldado

romano. Celso insistia que Jesus era, na realidade, um feiticeiro perverso que havia aprendido seu ofício no Egito e que realizava milagres através da magia. Quanto à ressurreição, as testemunhas desse acontecimento não eram confiáveis e, de maneira alguma, corpos que haviam se decomposto podiam voltar a viver. Celso também descreveu os cristãos como sendo um povo ignorante que fugia de suas responsabilidades públicas. Porfírio, que nasceu em Tiro em 233, era um crítico mais erudito. Alguns acham possível que ele tenha sido um cristão na sua mocidade. Foi colega de estudos de Orígenes de Alexandria e então mudou-se para Roma onde tornou-se o principal seguidor de Plotino, o renomado neo-platonista. A obra de Porfírio Contra os Cristãos, que o próprio Constantino ordenou que fosse queimada, foi refutada por Eusébio, Jerônimo e Agostinho. Ele acusava Orígenes de fazer uso de alegorias para disfarçar as dificuldades do Antigo Testamento e, assim como os críticos liberais modernistas da Bíblia, afirmava que o livro de Daniel era uma profecia escrita depois dos acontecimentos e apontava para aparentes discrepâncias nos quatro evangelhos. Ele sugeriu que ou Jesus estava bêbado quando repreendeu Pedro como sendo Satanás ou devia estar sonhando quando deu as chaves do reino para uma pessoa como ele. Apesar de Jesus ter sido um homem sábio, não deveria ter ficado apreensivo no Jardim do Getsêmani e nem calado diante de seus acusadores. Se ele, de fato, havia ressuscitado dos mortos, deveria ter se mostrado para Pilatos e para o sumo sacerdote ao invés de aparecer para humildes mulheres. Porfírio também perguntou “O que foi feito das inúmeras almas, que de modo algum podem ser culpadas, se aquele no qual elas deveriam acreditar ainda não havia aparecido em meio a humanidade?” Felizmente, a comunidade cristã primitiva possuía um grupo de instruídos e articulados porta-vozes em favor da fé conhecidos como “Apologistas” (do

grego apologia, “defesa”). Estes, refutavam tanto os conceitos populares errôneos como também as objeções ao Cristianismo apresentadas por estudiosos. De acordo com Eusébio, em 125 d.C., Quadrato e Aristides apresentaram ao imperador Adriano alguns livros defendendo o Cristianismo. Em suas obras, Aristides dividia a humanidade em quatro nações — bárbaros, gregos, judeus e cristãos. Mostrava então a insensatez dos deuses adorados pelos bárbaros (caldeus e egípcios) e pelos gregos, louvava os judeus por seu monoteísmo e moralidade e argumentava em favor da superioridade do Cristianismo. Não se sabe se Adriano leu essas apologias, mas ele mandou um documento para seu governador Fundano instruindo-o a receber acusações contra os cristãos somente se eles tivessem desobedecido alguma lei específica. Sem dúvida, o mais importante apologista foi Justino Mártir. Nascido de pais gentios na Samaria, Justino buscou a verdade através de diversas filosofias antes de encontrá-la em Cristo. Ele é lembrado como o primeiro pensador cristão que procurou reconciliar as afirmações da fé e da razão, o que pode ser visto em suas duas apologias e em seu diálogo com Trifo, um judeu. A extensa obra Primeira Apologia (cerca de 155 d.C.) de Justino, dedicada ao imperador Antônio Pio e seus dois filhos adotivos, defendia a fé de vários ataques pagãos. Ele argumentava que o Cristianismo não era uma novidade, mas sim o cumprimento das profecias do Antigo Testamento, que eram mais antigas que as filosofias gregas. As muitas citações dessas filosofias revelavam seu pleno conhecimento de Eurípides, Xenofonte e especialmente Platão. Aqui, Justino apresentou uma doutrina do Logos (a Palavra) possibilitando que ele reconhecesse a existência da revelação parcial da verdade em pensadores como Sócrates que havia vivido antes da vinda de Cristo, o

Logos completo. Todas as pessoas compartilhavam da Palavra “generativa”, mas o Cristianismo era o único sistema de crença racional. Os mitos pagãos e as religiões de mistério que se assemelhavam ao Cristianismo eram falsificações demoníacas. Trifo era um sobrevivente judeu da Guerra de Bar Koshba. Em algum momento depois de 135 d.C. ele encontrou-se com Justino em Éfeso e o questionou sobre a fé cristã. Justino almejava ganhar Trifo ao expor-lhe as profecias do Antigo Testamento e citar prenúncios da cruz em objetos naturais. Trifo ouviu com interesse mas objetou dizendo que não podia aceitar como sendo o Messias um homem supostamente divino que havia sido crucificado como um criminoso. Mais tarde, depois de mudar-se para Roma, Justino escreveu uma obra mais curta, a Segunda Apologia para protestar contra um caso específico de injustiça contra os cristãos naquela cidade. Por volta de 165, ele e outras seis pessoas foram condenados por recusar-se a fazer sacrifícios para o imperador, recebendo assim o nome de Justino “Mártir”. Um de seus alunos foi o sírio Tatiano, que é mais conhecido por sua obra Diatessaron, um tratado sobre os quatro evangelhos. Em Discurso aos Gregos ele “disse adeus à arrogância dos romanos e ao contra-senso dos atenienses” ao repetir histórias escandalosas sobre os filósofos gregos e denegrir as estátuas eróticas e obras literárias dos gregos. Ele então contrastou tudo isso com a pureza divina do Cristianismo. A obra Súplica em Favor do Cristianismo de Atenágoras era dirigida a Marco Aurélio e Cômodo no final dos anos 170. Ele refutava as acusações de ateísmo mostrando que certos filósofos gregos também haviam rejeitado o politeísmo em favor do monoteísmo. Sua menção explícita da Trindade é a mais antiga referência conhecida à essa doutrina.

Por volta da mesma época, Teófilo de Antioquia escreveu um discurso Para Autólico, no qual atacava o paganismo e o culto ao imperador e argumentava em favor da prioridade de Moisés e dos profetas sobre os pensadores gregos. Ele chegou até a elaborar uma cronologia detalhada do mundo, datando a criação em 5.695 anos antes de seu tempo. A abordagem filosófica desses apologistas podia ser observada na ênfase que davam a Deus e ao seu Logos juntamente com um silêncio intencional sobre Jesus. O já mencionado Minúcio Félix apresentou uma espirituosa defesa do Cristianismo em Otávio. Sua abordagem era o uso de argumentos racionais ao invés de citações das Escrituras. Um exemplo de seu método pode ser visto na resposta de um cristão a seu companheiro de diálogo:

O fato de nosso número estar aumentando a cada dia não é prova de erro, mas sim evidência de mérito; pois quando os homens vivem uma vida honrada, seus próprios amigos permanecem constantes e a eles juntam-se outros. Por fim, reconhecemos uns aos outros com facilidade, não por marcas externas como você imagina, mas pelo selo da inocência e modéstia; amamos uns aos outros (o que o perturba), tendo em vista que não sabemos como odiar; chamamos uns aos outros de irmãos (o que estimula sua mávontade), como se fôssemos filhos do mesmo Pai.7

Em alguns aspectos, essa obra assemelha-se à Apologia do grande Tertuliano, cuja empolgante defesa do Cristianismo reverbera ainda hoje com frases memoráveis. Apesar de ter sido treinado na retórica latina, Tertuliano era rígido em sua posição contra a adaptação do Cristianismo à filosofia grega: “O que, de fato, Atenas tem a ver com Jerusalém? O que a Academia tem a ver com a Igreja? O que os hereges tem a ver com os cristãos? Longe daqui qualquer tentativa de se produzir um Cristianismo estóico, platônico e dialético!” Foi

Tertuliano que disse que “o sangue dos mártires era a semente da Igreja”. Ele declarou de maneira desafiadora: “Acabamos de surgir e já enchemos tudo o que vocês tem — cidades, moradias, fortes, vilas, comércio e campos, tribos, palácios, senado e fórum. Tudo o que deixamos para vocês foram os templos!” 8

O desafio do gnosticismo O termo “gnosticismo” refere-se a vários movimentos religiosos dos primeiros séculos de Cristianismo que afirmavam que a salvação era obtida através de um “conhecimento” (grego gnosis) secreto da origem da pessoa. Caracterizava-se por um dualismo cosmológico que colocava em oposição o mundo espiritual e o material e fazia distinção entre o Deus transcendental e o tolo criador do mundo material. A criação material era vista como sendo má, porém havia “centelhas” de divindade encapsuladas no corpo de certos indivíduos “espirituais” que estavam destinados à salvação. Esses indivíduos não sabiam de seu conhecimento celeste, mas Deus mandou um “redentor” que lhes trouxe a salvação na forma de um conhecimento secreto sobre sua origem e seu destino. Uma vez despertados, os “espirituais” escapavam da prisão de seu corpo na morte e passavam pelas regiões planetárias controladas por demônios a fim de se reunirem com Deus. Nos 2º e 3º séculos, escritores cristãos ortodoxos concentraram-se no gnosticismo, acusando seus praticantes de imoralidade e retratando os diversos grupos como sendo perversões heréticas. Apesar de alguns estudiosos afirmarem que o gnosticismo existia antes do Cristianismo, na verdade apenas uma forma rudimentar dessa crença existia no final do 1º século, possivelmente evidenciada em vestígios de um Cristianismo docético (ver 1 João). Inácio de Antioquia protestou firmemente contra os docetistas que negavam a encarnação de Cristo e

diziam que seu caráter humano e sofrimentos eram apenas aparências. Mesmo que os Patriarcas da Igreja sejam unânimes ao considerar Simão de Samaria como o primeiro gnóstico, o registro oficial mais antigo, Atos 8, o descreve apenas como um mágico. De acordo com autores posteriores, Simão também afirmava ser divino e ensinava que sua companheira, uma ex-prostituta, era a reencarnação de Helena de Tróia. Seu sucessor, um outro samaritano chamado Menander, lecionou em Antioquia algumas décadas mais tarde e disse que aqueles que acreditassem nele não morreriam, mas sua própria morte invalidou essa afirmação. Satúrnio de Antioquia foi um discípulo de Menander. Ele ensinava que o “Pai desconhecido” havia criado anjos que, por sua vez, tinham feito o mundo e a humanidade. O homem era um ser impotente, como um verme, até que a “centelha divina” o colocasse de pé. Cristo, o Salvador tinha apenas “aparência semelhante” a de um homem e tinha vindo para destruir o Deus dos judeus, que era um dos anjos criadores e para redimir aqueles que eram dotados das centelhas divinas. Cerinto, um contemporâneo, afirmava que o mundo não tinha sido feito por um Deus supremo, mas por um poder inferior, um “semi-ímpeto” que desconhecia o Deus acima de tudo. Ele também dizia que “o Cristo” (um poder divino superior) desceu sobre o Jesus humano na forma de pomba e depois saiu dele antes da crucificação, tendo em vista que Cristo não podia sofrer. Um importante gnóstico foi Márcion, originário de Ponto na Ásia Menor e que foi para Roma por volta de 140 d.C. Tamanho foi o seu sucesso em atrair seguidores que ele organizou uma comunidade cristã à parte. Sua seita rival ganhou convertidos de todos os cantos do império e constituiu um dos principais perigos para a igreja ortodoxa no final do 2º século. Em certos aspectos, os

ensinamentos de Márcion diferiam do sistema gnóstico típico. Por ser incapaz de conciliar o antropomorfismo do Antigo Testamento com o conceito filosófico de Deus, ele concluiu que havia duas divindades — o Deus inferior do Antigo Testamento e o Deus supremo do Novo Testamento. O primeiro destes, como criador, apesar de não ser perverso, era incompetente e ignorante. O Antigo Testamento era uma revelação válida para os judeus, mas não para os cristãos. Ao invés de ter nascido de uma mulher, Jesus havia sido enviado pelo Pai e aparecido repentinamente em Cafarnaum. Ele não experimentou o nascimento, mas sofreu e morreu. Basílides, que distinguiu-se em Alexandria durante o reinado de Adriano, foi inspirado por Menander. De acordo com Irineu, ele ensinava que do Deus supremo ou transcendente haviam “emanado” coisas como a Mente, o Logos, o Entendimento, a Sabedoria e o Poder. Essas emanações, por sua vez, criaram 365 céus, sendo que o último e principal deles era o Deus dos judeus. Mesmo como ser espiritual inferior, ele tentou atar a humanidade a ele. Para libertar a humanidade, o Deus transcendente enviou sua Mente (no grego Nous) ao mundo e ela habitou em Cristo, um homem que fazia milagres. Mas tendo em vista que não podia sofrer, ele escapou da morte através de um ardil. Simão, o cirineu, não apenas carregou a cruz mas também foi crucificado por engano, enquanto o Jesus invisível estava por perto rindo. Há paralelos impressionantes entre essa narrativa e dois tratados coptas encontrados em Nag Hammadi no Alto Egito em 1945. Uma das mais importantes descobertas já feitas de manuscritos relatando a história da Igreja primitiva, esses tratados expandiram grandemente nossa fonte de conhecimento sobre o gnosticismo. Valentino, o mais famoso gnóstico, foi educado em Alexandria e dirigiu-

se para Roma por volta de 140 d.C. Depois de duas décadas de conflito com a igreja de lá, ele mudou-se para Chipre. Vários de seus discípulos fundaram suas próprias escolas gnósticas. Valentino argumentava que o mundo divino da pleroma (“plenitude”) consistia em quatro dualidades juntamente com onze pares de aeons (emanações) masculinas-femininas. A última dessas emanações era Sofia (sabedoria), que encheu-se de curiosidade e desejo de saber o Impossível. Sua revolta resultou na emergência do “semi-ímpeto” (identificado com o Deus do Antigo Testamento) que criou o mundo e a humanidade. Sendo que esta última era dividida em três classes: (1) a hílica, o material ou a carne (criada do pó da terra); (2) um grupo intermediário, o psíquico ou “da alma”; e (3) o pneumático, no qual foi implantado o elemento do espírito. Os hílicos eram descrentes imersos na natureza e no universo físico. Os psíquicos eram cristãos comuns que viviam pela fé. Os pneumáticos eram os verdadeiros gnósticos, salvos pela consciência ou “conhecimento” da natureza divina de seu espírito. Os estudiosos identificaram nada menos que cinco dos tratados Nag Hammadi como sendo de Valenciano, apesar de nenhum deles afirmar explicitamente sua autoria. É possível até que ele tenha sido o autor do famoso Evangelho da Verdade. Os valencianos certamente foram os cristãos gnósticos mais bem-sucedidos. Foram pioneiros nos comentários escriturísticos, particularmente sobre o evangelho de João, que era seu favorito. O comentário de Heracleon é a primeira obra conhecida desse tipo sobre qualquer livro do Novo Testamento. Algumas de suas idéias chegaram até mesmo a influenciar importantes pensadores como Clemente de Alexandria, mas evocaram fortes refutações por parte de Irineu, Tertuliano e Orígenes.

O imperador Constantino e o Cristianismo legalizado

Para administrar o vasto império, Diocleciano instituiu numa estrutura complexa chamada de Tetrarquia ou “governo dos quatro”. Ele reinava como “Augusto” no Ocidente, assistido por seu “César”, Galério, enquanto Maximiano governava no Ocidente com seu “César” Constâncio. Depois que Diocleciano aposentou-se em 305, segui-se uma luta pelo poder exclusivo que chegou a envolver sete rivais. Constantino era filho de Constâncio e Helena, antiga empregada de um bar. Quando seu pai, que havia se tornado Augusto do Ocidente, morreu em 306, as tropas aclamaram o filho como seu líder. Apesar de Constantino ter buscado ajuda divina contra seu inimigo Maxêncio voltando-se para o Cristianismo, é muito pouco provável que ele o tenha feito para obter o favor dos cristãos, uma vez que eles eram uma pequena minoria. Alguns vêem sua conversão como sendo sincrética, pois o sol invictus foi reconhecido em seu arco triunfal em Roma. Ele era de Ilíria, onde o culto ao sol era predominante e é possível que isso o tenha predisposto ao monoteísmo. A maioria dos estudiosos, porém, está convencida da sinceridade de Constantino, mesmo não tendo ele sido batizado até pouco antes de sua morte. A visão decisiva em 312 d.C. foi descrita por Lactâncio, um mestre cristão de retórica e, mais tarde, tutor do filho do imperador:

Constantino foi orientado em um sonho a marcar o sinal celestial de Deus nos escudos de seus soldados e, assim, juntar-se a batalha. Ele fez o que lhe foi ordenado e com a letra X em forma de cruz com sua parte superior dobrada, ele fez a marca de Cristo nos escudos [Este era o labarum ou monograma de Constantino, a combinação das duas primeiras letras de Christos — o Chi e o Rho].9

Uma outra versão pode ser encontrada na obra A Vida de Constantino de

Eusébio: “Ele viu com seus próprios olhos o troféu que era uma cruz de luz nos céus, acima do sol e, junto a ela, a inscrição „Conquiste por esta‟”. Seja como for, ao seguir o sinal do céu ele derrotou as forças de Maxêncio na Batalha da Ponte Mílvia, perto de Roma. Em 313, Constantino e seu colega do Oriente, Licínio, concordaram em conceder a tolerância aos cristãos e restituir as propriedades que haviam sido confiscadas deles. Esse ato é normalmente conhecido como “Édito de Milão”, apesar de haver uma número considerável de estudiosos que discutem o que exatamente se passou em Milão. Constantino deu o Palácio de Latrão ao Bispo de Roma, legalizou heranças que eram deixadas para as igrejas, começou a construção de basílicas — as primeiras estruturas públicas a serem usadas como igreja — e sustentou o clero, virgens e viúvas com fundos públicos. Sua mãe, Helena, fez uma peregrinação à Palestina em 326 e, ao “descobrir” o lugar onde Jesus havia nascido e onde tinha sido enterrado, ordenou a construção de igrejas sobre eles e trouxe de volta muitas relíquias importantes. Não tardou para que a cooperação com Licínio se desintegrasse, sendo que este último expulsou cristãos de sua corte e do exército. Na guerra que se seguiu, Constantino triunfou em Adrianópolis em 324 e tornou-se o único imperador. Em 330 ele mudou a capital imperial para o leste, para a colônia grega de Bizâncio no Bósforo e mudou o nome da cidade para Constantinopla. As novas construções seguiram o modelo daquelas em Roma e incluíam um palácio, um fórum e um hipódromo. Ao falecer em 337 ele foi sepultado na Igreja dos Doze Apóstolos na nova capital. As igrejas ortodoxas orientais o tem em tão alta consideração que até hoje referem-se a ele como o “Décimo Terceiro Apóstolo”.

Para um mundo dividido por diferenças étnicas e de classes e repleto de problemas econômicos e políticos, o Cristianismo ofereceu a visão da comunhão em amor e paz nesta vida e esperança na vida eterna depois da morte. Mesmo longe de ser infalíveis, quando fizeram o seu melhor, os cristãos demonstraram em seu martírio uma vida de compaixão e fé que desafiava a morte. Apesar da rivalidade das religiões de mistério, do desdém dos filósofos, dos preconceitos do povo e da perseguição do Estado, os cristãos ganhavam cada vez mais convertidos, incluindo homens de intelecto que poderiam defender a fé das difamações e alertar a Igreja sobre o elitismo enganador das heresias como o gnosticismo. No final, o Cristianismo triunfou na conversão do imperador Constantino, um acontecimento de suma importância que trouxe benefícios imediatos mas também problemas a longo prazo à medida que a Igreja e o Estado foram tornando-se cada vez mais entrelaçados.

Capítulo 3 - O desenvolvimento doutrinário na Igreja Ao mesmo tempo em que se defendia de ataques externos e heresias insidiosas, a Igreja cristã também passou a definir suas crenças quanto às Escrituras, a natureza de Cristo e a Divindade. Os cristãos tiveram que esclarecer sua relação com o Judaísmo e seus escritos sagrados. Para realizar a reflexão teológica, eles lançaram mão da filosofia grega e da retórica latina. A fim de resolver questões doutrinárias e traçar a linha de separação entre ortodoxia e heteroxia, realizaram-se diversos sínodos e concílios da Igreja, nos quais considerações políticas, diferenças de personalidade e variações nas tradições levaram a discussões acrimoniosas.

O desenvolvimento do cânon bíblico O termo canon (grego: “régua” ou “vara de medida”) passou a ser usado para a lista de livros reconhecidos pelos cristãos como textos divinamente inspirados. A princípio tudo o que tinham eram as Escrituras Hebraicas. Estas dividiam-se em três seções: a Lei (Torah) ou Pentateuco — os cinco livros de Moisés, os Profetas (Nevi’im) e os Escritos (Ketuvim). Apesar de algumas pessoas argumentarem que os judeus não reconheceram formalmente essa última parte dos livros como sendo canônicos até 90 d.C., pesquisas mais recentes tendem a localizar a data de sua aceitação oficial no 2º século antes de Cristo. As Escrituras Hebraicas eram organizadas em vinte e dois ou vinte e quatro livros que correspondem aos atuais trinta e nove livros do “Antigo Testamento”, termo usado pelos cristãos. Eles foram escritos em rolos de couro, sendo um dos exemplos mais antigos o Rolo de Isaías, encontrado entre os famosos Papiros do Mar Morto da comunidade de Qumran. Outros escritos judaicos incluem diversos livros e fragmentos conhecidos como os Apócrifos do Antigo Testamento (aceitos pela Igreja Católica Romana como sendo canônicos) e as Pseudo-epígrafos, obras que foram falsamente atribuídas a figuras famosas como o livro de Enoque, que é citado em Judas 14. Na verdade, houve muita discussão entre os Patriarcas da Igreja sobre a extensão do cânon do Antigo Testamento. Alguns queriam incluir parte dos livros Apócrifos, outros desejavam excluir Ester, pois nele Deus não é mencionado. Com exceção de Jerônimo e Orígenes, os Patriarcas não eram fluentes em hebraico. Conseqüentemente, para o período pós-apostólico, o Antigo Testamento cristão era a Septuaginta, a tradução grega que havia sido preparada em Alexandria no tempo de Ptolomeu, entre o 2º e o 3º séculos antes de Cristo. Na verdade, a grande maioria das citações do Novo Testamento é originária da

Septuaginta e não do texto hebraico. As Escrituras Cristãs surgiram gradualmente, ao longo de um extenso período. Os Patriarcas apostólicos (final do 1º e começo do 2º século) conheciam os evangelhos, Atos e algumas das epístolas. Clemente de Roma, por exemplo, cita Hebreus e diversas epístolas paulinas, enquanto que as referências de Inácio a sete das cartas de Paulo deixam implícito que já existia uma coletânea delas. A carta de Policarpo aos filipenses (cerca de 110 d.C.) menciona quinze livros. Certamente os Patriarcas apostólicos não tratavam essas obras como Escrituras, da mesma forma como faziam com o Antigo Testamento, mas, ainda assim, reconheciam que os livros eram imbuídos de autoridade apostólica. De acordo com Justino (cerca de 155 d.C.), muitas igrejas estavam usando os evangelhos juntamente com o Antigo Testamento em seus cultos. Outra influência no desenvolvimento do cânon foi o movimento montanista. Ele surgiu durante o 2º século na região ocidental da Ásia Menor, onde Montano e duas mulheres — Prisca e Maximília — afirmaram ter a inspiração direta do Espírito Santo e, num estado de êxtase frenético, fizeram profecias. Os montanistas diziam ser totalmente possuídos pelo Espírito, que estava iniciando uma nova era de revelação. Criam que a Nova Jerusalém descrita em Apocalipse 21 se realizaria em breve na cidade de Pepuza, na Frígia. Além disso, praticavam jejuns rigorosos, proibiam um segundo casamento para viúvos, aceitavam de bom grado o martírio e apelavam para o evangelho de João, para Hebreus e Apocalipse como justificativa para suas práticas rígidas. Como reação, os críticos do montanismo questionavam a inspiração desses livros. Quando Márcion, um herege, rejeitou o Antigo Testamento mas foi o primeiro a fazer uma lista formal dos livros cristãos (incluindo um evangelho

editado de Lucas e dez cartas paulinas), os Patriarcas da Igreja reagiram, definindo seu próprio posicionamento em relação às Escrituras Hebraicas e os primeiros escritos cristãos. Irineu (cerca de 180 d.C.) e outros, aceitavam formalmente o Antigo Testamento, ao qual davam valor especial pelas profecias cumpridas em Jesus. Ele também admitia abertamente que os textos apostólicos eram Escrituras e foi o primeiro a usar os termos Antigo e Novo Testamento. Reconhecia apenas os quatro evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João) como sendo inspirados e argumentava que os evangelhos apócrifos, que àquela altura já haviam proliferado, deveriam ser rejeitados. Clemente de Alexandria (cerca de 200 d.C.) usava todos os livros do Novo Testamento, exceto Tiago, 2 Pedro e 3 João. Assim como outros escritores primitivos, ele também citou vários outros livros, mas os Patriarcas que se seguiram fizeram cada vez menos citações dessas obras. No 4º século, alguns manuscritos gregos do Novo Testamento ainda continham obras como a Epístola de Barnabé, o Pastor de Hermas, 1 e 2 Clemente e o Didache. No 3º século, Clemente, Orígenes e Hipólito de Roma concordaram na condição canônica de vinte e dois livros. O Cânon Muratoriano, um texto em latim possivelmente originado por volta do ano 200, apresenta uma lista de vinte e quatro livros, deixando de fora Hebreus e 1 e 2 Pedro. O Novo Testamento siríaco, o Peshitta (cerca de 400 d.C.), deixava de fora 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse. Eusébio (cerca de 325 d.C.), outro escritor primitivo, mencionou três categorias de escritos cristãos: (1) aqueles que eram universalmente aceitos como Escrituras; (2) os livros que ainda eram questionados por algumas igrejas e (3) os livros espúrios ou falsos. Vinte dos vinte e sete livros do Novo Testamento encontravam-se no primeiro grupo. No segundo grupo estavam

Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse. Os outros livros populares da época foram relegados à terceira categoria. Atanásio de Alexandria listou todos os vinte e sete livros bem como os trinta e nove livros do Antigo Testamento em suas Cartas Festais de 367, indicando assim que a maioria dos cristãos tinha chegado a um consenso sobre o Novo Testamento.

A primeira cristologia Um dos problemas mais espinhosos que teve que ser encarado pela Igreja primitiva foi o desenvolvimento da doutrina de Cristo ou “cristologia” como é chamada pelos teólogos. Nos evangelhos, Jesus refere-se a si mesmo por volta de oitenta vezes como “Filho do Homem”. Essa frase, emprestada de Daniel, expressa sua unidade com os seres humanos. Em outras partes do Novo Testamento ela só é usada quatro vezes. Ao longo de todo o Novo Testamento, Jesus também é chamado de “Filho de Deus”, um título com implicações messiânicas e apocalípticas, como sugere o seu uso nos Papiros do Mar Morto. Ele transmitia o relacionamento singular que Jesus tinha com Deus o Pai. Durante seu ministério, como forma de respeito Jesus era chamado de “Senhor”. Ele aceitava o título pois indicava que era o Senhor Deus (Sl 110, conforme citado em Mc 12.35-37). Sua ressurreição demonstrou que ele era o “Senhor” num sentido de exaltação (At 2.36; Fp 2.9-11) e isso foi reconhecido pelo uso do termo aramaico Maranatha — “Vem, Senhor!” — na Igreja primitiva (1Co 16.22). As aparições de Cristo depois de sua ressurreição não apenas convenceram os cristãos primitivos de que ele havia ressuscitado dos mortos, mas também que ele estava à direita de Deus. O apóstolo Paulo pregava que Jesus era o Senhor crucificado, ressureto e exaltado. Suas epístolas repetem o

título Kyrios (Senhor) mais de 200 vezes e, como essa palavra grega foi usada na Septuaginta para Yahweh, sua aplicação a Jesus transmite qualidades divinas (Rm 10.13; 1Co 2.16). Os evangelhos retrataram Jesus exercendo poderes divinos — curando os enfermos, perdoando pecados e acalmando tempestades. Quando ele declarou sua pré-existência e sua igualdade com o Pai, os judeus quase o apedrejaram por blasfêmia (Jo 5.17,18; 8.58; 10.33-36). Dentre as passagens que afirmam explicitamente sua divindade estão João 1.1; 1.18 (onde lê-se “único Deus”); 20.28; Romanos 9.5; Filipenses 2.6; Colossenses 1.19; Tito 2.13; Hebreus 1.8,9; 2 Pedro 1.1 e 1 João 5.20. Os cristãos primitivos compuseram hinos de glória a Cristo, tendo como possíveis exemplos João 1.1-18; Filipenses 2.5-11; Colossenses 1.15-20 e Apocalipse 5.9-14. Essas declarações sobre Jesus Cristo no Novo Testamento deixaram por conta dos teólogos a difícil tarefa de reconciliar sua humanidade e divindade. Eles precisavam afirmar a unicidade de Deus sem negar o senhorio de Jesus e afirmar o senhorio de Jesus sem diminuir a unicidade de Deus. Uma das primeiras soluções foi sugerida pelos ebionitas, um grupo judaico-cristão do final do 1º século. Eles viam Jesus essencialmente como um homem comum de virtude extraordinária e pensavam que em seu batismo o Espírito Santo havia descido sobre ele dando-lhe autoridade divina especial. Soluções mais complexas, porém, foram propostas pelos líderes da igreja latina e grega que costumam ser chamados de Patriarcas da Igreja. Tradicionalmente eles são classificados como patriarcas “Pré-Nicenos” (antes de 325 d.C.) e “Pós-Nicenos” (depois de 325 d.C.).

Os patriarcas pré-nicenos

Os quatro patriarcas pré-nicenos mais importantes foram Irineu, Clemente, Orígenes e Tertuliano.

Irineu Irineu (cerca de 115-202 d.C.) foi um teólogo nascido em Esmirna (Ásia Menor) e que mudou-se para a Gália onde se tornou bispo de Lião depois dos martírios de 177. Um verdadeiro elo vivo com a era apostólica, ele havia sido ensinado por Policarpo que, por sua vez, tinha conhecido o apóstolo João. Na obra Demonstração ele fez uso de ensinamentos do Antigo Testamento para apoiar doutrinas cristãs, mas de importância muito maior foi sua obra Contra Heresias, uma refutação às idéias gnósticas. Contrário aos gnósticos, ele afirmava a existência de um Deus que é também o Criador, a bondade da criação e ressurreição física literal. Também insistia que a salvação é obtida pela fé e não através de um conhecimento secreto. Em contraste com a variedade absurda de revelações declaradas pelos gnósticos, Irineu reconhecia apenas os quatro evangelhos e a unidade de doutrina encontrada na “Regra de Fé” (regula fidei). Esse era o conteúdo principal dos ensinamentos que haviam sido passados a uma sucessão de bispos desde os apóstolos e era muitas vezes apresentado para os novos convertidos em preparação para o batismo como um resumo das crenças. Lançando mão da doutrina de Paulo, ele apresentava Cristo como o novo Adão que renova a criação e Maria como a nova Eva. Através da salvação em Cristo os seres humanos tornam-se semelhantes a Deus e cumprem seu destino original como portadores da imagem de Deus.

Clemente de Alexandria Clemente de Alexandria (160-215 d.C.) foi um mestre que expressou a

doutrina cristã nos termos da filosofia grega. Nascido em Atenas, filho de pais pagãos, depois de sua conversão ele dirigiu a escola de catequese em Alexandria, a qual treinava crentes que ainda não haviam recebido o batismo. Durante a perseguição de Severo (202), ele foi forçado a exilar-se na Capadócia, onde veio a falecer. Além de alguns ensaios menores, Clemente produziu a importante trilogia Exortação aos Gregos, Instrutor e Miscelâneas. Na segunda destas obras ele apresentava as regras para um comportamento apropriado e insistia que os cristãos não deveriam enfeitar-se com jóias mas sim dar suas riquezas para os pobres. Também afirmava que os homens não deveriam se barbear pois Deus havia dado a eles a barba assim como dera às mulheres seus cachos de cabelo. O terceiro livro é constituído de pensamentos não-sistemáticos e aleatórios baseados em textos clássicos e criados para orientar o cristão maduro rumo à perfeição através da verdadeira gnosis. Ao invés de encarar a filosofia como uma inimiga, Clemente usou-a como aliada e mostrou que alguns cristãos “temem a filosofia grega como as crianças temem os ogros — tem medo de ser levados embora por ela. Se nossa fé é tal que pode ser destruída pela força do argumento, então que seja destruída”.1

Orígenes Orígenes (cerca de 185-251 d.C.) foi o principal estudioso da Igreja primitiva. Nascido numa família de cristãos devotos em Alexandria, na adolescência ele teve que começar a sustentar os familiares pois seu pai havia sido martirizado. De acordo com Eusébio, em seu zelo juvenil, Orígenes tomou Mateus 19.12 muito ao pé da letra e fez-se um eunuco “por amor ao reino dos céus”. Renomado como adepto de um “estilo de vida simples”, ele não tinha

sapatos, possuía apenas um manto, jejuava regularmente e dormia no chão. Como Alexandria era o mais importante centro de estudos do mundo antigo, Orígenes estudou com o famoso neo-platonista Amônio Saccas e aos dezoito anos de idade sucedeu Clemente como chefe da escola de catequese. Por causa de sua reputação brilhante, Orígenes viajava muito, falava em várias cidades e sua audiência incluía até mesmo a mãe do imperador Alexandre Severo. Enquanto visitava Cesaréia, na Palestina, foi ordenado por seu bispo, para o grande desprazer do bispo de Alexandria que se recusou a permitir que ele voltasse para a escola de catequese. Assim, à partir de 231 ele passou a morar em Cesaréia. Orígenes, autor de mais de duas mil obras, foi um dos escritores mais prolíficos da antigüidade. Ele era sustentando por um cristão rico chamado Ambrósio, que deu a ele um grupo de setes estenógrafos. Primeiro grande crítico textual da Bíblia, ele trabalhou durante quarenta anos na obra Hexapla, seis colunas lado a lado de versões em grego e hebraico do Antigo Testamento. Também produziu comentários sobre quase todos os livros da Bíblia, sendo os mais conhecidos aqueles sobre Salmos e o evangelho de João. Influenciado por Filo, um estudioso judeu do 1º século e por Clemente de Alexandria, Orígenes defendia uma interpretação alegórica da Bíblia. Essa metodologia olhava além do texto literal em busca de significados morais e espirituais. Ele interpretava as Escrituras com equações simbólicas: “prata” é o mesmo que “palavra”; “nuvens”- “santo”; “linho”- “castidade”; “garrafa”“corpo”; e assim por diante. A abordagem alegórica das Escrituras foi o método preferido da Igreja medieval. Apenas uma pequena parte da produção literária de Orígenes sobreviveu. Sua obra teológica mais importante é Sobre os Primeiros Princípios, em que

usou conceitos platônicos para explicar a “geração eterna” do Filho vindo do Pai como um processo de emanação, assim como o pensamento surge da mente e a claridade vem da luz. Orígenes via o Filho como “um segundo Deus” que era menor que o próprio Deus, mas superior a todos os seres criados. Assim, deviase orar apenas para o Pai e não para o Filho. Essa visão de relacionamento do Filho com o Pai — subordinacionismo — era amplamente aceita nos 2º e 3º séculos. Orígenes foi o primeiro a interpretar a morte expiatória de Cristo como o resgate de toda a humanidade das garras do diabo. Ele não considerava eterna a participação do Filho na natureza humana, mas sim temporária. Na crucificação, foi a alma humana de Cristo que sofreu, não o Logos divino, ou Verbo, que era incapaz de sofrer. Ele também enfatizava o livre arbítrio do homem e a bondade da criação e aceitava a idéia platônica de pré-existência das almas. Ele negava a permanência do corpo ressurreto, vendo-o como um estágio no caminho percorrido pelo crente rumo à transformação em espírito puro. Também sugeria a possibilidade de que o amor de Deus mais cedo ou mais tarde traria a salvação de todos, inclusive de Satanás e seus demônios. O próprio Orígenes morreu durante a perseguição de Décio, mas seu principal aluno, Gregório Taumaturgo (“Operador de Maravilhas”), desempenhou um importante papel no estabelecimento do Cristianismo na Capadócia, que mais tarde tornou-se um centro do pensamento cristão. Mesmo controversas, as idéias de Orígenes foram uma influência predominante durante séculos. Porém, graças ao agressivo caçador de hereges, Epifânio, bispo de Salamis em Chipre (cerca de 315-403 d.C.), instalou-se uma reação contra muitos de seus pontos de vista. Até mesmo Jerônimo que, a princípio era seu admirador, acabou tornando-se um de seus críticos mais articulados. Os

ensinamentos de Orígenes foram condenados como heréticos pelo 5º Concílio Ecumênico em Constantinopla (553), apesar de muitos estudiosos modernos questionarem se aquelas eram, de fato, suas idéias ou idéias de seus entusiásticos seguidores, os origenistas. Tendo em vista que os primeiros centros do Cristianismo encontravam-se na metade oriental do império — Alexandria, Antioquia, Éfeso e Constantinopla — quase todos os Patriarcas da Igreja primitiva escreviam em grego. Até mesmo a grande maioria de judeus-cristãos considerava o grego e não o latim como sua língua e foi só em 189 d.C. que escolheu-se o primeiro bispo latino para Roma, Vítor I. A linhagem lingüística também teve continuidade no norte da África. No Egito e em Cirenaica falava-se grego enquanto na Tripolitânia e nas regiões mais a oeste falava-se latim.

Tertuliano Assim, o primeiro Patriarca “latino” proeminente foi Tertuliano (cerca de 155-215 d.C.), originário de Cartago. Filho de um centurião, ele estudou Direito e é possível que tenha trabalhado em Roma. Converteu-se quando na meia-idade e tornou-se imediatamente um fervoroso defensor do Cristianismo. Escrevia em grego bem como em sua língua mãe, latim e conhecia filosofia, literatura, história, lógica e psicologia. De sua enorme produção literária, trinta e uma obras sobreviveram. Costuma-se dividi-las em três categorias — apologéticas, controversas e moral-ascéticas. A Apologia, uma defesa erudita da fé diante da perseguição mortal, é uma das obras mais impressionantes desse tipo. Em Os Espetáculos, Tertuliano denunciava os populares jogos de gladiadores e alegrava-se com a perspectiva de que um dia, os oficiais romanos que condenavam cristãos a esses jogos,

seriam eles próprios envoltos pelo fogo do inferno. Ele urgia os cristãos a evitar qualquer ocupação que envolvesse comprometimento com o paganismo, incluindo serviços como professores, soldados ou oficiais públicos. Apesar de estar pessoalmente familiarizado com os judeus, Tertuliano era um crítico duro do Judaísmo. Em Contra os Judeus, ele declarava que Deus havia passado por eles e que a recepção que os gentios ofereceram a Jesus significava o fim do Judaísmo como fé. Ele era hostil à maior parte das tentativas de se adaptar o Cristianismo à filosofia grega, porém suas obras revelam a influência do estoicismo. Foi desse sistema pré-cristão que ele tirou a idéia de que assim como o corpo de uma pessoa deriva do corpo de seus pais, da mesma forma a alma é derivada de suas almas materiais, um ensinamento conhecido como traducianismo. Foi o primeiro teólogo a articular uma doutrina sobre o pecado original que esclarecia como a natureza pecaminosa de Adão havia sido transmitida. Dentre suas obras controversas está Contra Praxeas, um dos tratados mais claros sobre a doutrina da Trindade. Ao que parece, ele foi a primeira pessoa a usar o termo em si e expressar a idéia de três pessoas em uma única substância. Ao afirmar a realidade física da encarnação em Contra Marcion e Sobre a Carne de Cristo, Tertuliano refutou aqueles hereges que viam a humanidade de Cristo apenas como uma aparência. Seu amor pelos paradoxos refletiu-se numa famosa declaração sobre o evangelho de Jesus Cristo: “É imediatamente crível pois é tolo. Ele foi enterrado e levantou-se novamente. Isto é certo pois é impossível”.2 Mais tarde em sua vida, Tertualino dedicou mais atenção às questões morais. Ele gostava do montanismo e por isso criticou a Igreja por ser espiritualmente negligente. Apesar de em tempos anteriores de sua carreira ter

aconselhado pessoas a fugirem da perseguição, passou a rejeitar tal atitude. Em Para Sua Esposa ele retratava as maravilhosas bênçãos do casamento cristão, contrastando-as com os problemas de um casamento misto, no qual um marido pagão criava dificuldades para uma esposa cristã. Na obra Sobre Monogamia, Tertuliano seguia a linha montanista de oposição a um novo casamento depois da morte do cônjuge. Em O Culto Feminino, juntava-se a outros puritanos na história da Igreja e condenava as modas femininas por sua falta de modéstia. Pedia às mulheres cristãs que escondessem sua beleza ao invés de realçá-la com jóias, cosméticos e tintas e recomendava que tanto mulheres casadas quanto não-casadas usassem véus.

Os patriarcas gregos pós-nicenos Os patriarcas pós-nicenos são tradicionalmente divididos de acordo com a língua na qual escreviam — se era grego ou latim. Dentre os mais notáveis gregos estão Eusébio, Atanásio, os capadócios e João Crisóstomo.

Eusébio Eusébio (cerca de 260-339 d.C.), bispo de Cesaréia na Palestina e prolífico escritor, foi o “Pai da História da Igreja”. Apesar de ser participante ativo das controvérsias de sua época, também era um estudioso da Bíblia, apologista contra o paganismo e intérprete dos deveres do imperador. Mesmo tendo publicado obras importantes em todas essas áreas, sua reputação vem da História Eclesiástica, que delineia a história da Igreja desde a era apostólica até o seu tempo. Com suas citações extensas de escritos anteriores, ela é uma rica fonte de informações. Eusébio também foi uma figura de destaque nos debates cristológicos.

Atanásio Atanásio (cerca de 300-373 d.C.) foi ordenado diácono pelo bispo de Alexandria, acompanhando-o como secretário ao Concílio de Nicéia e sucedendo-o em 328. Atanásio com freqüência encontrava-se em conflito com o imperador romano, os arianos e outras facções no Egito, o que o levou a ser banido em cinco ocasiões e a passar mais de dezesseis anos no exílio entre 335 e 366. Suas obras encaixam-se em três categorias — teológicas, polêmicas e ascéticas. Dentre as mais importantes estão Sobre a Encarnação, Apologia Contra os Arianos e uma biografia de Antônio, o fundador do monasticismo. Supunha-se que o Credo de Atanásio tinha sido escrito pelo grande bispo de Alexandria, mas estudiosos descobriram que havia se originado no século 5º e era uma compilação de várias fontes ortodoxas.

Os patriarcas da Capadócia Os patriarcas da Capadócia foram os mais vigorosos defensores da ortodoxia nicena contra os arianos no final do 4º século. Esse trio de teólogos — Basílio de Cesaréia, seu irmão Gregório de Nissa e seu amigo Gregório de Nazianzo — vinha da Capadócia, nos dias de hoje localizada na região leste da Turquia. Basílio de Cesaréia (330-79), freqüentemente chamado de Basílio o Grande, foi educado nas melhores escolas de sua época. Depois de uma breve carreira secular, tornou-se um monge e através de seus escritos sobre a organização monástica influenciou grandemente seu desenvolvimento tanto nas igrejas do Oriente quanto do Ocidente. Depois de algum tempo, voltou para o ministério público e em 370 aceitou o cargo de bispo de sua cidade natal, a principal cidade da Capadócia. Lá, defendeu a ortodoxia nicena contra os

arianos e aqueles de questionavam a divindade do Espírito Santo. Seu irmão mais novo, Gregório de Nissa (cerca de 335-95), era um professor de retórica que em 372 havia sido designado bispo na cidade de Nissa. Desse ponto em diante esteve continuamente envolvido na política eclesiástica e nos conflitos com os arianos. No 2º Concílio Ecumênico em Constantinopla em 381 ele foi um dos defensores que mais falou em favor da posição de Nicéia. Na obra Contra Eunômio, Gregório afirmava tanto a plena divindade quanto a plena humanidade de Cristo, mas falava do corpo passivo de Cristo misturando-se com sua divindade ativa, como uma gota de vinagre no oceano. Gregório de Nazianzo (cerca de 329-90), um dos mais importantes teólogos da igreja oriental, era filho do bispo de Nazianzo na Capadócia e foi educado nos principais centros acadêmicos da região oriental do Império Romano. Quando era aluno em Atenas, tornou-se amigo de Basílio e essa ligação levou mais tarde à garantia de sua posição como bispo da vila de Sasima. Em 379 Gregório tornou-se bispo de Constantinopla e lutou vigorosamente em favor da ortodoxia nicena no concílio lá realizado. Todavia, críticos o acusaram de ter assumido o cargo anterior sem nunca ter visitado sua diocese, fazendo com que sua indicação para bispo na capital imperial violasse a lei canônica. Sendo alguém que não gostava de controvérsias pessoais, Gregório renunciou em 381 e voltou para sua casa em Nazianzo. Ele foi um escritor brilhante que compôs milhares de poesias e compilou uma coleção de suas próprias cartas. Seus Discursos Teológicos (380), que incluem um eloqüente sermão do funeral de Basílio, estão entre os melhores exemplos da retórica grega. Ele influenciou a refutação do apolinarianismo (negação da plena humanidade de Cristo), a defesa da doutrina da Trindade e a explanação da divindade do Espírito Santo.

João Crisóstomo João Crisóstomo, o “Boca de Ouro” (cerca de 347-407), foi o mais eloqüente pregador da Igreja primitiva. Nasceu num lar abastado em Antioquia na Síria e estudou Direito com o grande retórico Libânio. Depois João desistiu da carreira legal e tornou-se um monge, mas logo voltou à Antioquia e começou a servir à igreja. Durante as décadas seguintes ele adquiriu a reputação de pregador excepcional sendo alguns de seus melhores sermões dirigidos à reforma moral da igreja e da cidade. Seus sermões eram tão poderosos que por vezes a congregação os interrompia com aplausos. Numa ocasião, quando repreendeu o público por bater palmas, o povo aplaudiu sua repreensão. De todos os Patriarcas, apenas Agostinho se equipara a João Crisóstomo no que diz respeito à quantidade de obras que sobreviveram. Existem mais de seiscentos sermões, cada um dos quais deve ter precisado de pelo menos uma hora para ser pregado. Aqueles que eram sobre os diversos livros da Bíblia conferiram-lhe a reputação de ser talvez o maior de todos os pregadores expositivos. Seus sermões eram marcados por uma profunda compreensão espiritual, pela interpretação literal dos textos e uma aplicação prática imediata. Infelizmente, suas duras críticas às práticas judaicas foram usadas por antisemitas da Idade Média e, desde então, têm exercido um impacto negativo sobre as relações entre judeus e cristãos. Por causa de sua fama, o imperador pressionou João Crisóstomo a tornarse bispo de Constantinopla em 398. Porém, ao contrário de muitos pregadores conhecidos de tempos mais recentes, ele denunciava destemidamente a imoralidade que prevalecia na vida pública bem como na Igreja e dava um bom exemplo vivendo modestamente. Ao invés de realizar banquetes luxuosos, ele

comia sozinho. Interrompeu a construção de uma elegante residência para o bispo e vendeu os caros pilares de mármore para ajudar a manter hospitais. Seus rígidos padrões e críticas sinceras sobre a imperatriz Eudósia, a quem ele chamou de “Jezabel”, causaram sua perseguição, tentativas de assassinato e várias vezes fizeram com que fosse banido da cidade. Ele morreu no exílio em 407, mas seus restos mortais foram levados de volta para Constantinopla com honrarias em 438. O filho de Eudósia (o imperador Teodósio II) arrependeu-se publicamente dos erros de seus pais.

Os patriarcas latinos pós-nicenos Os três patriarcas latinos que mais se distinguiram foram Jerônimo, Ambrósio e Agostinho e, juntamente com Gregório o Grande, são conhecidos como os “Quatro Doutores da Igreja Ocidental”.

Jerônimo Jerônimo (cerca de 347-420 d.C.) foi um líder monástico, criador de controvérsias e, acima de tudo, o tradutor da Vulgata, a versão oficial da Bíblia em latim. Nascido de pais abastados na Dalmácia, foi educado em Roma, Trier e Aquiléia, perto de Trieste. Inspirado pelo ideal monástico, Jerônimo tornou-se um eremita e foi morar na Síria onde aprendeu hebraico com a ajuda de um judeu cristão. Sua dedicação aos estudos era tanta que ele levou sua biblioteca consigo para o deserto, mas então teve um sonho perturbador em que Jesus questionava sua afirmação de que era um cristão dizendo: “Estás mentindo, és um ciceroniano e não um cristão, pois onde estiver o seu tesouro, lá estará o teu coração”. Durante os quinze anos que se seguiram, Jerônimo se recusou a estudar a literatura clássica.

Apesar disso, sua reputação como aprendiz o levou a ser indicado para secretário do bispo Damásio de Roma. Enquanto estava lá, Jerônimo escandalizou seus colegas ao liderar estudos bíblicos para mulheres ricas, ensinado-lhes grego e hebraico e urgindo-as a adotar um modo de vida ascético. Depois da morte de Damásio em 384, ele deixou Roma na companhia de sua amiga Paula e da filha desta, Eustáquia. Depois de visitar mosteiros no Egito, eles se assentaram em Belém onde Jerônimo fundou um mosteiro e Paula um convento. Para isso inspirou-se em seus amigos Rufino e Melânia que criaram uma fundação monástica dupla semelhante no Monte das Oliveiras em Jerusalém. Jerônimo era um escritor de eficiência excepcional. Ele traduziu importantes obras de Eusébio, Orígenes e Pacômio, o fundador do monasticismo cenobita (comunal). Também compilou Sobre a Vida de Homens Ilustres, que continha biografias de escritores pagãos e cristãos (inclusive ele próprio) e produziu comentários cultos tanto do Antigo quanto do Novo Testamento. Em 382, Damásio pediu a Jerônimo que revisasse a antiga versão latina da Bíblia e o resultado foi uma tradução mais precisa baseada nas línguas originais da Bíblia. Muitos criticaram essa nova versão “Vulgata” (língua do povo), inclusive Agostinho que acreditava na inspiração da tradução para o grego do Antigo Testamento, a Septuaginta. Jerônimo chamou seus críticos de “asnos de duas pernas” que preferiam beber de “córregos lamacentos do que da fonte cristalina do grego original”. Apesar da Vulgata não ter sido aceita imediatamente, mais tarde tornou-se a versão preferida pela Igreja medieval e algumas das traduções de Jerônimo afetaram o rumo da teologia católica. Sua tradução do particípio passivo grego kecharitomene em Lucas 1.28 como a frase gratia plena (“cheia de graça”),

deixou implícito que Maria não era simplesmente favorecida com graça, mas que tinha uma abundância de graça para oferecer a outros. Na época da Reforma, Lutero descobriu que Jerônimo havia traduzido incorretamente a palavra para “arrependimento” (metanoia) como “penitência”. Em 1546 o Concílio de Trento decretou que a Vulgata seria a Bíblia oficial da Igreja Católica Romana. Jerônimo tratava com dureza aqueles que discordavam dele. Certa vez ele denunciou Elvídio que sugeriu que Maria havia dado à luz outros filhos pois os evangelhos falam dos “irmãos e irmãs” de Jesus. Jerônimo, por outro lado, argumentava em favor da “virgindade perpétua” de Maria e dizia que eles eram “primos”. Ele também atacou Joviniano — ex-monge que afirmava que a virgindade não era superior ao casamento — dizendo que a virgindade era o valor mais alto e que ele tinha esperanças de que o casamento gerasse filhos que pudessem se apegar à virgindade. Em outras obras polêmicas defendeu a veneração dos mártires, o monasticismo e o celibato clerical e escreveu contra o pelagianismo.

Ambrósio Ambrósio (cerca de 339-97), nascido em Trier, era filho de um oficial imperial. Depois de praticar Direito por algum tempo, tornou-se governador provincial da região norte da Itália. Em 374, após restaurar a ordem durante amargos conflitos sobre o bispado de Milão, subitamente acabou sendo ele mesmo a escolha popular para o cargo. Em oito dias ele foi batizado, ordenado e empossado como novo bispo de Milão. Ambrósio tratou de colocar padrões elevados para seus sacerdotes, exaltou a Virgem Maria e persuadiu muitas mulheres a fazer os votos de castidade. Também escreveu hinos que

influenciaram a liturgia da Igreja medieval. Ambrósio era um estudioso impressionante tanto do latim quanto do grego, um bom orador e hábil administrador. Não apenas lutou contra a restauração do paganismo como também foi um vigoroso defensor da ortodoxia nicena. Num episódio dramático em 386, Ambrósio resistiu à ordem de Valenciano de entregar sua catedral para os arianos declarando que “o imperador na verdade está dentro da Igreja e não acima dela”. Partindo do pressuposto de que a Igreja tinha supremacia sobre o Estado, acrescentou enfaticamente: “são os bispos que devem julgar os leigos e não o contrário”. Em 390, quando o imperador Teodósio reprimiu brutalmente uma rebelião matando sete mil pessoas, Ambrósio o excomungou e forçou-o a arrepender-se publicamente. Na realidade, sua defesa dos direitos da Igreja lançou as bases para a relação entre Igreja e Estado na Europa ocidental durante a Idade Média.

O maior de todos os patriarcas latinos O maior de todos os patriarcas latinos foi o norte-africano Agostinho (354-430). Nascido em Tagaste, na Numídia, estudou em Madaura e Cartago. Apesar de seu pai só ter se tornado cristão bem mais tarde, sua devota mãe, Mônica, orava constantemente pelo filho obstinado. Em sua obra autobiográfica, Confissões, Agostinho conta sua juventude rebelde e as tentativas de escapar da influência materna. Inspirado pelos escritos de Cícero, estudou filosofia e juntou-se então aos maniqueus. Durante nove anos foi um “ouvinte” da seita, mas desligou-se dela em 382, depois que um dos líderes não conseguiu responder suas perguntas. Também viveu com uma amante durante treze anos, sendo que esta lhe deu um filho, mas diante dos insistentes pedidos de sua mãe, Agostinho deixou essa mulher para casar-se com outra mais respeitável. Quando

o casamento foi adiado, ele descobriu que não podia se conter e juntou-se com outra concubina. Foi esse apetite sexual compulsivo que levou Agostinho a proferir a infame prece: “Senhor, dá-me continência e castidade, mas não agora”. Em 382 saiu de casa para trabalhar em Roma e três anos depois tornou-se professor na corte imperial de Milão. Lá, foi influenciado por Ambrósio, cuja habilidade de fazer uso das idéias filosóficas gregas em suas pregações e escritos bem como seus eloqüentes sermões chamaram a atenção do jovem estudioso e o levaram a repensar a fé que havia rejeitado. Em Confissões ele descreve como foi convertido. Num dia de verão em 386, ele pensou ter ouvido uma voz de criança dizendo “Toma e lê, toma e lê”. Então virou-se e viu uma Bíblia aberta em Romanos 13.13,14: “Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes; revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne, no tocante às suas concupiscências”. Naquele mesmo instante ele aceitou a Cristo como seu Salvador e Senhor e a devota Mônica, que morreu logo depois, viu suas orações serem respondidas. Depois desse acontecimento dramático, Agostinho renunciou seu cargo de professor e entrou em reclusão a fim de preparar-se para o batismo. Em 387 Ambrósio o batizou e ele voltou para Tagaste para começar uma comunidade monástica. Durante uma visita a cidade de Hipona em 391, o povo o persuadiu a aceitar a ordenação pelo bispo local, um grego que tinha dificuldade de pregar em latim. O homem idoso deu a ele a tarefa de pregar e, quando da morte do sacerdote grego quatro anos depois, Agostinho foi nomeado bispo de Hipona. Ele trabalhou lá o resto de sua vida e destacou-se como pastor, pregador, escritor, administrador e líder da igreja africana.

Quando os godos germânicos tomaram Roma em 410, o impacto foi sentido em todo o império, sendo que os pagãos culpavam os cristãos pelo desastre. Para refutar essas acusações, Agostinho escreveu sua obra-prima A Cidade de Deus. Nela, argumentava que há duas “cidades” ou comunidades — a Cidade do Homem e a Cidade de Deus. A primeira é temporal e transitória; a segunda é espiritual e eterna. Também rejeitou o pré-milenialismo (também conhecido como quiliasmo, da palavra grega para “um milhar”) da Igreja primitiva e equiparou o reino de Cristo com seus santos a toda a história da Igreja, negando assim a idéia de um reino futuro literal de Deus na terra. Foi o primeiro teólogo ortodoxo a ensinar o amilenialismo. A teologia de Agostinho tomou forma durante sua luta com três importantes heresias: o maniqueísmo (388-405), o donatismo (394-411) e o pelagianismo (412-30). O maniqueísmo era um religião sincrética e de mentalidade missionária fundada por Mani (216-77). Ele cresceu entre os elcasitas, uma comunidade judaico-cristã quase desconhecida na Mesopotâmia. Aos vinte e quatro anos de idade, Mani recebeu uma revelação que o levou a rejeitar sua tradição e aceitar uma forma de gnosticismo. Fazendo uso de elementos de fontes babilônias, budistas, judaicas e cristãs, Mani ensinava que ele era o sucessor de Platão, Buda, Zoroastro, Jesus e Paulo. O conceito fundamental de seus sistema dualista era a existência de dois princípios que não haviam sido criados: a Luz (Bondade) e as Trevas (Mal). O mundo criado é o campo de batalha entre esses opostos. O conhecimento, o espírito e a alma são manifestações da Luz, mas a ignorância, a matéria e o corpo revelam as Trevas. Os fiéis são redimidos através da consciência dessa luta e ao adotar um estilo de vida de abstinência de carne, vinho, sexo e trabalho. O próprio Mani viajou para a Índia e Pérsia, onde a princípio foi aceito, mas por fim, seus inimigos na corte

persa acabaram arranjando para que fosse executado. Em Contra os Maniqueus, Agostinho afirmava que o mal na verdade era originário da vontade humana (isto é, do pecado original) e que não era um princípio eterno. Deus é o único Criador e sustentador de todas as coisas, o mal é a distorção de algo bom que a pessoa deveria ter. O mal físico vem da imperfeição humana e o mal moral do exercício do livre arbítrio. Cristo concedeu a vitória sobre ambas as formas de mal. O donatismo, assim chamado por causa de Donato, o líder do grupo, foi um movimento separatista no norte da África que insistia na “igreja pura”. Em 331, os donatistas censuraram Ceciliano, bispo de Cartago por ter sido consagrado por aqueles que haviam negado as Escrituras durante a perseguição de Diocleciano. Declararam que os sacramentos administrados por um clero tão “impuro” não tinham valor e, conseqüentemente, deixaram o corpo principal da igreja e começaram seu grupo separatista. Antes disso, em 314 o Concílio de Arles tinha condenado os donatistas por sua prática do “rebatismo” e classificado-os como causadores de cismas. Constantino tomou partido da linha tradicional ou Igreja “católica”. Os donatistas, porém, recusaram sujeitar-se a ele perguntado: “O que o imperador tem a ver com a Igreja?” No conflito que se seguiu com as forças imperais, muitos donatistas foram mortos e alguns de seus membros mais extremistas, os circuncélios, aterrorizaram as igrejas católicas do norte da África. Apesar de Agostinho a princípio ter defendido uma postura leniente em relação aos donatistas, a violência da luta o levou a tomar a ofensiva. Ele afirmou a universalidade da Igreja e comentou com sarcasmo: “Os sapos ficam no seu pântano dizendo „somos os únicos cristãos!‟” A Igreja neste mundo vai ser sempre um “corpo misto” e Cristo, que é o cabeça — e não os líderes

humanos — garante a validade dos sacramentos. Assim, a insistência dos donatistas sobre o rebatismo é herética e eles merecem ser punidos. O comissário imperial adotou a posição de Agostinho e tornou o movimento ilegal, confiscando suas propriedades e multando aqueles que se recusassem a voltar para a Igreja católica. Os argumentos de Agostinho, baseados em Lucas 14.23 (forçando as pessoas a compareceram ao banquete do senhor) tiveram um efeito trágico quando a Igreja medieval fez uso deles para justificar a perseguição aos hereges. Mais tarde em sua vida, Agostinho dedicou seu tempo à questão pelagiana. Pelágio era um monge britânico leigo que lecionava em Roma no final do 4º século. Ele e seu principal discípulo, o combativo Celéstio, fugiram para o norte da África antes da chegada dos godos e entraram numa longa discussão com Agostinho. Pelágio foi então para a Palestina e desapareceu da História, mas o debate literário continuou com outros pelagianos. Eles ensinavam que o homem pode, através de seu próprio esforço, tomar os primeiros passos rumo à salvação. Apesar do pecado de Adão ser um mau exemplo, ele foi pessoal e não foi passado adiante para toda a raça. A natureza humana dada por Deus permite que se escolha o bem e a obediência a Deus bem como o recebimento da graça de Deus que é livremente oferecida ajuda as pessoas a entrar no céu. Os pelagianos afirmavam que “Deus nos ajuda quando escolhemos o bem”. Em resposta a isso, Agostinho desenvolveu sua teologia da predestinação, pecado original e graça. Ele ressaltava a predestinação de Deus, mas não de forma que esta tornasse as pessoas isentas da responsabilidade por seus pecados. Romanos 5.12 revela que toda a humanidade pecou através de Adão e que esse pecado foi transmitido como acontece com uma herança legal. Os indivíduos só

podem ser salvos de sua situação de desespero pela graça de Deus. A fé em Cristo infunde o amor de Deus na alma humana e o batismo remove a culpa do pecado original. Em 416 o Concílio de Cartago condenou a doutrina de Pelágio, mas a guerra de palavras entre Agostinho e Juliano de Eclano, o líder pelagiano, não cessou. O pelagianismo foi novamente condenado no Concílio de Éfeso em 431, mas persistiu na França ao longo de todo o século. Agostinho também ofereceu outras contribuições ao pensamento cristão. Na obra Sobre a Doutrina Cristã, ele apresentou os assuntos que se deve saber a fim de compreender a Bíblia. Um século depois, Cassiodoro usou essas idéias para formular as “sete artes” que constituíram a fundação do ensino durante a idade Média — gramática, retórica, lógica, aritmética, geometria, música e astronomia. Além disso, o antigo libertino veio a crer que o único propósito legítimo do sexo era a procriação. Esse princípio seria usado para justificar a oposição da Igreja católica ao uso de contraceptivos, pois estes supostamente frustravam o propósito natural das relações sexuais. Apesar da maioria dos líderes cristãos antes de Agostinho terem sido pacifistas, ele ensinava que uma pessoa deve servir no exército e ainda assim seguir ao Senhor. Sua teoria da “guerra justa”, que ainda hoje é amplamente aceita, consistia em dar um toque cristão às regras de guerra desenvolvidas por pensadores clássicos como Platão e Cícero. A guerra deve ser feita para que se possa restaurar a paz e obter-se justiça. Deve ocorrer sempre sob a direção de um governante legítimo e ser motivada pelo amor cristão. Deve ser um último recurso, depois que já se tentou de tudo sem sucesso. A guerra deve visar objetivos limitados e não a destruição total do inimigo. Deve ser conduzida de maneira honrosa e proporcional, sem violência desnecessária, massacres e

saques. A imunidade dos não-combatentes deve ser preservada. Em 429, a tribo germânica conhecida como os Vândalos, entrou na África e sitiou Hipona no ano seguinte. Foi quando Agostinho faleceu, desesperado por achar que todo o trabalho de sua vida havia sido em vão, mas ele não podia estar mais errado. Poucos indivíduos afetaram a Igreja e a civilização ocidental como esse bispo de uma cidade quase desconhecida do norte da África.

As primeiras controvérsias teológicas

Monarquianismo A controvérsia monarquiana, que se desenvolveu por volta de 200 d.C., foi a abertura de dois séculos de discussões sobre a natureza da Divindade. Ela enfatizava a unidade e a singularidade de Deus às custas das identidades separadas de Pai, Filho e Espírito Santo. O monarquianismo dinâmico era uma forma de adocionismo, idéia de que o Pai havia adotado o homem Jesus e lhe concedido poder divino. Um dos principais proponentes dessa idéia foi Paulo de Samosata, bispo de Antioquia (260-68). Ele objetava a adoração de Cristo e ensinava que Jesus não era o Filho de Deus que desceu dos céus, mas sim um homem inspirado “como nós, porém melhor em todos os sentidos, tendo em vista que ele era do Espírito Santo”. Paulo foi um oficial de Zenóbia, rainha de Palmira que controlava a Antioquia. Foi condenado nos sínodos de Antioquia em 264 e 268. Enquanto a atração do monarquianismo dinâmico limitou-se a intelectuais, o mesmo não aconteceu com a outra vertente desse movimento, o monarquianismo modalista. Ele afirmava que Deus havia se revelado como Pai, Filho e Espírito Santo somente como uma sucessão temporária de formas ou

ações e não como partes eternas da Divindade. Outro nome dado a essa idéia era Sabelianismo. Sabélio, um libanês, foi condenado em Roma (por volta de 220) por ensinar que Deus era um ser único com três energias que apareceram na História como Pai, Filho e Espírito Santo com o propósito de criação e salvação. Tendo em vista que os modalistas preservavam a divindade plena de Cristo, essa doutrina foi amplamente aceita, até mesmo pelos bispos romanos Severino e Calisto. Ela atraía especialmente como resposta para o temor do homem comum em relação ao politeísmo.

Arianismo Arianismo — a controvérsia cristológica da qual o debate sobre monarquianismo foi predecessor imediato — começou com um sacerdote de Alexandria chamado Ário (cerca de 260-336) que declarou que o Filho não era eterno, não era igual ao Pai, “não existia antes de nascer” e “não tem nada próprio de Deus no que diz respeito à substância. Pois não é igual a ele nem mesmo em essência”. Cristo era uma criatura que havia alcançado o favor divino. As idéias de Ário ganharam muitos defensores, principalmente Eusébio, bispo de Nicomédia, uma importante cidade próxima a Bizâncio. Ário era um astuto divulgador que expressava suas idéias para o povo em forma de verso. Chegou até mesmo a ganhar setecentas “virgens santas” para o seu lado da discussão. Em 325, um concílio local dos bispos de Antioquia condenou Ário. Mais tarde naquele mesmo ano Constantino convocou o primeiro “concílio ecumênico” em Nicéia, do qual participaram duzentos e cinqüenta bispos. O concílio rejeitou a posição de Ário e afirmou que Cristo era “o verdadeiro Deus do verdadeiro Deus, originado e não criado e uma substância (homoousios) com

o Pai”. A palavra chave homoousios foi sugerida por Constantino, influenciado por seu conselheiro Ósio de Córdoba. Em 328, porém, Eusébio de Nicomédia e Teógenes de Nicéia, que haviam sido exilados por se recusarem a condenar Ário, receberam de volta seu bispado e o próprio Ário foi restaurado no Sínodo de Tiro em 335. Depois do seu falecimento em 337, Constantino foi sucedido por seus três filhos — Constantino II (falecido em 340), Constante (falecido em 350) e Constâncio (falecido em 361). Constantino II controlou o Ocidente; Constante, o Ilírico e a África e Constantino o Oriente. Apesar de seus irmãos terem aderido à ortodoxia nicena, Constâncio era um ariano convicto. Constantino II ordenou a restauração de Atanásio que tinha sido exilado de Alexandria, um gesto que foi fortemente apoiado pelo bispo Júlio de Roma. Todavia, noventa e sete bispos reunidos em Antioquia rejeitaram a declaração de Atanásio e promulgaram o Credo de Antioquia, que definia a Trindade como três individualidades (hypostases) unidas por harmonia mútua em uma única vontade. Para resolver as diferenças entre Ocidente e Oriente, realizou-se uma conferência em Sárdica (nos dias de hoje Sofia, na Bulgária) em 342, mas os bispos do Oriente foram embora, condenando Atanásio com veemência. Júlio e os bispos do Ocidente responderam de modo igualmente emotivo. Em 350 Constante foi morto numa insurreição e três anos mais tarde, depois de ter se tornado único imperador, Constâncio permitiu a restauração do Arianismo. Assim, três décadas depois do Concílio de Nicéia o mundo “despertou com um gemido e viu que era ariano”, como disse Jerônimo. Atanásio condenou o imperador dizendo que ele era “pior que Acabe” e “precursor do anti-Cristo”.

Numa outra tentativa de resolver a disputa, um concílio em Sirmínio, em 356, esboçou uma formulação credal que, esperava-se, fosse aceitável a ambas as partes. Essa declaração que mais tarde ficou conhecida como “a Blasfêmia de Sirmínio” afirmava que o Filho era subordinado ao Pai e omitia o uso da palavras homoousios. Depois da morte de Constâncio e do breve reinado de Juliano, o Apóstata (361-363) e Valêncio no Oriente (364-78), a ortodoxia nicena voltou a predominar em Constantinopla e a defesa obstinada de Atanásio em favor da igualdade de Cristo com o Pai foi recompensada.

Apolinarianismo Um esforço considerável feito para se opor ao Arianismo foi o apolinarianismo, mas este acabou sendo apenas um sério desvio da ortodoxia. Apolinário, bispo de Laodicéia (cerca de 315-92) e seguidor de Atanásio, era filho de um conhecido retórico de Alexandria. Quando Juliano proibiu os cristãos de ensinar os clássicos, Apolinário e seu pai desafiaram o imperador ao rescrever textos bíblicos em formas literárias clássicas. Em oposição aos arianos, Apolinário argumentava que, se a fusão do divino com o humano em Cristo havia de fato ocorrido, ele devia ter um corpo desprovido de personalidade humana. Como ele dizia, os seres humanos são feitos de corpo, alma e espírito (mente) e esse último elemento é o que constitui o cerne intelectual da personalidade. No caso de Cristo, o espírito foi substituído pelo Logos (intelecto divino), pois era impossível duas personalidades se fundirem tornando-se uma. Assim, ao mesmo tempo em que possuía Divindade perfeita, faltava-lhe a humanidade completa. Os apolinarianos argumentavam que somente um Filho que não é de natureza semelhante aos filhos de Adão poderia redimi-los. Através de Cristo, o

intelecto humano é colocado sob o controle do intelecto divino (ou mente) e recebe nova vida. Depois disso, a carne humana é santificada por sua união com o corpo de Cristo e o novo intelecto dentro do cristão junta-se com Cristo e compartilha da destruição da tendência ao pecado. Em resumo, o apolinarianismo negava a plena humanidade de Cristo. Esse ensinamento foi questionado com vigor pelos patriarcas da Capadócia e pela Igreja de Antioquia. Gregório de Nazianzo, por exemplo, objetou dizendo: “Aquilo que não foi suposto existir não pode ser restaurado; é aquilo que foi unido com Deus que é salvo”. O apolinarianismo foi rejeitado nos sínodos de Roma e Antioquia antes de ser finalmente condenado no 2º Concílio Ecumênico de Constantinopla em 381. Influenciado pelos capadócios, que opunham-se a todos os esforços de se negar a plena divindade do Filho ou do Espírito Santo, o concílio também afirmou que em Deus há três hypostases (substâncias individuais) e apenas uma ousia (essência). Essa solução já havia sido aceita pela igreja do Ocidente, que definiu a Divindade como uma Trindade de três pessoas em uma substância. Além disso, o concílio reafirmou o “Credo de Nicéia” em 325 e ao mesmo tempo acrescentou uma cláusula sobre a divindade do Espírito Santo e é essa versão da confissão que é recitada nas igrejas nos dias de hoje. Teólogos em Antioquia, porém, resistiram ao apolinarianismo contendendo que o divino e o humano eram unidos em Cristo através de uma harmonia ou propósito mas que não havia nenhuma unidade de essência por assim dizer. A humanidade de Cristo era completa e Maria era mãe somente de sua natureza humana. Isso levou a um outro conflito cristológico entre Antioquia e Alexandria que girou em torno das idéias de Nestório, bispo de Constantinopla entre 428 e 431.

Nestorianismo Nestório, que havia sido educado em Antioquia, criticava abertamente o uso do termo Theotokos (Mãe de Deus) para Maria e sugeriu em seu lugar Christotokos (Mãe de Cristo) . Ele também enfatizava a completa humanidade, bem como a divindade de Cristo. Ele declarou: “mantenho as naturezas separadas, mas uno a adoração”. Isso levou a uma grave controvérsia na qual ele foi acusado de negar a unidade dos dois aspectos de Cristo. No processo de explicar sua doutrina, Nestório atacou os expoentes da cristologia alexandrina e Cirilo, bispo de Alexandria (375-444), reagiu acusando-o de abuso. A disputa acrimoniosa entre os dois centros religiosos resultou de rivalidades teológicas, ambições pessoais e diferenças regionais. Os mestres de Antioquia seguiam uma abordagem literal-histórica da exegese, ao contrário do método alegórico dos alexandrinos. Os teólogos de Antioquia ensinavam que o Logos eterno havia entrado no homem Jesus, enquanto que a escola alexandrina afirmava que o Logos havia se tornado a pessoa de Jesus. Os de Antioquia citavam Mateus 3.16 enquanto que os de Alexandria apelavam para João 1.14. Cirilo e Nestório tornaram-se inimigos amargos. Porém, o astuto e inescrupuloso Cirilo era o melhor político. Ele persuadiu o bispo Celestino a convocar um sínodo em Roma para condenar Nestório e fez o mesmo num sínodo em Alexandria. Mas a controvérsia se espalhou e em 431 o imperador Teodósio convocou o 3º Concílio Ecumênico, em Éfeso, para avaliar as acusações feitas por Cirilo. Temeroso de que não receberia uma audiência justa no Concílio, Nestório se recusou a comparecer. A sessão foi aberta antes que os representantes de Antioquia chegassem e Cirilo convenceu os 198 bispos a condenar Nestório como herege. Quando os quarenta e três bispos de Antioquia

chegaram, realizaram uma sessão posterior na qual repudiaram a cristologia de Cirilo. Diante do impasse, o imperador depôs os dois bispos, mas Cirilo com sua astúcia conseguiu ser restaurado enquanto Nestório foi exilado num mosteiro e, mais tarde, num oásis no deserto egípcio. Os estudiosos reconhecem agora que Nestório não havia ensinado a doutrina que mais tarde veio a ser chamada de nestorianismo, que afirmava que o Jesus humano e o Cristo divino eram duas pessoas distintas. Porém, seus seguidores adotaram essa idéia. A igreja que fundaram espalhou-se no sentido leste para a Mesopotâmia, Pérsia, Ásia Central e até mesmo China.

Monofisismo Uma outra controvérsia cristológica girou em torno de Eutiques (378454), líder de um grande mosteiro em Constantinopla. Ele afirmava que Jesus tinha uma única natureza, uma natureza humana deificada, de modo que todos os atributos humanos de Cristo pertenciam a um único ser, o Logos humanizado. Depois da união da natureza humana com a divina, no momento da encarnação, Cristo possuía apenas uma natureza. Conhecido como monofisismo, esse ensinamento diz que a humanidade do Senhor foi totalmente absorvida por sua divindade numa monófise (uma natureza). Acusado de heresia e condenado por um sínodo em Constantinopla, Eutiques, que era o superior de centenas de monges e uma pessoa de grande influência na cidade, persuadiu Teodósio a convocar o chamado “Latrocínio” de Éfeso (449) onde suas ortodoxia foi reconhecida. Mas quando o imperador faleceu em 450, a situação de Eutiques sofreu uma reversão. A nova imperatriz Pulquéria e seu marido Marciano apoiavam a posição do bispo Leão de Roma que afirmou em sua “Epístola Dogmática” ou Tomo (449) que até mesmo depois

da união na encarnação, as duas naturezas de Cristo preservaram suas características individuais. Isso aconteceu de modo tal que as qualidades podiam ser comunicadas de uma para a outra, sendo que aquilo que era verdadeiro sobre a natureza humana podia ser atribuído à natureza divina e vice-versa. Para tratar do assunto, em 451 Marciano convocou o 4º Concílio Ecumênico na Calcedônia, uma cidade próxima de Constantinopla. Quinhentos e vinte bispos compareceram representando tanto as igrejas do Oriente quanto do Ocidente e o concílio reverteu a decisão do “Latrocínio” de Éfeso. Além disso, condenou a idéia nestoriana de separação de Cristo em duas naturezas e a união feita por Eutiques de duas em uma. Tomando por base o Tomo de Leão, o concílio concluiu que havia duas naturezas em Cristo — uma natureza perfeita humana e uma natureza perfeita divina. A famosa definição calcedônia deixou claro que em Cristo há “duas naturezas, inconfundíveis, imutáveis, indivisíveis, inseparáveis”. E ainda:

Portanto, seguindo os santos Patriarcas, em uma única voz cremos em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos; Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, não criado, consubstancial ao Pai.

Outras importantes decisões do concílio incluíram a afirmação do título Theotokos; uma declaração de que os arcebispos de Roma, Constantinopla, Alexandria e Antioquia seriam conhecidos como patriarcas; e a elevação de Constantinopla na Igreja ao segundo lugar logo depois de Roma. A Igreja de Roma, porém, rejeitou esse último ponto. As definições teológicas dos quatro concílios ecumênicos (Nicéia, Constantinopla, Éfeso e Calcedônia) foram aceitas pela maioria das

comunidades cristãs, mas nem todos concordaram com a formulação cristológica da Calcedônia. Bispos do Egito objetaram o ensinamento das duas naturezas: “Preferimos morrer nas mãos do imperador e do concílio do que em casa”. E de fato, um patriarca favorável à cristologia calcedônia foi linchado por uma multidão de cristãos em Alexandria. Dentre os grupos monofisitas estavam as igrejas cópticas no Egito e na Etiópia, a Igreja Ortodoxa Armênia (que, no século seguinte, rejeitou a decisão do concílio sobre as “duas naturezas”), os jacobitas na região leste da Síria e a Igreja de São Tomé, no sul da Índia. Isso explica porque a maioria dos cristãos no Oriente Médio hoje em dia é monofisita.

Apesar do cânon final do Novo Testamento não ter sido estabelecido até o 4º século, no final do 2º século já existia comum acordo sobre oitenta porcento do Novo Testamento. Suas apresentações vívidas de um Salvador ressurreto, que foi tanto humano quanto divino, forçou os teólogos a usar conceitos filosóficos gregos e terminologia legal latina em seus esforços de expressar a natureza de Jesus Cristo e a Trindade. Durante o 4º século, as controvérsias doutrinárias giraram em torno do relacionamento do Filho com o Pai; no 5º século, concentraram-se na natureza do Filho. Apesar das vergonhosas contendas entre os bispos e dos mal-entendidos e interpretações erradas das idéias daqueles que diferiam, quatro concílios conseguiram expressar o mistério divino em termos credais que satisfizeram a grande maioria dos cristãos — católicos, ortodoxos e protestantes. Questões eclesiásticas, litúrgicas e políticas mais corriqueiras, porém, continuam a perturbar e dividir os cristãos.

Capítulo 4 - A Igreja depois de Constantino

A conversão de Constantino permitiu que o Cristianismo “triunfasse”, isto é, se tornasse a religião predominante do Império Romano até o final do 4º século. Mas esse desenvolvimento trouxe consigo complicações, já que a Igreja e o Estado tornaram-se cada vez mais entretecidos. Os esforços da hierarquia eclesiástica de diáconos, sacerdotes, bispos e papas no sentido de manter tanto a disciplina doutrinária quanto moral levaram a conflitos de personalidade e lutas políticas dentro da Igreja. Porém, o reconhecimento oficial e o apoio financeiro imperial tornaram possível a construção de igrejas e catedrais ricamente decoradas.

Igreja e Estado Como foi mencionado anteriormente, em 337 d.C. o império foi dividido entre os três filhos de Constantino. Essa sucessão não foi tranqüila e só depois de um longo período de guerra civil é que Constâncio, um defensor da posição ariana, emergiu como único imperador em 350. Tomando para si o controle da Igreja como “bispo dos bispos” (episcopus episcoporum) ele exilou líderes como Atanásio, Hilário de Poitier e Libério, bispo de Roma. Juliano, a quem os cristãos apelidaram de “o Apóstata”, filho de um meioirmão de Constâncio, foi seu sucessor no trono em 361 e sob seu incentivo ocorreu o último e fútil ressurgimento do paganismo. Apesar de ser um leitor ordenado, Juliano voltou-se contra o Cristianismo por causa da conduta vergonhosa de Constâncio, que mandou executar seu pai e outros parentes e tornou-se adepto do neo-platonismo. Talvez para evitar que os cristãos se declarassem sucessores do Judaísmo, Juliano ordenou a reconstrução do Templo em Jerusalém (A essa altura, os cristãos interpretavam a destruição do Templo em 70 d.C. como o cumprimento da profecia em Daniel 9.27 e como julgamento

sobre os judeus por rejeitarem Jesus como seu Messias). Mas o projeto foi frustrado por misteriosos incêndios ocorridos no local e que escritores cristãos depois disso retrataram como sendo intervenção direta de Deus. Juliano também desafiou os cristãos de outras maneiras. Decretou que só aqueles que acreditavam nos textos clássicos poderiam ensiná-los, levando com isso muitos cristãos a perderem seu cargo de educadores. Escreveu um texto polêmico intitulado Contra os Galileus, que condenava os cristãos por abandonarem as tradições judaicas e negava as afirmações do Novo Testamento sobre o cumprimento das profecias do Antigo Testamento. Perguntou cinicamente por que havia tanta descrença se Cristo havia de fato realizado todos os milagres descritos nos evangelhos. Desgostoso com a rápida proliferação de relíquias dos mártires, ele protestou: “Vocês encheram o mundo de túmulos e sepulcros”. Porém, Juliano expressava admiração pela preocupação social dos cristãos: “Esses galileus ímpios alimentam não apenas os seus próprios pobres mas os nossos também; nossos pobres não recebem nosso cuidado”. Ele atribuiu o crescimento do Cristianismo às suas práticas caridosas. Em 363, aos trinta e dois anos de idade o imperador lançou uma campanha militar contra os sassanianos persas e durante uma batalha foi morto por uma lança enfiada em seu abdômen. Os críticos cristãos consideraram sua morte um julgamento apropriado, tendo em vista que ele havia buscado orientação dos deuses pagãos através da leitura das entranhas de animais. Assim também, gerações seguintes interpretaram Juliano como ícone na luta contra o paganismo e da vitória final do Cristianismo, fazendo surgir inúmeras lendas a seu respeito. A mais conhecida era sobre suas supostas últimas palavras: “Vós conquistastes, ó galileu”. Outra história popular falava de um cristão que havia sido martirizado por Juliano. Quando estava morrendo, seus atormentadores

perguntaram “Onde está o carpinteiro agora?” e ele respondeu: “Fazendo um caixão para o seu imperador”.1 Um ano depois de sua morte, o reino foi novamente dividido. Valenciano I (364-75) governou o império oriental que tinha Milão, Trier e Esmirna como principais centros e no Ocidente, seu irmão mais novo Valêncio reinou em Constantinopla. Valêncio foi o primeiro imperador a ter que lidar com as tribos germânicas que avançavam sobre o império. O imperador seguinte, Teodósio I (379-95), um espanhol e última pessoa a governador um império sem divisões, é muitas vezes chamado de “o Grande”. Ele recuperou o controle tanto do leste quanto do oeste rapidamente e em 381 negou aos arianos o direito de congregar e ordenou que entregassem suas igrejas para os ortodoxos, dando assim o golpe mortal no movimento dentro do império. Também convocou os bispos do Oriente para um concílio em Constantinopla, que, conforme foi explicado no capítulo 3, reafirmou os atos do Concílio de Nicéia, condenou o apolinarianismo, reformulou o Credo de Nicéia e deu à “Nova Roma”, posição semelhante à de Roma na Itália. Teodósio prosseguiu eliminando as práticas pagãs, autorizando a destruição dos seus santuários e apropriando-se dos seus bens para distribuí-lo às igrejas. Encorajadas pela atitude imperial, multidões violentas destruíram lugares sagrados de adoração pagã como o famoso Serapeu no Egito. Porém, quando Teodósio massacrou brutalmente sete mil cidadãos de Tessalônica como represália por causa de uma pequena insurreição, o bispo Ambrósio de Milão o compeliu a fazer penitência pública. Em 395 ele foi sucedido por seus dois filhos jovens, Honório no Ocidente e Arcádio no Oriente. Muito do poder do Ocidente estava nas mãos de Estílico, um vândalo germânico que era comandante das tropas de Honório. Honório foi

ameaçado pelos visigodos germânicos e buscou refúgio na cidade de Ravena, na região nordeste da Itália. Sua irmã Gala Plácida (392-45) desempenhou então um papel notável nos assuntos de Estado e da Igreja. Primeiro, ela foi feita refém pelo líder visigodo Alarico e casou-se com o irmão dele. Depois da morte de seu marido, ela passou pela corte de Honório para fugir das lutas políticas em andamento na Itália e então mudou-se para Constantinopla. Quando Honório morreu em 323, ela voltou para Ravena com seu filho pequeno Valenciano III e, na realidade, governou em seu nome. Uma fervorosa defensora da ortodoxia, opôs-se aos que apoiavam o pelagianismo e maniqueismo e foi uma importante figura nos conflitos religiosos da época. Até hoje, seu túmulo em Ravena é famoso por seus magníficos mosaicos. Durante o século 5º, o oeste sofreu mais ataques das tribos “bárbaras” — tanto dos hunos asiáticos como de vários grupos germânicos. A cidade de Roma, propriamente, foi saqueada duas vezes no decorrer do século. O império do Ocidente havia decaído tanto em termos de importância política que um chefe germânico chamado Odovacer depôs o imperador em Ravena em 476, uma data que mais tarde foi considerada a “queda de Roma”, mas na verdade esse acontecimento passou relativamente despercebido na época. No Oriente, o acontecimento mais importante depois da morte de Teodósio foi a controvérsia engendrada pelas pregações severas de João Crisóstomo durante seu breve mandato como bispo de Constantinopla (398403). Ele não apenas criticou outros bispos mas até mesmo a própria imperatriz. Sob o governo de Teodósio II (408-50), foram construídos em Constantinopla os famosos muros de Teodósio e foi compilado um grande código de leis. Ele também envolveu-se no conflito pela definição de uma cristologia que tanto dividiu os líderes da Igreja.

O maior dos imperadores do Oriente foi, sem dúvida, Justiniano (527-65). Um comandante militar da Ilíria que sucedeu seu tio como imperador, ele foi o último governante do leste cuja língua-mãe era o latim. Suas maiores realizações foram a codificação das leis romanas (o Código Justiniano) e a construção da famosa igreja de Hagia Sofia. Com sua cúpula espetacular de mais de 60 metros, foi um dos maiores feitos arquitetônicos da história do Cristianismo. O reino oriental veio a ser conhecido como império bizantino, derivando seu nome de Bizâncio, a cidade anterior no mesmo lugar onde se encontrava Constantinopla. Uma de suas características distintivas foi o Cesaropapismo, o princípio de que o governante político também era o cabeça da Igreja. Assim, Justiniano — que era um fervoroso defensor do Cristianismo ortodoxo — obrigou setenta mil pagãos da Ásia Menor a se converterem. Também fechou as grandes escolas de filosofia de Atenas — a Academia fundada por Platão e o Liceu fundado por Aristóteles. As forças de Justiniano recuperaram o controle de grande parte dos territórios mediterrâneos que haviam sido tomados pelos invasores germânicos, mas essas campanhas arruinaram a Itália. A imperatriz Teodora, que antes havia trabalhado em um bar e que era uma mulher de grande perspicácia política, exerceu a função de co-regente ao lado de Justiniano. Ela promoveu uma reforma moral, a fundação de hospitais e as artes. Apesar de ela ser simpatizante dos monofisitas, seu marido os perseguiu. Isso alienou do império bizantino muitos cristãos no Egito e na Síria e preparou o caminho para o triunfo do Islã no século seguinte.

A hierarquia clerical No 4º século, a estrutura relativamente simples da Igreja, conforme foi

descrito no capítulo dois, tornou-se muito mais complexa. Os diáconos continuavam desempenhando as funções eucarísticas e de serviço e até mesmo lideravam algumas congregações rurais. Porém, uma determinação do Concílio de Nicéia tirou deles qualquer autoridade para presidir a Eucaristia. Ainda assim, como os diáconos tinham se tornado os assistentes especiais dos bispos, muitas vezes eles eram mais estimados do que sacerdotes locais, especialmente o Colégio dos Sete Diáconos de Roma, que para todos os efeitos práticos, servia como gabinete do bispo. Quando o peso da responsabilidade tornou-se maior do que os sete podiam suportar, criou-se em Roma o ofício de sub-diácono. No final do 3º século o subdiaconato havia se tornado uma instituição comum. O líder do diaconato era o arquidiácono, que exercia enorme influência. Na verdade, os bispos eram muitas vezes escolhidos dentre os diáconos e alguns até foram nomeados para a Santa Sé, como por exemplo Leão I (440) e Gregório I (590), importantes figuras no desenvolvimento do papado. Entre outros bispos importantes promovidos ao arquidiaconato estão Ceciliano de Cartago (311) e Atanásio de Alexandria (328). Uma outra ordem, a qual nos referimos no capítulo dois, era a das “viúvas”, que eram apontadas porém não ordenadas. Suas funções, que incluíam um ministério de oração e serviço com as mulheres da congregação, foi assumida pela ordem das diaconisas no 3º século. Um documento daquele período, a Didascália, explicava suas funções como sendo de ensino, cuidado dos doentes, encontrar assentos para as mulheres nos cultos e ajudar nos batismos. Essa última função mencionada era particularmente notável, tendo em vista que as candidatas normalmente eram batizadas (imersas) nuas e também era ungidas. Assim, o serviço das diaconisas era necessário a fim de evitar acusações de impropriedade.

O requisito para a ordenação de diaconisa era que a mulher fosse solteira ou viúva de um único casamento. Apesar do Código de Teodósio (438) determinar que a idade mínima para uma diaconisa era sessenta anos, o Concílio da Calcedônia (451) reduziu essa idade para quarenta anos e proibiu a mulher de se casar depois da ordenação. Mas então o desenvolvimento da prática de batismo infantil eliminou a necessidade de assistência das diaconisas nas cerimônias batismais. No 6º século, dois concílios no Ocidente aboliram esse oficio, mas ele continuou em alguns lugares, especialmente no Oriente. O abismo entre o clero e os leigos (ver capítulo 2), que já era bastante substancial no 3º século, foi ficando cada vez maior. A palavra “sacerdote” (grego hieros, latim sacerdos) passou cada vez mais a ser usada para o líder da congregação ao invés do termo da Igreja primitiva “presbítero” (ancião). À medida em que a prática da monoepiscopacia (um único bispo) tornou-se norma, os bispos foram assumindo as funções administrativas e de ensino enquanto os deveres litúrgicos eram deixados para os sacerdotes. O Concílio de Nicéia confirmou o direito do sacerdote de ministrar a Eucaristia sem a presença do bispo, tendo em vista que, àquela altura, essa já era uma prática universal. À medida em que cresceu o desejo de que aqueles que ministravam os sacramentos fossem cerimonialmente puros, logicamente seguiu-se que alguns exigissem do clero a abstenção sexual. Orígenes falou de “sacerdotes perfeitos que mantém estado de pureza virginal em atos e em pensamentos”. Ambrósio argumentou que o clérigo deveria estar livre da corrupção pelo sexo ao oferecer os sacrifícios da Igreja. O Concílio de Elvira determinou que “bispos, presbíteros e diáconos — na verdade, todos os clérigos que tem um lugar no ministério — devem abster-se de suas esposas e não devem gerar filhos. Esta é uma proibição total: aquele que assim o fizer, que lhe seja tomada a sua posição

no clero”. A questão do celibato clerical foi discutida acaloradamente durante os dois séculos seguintes. Justiniano exigiu que os bispos fosse celibatários e ordenou que aqueles que eram casados mandassem a esposa para um convento distante. Na igreja do Ocidente o celibato tornou-se finalmente uma regra universal no século 13, em grande parte por causa dos problemas envolvidos na herança de propriedades da Igreja pelos filhos dos clérigos. Porém, mesmo nos dias de hoje na igreja do Oriente, ainda é permitido que clérigos de ordens mais baixas se casem, porém os bispos devem ser escolhidos dentre aqueles que são celibatários ou, em outras palavras, monges. Também era esperado que os sacerdotes fossem indivíduos maduros e os candidatos para o sacerdócio normalmente tinham de trinta a trinta e cinco anos de idade. Os bispos geralmente serviam em ofícios inferiores antes de avançar para um diocese e foi Damásio de Roma (366-84) que apresentou a primeira lista de que se tem registro da progressão de ofícios pelos quais uma pessoa passava antes de tornar-se bispo. Esse ideal de vez em quando era desconsiderado, como por exemplo no caso de Ambrósio que foi batizado aos trinta e quatro anos de idade e empossado como bispo de Milão oito dias depois. O mais provável, porém, era que bispos recém-indicados tivessem de quarenta e cinco a cinqüenta anos de idade. Freqüentemente eles indicavam seus sucessores e o costume do 3º século de que três bispos estivessem presentes para a ordenação de um outros tornou-se regra. Além disso, a ordenação de bispos passou a ser prerrogativa dos bispos. A ocupação de sés proeminentes por vezes transformava-se em situações tumultuadas, como foi o caso da eleição de Damásio I. Os defensores dos dois candidatos rivais atacaram uns aos outros ferozmente e em certa ocasião, uma

multidão de partidários de Damásio matou 137 pessoas ao invadir a basílica do outro candidato. Damásio é historicamente importante para o desenvolvimento da instituição do papado pois foi o primeiro a declarar Roma a Sé Apostólica e apropriar-se da autoridade supostamente dada a Pedro por Cristo em Mateus 16.18. Ele também trabalhou diligentemente para fortalecer a posição do bispado de Roma em relação aos outros bispados, especialmente aqueles no Oriente, promovendo a veneração de mártires e as peregrinações aos lugares onde estavam enterrados em Roma (as famosas catacumbas) e transformando o latim na língua litúrgica da Igreja romana. Também encorajou Jerônimo a encarregar-se de fazer uma nova tradução em latim da Bíblia, a Vulgata que, conforme já foi mencionado acima, acabou tornando-se o padrão da igreja ocidental. Com o declínio da importância política de Roma em si, os bispos do século 5º aproveitaram a oportunidade para expandir a autoridade afirmada por Damásio. Inocêncio I (401-17) interferiu em questões do Oriente ao apoiar João Crisóstomo contra os patriarcas de Constantinopla e no Ocidente apoiou Agostinho na controvérsia pelagiana. Ao fazê-lo, alegou o direito de servir como o árbitro supremo das questões doutrinárias como nenhum outro bispo romano havia feito antes. Leão I (440-61), também conhecido como “o Grande”, insistia que Pedro tinha primazia sobre os apóstolos. Como seus sucessores, os bispos de Roma haviam herdado seu papel de líder e mestre e Pedro falava através deles. Leão exerceu sua autoridade através da crítica severa ao maniqueismo e pelagianismo e ao envolver-se com o Concílio da Calcedônia que adotou sua explicação sobre Cristo como uma pessoa em duas naturezas.

Gelásio I (492-96) foi o primeiro a ser chamado de “Vigário de Cristo”. Também proclamou a influente doutrina política das “duas espadas”. Esta afirmava haver dois poderes que governam o mundo: o sagrado e o secular e que o poder eclesiástico, sob a autoridade da Sé romana, era superior ao poder temporal, como o do imperador.

Pecados e disciplina eclesiástica Esperava-se que o clero correspondesse a padrões mais altos do que os leigos. Um concílio da Igreja no 4º século decretou que o clero não deveria assistir peças teatrais apresentadas em casamentos e banquetes, indo embora antes que os artistas entrassem em cena. Além disso, sacerdotes e diáconos não deviam entrar em tabernas. Era costumeiro esses concílios regulamentarem questões de doutrina e comportamento através dos chamados “cânones”. Os exemplos mais antigos de que se tem conhecimento são os oitenta e um cânones de Concílio de Elvira (305) que eram de uma severidade extraordinária. Por exemplo, mulheres consagradas que fossem infiéis aos seus votos de castidade, homens que praticassem a homossexualidade e mulheres que tivessem abortos eram excomungados para sempre. O Concílio de Ancira (314) determinou dez anos de excomunhão para o pecado do aborto. Desde o começo do 3º século, a palavra grega para “arrependimento” (metanoia) foi traduzida para o latim como paenitentia. Esse termo significava não apenas remorso mas também obras de “penitência” ou “satisfação” como caridade, choro, oração, jejum ou abstenção de relações maritais durante períodos que iam de cinco anos até o resto da vida. Fazia-se distinção entre pecados menores ou “venais” (perdoáveis) e pecados “mortais” bem mais sérios.

De acordo com Tertuliano, estes últimos incluíam idolatria, assassinato e adultério. Agostinho foi ainda mais longe e afirmou que qualquer violação dos Dez Mandamentos exigia penitência pública. Aqueles que eram acusados de cometer um pecado específico mas arrependiam-se de suas ofensas passavam formalmente a fazer parte da classe dos penitentes. Em algumas regiões eles tinham que usar um traje especial feito de pele de cabrito e cortar o cabelo bem curto. Eram permanentemente excluídos do clero, de cargos públicos e de relações maritais. Esses “pranteadores” ou “genuflexores” não tinham permissão de entrar na igreja, precisando ficar em pé no pátio anterior. Depois de terem realizado a penitência determinada, ocorria uma reconciliação pública com a imposição de mão dos bispos. As exigências cada vez mais severas das penitências levavam alguns a postergá-las até a hora da morte. No século 5º a confissão pública de pecados foi gradualmente substituída pelas confissões particulares ou “auriculares” (ao ouvido), isto é, feita para os sacerdotes. Essa prática foi grandemente estimulada pela devoção monástica celta. A evidência mais antiga dessa forma de penitência particular encontra-se nos anais do 3º Sínodo de Toledo (589). Este decretava que os crentes deveriam confessar seus pecados durante a Quaresma e então ser publicamente reconciliados na Quinta-Feira Santa antes de receber a ceia na Páscoa.

Os sacramentos e o culto litúrgico A palavra latina sacramentum originalmente significa “juramento”, como aquele feito pelos soldados; o recitar do credo antes do batismo era considerado um juramento de ser servir a Cristo. Essa palavra era usada para traduzir a palavra grega “mistério” e na Igreja primitiva veio a ter o sentido técnico de uma

cerimônia instituída por Deus para canalizar a graça divina ao crente como indivíduo. Os sacramentos mais importantes dessa época eram o batismo e a ceia, sendo que mais tarde a Igreja medieval acrescentaria vários outros sacramentos. A referência mais antiga ao batismo infantil encontra-se nos escritos de Tertuliano que opunha-se à essa prática. Cipriano, porém, a aceitava e pedia aos crente que não esperassem os costumeiros oito dias (o procedimento para a circuncisão) para batizar seus bebês. Orígenes chegou a afirmar que o batismo infantil era uma prática apostólica, mas diversas figuras proeminentes do 4º século, inclusive os Patriarcas da Capadócia, João Crisóstomo, Jerônimo e Agostinho, só foram batizados quando adultos. No século 5º, o batismo infantil já era um procedimento normal na igreja do Ocidente e acabou sendo justificado pela crença de que o pecado original era “lavado” no rito do batismo. Quando adultos desejavam converter-se ao Cristianismo, antes tornavamse “catecúmenos”, ou seja, eram instruídos sobre o credo e a oração do Pai Nosso e então examinados quanto ao seu conhecimento e conduta pessoal. O processo podia levar até três anos, mas acabou sendo encurtado ao período da quaresma. Os batismos normalmente aconteciam na manhã de Páscoa depois de um jejum e uma vigília. Hipólito, o escritor do começo do 3º século descreve o procedimento:

No sábado, aqueles que irão receber o batismo devem estar reunidos em um lugar decidido pelo bispo. Será dito para eles que orem e se ajoelhem. O bispo colocará suas mãos sobre eles e exorcizará todos os espíritos estranhos para que possam sair deles e nunca mais voltar. E quando tiver terminado de exorcizar, ele deve respirar em seu rosto e quando tiver feito o sinal sobre sua testa, orelhas e nariz, deve erguê-los. E eles passarão a noite toda em vigília, alguém irá ler para eles e serão instruídos... Quando o

galo cantar, que antes sejam feitas preces sobre a água.2

Antes de entrar na água os candidatos voltavam-se para oeste (a região associada a Hades), estendiam suas mãos e renunciavam a Satanás e suas obras. Em alguns casos, chegavam a cuspir cerimonialmente em Satanás. Eram ungidos no peito e no ombro com um óleo do qual os espíritos maus tinham sido exorcizados. Depois do batismo, havia ainda uma outra unção com “crisma”, um óleo aromatizado com bálsamo. O relato de Hipólito continua: “E removerão suas roupas. E as crianças pequenas serão batizadas primeiro... E em seguida batizarão os homens adultos e por último as mulheres, que devem ter soltado o cabelo e removido os ornamentos de ouro”. O sacerdote que estivesse oficiando e um diácono assistente ficavam em pé dentro d‟água e faziam três perguntas a cada candidato: “Credes em Deus Pai Todo-Poderoso? Credes em Cristo Jesus, o Filho de Deus? Credes no Espírito Santo na Santa Igreja?” Depois de cada resposta, o sacerdote imergia o candidato. Até o 4º século, eram os bispos que presidiam sobre os ritos batismais. Porém, como a prática do batismo de crianças foi tornando-se cada vez mais comum, um procedimento realizado pelo sacerdote logo depois do nascimento da criança, nem sempre era possível que o bispo estivesse presente. Isso levou a um rito separado de confirmação, no qual o bispo impunha suas mãos e ungia a cabeça daqueles que já haviam sido batizados pelo sacerdote. Concílios na Espanha e na França nos séculos 4º e 5º orientaram os bispos a “confirmar” os batismos realizados por sacerdotes. Tertuliano identificou a imposição de mãos depois do batismo como dom do Espírito Santo, o que levou a uma controvérsia sobre se o Espírito era dado

no batismo ou na confirmação. Inocêncio I declarou que: “Pertence somente ao ofício episcopal que os bispos consignem e dêem o Espírito Paracleto”. Na sua opinião, o Espírito Santo era concedido quando o bispo fazia o sinal da cruz e ungia o batizado na testa com a crisma. Uma das descrições mais antigas de outro importante sacramento, a ceia ou Eucaristia (“ação de graças”) encontra-se nos escritos do 2º século por Justino Mártir. Ele explicava que o rito incluía a apresentação do pão e de vinho misturado com água, uma oração de ação de graças, o “Amém” congregacional e a distribuição dos elementos feita pelos diáconos. No século seguinte a cerimônia já havia se tornado mais elaborada. Hipólito relatou que incluía a apresentação dos elementos por diáconos para o bispo, sua exortação “levantai vossos corações” (sursum corda) e oração, uma narrativa da história da salvação e as palavras de instituição de Jesus, a oferta formal (“oblação”) do pão e da taça, a invocação do Espírito Santo e, finalmente, a distribuição do pão e do vinho pelos sacerdotes e diáconos. Elementos acrescentados nos séculos 4º e 5º incluem leituras do Antigo e Novo Testamentos, o cântico de salmos e aleluias, sermões, orações, o Kyrie eleison (“Senhor tem piedade”) responsivo, o trisagion (“Santo, Santo, Santo”) e outras orações como o Pater noster (“Pai Nosso”). Cipriano referiu-se à Eucaristia como “o sacrifício da paixão do Senhor” que era oferecido pelo bispo atuando como sacerdote perante o altar. O patriarca oriental Cirilo descreveu-a como “sacrifício propiciatório”. Para Ambrósio, ela era aperfeiçoada pela consagração do sacerdote e não pelo recebimento dos elementos, uma ênfase que lançou as bases para a doutrina posterior medieval da transubstanciação. Antes de começar o culto da ceia, os penitentes e aqueles que não haviam

recebido o batismo eram dispensados, isto é, pedia-se que saíssem (A palavra Missa, que foi dada à cerimônia eucarística depois do século 5º, vem do latim missa — demissão” — normalmente referindo-se ao momento em que era pedido à congregação que alguns se retirassem no final do culto). Antes dos penitentes saírem, o diácono proferia uma longa admoestação enquanto eles se ajoelhavam, a congregação rezava o Kyrie por eles e os bispos concluíam com uma oração de despedida. O culto então continuava com a ceia propriamente dita. No tempo de Cipriano, a Eucaristia era celebrada diariamente. Porém, com o passar dos anos, ela adquiriu o caráter de um mistério temido e cada vez menos pessoas observavam o rito. O lamento de João Crisóstomo reflete essa mudança: “O sacrifício diário é em vão, nos colocamos em pé diante do altar em vão; ninguém participa”. Havia vários outros cultos nas igrejas. Além do culto normal de domingo e da Eucaristia diária, havia as Laudas matinais (Matinas), as Vésperas à noite e cultos especiais durante a tarde encerrando os jejuns às quartas e sextas. Dois ou três capítulos do Antigo Testamento eram lidos durante os cultos diários, de modo que todos os livros fossem lidos durante um período de três anos. Os quatro evangelhos eram lidos na observação da Eucaristia num período de três anos. Já no século 5º, textos específicos eram determinados para cada festa e os lecionários (livros que ofereciam passagens das Escrituras) passaram a ser usados. Não tardou para que só o clero ordenado realizasse as pregações. Dentre os melhor sermões da igreja primitiva que sobreviveram encontram-se as duzentas homilias de Orígenes. A maior parte era sobre tópicos do Antigo Testamento mas trinta e nove eram baseadas em Lucas. Esses sermões eram

apresentados extemporaneamente depois da leitura do texto daquele dia. Assim como muitos pregadores dos tempos modernos, Orígenes mostrava-se exasperado com a falta de atenção de algumas congregações em que “nem todos entendem o que é dito, mas sua mente e coração estão nos negócios ou em atos mundanos ou calculando seu lucro”. Ainda há sermões de grandes nomes do púlpito na igreja oriental como Basílio de Cesaréia e Gregório de Nazianzo; João Crisóstomo, o maior pregador do Oriente, deixou seiscentos sermões. Este último instruía seus párocos tratando de assuntos do quotidiano e, essencialmente travando um diálogo com eles, mas por vezes sua língua podia ser afiada. Como ele disse aos ricos cobiçosos de Antioquia, “O mundo foi feito para ser como uma casa dentro da qual todos os servos recebem salário igual, pois todos os homens são iguais, tendo em vista que são irmãos”. Crisóstomo era um orador cativante que freqüentemente falava durante duas horas mas, por outro lado, um pregador mais comum, Cesário de Arles (6º século) tinha que limitar seus sermões a quinze minutos e ordenar que as portas da igreja ficassem fechadas para evitar que seus ouvintes saíssem. No Ocidente, Agostinho — que assentou-se aos pés de Ambrósio, ele próprio um mestre da oratória de púlpito — foi o maior dos pregadores. Mais de quinhentos dos seus sermões sobreviveram e sua obra Acerca da Doutrina Cristã é considerada o primeiro tratado importante sobre homilética. Aliás, seus sermões foram compilados na forma de “homiliários” — coleções de sermões que outros pregadores podiam usar com suas congregações. Como instrumentos musicais eram associados a festas pagãs, a prática cristã era a música vocal sem acompanhamento, daí a expressão a capella (“assim como na capela”). Há apenas umas poucas evidências de que os cristãos

talvez tivessem usado a lira e a cítara. Na verdade, um cânon de Basílio de 375 impunha uma penitência de sete semanas para um leitor que aprendesse a tocar o violão; se ele continuasse a tocar, era excomungado. O órgão, instrumento usado na corte imperial, só foi introduzido na Igreja depois do século 7º. Vários escritores recusavam-se a dar ouvidos à objeção de que instrumentos musicais eram usados no Antigo Testamento, afirmando que isso significaria ceder a práticas judaicas. Uma das primeiras coleções de hinos foi Odes de Salomão, do 2º século, composta em siríaco. Algum tempo depois, Efraim o Sírio (306-73) fundou corais em Edessa e compôs vários hinos em sua língua. Ele influenciou grandemente Romano Melodo (485-560), o principal escritor de hinos bizantinos da época e que escreveu kontakia, sermões em verso que eram recitados. Um deles, chamado “Em pé” e dedicado a Maria, ainda é usado na liturgia da Igreja Ortodoxa. Apesar de Hilário de Poitier ter introduzido antes os hinos litúrgicos no Ocidente, Ambrósio é comumente considerado o “pai da hinologia litúrgica”. Ele é mais conhecido por seu uso do cântico na forma de antífonas, o cântico alternado de versos dos Salmos feito por dois corais. Agostinho foi profundamente tocado pela música litúrgica que ouvia na catedral de Milão e registra em suas Confissões:

Mas quando me lembro das lágrimas que derramei ao ouvir o cântico na igreja nos primeiros dias de minha fé recuperada, e de que agora sou tocado não pelo cântico em si, mas por aquilo que é cantado, quando é entoado com uma voz clara e de modulação adequada, mais uma vez reconheço o grande valor desse costume.

A música litúrgica consistia de cânticos monofônicos numa escala

diatônica. Líderes da Igreja como Atanásio, opunham-se a melodias elaboradas, dança, o bater de palmas e o chacoalhar de sistros. Estes últimos eram vistos como uma prática emprestada da adoração a Ísis. Apesar de não existir nenhuma referência explícita a mulheres cantando na Igreja nos dois primeiros séculos, elas sem dúvida participavam dos cânticos congregacionais. No 3º século, Paulo de Samosata, Efraim de Edessa e outros organizaram corais femininos. Por outro lado, alguns insistiam que a ordem de Paulo para que as mulheres permanecessem caladas na igreja também se aplicava ao seu cântico. Cirilo de Jerusalém declarou “as virgens devem cantar ou ler os salmos silenciosamente durante a liturgia. Elas só devem mover os lábios, de modo que nada seja ouvido, pois não permito que mulheres falem na igreja”. O costume de se usar meninos para a música litúrgica iniciou-se no 6º século. Germano de Paris (falecido em 576) relata que no começo da missa, três jovens cantaram o Kyrie eleison triplo, em uníssono. Como as leituras na igreja estavam, na época, sendo entoadas, uma regulamentação de Justiniano permitia que um menino se tornasse leitor aos oito anos de idade.

Dias santos e o calendário cristão Desde os tempos mais remotos, os cristãos se encontravam para cultos no primeiro dia da semana, supostamente porque foi nesse dia que ocorreu a ressurreição de Cristo, apesar dessa justificativa raramente ser mencionada pelos Patriarcas da Igreja primitiva. A obra Evangelho de Pedro do 2º século identificava o domingo como sendo “Dia do Senhor” (ver Ap 1.10). Aparentemente, para se distinguirem das práticas de influência judaica de muitos dos primeiros crentes, os cristãos gentios deixaram de lado a observação

do sábado e passaram a fazer seus cultos no domingo. Outros escritores da época homenageavam o domingo como o primeiro dia da criação. Finalmente, em 321 o imperador Constantino transformou o domingo em feriado legalizado. O dia exato do nascimento de Jesus é desconhecido. Os basilidianos gnósticos do Egito (final do 2º século) comemoravam o batismo de Jesus no dia 6 de janeiro e no começo do 4º século muitos cristãos no Oriente já estavam celebrando tanto seu nascimento quanto seu batismo nessa data. O dia seguinte era dedicado à Epifania (“manifestações”) para os magos (homens sábios), quando o povo cantava o hino de Efraim: “Toda a criação proclama, os magos proclamam, a estrela proclama: Vede, o filho do rei está aqui”. Em 274 o imperador Aureliano decretou 25 de dezembro o dia de celebração do “Sol Invencível”, o primeiro dia em que havia um aumento perceptível de luz depois do solstício de inverno. A menção mais antiga de uma Festa da Natividade nessa data encontra-se num documento escrito em 336. Alguns pensam que Constantino (que morreu em 337) pode ter escolhido esse dia para o Natal por causa do respeito profundamente arraigado ao festival popular pagão do solstício. Outros argumentam que a data foi escolhida para substituir esse festival, isto é, para homenagear o “Sol da Justiça”. Firmemente estabelecido no Ocidente dentro de poucas décadas, passou-se mais um século antes que as igrejas do Oriente adotassem 25 de dezembro. As muitos controvérsias sobre a pessoa e a natureza de Cristo contribuíram para a mudança de ênfase do seu batismo para o seu nascimento. A única a não participar foi a igreja armênia, que até hoje comemora a natividade no dia 6 de janeiro. No 4º século a Epifania era considerada no Oriente um dia tão santo quanto a Páscoa ou Pentecostes, tendo em vista que celebrava o nascimento de Jesus, seu batismo, a adoração dos magos e também a transformação de água em

vinho em Caná. No Ocidente, a ênfase em seu batismo foi deixada de lado e Agostinho a classificou como sendo de importância igual ao Natal pois, de acordo com ele, era o dia no qual o Senhor havia se manifestado para os pagãos. Os cristãos da Espanha foram os primeiros a observar o Advento, uma época que precede o Natal, e o Concílio de Saragossa (380) estabeleceu um período de três semanas. Durante o 6º século esse tempo havia aumentado para cinco domingos, mas Gregório o Grande o reduziu para quatro. Algum tempo antes do 6º século, a igreja do Oriente acrescentou no calendário os quatro dias de festa da Virgem Maria — seu nascimento, a manifestação de Simeão no Templo, a concepção de Cristo e a assunção dela aos céus. Mais tarde essas festas foram trazidas para o Ocidente. Uma comemoração elaborada da morte e ressurreição de Cristo desenvolveu-se à partir do costume simples de se jejuar ás quartas e sextas. No 4º século, os cristãos observavam jejuns semanais às sextas e um período de quarenta dias de abnegação em preparação para a Páscoa, tempo em que abstinham-se de carne, peixe, ovos, laticínios e vinho. Esse período, conhecido como Quaresma era o tempo durante o qual os catecúmenos preparavam-se para o batismo e no qual se fazia as penitências. Era comum jogar cinzas sobre os penitentes, costume que preconizou a prática da Igreja medieval de fazer o mesmo com todos os crentes na Quaresma. O ponto alto do ano cristão era a Semana Santa, culminando com o “Pasch” ou Domingo de Páscoa. Pasch era o termo em aramaico usado para a Páscoa dos judeus, que foi o pano de fundo para a Última Ceia e a idéia cristã de Jesus como o cordeiro pascal (Mc 14.12-16; Jo 1.29; 1Co 5.6-8). No 2º século, o Pasch era celebrado com uma vigília, jejum, leitura das Escrituras, cânticos e a Eucaristia.

A princípio, acontecia simultaneamente com as festas judaicas (14 de Nissan) . A Igreja de Roma, porém, insistiu para que a Páscoa fosse celebrada num domingo pois era nesse dia que Jesus havia ressuscitado dos mortos. Conforme discutimos anteriormente, muitos cristãos na Ásia Menor que seguiam o calendário judaico resistiram a essa inovação, mas acabaram cedendo . Por haver diferenças entre o Oriente e o Ocidente quanto a data do acontecimento pascal em si, o Concílio de Nicéia determinou que a Páscoa seria celebrada no primeiro domingo depois da lua cheia que ocorresse no equinócio de primavera ou depois deste. Assim, a Páscoa podia ser comemorada já em 22 de março ou até 25 de abril. Cinqüenta dias depois da Páscoa era Pentecostes, a festa da vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos (ver capítulo 1). Pentecostes já era observado no 2º século e ocupava o segundo lugar em importância, depois da Páscoa. Também era uma ocasião preferida para batismos e nas igrejas de fala inglesa, veio a ser conhecido como “Whitsunday” por causa das roupas brancas (white) usadas por aqueles que iriam receber o batismo.

O culto aos mártires e relíquias Apesar de Estevão, a maioria dos apóstolos e muitos outros cristãos primitivos terem sido os primeiros mártires da Igreja, o registro mais antigo de culto aos mártires é a história de Policarpo de Esmirna, que foi morto em 156. Seus restos mortais foram ajuntados e sepultados por cristãos que observaram: “Lá o Senhor permitirá que nos reunamos em alegria e felicidade para celebrar o aniversário de seu martírio”. Celebrações anuais dos mártires Hipólito, Calisto, Ponciano e Fabiano já ocorriam no 3º século. Nessa época, as festas de Pedro e Paulo começaram a ser observadas no dia 29 de junho.

Quando as perseguições acabaram, a veneração dos mártires em si foi transferida para suas relíquias e acreditava-se que o lugar de seu sepultamento possuía poderes especiais de cura. Conforme observou Gregório de Nissa, os cristãos podiam ter uma experiência religiosa nesses locais de descanso final: “Aqueles que os vêem, os abraçam como se fosse um corpo vivo com todo seu vigor, eles usam dos olhos, ouvidos e boca, de todos os seus sentidos e então, derramando lágrimas de reverência e paixão, dirigem ao mártir suas preces de intercessão como se ele estivesse presente ali”. A princípio, pequenas capelas (martyria) foram construídas sobre as criptas e mais tarde foram substituídas por basílicas dos mártires. No final do 6º século, esses lugares eram centros de vida eclesiástica. A festa de um mártir incluía uma vigília e missa no local, com a leitura de trechos das Escrituras e a narração do martírio. O banquete comemorativo realizado ali muitas vezes tornava-se um acontecimento tumultuado. O Concílio de Elvira proibiu mulheres de participarem das vigílias no túmulo de um mártir por causa da bebedeira e desordem que poderiam ocorrer. Porém, só algumas vozes isoladas como a de Vigilante de Aquitânia ergueram-se contra os excessos nos cultos aos mártires. Agostinho também observou os abusos ligados ao culto quando reclamou que as relíquias de determinados mártires eram divididas e espalhadas e algumas eram até mesmo fabricadas. Para combater o problema, o imperador Teodósio criou uma lei proibindo a transferência, desmembramento ou venda de ossos dos mártires, mas ela foi logo desconsiderada. Por exemplo, quando os túmulos de mártires nas catacumbas eram ameaçados de ser pilhados por saqueadores, os bispos romanos transferiam os restos mortais para uma igreja dentro da cidade. Assim, as relíquias também eram simplesmente roubadas. É o caso das relíquias de São

Marcos que foram levadas para Alexandria pelos venezianos e São Nicolau de Mira, levadas por marinheiros de Bari. A oferta tornou-se tão abundante que a Igreja medieval exigia que o altar de cada igreja contivesse as relíquias de um santo. Elas eram abrigadas dentro do próprio altar ou em caixas ricamente ornamentadas conhecidas como relicários.

Arquitetura e arte cristã Os primeiros cristãos encontravam-se em casas que foram gradualmente sendo transformadas em igrejas domiciliares, mas depois da conversão de Constantino, foram erguidas grandes construções chamadas basílicas. Elas eram prédios retangulares, com duas fileiras de colunas no interior e um abside na ponta e eram usadas pelas autoridades seculares como cortes legais. Quando Helena, mãe de Constantino, fez sua famosa visita à Terra Santa, ordenou que fossem construídas basílicas sobre uma gruta identificada como o local onde Jesus havia nascido (Igreja da Santa Natividade) e o lugar tradicional do Calvário e seu túmulo (Igreja do Santo Sepulcro). Outras basílicas foram erigidas em Constantinopla e Roma, incluindo a de São Pedro no monte Vaticano e a enorme Basílica de Latrão que tinha quase cem metros de comprimento e capacidade para três mil fiéis. Nas igrejas do Ocidente uma tela era colocada diante do santuário, separando os sacerdotes da congregação, enquanto nas igrejas do Oriente uma parede sólida com portas, a iconostatis, bloqueava completamente a visão dos fiéis. A partir do 6º século foi acrescentada uma plataforma elevada chamada ambo que era usada para leituras das Escrituras e sermões. Toda igreja tinha um batistério que algumas vezes ficava num prédio separado. Foram descobertos mais de trezentos batistérios construídos entre os

séculos 3º e 7º. Pelo fato das piscinas de batismo serem rasas, as pessoas eram imersas ajoelhando e se curvando. A maioria dos batistérios era redonda ou octogonal, tendo em vista que o número oito era considerado símbolo da imortalidade. Exemplos das primeiras formas de arte cristã, aproximadamente do ano 200, podem ser encontrados nas catacumbas romanas. Uma das obras mais conhecidas é a Adoração dos Magos encontrada na catacumba de Santa Priscila. Os três magos, vestidos em trajes persas são retratados oferecendo presentes para a criança que descansa no colo de sua mãe. Um outro tema comum nas catacumbas é o dos milagres de Jesus, como a transformação da água em vinho, a multiplicação dos pães e peixes e a ressurreição de Lázaro. Alguns retratos baseiam-se em modelos pagãos, como o jovem pastor carregando uma ovelha para representar Cristo como o Bom Pastor. Ele também é apresentado como mestre e legislador. A princípio, sua paixão não era retratada. Foi só em 432 que a crucificação foi tema do painel de uma porta numa igreja em Roma (São Sabino). No 4º século, a iconografia imperial, que representava o imperador como um semi-deus, começou a ser usada para Cristo como o poderoso governante do universo. Outra importante forma de arte eram as esculturas em relevos feitas em sarcófagos. Uma grande influência no desenvolvimento da arte cristã foi o próprio Constantino. No 4º século, ele era o maior patrono das artes e graças ao seu generoso apoio, artesãos talentosos começaram a fazer objetos como cálices usando os materiais mais nobres — marfim, vidro, ouro, prata e pedras preciosas. Ele também ordenou que o interior das igrejas fosse decorado com mosaicos brilhantes, feitos de pequenos quadrados de pedras e vidro de cores

vivas. Outros tipos de arte encontrados nas igrejas eram os afrescos nas paredes e as esculturas de personalidades proeminentes. A antipatia para com a arte séria expressada por indivíduos como Tertuliano, que urgia os artistas que se convertiam a abondar sua arte, desapareceu rapidamente. Já não se ouvia mais pontos de vista negativos como aquele expressado por Eusébio, que repreendeu Constantina, irmã de Constantino por solicitar um retrato de Cristo. Aliás, cristãos no Oriente começaram a fazer figuras bi-dimensionais da Santa família e dos santos às quais chamavam de ícones, imagens sagradas que eram veneradas.. A partir do momento em que Teodósio destruiu os templos pagãos e deu suas riquezas para as novas igrejas fundadas nos mesmos locais, o século 5º foi um período de criatividade extraordinária. Foi marcado pela construção de igrejas elaboradas, batistérios, mausoléus, capelas de mártires e mosteiros em centros como Roma, Ravena, Milão, Nápoles, Constantinopla, Tessalônica e Éfeso. Até mesmo na distante cidade jordaniana de Jerash foram erguidas sete basílicas.

Monasticismo Começando no final do 3º século, o movimento monástico trouxe uma nova dimensão à vida cristã. Foi uma reação à crescente corrupção e institucionalização da Igreja. Já no tempo de Constantino, aproximadamente dez por cento da população do império era cristã e um século mais tarde o número daqueles que professavam a fé chegava perto dos noventa por cento. Como o crescimento extraordinário levou a um declínio no zelo, muitos crentes sinceros decidiram deixar a sociedade e dedicar-se a exercícios espirituais e à preparação para o outro mundo. Esses monges e freiras, que abriam mão de todos os

confortos físicos, rejeitavam o sexo e casamento e comiam e dormiam pouco tomaram o lugar dos mártires como novos heróis dos fiéis. O mais importante dentre os primeiros líderes foi Antônio do Egito (cerca de 251-356). Ele foi o fundador do monasticismo anacorético, isto é, aquele em que os monges viviam solitários como eremitas. De rica família copta, aos vinte anos de idade Antônio tornou-se profundamente convicto da ordem de Jesus para o jovem rico vender todas os seus bens, dar o dinheiro aos pobres e segui-lo (Mt 19.21). Assim ele vendeu todas as suas propriedades e assumiu uma vida de eremita sob a orientação de um asceta mais velho. À medida em que progrediu em sua vida solitária, foi cada vez mais para dentro do deserto e por fim passou vinte anos nas ruínas de um forte próximo ao Mar Vermelho. Durante todo esse tempo ele lutou contra poderes demoníacos que desafiavam sua devoção a Cristo. Ele os venceu através de jejuns, vigílias, oração e estudo da Bíblia. Quando Antônio voltou para a civilização, ele era mais do que um herói. Assim como os próprios mártires, era um modelo de santidade. Ele curava os enfermos, mediava controvérsias e ensinava a sabedoria que havia aprendido. À medida em que discípulos eram atraídos até ele, foram sendo criadas comunidades informais de eremitas que imitavam a conduta desse exemplo espiritual. A obra de Atanásio A Vida de Antônio espalhou sua fama por toda a Igreja e quando de sua morte, milhares de cristãos ascetas já viviam no deserto do Egito. Outro líder dos primórdios do monasticismo, o egípcio Pacômio (cerca de 292-346) deu origem ao monasticismo cenobita ou comunal. Depois de tornar-se cristão, primeiro ele passou seis anos vivendo como um eremita. Então, em 323 ele recebeu uma visão para fundar um mosteiro no remoto vilarejo de Tabenesi na região sul do Egito. Quando chegou ao fim de sua vida, havia fundado mais

oito mosteiros e dois conventos na mesma região, com um total de sete mil membros. Moradores de suas comunidades dedicavam-se à castidade, pobreza e obediência. Oravam até doze vezes por dia, mas a austeridade praticada por eles não era tão severa quanto a dos ancoretas. Por causa do trabalho de homens como Antônio e Pacômino, o monasticismo egípcio cresceu nos séculos 5º e 6º chegando a ter cinqüenta mil monges vivendo como eremitas ou em comunidades. Do Egito, o movimento espalhou-se para a Palestina onde Hilário (293371) estabeleceu-se em Gaza e introduziu o monasticismo ancoreta. Os eremitas, que viviam no deserto da Judéia em celas ou cavernas separadas chamadas de lauras, sujeitavam-se a um abade e reuniam-se aos sábados à noite para realizar a vigília e Santa Ceia. Jerônimo também passou vários anos como eremita na Síria e quando voltou para o Ocidente a serviço de Damásio, procurou gerar interesse no ideal asceta. Sua promoção do monasticismo perturbou muitos em Roma pois as pessoas de lá viam com nojo as roupas esfarrapadas, o cabelo despenteado e o mau cheiro dos ascetas. Porém, como foi mencionado no capítulo 3, Jerônimo saiu em 385 para fundar um mosteiro no Oriente e duas mulheres o acompanharam. Uma outra mulher foi antes dele e outra ainda juntou-se a eles mais tarde, sendo que todas dirigiram conventos. Essas quatro mulheres — Melânia a Anciã, Paula, Eustáquia e Melânia a Jovem — eram de origem aristocrática, mas paradoxalmente, obtiveram grande liberdade e prestígio com uma vida de renúncia. Elas não apenas usaram sua grande riqueza para sustentar empreendimentos monásticos como também estudaram literatura religiosa, copiaram as Escrituras e serviram de conselheiras sobre questões teológicas. Algumas formas de monasticismo oriental eram de um ascetismo

incomum, como na Síria onde uma nova forma de rejeição ao mundo era praticada pelos “estilitas” (termo grego para “pilar”). Estes eram eremitas que fugiam não horizontalmente para cavernas, mas verticalmente para o alto de pilares isolados. O mais conhecido foi São Simão Estilita (cerca de 390-460). Ele começou como um simples eremita nos padrões egípcios, passando dez anos em uma cela solitária próxima a Antioquia. Então, em 423 construiu um pilar e foi subindo cada vez mais até que em 430 ele já estava a quase dois metros de altura. Durante trinta anos ele sentou-se numa coluna com apenas um metro de diâmetro com uma corrente ao redor do pescoço e dedicou-se à meditação e conflito com os demônios. Sua devoção atraía peregrinos que buscavam suas orações e conselhos e sua opinião chegou a ser solicitada por vários imperadores e pelos Concílios de Éfeso (431) e da Calcedônia (451). Essa notável demonstração de ascetismo foi levada ao extremo por Daniel o Estilita (falecido em cerca 490) que herdou o pilar de Simão e ali viveu durante três décadas. Dizia-se que quando de sua morte, suas pernas estavam completamente putrificadas. À medida em que as divisões entre ortodoxos e monofisitas cresceu em intensidade e o número de estilitas aumentou tornou-se comum encontrar santos de pilares empoleirados em colunas vizinhas gritando insultos teológicos uns para os outros na paisagem Síria. O monasticismo chegou à Capadócia no 4º século e os teólogos Basílio de Cesaréia (o Grande) e Gregório de Nazianzo foram figuras de destaque no movimento. Basílio é especialmente importante porque pedia aos seus monges que cuidassem das necessidades físicas dos pobres e enfermos e sua Regra, que os orientava a viver em comunidades e não como eremitas, influenciou profundamente o desenvolvimento do monasticismo na igreja oriental. Um discípulo tanto de Basílio quanto de Gregório foi Evágrio Pôntico (345-99) que

saiu de Constantinopla rumo a Jerusalém e veio a ser influenciado por Melânia, a Anciã. Ela o encorajou a adotar uma vida ascética e então ir para o Egito onde ele viveu no deserto. Primeiro monge a escrever extensivamente, Evágrio apresentou a idéia de que através do ascetismo e meditação era possível elevarse acima da tentação e viver sem pecado. O ideal do monasticismo espalhou-se rapidamente para a igreja ocidental. O trabalho de Martinho de Tours foi especialmente importante. Soldado da Panônia (Hungria), ele deixou o exército, tornou-se um monge e fundou o primeiro mosteiro na Gália em Ligugé, próximo a Poitiers por volta de 360. Depois de sua eleição como bispo de Tours em 372 ele continuou vivendo como monge numa fundação que abriu em Marmontier. Um biógrafo e admirador, Sulpício Severo, escreveu sobre Martinho pouco depois da morte dele: “Pois apesar do caráter de nosso tempo ser tal que não lhe ofereceu a oportunidade do martírio, ainda assim ele irá compartilhar da glória do mártir”. Martinho foi a primeira pessoa que não havia sido mártir a ser elevada à posição de santo (“canonizada”) pela Igreja. Outra figura importante do Ocidente foi João Cassiano (cerca de 360433). Depois de passar dezessete anos em mosteiros na Palestina e no Egito, foi para Marselha por volta de 415 e fundou mosteiros tanto para homens como mulheres. Suas obras Conferências — um relato de suas discussões com líderes do monasticismo oriental — e Institutas — um conjunto de regras para a vida monástica — popularizaram a experiência oriental no Ocidente. Posteriormente, elas foram usadas por escritores monásticos e continuam até hoje a ser clássicos da devoção e misticismo cristãos. Da Gália o movimento monástico espalhou-se para a Irlanda, onde conforme será mostrado no capítulo cinco, a forma celta de Cristianismo

consistia no monasticismo. Na verdade, nos séculos 5º e 6º, todo o clero da Irlanda era composto de monges. A instituição também foi introduzida na região norte da Grã-Bretanha por Niniano (cerca de 360-432), um admirador de Martinho de Tours e de seu estilo de vida monástico que evangelizou o povo conhecido como os pictos. A figura mais criativa do monasticismo no Ocidente foi Benedito de Núrsia (cerca de 480-550). Veio de uma família abastada que o enviou para Roma a fim de ser educado. Porém, ele ficou desgostoso com a corrupção da cidade e retirou-se para uma região remota onde viveu como eremita em uma caverna. O lugar de retiro de Benedito foi logo descoberto por pastores e muitas pessoas foram até ele em busca de consolo e conselhos. Outros eremitas reuniram-se ao seu redor e sob sua liderança formaram-se doze comunidades. Depois de um conflito entre os grupos, ele partiu com um pequeno bando de seguidores e fundou um mosteiro cenobita em Monte Cassino, uma montanha isolada entre Roma e Nápoles. Para esse mosteiro ele escreveu uma Regra que tornou-se o padrão para os monges do Ocidente. Fazendo uso de idéias de Basílio, João Cassiano e de uma regra anônima, ela retratava o mosteiro como uma comunidade estável, autosustentável e devotada a Cristo. Seus membros renunciavam todos os bens pessoais, eram celibatários e permaneciam lá para o resto da vida. O líder da comunidade era o abade que deveria ser obedecido sem questionamentos, mas em troca era exigido que ele consultasse os membros sobre questões que afetavam a todos. As tarefas dos monges eram divididas em três tipos: eles adoravam a Deus, trabalhavam nos campos e estudavam a Bíblia. Benedito não via com bons olhos o ascetismo extremo e sua Regra não era tão rígida quanto as da tradição monástica do Oriente.

Os Beneditinos faziam um esforço sincero para praticar o Cristianismo autêntico numa época de crescente indiferença. Isso podia ser visto no ciclo de cultos bem como em suas atividades diárias. Seus cultos aconteciam em sete horários fixos de oração: as Vigílias às duas da manhã, as Laudas ao raiar, as Primas às seis da manhã, as Terças às nove da manhã, as Sextas ao meio-dia, as Vésperas às quatro e trinta da tarde e as Completas às seis da tarde. Mas também era exigido que os monges trabalhassem nos campos e realizassem tarefas no mosteiro. Essa ênfase sobre o trabalho contribuiu enormemente para a valorização do trabalho na sociedade ocidental. Além disso, o mosteiro era um centro de desenvolvimento nos estudos. Em suas escolas os monges aprendiam a ler e escrever, criavam bibliotecas constituídas da Bíblia, obras dos Patriarcas e literatura clássica secular, livros estes que eram meticulosamente copiados á mão. Sem essas bibliotecas, a maior parte do conhecimento da antigüidade clássica teria se perdido. Ainda assim, com freqüência havia tensão entre os líderes monásticos e a hierarquia eclesiástica. Com exceção dos celtas, a maioria dos monges era leiga. Benedito, por exemplo, recusou a ordenação, Jerônimo e Martinho foram ordenados contra sua própria vontade e o eremita egípcio Amon (cerca de 350) cortou fora sua orelha direita para tornar-se desqualificado à ordenação. Um escritor, João de Nicópolis, expressou a típica antipatia monástica pelo sacerdócio ao aconselhar: “Se desejas escapar dos problemas, não deixes o deserto, pois no deserto ninguém pode ordená-lo bispo”.

Nos três séculos depois da conversão de Constantino a Igreja consolidou seu poder e prestígio. Na Europa ocidental a liderança cristã ofereceu estabilidade durante as invasões germânicas e o colapso da ordem política

romana. Liturgias elaboradas foram formuladas para celebrar o batismo e a Santa Ceia e diversos dias santos foram acrescentados ao calendário cristão. Ao contrário do estabelecimento do Cristianismo e do conseqüente declínio da devoção pessoal, o movimento monástico oferecia uma alternativa espiritual autêntica. Os monges constituíam a força missionária que iria liderar a expansão do Cristianismo para outras terras nos séculos seguintes.

Capítulo 5 - A expansão européia da Igreja Lutas internas e migrações bárbaras transformaram drasticamente a situação política no oeste do Império Romano durante os séculos 4º e 5º, dividindo-o em vários reinos hereditários germânicos. Entre os séculos 5º e 10º o Cristianismo espalhou-se além das fronteiras do antigo Império Romano chegando aos celtas na Irlanda, aos alemães a leste do Reno e aos eslavos na Europa central. Ao mesmo tempo, ele resistiu aos ataques que assaltaram a Europa de três direções — os vikings do norte, os magiares do leste e os muçulmanos do sul. Os dois primeiros grupos acabaram convertendo-se à fé cristã, mas o último ocupou os centros tradicionais do Cristianismo no Oriente Médio e Norte da África e invadiu a Espanha.

As migrações germânicas Apesar de suas origens serem envoltas em mistério, ao que parece, durante o primeiro milênio depois de Cristo as tribos germânicas concentravamse nas regiões costeiras do Báltico e do Mar do Norte. Aos poucos elas empurraram para fora os povos celtas que haviam ocupado a área que hoje é conhecida como Alemanha e no 1º século antes de Cristo fizeram contato com os romanos que se expandiam. No século seguinte, detiveram o avanço romano

a leste do Reno e determinou-se uma fronteira (chamada de limes) entre eles. O que se seguiu foi uma paz instável e germânicos individualmente e em pequenos grupos infiltraram-se no Império. Muitos deles serviam o exército ou simplesmente se assentavam lá. Mas, à medida que ocorreu um crescimento populacional além das fronteiras imperiais, as tribos isoladas começaram a se unir, formando confederações maiores. Ao longo da costa do Mar do Norte e da península dinamarquesa ficavam os anglos, saxões e jutos. No vale do Reno estavam os francos e alemães, enquanto os vândalos, burgúndios e lombardos situavam-se nas áreas dos rios Oder e Vístula. Os ostrogodos e visigodos assentaram-se a oeste e noroeste do Mar Negro. Outro grupo de fora eram os hunos, um povo nômade das estepes centrais da Ásia, lendários por sua coragem e crueldade. Eram excelentes cavaleiros que lutavam como arqueiros com armas leves e que depois de não conseguirem entrar na China voltaram-se para o oeste. Os historiadores discordam sobre quão centralizada era a organização dos hunos mas fica claro que suas unidades de cavalaria eram extremamente eficientes. Quando chegaram à Europa central, aterrorizaram os godos que viviam ao longo das fronteiras imperiais. Sua presença desencadeou uma nova onda de migrações tradicionalmente chamada de “invasões bárbaras”. Os povos mais ameaçados de imediato foram os visigodos que pediram permissão para cruzar o Danúbio e assentar-se dentro do Império. O Cristianismo já havia se arraigado em seu meio graças ao trabalho de Ulfilas (cerca de 311-381). Descendente de capadócios, ele viveu entre os godos como prisioneiro e depois foi levado para Constantinopla. Lá, tornou-se um cristão e aprendeu grego e latim. Em 341 foi ordenado pelo bispo ariano Eusébio da Nicomédia e voltou para os godos como missionário. Um homem de grande

aptidão lingüística, ele criou um alfabeto usando letras gregas para representar sons góticos, colocou a língua em forma escrita e traduziu a Bíblia para ela. Porém, conforme observou Filostógiro, um historiador da época, Ulfilas deixou de fora os livros de Reis “pois são apenas histórias de batalhas e as tribos góticas tinham um gosto especial pela guerra e precisavam ser contidas e não incentivadas nesse sentido”. A conversão dos visigodos ao Arianismo teria um impacto profundo em suas relações com outros povos cristãos à medida que deslocaram-se pelo Império. 563

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Em 376 o imperador Valêncio relutantemente permitiu que os godos entrassem em seus domínios e deu-lhes algumas terras em troca de serviço militar. Porém, os oficiais romanos gananciosos e corruptos que eram responsáveis por assentar os visigodos em Trace obrigaram-nos a pagar por suprimentos que o imperador tinha prometido dar a eles. Durante as negociações

para resolver esses problemas surgiram hostilidades e em 378 o próprio Valêncio liderou um exército para tratar com os godos rebeldes. Na batalha que se seguiu em Adrianópolis, as forças imperiais foram derrotadas e o imperador foi morto. Apesar desse acontecimento ser tradicionalmente considerado um ponto crítico na história do Império Romano, nos últimos tempos os estudiosos tem atenuado a importância de Adrianópolis. Isso porque a batalha ocorreu numa parte do Império que sobreviveu por mais mil anos. O novo imperador, Teodósio I, reconheceu os godos como foederati, aliados que juravam servir junto aos exércitos romanos e assentou-os em terras imperiais na Bulgária. Mas tarde, ele usou-os em seu esforço para restabelecer o controle sobre o Império Ocidental. Ainda assim, os visigodos estavam descontentes com sua situação. Sob a liderança de Alarico eles rebelaram-se em 396, destruíram a Grécia e em 402 invadiram a Itália. Alguns anos mais tarde, voltaram-se contra a própria “Cidade Eterna” (Roma). A princípio, Alarico foi comprado com um suborno, mas então, em 410 seus visigodos saquearam a cidade, algo que não havia acontecido em oito séculos. Quando Jerônimo, na distante Belém, ouviu sobre esse desastre, escreveu: “Quem poderia acreditar que Roma não luta mais pela glória, mas por sua própria existência e não chega nem mesmo a lutar, mas sim compra sua vida com ouro?” Enquanto Alarico invadia a Itália, as tropas romanas da fronteira germânica foram chamadas de volta. Isso permitiu que várias tribos germânicas se deslocassem livremente para dentro do território imperial, sendo a mais importante delas a tribo dos vândalos. Em 409 eles avançaram no sentido sul, para a Espanha, mas com a ajuda dos visigodos os romanos os empurraram para o norte da África. Como recompensa por sua ajuda, os visigodos obtiveram

permissão para assentar-se na região sudoeste da França e, mais tarde, na maior parte da Espanha. No final do 6º século, aproximadamente duzentos mil visigodos governavam uma população de oito milhões de hispano-romanos. Estes últimos eram, em sua maioria, católicos (trinitarianos) enquanto a aristocracia guerreira dos visigodos era ariana. Como essa foi a origem de graves tensões entre os dois grupos, o rei Reccared (586-601) decidiu adotar a visão católica de seus súditos e no 3º Concílio de Toledo, em 589, persuadiu os bispos arianos a fazer o mesmo. Isso permitiu que a assimilação entre os dois povos desse início a um período de cooperação bastante próxima entre a Igreja e o Estado que durou até a conquista muçulmana da Espanha no 8º século. Como reação ao Arianismo que ainda continuava, o Concílio formalmente inseriu a cláusula filioque (“e do Filho”) no Credo de Nicéia para definir a processão do Espírito Santo. Mais tarde, a igreja do Oriente iria apresentar objeções quanto à emenda como sendo uma inovação (Na verdade, os líderes da igreja oriental sentiram-se desprezados por não terem sido consultados sobre esse assunto.). Essa ação veio da parte de Isidoro, bispo de Sevilha que serviu como conselheiro de diversos reis visigodos. O mais impressionante dentre uma sucessão de vários bispos, Isidoro era especialmente crítico em relação as atitudes anti-semíticas de seus companheiros espanhóis (já havia uma grande população de judeus em seu meio). Além disso, também tinha suspeitas quanto ao Cristianismo bizantino (oriental). Além de suas outras atividades, ele produziu muitas obras influenciais, incluindo a mais antiga enciclopédia medieval, Etimologias. Os escritos de Isidoro foram usados especialmente pelos líderes da igreja irlandesa e inglesa. Sob a liderança de Gaiserico, os vândalos cruzaram o Estreito de Gibraltar

em 429 e dominaram a região ocidental do norte da África. Construíram então uma poderosa esquadra e atacaram as ilhas do Mediterrâneo e o sul da Itália. Em 455 capturaram e saquearam Roma de modo ainda mais completo do que haviam feito os visigodos em 410. Os vândalos eram arianos extremamente devotos que perseguiram os católicos e exilaram cinco mil clérigos no deserto do sul. Em 484, um concílio em Cartago — que era controlada pelos vândalos — chegou até mesmo a declarar que o catolicismo era uma heresia. Depois da morte de Gaiserico, o reino entrou rapidamente em declínio e a região foi reconquistada por Justino em 534. Enquanto isso, os hunos que haviam se localizado temporariamente a norte do Danúbio e aterrorizado tanto tribos germânicas quanto eslávicas serviram como soldados mercenários e receberam dinheiro de tributo dos imperadores romanos. Porém, em 450 o imperador recusou-se a continuar fazendo o pagamento combinado e então Átila, o único governante dos hunos desde 445, liderou um exército para dentro do império. Em 451 uma confederação de galo-romanos, visigodos e outros germânicos derrotou suas forças numa batalha próxima a Chalons, na França, e forçou sua retirada para o Danúbio. No ano seguinte ele atacou a Itália e encontrou pouca resistência, mas Leão I dirigiu-se para o norte, vindo de Roma e persuadiu o líder dos hunos a sair. O motivo real de sua retirada dos territórios italianos aparentemente indefesos pode ter sido uma epidemia que devastou o exército de Átila. Em 453 Átila faleceu e acabou-se a ameaça dos hunos sobre o império mas em lendas cristãs posteriores ele ficou conhecido como o “flagelo de Deus”, o temível instrumento da vingança divina. Durante o século 5º duas invasões do Império do Ocidente levaram à formação de importantes estados hereditários. Em 493, Teodorico (cerca de 455-

526) estabeleceu um reino ostrogodo. Ele era filho do governante ostrogodo da província romana da Panônia (Hungria) e foi educado na corte imperial em Constantinopla. Um cristão ariano, ele tornou-se sucessor da liderança tribal em 475. O imperador ficou aliviado quando ele e seus godos dirigiram-se para o norte da Itália, depuseram de lá aquele que se dizia imperador, fundaram uma nova capital em Ravena e restauraram a estabilidade. Apesar de ser um líder guerreiro, Teodorico também foi um eficiente administrador que tinha uma bom domínio do sistema imperial romano e apoiou-se em oficiais romanos ao invés de dar a administração civil para os godos. Na verdade, ele estabeleceu uma sociedade dupla, romana e gótica, cada uma com suas próprias leis, governantes e práticas religiosas. O lado militar ficou sob domínio dos godos e a cultura foi controlado pelos romanos. Mesmo sendo arianos, Teodorico e seus líderes demonstraram uma tolerância admirável em relação à fé católica dos nativos italianos. “Não podemos comandar a religião de nossos súditos, tendo em vista que ninguém pode ser forçado a crer contra sua vontade”. Porém, pouco antes de sua morte, Teodorico teve sérios mal-entendidos com a população romana que não gostava muito de seu governante ariano. Ele acusou diversas figuras proeminentes de traição, inclusive Boécio (cerca de 480-525), o maior filósofo cristão da época, que foi executado. Enquanto estava na prisão, Boécio escreveu sua famosa obra Consolo da Filosofia. Cassiodoro (cerca de 447-570) é o melhor exemplo do uso de católicos por um governante ostrogodo ariano em sua administração. Ele colocou os estudos literários a serviço da religião cristã ao colecionar e preservar tanto escritos clássicos quanto cristãos. Suas obras sobre Teologia e ciências humanas foram amplamente utilizadas na Idade Média. Depois da morte de Teodorico, o

reino ostrogodo desintegrou-se rapidamente e foi reincorporado pelo Império Bizantino de Justiniano em 552. A essa altura, a cidade de Roma havia se transformado em símbolo de atraso cultural e econômico. Os burgúndios eram uma tribo germânica deslocada pelos hunos que avançou no sentido oeste indo para o sudeste da França no final do século 5º. Apesar de serem arianos, eles tinham um bom relacionamento com os católicos latinos dentro dos antigos centros católicos que ocupavam e em 516, seu rei Sigismundo decidiu converter-se ao Cristianismo católico. Um acontecimento muito mais importante foi a invasão dos francos, uma coalizão de povos germânicos, que assentaram-se no norte da França. Eles foram a única tribo germânica a entrar no império como pagãos e não como cristãos arianos. O primeiro grande rei franco, Clóvis (466-511) colocou sob seu governo todas as diversas tribos e infligiu derrotas sobre os visigodos, burgúndios e alemanos. Apesar de ser pagão, Clóvis era casado com Clotilda, uma princesa católica. De acordo com a lenda franca, Clóvis estava lutando contra os pagãos alemães quando voltou-se para o Deus de sua esposa para pedir ajuda. Ele prometeu aceitar a Cristo se saísse vitorioso e quando a guerra terminou em seu favor, ele e mais três mil dos seus guerreiros foram batizados no dia de Natal em 496 pelo bispo de Rheims. Clóvis foi o primeiro governante germânico a tornarse católico e sua conversão foi o acontecimento político-religioso mais importante desde a conversão de Constantino pois estabeleceu os alicerces de alianças posteriores entre os francos e o papado. Porém, esse ato não levou a uma vida santa. Gregório de Tours relata vividamente em sua História dos Francos (573-91) como era o estilo de vida dissoluto, as brigas, intrigas e assassinatos que caracterizavam o governo dos sucessores de Clóvis, os merovíngeos. Gregório, o principal líder da Igreja

durante o período merovíngeo, recordou-se com carinho da vida de São Martinho de Tours — que tanto havia feito para converter os camponeses cristãos e expandir o monasticismo na Gália — e comparou-a com a triste situação do seu tempo. Os governantes merovíngeos, por exemplo, não tinham nenhum escrúpulo quanto a tomar posse de propriedades da Igreja e nomear bispos de sua preferência. Um grupo extremamente violento, eles lutavam constantemente entre si e chegaram a levar ofertas de ação de graças ao santuário de São Martinho depois de terem cortado a garganta de seus rivais. A própria disciplina clerical tornou-se tão ruim a ponto de dois bispos terem que ser depostos por violência e adultério. Apesar do Cristianismo franco ser somente de aparência, os governantes batizavam seus filhos e, no século 7º, quase toda a população havia recebido o batismo. Mas poucas pessoas dedicavam-se à sua fé, a ceia era tomada raramente e quase não se prestava atenção nos sermões do clero. Há registros de que Hilário de Arles gritava com aqueles que saíam do culto antes do sermão, dizendo que eles não teriam como sair tão facilmente do inferno e Cesário de Arles trancava as portas da igreja para impedir que seus párocos saíssem antes de ele pregar. O último povo germânico importante a entrar no Império foram os lombardos. Justiniano havia permitido que ficassem na Panônia como aliados contra os ostrogodos e seus soldados participaram em sua guerra na Itália. Mas, ao destruir o único poder que tinha como mantê-los afastados, os lombardos arianos conseguiram voltar à Itália como conquistadores em 568. Eles dominaram a maior parte da região central e norte da Itália, impuseram seus costumes sobre essa área e tornaram-se rivais do papado pelo controle da Itália. No século seguinte, os lombardos mudaram para a ortodoxia católica.

No final do 6º século, vários estados hereditários germânicos tinham ocupado o território do Império Romano ocidental. Mas seria errado falar da “queda de Roma”, como acontece com tanta freqüência na literatura popular. O fato é que os imperadores do século 5º simplesmente abriram mão ou perderam o controle do território do Império para governantes germânicos. Teoricamente, esses povos eram subordinados à autoridade do imperador, mas na realidade ele não recebia nenhum benefício material deles e não podia exercer autoridade sobre seus súditos germânicos. Assim, o Império do Ocidente simplesmente delegou o poder e deixou de existir. Porém, a cultura romana manteve sua continuidade à medida em que as tribos eram assimiladas em diferentes graus e diziam ser cristãs.

O Cristianismo nas ilhas britânicas O Cristianismo havia se estabelecido entre o povo na Grã-Bretanha romana e é possível que até trinta bispos estivessem em serviço até o final do 4º século. Deste modo, as invasões anglo-saxônicas podem ter enfraquecido mas não extinguiram a igreja celta. Quando as unidades militares romanas foram retiradas por volta do ano 400 para lidar com problemas no continente, a GrãBretanha ficou sujeita aos ataques dos pictos e irlandeses. Os saxões foram contratados como mercenários para oferecer defesa contra esses invasores. Assim, eles entraram na Grã-Bretanha da mesma forma como os francos e visigodos entraram no Império e assumiram um papel na sociedade que antes havia sido desempenhado pelo exército romano. Por causas desses acordos, cada vez mais saxões, juntamente com anglos e jutos, se estabeleceram nas regiões leste e norte da Grã-Bretanha, mas poucos eram cristãos. As obras que fazem referência à história primitiva do Cristianismo pós-

romano são de Nênio (cerca de 800) — que menciona o ministério de Patrício na Irlanda e o lendário rei Artur que lutou contra anglo-saxões — e do Venerável Bede (673-735), um monge de Wearmouth e Jarrow no norte da Inglaterra. Apesar de haver poucas informações concretas, sabe-se que Niniano levou o evangelho aos pictos no sudoeste da Escócia no final do 4º século. Ele fundou uma famosa igreja no mosteiro em Whithorn e ministrou para os povos dessa área remota. O povo de Gales foi evangelizado no 6º século por um asceta quase desconhecido chamado Dewin ou São Davi, que fundou uma dúzia de mosteiros. Quando no século 11 os galeses declararam sua independência da igreja inglesa, afirmaram de modo ousado o fato pouco provável de que David tinha sido nomeado “arcebispo de toda a raça britânica” pelo patriarca de Jerusalém. Não se sabe ao certo quando o Cristianismo chegou à Irlanda, mas uma crônica antiga relata a existência de um indivíduo chamado Paládio que foi enviado de Roma em 431 para ser bispo dos “irlandeses crentes em Cristo”. Porém, o verdadeiro crédito pela evangelização dos irlandeses é dado a São Patrício (cerca de 389-461). Tudo o que se sabe ao certo sobre ele vem de seus dois escritos que sobreviveram: As Confissões e Cartas aos Soldados de Caróticus. As biografias posteriores de São Patrício são adornadas por elaboradas lendas e histórias de milagres. De família cristã da Grã-Bretanha, Patrício foi capturado por invasores aos 16 anos de idade e levado como escravo para a Irlanda. Depois de passar seis anos trabalhando como pastor, ele escapou e voltou para sua família. Logo depois disso, recebeu uma visão na qual ouviu a voz dos irlandeses clamando para ele “pedimos-lhe, menino, que venha andar entre nós mais uma vez”. Respondendo a esse chamado ele estudou num mosteiro em Gales e então foi

para a Irlanda. Chegou por volta de 432, já consagrado como bispo e passou os próximos trinta anos lá. Ele pregou, fundou várias igrejas e mosteiros e até mesmo converteu membros da família do Alto Rei em Tara. Em 444 fundou sua catedral em Armagh, que tornou-se o centro educacional e administrativo da igreja irlandesa. A característica singular da igreja fundada por Patrício era que ela baseava-se na organização monástica e não na diocesana e no clero catedral. Essa estrutura foi resultado da peculiar sociedade irlandesa pois as terras eram divididas entre oitenta a cem clãs variáveis (reinos) e praticamente não havia cidades. Numa situação tão flutuante, era impossível estabelecer dioceses fixas. Os mosteiros, que possuíam terras e rebanhos, normalmente eram controlados por abades indicados pelos chefes (reis) locais. Uma outra razão para a ênfase monástica era a capacidade dos monges de preencher dentro da sociedade irlandesa o lugar que antes havia sido ocupado pelos mágicos (druidas) e poetas, que tinham desempenhado o papel de sacerdotes e estudiosos. Na sociedade pagã anterior à alfabetização, esses indivíduos haviam memorizado as leis, genealogias e lendas que permitiam a conservação de registros desses reinos e a base “histórica” para sua existência separada. Assim, os monges assumiram o papel das elites existente e puderam ganhar a população para Cristo. Eles também ficaram conhecidos por seu asceticismo e dedicação a um estilo de vida simples. Ao mesmo tempo, contudo, tinham grande entusiasmo pelos estudos, o que pode ter sido encorajado por estudiosos do continente que haviam fugido antes das invasões germânicas. O melhor latim da Europa era ensinado nas escolas monásticas daquela época e os irlandeses eram especialistas no ensino do latim como língua estrangeira pois nunca haviam feito parte do Império Romano e compartilhado de sua cultura.

Para eles, isso viria a ser uma vantagem ao dedicarem-se ao evangelismo entre os povos germânicos. Como a tradição de serem itinerantes permaneceu forte entre os monges irlandeses, eles puderam realizar uma obra missionária eficaz. A Irlanda era, essencialmente, o centro literário, artístico e cultural do Ocidente, sendo prova disso obras com ilustrações ornamentais como O Livro de Kells e Os Evangelhos de Lindisfarne (começo do 8º século) e as elaboradas esculturas de cruzes celtas encontradas na ilha.

Agostinho de Canterbury O maior papa do início da Idade Média, Gregório I, tinha um forte compromisso com a renovação da Igreja no Ocidente. Estava particularmente interessado na expansão do Cristianismo para a Inglaterra anglo-saxônica. Diz a lenda que, quando ainda era um monge, ele viu meninos ingleses colocados à venda no mercado de escravos romanos. Ele perguntou: “Quem são eles?” e a resposta foi “Anglos”. Então Gregório disso “Eles não são anglos e sim, anjos”. Seja como for, ele havia de fato planejado com cuidado a missão para a GrãBretanha. Em 596 ele enviou um grupo de quarenta monges sob a liderança de Agostinho, o prior de um importante mosteiro em Roma. No ano seguinte, eles chegaram à corte do rei Etelberto de Kent, uma figura de destaque entre os doze governantes anglo-saxões da Grã-Bretanha. Tendo em vista que sua rainha Berta (filha de um rei franco) já era cristã, Agostinho pôde persuadi-lo a receber a Cristo e o rei foi batizado em 603. Como a capital do rei Etelberto era em Canterbury, ele ofereceu a Agostinho — que havia sido nomeado arcebispo por Gregório — um palácio para usar como sua sede episcopal. Por isso o centro do Cristianismo inglês veio a se localizar naquele lugar ao invés da cidade maior

que era Londres. Gregório também aconselhou Agostinho a adaptar práticas pagãs ao contexto cristão ao invés de condená-las por completo e através desse meio, ele ganhou os anglo-saxões para Cristo. Seguiu-se um longo e confuso período de lutas entre os reis anglo-saxões. O problema era que, apesar dos novos governantes vindos da Alemanha serem pagãos, um certo Cristianismo popular ainda persistia entre os bretães celtas, o que foi reforçado pelos missionários irlandeses que começaram a chegar na GrãBretanha. Ao mesmo tempo, os dois séculos de separação entre os celtas e Roma havia levado ao desenvolvimento de diferenças na disciplina e na prática entre as expressões da fé cristã de ambas. Agostinho tentou em vão reconciliar as duas partes e essa continuou sendo uma questão crítica na religião da Inglaterra durante o século 7º. Alguns reis chegavam a ver desdenhosamente o Cristianismo como a fé dos seus servos e inimigos, os celtas. A missão católica a Kent estendeu sua influência para o norte em 625 quando uma filha de Etelberto casou-se com Edwin, rei da Nortúmbria, o governante anglo-saxão de maior destaque. Paulino, um dos missionários romanos, acompanhou a rainha até York e começou a pregar para os súditos do rei. Então, em 627 Edwin convocou um concílio no qual foi permitido a Paulino discutir os méritos do Cristianismo. Ele perguntou aos seus conselheiros o que achavam da nova fé e um deles respondeu:

Ó Rei, a vida do homem é como o vôo de uma andorinha por nossa sala de banquetes, deixando a escuridão e o frio por um momento, passando pela luz e calor e voltando novamente para o escuro e o frio. Uma religião que possa nos dizer mais sobre o escuro além certamente deve ser seguida1.

Baseado nesse conselho, Edwin decidiu tornar-se um cristão e foi

batizado em York no domingo de Páscoa daquele ano. Como já era bispo, Paulino fundou uma catedral em York que logo tornou-se o outro importante centro do Cristianismo na Inglaterra. Edwin e Paulino fizeram muita coisa para converter as regiões vizinhas de Linconshire e Ânglia Oriental ao catolicismo romano. Porém, depois da morte de Edwin em 633, a liderança passou para um outro ramo da casa real da Nortúmbria, aquele chefiado por Osvaldo. Este havia sido batizado na igreja celta e, ao assumir o poder, voltou-se para os monges irlandeses que substituíram Paulino e seus colegas de trabalho. Um resultado das mudanças foi que Osvaldo deu ao monge Aidan a ilha de Lindisfarne para construir um mosteiro que funcionou como centro do Cristianismo celta na Nortúmbria. Foi difícil reconciliar as diferenças que haviam surgido entre os celtas e os romanos (católicos) e isso impediu a organização de um grupo comum para converter os pagãos na Grã-Bretanha. Por exemplo, os celtas muitas vezes tinham apenas um bispo presente na ordenação de outro bispo, enquanto os romanos exigiam a presença de pelo menos três bispos numa consagração episcopal. Outra diferença estava na “tonsura” dos sacerdotes, isto é, como seu cabelo deveria ser cortado e a cabeça raspada. Os celtas tiravam todo o cabelo da orelha para cima e deixavam um pequeno tufo no alto, como uma auréola enquanto os romanos raspavam o topo e deixavam uma borda em volta das orelhas, como uma coroa de espinhos. Uma terceira discussão girava em torno da data da Páscoa. Os irlandeses seguiam um calendário antigo e falho, enquanto os romanos haviam descoberto a data mais precisa. Assim, os celtas comemoravam a Páscoa no dia 14 de abril e os romanos no dia 21 de abril. O Sínodo de Whitby (664) resolveu a questão da

data da Páscoa e sua decisão foi aceita aos poucos pelas diversas igrejas celtas. Isso abriu caminho para a união das duas facções e solucionou o problema mais sério no início da história da igreja britânica.

Missões celtas Uma característica notável do Cristianismo celta era seu fervoroso zelo missionário que nos séculos 6º e 7º resultou na fundação de mosteiros na Escócia, Inglaterra, Bélgica, norte da Alemanha, França e até mesmo na Itália. Columba (521-97) estava entre as figuras mais proeminentes do movimento. Apesar de ser um monge devoto, era um indivíduo belicoso que parecia estar sempre envolvido em conflitos. Seus companheiros monges acabaram exilando-o da Irlanda e ordenando que pagasse seus pecados convertendo para Cristo um número de almas igual àquele cuja morte ele havia causado. Aos 42 anos de idade, ele partiu com doze companheiros para a solitária ilha de Iona, perto do litoral da Escócia onde viveu austeramente numa pequena cabana dentro de seu mosteiro e demonstrou grande compaixão pelos pobres e necessitados. Passou os trinta quatro anos seguintes evangelizando as ilhas vizinhas e a Escócia. Um dos convertidos foi Brude, rei dos pictos. Columbano (cerca de 540-615) foi um clérigo irlandês com uma grande paixão pelo aprendizado e que em 590 partiu para a obra missionária na Europa continental. Ele fundou mosteiros em várias partes da França, sendo Luxeil o mais conhecido e, por um tempo, a melhor instituição naquela região. Quando os monges começaram a ter dificuldades com o governante burgúndio em 612, mudaram-se para o norte da Itália, onde em meio aos lombardos arianos Columbano fundou Bobbio, seu mosteiro mais famoso. Gall (cerca de 550-645), um de seus companheiros de trabalho, trabalhou na Suíça e abriu uma pequena

abadia. Mais tarde, ela tornou-se o mosteiro beneditino de São Gallen, que até hoje é conhecido por sua magnífica biblioteca. O tipo de monasticismo praticado por Columbano era extremamente intenso, sendo que comida, vestimenta e conforto pessoal eram restringidos com severidade. Os monges tinham oito cultos por dia e cantavam os Salmos quase que continuamente. Um monge que não respondeu o “Amém” foi corrigido com seis golpes e alguém que contasse histórias sem propósito podia receber até cinqüenta golpes. O rigor da Regra de Columbano acabou dando lugar à um padrão beneditino mais moderado. O prestígio do asceticismo irlandês, a reputação de santidade dos monges (dizia-se que estavam “embriagados com Deus e não com vinho”) e a ênfase nos estudos bíblicos atraíram muitos visitantes a essas fundações. A Irlanda oferecia lugares espirituais que antes eram encontrados nos mosteiros e mestres ascéticos do Egito e Palestina, sendo que o acesso a estes havia sido cortado pela conquista árabe. Sabe-se da fundação de mais de duzentos mosteiros francoirlandeses no século 7º e a partir deles saíram inúmeros empreendimentos missionários. Um deles foi o de Amando de Aquitaine (cerca de 584-675) que exerceu o ministério primeiro entre os bascos e os eslavos do Danúbio e depois tornou-se bispo de Maastrich. Ele é lembrado como o “Apóstolo da Bélgica” por causa de seus quarenta anos de serviço entre os povos flamengos.

As missões continentais anglo-saxônicas No começo do 8º século a cultura cristã havia tornado-se tão firmemente arraigada na Grã-Bretanha que os ingleses começaram a substituir os irlandeses como missionários na Europa. Um dos líderes dessa obra foi Willibrord (658-

739) da Nortúmbria. Em 690 ele e um grupo de companheiros viajaram para a Frísia e começaram um trabalho nas ruínas do forte romano de Utrecht. Nesse empreendimento, foram sustentados pelos governantes flamengos que desejavam estender sua autoridade para além-mar. O herdeiro de Willibrord na missão da Frísia foi um outro monge anglosaxão, Wynfrith (680-754), conhecido mais tarde como Bonifácio. Aquele que se tornaria “Apóstolo da Alemanha” nasceu em Devon e foi educado num mosteiro beneditino na Inglaterra. Depois de trabalhar durante três anos na Frísia ao lado de Willibrord, Bonifácio dirigiu-se para o sul e organizou igrejas em Hesse, Turíngia, Francônia e Bavária. Numa visita a Roma em 722 ele foi consagrado bispo itinerante da Alemanha pelo papa Gregório II. Então, retornou para o seu campo de trabalho e realizou ali o que foi um dos feitos lendários mais comoventes do começo da Idade Média. Em Geismar (perto de Fritzlar) havia um grande carvalho que o povo de Hesse considerava sagrado para o seu deus, Tor. Bonifácio disse-lhes que iria cortar a árvore para provar que Tor não era deus e demonstrar a superioridade do Deus cristão. Enquanto uma tempestade se formava, observadores trêmulos esperavam que Bonifácio fosse morto com um raio. Mas assim que o machado atingiu a árvore, uma súbita rajada de vento rasgou-a em quatro partes que depois Bonifácio cortou em tábuas e usou para construir uma capela em homenagem a São Pedro. Nos anos seguintes, Bonifácio dividiu os territórios germânicos em dioceses e fundou mosteiros de estilo beneditino, sendo o mais importante deles em Fulda. Também começou escolas que treinavam tanto sacerdotes quanto leigos e que serviam de centros missionários e lugares de aprendizado. Inspirou muitos ingleses a juntarem-se a ele em iniciativas missionárias e monásticas, sendo uma das inglesas uma mulher chamada Lioba. Esta tornou-se abadessa do

convento de Tauberbischofsheim e ficou conhecida por seu conhecimento não apenas das Escrituras mas também da lei canônica e da história da Igreja. Ao contrário dos missionários celtas, Bonifácio não era um individualista austero e sim um líder, organizador e, acima de tudo, servo do papado. Mais do que qualquer um, ele foi responsável pela construção da Igreja medieval alemã. Com o auxílio de monges e freiras anglo-saxões ele destruiu os últimos pontos de resistência do paganismo alemão e fundou abadias e dioceses em seu lugar. Como a Alemanha a leste do Reno ainda era uma terra sem cidades, as cátedras dos bispos tornaram-se os novos centros de vida urbana. Além do seu trabalho entre os pagãos germânicos, Bonifácio foi o reformador da igreja franca. A decadente dinastia merovíngea havia entregue grande parte do seu poder aos Prefeitos Palacianos que, apesar de suas habilidades militares, não faziam nada para trazer avanços culturais ou moralizar a Igreja. Um deles, Carlos Martel, confiscou propriedades da Igreja e usou abadias e dioceses como recompensa para seus amigos. Bonifácio condenou essa corrupção numa carta ao papa:

Todos os seus crimes não os impedem de alcançar o sacerdócio; finalmente, crescendo em pecado à medida que sobem na hierarquia, tornam-se bispos e aqueles que podem se orgulhar de não ser adúlteros ou fornicadores, são beberrões, dados à caça e soldados que não se abstém do derramamento de sangue cristão.

Porém, numa série de concílios nos quais ele representou o papa, Bonifácio conseguiu reorganizar a igreja franca sob os bispos metropolitanos que reportavam a Roma. Cansado da política eclesiástica, Bonifácio voltou para o campo missionário em busca do martírio. Não tardou a encontrar a morte pela qual

havia ansiado, quando ele e um grupo de seguidores foram massacrados por frísios pagãos em Dokkum (Holanda). De acordo com seu desejo, foi sepultado sob o altar em Fulda, onde suas relíquias estão até hoje. Os monges irlandeses e ingleses haviam transformado a Europa numa terra cristã ao converter o humilde povo camponês para sua fé. O trabalho de Bonifácio em particular afetou o desenvolvimento da Igreja católica pois suas obras missionárias trouxeram grande parte dos povos germânicos para dentro da estrutura de uma Europa cristã, enquanto suas atividades na Galísia fortaleceram os laços entre a igreja franca e o papado.

As invasões vikings Os vikings (também conhecidos como nórdicos ou povos do norte) eram um povo proveniente da Escandinávia, voltado para o mar e ligado aos germânicos étnica e lingüisticamente. Entre o final do século 9º e o início do século 11, fizeram comércio e atacaram europeus da Espanha até a Rússia, sendo que suas atividades mais destrutivas ocorreram nas Ilhas Britânicas e na França. Também criaram assentamentos pacíficos nas ilhas do Atlântico Norte, Islândia, Groelândia e, por um curto período de tempo, na América do Norte. Há muita discussão histórica sobre os motivos que levavam os vikings a atacar e como países escandinavos pequenos, pobres e distantes podiam enviar tantos guerreiros do mar. Entre as explicações podemos citar uma explosão populacional, pressões da expansão eslávica do sudeste, mudanças climáticas e avanços na construção de navios e tecnologia de navegação. Essa era de migrações também coincidiu com o tempo em que governos organizados estavam se estabelecendo na Escandinávia de modo que dali em diante muitos grupos pequenos foram aos poucos unificando-se sob os reis da Dinamarca,

Noruega e Suécia. Talvez, à medida em que alcançou-se estabilidade interna, os indivíduos mais agressivos e violentos foram para outros lugares. Apesar dos três povos terem participado das jornadas, só aqueles da Noruega e Dinamarca atuaram na Europa ocidental. Os suecos, que governavam o Mar Báltico, penetraram nas terras eslavas da Europa oriental. É possível que a princípios os vikings tivessem sido recebidos como comerciantes, mas o povo das Ilhas Britânicas e da França logo descobriu que eles preferiam a pirataria ao invés da paz. Seus ataques aterrorizavam os moradores do litoral e comunidades ribeirinhas e, a julgar por seus nomes e feitos, sua ferocidade não tinha limites. Homens como Erik Bloodaxe (do Machado Ensangüentado), Harald Bluetooth (do Dente Azul) e Thorkill Skullspliter (o Quebra-Crânios) tinham a guerra como ocupação e entravam em estado de frenesi, uivando como lobos e segurando suas espadas de ferro com os dentes. Muitos fizeram preces como a do povo da França: “Da fúria dos homens do norte, Senhor, livrai-nos”. Em 795 os vikings começaram ataques rápidos quase incessantes sobre a Irlanda, mas na década de 830 passaram a se assentar no litoral. Seus portos mais tarde desenvolveram-se formando cidades como Dublin, Limerick, Cork e Waterford. Outras invasões se seguiram e as dificuldades resultantes eram tantas que um cronista irlandês daquela época se lamentou dizendo:

Se cem cabeças de ferro endurecido pudessem crescer em um só pescoço, e se cada cabeça tivesse uma centena de línguas afiadas e indestrutíveis feitas de metal temperado, e se cada língua gritasse incessantemente com uma centena de vozes impossíveis de se erradicar, elas jamais seriam capazes de enumerar as tristezas que o povo da Irlanda — homens e mulheres — sofreram nas mãos desses guerreiros cruéis e pagãos.2

As famosas torres redondas da Irlanda — fortificações defensivas nas quais o povo se abrigava quando os atacantes vikings apareciam — são desse período. Porém, no ano 1000 a ameaça havia diminuído e os vikings se misturado através do casamento com os nativos irlandeses e aceito o Cristianismo. Na Inglaterra, os primeiros ataques vikings ocorreram no final do 8º século. A “Terra Santa” de Lidisfarne foi atacada em 793 e um relato declara que a igreja do mosteiro ficou “manchada com o sangue dos sacerdotes de Deus e despojada de todos os seus ornamentos”. O mosteiro de Bede em Jarrow foi incendiado e as construções na ilha de Iona foram sucessivamente saqueadas. Do ponto de vista do vikings, saquear igrejas e mosteiros fazia perfeito sentido. Eram lugares de fácil acesso e instituições abastadas que continham ricos tesouros como relicários de ouro, capas de livros incrustadas de jóias e ornamentos litúrgicos. Em 865 uma força dinamarquesa liderada pelos filhos de Ragnor Lodbrok conquistou a Mércia e a Nortúmbria. Porém não foram capazes de subjugar Wessex, que era governada pelo resistente monarca Alfredo o Grande, um distinto estudioso bem como competente guerreiro. Eles concluíram um tratado de paz com o rei em 878 e o líder dinamarquês Guthrum aceitou ser batizado e deixar aquela região. Com efeito, as terras foram divididas entre os saxões e os dinamarqueses e o território viking passou a ser chamado a partir de então de Danelaw. O que seguiu-se foi uma considerável imigração dinamarquesa para aquela área e os recém chegados foram aos poucos tornando-se cristãos. Uma segunda onda viking ocorreu entre 980 e 1035 e de 1016 a 1035 um rei dinamarquês chamado Cnut (Knute) ocupou o trono inglês. Líder de um

poderoso império escandinavo, rei da Dinamarca (1019) e Noruega (1028), Cnut também era um cristão fervoroso que chegou até a convidar missionários para evangelizar sua terra natal. No século 9º, tanto vikings noruegueses quanto dinamarqueses atacaram cidades francesas ao longo dos rios Sena e Loire como Rouen, Nantes e Paris e mais tarde Bordeaux e Toulouse também. Ao invés de voltarem para casa durante o inverno como costumavam fazer, os vikings começaram a assentar-se na França e intensificar suas operações. Então, em 911, Carlos o Simples, rei dos francos do Ocidente, fez um tratado com Rollo, um líder viking. Os homens do norte receberam uma grande extensão de terra ao longo da costa e Rollo foi batizado e casou-se com uma princesa da França. Assim também seus seguidores tornaram-se cristãos e fixaram residência no território prometido que era chamado de Normandia. Conhecidos como normandos, ainda retinham suas energias vikings e nos dois séculos seguintes invadiram a Inglaterra e depuseram a monarquia anglo-saxônica, fundaram reinos no sul da Itália e Sicília e desempenharam um papel importante nas Cruzadas. Enquanto os vikings estavam aterrorizando a Europa, a primeira iniciativa de convertê-los foi tomada pelo monge Ansgar (801-65). Ele pregou na Dinamarca e Suécia, teve pouco sucesso, mas tornou-se então arcebispo de Bremen onde teve um ministério eficaz e lançou os alicerces para a conversão da Escandinávia que veio a ocorrer mais tarde. Seus sucessores no norte da Alemanha deram continuidade ao trabalho de evangelização da área conhecida como Saxônia contando com a ajuda de missionários da Inglaterra enquanto, ao mesmo tempo, consideravam-se arcebispos de toda a região. Ainda assim, só no século 12 é que finamente foram criadas dioceses escandinavas. Na última metade do século 10º e primeira do século 11, três dos

principais reis — Harald Bluetooth da Dinamarca, Olaf Trygvesson da Noruega e Olaf o Coletor de Impostos da Suécia — formalmente transformaram o Cristianismo em religião oficial dos seus domínios. A razão para que renunciassem ao paganismo foi tão política quanto religiosa, pois viram a organização da Igreja como sendo útil para manter um Estado ordeiro. Porém, na Suécia o Cristianismo demorou para criar raízes e as lutas entre a antiga e a nova fé continuaram ao longo do século 11. Um cronista — Adão de Bremen — deixou um horrível relato de sacrifícios humanos que eram uma parte central do culto pagão no templo de Uppsala: “Podia-se ver cães e cavalos pendurados perto de seres humanos. Um cristão disse-me que tinha visto setenta e dois corpos pendurados juntos”. Ainda assim, o evangelho prevaleceu e em 110 o templo havia sido destruído e uma diocese ocupava seu lugar. Enquanto isso, a população imigrante norueguesa na Islândia havia sido ganha para Cristo depois de uma erupção vulcânica que tinha assustado seus líderes pagãos. O primeiro bispo assentou-se lá em 1056. A conversão da Finlândia veio algum tempo depois, quando o rei sueco dominou o território no final do século 12. Porém, foram necessários mais cem anos para converter toda a população à nova fé. Assim, nos estados vikings, a aceitação final do Cristianismo foi alcançada através das dinastias governantes e dentro de um espaço de tempo relativamente curto. Um aspecto da expansão viking que mostrou-se bem menos violento foi o movimento de um povo da Suécia conhecido como varangianos para a Europa oriental. Usando o sistema hídrico eles desenvolveram relações comerciais que iam até o Mar Negro. No século 9º assentaram-se em Novgorod e logo depois seu líder, Oleg (879-912) colocou sua capital em Kiev, às margens do rio Dnieper. Eles também eram conhecidos como rus e governaram os eslavos que

viviam naquela região. O aumento dos contatos comerciais e militares com Constantinopla tornou os rus de Kiev cada vez mais abertos para a influência cultural bizantina. Alguns trabalhos missionários iniciaram-se na década de 860, mas uma conversão definitiva da dinastia e o estabelecimento do Cristianismo ortodoxo ocorreram só um século mais tarde. O primeiro membro da família regente a converter-se foi Olga em 957. Então, em 988 o governante de Kiev, Vladmir I, depois de considerar o Judaísmo, Islamismo e Catolicismo ocidental cristão, decidiu adotar a fé oriental ortodoxa. Diz-se que seus mensageiros ficaram tão admirados com a magnificência da igreja de Santa Sofia em Constantinopla que relataram “Não sabemos se estávamos no céu o na terra. Pois na terra não há tal esplendor ou beleza e vemo-nos incapazes de descrevê-la”. Como parte do acordo com o imperador Basílio II, Vladmir deveria receber em casamento a filha de Basílio, Ana, independente do fato de ele ser conhecido como um monstro por seus vícios, perversão e crueldade e de já ter tido várias esposas e mais de oitocentas concubinas. Apesar de sua falta de santidade, mais tarde Vladmir foi canonizado pela Igreja e chamada de “igual dos apóstolos” por seu trabalho de converter os domínios de Kiev. Logo já existia uma igreja russa, organizada de acordo com o modelo bizantino, usando construções de estilo bizantino e reconhecendo o patriarca de Constantinopla como seu líder supremo.

O Cristianismo na Europa central e oriental A porção a leste da Alemanha e do Mar Adriático tinha uma população composta de uma rica variedade de povos, sendo a maioria de eslavos que haviam migrado para o oeste e sul e vários povos nômades (avares, búlgaros e

magiares) que haviam se mudado da Ásia. Os eslavos eram divididos em três grupos lingüísticos: ocidental (checos, morávios, eslováquios, poloneses e vênetos); do sul (eslovenos, croatas, sérvios e macedônios) e oriental (russos, bielorussos, ucranianos e rutenos). A difusão do Cristianismo entre esses povos foi complicada pelo conflitos dos interesses germânicos, do papado e dos bizantinos. Os mais importantes dentre os primeiros missionários aos eslavos foram dois irmãos. Cirilo (ou Constantino) e Metódio, que em 863 foi enviado pelo imperador bizantino para a Morávia. Ao invés de usar o latim como faziam os missionários ocidentais, eles inventaram um alfabeto eslavo e traduziram os evangelhos para esse idioma. Foi a partir dos escritos originais, conhecidos como glagolíticos, que evoluiu o alfabeto cirílico. Este usava caracteres gregos e tornou-se a linguagem escrita na Sérvia, Bulgária e Rússia. Depois de ganhar muitos convertidos, os irmãos prosseguiram criando uma liturgia eslava Em 867 viajaram para Roma e garantiram a aprovação do papa para essa inovação. Apesar das crescentes tensões entre Roma e Constantinopla, eles conseguiram manter-se leais a ambos os centros eclesiásticos, e o papa chegou até mesmo a apoiar Metódio numa pequena disputa por jurisdição com o arcebispo alemão de Salzburg que ressentiu-se com o trabalho missionário que Metódio estava realizando na Eslovênia. Os próprios alemães levaram o evangelho à Polônia, Boêmia e Hungria durante o século 10º e início do século 11. Em 968, uma arquidiocese foi criada em Magdeburg sem ter qualquer limite oriental. A intenção era que ela servisse de centro para propagar o evangelho para os eslavos que viviam a leste do rio Elba. A realização mais espetacular deu-se na Polônia onde o governante Mieszko (960-92) aceitou o Cristianismo. Sem desejar permitir a jurisdição da

sé alemã de Magdeburg sobre sua igreja e nem querer a influência bizantina, ele buscou a ajuda de Roma. Em 990 Mieszko pôs suas terras sob a proteção direta do papa que, em troca, permitiu a criação de uma diocese polonesa separada em Gnieszno. Regensburg, na Bavária, foi o principal centro da obra missionária na Boêmia. O primeiro governante da Boêmia aceitou o Cristianismo em 894 e a fé aprofundou suas raízes sob o lendário e reto rei Venceslau (Vaclav) que reinou na década de 920. Ele havia sido criado por sua devotada avó cristã, Ludmila, que tinha lutado contra a influência pagã. Ela foi estrangulada por seus inimigos, tornando-se assim a primeira mártir checa. Então, Venceslau foi assassinado e também passou a ser visto como mártir e símbolo nacional. Uma diocese foi criada em Praga, sendo ocupada primeiro pelos alemães, mas em 982 Adalberto tornou-se o primeiro bispo checo. Durante algum tempo, tanto a manifestação latina quanto a eslava de Cristianismo coexistiram na Boêmia, mas quando ocorreu o rompimento final entre as igrejas do Oriente e Ocidente, isso deixou de ser possível. Em 1096 a liturgia eslava foi proibida naquela região. Mais ou menos na mesma época, o Cristianismo entrou na Hungria. Os magiares, um povo fino-úgrico da Ásia havia se mudado para a parte central do Danúbio e durante um século eles atacaram a Europa ocidental. Quando finalmente foram detidos pelas forças alemãs em Lechfeld no ano de 955, assentaram-se nas planícies húngaras. Missionários alemães de Regensburg e Salzburg passaram a trabalhar na região e seu rei, Estevão, decidiu tornar-se um cristão. No ano 1000 ele aceitou a coroa real do papa e organizou uma estrutura dependente de Roma para a igreja húngara. Apesar da resistência pagã ter continuado, em 1100 quase todo o povo da Polônia, Boêmia era cristão católico. Somente os baltos, povos não-eslavos

situados no norte entre a Polônia e a Rússia, ainda não tinham sido alcançados pelo evangelho. A evangelização dessas áreas — Prússia, Letônia, Estônia e Lituânia — viria a acontecer nos séculos 13 e 14. Os eslavos do sul foram convertidos através de esforços cooperativos de Roma e Constantinopla. Logo, porém, o território tornou-se palco de uma amarga rivalidade entre papas e patriarcas. Os croatas que haviam se assentado ao longo da costa da Dalmácia e os eslovenos que viviam mais ao norte aceitaram o catolicismo romano, mas os sérvios e macedônios da região central dos Balcãs tornaram-se gregos ortodoxos. Na Bulgária, onde um povo turco havia migrado da Ásia durante a década de 670 e aos poucos se misturado com a população eslava existente até a ponto de adotar sua língua, tanto a igreja do Oriente quanto a do Ocidente competiam entre si para introduzir o Cristianismo. Em 864 o governante búlgaro Bóris optou pela ortodoxia e ordenou que seu povo fosse batizado. Então, temeroso do poder bizantino, voltou-se para Roma porém logo mudou de idéia e estabeleceu a ortodoxia em seus domínios. Os romenos que viviam a norte do Danúbio e estava sob influência búlgara também tornaram-se ortodoxos. As mudanças dos séculos 9º e 10º na Europa oriental tiveram resultados duradouros. Os poloneses, boêmios, húngaros e croatas adotaram o Cristianismo ocidental ou latino enquanto os sérvios, búlgaros e russos aceitaram a ortodoxia oriental. A lealdade religiosa desenvolvida nesse período viria a afetar a política e a cultura da região até o presente.

A ascensão do Islã O fenômeno mais dramático e abrangente a afetar toda a bacia do Mediterrâneo entre a destruição de Roma e a descoberta da América foi o

surgimento do Islã e a formação do Império Árabe. A nova fé surgiu da vida e obra de Maomé (Mohammad). Ele nasceu em 570 na tribo Quaraysh, o principal clã mercante em Meca, uma cidade comercial na região de Hejaz no oeste da Arábia. Também era um centro de culto religioso que, entre outras coisas, continha uma rocha negra que mais tarde alegou-se haver sido dada pelo anjo Gabriel a Abraão e que foi abrigada dentro de uma estrutura em forma de cubo chamada Kaaba. Quando jovem, Maomé cuidava de caravanas de camelos e acabou se casando com sua empregadora, uma viúva rica. De acordo com a crença muçulmana, aos 40 anos de idade Maomé recebeu uma visão ou revelação na qual Gabriel falou com ele. Diz-se que apesar de a princípio ter duvidado, ele continuou a ter revelações ao longo de toda a sua vida. Como resultado de suas experiências, Maomé começou a pregar um rígido monoteísmo, uma crença em um único Deus indivisível e todo-poderoso (em árabe, a palavra Alá é usada para Deus). Essa era a religião da “submissão” (Islã) à vontade de Deus e os indivíduos que a praticavam eram chamados de muçulmanos, aqueles que se submetiam. O credo era simples: “Não há outro Deus senão Alá e Maomé é seu profeta”. Essa afirmação era o primeiro e mais importante dos “cinco pilares” ou fundamentos do Islã. Os outros diziam respeito a observância religiosa e incluíam o requisito de se orar cinco vezes ao dia em determinados horários, jejuar durante o dia no Ramadã (o nono mês do calendário lunar), dar uma parte da renda aos pobres e, se possível, fazer uma peregrinação para Meca pelo menos uma vez na vida. Outros deveres incluíam a abstinência de carne de porco e vinho e participar do Jihad a “guerra santa” pela fé. As pregações de Maomé atraíram um número cada vez maior de seguidores, o que assustou os líderes de Meca. Eles viam essa doutrina como

uma ameaça para o seu bem-estar econômico por causa da posição da cidade como centro religioso onde as tribos vizinhas politeístas iam fazer comércio e resolver os freqüentes problemas legais. Ao ficar sabendo de um plano para matá-lo, Maomé e seus seguidores deixaram Meca em 622 e assentaram-se no Mediterrâneo, um acontecimento conhecido como Hijra (fuga). É a partir daí que se começa a contar o primeiro ano do calendário muçulmano. Em seu novo lar, Maomé ganhou muitos convertidos. Tornou-se ainda líder civil pois submeter-se a Alá também significava obedecer seu profeta. Um organizador militar e tático brilhante, ele atacou as caravanas de Meca e em 630 a cidade rendeu-se e aceitou suas reformas religiosas. Quando de sua morte em 632 as tribos árabes adversárias haviam aceito o Islã e se unido sob seu governo. Apesar de Maomé não ter deixado planos para uma sucessão, seus seguidores escolheram o competente Abu Bakr (632-34) como califa (“sucessor”), ou seja, como líder civil e religioso da comunidade muçulmana. Sob sua direção as forças árabes varreram o Oriente Médio e tomaram de assalto o já falido governo bizantino. Abu foi sucedido por Umar (634-44) e Uthman (644-56), o primeiro califa da grande família de Umayyad. Em 656 Uthman fez uma coletânea de todos os ditados do profeta num livro chamado Qu’ran (“recitação”). Apesar de ter havido muitos outros profetas — incluindo Abraão, Moisés e Jesus — que receberam revelações de Alá, Maomé recebeu uma honra especial pois foi a afirmação final e mais pura da “verdade”. (Apesar dos muçulmanos o considerarem um “mensageiro” ou “profeta” que transmitiu a mensagem de Alá à humanidade, eles não acreditam que ele tivesse sido um deus e nem o adoram.) O Corão (Qu’ran) é dividido em 114 capítulos e inclui preces e discursos. Como os devotos muçulmanos acharam que ele só deveria ser estudado em árabe, isso garantiu que a cultura e a

língua árabes iriam predominar. Os registros Hadith de tradições do profeta e a Ijma são dois conjuntos de leis que os muçulmanos devem seguir. Juntas, essas três fontes religiosas constituem o Sunna ou “Caminho”. Em duas décadas, as forças dos três primeiros califas devastaram a Palestina, Síria, Mesopotâmia, Pérsia, Egito e grande parte do norte da África. Então, em 656 Uthman foi morto e sucedido por Ali, um primo e genro de Maomé que, por sua vez, foi assassinado em 661. Depois disso, os Umayyads voltaram ao poder e criaram uma dinastia hereditária com sua capital em Damasco. A maioria dos muçulmanos, os sunnis, seguiram os califas Umayyad, mas defensores de Ali formaram grupos dissidentes que existem até hoje como seitas xiitas. O império Umayyad transformou-se num reino urbano governado por árabes que se apoiavam fortemente em antigos administradores bizantinos. Eles continuaram o processo de expansão e seu império logo alcançou a extensão da Índia ao Marrocos. Em 711 os mouros (berberes que adotaram o Islamismo) cruzaram o Estreito de Gibraltar e conquistaram a Espanha dos visigodos. Eles avançaram para o norte da França, mas a onda muçulmana finalmente foi detida por Carlos Martel na batalha de Tours em 733. As forças de Umayyad também ameaçaram Constantinopla mas não conseguiram destruir o Império Bizantino e as duas entidades acomodaram-se numa coexistência instável. Na metade do 8º século, surgiram rebeliões contra os Umayyads, em parte inspiradas pelos xiitas e em 750 uma nova dinastia, os Absides tomaram o controle do califado. Alguns anos depois eles transferiram a capital para Bagdá. Sob seu governo o Islã tornou-se mais cosmopolita, como pode-se ver pela educação e o esplendor da corte de Harun al-Rashid (786-809), o mais famoso desses califas. No século 10º a unidade política do califado entrou em declínio à

medida em que várias províncias se emanciparam, mas a civilização muçulmana continuou a crescer. Seu mundo mantinha-se unido através de uma religião em comum — o Islã — e da língua de governo e educação — o árabe — enquanto uma rede de relações comerciais estendia-se da Espanha até a Índia. Assim, Bagdá continuou como centro cultural do mundo muçulmano muito tempo depois que sua supremacia política já havia acabado. É impossível enfatizar suficientemente a importância do Islã para a história do Cristianismo. Conforme observou o historiador Henri Pirenne “sem Maomé, Carlos Magno seria inconcebível”. Os ataques muçulmanos não apenas enfraqueceram o Império Bizantino mas também abriram caminho para a formação do Império Carolíngeo na Europa. Com a captura muçulmana dos antigos centros cristãos de Jerusalém, Antioquia, Alexandria e Cartago, só restaram Constantinopla e Roma para contender por primazia no mundo cristão. Foi essa situação que permitiu o desenvolvimento de uma Cristianismo medieval separado no Ocidente sob Carlos Magno e seus sucessores.

Depois de fragmentar o Império Romano no século 5º, as diversas tribos germânicas acabaram convertendo-se ao Cristianismo católico. Nas ilhas britânicas as diferenças entre a fé celta, mais antiga e a romana, mais recente foram resolvidas. Missionários dessa região desempenharam um papel importante na evangelização da Gália e da Alemanha, colocando essas terras sobre um controle papal mais direto. Os ferozes vikings aos poucos foram ganhos para a fé cristã enquanto missionários católicos e bizantinos alcançaram vários grupos eslavos na Europa central e oriental, criando assim pactos de lealdade que têm afetado as alianças políticas até os dias de hoje. Enquanto o Cristianismo estava se expandindo no norte, foi eclipsado em sua antiga terra de

origem no Oriente pelo surpreendente crescimento do Islã que em menos de um século se estendeu do Oceano Atlântico até o rio Indus.

Capítulo 6 - A Igreja sob a monarquia papal O período entre 600 e 1000 tem muitas vezes sido chamado de “Idade das Trevas”, tempo no qual o Império Romano foi substituído pelos reinos bárbaros e a Europa foi assolada pelos ataques dos vikings, magiares e muçulmanos. Porém, na virada do século 9º Carlos Magno unificou temporariamente uma boa parte da Europa e o papado recorreu à ajuda dos governantes francos contra os lombardos na Itália. Enquanto o Império Romano do Oriente estava preocupado em reagir aos desafios dos muçulmanos e búlgaros, um novo império formou-se no Ocidente. Apesar de no início o império reavivado não ser muita coisa, ele e o papado entraram numa amarga luta pelo controle da Europa.

O desenvolvimento do papado Foi mencionado anteriormente que, com o declínio do poder político de Roma, a posição do bispo romano cresceu em importância. Assim, Sirício (38499) foi o primeiro bispo a usar o título de papa e Leão I, “o Grande” (440-61) adotou o título de pontifex maximus. Na Roma antiga ele designava o sacerdote de Netuno que era encarregado das questões religiosas. Leão também afirmou a primazia sobre as outras igrejas declarando que “negar o papa é negar a Pedro; negar a Pedro é negar a Cristo”. Gelásio (492-96), que se autodenominava “Vigário de Cristo”, apossou-se do direito de ratificar as ações dos concílios da Igreja e de exercer autoridade política. As campanhas de Justiniano para reconquistar terras na Itália resultaram em terrível devastação. A própria cidade de Roma chegou a mudar de mãos três

vezes nas batalhas entre os bizantinos e ostrogodos. Então, os lombardos invadiram a Itália e assentaram-se no vale do rio Pó, na região norte. Também fundaram ducados em outras partes da península, isolando assim os territórios bizantinos ao redor de Ravena daqueles que ficavam no sul e, em termos práticos, isolando Roma da Europa ocidental. Foi essa a situação que confrontou Gregório I “o Grande” (cerca de 540604), fundador do papado medieval. Educado numa família devotada e aristocrática de Roma, Gregório estudou Direito e acabou sendo nomeado prefeito de Roma. As atribuições desse cargo incluíam a presidência do Senado e a administração de entidades filantrópicas bem como a defesa da cidade. Depois da morte de seu pai, ele renunciou essas tarefas seculares, tornou-se um monge e fundou oito mosteiros nas terras de sua família. Porém, logo teve que abrir mão da vida contemplativa pois o papa o enviou a Constantinopla em 579 numa tentativa fútil de buscar ajuda bizantina contra os lombardos. Sete anos mais tarde ele voltou para Roma a fim de ajudar o papa a supervisionar a Igreja e em 590 ele próprio foi eleito pontífice. As atividades de Gregório determinaram precedentes importantes para os papas que vieram depois e para a Igreja medieval como um todo. Apesar de ser um homem humilde e reto, ele envolveu-se profundamente em questões seculares e assumiu na Itália o papel que antes era desempenhado pelo imperador oriental e seu representante em Ravena. Isso foi necessário por causa da inaptidão do imperador de lidar com a questão dos lombardos. Gregório usou a renda das terras papais para tratar dos lombardos bem como oferecer serviços de governo para a cidade de Roma e cuidar dos pobres. Por ser o papa e não as autoridades civis a assumir esses deveres, o papado acabou governando a parte central da Itália.

Gregório fortaleceu a posição do papado através de suas relações tanto com as partes orientais quanto ocidentais do mundo romano. No 6º século, esses dois segmentos do império haviam se separado. No leste ainda havia um imperador, mas ele estava cada fez mais preocupado com problemas de sua própria esfera enquanto no oeste o poder político era exercido por uma série de estados hereditários. Gregório reconheceu os direitos dos patriarcas do Oriente mas, ao mesmo tempo, afirmou a supremacia papal sobre toda a Igreja, do leste e do oeste.

858-867

1118-1216

Papado

Thomas Becket

de Nicolau I 590-604

698

752-757

795-816

993-1003

1073-1080

1198-

Papado

Conversã

Papado

Papado

Papado de Silvestre

Gregório VII

1216

de

o dos

de

de Leão

II

Gregório

lombardo

Estevão

III

I

s do

II

Papado de Inocêncio III

Arianism o para o Cristianis mo 500

800

1000

1300

741-768

768-814

936-973

955

1002-

1056-

1087-

1154-

Pepino o

Carlos

Otto I

Batalha

1024

1087

1100

1189

Breve

Magno

de

Henrique

Lechfeld

II

Henrique Guilherm Henrique IV

e II

II

800

973-983

1066-1087

1152-

1215-

Coroação de Carlos

Otto II

Guilherme o

1190

1250

Magno como imperador por Leão

Conquistador

Frederico Frederico Barbaross

II

III

a

No Ocidente, ele liderou a atividade missionária entre os pagãos ao enviar Agostinho e sua companhia de monges para pregar aos anglo-saxões na Inglaterra. Também estabeleceu relações com a igreja franca independente e promoveu um programa de reforma que procurava modificar suas tradições de controle leigo. Na Espanha, encorajou a conversão dos visigodos do Arianismo para a ortodoxia católica e pode colocar seu amigo Leandro como bispo de Sevilha. Gregório não apenas era um administrador competente, monge devoto e líder moral como também um escritor influente que comunicava a verdade cristã de modo concreto para o povo pouco instruído da Idade Média. Seu pensamento, mesmo que não fosse original, era expressado em termos adequados tanto para sua geração como para gerações futuras. Isso fez dele um importante elo entre a sabedoria e devoção da Igreja primitiva e o Cristianismo medieval. Ele esclareceu a doutrina do purgatório e incentivou a adoração de relíquias e o uso de imagens. Suas idéias foram desenvolvidas em várias obras, incluindo suas cartas, diálogos e exposições do livro de Jó, sermões sobre Ezequiel e os evangelhos e um guia para bispos chamado Regra Pastoral. Os Quatro Livros de Diálogos sobre a Vida e Milagres dos Santos e sobre a Imortalidade da Alma, escritos em 594, foram especialmente importantes. São uma série de conversações entre o autor e um oficial da Igreja romana. Os três primeiros descrevem os aspectos santos e milagrosos da vida de diversos líderes religiosos do 6º século. Gregório afirma que os milagres não limitaram-se aos tempos bíblicos, mas que ainda eram realizados em resposta às orações e à fé do povo de Deus. O último livro apresenta sua visão da

escatologia e, para a Igreja medieval, foi a principal fonte dos ensinamentos sobre o purgatório. Através de seus retratos vívidos do céu e do inferno, Gregório consolou aqueles que estavam sofrendo perseguições nas mãos das forças bárbaras. Os fiéis entram no céu imediatamente depois da morte, mas os outros ainda despreparados para estar com Deus, vão para o purgatório. Ele mostrou então como a participação constante da missa ajuda as pessoas a passarem pelo purgatório mais depressa. Em sua exposição de Jó, Gregório tratou desse livro do Antigo Testamento considerando três aspectos: seu sentido histórico ou literal, seu significado alegórico e as implicações morais. O tratamento histórico não seria considerado adequado pelos padrões atuais pois Gregório não sabia grego nem hebraico. Além disso, ele mostrou estar pouco familiarizado com a história e a cultura do Oriente apesar de ter vivido em Constantinopla durante vários anos. A seção alegórica é de mais valor pois contém um sistema de teologia que Gregório encontrou nas entrelinhas do livro bíblico. Os nomes de pessoas, lugares e coisas estavam infusos de significados cristãos. Jó, por exemplo, representa Cristo; sua esposa, a natureza humana pecaminosa; seus sete filhos, os apóstolos e, portanto, o clero; suas três filhas, as três classes de leigos fiéis que adoram a Trindade; seus amigos, os hereges e os três mil camelos, os pagãos e samaritanos. A exposição termina com um sumário de ética cristã. Os quarenta sermões de Gregório sobre os evangelhos ilustram a importância da pregação em sua época e fazem uso de ilustrações vívidas para serem visualizados com mais facilidade. Muitas das exortações refletiam sua crença de que o fim do mundo estava próximo. Para todo lugar que olhava, via sinais do fim como doenças, invasões bárbaras e a decomposição física do Império Romano. Sentia urgência em alertar seus ouvintes sobre a morte e

explicar para eles o perigo do inferno e o êxtase do céu, preparando-os assim para o dia do julgamento. Sua mais importante obra foi a Regra Pastoral, escrita para orientar os bispos e que serviu de manual padrão para a teologia pastoral durante a Idade Média. Ela descreve que tipo de pessoa deve ser um líder da igreja em termos de conduta e atitudes em relação ao ensino e adverte sobre as tentações inerentes à liderança. Gregório exige o celibato do clero e insiste que um pastor deve ser um orador competente. Ele pede aos seus leitores que ensinem através do exemplo e dos preceitos e insiste que um líder espiritual deve combinar compaixão com meditação. Gregório usou sua própria vida como exemplo para os outros. Se um mendigo morria nas ruas de Roma, ele sentia-se pessoalmente responsável e deu grandes somas de dinheiro para evitar que isso acontecesse. Ele cumpriu seu dever tanto como cristão quanto como cavalheiro romano e mereceu justamente sua reputação de ser um dos quatro grandes pais da igreja ocidental ao lado de Ambrósio, Agostinho e Jerônimo. Os séculos 7º e 8º foram um período de crise para o papado. Os seguidores de Maomé tomaram do Império Bizantino as terras antigas do leste do Mediterrâneo e África do Norte e começaram a pressionar a Espanha dos visigodos. Na outra ponta do mundo europeu, as Ilhas Britânicas tornaram-se um centro vital de cultura cristã enquanto novas ordens de monges espalhavam o Cristianismo a norte dos Alpes. Os papas estavam divididos entre identificarse com a antiga civilização do Oriente a com os novos poderes do Norte. Vários acontecimentos levaram à deterioração do relacionamento com os bizantinos. Entre eles estão a discussão sobre o uso de ícones na igreja, as ações arbitrários do imperador ao transferir o controle de certas dioceses na Ilíria e sul

da Itália do papa para o patriarca de Constantinopla e a incapacidade dos bizantinos de oferecer qualquer ajuda eficaz no problema com os lombardos. Esse povo germânico que em 698 havia se convertido do Arianismo para o Catolicismo rejeitava a autoridade papal e continuava tentando estender seu poder por toda a Itália. A reação papal à ameaça lombarda foi criar fortes laços com os governantes francos.

Os carolíngeos e o papado Apesar de, oficialmente, os descendentes merovíngeos de Clóvis serem os governantes dos francos no século 7º, o poder real estava com Pepino I e seus descendentes, os chamados “Prefeitos Palacianos” da Austrásia no nordeste da França. Seu filho Carlos, que tornou-se prefeito em 714, conteve o avanço muçulmano na Europa ocidental e, como resultado de seu triunfo, ganhou o título de Martel ou “Martelo”. Seus descendentes, que assumiram o controle direto sobre os domínios francos, eram conhecidos como carolíngeos (do latim Carolus ou “Carlos”). Quando Carlos Martel faleceu em 741, foi sucedido por Pepino III, conhecido como “o Breve” (741-68) que foi confirmado como governante franco pelo papa Zacarias. Depois da coroação de Pepino em 751, o último merovíngeo foi mandado para um mosteiro. Contrariado pelo fato dos lombardos terem se apoderado de terras papais, o papa Estevão II fez uma viagem sem precedentes atravessando os Alpes para encontrar-se com Pepino em 754. Vestido de panos de saco, ele apelou para o rei franco por ajuda para recuperar esses territórios. Então, ungiu Pepino e concedeu-lhe o título de patricius Romanorum (“patrício dos romanos”). Depois disso, forças francas dirigiram-se para a Itália e compeliram os lombardos a entregar vinte e duas

cidades, incluindo o ducado de Ravena, para o papado. Esses territórios formaram a base dos Estados Papais que viriam a ocupar a Itália central até o século 19. Quando o imperador bizantino objetou, o papa defendeu sua ação fazendo referência a um documento chamado “Doação de Constantino”. Este provava que o imperador Constantino havia entregue o controle dos territórios italianos para o bispo de Roma e também afirmava a supremacia de Roma sobre Antioquia, Alexandria, Constantinopla, Jerusalém, “bem como sobre todas as igrejas de Deus em todo o mundo”. No século 15, ficou provado que o documento havia sido forjado.

Carlos Magno O maior dos governantes carolíngeos foi “Carlos o Grande” ou Carlos Magno (768-814) a principal figura do começo da Idade Média. Quando Pepino o Breve faleceu em 768, os domínios foram divididos entre seus dois filhos, sendo que Carlos tornou-se governante das regiões norte e sudoeste da França e Carloman das áreas do sudeste e nordeste. Porém, Carloman faleceu três anos depois, permitindo que Carlos tomasse posse de todo o território de seu pai e reunificasse a monarquia franca. Carlos Magno era alto (mais de dois metros), um ótimo cavaleiro, caçador e nadador e, acima de tudo um guerreiro corajoso e incansável. Seus exércitos realizaram mais de cinqüenta campanhas contra vários inimigos nas fronteiras de seu reino. Em resposta ao apelo do papa, em 773 Carlos Magno derrotou os lombardos e tornou-se seu rei. Em 778 suas forças cruzaram os Pirineus e entraram na Espanha com a intenção de conquistar o emirado muçulmano de Saragossa mas foram chamados de volta por causa de problemas com os saxões

ao norte. Durante sua retirada, foram emboscados em Roncevaux pelos bascos da região que mataram Roland, um dos oficiais de Carlos Magno. Logo esse episódio tornou-se um acontecimento lendário, popularizado na grande obra medieval Chanson de Roland (Canção de Roland) sendo os atacantes transformados em mouros (muçulmanos) para dar ao incidente um aspecto cristão heróico. Apesar de ter fracassado na Espanha, Carlos Magno conquistou a Bavária e a Áustria. Sua tarefa mais difícil, porém, foi subjugar os ferozes pagãos saxões que viviam entre os rios Reno e Elba. Numa série de campanhas entre 722 e 804, os saxões foram convertidos à força ao Cristianismo, um processo que foi criticado por Alcuin que perguntou: “Como pode um homem ser compelido a crer naquilo que não crê? Pode-se forçar um homem ao batistério, mas não à Fé”.1 Além disso, os convertidos saxões foram sujeitos a uma rígida legislação que dava a sentença de morte até por causa de uma infração mínima da lei canônica, como comer carne durante a Quaresma. Ao ver o ressentimento que essas políticas estavam causando, um líder saxão, Widukind da Westphalia, organizou uma rebelião que resultou na morte de muitos dos oficiais de Carlos Magno. Como forma de retaliação, o rei ordenou que quatro mil e quinhentos reféns saxões fossem decapitados. Os vastos territórios de Carlos Magno eram divididos em cerca de trezentos distritos administrativos, cada um sob um conde. As áreas de fronteira, conhecidas como marches era governadas pelos margraves. Para assegurar seu poder, ele enviava duplas de missi dominici formadas por um leigo e um clérigo que viajavam por todos os seus domínios e exerciam controle direto sobre os condes. Ele também governava por decretos, emitindo declarações legais notáveis como “aquele que não alimenta o pobre é seu assassino”.

Apesar de Leão III (795-816) ter sido eleito papa, alguns aristocratas romanos ainda opunham-se a ele e o acusavam de perjúrio e adultério. Em 799 ele foi violentamente atacado por uma multidão que tentou arrancar seus olhos e língua. Ele conseguiu escapar para a corte de Carlos Magno, que foi para Roma investigar as acusações. Leão defendeu-se com sucesso e seus inimigos foram exilados. Então, no dia de Natal no ano 800, quando Carlos Magno estava ajoelhando-se para orar durante a missa em São Pedro, o papa inesperadamente colocou uma corou imperial em sua cabeça e prestou-lhe homenagem. O povo o aclamou “Carlos Augusto coroado de Deus, grande e pacífico imperador dos romanos, vida longa e vitória!” De acordo com Einhard, amigo e biógrafo de Carlos Magno, ele “declarou que não teria colocado os pés na igreja... se pudesse ter previsto o intento do papa”.2 Carlos Magno tornou-se imperador e de seu palácio em Aachen (em francês, Aix-la-Chapelle) ele reinou sobre Roma e a maior parte do oeste do antigo Império Romano. Apesar de ser um guerreiro, também era conhecido por sua devoção. Pediu aos seus arquitetos que copiassem a igreja bizantina de São Vitale em Ravena e criassem em Aachen uma capela octogonal que existe até hoje. Lá, sempre que possível, ele estava presente nas missas várias vezes por dia. O governante também orientava seus estudiosos para preparar sermões que os sacerdotes pudessem memorizar e pregar no vernáculo popular. Junto com isso, promoveu o desenvolvimento da liturgia, especialmente na área da música e trouxe pessoas da famosa Escola de Cantores (fundada por Gregório o Grande em Roma) para ajudar na realização das reformas litúrgicas. A partir disso, seguiu-se um processo de desenvolvimento musical que com o passar do tempo resultou no canto gregoriano, a principal forma de música na Igreja durante a Idade Média.

Por causa de seu intenso desejo de elevar o nível espiritual de seus súditos, Carlos Magno promoveu a reforma de igrejas e mosteiros. Uma importante figura dessa reforma monástica foi Benedito de Aniane (750-821). Ele havia sido servo do rei, mas depois de escapar por pouco de um afogamento, tinha tornado-se monge. De seu mosteiro no sul da França ele apoiou a implantação de uma regra beneditina renovada nas instituições francas. Seu programa incluía a observância de práticas uniformes em todos os mosteiros, visitas regulares dos inspetores reais e um aumento no número de horas de culto litúrgico. Outra contribuição do imperador foi o combate à idolatria que ainda persistia entre alguns francos parcialmente cristianizados. Ele percebeu que enquanto grande parte do clero e dos leigos não tivesse educação, seria impossível extirpar o paganismo ou transformar em realidade sua visão de uma sociedade cristã. Para ele as “escolas palacianas” eram a chave para o reavivamento do ensino antigo e ele decidiu usar Alcuin de York para introduzir o ensino de latim no reino. O resultado dos esforços do imperador em cuidar da educação foi a “Renascença Carolíngea”. Alcuin (cerca de 735-804) era um monge inglês com excelente reputação de ensino bem como professor de prestígio na escola catedral de York. Carlos Magno o comissionou para realizar uma reforma educacional entre os francos e de 781 a 790 ele viveu na corte e dedicou suas energias à implantação da idéia do imperador. Então, tornou-se abade do mosteiro de São Martinho de Tours, onde continuou seus empreendimentos. Alcuin reestruturou o sistema educacional de acordo com as setes artes do final da era clássica, conforme apresentadas por Cassiodoro. Dividiu as matérias em dois grupos, o trivium e o quadrivium. O primeiro grupo incluía gramática, dialética e retórica e o segundo

era composto de aritmética, geometria, astronomia e música. A gramática do latim era a principal matéria e englobava não apenas a estrutura da língua mas também sua literatura. A dialética envolvia o estudo da lógica sistemática enquanto a retórica concentrava-se na expressão escrita. O quadrivium, além de ser útil para a vida eclesiástica, oferecia as ferramentas intelectuais para administrar as propriedades reais e outros negócios de interesse do rei. Alcuin começou educando membros da família real, da corte e do clero. Ele esperava um dia ter uma escola em cada paróquia, aberta tanto para o homem livre quanto para o servo. Organizou uma biblioteca para a corte, coletando escritos dos Patriarcas da Igreja e outros autores antigos que refletiam o interesse de Carlos pela matemática, história e astronomia. Alcuin também desejava determinar o texto correto dessas obras. Para isso, comparava versões, encontrava erros e alterações feitas pelos copistas e desenvolvia uma versão aperfeiçoada. A obra era então colocada na biblioteca real onde os textos podiam ser usado pelos funcionários de várias escriptoria (salas de cópias) monásticas para reproduzir as obras. Grandes acadêmicos da época participaram desse projeto, como foi o caso de Paulo o Diácono que é lembrado por História dos Lombardos, um trabalho magnífico que seguia o modelo romano de escrita histórica. Os estudiosos da corte também produziram uma edição padrão das obras de Gregório o Grande e da Regra beneditina. Sua realização mais importante foi a revisão feita por Jerônimo da Bíblia em latim, que num período de quatrocentos anos havia sido corrompida pela introdução de palavras de outras versões da Bíblia e pelos erros de copistas. A versão corrigida que eles desenvolveram tornou-se conhecida como Vulgata (comum), sendo a versão da Bíblia mais usada na Idade Média. Outra contribuição de Alcuin e seus colegas foi a criação de um novo

estilo de escrita. A maior parte dos manuscritos da era merovíngea era praticamente ilegível mesmo para as pessoas da época. A escrita carolíngea minuscula (pequena ou de caixa baixa) que eles desenvolveram eliminava a conexão confusa entre as letras e determinava altos padrões de legibilidade. Os mais de oito mil manuscritos que foram copiados em escrita carolíngea são a base de muito do que se sabe hoje sobre os textos cristãos e clássicos da antigüidade. O grande cuidado dedicado a esses manuscritos pode ser visto na maneira como eram tão belamente ilustrados. As controvérsias teológicas constituíam uma outra característica da época. Alcuin atacou fortemente a igreja oriental por usar ícones (imagens de Cristo e dos santos) como objetos de adoração, apesar de, na realidade, ele ter entendido mal o que realmente se passava. Um outro assunto que contribuiu para piorar o relacionamento com o Oriente foi a posição rígida tomada por Alcuin e os teólogos carolíngeos, apoiados pelo próprio imperador, sobre a questão do filioque, ou seja, uma inserção no Credo de Nicéia afirmando a progressão do Espírito Santo através do Pai “e do Filho”. Na Espanha foi possível encontrar um vestígio de Arianismo visigótico na heresia do adopcionismo (Cristo, em sua forma humana, era apenas filho “adotivo” de Deus) que foi promovida ativamente por dois bispos importantes. Em 794 Carlos convocou e presidiu um concílio em Frankfurt onde Alcuin defendeu a doutrina ortodoxa da filiação eterna de Cristo. Os dois espanhóis foram condenados, mas quatro anos depois Alcuin persuadiu um deles, Félix de Urgel a se retratar. O império de Carlos Magno acabou englobando não apenas a França mas também a Bélgica, Holanda, Suíça, o norte da Espanha, grande parte da Alemanha e Itália. Suas realizações ficaram conhecidas até mesmo no mundo

muçulmano e o califa Harun al-Rashid de Bagdá e o emir de Córdoba na Espanha enviaram embaixadas a ele. Mas tendo em vista que o império era uma criação e fruto da própria personalidade carismática do rei, faltava-lhe as estruturas militar, política e econômica para se sustentar depois da sua morte. Apesar de seu compromisso cristão, Carlos Magno tinha cinco esposas oficiais bem como várias amantes e concubinas. Tal situação polígama gerou intriga; ele castigou um de seus filhos confinando-o num mosteiro por ter tramado contra ele. Ao que parece, o estilo de vida polígamo perturbava a consciência do rei, pois ele tinha centenas de monges que oravam por ele. Quando faleceu em 814, deixou quase toda a sua riqueza para que fossem feitas missas e preces em favor de sua salvação eterna. Antes de sua morte, Carlos Magno escolheu como sucessor Luís, seu único filho vivo, e instruiu-o para que coroasse a si mesmo imperador. Luís, porém, foi para Roma em 816 e recebeu a coroa do papa. Esse gesto deu fundamento à teoria de que o papa podia escolher e depor imperadores, uma idéia que o próprio Carlos Magno jamais teria tolerado. Luís o Pio (814-40), apesar de ser estimado por sua devoção religiosa, alienou a nobreza. Sua religiosidade o tornou subserviente ao papado e aos oficiais da Igreja, mas ainda assim ele apoiou a reforma dos mosteiros e procurou impor a moralidade na sociedade. Uma de suas ordens dizia: “Qualquer homem em cuja casas forem encontradas prostitutas deve levá-las nos ombros até o mercado onde serão chicoteadas; se ele se recusar a fazê-lo, será chicoteado com elas”.3 Luís tinha problemas sérios com sua família e o resultado disso foi uma complicada sucessão. Os anos de luta levaram a uma divisão permanente do império e depois da morte dele, seus três filhos concluíram o Tratado de Verdun

(843) que destinava a área a oeste para Carlos “o Calvo” e a parte leste para Luís “o Alemão”. O outro filho, Lothar (Lothair) herdou o chamado Reino Médio, um corredor de pouco mais de cento e cinqüenta quilômetros de largura e mil e quinhentos quilômetros de comprimento que estendia-se da Holanda ao norte até a Itália ao sul. Quando Lothar e depois seu filho faleceram, Carlos e Luís simplesmente dividiram o Reino Médio entre si. Seus sucessores incompetentes ficaram conhecidos por apelidos como “Carlos o Gordo”, “Luís o Gago”, “Luís o Indolente” e “Carlos o Simples”. Além disso, com o passar do tempo os carolíngeos perderam toda a sua eficiência por causa da constante divisão de seus domínios e da incapacidade de lidar com a ameaça viking. Depois de 924, o título imperial deixou de ser usado enquanto os carolíngeos competiam com outra família pelo trono da França. Então, em 987 o último membro da linhagem faleceu e os grandes lordes da França colocaram em seu lugar Hugo Capeto que fundou uma nova dinastia. Enquanto isso, Luís a Criança, o último carolíngeo do leste, faleceu e assim abriu caminho para uma ordem política totalmente nova na Alemanha.

A Alemanha e a dinastia saxônica O reino do leste era dividido entre cinco ducados principais: Lorraine, Saxônia, Francônia, Bavária e Suábia. As densas florestas e pântanos impediam qualquer unificação efetiva. Com a morte de Luís a Criança, os cinco duques ignoraram os carolíngeos do oeste e escolheram um dentre eles — Conrado da Francônia — para ser o rei alemão. Ele foi sucedido pelo duque da Saxônia, Henrique I (“o Caçador de Aves”), estabelecendo uma dinastia que durou de 919 a 1024. Henrique era um governante visivelmente mais forte que seu antecessor e

iniciou o processo de expansão da autoridade alemã para leste, nas áreas habitadas por eslavos, no famoso Drang nach Osten “Empurrar para o Oeste”. Porém, foi seu filho Otto I (“o Grande”) que desenvolveu uma monarquia efetiva na região e ressuscitou o império de Carlos Magno à moda alemã. Ao suceder seu pai em 916, ele pôs-se a buscar o controle sobre os cinco duques. Seu método consistia em dar à Igreja grandes extensões de terra e deixar que os bispos e abades administrassem esses territórios, cuidassem das questões judiciais e trabalhassem como príncipes governantes. O clero também oferecia homens e suprimentos para os exércitos do rei e suas terras eram uma importante fonte de renda para ele. No “sistema otoniano”, como era chamado, o rei indicava gente de sua preferência para postos eclesiásticos que estivessem vagos e, como os prelados tinham que manter-se celibatários, não podiam tornar seus cargos hereditários. Porém, a longo prazo o sistema não possibilitava uma monarquia forte pois os clérigos não eram leais ao Estado em si. Seus únicos laços eram religiosos e pessoais e não se podia confiar em nenhum dos dois por muito tempo. Apesar da fraqueza interna inerente ao regime, Otto surgiu como o governante mais forte da Europa ocidental. Sua política externa foi um modelo para seus sucessores. Primeiro, procurou manter a França fraca e dividida. Em segundo lugar, lançou-se à expansão para o leste. Sua vitória decisiva sobre os magiares em Lechfeld, próximo a Augsburg em 955 os desencorajou a tentar outros ataques contra a Alemanha. Ele realizou diversas expedições contra os eslavos que viviam entre os rios Elba e Oder e colocou novos bispados na região. Os bispos cuidavam do serviço missionário e assentavam camponeses alemães em suas terras. O programa de germanização foi um outro exemplo de como Otto usou a Igreja para atingir seus objetivos.

O terceiro aspecto de sua política externa consistia em ganhar e manter o poder sobre a Itália. Se o reino alemão só podia existir com a ajuda da Igreja, então era preciso que ele controlasse o papado. O envolvimento de Otto na Itália começou em 952 quando Adelaide (Adelheid), a rainha viúva da Lombárdia, apelou para que ele a ajudasse contra seu inimigo. Sua expedição militar foi triunfante. Ele não apenas salvou e casou-se com a rainha como também assumiu o título de rei da Itália. Contudo, problemas na Alemanha o impediram de consolidar sua autoridade sobre o norte da Itália. Depois de derrotar os magiares, fato que protegeu suas fronteiras com a Itália, ele retornou em 961 para livrar-se de um desafiante que queria o seu reino. Então, prosseguiu para Roma onde foi coroado imperador pelo papa no ano seguinte. Apesar de seu reconhecimento da autoridade papal sobre as terras do centro da Itália, ele insistiu que, no futuro, os papas deveriam ter a aprovação do imperador antes de serem consagrados. Ele agiu imediatamente para mostrar que o controle imperial sobre o papado era mais do que uma simples formalidade. Em 963 ele convocou um sínodo em Roma que depôs o fraco e impopular João XII e colocou em seu lugar um indivíduo mais cooperativo. Otto acusou-o de uma lista de crimes sórdidos e declarou que “nenhum papa poderia assumir seu cargo sem antes fazer um juramento de lealdade ao imperador”. Isso determinou um precedente e durante os próximos duzentos anos os papas muitas vezes foram escolhidos pelo imperador apesar de repetidos protestos do povo de Roma. Ao assumir a coroa imperial, Otto ameaçou deixar de fora os imperadores do leste, mas aos poucos eles vieram a aceitar a existência de dois impérios e Otto II (973-83) chegou a casar-se com uma princesa bizantina. Seu reino teve menos sucesso do que o de seu pai e ele morreu em Roma depois de sofrer uma

grande derrota no sul da Itália para os muçulmanos (os chamados sarracenos) que lá se estabeleceram na década de 830. Otto deixou como seu herdeiro um filho de três anos de idade (Otto III) que foi educado por sua mãe, Teophano, quase como um príncipe bizantino. Na verdade, Adelaide e Teophano governaram o reino até que ele assumisse o poder em 994, uma situação praticamente sem precedentes até então. Otto III planejava fazer de Roma sua capital. Construiu um magnífico palácio e nomeou o maior estudioso de sua época, Gerbert de Aurillac (cerca de 945-1003) para ser o papa Silvestre III. Otto tinha o sonho grandioso de formar uma enorme comunidade cristã com a Igreja e o império unidos e governados de Roma, mas essa política não tinha como funcionar pois ele não possuía uma base real de poder na Itália. Seu apoio encontrava-se no exército saxão pois os romanos nunca aceitaram voluntariamente seu governo. Quando ele faleceu aos 21 anos de idade, foi sucedido por Henrique II (1002-24) de um ramo mais jovem da linhagem familiar. Henrique estava preocupado em manter sua posição na Alemanha e não pôde dominar a Itália. Mais importante, porém, foi o reavivamento cultura sob Otto III. Um aspecto relevante foi a redescoberta das ciências naturais, principalmente devido à influência de Gerbert que havia estudado na Espanha e era renomado por seu conhecimento de matemática e ciências. Deve-se dar algum crédito a ele pela introdução dos números arábicos na Europa e pela invenção do relógio de pêndulo. Em Rheims, onde havia sido professor supervisor na escola da catedral e, mais tarde, arcebispo, Gerbert expandiu o estudo da matemática e reintroduziu a lógica (dialética). Esta última ajudou os alunos a integrar o conhecimento que inundava a Europa daquela época e serviu de fundação tanto para o reavivamento da filosofia no século 11 quanto para o sistema universitário que

não tardaria a desabrochar na Europa medieval.

A Inglaterra normanda e plantageneta Ao contrário do estado cada vez mais confuso do império, os normandos da Inglaterra (1066-1154) eram a monarquia mais organizada da Europa. No século 11 as terras eram governadas pelos vikings, com exceção de Wessex. Depois do governo de alguns reis dinamarqueses, o poder voltou por pouco tempo para as mãos de um anglo-saxão, Eduardo O Confessor (1042-66). Como sua mãe, Ema, era uma princesa normanda, Eduardo havia passado grande parte de sua juventude na terra natal dela. Não tendo herdeiros, ele prometeu o trono para seu primo Guilherme, o duque da Normandia, recebendo para isso o apoio do papa Alexandre II. Mas depois de sua morte o conselho de nobres da Inglaterra escolheu o cunhado de Eduardo, Harold Godwinson como seu sucessor. Para garantir o que lhe era de direito, Guilherme invadiu a Inglaterra e derrotou Harold na Batalha de Hastings em 14 de outubro de 1066. Guilherme, que ficou conhecido como “o Conquistador”, foi então coroado rei da Inglaterra na abadia de Westminster. A conquista normanda foi um choque enorme para a Inglaterra, especialmente para as classes mais altas. Guilherme via os simpatizantes de Harold como rebeldes e confiscou suas terras. Praticamente toda as terras da Inglaterra foram para as mãos do rei e ele permitiu que fossem usadas por aqueles que o serviam. Assim, a propriedade particular de terras quase deixou de existir e foi substituída pelo mais completo sistema de feudalismo na Europa (ver capítulo 7). Ele também construiu castelos para controlar a população e fez um levantamento de todas as propriedades (o Livro do Julgamento Final de 1086) para fins tributários. A população local foi ainda mais antagonizada pela

política normanda de separar grandes porções de terra com florestas para usar com reservas particulares para caça. Tendo em vista que Guilherme da Normandia havia recebido o apoio dos reformadores papais de Roma antes da invasão, ele instituiu mudanças nas igrejas que no final do período anglo-saxônico haviam tornado-se tão corruptas quanto as da França merovíngea. Ele separou as cortes civis das eclesiásticas, decretou que nenhum papa podia ser reconhecido sem o consentimento real e declarou que não podia-se realizar nenhuma excomunhão sem a aprovação real. Guilherme também trouxe clérigos da Normandia como Lanfrac que tornou-se arcebispo de Canterbury e os normandos erigiram várias igrejas novas por todo o reino. O governante seguinte, Guilherme II (1087-1100), ignorou completamente os direitos da Igreja. Para ele as propriedades clericais podiam ser saqueadas e durante vários anos ele não reconheceu o papa. Uma doença grave levou-o a nomear o devotado Anselmo como arcebispo de Canterbury em 1093, mas depois de se recuperar ele voltou aos seus antigos modos irreverentes e exilou Anselmo na França. Guilherme foi seguido de seu irmão Henrique I (1100-35) que negociou um acordo com a Igreja em 1107. O rei abriu mão de sua prática de nomear bispos mas em troca eles teriam que jurar lealdade a ele como seu senhor feudal pelas terras que usavam. Esse ato teria importância para toda a Europa. Durante o período de 1135-54 a Europa foi varrida pela guerra civil e a Igreja recobrou consideravelmente sua independência. Com a coroação de Henrique II (1154-89) encerrou-se o período de anarquia e o novo rei pôs-se a restabelecer o controle sobre seu reino. Ele foi o fundador da Casa dos Plantagenetas (Angenvin) cujos reis governaram a Inglaterra de 1154 a 1399.

Henrique mostrou-se um dos governantes mais competentes da história do país. Através de herança e casamento ele controlou vastas regiões que iam da Irlanda ao sul da França. Durante os próximos dois séculos monarcas ingleses governaram metade do território da França bem como seus domínios nas Ilhas Britânicas. Henrique desejava estender sua autoridade sobre o sistema judiciário, tornar a aplicação da lei inglesa mais uniforme, expandir o uso dos júris e apresentar todos os processos importantes para os seus juízes. Isso levou a uma amarga disputa entre o rei e a Igreja, pois na Inglaterra medieval existia um sistema separado para as cortes eclesiásticas que tinha jurisdição completa sobre muitos tipos de casos, inclusive de clérigos acusados de crimes. Essa isenção da lei secular que era chamada de “benefício do clero” incluía não apenas os sacerdotes e monges mas também os estudantes e certos profissionais. Esses privilégios eram importantes pois as penas determinadas pelas cortes eclesiásticas normalmente eram mais lenientes do que aquelas decretadas pelos juizes do rei. Um exemplo famoso é o caso de um clérigo que havia assassinado um cavaleiro e que foi absolvido do crime simplesmente por fazer um juramento numa corte eclesiástica. Um dos principais tenentes de Henrique era Thomas Becket (cerca de 1118-70) que trabalhava como juiz, diplomata e conselheiro financeiro. Ele não era apenas o braço direito do rei, mas também um amigo pessoal chegado. Os dois até bebiam, caçavam e farreavam juntos. Então, em 1162 Henrique nomeou Becket arcebispo de Canterbury. Com isso o rei esperava evitar conflitos com as autoridades eclesiásticas e ganhar total apoio da Igreja em seu trabalho de reconstrução do governo. Isso mostrou-se um erro, pois como líder da igreja inglesa, Becket deixou

de apoiar fortemente a autoridade real e passou a lutar pelos direitos da Igreja. Para espanto do rei, ele renunciou seus cargos e sua vida secular. Ele chegou a usar uma veste de peles, visitar os doentes e lavar os pés de mendigos. Em outras palavras, ele experimentou uma conversão que fez do Cristianismo uma força vital em sua vida ao invés de continuar sendo uma mera formalidade. Em 1164 Henrique tentou obter o controle sobre as cortes da Igreja ao emitir a Constituição de Clarendon, cujo propósito mais importante era a eliminação do “benefício do clero”. Isso significava que um clérigo acusado de um crime civil deveria ter seu caso julgado em uma corte secular. Henrique desejava que todos os ingleses estivessem sujeitos às mesmas leis para que a justiça fosse administrada mais uniformemente. Becket, porém, acreditava que o Estado estava infringindo o poder da Igreja. Depois de meses de lutas, Becket foi exilado na França. Esse exílio durou seis anos, enquanto ele resistia a todos os esforços de mediar a disputa e condenar qualquer clérigo que cooperasse com Henrique. Por fim, Becket voltou à Inglaterra para continuar sua oposição ao rei. Excomungou aqueles que haviam cooperado com o governo real durante as disputas e eles foram para a Normandia onde Henrique por um acaso também estava naquela época e reclamou com ele sobre seu tratamento. A reação do rei foi irada: “Que bando de tolos e covardes eu abriguei em minha casa, a ponto de nenhum deles me vingar desse sacerdote perturbador”. Quatro cavaleiros levaram a sério o pedido de vingança feito por Henrique, cruzaram o canal e, sem seu conhecimento ou consentimento, assassinaram o arcebispo no dia 29 de dezembro de 1170, quando ele estava oficiando uma missa na catedral de Canterbury. O assassinato de Becket causou uma demonstração tão grande de raiva

que Henrique foi forçado a fazer uma penitência pública e reconhecer o controle da Igreja sobre as atividades nas quais Becket tanto havia insistido. Assim, Becket garantiu uma vitória maior com sua morte do teria sido capaz de alcançar em vida. Ele foi canonizado em 1173 e tornou-se o santo mais popular da Inglaterra. Pessoas de todas as partes do reino reuniam-se em seu local de martírio e uma obra perene da literatura inglesa, Os Contos de Canterbury de Chaucer, descreve um grupo de peregrinos indo adorar em seu santuário. Em 1152 Henrique casou-se com Eleonor de Aquitaine, uma das mulheres mais belas e ricas da Europa. Eles tiveram oito filhos, mas ela deixou Henrique em 1173 por causa da constante infidelidade do rei e incentivou seus filhos a se rebelarem contra ele. Sobre eles, Henrique disse: “Vieram do diabo e para o diabo voltarão”. Ele manteve-se firme em sua posição contra eles durante algum tempo, mas foi forçado a fazer um acordo de paz pouco favorável em 1189 e morreu desgostoso. Um dos filhos, Ricardo I (1189-99) passou apenas cinco meses de seu reinado na Inglaterra e não fez nada de importante lá. Ele era conhecido como “o Coração de Leão” por seus feitos durante a Terceira Cruzada. O outro filho, João (1199-1216) era igualmente incompetente. Em 1207 ele opôs-se ao candidato escolhido pelo papa Inocêncio III para arcebispo de Canterbury e quase foi excomungado. Diante de uma possível invasão da França, humilhado, ele rendeu-se ao papa em 1213. Então, a fim de angariar fundos para uma guerra na França ele tentou obrigar seus barões a lhe oferecer mais dinheiro e serviço militar. Ele já estavam pagando altos impostos e não queriam participar de uma expedição que consideravam fútil. Conforme o esperado, o exército de João sofreu uma derrota esmagadora e os barões feudais uniram-se contra ele. Em 1215 eles apresentaram-lhe uma declaração contendo suas ofensas (a “Carta

Magna”) e forçaram-no a respeitar seus direitos. Apesar de gerações futuras terem tentado encontrar nela todas as liberdades que os ingleses adquiriram ao longo dos séculos de lutas, a Magna Carta era na verdade apenas um documento feudal elaborado por nobres que buscavam proteger seus interesses financeiros. Durante o reinado do monarca seguinte, Henrique III (1216-72), os barões exigiram o direito de participar do governo e Simão de Monfort convocou a reunião de um parlamento em 1265. Dois cavaleiros de cada condado e dois representantes de cada vila deveriam participar numa assembléia representativa, que acabaria tornando-se o Congresso (Assembléia dos Comuns). O Grande Concílio do rei, que incluía os principais nobres e alto clero, transformou-se na Assembléia dos Lordes. O filho de Henrique, Eduardo I (1272-1307), ficou conhecido como o Justiniano inglês por causa de suas amplas reformas legais. Ele também é lembrado por sua conquista de Fales e a construção de vários castelos como Harlech e Caernarvon. Seu filho foi empossado como príncipe de Gales, um costumo seguido pelos monarcas dali em diante. Tentativas parecidas de controlar a Escócia alcançaram menos sucesso e a rivalidade entre os dois povos ainda continuaria por vários séculos.

A França sob os Capetos A nova dinastia estabelecida em 987 por Hugo Capeto, duque de Orleans, governou a França até 1328. Durante grande parte desses dois séculos o centro de seu reino foi Paris, tendo em vista que condes poderosos dominavam outras partes da França. Um importante defensor da monarquia foi o líder eclesiástico do século 12, abade Suger de S. Dennis em Paris. Ele foi conselheiro das finanças de Luís VI e atuou como regente enquanto o rei participava da Segunda

Cruzada. Seu mosteiro, que tinha o mesmo nome do santo padroeiro da cidade, Dionísio o Areopagita (citado em At 17.34) foi a primeira edificação a ser construída inteiramente no novo estilo gótico (1136). Felipe II Augusto (1180-1223) foi o primeiro Capeto que conseguiu adquirir o controle das muitas terras de posse dos ingleses na França e que assim também pôde estruturar o poder da monarquia. A convite do papa, seu filho acabou com a heresia albigensiana no sul, permitindo uma expansão ainda maior naquela região. O maior rei dessa era foi Luís IX (1226-70) que era conhecido por sua devoção e paixão pela justiça. Ele realizou várias reformas legais e generosamente permitiu que os ingleses ficassem com seus territórios no litoral da França. Além disso, Luís construiu a Saint Chapelle — uma das mais belas estruturas medievais ainda de pé nos dias de hoje — para abrigar a coroa de espinhos que ele adquiriu de Constantinopla. Também participou de duas Cruzadas. Durante a primeira ele foi capturado no Egito e teve que pagar um resgate e na segunda morreu de disenteria em Tunis. Seus contemporâneos admiravam-se que “o santo rei amava tanto a verdade que cumpriu até a promessa que fez aos sarracenos”. Duas décadas depois de sua morte, o bom rei foi declarado um santo.

O papado e o império Durante o período de desintegração imperial, um líder notável, Nicolau I (858-67), tornou-se papa. Enquanto Gregório I conseguiu a supremacia do papado na Itália, Nicolau o transformou numa das principais forças da Europa ocidental. Ele envolveu-se em questões políticas tanto no império carolíngeo como no bizantino e para justificar essa intervenção citou os “Falsos Decretos”,

um conjunto de documentos falsificados por volta de 850 e que aumentavam grandemente o poder papal. Foram supostamente compilados por Isidoro de Sevilha duzentos anos antes e incluíam a Doação de Constantino e muitas outras cartas oficiais dos primeiros papas. A maior parte dos outros pontífices dos séculos 9º e 10º foram figuras mundanas. Vários foram assassinados e abusos como simonia (compra e venda de cargos da Igreja) e casamento clerical eram comuns. Durante esse período de corrupção e degradação, por algum tempo, o poder sobre o papado foi exercido por Teodora e sua filha Marósia. Cada uma delas estava relacionada a meia dúzia de papas como amante, mãe ou assassina. Chamada por alguns de “pornocracia”, foi o fundo do poço na história do papado. Em 1024, uma nova dinastia — a saliana ou franconiana — assumiu o poder do império e reafirmou a autoridade real. Henrique III, como governante da Itália, convocou um concílio da Igreja em 1046 que depôs um papa imoral e elegeu o primeiro de uma série de indivíduos competentes. De forma não intencional, a ação imperial foi útil para o papado, pois tomou o controle da instituição das mãos de facções rivais decadentes e colocou pessoas de caráter elevado na liderança da Igreja. Mas a essa altura os papas já haviam perdido o controle até mesmo dos assuntos espirituais à medida em que o poder real estendeu-se para a escolha de bispos, que já serviam a coroa e levavam seus deveres seculares mais a sério que os sagrados. Quando Henrique IV tornou-se imperador em 1056, viu-se diante de um movimento pela reforma papal. Este foi liderado por figuras competentes como Pedro Damião, Humberto da Silva Cândida e Hildebrando, sendo que todos haviam servido na corte de Leão IX (1049-54). Eles incentivaram o papa Nicolau II a emitir um decreto em 1059 afirmando que os papas deveriam ser

escolhidos por um colégio de cardeais e não pelo imperador. Seu líder, Hildebrando, foi eleito papa Gregório VII em 1073 e durante seu papado o conflito Igreja-Estado viveu seu momento mais intenso. Depois de passar vinte anos na cúria ele havia desenvolvido uma visão extremamente elevada do papado. Em 1075 ele elaborou uma série de propostas chamadas Dictatus Papae dentre as quais estão: Que somente o pontífice romano é corretamente chamado de universal. Que somente ele tem o poder de depor ou restaurar ao cargo os bispos. Que todos os príncipes só devem beijar o pé do papa. Que ele tem o poder de depor imperadores. Que seu decreto não pode ser anulado por ninguém, que ele pode anular o decreto de qualquer um. Que não pode ser julgado por ninguém. Que a Igreja romana nunca errou e jamais irá errar até a eternidade, de acordo com o testemunho das Sagradas Escrituras. Que ele tem o poder de absolver súditos de seus juramentos de fidelidade a governantes perversos.

O papa Gregório deu ordens a todos os bispos e governantes por toda a Europa ocidental para que depusessem clérigos culpados de simonia e proibissem sacerdotes casados de celebrar a missa. Para livrar a Igreja da interferência leiga na indicação de bispos, ele tomou atitudes que levaram à controvérsia das “investiduras”. O termo refere-se à cerimônia na qual um vassalo jurava lealdade a seu senhor e recebia dele a insígnia de ofício. A proibição de Gregório sobre príncipes leigos que investiam bispos desafiou a prática na Alemanha, onde o imperador escolhia a dedo os prelados e contava com seu apoio. O que se seguiu foi uma luta amarga e complexa entre os dois, na qual o imperador tentou depor o papa e Gregório excomungou Henrique, um

ato que desobrigou os vassalos de seus votos de lealdade, deixando-os livres para depô-lo. O incidente mais dramático aconteceu quando Henrique cruzou os Alpes em janeiro de 1077 e ficou na neve em Canossa durante três dias implorando pelo perdão do papa. A vitória foi mais simbólica do que real, tendo em vista que não tardou para que Henrique o desafiasse novamente. Ele invadiu a Itália em 1080 e forçou Gregório a buscar refúgio entre os normandos do sul (que haviam acabado de expulsar os sarracenos e tinham formado seu próprio Estado na Itália), onde faleceu em 1080. A controvérsia das investiduras acabou sendo resolvida por um acordo entre Henrique V e o papado na Pacto de Worms (1122). O imperador concordou que os bispos deveriam ser eleitos pela igreja e receber sua investidura espiritual do arcebispo. Porém, o rei deveria estar presente na eleição e poderia investir o bispo como os símbolos do poder secular do ofício.

A Dinastia Hohenstaufen Frederico I

Agnes, filha

Duque da Suábia

do

1079-1105

Imperador Henrique IV

Frederico II

Rei Conrad III da

Duque da Suábia

Alemanha 1138-52

1105-47 Imperador Frederico I Barbarossa 1152-90 Imperador

Constance

Rei Filipe da

Henrique VI

Herdeira da

Suábia

1190-97

Sicília

1198-1208

Frederico II Rei da Alemanha Imperador 1215-50

Rei Conrad da Alemanha 1250-54 Conradin M. 1268

Depois disso, surgiu uma nova dinastia alemã, os Hohenstaufens da Suábia. O primeiro membro tomou o trono em 1138, mas o mais importante foi Frederico I, Barbarossa ou “Barba Ruiva” (1152-90). Ele renovou o poder e a unidade do império na Alemanha mas teve menos sucesso em dominar a Itália. Seu plano era restaurar a influência sobe o papado que tinha sido perdida durante a controvérsia das investiduras. Pela primeira vez o termo “Sacro Império Romano” apareceu em documentos públicos, deixando implícito intencionalmente que a autoridade do imperador vinha somente de Deus. Barbarossa desejava ter sobre o papa o mesmo tipo de poder que tinha sobre os bispos-príncipes na Alemanha. Além disso, esperava tornar-se um líder do Cristianismo e talvez até recriar o Império Romano de Constantino. Com esse objetivo em mente, ele lançou-se à Terceira Cruzada, mas em 1190 afogou-se num rio na Ásia Menor a caminho da Terra Santa.

Inocêncio III e os Hohenstaufens O poder papal atingiu seu ápice sob Inocêncio III (1198-1216). Assim como Gregório VII, ele possuía uma visão elevada do papado, como indicou sua declaração: “O papa tem uma posição entre Deus e os homens. Apesar de ser menor do que Deus, é maior que os homens. Ele julga a todos mas não é julgado por ninguém”. Ele também afirmava ter poder político: “Nenhum rei pode reinar corretamente a menos que sirva com devoção ao vigário de Cristo”. Comparando os dois com o sol e a lua, disse: “Assim também o poder deriva sua

dignidade da autoridade pontifícia”. De família nobre de Roma, Inocêncio foi educado em Direito e Teologia. Ao tornar-se papa pôs-se a oferecer autoridade moral e liderança tanto em assuntos seculares quanto eclesiásticos. Trabalhava com dedicação, dava atenção a detalhes, tinha objetivos claros e estava determinado a ser o cabeça do Cristianismo. Possuía muitos empreendimentos. Patrocinou a Quarta Cruzada, que para sua humilhação, atacou Constantinopla ao invés da Palestina. Também apoiou cruzadas contra os bogomils nos Balcãs e contra os albigensianos na França e aprovou as novas ordens de frades mendicantes — os franciscanos e dominicanos — que foram usadas para combater essas heresias (ver capítulo 7). Quando, em 1027, o rei João recusou-se a aceitar a nomeação papal de Stephen Langdon para arcebispo de Canterbury, Inocêncio colocou a Inglaterra sob interdição. Isso significava a suspensão de quase todos os serviços públicos da Igreja. Em 1029, depois que João confiscou todas as terras da Igreja na Inglaterra, Inocêncio o excomungou. Quando ele continuou a resistir, o papa declarou que o trono estava vazio e convidou o rei francês a invadir o país. Em 1213 João fez as pazes com o papa, entregou a Inglaterra a ele como feudo, recebendo-a de volta como vassalo. Inocêncio também forçou o rei da França a submeter-se à sua vontade. Felipe II havia se casado com Ingerborg da Dinamarca sem ao menos tê-la visto. Então, quando olhou pela primeira vez para sua nova rainha, disse que um calafrio percorreu sua espinha. Diante de seu tamanho desgosto pessoal por ela, ele pediu aos bispos franceses que anulassem o casamento, mas Inocêncio impôs uma interdição sobre a França até que Felipe a colocasse de volta como rainha. Quando o imperador Otto IV invadiu a Sicília, ameaçando assim a segurança dos Estados Papais, Inocêncio o excomungou e em 1212 garantiu a eleição de

Frederico II de Hohenstaufen, seu protegido. O auge da carreira de Inocêncio foi o 4º Conselho de Latrão, convocado por ele em 1215. Dentre os setenta decretos emitidos pela ilustre assembléia de prelados estavam: o requisito de que cristãos deveriam confessar seus pecados e tomar a ceia pelo menos uma vez por ano na Páscoa, a aceitação da transubstanciação como dogma, judeus não deveriam aparecer em público na Semana Santa, judeus e muçulmanos deveriam usar roupas distintivas para que fossem publicamente identificados. O concílio refletiu a unidade e universalidade do Cristianismo em seu ápice durante a Idade Média. Frederico II, porém, acabou sendo uma grande decepção para o papado. Ele praticamente deu a independência para os príncipes alemães a fim de que pudesse concentrar-se em controlar a Itália, resultando numa luta por sobrevivência com o papa que tentou aniquilar o seu poder. O próprio caráter de Frederico complicava o problema, pois ele combinava uma visão ocidental com o estilo de um sultão oriental. Ele organizou o sul da Itália em um reino que mais tarde serviu de exemplo para os estados da Renascença. Ele era um lingüista, físico, poeta e patrono do ensino. Interessava-se pela cultura árabe, tinha um harém de mulheres muçulmanas, fez um tratado com governantes muçulmanos enquanto estava numa cruzada e acreditava em astrologia. Por causa de sua tolerância e falta de fé o papado o denunciou como sendo “esse escorpião lançando veneno de seu rabo”. Um papa, Gregório XI, excomungou Frederico e em 1241 convocou um sínodo para depô-lo, mas o rei interceptou o navio que estava levando os prelados para Roma e os prendeu. O papa seguinte, Inocêncio IV, recusou-se a suspender a excomunhão e acusou-o de sacrilégio e heresia. Depois da morte de Frederico em 1250, o papado pôs-se a exterminar a casa dos Hohenstaufen e

garantiu o auxílio do conde francês, Charles de Anjou. Em 1269 ele derrotou e executou Conradin, o último da linhagem. O triunfo papal gerou instabilidade tanto na Itália quanto na Alemanha. A remoção da interferência imperial no norte da Itália permitiu que cidadesestados como Milão, Gênova, Veneza e Florença desabrochassem durante os dois séculos seguintes. A situação instável na Alemanha deu oportunidade a um nobre insignificante da Suábia — Rodolfo de Habsburgo — fosse eleito imperador em 1273. Sua família acabou dominando grande parte da Europa.

A reconquista na Espanha Depois de alguns anos de invasão os muçulmanos haviam conquistado toda a Espanha, exceto pela região norte. Em 756 o único membro sobrevivente da dinastia Umayyad fugiu de lá para Damasco e formou um emirado que logo controlou grande parte da península. No século 11 Córdoba — a capital — com suas muitas bibliotecas e escolas, tornou-se o centro cultural da Europa. A grande mesquita com capacidade para cinco mil e quinhentas pessoas ainda pode ser vista nos dias de hoje. Os cristãos (mozárabes) e judeus gozavam de considerável liberdade na Espanha muçulmana. Muitos cristãos acabaram convertendo-se ao Islã, mas outros resistiram à nova ordem. Um centro de inspiração para esses últimos era o santuário de São Tiago (Santiago de Compostela) no noroeste da Espanha. Dizia-se que tinha as relíquias do apóstolo e atraiu inúmeros peregrinos durante a era medieval. O grande líder muçulmano Al Mansur (981-1002) realizou ataques periódicos contra o norte cristão e seu exército de mouros chegou a saquear Compostela. Mas depois desse sucesso, o emirado de Córdoba entrou rapidamente em declínio e caiu em 1031. A Espanha muçulmana fragmentou-se

então em vários pequenos estados, enquanto ressurgiam os reinos cristãos — Castela, Navarro, Leão e Aragão — que começaram um contra-ataque aos mouros conhecido como a Reconquista. A luta entre os vários poderes cristãos e mouros continuou ao longo dos séculos 11 e 12. A vitória decisiva de Castela em Las Navas de Tolosa, em 1212, garantiu que o sucesso final da Reconquista seria só uma questão de tempo. Apenas a fortificação de Granada, no extremo sul, continuava nas mãos dos muçulmanos. Nas terras reconquistadas, a princípio os muçulmanos eram tratados do mesmo modo que os cristãos tinham sido sob o governo islâmico. Tinham liberdade de praticar sua religião e cultura mas sofriam discriminação civil, inclusive o pagamento de impostos especiais. Muitos mouros emigraram então para o norte da África enquanto outros tornaram-se cristãos, especialmente como resultado da obra missionária de franciscanos e dominicanos. No final da Idade Média, as pressões sobre os mouros tornaram-se cada vez mais sérias. Durante a alta Idade Média (1000-1300), estados dinásticos haviam se desenvolvido na Inglaterra, França e Alemanha. Geralmente os monarcas ingleses e franceses colaboravam com os papas. Como as reformas gregorianas revitalizaram o papado, este tornou-se uma força territorial na parte central da Itália. Isso levou a um conflito severo com os governantes do império que desejavam controlar a Itália bem como a Alemanha. Por fim, o sucesso da Espanha na Reconquista inspirou a idéia dos cruzados de libertar a Terra Santa do domínio muçulmano.

Capítulo 7 - A Igreja medieval no Ocidente No ano 1000 um reavivamento da civilização estava em progresso na Europa. A estabilidade voltou com o fim das invasões bárbaras que haviam

assolado o Ocidente desde o 4º século. O crescimento das cidades e do comércio levou ao desenvolvimento na educação, organização da Igreja, artes e arquitetura que resultou no desabrochar da vida cultural medieval. Seguiu-se um período de expansão muitas vezes chamado de “fronteira medieval” que levou às Cruzadas, ao assentamentos nas terras desocupadas de florestas e pântanos e à conversão dos povos do norte e leste da Europa.

Feudalismo Através de sua conversão ao Cristianismo, a segunda onda de invasores — os magiares e os vikings — foi incorporada à sociedade ocidental da mesma forma como ocorreu com os migrantes anteriores. Antes que isso acontecesse, porém, havia se desenvolvido um sistema complexo e diverso conhecido como feudalismo. As instituições do feudalismo permitiram que os governos locais funcionassem quando não havia um Estado. O feudalismo originou-se em reação às invasões vikings, contra as quais o governo não podia oferecer proteção. Sabe-se que uma forma anterior desse sistema existia no final dos tempos romanos, quando os homens tinham que seguir o ofício de seu pai, as classes rurais eram dependentes dos latifundiários que tomavam sobre si a autoridade e a própria Igreja tinha suas terras. Na metade do século 9º os carolíngeos decretaram que todo homem e todo pedaço de terra deveriam ter um senhor. Os guerreiros ou “vassalos” reconheciam sua dependência através de um relacionamento pessoal e voluntário no qual o senhor lhes dava terras e em troca os vassalos concordavam em lutar por ele. Assim, a liderança política foi transmitida para a área controlada por um castelo com poderes públicos (inclusive de julgar questões legais, policiar, defender e cobrar impostos) exercidos por indivíduos particulares. Os cavaleiros, homens da cavalaria

protegidos por armaduras, normalmente dominavam aqueles que não tinham os meios ou a capacidade de tornar-se como eles. Apesar de existir muitas exceções, havia alguns elementos comuns na relação entre senhores e vassalos. Através das cerimônias de deferência e vassalagem, um cavaleiro prometia seus serviços militares por um determinado número de dias durante o ano. Ele também oferecia ao seu senhor hospitalidade e conselhos em questões senhoriais e, por vezes, dinheiro. Em troca, o senhor assumia uma obrigação de proteger seu vassalo. Esses vassalos serviam na corte do senhor e este lhes oferecia justiça baseada no julgamento por seus iguais. O vassalo tratava o senhor com honra, respeito e cortesia e o senhor retribuía com a mesma deferência. Como em qualquer acordo, as obrigações mútuas do senhor e do vassalo dependiam da boa fé e, se essa falhasse, da força. Se o senhor não cumpria a sua parte do acordo, o vassalo podia renunciar seu juramento de lealdade. Se o vassalo não cumpria seus deveres, o senhor podia pedir de volta as terras que havia lhe concedido como “feudo”. Como bispos e outros oficiais da Igreja controlavam grandes extensões de terra, foram atraídos para dentro do sistema feudal e com freqüência surgiam conflitos entre seu papel de clérigo e servo de Deus e sua posição de senhor secular. Assim como os nobres leigos, a aristocracia clerical tinha as responsabilidades de senhorio. Eles deviam fidelidade e lealdade aos seus senhores, participavam do governo, administravam vastas propriedades com servos dependentes, exerciam autoridade sobre seus cavaleiros e acumulavam riquezas. Naqueles tempos os bispos precisavam servir como governadores e também pastores e era difícil harmonizar esse papel duplo.

1198-1211 Papado de Inocêncio III 910

1075

1079-1142

1146

1208

1215

1267-1273

Fundação

Inicia a

Pedro

Bernardo

Fundada a

4º Concílio

Tomás de

da Abadia

controvérsia das

Abelardo

de

Ordem de

Lateranens

Aquino

de Cluny

Investiduras

Clairvaux

S.

e

escreve a

Francisco

sua Suma Teológica

900

1100

1300

1095

1146

1204

Pregada em

Segunda Cruzada

4ª Cruzada e saque

Clemont a 1ª

de Constantinopla

Cruzada

Em detrimento dos valores espirituais, as funções públicas requeridas dos bispos feudais significavam que eles precisavam ser leais aos senhores seculares acima deles. Conseqüentemente, essas leigos exigiam influência na eleição dos bispos e, em muitas partes da Europa conseguiram o direito de escolher os servos de Deus bem como os de César. Não é de se admirar que os líderes religiosos tinham dificuldade em separar suas lealdades ou de que os reformadores do clero pedissem uma reorganização de prioridades. A feudalização da Igreja foi o pano de fundo para a Reforma Gregoriana mencionada anteriormente, tendo em vista que a essa altura não havia distinção entre Igreja e Estado e nem concordância sobre os poderes dos leigos.

O sistema senhorial Os historiadores com freqüência dividem a estrutura social medieval entre aqueles que lutavam, aqueles que trabalhavam e aqueles que rezavam. Apesar de ser uma simplificação excessiva, é verdade que alguns estavam envolvidos no

sistema feudal como cavaleiros, outros trabalhavam nos campos como servos e muitos serviam a Igreja em diversas funções. Tendo em vista que os cavaleiros precisavam de tempo livre para refinar suas técnicas, eles viviam em propriedades arrendadas e recebiam sustento enquanto treinavam. É certo que não havia um arrendamento típico e dentro dessas terras existiam combinações variadas de relações políticas e sociais. De um modo geral, uma vila era formada de diversas propriedades como essas e assim, estava sujeita a vários senhores. Os direitos do senhor sobre os camponeses (que costumavam ser chamados de servos) incluíam aquilo que era necessário para seu sustento de modo que ele pudesse gastar o seu tempo com guerras, governo e lazer. Várias obrigações e serviços faziam as vezes dos impostos, governanças, pagamentos de seguro, serviço militar e outras obrigações das pessoas de nosso tempo. Os servos na propriedade arrendada plantavam, cultivavam e colhiam as terras do senhor. Além disso, ele recebia uma parcela da colheita das terras comunitárias, como feno dos campos. Ele também tinha o direito a um número específico de dias de trabalho dos servos, de sua mão de obra para fazer a manutenção das estradas e pontes e de cobrar impostos no caso de haver uma economia baseada em dinheiro. Ele também podia cobrar taxas em gênero para funções econômicas que estavam sob o seu monopólio como o uso da cervejaria, prensa de vinho, moinho de trigo e fornos. Nesse mundo hierarquicamente ordenado, o servo tinha direitos. Como todas as obrigações senhoriais, estes variavam muito, mas de um modo geral o servo era subserviente apenas dentro do relacionamento com o seu mestre. Fora do castelo senhorial, ele era igual a outros, tinha o direito de processar e ser processado na justiça e não estava sujeito a nenhum outro senhor além do seu próprio. Ao contrário de um escravo, o servo estava ligado à terra, isto é, a

propriedade em que trabalhava não podia ser tomada dele. Isso garantia-lhe trabalho e renda contínuos. Além das obrigações pagas em gênero, ele devia o dízimo para a paróquia de sua igreja e alguns outros pagamentos em dinheiro. Mesmo nessa sociedade tosca, os costumes e tradições davam ao camponês algum alívio da sua lida enfadonha. Havia muitos feriados religiosos nos quais ele não trabalhava e podia aproveitar as festividades e pompa dos torneios, feiras e execuções. Tinha seu próprio jardim, não era obrigado a prestar serviço militar a menos que sua vila fosse atacada e era alimentado pelo senhor nos dias em que trabalhava nas terras dele. O superior também tinha obrigações, pois o senhor devia aos seus servos proteção e terras, as duas coisas que um camponês mais precisava. Além disso, ele oferecia uma igreja, um padre, sementes na época de plantio e benefícios comunitários como fornos e moinhos. No século 11, as condições dos camponeses melhoraram graças ao restabelecimento da ordem pública e segurança e da introdução de novas ferramentas e tecnologia. Um novo tipo de machado permitiu que os fazendeiros derrubassem florestas e moinhos de vento foram inventados para drenar pântanos, criando assim novas terras para o cultivo. Os arreios de cavalo e arados de aiveca quebravam o solo duro do norte enquanto o desenvolvimento de moinhos de água e vento e o sistema de rotação de terras aumentava a produção das lavouras. Assim, um aumento na oferta de alimentos permitiu uma pequena melhora nos padrões de vida dos camponeses.

O crescimento das cidades A classe média ou a “burguesia” que se dedicava ao comércio e manufatura e vivia nas cidades originou-se da classe camponesa. O crescimento dessas comunidades e das atividades econômicas que lá se realizavam foi

incentivado pela revitalização do comércio de longa distância. Isso deveu-se às conexões marítimas das cidades-estados italianas com o Oriente, resultando na disponibilidade de produtos de luxo, na produção de lã crua na Inglaterra e emergência das cidades flamengas como centros de manufatura de lãs finas e também na crescente demanda pelos produtos da região do Báltico. As indústrias locais também contribuíram para a expansão do comércio. Bens produzidos em pequenas oficinas de artesãos nas cidades eram destinados à exportação ao invés de serem feitos simplesmente para o consumo doméstico. Além disso, os artesãos organizaram guildas que eram uma mistura de associação trabalhista, centro cívico ou serviço público e confraria. As guildas regulamentavam as condições de manufatura, os preços, critérios de qualidade e padrões para aceitação do produto. Em troca, os comerciantes formaram associações para facilitar o comércio, especialmente em mercados estrangeiros e para ajudar a vencer a competição. Assim como as relações feudais continham elementos de segurança social, o mesmo acontecia com as guildas. Elas ofereciam um tipo de seguro de vida através do sistema de aprendizes ao garantir que os filhos de um homem que falecesse iriam aprender seu ofício e dedicava-se a vários tipos de atividades corporativas para o benefício de todos. As cidades recebiam sua liberdade do senhor feudal através de uma escritura e o método habitual de se conseguir esse documento era pela negociação, compra ou como uma doação. O excedente de comida resultante da revolução agrícola tornou possível a existência desses centros populacionais. Os comerciantes e artesão que viviam nesses lugares sustentavam-se através de suas ocupações e compravam comida dos agricultores. O homem da cidade era diferente de seu vizinho camponês pois era livre para ir e vir e, através de sua guilda gozava de uma certa autonomia de governo. Os habitantes da cidade

também tinham impostos e ajudavam na defesa militar de sua comunidade. Apesar do ambiente medieval ser principalmente rural, as vilas e cidades eram os centros da inovação cultural. Dentre os desenvolvimentos culturais a elas associados havia a universidade, a literatura oral, o teatro e a catedral gótica, o aspecto artístico mais distintivo da Idade Média. O patrocínio dos cidadãos abastados permitiu uma verdadeira renascença cultura no período entre a metade do século 11 e final do século 12.

Monasticismo medieval Junto com o ressurgimento econômico da Europa medieval ocorreu também uma renovação espiritual. Suas origens encontram-se no movimento de reforma que começou em 910 com a fundação do mosteiro de Cluny na Borgonha. A reforma cluniacense compôs-se de uma volta à rígida Regra beneditina, do cultivo da vida espiritual e de uma ênfase na adoração. Também deu-se atenção a uma sólida organização econômica e independência do controle financeiro de leigos. À medida em que a ordem cluniacense fundava novos mosteiros, cada era ligado à “casa matriz” (a sede da ordem). Assim, eles evitavam o controle local e prestavam contas somente ao papa. Na metade do século 12, quando sua influência atingiu um ponto alto, dentro da esfera de Cluny havia mais de trezentas casas e muitas figuras proeminentes da Igreja. Os cluniacenses serviram de inspiração para outras instituições e indivíduos que não estavam formalmente ligados à ordem. Um deles foi o monge alemão Hildebrando que, como papa Gregório VII, deu seu nome à reforma papal do século 11. O espírito de renovação também evidenciou-se na formação de novas ordens monásticas. O sucesso da reforma do papado juntamente com a expansão

cultural tinham levado a uma crise do monasticismo beneditino. A ascensão ao poder de papas, bispos e reis enfraqueceu o papel monástico na cultura. A educação tinha passado a centralizar-se nas escolas dos bispos aos invés dos mosteiros. O crescimento do clero não-monástico e um governo civil estável tornaram os mosteiros obsoletos como oásis de cultura. Em reação à nova situação, surgiram várias novas ordens. A mais influente foi a dos cistercianos, fundada em 1098 em Citeaux, na França e originada de uma outra casa beneditina. Um de seus líderes, Stephen Harding, elaborou uma regra que enfatizava o trabalho braçal ao invés dos estudos e a oração particular ao invés da comunal. Os cistercianos colocavam suas casas comunitárias nos lugares mais isolados e não aceitavam dízimos, ofertas ou patrocínio de leigos. Crentes de que “trabalhar é orar”, eles tomaram sobre si as tarefas de cultivar, cozinhar, tecer, carpintaria e outras obrigações diárias. Suas igrejas eram simples, sem ornamentos ou tesouros e eles eram donos de seus bens pessoais. Era-lhes permitido ter sete horas de sono no inverno e seis no verão. Depois de reunirem-se para a oração comunal, os irmãos passavam o resto do dia fazendo trabalho braçal, meditando, lendo e nos cultos. Sua dieta era restrita — legumes, peixe e queijo — uma vez por dia no verão e duas vezes no inverno. Até mesmo nas regiões mais frias só era permitido acender um fogo no dia de Natal. Apesar de sua rigidez, os cistercianos foram um sucesso fenomenal e no final do século 12 havia centenas de mosteiros. Seu líder mais notável foi Bernard de Clairvaux (1090-1153). Ele chegou em Citeaux em 1112 e então foi para Clairvaux onde fundou o primeiro de mais de sessenta e cinco novos mosteiros e adquiriu influência por todo o continente. Ele era tão persuasivo em convencer os homens a entrarem para o mosteiro que as mães escondiam seus

filhos e as esposas seus maridos quando ele saía para pescar almas. Em seus sermões extremamente populares e encantadores sobre o Cântico dos Cânticos e em sua obra Por que e como Deus Deve Ser Amado, Bernard descreveu a vida cristã como uma experiência de progresso em amor. Sob sua orientação, os interesses dos monges ampliaram-se para além da contemplação e passaram a incluir o trabalho missionário e o cuidado pastoral para com o próximo. Apesar de seu impacto, no final do século 12 os cistercianos havia tornado-se ricos, relaxados e ineficientes. O declínio dos cistercianos coincidiu com o fim da importância dos mosteiros de clausura. O crescimento das vilas e cidades tornou a segurança do mosteiro menos necessária e, na verdade, colocou um novo desafio para a Igreja. Pelo fato das expressões tradicionais de fé não estarem conseguindo lidar com o caráter mundano das sociedades urbanas emergentes, muitos líderes eclesiásticos perceberam a necessidade de uma nova forma de espiritualidade que lhes permitisse trabalhar no mundo e ao mesmo tempo manter um estilo de vida monástico. Eles decidiram que a resposta estava num grupo que fizesse votos de viver em comunidade sob uma regra rígida mas que também fosse pregar e ensinar no meio do povo. Duas ordens que funcionavam dessa maneira eram a dos premonstratensianos (fundada em 1120) que tinha uma regra semelhante à cisterciana e dos agostinianos (fundada em 1256) que usava a regra de Agostinho. No começo do século 13 surgiram os monges pregadores ou frades (“irmãos”). Eram ordens “mendicantes”, ou seja, tinha um estilo de vida extremamente ascético e dependiam de caridade (mendicância). Os frades pregavam nas paróquias e praças das cidades, ensinavam nas escolas e acabaram dominando muitas das universidades. As duas ordens mais importantes foram as

dos franciscanos e dos dominicanos. A ordem franciscana foi fundada por Francisco de Assis (1182-1226), filho de um comerciante de tecidos, que abriu mão de sua riqueza para viver uma vida de oração e simplicidade. Juntando um grupo de seguidores ele vagou pelas montanhas da Toscania trabalhando de vez em quando, pregando e cuidando dos enfermos. Ele ensinava que a pobreza completa libertava os irmãos das preocupações e os tornava alegres diante de Deus. Aprovados pelo papa em 1209, os irmãos eram conhecidos como Frades Menores, vestiam-se de cinza escuro e andavam descalços. Com o crescimento da sociedade, tornou-se cada vez mais difícil viver da mendicância e do trabalho de suas próprias mãos. Aqueles que decidiram continuar seguindo os ensinamentos originais de Francisco e mantiveram um regime de pobreza eram conhecidos como franciscanos espirituais (ou fraticelli). Eles foram perseguidos por se recusarem a obedecer um decreto papal que autorizava a ordem a ter propriedades. O fundador dos dominicanos foi Dominique de Gusmão (1170-1221), um espanhol que foi mandado para o sul da França para pregar contra os albigencianos. Lá ele percebeu a necessidade de um clero estudado que pudesse comunicar-se com o povo e ganhar os hereges de volta para a Igreja. Sua ordem, reconhecida em 1216, concentrava-se no ensino e na pregação. Daí o título oficial dos dominicanos de Ordem dos Pregadores. Vestindo um hábito branco e capa preta, eles espalharam-se pela Europa como “cães de guarda do Senhor” (um trocadilho com o nome latino Dominicanus — domini canis) para acabar com a heresia e combater a ignorância. Os dominicanos foram a primeira ordem a abandonar o trabalho braçal e colocar como prioridade o esforço intelectual e sua ênfase acadêmica contrastava com o anti-intelectualismo franciscano. Eles fundaram escolas e

produziram importantes teólogos como Alberto o Grande e Tomás de Aquino. Porém, logo as duas ordens tornaram-se mais parecidas, tenso em vista que os franciscanos fundaram instituições educacionais para treinar seus jovens frades. Ambos os grupos realizavam trabalhos social, pastorais, educacionais e missionários. Eles serviam os leprosos e enfermos, uma prática que incentivou o estudo de Medicina. Também eram pregadores competentes, apesar de freqüentemente surgirem dificuldades com o clero local, tendo em vista que os padres das paróquias normalmente não eram bem treinados. Cheios de zelo, eles deixavam uma impressão profunda em seus ouvintes. Seus sermões eram marcados por humor e por histórias adequadas da vida cotidiana. Até hoje seus livros devocionais e poesias religiosas ainda transmitem a mensagem de Cristo. Assim como os dominicanos, os franciscanos abriram escolas nos centros universitários e produziram estudiosos distintos como Bonaventure (1221-74), Guilherme de Okham (1280-1349) e Roger Bacon (cerca de 1214-92). Sua atividade missionária também é digna de menção. Entre 1214 e 1215 Francisco foi à Espanha na esperança de converter os mouros, mas uma enfermidade o impediu de seguir até a África. Em 1219 ele fez uma viagem para pregar, levando consigo onze companheiros à Europa oriental e Egito. Ambas as ordens incentivavam o estudo das línguas orientais para que os missionários pudessem comunicar-se com os muçulmanos. Durante o século 13 eles pregaram e fundaram casas no leste e norte da África. A obra do franciscano Raymond Mull (cerca de 1232-1316) foi especialmente memorável. Nativo da ilha de Maiorca, ele dedicou sua vida a ganhar os muçulmanos para Cristo. Ele não apenas aprendeu o árabe mas também convenceu o governante de sua terra natal a fundar um mosteiro onde os franciscanos pudessem aprender a língua e seus métodos de abordagem dos

muçulmanos com a mensagem cristã. Fez viagens missionárias para a Tunis e Algiers mas não conseguiu obter apoio dos reis da Europa para esse projeto. Um teólogo distinto por si só, ele criou um sistema de unificação de toda a verdade, o qual ele acreditava que poderia levar a uma reunião das igrejas latina e grega e, algum dia, à conversão de toda a humanidade ao Cristianismo.

As Cruzadas A pregação dos frades no Oriente poderia ter resultado em uma infiltração pacífica do Cristianismo latino naquela região não fosse pelas crescentes tensões entre Bizâncio e o Ocidente. No começo do século 11, a igreja grega ainda possuía um bom relacionamento com Roma, mas então, as Cruzadas causaram um rompimento total das relações. Superficialmente, as Cruzadas eram guerras com o objetivo de recuperar a Terra Santa do controle muçulmano, mas na realidade os fatores que levaram a elas eram muito mais complicados. A conquista islâmica do Oriente Médio tinha alcançado o sucesso antes de mais nada porque as populações cristãs haviam oferecido pouco ou nenhuma resistência e as igrejas monofisitas chegavam a considerar o governo árabemuçulmano preferível àquele do Bizâncio. Assim, não havia nenhuma exigência popular para que esses cristãos fosse “libertados”. Além disso, os carolíngeos haviam reivindicado o direito de proteger os “Lugares Santos” na Palestina e os peregrinos ocidentais que viajavam para lá. Os califas muçulmanos preferiam a interferência dos distantes francos do que a presença muito mais ameaçadora dos bizantinos. O aumento na freqüência e tamanho das peregrinações nos séculos 10º e 11 fez a atenção da Europa voltarse mais para o Oriente. Muitas cruzadas foram organizadas por monges cluniacences que construíram abadias e hospedarias ao longo do caminho. Era

comum guardas armados acompanharem os peregrinos que viajavam em grupos grandes como em 1064-66 quando sete mil alemães foram para Jerusalém. Havia também uma consciência cada vez maior de Cristianismo como sinônimo de Europa e o direito de defender a fé contra os “sarracenos”. Essa guerra foi estimulada pelo início de um esforço no século 11 de “reconquistar” a Espanha do domínio muçulmano, servindo de protótipo para as Cruzadas que vieram mais tarde e pela campanha vitoriosa dos normandos que expulsaram os sarracenos da Sicília (1072-91). Além disso, a captura de Jerusalém pelos turcos seldjúcidas — um grupo muçulmano mais feroz do que os árabes — e sua vitória arrasadora sobre as forças bizantinas naquele mesmo ano tiveram ressonância para toda a cristandade. Os bizantinos fizeram vários apelos ao Ocidente por ajuda para livrar-se dos turcos, mas foi em vão até que em 1095 o papa Urbano II fizesse seu famoso discurso em Clermont, na França e lançasse a Primeira Cruzada. No concílio o pontífice declarou: “Dos confins de Jerusalém e da cidade de Constantinopla nos chega um terrível relato... Uma raça amaldiçoada, uma raça completamente alienada de Deus... invadiu as terras daqueles cristãos e despovoou-as pela espada, saques e fogo”. Os turcos eram supostamente culpados de atrocidades como profanar igrejas, torturar e matar e estuprar mulheres cristãs. Ele também apelou para a honra francesa: “Lembrai-vos da grandeza de Carlos Magno. Ponde-vos à caminho do Santo Sepulcro para arrancar a terra dessa raça perversa e sujeitá-la a vós mesmos”. Na conclusão de seu discurso um grito ergue-se da multidão: “Deus Vult!” (É a vontade de Deus). Satisfeito com essa reação, Urbano fez de “Deus Vult” o grito de guerra das Cruzadas e sugeriu que cada guerreiro usasse o sinal da cruz em suas vestimentas. Nos meses que se seguiram, representantes do papa viajaram por toda a

Europa alistando recrutas para ir até a Terra Santa lutar contra os turcos, sendo o mais notável dentro esses recrutas Pedro, o Eremita. A Primeira Cruzada (109699) foi de caráter predominantemente francês e seus líderes eram nobres proeminentes como Raymond de Toulouse, Godfrey de Bouillon (duque de Lorraine), Roberto da Normandia e Stephen de Blois. À medida em que o bando de cavaleiros e simpatizantes movia-se com dificuldade pela Europa central a caminho da Terra Santa, parava para aterrorizar comunidades judias que eram acusadas de perseguir os cristãos primitivos e de ajudar na conquista islâmica e extorquiam dinheiro dos judeus para financiar a viagem. Esse fato marcou a primeira manifestação em grande escala de violência anti-semítica na Europa medieval. As forças dos cruzados acabaram chegando no Oriente, tomaram Jerusalém em 1099 e massacraram a população muçulmana num dos acontecimentos mais vergonhosos da história do Cristianismo. Eles criaram o Reino Latino em Jerusalém e vários outros estados ao longa da costa do Mediterrâneo, mantendo assim um equilíbrio de poder entre bizantinos e muçulmanos. Durante o processo, eles repetiram várias vezes esse padrão de violência inconseqüente contra populações locais. Na verdade, o controle dos europeus era frágil e outras Cruzadas logo se seguiram. Cidades marítimas italianas como Veneza, Gênova e Pisa eram cruciais pois serviam de passagem dos peregrinos para o Oriente e enviavam suprimentos e soldados para lutar contra os muçulmanos, mas seu compromisso com um empreendimento espiritual na Palestina era, na melhor das hipóteses, mínimo. Duas novas ordens religiosas formaram-se nessa época, os Cavaleiros Templários e os Cavaleiros Hospitaleiros (Cavaleiros de São João), combinando o monasticismo e o militarismo. Seus membros eram monges-soldados que a princípio deveriam proteger peregrinos, mas logo seus deveres se expandiram

para incluir também a defesa dos estados cruzados. Em 1189, soldados alemães e comerciantes na Terra Santa formaram uma terceira ordem, os Cavaleiros Teutônicos. Pelo fato do Reino Latino de Jerusalém estar perdendo terreno para um avanço muçulmano, o papa orientou Bernard de Clairvaux a convocar os cristãos para uma Segunda Cruzada. Em 1147 o rei Luís VII da França e Conrado III, Santo Imperador Romano, lideraram uma expedição que foi marcada por uma série de desastres, sendo o mais extraordinário uma emboscada próxima a Damasco e depois de dois anos as forças se desintegraram. Uma Cruzada pregada pelo homem com a maior reputação de santidade na Europa e liderada pela realeza havia fracassado. O fiasco enraiveceu os cristãos e muitos passaram a acreditar que a “traição” dos gregos era o principal motivo desse fracasso. Conseqüentemente, Bernard sugeriu que fosse organizada uma campanha contra Constantinopla, um desejo que seria atendido em 1204. Dentro de poucos anos os muçulmanos consolidaram seu poder sob Saladin (1138-93), seu mais distinto sultão. Primeiro, ele adquiriu o controle do Egito em 1174 e então conquistou grande parte da Síria. Em 1187 capturou Jerusalém, mas não massacrou a população cristã e reduziu o poder dos estados cruzados na região costeira. Quando notícias desses acontecimentos chegaram ao Ocidente, os três principais monarcas da época — o imperador Frederico Barbarossa, Ricardo I da Inglaterra e Filipe II da França — encarregaram-se de uma iniciativa completamente leiga de livrar a Terra Santa (3ª Cruzada, 118292), porém sem grandes resultados. Barbarossa morreu no caminho e Filipe voltou para casa depois de brigar com Ricardo, que negociou um tratado com Saladin dando aos peregrinos cristãos acesso a Jerusalém.

Depois disso, os europeus foram perdendo o interesse pelo ideal cruzado e o poder muçulmano no Oriente restabeleceu-se por completo. Quando os poucos cavaleiros que responderam ao chamado do papa Inocêncio III à Quarta Cruzada (1202-4) não tiveram condições de pagar a taxa de travessia cobrada pelos venezianos, os dois grupos fizeram uma barganha e acabaram atacando Constantinopla. Seguiram-se outras iniciativas que foram patéticas, como a Cruzada das Crianças (1212) e a Quinta Cruzada (1219) contra o Egito. Outras ainda foram militarmente eficazes, como a Sexta Cruzada liderada por Frederico II em 1228-29 que recobrou por pouco tempo o controle de Jerusalém. Luís IX da França não conseguiu nada com suas expedições cruzadas de 1248-50 e 1270. Em 1291 essa era chegou ao fim com a queda de Acre, o último Estado cruzado. Porém, apesar das cruzadas terem isolado os cristãos bizantinos, o intercâmbio cultural resultante de dois séculos de contato com Oriente teve um efeito duradouro na vida ocidental.

Expansão missionária latina As cruzadas foram apenas uma das formas de reação dos europeus ocidentais à presença de seus vizinhos não-cristãos. Outra foi o movimento contínuo dos alemães para o leste. Nos séculos 12 e 13 isso resultou na conversão forçosa dos uendes eslavos que viviam entre os rios Elba e Oder e um fluxo de fazendeiros alemães para essa região. O Bispo Otto de Bamberg levou a cabo com sucesso uma iniciativa missionária na Pomerânia na década de 1120 e com a chegada de imigrantes alemães completou-se a assimilação dos pomerânios eslavos. No século 13 o rei polonês convidou colonizadores alemães a ocupar áreas na Silésia e em Poznan (Posen) que havia sido devastadas pelas invasões mongóis.

Ao longo da costa do Báltico, os empreendimentos com estilo de cruzadas eram a última moda. Os Cavaleiros da Espada, organizados em 1202, eram uma ordem militar alemã que conquistou grande parte da Estônia e Lituânia num espaço de duas décadas, apesar de terem que competir com os escandinavos pelo domínio da região. Em 1226 o rei polonês convidou os Cavaleiros Teutônicos, que haviam se mudado para a Europa e estavam ajudando o rei húngaro a converter os cumanos turcos da Transilvânia, para encarregarem-se de uma tarefa semelhante entre os hereges da Prússia. Os Cavaleiros lançaram-se ao trabalho com vigor e sua cruzada como representantes do Cristianismo e do germanismo foi comparável à da Espanha. Depois de terem assimilado as propriedades dos Cavaleiros da Espada em 1237 e terminado de conquistar a Prússia em 1285, toda a costa sul do Báltico foi aberta para missões cristãs e comércio e colonização alemães. Os Cavaleiros tinham a intenção de prosseguir até a Rússia, mas a expansão católica foi detida por Alexander Nevsky, príncipe de Novgorod (1219-63). Ele derrotou os alemães na famosa “Batalha sobre o Gelo” na superfície congelada do lago Peipus na Estônia em 1242 e então submeteu-se ao governo do khan mongol. Isso garantiu a sobrevivência da ortodoxia oriental na Rússia (ver capítulo 8), um ato pelo qual ele foi transformado em santo. Um século depois, os Cavaleiros Teutônicos finalmente esgotaram a resistência dos lituanos e em 1385 seu rei Jagiello foi batizado. Porém, mais que depressa ele aliou-se ao rei polonês para evitar outros avanços alemães e no século seguinte suas forças conjuntas derrotaram a ordem teutônica e limitaram seu poder na Prússia. Ainda assim, os católicos latinos viam o vasto império mongol como uma oportunidade missionária. Dois frades franciscanos, João de Planocarpini em

1245-47 e Guilherme de Rubruquis (ou Rubruck) em 1253-55, viajaram para a corte do khan e voltaram com maravilhosos relatos. Os nestorianos (ver capítulo 8) já haviam obtido enorme sucesso nessa região e os católicos esperavam fazer o mesmo. No final do século 13 e começo do século 14, franciscanos e dominicanos fundaram uma cadeia de missões atravessando a Ásia, indo da região do Mar Negro e Cáucaso até a Pérsia, Índia e até mesmo China. Um frade mais conhecido foi João de Monte Corvino, um franciscano que assumiu a obra em Pequim em 1294 e foi nomeado arcebispo pelo papa em 1307. Parecia a princípio que os governantes mongóis poderia aceitar o Cristianismo, mas então, a região leste adotou o Islã, cortando assim a comunicação com as missões e a vitória da dinastia Ming na China em 1368 resultou na expulsão de todos os estrangeiros de lá. A essa altura, a Europa estava preocupada com guerras, pestes e controvérsias político-religiosas e o entusiasmo missionário tinha se dissipado.

Escolas catedrais e universidades A estabilidade e otimismo da alta Idade Média (1100-1300) resultaram no crescimento do ensino e das universidades. Durante o período anterior os mosteiros eram em grande parte os responsáveis pela educação. Um monge instruído recebia a incumbência de ensinar os noviços (novos monges) e à medida que sua fama crescia, adultos de outros mosteiros iam estudar com ele. Era comum que jovens de famílias abastadas estudassem com um tutor monástico e depois se juntassem ao clero ou escolhessem um trabalho secular. No século 12 as escolas catedrais haviam ganho destaque. O chanceler, principal dignitário da catedral depois do bispo e do reitor, lecionava ciências humanas e Teologia para os alunos avançados enquanto outros professores

instruíam os jovens em gramática latina. Os estudiosos normalmente estavam destinados a servir à Igreja. Uma licença para lecionar, concedida pelo chanceler, foi a predecessora do diploma universitário. Os debates teológicos que aconteciam nas escolas contribuíram para um novo despertar da vida intelectual na Europa. Uma importante controvérsia envolveu Berengar (cerca de 1000-88), que estudava na escola catedral de Tours. A questão era o significado das palavras de consagração da missa: “Este é o meu corpo, este é o meu sangue”. Berengar concordava que uma transformação real e verdadeira acontece nesses elementos, mas dizia que essa transformação é espiritual e o pão e o vinho continuam sendo as mesmas substâncias. Lanfranc e outros insistiam que a substância básica do pão e do vinho eram transformadas no corpo, sangue, alma e divindade de Cristo, enquanto as características (textura, sabor, aparência e odor) do pão e do vinho continuavam as mesmas. Depois de uma longa e amarga controvérsia, a definição de Lanfranc de “transubstanciação” tornou-se a idéia aceita. Um outro debate foi sobre a obra de Cristo na cruz e de como sua morte poderia trazer a reconciliação entre Deus e o homem. Predominantemente, usava-se os ensinamentos de Orígenes (ver capítulo) que acreditava que através do pecado a humanidade havia se sujeitado ao diabo e que a marca disso era a morte. Deus desejava libertar os homens mas não podia fazê-lo pois o direito do diabo era justo. Consequentemente, para neutralizar esse direito, foi pago um resgate na forma de alguém sobre o qual o diabo não tinha direitos, isto é, um homem sem pecado. Assim, o diabo foi enganado quando Cristo foi crucificado e agora Deus pode, com justiça, salvar quem ele desejar. Anselmo de Canterbury questionou essa idéia em Por que Deus Tornouse Homem. Ele argumentava que quando uma pessoa peca ela perturba a ordem

correta do universo e fica alienada de Deus. Por ser justo, Deus deve receber uma compensação pelo pecado antes que possa perdoar o pecador. Cristo, o homem sem pecado, foi enviado pela misericórdia de Deus para oferecer a compensação devida pela raça humana. Essa idéia ofereceu uma visão completamente nova da encarnação e expiação. Talvez o mais importante mestre desse período tenha sido Pedro Abelardo (1079-1142) em Paris. Foram seus métodos mais do que suas conclusões que perturbaram vários líderes da Igreja. Conforme ele dizia: “A primeira chave para a sabedoria é o questionamento constante e freqüente... Pois, ao duvidarmos somos levados a questionar e ao questionar chegamos à verdade!” Abelardo usou essa abordagem em seu livro Sim e Não, no qual demonstrou que só a tradição e autoridade não eram suficientes para responder perguntas como: “Deus é onipotente?” “Pecamos contra nossa vontade?” e “A fé baseia-se na razão?” Ele citou sumidades de ambas as partes e deixou em aberto as contradições. Porém, seu pupilo Pedro Lombardo (cerca de 1100-69) usou a razão para responder muitas das mesmas questões em sua obra As Sentenças, um livro-texto teológico bastante popular. A técnica de apresentar afirmações contraditórias sobre um problema e então resolvê-lo pela razão mostrar-se-ia uma característica chave do escolasticismo. As escolas catedrais foram catalisadoras da fundação das universidades. Uma cidade com uma catedral conhecida muitas vezes tornava-se o centro de muitas escolas e os estudiosos alugavam salas e estudantes pagavam para ouvir suas palestras. Dessa situação surgiu a universidade. Na realidade, o termo universitas a princípio descrevia uma guilda de professores ou estudiosos reunidos em defesa própria contra a cidade onde se encontravam ou com o propósito de disciplinar alunos ou professores indolentes. Foram os professores

que organizaram as universidades no norte da Europa, enquanto na Itália os alunos é que formaram as guildas. As primeiras universidades receberam sua permissão do papa e as que vieram mais tarde pediram o reconhecimento de governantes seculares. Entre as primeiras universidades podemos citar Bolonha, Paris, Salermo, Cambridge, Pádua, Salamanca e Toulouse. Elas eram relativamente pequenas de acordo com os padrões modernos, sendo que a maior tinha entre três e quatro mil alunos. Apesar de ensinarem as sete ciências humanas (ver capítulo 6), a tendência era que a lógica ou filosofia fosse predominante no currículo universitário. As faculdades de graduação ensinavam Medicina, Direito e Teologia. Em Paris, um jovem podia começar seus estudos aos 12 anos de idade, mas o privilégio de lecionar Teologia não era concedido até que se completasse 35 anos. O único requisito de admissão era o conhecimento do latim. Os primeiros quatro anos culminavam no grau de Mestre em Ciências Humanas que era composto de estudos, um estágio para lecionar e a defesa de uma tese. Ele podia, então, continuar com os estudos de Direito, Medicina ou Teologia. Se desejasse um Doutorado em Teologia, teria que passar seis anos concentrandose na Bíblia e na Teologia sistemática de Pedro Lombardo. Mais três anos de estudo das obras dos Patriarcas da Igreja e da Bíblia davam direito a um Doutorado de Teologia Sagrada, que qualificava o estudioso a lecionar Teologia da mesma forma que o Mestre em Ciências humanas podia lecionar essas matérias. A universidade mais famosa de Paris era Sorbone. As universidades inglesas de Oxford e Cambridge usaram o modelo de Paris. Elas assemelhavamse aos grupos de cânones de uma catedral, onde os clérigos viviam juntos sob

uma regra. Apesar dos professores e alunos supostamente serem religiosos, sua conduta mostrava que muitas vezes tinham outros assuntos em mente.

Escolasticismo O método distinto de reflexão teológica e filosófica das escolas medievais era o escolasticismo. Ele procurava reconciliar a revelação cristã com a filosofia de Aristóteles, que havia sido transmitida para a Europa ocidental através dos muçulmanos e judeus da Espanha e do sul da Itália. Esse método lançava mão de várias fontes. Uma delas era o “realismo” platônico que afirmava que havia idéias (universais) na mente de Deus — formas ou essências perfeitas como cadeira, homem, honra e árvore — e coisas (específicas) que as pessoas percebiam na realidade. Outra fonte era a ênfase de Abelardo no direito do filósofo de usar sua própria razão. O sistema de Aristóteles também foi importante e tornou-se conhecido aos estudiosos medievais por volta de 1200. Ele baseava-se completamente na razão e operava sem referência ao Deus cristão. Conceitos como o transformador primário, movimento eterno, a negação da criação e da providência, incerteza sobre a imortalidade e a alma e uma moralidade baseada apenas na razão eram extremamente perturbadores para as pessoas naquele tempo. A genialidade de dois teólogos dominicanos, Alberto Magno (Alberto o Grande, 1193-1280) e seu pupilo Tomás de Aquino (1224-1274) consistiu em juntar essas idéias num sistema lógico que mantinha a distinção entre a esfera da revelação divina e a da razão humana e usava todo o conhecimento humano na investigação dos mistérios divinos. A Summa Theologiae de Tomás foi a maior obra da teologia medieval e sua influência ainda pode ser vista nos dias de hoje. Nela, ele afirma que a existência de Deus pode ser conhecida através de seus

efeitos no mundo, coisas que todos podem ver. Mas Deus não é conhecido apenas através da “natureza” mas também através da “graça”, por sua revelação nas Escrituras. O objetivo de Tomás era harmonizar a fé e a razão. Ao aceitar Aristóteles como um guia da razão e a Bíblia como a regra de fé, ele demonstrou que existe uma relação significativa entre as duas. Apesar de algumas doutrinas só poderem ser conhecidas através da revelação, como a Trindade, o pecado original, a encarnação e a ressurreição, elas não são necessariamente contraditórias à razão. Pelo contrário, a revelação complementa e aperfeiçoa mas nunca contradiz as conclusões da razão. Uma ilustração desse método é uma discussão sobre a providência de Deus. Aristóteles afirmava que Deus (ou o “transformador imutável”) não conhece o mundo e nem se preocupa com ele; porém, a Bíblia afirma que freqüentemente Deus está intimamente preocupado com sua criação. Todavia, essa não era uma contradição real pois Deus, como criador do mundo é sua razão de ser e abrange os efeitos da criação. Tendo em vista que ele conhece tudo o que há dentro dele, ele sabe da criação como um todo. Além disso, por ele ter criado o tempo, o conhecimento que tem de sua obra é eterno. Através da lógica Tomás explicou então as doutrinas da imoralidade, criação e julgamento. Fez uma distinção clara entre a forma como o conhecimento é adquirido nesse mundo e aquilo que os indivíduos aprendem depois da morte. Nesse mundo, adquire-se compreensão através da experiência, seja ela direta o indireta, mas no céu um indivíduo irá aprender através do “conhecimento místico”. Os apóstolos e profetas eram indivíduos privilegiados que puderam experimentar Deus de forma mística antes de morrerem, mas esse conhecimento limitou-se a eles. Ao distinguir desse modo a experiência

sensorial e o conhecimento celeste, Tomás pôde traçar uma diferença clara entre a ciência e a fé cristã.

Fé e adoração A Igreja dominou a vida intelectual e artística dessa época porque satisfazia as necessidades religiosas dos europeus. Uma das fontes de sua força era sua flexibilidade, isto é, sua capacidade de englobar várias crenças e práticas teológicas desde que fossem mantidos os elementos essenciais da fé. Além disso, a realização regular de cultos, a provisão de orientação espiritual e a presença dos ministros da Igreja nos tempos de maior crise e alegria da vida ofereciam ao povo o consolo resultante da rotina. Os sacramentos também eram importantes, pois acreditava-se que conferiam graça àqueles que os recebiam. Pedro Lombardo determinou como sendo sete os sacramentos em suas obra Sentenças, afirmação que foi ratificada mais tarde em concílios da Igreja. Tanto a igreja oriental como a ocidental aceitavam a enumeração de sete itens: batismo, confirmação, ceia ou eucaristia (“ação de graças”), penitência, extrema unção, matrimônio sagrado e ordens sagradas. O batismo removia a mácula do pecado original, significava adoção como filho de Deus e tornava o recipiente um membro da igreja, o Corpo místico de Cristo. A confirmação concedida através da imposição de mãos por um bispo qualificava a pessoa a ser um participante pleno da vida sacramental e institucional da Igreja. A eucaristia, razão de ser da missa na qual, através da oração de consagração do sacerdote, o pão e o vinho eram transformados em corpo e sangue de Cristo, oferecia de modo metafísico ao que comungava os benefícios do sacrifício no Calvário. A penitência incluía a confissão a um

sacerdote, aceitação da penalidade, absolvição de pecados dos quais havia arrependimento sincero. A extrema unção era o ato sacerdotal de ungir o enfermo com óleo santo. Auxiliava na cura ou, se alguém estava à beira da morte, fortalecia sua alma. No sagrado matrimônio, o casamento de duas pessoas batizadas, ambas as partes eram os ministros e o sacerdote servia de testemunha escolhida. As ordens sagradas, concedidas por bispos através da imposição de mãos, tornavam um homem um bispo, sacerdote ou diácono, dependendo da situação. Neste caso, está envolvido o conceito de sucessão, a idéia de que o ministério havia se originado dos apóstolos através de uma cadeia contínua da ordenações de bispos. Pode-se argumentar que esse sistema sacramental era uma abordagem psicologicamente correta da vida cristã pois cada um dos sacramentos acontecia em determinadas épocas de passagem ou crise — nascimento, puberdade, casamento, doença e morte. Eles serviam de apoio para a pessoa ao combinar um ato tangível com um significado teológico mais abstrato. A Igreja usava muitos métodos diferentes para levar a mensagem ao público. O principal era a implantação de uma casa de Deus onde já havia crentes ou potencial para conversões. Havia igrejas, catedrais, oratórios e santuários por toda a parte e suas portas estavam abertas para qualquer um que desejasse entrar. O trabalho religioso da Igreja, a “cura das almas” como era chamado, era realizado pelos sacerdotes e por alguns membros das ordens monásticas. Missionários e frades que pregavam ao ar livre levavam a palavra àqueles que não freqüentavam os cultos. Rituais públicos e procissões também chamavam a atenção dos não-convertidos. Para reforçar a palavra falada, a Igreja usava música, esculturas, pinturas e vitrais. Também havia um apelo ao sobrenatural através de relíquias e milagres.

Toda paróquia principal tinha sua coleção de relíquias e um santo padroeiro, sendo que acreditava-se que ambos possuíam o poder de curar e abençoar os adoradores. Em resumo, a Igreja tentou tudo o que era humanamente possível para atrair e cativar o povo.

A Virgem Maria A mais conhecida santa medieval era a Virgem Maria. Apesar da adoração a ela ter-se originado na Igreja primitiva, foi incentivado pelo termo theotokos (“Mãe de Deus”) nos concílios ecumênicos da Igreja (ver capítulo 3). A preocupação nesse caso era reforçar a crença na divindade de Cristo e na realidade da encarnação, opondo-se aos dissidentes arianos e monofisitas. A princípio, a adoração da virgem era mais forte no Oriente, mas no século 9º já havia lançado raízes profundas também no Ocidente. Acreditava-se que ela era a mediadora entre Deus e os seres humanos pois ela orava pedindo ao seu Filho que tivesse misericórdia dos pecadores. Nascida sem pecado (a “Imaculada Concepção”), eternamente virgem, sem pecado em vida e assunta aos céus em sua morte (a “Assunção”), ela era a combinação ideal de pureza e afeição materna. No século 13 ela já era conhecida como “Rainha do Céu” e o respeito dedicado a ela superava todos os limites anteriores. Apesar de ser venerada com mais adoração do que aquela oferecida a outros santos, ficava oficialmente entendido que ela não receberia a adoração reservada ao Filho, que era Deus. Seus milagres incluíam ajudar os pobres, curar os enfermos e consolar os solitários. A maior parte das doutrinas da Igreja desenvolveu-se à partir do trabalho de teólogos e de decisões dos concílios, mas a veneração de Maria entrou para a Igreja através da religião popular. Para o povo ela era “Nossa Senhora” ou, em

Francês “Notre Dame”. Havia uma tendência de se ver Cristo como um juiz severo e distante e a atenção cada vez maior dedicada a Maria era exemplo dos esforços de se adotar uma visão mais bondosa e graciosa de Deus. Maria era a mãe carinhosa que, por causa de sua própria experiência trágica, podia compreender o povo. Isso aparece expressado muito bem no famoso hino a Maria, “Stabat Mater” do século 13 e cuja primeira estrofe diz:

Aos pés da cruz em sua vigília Está a Rainha das dores em pranto Enquanto seu Filho sofre ali pendurado Ela agora sente — ó coração aflito pela espada O que há tanto tempo foi profetizado! — Mais dores do que qualquer mãe em sofrimento.

A extensão da popularidade da virgem nos séculos 13 e 14 podia ser vista em muitas catedrais e igrejas dedicadas a ela, como a Notre Dame de Paris e a Notre Dame de Chartres.

Grupos heréticos Depois de 1200 passou a haver uma rigidez crescente de fé e ordem, uma erosão da flexibilidade que tinha sido uma fonte de forças da Igreja. À medida em que suas doutrinas passaram a ser articuladas de modo mais preciso, o desvio das normas oficiais era mais comum e a chamada “heresia” tornou-se um problema sério. Porém, há várias formas de se lidar com diferenças religiosas. Os frades, com suas pregações e vidas exemplares, foram uma reação. Outra foi a conversão, o uso do ensino para restaurar o que estava em erro. Extremamente

ameaçadora, porém, foi a forma seguida por Inocêncio III, que condenou as idéias de hereges franceses no 4º Concílio de Latrão (1215) e proclamou uma cruzada contra eles. Assim, uma técnica cada vez mais comum consistia em torturar e executar aqueles que persistissem obstinadamente em suas heresias. Havia motivos para essa forte reação. Membros de grupos hereges muitas vezes faziam uso de violência contra os fiéis, especialmente quando se tornaram parte de movimentos de protesto social, como os intolerantes albigencianos. Além disso, para o povo do mundo medieval, nada era mais importante do que a salvação de sua alma eterna. Aqueles que colocavam em perigo a alma deveriam ser tratados como se faz com um apêndice inflamado: extirpar antes que possa causar mais problemas. No começo da Idade Média, os ensinamentos da maior parte das heresias eram tão intelectuais e abstratos que deixavam o povo indiferente ou confuso. Mas no final do século 12, a Reforma Gregoriana encorajou a perigosa idéia de “pobreza apostólica” (o clero não deveria possuir muita riqueza), resultando assim numa tendência a críticas contra os abusos da Igreja. Além disso, por serem práticos e não intelectuais, esse movimentos dissidentes tinham apelo popular. Um deles foi o dos valdenses, cujo fundador, Pedro Valdo, um comerciante de Lião, sentiu-se chamado para uma vida apostólica de pobreza em 1173. As crenças de seus seguidores incluíam o não-reconhecimento da autoridade eclesiástica, cultos falados, uma interpretação simbólica da eucaristia, negação da validade do batismo de crianças, rejeição do purgatório, um estilo de vida austero e pacifismo. Apesar do papado considerar suas idéias como sendo heréticas, na verdade eles eram cristãos autênticos no sentido ecumênico. Os valdenses franceses encontraram refúgio nos Alpes de Savóia e

Piemonte, onde continuam a existir, enquanto outros foram para a Europa central onde podem ter influenciado tanto John Hus quanto a Reforma. Por outro lado, o albigencianismo que surgiu no final do século 12, era de fato uma outra religião. Seu centro era no sul da França, na cidade de Albi em Languedoc. Também conhecidos como cataris (os “puros”), suas crenças eram tiradas de religiões de mistério do Oriente, do maniqueísmo e de seitas heréticas da igreja oriental, principalmente os paulicianos e bogomils. Os albigencianos criam num dualismo radical, isto é, havia um deus perverso e um deus bom que lutavam pela vitória dentro da História e dos indivíduos. A vida era uma briga entre esses deuses e suas principais forças eram o espírito e a matéria. Como pregavam a purificação gradual de toda a matéria, incluindo nosso corpo, a vida dos albigencianos era extremamente ascética. Também rejeitavam os sacramentos, o inferno e a ressurreição e consideravam pervertidos o clero e as doutrinas da Igreja católica. Apesar de, teoricamente, serem pacifistas, na prática eram bastante violentos. Depois de tentar em vão convertê-los enviando várias missões, Inocêncio III declarou a Cruzada Albigenciana de 1209. Levada à cabo com brutalidade contra uma resistência violenta, essa campanha eliminou os albigencianos. Outro instrumento de combate à heresia era a Inquisição Romana. Fundada em 1233 pelo papa Gregório IX, era uma corte eclesiástica que funcionava sob princípios de investigação e interrogação da lei romana. O papa enviava inquisidores, em sua maioria frades dominicanos e franciscanos, que criavam tribunais para caçar os hereges. Quando os inquisidores chegavam numa cidade, os dissidentes tinham um certo tempo para apresentar-se voluntariamente e renunciar seus erros. Aqueles que assim o faziam eram dispensados com uma pena leve. Então, o povo era convocado a contar para os

inquisidores quem eram os hereges que eles conheciam. Apesar de haver uma certa proteção para os acusados, as vantagens desse tipo de julgamento estavam na instauração do processo, especialmente depois da introdução da tortura em 1252. Nesse estágio uma confissão livrava o herege de uma pesada penitência e castigo. Se o acusado continuassem insistindo ser inocente e não renunciasse à heresia, era entregue às autoridades seculares para ser condenado e executado. A mesma dureza de atitude foi demonstrada para com os judeus, os eternos estrangeiros na sociedade cristã. Isso ia totalmente contra o tratamento que haviam recebido no começo da Idade Média, sob o governo dos reis germânicos, que valorizavam seu papel no empréstimo de dinheiro e no comércio. Durante a era carolíngea suas atividades econômicas eram grandemente apreciadas, pois tais serviços eram escassos numa sociedade subdesenvolvida. Aliás, alguns judeus possuíam grandes propriedades na região produtora de vinho na França. Em 1050 a nova condição militante do Cristianismo latino e o crescimento da devoção popular levaram a um aumento pronunciado da animosidade para com os judeus. Mudanças econômicas e políticas prepararam o caminho para essa triste situação. Tendo em vista que o relacionamento feudal que proliferou durante esse período exigia um juramento cristão, os proprietários de terras judeus foram forçados a ir para as cidades onde dedicaram-se ao artesanato e comércio. Então o crescimento das guilda, cada qual organizada em torno da adoração de um determinado santo, levou à exclusão dos judeus desse meio. Não tardou para que a única profissão restante fosse a de trocar e emprestar dinheiro, acrescentando um fator econômico ao antagonismo religioso já existente. Passaram a ser odiados por causa da usura (emprestar dinheiro com juros), mas numa época em que as atividades comerciais eram, no mínimo

arriscadas e quando era difícil serem pagos pelos gentios, os judeus achavam necessário cobrar até cinqüenta por cento de juros sobre os empréstimos. Os cristãos acreditavam em todo e qualquer rumor maldoso sobre os judeus. Dizia-se que envenenavam poços, praticavam o canibalismo, sacrificavam crianças cristãs (o infame “libelo de sangue”) e, mais absurdo de tudo, roubavam o pão sacramental do altar e o esfaqueavam a fim de fazer Jesus sofrer novamente. Finalmente o 4º Concílio de Latrão decretou que os judeus deveriam usar uma roupa distintiva e ser confinados a guetos. Mais tarde, os reis da Inglaterra, França e Espanha usaram esse argumento religioso para expulsá-los e confiscar sua propriedade. Alguns judeus se converteram mas outros foram para o Leste e assentaram-se na Alemanha e na Polônia. Atos desse período serviram de base para expressões subseqüentes de anti-semitismo e deixaram a sociedade medieval desprovida daquele que era talvez seu grupo étnico mais estudado e valioso.

A Igreja e a arte A área mais importante de realização artística foram as edificações das igrejas e as esculturas e pinturas associadas a elas. Dois estilos arquitetônicos predominaram durante esse período — o romanesco e o gótico. O romanesco refletiu-se numa onda de construção de igrejas durante o século 11 que resultou em aproximadamente 1.587 novas edificações só na França. O teto era um espesso meio cilindro de pedra chamado de abóbada semicilíndrica cujo peso forçava os construtores a fazer paredes uniformes e pesadas. A ênfase era nas linhas horizontais, que davam ao crente uma sensação de repouso e solidez. Como as janelas eram poucas e pequenas, para iluminar o interior as igrejas

eram revestidas de tapeçarias ou pintadas com cores vivas e estátuas, cálices e relicários eram adornados e incrustados de jóias. Esculturas verticais isoladas eram usadas para amenizar o efeito pesado da construção romanesca. No final do século 12 ocorreu uma mudança gradual do estilo romanesco para o gótico. Caracterizado pela delicadeza e os detalhes, o apoio necessário para uma estrutura gótica era colocado do lado de fora da parede em arcobotantes. O uso de arco pontiagudos permitia a construção de estruturas altas que enfatizavam as linhas verticais e dirigiam os crentes aos céus. As igrejas góticas eram leves em dois sentidos: o desenho fazia as pedras parecerem menos pesadas enquanto os vitrais constituíam verdadeiras obras de arte. Não só as janelas eram obras de arte como também os pilares, portas e quase todas as outras partes da catedral eram esculpidos. As igrejas góticas tinham um detalhe estrutural que era comparável ao trabalho dos teólogos medievais. No século 13 surgiu a rivalidade entre cidades para ver qual podia erguer a catedral mais alta. Como resultado, cada uma era construída de acordo com um projeto específico, apesar de que — pelo fato de uma igreja levar gerações para ser construída — os planos eram muitas vezes alterados. A construção da igreja era um projeto comunitário que envolvia arquitetos, artesãos e trabalhadores braçais. A arte medieval expressava um sistema de valores coerente e uma visão do universo baseada numa visão do Cristianismo. Seu propósito era apontar para uma realidade espiritual que estava por trás do mundo material. Os artistas usavam um sistema de simbolismo e alegoria extremamente desenvolvido para apresentar suas idéias, um sistema no qual a maior parte das coisas tinha um significado espiritual além do literal. O fogo, por exemplo, representava o martírio ou o fervor religioso; um lírio simbolizava castidade; uma coruja (o

pássaro da escuridão) muitas vezes podia representar Satanás e um cordeiro era usado para Cristo como o sacrifício pelo pecado. As realizações artísticas atingiram seu ápice na catedral gótica. Ela combinava a versão medieval de um lugar de adoração com teatro, galeria de arte, escola e biblioteca. O mercado ficava nos arredores da catedral, peças eram encenadas em seus degraus, estranhos dormiam dentro dela e a população ia se encontrar nos corredores laterais. Por ser a casa do povo assim como a casa de Deus, a catedral era um espelho do mundo. Todos os trabalhos artísticos eram naturalistas, representações detalhadas de animais, histórias da Bíblia e alegorias sobre vícios e virtudes. A estrutura da sociedade podia ser vista em entalhes que retratavam ministros, cavaleiros, artesãos, camponeses e comerciantes em suas diversas atividades. A Teologia refletia-se na estrutura da construção — a busca para cima, em direção a Deus, a planta baixa em forma de cruz e o altar situado a Leste, voltado para Jerusalém. Cada detalhe da crença, do Deus Triuno à criação, da morte de Cristo ao julgamento final, aparecia em esculturas, pinturas, mosaicos e vitrais. A harmonia encontrada em tal estrutura representava os ideais da arte e do pensamento medieval.

Em nenhuma época da História o Cristianismo foi uma influência social tão difundida quanto na Europa medieval. Apesar das duas metades do Cristianismo estarem se distanciando, suas respectivas igrejas dominaram a vida política, cultural e intelectual. Houve novos esforços no sentido de expandir as fronteiras do Cristianismo ocidental, mas no século 14 teve início uma depressão econômica que afetou a Europa. Isso levou a vários problemas marcados por violência, doenças, instabilidade política e pessimismo e o século

seguinte foi de insatisfação e amargura que destruíram a síntese medieval de Igreja e sociedade.

Capítulo 8 - A Igreja medieval no Oriente A distância entre o Cristianismo ortodoxo no Oriente e a igreja latina no Ocidente ficou cada vez maior. Não apenas seus patriarcas exerciam o ofício sob a sombra do império bizantino como também havia diferenças de língua, liturgia, doutrina e política eclesiástica. Então as Cruzadas deferiram o golpe mortal sobre as relações entre o Oriente e Ocidente, enquanto as crescentes pressões muçulmanas sobre o império levaram à sua destruição em 1453. Ao mesmo tempo, desacordos sobre a definição calcedônia de Cristo levaram outros grupos cristãos a se separar da ortodoxia principal. Dentre eles estavam os monofisitas na Armênia, Egito, Etiópia e Síria e os nestorianos na Mesopotâmia, Ásia central, China e Índia.

Imperadores e patriarcas bizantinos A transferência de capital de Roma para o Bizâncio realizada por Constantino em 330 teve conseqüências duradouras. Não apenas o Império Bizantino durou mais de mil anos, mas fazer de Constantinopla o centro do Império também significou a ascensão do bispo principal da cidade. Na época do Concílio de Nicéia (325), a cidade possuía uma pequena sé local, mas esta cresceu tão rapidamente em importância ao longo do século seguinte que em 451 o Concílio da Calcedônia declarou que “A igreja santíssima de Constantinopla, a Nova Roma, terá primazia logo depois da antiga Roma”. No ano 600 seu bispo foi chamado de “Arcebispo da Cidade de Constantino, Nova

Roma, e Patriarca Ecumênico”. A história do Império Bizantino é repleta de intrigas palacianas e revoluções militares. Mais de sessenta imperadores foram assassinados ou forçados a abdicar. Ao contrário do papa em Roma, que servia como líder espiritual e autoridade política bastante independe dos governantes seculares no Ocidente, a figura poderosa do imperador sempre colocava em segundo plano o patriarca ortodoxo. Apesar do imperador, em seu papel de co-regente de Cristo, ser um leigo elevado a uma posição na qual podia pregar, ele não podia introduzir mudanças doutrinárias sem o apoio do patriarca e um concílio de bispos. Na verdade, os imperadores bizantinos estavam mais interessados em preservar a unidade de seu império num processo de fragmentação do que na pureza doutrinária. Mas seus esforços para manter as ligações com o Ocidente foram cada vez mais dificultados pela invasão dos lombardos na Itália, a migração eslava para os Balcãs e o ataque incessante dos búlgaros ao Norte e dos muçulmanos no Leste. Os imperadores procuraram resolver a complexa questão monofisita através de uma série de acordos. O mais importante foi o Henoticon, ou “Édito da União”, proclamado pelo imperador Zeno com o incentivo do patriarca Acácio em 482. O Henoticon assumiu uma posição popular entre os seguidores de Cirilo de Alexandria de que a definição de Cristo declarada nos concílios de Nicéia (325), Constantinopla (381) e Éfeso (431) era suficiente. Apesar de condenar o líder monofisita Eutiques, o documento deixou em aberto uma diferença de opinião honesta sobre o assunto ao não afirmar a posição rígida adotada no Concílio da Calcedônia. Zeno esperava com isso possibilitar a reconciliação entre os adeptos dos diversos pontos de vista sobre as duas naturezas de Cristo. Enquanto muitos monofisitas “moderados” aceitaram o

decreto, os mais extremos não cederam. Ao mesmo tempo, o papa objetou que o Henoticon ignorava o Tomo de Leão e excomungou tanto Acácio quanto Zeno, resultando no Cisma Acaciano entre o Ocidente e o Oriente (484-519).

675-802

787

858-886

João de

2º Concílio

Cisma De

Damasco

de Nicéia

Photius

715-731

1049-1054

1181

1274

1325

1438-1439

Papado de

Papado de

Os

Concílio

Sé da

Concílio

Gregório II

Leão IX

Maronitas

em Lião

Igreja

Unido em

tornam-se

Ortodoxa

Ferrara -

uma igreja

levada para

Florença

Uniatas

Moscou

700

1000

1200

1500

717-741

741-775

886-

945-963

1137-

1202-1204 1328-1340

Leão III

Constantino

912

Constanti

1270

4ª Cruzada

V

Leão

no VII

Dinastia

Constantin

abissínia

opla diante

Zagwe

dos turcos

VI

800-814

867-886

975-1025

1250-1517

Carlos Magno

Basílio I

Basílio II

Império

1453

Ivan I

Queda de

Otomano

Teodora, a esposa do grande imperador Justiniano, simpatizava com os monofisitas e até refugiou em seus aposentos um dos bispos que ele havia deposto. O próprio Justiniano pôs-se a unir a Igreja em função da visão “ortodoxa” das naturezas de Cristo e assim promover uma base espiritual para seu esforço político no sentido de reunir o Oriente e o Ocidente. Mas então, numa iniciativa para ganhar o apoio dos monofisitas, o imperador lançou um édito em 544 condenando os chamados “Três Capítulos”, os escritos de três bispos proeminentes acusados de tendências nestorianas que haviam sido

absolvidos na Calcedônia um século antes. Ele garantiu o acordo dos quatro patriarcas orientais e levou para a capital o papa Vigílio a fim de pressioná-lo a também dar seu consentimento. Para ratificar a condenação dos Três Capítulos, Justiniano convocou o 5º Concílio Ecumênico de Constantinopla em 553. Vigílio protestou pois apenas uma dúzia dos 165 bispos na reunião representava as igrejas do Ocidente e o esforço do imperador pela conciliação não deu em nada. Ele havia deixado de fora o Ocidente e enfurecido os nestorianos e até mesmo fracassado em ganhar os monofisitas. Como resultado, sua esperança de estabelecer a unidade religiosa e cultural foi frustrada. Um acontecimento importante ocorreu durante o reinado de Heráclito (610-41). Os sassanianos persas invadiram a Síria e avançaram para dentro da Palestina e Egito em 619, ameaçando assim o suprimento de grãos do império. O rei persa chegou a remover a lendária “Cruz Verdadeira” da Igreja do Santo Sepulcro. Quando Heráclito aproximou-se dele para propor a paz, o rei respondeu: “Não irei poupar-vos até que tenhais renunciado o Crucificado, aquele que vós chamais de Deus e vos prostrado perante o Sol [aqui, Ahuramazda]”. Enquanto isso, os avares ameaçavam o norte, os inimigos eslavos estavam quase chegando nas muralhas de Constantinopla e as últimas forças romanos haviam sido expulsas da Espanha pelos visigodos. Parecia que Heráclito teria que mudar a capital para Cartago, quando o patriarca Sérgio foi resgatá-lo. Ele ofereceu os tesouros da Igreja ao imperador, permitindo assim que ele juntasse um exército que defendeu Constantinopla dos ataques bárbaros em 625-26. Então, Heráclito derrotou os persas e recuperou a Verdadeira Cruz. Em 630 ele havia reconquistado a Síria, Palestina e Egito para o império. Isso foi apenas alguns anos antes que o ataque muçulmano varresse a

maior parte desses territórios. Assim, tornou-se imperativo sarar as divisões religiosas com os monofisitas no Leste. Em 633, sob a orientação de Sérgio, Heráclito propôs a aceitação do ponto de vista monofisita que afirmava que Cristo possuía uma energeia (“operação” ou “atividade”) para corresponder à sua natureza única. Ainda assim, os monges fortemente calcedônios na Palestina liderados por Sofrônio, patriarca de Jerusalém, opuseram-se ao uso desse termo e Sérgio voltou-se para Roma em busca de apoio. O papa Honório, porém, afirmou que a proclamação de novas doutrinas era responsabilidade exclusiva dos concílios da Igreja e Sérgio desistiu da idéia. Porém, em sua ânsia de ganhar o forte partido monofisita do Egito sem perder o apoio da igreja ocidental, Heráclito (com a aprovação de Sérgio) propôs uma outra idéia que o papa Honório já havia sugerido anteriormente. Para substituir o fracassado Henoticon, ele levou mais além o conceito de monoteletismo o qual ele esperava que pudesse substituir o monofisismo desmedido das províncias orientais. Esquivando-se da disputa sobre o fato de Cristo ter uma ou duas naturezas, essa doutrina afirmava a unidade de vontades humanas e divinas e assim, deveria ser aceitável tanto para as facções calcedônias quanto para as monofisitas. A princípio, essa declaração engenhosa agradou os líderes eclesiásticos de ambos os lados da divisão, mas em 638 quando Heráclito publicou um édito contendo o dogma de uma vontade, os monofisitas egípcios o rejeitaram. Seguiu-se uma luta violenta que separou tão completamente os coptas dos bizantinos a ponto de ajudar a preparar o cenário para a conquista árabe do Egito em 641. Eles não ofereceram resistência alguma aos invasores muçulmanos. O monoteletismo também foi condenado pelo papa em 647, que nessa

ocasião excomungou o patriarca de Constantinopla por aceitar a doutrina, e as tensões entre Oriente e Ocidente intensificaram-se durante os anos seguintes. Quando o imperador Constantino IV (668-85) percebeu que o monoteletismo não só havia fracassado na reconciliação com os monofisitas mas também havia alienado o Ocidente, ele convidou o papa a mandar representantes a Constantinopla para o 6º Concílio Ecumênico em 681. A assembléia decretou que Cristo possuía “duas vontades naturais e duas atividades naturais, sem separação, sem mudança, sem divisão e sem confusão”. Através desse ato, acabaram-se as grandes controvérsias cristológicas que haviam dividido a Igreja durante mais de três séculos. Além de condenar alguns tipos de entretenimento público, o concílio também baniu certas práticas ocidentais como o jejum aos sábados e o celibato clerical, causando assim um outro rompimento com Roma que durou até 710. Também determinou que Cristo não deveria mais ser retratado simbolicamente, (como um cordeiro, por exemplo) mas somente como ser humano vivente. Isso refletiu o aumento da distância entre as igrejas ocidentais e orientais e preparou o cenário para ainda outro conflito entre elas.

A controvérsia iconoclasta No 6º século, tanto o governo imperial quanto a igreja ortodoxa estavam incentivando a produção de ícones (do grego eikon) — pinturas bidimensionais de Cristo, da Virgem, de santos e anjos. Acreditava-se que estes possuíam poderes de cura a proteção. Chegou a se atribuir ao ícone da virgem a salvação de Constantinopla da conquista estrangeira, apesar de árabes muçulmanos terem, mais tarde, conquistado as províncias do leste com relativa facilidade. Mas Leão III, que fundou a Dinastia Isáurea (717-802) conseguiu repelir o ataque árabe

sobre a capital em 718. Leão lançou a controvérsia iconoclasta, a oposição ao uso de ícones, que arrastou-se por mais de um século. Pelo fato de ele vir da Síria, alguns acham que pode ter sido influenciado pela acusação muçulmana de que os cristãos eram idólatras, enquanto outros atribuem sua hostilidade aos ícones a fontes judaicas. Seja como for, Leão chegou à conclusão de que a adoração de ícones violava o segundo mandamento e era o motivo que havia provocado as derrotas bizantinas. Então, interpretou uma erupção vulcânica na ilha de Tera em 726 como prova da ira de Deus e proibiu que qualquer um se ajoelhasse diante de imagens. Quatro anos depois, ordenou a remoção de todos os ícones das igrejas e lugares públicos, despertando assim a ira dos monges e do patriarca, o qual ele substituiu por outro. O papa Gregório II, que era a favor dos ícones como símbolos da realidade divina, protestou contra os atos do imperador, mas Leão retaliou retendo os lucros das terras bizantinas na Itália e transferindo o Ilírico para a jurisdição do patriarca. Isso refletiu mais um vez o aprofundamento do abismo entre as duas igrejas. Leão não podia depor o papa como fez com o patriarca e nos anos seguintes o papado achegou-se mais aos descendentes franceses de Carlos Martel e distanciou-se da dependência do império. O filho de Leão, Constantino V (741-75) impôs com brutalidade os decretos iconoclastas. Excomungou e torturou os simpatizantes dos ícones e demoliu seus mosteiros e conventos, ordenando que os residentes se casassem ou fossem exilados. O imperador humilhou ainda mais os iconófilos obrigandoos a desfilar no Hipódromo com prostitutas famosas. Ele substituiu os ícones pela cruz, a Bíblia e os elementos da eucaristia. Por outro lado, o mais articulado defensor dos ícones foi João de Damasco (cerca de 675-749). Monge em São Sabas, próximo a Jerusalém, ele

foi um teólogo tão distinto que a posteridade o considera o último dos patriarcas da igreja do Ocidente. Na obra Três Discursos Apologéticos, João argumentava que enquanto a “adoração” deveria ser reservada somente para Deus, os ícones eram dignos de “veneração”. Conforme ele colocou enfaticamente, “Quando veneramos ícones, não oferecemos veneração à matéria, mas através do ícone veneramos a pessoa representada”. Negar a validade dos ícones era negar a realidade da Encarnação. A imperatriz Irene (780-802), de personalidade ambiciosa e dinâmica e que serviu como regente de seu jovem filho e depois o depôs, não apenas foi a primeira mulher a exercer o poder imperial que lhe era de direito como também mostrou-se favorável aos ícones. Irene e o patriarca Tarásio, por ela nomeado, convocaram o 2º Concílio de Nicéia em 787 para restituir a veneração de ícones. Representantes de Roma estavam presentes neste que ficou conhecido como o 7º (e último) Concílio Ecumênico. Seus decretos usavam os argumentos de João de Damasco para defender os ícones, mas a tradução incorreta que chegou ao Ocidente levou as pessoas a crerem que os ícones haviam recebido a mesma reverência que a Santa Trindade. Por causa desse mal entendido, o Concílio de Frankfurt — que havia sido convocado por Carlos Magno por outros motivos (ver capítulo 6) — rejeitou os decretos, agravando ainda mais as relações entre o Oriente e o Ocidente. Uma nova onda de iconoclasmo foi iniciada pelo imperador Leão V (81320) que acreditava que os bizantinos haviam perdido duas batalhas para os hereges búlgaros porque os cristãos adoravam ícones. Ele reagiu promovendo uma campanha para destruir todos os ícones. Substitui o patriarca da época por um iconoclasta e mandou prender aqueles que veneravam ícones. O imperador seguinte, Teófilo, exilou e até executou aqueles que usavam ícones.

Os iconófilos buscaram apoio voltando-se para um monge de Constantinopla chamado Teodoro dos Estúdios (759-826) e encontraram nele um eloqüente porta-voz. Ele afirmava que “Por esse motivo Cristo é retratado em imagens e o invisível tornar-se visto. Aquele que em sua própria divindade é incircunscritível aceita a circunscrição natural de seu corpo”. Então Teodora, a viúva do imperador que governou como regente de seu jovem filho Miguel III, decidiu reinstituir a veneração de ícones. Em 843 ela convenceu um sínodo a condenar os iconoclastas, confirmou o decreto do 7º Concílio Ecumênico de 787 e encerrou a atroz disputa.

O cisma de Photius Outra controvérsia que assolou a igreja oriental teve início em 858 quando Miguel III nomeou Photius, um leigo, para o ofício patriarcal. Ele havia sido professor de filosofia na Academia Imperial em Constantinopla e era autor da importante obra Myriobiblion (A Biblioteca) um estudo comentado de 279 autores pagãos e cristãos. Photius muitas vezes é chamado de Pai do Humanismo Bizantino. Porém, o papa Nicolau I recusou-se a reconhecê-lo e o excomungou. A oposição de Nicolau a Photius deu-se não apenas por causa de sua alta consideração pelo poder papal, mas também devido à contínua rivalidade com o Oriente pelo controle das igrejas nos Balcãs. Como forma de retaliação, quatro anos depois o patriarca reuniu um concílio em Constantinopla no qual denunciou a igreja ocidental, por causa de certos costumes de ritual e jejum e pela inclusão da cláusula filioque no Credo de Nicéia (ver capítulo 6). Nessa mesma ocasião, Photius excomungou o papa. Deve-se observar que o cisma de Photius ocorreu na mesma época em que

as igrejas do Ocidente e Oriente estavam competindo pela lealdade do recémconvertido rei Bóris, da Bulgária e que missionários de ambas as partes estavam evangelizando os eslavos do sul. Apesar do cisma ter sido remediado logo depois da morte de Nicolau (867) e da dispensa de Photius (886), ele não foi a causa, mas sim um sintoma da divisão entre as duas igrejas. A verdadeira questão era a supremacia papal e foi só ao colocar esse assunto em primeiro plano que as diferenças doutrinárias puderam ser ventiladas e debatidas.

A era dourada do Bizâncio Com a ascensão da Dinastia Macedônia ao trono em 867, o império oriental entrou em sua “era dourada” e expandiu-se para a Síria e Armênia. Fundada por Basílio I, a dinastia manteve o poder durante quase duzentos anos. A família macedônia certamente deu origem a uma curiosa variedade de governantes. O filho de Basílio I, Leão VI (886-912) era um estudioso e escritor que especializou-se no estudo de Direito. Quando o patriarca recusou-se a sancionar seu casamento com uma quarta esposa, ele buscou e recebeu a bênção do papa. Seu filho, Constantino VII (945-63), era um célebre patrono das artes e do ensino que escreveu manuais sobre a arte de governar nos quais explicava as táticas da diplomacia bizantina e as cerimônias da corte apropriadas para diversas épocas do ano cristão. Basílio II (976-1025) era conhecido pels conquista da Bulgária que lhe deu o epitáfio “Matador de Búlgaros”. Seu conflito com os vizinhos dos Balcãs foi semelhante às guerras saxônicas de Carlos Magno em duração e brutalidade. Ele cegou quatorze mil prisioneiros, deixando apenas um a cada cem com um único olho para guiar o resto para casa. Diz-se que o rei búlgaro morreu de choque ao ver seus súditos mutilados. Porém, foi só em 1037 que os bizantinos

finalmente estabeleceram um controle firme da região. Por fim, depois de uma série de governantes fracos, em 1056 a linhagem macedônia morreu e seguiu-se um quarto de século de anarquia.

O cisma de 1054 O famoso cisma de 1054 ocorreu próximo ao final desse ápice da História bizantina. Havia razões definidas para que a crescente separação das igrejas do Ocidente e Oriente se transformasse em conflito aberto. Os reformadores papais (ver capítulo 6) criticavam os costumes gregos e a disciplina da Igreja que, para eles era imoral tendo em vista que os sacerdotes orientais podiam se casar. Consequentemente, os normandos, que naquele momento estavam apoderandose dos últimos territórios bizantinos na Itália, forçaram as igrejas ortodoxas a adotar os ritos e o estilo de vida clerical latinos. Além disso, o problema possuía uma dimensão política, pois o imperador Constantino IX havia formado uma aliança com o imperador alemão e o papa a fim de conter a conquista normanda. A campanha contra as igrejas bizantinas na Itália levou o patriarca Miguel Cerulário (1043-59) — um homem ambicioso e arrogante — a ordenar que todas as igrejas latinas em Constantinopla adotassem o rito grego. Ele também condenou os ocidentais pelo uso de pão ázimo na ceia, chamando isso de prática judia. O imperador, que era a favor da reconciliação, convidou o papa Leão IX a enviar uma delegação a Constantinopla para negociar as diferenças e os representantes liderados pelo cardeal Humberto da Silva Cândida chegaram à capital em 1054. Muitos desses mal-entendidos haviam surgido porque depois do 6º século poucos gregos sabiam latim e poucos latinos sabiam grego. A embaixada papal foi recebida com cortesia pelo imperador que desejava sinceramente manter as boas relações com o Ocidente, mas os representantes

eclesiásticos de ambas as partes mostraram-se intransigentes. Humberto, um homem arrogante, acusou os orientais de suprimirem a cláusula filioque. Eles responderam que a adição desse tópico ao credo jamais havia sido autorizada por um concílio geral da Igreja. Ao mesmo tempo, Cerulário questionou suas credenciais pois havia recebido a notícia de que o papa Leão tinha acabado de falecer. No dia 16 de julho de 1054, um irado cardeal Humberto e seus colegas deixaram a cidade, mas não sem antes colocar um decreto de excomunhão contra o patriarca no altar superior da igreja de Santa Sofia. Cerulário reagiu convocando um sínodo que excomungou os representantes do papa. Conforme a avaliação que o historiador John J. Norwich faz desses acontecimento: “Mais força de vontade da parte do papa que estava à morte ou do imperador hedonista, menos preconceito da parte do patriarca de visão limitada ou do cardeal obstinado e essa situação poderia ter tido salvação”.2 (As excomunhões mútuas só foram canceladas em 1965, depois de uma reunião de reconciliação entre o papa Paulo VI e o patriarca Atenágoras.) Ainda assim, as relações entre Oriente e Ocidente continuaram. As duas partes do Cristianismo não estavam conscientes de um abismo intransponível entre elas e pessoas dos dois lados esperavam que os mal-entendidos pudessem ser resolvidos. As Cruzadas, porém, introduziram um novo espírito de ódio e amargura que tornaram o cisma definitivo.

As Cruzadas Os muçulmanos no Oriente eram uma constante ameaça ao Império Bizantino, mas os imperadores do século 10º que viram-se cercados de inimigos por todos os lados tiveram sucesso em derrotar, em diferentes ocasiões, os

muçulmanos, búlgaros e armênios. Então, surgiu um novo inimigo, os turcos seldjúcidas, um povo que havia saído da Ásia central em direção ao Oriente Médio, aceito o Islã e avançado sobre o império. Em 1071 eles derrotaram as forças bizantinas na batalha de Manzikert e invadiram a Ásia Menor, deixando o Bizâncio desprovido de mais da metade do seu reino. Com a ascensão de Aléxio Comeno (1081-1118) ao trono, a sorte bizantina mudou. Soldado, político e diplomata competente, Aléxio estabilizou a posição do império e evitou sua desintegração. (Sua filha Anna escreveu uma história reveladora dessa época em Alexiad, obra que os críticos elegeram como a melhor biografia medieval.) Aléxio não só encontrou um orçamento dilapidado e um governo cuja autoridade estava seriamente comprometida, como também encarou um círculo de inimigos na Itália, Balcãs e Ásia Menor. A ocupação turca desta última não apenas quebrou o fronte oriental mas, principalmente, cortou a principal fonte de força militar, tendo em vista que a maioria dos soldados bizantinos vinha dessa região. Quando Aléxio ficou sabendo que havia divisões no exército seldjúcida, ele decidiu aproveitar a oportunidade e recuperar seus domínios perdidos. Mas por não ter soldados em número suficiente para um contra-ataque, ele apelou para o papa Urbano II, pedindo mercenários (cavaleiros) ocidentais para ajudálo. Porém, o imperador não havia previsto que a ajuda seria enviada para libertar Jerusalém do controle muçulmano. Para ele, as necessidades em seu próprio território eram mais prementes. Em outras palavras, um governador bizantino como Aléxio não podia conceber uma cruzada no sentido ocidental. Depois de quatrocentos anos lutando contra os muçulmanos, ele não via motivo para ir a Jerusalém se a retaguarda na Ásia Menor estava desprotegida. O fato é que ele estava preparado para negociar com eles se o império fosse ameaçado nos

Balcãs ou em outra parte. A geografia e tradições posteriores indicam que aquela guerra com os islâmicos foi responsabilidade específica do Império Romano Ocidental e não do Cristianismo em geral. Quando os cruzados chegaram em Constantinopla no inverno de 1096-97, Aléxio ficou alarmado. Ele esperava que Urbano fosse ajudá-lo a recrutar mercenários para seus próprios exércitos; não uma horda de cinqüenta mil cavaleiros cheios de entusiasmo religioso instalando-se em sua capital. Ele decidiu dar-lhes provisões, cercá-los de guardas para que não saqueassem a cidade, obter um juramento de lealdade de seus comandantes e fazê-los atravessar o Bósforo para a Ásia Menor o mais rápido possível. Porém, ele desagradou seus novos aliados quando fez um tratado de paz com os turcos depois que as lutas haviam terminado. A aparente traição levou os cruzados a criar seus próprios estados no Oriente Médio, liberando-os da dependência da ajuda imperial. Sua invasão ocorreu num momento oportuno, tendo em vista que o reino político do Islã estava dividido e havia então importantes estados rivais (califados) em Bagdá, Cairo e Córdoba. Os cruzados foram para o sul passando pela Síria e Palestina e tomaram Jerusalém em 1099. Suas conquistas estenderam-se ao longo da costa do Mediterrâneo e foram divididas em vários reinos e condados. Durante quase duzentos anos elas constituíram a base de operações do Cristianismo ocidental no Oriente, mas, nesses territórios, o conflito entre os ortodoxos gregos e os católicos romanos resultou em total alienação. Foi o caso de Antioquia na Síria, capturada pelos cruzados em 1100 e que tinha um bispo grego que estava ligado ao patriarca de Constantinopla. Quando Aléxio exigiu que a cidade fosse devolvida ao império oriental, os cruzados se recusaram. Assim, a posição do bispo ortodoxo tornou-

se insustentável. Ele deixou a cidade e mudou-se para Constantinopla. Os ocidentais escolheram um outro bispo que era latino, mas o ortodoxo recusou-se a renunciar, deixando dois candidatos para o antigo patriarcado de Antioquia. Uma situação semelhante surgiu quando os cruzados tomaram Jerusalém e Constantinopla. O relacionamento entre os bizantinos e os cruzados francos era tão ruim que o patriarca Miguel III (1169-77) declarou: “Que os muçulmanos sejam meus mestres nas coisas externas ao invés dos latinos dominarem-me nas coisas do espírito”. Em 1182 bizantinos irados massacraram todos os latinos que conseguiram encontrar em Constantinopla. As relações entre o Oriente e o Ocidente chegaram ao seu ponto extremo na Quarta Cruzada (1202-4). Os cavaleiros da Europa ocidental que partiram para o Oriente na 4ª Cruzada fizeram um acordo com os venezianos para transportá-los até lá. Em troca desse serviço, os cruzados concordaram em saquear a cidade de Zara na costa do Adriático e rival de Veneza. Então, um jovem príncipe bizantino — Aléxio Ângelo — pediu aos cruzados que o colocassem no trono de Constantinopla e, em troca, ele prometeu oferecer a eles o apoio financeiro e militar necessário para conduzir a Cruzada. Os ocidentais acreditaram ingenuamente que ao entronizar o príncipe que tinha esse direito, eles estariam realizando um feito de justiça e caridade. Levados por navios venezianos, eles prosseguiram ate o Oriente. Mas quando os cruzados descobriram que Aléxio era inaceitável para o povo de Constantinopla, estavam numa situação difícil, sem saber o que fazer em seguida. Na Sexta-Feira Santa de 1204 os cruzados enfurecidos invadiram Constantinopla e a pilhagem que se seguiu durou três dias. De acordo com relatos bizantinos, eles torturaram monges, estupraram senhoras de idade,

mataram crianças e invadiram e saquearam igrejas e bibliotecas. Então, nomearam um veneziano — Tomé Morosini — o novo patriarca de Constantinopla e impuseram a igreja latina no Trace e em grande parte da Grécia. Durante o período de patriarcado latino (1204-61), apenas três pequenos estados bizantinos sobreviveram — Épiro, na Albânia, Trebizond, na costa norte da Anatólia e Nicéia. Foi deste último que veio Miguel Paleólogo, que expulsou os ocidentais de Constantinopla em 1261, restaurou a igreja ortodoxa e fundou uma dinastia que duraria até a queda de Constantinopla em 1453.

Monasticismo e misticismo Enquanto isso, o Oriente e o Ocidente distanciavam-se cada vez mais em sua teologia e visão da vida cristã. O Oriente enfatizava o misticismo enquanto no Ocidente a tradição dos patriarcas da Igreja foi substituída pela abordagem mais intelectual do escolasticismo (ver capítulo 7). Isso refletiu-se claramente no Hesicasmo (da palavra grega para “quietude”), um acontecimento no qual o Ocidente não teve absolutamente nenhuma participação. Para entender essa controvérsia, deve-se ter em mente que o monasticismo oriental enfatizava um desapego completo da tentação mundana, oração incessante e uma experiência cristã profunda que levasse à “deificação” (2Pe 1.4), ou seja, o crente compartilharia da iluminação divina e tornar-se-ia misticamente unido com Deus. O distante mosteiro no monte Atos na região nordeste da Grécia tornou-se o centro do movimento. Seus seguidores davam ênfase especial à repetição da “Oração de Jesus”: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, um pecador”. Ela deveria ser feita numa certa postura, com a cabeça abaixada, o

queixo encostado ao peito, olhos fixos no centro do corpo e respiração cuidadosamente controlada. Eles acreditavam que através dessa “oração do coração” podia-se ver a “luz divina” de Deus num sentido espiritual, uma luz idêntica àquela que envolveu Jesus na Transfiguração. Críticos dos hesicastas, como Barlaam o Calábrio (cerca de 1290-1348), diziam que os ensinamentos eram pura superstição, pois era impossível conhecer a Deus diretamente. Porém, seus defensores, especialmente Gregório Palamas (cerca de 1296-1359), um monge do monte Atos, afirmava que era a “energia das coisas não-criadas do Divino que eles experimentavam, mas não a essência do próprio Deus”. Através das energias Deus torna-se visível, acessível e comunicável. Depois de muitas discussões, o hesicasmo, conforme expresso na teologia de Gregório, foi endossado por três concílios em Constantinopla entre 1341 e 1351 e daí em diante tornou-se parte aceita da tradição ortodoxa oriental.

Tentativas de união da Igreja Foram feitos dois importantes esforços no sentido de promover a reunião das igrejas oriental e ocidental, o primeiro no século 13 e o segundo no século 15. O espírito motivador por trás da primeira tentativa foi Miguel VIII Paleólogo, que expulsou os cruzados de Constantinopla. Para guardar seu império de futuros ataques pelos ocidentais, ele precisava do apoio e proteção do papado, o que podia ser garantido através de uma união das igrejas. Assim, o imperador decidiu comparecer ao concílio de Lião em 1274, acompanhado dos bispos gregos que estavam dispostos a discutir um acordo. Os membros da delegação ortodoxa concordaram em reconhecer as afirmações papais de supremacia e aceitar o Credo de Nicéia com a inclusão da cláusula filioque. Mas quando Miguel voltou para Constantinopla, a grande maioria do seu povo e do

clero rejeitou a união como sendo puramente um acordo pessoal entre ele e o papa. Apesar de seus esforços, o papa excomungou Miguel em 1282 por seu fracasso em colocar em prática os termos do acordo. A união de Lião foi formalmente repudiada pelo sucessor de Miguel que chegou a negar a ele um enterro cristão adequado por causa de sua suposta “apostasia”. Um segundo concílio com a intenção de solucionar o dilema entre o Oriente e o Ocidente foi convocado pelo papa em resposta a uma oferta dos bizantinos de união com a Igreja em troca de ajuda em sua luta para expulsar os turcos. O concílio aconteceu em Ferrara e Florença em 1438-39 e terminou finalmente em Roma em 1445. Compareceram o imperador João VIII, o patriarca de Constantinopla e uma grande delegação da igreja bizantina e de outras igrejas ortodoxas sendo que até mesmo as igrejas da Rússia e Abissínia estavam representadas. Ambos os lados fizeram uma tentativa sincera de resolver as questões que os dividiam e acabaram concordando numa fórmula de união. Mas ao ser publicamente proclamada em Constantinopla, foi completamente rejeitada. Conforme exclamou um nobre bizantino: “Eu preferia vir um turbante islâmico no meio da cidade do que a mitra latina”. O Concílio de Florença, como é normalmente chamado, procurou acordos com algumas igrejas monofisitas e nestorianas, mas estes não levaram a lugar algum. Muito mais importantes, porém, foi que seus decretos formaram a base para as várias igrejas católicas de Rito Oriental (“Uniatas”) que continuaram a utilizar os rituais ortodoxos mas declararam sua lealdade a Roma. Enquanto isso, no final do século 13 surgiu na Ásia Menor um novo grupo de turcos que havia sido deslocado durante a expansão mongol. A princípio serviram os seldjúcidas como mercenários, mas sob seu líder Osman (daí o nome “turcos otomanos”) eles declaram sua independência e em 1340

controlaram o norte da Ásia Menor. Conhecidos por sua competência militar, foram auxiliados pela fraqueza do próprio Império Bizantino, que jamais havia se recuperado dos efeitos da 4ª Cruzada. As constantes brigas internas entre os vários segmentos da população apenas aumentaram as dificuldades do império, enquanto os reinos da Sérvia e Bulgária assimilaram grande parte de suas terras nos Balcãs. Os turcos avançaram em seguida para os Balcãs e varreram os estados cristãos. Estavam preparados para capturar Constantinopla, mas então o famoso conquistador túrquico Tamerlão (Timur) invadiu a Ásia Menor e em 1402 dirigiu o exército otomano para Angora (Ancara), capturou o sultão e temporariamente eliminou seu poder. Porém logo a sorte dos turcos mudou para melhor e em 1453 eles realizaram seu último ataque à desafortunada capital bizantina. A queda de Constantinopla forçou muitos estudiosos orientais a partir com seus manuscritos para o Ocidente, ajudando a estimular a Renascença. Ao mesmo tempo, alguns orientais interpretaram o acontecimento como o castigo de Deus pelas concessões feitos pelo imperador e o patriarca em Florença. Ela também encorajou Moscou a declarar-se a “Terceira Roma”, afirmando assim sua posição legítima de herdeira do império romano e defensora da fé ortodoxa. Os turcos otomanos, que permitiam que os vários grupos religiosos chamados millets (“nações” autônomas) governassem a si mesmos, por ironia deram ao patriarca ortodoxo mais poder do que ele possuía sob os imperadores, tendo em vista que ele passou a ser considerado o líder religioso e político de todos os grupos cristãos do império turco. Ele também pôde centralizar o poder de seu patriarcado sobre áreas que anteriormente eram “autocéfalas” e substituir os bispos eslavos com candidatos gregos. Seria só na queda do governo turco no

século 19 que as igrejas independentes voltariam a existir na Grécia, Bulgária e Sérvia.

Ortodoxia russa Conforme mencionamos anteriormente (capítulo 5), a fé ortodoxa havia se espalhado para a Rússia kieviana no século 10º. Na época de Yaroslav o Sábio (1019-54), ao invés de um bispo grego, um russo chamado Ilário foi nomeado prelado de Kiev. De 1250 em diante, o cargo alternou-se entre um prelado grego e um russo. Em 1299, a cátedra da igreja ortodoxa da Rússia foi transferida de Kiev para Vladimir e novamente em 1325 para Moscou. O fato dos cristãos ortodoxos — seguindo o precedente aberto por Cirilo e Metódio — fazerem uso do eslavo ao invés do grego, ajudou a separá-los da igreja bizantina bem como da Igreja católica romana do Ocidente. Na realidade, ao contrário do Ocidente que insistia numa liturgia latina uniforme (até 1963), a prática ortodoxa de permitir seus vários ramos de usar sua própria língua (eslavo, copta, ge‟ez, siríaco) teve o efeito não-intencional de separá-los das origens greco-romanas e uns dos outros. A ocupação mongol (tártara) durante os anos de 1237 e 1480 contribuiu para o isolamento dos russos. Os russos aprenderam dos bizantinos a desprezar os católicos latinos como se fossem hereges, um ódio que foi reforçado pelos ataques dos suecos em 1240 e dos Cavaleiros Teutônicos em 1242. Os Cavaleiros haviam se aproveitado da invasão mongol para realizar a Cruzada católica, mas Alexandre Nevsky de Novgorod repeliu os alemães e também se submeteu ao khan. Seus esforços garantiram a preservação da fé ortodoxa diante da ameaça de latinização. Durante a era mongol a Rússia foi dividida em vários pequenos estados

cujos príncipes eram súditos do khan tártaro e pagavam um tributo anual. O Grão-Ducado de Moscou surgiu como um principado importante no século 14 e seu governante Ivan I (1328-40) persuadiu o khan a nomeá-lo como o coletor de tributos de todos os estados vassalos da Rússia. Ele usou esse cargo para exercer sua autoridade sobre os outros. O Grão Duque Dmitri, apoiado pelo monge Sérgio de Radonezh (1314-92) — que fundou o famoso mosteiro da Santa Trindade perto de Moscou e é considerado o principal santo russo — rebelou-se contra os mongóis. Apesar de não ter sucesso, Dmitri mostrou que eles não eram invencíveis e aumentou o prestígio de Moscou. Em 1480 Ivan III finalmente livrou-se do jugo dos tártaros e sujeitou os outros príncipes russos ao seu governo. Isidoro, o último prelado russo de origem grega, aceitou a união com a Igreja romana no Concílio de Florença. Mas com a volta de Isidoro a Moscou em 1441 o grão duque condenou o acordo e o levou preso como apóstata. Em 1448 os bispos russos elegeram seu sucessor sem a aprovação de Constantinopla. Daí em diante, a igreja russa passou a ser autônoma e em 1589, o prelado de Moscou assumiu formalmente o título de patriarca. Isso foi possível pois os governantes moscovitas haviam se estabelecido como sucessores dos bizantinos. Em 1472 Ivan III casou-se com a sobrinha do último imperador, assumindo os títulos bizantinos de “autocrata” e “czar” (César) e começou a usar a águia de cabeça dupla do Bizâncio como seu emblema de Estado. Moscou havia se tornado a “Terceira Roma” e declarado ser a protetora da ortodoxia oriental.

Outras igrejas orientais Além das igrejas ortodoxas gregas e russas, havia uma rica variedade de

igrejas orientais, algumas das quais relacionadas com Roma e outras com seus próprios patriarcados independentes. A mais importante das igrejas de “rito grego” que tornou-se parte do Cristianismo católico romano foi a dos maronitas. O nome da igreja originou-se de São Maron (falecido em 410), um sacerdote sírio com uma grande reputação de santidade e sabedoria e que atraiu muitos discípulos. Seus membros eram missionários ativos e fundaram outros mosteiros cujos líderes faziam as vezes de bispos de suas regiões. A dominação muçulmana da Síria criou novos problemas para os maronitas e depois da destruição de seu principal mosteiro eles refugiaram-se nas montanhas do Líbano, para onde transferiram o patriarcado de Antioquia em 939. Esse patriarca era o líder civil e religioso da comunidade, com senhores locais que controlavam os vilarejos espalhados pela região. Durante algum tempo eles tiveram pouco contato com o mundo exterior, mas as Cruzadas reabriram as relações com o Ocidente. Foram aceitos como companheiros cristãos pela maior parte dos cruzados aos quais deram informações valiosas sobre o terreno. Em 1181 colocaram-se sob a autoridade papal. Em 1215 o patriarca compareceu ao 4º Concílio de Latrão e o papa concedeu-lhe reconhecimento oficial como bispo. Assim, os maronitas tornaram-se uma das igrejas “uniatas”, ou seja, uma igreja do Oriente que reconhecia a autoridade papal mas mantinha sua própria liturgia, tradições e disciplinas. Apesar de falarem árabe, eles usavam a liturgia siríaca. Nos dias de hoje, o “Patriarca de Antioquia e do Oriente” maronita lidera aquele que é o maior grupo de cristãos no Líbano. Os maronitas são um baluarte do catolicismo no Mediterrâneo oriental. Há alguns outros pequenos grupos uniatas que mantém seus laços com Roma. O mais importante é o dos melquitas de fala árabe no Egito, Palestina e

Síria. Depois da queda de Constantinopla eles primeiro voltaram-se para Moscou e então, no século 17 submeteram-se a Roma a fim de garantir auxílio do Ocidente. Em 1724 o papa reconheceu um patriarca da igreja melquita em Damasco, que hoje é conhecida como Igreja Ortodoxa da Antioquia. Pode-se encontrar algumas uniatas coptas no Egito, havendo ainda uma pequena igreja uniata “caldéia” de origem nestoriana no norte da Mesopotâmia. Um ramo armênio na Cilícia (leste da Turquia) voltou-se para Roma de 1294 a 1441 e um grupo de cristãos malabares no sul da Índia está ligado a Roma nos dias de hoje.

Os monofisitas Muitos dos grupos orientais separaram-se da ortodoxia principal por causa de sua aceitação do monofisismo. Um deles é a igreja armênia. Representantes desse grupo, um dos mais antigos do Oriente, não participaram dos concílios de Éfeso e da Calcedônia pois sua região estava sob o governo persa naquela época e assim, a cristologia monofisita continuou a prevalecer naquele local. Apesar de ser originalmente uma fé um tanto aristocrática, a ortodoxia armênia tornou-se verdadeiramente uma religião do povo depois da conquista árabe. Nessa ocasião a Igreja repudiou todas as ligações com o Cristianismo bizantino e desenvolveu seus próprios e singulares costumes. Com a chegada dos turcos, os armênios começaram a ser perseguidos. Durante as Cruzadas eles se aproximaram de Roma por motivos políticos mas rejeitaram a tentativa de reunião promovida pelo papa em Florença. Depois da queda de Constantinopla, o sultão permitiu que o bispo armênio fundasse um patriarcado e administrasse um millet que teria jurisdição sobre as comunidades monofisitas no leste da Turquia e Oriente Médio. Por causa da dispersão do povo armênio e dos freqüentes períodos de

perseguição, a Igreja identificou-se intimamente com a nação. Assim, os líderes e teólogos da Igreja tornaram-se conhecidos por seu conservadorismo de doutrina, tradição e ritual. Qualquer tentativa de introduzir mudanças era considerada um ato de traição contra a própria nação. Seu líder espiritual era o catholicos, semelhante ao patriarca e que hoje recebe esse título. Sua cátedra fica no mosteiro de Etchmiadzin, próximo a Everan na República da Armênia. A igreja copta (egípcia) tem suas origens em São Marcos, o Evangelista e distingue-se por sua ênfase no monasticismo e pelo uso do copta antigo como linguagem litúrgica. Foi uma forte defensora do monofisismo, tendo em vista que uma vitória da Calcedônia parecia significar uma vitória grega sobre a cultura nativa do Egito. Ortodoxos e monifisitas travaram uma longa e severa luta pela cátedra de patriarca, mas estes últimos venceram pois isso permitia aos coptas declarar sua independência do Bizâncio. O governo árabe finalmente deu fim à perseguição bizantina e trouxe algum alívio das pressões, mas os pesados impostos levaram muitos a converter-se ao Islamismo. Além disso, ainda havia perseguições como a ocasião em que o califa al-Hakim (996-1021) destruiu três mil igrejas e massacrou milhares de pessoas. As Cruzadas foram um desastre completo para os coptas. Por serem “Guerras Santas da Cruz”, os egípcios demonstraram sua ira contra todos os cristãos, fossem eles latinos, gregos ou coptas. Os cruzados latinos também perseguiram os coptas como cismáticos, piores que hereges e chegaram até a negar-lhes acesso aos lugares sagrados de Jerusalém. A repressão teve seu ápice no período Mamluk (1250-1517) por causa de multidões violentas que se manifestavam de tempos em tempos. Durante o governo turco (1517-1789) suas condições melhoraram e os coptas trabalharam como oficiais financeiros e coletores de impostos para os otomanos. Então, no século 19 a igreja copta

finalmente conseguiu a liberdade de culto e pode afirmar sua identidade, mesmo que estivesse tornando-se um grupo minoritário ainda mais reduzido numa sociedade islâmica. Hoje em dia, os patriarcas usam o título de “papa”. O Cristianismo teve grande influência na Núbia, a área do alto Nilo que estende-se de Assuã a Cartum. A luta entre monofisitas e ortodoxos atingiu o sul, sendo que no final os monofisitas saíram vitoriosos. Com isso, garantiu-se que a igreja daquela região seria uma extensão da linha egípcia. Os esforços dos árabes para conquistar o território fracassaram e durante os quinhentos anos que se seguiram os reinos núbios foram independentes. Os laços com a igreja copta foram mantidos e em um único reino havia quatrocentas igrejas. Apesar de existirem alguns mosteiros, eles não tiveram um papel tão importante quanto no Egito. A língua usada na liturgia continuou a ser o grego, mas no final da Idade Média a língua nativa núbia escrita em caracteres gregos era usada para os textos religiosos. Em seu ataque em 1172-73, Saladin destruiu igrejas e mosteiros, capturando e tomando como escravo o bispo e muitos outros clérigos. Os mamluks no Egito lançaram novos ataques contra os reinos cristãos e, no final do século 16, todos os traços da fé copta na Núbia haviam sido eliminados. O primeiro governante do reino etíope de Axum a aceitar o Cristianismo foi Ezana (4º século) conforme indicam escritos em ge‟ez e grego. Frumêncio, um cristão do Líbano que tornou-se tesoureiro real, teve um papel importante em sua conversão. Atanásio consagrou Frumêncio como abuna (patriarca) da igreja axumita ou abissínia por volta de 340. O próximo acontecimentos de conseqüências relevantes foi a introdução do monasticismo em 480 pelos Nove Santos, monofisitas sírios que traduziram as Escrituras gregas para a língua nativa, ge‟ez. Esta continua sendo a língua usada na liturgia da igreja etíope até os dias de hoje, apesar do aramaico a outras línguas a terem substituído como

idioma falado. Colonos do sudoeste da Arábia cultivaram uma forte influência árabe na Etiópia. Os cristãos de lá viam-se como sucessores legítimos dos judeus e o imperador tomou para si o título de “Leão Conquistador da Tribo de Judá” (Ap 5.5). Muito costumes etíopes tem ligação com o Judaísmo, como o uso de um objeto representando a Arca da Aliança, a circuncisão, rituais de purificação, a observação de dois dias de descanso (sábado e domingo), a proibição da carne de porco e danças litúrgicas. Com a expansão do Islã, os muçulmanos adquiriram o controle das terras baixas e os cristãos amáricos retiraram-se para os altos platôs do interior onde eram inacessíveis e invencíveis. Praticamente todos os laços com a igreja copta deixaram de existir, exceto pela consagração do abuna. No governo da dinastia Zagwe (1137-1270) houve um reavivamento eclesiástico. As onze extraordinárias igrejas esculpidas em pedras do templo de Lalibela (1150-1270) são monumentos à devoção etíope durante esse período. Uma outra dinastia, a “Salomônica”, teve início em 1270 com o apoio do influente monge Tekla Haimanot e a sorte do Cristianismo mudou para melhor. O rei Yekuno-Amlak (falecido em 1285) deu à Igreja um terço das terras de seu reino em caráter perpétuo, fato que explica a grande riqueza da Igreja. O épico nacional, Kebra Nagast (Glória dos Reis) foi escrito durante esse período. Dizse que a rainha de Sabá, que visitou o rei Salomão, era da Etiópia e que ela foi seduzida pelo rei. O filho resultante dessa união, Menelik I, mais tarde foi a Jerusalém e roubou a Arca da Aliança. No reinado de Za‟ar Yakob (1434-68), representantes etíopes participaram do Concílio de Ferrara-Florença a fim de buscar a unidade das igrejas diante da expansão islâmica. Mais tarde, outros peregrinos da Etiópia foram a Roma e os

ocidentais passaram a conhecer mais sobre essa terra distante. Enquanto isso, os escritos apocalípticos de bizantinos e coptas deram origem à esperança de que o imperador da Etiópia iria unir-se com o Ocidente para derrotar os muçulmanos. Isso ajudou a alimentar a lenda do reino cristão do Presbítero João (ver capítulo 12). Os portugueses que viajaram para lá em 1490 encontraram o Presbítero João e houve outros contatos ao longo do século seguinte. Durante um curto período no começo do século 17, missionários jesuítas chegaram a persuadir o imperador, ameaçado pela expansão turca, a submeter sua Igreja a Roma. Uma situação anômala resultou do fato dos etíopes dependerem da igreja copta do Egito para ter seu patriarca. Como o líder de sua igreja não sabia ge‟ez, ela precisava ser administrada por um monge. Esse costume continuou a vigorar durante séculos e foi só quando a igreja copta concordou em permitir um “patriarca-catholicos” que um nativo etíope pode finalmente, em 1959, assumir o cargo. Outro centro de monofisismo foi a Síria, onde o brilhante e vigoroso Jacó Bardeus, bispo de Edessa (cerca de 500-78) consagrou secretamente uma hierarquia rival de bispos durante as perseguições de Justiniano. Conseqüentemente, a igreja fundada por ele ficou conhecida como jacobita. Em seu trabalho, ele foi encorajado pela imperatriz Teodora, que era da Síria e tinha uma forte simpatia pelos monofisitas. Jacó — que era fluente em grego, siríaco e árabe — não tinha residência fixa e viajava muito pela Armênia, Síria, Anatólia, Mesopotâmia, Pérsia, Arábia e Egito. Para onde quer que fosse, ele defendia a doutrina monofisita ordenava novos clérigos para tomar o lugar daqueles que haviam morrido na prisão. Era constantemente perseguido por agentes imperais e recebeu o apelido de Bardeus (“O Esfarrapado”) por causa das roupas esfarrapadas que usava como disfarce. É provável que nenhuma personalidade

da Igreja tenha ordenado tantos clérigos quanto Jacó — de acordo com relatos, por volta de cem mil sacerdotes e vinte e sete bispos. Quando os árabes conquistaram a Síria, não fizeram distinção entre os vários tipos de cristãos, tratando-os todos como um único millet. Assim, os jacobitas gozaram uma liberdade que não tinham sob o governo do imperador. Apesar de pequenos em número, eles realizaram trabalho missionário na Mesopotâmia, Pérsia e mais para o Leste. Isso exigiu que o patriarca tivesse alguém que exercesse jurisdição sobre tais regiões. A primeira e mais importante pessoa a receber o novo título de “Mafriano (cabeça) do Oriente” foi Maruta, bispo de Tekrit (629-49). Os jacobitas deixaram uma rica tradição literária. Uma figura notável foi Jacó de Edessa (633-708), um bispo, teólogo, filósofo e historiador que supervisionou a revisão do Antigo Testamento siríaco e foi autor de comentários bíblicos e de uma obra histórica chamada Hexameron (depois dos seis dias da criação). Destaque ainda maior teve Gregório Bar Hebreus (1226-86), médico de descendência judia que escreveu importantes obras históricas e gramaticais em siríaco e árabe. No século 13 os jacobitas foram devastados pelas invasões mongóis e sofreram ainda mais quando Tamerlão varreu sua região. Apesar de serem pequenos em número, remanescentes jacobitas ainda sobrevivem até os dias de hoje, principalmente no Curdistão e na Síria, onde são conhecidos como Igreja Ortodoxa Síria. Apesar de serem de fala árabe, sua liturgia ainda é em siríaco. É importante mencionar que membros de igrejas normalmente chamadas de monofisitas costumam rejeitar esse título como sendo pejorativo e preferem, ao invés disso, o nome Ortodoxo Oriental.

A igreja nestoriana A igreja nestoriana foi uma das maiores igrejas missionárias da história do Cristianismo, sendo que seu nome vem do patriarca de Constantinopla do século 5º que supostamente afirmou que Cristo existia em duas naturezas distintas, uma divina e outra humana, mas não em uma “entidade”. Deus e o homem não podiam juntar-se; era impossível haver uma troca de atributos humanos e divinos na pessoa de Jesus. A posição de Nestório desviava-se sutilmente da visão ortodoxa de Cristo, mas ainda assim ele sofreu oposição. Depois de sua condenação em Éfeso em 431, aqueles bispos que não aceitavam o ponto de vista da maioria formaram uma igreja independente. Esta criou raízes na Síria e Pérsia e ficou conhecido como a “Igreja do Oriente”. Para entender a aceitação do nestorianismo na Pérsia é preciso saber que a dinastia de Sassanid, fundada em 227 havia estabelecido o zoroastrismo como religião oficial. Por causa de seus contínuos conflitos com o Império Romano, os persas eram hostis em relação ao Cristianismo, que supunham ser a fé do inimigo. Porém, à medida em que a atitude do governo amenizou-se em relação aos cristãos, eles puderam exercitar a fé mais abertamente e seus bispos até realizavam sínodos. Num desses encontros, em 424, o catholicos da Selêucia/Ctésifon (na região central do rio Tigre) foi elevado ao cargo de “Patriarca do Oriente”, libertando desse modo a igreja persa da dependência tanto de Constantinopla como de Roma. Os nestorianos fundaram um centro de treinamento teológico em Edessa, na Síria, que foi fechado pelo imperador Zeno em 489. Professores e alunos mudaram-se então para a escola em Nisibis, na Pérsia que havia sido fundada por um proeminente professor e organizador chamado Bar Sauma (falecido em 493). Isso significava que o movimento não podia mais funcionar dentro do

império e os persas receberam bem os nestorianos, tendo em vista que os bizantinos os encavaram com animosidade. Então, num processo longo e complexo, os nestorianos passaram a definir o caráter distinto de sua fé. Os escritos de Teodoro de Mopsuéstia (cerca de 350428) — um bispo da Ásia Menor cujas obras haviam sido completamente condenadas pelos ortodoxos — tornaram-se o critério para a doutrina correta. Porém, o monge Babai o Grande (cerca de 550-630) desenvolveu a síntese definitiva sobre a relação entre a divindade e humanidade em Cristo. Seu monasticismo também era característico, pois além de ser conhecido pela austeridade, exigia que cada abade se submetesse ao bispo local que administrava todas as propriedades monásticas. A obediência rígida dos monges à autoridade eclesiástica significava que a hierarquia nestoriana tinha um exército poderoso de obreiros locais que viriam a fortalecer a igreja e destemidamente ir aos lugares distantes da Ásia e do leste do Oceano Índico em suas iniciativas missionárias. Os muçulmanos que varreram a Pérsia em 637-42, toleravam os cristãos mas exigiam que estes usassem roupas distintivas e se mantivessem longe do proselitismo e do vinho. Eles também eram proibidos de usar sinos nas igrejas e de construir edificações mais altas que as mesquitas. Quando o califado da Abassídia mudou sua capital para a nova cidade de Bagdá em 762, o patriarca nestoriano também foi para lá e tornou-se um respeitado membro da corte como líder do millet cristão. Um desses patriarcas, Timóteo I (779-823) considerava os muçulmanos enviados de Deus para castigar os adoradores do sol persas e os hereges bizantinos. Baseando suas afirmações na tradição de que os Magos era do Oriente, ele declarou “Trinta anos antes de todos, nós orientais confessamos o reinado de Cristo e adoramos suas divindade!” A igreja cresceu rapidamente e

no século 13 o patriarca lideravam 250 bispos. Quando os mongóis conquistaram Bagdá em 1258, massacraram oitocentos mil muçulmanos mas pouparam os cristãos pois a esposa predileta de seu líder era cristã. Os governantes mongóis deram liberdade aos nestorianos mas logo cansaram-se das rusgas entre bispos e acabaram adotando o Islamismo. Então, em 1393, Tamerlão — o terror da Ásia e muçulmano rígido — destruiu o governo dos mongóis. Para os nestorianos, esse foi um terrível desastre e aqueles que não foram mortos ou abandonaram a fé, fugiram para as montanhas do Curdistão. Um pequeno grupo remanescente, chamado de cristãos assírios, existe até os dias de hoje.

Missões na Ásia Só agora os estudiosos estão começando a entender quão extenso foi o trabalho missionário realizado por toda a Ásia durante os primórdios do Cristianismo. A razão para essa ignorância foi o fato do Ocidente partir do pressuposto que a igreja oriental era herege e portanto seus empreendimentos não eram dignos de ser estudados. Além disso, as atitudes da era do imperialismo sobre o caráter “ocidental” do Cristianismo, as “igrejas mais jovens” e sobre “subdesenvolvimento”, obscureceram o reconhecimento de que essa parte do Cristianismo havia ocorrido na Ásia muito antes dos Europeus pisarem lá. O fato é que estudos de materiais literários, inscrições em pedras e materiais arqueológicos da Síria, Arábia, China, Coréia, Japão, Indonésia, Índia e Pérsia mostram uma história incrível da expansão cristã na Ásia. Os nestorianos tinham trabalhos bem-sucedidos entre os povos migratórios da Ásia central, incluindo o Turquistão e a Mongólia. Um relatório para um patriarca nestoriano do século 11 relatava que um movimento em massa

entre turcos e mongóis havia acrescentado duzentas mil almas à igreja. O evangelho foi levado para a China em 653 através da famosa “Rota da Seda” e lá o imperador T‟ang chamado T‟ai Tsung concedeu tolerância e em 670 já havia um bispo na região. No século 13 um chinês tornou-se patriarca nestoriano (Yahballaha III) e um outro (Rabban Sauma) viajou para a Europa, visitou diversos governantes e celebrou o rito eucarístico siríaco diante do papa. Fontes documentárias e arqueológicas mostram que os cristãos estavam trabalhando no Sri Lanka (Ceilão) no século 5º, na Indonésia no século 7º e na Coréia e Japão durante os séculos 7º ao 9º. Na época da Alta Idade Média no Ocidente, existiam igrejas em comunidades mercantis ao longo de toda a Ásia. As várias obras na Índia são de especial importância. Cristãos de rito siríaco, que estavam bem estabelecidos no sudoeste da Índia e ilhas Maldivas no 4º século, desenvolveram laços estreitos com os nestorianos. Os “cristãos malabares” controlavam grande parte do comércio de pimenta e sua “Igreja de São Tomé” tinha aproximadamente duzentos mil membros em 1400. A vinda dos portugueses trouxe tempos difíceis para os cristãos nativos, pois os estrangeiros tentaram impor sobre eles o catolicismo romano. Nos conflitos e divisões resultantes, alguns cristãos tornaram-se jacobitas, outros nestorianos e a maioria afiliou-se a Roma, criando assim um complicado quadro de denominacionalismo na Índia.

Durante a Idade Média os cristãos do Oriente tornaram-se isolados, fragmentados e marginalizados. A ortodoxia oriental separou-se do catolicismo latino mas criou raízes entre os búlgaros e eslavos, especialmente na Rússia. Os cristãos bizantinos também se separaram de seus primos próximos, os monofisitas e nestorianos. Porém, num encontro em 1990, representantes da

Igreja Oriental Ortodoxa (monofisita) e da Igreja Ortodoxa Grega concluíram que sua diferenças eram baseadas em mal-entendidos. Representantes de ambas as partes aceitaram os três primeiros concílios ecumênicos, condenaram o eutiquianismo e nestorianismo e concordaram em suspender suas condenações mútuas.3 Saindo de mil e quinhentos anos de polêmicas, eles juntaram-se em torno da declaração de Cirilo de Alexandria “a natureza única (physis) da Palavra de Deus Incarnada”, contornando discretamente a observação calcedônia.

Parte 2 - A Igreja reformada e reavivada (1300-1789)

Capítulo 9 - A Igreja Medieval Entra em Declínio Com o final do século 13 quase todas as estruturas características da Igreja Católica Romana já estavam definidas até à Reforma, duzentos anos depois. Porém, essas instituições foram tanto um atraso como uma ajuda para o Cristianismo organizado durante os séculos 14 e 15 pois dependiam de uma sociedade estável e sem mudanças. Mas esse período foi repleto de rápidas transformações trazidas por guerras, pragas e crises econômicas.

O outono da Idade Média Quando os papas ficaram no lugar dos imperadores como líderes do Cristianismo, reis fortes estavam surgindo no oeste da Europa. Apesar de não poderem competir com o papa pela liderança européia, eles eram poderosos o suficiente para resistir à interferência papal dentro de seus reinos. A questão não era mais se o imperador ou o papa eram supremos, mas sim, se o Cristianismo em si podia ser mais do que uma expressão vaga para um conjunto de nações separadas. Os ingleses e franceses desenvolveram uma consciência nacional durante a longa e cansativa luta conhecida como Guerra dos Cem Anos (1337-1453). O conflito teve início com o desejo de Eduardo III de controlar a França bem como a Inglaterra. Suas palavras para os

franceses declarando que o trono na França era sustentado por direitos legais muito frágeis e a resistência francesa levaram à guerra. Cavaleiros e arqueiros ingleses invadiram a França repetidamente e a superioridade tecnológica dos arcos foi demonstrada em suas grandes vitórias em Crécy, Poitiers e Agincourt. Em 1419 os ingleses controlavam a maior parte do norte da França e Henrique V era reconhecido como seu herdeiro ao trono. Mas então, ele faleceu e foi sucedido por seu filho de nove meses, o que deu ao rei francês Carlos VII a oportunidade de reascender o conflito. Ele foi impelido por Joana d’Arc, uma jovem camponesa analfabeta e religiosa devota que foi convencida por visões que era seu dever derrotar os ingleses. Em 1429, aos 17 anos de idade, ela recebeu permissão para liderar um exército que não tardaria a reconquistar o controle de grande parte do norte da França, permitindo a coroação de Carlos em Rheims. Porém, os ingleses capturaram Joana e o ingrato Carlos não fez nenhum esforço para resgatá-la. Ela foi entregue à Inquisição que a julgou tendo como base falsas acusações de heresia e bruxaria e ordenou que fosse queimada. A morte trágica da santa “Donzela de Orleans” em maio de 1431 deixou os franceses tão enraivecidos que seus exércitos continuaram os ataques. Em 1453 os ingleses haviam sido expulsos de toda a França, exceto Calais e a Guerra dos Cem Anos chegava ao fim. O conflito enfraqueceu a nobreza feudal de ambos os países, tendo

em vista que muitos deles morreram em combate e não deixaram herdeiros. De acordo com a lei feudal, suas terras eram passadas para o rei, que as concedia então para súditos leais e criava uma nova nobreza. Os novos métodos de guerra também desvalorizaram a cavalaria que era composta de aristocratas. Os reis franceses que consolidaram seu poder estendendo os domínios reais receberam o apoio de um povo que associou paz, ordem e a expulsão dos ingleses com a monarquia. Os impostos de guerra continuaram sendo cobrados a fim de financiar um exército permanente usado em campanhas contra os mercenários desempregados que vagavam pelo país. O povo não se importava de pagar pela proteção contra esses bandos foragidos. Na Inglaterra, por outro lado, a autoridade do Parlamento aumentou. Sempre que o rei precisava de dinheiro para a guerra, tinha que obter o consentimento dos representantes do povo sendo que estes exigiam certas concessões antes de votar sobre os fundos. A classe de barões da Inglaterra dividiu-se em duas facções: a casa de Lancaster e a casa de York. O emblema de Lancaster era a rosa vermelha e o de York a rosa branca. Ao lutarem pelo controle do parlamento e da monarquia na Guerra das Duas Rosas (1453-85), a nobreza feudal praticamente exterminou a si mesma. Isso permitiu que Henrique VII da família Tudor tomasse o poder e sua dinastia, através de Henrique VIII e Elizabeth I acabou transformando a Inglaterra num Estado forte.

1321

1378

1508

1508-1511

Guilherme de

Início do Grande Cisma

Michelangelo

Rafael pinta a

Ockham

começa a

Madonna Sistina

Controvéria

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realista-

Capela

nominalista

Sistina 1330-

1369-

1380-

1414-

1460-

1498

1513

1384

1414

1471

1417

1536

Leonardo da

Leão X torna-se

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Concílio

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papa

Kempis

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Última Ceia

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Constança 1300

1400

1500

1550

1337

1347-1348

1434

1450

1494

1494-1498

Começa a

Primeira onda

Começa

Invenção

Carlos

Savonarola em

Guerra dos Cem

da Peste Negra

em

dos tipos

VIII

Florença

Florença

móveis

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anos

o período

Itália

Médici 1431

1453

Execução de Joana

Queda de

D'Arc

Constantinopla

Durante esse período a Alemanha desenvolveu-se de maneira bastante diferente da França e Inglaterra. Ao contrário da centralização e nacionalismo incipiente do Oeste, as forças do particularismo prevaleceram na Alemanha. O conflito medieval entre o império e o papado criou uma situação em que as unidades territoriais individuais da Alemanha e suas cidades cada vez maiores mantinham um alto grau de independência. Os príncipes dessas unidades regionais tinham direito de participar da escolha do imperador e eram, portanto, chamados de

“eleitores”. Durante a luta, vários imperadores preocuparam-se mais com o aumento de controle sobre a Itália do que com as condições da Alemanha, enquanto os papas por vezes apoiavam imperadores rivais num esforço de encontrar um líder com o qual pudessem entender-se politicamente. O hiato imperial entre 1254-73 foi crítico pois intensificou ainda mais a fragmentação política. Em 1273 os eleitores escolheram o príncipe suíço Rodolfo de Habsburgo pois este aparentava ser política e financeiramente fraco e, portanto, não ameaçaria sua independência. Rodolf sabiamente colocou de lado qualquer ambição de governar sobre a Itália e voltou sua atenção para a construção de um domínio real forte no sudeste da Alemanha através da apropriação de terras de senhores feudais que haviam morrido sem deixar herdeiros. Formou-se assim a base territorial para o futuro dinástico dos Habsburgos. Logo depois de sua morte em 1291 os herdeiros escolheram imperadores de várias casas. Em termos práticos isso significou uma paralisação do governo imperial e colocou o equilíbrio de poder de volta nas mãos dos príncipes. Para lidar com a situação caótica, o imperador Carlos IV introduziu um mecanismo eleitoral através da Bula de Ouro de 1356. (O título foi dado por causa do selo de ouro afixado no documento.) Ela designava sete indivíduos que iriam sempre escolher o imperador: os arcebispos de Mainz, Trier e Colônia; o rei da Boêmia; o duque da Saxônia, o margrave de Brandenburg e o conde palatino do Reno. Quando o imperador

falecesse, esses sete “eleitores” se reuniriam imediatamente para nomear um sucessor. Eles possuíam direitos soberanos dentro de seus domínios e cada território eleitoral deveria ser herdado como uma unidade e não dividido entre os herdeiros. Ao omitir qualquer referência ao direito do papa de confirmar ou vetar uma eleição ou de administrar o império durante um hiato, a Bula de Ouro eliminou eficazmente o envolvimento papal nos assuntos imperiais. Mas, ao reconhecer a soberania territorial dos estados, não existia nenhuma estrutura importante para manter a segurança interna e a paz. Nessa época, a Europa também entrou num período de mudança econômica e social. Na Alta Idade Média, juntamente com a expansão do comércio e da indústria ocorreu um aumento na disponibilidade de terras aráveis. Camponeses alemães foram para o Leste, para áreas escassamente assentadas por povos eslavos e derrubaram florestas e drenaram pântanos. Muitas dessas atividades foram organizadas, financiadas e realizadas por ordens religiosas, especialmente dos beneditinos e cistercianos, cujas regras estipulavam que eles deveriam ganhar a vida através do cultivo da terra. O reavivamento do comércio deu tanto a senhores quanto a camponeses um incentivo para produzir mais do que precisavam para si mesmos. A comutação, substituição de pagamentos em dinheiro por trabalhos braçais dos servos, começou a destruir o sistema senhorial e no século 13 muitos servos que não eram livres estavam tornando-se fazendeiros de terras arrendadas. Com a

valorização das terras e o aumento de preço dos produtos agrícolas, os pequenos servos livres saíram lucrando, mas os senhores que viviam de rendas fixas e cobrança de taxas tiveram uma redução no faturamento real. Depois da metade do século 14, a agricultura européia caiu numa séria depressão que afetou senhores e camponeses. A expansão econômica estacionou-se quando um declínio populacional reduziu tanto a oferta de mão-de-obra quanto o mercado para os bens que eram produzidos. Quando o preço dos produtos agrícolas caiu, os camponeses que pagavam uma taxa fixa aos senhores não conseguiram manter em dia seus compromissos. Tendo em vista que o antigo laço que havia prendido o camponês ao solo já não existia mais, muitos simplesmente se mudaram e deixaram seus campos sem cultivo. Alguns foram para áreas mais prósperas e outros assentaram-se nas cidades. Como os preços dos produtos não-agrícolas tendiam a manter-se estáveis ou subir, a classe proprietária de terras viu-se num aperto causado pela grave crise da relação entre custo e preço. Alguns senhores contrataram trabalhadores para cultivar as terras, mas com a falta de mão-de-obra rural os salários tendiam a subir. As tentativas de cortar os custos com salários através da intervenção governamental fracassaram. Um fator-chave para o declínio da população foi a epidemia de peste bubônica — a “Peste Negra” — uma doença transmitida através de lêndeas de ratos e que foi trazida para a Europa do Oriente em 1347. A

peste manifestou-se primeiro na Sicília e então varreu a região central e o oeste da Europa, seguindo as principais rotas comerciais. A vítima apresentava febre alta, dores nas juntas, inchaço dos nódulos linfáticos e um escurecimento da pele causado por sangramentos subcutâneos. Depois de alguns dias de dores excruciantes a vítima morria. A peste negra acabou com trinta a quarenta por cento da população de algumas regiões. Depois de um breve intervalo, a peste voltou nas décadas de 1360 e 1370 e em intervalos regulares depois disso. Um dos resultados da peste foi o surgimento de flagelantes, um movimento bizarro que atraiu milhares de pessoas que viajavam de um lugar para outro se flagelando na esperança de obter o perdão divino e evitar a morte. Na Alemanha, a população em pânico desvairado culpou os judeus pela Peste Negra e quase metade deles morreu, vítima de ataques de seus vizinhos, bem como da própria doença. Por causa da morte de tantos camponeses, não havia gente suficiente para cultivar as terras e os sobreviventes cobravam salários mais altos. Assim, os resultados da peste, a miséria causada pela Guerra dos Cem Anos e as tentativas de reduzir os salários provocaram diversas revoltas de camponeses. Na França, a mais séria foi a Jacquerie, nome normalmente dado para o camponês francês. Nessa insurreição, multidões de trabalhadores rurais desesperados atacaram as mansões senhoriais e cometeram muitas atrocidades. A principal revolta camponesa da Inglaterra teve início em 1381.

Seu líder, Wat Tyler, foi ajudado por John Ball, um padre excomungado que muito tempo antes havia se tornado um ativista lutando pelos direitos do povo. Ball incitou o furor das multidões enraivecidas de Kent com seu discursos sobre a igualdade e sobre um dia em que não haveria ricos nem pobres. Eles marcharam para Londres e muitos cidadãos simpatizantes os receberam de braços abertos na cidade. Tendo em vista que o governo real estava desorganizado naquela época por causa dos conflitos no norte, o rei Ricardo II negociou com os revoltosos. Ele emitiu decretos dando emancipação civil e anistia para os revolucionários, mas seus ministros não tinham nenhuma intenção de honrar os acordos que ele havia feito. Depois que Wat Tyler foi morto traiçoeiramente, os rebeldes sem líder foram persuadidos a deixar Londres e sua revolta foi sufocada com enorme brutalidade. John Ball, o profeta do povo, foi enforcado, eviscerado e esquartejado. Na Alemanha as revoltas camponesas começaram aproximadamente um século depois, sendo que estas tiveram um forte efeito sobre a Reforma.

A decomposição do Escolasticismo A incerteza e a conjuntura da época levaram a uma desintegração da síntese medieval bem como de sua teologia, filosofia e arte. O início desse processo foi marcado pela volta da discussão entre realistas e nominalistas em universidades como Oxford e Paris. O grande feito de Tomás de Aquino de conciliar Aristóteles com a fé cristã passou a ser

questionado por estudiosos como Guilherme de Ockham (falecido em 1349), que destruiu o sistema filosófico que havia dado base racional para a Teologia. Os platonistas medievais, conhecidos como “realistas”, ensinavam que há certas formas ou idéias imutáveis (universais) que existem na mente de Deus e podem ser percebidas através da iluminação divina, sem uma referência a coisas determinadas. Aquino afirmava que a fim de alcançar essas formas era preciso adquirir conhecimento através da apreensão de objetos. Ockham, porém, declarou que somente coisas individuais existem de fato e que os universais não tem uma existência real; são simplesmente nomes ou termos. Sua filosofia foi chamada de “nominalismo”, da palavra latina nomem (“nome”). Ele rejeitava as provas de Deus baseadas em dados observados, mas como franciscano devoto ele não desejava destruir a fé em Deus. Assim, ele insistia que estava libertando o Cristianismo dos grilhões da Razão. Deveria crer-se em Deus não por causa de uma necessidade lógica. Ockham também aplicou suas idéias à Igreja organizada de seu tempo. Ele procurou mostrar que o imperador deveria ser completamente independente do papa, que a única autoridade sobre assuntos espirituais era a Bíblia e que um concílio geral da Igreja era superior ao papado. Quando de sua morte, o nominalismo já estava firmemente estabelecido na ordem franciscana e crescia no meio dos fiéis a convicção de que era

necessário haver um concílio geral para reformar a Igreja. As críticas apresentadas por Marcílio de Pádua em sua obra Defensor Pacis (1324) eram mais radicais do que as de Ockham. Para ele, o inimigo não era a hierarquia clerical corrupta conforme Ockham ensinava, mas sim a influência exercida pelo clero nos assuntos seculares. Marcílio aplicou o nominalismo aos problemas de Estado e perguntou: “Onde encontra-se, de fato, a autoridade política?” Sua resposta estava no cidadão individual, não na idéia de Estado (universal). Quanto à pergunta “O que é a Igreja?”, sua resposta era que compunhase de cristãos individuais e não era uma instituição sobrenatural com vida própria. O nominalismo foi o solo propício para o desenvolvimento de idéias políticas que enfraqueceriam a autoridade do papado.

O declínio da Igreja institucional A Igreja havia se transformado numa monarquia que rivalizava com aquelas das nações-estados que estavam surgindo na época. O papa Bonifácio VIII (1294-1303) acendeu um conflito ao insistir que os governantes seculares deviam obediência à Igreja e ao proibir que cobrassem impostos do clero sem a permissão do papa. Tanto o rei da Inglaterra quanto o da França desafiaram essa postura. Eduardo I conseguiu que o Parlamento aprovasse uma lei proibindo o clero de reconhecer o suposto poder secular do papa enquanto Filipe IV proibiu a

saída de qualquer dinheiro da França. Essas ações forçaram o papa a rescindir suas ordens. Então, uma luta mordaz entre Filipe e Bonifácio irrompeu por causa da condenação de um bispo francês por traição e, em 1302, o papa desafiou o rei com a bula Unam Sanctam, talvez a argumentação mais radical da Idade Média em favor da autoridade papal. A bula declarava que “a sujeição ao pontífice romano é absolutamente necessária à salvação de cada ser humano”. Filipe reagiu enviando um agente à Itália para prender Bonifácio, mas seu tentativa não funcionou e o pontífice idoso morreu alguns dias depois. Nenhum governante europeu havia oferecido ajuda e nenhum papa sucessor puniu Filipe. Isso serviu para mostrar o quanto o poder das monarquias nacionais havia aumentado. Em 1305 um francês, Clemente V, foi escolhido para ser papa e foi residir nos ambientes mais confortáveis de Avignon, no sudeste da França. Posteriormente, críticos chamaram isso de “cativeiro babilônio da Igreja”. Os papados desse período foram franceses e suas políticas favoreceram a França. Finalmente, Gregório XI deixou Avignon em 1377 e voltou para Roma. Quando ele faleceu no ano seguinte, os romanos estavam decididos a manter o papado a todo custo. Sob a ameaça de violência das multidões, os cardeais escolheram um italiano, Urbano VI, mas ele os alienou a tal ponto com sua falta de tato e planos de reforma do colégio sagrado que sua eleição foi declarada inválida e ele foi substituído por Clemente VI, que voltou a Avignon.

Assim teve início o Grande Cisma que dividiu o Cristianismo durante quase quarenta anos e deferiu um golpe severo sobre o prestígio papal. Havia, então, dois papas, cada um afirmando ter o poder sobre as chaves do céu e ninguém tinha como saber ao certo se os sacramentos estavam sendo administrados por um sacerdote devidamente ordenado. O dinheiro necessário para manter duas cortes papais significava que era preciso haver um aumento da arrecadação e os governantes europeus tomavam o partido do papa que pudesse favorecer seus interesses políticos. Todos concordavam que o cisma precisava acabar, mas somente um papa podia convocar o concílio geral necessário. Nenhum dos papas queria fazer isso. Uma sugestão para resolver o dilema veio de alguns estudiosos da Universidade de Paris. Conhecidos como “conciliaristas”, eles insistiam que um concílio geral tinha autoridade superior à do papa e, portanto, podia agir independentemente. Eles lançaram mão da obra de Marcílio para apoiar a idéia de que o papado é uma instituição humana e todas as questões de fé importantes deve ser levadas a um concílio que represente a comunidade cristã como um todo. Cardeais de ambas as facções tentaram resolver o impasse num concílio em Pisa em 1409. Infelizmente nenhum dos pontífices concordou em renunciar em favor daquele que havia sido eleito por esse concílio e portanto havia três papas. O resultado desse fiasco foi que o imperador Sigismundo decidiu que era necessário um concílio geral e

forçou o papa escolhido em Pisa, João XXIII, a convocá-lo. O Concílio de Constance realizado entre 1414 e 1418, tinha três tarefas a cumprir — dar um fim ao cisma, reprimir as heresias e reformar a Igreja. Ele depôs os três papas e colocou em seu lugar Martinho V (1417-31), que passou a ser o único cabeça da Igreja. Ele tratou do problema de heresia ao executar os defensores boêmios da reforma de Jan Hus e Jerônimo de Praga, mas seus seguidores continuaram a lutar em favor dos seus ideais (ver adiante). Quanto à reforma, o concílio não conseguiu fazer absolutamente nada. Ele emitiu o decreto Sacrosanta Frequens, que determinava reuniões periódicas dos concílios das igrejas, mas os papas subseqüentes ignoraram completamente esses encontros. Eles não tinham intenção de permitir qualquer diminuição de seu poder, como era a intenção velada do movimento conciliar.

As pressões pela Reforma Nessa época, que recebeu dos historiadores o nome de Renascença (renascimento), a Igreja Católica enfrentou muitos problemas, mas talvez o mais sério de todos tenha sido o fracasso dos papas em oferecer liderança espiritual. Para todos os efeitos, eles haviam se transformado em príncipes da Renascença, com sua esperança de construir um Estado forte na região central da Itália para que o desastre de Avignon não se repetisse. Na época a idéia parecia sensata, mas na verdade ela preparou o cenário para a revolta protestante do século 16.

PAPADO MEDIEVAL POSTERIOR Bonifácio VIII (1294-1330) Benedito XI (1303-4) Início do Papado em Avignon Clemente V (1305-14) João XXII (1316-34) Benedito XII (1334-42) Clemente VI (1342-52) Inocêncio VI (1352-62) Urbano V (1362-70) Gragório XI (1370-78) O GRANDE CISMA Papas em Roma

Papas em Pisa

Urbano VI (1378-89)

Papas em Avignon Clemente VII (1378-94)

Bonifácio IX (1389-1404) Inocêncio VII (1404-6)

Alexandre V (1409-10)

Gregório XII (1406-15)

João XXIII (1410-15)

Benedito XIII (1394-1423)

O CONCÍLIO DE CONSTANÇA REUNIFICA A IGREJA, 1415-17 Os papas da Renascença Martinho V (1417-31) Eugênio IV (1431-47) Nicolau V (1447-55) Calisto III (1455-58) Pio II (1458-64) Paulo II (1464-71) Sisto IV (1471-84) Inocêncio VIII (1484-92) Alexandre IV (1492-1503) Júlio II (1503-13) Leão X (1513-1521)

Alguns contemporâneos, de fato, protestaram contra o rumo que a Igreja estava tomando. Os mais importantes deles foram John Wycliffe, Jan Hus e místicos como os Irmãos da Vida em Comum. Wycliffe (1330-

84), um estudioso do final da Idade Média, é muitas vezes chamado de “Estrela d’Alva da Reforma”. Nascido em Yorkshire, passou a maior parte de sua vida na Universidade de Oxford. Em dois livros importantes, On Divine Dominion [Sobre o Domínio Divino] e On Civil Dominion [Sobre o Domínio Civil], ele declarou que o domínio (senhorio sobre todas as coisas) pertence somente a Deus. Apesar de Deus ter concedido um certo senhorio para os seres humanos em troca de serviços, a pessoa que peca perde esse direito. Um clérigo cuja vida demonstra uma falta de graça deve ser privado de seu cargo. Se a Igreja fracassar nessa ação disciplinar, então o Estado deve fazê-lo. Ao insistir que todos os poderes, civis e eclesiásticos, dependem daqueles que os exercem estarem num relacionamento correto com Deus, Wycliffe sugeriu que mesmo a autoridade do papa dependia de seu caráter pessoal. Em On the Church [Sobre a Igreja] Wycliffe afirmou que o fato de ser formalmente membro de uma igreja não garante a salvação. A Igreja é o conjunto espiritual de crentes, sendo Cristo o seu cabeça. A salvação é uma questão entre o indivíduo e Cristo e o papa dirige apenas a Igreja visível em Roma. Em seu último ano de vida, ele chegou à conclusão radical de que o papa era o Anticristo e a ensinar que a transubstanciação era errada e que a ceia era simplesmente a celebração da presença espiritual do corpo e sangue de Cristo. Wycliffe era um professor eloqüente e persuasivo e formou um grupo de “pregadores pobres” itinerantes que espalharam-se pela

Inglaterra propagando suas doutrinas. Além disso, como um conhecimento da Bíblia era essencial para sua abordagem, ele incentivou a tradução das Escrituras do latim para o inglês. Essa versão da Bíblia, juntamente com seus estudos e tratados, foi amplamente difundida pelos lolardos, como eram chamados os seguidores de Wycliffe. O parlamento declarou a ilegalidade dos lolardos em 1401, o que fez com que o movimento se tornasse clandestino e alguns estudiosos argumentam que a duradoura simpatia pelas idéias de Wycliffe explica porque a Reforma inglesa começou com tanta facilidade.1 Seus ensinamentos tiveram influência especial na Boêmia. Carlos IV (1346-73), Sacro Imperador Romano bem como, possivelmente, o maior rei boêmio, havia feito de Praga o centro da cultura internacional ao fundar uma universidade em 1348 e ao ter incentivado o crescimento da consciência nacional checa. Quando sua filha Anne casou-se com Ricardo II da Inglaterra em 1382, um grande número de checos a acompanharam. Entre eles havia estudantes que voltaram para a Boêmia com cópias dos escritos de Wycliffe e que encontraram uma recepção favorável. A personalidade marcante nesse caso foi Jan Hus (1369-1415). Pregador da capela de Belém e professor da universidade em Praga, ele aderiu às idéias de Wycliffe e começou a exigir reformas semelhantes. Também pregou contra a venda de indulgências, desafiou a primazia do papa e enfatizou a autoridade suprema das Escrituras. Ganhou muitos

seguidores ao atacar o papado e a detestada classe alta alemã. De fato, em 1409 ele induziu o rei boêmio a mudar a constituição da universidade de modo a dar aos professores checos a voz decisiva sobre assuntos acadêmicos e assim os professores e alunos alemães mudaram-se para a Saxônia onde fundaram a Universidade de Leipzig. Como reitor da universidade, Hus entrou em choque com a Igreja quando condenou a cruzada papal na Itália e foi excomungado pelo arcebispo de Praga em 1412. Isso custou-lhe o apoio do rei e ele passou os dois anos seguintes fora da capital, pregando, escrevendo e ganhando cada vez mais ouvintes. No desejo de resolver o conflito da Boêmia, o imperador Sigismundo convidou Hus para o concílio de Constance a fim de defender suas idéias. Apesar do imperador ter-lhe dado uma carta de salvo conduto, os cardeais o acusaram de heresia e o prenderam. Para não colocar em perigo o sucesso do concílio, Sigismundo decidiu sacrificar Hus, que foi então julgado, condenado e queimado na fogueira em 6 de julho de 1415. Ultrajados, os seguidores de Hus revoltaram-se contra o imperador e lançaram a Boêmia numa guerra religiosa. Sob a liderança de seu brilhante comandante Jan Zizka, os hussitas, que eram minoria, conquistaram várias vitórias seguidas. Porém, uma divisão entre a ala radical taborita e a maioria moderada (os calistinos) enfraqueceu a campanha dos hussitas contra as forças imperiais. Então, os moderados

derrotaram os taboritas e fizeram as pazes com Roma em 1436. Eles aceitaram a supremacia papal, mas em troca os leigos teriam permissão de receber tanto o pão quanto o vinho da ceia e os abusos no clero checo seriam eliminados. O movimento dos hussitas manteve viva a idéia de reforma na Igreja até que ela surgiu com força total entre os protestantes. Também foram importantes os movimentos de devoção popular, comumente agrupados sob o termo “misticismo”. Trabalhando fora da estrutura formal da Igreja, os místicos reagiram contra a rígida institucionalização de Roma, especialmente os ensinamentos de que a salvação se dá através dos sacramentos somente quando estes são administrados por um sacerdote ordenado. Ao invés disso, eles ressaltavam a moralidade pessoal e a vida interior do espírito. No lugar dos sacramentos e do sacerdócio, eles enfatizavam o próprio Cristo como mediador entre a alma e Deus. O movimento concentrou-se nas cidades onde a educação secular havia criado um público de leitores para seus sermões e livros de devocional. O principal místico alemão foi o dominicano Johannes Eckhars von Hochheim (1260-1337), normalmente conhecido como Meister Eckhart. De sua experiência pessoal e convicção nasceu uma capacidade de expressar suas idéias com clareza bem como sua convicção fizeram dele uma poderosa força espiritual. Seus sermões atingiam uma vasta audiência pois eram copiados por freiras que ouviram-no pregar nos conventos e trechos desses discursos foram incluídos em livros de

devocional. Através de Gerard Groote (1340-84), o misticismo tornou-se uma força vital na Holanda. Ele urgia o povo a lutar pela comunhão com Deus e alcançar a transformação pessoal ao imitar a vida de Cristo. Ao invés de complicadas especulações teológicas, ele enfatizava a moralidade, a devoção e as boas obras. Depois de sua morte, o grupo de seguidores que haviam se reunido ao seu redor formaram uma associação conhecida como os Irmãos da Vida em Comum. Era uma ordem de leigos que viviam sob regulamentos impostos por eles mesmos mas que não estavam presos a votos monásticos. Eles serviam os pobres e fundaram mais de duzentas escolas na Holanda e na Alemanha. Deventer, sua principal academia tinha o nível de ensino mais avançado a norte dos Alpes e grandes escritores como John Gerson, Desidério Erasmo e Thomas à Kempis foram alunos das escolas dos Irmãos. A expressão mais clara do misticismo dos Irmãs é o livro de devocionais A Imitação de Cristo escrito por Thomas à Kempis (13801471). Ele ressaltava o estudo profundo da Bíblia, oração, introspeção e esforço sincero de levar uma vida santa. Só os puros de coração poderiam alcançar o objetivo de todo místico, a saber, a comunhão íntima com Deus que transcende as barreiras do intelecto humano. Apesar dos Irmãos da Vida em Comum e outros místicos por toda a Europa não criticarem as doutrinas ortodoxas em si, ainda assim eram uma ameaça à Igreja organizada. Sua ênfase sobre a ética e o desprezo pela teologia

especulativa reduziam a importância dos ensinamentos católicos oficiais e levavam a uma laicização da religião. Infelizmente, a devoção popular do século 15 também tinha um lado obscuro, isto é, a crença em bruxas. A maneira mais fácil de explicar os problemas da época era colocar a culpa sobre uma bruxa. Supunha-se que esses seres tinham pactos especiais com o diabo que lhes davam o poder de atormentar pessoas retas. Eles também possuíam imagens e amuletos que eram usados para destruir lavouras e matar rebanhos. Numa época em que a mortalidade infantil era alta, as parteiras muitas vezes eram acusadas de ser feiticeiras. Dizia-se que outras bruxas podiam transformar-se em animais ou possuir o corpo de homens a fim de seduzir mulheres. O papa Inocêncio VIII lançou uma bula em 1484 que definia a bruxaria como heresia e instruía a Inquisição a erradicá-la. Mais tarde, dois inquisidores publicaram um manual chamado O Martelo das Bruxas, que explicava como lidar com o fenômeno e milhares de pessoas morreram por supostamente praticarem bruxaria.

Os primórdios da Renascença Durante os séculos 13 e 14 a Itália era uma área geográfica sem unidade política. Enquanto a França e a Inglaterra estavam evoluindo para estados dinásticos à medida em que seus monarcas centralizavam sua autoridade às custas da nobreza, as cidades-estados territoriais da Itália prosperavam graças ao seu comércio com o leste do Mediterrâneo.

Essas áreas ricas também lucravam com a hostilidade entre o imperador alemão e o papa. Com o enfraquecimento do poder imperial e o transferência do papado para Avignon, o vácuo político na Itália foi preenchido pelas cidades-estados, sendo que cada uma governava uma certa região ao seu redor e brigava com seus vizinhos por terras e pelo controle das rotas de comércio. Na Idade Média, a maioria delas tinha uma forma de governo republicana. No início da Renascença, porém, passaram a ser governadas pelos regimes de déspotas. Normalmente, um líder agressivo tomava o poder por um certo tempo e então procurava estabelecer uma sucessão hereditária. Esses governantes muitas vezes tentavam expandir seu território, o que apelava para o orgulho dos cidadãos e também garantia hostilidades com os estados vizinhos. O resultado disso era uma situação de crise contínua que os ajudava a ficar no poder. Um bom exemplo desse padrão de desenvolvimento foi Milão, importante cidade no fértil vale do rio Pó. A economia em expansão criou uma nova aristocracia econômica que desafiou a antiga aristocracia agrária e exigiu uma parcela do poder político. Com o crescimento de sua força comercial e base territorial, Milão tornou-se rival em riqueza e prestígio tanto de Veneza como de Florença. Nos séculos 12 e 13 seu governo era baseado num grande concílio no qual todos os cidadãos livres eram representados e um grupo de doze homens servia de poder executivo. Em 1277, Otto Visconti deu um golpe no sistema republicano

e em 1395 o imperador havia feito de sua família os governantes hereditários de Milão. Florença, a principal cidade-Estado italiana da Renascença era uma república próspera com uma tradição política instável. Porém, o controle da cidade não passou para a mão de líderes militares, mas foi mantido pelos comerciantes de tecidos que aos poucos tornaram-se banqueiros internacionais. A produção e exportação de tecidos de lã era a atividade econômica mais importante da cidade e empregava em torno de um terço da população. Os grandes comerciantes de tecidos criaram uma constituição que destituía a nobreza de poder político significativo. Aqueles de posses um pouco mais modestas que pertenciam às guildas de artesãos apoiaram os comerciantes e em 1434 a família Médici, posando como representantes do povo, assumiu o poder sobre a cidade. Sob o governo dos Médici, especialmente de Cósimo (1434-64) e de Lorenzo o Magnífico (1478-92) Florença buscou uma política de diplomacia e manobras que fizeram dela o centro de uma sistema de equilíbrio do poder na Itália. Os Médici, que eram generosos patronos do ensino e das artes, também providenciaram para que sua próspera cidade tivesse o papel de liderança na cultura da Renascença. Localizados ao sul e estendendo-se como uma faixa transversal à península estavam os estados papais. Durante a residência dos papas em Avignon, esses territórios fragmentaram-se à medida em que as lutas cresceram entre cidades e famílias rivais. Em 1353 Inocêncio VI enviou

um representante para restabelecer a autoridade papal na região central da Itália e seu sucesso abriu caminho para a volta dos papas a Roma. Porém, só depois de terem superado o movimento conciliar é que eles poderiam voltar a dar atenção ao processo de formar uma administração forte nos Estados Papais. Essa foi a realização de um grupo de indivíduos conhecidos como “Os Papas Renascentistas”.

O crescimento do Humanismo Apesar das contribuições artísticas e culturais da região norte da Europa durante os séculos 14 e 15 terem sido substanciais, elas perdiam sua importância quando comparadas ao que vinha da Itália. Durante muitos anos historiadores têm procurado compreender esse período através de uma obra do historiador suíço Jacob Burckhardt, A Civilização da Renascença na Itália (1860). Ele afirmava que a Renascença foi criação espontânea do povo italiano durante o século 15. Era algo de novo, sem raízes no passado — uma expressão de individualidade e uma explosão genial manifesta em obras artísticas brilhantes e literatura imortal. Porém, estudiosos mais recentes têm mostrado que a preocupação de Burckhardt com a cultura e as idéias o levaram a deixar de lado os fatores religiosos, políticos, sociais e econômicos da História e sua interpretação clássica da História exige uma certa restrição. Certamente o povo daquela época achava que havia ocorrido um renascimento das antigas civilizações da Grécia e Roma, mas os críticos

modernos tendem a enfatizar que aquele foi um período de transição entre os tempos medievais e modernos. Eles concordam que algumas idéias da Renascença foram tiradas do passado enquanto outras voltavam-se para o futuro e previam como seria a vida moderna, mas insistem que muitas coisas foram singulares a esse tempo. A maioria concorda que a Renascença caracterizou-se por uma irriquieta curiosidade, especialmente sobre a própria humanidade e foi dessa ênfase que surgiram as características mais distintivas desse período. Assim, Burckhardt estava certo em afirmar que a Renascença haviam explodido em criatividade e que seus artistas estavam entre os melhores que já existiram na civilização ocidental. Dante Alighieri (1265-1321) talvez tenha sido um dos primeiros indivíduos a mostrar características do individualismo renascentista, mas em sua complexa personalidade havia elementos do medievalismo bem como do mundo moderno. Ao que parece, Dante vinha de uma família florentina respeitável e era ativo na política local. Porém, quando seu partido perdeu ele foi banido de Florença e nunca mais voltou para casa. Sua principal obra, A Divina Comédia, foi completada durante os longos anos de exílio e viagens. Seu poema é uma alegoria da tentativa do homem de alcançar a salvação mas, ao contrário das obras medievais sobre o assunto, ele não se concentra na abstração personificada. Ao invés disso, Dante usa personagens históricas reais para descrever de maneira figurativa o que

ele considera como sendo as realidades do pensamento cristão — pecado e punição, remorso e arrependimento, e o amor e misericórdia de Deus. No poema, ele passa sucessivamente pelo Inferno, Purgatório e Paraíso com três guias para orientá-lo. Nas duas primeiras regiões o poeta Virgílio dirige seus passos; em grande parte do Paraíso é Beatriz e, para a visão final de Deus, Bernardo de Clairveaux. Na Divina Comédia Dante mostrou um surpreendente conhecimento de Ciências, Teologia, História e dos clássicos. Ele essencialmente criou a língua italiana moderna através dessa obra de arte e ela é considerada a síntese da vida e do pensamento medieval. Porém, alguns elementos do poema não se encaixavam na cosmovisão medieval. Dante rejeitou a posição da Igreja em seu desejo de controlar todos os aspectos da vida do indivíduo e destemidamente lançou vários papas no inferno por heresia, simonia, covardia e avareza. O fato de tratar de elementos pagãos e cristãos lado a lado mostrava um respeito pela cultura clássica que não era característico dos escritores medievais. A Divina Comédia exerceu um efeito tão profundo sobre o povo do século 14 que, cem anos depois da morte de Dante, já havia grupos de estudiosos dedicando-se ao estudo do poema em Florença, Veneza, Bolonha e Pisa. O pioneiro do resgate da tradição clássica foi Petrarca (1304-74), muitas vezes chamado de pai do Humanismo. Nascido em Arezzo, uma pequena cidade próxima à Florença, ele estudou Direito nas

universidades de Montpellier e Bolonha. Depois da morte de seu pai desistiu dos estudos da lei e tornou-se um monge de modo a ter o direito a benefícios de patronos ricos. Ele viveu confortavelmente e viajou muito por toda a Europa central e ocidental antes de estabelecer-se na Itália. Petrarca já se interessava pelos clássicos desde a infância e compartilhou sua paixão com muitos de seus conhecidos e através deles, com um grupo cada vez mais surpreso de estudiosos. Descobriu manuscritos das obras de Virgílio, Horácio, Lívio, Olvídio, Cícero, Sêneca e Juvenal, entre outros e inspirou humanistas a procurar cópias dos clássicos. Seu poema épico África, que exaltava o conquistador de Aníbal — Scípio Africanus — deu-lhe a coroa de poeta em Roma e começou a moda de glorificação dos tempos clássicos. Ele também compilou esboços biográficos de romanos famosos em Sobre Homens Ilustres, a fim de mostrar seus grandes feitos e sabedoria e virtude superiores. O que indivíduos como Dante e Petrarca fizeram foi encorajar o crescimento do Humanismo. Essa termo teve origem em humanitas, a palavra latina usada para descrever a força civilizadora da arte e da literatura em seu sentido mais amplo. Estudiosos da Medicina conheciam os clássicos, mas a Renascença abordou esses textos de maneira diferente. Eles não serviam mais simplesmente como fonte de ilustração para sermões ou ferramentas para a lógica, mas passaram a ser apreciados por seus próprios méritos.

Antes que pudesse ter início o estudo dos clássicos, porém, era necessário haver um programa que fosse mais sistemático na coleta de manuscritos. Essa foi a contribuição dos governantes das cidades-estados da Itália que gastaram altíssimas somas de dinheiro para obter obras gregas e latinas. Muitas destas haviam sido copiados centenas de anos antes e estavam danificadas por fogo, água ou traças. Em diversos casos, os copistas medievais haviam feito adições e comentários que precisavam ser retirados. Por fim, dicionários e enciclopédias foram compostos para oferecer àqueles que estavam estudando os clássicos o material que os ajudaria a entender as várias referências e alusões. O reavivamento dos estudos clássicos começou com a literatura latina, tendo em vista que os primeiros humanistas não sabiam ler grego, mas logo o pioneiro do ensino da língua grega entrou em cena. Ele era Manuel Chrysoloras, que em 1396 havia sido enviado como embaixador à Itália pelo governo bizantino a fim de pedir ajuda militar contra os turcos. No ano seguinte ele começou a lecionar em Florença e depois em Milão e Pávia antes de voltar para Constantinopla em 1403. O contato com estudiosos gregos incentivou Cósimo de Médici a fundar a Academia Platônica em Florença. Esta era um pequeno grupo que se encontrava para discutir a filosofia de Platão e os problemas contemporâneos à luz de seus ensinamentos. A fim de facilitar essa interatividade, Cósimo deu a Marsílio Ficino (1433-94) uma villa e um fundo permitindo que ele passasse o resto de sua vida traduzindo e

interpretando Platão. A Academia Platônica desenvolveu-se ao longo do século 15 e dentre seus estudiosos de destaque estava Pico Della Mirandola (1463-94) que introduziu o estudo do hebraico à Europa cristã e atraiu para Florença alunos de lugares distantes como a Alemanha e Inglaterra. A fundação dos Médici serviu de protótipo para academias semelhantes em outras partes da Itália e, mais tarde, em toda a Europa. Uma importante contribuição humanista foi a ciência da criticismo textual. O melhor exemplo dessa nova abordagem foi como Lorenzo Valla demonstrou as origens falsas da “Doação de Constantino”. Esse documento supostamente era um registro feito pelo imperador Constantino que passava o controle da parte oeste do império para o bispo de Roma e os papas medievais utilizaram-no como justificativa para seu poder “temporal” (posse de terras). Valla usou argumentos filológicos e históricos para mostrar que o documento não podia ter sido escrito no 4º século, mas sim que era de origem bem mais recente. Ao analisar as muitas palavras anacrônicas e os costumes no documento, ele convenceu seus contemporâneos de que se tratava de uma falsificação do século 8º. Seu método viria a ser amplamente utilizado na Alemanha durante o século 16 quando Lutero e outros adotaram a abordagem crítica da Renascença.

Cultura renascentista A Renascença não apenas recuperou a grande literatura da

Antigüidade como também produziu obras de gênios da Pintura, Escultura e Arquitetura. A nova abordagem artística começou com o trabalho de Giotto (1266-1336). Antes das inovações de Giotto a pintura italiana era de estilo plano e fluxo linear, baseada numa tradição que não havia mudado em quinhentos anos. Durante esse tempo, a pintura tinha sido uma arte da Igreja, que tinha como propósito ensinar aqueles que não sabiam ler. Para isso, porém, todos os detalhes desnecessários eram removidos a vim de evitar a distração do observador do tema central. Muitas vezes, três ou quatro acontecimentos eram colocados em uma mesma figura e os gestos eram exagerados para ressaltar uma determinada idéia. Tendo em vista que a pintura era uma tentativa de transmitir de forma bidimensional um mundo tridimensional, uma pessoa na Idade Média considerava o retrato de um homem como algo “real” no sentido de que lembrava um homem. Para apresentar uma ilusão mais precisa de realidade, os artistas tinham que aprender como dar uma sensação de perspectiva através do uso da proporção e de luz e sombra. Giotto, porém, rompeu o mundo simbólico medieval e adotou uma abordagem “naturalista” na qual os indivíduos eram pintados em posições e grupos iguais aos da vida real, relacionando-se entre si como normalmente fazem os seres humanos. Ainda assim, por não saber as leis de perspectiva, suas pessoas parecem arredondadas e sólidas como estátuas. Exemplos podem ser encontrados em muitas de suas figuras de São Francisco como as da igreja em Assis e na capela Bardi em Florença.

A arte da Renascença não avançou num ritmo constante. Quando a Peste Negra varreu a Itália, a ênfase de Giotto sobre o homem foi ignorada e a arte voltou aos tipos mais tradicionais de expressão. No final do século 14, porém, os artistas retomaram o realismo. O que reavivou o movimento iniciado por Giotto foi uma competição em 1401 para selecionar um artista para desenhar as novas portas de bronze do Batistério de São Giovanni em Florença. Dois dos mais respeitados escultores da cidade, Fillipo Brunelleschi (1377-1446) e Lorenzo Ghiberti (1378-1455) inscreveram-se no concurso. O painel da competição devia ser um retrato de Abraão prestes a sacrificar Isaque. Apesar do trabalho de Brunelleschi mostrar um sentimento religioso mais intenso, os juízes escolheram a obra de seu rival por causa da unidade de sensação e a maior atenção dedicada às linhas do corpo. Assim, Gilberto pôs-se a produzir a famosa Portas do Paraíso que até os dias de hoje surpreende o público com sua beleza indescritível. Os afrescos de Masaccio (1401-28) também reavivaram a abordagem realista de Giotto. Brunelleschi havia descoberto um princípio da perspectiva no qual o tamanho dos objetos podia ser reduzido ao fundo e Masaccio adotou-o em sua obra “Santa Trindade” nas paredes da igreja de Santa Maria Novella em Florença, uma obra excepcional por seu realismo físico e retrato de emoção e caráter. Ao mesmo tempo, Donatello (1386-1466) rompeu com o padrão tradicional de esculturas. Aluno de Ghiberti, ele libertou a escultura de sua função

medieval de embelezar a Arquitetura, reduziu a quantidade de detalhes em suas estátuas e deu a elas um ar sólido, pesado e determinado. Muita da inspiração para seu trabalho veio do estudo da anatomia do corpo humano, uma ciência que estava começando a se desenvolver. Quando os italianos já haviam dominado a arte de retratar a natureza através da pintura, passaram a buscar significados mais profundos. A princípio, os artistas da Renascença eram membros de guildas de artesanato e não tinham muita educação formal. Mas à medida em que garantiram patronos nas classes mais elevadas, eles começaram a ter contato com filósofos e humanistas e a captar idéias da elite intelectual. Na Academia Florentina os artistas aprendiam que o amor do mundo físico era um dos passos que levava ao amor de Deus e eles introduziram essa idéia em suas obras ao fazer o corpo humano parecer mais atraente do que era. Eles acreditavam que quanto mais bela a natureza ficasse, mais próxima de Deus estaria. Isso os levou a estudar o corpo humano com mais cuidado do que nunca e a colocar grande ênfase nos nus. Os três artistas mais conhecidos da Alta Renascença, Leonardo da Vinci (1452-1519), Michelângelo (1475-1564) e Rafael (1483-1520), representam essa nova abordagem. Apesar de da Vinci estar mais interessado na ciência experimental, seu afresco A Última Ceia, em Milão e seu retrato da Mona Lisa são obras primas da arte ocidental. Mas com Michelângelo foi o platonismo que venceu, tendo em

vista que ele idealizou a forma humana em estátuas como a de Davi em Florença e na Pietá em Roma. Nascido em Florença e trazido para o círculo familiar dos Médici quando ainda era jovem, ele deixou o lar para ir a Roma em 1494 e lá passou grande parte do resto de sua vida. Um dos maiores gênios artísticos de todos os tempos, além de esculpir, ele pintava, desenhava edificações (a nova Basílica de São Pedro) e escrevia poesia. Seu afresco no teto da Capela Sistina é, provavelmente, a pintura mais imponente da Renascença. É uma síntese magnífica de formas pagãs com pensamentos cristãos, um tema do Antigo Testamento que fascina o observador com seu uso vívido da cor. Rafael nasceu em Urbino mas estabeleceu-se em Roma em 1508. Em suas várias madonnas ele procurou atingir uma beleza maior do que aquela encontrada na natureza. Sua arte combina os objetivos naturalistas dos artistas do início do século 15 com a idealização da forma humana encontrada em Michelângelo.

O papado da Renascença Os papas da época estavam entre os mais importantes patronos da arte e cultura renascentista. Da ascensão de Nicolau V em 1447 até o saque de Roma em 1527, o trono papal foi ocupado por homens que preocupavam-se com aspectos mais mundanos dos estudos e da cultura e com a construção de um Estado forte na região central da Itália. Nicolau V (1447-55) não apenas colocou em prática um programa de construção

em Roma como também realizou a importante tarefa de colecionar livros. Ele usava agentes que procuravam os manuscritos raros de clássicos e humanistas que traduziam e corrigiam essas obras. Autores da Grécia antiga, incluindo os patriarcas gregos, foram traduzidos para o latim e assim tornaram-se acessíveis para o povo da Europa ocidental. Sua coleção de milhares de manuscritos formou a base para a nova biblioteca do Vaticano. Talvez o mais fascinante dos papas da Renascença tenha sido Pio II (1458-64), um competente humanista cujos Comentários oferecem uma visão penetrante da vida em sua época. De família nobre mas sem recursos, ele viajou incessantemente a serviço da Igreja e, antes de tornar-se papa, havia se destacado como ensaísta e orador ciceroniano. A corrupção cresceu assustadoramente no papado durante o reinado de Inocêncio VIII (1484-92). Depois de passar uma juventude devassa em Nápoles, ele foi ordenado sacerdote. Subindo de cargos dentro da Igreja, acabou tornando-se papa, mas seus hábitos não mudaram. Ele era pai de dezesseis filhos, que ele reconheceu abertamente e cujos casamentos ele então celebrou no Vaticano. Estava constantemente envolvido em guerras e disputas com outros estados italianos e o financiamento dessas campanhas deixava a Igreja endividada. Ao aproximar-se da morte, diz-se que ele implorou aos cardeais que escolhessem um sucessor melhor do que ele. Porém, eles ignoraram sua súplica e com o pontificado de Alexandre VI (1492-1503) o papado

chegou ao ponto espiritual mais baixo. Rodrigo Bórgia havia progredido rapidamente dentro da Igreja e feito cardeal aos 25 anos de idade. Um homem de negócios perspicaz, ele acumulou uma fortuna que usou então para ganhar o papado. Sua vida pessoal era tão imoral que na época de sua eleição ele já era pai de vários filhos. Apesar de ter administrado com prudência as finanças papais, seu objetivo era um fundar um principado para sua família na região central da Itália. Ele entregou o projeto ao seu filho, César Bórgia, que foi um assassino tão lendário quanto inescrupuloso. Alexandre deu o controle do palácio papal à sua filha Lucrécia que, aos 22 anos, já havia se casado três vezes. Depois da morte de Alexandre, César foi obrigado a deixar a Itália. Apesar de ter apoiado o trabalho missionário dos portugueses em outras partes do mundo e ter negociado a famosa linha de demarcação que evitou a guerra entre Espanha e Portugal por causa de questões imperiais (ver capítulo 12), ele foi uma completa desgraça para a Igreja. Seu sucessor Júlio II (1503-13) tentou reparar os danos ao refrear a prática da simonia e reduzir o nepotismo. Porém, ele pessoalmente liderava o exército papal e era um homem de tamanha inquietação e temperamento colérico que as pessoas o chamavam de “terribilita”. O mais importante, porém, é que quando de seu pontificado, Roma havia substituído Florença como centro da cultura renascentista. Para enfatizar a grandiosidade de Roma, ele demoliu a antiga Basílica de São Pedro e orientou Bramante para projetar a planta do que viria a ser a maior igreja

do Cristianismo. Ao longo do enorme projeto de construção, Júlio comissionou Michelângelo para fazer os afrescos da Capela Sistina e Rafael para decorar os aposentos papais. Leão X (1513-21), sucessor de Júlio, era o segundo filho de Lorenzo, o Magnífico, e havia sido feito arcebispo aos 8 anos de idade, cardeal aos 13 e papa aos 37. Um homem de gostos caros, ele estava convencido de que o cabeça da Igreja não devia ter a vida austera e simples como a de Cristo e seus apóstolos. Em sua coroação ele entrou em Roma com mantos deslumbrantes, passando por arcos erigidos em sua homenagem como se fosse uma antiga procissão triunfal. Durante seu pontificado, Leão abarrotou a cúria e a administração dos Estados Papais com membros da família Médici e justificou seu alto padrão de vida com a memorável frase: “Deus nos deu o papado, então vamos aproveitá-lo”. Seu amor pela arte, música e teatro fez de Roma o centro cultural da Europa, o que foi conseguido a um custo extremamente alto. Júlio II tinha sido um papa frugal, mas o dinheiro que ele juntou foi logo esgotado por Leão e o papado viu-se profundamente endividado. Conforme foi mostrado, a maioria dos papas da Renascença foi culpada de nepotismo. Parentes que com freqüência eram incompetentes ou não tinha idade suficiente recebiam cargos na Igreja. Por vezes, eles eram “sobrinhos” ou filhos bastardos como César Bórgia, enquanto muitos dos próprios papas começaram sua carreira na igreja por causa do nepotismo. Seus gostos exóticos, estilos de vida caros e envolvimentos

políticos levaram a muitos abusos fiscais. Cargos eclesiásticos eram comprados e vendidos. Júlio II e Alexandre V foram eleitos ao subornarem a maior parte do colégio de cardeais. As indulgências eram vendidas regularmente e alguns até tentavam forjar e vender bulas papais. Os papas da Renascença compartilhavam a cosmovisão de seus companheiros da nobreza que achavam que uma existência luxuosa traria mais respeito ao cargo. Enquanto isso possibilitou o melhor da arte renascentista, também levou a críticas gerais. Muitos, especialmente das classes mais baixas, não aprovavam o estilo de vida do alto clero. Pregadores do arrependimento que denunciavam os abusos tanto de leigos quanto do clero atraíam grandes multidões. Dentre esses evangelistas fervorosos, nenhum é mais conhecido do que Girolamo Savonarola (1452-98). Sua vida e ministério ilustram como a Renascença italiana não foi tão secular e mundana como já se afirmou. Nascido numa família de poucos recursos em Ferrara, educado na tradição humanista e destinado a uma carreira na Medicina, aos 22 anos de idade ele decidiu entrar para a ordem dos dominicanos. Em 1482 foi enviado a Florença e lá começou a clamar por arrependimento e conversão em seus sermões que eram repletos de profecias apocalípticas. A época era propícia para essa mensagem pois o governo dos Médici estava em guerra com a França e as condições econômicas encontravam-se seriamente deprimidas. Os Médici haviam se tornado poderosos demais e não só as classes mais baixas, mas também

as famílias de comerciantes passaram a reagir contra sua ostentação de riqueza e luxo. A igreja de São Marcos se enchia de pessoas ansiosas para ouvir Savonarola fazer seu mais recente pronunciamento contra os Médici e outros príncipes e eclesiásticos que viviam no luxo. Muitos penitentes entregavam símbolos de vaidade como livros indecentes, figuras de nus, bijuterias, perucas e roupas frívolas para serem queimados em grandes fogueiras. A popularidade de Savonarola chegou ao seu ápice quando ele convenceu o rei Carlos VIII da França, que havia invadido a Itália, a não saquear Florença. O governo dos Médici entrou em colapso e foi substituído por um novo regime republicano que era fortemente influenciado pelas pregações de Savonarola. Ele previu que um grande desastre atingiria a Itália, mas uma era dourada iria raiar sobre Florença e espalhar-se para o mundo todo. Os florentinos, incluindo os estudiosos humanistas Ficino e Pico Dela Mirandola, apoiavam essas profecias com entusiasmo. O papa Alexandre VI, preocupado com a amizade recente de Florença com a França não queria ter um aliado dos franceses como vizinho dos Estados Papais. Assim, o austero dominicano viu-se em oposição ao papa mais infame da Renascença. Alexandre tentou persuadir Savonarola a deixar a cidade e, quando não teve sucesso, ofereceu-lhe um suborno, a saber, um posto de cardeal. Quando falhou novamente, o papa excomungou Savonarola em 1497. O frade, porém, declarou que a excomunhão não tinha valor pois somente Deus podia

cortá-lo da comunhão. Ele continuou a pregar e a rezar missas, mas o governo da cidade, ameaçado de interdição pelo papa, pediu que ele suspendesse seus deveres clericais. Savonarola havia perdido o apoio dos cidadãos abastados de Florença e os franciscanos, que nunca se entenderam muito bem com os dominicanos, também voltaram-se contra ele. Em seguida, foi acusado de heresia, julgado e executado.

A Renascença no norte As idéias da Renascença italiana logo se espalharam para a região norte da Europa e o principal expoente desse novo aprendizado foi o “príncipe dos humanistas”, Desidério Erasmo (1469-1536). Como muitos outros de seus contemporâneos, ele acreditava que o estudo de um texto de fontes cristãs corretas juntamente com os clássicos gregos e latinos traria uma renovação do Cristianismo. Nascido em Roterdã, Erasmo viajou muito e estudou incessantemente. Aluno de uma escola dos Irmãos da Vida em Comum em Deventer, ele foi orientado para uma vida religiosa, mas uma breve experiência como monge o convenceu de que ele não era adequado para a vida monástica. Estudos posteriores em Paris e na Itália o levaram a voltar-se para o Humanismo. Sua amizade com John Colet e Thomas More na Inglaterra fortaleceram sua determinação de buscar a reconciliação entre a fé e a Razão, a devoção e os estudos, as Escrituras e a literatura. Assim, ele tornou-se símbolo e síntese da Renascença no norte.

Tanto os escritos de Erasmo como sua vida pessoal refletiam essa harmonia entre pensamento secular e religioso. Na obra Enchiridion ele suplicava ao povo que se preocupasse com o significado da devoção religiosa e que colocasse suas crenças em prática ao invés de simplesmente professá-las. Declarou: “Que sentido faz ser aspergido com água benta se a poluição interna do coração não é lavada?” Continuou dizendo: “Vocês veneram os santos e deleitam-se em tocar suas relíquias, mas desprezam o melhor daquilo que deixaram para trás, o exemplo de vida santificada”. Erasmo promoveu o estudo da Bíblia ao publicar em 1516 sua própria tradução e a primeira edição impressa do Novo Testamento em grego. Também editou as obras de vários Patriarcas da Igreja primitiva. As preocupações de Erasmo e de outros cristãos humanistas repercutiram por toda a Europa no início do século 16. Eles publicaram extensivamente, promoveram e influenciaram a educação na escola primária e até mesmo ocuparam cátedras de literatura, línguas e estudos clássicos nas universidades. Johannes Reuchlin, por exemplo, foi o principal estudioso da Bíblia em hebraico e lecionou na Universidade de Tübingen. Juan Luís Vives, o brilhante humanista espanhol foi, durante algum tempo professor da Universidade de Louvain e depois de Oxford. Outros humanistas espanhóis lecionaram na nova Universidade de Alcala, fundada em 1509 pelo Cardeal Ximénez de Cisneros. Assim também, John Colet fundou a escola St. Paul em Westminster, que era

dirigida para o ensino humanista. Talvez a contribuição mais importante da Renascença no norte da Europa tenha sido a descoberta da impressão com tipos móveis. Dois reavivamentos clássicos já haviam acontecido na Europa, um sob o reinado de Carlos Magno no século 8º e um durante o século 12 liderado por estudiosos como João de Salisbury. A Renascença teve um efeito duradouro, coisa que não aconteceu com os movimentos anteriores, porque o movimento clássico do século 15 foi disseminado através de material impresso. A impressão possibilitava livros mais baratos, um público leitor mais amplo e uma nova cosmovisão. Papel, tinta e a técnica de imprimir usando blocos de madeira entalhados ou tipos feitos de metal já eram conhecidos há tempo, mas o processo era lento e caro pois cada letra tinha que ser entalhada separadamente. Por volta de 1450, Johann Gutenberg de Mainz, na Alemanha começou a fazer letras de metal intercambiáveis ao invés dos blocos de madeira; como esses tipos feitos de metal podiam ser reutilizados muitas vezes, a produção de livros tornou-se relativamente barata. Essa técnica espalhou-se pela Europa com incrível rapidez e em 1500 havia impressoras funcionando em pelo menos cem comunidades. Mais de trinta mil obras haviam sido publicadas, totalizando por volta de seis a nove milhões de volumes. Com a chegada da Reforma protestante, a palavra impressa provou ser de valor incalculável para a disseminação das novas idéias religiosas.

Esses dois séculos foram um tempo de avaliação de paradigmas que haviam se mantido durante séculos. O conceito da Europa como Republica Christiana — tendo o papado como seu governo espiritual e o Sacro Império Romano como governo secular — havia se desintegrado; mesmo tentando redefinir o seu papel, a Igreja Católica Romana perdeu a liderança espiritual. Os novos estados dinásticos eram apoiados pela classe média que, com a ajuda de avanços tecnológicas e melhora dos procedimentos de crédito, tornou-se rapidamente a classe dominante. Na esfera não-material, a era preparou a sociedade para o futuro. Enquanto os humanistas lutavam para recuperar aquilo que acreditavam ser a grandeza intelectual e moral da antigüidade clássica, deixaram para a posteridade novas idéias e atitudes. Os métodos de governo articulados por eles foram a base das teorias modernas de constitucionalismo. A tentativa de pintores, escultores e arquitetos de reproduzir obras primas clássicas levou a importantes descobertas de técnicas e desenho. Em seu esforço para entender a obra da Antigüidade, os humanistas não apenas desenvolveram uma visão histórica moderna como também deram início a uma iniciativa paralela de volta às origens no Cristianismo. Assim, o caminho estava aberto para a Reforma.

Capítulo 10 - A Reforma atinge a Igreja Em 1500 ainda era possível se falar de cristandade no lugar de

Europa. Ao invés de ser uma descrição geográfica, esse termo era um conceito espiritual que envolvia sujeição a um conjunto de pensamentos. Ele expressava a unidade dos europeus sob a Igreja Católica Romana. Todo o povo, exceto alguns grupos minoritários — judeus, muçulmanos, cristãos ortodoxos orientais e membros de seitas extremistas — cultuavam de acordo com o mesmo ritual, aceitando a reivindicação da Igreja para si mesma do monopólio da salvação e reconhecendo o papa como autoridade suprema sobre a fé e a moral. Mas em cinqüenta anos, a Reforma protestante havia desintegrado essa unidade religiosa. Roma havia perdido para sempre o norte da Alemanha, a Escandinávia e partes da Suíça, Holanda, Escócia e Inglaterra, sendo que também havia grupos de tamanho considerável na França, Boêmia, Polônia e Hungria que aceitavam a nova visão de salvação ensinada pelos reformadores. Até mesmo a Igreja Católica Romana foi profundamente afetada pela Reforma e sobreviveu somente porque tornou-se uma organização bem diferente daquela que havia sido na Idade Média.

A Reforma luterana No dia 31 de outubro de 1517 um professor alemão de Teologia chamado Martinho Lutero (1483-1546) afixou uma folha de papel contendo noventa e cinco proposições, “teses” para discussão, na porta da Igreja do Castelo em Wittenberg. Na sua época esse era um procedimento normal pois aqueles que desejavam iniciar um debate culto

sobre um assunto, usavam a porta da igreja como quadro de avisos. As teses questionavam a validade das indulgências, uma prática que a Igreja medieval havia desenvolvido para ajudar na salvação das almas. Elas baseavam-se na crença de que Cristo, a Virgem Maria e os santos haviam acumulado um excedente de boas ações (o “tesouro de méritos”) do qual, de acordo com a Igreja, o papa podia lançar mão para perdoar a quantidade de castigo temporal (no purgatório) pelo pecado que as pessoas comuns teriam que sofrer. A princípio, essas reduções de tempo no purgatório antes de se entrar no céu eram oferecidas àqueles que haviam participado de cruzadas, peregrinações ou tinha realizado algum ato de grande mérito. Aos poucos, as condições para se conceder esses perdões forem relaxando e no final do século 15 eles podiam ser obtidos através da oferta de dinheiro para a Igreja. Para todos os efeitos, a distribuição de indulgência havia se tornado um negócio que empregava vendedores quase profissionais. As questões que Lutero levantou sobre essa prática não tinham a intenção de causar uma divisão na Igreja, mas foi o que aconteceu. Lutero era filho de um mineiro de cobre na Saxônia. Como seu pai desejava que ele seguisse uma carreira na área de Direito, Lutero começou a estudar na Universidade de Erfurt em 1501 e recebeu um Mestrado em Ciências Humanas em 1505. Porém, no último ano uma experiência aterradora durante uma tempestade levou o jovem Lutero a abandonar suas ambições seculares e entrar para um mosteiro de eremitas

agostinianos em Erfurt. Em 1507 ele foi ordenado para o sacerdócio, mas sua primeira missa foi uma experiência de tal modo intimidante que ele sentiu-se completamente inadequado. A natureza introspectiva e questionadora de Lutero era tal que seu superior monástico, Johann von Staupitz, recomendou que ele continuasse seus estudos na Universidade de Wittemberg e em 1512 ele recebeu o doutorado em Teologia. Foi então nomeado professor nessa universidade, uma instituição fundada pelo duque da Saxônia em 1502. Além de lecionar, Lutero trabalhava como pastor da igreja da cidade e como supervisor administrativo de um mosteiro agostiniano na Saxônia. Certa vez foi enviado para tratar de assuntos monásticos em Roma, onde o caráter mundano da cidade que ele acreditava ser o centro da espiritualidade o deixou profundamente desiludido e desgostoso. 1484-1531

1521

1497-1560

Ulrico

Dieta de

Melanchthon

Zuínglio

Worms

1466-1536

1483-1546

1513-21

1525

1491-1556

1509-64

1514-72

Erasmo

Martinho

Papado de

Execução

Inácio de

João

John Knox

Lutero

Leão X

de Thomas

Loyola

Calvino

Muntzer 1450

1500

1550

1600

1486-1525

1509-47

1519-56

1542-87

1558-87

Frederico da

Henrique

Carlos V

Maria da

Elizabeth I

Saxônia

VIII

Escócia

1515-47 Francisco I

As primeiras palestras teológicas de Lutero eram sobre Salmos,

Romanos, Gálatas e Hebreus. As anotações que fazia para estas indicam que ele havia abandonado a forma medieval tradicional de analisar o texto. Concentrando-se em questões de pecado, graça e retidão, ele seguia os ensinamentos de Agostinho de Hipona, rejeitando desse modo a abordagem escolástica. O que levou Lutero a repensar a Teologia foi o estado de desespero no qual ele se viu diante da presença de Deus. Ele queria a segurança da aceitação divina, mas consciente da enormidade do pecado, ele viu Deus apenas com uma justiça implacável que condenava todos os esforços da humanidade em encontrar perdão. Seu desejo de pagar o preço do pecado através das várias obras recomendadas pela Igreja e pela ordem agostiniana só fazia aumentar essa frustração. Por fim, a solução da crise espiritual de Lutero veio de sua sensação de total desamparo diante de Deus e dos escritos do apóstolo Paulo. Sua “descoberta evangélica” foi de que uma pessoa não é justificada pelas obras, mas sim pela fé na obra consumada de Cristo. Não há nada que um indivíduo possa fazer para merecer o perdão de Deus, mas se ele crer em Cristo, Deus lhe concederá a salvação e a vida eterna através do dom do Espírito Santo. Tudo isso acontece por meio da fé — ao entregar-se completamente à mensagem do evangelho. Aqui, Lutero descreve sua experiência:

Eu ansiava compreender a epístola de Paulo aos Romanos e não havia nada que me impedisse a não ser aquela expressão “a justiça de Deus”, pois eu entendi que significava

que se havia justiça então Deus era justo e agia com justiça ao punir os injustos. Minha situação era tal que, apesar de ser um monge impecável,, eu estava diante de Deus como um pecador com a consciência perturbada e não tinha confiança de que meu mérito iria aplacar esse Deus. Ponderava dia e noite até que enxerguei a ligação entre a justiça de Deus e a declaração de que “o justo viverá pela fé”. Então, compreendi que a justiça de Deus é aquela retidão através da qual a graça e a misericórdia de Deus nos justificam pela fé. A partir de então senti que havia nascido de novo e passado por portas abertas para o paraíso. As Escrituras como um todo adquiriram um novo significado e se antes a “justiça de Deus” havia me enchido de ódio, agora tornara-se inexprimivelmente doce em maior amor. Essa passagem de Paulo tornou-se para mim o portal do céu. Se você tem uma fé verdadeira de que Cristo é seu Salvador, então imediatamente você tem um Deus cheio de graça, pois a fé o guia e abre o coração de Deus bem como sua vontade para que você possa ver a graça pura e transbordar de amor.

A descoberta de Lutero da justificação somente pela fé e a doutrina que a acompanhava — o sacerdócio de todos os crentes — foi um tanto revolucionária. Se uma pessoa podia ir diretamente a Deus e pedir perdão pelos pecados, então toda a estrutura da Igreja, que existia com o propósito fundamental de mediar os homens e Deus, tornava-se desnecessária. Apesar de rejeitar o sacerdócio e hierarquia da Igreja, Lutero nunca mudou sua visão conservadora de que a sociedade precisava de uma estrutura duradoura. Mas seu ataque à Igreja foi progredindo de uma questão para outra até que restava muito pouco da antiga instituição que fosse imune às críticas. Ele argumentava, por exemplo, que os pastores não eram sacerdotes, mas sim pessoas cujo

papel era de pregar a Palavra de Deus. Quanto aos diversos níveis de clero, eles eram vistos como uma forma dos italianos corruptos roubarem dinheiro dos alemães honestos. Lutero acabou mostrando ser um indivíduo extremamente competente que comunicava suas idéias de modo muito eficaz. Durante os trinta anos seguintes ele produziu uma quantidade inacreditável de livros, panfletos, sermões, cartas e hinos. Calcula-se que publicava alguma coisa a cada duas semanas e hoje a coletânea de suas obras (a edição oficial de Weimar) compreende mais de cem enormes volumes. Em certas ocasiões ele conseguia ser rude e malicioso, mas isso não diminui o apelo de seus escritos. Sem Lutero, a Reforma protestante não teria alcançado o sucesso. Foram as noventa e cinco teses que lançaram esse estudioso e monge desconhecido a uma posição de proeminência. Essas proposições não tinham a intenção de ser controversas, mas foram colocadas sob a forma de questionamento. Ele tocou, por exemplo nestes assuntos:

Esse abuso da pregação sobre os perdões não facilita nem para o mais cultos dos homens proteger das calúnias a reverência devida ao papa ou, de um modo geral, dos questionamentos perspicazes dos leigos. Como por exemplo: Por que o papa não esvazia o purgatório por amor à mais santa caridade e à suprema necessidade das almas — sendo esta a mais justa de todas as razões — se ele redime um número infinito de almas por amor àquela que é a mais fatal de todas as coisas, dinheiro para ser gasto na construção de uma basílica — sendo esta uma razão tão pouco importante?

Apesar da cuidadosa escolha de palavras, as teses desencadearam uma grande controvérsia pois não concentravam-se apenas em assuntos morais e teológicos, mas também chamavam a atenção para os abusos econômicos e políticos da Igreja. Lutero enviou cópias das teses para vários conhecidos e para alguns líderes da igreja na Alemanha, incluindo Alberto de Hohenzollen que ele considerava responsável pelo abuso de indulgências. O que ele não sabia era que a campanha de venda de indulgências em 1517 era resultado de um acordo financeiro entre o papado e o príncipe alemão. Alberto era um típico aristocrata que progredia em sua carreira através da Igreja. Ele já era arcebispo de Magdeburg, mas queria acrescentar às suas conquistas a posição de arcebispo de Mainz pois quem tinha esse cargo também era um dos setes eleitores do Sacro Império Romano. Conforme foi observado anteriormente, o império não era governado por direito hereditário, mas sim através da escolha de um imperador dentre um grupo de candidatos. O problema de Alberto era que, ao ter mais de um cargo eclesiástico ele estava cometendo o pecado de pluralismo e portanto era necessário ter uma permissão especial de Roma. Como uma isenção dessa importância exigia o pagamento de uma enorme soma em dinheiro, Alberto e o papa Leão X concordaram que o príncipe da Alemanha faria uma generosa contribuição para a construção da Basílica de São Pedro em Roma. O papa autorizou Alberto a usar dos lucros de uma venda de indulgências

na Alemanha para cumprir sua contribuição. Johann Tetzel era frade dominicano e trabalhava como administrador da campanha. A abordagem extravagante de Tetzel deixava Lutero irado, tendo em vista que ele estava oferecendo às pessoas indulgências “plenárias”, ou seja, a remissão total do purgatório e entrada imediata no céu quando de sua morte. O lema da campanha era particularmente irritante e soava como o produto de uma agência de propaganda moderna: “Cada moeda que retine é uma alma que do purgatório se redime”. Foi para desafiar esse abuso que Lutero afixou as teses para debate. As indulgências eram uma contradição óbvia de sua descoberta que o justo viverá somente pela fé. Os representantes papais, porém, achavam que a prática de indulgências era valiosa demais para ser deixada e começaram a atacar Lutero. Daquele momento em diante o “reformador” alemão e seus oponentes conservadores entraram em rota de colisão. Convencido da veracidade de sua posição, Lutero agitou a opinião pública através de panfletos impressos e livretos escritos na linguagem popular e ilustrados com xilogravuras dramáticas. Em 1518 ele foi convocado a se apresentar diante de uma reunião geral de sua ordem e ganhou muitos de seus companheiros agostinianos para a usa “teologia da cruz”. Logo depois, foi chamado para ir a Roma e responder às acusações feitas contra ele, mas a pedido de Frederico da Saxônia essa solicitação não foi uma convocação obrigatória. Esse eleitor protegeu Lutero em

parte porque tinha orgulho de seu jovem professor de Teologia mas, principalmente porque não gostava da prática de vender indulgências. Isso porque ele queria manter o dinheiro em sua própria terra natal para que pudesse aumentar sua própria coleção de relíquias dos santos e fazer de Wittenberg um importante centro para peregrinos. Esse era um aspecto incomum no homem que apoiou Lutero contra a Igreja tradicional. Então, o caso foi apresentado a um embaixador do papa em Augsburg, mas isso não levou a nada tendo em vista que Lutero recusou retratar-se e ao invés disso apelou para um concílio geral da Igreja cristã. Em 1519, durante um debate com John Eck em Leipzig, Lutero foi forçado a admitir abertamente que muitas das idéias de Jan Hus não eram heréticas e que ele não deveria ter sido condenado. Assim, Lutero reconheceu que não apenas o papado mas também os concílios gerais da Igreja podiam estar errados e que a única base de autoridade oficial eram as Escrituras. Em 1520 uma bula papal condenou sua obra como sendo herética e Lutero respondeu queimando o documento em praça pública. Uma outra bula o excomungou e deixou sua punição por conta das autoridades locais. O imperador Carlos V permitiu que Lutero se defendesse na reunião (ou dieta) de príncipes da Alemanha e governantes territoriais que aconteceu em Worms em 1521. Na assembléia, Lutero reconheceu que alguns de seus livros eram abusivos e outros tratavam de assuntos discutíveis, mas recusou-se a negar suas convicções evangélicas mais

básicas. A menos que eu seja convencido pelas Escrituras ou pela Razão — não aceito a autoridade dos papas e concílios, pois um contradiz o outro — minha consciência é cativa da Palavra de Deus. Eu não posso e não vou voltar atrás em nada, pois ir contra a consciência não é nem certo e nem seguro. Aqui estou, não posso agir de outra forma. Que Deus me ajude, amém.2

Seu discurso foi um grande sucesso entre o povo alemão, mas depois de um período de deliberação, a dieta imperial declarou Lutero e seus seguidores foragidos políticos e ordenou a supressão dos seus ensinamentos. Carlos honrou o passe de salvo-conduto que havia dado a Lutero para que este comparecesse à dieta, mas Frederico, não querendo se arriscar, seqüestrou Lutero quando ele estava voltando para casa. Para sua proteção, foi levado para um castelo isolado em Wartburg, onde passou quase um ano escondido. O tempo livre do qual Lutero gozava depois de uma vida agitada o levou a ficar deprimido e a questionar sua posição contra a Igreja. Uma declaração de Eck voltou para perturbar Lutero: “Como você pode afirmar ser o único a entender as Escrituras? Será que tantos séculos estiveram errados? E se você está enganado e levando tantos outros junto para a perdição eterna? "3 Até o diabo apareceu para escarnecê-lo, pelo menos foi o que ele pensou e jogou no fantasma seu vidro de nanquim. Ao perceber que precisava de algum projeto para preencher suas horas de

solidão, ele transformou o período de dúvidas sobre si mesmo em um tempo de grande realização ao traduzir a Bíblia para o alemão. Lutero baseou-se fortemente no Novo Testamento em grego anotado de Erasmo e trouxe a Bíblia para o leitor através de seu estilo vigoroso e clareza de expressão. Como ele mesmo colocou: “Quando traduzo Moisés... quero fazê-lo tão alemão que ninguém saberá que ele era judeu”. O resultado foi uma versão que podia ser compreendida tanto pelo homem humilde do mercado quanto pelos estudiosos cultos da universidade e com eficácia ela consolidou o alemão como linguagem literária. Lutero foi confrontado por uma nova crise quando voltou a Wittenberg. Durante sua ausência seus seguidores haviam alterado radicalmente a forma dos cultos, destruído relíquias, imagens e quadros e danificado propriedades da Igreja — tudo isso em nome do evangelho. Ele respondeu com uma série de sermões nos quais insistiu que pode-se continuar qualquer prática religiosa desde que ela não seja condenada especificamente pelas Escrituras. Seus discípulos mais zelosos reagiram negativamente a essa posição conservadora e disseram que era permitido fazer o que era ordenado pela Bíblia. Essas discussões levaram Lutero a trabalhar mais junto com as autoridades locais a fim de construir uma nova Igreja para substituir o Catolicismo que estava desmoronando na Alemanha. A fim de oferecer pastores para as igrejas “evangélicas” (o termo usado pelos luteranos), ele contou com a Universidade de Wittenberg onde continuou a lecionar. Muitas pessoas ajudaram-no nessa

tarefa, sendo a de maior destaque Paul Melanchthon (1497-1560), um estudioso clássico que foi seu mais leal apoio e companheiro constante. Melanchthon foi nomeado professor de grego e hebraico em Wittenberg quando tinha apenas 21 anos de idade e sua mente sistemática e analítica foi de grande utilidade no processo de esboçar as declarações da doutrina luterana, como a confissão de Augsburg de 1530. Em 1521 o desenvolvimento teológico de Lutero, em sua essência, estava completo; suas obras posteriores amplificavam e esclareciam as idéias originais. Os principais pontos de sua teologia foram resumidos em três obras escritas em 1520. A primeira Discurso à Nobreza Cristã da Nação Alemã, argumentava que as autoridades civis deveriam reformar a Igreja pois a hierarquia jamais permitiria mudanças que ameaçassem sua posição privilegiada. Ele não apenas apoiava a liderança leiga em geral como também fazia várias propostas específicas, incluindo a afirmação da necessidade do clero de se casar, ressaltando a necessidade do governo de alimentar os pobres, pedindo a paz com os hussitas e abolindo a prática ultrapassada das missas. Num comentário profético ele instou que os hereges deveriam ser convencidos a mudar suas idéias através de livros e discussões e não pela perseguição, de outro modo “o carrasco seria o homem mais culto do mundo e não haveria a necessidade de estudar”. O segundo tratado O Cativeiro Babilônio da Igreja era um ataque ao sistema sacramental da Igreja romana. Lutero aceitava apenas dois

sacramentos, o batismo e a ceia, e rejeitava os outros cinco pois seu cumprimento não era ordenado por Cristo numa declaração específica na Bíblia. No terceiro livro Liberdade de um Homem Cristão, ao mesmo tempo em que se opunha à tirania papal, Lutero advertia os crentes que não ignorassem os aspectos éticos da vida cristã. Lançando mão do ensinamento de Paulo aos Gálatas, ele aconselhava os cristãos a não cair em extremos de legalismo ou hedonismo. Explicava que a vida cristã deve ser caracterizada pela fé e o amor. Um crente é senhor de todos e não está sujeito a ninguém através da fé, mas é servo de todos e está sujeito a todos por causa do amor. A fé prende o cristão a Deus e o amor o prende aos outros cristãos. Uma pessoa deve nascer de novo em Cristo antes que possa fazer boas obras, pois elas são resultado de uma vida de fé. Conforme está escrito em Mateus 7.18: “Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons”. O ano de 1525, quando Lutero envolveu-se em duas controvérsias — uma com Erasmo e a outra com Thomas Müntzer — foi um ponto crítico da Reforma. Durante vários anos, humanistas como Erasmo tinham recebido bem as atividades reformadoras de Lutero, mas depois de 1521 a maioria deles começou a pensar que ele havia ido longe demais e, de alguém que queria dar conselhos amigáveis à Igreja, havia se transformado em um inimigo da fé tradicional. Em 1524, o abismo havia crescido tanto que Erasmo rejeitou o ponto de vista luterano sobre a graça em seu Ensaio Sobre o Livre Arbítrio. Ele afirmou que as

Escrituras apoiavam a posição católica de que a salvação é alcançada através da fé e das obras; advertiu Lutero para que fosse menos dogmático e mais pronto a aceitar ser corrigido. Enfurecido, o reformador respondeu com sua obra Servidão do Arbítrio (1525), que enfatizava a depravação humana e condenava o humanista holandês. O debate mordaz com Erasmo sobre o livre arbítrio relevou exatamente quanto apoio dos humanistas Lutero havia perdido. O problema com Müntzer foi ainda mais sério para o futuro da Reforma. Essa controvérsia surgiu de uma iniciativa para melhorar as condições dos camponeses da Alemanha que, assim como seus iguais em outras parte da Europa do século 16, eram abusados e explorados sem piedade por seus senhores. Alguns desses pobres coitados escreveram suas frustrações na obra Os Doze Artigos dos Camponeses da Suábia. Eles exigiam o direito de escolher seus próprios pastores; de ser liberados de impostos exorbitantes, dízimos e aluguéis; de poder caçar, pescar e cortar lenhas das florestas comunitárias. Incentivados pela posição desafiadora de Lutero em relação às autoridades eclesiásticas e por suas declarações sobre a igualdade de todos diante de Deus, eles imaginaram equivocadamente que ele iria apoiar sua causa. Liderados por Thomas Müntzer (1489-1525) — que havia sido seguidor de Lutero e que acreditava que a Segunda Vinda estava próxima e que os perversos precisavam ser destruídos a fim de preparar o caminho para o Senhor — camponeses armados atacaram seus senhores da classe

alta como se fossem inimigos de Deus. Em sermões desafiadores e desvairados, Müntzer exortava os camponeses: “Ataquem enquanto o ferro está quente” e “não deixem suas espadas esfriar! Não deixem que enfraqueçam!” Movidos por esses conselhos eles saquearam igrejas, destruíram castelos e ameaçaram a própria estrutura da sociedade. À medida em que a rebelião se espalhava, os ânimos iam ficando ainda mais exaltados e muitos exigiam a propriedade comum de todas as terras. A reação ríspida de Lutero à revolta foi coerente com suas declarações anteriores. Apesar de ter acusado os senhores de corrupção e crueldade e havê-los instado a parar de oprimir os camponeses, ele jamais havia favorecido a revolução social. Ele não acreditava ser possível reformar a Igreja e a sociedade ao mesmo tempo. Só a idéia de uma conturbação social era suficiente para assustá-lo. Em sua ira, Lutero respondeu com um panfleto extremamente infeliz, Contra as Hordas de Camponeses Bandidos e Assassinos, no qual ele os acusou com declarações mordazes. Aconselhou os governantes a “espancar, apunhalar e matar, em segredo ou abertamente, lembrando que nada era mais venenoso, nocivo ou diabólico do que um rebelde. Era como quando deve-se matar um cão raivoso; se você não atingi-lo ele atacará você bem como todas as suas terras.” Os senhores, que dificilmente precisariam desses conselhos do reformador, reprimiram brutalmente a revolta em Frankenhausen em 1525. O massacre no campo de batalha e as represálias que se seguiram

resultaram na morte de vários milhares de pessoas humildes. Apesar de Lutero nunca ter balançado em sua posição de apoio à hierarquia social, os camponeses sentiram que ele os havia traído. Depois de 1525, o movimento evangélico passou a depender ainda mais dos governantes, que tornaram-se elementos de importância crucial para a continuação da Reforma na Alemanha. Eles até chegaram a dar o nome de “Protestantismo” ao novo movimento quando eles “protestaram” contra uma ação tomada pela dieta de Speyer (que era predominantemente católica) em 1529, a qual discriminava os praticantes da fé evangélica. O mesmo ano do rompimento com os humanistas e da Guerra dos Camponeses, foi decisivo para a vida pessoal de Lutero. Foi nessa época que ele casou-se com Katherine von Bora, uma ex-freira que ele ajudou a fugir do convento. Apesar de Lutero ter entrado nessa união com relutância, ele encontrou grande felicidade ao lado de “Katie”. Seu relacionamento serviu de padrão para a definição protestante de casamento, a qual ele chamou apropriadamente de “escola do caráter”. O período seguinte na vida do reformador foi tomado por uma discussão com Ulrico Zuínglio sobre o significado da Santa Ceia. Ela culminou no Colóquio de Marburg em 1529, que realizou-se com a intenção de eliminar o abismo que havia se formado dentro da Reforma, especialmente porque o Catolicismo estava voltando a ganhar forças. Lutero participou das reuniões com certa restrição, pois acreditava que as diferenças em relação ao reformador suíço eram irreconciliáveis. O

principal assunto envolvia a questão de Cristo estar ou não fisicamente presente na Eucaristia. Como já se esperava, eles não chegaram a um acordo e o princípio da divisão da Igreja, tão característico do Protestantismo mais tarde, havia mostrado seu rosto cruel. Durante as controvérsias, Lutero continuou a lecionar, escrever e exercer a liderança da Reforma alemã. Quando as negociações com os católicos foram rompidas depois da Dieta de Augsburg em 1530, os príncipes protestantes formaram uma aliança defensiva, a Liga de Smalkalda o que significou resistência armada ao imperador. Apesar da adulação de seus alunos, colegas e outros líderes da Igreja, em seus últimos anos estava sempre presente a sombra dos conflitos entre luteranos e as conseqüências de ter aconselhado Filipe de Hesse dizendo que a bigamia era permissível em certas épocas. A compreensão de que tomar as Escrituras como base não evitava diferenças acentuadas de interpretação, a contínua luta contra Roma e o impacto debilitante de uma doença levaram ao tom amargo de muitas de suas últimas publicações, especialmente aquelas contra o papado e os judeus. Na pior delas, Lutero recomendou que todos os judeus fossem deportados da Europa para a Palestina. Se isso não pudesse ser feito, então deveriam ser proibidos de dedicar-se ao comércio e forçados a ganhar a vida através da agricultura. Ele insistiu que as sinagogas deviam ser queimadas e os livros judaicos destruídos. Quando Lutero faleceu em 1546, a Reforma perdeu seu líder mais

prestigioso. Além disso, não só o Luteranismo havia fracassado em ganhar a Igreja, mas também os reformadores suíços, as cidades do sul da Alemanha e os anabatistas haviam criado sua própria versão da Reforma, enquanto os próprios luteranos se desintegravam por causa das divergências. Ainda assim, na metade do século o Luteranismo havia se tornado a principal fé na Escandinávia. Tendo em vista que esses povos deviam muito de seu legado cultural ao norte da Alemanha, não é de se surpreender que um movimento religioso alemão tivesse sido bem recebido por eles.

Protestantismo reformado Apesar de Lutero ter oferecido a faísca que acendeu o fogo da Reforma protestante, naquela época houve outros impulsos em direção às mudanças religiosas. Um deles foi na Suíça, que era então um conjunto flexível de cidades e pequenos estados chamados de “cantões”. Um dos primeiros suíços protestantes, Ulrico Zuínglio (1484-1531), estudou com alguns humanistas em Viena antes de tornar-se sacerdote em Zurique. Lá ele rejeitou os aspectos mais aristocráticos do Humanismo e começou a criticar os abusos em sua própria Igreja. Porém, nunca abandonou completamente sua antiga instrução e as mudanças que ele trouxe para a Igreja misturavam a devoção prática de Erasmo com o biblicismo de Lutero. Ele também estava mais disposto a deixar a tradição e agir política e militarmente a fim de defender a sua versão do Cristianismo.

Assim, Zuínglio combinou Humanismo, Teologia e radicalismo. A ocasião para a sua ruptura com Roma apresentou-se quando ele começou a defender que se comesse carne durante a Quaresma. Ao fazêlo, levantou uma série de questões sobre as regras e práticas da Igreja e o concílio da cidade de Zurique convocou um debate formal para resolver a controvérsia. Realizado em 1523, o debate entre Zuínglio e os católicos resultou numa vitória de Zuínglio. Uma segunda controvérsia naquele mesmo ano levou à destruição de imagens nas igrejas e ao fim da reza de missas. Apesar de ter sido inspirado por Lutero, conforme foi mencionado anteriormente, ele seguiu um caminho diferente do reformador alemão no tocante ao significado da Santa Ceia. Zuínglio não apenas exerceu influência na Suíça como também comandou um grupo de seguidores do sudoeste da Alemanha. Mas ele saiu repentinamente de cena quando em 1531 foi morto durante uma batalha entre os católicos e protestantes na Suíça. Apesar de seus sucessores terem sido pessoas competentes como Heinrich Bullinger em Zurique, John Oecolampadius e Oswald Myconius na Basiléia e Martin Bucer em Estrasburgo, a liderança da Reforma na Suíça e no sul da Alemanha foi passada para outro em Genebra: João Calvino. A mais poderosa força da segunda geração de reformadores, Calvino (1509-1564) não era de origem suíça, mas sim francesa. Filho de um tabelião em Noyon, na Picardia, ele começou a estudar Direito por insistência de seu pai. Mas então o pai faleceu e o jovem estava livre para

dedicar-se ao seu primeiro amor, a saber, os estudos literários humanistas. Ele chegou até a escrever um comentário da obra Sobre a Clemência do filósofo estóico Sêneca. A argumentação do livro em favor da existência de uma providência sobrenatural e onipotente havia impressionado profundamente o jovem estudioso. Por identificar-se com a causa da Reforma religiosa, a carreira de Calvino como acadêmico da Renascença não durou muito. Idéias luteranas haviam se espalhado entre os estudantes universitários franceses e, em 1553, desenvolveu-se uma importante controvérsia entre conservadores e reformadores. Depois de um período de indecisão, o rei Francisco I apoiou os conservadores pois ele temia que os protestantes fossem uma ameaça à segurança nacional. Como Calvino havia aderido ao novo movimento religioso, teve que deixar a França para morar na Basiléia. Nessa época ele já havia se convertido a Cristo, mas sua experiência parecia um tanto prosaica se comparada com a de Lutero. Não houve nenhum drama ou grande trauma emocional como o que acompanhou a mudança de rumo do reformador alemão. Calvino simplesmente desenvolveu uma convicção absoluta da onipotência de Deus e de que ele havia sido escolhido para fazer o reino de Deus crescer na terra. Porém, uma coisa estava clara. Mesmo depois de sua conversão, a combinação de educação legal e humanista que ele havia recebido seriam determinantes para a expressão escrita e para a metodologia de seu estudo da Bíblia.

Calvino foi profundamente influenciado por Lutero e concordava com grande parte de sua teologia. Suas diferenças surgiam da forma como Calvino se apoiava mais no Antigo Testamento e de sua crença na dupla predestinação. Seguindo os passos de Agostinho de Hipona, ele enfatizava a majestade de Deus e o completo desamparo da humanidade perante o Senhor. Numa tentativa de responder à pergunta feita por todo o cristão que já tentou compartilhar o evangelho com outros — a saber, por que alguns crêem na Palavra e outros a rejeitam — Calvino ensinava que Deus oferece o dom da fé para alguns e o nega para outros. De acordo com Efésios 1.4, essas decisões foram tomadas antes da fundação do mundo e não podem ser mudadas. Apesar de ser verdade que Cristo morreu por todos, ele intercede junto ao Pai apenas por aqueles que foram eleitos para a salvação. Para os que compartilhavam de tal segurança, a predestinação criava um senso de propósito missionário e um desejo de enfrentar qualquer poder do mundo que se opusesse aos planos dos eleitos de Deus. Com efeito, essa crença incentivou os povos da Holanda a rebelarem-se contra seu governante espanhol e levou a importantes transformações de religião e governo em vários outros países. Calvino apresentou sua teologia naquela que viria a ser a declaração clássica do pensamento protestante, as Institutas da Religião Cristã,1 sendo que a primeira edição foi publicada em 1536. Ela revelava 1

Ou, A Instituição da Religião Cristã, obra publicada em português pela Editora Cultura Cristã (N. do E.).

que o Protestantismo tinha um novo líder que possuía um domínio impressionante das Escrituras e dos Patriarcas da Igreja. Ao longo dos anos, de tempos em tempos ele revisou e expandiu sua obra mas a estrutura básica não foi alterada. A obra oferecia uma firme declaração de fé à qual seus seguidores podiam voltar-se em sua luta contra os católicos. Durante uma breve anistia, Calvino voltou para a França mas foi logo forçado a fugir mais uma vez. Com a intenção de ir para Estrasburgo, onde os protestantes eram bem-vindos, ele parou rapidamente em Genebra em 1536. Guilherme Farel, um sacerdote local, reconheceu-o em um dos cultos e desafiou-o a ficar lá e ajudá-lo na reforma religiosa daquela cidade. Com exceção de uma estadia de três anos em Estrasburgo (1538-41), Calvino passou o resto de sua vida em Genebra onde realizou um amplo programa de reforma e consolidou uma comunidade protestante exemplar. A igreja de Genebra serviu de modelo para os calvinistas, que já possuíam centros na França, oeste da Alemanha, Países Baixos, Escócia, Inglaterra, Polônia e Hungria. O tipo de Protestantismo de Calvino era conhecido como “reformado”. Diferia do sistema luterano no sentido de que a Igreja era uma instituição paralela ao Estado e não subordinada a ele. A Igreja era uma organização independente que mantinha sua vida própria e usava sua posição para corrigir o Estado quando necessário. Calvino rejeitava o ofício de bispo (que foi mantido em várias formas de Luteranismo) e o

substituiu por um governo formado de um conjunto de assembléias cuidadosamente estruturadas (mais tarde chamadas de classes ou presbitérios) que incluía tanto ministros quanto leigos. As igrejas reformadas davam grande ênfase à disciplina eclesiástica pois reconheciam que a Igreja incluía a sociedade como um todo, os eleitos bem como os condenados. À medida em que refugiados protestantes foram reunindo-se em Genebra, Calvino começou a dar palestras para instruir esses indivíduos sobre a fé reformada. Essas aulas informais levaram à fundação da Universidade de Genebra, que tornou-se o centro intelectual do Protestantismo. Os pastores que ali recebiam treinamento eram enviados de volta para seus lugares de origem a fim de pregar o evangelho. Como disse Calvino: “Enviem madeira para mim e eu mandarei flechas de volta”. Um dos primeiros destinos dos missionários calvinistas foi a França e, em 1555, congregações de huguenotes, como eram chamados os reformadores franceses, já estavam presentes por toda a parte. Naquele mesmo ano eles encontraram-se em Paris para fundar uma organização nacional e fazer o esboço de uma confissão de fé. Em 1562 muitos nobres havia se tornado huguenotes, dando à fé uma característica aristocrática e subversiva, conforme as Guerras Religiosas logo demonstraram. Na Holanda o Calvinismo foi introduzido por missionários da França e de Genebra. A Confissão Belga foi adotada em 1566 e a

aceitação da fé reformada levou a uma longa guerra contra os espanhóis pela independência. A Escócia foi ganha para o Calvinismo em grande parte pelos esforços de John Knox (cerca de 1514-72). Treinado em Genebra pelo próprio Calvino, o “escocês trovejante” liderou uma incansável e, finalmente, vitoriosa cruzada contra os nobres católicos e o governo de Mary, Rainha dos Escoceses. Ele conseguiu alcançar um alto grau de conversão à fé reformada em todo o reino. O Calvinismo também influenciou profundamente a teologia da Igreja da Inglaterra e serviu de base para o pensamento puritano.

A Reforma inglesa Em muitas aspectos, a Reforma inglesa foi um movimento independente, resultante da iniciativa do rei, apesar de que, durante a década de 1520, diversos estudiosos das Universidades de Oxford e Cambridge demonstraram grande interesse nas idéias de reforma de Lutero. Um dos mais importantes elos intelectuais entre a Inglaterra e os luteranos da Alemanha foi William Tyndale. Sua importância se deve aos muitos panfletos que escreveu e à sua brilhante tradução do Novo Testamento. Além disso, alguns remanescentes dos seguidores de Wycliffe tinham sobrevivido e continuavam a espalhar seus ensinamentos contra o papa. Porém, a Reforma na Inglaterra não foi, em seus primeiros estágios, anticatólica, mas resultou do desejo de Henrique VIII de ter um herdeiro do sexo masculino. Apesar de manter o

rompimento com Roma, a seu próprio ver, ele era católico. Mas depois de 1534 não havia lugar para um papa em sua versão da fé cristã. Henrique desejava o divórcio de sua esposa, Catarina de Aragão, tendo em vista que depois de dezoito anos de casamento sua única criança era uma menina, Mary. Nenhuma mulher havia se assentado no trono da Inglaterra há séculos e tendo em mente as memórias de brutais guerras civis do século anterior, Henrique sentia que era essencial ter um governante masculino. Além de querer determinar uma sucessão ordeira, sua afeição por Catarina havia se transformado em aversão, tendo em vista que ele estava apaixonado por Ana Bolena, uma jovem dama de companhia da rainha. Talvez para racionalizar os seus atos, ele tinha passado a acreditar que seu casamento era errado. Catarina era viúva de seu irmão mais velho e eles haviam se casado por motivos diplomáticos. A Lei Eclesiástica, baseada em textos das Escrituras como Levítico 20.21, proibia esse tipo de união, mas o papa havia concedido permissão especial para o casamento. Em 1527 Henrique pediu ao papado uma anulação, mas pelo fato de Catarina ser tia de Carlos V, cujas tropas ocupavam Roma naquele tempo, nenhuma atitude foi tomada. Uma pessoa impaciente e determinada, Henrique decidiu que já havia esperado o suficiente. Crente de que a Inglaterra havia sido sempre um lugar onde o rei não tinha superiores a não ser o próprio Deus, ele considerou desnecessária a aprovação do papa para seu divórcio tendo em vista que ela podia ser

concedida pela igreja inglesa. Assim, em 1533, Thomas Crammer, arcebispo de Canterbury, anulou o casamento e validou a união secreta já existente com Ana Bolena. O papa reagiu declarando a excomunhão de Henrique. Por isso, os católicos também consideraram ilegítima a filha de Henrique e Ana — Elizabeth. Em 1534, a adoção da Lei de Supremacia, que tornava o rei — e não o papa — “o único líder supremo no mundo da Igreja da Inglaterra”, mostrou o rompimento definitivo com Roma. Apesar da maioria dos ingleses ter aceito a divisão sem protestos, alguns como Sir Thomas More, o brilhante humanista e autor de Utopia, recusaram-se a renunciar a lealdade a Roma e conseqüentemente foram decapitados por traição. Muitas das mudanças que se seguiram na Igreja tinha a aprovação das classes mais influentes, especialmente a dissolução dos mosteiros. Depois que um relatório os acusou de corrupção, em 1536 e 1537 eles foram fechados e suas propriedades confiscadas, dando assim ao governo uma fonte adicional de renda e eliminando possíveis núcleos de oposição católica. Muitas propriedades monásticas foram doadas ou vendidas por valores irrisórios para as classes mais altas fazendo delas, desse modo, simpatizantes do rompimento com Roma. Mesmo tendo o rei se tornado líder da Igreja da Inglaterra, suas doutrinas e práticas em grande parte continuaram as mesmas. Apesar de algumas inovações, como a existência de uma Bíblia em inglês em cada paróquia para ser usada pelos leigos, Henrique reafirmou a crença e as

práticas católicas na Lei dos Seis Artigos (1539). Essa lei aprovada pelo Parlamento a pedido do rei, confirmava a transubstanciação, o celibato do clero, as missas particulares e as confissões. Henrique continuou sua busca por um herdeiro e finalmente sua terceira esposa deu-lhe um filho, Eduardo VI, que o sucedeu no trono em 1547, com 10 anos de idade. Um garoto sempre doente, Eduardo governou através de conselheiros que eram predominantemente protestantes. O novo regime cancelou a Lei dos Seis Artigos, tornou o inglês a língua oficial dos cultos e permitiu o casamento do clero. Para substituir a liturgia católica, Cranmer produziu o Book of Common Prayer [Livro Comum de Orações]. Ele era escrito num inglês belo e imponente e, numa segunda edição, expressava claramente a doutrina protestante. No breve reinado de Eduardo, a Inglaterra mudou do Catolicismo para o Protestantismo reformado. Essa tendência, porém, foi revertida depois que Eduardo faleceu em 1553 e sua sucessora, Lady Jane Grey, foi executada. Mary Tudor subiu ao trono. Como filha de Catarina de Aragão, sua grande ambição era levar a Inglaterra de volta para a Igreja Católica. Ela forçou a aprovação de leis no Parlamento que revertiam as mudanças feitas por seu pai e seu irmão e, teoricamente, a Inglaterra voltou a ser católica. Na verdade, porém, a situação havia mudado de maneira tão drástica que Mary não conseguiu fazer voltar o relógio. Um dos grandes obstáculos era a falta de fundos para projetos como a reabertura dos mosteiros. Até mesmo a

rainha sabia que essas terras não podiam ser tomadas de seus proprietários influentes. Ela também perdeu o apoio dado aos monarcas Tudor quando casou-se com Filipe II da Espanha, o qual os ingleses repugnavam. Outro de seus erros foi perseguir os protestantes. Mais de trezentas pessoas, incluindo o arcebispo Cranmer, foram queimadas nas fogueiras. Essas execuções conferiram a ela o apelido de “Mary a Sanguinária”, como indicação do desprezo que seus súditos lhe votavam. Os protestantes que fugiram para o continente, os chamados exilados marianos — como John Foxe, autor do Book of Martyrs [Livro dos Mártires] — certificaram-se de que o povo jamais esquecesse daqueles que haviam perecido por causa de sua fé. Mary morreu em 1558, amarga e desanimada, sabendo que sua meia-irmã Elizabeth seria sua sucessora ao trono. Quer Elizabeth desejasse ser protestante ou não, as circunstâncias a forçaram a tomar uma posição reformada. Apesar dos católicos considerarem-na ilegítima e, portanto, sem direito de ser rainha da Inglaterra, ela permitiu uma pequena diversidade religiosa para o bem da unidade nacional. Quando os exilados marianos voltaram para casa e ajudaram a restaurar o Protestantismo, o rompimento com Roma foi renovado e o livro de orações de Cranmer voltou a ser usado. Porém, o acordo religioso de 1559 foi cuidadosamente ponderado de modo que aqueles de preferência católica não fossem deixados de fora

desnecessariamente. Elizabeth foi declarada “Suprema Governadora da Igreja” ao invés de “Suprema Líder” para evitar ofender aqueles que achavam que uma mulher não podia ser líder da igreja ou acreditavam que seu líder era o papa ou Cristo. Quanto ao ministério, os cargos tradicionais católicos de bispos, sacerdotes e diáconos foram mantidos. Em 1571 o Parlamento aprovou uma declaração de fé essencialmente protestante, os Trinta e Nove Artigos. Uma obra-prima de ambigüidade calculada, trata-se de um sumário das crenças anglicanas que continua sendo oficial até hoje. Em resumo, a Igreja da Reforma inglesa foi um tanto anômala devido à sua união da doutrina reformada com uma estrutura católica medieval não-reformada.

A Reforma radical Alguns entusiastas do movimento evangélico, pessoas que a princípio aprovavam as idéias de Lutero e Zuínglio, desejavam mudanças mais radicais do que aquelas que os principais reformadores haviam considerado sábias ou até mesmo possíveis. Eles eram normalmente chamados de anabatistas por causa de suas idéias sobre o batismo, mas na verdade faltava coesão aos grupos e eles constituíam uma porção de seitas pequenas e divergentes. Porém, pode-se fazer algumas generalizações úteis a seu respeito. Os anabatistas ensinavam que a Igreja “visível” deveria incluir somente aqueles que haviam experimentado a regeneração através da fé em Jesus Cristo e testemunhado publicamente

sua fé através do “batismo do crente”. Tendo em vista que é preciso compreender a mensagem cristã a fim crer, só eram batizados aqueles com idade suficiente para ter consciência do que estavam fazendo. Como eles já haviam sido batizados quando criança, os críticos os chamavam de anabatistas, pessoas que praticavam o re-batismo. Mas do ponto de vista desses crentes, o batismo infantil não tinha valor. Os anabatistas também eram pessoas profundamente morais e éticas que, em grande parte, insistiam na primazia das Escrituras e na separação entre a Igreja e o Estado. Além disso, repudiavam o conflito armado, a pena capital e prática de juramentos. A maioria dos cristãos dessa época ainda considerava o batismo das crianças como um sacramento muito importante e o rito de iniciação na Igreja que incluía todos dentro dos limites do Estado. Além disso, mesmo que alguns de seus líderes fossem extremamente cultos, a maioria dos anabatistas pertencia às classes mais baixas. Em decorrência disso, eram vistos como radicais anti-sociais e perseguidos tanto pelos luteranos e reformados como pelos católicos. Apesar do castigo cruel ao qual eram submetidos, eles continuaram a confessar sua fé pois acreditavam que os verdadeiros cristãos devem esperar ser maltratados pelas autoridades seculares. Os anabatistas apareceram pela primeira vez em 1523 entre os seguidores de Zuínglio em Zurique. Dois de seus líderes eram Conrad Grebel e Felix Manz cujo sucesso em ganhar convertidos exasperava os

líderes das cidades. Manz foi executado por afogamento (um cínico “rebastismo”) e Grebel, juntamente com seus seguidores, foi exilado. Aqueles que ficaram na Suíça tornaram-se clandestinos, permitindo que o movimento sobrevivesse até o século seguinte, enquanto os refugiados espalhavam o anabatismo para o sul da Alemanha e Morávia. Estrasburgo foi o centro do movimento de 1527 a 1533 quando Martin Brucer, o líder da igreja protestante daquela cidade ficou apreensivo com os separatistas e ordenou que fossem expulsos. Um dos que trabalhavam lá era Melchior Hoffmann (1500-43), que afirmava ser uma das duas testemunhas de Apocalipse 11.3 e conclamava os anabatistas a deixar o pacifismo e estabelecer o reino de Cristo à força. Apesar de ele ter sido preso, um de seus discípulos — Jan Matthys — liderou um grupo até Münster, na Westphalia, onde sua pregação fez tanto sucesso que eles ganharam o controle da cidade inteira e forçaram o rebatismo dos moradores. Afirmando ser Enoque, enviado a fim de preparar o caminho para Cristo, Matthys fundou uma ordem comunitária e introduziu um novo código de leis. Depois de sua morte em combate em 1534, John de Leiden proclamou-se Rei de Sião, introduziu a poligamia e matou ou expulsou aqueles que não se submeteram a ele. Isso perturbou tanto os luteranos e também os católicos que eles uniram forças para sitiar a cidade. Apesar de uma defesa heróica, ela foi capturada em 1535 e a maioria dos habitantes de sexo masculino foi executada com uma crueldade reservada aos revolucionários sociais. Os

corpos dos líderes chegaram a ser colocados em jaulas de ferro e penduradas na torre da igreja. Esse episódio não só deu ao movimento má fama como também ofereceu uma desculpa para outras perseguições. Porém, o remanescente espalhado e desprezado renunciou a todas as formas de violência e passou a viver de modo simples, tranqüilo e humilde. Seu mais importante novo líder foi um sacerdote holandês, Menno Simons. Convertido em 1536, ele juntou os anabatistas desanimados que viviam nos Países Baixos e norte da Alemanha. Enfatizando o pacifismo e a demonstração de uma vida de fé através das boas obras, ele organizou seus seguidores em comunidades cristãs que eram separadas das instituições sociais e políticas seculares. Para ele, o foco da vida cristã era a Igreja e não o Estado; os cristãos deveriam estar no mundo, mas não ser do mundo. Eles ficaram conhecidos como menonitas e prosperaram apesar de seu sofrimento. Numa certa ocasião, constituíam dez por cento da população da Holanda. Então, migraram para a Europa oriental e mais tarde para a Rússia e o Novo Mundo. Outro núcleo de anabatistas foi a Morávia onde Balthasar Hubmaier e Jacob Hutter representavam as duas alas do movimento. Hubmaier, o mais importante intelectual entre os anabatistas, havia sido aluno de John Eck e professor na Universidade de Ingolstadt antes de sua conversão em 1525. Depois de deixar o sacerdócio ele assentou-se na Morávia. Lá ele converteu e batizou dois importantes nobres que, em troca, permitiram que ele pregasse em seus territórios. Ele ganhou centenas de convertidos

para Cristo e escreveu vários panfletos que mostravam de modo competente a posição dos anabatistas. Entre os que se juntaram a ele estava Hans Hut, um defensor dos bens comunitários e do pacifismo. Pelo fato dos seguidores de Hubmaier não aceitarem o pacifismo de Hut e sua rejeição da sociedade contemporânea, ocorreu uma cisão entre os anabatistas morávios. Enquanto isso, os Habsburgos católicos assumiram o controle da Morávia e eliminaram tudo o que consideravam heresia. Com a execução tanto de Hubmaier quanto de Hut, parecia que o movimento estava acabado. Porém, Jacob Hutter, que ofereceu liderança durante os anos cruciais de 1533-36, salvou o assentamento morávio da destruição. Ele organizou os irmãos em congregações unidas, com a posse comum de bens baseada na prática da Igreja apostólica conforme registrado em Atos 5. Os hutteritas, como eram chamados, tornaram-se uma comunidade viável, socialmente coesa e ativa. Apesar do próprio Hutter ter sido martirizado e do movimento ter passado por tempos difíceis, ele continua sendo um dos sobreviventes dos anabatistas de mais sucesso. Da Morávia os hutteritas dirigiram-se para a Europa oriental e acabaram indo para a América do Norte, mantendo sempre suas instituições comunitárias. Dois outros grupos da Reforma radical dignos de menção foram os espiritualistas e os evangélicos racionalistas. Os primeiros rejeitavam as formas externas de religião e enfatizavam a comunhão interior com o Espírito Santo. Seu líder, o nobre silesiano Caspar Schwenkenfeld (1490-

1561) ensinava que os crentes autênticos deviam sair da Igreja e formar grupos de oração dos verdadeiramente regenerados. Ele pedia aos seus seguidores que se tornassem ávidos estudiosos da Bíblia apesar de não insistir que fossem batizados novamente. Um vestígio dos Schwenkenfelders ainda existe na Pensilvânia. O segundo grupo, dos evangélicos racionalistas, rejeitava as doutrinas tradicionais da Trindade e da Divindade de Cristo. Um adepto de destaque foi Miguel Servetus que foi executado por heresia em Genebra. Na Polônia e Europa oriental a teologia racionalista foi institucionalizada pela influência de Faustus Socinus (1539-1604). Os socianos organizaram suas igrejas dentro das linhas calvinistas, mas deram menos ênfase à disciplina eclesiástica. Perseguições lideradas pelos jesuítas levaram à sua expulsão da Polônia em 1658 mas um remanescente sobreviveu na Transilvânia sob o domínio turco. O unitarismo moderno está intelectualmente ligado aos socianos.

A Reforma católica Na década de 1540 o Catolicismo romano parecia ser uma fé em extinção. Os protestantes haviam convertido a maior parte da Alemanha e aparentemente, governantes de outras partes da Europa estavam seguindo o exemplo de Henrique VIII e fundando igrejas nacionais. Mas, por causa da Reforma católica (também conhecida como ContraReforma), isso não aconteceu.

Ao invés disso, a renovação liderada por um papado regenerado que enfatizava a liderança espiritual e diversas novas ordens religiosas permitiram a Roma responder à altura ao desafio protestante. No redemoinho revolucionário causado por Lutero é fácil esquecer que o sucesso protestante nunca foi mais do que parcial. Apesar de ter ficado profundamente abalado, o papado era de uma resistência surpreendente. Por ironia, o papa saiu dessa luta com mais controle sobre o território que havia lhe restado do que seus predecessores haviam tido sobre toda a igreja ocidental. A Reforma dividiu a Igreja mas forçou Roma a organizar-se para a guerra, o que significou dar mais poder para seus líderes. Entre as ordens religiosas que trabalharam na reforma estavam os barnabitas, capuchinhos, teatinos, carmelitas (sendo seus principais destaques Teresa d’Ávila e João da Cruz, figuras excepcionais do misticismo) e, acima de tudo, os jesuítas. Inácio de Loyola (1491-1556), o fundador dos jesuítas (Sociedade de Jesus) que era do país basco no noroeste da Espanha, entrou para o serviço militar do rei espanhol. Em 1521, enquanto lutava numa guerra contra a França, Loyola foi gravemente ferido na perna por uma bala de canhão. Durante sua recuperação, ele leu um livro de devocionais que mudou sua vida e o inspirou a tornar-se um soldado de Cristo. Ele entrou para um mosteiro onde passou quase um ano realizando práticas ascéticas, tendo visões místicas e compondo a essência de seu grande manual sobre a guerra

espiritual, Os Exercícios Espirituais. Depois de uma peregrinação em Jerusalém e de estudos na Espanha, em 1528 ele entrou para a Universidade de Paris onde atraiu diversos companheiros que estudaram os Exercícios e se empolgaram com seus ideais. Depois de completar seus estudos, Loyola e seis colegas fizeram votos de viver em pobreza, castidade e servindo na Terra Santa ou, se isso não fosse possível, ir a qualquer lugar aonde o papa os enviasse. Como uma guerra no Oriente os impediu de ir para Jerusalém, eles fizeram uma petição ao papa Paulo III que em 1540 aprovou seu pedido de tornar-se uma ordem da Igreja. Em 1548, eles escolheram Loyola como “general” da Sociedade de Jesus. Ele deu ao grupo uma “Constituição” que criava uma estrutura paramilitar tendo como principais idéias a obediência, disciplina e eficiência. Ao contrário de outras ordens religiosas, os jesuítas faziam um quarto voto que era de obediência incondicional ao papa e trabalhavam inseridos no mundo ao invés de retraírem-se na clausura. Colocavam muita ênfase na educação e no trabalho missionário como formas de fortalecer e propagar a fé católica. A Igreja também esclareceu e redefiniu seus ensinamentos. O processo foi complicado por divisões doutrinárias medievais, especialmente pelo conflito entre nominalistas e realistas. Os nominalistas, exemplificados por Guilherme de Ockham, tinham idéias muito semelhantes às de Lutero, enquanto os realistas, como Tomás de Aquino, seguiam uma teologia que oferecia prova lógica e baseava-se no

método e pensamento aristotélico. O esclarecimento doutrinário ocorreu no Concílio de Trento, que se reuniu periodicamente entre 1545 e 1563. Composto principalmente de bispos e abades italianos que tendiam a seguir a liderança do papa, ele foi presidido por dois representantes papais e totalmente influenciado pelos jesuítas. As Reformas Tridentinas (do nome latino de Trento) podem ser agrupadas em duas categorias, disciplinares e dogmáticas. As questões disciplinares incluíam luxúria, simonia, nepotismo e outros abusos clericais. Mais importantes, porém, foram as reformas dogmáticas. Eles seguiram as linhas traçadas por Tomás de Aquino que foi, com efeito, transformado em teólogo oficial da Igreja. Cada cânone doutrinário declarava o ponto de vista protestante e depois a refutação católica, que muitas vezes, pelo menos superficialmente, procurava agradar a ambas as partes. A autoridade deveria basear-se nas Escrituras e tradições, sendo a Vulgata — incluindo os livros apócrifos do Antigo Testamento — reconhecida como Bíblia oficial da Igreja. Traduções na linguagem popular só podiam ser usadas com a aprovação do papa. A salvação combinava as obras de Deus e do homem e incluía tanto a predestinação quanto o exercício do livre arbítrio. A justificação não era só pela fé mas também pelas boas obras. A prática das indulgências continuaria, mas com reformas para evitar abusos. O sistema de sete sacramentos também seria mantido. A aplicação dos decretos conciliares ficava nas mãos do Vaticano. Isso significava que a resistência da realeza ou de autoridades

locais iria impedir sua implantação em algumas áreas. A fim de disseminar o que havia sido decretado em Trento, todos os bispos foram orientados a fundar uma escola e um seminário em sua diocese. Os jesuítas mais que depressa tomaram a iniciativa de desenvolver esse sistema educacional e até hoje continuam sendo os principais educadores católicos. Uma ilustração da nova política foi o trabalho realizado na Suíça por Charles Borromeo (1538-84), arcebispo de Milão. Ele enviou dois representantes papais para aquela região, sendo que eles voltaram com relatos desanimadores sobre as condições da Igreja Católica lá. Eles acusaram o clero de ser preguiçoso, imoral e ignorante e afirmaram que os protestantes estavam lucrando com essas condições miseráveis. Borromeo prosseguiu fundando a Faculdade Helvética de Milão para treinar sacerdotes que iriam trabalhar nos cantões suíços. Criou então faculdades na própria Suíça, sendo que uma delas ainda existe em Lucerna. Em 1600 os esforços de Borromeo já haviam estacionado os avanços da Reforma no país dos Alpes. Como a imprensa havia espalhado o Protestantismo com tanta eficácia por toda a Europa, o papa Paulo IV decidiu estabelecer em 1559 um “Índice de Livros Proibidos”. O Concílio de Trento ratificou essa medida e ela tornou-se a famosa lista negra de obras cujas filosofias e doutrinas eram consideradas contrárias aos ensinamentos da Igreja romana. O Índice acabou incluindo de tudo, desde os escritos de Karl Marx e Martinho Lutero até romances de Albert Camus e só saiu de

circulação em 1966. O Vaticano também fundou sua própria imprensa que mais tarde teve um papel crucial na propagação da fé católica. Na Idade Média, a repressão dos desvios doutrinários era tratada pelo Santo Ofício da Inquisição romana. Em 1480 esse órgão foi reativado na Espanha para lutar contra a heresia. Fernando e Isabel patrocinaram a instituição que tinha como objetivo reagir às influências de judeus e mouros, tornando-a um fator chave na conversão e expulsão desses povos desafortunados. Durante a Reforma, a Inquisição espanhola concentrou-se nos erasmianos e até em místicos como Teresa d’Ávila. Em 1542 o Santo Ofício foi reativado nos Estados Papais por Paulo III e uma das vítimas do século seguinte foi Galileu. A Inquisição era uma corte eclesiástica que conduzia julgamentos de heresia sob a liderança de um Grão-Inquisidor. Na Espanha, essa pessoa era nomeada pelo rei e aprovada pelo papa. Ela, por sua vez, escolhia um supremo concílio de cinco homens que eram confirmados pelo rei. Havia também dezenove cortes locais em cada província. A Inquisição foi conduzida pelos ortodoxos e estudiosos dominicanos. As provas eram oferecidas por leigos devotos que recebiam recompensas por denunciar a heresia. Cada pessoa acusada tinha um mês para preparar sua defesa e alguém só podia ser mandado para a prisão pelo voto unânime dos inquisidores. O julgamento era conduzido em segredo e o acusado não ficava frente a frente com os acusadores, apesar de haver algumas

exceções ocasionais. A tortura era usada para extrair as confissões. Se o acusado se arrependesse logo no começo do processo, podia ser libertado e teria que fazer penitência pública. Se fosse declarado culpado ou tivesse voltado a praticar heresia, ele era entregue ao Estado para ser punido, normalmente pelo fogo. Na Espanha as execuções públicas aconteciam durante um grande espetáculo chamado auto-da-fé (ato de fé), ao qual o rei comparecia com freqüência. Por vezes, muitos acusados de heresia eram queimados ao mesmo tempo. A Inquisição mostrou-se um baluarte eficaz contra a expressão de opiniões divergentes. As muitas mudanças do século 16 tornaram a Igreja Católica Romana uma instituição mais disciplinada e governada com mais restrição. Além disso, apesar do Protestantismo ter trazido esperanças e um espírito de alegria a muitos, ele deixou outros sem instrumentos da graça como as peregrinações e a realização de pequenos atos concretos que são tão mais fáceis do que passar pelos conflitos interiores que trazem a nova vida em Cristo. A reação inicial de Roma tinha sido simplesmente de condenar os ensinamentos protestantes, mas uma vez que ficou claro o fracasso dessa abordagem, a antiga fé renovou-se internamente e começou sua própria reforma. Se suas ações foram uma “Contra-Reforma” ou uma “Reforma católica” é uma questão que fica aberta para discussão. Se a Igreja tivesse se contentado com uma simples rejeição dos ensinamentos “heréticos” dos reformadores, então tratar-seia apenas de uma Contra-Reforma. Porém, as decisões do Concílio de

Trento, a renovação da vida religiosa e o desenvolvimento de um melhor sistema de treinamento do clero apontaram para uma reação mais positiva ao Protestantismo e uma renovação do compromisso com a mensagem cristã. Nesse sentido, foi de fato uma Reforma que mudou a essência do Catolicismo e o transformou em uma instituição moderna. Ele estava pronto, então, para lutar contra as forças protestantes nas guerras religiosas.

Capítulo 11 - Conflitos religiosos assolam a Europa Os séculos 16 e 17 foram um período marcado por um redemoinho teológico intenso. Enquanto as lutas pelo poder e a rivalidade entre dinastias eram constantes na política européia, a adição do ódio religioso tornou os conflitos ainda mais terríveis e dolorosos. Em muitas guerras, católicos lutaram contra protestantes, protestantes contra protestantes e, por vezes, católicos contra católicos. Com freqüência, as lutas transformavam-se em guerras civis enquanto europeus combatiam uns aos outros acreditando ser “santos armados” chamados para eliminar aqueles que denominavam indiscriminadamente de “Anticristo”. Por causa do papel crucial que as questões religiosas tinham nesse extraordinário círculo de violência, os historiadores costumavam juntar todos os conflitos sob o nome não muito preciso de “guerras religiosas”.

Reações às guerras religiosas

Muitos dos monarcas da Europa cansaram-se das lutas incessantes e tentaram vários métodos para dar um basta a esses conflitos. Para isso dispunham de quatro opções — separar, entrar em acordo, reprimir ou tolerar. Duas ilustrações da primeira dessas táticas foram as tentativas de pôr um fim nos conflitos entre luteranos e católicos no Sacro Império Romano e na luta e entre huguenotes (protestantes) e católicos na França. A guerra havia chegado ao império em 1546 e, a princípio, Carlos V e as forças imperiais católicas pareciam estar vencendo, mas quando os protestantes conseguiram reagrupar-se, nenhum dos lados tinha como alcançar uma vitória decisiva. Os resultados foram a conclusão da Paz (religiosa) de Augsburg em 1555 e um ano depois, a aposentadoria de Carlos e a divisão do vasto reino entre seu filho Filipe e seu irmão Fernando. O acordo de Augsburg determinava que o governante de cada Estado territorial do império determinaria a fé de seus súditos — luterana ou católica. Aqueles que discordassem da escolha do príncipe para seus territórios tinham permissão de mudar para territórios vizinhos onde sua fé era reconhecida. O Calvinismo, porém, foi excluído como opção e os senhores eclesiásticos (bispos e abades) que voltaram-se para o Protestantismo não podiam converter seus territórios em Estados seculares. Assim, as divisas de Estados serviam de fronteiras entre fés rivais — o princípio da separação. Na França, uma forma semelhante de conflito surgiu em 1562.

Calvino vinha mandando pastores para lá há alguns anos e em 1562 pelo menos dez por cento da população tinha adotado o estilo reformado da fé protestante. Esse crescimento rápido juntamente com a conversão de muitos nobres importantes, assustou os católicos. Quando Henrique II faleceu em 1559, deixou a monarquia em ruínas. Três dos seus filhos ocuparam sucessivamente o trono durante os trinta anos seguintes e sob seu governo o prestígio da monarquia caiu ainda mais. A princípio a rainha-mãe, Catarina de Médici, conseguiu manter a paz entre católicos e huguenotes e até organizou uma reunião de representantes de ambas as fés a fim de criar um acordo (Colóquio de Poissy, 1562). Porém os diálogos não deram em nada e foram seguidos de hostilidades. A religião era apenas um dos fatores do conflito. Muitos nobres e habitantes das cidades estavam tentando livrar-se do controle real. Como em toda guerra civil, as lutas foram marcadas por grande crueldade. Cidades inteiras foram arrasadas, os assassinatos eram freqüentes e o número de refugiados, enorme. O poder real decaiu à medida em que as províncias passaram a ser controladas pelos grandes nobres. Um dos acontecimentos mais trágicos foi o massacre do Dia de São Bartolomeu (agosto de 1572). Ele aconteceu por ocasião do casamento de Henrique de Navarro (que também pertencia à família Bourbon, rival da dinastia Valois) com Margarete de Valois, irmã do então rei, Carlos IX. Esse relacionamento abria a possibilidade de que um protestante pudesse acabar tornando-se rei da França. Catarina, determinada a

impedir que isso acontecesse, tramou com a facção católica a matança dos protestantes que haviam se juntado para a celebração em Paris. Quando os nobres estavam reunidos, os católicos receberam um sinal combinado (o bater dos sinos da igreja) e começaram a matar todos os protestantes que encontravam. Multidões de parisienses não tardaram a entrar na luta e o massacre espalhou-se até para as províncias. Estimativas do número de mortos ficaram na casa das dezenas de milhares e, de acordo com as palavras de um observador da época: “As ruas ficaram cobertas com os corpos dos mortos, o rio foi tingido e portas e portões manchados de sangue. Carroças cheias de corpos de homens, mulheres, meninas e até mesmo bebês descarregavam no rio Sena enquanto riachos de sangue corriam pelos bairros”.1 1572

1643-47

Massacre

Assembléia de

de São

Westminster

Bartolomeu 1519-1605

1542

1560-1609

1577

1618-19

1633-45

Theodoro

A Inquisição

Jacobus Arminius

Fórmula de

Sínodo de Dort

William Laud

Beza

reavivada

Concórdia

1500

1600

1700

1527-98

1555

1558-1603

1589

1598

1603-25

1618-48

1648

Filipe II

Paz de

Elizabeth I

Henrique

Édito de

James I

Guerra dos

Paz de

de Navarra

Nantes

Trinta

Westphalia

Augsburg

torna-se rei

Anos 1625-1649

1653-58

Carlos I

Oliver Cromwell

Isso desencadeou uma nova onda de lutas e os conflitos continuaram intermitentemente durante os dezessete anos seguintes.

Henrique de Navarra lutou com dois rivais católicos mutuamente antagônicos, o rei Henrique III e Henrique duque de Guise, mas então esses dois últimos foram assassinados e em 1589 restava apenas ele como pretendente ao trono. Com o título de Herique IV, o representante dos huguenotes reconheceu que não demoraria para que as guerras civis voltassem, mas ele evitou que isso acontecesse ao abrir mão de seu Protestantismo e tornar-se católico. Diz-se que ele afirmou: “Paris vale o preço de uma Missa”. Assim, a paz finalmente foi restabelecida na França tão cansada de guerras através da iniciativa de Henrique IV. Sua conversão ao Catolicismo garantiu a lealdade da maior parte dos franceses mas assustou os protestantes que se viram isolados e em grande perigo. Para tranqüilizá-los e manter sua lealdade, o rei lançou o Édito de Nantes em 1598. Este concedia direitos civis à minoria huguenote e permitia que tivessem suas próprias unidades militares e fortificassem duzentas cidades a fim de que pudessem sentir-se seguros. Os protestantes podiam cultuar no âmbito particular em todas as regiões da França e determinados lugares de culto público também foram oficialmente designados para eles, incluindo as propriedades de alguns nobres. Mais uma vez aplicava-se o princípio da separação. O segundo método usado para trazer a paz entre grupos religiosos rivais era o acordo, no qual o Estado elaborava um arranjo que satisfizesse o maior número possível de pessoas e todos os outros eram

obrigados a submeter-se a ele. Foi o que aconteceu com a Igreja da Inglaterra (Anglicana) sob o governo da rainha Elizabeth I. Na verdade, o acordo de Elizabeth foi, em parte, produto se sua própria personalidade. Como filha de Henrique VIII e Ana Bolena (que foi morta por suposto adultério e traição), ela cresceu num ambiente de medo e ansiedade. Apesar de muitos historiadores dizerem que ela teria preferido ser católica, Elizabeth não podia reinar sobre a Inglaterra sendo simpatizante de Roma. O seu apoio mais forte vinha dos protestantes e a Igreja Católica a considerava ilegítima pois havia nascido de um casamento não reconhecido. Elizabeth deu seu aval a uma declaração de fé da Igreja Anglicana, os Trinta e Nove Artigos, que era essencialmente protestante. Mas alguns pontos, como o artigo sobre a Santa Ceia, foram escritos de modo intencionalmente vago. A liturgia era semelhante a da Igreja Católica Romana, exceto pelo fato de que era em inglês. O monarca era o “governador supremo” da igreja que, por sua vez, era administrada por um grupo de bispos. Apesar de alguns membros do clero terem rejeitado o acordo, a maior partes das pessoas ficou satisfeita com ele. A oposição ao acordo anglicano veio dos católicos mais devotos liderados pelos jesuítas, enquanto os protestantes extremistas (conhecidos como puritanos) também ficaram descontentes com o arranjo. Como resultado, os dois grupos foram perseguidos por suas crenças dissidentes.

Uma terceira forma de lidar com o conflito religioso era a repressão. Um Estado escolhia um lado da disputa e então punha-se a eliminar o outro através do assassinato ou exílio de seus adeptos. Essa tática foi utilizada em muitos partes da Europa, mas especialmente na Espanha, onde Filipe II foi, de longe, o maior praticante do método. O governante mais poderoso da segunda metade do século 16, Filipe trabalhou incansavelmente para construir sua dinastia e fortalecer a Igreja Católica Romana diante do avanço protestante. O símbolo de seu reinado era o El Escorial, uma imenso edifício de pedra erigido na encosta árida de um morro a noroeste de Madri, uma combinação de palácio, mosteiro e mausoléu. Era uma residência real bastante incomum pois não tinha espaço para todos os oficiais de sua corte, mas continha residências para monges, túmulos reais e uma grande igreja central ao lado do quarto de dormir do rei. Filipe via a Igreja Católica Romana como sendo, essencialmente, uma agente do governo e supunha que ela devia ajudá-lo política e financeiramente. Como a maior parte dos governantes da época, ele considerava qualquer religião diferente da sua uma ameaça a seu poder. Filipe usou a Inquisição (ver capítulo 10) para pressionar todos aqueles que se desviavam da ortodoxia católica. A heresia era declarada um crime contra o Estado e os oficiais civis aplicavam as penalidades. Todos aqueles que se recusavam a renunciar sua fé, quer fossem protestantes, judeus ou muçulmanos, entravam automaticamente nessa

determinada categoria. A Inquisição os cassava sem piedade e eram aprisionados, torturados e executados. Judeus e muçulmanos eram forçados a se converter ao Cristianismo e aqueles que rejeitavam o batismo eram mortos ou banidos do reino de Filipe. Quanto aos protestantes, eles eram compelidos a voltar para a Igreja romana e seu movimento na Espanha foi totalmente erradicado. Apesar da política de repressão ter sido praticada com sucesso na Espanha, Filipe cometeu um erro enorme quando usou-a em seus domínios na Holanda. A fim de impedir a propagação do Calvinismo naquela região, Filipe ordenou um cumprimento rígido da lei contra a heresia. Foi ainda mais longe e excluiu os nobres locais de seu governo ou relegou-os a postos de pouca importância e os substituiu por aristocratas trazidos da Espanha. Essa política, cuja natureza já foi interpretada como racismo por alguns historiadores, enfraqueceu seriamente sua posição ali tanto com católicos como com protestantes. Então, em 1567, os protestantes se revoltaram e destruíram imagens religiosas, objetos de arte e vitrais das igrejas católicas. Filipe reagiu imediatamente, enviando um exército. Seu comandante, o duque de Alva, desencadeou um reino de terror contra os habitantes da Holanda, matando vários milhares de pessoas em apenas seis anos. Enquanto as lutas continuavam, os calvinistas mudaram-se para lugares mais seguros no norte do Reno, deixando as províncias do sul (a Bélgica nos dias de hoje) para os católicos. Em 1579 dez províncias do sul formaram uma

coalizão para defender o Catolicismo e, dois anos mais tarde, as sete províncias do norte declararam sua independência da Espanha. A nova entidade política chamava-se Províncias Unidas e escolheu Guilherme de Orange como seu líder. Apesar de alguns diplomatas franceses terem dado a ele o apelido de “o quieto”, na verdade Guilherme era uma pessoa extraordinariamente articulada e amigável. Sua forte determinação, paciência e crença no governo com apoio do povo ergueu o espírito de resistência entre os holandeses. Tendo em vista que cada uma das sete províncias era relativamente independente das outras, era preciso muito tato e esforço da sua parte para manter o todo funcionando em conjunto. Frustrado, Filipe ofereceu uma enorme recompensa a qualquer um que matasse o governante holandês e em 1584 um jovem católico fanático o assassinou. Apesar disso, a revolta continuou sob a liderança do filho de Guilherme e Filipe decidiu impedir que os ingleses ajudassem os holandeses enviando a famosa armada espanhola em 1558. Também era sua intenção eliminar Elizabeth — a quem ele odiava — e reconquistar a Inglaterra para a fé católica, mas a iniciativa fracassou. Depois da morte de Filipe, foi declarada uma trégua de doze anos com os holandeses, mas depois as lutas continuaram. Finalmente, sua independência foi reconhecida em 1648. O resultado da política de repressão foram décadas de guerra que esgotaram o tesouro nacional e levaram à perda de algumas das províncias mais ricas da Espanha.

O último método usado para lidar com as diferenças religiosas dentro de um Estado era a tolerância. Nos séculos 16 e 17 essa não era uma alternativa bem recebida, como veio a ser em tempos mais recentes. Guilherme de Orange foi uma das poucas pessoas do começo da Europa moderna a adotar a idéia de que o Estado deveria permitir que diferentes fés coexistissem em liberdade dentro de seus limites. Através de sua influência, a liberdade de consciência tornou-se norma na Holanda e durante o século 17 esse Estado tornou-se um refúgio para aqueles que eram perseguidos por toda a Europa. A tolerância, uma política que parece tão racional hoje em dia, era vista pela maioria dos governantes daquela época como uma fragilidade perigosa. Tolerar um ponto de vista religioso com o qual não se concordava certamente era prova de que a fé pessoal daquele indivíduo era fraca. O que aconteceu de fato foi que, depois de todas as tentativas dos governantes europeus de resolver os conflitos religiosos, eles não diminuíram. Finalmente, em 1618 todo o ódio e ressentimento que já vinham se multiplicando há tempo explodiram em toda a sua fúria irracional na mais sangrenta de todas as guerras religiosas da era da Reforma.

A Guerra dos Trinta Anos De todas as regiões da Europa assoladas pelo conflito entre o Catolicismo reformado e o Protestantismo, a que sofreu maior devastação

foi o Sacro Império Romano. Há muito tempo os historiadores se debatem com a questão de por que o Protestantismo perdeu sua força no lugar onde originou-se, enquanto o Catolicismo tornou-se cada vez mais confiante. Um fator foi o declínio econômico da Alemanha resultante das mudanças de regras comerciais na Europa. Outro foi a desilusão com as condições sociais. Apesar da Reforma ter reafirmado a importância de uma doutrina sólida, ela teve menos impacto na sociedade em geral. Superstição, imoralidade e injustiça social cresceram por toda a parte na terra da Reforma e os seres humanos mostraram ser muito resistentes a mudanças. À medida em que a Igreja Católica Romana restabeleceu cada vez mais seu poder na Alemanha, foi aumentado a tensão em relação aos termos da Paz de Augsburg. Como já mencionamos anteriormente, os governantes de cada área escolhiam entre o Catolicismo romano e o Luteranismo e seus súditos tinham que estar em conformidade com a religião oficial ou deixar aquele território. Uma outra parte da Paz de Augsburg era a “reserva eclesiástica” que obrigava o líder espiritual de um território da Igreja a abrir mão de suas terras caso decidisse tornar-se protestante. Esse mecanismo foi criado para deter a “secularização” das propriedades eclesiásticas e manter os três votos eclesiásticos (Mainz, Colônia e Trier) da escolha do Sacro Imperador Romano nas mãos de eleitores católicos, assegurando assim uma permanente maioridade no colégio eleitoral. Mas como não havia nenhuma determinação legal

adequada para fazer cumprir a reserva eclesiástica, quando as disputas aconteciam, o resultado dependia da força das partes envolvidas. Um ótimo exemplo desse problema foi a conversão de Gebhard Truchsess (1547-1601) que em 1577 tinha sido nomeado arcebispo de Colônia. Em 1582 ele anunciou que se tornaria um protestante, se casaria e declararia tanto o Catolicismo como o Protestantismo legais em seu domínio. A reserva eclesiástica foi invocada e um exército foi enviado para expulsar Gebhart e substituí-lo pelo duque católico Ernesto da Bavária. Os protestantes haviam prometido apoiar Truchsess, mas apenas uma pequena força do palatinado foi ajudá-lo pois os príncipes luteranos suspeitavam que ele tinha preferência pelo Calvinismo. Em 1608, uma dieta imperial em Regensburg tentou sem sucesso diminuir a tensão entre protestantes e católicos. No mesmo ano foi formada a União Protestante (conhecida também como evangélica). Era composta pela maior parte dos príncipes alemães reformados e luteranos, liderados por Frederico IV o eleitor palatino do Reno. Em 1609 foi organizada a Liga Católica, uma rival liderada pelo duque Maximiliano da Bavária. Os ânimos se exaltaram prometendo guerra, mas indivíduos de boa vontade de ambas as partes tentaram chegar a um acordo sem ter que recorrer às armas. Porém, resolver as questões territoriais entre as duas confissões tornou-se ainda mais difícil. Apesar de cada lado considerar o conflito inevitável, a eclosão da Guerra dos Trinta Anos surpreendeu ambas as partes. Antes de traçar os

acontecimentos da luta, será de grande ajuda fazer um comentário geral. Em primeiro lugar, tratava-se de três conflitos englobados em um — protestantes contra católicos na Alemanha, uma guerra civil no Sacro Império Romano entre o imperador e os príncipes e uma disputa internacional entre a França e os Habsburgos (austríacos e espanhóis) pela hegemonia européia e que muitas vezes envolvia outros poderes. Os historiadores costumam dividir a guerra em quatro fases principais: Boêmia (1618-25), Dinamarquesa (1625-29), Sueca (1630-35) e Francesa (1635-48). As hostilidades aparentemente intermináveis e o envolvimento de centenas de milhares de soldados devastaram as áreas que foram palco das lutas. A guerra começou como um conflito religioso, mas durante as duas últimas fases tornou-se essencialmente uma disputa política na qual a casa católica dos Bourbons na França, assustada com crescimento do poder dos Habsburgos, enviou tropas e dinheiro para apoiar a causa protestante. O lado político ou dinástico da luta levou à conclusão da Paz de Westphalia em 1648, que acabou com a guerra na Alemanha apesar das hostilidades entre a Espanha e a França ainda terem continuado por mais uma década. Esse acordo foi o primeiro tratado de paz internacional moderno e foi o precursor de muitos outros que se seguiram. Certamente ele demonstrou o quanto a secularização havia progredido na Europa. No grande encontro internacional — o Concílio de Constança — mais de dois séculos antes, os assuntos em pauta eram questões de crença,

autoridade e estrutura da Igreja; em 1648 passaram a ser de Estado, poder dinástico e aquisição territorial. A Guerra dos Trinta Anos começou na Boêmia. Apesar de ser uma terra eslava, seu rei era um dos eleitores do Sacro Imperador Romano. A nobreza da Boêmia escolhia o rei e durante o último século a opção tinha sido um Habsburgo católico. Mas então, muitos checos (outro nome dado aos boêmios) tinham se tornado protestantes. Na verdade, a região havia sido uma área problemática para a Igreja Católica Romana desde o tempo do reformador Jan Hus. Os mais militantes dentre os protestantes checos eram aqueles que adotavam o Calvinismo. A igreja reformada na Alemanha e seus aliados na Boêmia estavam apreensivos com a extensão do poder dos Habsburgos e o fortalecimento da Igreja Católica. Seu medo pareceu confirmar-se quando em 1617 Matias, o imperador Habsburgo, garantiu a eleição de seu primo Ferdinando para rei da Boêmia. Educado pelos jesuítas dentro de um Catolicismo rígido, Ferdinando começou a perseguir os protestantes apesar de ter prometido não fazê-lo. Divisão Um país é dividido em territórios católicos e protestantes e o governante da região determina a fé que será praticada pela população. Paz de Augsburg na

SOLUÇÕES PARA A QUESTÃO RELIGIOSA Acordo Supressão Tolerância O Estado desenvolve O Estado escolhe um O Estado permite que um acordo que lado na questão diferentes crenças resolve as diferenças religiosa e elimina coexistam com religiosas e todos têm todos os dissidentes liberdade em seu de concordar. pela execução ou território. exílio.

Elizabeth I e a

Maria Tudor na

A Holanda no final

Alemanha, 1555

adoção dos Trinta e Inglaterra Nove Artigos Guerras religiosas na definindo a crença da Filipe II suprime toda França, 1562-89, Igreja Anglicana. dissidência na resultam em Espanha mas não Henrique IV decidir consegue impor o ser católico mas Catolicismo aos conceder aos holandeses. huguenotes liberdade para praticar a sua fé em áreas onde predominam.

dos séculos 16 e 17. Roger Williams em Rhode Island e William Penn na Pensilvânia determinam que todas as crenças terão liberdade para adorar.

A primeira demonstração aberta de oposição foi a “defenestração de Praga”. No dia 23 de maio de 1618, dois representantes católicos do rei que tinham ido até lá a fim de pressionar os checos, foram jogados para fora por uma janela do castelo de Praga mas não ficaram gravemente feridos. Católicos cheios de júbilo consideraram o incidente um milagre; os protestantes disseram que os dois homens haviam caído sobre um monte de estrume. Depois do incidente, a União Protestante mandou ajuda para os rebeldes da Boêmia. Em 1619 a assembléia representativa da nobreza, clero e burguesia reuniu-se para depor Ferdinando e eleger Frederico V, eleitor do Palatinado, seu novo rei. Este era um jovem príncipe alemão calvinista de boa aparência e liderava a União Protestante. Poderia ter sido eleito Sacro Imperador Romano, tendo em vista que os protestantes naquele momento controlavam quatro dos sete votos, mas na realidade ele governou por tão pouco tempo que ficou conhecido como “o rei do inverno”. Quando os Habsburgos

atacaram a Boêmia, Frederico não recebeu a ajuda que esperava da comunidade calvinista internacional e da União Protestante. Ferdinando, que havia tornado-se imperador, por outro lado, recebeu apoio da Espanha, do papa, da Bavária e da Liga Católica. Em novembro de 1620, na Batalha da Montanha Branca a oeste de Praga, o conde de Tilly, comandando as forças da Liga Católica, aniquilou as tropas de Frederico e o rei do inverno teve que fugir. Não tardou para que os jesuítas chegassem à Boêmia a fim de forçar o Catolicismo sobre o povo. Recusando curvar-se à política implacável de reconversão, 150 mil pessoas deixaram a Boêmia. As terras da antiga nobreza protestante foram confiscadas e entregues para católicos leais que apoiavam os Habsburgos. Depois dessa vitória, Tilly conquistou o Palatinado e forçou Frederico ao exílio. A União Protestante foi dissolvida e o imperador Ferdinando deu ao duque Maximiliano da Bavária a cátedra eleitoral do Palatinado. A grande vitória católica alarmou os outros príncipes protestantes da Alemanha que foram buscar a ajuda de Cristiano IV, rei da Dinamarca e Noruega, iniciando assim a segunda fase da guerra. Como duque de Holstein, o rei dinamarquês também era um príncipe do império. Havia construído seu poder e riqueza controlando a entrada do Mar Báltico. Ele decidiu então intervir em favor dos protestantes alemães como forma de ganhar mais territórios para si. Os holandeses e ingleses deram-lhe a ajuda econômica necessária para ir à guerra. O imperador Ferdinando,

sentido a necessidade de mais apoio para enfrentar o desafio dinamarquês, fez um acordo com Albrecht von Wallenstein, um estranho e sinistro soldado mercenário de ambições ilimitadas. Wallenstein, que havia enriquecido através de terras tomadas de protestantes da Boêmia, concordou em fornecer um exército com vinte mil homens sem nenhum custo para o império pois iria cobrir suas despesas através de assaltos. Numa brilhante campanha contra os dinamarqueses, ele subjugou a maior parte do norte da Alemanha e forçou o rei Cristiano a retirar-se da guerra em 1629. A maré de Habsburgos católicos encontrava-se em seu ponto mais alto e parecia que a conversão forçada seria inevitável para a maior parte dos alemães protestantes. As perdas entre os protestantes foram grandes, mas nenhuma delas mais simbólica ou duradoura do que a da biblioteca palatina. As tropas bávaras que conquistaram aquela área tomaram a biblioteca de Heidelberg, um grande tesouro de manuscritos e livros e enviaram tudo para Roma, onde continuam até hoje. Mais importante, porém, foi o Édito de Devolução, emitido pelo imperador poucas semanas antes do tratado com o rei dinamarquês. Ele decretava a devolução de todas as terras da Igreja que haviam sido tomadas por protestantes desde 1552. Isso incluía dois arcebispados, doze bispados e aproximadamente centro e vinte mosteiros e outras fundações. Além disso, só os adeptos da Confissão de Augsburg de 1530 teriam direito à liberdade religiosa e todas as outras “seitas” seriam reprimidas. Isso não

perturbou apenas os príncipes protestantes que encararam a determinação como uma garantia de sua destruição, mas também os governantes católicos que estavam apreensivos sobre a possibilidade de Ferdinando aproveitar-se da situação para aumentar o controle dos Habsburgos sobre a Alemanha. Além disso, os príncipes temiam Wallenstein, cujas extorsões e crueldades haviam causado muita animosidade e exigiam que seu exército fosse dispersado. Na tentativa de amenizar suas suspeitas, Ferdinando dispensou Wallenstein e ordenou que suas forças debandassem. Se o Édito da Devolução tivesse sido cumprido à risca, o Protestantismo na Alemanha poderia ter sido eliminado. Apesar das dificuldades com os príncipes terem atrapalhado Ferdinando, o golpe mortal contra seus sonhos veio quando Gustavo Adolfo, rei da Suécia chegou na Alemanha em 1630. Um soldado e estadista brilhante e luterano devoto, Gustavo era um dos governantes mais importantes da época. Antes de invadir a Alemanha ele já havia derrotado os dinamarqueses, russos e poloneses. Ele entrou na Guerra dos Trinta Anos não apenas para salvar os protestantes mas também para garantir o controle sueco sobre a região do Mar Báltico. Um indício de que o caráter da guerra estava mudando era o fato de que parte do financiamento da expedição sueca tinha vindo do rei católico da França, cujo conselheiro era o poderoso cardeal Richelieu (1585-1642). No início, os príncipes protestantes alemães ficaram assustados

com essa invasão estrangeira, mas depois que o exército de Tilly saqueou Magdeburg, eles começaram a apoiar os suecos. Em 1631 Gustavo derrotou as forças imperiais em Breitenfeld, na Saxônia. Ele prosseguiu com a captura de Praga e venceu novamente em Rain, no Danúbio em 1632, onde Tilly foi morto. Essas vitórias permitiram que ele restituísse a liberdade dos protestantes no sul da Alemanha. Desesperado, Ferdinando chamou de volta Wallenstein e lhe deu carta branca para impedir o avanço dos suecos. Na importante batalha de Lützen (perto de Leipzig) em 1632, os protestantes venceram, mas Gustavo foi morto no combate. O exército sueco permaneceu na Alemanha e as lutas continuaram, mas sua influência era cada vez menor. Wallenstein estava agindo sem restrições chegando até mesmo a adotar sua própria política externa. Quando ele pareceu estar querendo o controle político, o imperador o dispensou. Então, em fevereiro de 1634, Wallenstein foi assassinado sob circunstâncias misteriosas apesar de não se saber ao certo se foi Ferdinando quem deu a ordem. Em 1635 chegou-se a um acordo que incluía modificações do Édito de Devolução, mas os franceses decidiram continuar a guerra. Usando inicialmente mercenários e depois o exército francês, Richelieu estava decidido a reduzir o poder dos Habsburgos. A guerra havia perdido todo o significado religioso e tinha se transformado num conflito dinástico. Lutando contra a Áustria, Espanha e Bavária, a França conseguiu ganhar vantagem através de sua superioridade de recursos e liderança. Ao

mesmo tempo, a Dinamarca e a Suécia lutavam entre si enquanto a Suécia aliava-se à França. O resultado foi a derrota dos Habsburgos de forma tão completa que a Espanha afundou e tornou-se um poder de segunda categoria enquanto a França assumiu o primeiro lugar entre os estados europeus. Depois de quatro anos de diálogos em duas cidades da Westphalia — Münster e Osnabrück — o conflito finalmente foi encerrado em 1648 com uma série de tratados conhecidos como a Paz de Westphalia. Era uma vitória para o Protestantismo e para os príncipes alemães e uma derrota para o Catolicismo e os Habsburgos. Entre os termos do tratado, havia uma nova confirmação do princípio territorial da Paz de Augsburg e o acréscimo do Calvinismo como opção religiosa para um príncipe. O acordo também permitia que os protestantes ficassem com terras tomadas da Igreja Católica depois de 1624. Reconhecia a soberania de mais de trezentos principados, cidades-livre e bispados e exigia que o imperador tivesse seu consentimento antes de criar leis, aumentar impostos, convocar soldados ou decidir sobre guerra e paz. Tendo em vista que esses pequenos territórios estavam sempre brigando, um acordo sobre a maior parte das questões era praticamente impossível. A independência concedida a eles tornou praticamente impossível a unificação da Alemanha sob um único governante. Outros itens do acordo incluíam o reconhecimento da Holanda e Suíça como Estados independentes, aprovação do controle dos Habsburgos sobre a Boêmia (inclusive o

direito de reimplantação do Catolicismo na região), devolução de parte do palatinado ao herdeiro de Frederico V, a concessão de direito de voto ao duque da Bavária (aumentando para oito o número de eleitores) e a ampliação dos territórios do duque de Brandenburg para compensar as terras que havia sido cedidas para a Suécia. A guerra deixou a Alemanha tão exaurida a ponto da recuperação levar quase um século. Os exércitos tinha vivido da agricultura e os soldados, em sua maioria mercenários, não tinham se apiedado dos civis, haviam saqueado as cidades e o campo e, por diversão, tinham violentado, queimado e torturado. As doenças e a fome contribuíram para uma redução populacional drástica. Um desânimo geral caiu sobre a Alemanha, tornando ainda mais fácil para a França mantê-la dividida. A Paz de Westphalia acertou muitas diferenças religiosas que há muito estavam pendentes. Católicos e protestantes perceberam que precisavam viver juntos tendo em vista que nenhum dos dois era forte o suficiente para destruir o outro. O acordo forçado abriu espaço caminho para a tolerância apesar de, na época, alguns não terem gostado disso e pedido uma nova guerra. Irado pelas concessões feitas aos protestantes em relação às propriedades secularizadas da Igreja, o papa Inocêncio X opôs-se fortemente ao tratado, enquanto entre os protestantes, os Irmãos Boêmios que haviam sido exilados exigiram que sua terra natal fosse devolvida. Como nenhum dos grupos conseguiu muitos aliados, ficou claro que as guerras religiosas na Europa haviam acabado.

A revolução inglesa Um dos poucos países europeus importantes que não se envolveu diretamente com a Guerra dos Trinta Anos foi a Inglaterra. Problemas internos ocuparam tanto a atenção dos ingleses durante aquela tempo a ponto de tornar inviável um envolvimento com o continente. O século 17 começou com a morte da rainha Elizabeth I e a ascensão ao trono de uma nova família, os Stuarts, representados por James I (James VI da Escócia). Ele era bem estudado, com tendências intelectuais e autor de vários livros incluindo The True Laws of Free Monarchies [As Verdadeiras Leis das Monarquias Livres] mas era também ingênuo quanto às questões da Inglaterra. Antes deles, os Tudors haviam sido déspotas rígidos, mas que cultivavam a popularidade junto aos súditos e envolviam o Parlamento em sua ações. James tentou seguir os seus passos, mas o seu autoritarismo entrou em choque com os ingleses. O maior problema de seu reinado foi a luta com o Parlamento. Apesar de não ser uma instituição democrática em si, era um grupo poderoso que representava a nobreza e o alto clero (Assembléia dos Lordes) e os comerciantes ricos das cidades e as principais famílias do país (Assembléia dos Comuns). O conflito que teve início no governo de James iria arrastar-se pelos quatro reinados dos Stuarts e terminaria com a Inglaterra transformando-se em monarquia parlamentar, tendo a Assembléia dos Comuns e não o rei como verdadeira governante do

Estado. Por trás da luta havia diferenças radicais nas filosofias de governo. A teoria da Coroa implicava no direito divino dos reis, a saber, que Deus havia colocado o soberano no trono como seu representante e qualquer um que resistisse ao rei estaria agindo contra Deus. O Parlamento, por outro lado, apoiava os direitos históricos dos ingleses e afirmava que o controle sobre as pessoas e propriedades não podia ser tomado sem o consentimento dos indivíduos envolvidos. Os tribunais legais ajudavam o Parlamento a proteger os direitos do povo comum e fiscalizar o poder do rei. Os Stuarts e o Parlamento se desentenderam por causa de religião, economia e direitos civis, mas as questões religiosas pareciam ocupar o primeiro lugar nas brigas. O partido puritano, o grupo dentro da Igreja da Inglaterra que exigia cultos mais simples nas igrejas e uma teologia mais pronunciadamente protestante, era um grande obstáculo na Assembléia dos Comuns. Prevendo uma atitude protestante por parte do rei escocês calvinista, em abril de 1603 os protestantes apresentaram ao rei a Petição Milenar (da palavra latina para um milhar; seus autores afirmavam que esse era número de assinaturas contidas no documento). Esta pedia que ele acabasse com aquelas práticas da Igreja da Inglaterra que eles consideravam ofensivas, como se fazer o sinal da cruz no batismo, usar certas vestimentas e usar uma aliança no casamento. O documento também pedia que fosse permitido o casamento clerical e eliminados os

abusos eclesiásticos. Em 1604 o rei encontrou-se com eles no palácio de Hampton Court, mas sua única concessão foi determinar que se fizesse uma nova tradução da Bíblia. A Versão Autorizada (ou King James) que foi completada e publicada em 1611, teve um profundo efeito formativo na língua e na cultura da Inglaterra. Outro acontecimento importante de seu reinado foi o Assentamento de Ulster em 1611. Ele marcou o começo de um assentamento oficialmente organizado de presbiterianos escoceses na Irlanda do Norte como forma de diluir a força do Catolicismo na ilha irlandesa. Durante as duas décadas que se seguiram os puritanos no Parlamento lutaram continuamente com James. Eles pediram sua intervenção no lado protestante da Guerra dos Trinta Anos e queriam que seu filho Carlos se casasse com uma princesa protestante. O rei não aceitou nenhuma das duas sugestões. Apesar de James ter brigado com os protestantes mais radicais, ele não favorecia os católicos romanos. Os jesuítas incentivaram seu assassinato, sendo que a tentativa mais famosa foi a Conspiração da Pólvora em 1605. Os conspiradores, liderados por Guy Fawkes, planejavam explodir o rei e o Parlamento, mas a intriga foi descoberta. Na reação que se seguiu, muitos católicos foram executados e exigiu-se um juramento de lealdade daqueles que não foram presos. Os ingleses também foram assombrados pelo fantasma da “lenda negra”, um termo que os protestantes associavam a Filipe II e sua cruzada católica.

No reinado de Charles I, que teve início em 1625, os combates religiosos se intensificaram. Enquanto James era calvinista, Charles era arminiano (ver mais adiante). O crescimento do Arminianismo entre o clero havia contribuído para divisões dentro da igreja. Em 1633 Charles nomeou William Laud (1573-1645) arcebispo de Canterbury, com instruções para que ele impusesse uma liturgia uniforme mesmo que isso significasse a saída de puritanos da igreja. Em questões doutrinárias Laud era mais tolerante do que os puritanos, mas insistia na conformidade total com seus rituais litúrgicos. Para ele era muito importante que a mesa da Santa Ceia fosse colocada na extremidade leste de toda a igreja e que todos se curvassem quando o nome de Jesus era falado. Usando a Corte da Alta Comissão e a Corte da Câmara de Star (onde prevalecia o poder real), Laud certificou-se de que sentenças pesadas fossem dadas aos que se desviassem. Seu extremismo foi um fator importante por trás de imigração dos puritanos para a América na década de 1630. A economia também dividia a monarquia e o Parlamento. A Assembléia dos Comuns tinha um papel chave no sistema de coleta de renda dos reis ingleses, mas nem James e nem Charles tinham paciência para trabalhar com o Parlamento e tentaram levantar os fundos por contra própria através de empréstimos forçados, impostos para defesa costeira, multas sobre desflorestamento, venda de títulos de cavaleiro e concessão de monopólios. O ressentimento popular em relação a esses mecanismos

de aumento tributário — muitos deles baseados em leis antigas que não eram usadas havia anos — era cada vez maior. As questões relacionadas aos direitos civis eram variadas como, por exemplo, a liberdade de discurso no Parlamento, a resistência a empréstimos forçados e prisão arbitrária. Tendo em vista que precisava assegurar suas fontes de renda em 1628 Charles I primeiro concordou relutantemente com a Petição de Direitos, que resguardava os ingleses de impostos arbitrários (aqueles que não tinham o consentimento do Parlamento) e garantia outros direitos. Mas Charles logo entrou em conflito com o Parlamento por causas de outras questões financeiras, dispensou todos os seus membros e governou sem eles durante onze anos, desafiando a Petição de Direitos. Em 1640 Charles estava em guerra com os escoceses, que dois anos antes haviam concluído a Aliança Nacional afirmando a fé presbiteriana. Como precisava desesperadamente de dinheiro para pagar por um exército, ele acabou convocando o Parlamento, que exigiu imediatamente a resolução de várias queixas antes de votar em favor de quaisquer fundos. Depois de três semanas ele dispensou o “Parlamento curto”, mas após outro desastre no norte convocou-o novamente. Este segundo ficou conhecido como “Parlamento longo” pois tecnicamente ele funcionou até 1660 e foi o ponto de encontro da oposição ao absolutismo real. Forças puritanas do Parlamento aliaram-se aos escoceses em 1643 através da Liga e Aliança Solenes, cujos membros concordaram em fazer com que

as práticas religiosas na Inglaterra, Escócia e Irlanda fossem o mais uniformes possível e em reformar a religião “de acordo com a Palavra de Deus e os exemplos das melhores igrejas reformadas”. Essa adoção do presbiterianismo levou a Inglaterra à guerra. Um membro puritano pouco conhecido do Parlamento, Oliver Cromwell, criou seu próprio regimento, os lendários Ironsides, com soldados que eram cristãos dedicados e também valentes guerreiros. Ele mostrou-se um gênio militar ao liderar as forças do Parlamento (chamadas de “Roundheads” [cabeças rendondas] pois usavam cabelos curtos) na vitória contra os defensores da realeza (os “Cavaliers” [“Cavaleiros” partidários de Charles]). Depois de um longo período de conflito, negociações infrutíferas e traições, o rei foi capturado e executado por ordem dos radicais do Parlamento em 1649. A Inglaterra tornou-se então uma república (o “Commonwealth “ [Estado democrático]) liderada por Cromwell, que governou com um contingente de Congrecionalistas (Independentes) do grupo remanescente no Parlamento (conhecido como “Rump”). Com os Congrecionalistas numa posição de vantagem, a aliança com os presbiterianos escoceses já não tinha mais sentido. Quando os irlandeses e escoceses reconhecerem o Charles II — filho do monarca assassinado — como rei, em 1649 e 1650, as forças de Cromwell arrasaram suas rebeliões. Especialmente o massacre brutal em Drogheda nunca foi esquecido pelos católicos irlandeses. Por causa das contínuas

dificuldades com o Parlamento, Cromwell o dissolveu em 1653 e declarou-se “senhor protetor” sob o Instrumento de Governo, a única constituição escrita da história da Inglaterra. A Assembléia de Westminster, que reuniu-se durante o período de Guerra Civil, conseguiu fazer um acordo para substituir a instituição anglicana, mas o presbiterianismo formulado durante esse encontro não foi imposto depois que Cromwell subiu ao poder. A fragmentação da ala puritana na verdade levou-o a tornar-se mais tolerante em relação às diferenças religiosas entre os protestantes. Ele chegou a permitir que judeus voltassem à Inglaterra, mas nem eles e nem os católicos tinham verdadeira liberdade religiosa. Durante a década de 1650, a austeridade normalmente associada ao puritanismo estabeleceu-se na sociedade. As festividades de Natal foram abolidas, a cerimônia de casamento transformou-se num ato civil e os teatros foram fechados. Depois da morte de Cromwell em 1658, a inquietação cresceu tão rapidamente que em 1660 o Parlamento decidiu convidar Charles II para assumir o trono. Durante toda a década anterior ele havia vivido exilado na França, onde tinha passado a admirar o absolutismo e o Catolicismo de seu primo Luís XIV. Nenhuma dessas qualidades o tornariam bem aceito pelo povo inglês, mas mesmo assim ele concordou em governar com o Parlamento. O “Parlamento Cavaleiro” eleito em 1661 era composto em sua maioria de simpatizantes da realeza, dando o tom para a “Restauração”. Ele aprovou uma série de medidas — o Código

Clarendon — que ofereciam base legal para a perseguição dos puritanos. Entre outras coisas, exigia-se que oficiais civis tomasse o sacramento de acordo com o rito anglicano e que os clérigos aceitassem tudo do Livro Comum de Orações. Os dissidentes eram chamados de “nãoconformistas” e eram proibidos de realizar reuniões religiosas. Mais de dois mil clérigos perderam seus cargos e cinco mil pessoas foram presas por causa das leis. Os membros da Aliança Escocesa se rebelaram contra as restrições episcopais em 1668 e novamente em 1679, mas foram derrotados. No Tratado secreto de Dover em 1670, Charles prometeu a Luís XIV restabelecer o Catolicismo na Inglaterra o mais rápido possível em troca de um subsídio da França. Mas quando ele tentou cumprir sua promessa ao emitir a Declaração de Indulgência que permitia a liberdade de culto nos domicílios para católicos e protestantes não-conformistas, o Parlamento reagiu com tanta violência que ele abandonou o plano. Para reforçar sua vitória, em 1673 o Parlamento aprovou a Lei do Teste que exigia que todos os oficiais tomassem a Ceia na igreja estabelecida. A lei teve como efeito prático a exclusão dos dissidentes da vida pública e não foi suspensa até 1828. Depois de um episódio de anticatolicismo em 1678-79, aprovou-se uma lei que excluía os católicos romanos do Parlamento. O irmão do rei — James, duque de York — professava publicamente ser católico e o Parlamento procurou tirá-lo da sucessão real, mas não teve sucesso. Charles continuou sendo anglicano mas

confessou o Catolicismo em seu leito de morte. Quando James II subiu ao trono em 1685 ele tentou abertamente restaurar o Catolicismo. Nomeou católicos para postos de comando militar e para lecionar nas universidades. Para obter apoio entre os dissidentes, ele os inclui na sua Declaração de Liberdade de Consciência em 1687. Mas quando sete bispos anglicanos foram acusados de traição por não apoiarem a Declaração, uma corte os absolveu. Muitos estavam só esperando o reino do monarca de certa idade (tinha 55 anos) acabar, mas então ele teve um filho, o que significava certamente uma sucessão católica. No Parlamento, os partidos anglicano (Tory) e puritano (Whig) uniram-se contra o rei e em 1689 ofereceram formalmente a coroa a Guilherme de Orange na Holanda (neto de Charles I) e sua esposa Mary (filha de James II). Enquanto isso, James havia fugido para a França e os novos monarcas chegaram e logo ocuparam o trono sem oposição. Esse episódio ficou conhecido como a “Revolução Gloriosa”. Mais tarde naquele mesmo ano, o Parlamento aprovou o Lei de Tolerância e a Carta de Direitos, que garantiam certos direitos civis, a supremacia parlamentar e também a liberdade de culto para todos, exceto unitários, católicos romanos e judeus. Apesar de um artigo da Lei de Tolerância declarar que apenas os anglicanos podiam servir no governo e no exército, havia exceções a essa restrição. Leis adotadas em 1701 garantiam que nenhum católico poderia jamais ocupar o trono e que o monarca não poderia deixar a Inglaterra sem a permissão do Parlamento.

O novo regime parlamentar inglês encontrou justificativas nos escritos políticos de John Locke. Sua obra Two Treatises of Government [Dois Tratados de Governo] (1690) argumentava que o governo é um contrato entre o governante e os cidadãos e que a revolução é justificada quando esses contrato é quebrado ao negar ao povo seus direitos naturais de vida, liberdade e propriedade. Ele também dizia que a forma mais eficiente de governo é aquela baseada num sistema representativo. Numa ironia da História, a apologia da revolução de Locke foi usadas pelos colonos americanos em 1776 em sua revolta contra os britânicos. Ele também foi o principal porta-voz filosófico de sua época em favor da liberdade religiosa e em sua obra Letters Concerning Toleration [Cartas sobre a Tolerância] (1689-92) ele pedia a liberdade para todos menos os ateus e católicos romanos que eram vistos como um perigo para o Estado. James tentou um retorno em 1689 ao reunir seguidores na Irlanda e Escócia. Totalmente derrotado na Batalha de Boyrne na Irlanda em 1º de julho de 1690 (que passou depois disso a ser um feriado nacional para os protestantes escoceses e irlandeses) ele voltou para a França onde faleceu em 1701. Com o apoio francês seu filho James e seu neto Charles Edward, restauraram os Stuarts na Escócia e o chamado movimento jacobita se extinguiu depois de 1746. Para tornar permanente o laço com o norte, foi aprovada em 1707 a Lei de União. Dali em diante a Escócia seria representada no Parlamento em Londres, mantendo inalteradas suas leis e administração separadas e a Igreja Presbiteriana (Igreja da Escócia)

continuaria sendo oficial.

A controvérsia arminiana Mesmo enquanto soldados matavam-se uns aos outros em nome do evangelho de Cristo, os líderes de suas igrejas lutavam com palavras para definir a fé de modo mais preciso. As brigas doutrinárias eram muitas vezes misturadas com as lutas políticas e levavam a conflitos entre vários grupos dentro das igrejas. Um deles foi a disputa entre arminianos e calvinistas rígidos, sediados na Holanda. Os primeiros tomaram o nome de Jacobus Arminius (1560-1609), um teólogo que havia estudado em Leiden e Genebra antes de tornar-se pastor em Amsterdã. A teologia reformada de sua época havia sido desenvolvida a partir da visão de Calvino por Theodore Beza (1519-1605) e outros escolásticos reformados. Esses homens enfatizavam o literalismo bíblico, rígida dupla predestinação e governo da Igreja presbiteriana. Armínio reagiu contra esse sistema inflexível, proclamando que a oferta da graça de Deus era universal e que os indivíduos possuíam a liberdade de responder a Deus pela fé. Em 1603 ele foi nomeado professor de Teologia na Universidade de Leiden apesar do protesto de Francis Gomar (1563-1641), outro teólogo da instituição. A controvérsia entre os dois girou em torno do significado exato da predestinação. Armínio expressou de maneira clara e direta sua oposição a certos aspectos da teologia de Calvino e sugeriu

que Calvino tornava Deus o autor do pecado e negava a verdadeira liberdade do ser humano. Gomar, um rígido calvinista, contra-atacou essas idéias incansavelmente e o debate que se seguiu levou à divisão da igreja Reformada. Armínio queria a convocação de um sínodo nacional a fim de reunir os dois lados. Até políticos foram incluídos no debate, mas quando de sua morte, não havia se chegado a um acordo. Os seguidores de Armínio continuaram a propagar os seus ensinamentos e em 1610 emitiram um documento chamado “Objeção” que pedia tolerância e apresentava os cinco pontos principais do Arminianismo: (1) o decreto eterno da salvação aplica-se a todos que crêem e perseveram na fé; (2) Cristo morreu por todos; (3) o Espírito Santo deve ajudar o indivíduo a fazer aquelas coisas que são realmente boas como ter fé em Cristo para a salvação; (4) A graça salvadora de Deus não é irresistível; e (5) é possível cair da graça. Muitas personalidades proeminentes na Holanda, incluindo o teólogo Simão Epíscopo (1538-1640), o estadista Jan van Oldenbarneveldt e o principal acadêmico da época, Hugo Grotius, tomaram publicamente partido da causa arminiana. O Sínodo de Dort (Dordrecht) reuniu-se em 1618-19 para resolver a controvérsia. Foram enviados convites para todas as igrejas calvinistas da Europa e vinte e sete dentre os mais de cem representantes eram da Alemanha, Suíça, Inglaterra e Escócia. Os arminianos ou Opositores como eram muitas vezes chamados, foram condenados por um conjunto

de cinco cânones (decretos). Essa refutação de cada ítem da Objeção de 1610 definia os ensinamentos da fé calvinista ortodoxa como sendo a total pecaminosidade, eleição incondicional, expiação limitada, graça irresistível e perseverança dos santos na graça. Sínodos provinciais e presbitérios locais receberam ordens de expulsar as igrejas Opositoras que estivessem sob seus cuidados. Nos anos que se seguirem, a Igreja Reformada na Holanda aderiu com rigidez à doutrina definida em Dort e seus teólogos interpretaram essas declarações ao elaborar sobre seu significado de acordo com os elementos aristotélicos. A controvérsia entre os arminianos e os calvinistas rígidos tinha uma dimensão política. Os dois principais políticos holandeses da época tomaram partidos diferentes na disputa. Maurício de Nassau apoiava os gomaristas e Jan van Oldenbarneveldt favorecia os Opositores. Não era só a religião que separava os dois pois Maurício desejava que sua família (a Casa dos Orange) fizesse parte da monarquia enquanto Oldenbarneveldt queria que a aristocracia mercantil controlasse o país. A religiosidade sincera de Maurício era particularmente dúbia pois alega-se que ele dizia não estar certo da predestinação, mas sua posição ortodoxa firme o colocou como aliado dos fortes calvinistas holandeses. Na época do Sínodo, Maurício agiu contra seus inimigos. Oldenbarneveldt foi preso, julgado por traição e executado; Episcópio foi exilado e outros como Grótio foram encarcerados. O movimento parecia ter acabado na Holanda, mas quando

Maurício faleceu em 1625, os arminianos tiveram permissão de voltar. Episcópio foi o guia da nova fundação da Igreja Opositora que existe até hoje. Frederik Henry, sucessor de seu irmão Maurício como líder político, percebeu que uma ortodoxia rígida era inadequada para o país como também o era uma monarquia absolutista e que forçar os adeptos de várias cranças à conformidade poderia produzir a falência econômica. O resultado a longo prazo dessa luta mordaz foi uma política oficial de tolerância. Apesar da disputa arminiana na Holanda ter chegado ao fim, o debate continuou em outros lugares. A Inglaterra foi um solo fértil para o crescimento do Arminianismo. Muitos seguidores do arcebispo William Laud aceitaram a manifestação mais liberal do Calvinismo e passaram o ensinamento para os latitudinarianos (como aqueles que aceitavam a variação de doutrinas) que surgiram no começo do século 18. Os unitários ingleses também eram arminianos, como também o era o grande evangelista John Wesley. Através do Metodismo de Wesley, a doutrina chegou até o presente como uma importante corrente teológica e a discussão entre arminianos e reformados ainda é uma preocupação para muitos.

Controvérsias luteranas Os luteranos também foram assolados pelas controvérsias durante o final da era reformada. Assim como havia ocorrido no estágio inicial da Reforma, problemas políticos e teológicos estavam entretecidos. A Paz

de Augsburg (1555) foi concluída com a promessa de que um acordo definitivo seria feito posteriormente, mas isso deu aos protestantes alemães pouca segurança política e legal. Assim, quando os teólogos que representavam os luteranos e católicos se encontraram em Worms em 1557 para esclarecer diferenças confessionais, as divisões entre os protestantes incentivaram os católicos a postergar o acordo. A situação dos protestantes foi complicada por uma disseminação do Calvinismo na Alemanha, tendo em vista que vários governantes, sendo o mais importante Frederico III do Palatinado, haviam introduzido a fé em seus principados. Apesar de desviar da posição luterana, Frederico afirmava que seguia a Confissão de Augsburg para que pudesse ser protegido pelos direitos garantidos àqueles que aderiam a essa declaração. Outros teólogos alemães reformados e príncipes seguiram o seu exemplo. Outra divisão dentro do protestantismo alemão era a dos gnésioluteranos (“verdadeiros luteranos”), um grupo que seguia Matthias Flacius Illyricus (1520-73), um conhecido estudioso e historiador da Igreja. Eles rejeitavam as idéias de Melanchthon e de seus seguidores que eram chamados de “filipistas” em função do nome de Melanchthon. Os gnésio-luteranos acusavam os filipistas de serem tolerantes demais em relação aos católicos romanos e puseram-se a desenvolver o ensinamento luterano de modo a distingui-lo tanto do Catolicismo como das idéias dos filipistas. Na controvérsia adiaforista eles acusaram seus oponentes de

fazer concessões ao Catolicismo em questões como as cerimônias de confirmação, extrema unção, veneração dos santos e a missa. Os “verdadeiros luteranos” afirmavam que nada é uma adiafora (uma questão de indiferença) no que diz respeito a qualquer aspecto da verdade cristã. Talvez o conflito luterano mais importante tenha sido aquele em torno da Ceia do Senhor. Apesar dos ensinamentos luteranos rejeitarem o dogma da transubstanciação, declaravam firmemente a presença real do corpo de Cristo dentro, com e sobre o pão e o vinho. Calvino tentou harmonizar as idéias de Lutero e Zuínglio ao declarar que o crente verdadeiramente recebia o corpo e o sangue de Cristo nos elementos da Ceia, mas de maneira espiritual. Numa controvérsia de idéias sobre a Eucaristia que teve início em 1552 e ocorreu entre o luterano Joachim Westphal e o próprio Calvino, as diferenças entre reformados e luteranos ficaram ainda mais claras. Melanchthon e seus seguidores, que recusaram-se a ser envolvidos no debate, foram acusados de simpatizar com a posição calvinista e foram denunciados por ser cripto-calvinistas. Assim, a presença de ensinamentos reformados na Alemanha foi além dos debates dentro do Luteranismo. Na verdade, calvinistas e luteranos concordava quanto a várias questões, mas os reformados normalmente rejeitavam o culto litúrgico, dando mais ênfase à participação na solução de problemas sociais e tinham posições diferentes quanto à cristologia e os

sacramentos. Um grupo de teólogos proeminentes das Universidades de Leipzig, Marburg e Tübingen procurou impedir a fragmentação do Luteranismo tomando uma posição intermediária entre os extremos. Sua iniciativa levou à adoção da Fórmula de Concórdia em 1577, uma declaração confessional criada para resolver as controvérsias ao substituir os credos separados que haviam sido adotados nas várias igrejas territoriais luteranas. A raiz do problema eram as muitas interpretações diferentes da Confissão de Augsburg. A Fórmula de Concórdia, com sua linguagem precisa e enfática procurava o meio termo entre essa diversidade a fim de declarar exatamente em que os luteranos acreditavam. Em 1580 a Fórmula foi publicada junto com três credos ecumênicos (dos Apóstolos, de Nicéia e de Atanásio), a Confissão de Augsburg (1530) e sua Apologia (1531), o Pequeno e o Grande Catecismo de Lutero, os Artigos da Smalkaldia (1537) e três dos primeiros esboços da Fórmula no Livro de Concórdia. Essa obra, que foi adotada por dois terços do Protestantismo luterano, definia claramente as diferenças entre os ensinamentos luteranos e católicos e também entre luteranos e reformados. Foi a declaração definitiva da ortodoxia luterana e correspondeu a um ato semelhante realizado por parte dos católicos no Concílio de Trento. A sistematização da doutrina dentro do Luteranismo podia então prosseguir e foi feita através de declarações elaboradas baseadas em

textos de esboço. Esse método, usado de uma forma mais simples pelos primeiros teólogos luteranos, desenvolveu-se nas obras dos estudiosos ortodoxos do século 17. Ao contrário dos luteranos, os reformados alemães não conseguiram elaborar sua própria fórmula de concórdia e continuaram voltando-se para o catecismo de Heidelberg de 1563 como sua principal declaração doutrinária. A essa altura, a Universidade de Heidelberg havia tornado-se o centro intelectual de um movimento que incluía diversos territórios e cidades em Rhineland e no oeste da Alemanha. Um marco importante na propagação da fé reformada foi a conversão do eleitor John Sigismund de Brandenburg do Luteranismo para o Calvinismo. Em parte como consequência dessa mudança, os laços do país com a Saxônia e os Habsburgos foram rompidos, o que seria um fato crucial na ascensão de Brandenburg e Prússia a uma elevada posição de poder depois da Guerra dos Trinta Anos.

A partir de então os governantes protestantes da Alemanha dividiram-se em dois grupos: os luteranos (liderados pelo eleitor da Saxônia, que procurava manter intacta a antiga ordem) e os reformados (liderados pelo eleitor Palatino, que desejava ter uma participação ativa nas lutas dos calvinistas da Europa ocidental). A animosidade entre esses dois grupos manteve as forças protestantes divididas e permitiu que a reforma católica fizesse progresso impressionante. Ao mesmo tempo, significou que a Alemanha não teria um papel na iniciativa expansionista

da Europa no além mar, ao contrário das nações católicas de Portugal, Espanha e França e das protestantes Holanda e Grã-Bretanha. Durante algum tempo, o Protestantismo definhou em sua ortodoxia introspectiva, mas a brisa fresca do Pietismo trouxe nova vida e uma visão mais ampla da missão da Igreja.

Capítulo 12 - A Igreja se expande para além da Europa A revitalização do comércio de longa distância e o conseqüente crescimento de um sistema econômico urbano e capitalista foram fatores que contribuíram para o início da expansão da igreja européia. Em conjunto com a dinâmica intelectual e espiritual da Renascença e Reforma, esses fatores produziram uma curiosidade enorme sobre as terras além da Europa. Progressos na tecnologia militar e especialmente naval, permitiram aos europeus aventurarem-se em mar aberto e envolverem-se em combate vitorioso com outros povos de lugares distantes. Enquanto muitos gastavam suas energias com os aparentemente infindáveis conflitos religiosos e corridas pelo poder, outros buscavam novas oportunidades de ganho econômico e conquista espiritual. Do final do século 15 até o começo do século 17, os europeus adquiriram domínio sobre os oceanos e estabeleceram-se em áreas costeiras de várias partes do mundo.

Expansão européia ultramarina: a fase ibérica

Os estados ibéricos — Portugal e Espanha — iniciaram o processo e, de certa forma, ele foi uma continuação das Cruzadas. Foi um confronto militante e violento dos cristãos ocidentais com povos que tinham cosmovisões completamente diferentes. Essa expansão do Cristianismo teve impacto transformador, porém nem sempre positivo, sobre a própria fé. A responsabilidade de propagar a fé foi assumida por países específicos e mais ou menos supervisionada por seus monarcas. A conquista portuguesa de Ceuta no Marrocos muçulmano em 1415 e, em 1492, a vitória dos espanhóis em Granada — a última fortificação islâmica na península ibérica — poderiam ser vistas como iniciativas de Cruzadas. Estas tornaram-se um impulso natural para outras expedições. Junto com a motivação material para a expansão ultramarina, havia uma obrigação claramente expressada de propagar o Cristianismo. A conversão era um aspecto da conquista. O primeiro passo para a expansão ultramarina foi a invasão portuguesa no Marrocos. Isso lhes deu um posto de escuta na África e estimulou o desejo de acesso ao lucrativo comércio de ouro com os povos ao sul do Saara. Os meios mais bem informados da Europa sabiam da fabulosa riqueza do reino de Mali, cujo governante Mansa Musa, havia feito cair o preço do ouro na metrópole islâmica do Cairo quando a visitou numa peregrinação para Meca em 1331. O príncipe Henrique, conhecido como “o Navegador” (1394-1460, um filho mais jovem do rei João I, havia participado da campanha de Ceuta e tinha se interessado na

exploração da costa oeste da África. Seu patrocínio a expedições navais e a fundação de um centro de pesquisas em seu castelo tornaram possível a hegemonia portuguesa no Oriente. Ele expressou o desejo de envolver-se no comércio com os africanos e levar a eles o Cristianismo. Porém, a perspectiva de uma rota marítima direta para “as Índias” começava a despontar no horizonte e em 1488 o primeiro navegante português chegou à ponta da África do Sul. Em 1497 Vasco da Gama contornou o Cabo da Boa Esperança e navegou para a Índia, voltando para casa dois anos mais tarde com um carregamento de mercadorias do Oriente. Expedições subseqüentes tomaram posse do Brasil e da costa leste da África, arrasaram as forças navais dos árabes (que tinham sido os intermediários no comércio entre o Ocidente e o Oriente) no Oceano Índico e fundaram uma cadeia de pontos de comércio. Alfonso de Albuquerque capturou Goa em 1510 e fez do lugar uma sede de governo português. Ele instituiu o controle das rotas marítimas como bases de poder de seu país. Com pontos fortificados no leste da África, Golfo Persa, Málaca na Malásia, Indonésia e em diversos lugares da Índia e Ceilão, os portugueses eram os senhores do Oceano Índico. Mais tarde, em 1557, eles fundaram a colônia de Macau na China. A manutenção desse sistema vasto e flexível foi confiada ao “governador” ou “vice-rei” em Goa. 1557 Missão espanhola nas Filipinas

1663 Formação da

1445 Nicolau V concede padroado

1474-1556 Bartolomeu de las Cásas

1400 13941492 A 1460 Príncipe Espanha Henrique, conquista o Granada e Navegado expulsa os r judeus

1541-52 Francisco Xavier trabalha no Oriente

1492 Colombo chega à América

1497 Vasco da Gama chega à Índia

15821610 Matteo Ricci na China

Sociedade das Missões Estrangeiras 1622 Gregório XV cria a Congregação para a Propagação da Fé

1600 1519-22 1602 1609 Navios de Fundação Fundação Magellan da de Quebec circunave Companhi gam a s das Terra Índias Orientais 1521 Cortez derrota Montezuma

1769 Junipero Serra funda a primeira missão na Califórnia

1794 Primeira missão ortodoxa russa no Alasca 1800

1700 Pedro I promove missões à Sibéria

Durante a união de Portugal e Espanha entre 1580 e 1640, os holandeses destruíram completamente o monopólio português no Oceano Índico, levando Portugal a perder várias de suas bases. Porém, o Brasil, a Angola e o Moçambique continuarem sendo suas principais propriedades coloniais. Durante aproximadamente trinta anos os holandeses controlaram parte da Angola e do Brasil mas foram expulsos em 1661. Com a descoberta de ouro em 1693 e diamantes em 1728, a riqueza do Brasil constituía parte importante da renda da coroa. Angola e Moçambique serviam basicamente de fontes de escravos para o Brasil, mas alguns portugueses acabaram assentando-se na colônia. A Espanha entrou em cena alguns anos depois de Portugal. Através de um processo de estudo, meditação, intuição e cálculos, o navegante

genovês Cristóvão Colombo concluiu que a Ásia estava a uma distância razoável a oeste da Europa. Depois de oito anos de esforços inúteis em várias direções, ele finalmente convenceu a rainha Isabel de Castela a financiar sua expedição. No dia 12 de outubro de 1492 ele chegou em terra nas Bahamas e em viagens subseqüentes consolidou o poder espanhol em Hispaniola. Outros espanhóis conquistaram ilhas vizinhas e exploraram as regiões costeiras do Caribe. O italiano Américo Vespúcio participou de uma expedição que explorou a costa norte da América do Sul e, depois de ler suas descrições daquilo que claramente não era a Índia, mas sim um novo continente, o famoso cartógrafo Martin Waldseemüller fez um mapa em 1507 que dava às novas terras o nome de Américo. Vasco Nuñez de Balboa cruzou o istmo panamenho em 1513 e viu o Oceano Pacífico; Hernando Cortez tomou a capital asteca do seu governante, Montezuma, em 1521; Francisco Pizzaro esmagou o império inca do Peru em 1533-35 e outros exploradores e conquistadores espalharam-se pela Flórida, México, América Central e América do Sul para consolidar o governo espanhol. Com a fundação de Buenos Aires em 1580 o estágio continental da expansão da Espanha chegava ao fim sendo que os espanhóis concentraram-se na ocupação de vastas áreas demarcadas anteriormente. Porém, pioneiros continuaram a se mudar para as novas terras ao norte do Rio Grande e sul do rio da Prata. O navegante português Fernando de Magalhães, que estava a

serviço da Espanha, partiu em 1519 para primeira viagem de circunavegação para tomar posse de terras do Oriente. Ele chegou às ilhas Filipinas em 1521, onde foi morto, mas a posse só foi estabelecida com uma outra expedição na década de 1560. Na América Latina, o poder do sistema colonial era centralizado no rei e a administração era feita pelo Concílio das Índias em seu nome. Era o concílio que determinava as políticas, preparava os decretos, fazia nomeações, supervisionava a Igreja e funcionava como corte judicial. As subdivisões na América Latina eram compostas de dois (e depois quatro) vice-reinos que por sua vez eram divididos em audiências, capitanias gerais, presidências e vários tipos de governo local. Muitos espanhóis mudaram-se para as colônias e aqueles que lá se estabeleceram ficaram conhecidos como “crioulos”. Eles ocupavam uma posição inferior na pirâmide social em relação aos “peninsulares” que vinham diretamente da Europa e exerciam cargos administrativos. Em 1574 os espanhóis já haviam fundado mais de duzentas cidades e povoados cuja população de brancos chegava a mais de 160 mil pessoas. Os “mestiços”, filhos de homens espanhóis com mulheres índias, adotaram a língua e a cultura espanhola mas eram considerados inferiores pelos brancos. Na base da pirâmide social estavam os nativos da América e os escravos africanos. O sistema econômico baseava-se na posse de grandes propriedades espanholas e uso de trabalhadores próprios, chamado de sistema agrícola

de encomienda no qual os camponeses trabalhavam para o senhor em caráter perpétuo. Uma quantidade considerável de riqueza também era gerada pelo garimpo de ouro e prata, o comércio e alguns tipos de manufatura de pequeno porte. Através de sua posse de terras e empreendimentos econômicos, a Igreja Católica tornou-se a mais abastada instituição da América espanhola. No final da era colonial, estima-se que ela era dona de metade de todas as terras no México. Os empreendimentos espanhóis e portugueses representavam os dois tipos básicos de “colonialismo” praticado pelos europeus. Muitos espanhóis deixaram sua terra natal, assentaram-se nos territórios estrangeiros onde havia uma quantidade módica de controle político e introduziram sua cultura. Os portugueses, por outro lado, criaram enclaves coloniais que tanto podiam ser toleradas pelos governantes locais que lucravam economicamente com sua presença, como também podiam ser mantidas pelo uso de força armada. Eles estavam sempre susceptíveis a ataques de rivais europeus.

Expansão: as fases da Europa ocidental e da Rússia Apesar dos ingleses terem ocasionalmente se envolvido com as explorações (a viagem de John Cabot em 1497, a procura da Passagem Noroeste de Martin Frobisher em 1576-78) e de na era elizabetana terem atacado navios espanhóis (Francis Drake, John Hawkins), eles só começaram uma colonização mais séria depois da virada do século 17.

As colônias da América do Norte eram empreendimentos particulares com permissão real, mas tinham que competir com outros. Os holandeses chegaram a Nova York em 1626. Um assentamento comercial sueco instalou-se na parte baixa do rio Delaware entre 1638 e 1655. Mais para o norte ficavam os domínios dos franceses. Jacques Cartier havia visitado a parte baixa do rio São Lourenço em 1534-35 e tomado posse da mesma como “Nova França”. Samuel de Champlain fundou Quebec em 1609 e trabalhou arduamente nas décadas seguintes para desenvolver o Canadá como colônia. Os pioneiros receberam pouco apoio de sua terra natal até o reinado de Luís XIV, sendo que sob seus auspícios o território prosperou. O comércio de peles era a principal atividade econômica na fronteira dos Grandes Lagos e no final do século 17 a influência francesa estendia-se até o rio Mississippi. Com a chegada de mais colonos no século seguinte, a Nova França viveu um considerável crescimento econômico. O verdadeiro foco de interesse, porém, era o Caribe. A exploração espanhola dos povos nativos havia deixado as ilhas despopuladas e em ruínas. Foi o caso do povo Taino de Hispaniola que em 1492 tinha uma população em torno de quatrocentos mil e que havia diminuído para meros dezesseis mil em 1518. Então, no começo do século 17 foi introduzida a cultura de açúcar que resultou numa revolução econômica. O cultivo era feito em grandes plantações tendo à disposição a mão-deobra aparentemente ilimitada vinda da África. Desenvolveu-se uma

grande rede de comércio de escravos sendo que pelo menos dez milhões de pessoas foram transportadas para o outro lado do Atlântico fazendo com que as ilhas se tornassem grandes fontes de riqueza. Os escravos também eram trazidos para o Brasil, onde tiveram um papel crucial no desenvolvimento e na mistura racial tão singular que hoje existe no país. O trabalho escravo também foi usado pelos britânicos na América do Norte e nas regiões costeiras do Caribe. Depois de terem ocupado anteriormente as Antilhas, em 1655 os ingleses tomaram a Jamaica da Espanha e juntaram-se à Holanda, Dinamarca e França na competição por pelo poder colonial e naval da região. Para facilitar as coisas do lado africano do comércio de escravos e de outras mercadorias, os europeus abriram centros de trocas ao longo da costa oeste da África. Esses centros comerciais, como o famoso forte de Elmina na Costa do Ouro mudavam constantemente de mãos e os governantes africanos locais dificultavam o trabalho dos europeus. No século 17 e começo do século 18 Portugal, Espanha, Inglaterra, França, Holanda e até mesmo Brandenburg tinham negócios lá. O principal elemento novo da expansão européia desse período foi a presença dos holandeses. Depois de seu sucesso inicial na luta pela independência do governo espanhol, eles desenvolveram a marinha mercante mais eficiente da Europa. Seus navios entraram no Oceano Índico no final do século 16 e em 1602 formou-se a Companhia Holandesa das Índias Orientais. O centro da companhia era na Batávia

(Jacarta), em Java, e logo ultrapassou Portugal no controle do Oceano Índico. A Companhia controlou o Ceilão entre 1638 e 1658 e em 1652 fundou uma colônia no Cabo da Boa Esperança. Durante dois séculos a Holanda foi o único país ocidental a ter contato com o Japão. Uma Companhia das Índias Ocidentais (fundada em 1621) realizou comércio no Oceano Atlântico durante grande parte do século, manteve a colônia na América do Norte, adquiriu territórios no Caribe e governou temporariamente no norte do Brasil. Porém, sob a liderança de Oliver Cromwell, os ingleses dedicaramse a um programa de expansão naval e comercial com o qual os holandeses não conseguiram se equiparar. A Lei de Navegação (1651) foi criado para impedir os holandeses de realizarem o comércio e em 1664 os ingleses os expulsaram de sua base na América do Norte e deram-lhe o nome de Nova York. À medida em que o poder dos holandeses se enfraquecia, preparava-se a cena para o duelo de titãs entre Inglaterra e França que dominou o século 18. A conquista russa de vastas regiões de floresta e tundra na Sibéria foi a única verdadeira ocupação a ocorrer no continente asiático nesse tempo. As forças do czar Ivan IV garantiram para si a bacia do Volga ao derrotar o último ponto de resistência dos tártaros muçulmanos (Kazan, 1552; Astrakhan, 1556) o que abriu caminho para a expansão russa a leste dos Montes Urais. Em 1581-82, um grupo de cossacos liderados por Ermak conquistaram os domínios do khan na Sibéria e, deslocando-se

rapidamente pelo sistema fluvial, fundaram cidades fortificadas em pontos estratégicos. Comerciantes de peles seguiam o rio e possibilitavam um comércio ágil. Durante um século a região de florestas da Sibéria ficou, em sua maior parte, sob o controle dos russos. Porém os chineses contiveram o avanço russo no leste e em 1685 o tratado de Nerchinsk demarcou uma fronteira no vale de Amur. A presença de fortes estados islâmicos nos campos e regiões de deserto ao sul tiveram sucesso em conter a expansão russa sobre essas áreas até o final do século 18 e começo do século 19. A atividade econômica da Sibéria dependia da coleta de peles que eram o principal produto no comércio com o Ocidente. No século 17, colonos — muitos dos quais exilados — começaram a se assentar nessas terras e dedicar-se à mineração e agricultura. A população de brancos da Sibéria cresceu de setenta mil pessoas em 1662 para um milhão em 1783. Depois de Nershinsk, a expansão para o Leste continuou e Kamchatka foi anexada em 1699. Então Vitus Bering foi enviado para explorar a área ainda mais a leste e foi seu trabalho que abriu caminho para o governo russo no Alasca no século 18.

O Cristianismo nos impérios ibéricos Baseados nos precedentes abertos pelos pontífices do século 13 que afirmavam ter soberania sobre toda a Terra, inclusive das regiões que ainda não eram cristãs, o papa Nicolau V apoiou a expansão portuguesa

no oeste da África através de uma bula de 1454. Esta autorizava o rei Afonso I a tomar o controle e explorar outras terras no futuro e o comissionava para realizar a cristianização desses territórios. A coroa de Portugal havia recebido a “patente missionária” (padroado), ou seja, deveria equipar, financiar e enviar missionários para a África e, conseqüentemente também para as Índias. Então, Colombo entrou em cena e ultrapassou os portugueses ao viajar para o sentido contrário e tomar posse para a Espanha dos territórios que encontrou. A fim de resolver o problema de qual país deveria ter a posse das novas terras, o papa Alexandre VI (que era espanhol) lançou uma bula em 1493 dividindo o mundo por uma linha no Atlântico indo de um polo até o outro e passando a leste dos Açores, dando para a Espanha todo o hemisfério Oeste. A bula também incluía uma patente missionária. Fernando e Isabel foram orientados a “enviar homens articulados, tementes a Deus, bem treinados e experientes que iriam instruir os habitantes de lá acerca da fé católica”. Os dois vizinhos confirmaram a decisão papal no Tratado de Tordesilhas (1494) que deslocou a linha um pouco mais para oeste, sem perceber que estavam dando à Espanha um direito de posse no Brasil. O Tratado de Saragossa (1529) demarcou uma linha a Leste que deixava as Ilhas Marianas dentro da jurisdição espanhola. O próprio Colombo estava profundamente envolvido na devoção do final da Idade Média. Seu conhecido Diário da Primeira Viagem à

América revela que ele dedicava-se a especulações proféticas e via sua missão como sendo de ganhar almas para Cristo nas terras recémdescobertas. Ele se considerava um “portador de Cristo” e escolhia nomes santificados na Igreja para os território que descobria. Outros espanhóis, porém, eram menos motivados por “Deus” e mais pelo “ouro” e a “glória”. Esses conquistadores criaram impérios relativamente extensos e com grande potencial para abusos. Ficava a cargo da Igreja conter os instintos básicos dos colonos brancos e a chave para isso estava em suas patentes. As coroas de ambos os países tinham o poder de exercer vasto controle sobre as iniciativas missionárias em seus respectivos impérios. Podiam, assim, dar à Igreja o poder de trabalhar no sentido de uma ordem colonial mais justa. Na Espanha o patrocínio baseado nas bulas papais de 1501 e 1508, tornava a coroa responsável pela manutenção da Igreja e conversão dos índios. Em troca, o governante escolhia missionários para as colônias na América (e mais tarde nas Filipinas), sendo que estes não podiam voltar para casa sem uma permissão real. O papado permitia que o Estado recolhesse os dízimos (impostos da Igreja) nas colônias, usando-os para sustentar a Igreja nesses locais. O rei tinha o direito de nomear pessoas para todos os cargos eclesiásticos — bispos, líderes de mosteiros e até sacerdotes das paróquias — e nenhuma igreja, convento ou escola podia ser fundado sem a autorização real. O clero em outras terras não podia comunicar-se com Roma a não ser pelos canais reais. Tudo o que o

sínodo fazia estava sujeito à aprovação do vice-rei colonial ou de outro oficial responsável que tinha poder de veto. Apesar de alguns sacerdotes seculares trabalharem como missionários, a principal fonte de obreiros eram as ordens religiosas — tanto as mais antigas como os beneditinos, dominicanos, franciscanos, agostinianos e várias outras ordens menores, como as novas ordens que nasceram em decorrência da reforma católica como os capuchinhos e a Sociedade de Jesus (jesuítas). A ordem jesuíta, com seu compromisso de recuperar aqueles que haviam sido perdidos para o Protestantismo e também de levar a fé para além das fronteiras do Cristianismo, foi responsável por suprir o maior número de missionários nos séculos 16 e 17. Em 1542 o rei de Portugal permitiu que os jesuítas fundassem uma escola de treinamento missionário na Universidade de Coimbra, sendo que esta preparou mais de 1600 obreiros ao longo de dois séculos. Salvo umas poucas exceções como o “Fundo Pio”, um fundo privado oferecido por indivíduos para as missões da Califórnia, os católicos leigos não contribuíam com praticamente nada para o sustento financeiro das missões. Uma parcela dos fundos vinha diretamente do Estado, mas em grande parte as ordens religiosas maiores trabalhavam com seus próprios recursos. Além disso, muitas missões eram parcial ou completamente auto-suficientes. O trabalho do indígenas cristãos nas comunidades cobria os custos do empreendimento e alguns missionários, especialmente os jesuítas, dedicavam-se diretamente ao comércio.

O exemplo de missão auto-sustentável que mais chama atenção é o das missões jesuítas nas bacia dos rios Paraguai e Paraná. Lá os índios reuniam-se em vilas (reductiones) onde recebiam proteção, ensino cristão, aprendiam vários ofícios e podiam desenvolver sua consciência de identidade. A igreja era o centro da vida comunitária e o povo oferecia generosamente sua devoção à instituição e às missas. Dedicavam-se à agricultura, criação de rebanhos e faziam artesanato que era vendido para sustentar a vila. Os clérigos formaram uma força defensiva para resistir aos ataques de caçadores de escravos. Em 1767, quando os jesuítas foram expulsos, é possível que 106 mil índios estivessem morando em trinta vilas sob a supervisão de oitenta e três missionários. A retirada dos padres deixou os nativos à mercê dos colonos que destruíram grande parte do que os missionários haviam realizado. Tendo em vista que o papa havia concedido a eles tanto poder civil quanto eclesiástico, os monarcas espanhóis, teoricamente, eram responsáveis por proteger os índios da exploração de colonos brancos e oferecer-lhes ministérios espirituais. A realidade muitas vezes era bem diferente. Os conquistadores cruzavam o Atlântico para acumular riquezas para si mesmos e forçavam os índios a trabalhar em minas e nos campos. O resultado disso era uma crueldade indescritível e a destruição de povos indígenas por doenças, excesso de trabalho e brutalidade. Com a diminuição da população indígena, especialmente nas Índias Ocidentais, a mão-de-obra era complementada por escravos importados

da África. Apesar de alguns colonos verem os índios como inferiores aos humanos e incapazes de tornarem-se cristãos, o papado em particular era rígido quanto a suas exigências de obras missionárias. O resultado, foi um grande numero de conversões e batismos forçados. Apesar de alguns papas e reis terem se preocupado com os constantes maus tratos dos índios na América espanhola, os missionários foram os maiores defensores dos direitos dos nativos. Sem dúvida o mais conhecido desses obreiros e modelo de missionário foi Bartolomeu de las Cásas (1474-1566). Seu pai havia navegado com Colombo e em 1502 o próprio Bartolomeu assentou-se em Hispaniola. Depois de administrar uma plantação durante algum tempo, ele buscou a ordenação como sacerdote e participou da primeira expedição para a conquista de Cuba. Ele ficou tão preocupado com a forma que os aborígenes estavam sendo maltratados que foi para a Espanha defender sua causa. Conseguiu a simpatia do cardeal Ximenes que o nomeou protetor geral dos índios. Las Cásas voltou para o Novo Mundo com um grupo de monges para fazer cumprir as leis reais em favor dos índios. Os colonos convenceram seus companheiros de que ele era um tipo de visionário que estava arruinando a colônia e eles voltaram-se contra Bartolomeu. Ele foi para a Espanha a fim de conseguir ajuda e seus inimigos disseram ao rei que as colônias iriam à falência se o trabalho escravo fosse proibido. Bartolomeu reagiu propondo que tivesse permissão de fundar uma colônia onde os índios seria tratados decentemente. Ao voltar em 1520

ele colocou sua idéia em prática na costa da América do Sul (onde hoje é a Venezuela) mas não teve sucesso. Três anos depois juntou-se à ordem dominicana. Seguindo o caminho teológico de Tomás Aquino, o maior de todos os dominicanos, que havia ensinado que os descrentes não devem ser forçados a tornar-se cristãos pois a crença é uma questão de vontade e decisão própria, Las Cásas recusou-se a impor a conversão e exigiu que os índios tivessem o direito de escolher a Cristo de livre e espontânea vontade. Em 1535 ele fundou uma missão na Guatemala, apoiou publicamente a causa dos índios maltratados do Peru e do México e pregou a não-violência e o cumprimento da lei que proibia a escravização de índios. Aos 70 anos de idade foi nomeado bispo de Chiapa, no México e lançou-se em uma briga acirrada com os leigos brancos de sua diocese por estes abusarem dos índios. Em 1547, voltou à Espanha pela última vez para pedir ao monarca que defendesse os direitos dos índios. Em seguida aposentou-se, mas continuou lutando por aquela que era a causa do seu coração ao publicar diversos escritos importantes. Um de seus feitos mais famosos foi o debate com o teólogo espanhol Juan Ginés de Sepúlveda em Valadolid nos anos de 1550-51. O argumento de Sepúlveda tomava como base a teoria da guerra justa afirmando que era necessário subjugar os índios pela força e depois convertê-los. Para encerrar o assunto Las Cásas perguntou: “As pessoas não são todas humanas?” Apesar de seus esforços para deter a dominação dos índios

através do sistema de encomienda terem sido em vão, ele conseguiu formar uma legislação humanitária contida na obra Leis das Índias (1542). Sua influência também foi vista no desenvolvimento das estratégias missionárias com ênfase na organização dos índios em comunidades cristãs, povoados protetores que fossem separados da influência corruptora dos colonos brancos.1 Apesar de muitos monges concordarem com Las Cásas, havia poucos clérigos espanhóis entre eles. Não tardou para que crioulos e, no século seguinte, até alguns mestiços e índios fossem ordenados para o ministério. À medida em que a sociedade da América Latina se estabilizava, ia surgindo uma estrutura eclesiástica sofisticada e que refletia o sistema político espanhol. Ainda é discutível o quanto a nova fé substituiu de fato os antigos sistemas de crenças. No México dos astecas e na América Central dos maias especialmente, muitas práticas e ritos pré-cristãos persistiram na forma de festivais, rituais e locais sagrados. Isso pode ser exemplificado pela adoração a Nossa Senhora de Guadalupe, que apareceu para um índio nas cercanias da Cidade do México em 1531. Uma forma de adoração com alguns ritos tradicionais desenvolveu-se ao redor do suposto poder miraculoso de uma imagem da virgem que ela mesma teria entregue ao índio e que já foi abrigada por várias edificações, incluindo a imensa basílica que agora ocupa o local da aparição. As atividades missionárias também se espalharam para as áreas

fronteiriças do norte, como fica evidente pelas missões franciscanas e jesuítas do final do século 17 e começo do século 18 no Texas e Novo México e aquelas da Califórnia fundadas por Junipero Serra (1713-84), um frade asceta com grande competência administrativa. Através do trabalho de 146 padres franciscanos entre 1769 e 1845, aproximadamente cem mil índios foram batizados, sendo que muitos deles viviam nas vinte e uma missões fundadas pelos frades. Esse talvez tenha sido o sistema combinando missão e comunidade que teve mais sucesso no Novo Mundo e eram de extrema importância econômica e social para a antiga Califórnia. No Brasil dos portugueses a propagação do Cristianismo foi semelhante à da América espanhola, mas havia algumas diferenças. Como não havia ali grandes civilizações pré-existentes, o trabalho era feito em grande parte com os povos das tribos. Os portugueses haviam se assentado de forma tão esparsa em seu vasto território ultramarino a ponto de não dar muita atenção à cristianização de toda a área. Assim, a propagação do Cristianismo foi muito mais incompleta do que aquela que ocorreu na América espanhola, apesar dos jesuítas terem se dedicado ao trabalho missionário, e a persistência de costumes pagãos poder ser observada lá em festivais como o Carnaval. Talvez o mais forte defensor dos direitos dos índios tenha sido o jesuíta Antônio Vieira (1608-97), que em 1655 obteve do rei um decreto criado para proteger os povos nativos da colônia. Em seus sermões ele condenava os colonos brancos pela

forma como tratavam índios e negros. Em resumo, a Igreja na América Latina teve que encarar o desafio triplo de manter o controle sobre colônias brancas cada vez mais indiferentes, evangelizar os índios e ministrar aos africanos que tinham sido trazidos como mão-de-obra escrava. O estilo da iniciativa de cristianização normalmente consistia em induzir os índios a levar uma vida mais sedentária, sob a tutela dos padres missionários que, em troca lutavam contra a exploração colonial dos povos indígenas e conseguiam da coroa medidas que os protegessem. Como resultado disso, muitos membros da população branca leiga não gostavam dos missionários.

As missões portuguesas na África Dentre os fatores que estimularam o interesse inicial dos europeus pela África, um deles foi a lenda do presbítero João, um governante que havia perdido o contato com o Ocidente. Acreditava-se que se fosse possível entrar em contato com ele novamente, os cristãos flanqueariam os impérios muçulmanos e poderiam partir para o ataque. Cada uma das muitas lendas medievais dizia que ele estava num lugar diferente, situando-o desde a Índia até o oeste da Ásia. Mas no meio do século 14 presumia-se que ele estivesse em algum lugar na África. Em 1487, o rei português João II enviou Bartolomeu Dias para o sul a fim de procurar o reino do presbítero João, mas o navegante voltou depois de ter passado pelo Cabo da Boa Esperança. Pero de Corvilhã foi por terra e chegou à

Etiópia, onde foi bem recebido. Em 1520 uma embaixada portuguesa da Índia chegou para uma estadia de seis anos e seu capelão, Francisco Álvares, publicou um relato detalhado da vida religiosa no reino cristão. Vários jesuítas trabalharam na Etiópia nos anos seguintes e tentaram levar a igreja monofisita a submeter-se ao Catolicismo romano. A lenda do presbítero João também chamou a atenção do rei Henrique, o Navegador e seu desejo de encontrar um aliado na África bem como de ganhar almas para Cristo estava entre os motivos que levaram à realizar sua expedição costeira. Tendo em vista que o papa havia dado ao rei de Portugal a incumbência de sustentar as missões na África, os navios também levavam padres que escreveram inúmeros relatos de conversões e batismos das Ilhas Canárias até a costa da Guiné. Nos 250 anos que se seguiram, várias ordens tentaram trabalhar na África mas nenhuma comunidade cristã duradoura conseguiu se estabelecer. Um fato importante foi o batismo do governante de Bakongo em 1491, que chegou a mudar o nome de sua capital de Mbanza para São Salvador. Apesar dele ter abandonado a fé, seu filho Alfonso continuou sendo cristão e ao suceder o pai no trono apoiou a cristianização do reino. Apesar de aculturações evidentes terem se seguido (adoção dos costumes portugueses bem como da religião), elas não chegaram à população geral. Alfonso enviou alguns homens a Portugal para estudar (inclusive para o sacerdócio) e mandou uma embaixada ao papa em 1513. Porém, não havia comprometimento suficiente e nos dois séculos

seguintes as iniciativas missionárias não foram significativas. Mais para o sul, em Angola, o trabalho missionário português resultou em muitos batismos e na suposta conversão da cidade inteira de Luanda, onde foi construída uma catedral. Com a ordenação de alguns padres africanos, a fé persistiu ali mais do que no Congo. No leste da África praticamente não havia trabalhos missionários, apesar de Portugal ter construído um enorme forte em Mombasa, chamado Forte Jesus, para proteger seus interesses comerciais. A primeira iniciativa foi em Moçambique, onde em 1560 o missionário jesuíta Gonçalo da Silveira converteu os principais membros de uma comunidade costeira e então embrenhou-se pelo interior (o Zimbabwe nos dias de hoje), onde batizou o governante mais poderoso do sul da África, o Monomotapa. Mas o rei teve medo de que o missionário fosse um agente português e mandou matá-lo no ano seguinte. Um século depois, várias missões se seguiram e um dominicano chegou a batizar um de seus reis em 1652, um acontecimento que foi recebido com grande alegria em Lisboa e Roma, mas, a longo prazo, o trabalho não conseguiu consolidar-se na região do Zambezi. Nenhum clérigo negro foi ordenado no Moçambique durante três séculos. Por outro lado, alguns clérigos europeus estavam até envolvidos com a administração dos prazos, grandes e rentáveis propriedades rurais que funcionavam num sistema semelhante ao feudal.

As missões no Oriente As missões eram parte integrante da expansão portuguesa. Como disse Diogo de Couto (1542-1616) — o soldado e historiador do império — “Os reis de Portugal sempre tiveram como objetivo dessa conquista do Oriente a união dos dois poderes, o espiritual e o temporal, sendo que o primeiro não deve ser exercido sem o segundo”.2 O patrocínio garantia a Portugal que outros países não iriam tentar dividir as terras do império sob o pretexto de fazer trabalho missionário. Assim, padres e freiras sustentados pela coroa acompanhavam os navios e eram parte do complexo de fortificações e postos de troca comercial. O arcebispo de Goa estava sob a autoridade do rei e era o primaz das regiões sul e leste da Ásia. As forças missionárias, a princípio, limitaram-se aos súditos portugueses, mas o caráter multinacional da ordem dos jesuítas e a intrusão do clero espanhol e francês logo mudaram esse quadro. Do ponto de vista espiritual, as missões eram, na melhor das hipóteses, operações paralelas, até a chegada de Francisco Xavier, um marco na propagação do Cristianismo. Nascido em 1506 numa família nobre em Navarra, Espanha, quando era aluno da universidade de Paris tornou-se discípulo de Loyola e ajudou a organizar a Sociedade de Jesus. Enquanto estava em Roma, respondeu ao chamado feito pelo monarca português pedindo missionários para o Oriente e embarcou em 1541. Um homem de energia inesgotável e grande comprometimento, nos onze anos seguintes ele viajou incessantemente pela Índia e Ceilão, visitou a

Malásia e as Índias Orientais, marcou o início da presença cristã no Japão e estava se preparando para abrir uma missão na China quando faleceu em 1552. Xavier abriu caminho para as iniciativas missionárias dos jesuítas na Ásia. Ele escolheu membros para a Sociedade, providenciou para que viessem da Europa, criou uma escola de treinamento para nativos cristãos em Goa e trabalhou pessoalmente em vários lugares no sul da Índia onde ganhou milhares de convertidos. O primeiro grupo de jesuítas chegou em 1545-46 e não tardou para que a Sociedade tivesse fundado postos em vários lugares no subcontinente. Sua tentativa de criar uma missão na corte do imperador Mogul em Déli foi notável mas teve muito pouco sucesso. A maioria dos missionárias acabava ministrando aos membros das castas mais baixas e aos europeus da Índia. As realizações no Japão foram mais dramáticas. Em 1547 Xavier encontrou um jovem japonês e levou-o para Goa onde foi batizado. Dois anos depois, Xavier viajou com o rapaz para sua casa em Kyushu, uma ilha no sul do Japão, onde ele serviu de intérprete. Xavier ficou lá durante dois anos, ganhou convertidos e começou uma missão. Outros jesuítas se seguiram e a nova fé espalhou-se rapidamente. Em 1582 havia duzentas igrejas e 150 mil cristãos, o que significava que a porcentagem de cristãos naquela época era maior do que a do século 20. Como a equipe missionária era pequena, foram feitas algumas tentativas de se treinar um clero japonês e em 1596 chegou um bispo apoiado pelos

portugueses. Apesar do papa ter reservado o Japão para os jesuítas, na década de 1590 os dominicanos e franciscanos também começaram a trabalhar no território e surgiram rivalidades entre as ordens. Em 1587 o xogum (governante militar do Japão) Hideoshy lançou um édito contra o Cristianismo, ordenando que os missionários deixassem o país, mas só uma década depois de começarem as brigas é que ele fez cumprir suas ordens ao mandar executar duas dúzias de cristãos. Depois de um ano de perseguição, as pressões diminuíram, o trabalho missionário pode continuar e a população cristã logo ultrapassou o marco dos quatrocentos mil. A própria cidade portuária de Nagasaki havia se tornado predominantemente cristã. Então, em 1614 os xoguns Tokugawa começaram uma vigorosa perseguição. Eles temiam que o Cristianismo abrisse caminho para o domínio europeu no Japão ou que os missionários e japoneses cristãos se tornassem um grupo contrário à dinastia. Durante os vinte e cinco anos seguintes todos os missionários cristãos foram expulsos ou executados enquanto os crentes nativos eram forçados a renunciar sua fé. Aqueles que se recusaram a fazê-lo foram sujeitos a horrores brutais — crucificados, queimados lentamente ou decapitados. Pelo menos quatro mil pessoas sofreram o martírio. Depois de uma rebelião em 1637-38 na qual estavam envolvidos milhares de cristãos, o governo fechou as fronteiras do país para o

comércio europeu. Antigos cristãos foram caçados e forçados a pisotear a cruz e representações de Cristo para provar que haviam se arrependido. Os navios japoneses estavam proibidos de ir para outros países e pessoas voltando de qualquer viagem desse tipo eram mortas. O mesmo fim também seria dado a europeus que chegassem no Japão. Só os holandeses tinham permissão de mandar uma comitiva comercial por ano para Nagasaki e tinham que esconder todos os objetos ligados ao Cristianismo enquanto estava aportados. Porém, alguns cristãos sobreviveram em áreas remotas de Kyushu e secretamente passaram a fé adiante para seus filhos. Realizaram batismos e transmitiram os Dez Mandamentos, algumas orações e doutrinas. A existência dessa comunidade cristã remanescente que tinha mais de quinze mil membros foi descoberta depois que o Japão voltou a abrir suas fronteiras no final do século 19. Na China, assim como na Índia e no Japão, as primeiras missões foram portuguesas. Apesar do esforço inicial de Francisco Xavier de iniciar uma missão ter sido em vão, outros se seguiram. Os jesuítas começaram uma escola superior em Macau e em 1576 uma sé episcopal foi fundada lá com apoio financeiro do rei português. A união com a Espanha em 1580 garantiu que as Filipinas também seriam uma fonte de obreiros. Os jesuítas, porém, tomaram a iniciativa e 456 obreiros dessa ordem foram para a China entre 1552 e 1742. O líder da missão na Ásia,

Alessandro Valignano (1539-1606), havia promovido energicamente o trabalho no Japão e pode oferecer as bases teóricas daquele que foi o empreendimento cristão de maior sucesso na época. Seguindo o caminho aberto por Francisco Xavier, ele procurou formar igrejas verdadeiramente nativas no Japão e na China, igrejas totalmente separadas do controle ibérico inerente ao apoio do padroado. A intenção dos jesuítas era ganhar essas pessoas para Cristo e não para a cultura européia. Assim como havia feito no Japão, Valignano pediu que a religião cristã fosse adaptada às tradições e costumes chineses, tendo em vista que isso permitiria alcançar os escalões mais altos da sociedade o que, por sua vez, faria com que a fé chegasse a toda população. Seu protegido foi o marco da missão na China, Matteo Ricci (1152-1610), que depois de estudar Matemática, Astronomia e Cartografia, foi para Goa em 1577 e Macau em 1582. No ano seguinte ele e seu colega puseram-se a conquistar o respeito e a amizade da elite dominante como primeiro passo para introduzir o Cristianismo. Eles se instalaram na capital da província, próximo ao Cantão, mostraram para os estudiosos e burocratas seu conhecimento sobre relógios, calendários e desenho de mapas e através disso, ganharam acesso aos círculos mais elevados. Ricci também aprendeu sobre as obras clássicas chinesas e escreveu ensaios em chinês sobre a ciência ocidental e a fé cristã. Ele adotou o traje de estudioso confucionista e usou como nomes para Deus termos

que encontrou nos escritos clássicos. Ele considerava a veneração dos ancestrais familiares e de Confúcio como ritos culturais sem verdadeiro significado religioso e permitia aos convertidos que continuassem a observá-los. Seu desejo era mostrar que o Cristianismo não era contrário nem à família e nem ao Estado. Em 1601 Ricci chegou a Pequim e ganhou vários oficiais importantes e um príncipe imperial para o Cristianismo. Um decreto de 1611 autorizou os jesuítas a fazer uma correção do calendário chinês e dali em diante eles ofereceram várias contribuições científicas. Com efeito, ficaram responsáveis pela repartição governamental de astronomia. Tendo em vista que o respeito por eles na corte era tão grande, eles conseguiram suportar a mudança da dinastia Ming para Manchu. Johann Schall von Bell (1591-1661), um jesuíta alemão, não apenas dirigiu a repartição e foi conselheiro científico do imperador, como também construiu igrejas e pregou por todo o império. Em 1657 Ferdinand Verbeis (1623-88) da Bélgica, juntou-se a ele e no governo do brilhante imperador K’ang Hsi (que reinou de 1662 a 1722) fez instrumentos astronômicos, projetou canhões e ajudou no acordo diplomático feito com os russos em 1685. À medida em que a hostilidade contra os cristãos foi diminuindo, cresceu o número de ministérios e missionários de vários países da Europa e ordens religiosas entraram no país. Um exemplo é o caso do chinês cristão com o nome de batismo Gregório Lopez, que estudou em

Manila, tornou-se dominicano, foi ordenado sacerdote e depois voltou para servir em seu país de origem. Então, em 1690 ele foi nomeado bispo de Nanquim. Na realidade, em 1700 a equipe de missionários não passava de cem pessoas enquanto o número de cristãos chineses era de no máximo trezentos mil, de modo que o verdadeiro impacto da fé sobre essa vasta população foi mínimo. Mais para o sul, nas Ilhas Filipinas, o processo de cristianização ocorreu de forma análoga ao da América Latina. Em função do patrocínio real, missionários de várias ordens viajaram em navios espanhóis e receberam apoio oficial e proteção. Ao mesmo tempo, suas atividades estavam sujeitas ao controle real. Os primeiros missionários também procuraram proteger os povos indígenas da avidez dos colonos brancos. Um dos mais notórios foi Domingo de Salazar (1512-94), primeiro bispo de Manila e aluno de Las Cásas. Ele condenou as práticas usadas para subjugar a população local e lutou contra a ganância dos oficiais civis. Os missionários espanhóis seguiram métodos que haviam sido utilizados na América, a saber, principalmente uma ênfase da substituição de ritos pagãos com festivais cristãos e a fundação de escolas, hospitais e associações de oração e caridade. Porém, os portugueses foram hostis aos clérigos espanhóis quando estes conduziram trabalhos missionários na China e na Índia, pois achavam que o patrocínio real lhes dava exclusividade para evangelizar nessas

áreas. Isso foi fonte de muitas tensões no século 17 e começo do século 18. Um importante missionário nativo na Ásia foi José Vaz (16511711), um missionário indígena de Goa. Como já era sacerdote em sua terra, ele decidiu começar um trabalho no Ceilão (Sri Lanka) de onde os holandeses estavam tentando expulsar a Igreja Católica. Em 1689 ele entrou na ilha disfarçado e ministrou secretamente em casas até que as autoridades holandesas o descobriram. Então, fugiu para o reino independente do Kandy, cujo governante lhe deu liberdade de evangelizar. Ele trouxe um outro sacerdote nativo de Goa e logo a obra estava crescendo. Em 1696 ele foi nomeado vigário geral da ilha, o que significava que era líder da Igreja na Ásia, um acontecimento singular nessa época.

A expansão ortodoxa russa No século 16 a Igreja Ortodoxa Russa ligou-se ao programa expansionista do czar. Se os povos recém-conquistados fossem convertidos à fé russa, isso ajudaria na assimilação. Assim, as missões recebiam apoio do governo. Ao invés de monges individuais trabalhando por iniciativa própria, o trabalho era feito por grupos maiores, sob a direção das autoridades eclesiásticas. Por exemplo, um arcebispado foi criado em Kazan em 1555 sob a liderança do abade Gurij, que conseguiu a conversão dos tártaros queremissianos ao oferecer-lhes isenção de

impostos e liberdade da servidão. Esse padrão repetiu-se com outros povos ao longo dos dois séculos seguintes. Com a abertura da Sibéria, os sacerdotes e monges ortodoxos apoiados pelo regime vieram logo depois dos comerciantes de peles e soldados. Várias tribos locais foram convertidas e em 1620 foi criado um arcebispado em Tobolsk. Com o passar do século 17, mosteiros e pontos missionários foram fundados em diversos lugares. Por exemplo, depois da fundação da cidade de Irkutsk em 1652, missionários ortodoxos começaram a trabalhar entre os mongóis buriates que viviam na região em torno do lago Baikal. Porém, eles só converteram treze por cento da população. A maioria continuou com as crenças tradicionais do xamanismo e o do budismo lamdaístico. A vida nômade de muitas tribos siberianas tornava difícil o trabalho missionário. Assim como seus antecessores, o czar Pedro I usou as missões como uma forma de assimilar os povos que não eram russos e fortalecer sua autoridade. Seu principal aliado foi Filofei Leszcynski, prelado metropolitano de Tobolsk que fundou novas obras por toda a região norte das Sibéria. Ele possuía autorização imperial para suspender os impostos daqueles que fossem batizados. Novas igrejas muitas vezes eram erguidas nos lugares que haviam sido centros de culto tradicional. A maioria dos Kamchatka havia sido convertida na metade do século 18 e a primeira missão foi enviada para o Alasca em 1794. Uma diocese foi criada no Alasca tendo como seu primeiro bispo residente

Ivan Venyaminov (1797-1879). Em 1848 ele construiu uma catedral em Sitka, que foi uma das missões indígenas mais bem sucedidas ao norte do México.

O Mediterrâneo e o Oriente Próximo O tratamento dos judeus é um dos capítulos mais desanimadores da história do Cristianismo. O registro de perseguições realizadas desde os tempos dos Cruzadas até a expulsão da Europa ocidental e central é desesperador e os únicos refúgios que os judeus encontraram foram na Espanha muçulmana e na distante Polônia, onde vários governantes dos séculos 13 e 14 haviam concedido direitos de assentamento. Porém, na Reconquista eles perderam a Espanha e, logo em seguida, a pedido de Torquemada, em 1492 Fernando e Isabel ordenaram a expulsão de todos os judeus que não se tornassem cristãos (Portugal fez o mesmo em 1497). Isso deixou o país desprovido de 170 mil dos seus súditos mais produtivos num momento em que precisava de todos os seus recursos para sustentar seu poder europeu e o império ultramarino. Os judeus ibéricos ou “sefárdicos” foram dispersados por todo o mundo mediterrâneo, sendo que alguns também foram para a Holanda e outros para a América. Aqueles que se converteram sob intensa pressão (os chamados marranos ou cristãos “novos”), eram vistos com desconfiança e foram perseguidos pela Inquisição. De tempos em tempos entre os séculos 16 e

18, houve iniciativas específicas de evangelização dos judeus na Itália. Na Polônia, missionários jesuítas trabalharam entre os judeus orientais ou “asquenázicos” a fim de ganhá-los para o Catolicismo enquanto, depois dos territórios poloneses terem sido anexados à Rússia em 1648 e 1795, a grande população de judeus foi sujeita a uma discriminação cada vez maior e a tentativas de convertê-los à ortodoxia russa. Em outras partes o Cristianismo estava em declínio. Os turcos otomanos dominaram de vez o enfraquecido império bizantino e em 1453 conquistaram seu último foco de resistência, Constantinopla. Eles continuaram a ofensiva durante grande parte do século 16, capturaram Belgrado, Rodes, Chipre e quase toda a Hungria e foram contidos pouco antes de entrar em Viena em 1526. Seus navios dominaram o Mediterrâneo e um segundo ataque a Viena ocorreu em 1683. A situação resultante foi desanimadora para a Igreja Ortodoxa Grega. Muitos converteram-se ao Islã e aqueles que continuaram cristãos sofreram com os impostos discriminatórios. Jovens cristãos eram tirados de seus lares e criados como muçulmanos para fazer parte das forças militares Janissary (elite turca). Muitas igrejas foram transformadas em mesquitas, sendo Santa Sofia em Constantinopla a mais conhecida. O único progresso significativo contra o Islã foi na Espanha, onde a Reconquista se completou em 1492 e os mouros restantes foram forçados a tornar-se cristãos. Aqueles que rejeitavam o batismo foram expulsos entre 1502 e 1524. A Inquisição foi usada para acabar com as antigas

crenças e práticas entre os mouriscos, como eram conhecidos os muçulmanos convertidos. Aqueles novos cristãos que continuaram a praticar suas antigas tradições culturais foram finalmente expulsos em 1609.

A propaganda O ritmo cada vez mais acelerado do trabalho missionário católico levou à criação de uma agência especial na cúria romana para coordenar essa iniciativa tão abrangente. Não havia unidade na metodologia missionária das diversas ordens religiosas e o controle excessivo que as coroas espanhola e portuguesa exerciam através de seu patrocínio tinha impacto negativo sobre o alcance das missões. Além disso, uma falta de obreiros havia se desenvolvido porque as forças ibéricas normalmente excluíam do serviço missionário em seu território qualquer um que não fosse nascido na Espanha ou em Portugal. Apesar da idéia de Roma assumir um controle firme no lançamento e direção de iniciativas missionárias já vir sendo discutida desde a década de 1560, foi em 1622 que Gregório XV criou a Congregação para a Propagação da Fé, mais conhecida por Propaganda, seu título abreviado em latim. A princípio, ela era composta de treze cardeais e outros oficiais inferiores. Tendo em vista que sua jurisdição englobava todos os assuntos relacionados à atividade missionária, a Propaganda tinha amplos poderes. Ela começou solicitando de todas as ordens missionárias e

núncios papais informação sobre as condições e o progresso da obra missionária, um resumo dos métodos usados para propagar a fé e uma lista dos missionários. Esse órgão passou então a separar, classificar e analisar os dados para determinar quais eram os principais problemas enfrentados pelas missões. Depois de identificar os obstáculos e insucessos, a Propaganda pôs-se a melhorar a metodologia, aumentar o número de obreiros e incentivar o desenvolvimento de clérigos nativos. A fim de assegurar que se fizesse um esforço unificado, a Congregação insistia que a autorização para os trabalhos missionários só fosse obtida dela mesma. Os missionários deveriam fazer relatórios regulares sobre as condições, perspectivas e recursos de suas iniciativas. Ela examinava candidatos para avaliar se eram adequados e encorajava as ordens a montarem escolas para aqueles que desejassem servir no Oriente. Em 1627, sob o papado de Urbano VIII, a Propaganda fundou um seminário em Roma, o Collegium Urbanum, para treinar homens de várias nações para o sacerdócio que iriam exercer em qualquer parte do mundo a pedido do papa para propagar ou defender a fé. Criou também sua própria imprensa em 1627 a fim de produzir literatura cristã para as obras missionárias e, no final do século 18, já publicava livros em quarenta e quatro línguas asiáticas e africanas, tornando-se a mais importante imprensa da Europa. Para contrabalancear o patrocínio ibérico, a Propaganda deu início à prática de fazer com que a Santa Sé nomeasse “vigários apostólicos”

para o Oriente. Estes eram bispos que exerciam o poder diretamente sob o papa. Como eles não eram bispos de dioceses no sentido comum, estavam menos vulneráveis às pressões dos governantes seculares. Na verdade eles eram missionários itinerantes que recebiam suas ordens através da Propaganda e esperava-se que trabalhassem em favor da preservação da autonomia cultural e social nas terras não-ocidentais onde serviam. Porém, a Propaganda nunca foi capaz de tirar todo o controle exercido pela coroa da Espanha e de Portugal sobre os missionários em suas colônias, mas foi responsável por obras no norte da Europa, na América do Norte (até 1908) e na maioria dos lugares na África, Ásia e Ilhas do Pacífico. Uma figura importante foi o jesuíta Alexandre de Rhodes (15911660) que cultivou laços de amizade com a corte real no Vietnã e fundou uma igreja auto-sustentável. Ele criou a linguagem escrita do Vietnã com seu dicionário, gramática e catecismo anamita. Depois de voltar para Roma em 1645, ele encorajou a Propaganda a nomear vigários apostólicos para dar continuidade ao trabalho missionário no leste da Ásia. Também teve contato com um grupo de sacerdotes devotos em Paris, os chamados “bons amigos” e através de seu incentivo dois deles — François Pallu (1628-84) e Pierre Lambert de La Motte foram nomeados vigários apostólicos. Em 1664 eles começaram um trabalho no Sião e fundaram uma escola para treinar sacerdotes. Do crescimento desse círculo nasceu uma importante organização, a

Société des Missions Étrangère (Sociedade das Missões Estrangeiras), formada em Paris em 1663. Ela era diferente das outras ordens religiosas que se dedicavam ao trabalho missionário, pois propagar a fé entre os povos não-cristãos era seu único objetivo. Ela pôs em prática a visão de Pallu de criar um clero nativo secular para as jovens comunidades cristãs do sudeste da Ásia. A sociedade acreditava que padres “comuns”, membros de ordens religiosas dirigidas pela Europa não tinham como oferecer a liderança necessária para fazer a igreja criar raízes em solo fora da Europa. Mesmo quando ordenavam sacerdotes nativos seculares para suas missões, as ordens os controlavam e não permitiam que desenvolvessem suas aptidões naturais de liderança. Assim, a solução era que o clero paroquial fosse secular e escolhido entre nativos e sob a direção de bispos também nativos. Foi com esse fim que a sociedade abriu um seminário em Paris que treinava sacerdotes seculares para pregar o evangelho e desenvolver líderes cristãos nativos. Uma instituição parecida foi criada em Quebec em 1668, sendo que esta mantinha contato com a sociedade de Paris até que os ingleses conquistaram o Canadá francês. O grupo contava com alguns obreiros na China, mas seu principal foco de atenção era a Indochina, onde, de acordo com relatórios, no final do século 18 havia 150 mil cristãos. Porém, tanto a Espanha quanto Portugal criticaram a nomeação dos dois vigários apostólicos como sendo uma violação do direito de patrocínio concedido por Roma. Também temiam que isso

fosse abrir uma brecha para o imperialismo francês, o que obviamente foi o caso. Em 1787 o vigário apostólico da sociedade Pigneau de Behaine garantiu auxílio naval francês para restaurar ao cargo o monarca deposto de Annan em troca de concessões territoriais, fato que marcou o início de um longo envolvimento com a França nessas terras. Apesar dos esforços da Propaganda para desenvolver mais clérigos nativos, o processo era tão lento nos territórios sob sua jurisdição quanto nos reinos onde prevalecia o governo ibérico. O clero europeu continuou a ser predominante em todo o mundo.

Controvérsias sobre ritos O trabalho da Congregação para a Propagação da Fé na Ásia foi colocado em risco por causa das brigas sobre ritos na Índia e na China e a decisão do papa sobre isso, com efeito, fechou as portas para qualquer futura adaptação missionária à cultura local. A primeira controvérsia foi sobre os ritos malabares e surgiu por causa da decisão do jesuíta Robert de Nobili (1577-1656) de permitir que os cristãos da missão de Madura, na Costa do Malabar mantivessem seus costumes. Os missionários procurariam se adaptar ao modo de vida do povo e pregar dentro das práticas nativas ao invés de transformar o povo em europeus. O sistema de castas foi mantido e Nobili vivia e comia como um indiano e estudava a Vedanta e outros escritos religiosos indianos a fim de poder alcançar os líderes do bramanismo, sendo que, de fato, ele converteu alguns deles.

Nobili foi o primeiro europeu a ter conhecimento de primeira mão sobre o sânscrito e as vedas. Ele insistia que havia uma diferença entre ritos religiosos e costumes culturais e justificava estes últimos removendo elementos da superstição e direcionando-os num sentindo cristão. Alguns suspeitavam de sua tolerância aos costumes existentes e temiam que ele também estivesse pondo em perigo a soberania portuguesa sobre a Índia. Ele foi levado perante a Inquisição em Goa, a qual ficou dividida sobre a questão que foi apresentada a Roma. Em 1623 o papado tomou o partido de Nobili, que pode então continuar seu trabalho e o Cristianismo propagou-se rapidamente pela região. O assunto foi trazido novamente à baila no final do século por inimigos franceses da missão jesuíta no sul da Índia, envolvendo a Propaganda na controvérsia. Depois de quatro décadas de disputas políticas e desentendimentos eclesiásticos, o papa Benedito XIV decidiu em 1744 que todos os missionários deveriam fazer um juramento com dezesseis itens que, em sua essência, repudiava quase todas as adaptações à cultura indiana. Só em 1940 é que a Santa Sé finalmente anulou esse juramento. O conflito sobre os ritos chineses foi ainda mais sério e abrangente. Matteo Ricci havia permitido que os cristãos chineses observassem as práticas de homenagear Confúcio e os ancestrais familiares. Ele via a manutenção dessas práticas “não-religiosas” como sendo absolutamente necessária para que fosse possível a conversão em grande escala da

sociedade chinesa. Seus sucessores jesuítas deram continuidade a essa política, mas então os franciscanos e dominicanos começaram a trabalhar na China e a questionar os ritos confucionistas como sendo superstição e sincretismo com o paganismo. Uma disputa intensa persistiu entre as partes durante anos, tanto na China quanto na Europa e até o imperador K’ang Hsi entrou na controvérsia. Determinações do pontífice em 1704, 1715 e 1742 concluíram (sem levar em consideração o seu papel crucial na cultura chinesa) que os ritos eram incompatíveis com o modo cristão de vida e foi imposto um juramento de submissão às determinações papais para todos os missionários (sendo que estas foram suspensas em 1939). O resultado da rejeição dos ritos chineses foi a expulsão da maior parte dos missionários e uma grande perseguição dos cristãos.

Apesar de ter sido ativa nos séculos 16 e 17, a iniciativa missionária católica romana acabou estagnando-se diante da passagem do tempo e no final do século 18 estava completamente parada. A dependência do patrocínio e a ligação com a política eram sem dúvida as grandes falhas dessa iniciativa. As missões portuguesas ficaram particularmente enfraquecidas pela união com a Espanha, o que abriu caminho para as potências protestantes da Europa atacarem suas colônias. Além disso, eles também encontraram culturas religiosas nativas mais bemestabelecidas e resistentes na Ásia do que havia ocorrido com os espanhóis nas Américas e nas Filipinas. O declínio do poder espanhol

nos séculos 17 e 18 deixou as missões mais vulneráveis aos colonos brancos, enquanto a repressão ou expulsão da ordem jesuíta de importantes países católicos e sua dissolução pelo papa em 1773 deixou a Igreja sem sua mais eficaz força missionária. O ceticismo religioso e a indiferença da era do Iluminismo iriam abalar ainda mais o entusiasmo missionário. Apesar dos protestantes europeus ainda não representarem uma ameaça significativa para a hegemonia católica no além mar, as sementes começaram a ser lançadas pelo movimento pietista e mais tarde elas produziram uma explosão mundial de iniciativas missionárias protestantes.

Capítulo 13 - O absolutismo e a ortodoxia moldam a Igreja Depois da redescoberta do evangelho pelos reformadores, seguiu-se um longo período de controvérsia e foi desses desentendimentos que veio a definição do posicionamento protestante. Os participantes desse debate com freqüência lançavam mão da filosofia de Aristóteles para expressar suas idéias e esse neo-aristotelianismo foi uma tendência tanto nos meios protestantes quanto católicos europeus no período pós-Reforma. Já bastante conhecido em universidades do sul da Europa como Pádua na Itália e Coimbra em Portugal, o movimento espalhou-se para as universidades protestantes da Alemanha no final do século. A questão cristológica entre os luteranos, as discussões sobre predestinação entre os reformados e os debates dos dois sobre a Ceia do Senhor levaram a

definições mais precisas da doutrina que era conhecida no século 17 como ortodoxia protestante.

Ortodoxia protestante Apesar de gerações posteriores terem estereotipado a ortodoxia como se estivesse morta, esse era um conceito equivocado. Dentro de ambas as comunidades pós-Reforma na Europa surgiram diversos pensadores teológicos cujas obras eram recebidas com grande consideração e cuja influência entre seus contemporâneos era considerável. Johann Gerdard (1582-1637), professor de Teologia em Jena era o principal dogmatista luterano daquela época. Sua obra Confessio Catholica (1634-37) era uma forte defesa da fé protestante e Loci Theologici (1610-22) uma obra excepcional sobre a Teologia dogmática luterana. Abraham Calov (1612-86), professor em Wittenberg, produziu dezenas de trabalhos tratando dos principais tópicos da Teologia. Além de conduzir uma luta contínua contra as tentativas de se unir as diversas igrejas reformadas e católicas, ele foi autor de um importante comentário bíblico e dos doze volumes de Systema locorum theologicorum, uma teologia sistemática que foi a principal expressão do Escolasticismo luterano. Johann Andreas Quenstedt (1617-88), também professor de Wittenberg, escreveu Theologia didactico-polemica, tão completa, concisa e sistemática que poucas obras teológicas luteranas posteriores se equipararam a ela.

A Igreja Reformada também contribui com estudiosos do mesmo nível. Johann Heinrich Alsted (1588-1638), um estudioso em Rhineland e mais tarde na Transilvânia, procurou unificar todo o conhecimento através de uma abordagem que combinava o aristotelianismo com o Escolasticismo do filósofo francês Petrus Ramus (falecido em 1572) e outras correntes intelectuais. Numa única obra, Encyclopedia Septem Tomis Distincta, ele juntou toda a gama de conhecimentos — Metafísica, Lógica, Geologia e outras ciências — e esses volumes foram usados por todo o mundo acadêmico do século. Gisbert Voetius (1588-1676), um professor em Utrecht, foi o principal expoente do Calvinismo escolástico. Ele defendeu fervorosamente a independência e pureza da Igreja, argumentou que a verdade na religião e Filosofia começava com a Palavra, condenou a tolerância de doutrinas errôneas e insistiu numa vida pessoal de devoção e rígida moralidade. François Turretin (1623-87), professor em Genebra, publicou a obra Institutio Theologiae Elencticae, um importante texto sobre as Escrituras baseado em Calvino e nos Cânones de Dort que moldaram profundamente a teologia de Charles Hodge em Princeton no século 19. O objetivo da ortodoxia protestante era unificar toda a Teologia e harmonizar todo o conhecimento com sua visão de Deus. Os teólogos ortodoxos produziram extensas obras literárias que eram cuidadosamente esboçadas com muitas divisões e subdivisões que as tornam de difícil leitura nos dias de hoje. Escritores ortodoxos normalmente apresentavam

seus pontos de vista num formato padronizado que se centrava na doutrina da salvação, passando pela história da salvação e concentrandose sempre em como ela é obtida. Esses ensinamentos apoiavam-se fortemente em Aristóteles e certos lógicos medievais para a estruturação de seus argumentos mas suas bases eram sempre as Escrituras. 1575 Phillip Nicolai

1500 1575 Ivan IV (O Terrível)

1600 Johann Heinrich Alsted

1650 JacquesBenigne Bossuet

1650 Rembrandt van Rijn domina a arte holandesa

1723 Johann Sebastian Bach torna-se cantor em Leipzig

1725 George Frederick Handel brilha na Inglaterra

1600 1598 1625 Édito de Cardeal Nantes Richelieu é Primeiro Ministro de Luís XIII

1700 1640 1688 1702-10 Frederico Frederic Revolta Guilherme, oI dos o Grande assume Camisar Eleitor o poder dos assume o poder 1661 1689 Luís XIV obtém Pedro I (O Maioridade Grande torna-se Czar

1800

A principal ênfase da ortodoxia era a Bíblia como fundamento da Teologia. Ela é a Palavra de Deus e portanto é confiável e a declaração externa (as palavras em si nas Escrituras) não é distinguível de seu significado mais profundo. A ortodoxia acreditava que Deus inspirou os profetas e apóstolos a escrever mensagens que recebiam dele. A Palavra divina foi, desta forma, preservada nas Escrituras sem erro, resultando numa Bíblia que era a norma infalível para os cristãos bem como o supremo tribunal para todas as disputas teológicas. Tendo em vista que

as Escrituras são o melhor intérprete de si mesmas, passagens difíceis poderiam ser compreendidas com a ajuda de outras mais claras. A ênfase era colocada na interpretação literal do texto sagrado, isto é, aceitando o seu significado mais simples e aparente. Com relação à Divindade, os ortodoxos interessavam-se pela união das naturezas humana e divina de Cristo em uma só Pessoa. Eles discutiram como uma natureza afetava a outra e como elas interagiam em Cristo. Crendo firmemente na criação divina, eles viam a humanidade como o ápice da obra de Deus. Mas Adão pecou e caiu e, por causa da unidade da raça, a corrupção do pecado foi passada de geração para geração. Os seres humanos estavam sob a ira de Deus e sujeitos tanto ao castigo temporal quanto ao eterno a menos que experimentassem a regeneração através de Cristo. Em sua definição de mal e pecado, porém, os ortodoxos luteranos e reformados tinham posições diferentes. A idéia calvinista de que Deus de alguma forma havia pré-ordenado o mal de acordo com sua vontade secreta (a base para a doutrina da dupla predestinação) era rejeitada pelos luteranos que afirmavam que Deus permite o mal e coloca limites para seu exercício mas não é responsável por ele. Os luteranos afirmavam uma única predestinação: os eleitos são aqueles que Deus ordenou à salvação enquanto os réprobos são aqueles que ele sabe de antemão que ao morrer não terão a fé salvadora.1 Os luteranos afirmavam que era possível passar da morte para a

vida espiritual somente através da operação da lei e do evangelho. A lei é a sabedoria eterna e imutável de Deus para o viver em retidão. Resumida nos Dez Mandamentos, ela exige atos de bondade bem como um coração puro. Mas como a humanidade não pode obedecer a lei, seu papel não é de salvar, mas sim de condenar. O perdão só vem através do amor e sacrifício redentores de Cristo e é recebido pela fé penitente. Ao contrário do Cristianismo medieval, o ortodoxo afirmava que o arrependimento envolve apenas contrição e fé. (Confissão e absolvição foram descartadas.) A contrição é o efeito adequado da lei, que ameaça, acusa e condena; a fé é o efeito adequado do evangelho que conforta, edifica e salva. Ao ajudar as pessoas a compreender a importância do pecado e do castigo, a lei os leva ao arrependimento. O evangelho traz o perdão através de Cristo e as boas obras não têm nenhuma participação na salvação. Tendo em vista que a salvação não pode ser merecida, as boas obras são fruto da fé. Os atos realizados pelos cristãos são um meio de glorificar a Deus e ajudar o próximo. Os ortodoxos de ambas as confissões ensinavam que os sacramentos (batismo e Ceia do Senhor) eram, no Novo Testamento, o equivalente aos ritos hebraicos de circuncisão e Páscoa. Os sacrifícios do Antigo Testamento eram vistos como símbolos da vinda do Messias e a promessa de perdão de Deus era aplicada sobre o indivíduo através dos sacramentos. A Igreja invisível era a congregação de todos os santos e crentes, enquanto a Igreja visível incluía a todos que professavam a fé no

evangelho. Aqueles que e associavam a Cristo apenas de modo externo seriam separados dos verdadeiros crentes no Dia do Julgamento. Então, o mundo seria destruído pelo fogo e os fiéis receberiam vida eterna enquanto os perversos seriam lançados ao inferno.

A espiritualidade ortodoxa Ao observar-se os enormes tomos produzidos pelos teólogos ortodoxos pode-se ter a impressão de que era um movimento de intelectualismo morto, mas na verdade, sua época foi marcada por uma fé viva e vibrante. Do meio do redemoinho, do sofrimento e dos conflitos do século 17 fluíram algumas das declarações mais espirituais já vistas sobre a fé cristã. Phillip Nicolai (1556-1608) foi um pastor na Westphalia que enterrou mais de 1300 párocos durante a terrível praga e, ainda assim, escreveu dois dos hinos mais lindos do hinário luterano Desperta pois a Noite se Vai e Quão Brilhante é a Estrela D'Alva. Johann Heermann (1585-1647) era pastor na cidade de Koeben, na Silésia, que foi praticamente destruída por um incêndio, varrida pela peste e saqueada por exércitos na Guerra dos Trinta Anos. Durante essa época em ele perdeu todos os seus bens e fugiu para não ser morto, Johann escreveu o hino Querido Jesus, que a Lei Quebraste. Sem dúvida, o maior escritor de hinos desse período foi Paul Gerhardt (1607-76), cuja importância para a hinologa na Alemanha equipara-se a de Charles Wesley para a igreja de língua inglesa. Primeiro

ele foi tutor, depois diretor em Mittenwalde em Brandenburg e finalmente pastor da prestigiosa igreja de São Nicolau em Berlim. Então, perdeu sua posição com a queda do governante da Prússia por causa de sua forte posição luterana e recusa a adaptar-se ao Calvinismo. Depois de um tempo de grandes dificuldades ele acabou sendo nomeado arquidiácono em Lueben, na Saxônia, onde permaneceu até o fim de sua carreira. Seus últimos anos foram marcados pela tragédia pessoal: sua esposa e quatro de seus cinco filhos faleceram antes dele. Na fornalha da aflição Gerhard escreveu mais de 140 hinos. Eles refletiam sua experiência pessoal e a calamidade social de seu tempo. Ele venceu suas dúvidas através de uma forte fé baseada na obra de Deus na natureza, na Igreja e nas Escrituras. Tinha uma consciência profunda do pecado e ainda mais profunda da graça de Deus e do poder de seu perdão. Entre seus textos mais conhecidos estão: Ó, Fronte Ensagüentada; Jesus, Teu Amor Infinito por Mim e Senhor, Como Irei Encontrá-lo?. A hinologia calvinista diferia da luterana no sentido de que era dirigida quase que exclusivamente aos Salmos do Antigo Testamento. Escritores criativos produziram versões “métricas” dos textos sagrados, isto é, adaptavam em forma de verso poético, compunham a música e depois a cantavam sem o acompanhamento de instrumentos, exceto na Holanda onde o órgão continuou sendo usado. O Saltério de Genebra era uma coleção de salmos métricos em francês que foram traduzidos para o

alemão e holandês e durante muito tempo foi o único hinário usado pelas igrejas reformadas do continente. Em algumas igrejas escocesas e inglesas que não tinham condições de comprar livros ou onde os párocos eram, em sua maioria, analfabetos os salmos eram “declamados em linhas”. Um líder lia uma linha de cada vez e a congregação a cantava. Sentimentos religiosos profundos também foram expressos através das obras devocionais da época da ortodoxia. Estas eram apresentações populares da fé cristã voltadas para o uso individual ou em grupos para ajudar na oração e meditação. Muitas delas seguiam o modelo de A Imitação de Cristo escrita por Thomas à Kempis. Escritores luteranos chegaram a produzir livros de orações especiais para soldados, viajantes e gestantes. Sem dúvida, o autor mais influente de obras devocionais foi o pastor Johann Arndt (1555-1621). Seus quatro (mais tarde seis) Livros sobre o Verdadeiro Cristianismo e a obra Pequeno Jardim do Paraíso eram amplamente usados e o primeiro título foi um dos livros devocionais mais importantes da história cristã. Ele enfatizava a união mística do crente com Cristo — isto é, não era suficiente simplesmente mostrar a fé através de uma crença correta, era preciso dedicar-se à purificação moral e a um viver de retidão. Assim, a penitência e um relacionamento íntimo com o Pai celeste que redimiu a humanidade também eram necessários. Outras obras devocionais importantes do século 17 incluem A Prática da Piedade de Lewis Bayly, Meditações

Sagradas de Johann Gerhard, Prática da Piedade de Johann Heermann e O Beijo de Amor do Céu de Heinrich Mueller.

O princípio da igreja territorial A definição do princípio territorial pela Paz de Augsburg (1555) no qual vários príncipes do Sacro Império Romano determinavam a confissão religiosa de seus súditos — católica ou luterana — e sua confirmação e extensão ao Calvinismo na Paz de Westphalia (1648) tiveram um impacto debilitante sobre a vitalidade das igrejas protestantes na Alemanha. A situação foi agravada pela adoção do absolutismo monárquico pela maior parte dos príncipes alemães no final do século 17 e começo do século 18. Isso significava não apenas uma uniformidade imposta de credo entre o povo de cada principado mas também que o chefe de Estado exercia o papel dominante da Igreja em si. Os governantes lançavam éditos tratando de questões religiosas em seus territórios da mesma forma como faziam com leis seculares e estendiam sua autoridade sobre quase todos os aspectos da vida da Igreja. Bispos ou sínodos não tinham permissão de funcionar de maneira independente do poder real. Os soberanos normalmente nomeavam ou ratificavam os indivíduos que eram escolhidos e, através dessas estratégias, controlavam as finanças e disciplina da Igreja e a indicação dos clérigos. O líder clerical da igreja era um superintendente geral e cada diocese (ou unidade administrativa semelhante) tinha um diretor

que providenciava para que as políticas e desejos do governante fossem obedecidas. As disputas dentro da Igreja eram resolvidas por “inspeções” que o príncipe sancionava e cujos relatórios eram enviados a ele. Os príncipes também interferiam nas áreas doutrinárias, apesar de muitas vezes terem pouco conhecimento teológico e, na verdade, eles funcionavam como “papas protestantes” de seus súditos. Johann Gerhard justificou essa situação argumentando que a Igreja era dividida em três grupos: a autoridade civil, o clero e a hierarquia e conjunto de leigos. Cada um desses grupos tinha um papel divinamente ordenado: as autoridades civis eram responsáveis pelo governo; o clero devia aconselhar os governantes, disciplinar o povo e administrar os sacramentos; e os leigos deviam seguir a orientação do governante e do clero. O verdadeiro poder estava claramente nas mãos do príncipe. Ele exercia autoridade sobre os outros dois grupos e considerava-se nomeado por Deus para ser o guardião tanto do bem-estar divino quanto material de seus súditos. Alguns escritores contemporâneos justificavam a autoridade do príncipe tomando por base os direitos legais que antes eram exercidos pela hierarquia na Igreja Católica e que passaram a recair sobre os governantes dos estados alemães protestantes, enquanto outros iam ainda mais longe e sugeriam que o papa e seus representantes haviam usurpado o poder que a princípio os governantes haviam recebido diretamente de Deus e que permitia que eles agissem em seu

favor estabelecendo um governo civil. Pastores em países protestantes do continente estavam basicamente sob o controle das autoridades civis e sua tarefa era explicar as doutrinas para os leigos. Porém, a situação política contribuiu para uma redução na posição e na qualidade do clero nesses lugares. Ao contrário das igrejas católicas e anglicanas, poucos aristocratas entravam para a profissão clerical. Os ministros vinham das classes mais baixas e eram considerados inferiores pela nobreza. Em muitas universidades alemãs, o curso de Teologia era o único aberto para pessoas de origens mais humildes e os clérigos protestantes consequentemente tinham menos polidez e capacidade de se adaptarem à alta sociedade do que seus colegas católicos. Mas o que lhes faltava em sofisticação era contrabalanceado por uma ênfase no estudo que por vezes beirava o pedantismo. A teologia escolástica enfatizava a loquacidade e o uso de frases em latim, grego e hebraico nos sermões, mesmo que poucos ouvintes tivessem alguma idéia do que se tratava tudo aquilo. Assim, para ajudar na comunicação, os pregadores muitas vezes usam fábulas, ilustrações, metáforas forçadas e estranhas imagens. A vida de um pastor típico não era fácil. Apesar de ter estudado numa universidade, com freqüência ele passava muitos anos trabalhando como tutor ou professor antes de finalmente ganhar o púlpito. E mesmo assim sua posição nunca era garantida pois ele poderia desagradar o príncipe ou algum dignitário local e ser dispensado. Os pastores de vilas

muitas vezes eram tão pobres que precisavam complementar sua renda continuando a lecionar ou dedicando-se a tarefas como a agricultura, fabricação ou venda de cerveja. Os membros mais favorecidos do clero eram os pregadores da corte e professores teológicos. Os luteranos tinham respeito especial pelos docentes de Teologia e desse contexto acabou surgindo o conceito de liberdade acadêmica que foi a contribuição distintiva das universidades alemãs para o ensino superior. Apesar do estilo de educação, das dificuldades de expressão nos sermões e de uma completa falta de qualquer ênfase profética em suas mensagens, muitos pastores da época eram homens profundamente espirituais que se sentiam responsáveis pelo cuidado das almas. Muitos luteranos dedicavam-se à instrução dos jovens através do catecismo e até mesmo ouviam confissões particulares dos párocos. Num livro conhecido, Voetius aconselhava os cristãos em como viver uma vida de retidão. Suas prescrições incluíam oração, jejuns, vigílias e exercícios devocionais na luta contra o mundo, a carne e o diabo. Ele dava conselhos sobre como visitar aqueles que precisavam de consolo e morrer com dignidade no final da peregrinação aqui na Terra.

A renovação católica À medida em que a era da ortodoxia estabeleceu-se na Europa, o zelo das duas confissões protestantes foi diminuindo e a fé tornou-se muito mais voltada para dentro. Até mesmo os calvinistas franceses aos

quais o Édito de Nantes havia concedido direitos legais e civis e liberdade de culto público, perderam muito de seu zelo e o mesmo aconteceu com os calvinistas holandeses que viviam num país que, naquela época já possuía políticas relativamente avançadas em relação à tolerância religiosa. Porém, paralelo ao declínio dos protestantes, ocorreu um importante reavivamento do Catolicismo e a condição revigorada da Igreja Católica e do clero na França coincidiu com realizações nacionais em outras áreas. O século 17 foi a era de ouro da literatura francesa, o que encorajou o clero a ser mais artístico em suas pregações e escritos religiosos. A atmosfera política e social incentivada pelo rei Luís XIV também foi um fator contribuinte. Ele expressava o prazer que sentia quando ouvia a pregação de um ministro que não era apenas eloqüente mas acreditava com todas as suas forças naquilo que dizia. O clero esperava fazer dele uma pessoa melhor e, através do rei, alcançar toda a nação e seu interesse pessoal pela religião tornou a freqüência às missas uma moda na corte, ajudando a igreja a exercer influência sobre a vida francesa. A liberdade que os huguenotes gozaram durante grande parte do século (Luís começou a persegui-los no final da década de 1670) empurrou o clero católico da França no sentido de uma fidelidade maior. Tendo em vista que não podiam depender da perseguição para enfrentar os protestantes, eles foram forçados a usar a pregação e um ministério de

cuidado para ganhar as pessoas e encarar, assim, o desafio dos huguenotes. François de Sales (1567-1622) foi especialmente importante pois dedicou-se à obra missionária em Savóia, uma área de forte influência huguenote. Sua diligência em ganhar o povo de volta para o Catolicismo o levou a ser nomeado bispo de Genebra. Suas pregações e escritos especialmente a obra Introdução à Vida Devocional (1609) que procurava mostrar a possibilidade de se levar uma vida de devoção cristã mesmo em meio às distrações do mundo, teve uma influência profunda na devoção católica. Ele foi o mentor espiritual de uma viúva profundamente devota, Jeanne Françoise de Chantal (1572-1641). Em 1610 ela formou a Ordem da Visitação (também conhecida como as visitandinas ou irmãs salesianas), que dedicou-se à educação e ao cuidado dos enfermos. João Bosco, um admirar do século 19, fundou em 1859 a Sociedade de São Francisco de Sales (Padres Salesianos) que acabou tornando-se uma das três maiores ordens católicas missionárias e de ensino. Outra figura de grande devoção foi Vicente de Paulo (1580-1660) que logo no início de sua carreira como sacerdote resolveu dedicar sua vida aos pobres. Ele criou duas importantes ordens religiosas, os lazaristas (ou vicentinos) em 1625, uma congregação missionária e de pregação e as irmãs da caridade em 1633. Membros desta última dedicaram-se totalmente aos enfermos e pobres. Durante o conflito civil conhecido como Fronde, ele organizou amplos trabalhos de assistência

entre a população agonizante. Em sua pregação, ele enfatizava a encarnação e a dependência total dos méritos de Cristo. A figura mais proeminente da renovação católica na França foi Jacques-Béningne Bossuet (1627-1704). Ele não apenas foi o maior pregador do século 17 como também possuíam um conhecimento admirável da Bíblia, dos Patriarcas da Igreja e das tendências intelectuais de sua época. Ele foi bispo em Meaux, tutor do príncipe e pregador da corte, teve um papel ativo nas controvérsias com os protestantes e alas fora dos padrões dentro do Catolicismo e foi autor de vários livros. Bossuet é lembrado especialmente por sua defesa vigorosa do direito divino dos reis. Ele afirmava que o rei (referindo-se, é claro, a Luís XIV) recebia do alto o seu mandato para governar e que seria responsável diante de Deus, e não dos representantes eclesiásticos na Terra, pela forma como conduziu sua missão. Como a instituição da monarquia era de origem divina, esperava-se que todos os súditos dedicassem sua lealdade ao soberano. Se ele não fosse capaz de governar com sabedoria, seria julgado por Deus. Não cabia ao povo ou a Igreja fazer tais avaliações.2

O absolutismo monárquico O caráter do Cristianismo europeu foi profundamente afetado pelos governantes de seu tempo. O absolutismo monárquico surgiu no início do século 17 na França, chegou ao seu ápice durante o reinado de Luís XIV,

que durou até 1715 e foi imitado pela maioria dos soberanos do continente. A estratégia dos primeiros arquitetos do absolutismo era dar um fim às incessantes lutas que haviam rasgado a França durante as Guerras Religiosas ao sustentar o ideal de unidade nacional como sendo superior à unidade religiosa e o monarca como a única pessoa ao redor da qual o país poderia se reunir. Assim, conforme foi mencionado anteriormente, o Huguenote Henrique IV, que subiu ao trono em 1589, converteu-se formalmente ao Catolicismo pois essa era a fé da grande maioria de seus súditos. Mas em seguida ele deu liberdade religiosa e política para seus antigos correligionários com o Édito de Nantes. Ele era um “politique”, ou seja, ele via o Estado e a continuação de sua existência como sendo da maior importância e a questão religiosa simplesmente teve que ficar em segundo plano em relação às preocupações políticas seculares do Estado. Como resultado, o terrível conflito entre protestantes e católicos franceses arrefeceu. O cardeal Richelieu, cuja posição na Igreja foi resultado de influência política e cujas preocupações eram em sua grande maioria seculares, emergiu na metade da década de 1620 como ministro do sucessor de Henrique, Luís XIII e levou o processo ainda mais adiante. Como governante virtual da França, em nome do rei ele reduziu o poder da nobreza ao proibir o envolvimento em duelos e guerras particulares e a fortificação de suas residências (castelos). Ele também tirou dos

huguenotes o direito de usar armas em defesa própria depois de reprimir brutalmente sua rebelião em La Rochelle em 1628. Para diminuir a influência da nobreza, Richelieu deu início à prática de nomear oficiais para as províncias, os chamados intendentes que pertenciam à classe média e respondiam ao governo real. Depois da morte de Luís e Richelieu, outro líder eclesiástico político, o cardeal Jules Mazarin, tornou-se primeiro ministro. Os nobres apelaram para as armas em Fronde (1648-53) a fim de reconquistar sua posição de proeminência e Luís XIV, que tornou-se rei em 1643 aos cinco anos de idade, sujeitou-se à regência durante esse período desagradável, determinado a nunca mais tolerar tal situação. Em 1661 Mazarin faleceu e Luís obteve a maioridade. Pôs-se então a identificar-se totalmente com o Estado francês (seu famoso lema era “L'Etat cest moi" [Eu sou o Estado]) e implantar um governo absoluto. Ele escolhia intendentes e outros oficiais que eram fiéis a ele, dirigia grande parte das operações de governo através de concílios que reportavam-se pessoalmente a ele e tomava todas as decisões importantes. Legislava através de decretos que eram devidamente registrados pelas principais cortes da lei e até mesmo prendia pessoas por ordem real sem julgamento. O talentoso ministro das finanças de Luís, Jean Baptiste Colbert (1619-83) dirigia o comércio, a indústria, a agricultura e as finanças. Ele também administrava as colônias através do sistema de mercantilismo,

um conceito de nacionalismo econômico que envolvia uma cuidadosa regulamentação governamental. Sob sua liderança competente as rendas do governo triplicaram mas as guerras de Luís tornavam impossível um orçamento equilibrado. Os dois também incentivavam a literatura, as ciências e as artes e fundaram academias que levaram a expressão na língua francesa ao ápice de perfeição. O francês tomou o lugar do latim como língua do povo educado e culto da Europa. O emblema de Luís era o Sol, o centro do universo e seus súditos referiam-se a ele como o “Rei Sol” enquanto outros na Europa o chamavam de “Grande Monarca”. Ele apreciou a caracterização do bispo Bossuet na qual o rei era escolhido por Deus para governar e só respondia diretamente a ele. Como ele era o agente de Deus na Terra, o povo era obrigado a se submeter a ele sem questionamentos. Para garantir que a nobreza não seria mais uma fonte de resistência, Luís construiu um enorme complexo com um palácio e um parque em Versalhes, próximo a Paris. Foi o projeto arquitetônico mais magnífico do século e milhares de nobres viviam nos suntuosos cômodos e eram atendidos por quatro mil empregados. Tendo em vista que gostavam de cerimônias e ostentação, a vida da corte girava em torno do elaborado calendário social sendo o rei Sol o centro de todas as atividades. Os nobres passavam a vida no ócio — participando de cerimônias reais, recepções, jogos, caça; indo a concertos, peças e bailes ou entregando-se à licenciosidade e fofocando sobre os outros. Lisonja e hipocrisia eram as chaves para o sucesso na

corte e as pessoas mais sensíveis eram desmoralizadas. Versalhes praticamente marcou a ruína da aristocracia francesa como classe social e, apesar dos nobres terem passado por um ressurgimento depois da morte de Luís, estavam num caminho que levaria ao declínio e teria como destino a grande revolução um século mais tarde. Em sua determinação de centralizar o controle, Luís decidiu abandonar a tolerância aos não-católicos. Os huguenotes, com seus direitos especiais, pareciam mais um Estado à parte dentro da França e os católicos pediam ao rei uma restauração da unidade religiosa no país. Mesmo que no período pós-Reforma o poder nas relações entre Igreja e Estado tivesse, sem dúvida, mudado para o lado do Estado, ainda assim persistia a idéia de que os dois eram inseparáveis e Luís via a existência dos huguenotes como uma ameaça tanto para seu governo como para a fé católica romana. Assim, a partir de 1679 foi tirando aos poucos os seus privilégios. Fechou igrejas e escolas e colocou soldados para viver em suas casas. Esta última ordem tornava a vida tão desagradável que alguns chegaram a converter-se ao Catolicismo para escapar dela. Finalmente, em 22 de outubro de 1685, uma ordem real revogou o Édito de Nantes. Ela exigia que todos os pastores reformados saíssem do país e que igrejas fossem destruídas. As escolas huguenotes não eram mais permitidas, as crianças deviam ser mandadas para a missa regularmente e qualquer um que nascesse numa família da “falsa religião” deveria ser batizado novamente. Não seria permitida nenhuma

outra prática religiosa formal fora da Igreja Católica Romana, mas os adultos ainda poderiam gozar de “liberdade de consciência”. Ao contrário do clero, os leigos foram proibidos de imigrar pois suas aptidões eram necessárias para fortalecer a economia nacional. Aqueles que fossem pegos tentando fugir teriam suas propriedades confiscadas e seriam sentenciados às galés. O resultado foi uma grande resistência. Muitos dos reformados continuaram adorando em silêncio ou fazendo cultos clandestinos em casas ou nas florestas. Os pastores que não partiram foram caçados e, na maioria das vezes, enforcados. Crianças huguenotes foram arrancadas de seu lar e entregues a pais católicos. Apesar da perseguição, uma igreja subterrânea começou a crescer. Místicos apocalípticos do sul da França conhecidos como camisards revoltaram-se em 1710. Eles foram inspirados pelos escritos do conhecido teólogo reformador Pierre Jurieu (1637-1713), um defensor da liberdade plena de consciência e do uso de armas para combater aqueles que recorriam à violência para negar a liberdade religiosa. Apesar da oposição oficial, Antoine Court (16961760) reuniu o que restou dos franceses reformados no primeiro sínodo provincial em 1715. Não tardou para que uma escola de treinamento de ministros fosse fundada na Suíça e a disciplina e ordem voltassem nas congregações dispersadas. Com o surgimento do Iluminismo, as pressões diminuíram rapidamente, os huguenotes recuperaram direitos civis limitados e durante a Revolução Francesa e era napoleônica a total

liberdade religiosa foi concedida. Porém, cerca de duzentos mil franceses partiram depois que o Édito foi revogado em 1685, sendo a maioria deles artesãos competentes ou soldados e marinheiros experientes. Os refugiados foram cordialmente recebidos em terras protestantes como a Holanda, Prússia, Inglaterra e nas colônias da África do Sul e América do Norte e contribuíram imensuravelmente para a vida econômica e cultural de seus novos países de residência. A França perdeu apenas um por cento de sua população nessa imigração ilegal, mas estes estavam entre os cidadãos mais produtivos, o que danificou a estrutura social e econômica do país. Os gastos exagerados de Versalhes, os maus tratos aos huguenotes e a ambição insaciável de Luís por poder nacional fazendo com que a França se envolvesse numa sucessão de guerras (incluindo o primeiro conflito realmente global) desfizeram muito daquilo que tinha sido realizado no absolutismo francês.

Absolutismo alemão Os métodos de Luís XIV foram imitados em outras partes da Europa, especialmente na colcha de retalhos composta de vários estados que formava a Alemanha pós-Westphalia. Imitações de Versalhes surgiram em lugares como Potsdam, Dresden, Munique, Hanover e Ludwigsburg (próximo a Sttutgart). Os príncipes alemães estabeleceram o serviço público, introduziram

o mercantilismo e sistemas eficientes de coleta de impostos, criaram exércitos permanentes, mantiveram a Igreja sob controle e, na corte, adotaram os modos, estilos e até a língua da França. A principal diferença nesse caso era que a nobreza estava incorporada no sistema e tinha recebido cargos proeminentes no serviço público. Em troca da submissão à autoridade absoluta do rei ou príncipe e fidelidade em seu serviço, eles tinham liberdade administrativa sobre suas propriedades. Assim, a posição social da classe média e dos camponeses deteriorou-se na era de absolutismo alemão. A aplicação mais bem-sucedida dos métodos absolutistas foi feita pela família Hohenzollern em Brandenburg-Prússia. O eleitor de Brandenburg, Frederico Guilherme, herdou em 1640 uma série de territórios arenosos espalhados pelo norte da Alemanha e indo do Reno até a Polônia. Conseguiu formar um exército tendo como base a pequena nobreza (classe dos Junkers) que era eficiente e completamente leal a ele e foi capaz de aumentar admiravelmente a base territorial e a força econômica de seu Estado. A atitude de Guilherme em relação à religião foi particularmente importante. Apesar do Calvinismo, ele reconheceu que muitos de seus súditos no oeste da Alemanha eram católicos e os de Brandenburg e do leste da Prússia eram luteranos. Tendo em vista que ele estava procurando infundir a unidade em seus domínios ao mudar de lugar oficiais e soldados, ele entendeu que qualquer iniciativa no sentido de

impor a uniformidade confessional iria enfraquecer seus esforços pela unidade. Frederico Guilherme seguiu o exemplo de Georg Calixtus (1586-1659), um professor da Universidade de Helmstedt que havia desenvolvida uma teoria chamada de “sincretismo”. A doutrina tinha sido criada para trazer a reconciliação entre luteranos, calvinistas e católicos tendo como base as Escrituras, o Credo dos Apóstolos e a fé aceita durante os cinco primeiros séculos da Igreja. Assim, o “Grande Eleitor” adotou uma política de tolerância forçada sobre seus súditos, quer o clero gostasse ou não. Isso também explica porque foi tão fácil integrar milhares de refugiados huguenotes no país em 1685, sendo que eles enriqueceram grandemente a economia. Seu filho, Frederico I (1688-1713) adquiriu o título de rei da Prússia e fundou uma nova universidade em Halle que estava para tornarse o principal centro do Pietismo alemão. Seu neto, Frederico Guilherme I (1713-40) fez de seu exército o quarto maior da Europa, mesmo que a Prússia só ocupasse o décimo segundo lugar em população. Aperfeiçoou a idéia de limitar os grupos de oficiais à pequena nobreza proprietária de terras, desenvolveu um esquema para alistar soldados dentre os camponeses e fundou, assim, o militarismo prussiano. Um governante profundamente devoto, ele detestava a preguiça e frivolidade e chegou a fechar teatros pois os considerava “templos de Satanás”. Assim como seus predecessores, porém, ele não tinha intenção de impor a hegemonia confessional em seus domínios. Para ele, as igrejas não eram apenas

lugares onde se pregava o evangelho, mas também instituições públicas de utilidade que podiam inculcar valores como integridade, lealdade, submissão e obediência. No seu reino também foi fundado o primeiro programa de escola primária sustentado pelo Estado. As matérias ensinadas eram Religião, Leitura, Escrita e Aritmética. Na verdade, Frederico Guilherme I era um disciplinador tão severo e cruel, tão ávaro e sem profundidade espiritual que quando seu filho Frederico II (1740-86), conhecido como Frederico o Grande, assumiu o poder, rejeitou a religião do pai e manteve o menor contato possível com a Igreja. Ao mesmo tempo, ele usou o poderoso exército passado a ele em duas grandes guerras que transformaram a Prússia numa grande potência e prepararam a cena para a manifestação posterior do nacionalismo alemão. Quanto à igreja na Prússia, ao contrário da França, ela claramente não ganhou nada com o absolutismo monárquico e como a religião era usada para apoiar a posição social, sua vitalidade dissipou-se. Em lugar algum isso ficou mais evidente do que na Rússia.

O Cristianismo e o absolutismo na Rússia Conforme foi mencionado anteriormente, o príncipe de Kiev tinha aceito o Cristianismo oriental, mas durante o período mongol o centro gravitacional mudou para Moscou, no norte. O governante moscovita Ivan III (1440-1505) exaltou a ortodoxia russa, declarou-se herdeiro do Império Romano Oriental, trouxe a cultura bizantina para seus domínios

e afirmou que a Rússia moscovita era a “Terceira Roma”. Seu neto, Ivan IV (1538-84) lançou um programa de expansão para o Leste que, durante o século seguinte, resultou no controle da Rússia sobre as regiões de florestas da Sibéria. Apesar de ser conhecido por sua extrema crueldade (era chamado de Ivan o Terrível, reprimiu a nobreza sem piedade e matou seu próprio filho num ataque de raiva) ele criou algumas ligações comerciais com o Oeste e patrocinou um plano de construção de igrejas em todas as comunidades para que o povo pudesse ouvir o evangelho. Além disso, esses eram lugares em que a gente simples podia aprender a ler e escrever. Os padres davam aos párocos aulas de ofícios básicos e ensinavam a Bíblia através de figuras, usando ícones e afrescos para que até mesmo o analfabeto tivesse algum entendimento das Escrituras. Assim, a fé ortodoxa lançou raízes profundas entre o povo. Em 1589 o czar elevou o líder da igreja russa à posição de patriarca, tornado-o igual aos outros quatro patriarcas da igreja do Oriente. Havia uma forte competição entre Roma e Moscou pela lealdade do povo na vasta região leste da Europa. Apesar da maioria ser católica, muitos no oeste da Ucrânia (também conhecida como Rutênia) eram ortodoxos e estavam sob a jurisdição do prelado metropolitano de Kiev. Porém, em 1443 o papa providenciou para que o rei polonês que governava a região nomeasse um prelado católico romano. Dentro de um século, a maioria das igrejas havia mudado de volta para a ortodoxia, mas

em 1595 o papa Clemente VIII e o rei Sigismundo III concluíram a União de Brest-Litovsk, que declarava que os bispos de rito bizantino e as igrejas do oeste da Ucrânia aceitariam a supremacia papal mas manteriam sua liturgia e disciplina. Era a chamada igreja “uniata”, da palavra ucraniana para unidade. À medida em que o Estado russo se expandiu para dentro desses territórios nos séculos seguintes, os rutênios uniatas foram compelidos a voltar para a ortodoxia. Pelo fato da Rússia continuar isolada do Ocidente, ela praticamente não foi influenciada pelos acontecimentos entre 1400 e 1700 que transformaram a Europa e deram início à civilização moderna. Não havia classe média, ela não teve nenhuma revolução comercial, Renascença ou Reforma e não participou do surgimento da Ciência moderna. O governo perdeu forças durante um período de conflitos civis e guerras com outros países conhecido como “Tempo Tumultuoso” (1598-1613) que terminou com a união dos nobres apoiando Michael Romanov para restaurar a ordem. Porém, a tradição de uma monarquia forte continuava intacta e isso deu bases para a continuidade da expansão geográfica no leste europeu e Ásia e para a modernização promovida por Pedro o Grande. O patriarca Nikon (1652-60) realizou um reforma litúrgica de modo que houvesse conformidade com as práticas gregas e ucranianas, o que para seu aliado, o czar Alexis, foi útil na assimilação da Ucrânia. Muitos ficaram insatisfeitos com as mudanças no ritual, como por exemplo a quantidade de prostrações durante a leitura de uma oração ou o número

de dedos usados para fazer o sinal da cruz. Mas ficaram ainda mais descontentes com o fato de Nikon não tratar dos problemas de corrupção espiritual e moral. Por isso, separaram-se da igreja oficial. Ficaram conhecidos como os “Crentes Antigos”. O reinado de Pedro I (1689-1725) marcou uma virada na história russa. Um monarca tão absolutista quanto qualquer do Ocidente, colocou em prática um programa de modernização forçada e ocidentalização criado para fortalecer o Estado e fazer da Rússia uma potência mundial. O czar era cheio de contrastes. Por um lado, era um gigante cruel e selvagem, de maneiras e fala ásperas, com um temperamento violento que gostava do obsceno, das bebedeiras e orgias e de torturar seus inimigos. Por outro lado, possuía uma energia inesgotável e um desejo insaciável pela grandiosidade da Rússia. Nos primeiros anos de seu reinado ele chegou a viajar para outros países para saber em primeira mão sobre as idéias e a tecnologia européia. Contratou centenas de artesão, técnicos, engenheiros e professores para trabalhar na Rússia. Então, embarcou numa remodelação da sociedade russa. Ordenou que seu povo raspasse a barba e vestisse roupas de estilo ocidental. Defendeu o uso do tabaco que até então era considerado pecaminoso e tirou as mulheres de sua reclusão tradicional. Incentivou o ensino fundando escolas e imprensas e exigindo pessoas instruídas para os cargos públicos. O símbolo mais marcante de seu programa de ocidentalização foi a fundação, em 1703, de uma nova capital próxima à

entrada do mar Báltico, a qual ele chamou de São Petersburgo. Essa “Janela para o Ocidente” serviria para contrabalancear Moscou, que era vista como extremamente conservadora e rígida em seus costumes. Para aumentar o poder nacional ele reformou o exército e o serviço público. Introduziu um imposto que fornecia a base financeira necessária para manter os militares, implantou um sistema de recrutamento para que houvesse um grupo de soldados profissionais e criou a primeira marinha russa. Ele mudou a base da nobreza da simples ancestralidade para o serviço público. Homens de classe alta eram incentivados a tornar-se oficiais do governo e, se alcançavam cargos altos o suficiente, recebiam títulos. Até mesmo pessoas educadas mas de condição social mais baixa tinham a possibilidade de ascensão nesse sistema de “nobreza de serviço” que continuou na Rússia até 1917. Assim como os nobres da Prússia, ao invés de serem excluídos da administração do reino eles eram inseridos no sistema de modo a tornarem-se dependentes do czar. Ele promoveu o crescimento econômico através de acordos comerciais, subsídios para a construção de fábricas e melhorias na agricultura. O verdadeiro objetivo da reforma de Pedro era permitir que a Rússia realizasse guerras de expansão contra países vizinhos, especialmente a Suécia. A Igreja Ortodoxa Russa foi um alvo específico do czar. Tendo em vista que a Igreja havia discordado de muitas de suas reformas, Pedro decidiu não nomear um sucessor para o patriarca quando este faleceu em

1700. Ao invés disso, assumiu ele mesmo o controle e decretou que apenas uma parte da renda da Igreja seria revertida para ela. Em 1721 resolveu a questão da ausência de um patriarca ao criar o Colégio Espiritual (que mais tarde foi chamado de Santíssimo Sínodo) para governar a Igreja. Composto de doze clérigos nomeados pelo czar, seu presidente ou procurador era um oficial civil que respondia diretamente ao monarca. Assim, a Igreja Ortodoxa Russa foi transformada em pouco mais do que um departamento de Estado sendo os sacerdotes meros servidores públicos com pequenos salários. Eram até obrigados a relatar à polícia qualquer evidência de traição ou ação contrária ao governo que fosse relatada no confessionário. O alto clero estava sob a mão opressora do Estado. Pedro também desativou vários mosteiros, ordenou uma revisão da liturgia e reformou o ensino eclesiástico. Apesar dessa nacionalização da Igreja, a quantidade de fiéis entre as classes mais baixas do povo continuou grande. Isso seria um elemento essencial do nacionalismo conservador russo no século 19, mas a Igreja em si não tinha a iniciativa ou energia espiritual para deter o poder da autocracia czarista. Muitos russos que se opunham à ocidentalização e às novas práticas juntaram-se aos Crentes Antigos, mesmo que isso significasse a perseguição que incluía execução ou exílio em partes remotas do reino. Eles constantemente condenavam os oficiais da Igreja por apostasia e a ordem czarista como sendo pertencente ao Anticristo. Muitos dissidentes

fecharam-se em pequenas comunidades que prosperaram e contribuíram para o desenvolvimento econômico da Rússia. Eles chegaram a ser aproximadamente vinte por cento da população e o governo nunca foi capaz de eliminar completamente o movimento. Também houve o surgimento de seitas radicais milenaristas, sendo que alguns de seus membros apresentavam comportamentos bizarros. Um tratado assinado durante o reino de Catarina a Grande, dando fim à guerra contra os turcos (1174), declarava o direito do monarca russo intervir no império otomano em favor dos súditos ortodoxos do sultão. Catarina também decretou que as terras da Igreja e dos monarcas deveriam ser propriedade do Estado, o que custou à Igreja três quartos de sua renda. Dessa forma, a Igreja tornou-se ainda mais um instrumento do Estado. A principal adversária da Rússia no monopólio do Báltico era a Suécia. Lá, a rígida ortodoxia luterana havia tornado-se a religião oficial permitindo que os monarcas aumentassem seu controle. O carismático Gustavo Adolfo fez muita coisa no sentido de consolidar a identidade luterana da Suécia. Sua filha, a rainha Cristina (1644-54), uma das figuras mais fascinantes do século, tentou conter o crescimento da nobreza e, ao fracassar, converteu-se publicamente ao Catolicismo e foi a Roma. Carlos XII (1697-1718), o mais famoso rei escandinavo, esteve em conflito com Pedro I durante todo o seu reinado e sua morte marcou o fim da grandeza sueca.

O estilo barroco A era da ortodoxia e do absolutismo viram o admirável desabrochar do estilo barroco, um expressão artística que tomou rapidamente o lugar do classicismo renascentista e caracterizou-se pelas formas exageradas e adornos complexos. A principio, o termo era usado de maneira depreciativa pelos críticos, mas nesse meio tempo o estilo passou a ser reconhecido e apreciado. O efeito do barroco é estonteante por causa de sua extravagância e grandeza. Por exemplo, uma pintura dessa época retratando um grupo de pessoas é clara e natural, mas é impossível visualizar os indivíduos separadamente. Os movimentos sugeridos pelo corpo e a direção dos olhares mesclam-se para apresentar uma situação dramática e criar um todo que é maior do que a soma de suas partes. Na Arquitetura barroca, o interior de um edifício combinava pintura, escultura e características estruturais para criar uma grande unidade. Uma das primeiras expressões desse estilo pode ser vista em Il Gesu, uma igreja jesuíta em Roma. Lá, a pintura no teto (A Adoração do Santo Nome de Jesus) é habilmente mesclada com os altares e o resto da estrutura de modo a criar um efeito grandioso. O centro do novo estilo foi Roma. No século 17 a cidade foi praticamente refeita em estilo barroco. As igrejas novas (ou redecoradas) e os edifícios públicos foram luxuosamente ornamentados e decorados com querubins e anjos, colunas retorcidas e desenhos complexos em

outro e mármore. O arquiteto mais proeminente dessa época foi Giovanni Lorenzo Bernini (1598-1680), cuja obra de arte foi a praça em frente à Basílica de São Pedro. Com seus dois semicírculos de colunatas, ela transmite ao observador de forma nítida quão imensa é a instituição religiosa. A Reforma Católica ajudou a espalhar o estilo barroco por toda a Europa. Na Espanha a ênfase era evidente especialmente nas cores e ornamentações. O principal artista foi José Churriguerra (1650-1723) que decorou a então recém-concluída catedral em sua cidade natal de Salamanca com cores vivas e também projetou a praça da cidade. O barroco espanhol teve grande influência sobre Portugal e nas colônias ibéricas na América, especialmente no México, Peru e Brasil. Depois da derrota dos turcos em 1683, Viena foi totalmente redesenhada e igrejas, palácios e monumentos foram construídos em estilo barroco enquanto as estruturas góticas foram reformadas para combinar com as construções novas. Palácios como o de Belvedere e Schönbrünn eram impressionantes obras de arte. Outras cidades austríacas como Salzburg e Innsbruck e o magnífico mosteiro de Melk são marcos do barroco. Na Alemanha em si houve uma explosão do novo estilo nas construções. Os governantes dos vários principados competiam na contratação de arquitetos e construção de palácios, igrejas e mosteiros impressionantes e com freqüência extrapolavam suas possibilidades

financeiras. O eleitor da Saxônia, Augustus II (1694-1733) pôs-se a transformar sua cidade de Dresden na “Florença do Elba” e o carro-chefe de seu ambicioso projeto foi o palácio de Zwingler que levou dez anos para ser construído. Os duques de Wittelsbach na Bavária encheram Munique de igrejas e palácios barrocos transformando-a num importante centro cultural. O novo estilo também afetou os franceses, apesar de sua tendência a incorporar mais o classicismo em suas construções. Além disso, eles davam atenção aos aspectos práticos do quotidiano e criavam uma disposição de cômodos mais conveniente. A influência do barroco foi particularmente óbvia em Versalhes. Não apenas a edificação em si é impressionante mas também foi calculada para mesclar-se com um ambiente de jardins, estátuas, fontes e um grande canal. O lugar todo era um símbolo da era do absolutismo, repleto de pompa e luxo. Os arquitetos franceses criaram vários outros palácios e igrejas, sendo o mais notável dentre eles a Invalides, Ste. Geneviève (Panthéon) e Fontainbleau. Na metade do século 18 surgiu uma variação extrema do barroco chamada de rococó. Tirado da palavra francesa rocaille, que quer dizer pedra ou encravado com pedraria, o termo referia-se ao estilo de decoração interior das construções francesas por volta de 1720-60, mas tornou-se um estilo internacional de arte cuja expressão mais forte foi na Bavária católica. Caracterizava-se por um sistema complexo de

ornamentação e decoração que enfatizava as linhas ao invés do espaço, o uso exuberante de cores e de materiais diferentes como pedras, afrescos, entalhes em madeira e até mesmo tapeçaria buscando um resultado geral delicado. Dentre os principais artistas do rococó destacava-se Giovanni Baptista Tiepolo (1696-1770) que era conhecido por seus afrescos em tetos que criavam a ilusão de céu, luz do Sol e nuvens. Outra figura importante foi Dominikus Zimmermann (1685-1766) que especializou-se em criar uma unidade de luz e cor que resultava num tom festivo. O estilo rococó pode ser visto hoje em estruturas magníficas no sul da Alemanha como é o caso da Residência Würzburg, da igreja na vila de Wies e da igreja do mosteiro em Ottobeuren. Outras formas de arte refletiram o barroco. O século 17 foi a era dos retratos e o grande mestre era, sem dúvida, Rembrandt van Rijn (1609-1669), o pintor holandês que usava fundos escuros e toques de luz para estudar as pessoas que pintava. Espaço e luz também eram dois elementos essenciais da maior parte dos exemplos de pinturas barrocas. Peter Paul Rubens (1577-1640) e seus muitos discípulos criavam uma ilusão de espaço interminável para que o observador pudesse pensar no infinito. Diego Velasquez (1599-1660), o principal pintor espanhol da época, produziu diversos retratos de membros da corte real. Bernini era o líder nas esculturas e na arquitetura e foi responsável por muitas obras feitas sob encomenda como igrejas, túmulos de papas e fontes que hoje embelezam a cidade de Roma. O barroco também foi um tempo de

grandes realizações musicais. Marcou o final de quinhentos anos de domínio da polifonia na música (em que uma parte não é mais importante do que as outras) e o surgimento da música harmônica. A música barroca consistia de um único elemento, a melodia, sustentada pela harmonia. Encontrou sua expressão especialmente na música instrumental, na ópera com seu esplendor e emoções exageradas e no oratório, uma arte sacra que combinava o trabalho de um solista, um coral e uma orquestra. Como não era parte da liturgia, o oratório era uma oportunidade ideal para a música experimental. Esse tipo de composição originou-se na metade do século 16 com as apresentações musicais no Oratório de Filipe Neri em Roma. Os jesuítas usavam esse novo gênero que foi logo assimilado pelos luteranos na Alemanha que já possuíam músicas para corais, cantatas e paixão e que não eram necessariamente apresentadas como parte do curto normal. O órgão dominou a era barroca. Projetistas como Gottfried Silbermann (1638-1753) construíram luxuosos órgãos de tubos para as novas igrejas instalando-os também nas construções góticas mais antigas. Os compositores barrocos compuseram músicas para o órgão e muitos eram excelentes organistas. Nesse período houve uma abundância de grandes figuras musicais. O veneziano Claudio Monteverdi (1567-1643) ligou a Renascença ao barroco, escreveu música de igreja brilhante e alguns o consideram o criador da música moderna. Seu aluno foi Heinrich Schütz (1585-1672),

diretor da corte em Dresden e mais importante compositor luterano depois de Bach. Sua música de coral ainda é importante e continua a ser cantada nos dias de hoje. Georg Phillip Telemann (1681-1767) e Dietrich Buxtehude (1637-1707) escreveram excelentes músicas para coral e órgão e este segundo influenciou Bach. Henry Purcell (1659-95) foi o maior compositor inglês entre a era elizabetana e o final do século 19. Ele era organista da abadia de Westminster e produziu obras de destaque para instrumentos e para coral. Dois indivíduos, porém, distinguem-se de seus colegas por sua maravilhosa habilidade técnica e gênio musical. George Frederic Handel ou, em alemão, Händel (1685-1759), um saxônico que já havia adquirido grande reputação na sua região natal de Halle, bem como em Hamburgo e Hannover, mudou-se no meio de sua carreira para a Inglaterra, onde seus patronos foram os reis de Hanover, George I e II. Escreveu principalmente para grandes públicos e até mesmo suas brilhantes composições religiosas como os oratórios Messias e Judas Macabeu eram voltados para apresentações públicas em anfiteatros e não em igrejas. Seus temas eram inspirados em aspectos do século 18 na Inglaterra como a música folclórica, danças nacionais, os gritos nas cidades de Londres, a tranqüilidade do campo e até tempestades no mar. Apesar de estrangeiro, Handel ainda é o compositor mais querido da Inglaterra. Johann Sebastian Bach (1685-1750) não foi apenas um dos maiores

compositores de todos os tempos mas também um cristão devoto. Passou quase toda a sua vida na região central da Alemanha — na Turíngia e Saxônia — e exceto quanto trabalhou para o príncipe de Anhalt, ele foi empregado por igrejas, especialmente a luterana de São Tomé, em Leipzig, onde trabalhou nos últimos vinte anos de sua vida como ministro da música. Apesar de ter escrito várias peças importantes da música secular, para ele sua vocação estava a serviço de Deus e de sua igreja. Seu amor às Escrituras e à Igreja traduziu-se numa fusão de fé, música, teologia e liturgia. Para ele, compor uma música era um ato de fé e tocá-la, um ato de adoração. Em suas grandes cantatas, oratórios, paixões, composições para órgão e na Missa em Si Menor, ele pôs em prática essa percepção de chamado divino para criar música apropriada para o louvor a Deus. Ele colocava a história bíblica em forma de música a revelar a presença de Deus à congregação e proporcionar um diálogo com o Todo-Poderoso.

Nem a ortodoxia política e nem a religiosa contribuíram muito para o progresso da Igreja na Europa. Ainda assim, a vitalidade cultural e espiritual ficaram evidentes em várias partes e havia o potencial para uma expressão mais vibrante da fé cristã. Esse foi o caso especialmente na Grã-Bretanha e Alemanha, onde as energias espirituais puderam ser canalizadas em vários movimentos protestantes e na França onde havia a alternativa católica.

Capítulo 14 - O puritanismo e o Pietismo despertam a Igreja Durante mais de um século depois que Lutero havia desafiado a Igreja medieval, a Europa foi abalada por vários conflitos em torno da questão religiosa. Foi só à partir da metade do século 17 que começou a predominar o conceito de Estado moderno, com sua ênfase na soberania territorial e posição central do monarca. Daí em diante as lutas eram entre Estados e seus governantes e as preocupações espirituais ficaram em segundo plano em relação ao bem do Estado e equilíbrio do poder. Os monarcas desejavam controlar as igrejas dentro de seus domínios e a unidade religiosa era vista como um elemento na força do Estado. Apesar desses acontecimentos enfraquecerem a Igreja como instituição espiritual, ainda havia algumas concentrações de vigor religioso na era da ortodoxia e absolutismo.

Puritanismo inglês As idéias calvinistas haviam criado raízes profundas na GrãBretanha. O presbiterianismo escocês era uma fé cheia de vigor e líderes como Andrew Melville (1545-1622) desafiaram os reis Stuart a abandonar sua aliança com o sistema episcopal. No século 17 o presbiterianismo havia se tornado, para todos os efeitos, a igreja nacional da Escócia e teve imensa contribuição na formação do caráter desse povo robusto do norte. Pelo fato de terem unido-se em alianças em 1638 e

1643 para resistir à imposição do governo e liturgia da igreja episcopal, eles foram chamados de “cristãos da aliança”. Importantes teólogos como George Gillespie (1613-49) e Samuel Rutherford (1600-61) rejeitaram o exercício da autoridade real sobre as questões da Igreja. Dentro da Igreja da Inglaterra também havia um forte elemento reformado e seus representantes ficaram cada vez mais insatisfeitos com as concessões do Acordo Elizabetano. Eles desejavam “purificar” a igreja livrando-se dos “papistas” que ainda restavam e sua luta assumiu cada vez mais um caráter político. Conforme foi mencionado anteriormente, esses “puritanos” estavam intimamente envolvidos nos conflitos entre os Stuarts e o Parlamento que acabaram levando à guerra civil e ao regime ditatorial militar de Cromwell. Em resumo, os puritanos queriam excluir do culto anglicano qualquer coisa que não fosse ordenada pelas Escrituras. Eles enfatizavam a importância da conversão, que significava uma transformação fundamental de todo o ser e das atitudes e a expectativa de que o crente viveria de forma reta e disciplinada. Os puritanos também acreditavam que todo o trabalho estava dentro da esfera do Cristianismo e que pastores e sacerdotes não deveriam ser colocados em posição superior aos membros. Seu objetivo era que a Igreja da Inglaterra tivesse um pastor em cada paróquia que proclamaria fielmente a Palavra de Deus, administraria corretamente os sacramentos e disciplinaria os membros imorais da igreja. A aplicação da doutrina protestante à vida do crente era

tarefa da Igreja e aqueles que não alcançassem os altos padrões de fé e obediência à lei de Deus deviam ser excluídos da Igreja. Apesar de muitos terem condenado e ridicularizado o estilo de vida que era a marca distintiva do puritanismo, para indivíduos do século 17 tratava-se de uma experiência gratificante. Estava ligada à alegria que encontravam na adoração e numa vida a serviço de Deus. Os puritanos foram uma força profundamente disruptiva na Igreja da Inglaterra que, sob o governo de Elizabeth I havia sido constituída como uma hierarquia centralizada sob o controle de bispos e uma instituição inclusiva. Os puritanos, por outro lado, defendiam a idéia de igreja “reunida”, composta somente de fiéis que estavam em aliança com Deus e uns com os outros. O puritanismo — que havia começado como um movimento de reforma girando em torno das formas de adoração, pregação bíblica e conversão — passou a enfatizar cada vez mais a “independência” (liberdade do controle episcopal) e a forma congregacional de governo dentro da Igreja. No final do século 16 alguns puritanos estavam convencidos de que a única maneira de completar a Reforma era separando-se da Igreja Anglicana. 1647

1675

1698

É adotada a Confissão de Fé de

Philipp Jacob Spener

August Hermann

Westminster

publica Pia Desideria

Francke abre o primeiro orfanato em Halle

1600

1625

1650

Thomas Helwys

Cornelius

John

estabelece a

Jansen

Owen

1650

1675

1708

1722

John

Joachin

Alexander Mack

N.L. von

Bunyan

Neander

funda a Igreja

Zinzerdorf

primeira Igreja

dos Irmãos

Batista

funda a comunidade Herrnhut

1600

1700

1800

1629

1650

1670

1681

Começa a

John

Pascal

William Penn funda a

colonização

Milton

publica

Pennsylvania

puritana em

Pensées

Massachussets 1642-1649 Guerra Civil Inglesa

Robert Brown (1550-1633) foi um dos primeiros separatistas. No começo da década de 1580 ele formou sua própria congregação e publicou tratados defendendo a reforma radical e o congregacionalismo reunido e de aliança. Um outro grupo de separatistas foi liderado por John Robinson (1572-1625). Na primeira década do novo século eles reuniam-se em Scrooby Manor e então mudaram-se para a Holanda para evitar perseguições. Muitos membros do grupo ficaram insatisfeitos com a vida numa terra estrangeira e, sob a liderança de dois leigos — William Bradford (1589-1657) e William Brewster (1567-1644), alguns deles navegaram para o Novo Mundo no Mayflower em 1620, apesar de Robinson ter ficado em Leiden. Esses “pais pioneiros” foram os fundadores do congregacionalismo na América. O mais duradouro dos movimentos puritanos separatistas dessa época foi o dos batistas. Eles iam além dos outros reformadores da época

e chegavam a igualar o batismo infantil ao adultério espiritual e a insistir no batismo dos crentes adultos. John Smyth (1570-1612) era um sacerdote anglicano que voltou-se para o separatismo e em 1607, junto com um companheiro leigo, Thomas Hewlys (1550-1616) liderou uma congregação que foi para a Holanda. Em dois anos eles se reorganizaram dentro daquilo que consideravam ser as linhas do Novo Testamento, adotaram o batismo dos crentes e numa declaração retumbante de liberdade religiosa condenaram qualquer regulamentação ou crença ligada ao Estado. Em 1611 Hewlys levou alguns seguidores de volta para Londres e fundou a primeira igreja batista em solo inglês. Apesar de algumas tentativas de se estabelecer uma ligação firme entre os menonitas e os primeiros batistas ingleses, a maioria dos historiadores concorda que eles surgiram diretamente do puritanismo e separatismo inglês. O grupo mais antigo era conhecido como batista geral tendo em vista que possuíam uma visão arminiana da expiação. No final da década de 1630 surgiram os batistas particulares, assim chamados por aceitarem o ensinamento calvinista de que a expiação limita-se aos eleitos. Cada uma dessas divisões desenvolveu-se em separadamente em relação à outra. A primeira estava mais disposta a aceitar a Igreja da Inglaterra como sendo uma Igreja verdadeira. No final da década de 1640 os batistas já praticavam regularmente o batismo por imersão e na metade do século tinham começado a usar o nome “batista” para se distinguir.

Durante a Guerra Civil Inglesa muitos deles serviram com distinção ao exército do Parlamento. Cromwell os favoreceu enquanto estava no poder, mas depois da Restauração, eles foram classificados como dissidentes e perderam seus privilégios. Por volta de 1639 foi fundada a Primeira Igreja Batista na América do Norte, na colônia de Rhode Island. Durante a tumultuada década de 1640 multiplicaram-se as seitas puritanas radicais. Com a abolição do sistema episcopal na Igreja da Inglaterra, a Assembléia de Teólogos de Westminster reuniu-se em 1643 e continuou com atividades regulares até 1649 a fim de elaborar uma forma alternativa de igreja e orientar o Parlamento em suas decisões religiosas. A assembléia recomendou o estabelecimento do presbiterianismo e em 1647 adotou a famosa Confissão de Westminster como uma declaração de fé de origem presbiteriana, mas então ocorreu uma divisão dentro da assembléia entre os independentes (congregacionalistas) e os presbiterianos. Depois que Cromwell tomou o poder, ele seguiu o conselho do independente John Owen (1616-83) e foi permitida uma situação moderadamente pluralista na qual as igrejas podiam ser pastoreadas por presbiterianos, independentes ou batistas. As seitas mais extremistas, porém, não eram toleradas durante o governo de Cromwell. Os Niveladores liderados por John Liburne (161457), um oficial do exército parlamentar, interpretavam a liberdade em Cristo como se esta incluísse a democracia política. Defendiam uma igualdade masculina geral perante a lei e liberdade religiosa (daí o nome

— todos no mesmo nível perante a lei e a religião). Outras seitas dedicavam-se às especulações milenárias e esperavam a segunda vinda de Cristo. A revolução puritana e deposição da monarquia só colocou mais lenha no fogo da especulação profética. Os Cavadores, de acordo com os ensinamentos de Gerrard Winstanley (1609-52), acreditavam que a terra, por ser criação de Deus, era propriedade de todas as pessoas. Em 1649 eles ocuparam as terras da comunidade no monte St. George em Surrey, começaram a cultivar (daí o nome) e formaram uma comuna, mas as autoridades os dispersaram. Eram místicos religiosos que acreditavam na expiação universal e estavam preparando o caminho para a volta de Cristo. Muitos marxistas da atualidade consideram os Cavadores como precursores do Comunismo. O grupo apocalíptico mais radical era o dos Homens do Quinto Monarca. Eles baseavam-se na passagem profética de Daniel 2 sobre os quatro grande impérios que iriam governar o mundo e concluíam à partir de Apocalipse que o reino de Deus (a “quinta monarquia”) seria no milênio, o reinado de Cristo sobre a Terra durante mil anos. Apesar de muitos na época especularem sobre a volta de Cristo, os Homens da Quinta Monarquia acreditavam que ela era eminente e proclamavam que os santos não deviam fazer quaisquer concessões à velha ordem. Ao invés disso, deviam reunir-se em assembléias sob o controle de Jesus Cristo e criar uma nova forma de governo para a Inglaterra. A criação

dos Protetorados de Cromwell frustrou as esperanças por um reino milenar. Enquanto a maior parte do puritanismo moveu-se no sentido de sistematizar a doutrina e a vida da Igreja e alguns teólogos e pregadores proeminentes como John Owen e Richard Baxter (1615-91) produziram obras substanciais sobre os principais pontos do dogma e do viver em retidão, outros foram atraídos pela idéia da experiência mística com Cristo, a “luz interior”. Uma das figuras mais influentes do misticismo foi Jakob Boheme (1575-1624), um sapateiro alemão que escreveu vários livros muito lidos sobre o assuntos. Influenciado pelo pensamento boemista, George Fox (1624-91) foi um jovem inglês puritano que em 1646, depois de uma longa e dolorosa luta, passou a crer na “Luz Interior do Cristo Vivo”. Tornou-se um ministro itinerante, condenando a controvérsia religiosa e pregando que a verdade podia ser encontrada na voz de Cristo falando diretamente à alma — daí o nome “Amigos da Verdade”, que foi logo associado ao seu movimento. Seus seguidores contentavam-se em ser chamados apenas de “Amigos” ou “quakers” (Estremecedores, N. da T.), supostamente um apelido dado por um juiz em 1650 depois que Fox exortou o magistrado para que ele “estremecesse diante da Palavra de Deus”. Usando da crença na luz interior, eles ensinavam que o poder do Espírito Santo é dado a todas as pessoas e não está limitado às Escrituras. Tendo em vista que cada indivíduo recebia a luz interior, todos eram iguais na igreja. Em

suas “casas de reuniões” simples, eles adoravam sem ministros, sacramentos ou liturgia, levando ao extremo a idéia puritana de remover qualquer vestígio do Catolicismo. O clero e os cultos estruturados não eram necessários pois o Espírito daria inspiração àqueles que ele quisesse que falassem durante a reunião. A mensagem Quaker era de que as pessoas só precisam arrepender-se a adorar a Deus interiormente, com o coração. Apesar da perseguição, o grupo espalhou-se rapidamente entre as classes mais pobres, mas logo também entre os mais abastados (como por exemplo William Penn, filho de um proeminente almirante e fundador de uma colônia Quaker na América em 1681). Muitos convertidos vieram dos batistas gerais. Os quakers distinguiam-se por seu compromisso com o pacifismo, sua recusa em fazer juramentos, a informalidade no tratamento entre si com o uso do primeiro nome e o uso de roupas simples. Também ensinavam a igualdade de homens e mulheres e foram alguns dos primeiros a protestar contra as condições das prisões e o escravismo. A apresentação mais sistemática da teologia Quaker era a Apology for the True Christian Divinity [Apologia da Verdadeira Divindade Cristã] de Robert Barclay (1648-90). Tanto os batistas quanto os quakers davam oportunidade especial para as mulheres ministrarem. Na Holanda, Inglaterra e América do Norte os batistas tinham clérigas e numa congregação de Londres às vezes até mil pessoas freqüentavam os cultos especiais nos quais as

mulheres podiam pregar. Entre os “erros, heresias e blasfêmias” condenados num tratado antibatista do século 17, um deles era o uso de “pregadoras”. Na visão dos quakers todos eram iluminados pelo Espírito Santo e, portanto, livres para levantar-se e falar. Mulheres quakers saíam da Inglaterra em viagens missionárias para lugares distantes como a América do Norte e a Turquia. Foi o caso de Elizabeth Hooten que tinha mais de 60 anos de idade e viajou para a Nova Inglaterra na América, onde foi espancada, presa e exilada na floresta. As dificuldades que os puritanos passaram durante o governo dos Stuarts mais para o início do século levaram muitos deles a emigrar para a América. Um grupo de puritanos ricos que havia aberto um negócio chamado Massachusetts Bay Company em 1629 decidiu mudar a empresa toda para a América do Norte no ano seguinte. Em 1643 quando o governo da Inglaterra havia passado para as mãos do Parlamento de maioria puritana, mais de vinte mil pessoas tinha ido para a Nova Inglaterra. Sob a liderança de pessoas competentes como John Winthrop (1588-1649), o diretor da companhia, John Cotton (1584-1652), pastor da igreja de Boston e Thomas Hooker (1586-1647) em Connecticut, a ala calvinista da Igreja Congregacional criou raízes profundas no Novo Mundo. Pedia-se que os membros fizessem publicamente uma “declaração de sua experiência de uma obra da graça”, e isso garantia que a Igreja estaria nas mãos de verdadeiros crentes. Somente membros da Igreja podiam votar ou ter um cargo oficial no governo da colônia.

Tendo em vista que um conhecimento da leitura e escrita era essencial para se compreender a Bíblia e ser cristãos maduros, toda vila tinha que abrir escolas para ensinar as crianças. A fim de garantir um suprimento confiável de ministros treinados, foi fundado em 1636 o Harvard College. Uma imprensa gráfica foi trazida para a colônia e em 1640 foi publicado o primeiro livro, uma versão métrica dos Salmos. Os puritanos da Nova Inglaterra debateram-se com questões teológicas controversas como a natureza do homem enquanto ser moral, a preparação da pessoa para receber a graça de Deus, as qualificações para tornar-se membro da Igreja e o relacionamento entre as diversas congregações. Os puritanos não estavam interessados apenas em construir uma sociedade mais justa, mas também contribuíram para o desenvolvimento da literatura inglesa. Duas das figuras mais importantes do século 17 foram John Bunyan (1628-88) e John Milton (1608-74). Preso durante as perseguições que se seguiram à Restauração em 1660, Bunyan sofreu no cárcere durante vários anos. Lá, escreveu diversas obras, incluindo The Pilgrim's Progress [O Peregrino], publicado em 1678 e que fez dele um dos escritores religiosos mais influentes de todos os tempos. Com sua imaginação vívida ele traçou a jornada de um homem chamado Christian [Cristão] da Cidade da Destruição para a Cidade Celeste. A alegoria de Bunyan era, basicamente, uma descrição de sua própria peregrinação espiritual, que assemelhava-se à jornada espiritual de todo o cristão ao longo da vida com uma jornada física cheia de perigos e aventuras.

As duas obras imortais de Milton, Paradise Lost [Paraíso Perdido] (1667) e Paradise Regained [Paraíso Reconquistado] (1671) tratavam da queda e da redenção humana. O primeiro refletia a tragédia pessoal que ele havia experimentado — a morte de duas esposas e dois filhos, sua cegueira e a perda de seu cargo no governo e de sua renda depois da ascensão de Carlos II ao trono. Outra obra importante foi Aeropagítica (1644), um marco na defesa da liberdade de imprensa. Nela, ele protestava contra a rígida censura oficial da época e explicava porque deveria se permitir que as pessoas publicassem suas opiniões livremente.

A efervescência espiritual católica O relativo vigor do Catolicismo francês produziu grande controvérsia. Uma longa luta entre a natureza do relacionamento da igreja francesa com Roma (galicanismo) resolveu-se favorecendo a manutenção de uma aliança firme com o papa e ao mesmo tempo permitindo aos bispos franceses uma certa autonomia. Um problema mais sério foi a questão do Jansenismo. Um teólogo acadêmico e bispo flamengo chamado Cornelius Otto Jansen (1585-1638) declarou que as cerimônias da Igreja obscureciam um fato crucial. A pessoa só pode ser salva através do amor e da graça de Deus operando no coração e esse amor é dado àqueles que Deus escolhe. A rejeição de Jansen do livre arbítrio e sua ênfase na predestinação eram suspeitas de parecer-se demais com o Calvinismo e inimigos do movimento acusaram-no e aos

seus seguidores de ser “calvinistas requentados”. Os jansenitas responderam que não eram protestantes, mas ao mesmo tempo estavam profundamente preocupados com a falta de disciplina moral de seus companheiros católicos e com aquilo que consideravam uma ênfase excessiva colocada sobre o livre arbítrio na doutrina católica. Em muitos aspectos, esse foi um desafio semelhante àquele que o puritanismo representava para a Igreja Anglicana. O Jansenismo foi introduzido na França por Jean Duvergier, abade de St. Syran que ganhou muitas pessoas para a causa, incluindo diversos membros da influente família Arnaud. O centro do movimento era o convento cisterciano de Port Royal, perto de Paris. A devoção e doutrina jansenitas na verdade não se desviavam substancialmente das crenças católicas mais aceitas. Eles provavelmente teriam sido tolerados se sua mentalidade independente e ênfase moral de suas pregações não tivessem levantado a oposição daqueles que ocupavam cargos de autoridade espiritual na França. Eles não apenas pediam a pureza e um viver santificado do clero mas também começaram a questionar o poder secular da Igreja. A vida pessoal dos jansenitas era austera, enfatizava a participação pública dos encontros religiosos, praticava formas simples de adoração e dedicava-se ao estudo direto das Escrituras e dos Patriarcas da Igreja. Por outro lado, voltaram-se contra os jesuítas que foram acusados de ensinamentos “frouxos”, ou seja, que eles concediam a absolvição de pecados com muita facilidade. De acordo com os

jansenitas essa indisciplina encorajava a imoralidade. Com a propagação do movimento, muitos clérigos e leigos devotos de Port Royal dedicaram-se a uma vida de estudos e contemplação baseada nos princípios jansenitas. Uma dessas pessoas foi Blaise Pascal (1623-62), um filósofo e cientista que, entre outras coisas, contribuiu com as primeiras obras teóricas para o desenvolvimento do computador. Certo dia, enquanto lia o evangelho de João, ele teve uma experiência religiosa extraordinária, uma visão de Cristo. Ele ficou tão feliz que resolveu dedicar-se completamente a esse Ser tão maravilhoso. Abandonou, então, sua carreira de pesquisa científica, juntou-se a uma comunidade jansenita e dedicou seus talentos literários ao apoio de causa desse grupo.1 Em 1656 Pascal publicou as Cartas Provinciais, que não apenas defendiam a devoção jansenita como principalmente atacavam todo o sistema jesuítico de casuísmo. Ele afirmava que os jesuítas na verdade estavam enfraquecendo a fé cristã ao ensinar uma moralidade baseada naquilo que a pessoa faz ao invés daquilo que ela deve fazer. Essa moralidade afirmava que os fins justificam os meios e que reservas mentais podem ser usadas para qualificar a palavra da pessoa. Sua brilhante sagacidade e fervor moral foram um golpe tão forte que os jesuítas quiseram vingar-se contra o movimento que expunha de forma tão penetrante as fraquezas deles. Um crente profundamente devoto, Pascal tinha a intenção de

publicar um livro criado para ganhar outros para Cristo, mas sua morte prematura não permitiu que ele o fizesse. Porém, suas anotações para esse livro foram reunidas por seus colegas e publicadas em 1670 com o título Pensées. Essa obra simples, mas profunda, defendia intelectual e emocionalmente a existência de Deus e a realidade da fé. Porém, Pascal acrescentou à luz de seu próprio encontro com Jesus Cristo: “o coração tem razões que a própria Razão desconhece”. Ele argumentou que na busca pela verdade a Razão era neutra e que as evidências sobre a existência de Deus não podiam substituir a fé. A verdade é conhecida não apenas pela Razão, mas através do coração. “Jamais seremos capazes de crer com uma fé vigorosa e sem questionamentos a menos que Deus toque nosso coração; e passaremos a crer assim que Ele o fizer.”2 A fim de convencer os descrentes de que eles deveriam considerar seriamente o Cristianismo, Pascal propôs sua famosa “aposta” na qual combinava uma atitude cética com seus próprios conhecimentos matemáticos sobre o cálculo de probabilidades. Seu raciocínio era o seguinte: Deus é uma boa aposta. As pessoas devem correr o risco de acreditar que Deus existe e agir de acordo com essa suposição. Se estiverem certas, elas tem tudo a ganhar, se estiverem erradas, não tem nada a perder. A controvérsia jansenista logo chamou a atenção do rei Luís XIV. Ele ficou assustado com o número de pessoas influentes que identificavam-se com ela e sentiu que sua ênfase num comportamento moral rígido era uma crítica velada ao seu próprio estilo de vida. Durante

um bom tempo ele preocupou-se que ela poderia ser uma ameaça para seu poder absoluto, enquanto seus jesuítas reclamavam do movimento e insistiam para que ele pedisse ao papa que o denunciasse. Finalmente, em 1709 o rei tomou uma providência. Ele fechou o convento em Port Royal e dois anos mais tarde mandou demolir a construção. Em 1713 o papa Clemente XI aceitou condenar o jansenismo na bula Unigenitus, mas o movimento continuou sendo uma importante força na França durante décadas e foi livremente tolerado em Flandres. Ao mesmo tempo, a Igreja romana teve que responder ao desafio do Quietismo, um tipo de misticismo que rejeitava todas as formas ativas de adoração. Quietistas consideravam inútil a atividade intelectual na esfera espiritual (como a Teologia) e diziam que só Deus deve trabalhar na alma enquanto a pessoa permanece completamente passiva. Sua idéia de contemplação envolvia o abandono total do próprio ser, entregando-o à vontade e operação de Deus na alma. Desse modo, as boas obras, orações intercessoras, exame de consciência, confissão e até a meditação sobre a humanidade sagrada de Cristo e sua obra na cruz eram irrelevantes. O Quietismo foi inspirado por Miguel de Molinos (1628-96), um sacerdote espanhol que morava na Itália e cuja obra Um Guia Espiritual apresentava diretrizes com a finalidade de levar a pessoa a uma união com Deus. Os jesuítas convenceram o papa de condenar essas idéias, mas o Quietismo espalhou-se para a França onde seus seguidores enfatizavam as orações passivas como sendo a principal atividade dos cristãos. O

movimento teve como líder Jeanne Marie de la Motte Guyon (16481717) uma mulher de uma família importante que, depois de ficar viúva quando ainda era jovem, passou sua vida dedicando-se a essa iniciativa religiosa. Em sua famosa obra Método Breve e Muito Fácil de Oração (1685), Madame Guyon ensinava a contemplação exclusiva de Deus através da qual a alma perde o interesse em seu próprio destino. Mesmo a verdade do evangelho tornava-se insignificante quando comparada à “torrente de forças de Deus” às quais o indivíduo deveria entregar-se. Era nesse ponto que se atingia a “perfeição” e não era necessário realizar determinados atos, a não ser a caridade, mas simplesmente viver descansando em Deus. A pessoa tornar-se-ia indiferente a todas as coisas relativas ao corpo e à alma e rejeitaria idéias divergentes, mesmo aquelas que estivessem relacionadas aos atributos de Cristo. Suas idéias causaram grande controvérsia, ela foi presa várias vezes e passou um tempo na cadeia. O bispo Bossuet acusou-a de ser mentalmente desequilibrada e de ensinar um misticismo falso e ordenou que ela parasse de pregar. Porém, François Fénelon (1651-1715), arcebispo de Cambrai, defendeu Madame Guyon, insistindo que ela havia descoberto um método de oração adequado para aproximar o indivíduo de Deus. É discutível dizer se o seu misticismo emotivo era paralelo àquele que surgiu na Alemanha na mesma época, mas os movimentos de renovação estavam se desenvolvendo claramente em ambas as confissões.

O Pietismo alemão Na era da combinação sufocante de Igreja e Estado que havia se instalado sobre a Alemanha do século 17, tornou-se cada vez mais evidente que a ortodoxia doutrinária não era suficiente e que a nação precisava desesperadamente de um reavivamento do fervor evangélico que havia impulsionado inicialmente a Reforma protestante. O movimento que surgiu na Igreja em resposta a essa situação foi chamado pelos críticos de “Pietismo”. O termo era aceito por seus adeptos e mais tarde pelos comentaristas que desejavam identificar essa nova visão religiosa. O Pietismo era um moralismo centrado na Bíblia que enfatizava a convicção pessoal do pecado, o arrependimento, a conversão e uma nova existência com Cristo. O cristão perdoado manifestaria a presença de Cristo em sua vida diária através da santidade pessoal e da sensibilidade para com a necessidade de outros. A adoração era uma experiência emotiva e fazia-se pouco esforço para se harmonizar a fé com a Razão. A religião era altamente pessoal e precisava ser sentida interiormente. Assim, o Pietismo foi uma reação ao intelectualismo, às autoridades religiosas e aos credos formalistas. A pessoa que mais se identificou com o Pietismo alemão foi Philipp Jakob Spener (1635-1705). Nascido na Alsácia e formado em Estrasburgo e outras universidades, de 1666 a 1685 foi ministro em Frankfurt am Main e conquistou a reputação de ser um dos principais

pastores da Alemanha. Em 1686 ele foi nomeado capelão da corte da Saxônia em Dresden e cinco anos depois aceitou um convite do governante da Prússia para ministrar na prestigiosa igreja de São Nicolau em Berlim, onde permaneceu até sua morte. Na sua juventude, Spener havia sido profundamente influenciado pelas várias formas de Pietismo luterano e reformado, especialmente aquela apresentada por Jean de Labadie (1610-74). Ele passou algum tempo com Labadie em Genebra e mais tarde publicou um de seus tratados na Alemanha. Labadie era um pregador reformado que misturava o Jansenismo com a devoção calvinista estruturando uma fé mística fortemente experimental e transcendental que enfatizava a separação e a reunião em pequenos grupos. Spener também passou a crer que a experiência de conversão — o nascer de novo — era necessária para a vida cristã. Ele pregou sobre esse assunto muitas vezes e, mais para o fim de sua carreira, publicou uma grande coleção de sermões sobre isso. Spener argumentava que o nascer de novo era um ato de Deus e o ponto de partida da fé no indivíduo. Depois da criação do novo homem interior, seguia-se um processo de crescimento que, no final, levaria ao ponto em que a existência toda seria um reflexo de Jesus Cristo. Ele usou a analogia do compasso de um desenhista para ilustrar o que acontece. A ação de renascimento em Deus constitui o centro, o ponto fixo enquanto a outra haste — a fé, piedade, moral e padrões sociais do indivíduo —

traça o círculo ao redor, sendo este o limite de sua existência. Assim, o ser pleno da pessoa nascida de novo era determinado pelo ponto central, Jesus Cristo. A vitória sobre as tentações, pecado e até mesmo sobre o próprio Satanás passava a ser possível. Através do processo contínuo de santificação o crente iria tornar-se cada vez mais semelhante a Cristo.3 Isso levou à sua idéia de como a Igreja podia se melhorada. O processo incluía o fortalecimento de um programa de educação religiosa para crianças (o catecismo), o combate à ignorância e deficiência moral entre os clérigos e o incentivo de uma maior envolvimento dos leigos nas atividades. Para conseguir este último, ele introduziu a prática de realizar reuniões particulares com pequenos grupos com o propósito de cultivar a santidade e chamou-os de conventículos ou collegia pietatis, sendo que o primeiro foi realizado em 1670. A reunião aconteceu em sua casa e havia tanto homens quanto mulheres presentes — estando, porém, sentados separados e só os homens tendo permissão de falar. Nesses grupos eles discutiam o sermão do domingo anterior ou passagens de um livro devocional. Essas reuniões eram planejadas de modo a aproximar os participantes de Deus e de promover uma vida purificada, tinham o objetivo de ser “pequenas igrejas dentro da Igreja” que ajudariam o pastor em suas funções espirituais e elevariam a igreja de volta ao nível das comunidades cristãs primitivas. Spener apresentou seu conceito de maneira mais popular no libreto Pia Desideria ou Desejo Profundo de uma Reforma Agradável a Deus

da Verdadeira Igreja Evangélica (1675), escrito originalmente como prefácio de uma nova edição da obra Verdadeiro Cristianismo de Arndt. A obra de Spener é considerada a declaração clássica do Pietismo. Depois de comentar sobre a indisciplina prevalecente entre clérigos e leigos, ele afirma a possibilidade de reforma e apresente seis propostas concretas para alcançá-la: 1.

Um leitura e estudo mais extensivo da Bíblia tanto no

âmbito público quanto no privado. 2.

Uma ênfase renovada no sacerdócio de todos os crentes que

garantiria maior participação dos leigos. 3.

O cultivo da vida espiritual através de gestos de amor ao

próximo e não apenas conhecimento. 4.

Evitar discussões teológicas.

5.

Um procedimento para treinar futuros ministros que

juntassem a piedade com os ensinamentos incluindo no currículo a literatura devocional. 6.

Incentivo de pregações com um conteúdo edificante e que

tivessem como objetivo o desenvolvimento do homem interior. Em outras ocasiões, Spener lutou contra o problema da vida num mundo pecaminoso ao afirmar que os cristãos devem sempre se relacionar com a sociedade ao seu redor mas não absorver os seus valores. Assim, ele negava muitos prazeres mundanos e insistia na moderação em relação a coisas como o uso de bebidas alcoólicas, mas ao

mesmo tempo pedia aos cristãos que servissem aos outros de todas as formas possíveis. Spener tinha grandes esperanças para a sociedade pois acreditava firmemente na vinda do reino de Deus. Apesar de não ter determinado uma data para a nova era, ele esperava a conversão dos judeus, a destruição da Igreja Católica Romana e a gloriosa propagação do governo de Cristo sobre toda a Terra. A Igreja devia ser um projeto piloto do futuro reino ao encorajar e apoiar os reavivamentos e as iniciativas filantrópicas. Os ortodoxos reagiram com hostilidade ao desafio dos pietistas. Acusaram os conventículos de Spener de serem elementos causadores de divisão na igreja, afirmaram que a ênfase no viver espiritual deixava de lado a importância das crenças doutrinárias corretas, que o papel dos sacramentos eram minimizado e que a porta ficava aberta para a recepção de revelações especiais (ou seja, extra-bíblicas). A Faculdade Teológica da Universidade de Wittenberg acusou os pietistas de seres culpados de duzentas e oitenta e quatro heresias e os críticos de Spener o taxaram, entre outras coisas, de ser rosacruciano, milenarista, quaker e fanático. Ficava claro que a instituição ortodoxa sentia-se ameaçada pelos pedidos de mudança, deixando de lado o que era familiar, costumeiro e confortável. A segunda figura mais importante no desenvolvimento do Pietismo foi August Hermann Francke (1663-1727). Através de seus trabalhos práticos ele faz mais do que qualquer outra pessoa para espalhar o

Pietismo além das fronteiras da Alemanha. Quando ainda era aluno, interessou-se profundamente pelos estudos bíblicos e, apesar de estar apenas na casa dos 20 anos de idade, distinguiu-se como estudioso do hebraico. Logo depois de ter conhecido Spener pessoalmente, Francke teve uma profunda experiência de conversão. Quando expressou sua nova visão da Bíblia e da Teologia em suas palestras acadêmicas na Universidade de Leipzig, o resultado foi um reavivamento. Essas idéias de reforma desencadearam grandes controvérsias tanto em Leipzig quanto em seu breve pastorado em Erfurt. Então, em 1692 Francke tornou-se pastor de uma congregação em dificuldades em Glaucha, um subúrbio pobre de Halle e também foi nomeado professor de grego e hebraico na recém-fundada Universidade de Halle. Em 1698 ele foi promovido a professor de Teologia e fez muito no sentido de orientar o corpo docente teológico na direção do Pietismo. Sua reputação como líder espiritual cresceu rapidamente. Ele não apenas era pastor, acadêmico e entusiasmado promotor das idéias pietistas como também se preocupava em suprir as necessidades físicas das pessoas, um assunto que ele considerava inseparável da conversão e do reavivamento. O começo modesto do famoso empreendimento social e de serviço de Francke foi uma escola que ele abriu em sua casa em 1695 para educar crianças pobres. Havia tantos alunos freqüentando que ele logo teve que encontrar um outro lugar e então, em 1698 ele construi o primeiro prédio do que viria a ser um enorme complexo logo do lado

de fora dos muros da cidade de Halle. Foi em grande parte graças aos seus esforços que a tranqüila cidadezinha de no rio Saale tornou-se o centro internacional do Pietismo. Dotado de uma energia inesgotável, entusiasmo ilimitado, grande competência organizacional e um talento para o que mais tarde ficou conhecido como relações públicas, em três décadas as instituições de Francke haviam se transformado numa pequena cidade que abrigava três mil pessoas. Através de seu cargo na universidade Francke inspirou inúmeros alunos a servir a Deus como pastores na Alemanha e missionários em cantos tão remotos do mundo quanto a América e Índia e foi nessa instituição que levantou os fundos para sustentá-los. Ele mantinham muitos laços ecumênicos e foi através destes que suas idéias de reforma foram levadas para muitos países. Ele chegou até a apoiar pesquisas sobres línguas estrangeiras a fim de facilitar o estudo e a tradução da Bíblia e promoveu a publicação e distribuição das Escrituras de sua base em Halle. Um dos principais fatores no crescimento do Pietismo foi a ampla disseminação da literatura devocional e teológica puritana inglesa. Obras dos principais puritanos foram traduzidas para o alemão, sendo que algumas delas tiveram várias edições e esses livros circularam livremente entre os clérigos devotos e leigos luteranos. À medida em que o Pietismo espalhou-se pela Alemanha e Escandinávia, um centro eminente do movimento desenvolveu-se em

Württemberg. A figura mais conhecida do Pietismo na Suábia foi Johann Albrecht Bengel (1687-1752). Como aluno em Tübingen ele foi influenciado por professores pietistas e estudou as obras de Spener e Francke. Em 1713 ele chegou até a passar algum tempo em Halle. Ao voltar, aceitou a nomeação para um cargo na Faculdade de Teologia em Denkendorf, próximo a Esslingen, onde trabalhou durante vinte e oito anos e distinguiu-se como estudioso da exegese bíblica e do criticismo textual. Durante sua última década de vida ocupou altos cargos na igreja, onde continuou a influenciar pastores na direção do Pietismo. Uma das obras mais populares de Bengel foi Gnomon Novi Testamenti, um Novo Testamento crítico baseado no Textus Receptus. O livro consiste de anotações sobre cada versículo e é um modelo de estudo filológico. Teve várias edições, foi traduzido para muitos línguas e ainda hoje é amplamente utilizado. Bengel também dedicou-se a um estudo intensivo do livro de Apocalipse e marcou o dia dezoito de junho de 1836 como a data de início do novo milênio. Em sua época, foi fortemente criticado por causa desse tipo de especulação, mas suas idéias escatológicas estavam de acordo com a tradição de Spener. Como pietista, proclamou uma visão libertadora do reino de Deus. Ele foi direto e claro na rejeição de idéias ingênuas de progresso aceitas por muitos daquela era de racionalismo que havia se instalado seus últimos anos. O Pietismo também foi bem recebido entre as igrejas reformadas no oeste da Alemanha, especialmente em Rhineland. Theodor Untereyck

(1635-93), que havia estudado com os principais teólogos holandeses de seu tempo e foi fortemente influenciado pela literatura pietista, dando início ao primeiro conventículo reformado durante seu pastorado em Mülheim/Ruhr em Bremem, o qual ele transformou em verdadeira fonte de Pietismo Reformado. Dentre aqueles influenciados por Untereyck estão o escritor de hinos Joachim Neander e o importante teólogo Friedrich Adolf Lampe (1638-1729), que de modo criativo ligou a teologia federal proeminente no Calvinismo holandês com o Pietismo Reformado alemão.

Os irmãos e os morávios O Pietismo foi um movimento de reforma dentro das igrejas oficiais ou territoriais da Alemanha, mas dois importantes ramos separatistas surgiram dele, a Igreja dos Irmãos e a Igreja Morávia, como são conhecidos hoje em dia na América do Norte. Os Irmãos começaram em 1708 em Schwarzenau em Hesse, onde Alexander Mack (1679-1735) batizou oito pessoas num rio da região. Mack havia sido influenciado pelo Pietismo radical, especialmente aquele de Ernst Christoph Hochmann von Hohenau (1670-1721) que tinha se convertido quando era aluno em Halle. Era um forte místico que via a Igreja como sendo primeiramente de caráter espiritual e minimizava a importância das estruturas. Ao contrário de outros pietistas luteranos, Hochmann era um separatista. Ele viajou pela Alemanha pregando o reavivamento e muitas

vezes sofreu perseguição e confinamento. Como seu amigo, Mack havia concluído que o Novo Testamento fazia necessário um grupo separado de crentes que não pertencessem à Igreja do Estado. Ele assentou-se numa das poucas áreas da Alemanha em que era permitido aos dissidentes religiosos praticar suas crenças, o condado de Wittgenstein. O governante local havia adotado a política de tolerância, em parte por causa de suas convicções pessoais mas principalmente porque precisava de colonos. Os primeiros Irmãos decidiram restaurar aquelas práticas que consideravam apostólicas. Estas incluíam o batismo trino (ou triplo) por imersão (com o rosto colocado primeiro na água para cada Pessoa da Trindade), o banquete de amor (que consistia de uma refeição comunal, lava-pés e Ceia do Senhor), a unção dos enfermos com óleo, a imposição de mãos para o serviço cristão, o governo congregacional da igreja e oposição à guerra, aos juramentos e ao uso de roupas enfeitadas ou “mundanas”. O longo braço da intolerância do Sacro Império Romano acabou alcançando aquela pequena região e os irmãos foram perseguidos, mesmo que seus pregadores itinerantes estivessem fundando outras igrejas em várias partes do oeste da Alemanha e da Suíça. Com a piora na situação da Europa, eles consideraram a possibilidade de emigrar para a América. William Penn havia incentivado os sectários a irem para sua colônia e seus agentes distribuíam literatura na Alemanha apresentando-a como um lugar atraente de se viver. Em 1719 o primeiro grupo de Irmãos

foi morar em Germantown, nas cercanias da Filadélfia e em 1729 o próprio Mack liderou um grupo na travessia do Atlântico. Em 1735 quase todos os Irmãos haviam se mudado para o Novo Mundo. Aqueles que ficaram para trás juntaram-se aos menonitas ou desapareceram. Os imigrantes espalharam-se pela fronteira da Pensilvânia e com seu estilo de vida distintivo os Irmãos — também conhecidos como Dunkards, Dunkers ou Tunkers (do alemão “dunk” que significa “imergir”) — tornaram-se uma parte permanente da vida religiosa americana. Os morávios, liderados pelo conde Nikolaus Ludwig Zinzerdorf (1700-60) foram uma outra seita de pietistas radicais. O conde havia nascido em uma família nobre muito devota. Spener era seu padrinho e a avó que o criou sabia ler a Bíblia nas línguas originais e entrava em profundas discussões teológicas. O jovem aristocrata passou seis anos na escola preparatória de Franke em Halle. Então, estudou Direito na Universidade de Wittenberg (ele queria ter entrado para o ministério mas sua família não permitiu) e depois da formatura em 1721, tornou-se um oficial na corte do rei da Saxônia. Foi por essa época que recebeu uma herança, a qual usou para comprar uma propriedade em Berthelsdorf, menos de oitenta quilômetros de Dresden. Frustrado por não ter se tornado um ministro, o jovem devoto sentiu que poderia servir a Deus ao orientar a vida espiritual dos inquilinos que ocupavam suas terras. Pouco tempo depois um grupo de refugiados protestantes cruzou a fronteira que ficava ali perto e, a convite de Zinzerdorf, assentou-se em

sua propriedade. Eles eram remanescentes da antiga igreja morávia ou hussita (conhecida como Unitas Fratrem ou Brüder-Unität) que haviam sido expulsos de seus lares pela perseguição dos Habsburgos. Sob sua liderança eles fundaram uma vila chamada Herrnhut (protegida pelo Senhor), adotaram um estilo de vida comunitário modificado e introduziram práticas que consideravam apostólicas como o rito de lavar os pés, o ósculo da paz e o lançar a sorte para determinar a vontade de Deus. Sua vida religiosa comunal incluía cultos diários, divisão em grupos “corais” (baseados em idade, estado civil e gênero), educação religiosa e um programa ativo de missões estrangeiras. Passavam a vida diária em ocupações comuns e também dedicavam-se à música vocal e instrumental. Aqueles que não eram casados eram separados por sexo, mas as famílias viviam juntas e as crianças eram educadas em organizações semelhantes a creches. Em 1727 Zinzerdorf deixou o cargo que ocupava no governo para dedicar-se à colônia em tempo integral. À medida em que seus pensamentos teológicos amadureceram, ele foi gradativamente afastando-se dos pietistas de Halle. Enfatizava a “religião do coração” — uma experiência de fé profunda e mística — bem como a comunidade cristã, o evangelismo mundial e a formação de relações ecumênicas. Apesar de ter continuado a ser luterano, demonstrou uma tolerância excepcional em relação a outros credos e chegou a traçar um plano para unir as igrejas protestante, católica romana e ortodoxa oriental. Também

foi criticado por ter algumas crenças místicas consideradas extremas até mesmo pelos pietistas. Em 1737 recebeu a ordenação luterana, mas, antes disso, diversas circunstância forçaram Zinzerdorf e seus morávios a formar uma organização eclesiástica separada. Durante onze anos ele chegou a ser exilado de Herrnhut. Passou os últimos anos de sua vida fazendo muitas viagens e dedicando-se à obra pastoral e missionária e aos escritos. Zinzerdorf havia criado uma igreja exemplar — ecumênica, livre, missionária e voltada para o serviço — que se baseava na experiência em comum da salvação, no amor mútuo e na ênfase de uma expressão religiosa profunda e emocional. Esta última foi ilustrada especialmente em seus hinos, orações, poesias e “lemas” ou Losungen. Até hoje muitas pessoas em várias comunidades cristãs usam seleções de lemas diários morávios como um exercício devocional.

A preocupação social do Pietismo Talvez a característica mais importante do Pietismo fosse sua visão de caráter exterior. Apesar de ser necessário voltar-se para dentro a fim de criar um relacionamento direto com Deus através da fé em Jesus Cristo e da Bíblia ser lida para o encorajamento, alerta e consolo pessoal, ao mesmo tempo a salvação tinha que ser demonstrada através de uma vida santificada. O perdão dos pecados e a criação de uma nova pessoa estavam ligados entre si. Porém, a santidade não significava apenas

dedicar-se a exercícios “religiosos” como a contemplação, instrospecção, oração, busca por visões ou profecias resultantes de êxtases, nem tampouco uma separação total do mundo a fim de evitar as máculas da alma que podem ser causadas por ele. Pelo contrário, era esperado que os cristãos se relacionassem com a sociedade ao seu redor mas não fossem dominados pelo mundo e seus valores. Eles entendiam plenamente o que Jesus queria dizer quando ordenou que seus discípulos estivessem no mundo mas não fossem do mundo. Sua força interior gerada pelo estar em Cristo energizava os indivíduos à medida em que saiam para o mundo a fim de realizar nele a obra de Deus. Apesar dos pietistas praticarem algumas formas de aceticismo, eles não acreditavam necessariamente que essas práticas tornavam a pessoa mais santa. Pelo fato dos prazeres do mundo poderem ser um empecilho para o serviço a Deus e aos outros seres humanos, era preciso dedicar-se ao trabalho duro e à auto-disciplina. O tempo da pessoa era de grande valor e devia ser usado no serviço a Deus e não desperdiçado em atividades levianas. O Pietismo estimulava o entusiasmo pela educação e pela filantropia. Spener incentivou a fundação de uma oficina residencial em Frankfurt que iria oferecer moradia e trabalho para pessoas necessitadas e outras cidades na Alemanha fundaram instituições parecidas. Mais importante ainda, foi a iniciativa de Franke mencionada anteriormente. Sua visão de um mundo melhor incluía não apenas mudanças na igreja

mas também uma reorganização das estruturas humanas em favor de uma sociedade mais justa. Seu trabalho em Halle tinha como finalidade ser um modelo para outros. Isto podia ser observado em sua instituições educacionais. Ele criou quatro tipos de escolas em sua fundação. A mais avançada era o Paedagogium, um internato no qual filhos de nobres eram treinados para carreiras no exército e no serviço público. A segunda era a Escola de Latim, uma escola preparatória acadêmica para os filhos de comerciantes e profissionais liberais que iriam para a universidade a fim de tornaremse teólogos, advogados, médicos e homens de negócio. A terceira e maior era a Escola Alemã que oferecia a educação básica para os filhos e filhas de pessoas comuns. Por fim, havia uma escola primária para as crianças muito pobres, especialmente os órfãos que viviam na fundação. Franke empregava alunos universitários para lecionar, o que refletia sua convicção de que eles deveriam não só estudar mas também viver a fé cristã. Para melhorar a qualidade do ensino ele fundou um “Seminário de Tutores” em 1699 como instituição de treinamento e em 1707 o programa foi estendido, tornando-se um curso de cinco anos que incluía dois anos de ciências humanas e três anos de ensino prático. Esse foi o primeiro programa organizado para o treinamento de educadores na Alemanha. A idéia por trás dele não era apenas treinar professores mas também teólogos que propagariam seus conceitos pedagógicos por toda a parte. A ligação entre a universidade e a escola de ensino básico foi uma

das principais inovações de Franke. A educação também transpunha a distinção entre classes. Ao usar alunos nas escolas, jovens capazes de famílias com recursos limitados tinham a oportunidade de receber preparo a nível universitário. Além disso, filhos de famílias de classe média podiam entrar para a elite do Pedagogium, enquanto dos noventa e seis órfãos que viviam na fundação em 1706, sessenta estavam matriculados na Escola de Latim. Franke dava grande ênfase a se permitir que cada aluno se desenvolvesse de acordo com suas habilidades. O currículo refletia o desejo pietista de que a educação fosse relevante à vida. Os alunos não só aprendiam a ler e escrever e estudavam as matérias acadêmicas regulares como também fazia caminhadas pela mata, visitavam estúdios de arte e oficinas e era esperado que aprendessem os fundamentos de algumas profissões. O objetivo principal da educação pietista era o desenvolvimento do caráter devoto. Os estudantes de Teologia que eram, eles próprios, dedicados, polidos e pios serviam de modelo para os alunos. Esperava-se que mais tarde eles também viriam a ser indivíduos equilibrados, responsáveis, preocupados com outros, devotos, bondosos e honrados. Franke não dependia da disciplina rigorosa praticada em outras escolas de sua época pois pensava que as crianças deveriam ser tratadas com compaixão e consideração. Ao mesmo tempo, ele defendia uma forte supervisão e controle dos alunos e exigia que aprendessem modos compatíveis com seu lugar na sociedade. Assim, uma escola não era

apenas o lugar onde se transmitia informações, era uma instituição que transformava o caráter. Quando de sua morte em 1727, essas escolas notáveis empregavam 183 professores e aproximadamente 250 alunos assistentes e tinham matriculadas perto de 2300 crianças. Isso incentivou outros cidadãos e príncipes a interessarem-se pelo apoio à educação, sendo o mais importante deles o rei da Prússia, Frederico Guilherme I. Seu famoso decreto de 1717 fundando escolas primárias mantidas pelo Estado foi inspirado no modelo de Franke em Halle. Também foram criados seminários sob a orientação pietista a fim de treinar professores para essas escolas. Assim, foi sobre a fundação das escolas de estilos pietistas que mais tarde se construiu o sistema educacional da Prússia. A fundação de Franke era uma colmeia de outras atividade filantrópicas além do orfanato e das escolas. Era um centro de treinamento e envio de obreiros para missões estrangeiras (ver capítulo 16). Em 1689 foi criado um lar para viúvas onde elas podiam viver confortavelmente com assistência médica e espiritual. Quando um médico doou suas propriedades para a fundação em 1702, isso permitiu que fosse criada uma ala médica e farmacêutica. Essa ala tinha seu próprio hospital, que foi o primeiro na Alemanha onde os alunos recebiam instrução clínica. Em 1699, foi aberta uma loja de livros que mais tarde passou a ter filiais por todo o país. Uma imprensa passou a funcionar em 1697 e quatro anos mais tarde foi aberto um parque gráfico

que produzia bíblias e literatura religiosa. Karl Hildebrand, Barão de Canstein (1667-1719), mais tarde foi uma figura crítica para o empreendimento. De uma família prussiana proeminente, ele havia estudado Direito e se tornado oficial da corte em Berlim. Lá recebeu a influência de Spener, que lhe apresentou o trabalho de Franke. Um leigo profundamente devoto, ele comprometeu-se totalmente com a fundação e fez todo o possível para promover seu trabalho. Além de dedicar-se a angariação de fundos, ele mesmo doou grandes somas e pessoalmente financiou metade dos custos do Collegiu Orientale, uma equipe de estudiosos que Franke havia formado para pesquisar línguas orientais e modernas a fim de expandir o conhecimento bíblico. Tinha ainda uma filial da livraria em sua casa em Berlim e usava seus contatos políticos para encontrar emprego para pastores, capelães militares e tutores treinados em Halle. Um dos patrocinadores de Franke sugeriu que a imprensa fosse usada para publicar bíblias e que elas fossem distribuídas à partir de Halle. Inspirado pela idéia, Canstein assumiu a liderança do empreendimento e levantou o dinheiro necessário. Em 1710 as bíblias já estavam sendo impressas e quase dois milhões e meio de cópias das Escrituras foram produzidas ao longo das décadas seguintes. Depois de sua morte, ela foi rebatizada de Sociedade Bíblica Canstein. Apesar de no século 19 ela ter sido ultrapassada por outras sociedades bíblicas mais jovens, a Sociedade Canstein foi a maior distribuidora das Escrituras na

Europa no século 18.

A literatura pietista Os hinos pietistas e a literatura devocional tinham muito em comum com o material produzido pelos ortodoxos. Uma grande influência foi o escritor de hinos Joachim Neander (1650-80), um professor e pastor na Igreja Reformada. Em 1674 ele começou a usar a idéia de Spener de pequenos grupos que se encontravam para cultos na Escola Reformada de Gramática em Düsseldorf e foi demitido por fazê-lo. Tornou-se então pastor em Bremen. Em sua curta vida, escreveu mais de sessenta hinos, incluindo o tão querido Lobe den Herren [Louvai a Deus].2 Mais importante porém foi o fato de ele ser o primeiro músico reformado a romper com a prática do Calvinismo de usar somente salmos métricos em seus cultos. Nessa época, até mesmo hinos luteranos eram proibidos na Igreja Reformada. Os calvinistas achavam que eles eram composições humanas e que Deus só podia ser adorado corretamente através de hinos divinamente inspirados, a saber, os Salmos. Gerhard Tersteegen (1697-1769) foi outro pietista Reformado importante. Ele havia sido aprendiz de um comerciante em Mülheim/Ruhr e foi convertido em 1716. Apesar de suas origens serem da Igreja Reformada, ele tornou-se cada vez mais um místico desligado dessa igreja. Durante alguns anos ele trabalhou no ofício solitário de 2

Novo Cântico (Editora Cultura Cristã, 1991) nº 16.

fazer fitas de tecido e passava seu tempo livre como conselheiro espiritual — escrevendo cartas, visitando pessoas e, às vezes, falando em público. Mais tarde tornou-se tutor e assistente social na área médica mas nunca se casou nem entrou para o ministério. Fortemente influenciado pelo Quietismo, Tersteegen foi um dos místicos protestantes mais profundos, como se pode ver em seus cem hinos. Um importante escritor de hinos luterano foi o genro de Franke, Johann A. Freylinghausen (1670-1739). Apesar de ser professor de Teologia e Homilética e de estar envolvido com a administração da fundação, ele também era conhecido pela obra Geistreiches Gesangbuch, a mais importante coleção de hinos pietistas. A primeira edição foi lançada em 1704 com 683 hinos. A edição de 1741 foi expandida para 1.582 hinos, dos quais ele havia composto quarenta e quatro. Estes caracterizavam-se pela profundidade de sentimento e pela clara compreensão das Escrituras. Alguns dos primeiros hinos pietistas foram produzidos pelos grupos de Württemberg, sendo Phillip Friedrich Hiller (1699-1769) o mais notável autor. Aluno de Bengel e pastor, ele escreveu 1.073 hinos de qualidade variável, que foram publicados no Geistliches Liederkästlein (1762-67). O líder morávio Zinzerdorf também compôs mais de dois mil hinos, alguns dos quais podem ser encontrados em hinários modernos (Jesus, Teu Sangue e Retidão). A obra devocional ortodoxa encontrou grande aceitação entre os

pietistas. O Verdadeiro Cristianismo de Arndt e outros escritos eram bastante populares. Sermões de Spener e Franke foram publicados e distribuídos em larga escala. A coleção devocional de Johann Friedrich Starck (1680-1756), um pastor de Frankfurt am Main, Manual Diário do Bem e do Mal (1727-31) ainda é usada nos dias de hoje. Em 1730 o primeiro jornal devocional alemão, Notícias Espirituais, foi publicado em Berleburg e entre 1726 e 1742 foram produzidos os setes volumes da Bíblia de Berleburg. Tratava-se de uma tradução original acompanhada de um comentário e uma exposição do texto nas linhas do Pietismo radical. Tersteegen também escreveu muito material devocional, incluindo a obra altamente mística Biografias Selecionadas dos Santos.

Mesmo enquanto o Pietismo parecia estar em ascensão nas igrejas da Alemanha, já estava sendo enfraquecido pelas forças do racionalismo reunidas sob o estandarte do Iluminismo. Na metade do século já estava se retirando e mesmo bastiões como Halle foram afetados pela influência do Iluminismo. Ainda assim, o impacto histórico do Pietismo foi enorme. Um dos motivos foi pelo fato de ele ter libertado a fé protestante das correntes da tradição e ter restaurado a primazia da decisão pessoal nas questões espirituais, contribuindo assim para o crescimento da liberdade humana. Em segundo lugar, ao contrário do misticismo espiritual, o Pietismo impediu o crescimento de um “Cristianismo” vago fora da Igreja e em oposição a ela. Ele evitava a religiosidade anti-institucional

que poderia ter sido dirigida contra a Igreja. Em terceiro lugar, o Pietismo renovou e fortaleceu o ideal do Cristianismo primitivo como sendo exemplar para o presente. Finalmente, com sua ênfase no lado espiritual da vida, a singularidade da supremacia pessoal dos sentimentos e emoções sobre o intelecto, o Pietismo ajudou a abrir caminho para o romantismo alemão e a ascensão do nacionalismo. Dentro de duas gerações, os sentimentos religiosos que haviam sido tão estimulados pelo Pietismo seriam transferidos para uma entidade nova, ainda que quase religiosa, o Volk [povo] e a nação.

Capítulo 15 - A Ciência e o Iluminismo desafiam a Igreja Os séculos 16 e 17 testemunharam a ascensão de uma nova atitude em relação à natureza que levou ao desenvolvimento da Ciência moderna e a mudanças dramáticas na vida humana. Essa nova cosmovisão fez a civilização ocidental assumir um caráter muito mais secular e permitiu ao Ocidente ampliar seu domínio por todo o mundo através de tecnologia naval e militar superior. Culminou com uma alteração radical do pensamento que tornou-se a fundação da sociedade moderna. Tal consciência da tecnologia e Ciência não surgiu de repente, do nada. Tinha raízes profundas que vinham desde a Antigüidade e que desenvolveram-se ao longo de toda a Idade Média.

A Ciência Medieval

A visão medieval de Ciência era uma síntese das idéias da Grécia antiga com a teologia cristã. Os escolásticos ficaram profundamente impressionados com a obra de Aristóteles pois esta explicava a natureza de forma ordenada. Seguindo o grande pensador grego, eles acreditavam que toda criatura, de acordo com seu grau de perfeição, tinha um lugar determinado no universo. Uma “grande corrente de seres” vinha descendo de Deus, passando pelos anjos, pelas estrelas, planetas, Sol e Lua fisicamente perfeitos para os quatro elementos deste mundo — terra, água, ar e fogo. Nesse sistema a Terra encontrava-se parada no centro de nove esferas vazias que giravam em torno dela diariamente. Mais tarde chamada por estudiosos de explicação “geocêntrica” do universo, a visão medieval era de que sete “esferas” misteriosas, transparentes como cristal rodeavam a Terra, sendo que cada uma continha um corpo celeste, ordenados da seguinte forma pela ordem de distância — a Lua, Mercúrio, Vênus, o Sol, Marte, Júpiter e Saturno. Uma oitava esfera continha as estrelas fixas e um anel externo chamado de “primeiro movedor” (em latim, Primum mobile) que fazia todas as esferas se moverem ao redor da Terra de modo preciso e regular a cada 24 horas. Ao contrário do conceito moderno de universo, a distância dentro desse sistema não era vasta e infinita. Um escritor medieval afirmou que se uma pessoa pudesse viajar sessenta quilômetros por dia, chegaria à esfera das estrelas fixas em oito mil anos. Apesar de Deus ser a fonte de todo o poder e movimento, ainda assim, de acordo com a astrologia

popular, acreditava-se que as esferas podiam influenciar os acontecimentos na Terra. Saturno, por exemplo, fazias as pessoas ficarem tristes e causava desastres, Marte produzia guerras, Vênus encorajava o amor e Júpiter trazia prosperidade. O Sol iluminava a Terra constantemente e a noite era a sombra em forma de cone feita pela Terra. Pelo fato do Sol se mover enquanto a Terra permanecia parada, pensavase que a noite era um longo dedo escuro que girava como os ponteiros de um relógio. O espaço não era escuro nem silencioso e quando as pessoas olhavam para o céu à noite, viam através da escuridão e não a escuridão em si. A maior parte dos estudiosos do final da Idade Média tinha chegado à conclusão de que a Terra não era plana, mas sim um globo, mas supunha-se que havia criaturas estranhas em outras regiões pois o contato com lugares fora da Europa era muito limitado. A idéia medieval era muito diferente da cosmologia do século 20, mas parecia encaixar-se nos fenômenos observados. Qualquer um podia ver claramente o movimento dos corpos celestes traçando um caminho circular ao redor da Terra. Além disso, o mundo parecia estar parado no meio de todo esse movimento. Os cristãos transpuseram sua teologia para dentro da Ciência e o maior de todos os poemas medievais, A Divina Comédia, de Dante, descrevia o universo em termos geocêntricos, colocando o céu acima da Terra e o inferno abaixo, no hemisfério sul. No centro desse sistema estava a Terra, lar da humanidade, o ápice da criação de Deus. Aqui foi o lugar para onde Cristo veio sofrer e morrer

pela redenção humana. Além disso, a estrutura hierárquica do universo assegurava às pessoas que Deus estava no controle. A teoria geocêntrica encontrou bases na ordem de Josué para que o Sol não se movesse (Josué 10.12,13), em Eclesiastes 1.5 e em várias declarações em Salmos. 1500

1600

1700

1800

1543

1550

1600

1650

1687

1735

1750

1778

Revolução

Tycho

Johann

John Locke

Isaac

Voltaire fala em

Benjamin

Fundação

das Esferas

Brahe

Kepler

Franklin

Newton

favor da liberdade

Celestes,

publica

de religião

de

Principia

dos Iluminati

Copérnico 1632

1740

1780

1781

O Diálogo sobre os Dois Sistemas

Frederico II (o Grande)

Joseph II,

Kant e a

Principais do Mundo

assume o poder na

rei da

Crítica da

Prússia

Áustria

Razão Pura

Mesmo nos tempos antigos, porém, alguns astrônomos questionavam o sistema geocêntrico simplista. No 2º século depois de Cristo, Cláudio Ptolomeu explicou as variações no movimento dos planetas sugerindo que a Terra não estava exatamente no centro do universo. Também afirmou que os corpos celestes moviam-se em suas esferas em pequenos círculos chamados de epiciclos, enquanto as esferas em si moviam-se ao redor da Terra. Estudiosos muçulmanos traduziram a obra de Ptolomeu e ela chegou às mãos dos cristãos durante o século 12. Apesar das correções que Ptolomeu havia feito na visão geocêntrica de Aristóteles, os escolásticos encontraram ainda outros erros no sistema e

no século 16 havia tornado-se aparente que era necessário fazer modificações nas tabelas de movimentos planetários. As tentativas de descrever os fenômenos astronômicos com mais precisão levaram a uma revisão da cosmologia e ao início daquilo que os historiadores chamam de “revolução científica”. O pioneiro dessa nova cosmovisão, Nicolau Copérnico, nasceu na Polônia em 1473 e foi educado na Itália onde estudou a Lei Canônica, Medicina e Matemática. Depois de completar seu treinamento ele foi nomeado para fazer parte da equipe da catedral no leste da Prússia onde dedicou seu tempo à administração da igreja, um consultório médico e ao estudo de escritores clássicos e da astronomia. Em 1515 o papa convidou estudiosos a apresentarem propostas para uma revisão do calendário e no processo de trabalho nesse projeto, os erros no sistema Aristotélico-Ptolomaico chamaram a atenção. Esse problema fascinou Copérnico tendo em vista que ele sabia da obra de Aristarco de Samos, um astrônomo grego no 3º século antes de Cristo que havia sugerido que a Terra fazia rotações em volta de seu próprio eixo e, juntamente com os outros planetas, girava ao redor do Sol. O pensador polonês decidiu fazer cálculos matemáticos baseados na hipótese de um sistema heliocêntrico (centrado no Sol) para descobrir se eles poderiam explicar o movimento planetário de modo mais preciso. O modelo do universo que ele desenvolveu mantinha algumas idéias medievais como epiciclos e o movimento circular perfeito dos corpos

celestes, mas distanciava-se das idéias cristãs tradicionais o suficiente para perturbar a comunidade intelectual de sua época. Martinho Lutero refletia a cosmovisão da maioria dos estudiosos do século 16 ao declarar que “esse tolo deseja reverter toda a ciência da Astronomia; mas as Escrituras Sagradas nos dizem que Josué ordenou que o Sol parasse e não a Terra”. Esse tipo de observação não levava em consideração aquilo que alguns intérpretes bíblicos modernos chamam de “princípio da linguagem fenomenal (aparente)”. Os cientistas também atacaram a nova teoria dizendo que se a Terra girasse em volta de seu próprio eixo, haveria um vento constante. Copérnico respondeu que isso não aconteceria porque a atmosfera movia-se na mesmo velocidade e no mesmo sentido que a Terra. Eles argumentaram ainda que se a Terra se movesse ao redor do Sol, as estrelas mudariam de lugar no céu. Copérnico respondeu que a distância percorrida pela Terra era tão pequena quando comparada à sua distância das estrelas que a mudança de posição das estrelas não podia ser medida. Porém, o maior problema da visão heliocêntrica era a necessidade de uma nova explicação sobre gravidade e movimento. Levou um século de discussões para que um brilhante cientista inglês chamado Isaac Newton pudesse preencher essa lacuna através de sua lei da gravidade universal. Apesar do comentário muito pouco entusiasmado da hipótese feito por Lutero sobre a hipótese de Copérnico, sua obra Seis Livros sobre as Revoluções das Esferas Celestes ironicamente foi publicado em

Wittenberg em 1543, algumas semanas antes da morte do autor. Seu impacto sobre os primórdios da comunidade científica moderna foi dramático e a reação dos estudiosos dividiu-se em três categorias. Primeiro, havia aqueles que sustentavam a posição aristotélica tradicional. Faziam pouco uso da Matemática e da experimentação e continuavam a depender de argumentos lógicos derivados de algumas premissas básicas. Um segundo grupo, liderado por Tycho Brahe e Francis Bacon, defendia o método indutivo de raciocínio. Acreditavam que os cientistas devem formular hipóteses baseadas em fenômenos observados e experimentos que outros poderiam repetir e que mais cedo ou mais tarde esse trabalho os levaria à verdade. O terceiro grupo que trabalhava com uma visão platônica da natureza e da realidade, apoiava-se na abordagem dedutiva. Eles acreditavam que os detalhes importantes do universo podiam ser explicados através de cálculos matemáticos. Copérnico, Galileu e Kepler faziam parte dessa categoria. O astrônomo dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601) diferia de Copérnico ao argumentar que os cinco planetas giravam em torno do Sol, que, por sua vez movia-se ao redor da Terra que se encontrava parada. Seu colega muito mais importante, Johann Kepler (1571-1630), numa tentativa de harmonizar os trabalhos de Copérnico e Brahe descobriu que os planetas moviam-se em torno do Sol de forma elíptica ao invés de

circular. Também calculou com precisão a velocidade do movimento planetário. No processo de formular essas idéias, mesmo sem ter a intenção, Kepler ajudou a lançar as bases da Ciência moderna. Porém, Kepler dificilmente seria considerado um cientista de acordo com a definição atual do termo. Ele era um panteísta que afirmava que o universo era uma expressão de divindade e que Deus se revelava especialmente no Sol. O mais importante é que Kepler deu início à busca por uma única lei que pudesse ser expressada matematicamente e que explicasse o movimento do universo. Antes que isso pudesse ser alcançado, era necessária uma compreensão maior de movimento e essa foi a contribuição de Galileu Galilei. Nascido em Pisa em 1564, lecionou Matemática nas universidades de Pisa e Pádua e depois foi nomeado estudioso residente na corte do duque da Toscania. Apesar de suas muitas observações que serviram de apoio para a visão heliocêntrica ao invés da idéia medieval sobre o universo, ele se manteve sempre desconfiado quanto às provas não-matemáticas disso pois acreditava que a Matemática era a chave essencial para o conhecimento. Um dos primeiros cientistas a usar um telescópio, Galileu notou quatro luas que giravam ao redor de Júpiter, viu manchas no Sol e a superfícies irregular da Lua. Tendo em vista que a cosmologia aristotélica não podia explicar essas irregularidades, ele concluiu que os corpos celestes não eram feitos de uma substância pura e perfeitamente

cristalina pois o Sol tinha manchas escuras e a Lua e os planetas pareciam ser feitos de matéria igual à da Terra. Além disso, estava convencido de que, aquilo que fazia as coisas moverem-se na Terra também devia ser responsável pelas revoluções dos outros corpos celestes. Assim, ele via massa e movimento como conceitos gêmeos que explicavam o universo. Em sua obra, Diálogos Sobre os Dois Principais Sistemas de Mundo: o Ptolomaico e o Coperniano (1632), Galileu apresentava essas idéias sob a forma de um debate acerca dos méritos do novo conceito de astronomia. Escrito em italiano, que era a linguagem do povo, em vez de latim, a rejeição da visão medieval proposta pelo livro provocou a ira de muitos católicos conservadores. Ao seus críticos ele disse: “A Bíblia fala sobre como chegar ao céu e não sobre como os céus se movem”. Apesar de sua amizade com alguns membros da cúria papal, ele foi colocado diante da Inquisição e forçado a negar suas idéias científicas. Seus livros foram proibidos e ele foi colocado sob prisão domiciliar perto de Florença onde morreu em 1642. Ao contrário do tratamento reservado para Galileu, Isaac Newton, o estudioso que desenvolveu os fundamentos da visão moderna de universo, teve liberdade e foi amplamente elogiado. Nascido em 1642 e educado na Universidade de Cambridge onde tornou-se professor de Matemática aos 27 anos de idade, Newton mais tarde foi presidente da prestigiosa Sociedade Real de Londres para o Progresso do

Conhecimento Natural durante vinte e cinco anos. Por ser não apenas um gênio mas também uma pessoa muito excêntrica, é difícil fazer-se uma avaliação de Newton. Por vezes ele colocava de lado seus estudos por um longo tempo, mas quando voltava a eles podia enterrar-se em seu trabalho. Diz-se que ele andava em direção ao refeitório da universidade, distraía-se e voltava para o trabalho sem perceber que não havia comido. Muitas vezes, era forçado a concluir certas tarefas quando era pressionado por seus amigos ou quando seus rivais afirmavam ter resolvido um problema científico antes dele. Certa vez, seu amigo chegado, Edmund Halley, descobriu para seu espanto que Newton havia resolvidos alguns cálculos precisos para um problema, mas então os havia perdido enquanto outros tentavam fazer aquilo que ele tinha esquecido. Ele também gastava tempo com especulações fantásticas, usando a numerologia bíblica para calcular o fim do mundo. Fica a pergunta de como ele era capaz de combinar imaginação e precisão na medida certa a fim de produzir um trabalho tão influente. Ainda assim, essa pessoa engenhosa e cheia de orgulho criou um modelo do universo físico que foi aceito por gerações. Sua cosmovisão continua sendo a verdade científica para muitos ainda hoje e é considerada exata em todas as esferas da natureza exceto a nível atômico e em velocidades próximas à da luz. Em 1665-66, Newton foi forçado a deixar Cambridge por causa de uma epidemia de peste bubônica e buscar refúgio em sua casa no campo.

Lá, ele criou uma série de cálculos matemáticos que uniram os conceitos de movimento planetário elaborados por Kepler e os conceitos sobre o movimento da Terra descobertos por Galileu. Ele demonstrou que uma mesma força levava os planetas ficarem em suas órbitas celestes e fazia com que as coisas caíssem na Terra. Essa “lei da gravidade” estendia-se para todas as partes do universo. Sua prova para essa idéia baseava-se no fato da Lua mover-se em direção à Terra na mesma proporção de velocidade com a qual um objeto caía dentro da atmosfera da Terra, 9,8 metros por segundo. Pelo fato dos números necessários para sustentar essa teoria não estarem disponíveis naquela época, suas descobertas não foram publicadas até 1687 quando apareceram na extensa obra (em latim) Princípios Matemáticos da Filosofia Natural. O Principia como o livro é normalmente chamado, explicava a lei universal da gravidade e definia a força centrífuga, cinética e inércia em termos matemáticos. Também mostrava que a atração da Lua e do Sol era a causa das marés, que a Terra e outros planetas eram achatados nos pólos e que o caminho de cometas podia ser determinado pois era influenciado pelo Sol. Além de ser o auge da revolução cosmológica, o estudo de Newton definiu a metodologia para a Ciência moderna. Sua abordagem continha três princípios básicos. O primeiro era a insistência na experimentação. Newton desconfiava de idéias gerais e achava que, sempre que possível, elas deviam ser testadas pela observação experimental. Em segundo lugar, acreditava na lei da parcimônia ou simplicidade. Esta afirma que

quando há várias explicações válidas para um fenômeno, deve-se dar preferência à mais simples. Em terceiro lugar ele baseava-se no uso extensivo da Matemática. A lei universal da gravidade foi proposta como uma fórmula matemática: o produto das massas e o quadrado da distância entre elas. Foi essa combinação de observação experimental e Matemática que constituiu o fundamento da Ciência moderna e, no início do século 18, a visão newtoniana de mundo já era aceita pelos europeus mais cultos. Alexander Pope falou em nome de muitos outros além dos ingleses quando escreveu: A Natureza e suas Leis escondiam-se na escuridão: Deus disse. “Haja Newton!” e tudo se fez luz.2

Reações contra a Ciência Apesar de elogios profusos, as idéias medievais não abriram passagem educadamente para que entrasse em cena a nova ciência. Aqueles que defendiam Aristóteles agiram de maneira tacanha e beligerante a indivíduos como Galileu que tentaram apresentar suas idéias para um público mais amplo. A natureza chocante da teoria heliocêntrica para as pessoas dos séculos 16 e 17 poderia ser devidamente comparada com as controvérsias geradas pelos ensinamentos evolucionários de Darwin em tempos mais recentes. Além de Galileu, um outro mártir em favor da causa da transformação científica foi Giordano Bruno. Um dominicano italiano

que foi forçado a deixar sua ordem em 1576 por alegações de heresia, ele viajou pela Europa dando palestras, lecionando e escrevendo. Um gênio versátil, ele dominava a Filosofia, Teologia e a Ciência Natural. Bruno foi influenciado pelos escritos de Hermes Trismegistos, o qual acreditava-se que fosse um acadêmico misterioso de tempos antes da vinda de Cristo e que havia inspirado Platão. A tradição hermética que incentivava o uso da mágica e a adoração ao Sol, levou Bruno a rejeitar a idéias aristotélica e apoiar a teoria heliocêntrica. Mas ele foi além dos aspectos conservadores da visão de Copérnico e sugeriu que o universo era infinito e consistia de incontáveis mundos semelhantes ao sistema solar. Afirmou ainda que a Bíblia deveria ser seguida por seus ensinamentos morais e não como um livro didático de Astronomia. Em 1591 Bruno foi convidado a ir para Veneza por um dos governantes da cidade que desejava aprender com ele um método de memorização. Decepcionado com seus estudos, ele denunciou Bruno à Inquisição. Em 1600 ele foi condenado à fogueira por causa de seus ensinamentos heréticos, mas antes de morrer, Bruno dirigiu-se a seus juízes com as comoventes palavras que tem inspirado os amantes da liberdade intelectual desde então: “Talvez o seu medo ao julgar-me seja maior que o meu ao receber o julgamento”. O clima de intolerância e perseguição que veio com a revolução científica afetou não apenas os estudiosos mas também aquelas pessoas que eram diferentes dentro da sociedade e que eram chamadas

popularmente de “bruxas”. O período entre 1600 e 1680 marcou o auge do pânico europeu em relação às bruxas e milhares de homens e mulheres infelizes foram vítimas da ansiedade de seus vizinhos. Era comum acreditar-se que essas pessoas faziam pactos secretos com o diabo e freqüentavam reuniões aos sábados. Dizia-se que a viagem até essas reuniões era sobrenatural e feita com uma vassoura ou um bode alado. Aqueles que participavam supostamente adoravam o diabo que aparecia como um homem de barba preta, um sapo ou um bode. Depois de ouvir músicas estranhas e participar de atos de homenagem repulsivos, as bruxas e bruxos tomavam parte em orgias sexuais com Satã e seus servos. Muitas vezes eram feitos banquetes com crianças assadas, ensopado de morcego ou corpos de mortos desenterrados. Quando não estavam nessas assembléias, as bruxas supostamente cuidavam de espíritos que manifestavam-se em morcegos, sapos ou toupeiras. Também causavam a esterilidade de recém-casados, doenças e tempestades. Usava-se de tortura para extrair provas de pessoas que eram acusadas de ser bruxas. Apesar da dor terrível fazer uma pessoa admitir quase qualquer coisa, havia alguns indivíduos que sem dúvida acreditavam que eram bruxos. A maioria dos que confessavam era cruelmente executada. Estudiosos da Era da Ortodoxia no século 17 com freqüência incluíam discussões sobre bruxaria em suas obras e alguns até

publicaram enciclopédias sobre o assunto. Essas obras afirmavam que todos os detalhes sobre bruxaria eram verdadeiros e que todas as objeções à perseguição desses emissários de Satanás deviam ser silenciadas. A maior parte dos escritores acreditava que o número de bruxas estava aumentando e que a razão para essa situação lamentável era a “leniência” dos juízes. Porém, um outro fator que contribuiu para a renovação da ênfase na bruxaria foi a luta entre católicos e protestantes na Europa, ainda assim, a culpa por essa terrível perseguição deve ser colocada primeiramente sobre a confusão resultante de uma transição entre a cosmologia medieval e a cosmovisão moderna e científica. Entre 1630 e 1700 os europeus mais esclarecidos passaram a aceitar o ponto de vista heliocêntrico e as descrições matemáticas e mecânicas do universo conforme as explicações de Newton. Assim, uma ênfase sobre leis uniformes e racionalismo levou inevitavelmente ao declínio das crenças em bruxaria. Seres perverso em união com o diabo não podiam mais existir num mundo governado pelas leis de Newton. Essa mudança de pensamento foi demonstrada muito bem na reação do juiz em um dos últimos julgamentos de bruxaria da Inglaterra. Ele encerrou o caso com o comentário sarcástico de que não havia nenhuma lei que impedia de se fazer o trajeto entre Londres a Oxford no cabo de uma vassoura.

O Iluminismo

A nova visão científica do mundo no século 17 caracterizava-se pela certeza da habilidade da Razão e da experiência humanas de resolver todos os problemas. Impressionados com as realizações dos cientistas naturais ao descobrir as leis do universo físico, os homens do esclarecido século 18 acreditavam que podiam encontrar leis que governavam a sociedade e o comportamento humano. Ao tentar colocar isso em prática, de seu método do uso da Matemática eles passaram para uma abordagem mais literária. O novo movimento de transformações sociais teve como centro a França, onde havia um grupo de escritores radicais chamados de philosophes ou filósofos. É preferível usar o termo francês para fazer referência a esses indivíduos pois eles não dedicavam-se à especulação filosófica em si, mas sim eram propagandistas e popularizadores. Não estavam tão interessados em expandir as fronteiras do conhecimento como estavam em reconstruir a sociedade de acordo com leis naturais e com a Razão. Para isso, os philosophes escreviam peças, histórias, romances, tratados políticos, obras de crítica literária e estudos científicos. Tendo como alvo um público mais amplo, usavam a linguagem popular ao invés do latim e desenvolveram um estilo interessante e claro de se escrever. Muitos deles ganhavam o suficiente com a venda de seus livros para viver confortavelmente, enquanto outros tinham meios próprios ou eram sustentados por patronos abastados. Começando na França, o Iluminismo espalhou-se para outras partes

da Europa — Alemanha, Áustria, Rússia, Grã-Bretanha, Itália e Espanha — e até mesmo para as colônias na América, onde indivíduos influenciados pelos philosophes foram os principais líderes da Revolução. O porta-voz mais famoso do novo movimento social foi François-Marie Arouet (1694-1778), que usava o nome de Voltaire. Nascido numa família de classe média e educado numa escola jesuíta, estudou Direito durante algum tempo mas depois abandonou esse projeto para seguir uma carreira literária. Formou sua reputação como escritor de tragédias clássicas e ao longo de toda sua vida escreveu para o teatro. Voltaire foi um dos primeiros autores de best-sellers. Durante um período de sete anos foram vendidas um milhão e meio de cópias dos seus livros. Ele escreveu sua primeira obra aos 17 anos de idade e, quando de sua morte, seus escritos publicados tomavam mais de setenta volumes. Quando jovem, Voltaire ficou preso na infame Bastilha, em Paris por insultar um nobre e foi forçado ao exílio na Inglaterra. Ele gostou da liberdade que tinha lá e entusiasmou-se com as idéias de Newton e John Locke. Dedicou-se à tarefa de esclarecer sua terra natal bem como o resto do mundo ao aplicar seus ensinamentos às antigas sociedades aristotélicas. Ao voltar para França, publicou Cartas Filosóficas sobre os Ingleses (1734), obra na qual ele comparava a liberdade de expressão e religião, igualdade perante a lei e impostos iguais — que ele acreditava existirem na Inglaterra — com as injustiças e desigualdades da França. O

governo obrigou-o a fugir de sua terra natal mais uma vez e dessa vez ele foi morar logo depois da fronteira, na Suíça. Apesar de sua amizade com aristocratas, príncipes e reis, ele nunca abandonou a crença na justiça social para todas as pessoas, que se baseava no princípio da liberdade pessoal, igualdade legal e liberdade de pensamento e expressão. Outro filósofo importante, Denis Diderot (1713-84), divulgou a nova abordagem científica através de uma extensa obra conhecida como Encyclopédie. A série de vinte e oito volumes foi escrita durante um período de dois anos (1751-52) e sete volumes complementares foram elaborados alguns anos depois. Entre os contribuidores estavam quase todas as principais figuras do Iluminismo francês. Mais do que uma simples coleção de fatos, os artigos explicavam que as pessoas só podiam se desenvolver se substituíssem a fé pela Razão como princípio norteador. Tendo em vista que suas idéias eram uma ameaça contra a autoridade vigente, os primeiros volumes sofreram repressão. Porém, quando foi lançado o último livro da série, a Encyclopédie tinha vencido a intolerância e podia ser distribuída livremente. Uma característica singular da obra prima de Diderot foi a inclusão de três mil páginas de ilustrações que eram especialmente úteis para médicos, cientistas e artesãos. Os contribuidores criticavam constantemente as idéias e instituições existentes. O artigo sobre a deusa Juno, por exemplo, ridicularizava a adoração à Virgem Maria; o item sobre sal demonstrava a injustiça dos impostos regressivos sobre os pobres e um outro artigo,

este sobre a cidade suíça de Genebra, condenava o governo da França.

Deísmo A cumplicidade da Igreja Católica Romana nas injustiças sociais da época levou a maioria dos philosophes a adotar uma nova perspectiva religiosa conhecida como “deísmo”. Expressada pela primeira vez por um grupo de escritores ingleses começando com Lord Herbert de Cherbury na primeira metade do século 17, essa visão rejeitava a crença na revelação especial. Esta última havia, supostamente, corrompido a pureza da religião natural ao introduzir conflitos e superstição no lugar de acordos e da verdade. Lord Herbert declarou que as seguintes idéias eram comuns a todas as religiões: (1) a existência de um Ser Supremo, (2) a necessidade ou obrigação de adorar a esse Deus, (3) a importância da virtude e da devoção como parte da adoração, (4) a necessidade de arrependimento dos pecados e (5) a recompensa ou castigo divinos tanto na vida presente quanto na futura. Aqueles que se baseiam na Razão reconhecem a validade desses pontos. Esses eram os ensinamentos da verdadeira Igreja que existia antes do povo ser iludido pelos sacerdotes e profetas das várias religiões. Os ritos e doutrinas da religião institucional foram a origem das perseguições mais terríveis da História. O deísmo também negava qualquer intervenção direta de Deus sobre a ordem natural. Sua função era de “primeira causa”, o relojoeiro que havia criado o mundo para funcionar como um relógio. Então ele deu corda na sua

criação e de acordo com seu plano ela agora funciona tranqüilamente sem a necessidade de mais envolvimento divino. As idéias de Lord Herbert encontraram na Europa do século 18 um ambiente propício para se desenvolver pois a expansão geográfica havia ampliado o conhecimento sobre outras fés. Durante a Idade Média, o Cristianismo parecia ser o centro da História, mas quando os navegantes, comerciantes e missionários voltaram para a Europa com histórias sobre milhões de pessoas na China, Índia e em outras partes que jamais tinham ouvido falar de Cristo, alguns começaram a duvidar sobre as afirmações de exclusividade do Cristianismo. A adoração ao “Deus da natureza” e o uso da “teologia natural” (conhecimento do divino que não é derivado de uma revelação como, por exemplo, as Escrituras) pareciam oferecer uma solução para o problema. A história natural havia tido uma longa e respeitável história dentro da Igreja, mas algo aconteceu com ela por causa da revolução científica. A revolução havia desenvolvido uma visão mecânica e matemática do universo dentro da qual as abstrações dos matemáticos eram cada vez mais consideradas verdade enquanto a cosmovisão da Bíblia ia perdendo sua credibilidade. Quando comparados com a regularidade mecânica da nova ciência, os milagres relatados na Bíblia pareciam fantásticos e irracionais. O tempo e o espaço haviam se expandido para dimensões tão vastas que o relato cristão da criação até o julgamento, concentrado numa pequena entidade no universo, parecia pequeno e irrelevante. O deísmo

oferecia uma forma de ser religioso e ao mesmo tempo estar em sintonia com a nova perspectiva científica. Durante a primeira metade do século 18, deístas e teólogos ortodoxos da Inglaterra discutiram os milagres e as profecias sobre Cristo encontradas no Antigo Testamento. Alguns deístas como o Terceiro Conde de Shaftesbury, declaravam que todas as descrições de Deus que retratavam seus ciúmes e índole vingativa eram blasfêmias e que Ele era um Ser gentil, amoroso e benevolente que desejava que a humanidade também se comportasse com bondade e tolerância. Mas os deístas saíram perdendo na luta contra os defensores do Cristianismo que demonstravam uma vitalidade em sua fé que não era encontrada na religião natural desprovida de revelação. O deísmo mostrou ser um conjunto de idéias e não uma fé viva. Se alguém procurasse provas racionais para a religião, acabaria tornando-se um cético. A validade da fé cristã estava numa experiência interior com Deus e não na existência de uma primeira causa vaga e impessoal. Assim, na Inglaterra a escolha ficava entre o Cristianismo ou o ceticismo. Aqueles que continuavam com o Cristianismo tinham a tendência de juntar-se ao reavivamento wesleyano ou evangélico enquanto aqueles que optavam pelo ceticismo abandonavam completamente a religião e dedicavam sua atenção a outras atividades que consideravam mais produtivas. Apesar do debate ter se encerrado na Inglaterra, ainda era disputado com grande vigor no continente. Na França, o principal porta-voz do

racionalismo foi Voltaire. Ele era mais competente que os deístas ingleses e o Catolicismo francês tinha poucos defensores de habilidade. Voltaire acreditava ter identificado os problemas da Igreja como sendo a exploração por parte dos sacerdotes, superstição, intolerância e perseguição. Ele defendia a tolerância para todas as religiões exceto para a Igreja institucional, a qual ele denunciava com frases de efeito como “esmagar essa coisa infame”. Ele esperava “ver o último rei ser estrangulado com as entranhas do último padre”. Voltaire era inimigo da religião de revelação, argumentando que a Bíblia estava repleta de absurdos, contradições, erros e imoralidade e retratava um Deus que não era digno do título de Ser Supremo. Também defendia a religião natural, na qual as virtudes morais do amor e da bondade iriam resolver os males sociais causadas pelas crenças equivocadas. Os defensores do deísmo também podiam ser encontrados na Alemanha. Hermann Samuel Reimarus (1694-1768), um estudioso dedicado ao antigo Oriente Próximo e que vivia em Hamburg, foi um dos “fundadores” do criticismo bíblico, afirmando que o elemento miraculoso havia sido introduzido nas Escrituras por causa do fanatismo e do engano dos escritores bíblicos. Ele explicava as origens do Cristianismo pela perspectiva naturalista. Para ele, o grande milagre da revelação era o mundo e na natureza podia-se encontrar Deus, a moralidade e a imoralidade. Gothold Ephraim Lessing (1729-81), o conhecido dramaturgo e

filho de um pastor da Saxônia, havia sido educado na ortodoxia luterana, a qual tinha trocado pelo Iluminismo. Publicou um das obras de Reimarus e abriu a porta para o estudo crítico da Bíblia. Lessing insistia que a vida e a personalidade de Jesus talvez fossem diferentes daquilo que era retratado nos evangelhos e nos subseqüentes ensinamentos da Igreja. Também questionava se uma crença autêntica podia estar ligada a acontecimentos históricos e negava que a revelação tivesse um lugar na História. Se a verdade religiosa era autêntica, tinha que ser assim universalmente e também ser uma ordem diferente daquela dos acontecimentos históricos. Em duas importantes obras, Natã o Sábio (1779) e A Educação da Raça Humana (1780) Lessing pedia aos seus leitores que adotassem uma religião “natural” ou “positiva”, uma que reconhecesse Deus, formasse conceitos nobres sobre Ele e orientasse os indivíduos a ter esses conceitos em mente em tudo o que fizessem e pensassem. A “verdade interior” da religião não podia ser derivada de uma tradição escrita, mas era possível ser sentida e experimentada. Porém, Lessing dizia, não havia um Senhor dentro da História que daria às pessoas a verdade definitiva. Para ele as diretrizes da Bíblia eram infantis e as da Razão eram maduras. O racionalismo alemão não ficou isento de reações. O principal filósofo do século 18, Immanuel Kant (1724-1804) — um professor em Königberg, no leste da Prússia, que havia sido educado como pietista — procurou combinar o racionalismo com o Cristianismo ortodoxo. Em

obras como Crítica da Razão Pura (1781) ele afirmava que a Ciência e a Razão não ofereciam provas da existência de Deus, da lei moral ou da imortalidade. A Ciência descrevia o mundo mas não podia oferecer um guia para o viver ético. Experiências humanas como a percepção da beleza, a consciência e o sentimento religioso eram reais mesmo que não pudessem ser tratadas pela Ciência. Havia instintos implantados por Deus que ensinavam aos seres humanos o bem e o mal e os forçavam a escolher entre o certo e o errado. A isso ele chamava de “imperativo categórico”. A insistência de Kant no fato de que a Ciência era limitada e de que a verdade moral era encontrada de forma diferente do conhecimento científico, foi uma resposta ao racionalismo ingênuo dos philosophes. O deísmo também era popular nas colônias da América. A religião natural foi introduzida no Novo Mundo através dos escritos dos racionalistas ingleses e transformou-se ainda mais em moda deste lado do Atlântico. As obras dos philosophes franceses também eram muito lidas. Alguns estudiosos afirmam que a maioria dos líderes da revolução e da nova nação eram deístas. Dentre os mais conhecidos estão George Washington, Thomas Jefferson e Benjamin Franklin. O estilo de vida de Washington era semelhante ao de um cavalheiro inglês de sua época, tendo em vista que ele era membro do conselho de sua igreja e um participante freqüente, porém não regular dos cultos. Mas ele nunca tomava a Santa Ceia e seus escritos mostram claramente suas

idéias iluministas em relação à religião. Ele muitas vezes referia-se a Deus como “o grande Árbitro dos Acontecimentos” ou “Pai das Luzes” mas raramente como “divino Autor de nossa abençoada religião”. Com uma mente aberta, um forte senso de dignidade e uma convicção da liberdade religiosa, ele não demonstrava nenhum interesse na teologia cristã ou crença na divindade de Cristo. Assim como Washington, Jefferson também era adepto do Anglicanismo cômodo praticado pelos ricos da Virgínia e também foi membro do conselho de sua igreja, como era costume para aqueles de sua classe social. Gostava de ler material deísta e concordava com sua cosmovisão. Rejeitando os escritos de Paulo, Agostinho, Platão e dos platonistas, ele passou sua vida procurando aquilo que considerava “os ensinamentos puros de Jesus” que haviam sido obscurecidos pelos teólogos e místicos. Jefferson acabou indo além do deísmo e tornou-se um unitário, seguindo as idéias de Joseph Priestley. Quando seus inimigos políticos o acusaram de ser um incrédulo, Jefferson respondeu que de fato era cristão e, para provar, falou seu compromisso com os ensinamentos puros e nobres de Jesus. Ele pôs-se a eliminar o trabalho de Paulo e outros teólogos e tirar dos evangelhos apenas as palavras do próprio Jesus. Ele afirmava que as coisas que Jesus tinha dito e feito, revelam a marca de uma mente superior e sublime que se destaca do resto como “um diamante no meio do estrume”. O que ainda resta dos ensinamentos de Jesus é um código moral que determina

as obrigações em relação aos outros e em relação a si mesmo. Jesus não afirmou que era Deus e sua missão foi ensinar a irmandade, corrigindo assim as idéias distorcidas dos judeus do 1º século. Sua visão de Jesus pode ser melhor demonstrada na Jefferson Bible [Bíblia de Jefferson], que ficou enterrada entre seus papéis e só foi publicada no século 20. Trata-se de um livro de colagens no qual as passagens “autênticas” dos quatro evangelhos foram recortadas e arrumadas lado a lado. Segmentos que relatavam milagres (inclusive a ressurreição de Cristo) e discursos teológicos foram deixados de fora. Um outro importante líder na colônia, Benjamin Franklin, foi ainda mais longe, usando de um ligeiro cinismo em relação à fé evangélica. Como muitos dos cidadãos de Boston, Franklin abandonou o Calvinismo puritano logo no começo de sua carreira. Como impressor e publicador na Filadélfia, tornou-se amigo de George Whitefield, mas o famoso evangelista não foi capaz de ganhá-lo para o Cristianismo evangélico. Franklin registrou suas observações sobre os quakers, batistas, irmãos, judeus e católicos romanos com o tom de um aluno desprendido que faz um estudo comparativo das religiões. Durante algum tempo ele foi atraído pelo Anglicanismo, mas raramente ia à igreja. Rejeitando qualquer credo ortodoxo, ele adotou algumas afirmações simples que incluíam a crença num Ser Supremo, uma outra vida e recompensas e castigos. Como típico deísta americano, Franklin considerava a divindade de

Cristo uma questão de indiferença tolerante. Como ele mesmo afirmou em sua carta a Ezra Stiles:

É uma questão sobre a qual não dogmatizo, tendo em vista que nunca a estudei e acho desnecessário ocupar-me com isso agora, quando espero que em breve terei a oportunidade de saber a Verdade com menos dificuldade. Não vejo mal, porém, em que se acredite nisso, se essa Crença tem a Conseqüência positiva — como provavelmente é o caso — de tornar suas doutrinas mais respeitadas e melhor observadas; especialmente porque não creio que o Supremo leve a mal aqueles que não o fazem, distinguindo os Incrédulos em seu Governo do Mundo com qualquer tipo peculiar de Marca do seu Desprazer.3

Aqui pode-se ver traços da idéia iluminista de que a religião era necessária para as classes inferiores. Voltaire, por exemplo, comentou que queria que seus empregados fossem cristãos para que pudessem ser influenciados pela fé que possuíam de modo a agir com mais honestidade e diligência.

Maçonaria Outra tentativa de se aplicar a Razão à religião durante o Iluminismo deu-se através da ordem maçônica. A maçonaria organizada teve início em 1717 com a fundação do Grande Loja em Londres. Para os cristãos desiludidos, a maçonaria tornou-se uma nova fé baseada sobre a crença no poder da natureza e oferecia cerimônias e rituais que ficavam abertos a várias interpretações. Sua natureza essencialmente social,

reforçada pelo segredo, davam um forte senso de comunidade àqueles que estavam alienados da Igreja cristã. As raízes do movimento maçônico remontam à Idade Média, quando cada ofício tinha uma guilda ou organização semelhante que oferecia benefícios e apoio mútuo para seus membros. No século 18, porém, o mercado livre já havia passado a dominar a sociedade e a velha estrutura econômica sucumbiu. Com o passar do tempo, a maioria das guildas havia se tornado apenas instituições puramente cerimoniais e seu poder de controlar os salários, a qualidade dos produtos e a força de trabalho tinha desaparecido. Só as guildas dos maçons, que enfatizavam as habilidades de seus membros na Matemática e Arquitetura foram capazes de continuar desempenhando um papel histórico novo e dinâmico. No final do século 17, várias “lojas” maçônicas — como essas guildas estavam sendo chamadas — na Escócia e na Inglaterra começaram a aceitar em sua ordem cavalheiros que não exerciam o ofício. Muitos desses novos membros eram ricos e podiam contribuir com capital para a construção de projetos daqueles que já eram membros das lojas. A tradição antiga dos maçons deu-lhes ainda mais prestígio pois eram responsáveis pela construção de grandes igrejas e catedrais, bem como dos palácios dos reis e de suntuosos prédios nas cidades. Também faziam uso de uma história lendária que afirmava que suas origens eram do tempo da construção das pirâmides egípcias e do templo

de Salomão. Os mesmos documentos que continham informações sobre os primórdios míticos da guilda especificavam responsabilidades morais e decretavam que os ensinamentos maçônicos deveriam ser mantidos em segredo para que as técnicas de construção dos mestres ficassem apenas entre os membros da guilda. Então, à medida em que elementos neoplatônicos e rosacrucianos foram sendo introduzidos às idéias dos maçons medievais, a tradição transformou-se em loja para indivíduos de qualquer origem. Essas mudanças levaram a uma nova interpretação das ferramentas do maçom como um sistema de símbolos de moralidade pessoal e transformação. Os praticantes da “arte real”, como era chamada a maçonaria, adoravam o Deus da ciência newtoniana, o grande arquiteto do universo, como um símbolo poderoso de ordem, regularidade e estabilidade. Grande parte da atração da maçonaria no século 18 devia-se ao fato desse sistema afirmar que estava em contato com a sabedoria universal, revelada nas habilidades matemáticas e arquitetônicas mostradas nas antigas construções. O prestígio ligado às lojas maçônicas atraiu um grupo impressionante de membros que transpunham o profundo abismo das diferenças sociais. Começou a surgir uma nova forma de relacionamento social, fascinando os europeus mais cultos, tanto nobres quanto comuns. Seus membros procuravam aplicar na sociedade como um todo as idéias maçônicas de mobilidade social, tolerância religiosa e

dedicação à Ciência. Não poderia haver melhor exemplo da importância de seus ideais do que as colônias americanas. A ordem maçônica é o denominador comum por trás dos movimento por independência e a fundação de uma nova república na América. Durante a revolução, as lojas tornaram-se ponto de encontro para os colonos em sua luta contra os governantes ingleses. Na realidade, a maçonaria havia chegado na América pouco depois da fundação da Grande Loja de Londres. Benjamin Franklin juntou-se a uma das primeiras lojas em 1731 e foi eleito grão-mestre da ordem da Pensilvânia em 1734. George Washington foi iniciado na Loja Número Quatro de Fredericksburg (Virgínia) em 1752. Dentre outros patriotas americanos que pertenciam à ordem maçônica podemos citar Alexander Hamilton, Patrick Henry, John Paul Jones e Paul Revere. A propagação da maçonaria na França e em outras partes da Europa levou a uma identificação mais próxima entre seus ideais e o Iluminismo. Os rituais e simbolismos da tradição dos maçons ganharam sofisticação e transformaram-se num sistema de graus mais elevados e ritos que incorporavam lendas como os Cavaleiros Templários, os Cavaleiros Teutônicos e os Cavaleiros Hospitaleiros de St. John. Os grupos maçônicos do continente não apenas representavam o deísmo e a igualdade como também tornaram-se absolutamente anticlericais e funcionavam como núcleos de reforma política e social. O mais radical dentre esses grupos era o Illuminati, uma seita

maçônica fundada na Bavária em 1778 por Adam Weishaupt (17481830), que havia sido educado numa escola jesuíta e durante algum tempo foi professor de lei canônica. A seita buscava propagar o conhecimento e incentivar os ideais humanistas e o amor fraternal entre seus membros e seu objetivo era uma sociedade sem classes e um Estado patriarcal. Os Illuminati repudiavam as afirmações de todas as organizações religiosas existentes e diziam ser aqueles nos quais a graça de Cristo habitava (Hb 6.4). Por serem organizados num sistema complexo dentro do qual exigia-se obediência absoluta aos superiores (semelhante aos jesuítas) e por defenderem uma forma indefinida de revolução social, os Illuminati serviram de símbolo conveniente e bode expiatório para aqueles que temiam movimentos conspiradores que pudessem derrubar a classe dominante.

A reforma da ordem social A tentativa dos philosophes de aplicar a ciência de Newton à sociedade levou-os a enfatizar a importância da lei natural. Eles criam firmemente que leis racionais ordenavam o universo e a sociedade humana. Partindo desse pressuposto, eles aplicavam o teste da Razão a instituições sociais e tradições e expressavam uma fé otimista no progresso. A expressão mais importante desse otimismo foi o Marquês de Condorcet (1743-94), cuja obra Esboço para um Quadro Histórico do Progresso da Mente Humana previa que a humanidade estava destinada

ao progresso ilimitado em todas as áreas pois havia encontrado e aplicado o método da Razão para chegar à verdade. A sociedade à qual os philosophes aplicaram o teste da Razão — a França no “antigo regime” — encontrava-se obviamente numa situação tradicional e irracional. Assim, eles defendiam uma porção de programas para revitalizar a economia, a religião e a vida política. Na economia os “fisiocratas”, cujo porta-voz era François Quesnay (1694-1774), defendiam a substituição do sistema mercantilista que já estava se desintegrando, pela doutrina do lais-sez-faire, ou seja, as pessoas deveriam poder fazer o que quisessem sem controle do governo sobre as atividades econômicas. A expressão mais famosa dessa nova doutrina foi a obra Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of the Nations [Inquérito sobre a Natureza e Causa da Riqueza das Nações] (1176), do economista escocês Adam Smith. Ele argumentava que na esfera da economia, os indivíduos eram motivados pelo interesse próprio e que se cada pessoa tivesse permissão de buscar seu próprio caminho, isso traria o bem de toda a sociedade. As implicações sociais da forma como o Iluminismo via a religião foram enormes. A exigência de tolerância foi especialmente digna de menção. Os philosophes mostravam que era irracional, tolo e imoral forçar uma pessoa a aceitar idéias que ia contra sua consciência. A intolerância era uma afronta ao ensinamento cristão do amor. A fé era uma questão individual e a sociedade não devia ter controle sobre ela.

Assim, o Iluminismo marcou uma salto gigantesco na luta pela liberdade religiosa. Uma das formas que essa campanha assumiu foi o ataque às leis religiosas preconceituosas. Voltaire foi um dos líderes, envolvendo-se no famoso caso de Jean Calas. Este último era um protestante em Toulouse que havia sido acusado de matar seu filho para impedi-lo de tornar-se católico e foi executado em 1762. Isso enraiveceu Voltaire e levou-o a passar três anos esforçando-se para limpar o nome desse homem. Depois de ver os registros da corte, de investigar o caso pessoalmente e de publicar vários panfletos sobre o caso, Voltaire concluiu que o filho morto era mentalmente desequilibrado e havia, na verdade, cometido suicídio. Seus pedidos incessantes para que o caso fosse reconsiderado finalmente levaram a corte a declarar que Calas era inocente e a dispensar o juiz responsável por esse erro legal. O ataque dos philosophes às leis religiosas levaram a uma insistência em favor de uma abordagem mais racional e humana de outras vítimas da justiça do século 18. Escravidão, tratamento desumano dos dementes e tortura de prisioneiros, tudo isso passou a ser atacado. O philosophe italiano Cesare Beccaria, em Crimes e Castigos (1764), obra que é considerada um marco, argumentou em favor da aplicação da Razão na justiça criminal. Ele pedia que as leis fossem justas e claramente determinadas. O objetivo do castigo não deveria ser vingança, mas sim a prevenção de outros crimes. A pena deveria ser adequada à

ofensa, a justiça deveria ser rápida e a tortura e pena capital deveriam ser abolidas. O Estado deveria recompensar as boas ações e educar o povo sobre os perigos de uma vida de crime. A obra de Beccaria levou a uma reforma penal em muitas partes da Europa. Especialmente na Rússia de Catarina a Grande e na França revolucionária. Os programas iluministas em favor de uma sociedade melhor pressupunham que seria necessário realizar certas mudanças no governo. Os philosophes consideravam que todas as pessoas eram, por natureza boas, racionais e capazes de ser educadas. Se as leis naturais fossem descobertas e explicadas às pessoas, elas iriam segui-las e formar sociedades onde brotaria a felicidade do ser humano. Tendo em vista que as instituições opressoras eram criação das elites governantes para seu próprio benefício, uma transformação do sistema político seria para o bem de todos. Apesar de pensarem em termos de estados, a crença dos philosophes na racionalidade os levava a pensar em termos mais cosmopolitas. Com o triunfo da lei natural, uma civilização mundial unida e uniforme iria surgir e nela todas as nações trabalhariam em conjunto. Os pensadores políticos do Iluminismo seguiam John Locke (16321704) na pressuposição de que os governos tinham origem em contratos que as pessoas faziam com governantes para proteger os direitos individuais. Afirmavam que os cidadãos podiam se revoltar contra o regime se ele não cumpria seu dever. Mas a maior parte dos philosophes

não apoiavam um governo democrático ou representativo pois sentiam-se mais à vontade com os sistemas monárquicos desde que estes funcionassem em bases racionais. O mais sofisticado dentre os teoristas políticos foi Charles de Secondat, Barão de Montesquieu (1689-1755). Ao contrário dos outros, ele não apoiava a idéia de um despotismo esclarecido e nem acreditava que todos eram iguais. Um nobre francês, ele opunha-se ao absolutismo real tanto por sua ineficiência quanto por sua tirania e sua obra Cartas Persas (1721) satirizava as instituições sociais, políticas e religiosas da época. Ele era especialmente crítico em relação a intolerância por parte da Igreja. Em 1726 Montesquieu viajou pela Europa para descobrir por si mesmo quais eram as condições em outros lugares e a viagem incluiu uma parada na Inglaterra, onde ficou profundamente impressionado com o sistema de governo. Depois de voltar para casa e refletir sobre a situação britânica durante alguns anos, ele produziu sua obra mais famosa, O Espírito das Leis (1748). Usando uma técnica comparativa para descobrir os princípios fundamentais da política, ele afirmou haver três tipos de governo — repúblicas, monarquias e despotismos. A forma de um Estado dependia do seu ambiente natural e sua história. As repúblicas prosperavam em países pequenos, as monarquias nas áreas de tamanho médio na zona temperada e o despotismo em grandes impérios de clima quente ou frio. Ele pedia que a França imitasse a Inglaterra e estabelecesse uma

separação de poderes que garantiria a liberdade. Disse que na Inglaterra as alas executiva, legislativa e judiciária eram separadas e moderavam e contrabalanceavam umas às outras. Apesar de Montesquieu não ter compreendido corretamente o sistema inglês, seu pensamento influenciou aqueles que esboçaram a Constituição americana em 1787 e outros liberais constitucionais do século 19.

Rousseau: o intruso Uma exceção radical da visão geral dos philosophes foi a obra de Jean-Jacques Rousseau (1712-78). Em muitos aspectos, ele foi a ponte entre o Iluminismo e a era revolucionária que se seguiu. Também foi precursor do Romantismo, o movimento intelectual predominante no começo do século 19. Nascido em Genebra, ele fugiu de casa aos 16 anos de idade e sempre se sentiu alienado da sociedade ao seu redor. Sua própria vida infeliz sem dúvida deu forma à sua cosmovisão. Rousseau afirmava que os indivíduos em um estado natural são basicamente bons, tendo em vista que a natureza caracteriza-se pelo calor de sentimentos e de amor por outros. Porém, o progresso e o crescimento da civilização corromperam as pessoas. As boas qualidades da humanidade originam-se da emoção e os maus hábitos procedem da Razão portanto e intuição e emoção constituem guias mais apropriados para nos conduzir que a Filosofia e a Razão. Em Nova Heloise (1761) e Emile (1762) ele descreveu um programa educacional que permitiria às

pessoas manter intactos seus sentimentos de virtude e justiça. Em sua obra mais importante, O Contrato Social (1762), Rousseau apresentou a idéia de um governo que preservaria o máximo possível a igualdade natural das pessoas. Afirmou que os cidadãos no processo de formar um governo unem a vontade individual de cada um e formam uma “vontade geral” e concordam em aceitar as decisões desta. Se os indivíduos tentam colocar aquilo que crêem ser os seus próprios interesses acima da vontade geral, o resultado são as injustiças e desigualdades. Aqueles que tentam proceder dessa forma devem ser forçados a obedecer a vontade geral. Porém, ele não explicou o mecanismo que seria usado para colocar essa política em prática e não parece ter percebido que obrigar uma pessoa a se comportar de acordo com a vontade geral pode levar à negação da liberdade individual e à tirania. Seu Contrato Social é tão ambíguo que já foi usado para justificar tanto a democracia quanto o totalitarismo.

Despotismo esclarecido Apesar dos philosophes em geral argumentarem em favor da liberdade individual e dos direitos naturais, ele não defendiam necessariamente a democracia. Estavam dispostas a aceitar reis que aplicassem os princípios do Iluminismo. Em outras palavras, eles achavam que um Estado podia alcançar o melhor funcionamento possível sob o governo de um “déspota esclarecido” que, com a ajuda de um

grupo de pessoas cultas, determinaria a liberdade de pensamento e promoveria a educação e o progresso material. Vários monarcas do século 18 pareciam se encaixar no papel descrito pelos philosophes. Entre eles estavam Frederico II da Prússia (1740-86), Catarina II da Rússia (1762-96) e Joseph II da Áustria (1780-90). Na verdade, eles adotaram programas mais benevolentes não porque concordavam com os philosophes, mas porque o uso da Razão em seus Estados ia de encontro aos seus próprios interesses. A prosperidade nacional significava um aumento nos impostos recolhidos e uma administração eficiente podia fortalecer o controle do governo. Assim, esses monarcas melhoraram as técnicas agrícolas, reformaram as leis, acabaram com a tortura e promoveram a saúde pública através da construção de hospitais e asilos. Eles almejavam elevar o nível educacional do povo, estabelecer uma tolerância religiosa mais ampla e, em países católicos, reinar com o poder do papado.

A revolução científica e o Iluminismo foram, em sua essência os elementos que formaram a civilização moderna. Conforme o historiador americano Carl Becker mostrou em seu estudo clássico desse período, a obra The Heavenly City of the Eighteenth-Century Philosophers [A Cidade Celestial dos Filósofos do Século 18] (1932), a ironia é que a chamada “Idade da Razão” foi, na realidade, uma idade da fé. O que os philosophes tentaram fazer, com efeito, foi substituir o Cristianismo por

uma nova crença na Ciência e na Razão e, através disso, levar a humanidade a um verdadeiro paraíso na Terra. Porém, sua busca por um reino utópico foi duramente interrompida pela sangrenta era das revoluções e guerras que se seguiram depois de 1789. Ainda assim, apesar do mal uso de seus ideais que ocorreu durante aquele trágico quarto de século, o mundo moderno deve muito aos philosophes. A tolerância religiosa, um declínio da superstição, a crença na dignidade e nos direitos inerentes do indivíduo, a liberdade de pensamento e expressão, a convicção de que o governo deve exercer o poder em favor dos governados e a valorização da tecnologia e da Ciência e dos muitos benefícios que estas poderiam trazer — tudo isso constitui o legado da era da Ciência e do Iluminismo.

Capítulo 16 - A Igreja demonstra vigor renovado A nova cosmovisão decorrente das descobertas científicas e da afirmação da Razão não foi necessariamente uma ameaça mortal à fé cristã. Apesar de alguns filósofos darem as costas para o Cristianismo e do poder espiritual da Igreja em muitos lugares ter se enfraquecido por causa de uma ortodoxia morta, indiferença doutrinária e a mão pesada dos governantes autoritários, existiam diversos sinais de vitalidade. A maior parte das formas de Calvinismo ainda enfatizava a sã doutrina, enquanto o Pietismo trouxe nova vida ao Luteranismo alemão. No início do século 18, começou a surgir uma visão missionária no Protestantismo

continental e britânico e junto com ela, veio uma forte onda de renovação que era conhecida como Metodismo ou Grande Despertar. O Iluminismo não havia se apoderado do Cristianismo.

A luta pelo domínio do mundo A vitória final do Parlamento sobre os monarcas Stuart na “Gloriosa” revolução de 1688 preparou o palco para a luta de poder entre Inglaterra e França que dominou o cenário histórico do século seguinte. Começando em 1667, Luís XIV tomou uma série de medidas agressivas a fim de adquirir território além de suas fronteiras a leste, forçando os holandeses a organizar coalizões para conter esse expansionismo. Assim, Guilherme de Orange, o líder protestante da Holanda, que era neto de Carlos I e marido da filha de James II, recebeu de braços abertos o convite do Parlamento para que ele assumisse o trono da Inglaterra pois isso permitiria que ele incluísse a Grã-Bretanha na sua aliança contra a França. Durante dois conflitos de ampla abrangência em 1688-97 e 170213, ele desafiou o poder marítimo dos franceses. Num tratado de paz de 1713 o frágil império colonial norte-americano, que surgiu gradativamente no século 17, ganhou uma certa segurança. A Inglaterra recebia a Acádia (Nova Scotia), Newfoundland e a região da Baía de Hudson juntamente com um lucrativo asiento, o direito exclusivo de fornecer escravos para a América espanhola. A rodada seguinte de lutas ultramarinas na década de 1740

terminou sem ganho territorial para a Inglaterra, mas as forças coloniais francesas e britânicas logo entraram em conflito no Novo Mundo. O que veio em seguida foi a Guerra entre Franceses e Índios (1755-60), a fase americana da Guerra dos Sete Anos. A conquista espetacular de Quebec em 1759 selou o destino da Nova França e pelo Tratado de Paris em 1763 a Grã-Bretanha tomou posse de todo o Canadá. Porém, o rei George III emitiu uma proclamação fechando as novas terras no interior para o assentamento de brancos e em seguida a Lei de Quebec de 1774 pareceu garantir o domínio dos católicos de língua francesa, uma ação que exasperou os colonos americanos. Durante a Revolução Americana a França procurou vingar-se da Grã-Bretanha tomando partido e dando ajuda militar e naval às colônias, o que pesou na balança da luta pela independência. As rodadas finais da luta pelo domínio do mundo ocorreram durante a Revolução Francesa e a era napoleônica e em 1815 a Grã-Bretanha surgiu como soberana do mundo ultramarino. Enquanto isso, muitos dos legalistas (Tories) fugiram para o norte e assentaram-se em New Brunswick, Nova Scotia e além dos Grandes Lagos, dando assim a esses territórios uma composição muito mais inglesa. Em 1791 o Parlamento adotou a Lei do Canadá que dividia a antiga Nova França em Alto e Baixo Canadá, cada um com uma certa medida de autonomia governamental. A lei também afirmava que um sétimo de toda a terra concedida seria reservado para o “sustento e manutenção de um clero protestante”, ou seja, a Igreja da Inglaterra, mas

foram reafirmados os direitos da Igreja Católica nas áreas com predominância da língua francesa. As “reservas do clero” continuaram sendo um ponto de disputa entre as várias denominações protestantes até que em 1840 foi adotada uma legislação que determinava a divisão do dinheiro proveniente da venda das terras entre os diferentes grupos. As reservas foram finalmente abolidas em 1854. 1743-47 David Brainerd entre os índios Delaware 1596

1706

1731

1738

O Reino de Cristo,

Fundada a Missão

Missões

George Whitefield inicia

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1555

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1775

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1550

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Os holandeses

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liberdade religiosa

Índias Orientais

Surat

Boa Esperança

1642

1681

Fundação de Montreal

Fundação da Pensilvânia como abrigo de liberdade religiosa

1649

1791

Formação da Companhia Nova Inglaterra

A Lei do Canadá estabelece as Reservas do Clero

Conforme foi observado no capítulo 12, muitos dos conflitos entre os dois poderes ocorreram na região do Caribe e ao longo da costa oeste da África. Mas só o conflito na Índia foi de importância igual à da luta na

América. O império Mogul (Mughal) de base muçulmana, fundado em 1526, estava tentando estender seu controle sobre todo o subcontinente indiano, mas deparou-se com oposição por parte dos príncipes hindus. Depois da morte de Aurangzeb em 1707 — uma forte figura cujo zelo religioso levantou a oposição hindu e enfraqueceu a estabilidade política — o governo mogul entrou rapidamente em declínio e não havia nenhum poder capaz de resistir à invasão européia. Durante o século 17, a companhia holandesa dirigiu sua atenção cada vez mais para a Indonésia enquanto a Companhia Britânica das Índias Orientais, criada em 1600, ampliou gradualmente suas operações no subcontinente. Em 1619 o imperador mogul concedeu à companhia britânica os direitos de comércio em Surat, na costa oeste e a companhia acabou abrindo vinte e sete outros postos ao longo da costa, sendo os mais importantes os de Bombai, Madras e Calcutá. Uma Companhia Francesa das Índias Orientais foi formada em 1664, não tardando a obter concessões em Pondicheri e outros lugares e uma pequena companhia dinamarquesa também operava um posto de comércio na costa sudeste. A grande popularidade dos produtos da Índia e da China na classe alta e na classe média da Europa significava lucro para as companhias, mas como o comércio era em grande parte unilateral, havia grande insatisfação por parte das companhias comerciais por causa do fluxo de ouro europeu para a Ásia. Os britânicos chamavam seu posto em Surat de “feitoria” e a

palavra passou a ser usada para todos as comunidades européias na Índia. As feitorias eram áreas cercadas por muros e que continham as residências, escritórios e depósitos da companhia e de seus funcionários, onde o presidente exercia autoridade política plena. Como a Companhia das Índias Orientais estava interessada apenas em lucro, os diretores em Londres desencorajavam riscos desnecessários tais como a interferência na política local e até mesmo trabalho missionário. Essa política mudou devido à desordem e instabilidade que se instalaram durante o século 18. Então, as feitorias foram transformadas em fortes com pequenas guarnições de tropas nativas que protegiam as propriedades da companhia e os residentes ao redor quando apareciam invasores ou ocorria uma revolta. Tendo em vista que não havia um governo central e os príncipes locais não podiam oferecer segurança, as feitorias-fortes aos poucos começaram a exercer autoridade política sobre os territórios vizinhos. Em 1742 Joseph Dupleix tornou-se chefe do empreendimento francês. O primeiro europeu a realmente compreender a política bem como a importância econômica da Índia, ele fez alianças com príncipes locais e desenvolveu um exército de tropas indianas (sepoys). Em 1746 capturou Madras e através de contatos pessoais com os príncipes locais passou a dominar o sudeste da Índia. Mas a iniciativa francesa foi frustrada pelo poder marítimo superior dos britânicos e as operações de Robert Clive, um soldado a serviço da companhia britânica e em 1754

Dupleix foi chamado de volta. Três anos depois Clive derrotou o governo de Bengala no nordeste, que era apoiado pelos franceses e fundou um protetorado da companhia na região. Prosseguiu aniquilando o poder francês no sul e o Tratado de Paris em 1763 reconheceu o controle britânico sobre o subcontinente. Em 1769 foi encerrada a Companhia Francesa das Índias Orientais. O Parlamento britânico, preocupado que a companhia tivesse ganho poder demais e fosse responsável pelos tumultos que varriam a Índia, adotou em 1773 o Decreto Regulamentar que diminuía seu poder político. Foi criado o cargo de governador-geral sendo que este, juntamente com um conselho deliberativo, iria exercer autoridade sobre o território controlado pela companhia. A Lei da Índia de 1784 restringiu ainda mais o poder da companhia, sujeitando os diretores à supervisão parlamentar. De sua sede em Calcutá, os governadores Warren Hastings e Charles Cornwallis puseram-se a construir uma administração eficiente que incluía o serviço público, sistema de impostos sobre terras e um exército de tropas indianas. O Marquês de Wellesley (1797-1805) consolidou a dominação britânica sobre o subcontinente através de um sistema de alianças com os príncipes indianos, nas quais a Grã-Bretanha lhes oferecia proteção em troca de concessões territoriais, controle de seus assuntos externos e exclusão de todos os outros europeus do serviço governamental. Por fim, em 1813 o Parlamento aboliu o monopólio

comercial entre a Companhia e a Índia e estendeu a soberania britânica aos seus territórios. O Ceilão (Sri Lanka) que foi tomado pelos holandeses em 1796, tornou-se propriedade da coroa em 1802. A fundação dos impérios comerciais da Grã-Bretanha e Holanda abriu as portas para atividades missionárias protestantes. Porém, o desenvolvimento de uma consciência global entre os herdeiros da Reforma foi um processo lento. O trabalho missionário era hesitante e esporádico e gozava de pouco apoio oficial das igrejas existentes.

A indiferença missionária protestante A centralidade do evangelho recuperada por Lutero não resultou numa explosão de iniciativas missionárias, mas ficava claro em suas pregações que o caráter da mensagem era universal. Ele cria firmemente que o poder espiritual do evangelho era tal que iria espalhar-se independente do conhecimento ou trabalho humano. Deus faria com que isso acontecesse do seu jeito e a seu tempo. Lutero dirigiu sua mensagem para pastores e para congregações em crescimento, em outras palavras, para o desenvolvimento interno. O Protestantismo também não tinha estruturas institucionais como as que o Catolicismo medieval possuía e que tiveram um papel crucial na propagação do evangelho — a hierarquia eclesiástica e as ordens religiosas. Além disso, a fé Reformada criou raízes em nações que não participavam da iniciativa colonialista ou estavam apenas começando a

fazê-lo — Alemanha, Dinamarca, Holanda e Inglaterra. Não se ouvia falar sobre a idéia de liberdade religiosa e era impossível pensar que Portugal e Espanha iriam tolerar — e quanto mais apoiar — os missionários protestantes em seus impérios. Tendo em vista que os luteranos não pregavam que sua congregação tinha uma obrigação missionária, essas pessoas não tinha idéia das barreiras políticas que existiam para o trabalho missionário no exterior. Calvino concordava com Lutero que a mensagem seria inexoravelmente proclamada pelo mundo todo por causa da soberania e poder de Deus. A vinda do reino de Deus não seria resultado de esforços humanos. Assim como a propagação do evangelho, isso aconteceria no devido tempo de Deus. Ele chama todas as pessoas, mas não sabemos quem foi eleito por Ele. O dever do cristão é fazer de tudo para honrar a Deus e tornar conhecida a sua bondade entre todos os povos. E também, o Novo Testamento não designava nenhum cargo especial na igreja que fosse encarregado de realizar o trabalho missionário. A ênfase no apelo universal do evangelho revelou uma visão missionária voltada para dentro. Porém, movimentos radicais dentro da própria Reforma e as crescentes pressões do contra-ataque católico limitaram o processo de crescimento e fortalecimento congregacional e o acordo religioso de Augsburg ligavam os protestantes aos governantes que não tinham posses coloniais. As únicas oportunidades de anunciar o evangelho — os judeus e turcos — não estavam muito longe.

Havia algumas exceções a essa padrão de indiferença. Em 1555 Durand de Villegaignon com o apoio do Almirante Coligny, fundou uma colônia no Brasil que deveria servir de refúgio para os huguenotes. Calvino enviou alguns pastores junto com eles, sendo que estes procuraram realizar um trabalho missionário entre os índios e ministrar aos colonos reformados, mas por causa de negócios inescrupulosos realizados pelo fundador e pelo desânimo com o trabalho, três anos depois a iniciativa tinha fracassado. Outra pessoa importante foi Adrian Saraiva (1531-1613), um belgohispânico calvinista que fugiu para a Inglaterra, teve vários cargos eclesiásticos (inclusive de deão em Westminster) e foi membro da comissão de tradutores da Bíblia King James. Numa obra de 1590 que defendia o princípio do episcopado, ele identificou o trabalho missionário entre descrentes como uma das principais tarefas do bispo. Aqueles que ocupavam esse cargo não deviam apenas fortalecer e edificar as igrejas existentes mas também ajudar na implantação de igrejas novas. O trabalho dos apóstolos deve ser levado adiante nos dias de hoje. À medida em que a ortodoxia luterana começou a se estabelecer, foi publicada uma importante obra incentivando as missões, O Reino de Cristo, de 1596, escrito por Phillip Nicolai (mencionado anteriormente por sua hinologia). Ele afirmava que a missão era uma função da Igreja, uma parte vital de sua tarefa de proclamar a Palavra de Deus e cuidar das

almas. Sua visão de missões era tanto global quanto ecumênica, no sentido de que via as igrejas católicas e ortodoxas como instituições que há séculos já realizavam o trabalho missionário. Mas ele insistia que a igreja luterana deveria ter um papel central nessa iniciativa pois ela havia restaurado a plenitude do evangelho e tornado a Palavra acessível a todos. A maioria dos teólogos dogmáticos ortodoxos mantinha distância de avaliações tão francas da questão missionária como as de Nicolai e Saraiva. Porém, um século depois, o famoso filósofo Gottfried Leibnitz, que ficou impressionado com a missão colonial holandesa e com as realizações dos jesuítas (especialmente na China), escreveu na declaração de propósitos da recém-fundada (1700) Academia Prussiana de Ciências, uma cláusula chamando à proclamação da fé e dos valores cristãos entre povos de outras nações e religiões. A visão missionária mais clara, porém, era a dos anabatistas. Isso se dava pela forma como entendiam as Escrituras, a Igreja e a Escatologia. O movimento também foi propagado por pregadores itinerantes que usavam os métodos dos cristãos primitivos para proclamar o evangelho. Infelizmente, seu campo missionário estava restrito à região central da Europa e encaravam seu ministério em grande parte como a salvação de almas “perdidas” que haviam sido induzidas pelos padres a levar uma vida ímpia. Por causa da forte perseguição, os anabatistas fecharam-se em suas comunidades e ficaram conhecidos como os “quietos na terra”.

Ainda assim, sua dedicação total e ênfase na pregação da Palavra de Deus fizeram deles os precursores dos missionários modernos.

Missões com patrocínio oficial Salvo raras exceções, a obra missionária do século 17 e começo do século 18 foi patrocinada, ou pelo menos sancionada pelos governantes ou pelos administradores das companhias. (A maior parte das companhias comerciais operava com a permissão dos reis, dando-lhes poderes quase governamentais sobre as áreas em que atuavam.) Peter Heyling (1607-52) era um dos “lobos solitários”, um jovem aluno de Lübeck que havia sido inspirado a tornar-se missionário pelos escritos de Hugo Grotius. Viajou para o Egito e depois para a Etiópia onde entrou em contato com a Igreja Copta, foi tutor de crianças de famílias proeminentes e traduziu o evangelho de João. Porém, foi mais tarde assassinado por muçulmanos turcos. Outra das exceções foi Justinian von Welz (1621-68), um luterano austríaco cuja família tinha sido forçada a deixar sua terra natal. Ele teve uma experiência repentina de conversão que foi inspirada pela leitura da Bíblia e da literatura mística e em 1664 publicou um controverso tratado que conclamava à formação de uma sociedade de voluntários, a “Irmandade de Jesus”, para melhorar a qualidade do Cristianismo e converter os descrentes. Como leigo, ele criou um plano para a escola missionária que não tinha como receber a aprovação das autoridades eclesiásticas. Foi então para o Suriname

(Guiana Holandesa) como missionário auto-suficiente e morreu pouco depois de sua chegada. Os atos de Gustavus Vasa (1523-60), primeiro rei protestante da Suécia, também são dignos de menção. Foi ele quem iniciou a obra missionária entre os lapões, um povo não-cristão na região norte de seu reino. Enviou pregadores e fundou escolas a fim de ganhar esse povo para o Cristianismo luterano. Essa foi, essencialmente, a manifestação protestante das missões oficialmente sancionadas que tinham uma história milenar. De importância ainda maior foram as missões conduzidas sob os auspícios dos holandeses. Tanto a Companhia das Índias Orientais quanto Ocidentais nomearam “capelães” que eram responsáveis pelo cuidado espiritual de suas empregados e colonos. Em alguns lugares, os clérigos realizavam paralelamente algum trabalho missionário. A Companhia das Índias Ocidentais oferecia pregadores e professores para sua comunidade na América do Norte, Nova Holanda e dedicou-se a um trabalho missionário mínimo entre os índios do Brasil durante sua breve estada nessas terras. Em suas estações na costa da Guiné, oeste da África, capelães faziam parte do quotidiano e esperava-se que os funcionários freqüentassem os cultos. Havia até mesmo um capelão negro em Elmina durante a década de 1740, um ex-escravo chamado Jacobus Capitein. Seu mestre o havia levado para a Holanda e, depois disso, ele havia recebido

preparo teológico em Leiden e entrado no ministério da Igreja Reformada Holandesa. Capitein foi o primeiro africano a receber a ordenação dos protestantes e voltou para servir na África onde faleceu cinco anos mais tarde. No século 17 a Companhia Holandesa das Índias Orientais levou o Protestantismo para as regiões sob seu controle. Antes disso, durante o período de oito anos em que os portugueses estiveram presentes na Indonésia, duzentos missionários católicos (incluindo Francisco Xavier em 1546-47) haviam trabalhado nas Molucas. Assim, quando os holandeses chegaram, expulsaram os católicos, tentaram fazer o mesmo no Ceilão e em algumas partes da Índia e criaram um patronato protestante não muito diferente dos modelos das coroas de Portugal e da Espanha. A permissão revisada de 1623 incluía a tarefa de “manter a fé comum”, isto é, estar em conformidade com a ordem da Igreja Reformada na Holanda. Entre 1605 e o final da década de 1790, a Companhia enviou 254 pastores e 800 obreiros não-ordenados que fundaram igrejas e escolas e publicaram bíblias e livros religiosos tanto em holandês como malaio. Os oficiais da Companhia decidiam para onde os obreiros seriam mandados e onde seriam abertas escolas, designavam-nos a seus postos e resolviam qual o salário a ser pago. Tendo em vista que todo o trabalho da Igreja dependia da companhia, a qualidade dessa iniciativa cristã era questionável. O número de pastores que estavam, de fato, no campo

missionário em qualquer ano nunca passou de trinta e quatro e muitos deles só sabiam pregar em holandês. Apesar de nenhuma sociedade missionária ter sido fundada, a Igreja da Holanda examinava aqueles que iam para fora e correspondia-se com eles depois que haviam chegado ao Oriente. Durante um curto período (1622-33), a companhia financiou um “Seminarium Indicum” em Leiden para treinar homens para o serviço cristão. Não foi levantado nenhum tipo de fundo para sustentar as missões. Houve relatos de milhares de batismos, mas muitos desses foram coagidos e pouca coisa foi feita fora da região da Batávia (Jacarta) em Java. O sucesso dos holandeses no Sri Lanka também foi modesto, tendo em vista que a presença dos católicos continuou sendo forte. Depois de tirar de lá os portugueses na metade do século, a princípio eles tentaram converter os católicos, mas passaram depois a trabalhar entre os nãocristãos. Alguns clérigos foram enviados da Holanda e algumas igrejas e escolas fundadas nas cidades. Em 1690, duas escolas foram abertas a fim de treinar professores e catequistas, sendo que dentre eles surgiram alguns clérigos nativos. Apesar do número de protestantes ter chegado a mais de quatrocentos mil no século 18, a fé dos convertidos geralmente era superficial. A principal figura das missões holandesas foi Justus Huernius (1587-1652) que em 1616 publicou Admoestação a se Começar o Testemunho Evangélico nas Índias, uma súplica por um trabalho mais

eficaz e autêntico do que aquele dos católicos. Ele foi para a Batávia em 1624 e serviu com zelo naquela região e nas Molucas durante quatorze anos. Além de fazer trabalhos de tradução, ele propôs que se desse aos indonésios uma educação teológica, mas as igrejas-mães vetaram a idéia, temendo que isso pudesse colocar em risco a doutrina pura. A Companhia recusou-se a permitir que ele voltasse depois de uma licença em 1638. Certamente os teólogos holandeses não viam as missões como um trabalho exclusivamente de responsabilidade das autoridades, mas não foram capazes de estimular muito interesse das congregações locais. Porém, sua mentalidade missionária teve um impacto na Alemanha e, mais importante ainda, na Dinamarca. Lá, a Igreja do Estado decidiu, em 1705, fundar na parte dinamarquesa da Índia uma missão que teria uma influência abrangente. Quando a companhia holandesa abriu sua estação de passagem na África do Sul em 1652, um catequista foi nomeado para realizar as orações, ler o sermão de domingo, visitar os enfermos e ensinar o Catecismo de Heidelberg para pequenos grupos de colonos. A princípio, os clérigos a bordo de navios que estavam de passagem administravam os sacramentos, mas em 1665 uma pessoa ordenada foi finalmente designada para aquele local. A população branca no Cabo da Boa Esperança foi crescendo aos poucos e refugiados huguenotes juntaram-se à comunidade depois de 1685, mas o número de igrejas continuou sendo

pequeno — eram sete em 1795. Estavam sob a autoridade da Companhia e do presbitério de Amsterdã, até que os britânicos assumiram o controle. Durante uns poucos anos, houve algumas iniciativas para se alcançar os nativos africanos e o batismo de escravos tornava possível conquistarem a liberdade. Mas essa concessão de liberdade a escravos batizados acabou sofrendo fortes restrições e, no século 18 não havia praticamente nenhuma preocupação com o bem estar de hotentotes e escravos.

A América do Norte britânica Nas Índias Ocidentais o Catolicismo romano prevalecia nas ilhas espanholas e muitos daqueles que chegavam da África eram incorporados à fé. Porém, na francesa St. Dominique (Haiti), a influência do oeste da África continuou bastante forte, como é possível observar pelos cultos de vudu que são uma mistura de Catolicismo com rituais mágicos e êxtase. Os rituais e costumes africanos também continuaram entre as comunidades escravas de outras ilhas ao longo da costa sudeste da América do Norte e tiveram um papel importante no perfil dos cultos da igreja negra quando esta surgiu no século 19. Quanto às ilhas governadas pela Inglaterra protestante, a Igreja Anglicana ministrava a agricultores e comerciantes. Os moradores brancos rejeitavam qualquer evangelização da população escrava de afro-americanos, pois a consideravam inútil e extremamente perigosa. Porém, na parte continental da América do Norte, onde o número

de europeus estava crescendo rapidamente, a maioria das tradições da Reforma estava representada. Apesar de ameaças e perseguições que às vezes ocorriam contra grupos de minoria em vários lugares, todas as igrejas acabaram coexistindo num ambiente de liberdade que não existia em nenhum outro lugar do mundo. Os puritanos congregacionais da Nova Inglaterra, por exemplo, tiveram que lidar com uma dissensão em seu próprio meio. Uma pessoa, Anne Hutchinson (1591-1643) foi expulsa da Baía de Massachusetts por expressar uma forma diferente de Calvinismo e criticar a elite da liderança. Outro foi Roger Williams (1603-83), um separatista puritano que causou a desaprovação dos líderes da colônia e foi forçado a sair. Ele fundou um novo assentamento em Rhode Island em 1636 e lá escreveu alguns tratados defendendo a liberdade de consciência que são os melhores encontrados na língua inglesa e pelo menos um século à frente de seu tempo. Apesar de Williams ter se identificado com os batistas apenas durante um breve período, tanto eles quanto os quakers fixaram-se em Rhode Island e à partir dessa base começaram a espalhar suas mensagens distintivas por toda a parte britânica da América do Norte. Nas colônias do sul apareceram algumas pequenas comunidades anglicanas (sendo a maior delas em Virgínia), mas outras denominações também tinham liberdade por lá. Maryland, a comunidade de Lord Baltimore, começou em 1634 como um refúgio para católicos e seu famoso “Decreto sobre Religião” (1649) apresentou um conceito de

tolerância com profundas implicações para a época. Porém, o decreto foi anulado durante o tumulto da era de Cromwell e a Igreja da Inglaterra acabou sendo a instituição oficial. Tanto em termos étnicos quanto religiosos, as colônias “intermediárias” eram os territórios mais diversificados e pessoas de várias denominações aprenderam a viver em harmonia. Sem dúvida, o lugar mais interessante foi o “Experimento Sagrado” de William Penn (1644-1718), que na verdade foi um antecessor da sociedade pluralista da América. Uma pessoa notável, cuja vida atravessou a distância entre a era do Puritanismo e a era da Razão, ele foi o pacifista quaker, filho de um conhecido almirante, amigo íntimo de reis e filósofos e um teorista aristocrata bem como democrata e criador da colônia de propriedade particular mais bem sucedida do império britânico. Penn era tanto um homem prático nos negócios como também um homem espiritual. Sua Pensilvânia era um lugar onde a liberdade religiosa, o governo representativo e terras baratas administradas por um controle benevolente ofereciam um refúgio para os oprimidos e um modelo de governo esclarecido. A Filadélfia tornou-se o principal centro econômico e intelectual das colônias americanas. A Pensilvânia não foi apenas o berço do movimento quaker, mas também um centro para outras denominações — presbiterianos, batistas, luteranos, alemães reformados e até anglicanos e católicos. Menonitas e pietistas alemães do século 18 também encontraram lá um santuário, enquanto que a primeira

denominação negra independente na América, a Igreja Metodista Episcopal Africana foi fundada por Richard Allen na Filadélfia. Apesar de Roger Williams ter adotado uma postura bastante positiva em relação aos nativos americanos (índios) e uma das cláusulas da permissão de operações da Companhia da Baía de Massachusetts pedir que se ganhasse os nativos do país para Cristo, a primeira iniciativa missionária formal começou com Thomas Mayhew na ilha Vineyard de Martha em 1642. Seus descendentes continuaram esse trabalho individual durante mais de um século. De importância ainda maior foi o programa sistemático de evangelização dos índios Pequot, de língua algonquin conduzido por John Eliot (1604-90), o pastor da igreja de Roxbury próximo a Boston. Ele aprendeu a língua algonquin e começou a trabalhar entre eles em 1646. Cinco anos depois ele reuniu seus convertidos na primeira “cidade indígena de oração”. Em duas décadas aproximadamente 3600 índios cristãos estavam vivendo em quatorze vilas. Ele também traduziu o catecismo e as Escrituras para sua língua e sua maior realização foi a publicação da Bíblia em 1663, a primeira Bíblia de qualquer tipo a ser impressa na América. Infelizmente essa iniciativa de sucesso foi interrompida por um conflito sangrento entre índios e colonos brancos em 1675-76 e as cidades logo desapareceram. Eliot e seus colegas divulgaram amplamente seu trabalho e em 1649, o Parlamento deu permissão para a abertura da Sociedade para Propagação do evangelho na Nova Inglaterra (rebatizada de Companhia

da Nova Inglaterra em 1660). Essa foi a primeira verdadeira sociedade missionária protestante e ao longo do século seguinte ela ofereceu sustento financeiro para o ministério de Eliot e de outros entre os índios. A Companhia continuou a operar até a Revolução e então mudou sua área de atuação para a educação de nativos americanos do Canadá. Uma das maiores contribuições para o avanço do trabalho missionário foi feita por Thomas Bray (1656-1730), um prior anglicano que, junto com alguns amigos, formou sociedades voluntárias para ajudar na propagação do evangelho. Em 1696 ele foi nomeado pelo bispo de Londres para o cargo de representante especial de Maryland a fim de ajudar a consolidar a Igreja da Inglaterra naquela região. Ele concluiu que seriam necessárias boas bibliotecas nas paróquias, e para isso, em 1698 formou a Sociedade para a Promoção do Conhecimento Cristão (SPCC). Nos anos que se seguiram, foram criadas “escolas de caridade” onde crianças pobres podiam receber educação básica e instrução religiosa, fundou bibliotecas na Grã-Bretanha e nas colônias, publicou livros e tratados religiosos e manteve laços com igrejas protestantes da Europa continental. Depois de visitar Maryland pessoalmente, Bray convenceu-se de que era necessária uma organização separada para cuidar do trabalho missionário em si e em 1701 ele fundou a Sociedade para Propagação do Evangelho em Regiões Estrangeiras (SPE). Esta empenhou-se agressivamente em expandir os ministérios ultramarinos da Igreja da

Inglaterra e enviou centenas de clérigos. Sua principal atuação era na América do Norte e nas Índias Ocidentais onde concentrava-se em alcançar colonos que não eram anglicanos, mas por vezes alguns indivíduos também realizavam trabalhos entre os índios e os escravos negros. Esse grupo foi particularmente bem-sucedido nas colônias do sul. Uma das realizações mais memoráveis da SPE na verdade se deu fora da América do Norte. Em 1752 a Sociedade nomeou Thomas Thompson como capelão do principal forte inglês (Castelo da Costa do Cabo) na Costa do Ouro, oeste da África. Porém, ao invés de ministrar apenas para os moradores brancos, ele começou a alcançar o povo ao redor e chegou até a mandar convertidos para Inglaterra para poderem estudar. Um deles, Philip Quaque foi ordenado sacerdote (o primeiro negro a ser ordenado anglicano), casou-se com uma mulher inglesa e com o apoio da SPE voltou para a Costa do Ouro em 1766 onde serviu fielmente até falecer em 1816. Thomas Bray também influenciou a fundação do Estado da Geórgia. Em 1723 ele formou um grupo de “Associados” para administrar um fundo destinado ao sustento de bibliotecas e a evangelização de negros e índios na América. Depois de sua morte, os Associados usaram esse dinheiro para ajudar o General James Oglethorpe, um soldado dedicado e membro do Parlamento, a obter a carta de propriedade real em 1732 para uma colônia para a qual os pobres poderia ser mandados como alternativa à prisão desses devedores. Ele

esperava fazer da Geórgia um lugar mais humano, livre da escravidão e do rum e um local com forte presença anglicana, apesar de que a liberdade religiosa seria garantida. O idealismo social desse empreendimento foi ilusório, mas a colônia tornou-se, de fato, um refúgio para vários grupos. Um deles foi o dos salzburgueses, luteranos alemães que haviam sido expulsos de sua terra natal pelo arcebispo católico, mas que com o auxílio da SPCC foram reassentados na Geórgia na década de 1730. Uma filial escocesa da SPCC foi criada em 1709, sendo que esta dedicava-se ao bem-estar espiritual das pessoas nas Terras Altas, mas também subsidiou missões em favor dos índios americanos. Seu obreiro mais conhecido foi David Brainerd (1718-47), um presbiteriano de Connecticut que era protegido de Jonathan Edwards. Durante quatro anos esse jovem trabalhou entre os índios Delaware, sendo que ganhou vários deles para Cristo e formou uma igreja. Seu diário pessoal e de trabalho são obras primas de inspiração e edificação espiritual populares até hoje.

A América do Norte francesa A colonização francesa começou no início do século 17 com assentamentos em Quebec no vale do rio São Lourenço e Port Royal na Acádia (nos dias de hoje chamadas de Nova Scotia e New Brunswick). Uma proibição de imigração de huguenotes garantiu que os residentes

brancos da Nova França seriam todos católicos romanos. O fundador Samuel de Champlain favoreceu as missões pois sonhava com um Canadá cristão governado pelo rei francês e habitado por uma raça mestiça de franceses e índios. Assim, em 1615 ele trouxe quatro Recoletas — uma ala reformada dentro da ordem dos franciscanos — para ajudar na cristianização da população. Em 1625 juntaram-se a eles mais cinco jesuítas, incluindo Jean de Brebeuf (1593-1649). Depois de um breve interlúdio de governo inglês, os jesuítas assumiram o controle de toda a obra da missão. A princípio eles trabalharam entre os índios Huron perto da Baía Georgiana, onde formaram comunidades, intervieram em conflitos tribais e buscaram amenizar os piores aspectos do governo branco. Em 1648 havia vinte e dois sacerdotes trabalhando ativamente na região. Essa iniciativa estava sendo apoiada pelas Irmãs Ursulinas, lideradas por Marie de l’Incarnation (1599-1672), que fundou a primeira escola para meninas índias em Quebec. Porém, uma guerra irrompeu entre os Hurons e Iroquois e em 1649 Brebeuf e vários outros missionários foram brutalmente assassinados pelos Iroquois. (Três séculos mais tarde foram canonizados e declarados santos padroeiros do Canadá.) Apesar da missão Huron ter sido fechada, outros jesuítas espalharam-se pelo interior, chegando até as pradarias além dos Grandes Lagos e até a Louisiana no sul. Uma figura de destaque foi Jacques Marquette (1637-75) que chegou na Nova França

em 1666 e fundou várias obras. Por causa de seu conhecimento de línguas indígenas ele foi escolhido para acompanhar a expedição de Joliet que explorou o rio Mississippi em 1673. Começou, então, uma missão entre os índios Illinois e morreu logo depois de disenteria. Outra realização importante foi a fundação de Montreal. O ímpeto para isso veio de Jean Jacques Olier (1608-57), um produto do movimento de renovação católica na França (ver capítulo 13). Ele convenceu um militar, Paul de Maisonneuve, a liderar um grupo de obreiros dedicados para o alto São Lourenço, onde em 1642 eles formaram um centro cristão para evangelizar e cuidar dos nativos americanos e do bem-estar espiritual dos colonos brancos da região. A Sociedade de St. Sulpice, uma congregação de sacerdotes seculares criada por Olier, oferecia clérigos para o posto de Montreal, do qual os sulpicianos acabaram tomando conta. A figura mais importante da história cristã dos franceses no Canadá foi François Xavier de Laval-Montmercy (1623-1708). De uma família antiga e distinta, ele foi profundamente influenciado pela renovação católica, estava intimamente ligado ao grupo que fundou a Sociedade Missionária Estrangeira de Paris e foi nomeado pelos jesuítas para liderar a igreja na Nova França. Em 1658 ele recebeu o cargo de vigário apostólico e ao chegar em Quebec tornou-se membro do conselho que governava a cidade. Com pulso firme, Laval manteve a igreja livre do controle de leigos, exigiu padrões morais igualmente elevados para

clérigos e leigos e causou o ódio dos comerciantes de peles por opor-se à venda de bebidas alcoólicas para os índios. Reconhecendo a necessidade de clérigos treinados que se sujeitassem a sua autoridade, em 1663 ele abriu um seminário (Universidade Laval) que mantinha estreitos laços com a sociedade de Paris. Em 1674 ele foi nomeado bispo de Quebec. Impôs o controle centralizado sobre o clero de Quebec e da Acádia, mas as iniciativas franciscanas e sulpicianas ainda gozavam de uma certa liberdade de ação. O fato de Laval ter criado uma estrutura eclesiástica independente da coroa francesa e de ter formado o clero com canadenses foi o principal fator que permitiu aos católicos romanos manterem-se firmes depois que os ingleses assumiram o poder em 1763 e assim ocupar a posição singular na realidade canadense que ocupa ainda nos dias de hoje. Ao mesmo tempo, os protestantes americanos consideravam o “papismo” dos canadenses um símbolo do mal. Assim, à medida em que a GrãBretanha foi ganhando o controle das colônias marítimas e os colonos protestantes começaram a chegar, o poder da Igreja Católica na região foi reduzido. Um exemplo triste de inimizade entre as duas comunidades foi a expulsão dos franceses acádios entre 1755 e 1763. Muitos deles foram reassentados na Louisiana onde sua herança ainda permanece na cultura “cajun” (uma corruptela de acadian). Apesar dos franceses terem se fixado na costa do Golfo no início do século 18, seu trabalho missionário na Louisiana nunca teve muito sucesso.

Na verdade, houve um declínio na iniciativa missionária devido a rivalidades entre ordens religiosas, a dissolução dos jesuítas e o efeito desanimador do Iluminismo sobre o zelo religioso. Além disso, as missões foram envolvidas nos conflitos entre ingleses e franceses pela supremacia na América do Norte. Os franceses usaram os índios como aliados, um atitude encorajada pelos missionários ao retratar os protestantes como uma ameaça para a alma dos nativos americanos. Ainda assim o trabalho missionário continuou no século 19 e hoje, mais da metade da população indígena do Canadá é católica.

A iniciativa missionária alemã O Pietismo alemão foi uma importante força nas missões protestantes do século 18 e Halle e Herrnhut os centros do movimento. O primeiro a entrar em cena foi o rei Frederico IV da Dinamarca e Noruega (1671-1730) que desejava fazer mais pelo bem-estar espiritual das pessoas nos postos comerciais de Tranquebar, sul da Índia. Enviar capelães para ministrar nas feitorias já era uma prática comum, mas ele também via a necessidade de alcançar os não-cristãos. Quando não encontrou candidatos adequados entre o clero dinamarquês, o rei apelou para Francke que escolheu dois alunos de Halle para a tarefa: Bartholomäus Ziengenbalg e Heinrich Plütschau. Sem demora, os dois jovens foram ordenados em Copenhague e depois de uma viagem de sete meses chegaram em Tranquebar no dia 9

de julho de 1706. Tanto na Dinamarca quanto na Índia, havia considerável oposição contra essa iniciativa mas seu sucesso foi tanto que outros missionários preparados em Halle logo seguiram seus passos. Em 1714, Frederico fundou a Escola Real para Avanço da Causa do Evangelho, garantindo a sanção oficial da Igreja sobre as iniciativas missionárias da Dinamarca. Em 1718 ele aprovou a nomeação de Hans Egede (1688-1756) como missionário para a Groenlândia para evangelizar os noruegueses ali. Quando, três anos mais tarde, ele chegou lá e não encontrou noruegueses, voltou-se então para a população de esquimós. Depois de anos de trabalho, Egede adquiriu domínio da língua, ganhou alguns indivíduos para Cristo e então voltou para casa, de onde continuou a dirigir a obra na Groenlândia e a escrever sobre missões. Mas o verdadeiro legado de Frederick foi a iniciativa na Ásia. Apesar de Plütschau ter logo desistido, Ziengenbalg trabalhou na Índia até falecer em 1719 e estabeleceu procedimentos que mais tarde seriam seguidos por outros missionários. Ele fez das escolas uma parte integrante da missão, tendo em vista que achava que os cristãos deveriam ser ensinados a ler para que pudessem estudar a Palavra de Deus. Mas para que os crentes lessem a Bíblia, ela precisava estar na sua língua nativa e assim, ele aprendeu tamil e completou a tradução do Novo Testamento em 1714 e estava trabalhando no Antigo Testamento quando faleceu. Além disso, ele estudou as religiões e a cultura indianas para

poder pregar ao povo de maneira contextualizada. Ziengenbalg e seus colegas também insistiam na conversão individual. Eles não trabalhavam com grupos grandes e através da elite dominante como haviam feito as missões católicas desde o começo da Idade Média, mas sim, procuravam ganhar indivíduos para Cristo. Finalmente, formaram congregações locais, uma prática que por vezes perturbava a hierarquia da Igreja na Europa. Entre as inovações da missão de Tranquebar estavam também uma escola para meninas, uma imprensa, o uso de profissionais da saúde e a ordenação de um pastor tamil (1733). O trabalho conjunto da Dinamarca e Halle logo tornou-se conhecido por toda a Europa protestante. Ao logo do século, cinqüenta e seis missionários foram para a Índia e outras partes do mundo e muitas das cartas que ele mandavam para casa eram publicadas por uma revista produzida em Halle. Francke e seus sucessores também usaram uma grande rede de correspondência e contatos pessoais para incentivar o interesse em outras partes, Muitos dos que ouviam falar sobre a missão na Índia chegavam até a mandar doações para Halle visando o seu sustento. Quando Ziegenbalg visitou a Inglaterra, foi recebido pelo rei George I bem como pelo arcebispo de Canterbury. Essa ligação com os ingleses foi importante pois as cartas missionárias eram traduzidas e distribuídas lá e a Companhia Britânica das Índias Orientais — cujas operações estavam em constante expansão — precisava de mais capelães para seus postos. Em 1710 a SPCC

concordou em oferecer fundos para sustentar missionários da parceria entre Dinamarca e Halle que iriam então trabalhar nos territórios da Companhia na Índia. Apesar de serem luteranos alemães, eles geralmente usavam o Livro de Oração Comum, batizavam e observavam a Ceia do Senhor no estilo anglicano. Trabalhavam, ainda, com a população local e também com a comunidade européia. Um desses alemães, Johann Philipp Fabricius (1711-91), foi para Tranquebar como missionário da parceria entre a Dinamarca e Halle em 1740, logo mudou-se para Madras e passou cinqüenta anos no campo missionário sem voltar para casa. Ele produziu obras sobre a lingüística tamil e uma tradução da Bíblia que era considerada a oficial até o século 20. Mais impressionante ainda foi Christian Friedrich Schwartz (172698), que serviu na Índia durante quarenta e oito anos. Passou os primeiros anos em Tranquebar e então, em 1767, foi nomeado capelão no posto britânico de Triquinópole. Em 1772, o rajá de Tanjore convidou Schwartz para trabalhar em seu reino onde, durante algum tempo, ele foi o guardião do herdeiro do trono e praticamente primeiro-ministro. Também serviu como emissário britânico ao poderoso Hyder Ali de Mysore. Apesar de Schwartz ser um homem culto que sabia várias línguas e podia circular livremente pelas altas rodas, ele levava uma vida simples e devota, testemunhava constantemente sobre o poder do Salvador ressurreto e preparava jovens indianos para o ministério. Outra figura de Halle foi John Z. Kiernander (1711-1800), um

sueco que, depois de completar seus estudos, trabalhou como superintendente de um orfanato. Então, em 1749 foi para Cudalore, no sul da Índia, pela SPCC. Forçado a partir durante a guerra anglo-francesa em 1758, mudou-se para Calcutá e foi o primeiro missionário protestante a trabalhar lá. Kiernander pregou, abriu escolas e acabou construindo uma grande igreja e escola que seriam um centro para os missionários que vieram mais tarde. Henry Melchior Muhlenberg (1711-87) também estudou em Halle. Em 1742 ele foi como missionário para três congregações luteranas em dificuldade na Pensilvânia e imediatamente pôs-se a estabelecer uma igreja unida, independente e auto-sustentável. Ele pediu mais obreiros e em 1748 sua liderança cheia de energia resultou na reunião do primeiro sínodo luterano da América, o Ministerium da Pensilvânia. Este supervisionou o número cada vez maior de igrejas luteranas das colônias centrais e serviu de padrão para as organizações sinodais em outras regiões. Foi com justiça que ele recebeu o título de “pai do luteranismo americano”. Seu filho mais velho, Peter, que nasceu na América, estudou em Halle e pastoreou uma congregação em Virgínia, é lembrado por seu papel na organização de um regimento alemão que lutou na Guerra Revolucionária. Outra área de preocupação era o evangelismo dos judeus. Johann Heinrich Callenber (1694-1760), professor na Universidade de Halle, estudou árabe, persa e turco e preparou literatura nessas línguas para

ganhar os muçulmanos. O interesse em estudos orientais levou a um desejo de também alcançar os judeus e, em 1728, ele formou o Instituto Judaico. Este preparava e colocava em circulação literatura em hebraico e enviava missionários itinerantes que pregavam entre os judeus e ministravam aos convertidos. Os morávios (ver capítulo 14), que eram um ramo do Pietismo de Halle, lançaram-se à operação missionária mais extensa de todo o século. Numa visita a Copenhague em 1731, Zinzerdorf encontrou-se com alguns dos convertidos da missão da Dinamarca-Halle que pediram que ele mandasse missionários para os seus povos. Ao voltar para Herrnhut, o conde lançou o desafio aos seus seguidores e J. L. Dober (1706-66) e David Nitschmann (1696-1772) o aceitaram. Eles partiram no ano seguinte para as Ilhas Virgens dinamarquesas onde fundaram uma obra auto-sustentável entre a população negra e ganharam muitos para Cristo. Outros morávios atenderam o chamado para trabalhar no exterior e foram fundadas missões na Groenlândia (1733), Suriname (1735), África do Oeste e do Sul (1737), Estônia (1738), Labrador (1764), Ilhas Nicobar (1769) e entre os índios norte-americanos. Dober também ministrou aos judeus em Amsterdã. Os morávios fundaram igrejas bem-sucedidas na Inglaterra e Holanda que puderam oferecer mais fundos e obreiros para as missões. Em 1728 relatou-se que 175 missionários estavam trabalhando em 27 localidades; cinqüenta anos mais tarde o número havia aumentado para

209 obreiros em 41 postos. Durante os primeiros cem anos de iniciativas missionárias os morávios enviaram 1.199 pessoas, incluindo 459 mulheres. No século 19 outros campos foram abertos na Ásia, África e América Central. O maior esforço concentrou-se na América. Começou com uma tentativa nos assentamentos na Geórgia. Em 1733, August Gottlieb Spangenberg (1704-92), que até então havia trabalhado no orfanato de Halle, juntou-se à comunidade em Herrnhut, tornou-se assistente de Zinzerdorf e acabou sendo seu sucessor. Em 1735 ele liderou um grupo de dez homens para a Geórgia a fim de formar um assentamento e no ano seguinte David Nitschmann liderou um segundo grupo para lá. No navio para o Novo Mundo estavam John e Charles Wesley que ficaram profundamente impressionados com a devoção desses humildes alemães. John chegou até a morar com eles durante algum tempo. Deixaram a colônia morávia na Geórgia em 1740, quando George Whitefield os convidou para ir a Nazaré, no leste da Pensilvânia, onde desejava abrir uma escola para negros. Mas por causas das diferenças entre Whitefield que era mais calvinista e os morávios, ele decidiram adquirir um local próximo ao rio Lehigh para começar o novo assentamento. Quando Zinzendorf foi para lá em 1741 ele deu ao vilarejo o nome de Belém e não demorou para que a comunidade se transformasse numa pequena Herrnhut da América. Em 1743 os morávios compraram Nazaré e esta tornou-se a segunda vila comunitária.

Dentre as outras comunidades fundadas nos anos seguintes estavam Lilits (próxima a Lancaster) e Salem na Carolina do Norte. Zinzerdorf esperava reunir os grupos religiosos alemães espalhados pela Pensilvânia, mas todas as suas tentativas de ecumenismo fracassaram e a igreja morávia logo adquiriu seu próprio caráter denominacional. As missões indígenas dos morávios constituíram uma realização notável. Começaram em 1740 com a missão moicana de Christian Rauch em Nova York e as próprias viagens de Zinzendorf entre os índios. O missionário mais conhecido foi David Zeisberger (1721-1808), que conquistou a confiança dos líderes tribais e fundou várias comunidades cristãs pacíficas. Mas essa iniciativa sofria continuamente com a oposição dos brancos e com as guerras de fronteiras entre os índios. Em 1782, num acontecimento particularmente trágico, uma milícia colonial foi responsável pelo massacre brutal de uma vila cristã no norte de Ohio. Zinzerdorf acabou levando seu pequeno grupo de índios Delaware para Ontario, onde poderiam preservar sua identidade.

O Reavivamento do século 18 Foi só uma questão de tempo antes que o Pietismo abrisse espaço em meio ao Anglicanismo, tendo em vista que a Igreja oficial sofria de problemas semelhantes aos que afligiam o Luteranismo alemão. Seu ensinamento favorecia a ordem existente, onde cada pessoa havia sido divinamente escolhida para ocupar um lugar e uma posição social e era

preciso contentar-se com essa posição. Receber o sacramento na Igreja Anglicana era o teste formal de lealdade ao sistema. As novas ondas de pensamento — racionalismo, deísmo, latitudinarismo (uma visão tolerante que não enfatizava a importância da doutrina correta) e unitarianismo (rejeição da divindade de Cristo) — bem como a corrupção e imoralidade que assolavam a Igreja contribuíram ainda mais para o enfraquecimento espiritual. Em outras palavras, “a deterioração da religião vital”, como colocou o escritor de hinos Isaac Watts, havia transformado a Igreja numa casca vazia. O primeiro desafio para a Igreja de fala inglesa veio dos reavivamentos ou “despertamentos” que varreram a Grã-Bretanha e as colônias americanas no segundo terço do século 18. Foram acontecimentos paralelos mas houve um considerável intercâmbio entre os movimentos, especialmente no ministério de Whitefield. Na GrãBretanha, a primeira explosão de reavivamento ocorreu em Gales, sob a liderança de Howel Harris (1714-73), um professor que converteu-se em 1735 e começou a pregar nos lares, tendo em vista que não era ordenado. Em 1737 ele uniu forças com Daniel Rowland (1713-90), um sacerdote anglicano que havia experimentado um despertamento espiritual quase na mesma época e através do evangelismo itinerante eles deram início ao que veio a ser conhecido como Metodismo Calvinista Galês. Harris assentou-se em Trevecca em 1752 e formou uma comunidade que foi um centro do evangelicalismo. Um outro reavivamento, apesar de não ter

sido tão espetacular quando o de Gales, ocorreu na Escócia em 1741-42. Sem dúvida o marco desse movimento de revitalização foi John Wesley (1703-91). Ele e seu irmão Charles nasceram na casa paroquial anglicana de Epworth, em Linconshire. Sua mãe, Susanna (1703-1742) exerceu uma influência decisiva na formação do caráter dos dois através de sua profunda fé pessoal, do uso parcimonioso da disciplina e do costume de apresentar literatura devocional cristã para a família. John preparou-se para o ministério em Oxford, foi ordenado e trabalhou como professor do Lincoln College. Em 1729, ele formou o “Clube Santo” em Oxford do qual Charles, George Whitefield e outros alunos faziam parte. Eles dedicavam-se à oração, ao estudo do Novo Testamento em grego, às obras de caridade e receberam o apelido de “metodistas” pois haviam adotado um método disciplinado de aprimoramento espiritual. Em 1735 ele e Charles foram nomeados para a capelania da SPE na Geórgia e lá chegaram no ano seguinte. Eles viajaram no mesmo navio que um grupo de morávios e John foi questionado por Spangenberg sobre a certeza da sua salvação. Ele deveria ir trabalhar entre os índios, mas depois de dois anos frustrantes, voltou para casa. Logo depois disso conheceu Peter Böhler, líder dos morávios de Londres, que lhe falou sobre a necessidade de uma fé mais profunda. Wesley anotou em seu diário que ele foi a reunião de oração desse grupo na rua Aldersgate no dia 24 de maio de 1738 e enquanto eles liam um trecho do prefácio de Lutero ao livro de Romanos, “Senti meu coração estranhamente

aquecido. Senti que confiava em Cristo e só em Cristo para a salvação”. (Apenas três dias antes, Charles que também havia voltado para a Inglaterra teve uma experiência evangélica semelhante sob a influência de Böhler.) No mês seguinte, John foi para a Alemanha e visitou Halle e Herrnhut, firmando assim o laço espiritual entre o Pietismo e o Metodismo. Isso abriu caminho para os irmãos Wesley percorrerem a terra para levar a mensagem de Deus às pessoas onde quer que estivessem. Depois de vinte anos de itinerância, Charles assumiu um ministério fixo, mas como autor de 7.270 composições, ele é lembrado como possivelmente o mais talentoso e prolífico escritor de hinos na língua inglesa. Dentre os mais conhecidos estão Jesus Lover of My Soul [Jesus o Amado de Minh'alma], Oh, for a Thousand Tongues to Sing [Quem Dera Saber Mil Línguas para Cantar] e Love Divine, All Loves Excelling [Amor Divino, que Excede Qualquer Outro Amor]. Seguindo uma sugestão de Whitefield, John começou a pregar ao ar livre. Isso dava-lhe mais flexibilidade, tendo em vista que não era bemvindo em muitas igrejas pois estava constantemente viajando, falando onde quer que houvesse um público. Durante os cinqüenta anos seguintes ele viajou mais de 375 mil quilômetros (a maior parte à cavalo) e pregou quarenta mil sermões. Em seu diário Wesley observou:

Vejo o mundo todo como minha paróquia; até agora, em qualquer parte dele que me

encontre, julgo cumprir meu dever: declarar a todos que mostram-se dispostos a ouvir as boas novas da salvação. Esta é a obra para a qual sei que Deus me chamou; certo estou de que é acompanhada de sua bênção.

Ele proclamava a justificação pela fé, o novo nascimento e a perfeição cristã (santificação). Insistia que um cristão pode ser santo neste mundo, mas não completamente livre de fazer o mal. Suas pregações nas ruas e nos campos muitas vezes suscitava oposição violenta, mas ele era absolutamente destemido e estava certo de que Deus estaria com ele mesmo nas situações mais desalentadoras. O grande número de pessoas das classes operárias e o “entusiasmo” que demonstravam em suas reuniões eram criticados por alguns das classes mais altas. Outros o condenavam por pregar fora da igreja e permitir que leigos pregassem. Um anglicano leal, não era a intenção de Wesley fundar uma nova Igreja, mas o movimento inevitavelmente caminhou para essa direção. Seu objetivo era simplesmente proclamar o evangelho às pessoas que não haviam sido alcançadas e oferecer a elas o sustento espiritual. Dentro do modelo morávio, ele criou a “sociedade” metodista, que por suas vezes era dividida em classes e grupos. Nas reuniões, os membros avaliavam a vida espiritual uns dos outros e estudavam as Escrituras. As sociedades era agrupadas em circuitos (por onde passavam os pregadores) e os circuitos organizados em distritos. Essa estrutura compunha a “Conexão” metodista. Os pregadores, normalmente leigos, encontravam-se numa

conferência anual para receber instruções e futuros trabalhos. O verdadeiro pioneiro do evangelismo itinerante foi o amigo e colega de Wesley, George Whitefield (1715-70). Convertido em Oxford em 1735, depois da formatura foi para a Geórgia a convite dos irmãos Wesley para começar um orfanato. Quando estava de volta à Inglaterra para sua ordenação em 1739, descobriu o valor das reuniões ao ar livre e não demorou para que estivesse pregando para milhares de pessoas. Ele teve um papel importante no reavivamento escocês e na formação da Associação Calvinista Metodista de Gales. Apesar do nome metodista aplicar-se, a princípio, aos seus seguidores, logo surgiram diferenças teológicas entre ele e Wesley. Para evitar um conflito, ele entregou a liderança do movimento metodista e concentrou-se na América, onde seu coração estava de fato e para onde viajou sete vezes. Whitefield foi o pregador mais conhecido das colônias e o renovador do século. Uma de suas seguidoras foi Selina Hastings, condessa de Huntingdon (1707-91) que após sua conversão tornou-se morávia e depois metodista. Assim como Whitefield, ela seguia o Calvinismo e em vários lugares ela abriu capelas que combinavam o evangelicalismo com uma modelo mais litúrgico de adoração. Em 1768 ela fundou uma escola para pregadores no lugar onde se encontrava Harris, em Trevecca, a fim de treinar obreiros para seu grupo de metodistas calvinistas, chamado de Conexão da Condessa de Huntingdon. As viagens de pregação de Whitefield foram um elemento essencial

para o “Grande Despertamento” da América. O reavivamento colonial tinha suas raízes nos movimentos de renovação pietistas calvinistas nas colônias centrais, especialmente aquelas do pregador holandês reformado Theodorus Frelinghuysen (1691-1747) e do presbiteriano Gilbert Tennent (1703-64), mas a figura que mais se destacou foi sem dúvida Jonathan Edwards (1703-58). Formado em Yale e pastor congregacionalista em Northampton, Massachusetts, suas pregações levaram a um reavivamento da igreja em 1734-35. Os relatos que ele publicou sobre esse acontecimento circularam por toda a parte nas colônias. Então, em 1740 as pregações de Whitefield e Tennent alimentaram um reavivamento em Boston que espalhou-se para o sul até a Virgínia durante os dois anos seguintes. Pelo fato dos clérigos coloniais estarem profundamente divididos sobre o valor do despertamento espiritual, os leigos começaram a tomar a iniciativa na vida religiosa, gesto que foi um importante passo para a democratização do protestantismo americano. Ao mesmo tempo, através de seus muitos escritos, Jonathan Edwards articulou com força e precisão a posição calvinista que o colocou entre os grandes teólogos reformados. O Despertamento foi levado à região marítima do Canadá por Henry Alline (1748-84). Em 1775 ele teve uma experiência intensa de conversão e imediatamente sentiu uma profunda convicção de que Cristo o havia chamado para pregar, mesmo que ele não tivesse preparo teológico formal. Assim, durante os anos da Guerra Revolucionária ele viajou pela

Nova Scotia e fundou várias igrejas batistas e congregacionais. Por causa do impacto que seu movimento de reavivamento teve sobre os ianques da Nova Scotia, dando-lhes um senso de identidade, alguns historiadores o consideram a maior figura religiosa protestante do Canadá.

O Protestantismo estava mudando de duas maneiras. Uma era sua consciência cada vez maior de que havia pessoas além das fronteiras da Europa que não conheciam a Cristo e precisavam ser alcançadas pelo Evangelho. A outra consistia em entender e colocar em prática o aspecto pessoal da fé cristã que estava implícito no conceito de sacerdócio de todos os crentes. Com o poder católico se enfraquecendo na Europa, o Protestantismo estava se posicionado de forma a avançar gradualmente na competição pelas almas. Mas uma questão crucial continuava sem resposta: A revolução que estava prestes a acontecer na Europa facilitaria ou atrasaria esse processo?

Parte 3 - A Igreja global e em progresso (1789 - presente)

Capítulo 17 - A Igreja numa era revolucionária Entre 1760 e 1815 uma onda de revoluções varreu o mundo ocidental, indo desde manifestações de protesto (e resultando em concessões do governo) até a grande revolução que sacudiu a França. O resultado dos tumultos políticos foi a substituição da sociedade hierárquica tradicional por uma outra de características mais modernas. As idéias sociais do Iluminismo tiveram grande participação no preparo do cenário para a “era da Revolução Democrática”, como esse período foi caracterizado pelo historiador R. R. Palmer. Os philosophes baseavam suas críticas da antiga ordem nas leis universais que afirmavam ser aplicáveis a pessoas em qualquer lugar. Eles desafiaram não só a França e outros Estados europeus mas também aqueles que viviam nas Américas. Essas novas maneiras de pensar e de ver o mundo eram subversivas às instituições e práticas tradicionais. Elas enfraqueceram especialmente a Igreja Católica. Tanto estas quanto as igrejas protestantes foram obrigadas a encarar a verdade inerente à mensagem cristã de que Deus criou todos os seres humanos iguais. Os evangélicos, porém, levaram esse conceito um passo adiante e insistiram que todos também precisavam igualmente da salvação

por meio da fé em Cristo.

A revolução americana O primeiro novo Estado a ser fundado tendo como base os princípios do Iluminismo ficava na América do Norte. A revolução que levou à criação da república americana surgiu dos conflitos entre ingleses e franceses durante os séculos 17 e 18. Conforme foi mencionado no capítulo anterior, essas guerras foram travadas não apenas na Europa mas também no mundo colonial, resultando na vitória britânica na América do Norte e na Índia. Porém, como dinheiro e soldados britânicos tinham sido usados para vencer a guerra e expulsar os franceses da América do Norte garantindo que faria parte de um império em expansão, Londres achou que a colônia deveria contribuir mais para os custos de defesa. O esforço atabalhoado por parte do governo britânico de coletar impostos para esse fim, alienou os colonos e levou à Guerra da Independência. A religião também contribuiu para a crise. Durante o Grande Despertamento, muitos colonos passaram a esperar que estivessem diretamente relacionados com os planos de Deus para o fim dos tempos e que o reino milenar de Cristo estivesse prestes a começar. Quando o fogo do reavivamento foi esfriando, muitos clérigos misturaram as expectativas de que todas as nações seriam

convertidas a Cristo com um compromisso em relação à América como terra da liberdade. Em primeiro lugar, viam a França e depois a Inglaterra como arqui-inimigas dos direitos civis e da liberdade religiosa. Esse “milenialismo civil” considerava que a liberdade era a causa defendida por Deus, sendo a opressão civil — e não uma religião formal — o Anticristo. A nação em si era vista como agente da atuação de Deus na História. O Despertamento ajudou a lançar as bases para um reavivamento nacional. Tendo em vista que o Despertamento havia funcionado de modo intercolonial e nutrido relações entre as igrejas de várias regiões geográficas, foi o primeiro acontecimento verdadeiramente “nacional” nas colônias. Também valorizou o uso de palavras como “liberdade”, “virtude” e “tirania” no discurso público e criou um modelo de liderança que exigia uma resposta direta das pessoas. Clérigos de várias denominações — batistas, congregacionalistas, presbiterianos, luteranos, reformados holandeses e até anglicanos — viam-se sob a orientação de Deus para despertar e guiar a nação para o cumprimento iminente do milênio. Com o aprofundamento da crise, esses pastores apoiaram a resistência à Grã-Bretanha. A tentativa anglicana de criar uma diocese na colônia também assustava muitos dos ministros de lá e, numa série de reuniões conjuntas, congregacionalistas e

presbiterianos declararam firmemente que consideravam o episcopado a ferramenta eclesiástica do governo absolutista. Lançando mão do ideal puritano da aliança, insistiram que o governo era baseado num acordo ou contrato entre o governante e os cidadãos. Muitos anglicanos, especialmente aqueles das colônias do sul, juntaram-se aos que rejeitavam a imposição de um bispo da Inglaterra sobre a América e, de fato, dois terços daqueles que assinaram a Declaração de Independência eram membros da Igreja da Inglaterra. 1792

1792-98

Reune-se a Seita de Clapham

Hannah More publica os Panfletos Baratos de Repositório 1773 O papa dissolve os jesuítas

1725

1755

1790

1791

1801

1813

O Grande

Conversão de

Constituição Civil

Ratificada

Concordata

Abertura da

Despertamento

John Newton

dos Clérigos

a Lei dos

entre Napoleão

Índia para

Direitos

e o papa

missões

1700

1750

1800

1850

1774

1775

1789

1806

1815

Lei de

Início da

Revolução

Dissolução do Santo

Derrota final

Quebec

Revolução

Francesa

Império Romano

de Napoleão

Americana 1763

1763

1787

1804

1807

Tratado de Paris

Febronianismo

Convenção

Napoleão

O Parlamento aprova a

proclamado

Constitucional

se torna

Lei de Wilberforce

imperador

abolindo o tráfico de escravos

1781 Édito de Tolerância de Joseph II

Mas outros cristãos sinceros opunham-se à idéia de uma guerra pela independência. Entre eles estavam os anglicanos na Nova Inglaterra e colônias centrais bem como os metodistas. O próprio John Wesley escreveu sobre a Revolução num tom crítico e muitos membros de seu grupo seguiram seu exemplo. Wesley estava convencido de que o reavivamento que havia se espalhado pelas colônias estava sendo abafado pelo materialismo e era isso que, na realidade, estava por trás da revolução. Além disso, ele concordava com o ensinamento de que um cristão não deve resistir ativamente à autoridades devidamente instituídas. Outros que se opunham ao conflito eram as igrejas da paz — os quakers, Igreja dos Irmãos, morávios e menonitas. Durante as lutas, esses cristãos pacifistas por princípio, eram mal compreendidos e perseguidos por ambos os lados. Dentre as ações britânicas mais provocadoras, estavam as medidas que pareciam favorecer outras partes do império (como impostos sobre melado e chá) e a imposição de novos impostos como a Lei do Selo de 1765. Tendo em vista que a maioria dos líderes coloniais haviam passado a aceitar os ensinamentos do Iluminismo sobre o livre comércio, as novas medidas pareciam anacrônicas e ameaçavam sua posição. O imposto do selo — que deveria ser cobrado de todos os papéis impressos e documentos legais — foi instituído numa época de queda na economia e fez

muitos se perguntarem se o Parlamento tinha o direito de cobrar impostos das colônias. Como não havia nenhum representante americano dentro do Parlamento, os líderes coloniais argumentavam que essa era uma “taxação sem representação”. Boicotes da colônia e problemas no recolhimento dos impostos levaram à anulação dessas e outras leis de rendimento em 1770, mas o imposto sobre o chá que favorecia a Companhia Britânica das Índias Orientais continuou vigorando como sinal da autoridade central. Quando colonos irados jogaram no mar todo o carregamento de chá de um navio em 1773 (“Boston Tea Party”), enfurecido o rei George III fechou o porto e revogou a constituição de Massachusetts. Os pastores americanos já estavam indignados com aquilo que consideravam uma atitude injusta por parte dos britânicos, mas tiveram um choque ainda maior com a Lei de Quebec de 1774. Essa medida, criada para facilitar a integração da Nova França com o Império Britânico, dava amplos poderes à Igreja Católica naquela região. Ela reconhecia oficialmente a Igreja e permitia que esta coletasse os valores habituais. Como a lei também estendia as fronteiras de Quebec de modo a incluir a área de Ohio, colonos de Nova York, Pensilvânia e Virgínia acharam que estavam sendo impedidos de ir para o interior. Em setembro de 1774 ocorreu a primeira reunião do

Congresso Continental na Filadélfia na qual foi questionado o direito do Parlamento de controlar as colônias. No dia 19 de abril de 1775, logo depois de uma segunda reunião do Congresso, começaram as hostilidades entre tropas britânicas e a milícia colonial nos campos de Lexington e na ponte Corcor, não muito longe de Boston. Os colonos acreditavam estar defendendo seus direitos como pessoas livres e em seu desafio ao Parlamento e ao rei da Inglaterra, tomaram os primeiros passos rumo tanto ao republicanismo como à igualdade humana. As idéias iluministas que haviam sido semeadas sobre o Novo Mundo começavam a germinar. Como a violência continuava, o Congresso Continental formou um exército sob o comando de George Washington, começou a procurar aliados europeus e adotou a Declaração de Independência formal no dia 4 de julho de 1776. Escrita por Thomas Jefferson (ver capítulo 15), sua invocação de Deus refletia o deísmo iluminista e, no fundo, colocava Deus a serviço da tarefa secular que os americanos tinham diante deles. Apesar de no começo não terem se saído bem na guerra, uma importante vitória em Saratoga no ano seguinte encorajou os franceses a apoiar os americanos como um meio de restabelecer seu prestígio na Europa. Enquanto isso, representantes das antigas treze colônias (agora chamadas de “estados”) assinaram os Artigos de

Confederação que criavam os Estados Unidos da América. Em 1778, a França formou uma aliança com a nova nação e sua ajuda levou à derrota dos britânicos que se entregaram em Yorktown em 1781. No Tratado de Paris, dois anos mais tarde, a Grã-Bretanha reconheceu a independência das colônias. O país viu-se imediatamente diante de uma crise econômica tendo em vista que os navios americanos foram excluídos do comércio com as Índias Ocidentais Britânicas. Além disso, a instabilidade social devido à falta de autoridade dos Artigos provisórios da Confederação preocupava especialmente as classes mais ricas, que viam a necessidade de um governo central mais forte. Sua preocupação os levou a convocar uma convenção na Filadélfia em 1787 para revisar os Artigos. Um documento completamente diferente resultou dessa reunião, a Constituição que tornou-se vigente em 1789. Ela criava uma república federal, com certos poderes reservados aos estados e outros dados ao governo central. Nesse sistema, estava claro que os estados eram mais do que unidades administrativas de uma burocracia central. A Constituição também incorporou o conceito de Montesquieu de separação dos poderes em legislativo, executivo e judiciário. Havia dispositivos e recursos embutidos no mecanismo governamental para impedir que uma das unidades se tornasse poderosa demais, oprimindo as outras ou o próprio povo. O

judiciário tinha um caráter singular pois possuía poder de interpretar a constitucionalidade das ações dos estados e do Congresso. George Washington, um líder respeitado cujos padrões morais eram impecáveis, tornou-se o primeiro presidente da república. O impacto do Iluminismo ficou evidente especialmente na forma como a Constituição tratava da religião. Não havia nenhum traço de instituição religiosa no documento e uma cláusula no Artigo VI declarava especificamente que não seria exigida nenhuma avaliação religiosa de quem estivesse ocupando cargos públicos. (Esta foi, obviamente, uma reação a Lei inglesa do Teste de 1673.) Além disso, por haver incerteza em certos meios se as liberdades individuais estavam sendo suficientemente protegidas, um conjunto de dez emendas conhecido como Carta de Direitos foi aprovado em 1789 e ratificado dois anos depois. A principal das Emendas era a Primeira:

O Congresso não fará nenhuma lei quanto ao estabelecimento de religião e nem qualquer proibição do exercício desta nem regulamentará a liberdade de discursos, ou imprensa, ou o direito de reunião pacífica do povo ou deste dirigirse ao governo para a apresentação de queixas.

Foram raras as ocasiões em que um documento de Estado de tamanha importância declarou de modo tão simples e direto que a

liberdade religiosa era um direito humano. Na verdade, a Constituição refletia um movimento por liberdade religiosa que já havia surgido em vários lugares, especialmente na Virgínia. Pouco antes da independência nacional, James Madison e Thomas Jefferson realizaram uma campanha com o apoio dos presbiterianos e batistas para incluir as palavras “o livre exercício da religião” na Declaração de Direitos do novo Estado. Então, em 1786 eles conseguiram que a Igreja Anglicana deixasse, de uma vez por todas, de ser considerada oficial em seu estado. Os documentos Petição e Protesto (1785) de Madison e a Lei para o Estabelecimento da Liberdade Religiosa de Jefferson (escrita em 1779, aprovada em 1786) estão entre os mais influentes da história da liberdade religiosa na América. Além disso, os batistas em Massachusetts, sob a liderança de Isaac Backus tiveram um papel importante para garantir que seu estado ratificaria a Constituição pois aprovavam sua atitude neutra em relação às questões religiosas. Mais impressionante ainda foi o fato do pregador batista John Lelan na Virgínia ter pessoalmente colocado diante de Madison a necessidade de uma emenda constitucional que garantisse a liberdade religiosa e desse encontro resultou a forte afirmação da Primeira Emenda. Em 1802 Jefferson — que era então o presidente — declarou que a Primeira Emenda havia erguido um “muro de separação” entre a Igreja e o Estado.

Ao lhe ser negado qualquer apoio do Estado e ver-se livre de qualquer responsabilidade para com o mesmo, as igrejas na América encontravam-se num ambiente livre e benéfico que resultou no surgimento de diversas expressões de fé diferente de tudo o que já havia se visto num estado de população cristã. Apesar dos Estados Centrais terem seguido o exemplo da Virgínia (Rhode Island e Pensilvânia, é claro, nunca haviam tido uma Igreja oficialmente reconhecida), a idéia de instituição governante persistiu no Sul e na Nova Inglaterra por mais alguns anos. Mas seus últimos vestígios sucumbiram ao racionalismo do Iluminismo e às igrejas reavivadas que se espalharam por toda parte. Assim, desde o começo dos Estados Unidas a vida religiosa foi moldada pelo denominacionalismo de igrejas protestantes livres. O sucesso americano teve um impacto profundo em outros povos. A criação de uma república independente no Novo Mundo foi, de um modo geral, interpretado pela Europa como uma prova de que as idéias do Iluminismo podiam ser colocadas em prática. Era possível um povo estabelecer um governo baseado nos direitos do indivíduo.

O declínio do Catolicismo Depois de 1648, a Igreja Católica como instituição universal

entrou em declínio. O papa, que havia sido ignorado na Paz da Westphalia, raramente era consultado sobre problemas internacionais e não estava representado em nenhuma das grandes conferências de paz. As diversas igrejas nacionais passaram cada vez mais a ser governadas por sínodos ou bispos e o papado tinha grande dificuldade em exercer sua autoridade. Uma série de papas fracos deixou a instituição impotente diante dos crescentes ataques. A afirmação mais importante da idéia de Igreja nacional no século 17 foi o Galicanismo. Numa assembléia em Paris em 1862, os bispos franceses adotaram uma declaração (os Quatro Artigos Galicanos) que afirmava que o rei Luís XIV não estava sujeito em coisas temporais (seculares) a qualquer poder eclesiástico e nenhuma ação do papa liberava seus súditos da obediência ao rei. Também declarava que concílios gerais tinham autoridade sobre o papa e que a coroa e os bispos podiam controlar a interferência do papa na França. Apesar do papa ter autoridade espiritual universal, os galicanos insistiam que o Estado controlasse, de fato, o funcionamento da Igreja em questões como a seleção de bispos, liturgia, lei eclesiástica e educação. Um outro desafio ao poder papal foi uma doutrina conhecida como Febronianismo. Esta foi apresentada num livro publicado em 1763 por Johann Nikolaus von Hontheim (1701-90), bispo

auxiliar de Trier, sob o pseudônimo de Justus Febronius e com o título Sobre o Estado da Igreja e o Poder Legítimo do Pontífice Romano. Apesar de aceitar a primazia do papa como uma figura digna de honra e administrador executivo em Roma, o pontífice era, na verdade, um “primeiro entre iguais”. As chaves do reino em Mateus 16.19 foram entregues a toda Igreja e não só ao papado. A autoridade legislativa máxima da Igreja era um concílio geral composto de todos os bispos, que haviam recebido o cargo de Deus e não do papa e podia-se apelar para o concílio sobre uma decisão papal. Além disso, no que dizia respeito a questões humanas, não à lei divina, os príncipes seculares tinha o direito de recusar-se a obedecer o papado. O autor acreditava que a centralização excessiva do poder eclesiástico havia sido a causa da Reforma; assim a descentralização poderia facilitar o retorno de protestantes à Igreja Católica. O papa condenou a obra de Hontheim no ano seguinte ao colocá-la no Índice de Livros Proibidos, mas quatro príncipesarcebipos alemães afirmaram os princípios febronianos numa conferência em 1786. Aceitando apenas uma primazia limitada do papa, pediram o consentimento episcopal para decretos e bulas papais, o fim dos apelos a Roma e a autoridade local sobre ordens religiosas. Na verdade, sua intenção era formar uma Igreja Católica nacional na Alemanha, mas os bispos inferiores, temendo

o poder dos superiores preferiram o governo distante em Roma à autoridade mais imediata dos príncipes alemães. A revolta entrou em colapso em 1789 quando os arcebispos retiraram suas declarações, mas as implicações foram abrangentes. A idéia de se limitar a autoridade do papa encontrou ambiente propício em Viena, onde o futuro “déspota esclarecido”, o jovem Joseph II, falou sobre a necessidade de liberdade religiosa no reino do qual era herdeiro. Ele considerava a riqueza poderosa da Igreja Austríaca um obstáculo para o desenvolvimento econômico e o controle eclesiástico da educação uma barreira para o amadurecimento da mentalidade no país. Ao tornar-se imperador em 1780, Joseph pôs-se a colocar em prática um programa de reforma completo que iria racionalizar a organização da sociedade através da centralização estatal e autoridade superior. Na esfera religiosa, ele foi bastante além do Galicanismo francês. Em 1781, lançou o famoso Édito de Tolerância, que garantiu aos protestantes e gregos ortodoxos o direito de ter seus próprios templos e escolas, de possuir propriedades e assumir cargos políticos e militares. Joseph justificou a liberdade de culto dizendo que qualquer Igreja podia ser levada a obedecer o Estado. Ações posteriores permitiram algumas liberdades um pouco mais limitadas para os judeus. As leis de censura foram relaxadas e obras literárias de

críticos da Igreja puderam, então, ser publicadas. Outros decretos fecharam mosteiros e conventos ou reduziram seu tamanho, explicando que eram inúteis e causavam desperdícios. Só aqueles que mantinham escolas, hospitais ou outras obras de caridade sobreviveram. Assim, setecentas casas religiosas foram fechadas e trinta e oito mil monges colocados para fora. As propriedades foram confiscadas e os lucros das mesmas foram revertidos para financiar uma reorganização das paróquias e instituições de caridade sob o controle do Estado e para as pensões e suplementos salariais para os clérigos. Também foi implantado o ensino universal e obrigatório. O imperador Joseph na realidade colocou a Igreja sob o controle do Estado. Exigia-se que os bispos fizessem um voto de lealdade às autoridades. Os decretos papais precisavam ter permissão do governo a fim de serem válidos na Áustria. A educação clerical foi colocadas sob supervisão do Estado e os seminários passaram a oferecer ensino de Ciências e conhecimento secular juntamente com a Teologia. Foram dadas ordens tratando dos mínimos detalhes das práticas religiosas como peregrinações, observância dos dias santos e mobília e apetrechos das igrejas. Em 1782 o papa Pio VI chegou a fazer uma viagem às pressas para Viena, onde pediu a Joseph para rescindir suas medidas mas não teve sucesso. As reformas religiosas permaneceram intactas

mesmo depois de sua morte em 1790 e para os católicos romanos o termo “josephismo” desde então adquiriu o sentido da Igreja sendo controlada pelo Estado secular. Denominações de destaque nas treze colônias americanas Colônia

Estabele

Denominações principais

cimento

Igreja estabelecida

Virgínia

1607

Anglicanos, presbiterianos e batistas

Anglicana

Massachusets

1620

Congregacionais (puritanos), separatistas e batistas

Congregacional

New Hampshire

1623

Congregacionais

Congregacional

Nova York

1626

Reformados holandeses, anglicanos e presbiterianos

Anglicana (1693)

Maryland

1634

Católicos, anglicanos e presbiterianos

Anglicana (1691)

Connecticut

1634

Congregacionais

Congregacional

Rhode Island

1636

Congregacionais, batistas e quakers

Nenhuma

New Jersey

1638

Reformados holandeses, presbiterianos e quakers

Nenhuma

Delaware

1638

Luteranos e anglicanos

Nenhuma

Carolina do Norte

1653

Anglicanos, presbiterianos e morávios

Anglicana

Carolina do Sul

1670

Anglicanos, huguenotes e presbiterianos

Anglicana

Pensilvânia

1681

Quakers, luteranos, menonitas, irmãos, reformados

Nenhuma

alemães, schwenckefelder, presbiterianos e morávios Geórgia

1733

Anglicanos e morávios

Anglicana (1758)

Nova Scotia

1710,

Anglicanos, mas havia tolerância para quase todas as

Anglicana

(Acadia)

1749

crenças

(1758)

Um outro sinal do enfraquecimento da Igreja foram os crescentes ataques aos jesuítas. Monarcas que procuravam assumir o controle sobre a Igreja dentro de seus domínios viam os jesuítas — principais defensores do papa — como agentes de poder estrangeiro. Por fim, depois de acusações exageradas de intrigas,

os governantes de Portugal (1759), França (1764), Espanha e Nápoles (1767) e Parma (1768) ordenaram que os jesuítas fossem expulsos de seus reinos. Com o aumento de pedidos da Igreja Católica por toda Europa de eliminação da ordem, em 1773 o papa Clemente XIV relutantemente assinou a bula que dissolvia a Sociedade de Jesus. A Igreja Francesa do século 18 encontrava-se numa situação complicada. Era grande (130 mil clérigos — aproximadamente meio porcento da população total) e bastante rica, pois era dona de 6 por cento das terras e tirava uma renda considerável de suas propriedades. Porém, havia um enorme abismo entre um simples padre de uma paróquia e aqueles que ocupavam cargos episcopais (catedrais). O clero local era pobre e com freqüência possuía uma educação mínima, mas trabalhava duro e tinha grande consciência das aflições de seus párocos. Quase todos os líderes eclesiásticos do alto clero eram de origem aristocrática e levavam uma vida de nobre. Muitas vezes os bispos eram homens do Iluminismo cujos horizontes intelectuais eram enormes mas cuja devoção era um tanto limitada. Por exemplo, o conhecido Talleyrand, que serviu sucessivos governantes franceses desde o antigo Regime até a restauração em 1815, fez pouco da fé cristã; e o rei Luís XVI reclamou que o arcebispo Loménie de Brienne, de Toulouse, não acreditava em Deus.

A crença religiosa crescia nas vilas mas saía perdendo em cidades de diferentes tamanhos, onde a classe média-alta seguia a indiferença e incredulidade dos aristocratas. Ainda assim, os líderes da Igreja estavam tristemente desligados da situação de transformação na França. Eles aproveitavam suas regalias, continuavam a exigir poder de censura sobre a imprensa e condenavam o relaxamento das restrições aos protestantes. O perceptivo Alexis de Tocqueville observou que a Igreja era odiada “não porque seus sacerdotes afirmavam controlar os assuntos do outro mundo, mas porque eram proprietários de terras, senhores de mansões, coletores de dízimos e administradores neste mundo”.1 Não tinham consciência da revolução que estava prestes a acontecer e que destruiria os paradigmas tanto seculares quanto religiosos da ordem existente, da monarquia e da Igreja.

A Revolução Francesa A contínua incapacidade do governo francês de lidar com os problemas que afligiam o país tornou a revolução quase inevitável. Apesar da França, de um modo geral, ser próspera, o sistema social antiquado vigente no “antigo regime” deixava as finanças públicas numa situação desesperadora. As terras que eram propriedade do clero e da nobreza, os chamados “primeiro” e “segundo” estados ou ordens da sociedade, eram isentas de

impostos, mesmo constituindo 35 por cento da área do país. Isso significava que o fardo tributário recaía sobre o “terceiro” estado, os vinte milhões de camponeses e quatro milhões de artesão e a classe média (burguesia) que constituíam 98 por cento da população do país. Tendo em vista que a maior parte dos impostos era paga pelos camponeses, eles tinham boas razões para estar descontentes. Os fatores econômicos não foram tão importantes na alienação da classe média, pois sua situação estava melhorando, mas ressentiam às vantagens sociais da nobreza e suas exclusão dos cargos melhores no exército, serviço público e Igreja. Desde a ascensão de Luís XVI ao poder em 1774, vários ministros das finanças tentaram em vão efetuar reformas tributárias e a dívida do governo continuou crescendo em ritmo constante. Então, as guerras na América pesaram ainda mais sobre o tesouro. Em 1787 o rei convocou uma reunião dos membros do alto clero e dos nobres (os “Notáveis”) para que fosse aprovado um programa de reforma que iria cobrar impostos sobre todas as terras e envolver a colaboração dos contribuintes em assembléias a serem eleitas sem distinção de classe social. Essa tentativa fracassou e depois de meses de altercações, em maio de 1789 decidiu-se convocar o Estatamento Geral da França, um grupo que não se reunia desde 1615. Os nobres insistiam que uma mudança tributária de tal magnitude só poderia ser feita com o

consentimento de toda a nação através de uma assembléia de seus representantes. Eles cometeram um erro grave ao pensar que poderiam controlar o Estatamento Geral e o que resultou foi uma tempestade revolucionária que destruiu as instituições dominantes da França. Essa assembléia não representava o “povo”, mas sim as “ordens” da sociedade francesa. Porém o terceiro estado, com o apoio de alguns clérigos e uns poucos nobres, assumiu a liderança e a transformou numa Assembléia Nacional que escreveu uma Constituição e fez do Estado um governo baseado nos princípios do Iluminismo. Mas eles precisavam competir com as grandes massas de Paris que exigiam comida e um sistema econômico mais justo e que foram responsáveis pelo grande ato simbólico de revolução, a invasão à Bastilha, o antigo forte usado como prisão, em 14 de julho de 1789. Em seguida a violência espalhou-se para o campo quando camponeses inflamados pelo incidente na Bastilha começaram a tomar terras, destruir cercas e queimar mansões senhoriais. A Assembléia Nacional reagiu à situação desmanchando o que restava do sistema senhorial, abolindo as diferenças legais entre classes e adotando a Declaração dos Direitos do Homem e Cidadão, um documento abrangente sobre direitos humanos. Durante os dois anos seguintes, a assembléia transformou a nação

em monarquia constitucional e atacou o problema financeiro através do confisco e venda de terras da Igreja e propriedades dos nobres. Enquanto isso, o rei havia perdido todo seu poder. Muitos dos nobres que fugiram para o campo, os chamados émigrés, voltaram-se para potências internacionais em busca de ajuda a fim de reconquistar os privilégios e propriedades que haviam perdido. Ao mesmo tempo, um grupo dentro da assembléia queria exportar a revolução para outros países. O resultado foi a explosão de uma guerra com a Áustria e a Prússia em abril de 1792. Isso deu aos radicais (os jacobinos) o impulso necessário para derrubar a monarquia constitucional e em setembro foi proclamada uma república. Uma Convenção Nacional foi eleita para escrever uma nova constituição e sua ala extremista garantiu a execução de Luís XVI em janeiro de 1793. Enquanto isso, os exércitos franceses haviam aderido à ofensiva e a convenção tinha declarado que iria ajudar o povo de toda parte a “recuperar sua liberdade”. Inglaterra, Espanha e Holanda juntaram-se então à coalizão contra a França, mas um exército conscrito, inspirado pelo amor à pátria e liderado por jovens e competentes comandantes conseguiu enfrentar o desafio estrangeiro. Além de suprimentos para o exército, os líderes da república precisavam lidar com problemas internos — uma revolta entre os devotos católicos e camponeses monarquistas no oeste,

inflação e falta de comida. Para dirigir o governo foi criado um grupo chamado Comitê de Segurança Pública, cujo membro dominante era um jovem advogado, Maximilien Robespierre (1758-94). Discípulo de Rosseau, era o defensor “incorruptível” da democracia e um idealista fanático. Sob seu governo o comitê levou o povo a atos heróicos, conduziu a política externa, impôs racionamento e controle de preços e, de onde quer que viesse oposição, era esmagada sem piedade. Assim, foi lançado o “Terror”, um mecanismo que iria proteger a “República da Virtude” de seus inimigos. Porém, a grande maioria das quarenta mil pessoas que morreram no Terror não eram do primeiro e segundo estados, mas sim camponeses, trabalhadores e pequenos artesãos. Só 15 por cento das vítimas eram nobres ou clérigos. Madame Roland, uma republicana convicta que desentendeu-se com Robespierre fez uma das mais pungentes acusações ao idealismo revolucionário enquanto era colocada na guilhotina: “Ó Liberdade, quantos crimes são cometidos em teu nome!” Em seu ímpeto cruel de salvar a revolução conforme ele a havia imaginado, Robespierre foi alienando cada vez mais pessoas. Uma vez que os exércitos tinham saído vitoriosos, não havia mais necessidade do Terror, mas Robespierre executou até mesmo seus próprios simpatizantes. Ninguém parecia livre de

suspeitas e quando o governante denunciou aqueles delegados da Convenção Nacional que haviam se oposto a ele, os delegados temeram que seriam os próximos e ordenaram a prisão e execução de Robespierre. As tensões diminuíram rapidamente e as pessoas reagiram com entusiasmo diante do fim da República da Virtude. O ardor revolucionário se arrefeceu e os líderes da fase mais extremista perderam a credibilidade e muitos foram punidos, milhares de prisioneiros foram libertos, émigrés voltaram para casa e as igrejas reabriram suas portas. Porém, os burgueses asseguraram-se de que manteriam o controle sobre a França através de uma nova constituição adotada em 1795. Mas crescentes problemas econômicos, a guerra contínua e os inimigos tanto da direita quanto da esquerda ameaçaram o regime de tal forma que este tornou-se dependente dos militares, especialmente do jovem general Napoleão Bonaparte (1769-1821). Finalmente, em novembro de 1799 ele derrubou o governo e estabeleceu uma ditadura. Em 1804, proclamou-se imperador. O programa que implantou em seu país durante esse período mostrou-se bem mais duradouro que suas iniciativas imperiais e suas reformas legais, financeiras, educacionais e religiosas lançaram as bases para um Estado moderno. Napoleão foi o herói militar supremo da história francesa e

suas brilhantes campanhas da Itália em 1796 à Áustria em 1809 maravilharam o mundo. Ele reorganizou a Itália em repúblicassatélite e reinos e mais tarde anexou a maior parte ao seu império. Quando os dois papas da época lançaram objeções, foram levados para a França praticamente como prisioneiros (1799 e 1812). Na Alemanha, a anexação da margem esquerda do Reno em 1797 significou a extinção dos antigos Estados eclesiásticos — os arcebispados de Colônia, Mainz e Trier — e desencadeou a dissolução do Sacro Império Romano, que chegou formalmente ao fim em agosto de 1806. Em 1810 Napoleão já havia reorganizado a Europa numa vasta estrutura de territórios dependentes da França ou aliados a ela. Mas então foi longe demais em sua tentativa fracassada de derrotar a Grã-Bretanha através de uma guerra econômica (o Sistema Continental), num conflito de guerrilha sem vencedores na Espanha e na desastrosa campanha contra a Rússia em 1812. Seu império entrou em colapso absoluto em 1813-14 e depois de uma rápida virada ele foi exilado numa ilha solitária no Atlântico Sul.

A revolução e a Igreja Em 1789, entre os membros do baixo clero e até mesmo por parte de alguns do alto clero, havia um forte apoio à reforma. A maioria concordava que os mosteiros eram instituições inúteis e

que as finanças da Igreja precisavam ser repensadas. Assim, muitos representantes clericais votaram junto com o terceiro estado durante os primeiros meses da Assembléia Nacional. Não houve grande oposição quando em agosto a assembléia aboliu o dízimo (o principal imposto da Igreja) e os direitos senhoriais sobre as propriedades da Igreja e quando em novembro confiscou e vendeu terras da Igreja. A fim de ter bases legais para essas medidas e garantir a subordinação da Igreja ao Estado, em 12 de julho de 1790 a assembléia adotou a Constituição Civil do Clero. Esta oferecia a “racionalização” da estrutura da Igreja e de seu pessoal. Estipulava que os clérigos receberiam salário de funcionários públicos e eqüitativos, tendo em vista que o pagamento dos bispos foi reduzido drasticamente enquanto o dos sacerdotes paroquiais recebeu um considerável aumento. Também dispensou um grande número de funcionários da Igreja que, aparentemente, não exerciam nenhuma função útil a menos que estes concordassem em ser empregados em tarefas “úteis” como professores ou sacerdotes de paróquias. O resultado foi a eliminação de aproximadamente 60 por cento do quadro da Igreja em 1789. A Constituição Civil também reduziu o número de dioceses e as fez contíguas aos novos distritos administrativos da França, os departamentos. O clero deveria ser escolhido através da eleição

por leigos: bispos pelos eleitores do departamento e sacerdotes pelos eleitores do distrito, os mesmos que votavam para deputados no poder legislativo. O papa ainda era reconhecido como sendo teoricamente o cabeça da Igreja mas não poderia mais receber dinheiro de impostos do clero francês ou confirmar a nomeação de bispos. A Assembléia também exigiu que todo o clero fizesse um juramento de lealdade à Constituição civil. Em 1791, o papa Pio VI denunciou a Constituição declarando-a separatista e herética e suspendeu todos os sacerdotes e prelados que haviam feito o juramento de lealdade. A grande quantidade de clérigos “refratários” ou “obstinados”, isto é, daqueles que se recusavam a fazer o juramento, levou a uma clara divisão da Igreja e ao aparecimento do “anticlericalismo” pela primeira vez. Este pode ser definido como a oposição a qualquer forma dogmática ou institucional de Cristianismo pois a ordem estabelecida nos assuntos da Igreja é vista como reacionária e uma defesa da tirania política. O movimento viria a ser uma importante força na Europa do século 19. À medida em que aumentava o anticlericalismo na Assembléia, também fortalecia-se a oposição ao clero que recusava-se a jurar para a Igreja “constitucional”. Logo, eles foram vistos como contra-revolucionários, especialmente depois do início da guerra com a Áustria e a Prússia. Muitos achavam que

Pio VI era o incentivador por trás da coalizão do clero e os que não juravam eram então suspeitos de traição. Entre trinta e quarenta mil sacerdotes que não juraram imigraram ou foram exilados, enquanto muitos outros foram presos e entre dois e cinco mil foram mortos. Um método de execução era a “descristianização por imersão” no qual os clérigos eram amarrados juntos em pares e lançados no rio Loire. A campanha de descristianização chegou a proporções absurdas com a formação de seitas pagãs para homenagear mártires revolucionários como Jean Paul Marat. Outro exemplo foi a comemoração da nova Constituição na Bastilha em agosto de 1793. Um membro do Comitê de Segurança Pública colocou-se em pé o lado de uma estátua da “Natureza” e declarou: Soberana das nações, selvagens ou civilizadas — ó Natureza — este grande povo é digno de ti. Ele é livre. Depois de atravessar tantos séculos de erros e servidão, era preciso que ele voltasse à simplicidade dos teus caminhos para redescobrir a igualdade e a liberdade.2

O Dia da Bastilha foi comemorado por toda a França de modo religioso. As pessoas reuniram-se ao redor de um altar ao ar livre e fizeram um juramento à nação — la Patrie. Na República da Virtude o “Culto à Razão” suplantou o Cristianismo. Várias igrejas foram transformadas em “Templos da

Razão”, heróis revolucionários como Voltaire e Rousseau tomaram o lugar da Virgem e dos santos e conceitos abstratos como lei, verdade, liberdade e natureza passaram a ser adorados. No dia 10 de novembro de 1793, realizou-se um “Festival da Razão” na Catedral de Notre Dame, em Paris, durante o qual a estátua da Virgem foi substituída por uma atriz para a qual foram entoados hinos. Num culto em Beauvais, a Razão, a liberdade e a natureza foram adoradas como três deusas. O calendário cristão foi descartado e substituído por outro. O ano 1 começava no dia de fundação da república, 22 de setembro de 1792, uma semana tinha dez dias e tanto os domingos como os feriados foram eliminados. Os doze meses do ano receberam nomes que representavam sua estação e um período de festas no final do ano era usado para comemorar a revolução. Até mesmo a própria Igreja “constitucional” foi perseguida e os sacerdotes não recebiam mais salário ou eram proibidos de lecionar em escolas públicas. Robespierre, um deísta bem como um político, logo viu que o Culto à Razão estava deixando muitos de fora e decidiu dar fim à descristianização. O reconhecimento do “Ser Supremo” havia feito da França a República da Virtude, era preciso dar crédito a quem o merecia. Em junho de 1794 ele introduziu o “Culto ao Ser Supremo”, uma religião deísta natural que reconhecia a existência

de Deus e a imortalidade da alma. Seus rituais eram, em essência, uma paródia da liturgia católica. A religião provou ser um fracasso tão grande quando a adesão das massas à República da Virtude e, incitados pelo clero que não havia jurado, os camponeses no oeste de França (o Vendée), entraram em revolta aberta contra o regime, situação que durou até o final da década. A maioria dos historiadores reconhece que a Constituição Civil do Clero foi o maior fiasco tático da Revolução Francesa e certamente seu impacto a longo prazo foi extremamente infeliz. Ela não apenas agitou o fanatismo religioso e enfraqueceu a revolução, como também garantiu que no próximo século a Igreja Católica seria hostil ao Liberalismo e à democracia em todo lugar, enquanto democratas e liberais acabariam tornando-se militantes anticlericais. A Igreja francesa, que durante muito tempo gozou de considerável independência, foi colocada nas mãos do papa no processo de recentralização que ocorreria nas próximas décadas. Quando Napoleão tomou o poder, ele reconheceu que o Estado precisava de uma religião que fizesse a gente comum manter-se em conformidade com a sociedade. Apesar de afirmar que havia perdido a fé aos 11 anos de idade e de ser um racionalista puro do século 18, ele concluiu que o patriotismo funcionava melhor quando era reforçado pela religião e que as pessoas precisavam dessa autoridade. Como declarou com

tranqüilidade:

Tenho para mim... que fora dos preceitos e doutrinas do Evangelho não há sociedade que possa desabrochar e nem qualquer verdadeira civilização. O que leva um homem pobre a não se admirar de que dez chaminés soltam fumaça em meu castelo enquanto ele morre de frio — que tenho dez conjuntos de trajes em meu armário enquanto ele está nu — que à minha mesa, em cada refeição há o suficiente para alimentar uma família por uma semana? É a religião que diz a ele que numa outra vida serei igual a ele e que, de fato, ele tem mais chance do que eu de ser feliz lá.3

Ele também reconheceu que o clero refratário era a força por trás da contra-revolução e decidiu que a saída para o impasse da década anterior era restaurar a Igreja. Assim, voltou-se para o papa Pio VII e firmou a Concordata de 1801. O governo reconhecia que o Catolicismo era a "a religião da grande maioria" dos cidadãos franceses, dava ao papa o direito de participar da nomeação de bispos e permitia o culto público. O Vaticano aceitou perder terras da Igreja (incluindo seu próprio território em Avignon que foi tomado pelos franceses em 1791) e o fim dos impostos. Daquele momento em diante, o governo pagaria o salário dos clérigos. Com efeito, o papa reconheceu que o Estado francês e a paz civil haviam sido restabelecidos, mas Napoleão descartou qualquer idéia de uma Igreja oficial ao colocar também ministros protestantes na folha de pagamento do governo. Pio foi convidado

para a coroação real em Paris em 1804, mas não recebeu nenhuma participação na cerimônia. Por todo o seu império, Napoleão efetuou as reformas religiosas da Revolução Francesa. Em todo o lugar a Igreja perdeu sua posição de autoridade pública ao lado do Estado, seus tribunais e poderes de tributação foram eliminados e grande parte de suas terras foi confiscada. Protestantes, judeus e descrentes receberam os mesmos direitos civis que os católicos. Por outro lado, as reformas na verdade fortaleceram o papado. A constrangedora instituição da Inquisição espanhola havia sido abolida, os principados alemães que afirmavam seu próprio poder já não existiam mais e as antigas monarquias com suas fortes igrejas nacionais, como a Áustria, Espanha, Portugal e França — que antes haviam exercido tanta influências sobre os assuntos papais — haviam sido enfraquecidas. Com a restauração dos jesuítas em 1814, o caminho estava aberto para um ressurgimento da autoridade papal.

Uma revolução espiritual na Grã-Bretanha Enquanto a revolução estava em voga no continente, o Parlamento britânico havia alcançado a supremacia política que antes havia pertencido aos monarcas absolutos. Mas esta não era nem representativa e nem democrática, tendo em vista que o

sufrágio era extremamente desigual e aqueles que desejavam ser eleitos muitas vezes tinham que comprar os votos. Suas tentativas de trazer uma centralização geral do império fracassaram na América mas a Escócia e a Irlanda ficaram sujeitas a seu controle completo. Os escoceses das regiões montanhosas da Escócia foram subjugados em 1740 enquanto que os escoceses presbiterianos que viviam no norte da Irlanda e, de um modo geral eram contra os ingleses, foram dominados depois da Revolução Americana. Estes últimos chegaram a unir forças com a maioria católica na tentativa de livrar a ilha do governo inglês, mas sua revolta em 1798 foi reprimida. Em 1801 a Irlanda uniu-se formalmente com a Grã-Bretanha em um único reino. Melhoras na agricultura durante o século haviam contribuído para uma pequena ascensão do padrão de vida inglês, enquanto a burguesia que continuava a crescer dava à classe média baixa oportunidades de melhora. As pressões por uma reforma no sistema político foram crescendo nos anos que seguiram 1763, resultando numa conturbação social considerável. Uma voz de destaque foi o eminente teorista político Edmund Burke (1729-97) que mostrou o fracasso da Grã-Bretanha na América e argumentou pela eliminação dos abusos no sistema parlamentar. A Revolução Francesa teve sérias repercussões na Grã-

Bretanha e muitos queriam ver algo parecido acontecendo em seu país. O tratado Rights of Men [Direitos do Homem] (1791) de Tom Paine — que apelou para os britânicos pedindo um golpe sobre a monarquia e a instituição de uma república — foi de grande influência. Joseph Priestley (1733-1804), o famoso cientista e líder unitário na Grã-Bretanha defendeu a revolução em um tratado que invocava bastante hostilidade. Porém, a obra Reflections on the Revolution in France [Reflexões sobre a Revolução na França] (1790) de Edmund Burke, previu a anarquia e ditadura e pediu aos ingleses que aceitassem a lenta adaptação de suas próprias liberdades. Condenou uma filosofia política baseada em princípios abstratos de certo e errado e insistiu que cada povo deve moldar sua própria história nacional e circunstâncias, mesmo que os sistemas políticos resultantes sejam diferentes. Em 1792 a violência incontida na França pareceu mostrar o que Burke havia dito e desacreditar a revolução como aurora de uma nova era para a liberdade política. A situação na França também enfraqueceu o movimento de reforma parlamentar. Mas havia uma outra possível força de mudança na GrãBretanha — a religião evangélica. O Metodismo havia se propagado extensivamente entre as classes mais baixas, especialmente nas novas cidades industriais do norte. Isso criou tensões em relação à Igreja da Inglaterra e levou a uma inexorável

separação. O abismo cresceu ainda mais pelo fato de Wesley usar pregadores não-ordenados e ministros itinerantes, por causa de criação de lugares de culto separados onde era servida a Ceia do Senhor, pela formação de uma Igreja organizada fora da estrutura anglicana e por causa da fundação de uma obra separada na América. Por fim, a separação formal aconteceu em 1795, quatro anos depois da morte de seu fundador. Os reavivamentos metodistas tiveram um impacto decisivo sobre a Igreja oficial e, em menor escala, sobre as igrejas dissidentes. O termo “evangélico” logo começou a ser usado para os anglicanos que apoiavam o reavivamento e que constituíam um “partido” dentro da Igreja. Eles preferiam trabalhar dentro da estrutura de paróquias da Igreja e resistiam firmemente à idéia de usar pregadores não-ordenados. Não aprovavam ainda algumas práticas associadas ao Metodismo, como o entusiasmo emotivo, as pregações itinerantes, a fundação de capelas e as doutrinas perfeccionistas. Como George Whitefield, sua tendência era mais para o Calvinismo no que dizia respeito ao posicionamento doutrinário. Por estarem baseados nas paróquias e dependerem do apoio da pequena nobreza local, eles realizavam seu ministério de modo a atrair os níveis sócio-econômicos mais elevados e deixar de lado as classes mais pobres que os metodistas eram tão eficientes em alcançar. Além disso, enquanto Wesley tinha uma

alta consideração pelas igrejas do Novo Testamento, os evangélicos voltavam-se mais para a Igreja da Reforma e a tradição puritana. O reavivamento evangélico desenvolveu-se quase que de modo simultâneo em vários lugares entre as décadas de 1740 e 1760 como resultado de conversões individuais. Alguns encontraram a Cristo pela leitura de obras devocionais e outros através de contatos pessoais. À medida em que indivíduos do clero foram se convertendo, começaram a evangelizar suas próprias paróquias e outros clérigos das redondezas e não tardou para que pequenos grupos se formassem ao seu redor. Entre os primeiros evangélicos mais conhecidos estavam John Fletcher (1729-85); o escritor de hinos (Rock of Ages [Rocha eterna]) Augustus Toplady (1740-78); Samuel Walker (1714-61) e Joseph Milner (1744-97), um historiador da Igreja amador que era diretor de uma escola de gramática onde William Wilberforce estudou. Na região de Londres encontravam-se figuras importantes como William Romaine (1714-95), Henry Venn (1724-97) e, sobretudo, John Newton (1725-1807). Filho de um capitão de navio da marinha mercante, Newton foi forçado a entrar para a Marinha Real quando ainda era muito jovem. Ele desertou de seu navio na África ocidental onde acabou tornando-se servo de um comerciante de escravos. Durante dois

anos teve uma vida miserável mas foi finalmente libertado e embarcou num navio para a Inglaterra. Durante a viagem o navio em que Newton estava passou por uma tempestade violenta. Diante da possibilidade iminente de morte, ele voltou-se para Cristo pela fé. Então, trabalhou durante quatro anos como capitão de um navio de escravos, o que deu a ele um conhecimento de primeira mão sobre esse tráfico detestável, mas em 1755 sua consciência não pode mais suportar e ele deixou seu cargo. Depois de um período de estudo particular ele foi ordenado clérigo anglicano e serviu durante quinze anos em Olney em Buckinghamshire onde ele e o poeta William Cowper (1731-1800) produziram a famosa coleção dos hinos de “Olney”. Dentre suas composições estavam God Moves in a Mysterious Way [Deus Move-se de Maneira Misteriosa], There Is a Fountain Filled with Blood [Há uma fonte cheia de sangue] de Cowper e Amazing Grace [A Graça Eterna], How Sweet the Name of Jesus Sounds [Quão Doce é o Nome de Jesus], Glorious Things of Thee Are Spoken [Coisas Gloriosas São Ditas sobre Ti], de Newton. Em 1779 ele mudou-se para Londres onde continuou a ser uma importante figura na campanha contra o tráfico de escravos e um conselheiro espiritual para os evangélicos. Isaac Milner (1750-1820), irmão de Joseph e Charles Simeon (1759-1836) fez de Cambridge o centro do evangelicalismo.

Milner tornou-se parte do Queen‟s College em 1776 e seu presidente em 1788 e foi durante sua administração que essa faculdade veio a ser o centro dos evangélicos na universidade. Em 1785 Milner acompanhou o jovem Wilberforce numa viagem pela a Europa e através de suas conversas Wilberforce se converteu. Simeon foi nomeado vigário da Igreja da Holy Trinity em 1728 e ofereceu orientação espiritual para toda uma geração de pregadores evangélicos. Provavelmente mais do que qualquer outra pessoa do seu tempo, ele ensinou os evangélicos a agarrarem-se firmemente à Igreja da Inglaterra e a resistir ao latitudinarianismo bem como o entusiasmo indiscriminado e o separatismo. O grupo Clapham foi, de longe, a mais importante expressão do evangelicalismo anglicano na esfera da ação social. Essa “irmandade de políticos cristãos”, que na verdade era um grupo diversificado de leigos que tinha como centro a Igreja de Clapham, um subúrbio de Londres e cujo pastor era John Venn (1759-1813), o filho de Henry. Eles eram evangélicos de segunda geração — ricos, chegados àqueles que tinham poder político, bem informados sobre as questões com as quais lidavam e adeptos das técnicas de persuasão política. Seguindo a liderança de Wesley bem como dos primeiros evangélicos anglicanos, eles compreendiam a necessidade de organização para que seu trabalho

fosse mais eficaz. Além disso, eram pessoas de profundas convicções que enfatizavam tanto a conversão quanto a aplicação de sua fé indo de encontro às necessidades da sociedade. Esse grupo uniu-se numa intimidade e solidariedade incríveis, quase como uma grande família. Eles se visitavam e moravam um na casa do outro, tanto em Clapham, como na própria Londres e no campo. Ficaram conhecidos como “os Santos” por causa de seu fervor religioso e desejo de estabelecer a retidão no país. Vários comentaristas observaram que eles planejavam e trabalhavam como um comitê que estava sempre reunido em “concílios de gabinete” em suas residências para discutir o que precisava ser consertado e estratégias que poderiam usar para alcançar seus objetivos. As origens do grupo Clapham podem ser encontradas no relacionamento entre a família Thornton e William Wilberforce (1759-1833). O abastado comerciante John Thornton (1720-90) e seu filho Henry (1760-1815), um proeminente banqueiro, eram ambos evangélicos. Henry era também um membro do Parlamento e em 1792 ele não apenas foi morar em Clapham mas também providenciou (através de Charles Simeon) para que John Venn fosse nomeado para a Igreja paroquial. A casa de Thornton tornouse o ponto de encontro do grupo. A SEITA CLAPHAM

Esse nome foi cunhado na década de 1840 para designar um grupo de cristãos, a maioria deles anglicanos evangélicos, que residiam no subúrbio londrino de Clapham ou freqüentemente estavam por lá por volta de 1792-1815. Eram pessoas de elevado nível social que se uniam para promover reforma social e a propagação do evangelho. Pessoas que viveram am Clapham ao menos parte desse tempo: Charles Simeon (1759-1836), vigário da Holy Trinity Church, Cambridge, e mentor de toda essa geração de evangélicos. John Venn (1759-1813), reitor da igreja de Clapham desde 1793 e líder espiritual do grupo.. Henry Thornton (1760-1815), banqueiro proeminente e membro do Parlamento que se mudou para Clapham em 1792 e cuja casa era um ponto de encontro do grupo. William Wilberforce (1759-1833), membro do Parlamento e líder na luta contra o tráfico de escravos e contra a corrupção; primo de Thornton. James Stephen (1758-1832), advogado nas Índias Ocidentais e depois em Londres, também membro do Parlamento e casado com a irmã de Wilberforce. Zachary Macaulay (1768-1838), supervisor de plantações nas Índias Ocidentais, depois liderou a colonização de Serra Leoa. Charles Grant (1746-1823), oficial da Companhia das Índias Orientais e a partir de 1794 diretor influente do Conselho das Índias Orientais em Londres, membro do Parlamento. John Shore, Lord (Baron) Teignmouth (1751-1834), governador geral da Companhia das Índias Orientais (1793-97). Thomas Gisborne (1758-1846), clérigo em Yoxall, Staffordshire, conselheiro de Wilberforce para o assunto escravidão, passava tempo livre em Clapham. Thomas Babington (1758-1837), de Rothley Temple, Leiscestershire, membro do Parlamento e cunhado de Gisborne e de Macaulay. William Smith (1756-1835), membro do Parlamento. Charles Elliott (1751-1832), cunhado de John Venn. Edward James Eliot (1758-1797), cunhado do Primeiro-ministro Pitt, era governador na Índia mas morreu de forma inesperada. Hannah More (1745-1833), escritora e reformadora educacional em Somerset, passou muito tempo na companhia do grupo de Clapham. Granville Sharp (1735-1813), combateu a escravidão e garantiu a decisão do tribunal em 1772 tornando ilegal a escravidão na Grã-Bretanha. Thomas Clarkson (1760-1846), figura proeminente no movimento abolicionista que reuniu os dados sobre comércio de escravos e os colocou à disposição de Wilberforce. Josiah Pratt (1768-1844), primeiro editor do Christian Observer, em 1802; um fundador da CMS e da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira.

CAUSAS QUE ELES ESPOSARAM Abolição do tráfico de escravos - Formação de sociedades de Bíblias e tratados para espalhar o evangelho - Missões estrangeiras e abertura da Índia para o trabalho missionário - Escolas dominicais e educação fundamental - Assistência aos pobres e melhoria da sorte das classes trabalhadoras - Proibição da imoralidade pública, de esportes brutais e de embriaguês - Reforma penal e das prisões - Observância do sabbath

Wilberforce, um primo de Thornton, foi eleito para o Parlamento aos 21 anos de idade e logo tornou-se uma figura conhecida na sociedade londrina. Como mencionamos anteriormente, ele converteu-se enquanto faziam um “tour” pela Europa e durante algum tempo considerou a possibilidade de deixar a vida pública e dedicar-se inteiramente ao serviço da Igreja. Porém o Primeiro Ministro William Pitt, que desejava mantê-lo como um aliado dentro do Parlamento, o persuadiu de que o envolvimento ativo nos assuntos públicos era parte dos deveres cristãos do indivíduo. Em 1768 ele declarou sua decisão de “viver para a glória de Deus e para o bem de suas criaturas” e no ano seguinte escreveu que “o Deus Todo-Poderoso colocou diante de mim dois grandes alvos, a abolição do comércio de escravos e a reforma dos costumes”.4 Para alcançar este último, Wilberforce usou sua influência a fim de garantir uma Proclamação Real do rei George III contra o Vício e a Imoralidade e formou a “Sociedade da Proclamação” a

fim de colocá-la em prática. Esta incluía a repressão de literatura “blasfema”, contenção do tráfico de bebidas alcoólicas e a imposição da observância do domingo. Então, voltou sua atenção para o comércio de escravos e com a ajuda de seus aliados em Clapham continuou batendo nessa tecla diante de um Parlamento relutante até que finalmente, em 1807 foi aprovado o projeto de lei que abolia o comércio realizado por cidadão britânicos. (Em 1833 a escravidão foi abolida em todo o império.) Outros trabalharam para abrir missões na Índia, fundaram sociedades missionárias, bíblicas e de divulgação e deram dinheiro para a construção de igrejas e sustento dos clérigos. Dentre as figuras de Clapham, além daqueles já mencionados, estavam os militantes do antiescravagismo Granville Sharp e Thomas Clarkson, dois altos executivos na Companhia das Índias Orientais, vários advogados e comerciantes, alguns membros do Parlamento e a escritora Hannah More. Considerada pelos contemporâneos com a principal mulher da literatura, More (1745-1833) deixou o brilho da sociedade e a fama literária para dedicar-se a uma vida de iniciativas beneficentes. Newton e Wilberforce a encorajaram em seus esforços para abrir escolas para crianças pobres e adultos em Cheddar, nos montes Mendip e grande parte do financiamento para isso foi proveniente de pessoas importantes de Clapham. Ela

também usou seus dotes literários para escrever Cheap Repository Tracts [Panfletos Baratos de Repositório], sendo que cento e quatorze deles foram publicados entre 1792 e 1798 e tiveram uma circulação de mais de dois milhões de cópias. Tinham por objetivo ser um material de leitura de qualidade para as classes trabalhadores como uma reação às tendências revolucionárias e a propaganda radical.

Algumas considerações históricas Em sua obra clássica A Inglaterra em 1815 (1913), o historiador francês Elie Halévy apresentou a idéia de que a GrãBretanha tinha sido poupada de uma revolução como a que abalou a França, uma que as contradições de seu sistema econômico e político podia facilmente ter originado, por causa da influência estabilizadora do Metodismo e da religião evangélica. Argumentou que, de 1739 em diante, crises econômicas e agitações nas classes trabalhadoras foram dissipadas pelas pregações evangélicas e o reavivamento. Tais expressões de entusiasmo religioso eram a forma de manifestação popular menos propensas a perturbar a ordem social baseada na desigualdade e riqueza. Argumentos parecidos surgiram durante todo o século 19 e a realização de Halévy foi popularizá-los. Alguns escritores,

especialmente os socialistas e marxistas, tem usado isso para desacreditar o evangelicalismo, taxando-o de ópio das massas. Outros como Ford K. Brown na obra Fathers of the Victorians [Pais dos Vitorianos] (1961), mostram o “controle social” praticado pelos evangélicos como, por exemplo, o programa da Sociedade de Proclamação e o conceito de “reforma de costumes” de Wilberforce. O fato paradoxal de que ambos eram conservadores e inovadores políticos causa perplexidade nos comentaristas desde aquela época até hoje. A questão com a qual os historiadores lutam é do quanto o evangelicalismo foi uma resposta genuinamente desinteressada ao desafio espiritual da época e até que ponto foi a racionalização de uma política para aumentar o poder das classes dominantes. Qual era o assunto que mais tocava a sensibilidade de Wilberforce — a necessidade de salvar almas da perdição eterna ou o medo do que poderia acontecer se as massas sucumbissem ao jacobinismo? O radical William Cobbett definiu a questão com sarcasmo ao dizer que a missão dos “Santos” era de “ensinar o povo a morrer de fome sem fazer barulho” e de impedir que “o pobre cortasse a garganta do rico”. Em resposta a isso, alguns mostram que os evangélicos também conclamaram um número considerável de membros das classes mais altas a uma vida de responsabilidade e de que deram continuidade aos ensinamentos tradicionais da Igreja

da Inglaterra sobre a preocupação com os pobres ao mesmo tempo que acrescentaram o elemento do zelo. Num balanço geral, podese dizer que as realizações dos reformadores evangélicos foram de proporções heróicas e servem como modelo para os cristãos de hoje. Porém, seu fracasso em ver o quanto suas ações estavam presas à cultura é o que tira o brilho do significado de seu trabalho como um todo. Por outro lado, Bernard Semmel (The Methodist Revolution [A Revolução Metodista], 1979) afirma que o Metodismo (e por conseguinte o evangelicalismo anglicano) era um movimento “liberal” e “progressista” que incentivou a modernização na GrãBretanha. Foi a versão inglesa da “Revolução Democrática” e evitou um equivalente violento da Revolução Francesa ao adiantar-se quanto àquilo que havia sido tão atraente nesta última. Os pregadores metodistas proclamavam uma doutrina libertadora e igualitária e davam a seus seguidores um senso de fraternidade ao integrá-los em grupos e sociedades. O pedido incessante de Wesley por auto-disciplina e ordem política foi articulado simultaneamente com um chamado à revolução espiritual. Ao pregar a razão, a tolerância e a liberdade civil e religiosa, vendo os seres humanos como sendo bons e capazes de alcançar a perfeição nesta vida e ao urgir o povo a tomar o controle de sua própria vida, a revolução metodista preparou o caminho para a Inglaterra tornar-

se uma democracia liberal. Ainda nesse sentido, na obra Evangelicalism in Modern Britain [Evangelicalismo na Grã-Bretanha Moderna] (1989), David Bebbington apontou para uma outra dimensão importante do movimento, a saber, sua afinidade com o Iluminismo. Contrário à grande maioria de escritores cristãos que desprezaram o Iluminismo sem ao menos fazer uma análise crítica, Bebbington mostrou que os evangélicos adotaram sua ênfase na epistemologia (a ciência do conhecimento) e afirmaram que Deus havia dado a eles conhecimento inerente sobre Ele, que eles deveriam passar adiante. Também enfatizaram a Razão, pois como Wesley escreveu em 1768, “Renunciar à Razão é renunciar a Religião, pois Religião e Razão andam de mãos dadas e toda religião irracional é uma religião falsa”.5 Além disso, apreciavam profundamente a Ciência e o método científico, como também enfatizavam, a “religião experimental”. Havia outras características do Iluminismo refletidas na expressão evangélica. Uma delas era o forte senso de otimismo que fluía da crença na Providência divina, a idéia de que Deus cuidava do mundo e os capacitaria a fazer dele um lugar melhor. Também pensavam que Deus queria que todas as pessoas tivessem felicidade nesta vida. A ênfase iluminista na moderação podia ser vista nas ações de John Wesley e de outros que acautelavam sobre os excessos de

“entusiasmo”. A ênfase dos evangélicos sobre o pragmatismo refletia-se em coisas como pregações ao ar livre, templos construídos de forma funcional e ministros leigos. Por fim, eles concentravam-se nas questões éticas e morais e eram profundamente comprometidos com a Reforma.

A era revolucionária viu tanto a extinção das antigas estruturas políticas e religiosas como a criação de novas estruturas. O Protestantismo e o Catolicismo foram profundamente afetados pelo redemoinho político. O primeiro foi revitalizado e o segundo foi purificado de seus antigos costumes. Essas mudanças abriram caminho para o reavivamento de 1815. Porém, nesse período estavam surgindo novas ideologias que iriam ser um desafio ainda mais sério para Igreja nas décadas seguintes.

Capítulo 18 - A Igreja numa era de ideologia Tanto o Iluminismo quanto a Revolução Francesa afetaram grandemente o desenvolvimento do Cristianismo no século 19. Nesse período encontravam-se as raízes de três importantes ideologias pós-cristãs dos tempos modernos — Nacionalismo, Individualismo (Liberalismo) e Socialismo marxista (Comunismo). Quando a religião tradicional perdeu o controle da

comunidade intelectual “esclarecida” e mais tarde também das massas, essas novas crenças tomaram o seu lugar. No começo do século 20 elas já haviam assumido o caráter de fé religiosa, no sentido de que faziam exigências extremas à pessoa e possuíam seus próprios símbolos sagrados, cerimônias, dogmas, escritos inspirados, santos e líderes carismáticos. O Nacionalismo em particular e o Individualismo liberal em menor grau, tornaram-se tão ligados ao Cristianismo que poucos crentes podiam distinguilos.

Transições internacionais depois de 1815 Com o colapso do império de Napoleão em 1814, os poderes vitoriosos — Grã-Bretanha, Áustria, Prússia e Rússia — concluíram uma aliança diplomática contra a França, colocaram de volta no poder o monarca Bourbon Luís XVIII e mandaram Napoleão para o exílio. No outono, encontraram-se em Viena e redesenharam o mapa da Europa a fim de conservar o equilíbrio do poder e conter a França. Isso incluiu transferência de territórios, restauração de governantes depostos e uma volta da Itália e Alemanha à sua condição anterior de divisão, com vários Estados situados em seu solo e com a Áustria exercendo forte influência sobre seus assuntos políticos. Napoleão reapareceu na França na primavera de 1815, mas a coalizão tratou dele com o

golpe final na batalha de Waterloo. Os aliados fizeram um novo tratado com Luís XVIII e mais dois acordos de futura cooperação — a Sagrada Aliança e a Quádrupla Aliança. Esta última oferecia um mecanismo através do qual os aliados se encontrariam de tempos em tempos para tratar de assuntos que afetassem a paz da Europa. Quatro desses “congressos” aconteceram entre 1818 e 1822, mas a aliança caiu em desuso por causa das diferenças entre os mesmos no tocante à revolta grega contra o governo turco e as lutas por liberdade na América Latina. Ao mesmo tempo, regimes conservadores nos principais países procuravam reprimir todos os movimentos no sentido da democracia liberal. Uma crescente onda de revolução em 1830 acabou com alguns dos regimes reacionários, especialmente na França. A violência na Grã-Bretanha só foi impedida pelas reformas parlamentares de 1822 que estendiam o poder de voto a uma classe média cada vez maior e faziam desta uma aliada da ordem estabelecida. Na Rússia, porém, um movimento liberal foi eliminado e o mesmo aconteceu com uma insurreição na Polônia seis anos mais tarde. Então, em 1848-49, uma segunda onda de revoluções democráticas atingiu com impacto muito maior. A monarquia na França foi substituída pela república, os governantes da Prússia e da Áustria foram forçados a conceder constituições e,

ao que parecia, a Alemanha e a Itália poderiam ser unidas. Mas em dois anos todos os movimentos de democracia liberal haviam sido esmagados e o que se seguiu foi um período de sério “realismo”. Desse momento em diante, aqueles que desejavam mudanças políticas deixaram o idealismo liberal, a persuasão pacífica e o protesto popular e passaram a fazer uso do poder político e de meios “práticos” para alcançar seus objetivos. O cenário estava preparado para duas décadas de violência — a Guerra da Criméia (1853-56), um conflito sem propósito no qual a Rússia sofreu uma derrota humilhante nas mãos de uma coalizão ocidental; conflitos na Itália que trouxeram a unificação nacional em 1870; as três guerras instigadas pela Prússia que criaram o Império Alemão em 1871 e a sangrenta Guerra Civil nos Estados Unidos (1861-65) que garantiu a sobrevivência da união federal.

1831 Formad a Sociedade Evangélica de Genebra 1813

1815

1833

J.A. Neander

Fundada a escola da

Começa o Tractarianism

designado professor

Missão Basel

1799

1814

1825

1835

1850

Segundo Grande

Restabeleci

F.A.

Charles G.

J.C. Blumhardt abre

Despertamento nos

mento dos

Tholuck

Finney

um centro de

Estados Unidos

Jesuítas

começa a

evangelismo

ensinar em Halle 1750

1800

1850

1900

1755

1810

1813

1828

1853-1856

1861-1865

Frederick

Georg H.F.

Guerras de

Recusa da

Guerra da

Guerra Civil

Schiller

Hegel

Libertação

Lei do Teste

Criméia

Americana

1755

1814-15

1830

1848

1871

Johann

Congresso

Revoluções

Revolução

Unificação

Wolfgang

de Viena

de 1830

de 1848

da

von Goethe

Alemanha

Romantismo e Nacionalismo Enquanto esses acontecimentos políticos e militares cativavam a atenção do público, mudanças intelectuais significativas também estavam ocorrendo. Uma delas foi o Romantismo, um movimento na Arte, Literatura, Filosofia e Religião. Surgido na década de 1790 como uma reação ao Iluminismo, suas raízes encontravam-se no pensamento de escritores mais antigos como Rousseau e a escola de Tempestade e Tensão cujos principais representantes — Wolfgang von Goethe (1749-1832) e Friedrich von Schiller (1759-1805) — enfatizavam a turbulência do espírito humano. As obras de Goethe Götz von Berlichingen (1773) e Tristezas do Jovem Werther (1774) foram importantes trabalhos pré-românticos, enquanto Fausto, um poema dramático de duas partes escrito em seus anos de mais maturidade foi a grande obra de arte da literatura alemã. Na Grã-Bretanha entre as principais figuras do Romantismo estavam William

Woodsworth, Samuel Coleridge e Sir Walter Scott. Os românticos rejeitavam o Classicismo e o Racionalismo mas enfatizavam o emocionalismo, a sensualidade, fantasia e imaginação. A realidade não era encontrada no pensamento racional, mas sim através dos sentimentos, dos sentidos, da iluminação espiritual e do ouvir a voz interior. Consideravam todas as experiências como sendo subjetivas e enfatizavam a consciência própria, espontaneidade e originalidade. Um senso de mistério surgia do desejo interior daquilo que era desconhecido e ainda não havia sido experimentado. Devia-se permitir que cada personalidade se desdobrasse de acordo com seu próprio gênio e características individuais. Beleza, cor, aventura, o exótico e a vida no campo distinguiam as obras românticas artísticas e literárias e formas tradicionais ou pré-determinadas sofriam rejeição daqueles que eram diferentes, não-convencionais e novos. Havia também um profundo interesse pelo passado, especialmente a Idade Média e também pela mitologia e folclore nórdicos. Por fim, sua arte era visionária e até mesmo mística, pois como disse um poeta alemão, na visão romântica da vida “o mundo torna-se sonho e o sonho torna-se mundo”. O Romantismo contribuiu muito para o Nacionalismo moderno. Enquanto os philosophes do Iluminismo eram cosmopolitas em sua visão de mundo, os românticos voltaram-se

interiormente para suas próprias origens e tradições nacionais. Nos quatro volumes de Idéias sobre a Filosofia da História da Humanidade (1784-91) o pastor protestante Johann Gottfried Herder (1744-1803) afirmava que as classes instruídas da Alemanha, que dependiam demais do pensamento e costumes franceses, deveriam ao invés disso desenvolver sua cultura nativa. Argumentou que cada Volk (povo), isto é, um conjunto de pessoas que compartilham de uma língua comum, possuía um Geist (espírito ou gênio) singular e o Volkgeist (caráter nacional) deveria ser permitido surgir a seu próprio modo. A fim de ser autêntica, a cultura nacional tinha que surgir da vida do Volk — as pessoas comuns — e tirar delas suas inspiração. Os Völker eram uma característica natural da raça humana e sua diversidade havia sido criada pelo Todo-Poderoso. A teoria nacionalista de Herder era de natureza puramente racional — não havia interesse político — e o conceito de desenvolvimento nacional aplicava-se de modo semelhante a outros povos além dos alemães. Seguindo seus passos, vários escritores alemães exploraram sua lei, folclore e religião, mas depois de 1800 outros começaram a falar da superioridade cultural alemã. Numa série de palestras entre 1807 e 1808, o filósofo J. G. Fichte, pedia a regeneração moral do povo através da educação. As pessoas deveriam adquirir consciência de seu caráter nacional singular e aprender a amar sua terra natal. Um

indivíduo só podia alcançar a “liberdade” ao identificar-se com a personalidade de sua nação como um todo e os alemães tinham uma genialidade que não estava presente em outros povos. O mais importante filósofo da época, Georg W. F. Hegel (1770-1831), levou esse pensamento um passo adiante e enfatizou o Estado. Sua idéias estavam contidas num sistema vasto e complexo que é de difícil compreensão mas exerceram enorme influência. Em reação a Kant, cuja filosofia crítica despedaçou o mundo do pensamento, Hegel via o universo como um grande todo. Para ele a realidade era a “Mente Absoluta” ou “Espírito do Mundo” que revelava-se na Natureza e na História. A mente de cada pessoa é um aspecto do Espírito do Mundo e a atividade intelectual é um fase do próprio Absoluto. Para explicar como isso ocorria, Hegel lançou mão de uma metodologia de raciocínio conhecida como dialética. Nessa abordagem, uma determinada idéia, tema ou “tese” dá origem ou é contrária ao seu oposto ou contradição — a “antítese”. Desse conflito surge uma idéia ou “síntese” que é ao mesmo tempo nova e superior em relação à sua antecessora. Esse desenvolvimento, o qual ele chamou de “realização própria da Idéia Absoluta”, ocorria na Natureza, Ciência e no processo histórico. A História muda através do conflito de forças no reino das idéias puras e o Estado era uma dessas idéias. As três principais fases da história do

Estado foram a asiática, caracterizada pela monarquia absolutista; a clássica, marcada pela liberdade individual e por último a germânica que era uma síntese de liberdade no contexto do Estado todo-poderoso. Nesse ponto de “consciência plena” todos os povos teriam liberdade e não apenas os monarcas ou uns poucos escolhidos.1 A idéia de Hegel sobre o Estado não era tão autoritária como pode-se pensar. Pelo contrário, ele o via como o mais alto desenvolvimento de comunidade, o lugar onde a sociedade perfeita encontraria sua existência. Era como a vontade geral de Rousseau, a manifestação do espírito racional da comunidade toda. Hegel rejeitava o individualismo das revoluções americana e francesa, crendo ser este contrário à natureza da humanidade e à realidade. Em seu sistema, o indivíduo só tinha valor e significado como uma parte do todo maior e unificado. Assim, sua preocupação com o aspecto político era atraente para os alemães da época que desejavam a unidade nacional. Apesar de não terem unidade naquele tempo, podiam sentir que ela acabaria vindo através do movimento da História. Durante a Era Romântica, escritores de outros países aceitaram o desafio de Herder de concentrar-se na herança cultural — sua história, linguagem, literatura e arte. Entre os resultados estavam a renovação grega que levou à sua revolta contra o

governo turco, o ressurgimento dos magiares na Hungria pedindo mais autonomia dentro do Império Austríaco e o movimento nacionalista italiano contra os príncipes em 1815. Além disso, apesar dos jacobinos da França revolucionária terem utilizado o Nacionalismo para reunir o apoio público durante a era napoleônica, ele serviu de catalisador para a resistência ao conquistador. Foi um fator importante na revolta espanhola, na iniciativa russa de 1812 e na renovação alemã que culminou com a Guerra da Libertação em 1813. Em resumo, o Nacionalismo é uma idéia ou sentimento presente em um povo que veio a crer que é diferente dos outros — ou seja, uma nação — e seu desejo de afirmar essa singularidade. A existência da nacionalidade não é uma realidade que pode ser determinada logicamente mas é, sim, algo irracional, emocional e místico. O objetivo maior de um nacionalista é criar um Estadonação, uma ordem política na qual seus semelhantes exercem o poder. Na primeira metade do século 19, o Nacionalismo foi marcado pela humanidade, diversidade e a simpatia por outros. Seguindo os passos de Herder, a maioria dos primeiros nacionalistas acreditava que a realização de suas aspirações nacionais era essencial para o bem-estar geral da humanidade. Cada um tinha sua contribuição a fazer para a civilização mundial

e a sociedade seria mais rica se várias nacionalidades tivessem liberdade de expressão. Só depois da metade do século é que o movimento começou a desandar e a mudança para uma tendência ao exclusivismo e superioridade nacional tornou-se visível. Ainda assim, mesmo nos seus primeiros momentos, o Nacionalismo mostrou-se como rival da fé cristã. Timothy Dwight (1752-1817), presidente do Yale College e um marco do Cristianismo americano, opôs-se com veemência a essa “infidelidade” que para ele era produto do Iluminismo. Ele pediu aos americanos que resistissem à propagação das idéias francesas, tendo em vista que sua nação tinha um papel especial no plano divino. Deus os havia preservado durante as lutas revolucionárias e, desde então, eles haviam crescido espiritual e fisicamente. Naquele instante, muitos sinais apontavam para o advento de uma nova era e o reino de Deus estava prestes a chegar na Terra. Isso traria como resultado o reavivamento entre os cristãos e a propagação do sistema americano de liberdade religiosa e política por todo o mundo, pois sua nação era um instrumento de Deus para converter a humanidade. Ao posicionar-se contra a ameaça francesa, Dwight havia dado a sua própria nação importância espiritual e identificado a América com o propósito de Deus.

Romantismo e Religião

Os românticos glorificavam o seu próprio poder de autoexpressão e criatividade. Não seriam leais a qualquer força espiritual superior à sua própria genialidade ou aos objetos de sua devoção como a natureza, liberdade, beleza e amor. Porém alguns aceitaram o Cristianismo. Em 1798, o escritor alemão Friedrich von Schlegel ao que parece, teve uma experiência de conversão (ao Catolicismo Romano) e a partir de então, todo o seu trabalho passou a ter temas religiosos. Na obra Cristandade ou Europa (1799), o poeta Novalis retratou o Cristianismo como símbolo de uma fé universal, o exemplo mais puro de religião como fenômeno histórico e a mais completa revelação. Esses dois homens influenciaram o jovem pregador Friedrich Schleiermacher (17681834), que foi o principal teólogo do século 19 e pai da teologia protestante liberal. Educado em escolas morávias e em Halle, Schleiermacher foi moldado de acordo com o Pietismo místico. Nomeado capelão de um importante hospital de Berlim em 1794, entrou em contato com o círculo de escritores românticos da cidade. Na verdade, foi Schlegel que incentivou Schleiermacher a escrever Sobre a Religião: Discursos aos Ilustrados que a Desdenham (1799), uma defesa da fé para os intelectuais da época. Ele argumentava que o Racionalismo havia ignorado a verdadeira essência da religião, que é o sentimento. Isso permite que a pessoa tenha uma

experiência direta com Deus. A devoção surge desse experimentar a Deus (o Infinito) através da experiência do mundo (o finito), e não por algum tipo de processo de reflexão racional. Como os românticos, ele acreditava que as pessoas compreendiam o mundo no qual viviam mais através da imaginação e sentimento do que ao estudá-lo através de uma análise racional. Deus não é transcendente, mas sim, está presente no mundo e o crente faz contato direto com Ele. Ao invés de ser algo que surge das expressões doutrinárias ou da vida na Igreja, a religião é a experiência imediata da existência humana. Schleiermacher deixou a capital da Prússia em 1804 para lecionar em Halle mas voltou três anos depois para pastorear a Igreja da Trindade e trabalhar como professor na Universidade de Berlim. Ele ocupou ambos os cargos até sua morte, vinte e cinco anos mais tarde. Schleiermacher publicou várias obras expressando sua visão romântica da teologia, sendo a mais importante delas A Fé Cristã (1821). Nela, ele apresentou a idéia da “dependência” ou “Percepção de Deus” absoluta de cada indivíduo. O pecado é deixar de depender, mas Cristo é o homem que foi completamente dependente de Deus em todos os seus pensamentos, palavras e gestos. Isso significa que Deus existia dentro dele e, portanto, ele era divino. Assim, as doutrinas cristãs são as expressões da visão religiosa da pessoa. A Bíblia molda e

informa a consciência de Deus no cristão, mas ao mesmo tempo é produto dessa dependência. A consciência religiosa fundamental levou ao desenvolvimento de comunidades cristãs, onde a percepção de Deus demonstrada por Jesus e sua obra redentora deu aos crentes o pleno conhecimento de Deus. Para ele a regeneração ocorre através da participação na vida em comunidade ao invés de depender simplesmente de acreditar na morte e ressurreição de Cristo. Eles passam a experimentar, então, a mesma percepção de Deus que Jesus. Nessa época, vários românticos voltaram-se para a Igreja Católica Romana, onde encontraram um lugar de descanso onde se refugiar. Um desses digno de menção foi o escritor popular François René Vicomte de Chateaubriand (1768-1848) que converteu-se à fé viva. Em sua famosa obra O Gênio do Cristianismo (1802) René elevou a defesa da fé do plano racional para o dos sentimentos e argumentou que a História revelava o Catolicismo como uma grande força cultural e moral.

Os conservadores A era da “restauração” que seguiu-se à queda de Napoleão caracterizou-se tanto pelo retraimento ao conservadorismo quanto pelo avanço do Liberalismo. No Congresso de Viena, a antiga ordem política não foi completamente restaurada: o Sacro Império

Romano, por exemplo, não foi reconstituído, mas a monarquia foi afirmada como única forma de governo que poderia garantir a estabilidade. O melhor exemplo disso foi a Sagrada Aliança, uma proposta do czar Alexandre I, que na época estava sob a influência do misticismo e do messianismo. Muitos afirmam que a inspiração para a Sagrada Aliança veio da baronesa Julie von Krüdener, uma escritora que havia passado por uma conversão ao Pietismo e que fazia parte do séqüito do czar na época; mas a maior parte dos estudiosos de hoje acha que a idéia veio do próprio czar. A Aliança foi assinada por todos os monarcas europeus — exceto pelo regente da Inglaterra, o papa e o sultão turco — e declarava que as relações internacionais daquele ponto em diante seriam baseadas nas “sublimes verdades ensinadas pela Santa Religião”. Os governantes concordaram em seguir o princípio de que eram irmãos, de “ajudar uns aos outros” sempre que necessário e reconhecer a soberania de nenhum outro a não ser “Deus, nosso Divino Salvador, Jesus Cristo”. Apesar da Sagrada Aliança não ter, na realidade, nenhum poder, ela serviu para manter a estabilidade da Europa oriental até a Guerra da Criméia. A tendência conservadora ficou mais evidente na Igreja Católica. Assim que foi liberto do cativeiro na França em 1814, o papa Pio VII restabeleceu a ordem dos jesuítas. Então, através de seu secretário de Estado que o representou em Viena, Pio VII

recebeu de volta os territórios papais na Itália. Também fez tratados favoráveis com diversos países e condenou os carbonari, uma movimento nacionalista italiano. Sob sua liderança e a de seus sucessores, a posição “Ultramontana” prevaleceu, isto é, a completa centralização da autoridade da Igreja na cúria papal em Roma e não a independência das Igrejas Nacionais ou dioceses. O papa também lutou contra o liberalismo social na França e em 1834 excomungou o conhecido escritor Félicité de Lamennais (que originalmente era um tradicionalista). O “tradicionalismo” católico reacionário foi melhor representado nas obras de Joseph de Maistre (1753-1821) e Louis de Bonald (1754-1840). Émigrés durante a Revolução Francesa, eles enfatizavam o desenvolvimento histórico e a providência divina e oposição à autonomia humana e pediam a restauração da monarquia Bourbon. Seguindo os passos de Edmund Burke, eles denunciaram a ênfase dada pelo Iluminismo à Razão e aos direitos naturais. Mas foram ainda mais longe e atacaram toda a ênfase liberal na teoria do contrato social e nas liberdades individuais. Os conservadores também condenaram a falta de respeito pela autoridade eclesiástica e, especialmente de Maestri, afirmou que o Cristianismo católico era a base da ordem social. Na obra Sobre o Papa (1819) de Maistre declarou que toda a

soberania é derivada de Deus e investida sobre o monarca. Pelo fato da autoridade do rei ser de origem divina, seu poder não deve, de forma alguma, ser limitado por seus súditos. A religião oferece ao povo um motivo para obedecer o governante e reconciliá-lo com as desigualdades naturais da sociedade. A Igreja e o Estado devem trabalhar em conjunto para promover a moralidade humana e preservar a ordem e caso surja um conflito entre as duas, a autoridade da Igreja automaticamente tem primazia. Ele encerrou retratando o papa como a autoridade política e religiosa suprema naquela que era a teocracia universal. Os conservadores alemães incorporaram um importante conceito romântico em seu pensamento — a idéia do organicismo — e um dos seus principais expoentes foi Schleiermacher. O Estado não era o produto de um contrato social mas sim um desenvolvimento autônomo numa forma superior de vida. Ele crescia de acordo com suas próprias leis e o indivíduo alcançava a plenitude e verdadeira liberdade dentro do contexto do Estado. Até mesmo a própria nacionalidade era uma desenvolvimento orgânico. Um grupo de pessoas falando a mesma língua e com experiências históricas em comum tinha a tendência de se organizar politicamente. Assim, o Estado era um organismo no qual a nação havia se desenvolvido ao longo da História e ambos eram criações divinas.

De acordo com os organicistas, não havia espaço para a revolução pois ela causaria distorções no crescimento natural do organismo político. O governo tinha suas raízes no passado e o governante, o povo e a Igreja eram todos parte de um único organismo espiritual. Estado e Igreja, trono e altar pertenciam juntos e deviam ser organizados da mesma forma, ou seja, o Estado monárquico e a Igreja episcopal.2 Um resultado dessa visão foi a atitude do rei Frederico Guilherme III em 1817, o tricentenário das Noventa e Cinco Teses, ao unir as igrejas Reformada e Luterana em “uma única Igreja evangélica” — a chamada união prussiana. Sua intenção era organizar uma frente comum contra o Racionalismo, que ele encarava como um inimigo da fé, mas isso provocou reações de todos os lados. Os conservadores luteranos (“confessionalistas”) organizaram um vigoroso contra-ataque. Um pastor — Klaus Harms (1778-1855), publicou suas próprias noventa e cinco teses condenando o Racionalismo e afirmando os ensinamentos básicos luteranos sobre o perdão dos pecados e os sacramentos. Com a crescente pressão para que se adaptassem, muitos luteranos da Prússia imigraram para a América ou Austrália, levando com eles o seu confessionalismo. Entre os mais conhecidos estavam C. F. W. Walther (1811-87), o fundador da Igreja luterana — Sínodo de Missouri e Wilhelm Löhe (1808-72) de Neuendetteslau na

Bavária, um brilhante pregador que ficou na Alemanha mas enviou missionários confessionalistas para a América. O estudioso de maior destaque no confessionalismo foi E. W. Hengstenberg (1802-69), professor em Berlim. Através de seus comentários bíblicos e do jornal que fundou em 1827, o Jornal da Igreja Evangélica, Hengstenberg combateu o Racionalismo e o Liberalismo teológico.

Os liberais Ao contrário dos românticos, os liberais bebiam em grande parte da fonte do Iluminismo. Enfatizavam a liberdade individual — liberdade de discurso, imprensa e reunião e da prisão e encarceramento arbitrários. Eles consideravam que a forma constitucional de governo era a melhor a fim de garantir essas liberdades. Nos países avançados os liberais exigiram direitos civis e governos mais representativos, enquanto aqueles que se encontravam em outras partes da Europa buscaram escrever constituições que limitassem o poder do governante o fizessem trabalhar em conjunto com as aspirações nacionalistas. Poucos liberais, porém, aceitariam a soberania popular pois desejavam que o direito de voto fosse restrito às classes com propriedades. Consideravam a democracia em massa tão perigosa quanto a tirania do rei. A maior parte concordava com o teorista utilitariano

inglês Jeremy Bentham que afirmou que “o maior bem para o maior número de pessoas” seria o resultado se cada indivíduo pudesse lutar pelos seus próprios interesses com um mínimo de interferência externa. Em outras palavras, estavam dispostos a aceitar a igualdade perante a lei, mas não viam nada de errado na enorme desigualdade da distribuição de propriedades e riqueza. Acreditavam que um indivíduo com iniciativa, ambição e capacidade empreendedora poderia ganhar uma fortuna se o governo não interferisse na propriedade privada e sua aquisição. No âmbito econômico, isso significava uma abordagem de laissezfaire e os colocava em oposição aos dois grupos que buscavam a reforma do sistema industrial no século 19 — os humanitários cristãos e os socialistas (ver capítulo 19). No âmbito teológico o Liberalismo refletiu-se primeiro na atitude de Schleiermacher ao rejeitar a crença doutrinária racional e enfatizar o sentimento subjetivo que fazia da fé uma questão de experiência individual. Os seguidores de Hegel, inspirados por sua ênfase na imanência divina (Deus está dentro do mundo e não acima ou fora dele) e no desenvolvimento histórico sujeitaram o Cristianismo à análise histórica. Os teólogos da “Escola de Tübingen”, liderados por F. C. Baur (1792-1860) que foi nomeado para a universidade em 1826, chamaram a atenção para aquilo que

acreditavam ser linhas e teologias diferentes dentro do Novo Testamento e passaram a ensinar uma visão puramente histórica da Bíblia. O próprio Baur rejeitou o sobrenatural e usou uma abordagem dialética para o Novo Testamento. Concluiu que ele refletia a tensão básica dentro da Igreja entre um antigo partido ligado a Pedro ou “Judeu” e um partido mais novo, ligado a Paulo ou “Helenista”. Também afirmou que a maior parte das cartas de Paulo não era “autêntica” pois faltavam-lhes as “tendências” antijudaizantes. Ele identificou um terceiro grupo de livros católicos ou conciliatórios, alguns deles como Atos que provavelmente foi escrito no século 2º. Baur determinou um precedente para o criticismo bíblico revisionista que mais tarde se tornaria a marca registrada da teologia liberal. Os estudiosos discordam sobre se Baur era, de fato, hegliano ou não, mas ele usava a análise histórica e via a história da Igreja em termos dialéticos.3 O rompimento decisivo entre a antiga escola conservadora de interpretação bíblica e o novo radicalismo anti-sobrenaturalista ocorreu quando um aluno de Baur — David Friedrich Strauss (1808-74) — publicou sua obra aclamada A Vida de Jesus Examinada Criticamente em 1835. Ele concluiu que apesar de um Jesus “histórico” estar escondido por trás da vida registrada nos evangelhos, sua vida havia sido re-escrita e adornada pelos escritores cristãos a fim de fazer com que se cumprissem as lendas

e previsões do Antigo Testamento. Essas reflexões devotas dos seguidores de Jesus eram “mitos”, ou seja, verdades sobre ele que, mesmo sendo historicamente imprecisas, estavam em harmonia com suas idéias e sentimentos religiosos. Não eram falsidades em si, mas sim verdades declaradas de modo indireto. Num senso hegeliano, elas expressavam a consciência dos autores de que Jesus havia descoberto que Deus e o homem são um e que o verdadeiro Deus-homem não é um indivíduo, mas sim a humanidade como um todo. Jesus deve ser compreendido de maneira simbólica como a realização do Espírito Absoluto na raça humana. A humanidade é a união do finito com o infinito, do espírito com a natureza. A humanidade é destinada à perfeição em sua marcha para dentro e para o alto, simbolizada no Novo Testamento em termos de morte, ressurreição e ascensão. O historiador de religião francês Joseph Ernest Renan (182392) levou a discussão ainda mais adiante em sua obra Vida de Jesus (1863). Ao fazer uso da ciência do criticismo textual que encontrava-se em rápido desenvolvimento, ele substituiu a teoria de mito de Strauss sobre Jesus por uma apresentação racional dele como um homem moderno, um professor de ética itinerante que certamente não era o Filho de Deus. Era um tranqüilo galileu que pregava uma moralidade simples e sonhava em fundar uma comunidade utópica do povo de Deus aqui na Terra. Ele assumiu o

papel de Messias, lutou contra o mal enquanto trabalhava para formar o Reino de Deus e morreu por seu idealismo perfeito numa luta contra o Judaísmo ortodoxo e estéril. Quanto à ressurreição, esta era produto do amor idealizado de Maria Madalena. Esses estudiosos que retratavam a essência da religião como sendo a pureza de coração em comunhão com um Deus de amor que está presente em toda a parte, trouxeram uma nova e revolucionária era de estudos bíblicos e teológicos. A pesquisa sobre “a vida de Jesus” enfatizava observar o que havia por trás do “Jesus da fé”, e do “Cristo dos credos” para encontrar o “Jesus da História”, enquanto o criticismo literário novo e “superior” tomava liberdades extremas com as Escrituras e rejeitava sua origem sobrenatural. Por fim, junto com a introdução do darwinismo (ver capítulo 20) no liberalismo teológico, a alta crítica apresentou um desafio imenso para a ortodoxia, tanto protestante quanto católica.

A Igreja na Grã-Bretanha O reavivamento da religião inglesa no século 19 correspondeu de muitas maneiras ao crescimento das classes médias. Freqüentar os cultos de uma Igreja anglicana ou capela não-conformista era uma parte importante de ser respeitável. Porém, as igrejas faziam mais do que simplesmente reforçar a busca por riquezas. Elas ensinavam valores como o “dever” que

era contrário ao interesse próprio e uma seriedade no propósito de tornar a fé religiosa algo relevante às questões do quotidiano que encontrava-se presente em grande parte do Protestantismo inglês. As classes trabalhadoras freqüentavam bem menos as igrejas, mas muitos desse grupo participavam de congregações metodistas e evangélicas anglicanas. Havia, porém, barreiras reais que impediam os pobres de freqüentar as igrejas, tendo em vista que estes não podiam se vestir adequadamente e nem pagar o aluguel dos bancos que era cobrado em muitos lugares. A ênfase sobre a disciplina dentro da Igreja parecia ser mais pesada em relação aos pobres, especialmente sobre o seu consumo de bebidas alcoólicas. Além disso, a crescente organização de atividades de lazer concorria com a capacidade de atração da Igreja. A única Igreja que claramente possuía a maior riqueza e poder era a anglicana. Possuía os recursos financeiros para reformar suas edificações antigas e construir novos templos, a profissão de clérigo estava entre as de maior prestígio na Inglaterra e a coroa mantinha um relacionamento próximo com essa Igreja. Teoricamente, aqueles que não tomavam a Ceia na Igreja da Inglaterra (não-conformistas e católicos romanos) eram excluídos da vida pública, mas havia-se feito várias exceções. As restrições foram finalmente eliminadas quando o Parlamento anulou a Lei do Teste e a Lei da Corporação em 1828 e aprovou a

Lei da Emancipação Católica em 1829. Aqueles que se preocupavam com a revitalização da Igreja anglicana podiam ser divididos em três categorias. O “baixo Clero” dava maior importância à inspiração e autoridade das Escrituras do que ao culto litúrgico e reservava uma forte desconfiança para as práticas e crenças católicas. Os evangélicos mais conservadores eram os “Recordistas” cujo nome veio de The Record [O Registro], um jornal da Igreja fundado em 1828 que apresentava seu ponto de vista. Os evangélicos moderados continuaram dentro da tradição de Charles Simeon e da Seita de Clapham e seu jornal, The Christian Observer, afirmava lealdade à Igreja. Essas várias facções trabalhavam em conjunto e sua harmonia refletia-se nos “Encontros de Maio”, festivais de exultação evangélica que ocorriam no Exeter Hall em Londres. O “Alto Clero” enfatizava a continuidade do Catolicismo, especialmente a sucessão apostólica e a autoridade episcopal, o culto extremamente litúrgico e o poder salvífico dos sacramentos. O partido da facção liberal da Igreja anglicana tentou encontrar um meio termo e interpretava as doutrinas e o culto anglicanos de maneira liberal. Os membros mais extremistas do Alto Clero eram os “Anglo-Católicos” que enfatizavam as ligações históricas da Igreja do presente com a Igreja medieval. Foi do meio deles que surgiu o “tratarianismo” que teve

início em 1833 com a publicação de Panfletos para os Tempos. Os autores defendiam a Igreja da Inglaterra como sendo uma instituição divina, proclamavam a doutrina de sucessão apostólica e defendiam o Livro Comum de Orações como regra de fé. Muitos dos tratados eram reimpressões de obras escritas por pessoas do Alto Clero no século 17. O grupo também era conhecido como Movimento de Oxford pois seus líderes — John Keble (17921866), E. B. Pusey (1800-82) e John Henry Newman (1801-90) — foram colegas no Oriel College na década de 1820. Muitos desse grupo pendiam mais para Roma, especialmente Newman que era vigário da Igreja na universidade de Oxford. Numa viagem para a Itália, ele escreveu um poema que epitomizava sua luta espiritual e que recebeu uma música no hino Lead, Kindly Light. Dos vinte e quatro tratados de sua autoria o mais famoso (e último) foi o Panfleto No. 90 de 1841, que tentava reconciliar os Trinta e Nove Artigos da Igreja anglicana com a doutrina católica. O texto foi tão condenado que ele deixou o pastorado e entrou para a Igreja Católica em 1845, acabando assim com o Movimento de Oxford. Em 1879 ele foi nomeado cardeal. Através de seus muitos escritos como a Idea of a University [Idéia de uma Universidade] (1852), que apresentava sua concepção de educação cristã e o esboço autobiográfico, Apologia Pro Vita Sua (1864), Newman tinha uma influência enorme tanto nos meios

anglicanos como católicos. Os evangélicos deram nova vida ao protestantismo inglês. Sua preocupação em ganhar almas refletiu-se na criação de agências para propagar a fé cristã. Entre elas, havia diversas sociedades missionárias (discutidas no capítulo 20), a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira (1804), Sociedades de Panfletos Religiosos (1799), Sociedade de Londres para a Promoção do Cristianismo entre Judeus (1809), União da Escola Dominical (1803) e a Sociedade Nacional para a Educação dos Pobres (1811). Os evangélicos sentiam-se particularmente atraídos pelas sociedades bíblicas e muitas delas surgiram nas Ilhas Britânicas, bem como no império e nos Estados Unidos. A BFBS enviou membros para o continente e estes fundaram sociedades bíblicas em vários países e durante um breve período a iniciativa gozou até mesmo do apoio católico na Alemanha. Porém, no decorrer do século, cada vez mais evangélicos radicais começaram a questionar o valor das sociedades bíblicas, missionárias e de panfletos. Eles consideravam seus métodos “laboriosos” como sendo inadequados e ao invés disso argumentavam em favor do auxílio sobrenatural através da obra do Espírito Santo. Insistiam que os obreiros cristãos deferiam depender somente de Deus para ajudá-los a realizar suas tarefas e não em organizações burocráticas.

A linha radical do evangelicalismo foi afetada por muitos fatores. Um deles foi o interesse renovado no Calvinismo e outro foi o romantismo literário que enfatizava o “sobrenaturalismo natural” (a possibilidade de discernir significado espiritual no mundo quotidiano) juntamente com a emoção, experiência e imaginação. Além disso, houve um ressurgimento do prémilenismo, a idéia de que não se devia considerar o triunfo da Igreja como resultado da concretização do reino de Cristo pois a sua volta à Terra era iminente. Uma quarta ênfase era uma alta consideração pela inspiração bíblica e a interpretação literal das Escrituras. Edward Irving (1792-1839) era um conhecido evangélico radical, ministro da Igreja na Escócia e que pastoreava uma igreja em Londres. Sua eloqüência ao atacar os males morais da época atraiu um grande número de seguidores, que incluía muitas figuras proeminentes. Mas não tardou para que surgisse uma controvérsia quando ele pregou sobre a volta iminente de Cristo em glória e incentivou o falar em línguas durante cultos públicos. Ao mesmo tempo, tinha grande consideração pelas idéias do Alto Clero quanto aos sacramentos e liturgia. Finalmente, em 1833 Irving foi dispensado, mas a essa altura ele e um amigo — Henry Drummond, que era um homem de negócios e membro do Parlamento — haviam formado a Igreja

Católica Apostólica. Crentes de que a Segunda Vinda estava próxima, eles montaram uma estrutura de doze apóstolos dos últimos dias que iriam assentar-se com os primeiros doze apóstolos nos vinte e quatro tronos mencionados em Apocalipse 4. Então, através de um “sacramento” distintivo, os membros da Igreja eram “selados” e tornavam-se parte dos 144.000 de Apocalipse 7. O grupo fazia uso de rituais em seus cultos e dava pouco atenção a questões sociais. Apesar do movimento ter desaparecido na Grã-Bretanha, espalhou-se para o continente, onde seus frutos na Alemanha — A Nova Igreja Apostólica — continuam sendo uma comunidade ativa até os dias de hoje. Outro grupo dissidente evangélico importante foi o dos “Irmãos de Plymouth” ou “Irmãos Evangélicos”. Originou-se em Dublin no final da década de 1820 e recebeu esse nome por causa da grande congregação formada em Plymouth em 1831. Buscando uma volta à simplicidade da Igreja primitiva, os Irmãos encontravam-se em casas para observar a Ceia do Senhor, rejeitavam o clero ordenado e o culto litúrgico e escolhiam presbíteros para liderar a comunidade. Suas reuniões eram marcadas por profunda devoção a Cristo, zelo evangélico e um forte interesse nas questões proféticas. Seu excepcional mestre, John Nelson Darby (1800-82) foi tanto um estudioso da profecia bíblica quanto um fervoroso crente no literalismo da Bíblia. Ele

formulou os princípios básicos do Dispensacionalismo, incluindo o “arrebatamento” da Igreja antes da Segunda Vinda. Apesar de ser uma idéia aceita pela minoria na época, no século 20 viria a dominar o pensamento pré-milenista. No final da década de 1840, quando surgiram disputas sobre quanto controle centralizado deveria ser exercido sobre as assembléias, houve uma divisão. Aqueles que eram a favor dos princípios originais do movimento tornaram-se os Irmãos Abertos e misturavam-se livremente com outros crentes. Sua figura mais conhecida foi George Mueller (1805-98), um imigrante alemão que pastoreava uma capela e administrava o famoso orfanato de Ashley Down em Bristol. Este seguia o modelo da Fundação Francke em Halle com a qual Mueller estava familiarizado. Mueller foi pioneiro no conceito de manter um empreendimento totalmente pela fé, sem fazer apelos para levantar fundos ou pedir sustento à Igreja. Darby e seus seguidores formaram os Irmãos Exclusivos cuja marca registrada era o estilo de vida austero e a separação dos outros cristãos. O maior líder evangélico do século 19 na Escócia foi Thomas Chalremos (1780-1847). Ordenado em 1803, ele passou por uma experiência de conversão em 1811, sendo que esta transformou completamente sua visão e ênfase ministeriais. Quatro anos depois ele aceitou uma cargo em Glasgow onde

desenvolveu um sistema de paróquias que poderia tratar dos problemas de uma cidade industrial. O sistema envolvia a nomeação de presbíteros para supervisionar as questões espirituais e diáconos para ministrar às necessidades sociais e educacionais da população. Em 1823 Chalmers aceitou lecionar em St. Andrews e, em 1828, na Universidade de Edinburgo, onde foi o líder e símbolo do partido evangélico. Além disso, ocupou também o cargo de diretor do programa de extensão da Igreja e em seis anos supervisionou a criação de mais de duzentas novas igrejas. Então surgiu um problema quanto à interferência do Estado em assuntos da Igreja, sendo que a questão evoluiu, tornando-se uma crise na assembléia geral em 1843. Quando a assembléia se recusou a ir contra as autoridades, duzentos ministros e presbíteros liderados por Chambers deixaram a reunião num ato conhecido como Rompimento. Eles logo formaram um novo grupo, a Igreja Livre da Escócia, que o elegeu como moderador. Cerca de um terço dos clérigos juntou-se ao novo movimento e pôs-se a duplicar as igrejas e escolas da Igreja da Escócia. O cisma não seria completamente superado até 1929.

A propagação do reavivamento Os reavivamentos que varreram a Grã-Bretanha tiveram seus

equivalentes na Europa e na América. A Alemanha estava especialmente preparada para uma renovação espiritual, tendo em vista que a influência do Pietismo já havia diminuído sob a pressão do Racionalismo. Mais uma vez, houve uma interatividade do evangelicalismo inglês com o alemão, semelhante à relação anterior entre Pietismo e Metodismo.

Reavivamento na Alemanha A liderança do Erweckung [reavivamento] ficou por conta da Sociedade do Cristianismo Alemão, fundada em 1780 pelo pastor Johann Urlsperger de Augsburg. Seu plano era reunir todos os cristãos fiéis numa iniciativa para levar adiante a “verdadeira doutrina e verdadeira bênção”. Dentro dos modelos da Society of the Propagation of Christian Knowledge - SPCK [Sociedade para Propagação do Conhecimento Cristão (SPCC)] da Inglaterra, ela realizava seu trabalho através de uma revista, contatos pessoais e correspondência. Dentro de poucos anos ela havia tornado viável a formação de sociedades missionárias, bíblicas e de panfletos por toda a Europa. Uma figura-chave foi seu secretário em Londres e pastor da Igreja de língua alemã de Savoy, Karl F. A. Steinkopf (17731859). Natural de Württemberg, ele espalhou a notícia sobre a Sociedade Missionária de Londres pela Alemanha e foi co-

fundador da BFBS - British and Foreign Bible Society [Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira]. Ele ajudou a começar filiais da BFBS na Alemanha e incentivou seus compatriotas a fazer doações em dinheiro para as missões britânicas. Também teve um papel importante na fundação das sociedades missionárias alemãs. Pastores do reavivamento cruzavam o país em todas as direções e algumas regiões como Württemberg no sul da Alemanha e Wuppertal e Siegerland no oeste, tornaram-se centro de devoção protestante, fato que ainda é realidade nos dias de hoje. A Igreja Católica também foi contagiada por parte desse entusiasmo, sendo Johann Evangelista Gossner (1773-1858) o sacerdote mais conhecido. Ele pregava sermões evangelísticos na igreja em sua paróquia, realizava estudos bíblicos e reuniões de oração em sua casa e chegou a organizar reuniões bíblicas especiais na Basiléia para a Sociedade do Cristianismo. O reavivamento católico acabou sendo silenciado pela hierarquia e em 1826 Gossner passou para a Igreja luterana. Como protestante ele pôs-se a fazer contribuições importantes nas áreas da atuação social cristã e de missões. A influência de alguns pregadores do reavivamento continuou muito além de seu tempo. Um deles foi Ludwig Hofacker (1798-1828), que na verdade foi o equivalente alemão de David Brainerd. Um homem profundamente espiritual e

afligido por problemas de saúde, suas pregações resultaram em milhares de pessoas que se voltaram para Cristo. Apesar de seu ministério ativo ter durado pouco mais de quatro anos, sua obra póstuma, Sermões para Todos os Domingos, Festivais e Dias Santos, teve inúmeras edições e traduções e ainda é uma das obras de maior distribuição na literatura popular cristã da Alemanha. Outro foi Johann Christoph Blumhardt (1805-80), que tornou-se pastor de Möttlingen em Württemberg em 1838 e rapidamente ganhou distinção como pregador e através de curas pela fé. Depois da cura miraculosa de uma mulher supostamente endemoniada, milhares de pessoas dirigiram-se para sua paróquia. Por fim, em 1852 ele deixou o pastorado e abriu um centro para evangelismo e obras missionárias internacionais. Blumhardt desejava profundamente a vida de Cristo e acreditava que um novo Pentecoste, com a volta dos dons espirituais, iria preparar o caminho para o Segundo Advento. Por esse motivo ele é considerado um precursor do Pentecostalismo. Um resultado do Erweckung foi a fundação de escolas especializadas para missionários e evangelistas em Berlim (1800). Basiléia (1815) e St. Chrischona (1840). Esta última foi a criação de Christian Friedrich Spittler (1782-1867), secretário da Sociedade do Cristianismo na Basiléia. Seu plano era treinar artesãos competentes para serem evangelistas e então enviá-los

como obreiros cristãos auto-sustentáveis. Spittler comprou uma igreja vazia em St. Chrischona, próximo à Basiléia e a transformou na sede das chamadas “Missões Peregrinas”. Os alunos encontravam sua própria área de trabalho e serviam em qualquer igreja, sociedade missionária ou sínodo que os aceitasse. As iniciativas da Igreja livre também são dignas de menção e resultaram de relações exteriores. Imigrantes alemães que tinham ido para a Grã-Bretanha e América fundaram congregações metodistas em sua terra natal durante as décadas de 1830 e 1840. O primeiro trabalho batista foi iniciado por Johann Gerhard Onken (1800-84) que tinha vivido em Londres e havia se convertido numa capela metodista. Trabalhou para vários grupos evangelísticos no norte da Alemanha e então, em 1834 decidiu receber o batismo do crente. Através do evangelismo itinerante Oncken e outros fundaram várias igrejas e, mais tarde, os batistas alemães foram ativos na propagação do evangelho em outros países da Europa. A própria capital da Prússia tornou-se um centro de Erweckung e foi da Universidade de Berlim que saíram duas das figuras acadêmicas mais importantes do movimento, Johann August Neander (1789-1850) e Friedrich August Tholuck (17991877). Neander era um convertido do Judaísmo e através de um dedicado estudo da Bíblia desenvolveu uma fé profunda baseada

em suas experiências. Foi aluno de Schleiermacher e em 1831 tornou-se professor de história da Igreja em Berlim onde se especializou em Cristianismo primitivo e também publicou uma história geral da Igreja com seis volumes. Um inimigo fervoroso do Racionalismo de Baur e Strauss, Neander comunicou uma fé calorosa e viva para várias gerações de estudantes de Teologia. Um jovem precoce, Tholuck estudou línguas orientais. Através do testemunho de várias pessoas, ele encontrou a Cristo como Salvador e então passou a estudar Teologia. Depois de um breve período lecionando em Berlim, em 1826 mudou-se para a Universidade de Halle onde trabalhou durante cinqüenta anos. Um estudioso da Bíblia e teólogo distinto e conservador, era inimigo declarado do Racionalismo. Mas também teve um amplo ministério entre os estudantes e procurou desenvolvê-los para que se tornassem cristãos fervorosos e diligentes. Ele os convidava para estudos bíblicos e discussões sobre várias obras cristãs em sua casa, visitava-os e orava com eles nos dormitórios e os levava junto em suas viagens. A preocupação social era uma das marcas registradas do Erweckung, tendo em vista que naquela época muitos alemães estavam sofrendo com a crise econômica. Um líder do movimento em Berlim, o barão Ernst von Kottwitz, fundou com seus próprios meios em 1807 uma residência para desempregados que chegou a

abrigar até seiscentas famílias, oferecendo-lhes oportunidades de trabalho bem como abrigo. Um escritor cristão em Weimar, Johannes Falk, viu o grande número de órfãos que restaram depois das Guerras Napoleônicas e levou muitos deles para sua casa. Abriu, então, um centro onde crianças pobres recebiam abrigo e educação e tornavam-se aprendizes de um ofício. Também é digno de menção o trabalho de Amalie Sievking, membro de uma família proeminente de Hamburgo que tinha uma fé pietista e laços com os evangélicos da Inglaterra. Quando uma epidemia de cólera varreu a cidade em 1831, ela trabalhou em hospitais para ajudar as vítimas da doença. No ano seguinte, formou a Sociedade Feminina de Auxílio aos Pobres e Enfermos, um grupo de mulheres cristãs que distribuía alimentos e visitava os necessitados.

O reavivamento na Escandinávia O Ewerckung espalhou-se para o norte, chegando à Escandinávia. Nikolai Grundtvig (1783-1872), um respeitado estudioso de Literatura Medieval Nórdica bem como pastor de uma Igreja luterana dinamarquesa, passou por uma experiência de questionamentos e dúvidas. Ele encontrou a Deus de maneira parecida com Lutero. Suas tentativas de iniciar um reavivamento na Igreja Dinamarquesa foram mal recebidas e ele viu-se forçado a ficar fora do ministério durante sete anos, tempo que gastou

escrevendo poesia e hinos. Ao voltar à paróquia em 1821, ele combateu o Racionalismo e defendeu o Credo dos Apóstolos como padrão para a Igreja. Depois de várias visitas à Inglaterra, promoveu mais liberdade congregacional dentro da Igreja do Estado. Outro centro de evangelicalismo desenvolveu-se na ilha de Bornholm no final da década de 1860. A partir de lá, pregadores leigos espalharam-se pela Dinamarca proclamando a justificação pela graça, a reconciliação através da expiação de Cristo e o sacerdócio de todos os crentes. Na vizinha Suécia, havia muitos pregadores do reavivamento em atividade, sendo o mais notável Karl Olof Rosenius (1816-68). Apesar de ter sido fortemente influenciado pelo Metodismo inglês, ele continuou dentro da Igreja luterana e proclamou a mensagem da graça de Deus em Cristo e do perdão dos pecados sem mérito humano. Várias igrejas livres surgiram depois de suas iniciativas, sendo que a maioria juntou-se na Aliança de Missões da Suécia em 1878. Hans Nielsen Haugue (1771-1824) foi um excepcional evangelista leigo na Noruega. Convertido aos 25 anos de idade, começou imediatamente a pregar a mensagem da salvação e da santidade pessoal. Viajou por todo o país e deu início a um movimento religioso popular dentro da Igreja do Estado que caracterizou-se por seus pregadores leigos auto-sustentáveis que

trabalhavam ligados a toda uma rede. Essa ênfase sobre a atividade voluntária pelos leigos teve um efeito poderoso sobre a Igreja, apesar do clero racionalista ressentir-se amargamente de Hauge. As iniciativas missionárias e evangelísticas da Noruega no final do século 19 se inspiraram nele.

O reavivamento na Europa de língua francesa Apesar da Igreja huguenote (francesa reformada) ter sido reprimida por Luís XIV, ela teve uma pequena recuperação durante o século 18 (ver capítulo 13). Porém, a Igreja luterana havia sido tolerada na Alsácia e foi lá que surgiu uma das primeiras figuras do reavivamento protestante francês, Jean Frédéric Oberlin (1740-1826). Um pastor profundamente devoto, tornou-se conhecido por sua promoção da educação e de empreendimentos comunitários de auto-ajuda em sua paróquia em Waldersbach. Quando a Revolução Francesa começou ele a recebeu com entusiasmo, vendo nela o início do reino de Deus na Terra e considerando as virtudes republicanas e a fraternidade como formas terrenas de realização do Cristianismo. Os excessos do sistema jacobino o forçaram à clandestinidade e ele teve que realizar cultos da Igreja em segredo em sua própria casa. Mas Oberlin sobreviveu ao Terror e emergiu como um herói nacional. Havia nele uma combinação de preocupação pelo bem-estar da

humanidade e uma profunda devoção a Cristo. Estas características serviram de testemunho do amor e poder divinos e ajudaram a preparar o cenário para o Réveil [despertar]. As origens desse movimentos encontram-se na situação da Igreja protestante. Ela recobrou seus direitos legais sob a lei napoleônica em 1802, enquanto em Genebra, na Suíça, a Igreja calvinista francesa havia continuado a existir sem qualquer interrupção. Na Igreja francesa, tanto a ala ortodoxa como a liberal mantinham uma coexistência desconfortável. De tempos em tempos, a Igreja, pastores e o povo realizavam os ritos da religião, mas o Cristianismo verdadeiro não influenciava sua vida diária. Porém, o despertar religioso que varreu as igrejas da Suíça e França mudou drasticamente essa situação. A principal influência do reavivamento veio do trabalho de dois escoceses, os irmãos Robert (1764-1842) e James Alexander (1768-1851) Haldane. Em 1795, tanto Robert, que administrava as fazendas da família e James, que era capitão de um navio para a Companhia das Índias Orientais, se converteram. Eles deixaram seus cargos e tornaram-se pregadores itinerantes, fundaram sociedades para promover o evangelismo rural e a distribuição de panfletos, cuidaram de uma escola para treinamento de líderes leigos e adotaram os princípios batistas de organização da Igreja. Em 1816-19, Robert foi a Genebra e depois visitou vários lugares

na França onde realizou reuniões em casas e ensinou sobre a inspiração plenária e infalibilidade da Bíblia. Também ganhou muitos convertidos que, por sua vez, propagaram a mensagem evangélica entre os protestantes franceses. As três pessoas mais importantes influenciadas pelas pregações de Haldane foram Jean Henri Merle d‟Aubigné (17941872), Frédéric Monod (1794-1863) e César Malan (1787-1864). Malan estudou Teologia e lecionou numa escola de latim. Já havia passado pela renovação através da influência de amigos e sua fé foi confirmada durante a visita de Haldane. Tornou-se então um destemido pregador em Genebra e dedicou-se a várias missões evangelísticas por toda a Europa ocidental e especialmente na GrãBretanha. Depois de ser expulso da Igreja do Estado em Genebra, juntou-se à Igreja escocesa. Apesar de continuar sendo convicto da predestinação, tinha um amor profundo pelas almas e proclamava uma fervorosa mensagem de salvação. Merle d‟Aubigné era um protestante suíço, aluno da Universidade de Genebra quando começou o reavivamento. Depois de servir em igrejas em Hamburgo e Bruxelas, ele voltou para Genebra em 1831 onde ele e uma outra figura do Réveil, François Gaussen (1790-1863) fundaram a Sociedade Evangélica de Genebra para promover a propagação da sã doutrina por toda a França e pelas regiões suíças de língua francesa. Em 1834, o grupo

fundou uma escola de teologia independente, onde ambos lecionavam e sustentavam missionários, pastores e a distribuição de literatura cristã. As obras de Gaussen sobre a inspiração verbal das Escrituras foram bastante lidas tanto na Inglaterra como na França, enquanto Merle d‟Aubigné dedicou o fim de sua vida à produção de uma extensa história da Reforma com treze volumes. Frédéric Monod foi influenciado por Haldane enquanto estudava em Genebra e tornou-se um destemido defensor da ortodoxia calvinista. Durante quarenta e três anos ele foi editor de uma revista de Cristianismo contemporâneo que ajudava a esclarecer os pontos de vista ortodoxos. Insatisfeito com o Liberalismo na Igreja Reformada, ele formou a Igreja Evangélica Livre em 1849, cuja declaração de fé começava com uma ousada formulação sobre a inspiração plenária e a autoridade da Bíblia. Seu irmão Adolphe Monod (1802-56) converteu-se através do contato com o conhecido teólogo leigo escocês, Thomas Erskine. Aderiu aos princípios evangélicos, incluindo a absoluta insistência na inspiração e autoridade bíblicas. Adolphe, que não juntou-se à Igreja Evangélica Livre, foi o principal orador de púlpito da Igreja Reformada francesa. O intercâmbio entre o Réveil e o evangelicalismo britânico foi extraordinário. Os pregadores franceses viajavam para a GrãBretanha e suas obras eram traduzidas e amplamente lidas lá. Ao

mesmo tempo, a Sociedade Bíblica Britânica e estrangeira auxiliou na fundação da Sociedade Bíblica Protestante em Paris em 1818, enquanto que em 1822, os protestantes reavivados juntaram-se num movimento cada vez maior em prol das missões ao fundar a Sociedade Missionária de Paris. Outro impacto importante do despertar foi sentido na Holanda, onde em 1828 o jovem Guillaume Groen Van Prinsterer (1801-76), fundador do “Partido Anti-Revolucionário”, conheceu a Cristo através do ministério de Merle d‟Aubigné. Ele foi um forte crítico daquilo que chamava de “revolucionário”, a saber, a entronização da Razão, e dizia que esta deveria ser contraposta pelo evangelho. Argumentava que os indivíduos devem se sujeitar a Deus pela fé, sem a qual não poderia haver salvação. Além disso, a soberania de Deus deve ser reconhecida na esfera política bem como em todos os outros meios. Abraham Kuyper, o político cristão mais famoso da Holanda, foi protegido de Groen.

O reavivamento na América Apesar de um reavivamento ter varrido as colônias americanas durante a década de 1740, depois da Revolução a membresia das igrejas tornou-se mais baixa do que nunca — cerca de 5 a 10 por cento da população adulta. Porém, uma reavivamento surgiu na fronteira no final da década de 1790 e

espalhou-se rapidamente também para as cidades do Leste. Conhecido como o Segundo Grande Despertamento, esse movimento espiritual resultou no triunfo evangélico na cultura religiosa da América — o “Século Protestante”, como historiadores tem chamado essa era. Ao contrário do “primeiro” despertar, no qual as denominações mais antigas assumiram a liderança, neste caso foram os novos grupos — metodistas, batistas e discípulos de Cristo — que dominaram e tornaram-se as maiores denominações protestantes. Esse movimento também foi mais duradouro tendo em vista que fez com que o país tivesse um caráter mais ou menos evangélico até o final do século 19. Além disso, as sociedades voluntárias que sustentavam as missões estrangeiras, a evangelização e uma série de causas sociais, proliferaram. Nesse caso, um papel-chave foi desempenhado pelo pregador congregacionalista Lyman Beecher (1792-1863) que orquestrou muitas das iniciativas que formaram a “frente evangélica unida”. Outra característica foi a ênfase arminiana sobre o fato de que Deus deu a todos a capacidade de chegar-se a Cristo se a pessoa assim o desejasse. Essa teologia de ação refletia-se tanto nas organizações voluntárias como nos evangelistas itinerantes como Francis Asbury (1745-1816) e Charles G. Finney (17921875). Wesley havia enviado Asbury para as colônias em 1771 e

depois da Revolução ele reorganizou a obra metodista lá. Usou uma ampla rede de “viajantes” para alcançar pessoas na fronteira com o evangelho e seus próprios esforços foram prodigiosos. (Diz-se que ele viajou 450 mil quilômetros, a maior parte à cavalo.) Em 1771 ele era um entre cinco obreiros; quarenta e cinco anos mais tarde, já haviam dois mil ministros e mais de duzentos mil metodistas na América. Finney foi o mais conhecido evangelista das massas na América. Coordenou reuniões cuidadosamente controladas nas maiores cidades do país, bem como na fronteira. Também ligou a religião evangélica à reforma social, especialmente a abolição e a educação para mulheres, enquanto que, ao mesmo tempo, formalizou os laços entre a teologia conservadora e a riqueza industrial que mais tarde viria a caracterizar tão profundamente o protestantismo americano; Finney foi presidente do Oberlin College em Ohio de 1851 a 1866. Oberlin foi uma das primeiras faculdades a aceitar mulheres e negros. Através dos escritos de Finney sobre o governo moral de Deus e a vontade humana ele também tornou-se um importante teólogo. Igrejas trazidas da Europa ofereciam um santuário espiritual para os imigrantes enquanto os afro-americanos organizavam suas próprias igrejas, que ministravam ao povo que sofria a degradação do racismo e da escravidão. A população católica romana estava

crescendo e algumas ordens missionárias usaram técnicas do reavivamento para propagar sua igreja. Alexis de Tocqueville, que visitou os Estados Unidos em 1831 e viu essas grandes demonstrações de fervor religioso comentou que “não há nenhum país no mundo onde a religião cristã tenha maior influência sobre a alma dos homens do que a América”.4

As novas ideologias da era democrática tiveram um profundo impacto sobre as igrejas, tanto protestantes quanto católicas. Alguns reagiram voltando para o passado enquanto outros receberam as tendências intelectuais da época sem criticá-las. A religião evangélica fez importantes avanços na Europa e América do Norte à medida em que os movimentos de reavivamento enchiam de energia muitas das igrejas e o ministério do evangelho era transmitido com vigor. Mas problemas ligados à Revolução Industrial e à emergência de idéias ainda mais perigosas começavam a surgir no horizonte. O Cristianismo do final do século 19 enfrentaria desafios ainda maiores.

Capítulo 19 - A Igreja numa era industrial O acontecimento mais importante da história moderna não ocorreu na esfera política, mas sim na econômica. A Revolução Industrial modificou profundamente a experiência humana.

Alterou a forma como homens e mulheres trabalhavam, transformou a estrutura da sociedade e perturbou o equilíbrio internacional de poder entre o mundo ocidental e o não-ocidental. Isso possibilitou a fase de expansão mais dinâmica do Ocidente, uma processo que havia começado com as Cruzadas e continuado com a criação de impérios coloniais ultramarinos. Por causa da industrialização, quase nenhuma parte do globo deixou de ser afetada pelo poder econômico e político do Ocidente. Tendo em vista que uma grande porção da Igreja havia se tornado parte integrante da cultura ocidental, ela também foi profundamente afetada por esse processo.

A Revolução Industrial Apesar dos estudiosos discutirem assuntos como a cronologia e a duração da Revolução Industrial, todos eles concordam que a substituição de ferramentas manuais por máquinas motorizadas na produção do trabalho no mundo foi uma das transformações mais fundamentais da história humana.

A industrialização britânica Quem tomou a frente nesse processo foi a Inglaterra, lugar onde algum tempo antes havia ocorrido uma revolução agrícola. Lá, as classes que possuíam terras controlaram o Parlamento e

obtiveram uma legislação que anexava as terras comuns e campos abertos, colocando dessa forma a maior parte das propriedades agrícolas nas mãos desses abastados senhores de terras. Com extensões maiores, ele podiam usar técnicas de cultivo mais eficientes para melhorar a produtividade da terra e portanto aumentar também o suprimento de comida para o país. Ao mesmo tempo, isso forçou um grande número de pequenos fazendeiros (camponeses) a encontrar outras fontes de trabalho, o que significava que toda a força de trabalho móvel passou a receber em forma de salários. O capital gerado pelo setor agrícola também podia ser canalizado para outros empreendimentos, especialmente a manufatura. A Inglaterra também possuía uma infra-estrutura política e econômica que tornou possível a industrialização. O governo estável permitiu que a economia funcionasse com liberdade. Como não havia guerras em solo inglês desde a década de 1640, nem lutas civis e nem exércitos invasores constituíam uma ameaça à paz e prosperidade. O país tinha uma classe empreendedora moderna e experiente e as vantagens de um banco central e de instituições de crédito bem desenvolvidas. A Inglaterra possuía o maior mercado interno da Europa e a maior parte dos lugares era de fácil acesso pela água, quer fosse por rios, navegação costeira ou canais. Através do desenvolvimento de sua marinha mercante e

do império colonial, a Inglaterra encontrava-se numa posição favorável para colocar no mercado seu principal produto manufaturado, o tecido de lã, e com o desenvolvimento do maquinário, ele podia concorrer também com os tecidos de algodão da Ásia. Os avanços tecnológicos que criaram a Revolução Industrial ocorreram em primeiro lugar na indústria têxtil do algodão. Uma série de invenções entre 1765 e 1800 permitiu um aumento na produção do algodão e na fiação e tecelagem. O uso de turbinas de água e motores a vapor para operar essas máquinas exigia que houvesse fábricas, portanto os trabalhadores têxteis passaram a trabalhar nesses lugares e não mais em casa e em suas lojas. Essas mudanças estimularam as indústrias de carvão e ferro e, logo, estradas de ferro e navios a vapor foram construídos para transportar a matéria prima para as fábricas e o produto pronto para os mercados. Em 1850 a Inglaterra havia se tornado a oficina do mundo, responsável por dois terços das produção mundial de carvão e metade de seu ferro e tecido de algodão. Londres era o centro financeiro do globo e, de lá, o capital era exportado para outras partes a fim de criar novos empreendimentos. A industrialização espalhou-se então para a Bélgica e França nas décadas de 1820 e 1830 e para os Estados Unidos e Alemanha logo em seguida. Depois de 1860 o crescimento espetacular desses

dois últimos países começou a ultrapassar a Inglaterra, e no final do século 19, novos centros industriais estavam se desenvolvendo na Itália, Áustria, Suécia, Rússia e até mesmo no Japão. Os capitalistas de outras partes do mundo tomavam emprestados os métodos desenvolvidos pela Inglaterra e usavam seu dinheiro e capital, mas voltavam-se para seu próprio Estado em busca de ajuda para promover o crescimento industrial. 1865

1891

Fundação do Exército da Salvação

Leão XIII, Rerum Novarum

1780

1813

1848

1883

1911

Robert Haikes começa

Elizabeth Fry

Missão

Fundada a

Liga da Igreja

o movimento da Escola Dominical 1700

inicia as visitas às interior na Sociedade prisões

Alemanha

1800

Socialista

Fabiana 1900

1750

1833-34

1853

Início da Revolução

Abolição da Escravidão

Florence Nightingale funda a

Industial na Inglaterra

no Império Britânico

enfermagem científica

1833

1848

Lei da Fábrica

Publicação do Manifesto Comunista

1950

O impacto da industrialização As conseqüências sociais desses acontecimentos foram o maior desafio enfrentado pelas igrejas do século 19. O rápido crescimento populacional que acompanhou a industrialização (a Grã-Bretanha cresceu de dez para trinta milhões de pessoas entre

1750 e 1850) acabaram com o sistema de paróquias e incentivaram o desenvolvimento de ministérios itinerantes como os dos metodistas. As paróquias rurais foram empobrecidas pelas divisões de terras enquanto as igrejas das cidades não tinham como lidar com o fluxo de cada vez mais pessoas. Nas novas cidades industriais, ao que parece, as igrejas dissidentes exerciam um ministério mais eficaz junto às novas massas do que a Igreja oficial. Relacionado ao aumento da população, houve um crescimento das favelas. Cidades inteiras pareciam surgir do nada e o crescimento descontrolado colocava um peso excessivo sobre os serviços urbanos — esgotos, coleta de lixo, abastecimento de água, saúde pública, segurança e moradia. Aparentemente, não havia regulamentos para construir. As edificações eram colocados nos menores espaços possíveis e ficavam lotadas de gente. Muitas vezes, famílias inteiras moravam em um só cômodo e em alguns lugares a vida familiar desintegrou-se ao mesmo tempo que inúmeras crianças começaram a encher as ruas. A fumaça pesada e a fuligem do início da era do carvão escureciam o céu e causavam doenças respiratórias. O fedor da sujeira e excrementos no chão era inacreditável. Tendo em vista que normalmente não havia transporte público disponível, as pessoas tinham que ir à pé para as fábricas e lojas.

As condições dos trabalhadores nas fábricas era, na melhor das hipóteses, incerta, e os primeiros anos da Revolução Industrial foram os piores, como nos mostram os estudiosos da atualidade. Até 1820, os preços dos alimentos subiram mais rapidamente do que os salários, mas em 1840 os salários também começaram a subir consideravelmente. Além disso, muitas famílias trabalhavam juntas nas fábricas e minas de carvão, o que ajudava a manter a coesão. Por outro lado, as horas semanais de trabalho eram excessivas e a disciplina das fábricas constituia uma experiência nova para quem estava acostumado a trabalhar em casa ou em pequenas oficinas. Como muitas crianças eram empregadas, tinham pouco acesso à educação. Muitas vezes, seu crescimento era afetado pelo trabalho pesado em máquinas e várias sofriam acidentes debilitantes. Quanto aos donos das fábricas, estes engordavam cada vez mais a classe média. Alguns já eram de famílias de comerciantes bem estabelecidos mas, no início, muitos vinham de origens mais humildes, apesar dessa situação ter mudado na metade do século 19. Havia boas possibilidades para artesãos competentes e que tivessem iniciativa. Além disso, pessoas de grupos religiosos ou étnicos que antes haviam sofrido discriminação em ocupações controladas pela aristocracia, passaram a ter novas oportunidades. Quakers e escoceses tiveram papéis importantes no

desenvolvimento industrial britânico, enquanto que os protestantes e judeus dominaram o setor bancário na França. Os novos industriais, de um modo geral, tinham um estilo de vida modesto e investiam grande parte de sua renda de volta no próprio negócio a fim de manter-se à frente da concorrência. Eles consideravam os “pobres” como sendo preguiçosos e pensavam estar lhes fazendo um favor quando lhes davam emprego e exigiam que trabalhassem diligente e produtivamente. Os empresários não queriam inspetores do governo vigiando seu trabalho para ver se estavam tratando corretamente os empregados. Eles insistiam que se fossem deixados em paz para dirigir seus empreendimentos como bem entendessem, então o país iria prosperar. O impacto da Revolução Industrial sobre a família foi muito importante. Para a classe média, a instituição do lar e a família imediata substituíram a família que incluía parentes mais distantes como da sociedade pré-industrial. A antiga indiferença para com as crianças foi substituída por amor e preocupação em relação a elas. Enquanto o marido trabalhava, a mulher ficava em casa para administrar o lar e cuidar dos filhos. As famílias de classes trabalhadoras passaram a sofrer muito mais tensão por causa das longas horas de expediente, baixos salários, condições de trabalho insalubres, moradia inadequada e falta de segurança social caso o

provedor da família ficasse desempregado, se acidentasse ou morresse. Juntamente com isso, desenvolveu-se uma divisão no trabalho de acordo com o sexo, tendo em vista que só as mulheres que não eram casadas ou as que eram casadas mas de família pobre é que trabalhavam fora do lar. Boas oportunidades de trabalho eram praticamente inexistentes e elas viam-se relegadas a serviços domésticos, tarefas que não exigiam aptidão específica, ou prostituição. A esposa não possuía identidade legal, não podia ter propriedades em seu nome e sempre saía perdendo em acordos de divórcio. Até mesmos seu salário podia pertencer ao marido.

Trabalho humanitário evangélico Tendo em vista que a industrialização foi o maior desafio encarado pela Igreja do século 19, os problemas sociais resultantes dela não podiam ser ignorados. As reações variavam desde uma aceitação e justificação das condições existentes como sendo a vontade de Deus, até a ajuda direta às vítimas da ordem industrial e envolvimento político a fim de trazer melhoras para essas condições. A solução mais radical era substituir o Capitalismo de laissez-faire por um sistema econômico totalmente diferente. Mas dentre as opções, a mais atraente para os evangélicos era a “filantropia” ou trabalho voluntário de caridade.

Vários fatores tornavam essa opção interessante. Era uma forma de obedecer à ordem de Jesus para dar de vestir a quem estivesse nu e de comer a quem estivesse faminto. Seria o passo preliminar à conversão; os pobres precisavam ser erguidos das profundezas da miséria antes de poderem responder ao chamado para vir a Cristo. Outros dedicavam-se a realizar boas obras simplesmente porque eram profundamente tocados pelo sofrimento humano. Assim, a reação dos evangélicos aos males sociais foi de caráter emocional e não ideológico. Para eles, o pecado era a raiz da miséria humana e a fé cristã, o remédio. O pecado era aquilo que impedia a propagação do evangelho e não permitia uma vida de retidão. Em decorrência disso, as tentativas de reforma tinham a tendência de ser de caráter negativo, isto é, mais “anti” ou “contrárias” a algo do que voltadas para alcançar algum objetivo alternativo ou uma nova política. Os cristãos sentiam-se responsáveis por ajudar aqueles que estavam sofrendo e por urgir aqueles que tinham riquezas ou influência política a fazer o mesmo. Para eles, a evangelização e trabalho missionário andavam lado a lado com as iniciativas assistenciais e filantropia. Conforme foi mencionado anteriormente (capítulo 17), os críticos consideravam essa atitude como sendo “paternalista” e insistiam que os evangélicos não queriam apenas atender às necessidades físicas dos pobres, mas

também “convertê-los” e fazer deles pessoas melhores. Mas aqueles que trabalhavam em obras filantrópicas estavam interessados nos pobres como indivíduos, cada um com uma alma imortal que precisava de redenção e não apenas como vítimas impessoais de um determinado sistema sócio-econômico. A maior parte dos cristãos não acreditava que a pobreza podia ser eliminada através da reconstrução da ordem social e econômica ou que os pobres deveriam se organizar e buscar ativamente as mudanças. Porém, essas atitudes foram alterando-se gradualmente no decorrer do século. Os cristãos reavivados acrescentavam o elemento do zelo à tradição anglicana de preocupação com os pobres. Assim, estratégias para realizar boas obras multiplicaram-se no final do século 18. Alguns exemplos disso eram os orfanatos, Sociedades de Amigos dos Estranhos que ofereciam assistência aos pobres, iniciativas em favor de presidiários e do ensino básico. Um inovador no trabalho para reforma das prisões foi John Howards (1726-90), um evangélico muito sério que, como xerife de Bedfordshire, ficou à par das terríveis condições que os detentos das cadeias do condado tinham que suportar. Pôs-se, então, a inspecionar prisões em outras partes da Grã-Bretanha e por toda a Europa e encontrou o mesmo padrão de maus tratos — falta de higiene, proliferação de doenças, alimentação e vestuário

inadequados. Seu famoso livro The State of the Prisons [O Estado das Prisões], publicado em 1777, descrevia a desumanidade do sistema penal e pedia reformas. Apesar de Howard não ter procurado garantir soluções legais ou colocar em prática um programa de supervisão das cadeias, Elizabeth Gurney Fry (1780-1845), ministra evangélica da Sociedade de Amigos, mostrou-se mais eficiente. Em 1813 ela começou a visitar mulheres encarceradas na famosa prisão de Newgale em Londres, onde lia a Bíblia e orava com as detentas. Então, passou a fazer campanhas em favor de melhores condições e em 1818 testemunhou sobre o assunto diante de uma comissão parlamentar. Chegou até a influenciar seu cunhado T. Fowel Buxton para que publicasse, no ano seguinte, um livro com duras críticas às prisões e os esforços deles ajudaram a trazer reformas penais na década de 1820 (Buxton é lembrado principalmente por dar um final de sucesso à campanha de Wilberforce pela abolição da escravatura no império britânico em 1833). Em 1853, a mobilização evangélica também acabou com o transporte de presos para as colônias penais. O movimento de Escola Dominical foi um passo importante no ensino público e, sua pioneira, Hannah Ball, discípula de Wesley, abriu a primeira escola desse tipo na cidade de High Wycombe em 1769. As escolas dominicais foram criadas para

ensinar às crianças os rudimentos da leitura, escrita e religião no único dia da semana em que tinham folga do trabalho. A divulgação das escolas dominicais foi realizada pelo dono de um jornal em Gloucester, Robert Raikes (1735-1811), que abriu sua primeira escola em 1780. A idéia fez tanto sucesso que, no final da década, duzentos mil alunos da Grã-Bretanha já haviam se matriculado. O movimento espalhou-se para o continente e América do Norte e uma Associação de Escolas Dominicais formou-se na Grã-Bretanha em 1803 e na América em 1824. À medida em que as instituições educacionais, como as Ragged Schools [Escolas para Crianças Pobres] proliferaram, as escolas dominicais começaram a concentrar-se exclusivamente no ensino religioso. O grupo Clapham (ver capítulo 17) foi um exemplo excepcional de iniciativas sociais coordenadas e seu trabalho refletia o papel chave desempenhado pelas sociedades voluntárias nas atividades filantrópicas evangélicas. A começar pela fundação da Sociedade da Benfeitoria por Wilberforce e outros em Clapham em 1796, as organizações de caridade começaram a surgir num ritmo de seis por ano. Na metade do século já havia quinhentas dessas instituições, sendo que pelo menos três quartos delas eram de caráter e controle evangélico. Em 1853 o governo criou os Comissários de Caridade para supervisionar suas iniciativas.

Um ponto de divergência entre os evangélicos era a questão da reforma em fábricas. A maioria não se interessava por sindicatos profissionais, apesar de alguns dos primeiros líderes dos trabalhadores terem sido metodistas. Os membros de Clapham, por outro lado, apoiavam firmemente o fim do trabalho infantil e resistiam aos liberais do laissez-faire, obtendo as primeiras e modestas legislações tratando dessas questões. Alguns tinham cada vez mais dúvidas sobre o sistema das fábricas e começaram a canalizar as energias — que antes haviam se voltado para a abolição da escravatura — no sentido dessa nova causa. Os evangélicos Michael Oastler e George Bull montaram em Yorkshire uma campanha no estilo de Wilberforce para impor limitações rígidas ao trabalho infantil em indústrias têxteis e seu aliado no Parlamento, Michael Sadler, propôs uma lei de reforma em 1832. Seu comitê de investigação descobriu abusos chocantes e o interesse público numa lei sobre as fábricas cresceu até alcançar um clímax exaltado, mas uma derrota eleitoral tirou Sadler de cena. Quem tomou seu lugar foi Anthony Ashley Cooper, o Sétimo Conde de Shaftesbury (1801-85) que viria a ser o maior reformador social cristão da Grã-Bretanha. De linhagem aristocrática, ele havia se convertido na juventude, tinha sido eleito para o Parlamento como um Tory em 1826 e adquirido

experiência no auxílio a pessoas com doenças mentais. Quando George Bull pediu a Lord Ashley para liderar a luta, ele respondeu depois de um dia de oração e meditação da Bíblia: “Creio que é meu dever para com Deus e para com os pobres e Ele há de me sustentar... Pareceu-me ser uma questão menos de política e mais de religião”.1 Apesar da hostilidade dos manufatureiros, Ashley continuou pressionando para passar a Lei das Fábricas de 1833, que restringia o trabalho infantil nas fábricas e oferecia inspetores para garantir que essa lei fosse cumprida. Os esforços incansáveis de Shaftesbury em favor dos pobres e oprimidos constituíram um dos maiores épicos da história cristã. Durante quase seis décadas ele foi responsável pela legislação que promovia a saúde pública, restringia o trabalho feminino e infantil em fábricas e minas de carvão e proibia o uso de meninos para limpar as lareiras no alto de telhados. Como líder da União das Escolas para Crianças Pobres, ele promoveu a educação para a população de baixa renda e envolveu-se numa dúzia de organizações para melhorar a qualidade de vida dos jovens bem como dos idosos. Ao mesmo tempo, também foi oficial em várias sociedades evangelísticas e missionárias. Mas, sobretudo, ele determinou a doutrina da intervenção benevolente do Estado na organização de indústrias e comércio para proteger os interesses dos trabalhadores.

No final do século 19, o número e variedade de organizações de serviço social cristãs havia se tornado enorme. Duas dessas organizações merecem comentário. Uma era o Exército da Salvação, fundado em 1865 como “Missão Cristã” por William Booth (1829-1912) e sua esposa Catherine (1829-90). Ambos eram pregadores talentosos que foram forçados a sair da Igreja metodista em 1861 e tornaram-se evangelistas autônomos. Foram morar no extremo leste de Londres, uma área de intensa pobreza e começaram a trabalhar onde pregavam o evangelho e uma forte mensagem de santidade e, ao mesmo tempo, tratavam dos males sociais. Seu programa incluía a alimentação dos famintos, abrigo para os que não tinham casa, agência de empregos para os que estavam sem trabalho e albergues para mulheres e ex-prisioneiros. A missão foi assumindo cada vez mais uma estrutura militar e em 1878 recebeu o novo nome de Exército da Salvação. Booth tornou-se o general, os evangelistas e obreiros receberam patentes e formaram-se bandas marciais. Os uniformes padronizados foram adotados em 1890, o mesmo ano em que começaram sua primeira iniciativa ultramar e corporações (grupos locais) surgiram por toda a Grã-Bretanha, continente europeu, Índia e América do Norte. Em 1890 Booth escreveu In Darkest England - and the Way Out [Na Mais Escura Inglaterra - e o Caminho para Fora], um bestseller que apresentava os fatos da pobreza e o que precisava ser

feito sobre ela. Apesar do Exército da Salvação ser um grupo extremamente centralizado, foi a única organização da época que conseguiu trabalhar, de fato, entre as massas e comunicar-se com elas. Um outro importante ministério social foi o de Thomas John Barnardo (1845-1905), que pertencia a uma assembléia dos Irmãos de Plymouth e planejava ir para a China como missionário médico. Porém, um dia em 1870 ele encontrou uma criança abandonada que o inspirou a fundar um abrigo para meninos desamparados. Um organizador talentoso, ele abriu diversos orfanatos na GrãBretanha e chegou até a mandar jovens para o Canadá onde havia mais oportunidades de emprego. Alguns dizem que os “meninos de Barnardo” constituíam 1 por cento da população de língua inglesa do Canadá no início do século 20. Na Alemanha, os crescentes problemas sociais da industrialização também chamaram a atenção dos cristãos. Uma figura importante no Despertar, Theodor Fliender (1800-64) juntamente com sua esposa Friederike (1800-42), fundou o movimento de “diaconisas”, que abriu para as mulheres o campo do trabalho filantrópico na Igreja protestante. Pastor da igreja de uma vila perto de Düsseldorf, ela havia trabalhado num ministério com presidiárias. Ao reconhecer o papel da mulher na Igreja apostólica e seus ministérios junto aos pobres na Holanda, ele e

Friederike fundaram em 1836 o Instituto de Diaconisas a fim de treinar mulheres para serem enfermeiras em hospitais. O lugar era chamado de “casa matriz” e as residentes aprendiam diversas habilidades que poderiam ser usadas no trabalho da igreja e nas obras de caridade. A idéia pegou tão rapidamente e logo outras casas matrizes foram fundadas. Nesses lugares, mulheres não casadas viviam em comunidades e faziam votos de obediência, fidelidade e devoção ao seu chamado, mas esses compromissos não eram tão severos quanto aqueles de uma ordem católica romana. O movimento de diaconisas permitiu que mulheres cristãs se dedicassem ao alívio da pobreza, doença e outros males. Também deu a elas a oportunidade de ser ativas na vida pública da igreja e de aplicar sua fé a questões práticas das necessidades humanas. O impacto do movimento das diaconisas no campo da enfermagem foi bastante significativo. Elizabeth Fry visitou o Instituto das Diaconisas em 1840 e fundou o seu próprio Instituto de Enfermagem no ano seguinte e Florence Nightingale (18201910) esteve lá em 1849 e outra vez em 1851, quando passou três meses trabalhando com as diaconisas. Neta de um membro de Clapham, ela possuía uma profunda fé pessoal e o próprio Shaftesbury a incentivou a dedicar-se à enfermagem. Sua reorganização dos hospitais militares da Inglaterra durante a

Guerra da Criméia (1854-56) marcou o início da enfermagem científica moderna. A ênfase dada pelos alemães às funcionárias treinadas e à devoção ao dever modelou todo o desenvolvimento dessa profissão. O ministério social mais importante do século 18 na Alemanha foi o de Johann Hinrich Wichern (1808-81). Depois de Francke, ninguém mais havia mostrado a capacidade de organizar questões práticas religiosos como ele. Wichern ligou a visão cristã de caridade com uma iniciativa de reconstruir as bases morais do país. Assim como os reformadores ingleses, ele teve uma visão da vinda do reino de Deus no qual as pessoas experimentariam o triunfo do bem sobre o mal. Isso seria auxiliado pela propagação da devoção e moral cristãs e a fé religiosa iria prosperar quando se melhorasse a qualidade de vida daqueles que estavam sofrendo. Pelo fato do objetivo de Wichern ser uma reconstrução do caráter humano e não uma reforma das estruturas sociais, sua abordagem era individualista. Mas ao incluir a vida pública da pessoa e a preocupação pelos fatores morais do problema social, ele modificou a estrutura do individualismo. Tendo em vista que rejeitava a igualdade social e que ligou o seu programa de reforma à monarquia cristã conservadora da Prússia, Wincher poderia ser considerado um “reformador Tory” como eram seus equivalentes ingleses.

Nascido em Hamburgo, ele foi profundamente afetado pelo Despertar quando era um estudante em Berlim. Ao voltar para sua cidade natal a fim de servir em uma paróquia, ele tomou consciência do abismo social entre a classe média e as classes trabalhadoras. Notou a privação moral e econômica da classe operária. Em 1833 um patrono deu-lhe um prédio para ser usado como uma escola de treinamento de jovens pobres, lugar que ficou conhecido como Rauhe Haus [Lugar Difícil]. Esse humilde empreendimento desenvolveu-se rapidamente e tornou-se uma importante operação de serviço social, uma iniciativa que seria a de maior influência na Alemanha protestante, simplesmente porque ele teve uma visão diferente do trabalho cristão. Enquanto Fliedner havia se concentrado nas necessidades locais com sua rede cada vez maior de institutos e hospitais, Wichern tinha esperança de poder fortalecer a religião entre todas as classes de pessoas e a partir disso reconstruir o Cristianismo. Graças ao apoio que recebeu do rei da Prússia na década de 1840, ele transformou seu ministério social de sucesso na “Missão Interior”, um termo que veio a ser usado para todo o programa de obras de caridade dentro das igrejas luteranas. Para ele essa era a tarefa missionária da Igreja dentro do mundo, isto é, conquistar os outros elementos não-cristãos ou anti-cristãos. Ele considerava essas forças como um impedimento para a construção do reino de

Cristo dentro da família, Igreja, sociedade e Estado. Em decorrência disso, a Missão Interior foi a mais importante reação dos protestantes alemães à ordem industrial. Ela não apenas cultivou uma consciência entre um público que, de outro modo, seria indiferente, como também trabalhou a nível nacional, contribuindo para uma percepção cada vez maior da necessidade de unificação da Alemanha e também da Igreja. Entre os mais queridos ativistas sociais cristãos, um homem conhecido por sua fé simples e profunda compaixão foi Friedrich von Bodelschwingh (1831-1910). Um próspero fazendeiro da Westphalia que decidiu estudar para o ministério, ele foi profundamente influenciado pelo Despertar. Sua primeira incumbência foi uma congregação de alemães em Paris, onde ele trabalhou durante seis anos. Grande parte de seus párocos eram operários de fábricas e empregados domésticos e através dessa experiência ele adquiriu uma visão mais abrangente daqueles que estavam “de fora” da sociedade moderna. Ao voltar para sua terra natal, a Westphalia, em 1864, para pastorear uma igreja numa área industrial em expansão, ele continuou a confrontar o problema da nova era econômica. Não conseguia decidir se a “questão social” surgia de um fracasso moral ou institucional e chegou até a comentar que a classe trabalhadora estava num moinho, presa entre duas pedras, “o álcool e o capital”.

Bodelschwingh havia passado cinco anos ensinando a Bíblia para jovens. Depois de enfrentar a tragédia de perder quatro dos seus próprios filhos por causa de uma doença num período de duas semanas, ele renovou seu compromisso com os sofredores e necessitados. Em 1872, aceitou o chamado para supervisionar um pequeno lar para meninos “epilépticos” em Bielefeld. Esses jovens deficientes mentais epitomizavam suas visão escatológica de que não se construía o reino de Deus, mas era preciso se preparar para a volta de Cristo. Vivendo à margem da sociedade, o futuro desses meninos estava exclusivamente nas mãos de Deus. Mas a esperança que Bodelschwingh encontrava no evangelho significava que até a mais marginalizada de todas as pessoas era importante aos olhos de Deus. Dentro de poucos anos, o Instituto Betel, como era chamado, havia se transformado numa grande entidade com fazendas, oficinas, escolas, hospitais e igrejas. Bodelschwingh chegou até a abrir uma escola de teologia na qual os alunos, através do estudo diligente das Escrituras, iriam adquirir uma base firme para sua fé e colocar suas crenças em prática dentro dessa comunidade assistencial. Em 1914, mais de 3.925 pessoas moravam em Betel e em suas várias instalações-satélite. Ela tornou-se uma das maiores instituições cristãs de assistência social do mundo protestante. O ímpeto humanitário também alcançou o Cristianismo

americano. Ao concentrar-se na transformação moral do caráter, o reavivamento da década de 1840 havia gerado uma série de iniciativas. A história mais conhecida é a do movimento para abolição da escravatura, uma importante tentativa de reforma dos evangélicos do norte, mas não para aqueles do sul. Os males sociais urbanos também eram o alvo de atenção e o trabalho da evangelista e co-fundadora metodista do movimento de santidade, Phoebe Palmer (1807-74), é especialmente digo de menção. Depois de envolver-se em vários ministérios junto aos necessitados em Nova York, em 1850 Phoebe fundou a Missão dos Cinco Pontos, um projeto para abrigar famílias pobres e oferecer-lhes educação e trabalho. Esse trabalho serviu de protótipo para o trabalho institucional cristão nas favelas das cidades industriais. As iniciativas filantrópicas multiplicaram-se nos Estados Unidos como havia ocorrido na Grã-Bretanha e Alemanha, mas só alguns exemplos poderão ser citados. Em 1880, o primeiro contingente de obreiros do Exército da Salvação chegou a Nova York e logo, seu trabalho já estava crescendo. Em 1896, Ballington e Maud Booth deixaram o Exército pois não estavam contentes com sua administração autocrática. O novo grupo chamava-se Voluntários da América, mas mantinha a organização quase militar e a ênfase em ministérios urbanos. Em 1872 Jerry

McAuley, um imigrante irlandês que havia se convertido enquanto estava na prisão, fundou a Missão de Water Street em Nova York. Essa foi a primeira “missão de resgate” dos Estados Unidos e a inspiração para centenas como ela em anos subseqüentes. Na década de 1890, os evangélicos criaram tanto a “Porta da Esperança” como os Lares Florence Crittenton para oferecer abrigo e cuidado para mulheres sem casa e mães solteiras. Estes e outros empreendimentos semelhantes refletiram a ênfase no reavivamento e na santidade e aqueles que lideravam esses trabalhos viviam nas cidades. Em resumo, o ensinamento bíblico de amor como a prática do auxílio aos necessitados foi o que caracterizou a reação filantrópica ao industrialismo.

Socialismo Uma reação completamente diferente aos problemas da era industrial foi a do Socialismo. Os simpatizantes desse movimento iam além da simples reforma e defendiam a criação de uma ordem social totalmente nova. Apesar de haver muitas variedades de Socialismo, um denominador comum era o pedido por alguma forma de propriedade coletiva dos bens produtivos ou “meios de produção” — terras, máquinas, fábricas, sistemas de transporte e bancos. Além disso, ao contrário dos liberais, os socialistas rejeitavam o Capitalismo de laissez-faire e a competição de

mercado livre, considerando-os causadores de desperdício. Em seu lugar, preferiam algum tipo de arranjo comunitário ou cooperativo em que as pessoas teriam propriedades em comum e compartilhariam dos lucros da produção. Enfatizavam uma distribuição mais justa de renda entre os membros funcionais da sociedade, ao invés do simples aumento da produção. Os primeiros socialistas eram chamados de “utópicos” pois suas idéias baseavam-se em conceitos extremamente idealistas da natureza humana. Por exemplo, aqueles que seguiam Robert Owen achavam que o governo próprio de uma comunidade daria um fim às desigualdades da vida. Os discípulos do Conde Saint Simon argumentavam que o Estado deveria possuir os meios de produção mas sob uma hierarquia de elites talentosas que recompensariam a todos de acordo com o trabalho realizado. Charles Fourir visualizava uma sociedade formada por unidades cooperativas de mil e seiscentas pessoas nas quais todos fariam o trabalho que estava mais de acordo com suas aptidões e todos compartilhariam dos rendimentos dessa comunidade. Louis Blanc defendia a formação de “oficinas sociais” financiadas pelo governo e que teriam melhor desempenho do que os empreendimentos privados pois os trabalhadores participariam de sua administração e dos lucros. Para Karl Marx (1818-83), o mais importante de todos os

pensadores socialistas, esses eram planos de sonhadores nada pragmáticos. Marx e seu colega Friedrich Engels (1820-95) insistiam que ao invés de criar sociedades ideais, deveria buscar-se a destruição do sistema capitalista. Das suas cinzas surgiria uma nova ordem baseada no tratamento justo dos trabalhadores. Filho de pais judeus que haviam se convertido ao Luteranismo, o jovem Marx rejeitava todas as religiões. Depois de estudar filosofia em Berlim, foi para o jornalismo porque suas idéias radicais impediam que ele conseguisse um cargo de professor universitário. Porém, as autoridades prussianas fecharam seu jornal e o forçaram ao exílio. Em 1844 ele começou um relacionamento vitalício com Engels, um conterrâneo alemão que havia se mudado para a Inglaterra a fim de administrar uma fábrica têxtil que seu pai possuía lá e publicou um relato chocante do tratamento recebido pelos trabalhadores do início da Revolução Industrial. No começou de 1848, os dois homens escreveram um plano de ação político chamado O Manifesto Comunista, para um grupo radical quase desconhecido, a Liga Comunista. Quando a revolução eclodiu na Alemanha, dois meses depois, eles voltaram para casa, começaram um jornal e tentaram sem sucesso direcionar os acontecimentos para um rumo social. Quando a revolta entrou em colapso em 1849 os dois voltaram para a Inglaterra. Engels continuou sua carreira de negócios e

ajudou a sustentar Marx, que passou os trinta anos seguintes enterrado na biblioteca do Museu Britânico desenvolvendo os detalhes de sua teoria. O primeiro volume de Das Kapital [O Capital] saiu em 1867 e, depois da morte de Marx, seus discípulos compilaram mais dois volumes usando suas anotações. Ele também escreveu vários livros menores e muitas cartas a outros socialistas numa tentativa de criar um movimento internacional das classes trabalhadoras. Para desenvolver seu próprio sistema, que explicava por que os trabalhadores viviam na pobreza e por que ocorriam as revoluções e depressões, Marx lançou mão extensivamente de pensadores mais antigos. Rejeitando o idealismo de socialistas anteriores e considerando-os “utópicos”, ele declarou que suas idéias eram “científicas”, ou seja, baseadas nas “leis” que governavam a sociedade e garantiu que os trabalhadores ainda triunfariam. Dentre essas leis, a mais básica era a “visão materialista da História” ou “materialismo histórico”. Para isso ele fez uso de dois pensadores, Feuerbach e Hegel. O filósofo Ludwig Feuerbach (1804-72) escreveu na obra A Essência do Cristianismo (1841) que a matéria ou natureza (o material) era a fonte de todas as idéias, o inverso daquilo que Hegel havia ensinado. Além disso, Deus era uma projeção do homem, o desejo exaltado do coração das pessoas, a amplificação de idéias sobre nós mesmos. Assim, a

Teologia era Antropologia, o conhecimento a humanidade. Marx foi ainda mais longe argumentando que a realidade final não se encontrava na natureza em si, mas nas estruturas da vida econômica. Aqueles que controlam os meios de produção (a “classe dominante”) constróem a sociedade de modo que eles próprios sejam beneficiados. Determinam seus relacionamentos sociais, órgãos políticos, leis, valores morais e crenças religiosas. Isso inevitavelmente levava à exploração de outros. Porém, um sistema econômico se expande naturalmente e sofre mudanças nas técnicas de produção. Isso leva à ascensão de uma nova classe que está profundamente envolvida na produção e mais cedo ou mais tarde desafia a antiga classe dominante. Assim, o fato básico da História é a “luta de classes”. Para explicar esse fato, Max lançou mão da dialética de Hegel. A antiga classe dominante é a tese e a emergente é a antítese. De sua colisão (luta) surge um novo sistema que contém as melhores características de ambas as classes. Esse processo de evolução histórica continuará até que todas as classes tenham se “libertado” e o resultado final será o “comunismo” ou “sociedade sem classes”. Na sua época, a luta era entre a “burguesia”, a classe dominante do Capitalismo e o “proletariado”, os trabalhadores assalariados que não possuíam nenhum bem a não ser suas mãos e suas costas. A maior parte do esforço literário de Marx tinha como

objetivo mostrar os males da sociedade burguesa e preparar o caminho para a revolução do proletariado. Ele argumentava que o poder capitalista baseia-se no lucro (“valor excedente”), as rendas que deveriam ter ido para os trabalhadores que haviam feito os bens e, portanto, o Capitalismo é um “roubo organizado”. Além disso, o número de capitalistas irá diminuir pois o poder econômico está se concentrando nas mãos de cada vez menos pessoas e as classes trabalhadores estão aumentando. O acúmulo de tensões e contradições dentro do Capitalismo juntamente com a crescente miséria dos trabalhadoras finalmente levará a um colapso de todo o sistema. Então, os trabalhadores irão tomar o poder e instalar uma “ditadura revolucionária do proletariado” para realizar as transições rumo à sociedade sem classes. Nesse ponto, o próprio Marx tornou-se utópico, tendo em vista que ele acreditava que no Comunismo a propriedade particular deixaria de existir, o Estado (o “comitê executivo da classe dominante”) acabaria tornando-se desnecessário e todos viveriam num estado de liberdade autêntica, onde cada pessoa contribuiria de acordo com sua habilidade e seria recompensada de acordo com sua necessidade. Apesar de Marx ter ajudado na formação da (Primeira) Associação Internacional de Trabalhadores em 1864 e tê-la usado como forma de espalhar suas idéias, a maior parte da organização

socialista foi feita por outros. O primeiro partido marxista alemão foi formado em 1869 e depois de juntar-se com um outro grupo socialista em 1875, o Partido Social Democrata da Alemanha cresceu rapidamente. No começo do século 20, estava recebendo mais votos que qualquer facção nas eleições parlamentares. Partidos marxistas também se formaram em outros países industrializados, sendo os maiores na Bélgica e França. Muitos dos recém-criados sindicatos profissionais também eram orientados pelo pensamento marxista. À medida em que os partidos e sindicatos foram ganhando força, desenvolveram-se diferentes estratégias. Os “ortodoxos” argumentavam que os socialistas devem trabalhar no sentido de uma deposição revolucionária dos regimes “burgueses”, enquanto os “revisionistas” afirmavam que, tendo em vista que os trabalhadores possuíam sindicatos e partido político, podia conseguir uma transferência de poder através de meios pacíficos. Uma importante influência na produção dessa segunda abordagem foi o “gradualismo” defendido por um grupo de críticos do Capitalismo pertencentes à classe média na GrãBretanha e conhecidos como Sociedade Fabiana. Formada em 1883, seus membros (incluindo H.G. Wells e George Bernard Shaw) viam o Socialismo como o equivalente social e econômico da democracia, bem como seus resultados. O conflito de classes

não era inevitável e medidas graduais e conciliatórias acabariam trazendo uma ordem socialista. Os marxistas desprezavam esse pensamento taxando-o de “oportunismo”. Os marxistas mais extremistas voltaram-se para o sindicalismo, um movimento de anarquia que pedia a deposição violenta dos governos para que em seu lugar fossem colocados sindicatos de trabalhadores com autoridade suprema. As relações entre as igrejas e os movimentos socialistas eram, no mínimo, tensas. Marx era um “humanista pós-cristão” no sentido de que proclamava a independência humana de Deus e da religião. Para ele a religião era “o ópio do povo”, uma ferramenta que a classe dominante usava para manter sua supremacia. Os partidos socialistas eram indiferentes em relação às igrejas e a freqüência da classe trabalhadora nos cultos caiu acentuadamente. A alienação das massas trabalhadoras das igrejas oficiais da Europa já estava a pleno vapor no final do século. Ao mesmo tempo, a hostilidade das igrejas que em sua maioria eram burguesas tornava ainda mais difícil uma reconciliação com as classes trabalhadoras.

Socialismo cristão Os humanitários evangélicos procuravam ajudar as vítimas da ordem industrial enquanto os socialistas seculares encaravam o

sistema em si como sendo a principal fonte dos problemas sociais. Porém, os “socialistas cristãos” tentavam reconciliar as abordagens divergentes. Eles defendiam uma adaptação ou remodelagem do sistema em si a fim de haver uma medida maior de justiça social. A maioria deles propunha uma alternativa cristã para a ordem econômica existente e alguns até trabalhavam com partidos socialistas ou de trabalhadores na tentativa de realizar mudanças. Apesar de divergirem em questões de doutrina e ação, os socialistas cristãos concordavam que a abordagem liberal clássica à vida econômica era gravemente deficiente. É certo que suas idéias eram tiradas de correntes reformistas contemporâneas enquanto os socialistas mantinham-se céticos em relação à sua ênfase sobre os fatores espirituais e o trabalho voluntário ao invés da solução coletivista para os males da sociedade. Os socialistas cristãos acreditavam que o reino de Cristo abrangia toda a raça humana e, portanto, a humanidade poderia ser melhorada e libertada das condições precárias de vida (como, por exemplo, as práticas econômicas competitivas) produzidas pelo pecado. Essa não era a intenção de Deus para suas criaturas. Desde que as primeiras variedades de Socialismo ainda estavam surgindo na França, assim também apareram as primeiras expressões de Socialismo cristão. O sacerdote e escritor católico

Félicité de Lamennais (1782-54) identificava a pobreza como sendo conseqüência do pecado humano. Ele pedia uma nova ordem baseada na abolição dos privilégios do monopólio, tornando o crédito disponível para todos e dando aos trabalhadores o direito de formar cooperativas de produção (“associações”) mas não era a favor da abolição da propriedade privada por si só. Em seu jornal de curta duração L’Avenir [O Futuro], Lamennais chegou a defender a separação entre Igreja e Estado e a regeneração da Igreja Católica. Mas em 1832 o papa condenou suas idéias e ele pediu demissão da Igreja e acabou até mesmo abandonando sua fé. Phillippe Buchez (1796-1865) era um escritor que rejeitava veementemente o Catolicismo e ainda assim aceitava o Cristianismo e pode até ter experimentado uma conversão. Era o principal defensor das cooperativas independentes e voluntárias. Via o “direito de trabalhar” que seria possibilitado pela associação, como o cumprimento das implicações políticas e sociais dos ensinamentos de Cristo. Algumas outras figuras francesas defenderam formas vagas de Socialismo cristão, mas a liderança eclesiástica reacionária também resistiu a elas. Na Inglaterra, porém, a idéia atraiu grande número de seguidores. Fundador de um movimento socialista cristão de estilo próprio, John M. F. Ludlow (1821-1911) era um advogado que

havia sido educado na França e aprendido lá sobre o Socialismo. Durante inquietações Chartistas de 1848 (um movimento moderado que, através de abaixo-assinados e manifestações em massa pedia uma reforma democrática do Parlamento) ele persuadiu o teólogo anglicano liberal Frederick D. Maurice (180572) e o escritor Charles Kingsley (1819-75) de que os cristãos deviam estar preocupados com o sofrimento e as injustiças em relação aos trabalhadores. Como disse Ludlow, “o novo Socialismo deve ser cristianizado”. Durante os seis anos seguintes eles publicaram panfletos, abriram uma “Faculdade para Trabalhadores” em Londres e formaram oficinas cooperativas para artesãos. Em 1855 o movimento havia se apagado devido à falta de interesse tanto da Igreja como dos líderes da classe trabalhadora e a distração causada pela Guerra da Criméia. Porém, sua influência a longo prazo pode ser vista no movimento dos sindicatos, na legislação para cooperativas e nas iniciativas de educação da classe trabalhadora. O Socialismo cristão foi reavivado com a fundação da Guilda de São Mateus na Igreja oficial em 1877 pelo Reverendo Stewart D. Headlam (1847-1924), que também era membro da Sociedade Fabiana. A associação era fortemente favorável ao trabalhador e desprezava as cooperativas, argumentando que, ao invés delas, eram as leis que deveriam proteger os operários.

Headlam declarou que Jesus era o “Emancipador social e político, o maior de todos os trabalhadores seculares, o fundador da grande sociedade socialista para a promoção da retidão, o provedor de uma revolução”.2 Porém seus principais rivais, o Sindicato Social Cristão (1889) e a Liga Socialista da Igreja (1906) atraíam mais membros e ofereciam soluções mais radicais para os males da sociedade. Eles estudavam as condições de trabalho em fábricas e expunham as firmas que apresentavam resultados negativos. A Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa foram um golpe severo para esses grupos e os de “guildas socialistas”, alguns dos quais eram associados à Igreja anglicana. (O Socialismo de guilda era uma forma de reviver o antigo sistema medieval de produção tendo como base as guildas de artesanato em pequena escala.) Por causa de seu caráter de classe média, as sociedades nunca alcançaram as massas urbanas que estavam cada vez mais alienadas das igrejas. Ainda assim, o Protestantismo pendia favoravelmente para o Socialismo. Um bom exemplo foi o trabalhado do Arcebispo William Temple, cujo livro Christianity and Social Order [Cristianismo e Ordem Social] (1942) ainda é altamente respeitado. Uma ilustração exemplar do envolvimento no Socialismo “partidário” é o caso de J. Keir Hardie (1856-1915). Influenciado pelos valores espirituais e éticos da tradição do Presbiterianismo

da Aliança proveniente de sua região de origem na Escócia, ele possuía um comprometimento profundo com a justiça social. Isso foi fortalecido por sua conversão numa reunião de Moody-Sankey e por sua afiliação ao Sindicato Evangélico, um grupo congregacionalista escocês. Mais tarde, ele disse que seu Socialismo vinha do Sermão da Montanha, afirmando que “a única forma que você pode servir a Deus é servindo a humanidade”. Ele começou como mineiro de carvão, tornou-se um agente do sindicato e então entrou para a política. Eleito para o Parlamento em 1892, no ano seguinte ele ajudou a formar o Partido Trabalhista Independente. Apesar de não usar o nome “socialista”, sua proposta continha uma declaração que apoiava a propriedade coletiva dos meios de produção. O nome foi logo mudado para Partido Trabalhista e, em 1906 ganhou trinta cadeiras, sendo que nessa ocasião Hardie trabalhou durante dois anos como presidente do partido. Na Alemanha, as igrejas viam a ordem industrial como um enorme desafio. Em função disso, promoveram a observância do Dia do Senhor, formaram comissões municipais para ministrar aos trabalhadores e os recém-chegados do campo além de manterem missões para os viajantes nas estações ferroviárias. Dedicaram-se a muitas outras iniciativas através da Missão Interior, a principal reação protestante à industrialização. Viam, porém, o Partido

Social Democrata como uma ameaça ainda maior. Durante a década de 1880, o governo alemão tentou combater o Marxismo com uma tentativa fútil de proibir o partido e oferecer assistência médica, seguro de invalidez e aposentadoria para os trabalhadores. Assim, os socialistas passaram a considerar a Igreja e o Estado como seus inimigos. A princípio, a posição dos Sociais Democratas em relação ao Cristianismo era hostil. Alguns argumentavam em favor do ateísmo ou chamavam o Socialismo de nova religião das massas, enquanto outros insistiam que a religião era uma questão puramente “particular”. Não tardou para que o partido moderasse essas atitude como forma de ganhar mais seguidores. Apesar da resposta de muitos líderes eclesiásticos ser puramente negativa, um clérigo luterano, Adolf Stoecker (1835-1909) concebeu uma forma de Socialismo cristão como alternativa ao Marxismo. Através do pastorado em uma nova cidade industrial, envolvimento com a Missão da Cidade de Berlim e serviço como pregador da corte da Prússia, Stoecker esteve em contato próximo com os problemas da era industrial. Ele concluiu que o reino de Deus podia criar uma ponte sobre o abismo entre a antiga sociedade conservadora e nova sociedade radical. A ênfase da Igreja na liberdade, irmandade e igualdade perante Deus podia reconciliar as diferenças de classe na terra e permitir que ricos e

pobres vivessem em paz uns com os outros. Em 1878 Stoecker fundou o Partido dos Trabalhadores Cristãos Socialistas para concorrer com os Sociais Democratas. O partido pedia uma série de reformas para a classe trabalhadora e incentivava sua lealdade a Igreja, monarquia e pátria. Como não conseguiu repercussão entre os eleitores da classe trabalhadora, voltou-se para a classe média baixa. Nesse meio ele descobriu o poderoso apêlo político do anti-semitismo. Através desse artifício Stoecker tornou-se uma figura nacional , chegando a ganhar a eleição para o parlamento, mas isso o desacreditou como socialista e acabou levando à sua dispensa do cargo de pregador da corte em 1890. Apesar de ter se dedicado a outras formas de ação social mais para o final de sua vida, a maioria só se lembra dele como precursor do nazismo por causa de suas atividades e discursos anti-semitas. Christoph Bulmhardt (1842-1919) um evangélico sério, filho de J.C. Blumhardt (ver capítulo 18), era muito diferente. Ele entrou para o ministério junto com seu pai em 1869 e endossou a idéia dele de que Jesus é vitorioso e seu reino de luz irá conquistar o reino de trevas do mundo. Porém, argumentava que a Igreja institucional não estava servindo de testemunho do reino de Deus tendo em vista que interessava-se apenas em detalhes da doutrina e, portanto, os proletários e socialistas eram os aqueles que, na

verdade, tinham uma esperança escatológica. Blumhardt tornou-se o primeiro pastor luterano a entrar para o Partido Social Democrata e em 1899 uma assembléia local o expulsou de seu cargo ao púlpito por apoiar publicamente os movimentos de protesto dos trabalhadores. Em 1900 ele foi eleito para o legislativo estadual de Württemberg como Social Democrata, cargo que manteve até 1906. Então, desiludido com o Partido Social Democrata, ele deixou a política ao perceber que o partido estava menos preocupado com a luta pela justiça do que com a possibilidade de um acordo confortável que pudesse fazer com o mundo injusto. Ainda assim, a ênfase na soberania e revelação de Deus continuaram presentes em suas pregações que influenciaram muitos teólogos do século 20, incluindo Karl Barth, Emil Brunner e Dietrich Bonhoeffer. Sua influência também ficou evidente no trabalho dos “Socialistas Religiosos”, uma sociedade fundada em 1906 por Hermann Kutter (1863-1931) e Leonhard Ragaz (1868-1945) na Suíça. O grupo identificava o Socialismo com a mão do Deus vivo e insistia que a questão social seria resolvida no cerne do Cristianismo. Ragaz chegou até a juntar-se ao Partido Social Democrata Suíço, como também o fez Karl Barth. Uma forte ênfase do movimento era o pacifismo, que seria um elemento chave para o Socialismo cristão alemão desde então. Porém, em

1919 Barth sugeriu que o Socialismo religioso era um forma de idolatria política quando afirmava que o serviço do homem, quando realizado a partir do mais puro amor, tornava-se o serviço de Deus e, por isso, Barth deixou o movimento. Graças a Paul Tillich e outros, o Socialismo religioso cresceu na Europa de língua alemã, apesar de nunca ter ficado muito claro qual era o significado do termo para aqueles que faziam uso dele. Mostrou-se um fenômeno duradouro e a Associação de Socialistas Religiosos, formada em 1926, existe até hoje. Nos Estados Unidos, a hostilidade ao Socialismo prevaleceu tanto nos meios protestantes quanto católicos, mas várias pessoas influentes chegaram a pertencer à Fraternidade Socialista Cristã (1906) ou à Liga Socialista da Igreja (1911). Estes eram muito diferentes dos grupos britânicos, tendo em vista que seus membros se identificavam com o Partido Socialista da América, estavam familiarizados com a teoria socialista e buscavam trazer mais cristãos para sua iniciativa política. Essas pessoas, muitas das quais (mas de forma alguma todas elas) era liberais, identificaram a vinda do reino de Deus com o Estado socialista. Seu sucesso em alcançar a Igreja de um modo geral foi mínimo e o movimento entrou rapidamente em declínio durante a Primeira Guerra Mundial. Porém, um resultado duradouro foi que um ministro presbiteriano, Norman Thomas (1884-1968) acabaria liderando o

Partido Socialista. Além disso, o trabalho desses socialistas cristãos contribuiu para a propagação de uma reação mais singularmente americana à industrialização — o Evangelho Social.

O Evangelho Social O movimento nacional desenvolveu-se dentro do Protestantismo americano surgindo na década de 1880, tendo seu ponto alto por volta de 1910-15 e entrando em declínio nos anos 20. Seus simpatizantes, que incluíam pastores, educadores, jornalistas e líderes de agências de serviço social, lutavam com a crise do industrialismo e urbanização e buscavam nas Escrituras e na teologia cristã as soluções para esses problemas. Por causa do uso impreciso do termo “evangelho social” tanto por aqueles que apoiavam como por aqueles que criticavam o movimento, ele foi usado de várias maneiras significando desde um envolvimento significativo dos cristãos até a moralidade das boas obras que esvaziava a mensagem do evangelho de todo o seu conteúdo espiritual. O liberal Shailer Mathews chamava o movimento de “aplicação dos ensinamentos de Jesus e da mensagem da salvação cristã como um todo à vida econômica, instituições sociais ... bem como aos indivíduos”.3 Por outro lado, o oponente W. B. Riley afirmava que os pregadores do Evangelho Social “repudiavam o sangue derramado enquanto imploravam para que o homem

servisse o homem, para um refinamento da educação, menos casas alugadas e flores no jardim”.4 O Evangelho Social era, antes de mais nada, um fenômeno urbano e de classe média e refletia a crença dos protestantes na bondade essencial da América e os esforços de se cristianizar a nação. Seu enfoque era dirigido às cidades pobres e dava-se pouca atenção à situação dos fazendeiros ou dos afro-americanos. Devido à ênfase em pregações contra os bares e vícios semelhantes na reforma da imigração, alguns estudiosos afirmam que o movimento na verdade tinha suas raízes nos valores das cidades pequenas. Além disso, o Evangelho Social se apoiava fortemente nos meios públicos e políticos para promover o bemestar da sociedade e, em certos aspectos, era o braço espiritual do movimento Progressivo pró-reforma na política americana. Por fim, o avanço das preocupação sociais até o ponto de ocuparam o centro do palco no Protestantismo americano foi a conseqüência direta do ativismo evangélico. Conforme foi mencionado anteriormente, os evangélicos com seus fortes impulsos morais que complementavam seu zelo pelas almas, estavam na vanguarda da ação social urbana. Por exemplo, logo depois do reavivamento de Dwight L. Moody em Boston em 1877, o batista A. J. Gordon abriu um Lar Industrial Temporário para oferecer comida, alojamento e empregos àqueles

para quem ele pregava. A. B. Simpson formou a Aliança Cristã e Missionária na década de 1880 a fim de levar o evangelho aos pobres dos centros urbanos. Sob a liderança do empresário Louis Klopsch, a Revista Christian Herald [Arauto Cristão] era, na virada do século, a principal patrocinadora em todo o país das iniciativas sociais urbanas. O trabalho do Exército da Salvação nas favelas americanas cresceu rapidamente. Porém, os evangélicos seguiram um rumo diferente do Evangelho Social no que diz respeito à ênfase na ação pragmática. Para os evangélicos, as crenças teológicas e a afirmação da fé eram absolutamente essenciais e a indiferença de muitos dos ativistas do Evangelho Social parecia enfraquecer a relevância da mensagem da salvação eterna. O principal pregador do Evangelho Social foi o ministro congregacionalista Washington Gladden (1836-1916). Em seu famoso discurso “É Paz ou É Guerra?” (1886) ele defendeu o direito dos trabalhadores de se organizar. Em várias palestras e escritos ele pediu medidas de reforma práticas como a regulamentação nas fábricas, impostos sobre heranças e quebra dos monopólios. Um conhecido divulgador do Evangelho Social foi o clérigo Charles M. Sheldon (1857-1946) que escreveu In His Steps, or What Would Jesus Do? [Em seus passos, o que faria Jesus? (1896). Ele retratava a regeneração social de uma

comunidade cujos líderes haviam seguido em suas vidas o modelo de Cristo e, diz-se que a obra vendeu vinte e três milhões de cópias. Josiah Strong (1847-1916), cuja obra Our Country [Nosso país] (1885) talvez tenha sido o chamado mais poderoso à reforma urbana, declarou que a conquista do oeste já havia sido alcançada e que a nova fronteira era, então, a cidade. Ele passou seus últimos trinta anos em Nova York trabalhando a fim de colocar em prática os princípios do Cristianismo social nos problemas urbanos. O principal teólogo do Evangelho Social foi Walter Rauschenbusch (1861-1918), um batista teuto-americano que em 1887 tornou-se pastor de uma congregação de imigrantes numa favela de Nova York e onze anos mais tarde, professor do Seminário de Rochester. Ao adquirir conhecimento de primeira mão sobre a exploração e sofrimento e a indiferença daqueles nas posições de poder em relação à situação, tornou-se um crítico da ordem estabelecida. Procurou nas Escrituras uma alternativa que pudesse harmonizar seu profundo comprometimento à regeneração pessoal com uma percepção igualmente firme da necessidade de ação social. Em obras como Christianity and the Social Gospel [Cristianismo e o Evangelho Social] (1907) e A Theology of the Social Gospel [Uma Teologia do Evangelho Social] (1917), ele enfatizou a centralidade do pecado na produção de crises sociais e a construção do reino de Deus como resposta a elas.

A reação católica Os católicos ficaram para trás em sua reação ao industrialismo por causa do conservadorismo do papa, mas na Alemanha houve esforços para confrontar o problema. No final da década de 1840, Adolf Kolping (1813-65), um sacerdote em Colônia, formou associações de artífices para incentivar os valores religiosos e morais e imunizar os trabalhadores especializados contra os apêlos sócio-revolucionários. (A organização, que recebeu o seu nome, ainda existe e possui programas educaconais clubes e albergues.) Vinte anos mais tarde, clérigos de Rhineland lançaram um movimento “Social Cristão” para contratacar a agitação Social Democrata. O principal expoente foi Wilhelm von Kettler, arcebispo de Mainz (1811-77), que tinha um diálogo com líderes socialistas e ligou o movimento ao Partido Central Alemão Católico. Uma mudança importante no rumo da política papal de oposição absoluta às questões da classe trabalhadora ocorreu em 1891 com a encíclica Rerum Novarum de Leão XIII. Em sua essência, era um documento conservador que condenava a idéia marxista de sociedade sem classes e afirmava a propriedade privada e o contrato salarial entre empregados e patrões mas criticava o Capitalismo por sua ganância desmedida de competição

e a concentração de poder políticos nas mãos de uns poucos poderosos. O papa também pedia aos patrões que pagassem salários justos e que permitissem uma intervenção moderada do Estado em favor dos fracos e pobres. Sugeria que os católicos formassem seus próprios sindicatos, apesar de que estes deveriam existir com o propósito de buscar a perfeição moral e religiosa e não o exercício da política. Leão XIII certamente não foi o “papa vermelho” como diziam alguns críticos do Rerum Novarum, e o pensamento social católico continuou a ser mais conservador do que o dos protestantes. Porém, incentivou alguns, especialmente na América, a buscar relações mais estreitas com organizações trabalhistas e a reforma social.

A Revolução Industrial transformou o papel do Cristianismo na cultura ocidental. Seu caráter de classe média juntamente com a hostilidade marxista contribuíram para aumentar o abismo entre as igrejas e as classes operárias. Ainda assim, inúmeros cristãos, muitos dos quais nem tiveram seus esforços reconhecidos, procuraram criar uma ponte sobre esse abismo e alcançar aqueles mais necessitados de ajuda física e espiritual e a mesmo preocupação para com os outros foi vista nas iniciativas missionárias internacionais. Uma onda de crescimento evangélico ocorreu no final do século 19, mas o céu estava escurecendo com

nuvens de ideologias ainda mais ameaçadoras.

Capítulo 20 - A expansão mundial da Igreja Apesar do trabalho missionário ter sido sempre um elemento importante da história do Cristianismo, normalmente era a preocupação apenas da minoria. A maior parte dos europeus cristãos estava envolvida em suas existência quotidiana e não pensava muito em outras partes do mundo que nunca haviam ouvido o evangelho. Alguns teólogos chegavam a considerar as missões como algo desnecessário, argumentando que Deus, a seu próprio modo, possibilitaria que os predestinados à salvação encontrassem a Cristo e que a “Grande Comissão” (Mt 28.18-20) era dirigida apenas aos apóstolos. Ao mesmo tempo, a maioria dos navegadores, comerciantes e colonizadores europeus via os povos da Ásia, África e América como sendo inferiores ou até mesmo subumanos e achavam que a evangelização no meio deles iria interferir na busca por riqueza e poder. Porém, o reavivamento evangélico e a Revolução Industrial colocaram o relacionamento dos cristãos ocidentais com o resto do mundo em um outro patamar.

O imperialismo europeu e as missões O século 19 foi a grande era do imperialismo europeu. Ele

tornou possível que a Revolução Industrial atuasse a nível global e que Europa exercesse hegemonia econômica — e em grande medida também política — sobre o mundo. Antes dessa época, os europeus controlavam as vias marítimas, mas o poder em terra era relativamente limitado às regiões costeiras da Ásia, África e das Américas. Nações poderosas como os Songhais e os Asantes na África, o império Mogul na Índia, os Manchus (Ch‟ing) na China e os Tokugauas no Japão eram equivalentes à altura do Ocidente. Porém, a Revolução Industrial alterou o equilíbrio global do poder. Ela deu aos ocidentais a tecnologia — navios à vapor, estradas de ferro, equipamento agrícola e armas — necessária para estabelecer seu controle sobre outros e até mesmo colonizar terras que pertenciam a eles. Além disso, com a introdução da educação em larga escala, da alfabetização geral e da formação de governos relativamente democráticos, os líderes políticos podiam contar com o apoio popular para suas iniciativas ultramarinas. Até mesmo a Espanha, Portugal e a Holanda acabaram ficando em segundo plano como gigantes imperiais, enquanto a Inglaterra e a França tomaram a dianteira. Apesar dos ingleses terem perdido a Revolução Americana, tinham firme controle do poder sobre o Canadá, o Caribe e especialmente a Índia, que era a jóia de seu reino ultramarino. O explorador do Pacífico Sul, Capitão James Cook, havia mostrado a extensão das ilhas e suas

descobertas abriram caminho para a ocupação inicial da Austrália em 1788 e da Nova Zelândia alguns anos depois. Em 1800 a Inglaterra apossou-se das primeiras terras na Malásia e em 1819 Sir Stamford Raffles fundou a colônia de Cingapura que tornou-se um centro de influência britânica no leste da Ásia. Depois do fim do comércio de escravos em 1807 e do subseqüente declínio na produção de açúcar das Índias Ocidentais, o interesse comercial do país voltou-se cada vez mais para a Ásia. Os britânicos foram aos poucos estendendo seu poder por todo subcontinente indiano e, depois da Grande Rebelião em 1857, o Parlamento dissolveu a Companhia das Índias Orientais e assumiu o controle direto da região. Em 1878 a rainha Vitória foi proclamada imperatriz da Índia, simbolizando sua importância para a estrutura imperial britânica como centro de uma rede de atividades comerciais que se estendia da China até a África. A Grã-Bretanha também teve um papel chave no processo de forçar a abertura da China para o comércio ocidental nas famosas Guerras do Ópio e apoiou uma ação semelhante realizada pelos Estados Unidos no Japão. A defesa do “caminho” para a Índia era um fator crucial na política imperial britânica. Foi o caso, por exemplo, da África do Sul que eles haviam tomado dos holandeses em 1795 e de novo em 1806 e que passou a ter importância estratégica. As tensões

com a população Boer1 de fala holandesa ou “Africânder” foi crescendo mesmo depois de terem fugido do Cabo em 1830 para escapar da dominação britânica. Mas no início do século 20 suas repúblicas foram incorporadas à força à nova União da África do Sul. Com a conclusão do Canal de Suez em 1869, o Egito também adquiriu significado especial, o que resultou na imposição de um protetorado sobre essa região em 1882. Ao mesmo tempo, os empreendimentos comerciais britânicos cresciam nas regiões leste e oeste da África. Um fator importante na política britânica para a África ocidental foi o movimento anti-escravagista. Alguns evangélicos fundaram Serra Leoa em 1787 como um abrigo para escravos libertos e membros do Grupo de Clapham eestavam envolvidos no movimento. Em seguida à aprovação da lei que abolia a escravidão uma esquadra naval britânica operava a partir de Freetown, sua capital, para interceptar navios negreiros, e os africanos resgatados eram ali assentados. Porque muitos deles eram conquistados para o Cristianismo e recebiam uma modesta educação, Serra Leoa tornou-se a ponta de lança do avanço britânico na África ocidental.

1

1812

1864

1888

1901

Adoniram Judson

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Pronuncia-se bur e significa "fazendeiro", designação pejorativa que os ingleses adotaram na África do Sul para os descendentes dos holandeses.

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Tem início a

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Termina o

Guerra Hispano-

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colonização britânica

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canal de Suez

americana

japonesa

na Austrália

Império Britânico 1899-1902

1914

Guerra Boer na África do

Irrompe a 1ª Guerra

Sul

Mundial

Pelo fato da legislação — proibindo o tráfico e até dando a liberdade em 1834 — não ter posto fim à escravidão, o abolicionista evangélico T. Fowell Buxton decidiu que a solução para os problemas africanos estava no desenvolvimento de seus próprios recursos. Ele organizou uma expedição malfadada ao Níger em 1841 que buscava realizar contratos anti-escravistas com chefes africanos, montar fazendas e fundar operações comerciais. Essa foi a primeira tentativa de se oferecer os famosos “três Cs” — Cristianismo, comércio e civilização — como uma alternativa à economia baseada no escravismo. Convencidas de que o comércio “legítimo” poderia combater a escravidão, algumas

sociedades missionárias no oeste da África formaram comunidades auto-sustentáveis que produziam bens para serem vendidos na Europa. Na última metade do século a mesma abordagem foi usada para atacar o tráfego de escravos no leste da África que se encontrava nas mãos dos povos árabes e Swahili. O maior expoente dessa iniciativa foi o conhecido David Livingstone, que acreditava que um substituto econômico — comércio e agricultura — poderia diminuir a atração do tráfego de escravos. Enquanto isso, a França começou a recuperar seus territórios ultramarinos com a tomada de Algiers em 1830 e da Tunísia em 1881, com a expansão em direção ao interior do oeste da África à partir de sua base no Senegal na década de 1850, ao anexar ilhas do Pacífico e do Índico e ao fundar seu primeiro protetorado na Indochina em 1862. Ao longo do século os russos forçaram caminho até a Ásia central e tomaram terras da China. Sua invasão da Índia quase levou à guerra com a Grã-Bretanha, mas as duas nações antagônicas acabaram resolvendo suas diferenças. Na década de 1880 começou a “disputa” pela África. As potências européias subdividiram grandes porções do continente entre si. A Alemanha entrou na disputa colonial ao tomar posse de terras no oeste, leste e sudoeste da África. A Bélgica apoderou-se do Congo (veio depois a se chamar Zaire mas retomou depois a denominação anterior), que havia sido um empreendimento

pessoal de seu rei. A Itália tomou terras da costa leste e, mais tarde a Líbia ao norte, mas sua tentativa de conquistar a Etiópia foi frustrada em 1896. Numa disputa pelo vale do alto Nilo, GrãBretanha e França quase entraram em conflito armado em 1898 e ocorreram graves tensões entre a Alemanha e a França por causa desta última ter se apossado de Marrocos. Enquanto isso, ao construir um império no sul da África, Cecil Rodes não apenas possibilitou o domínio da região como também desencadeou a trágica Guerra Boer. Na Ásia o Japão aboliu o xogunato em 1868 e o novo imperador supervisionou um extenso programa de reforma política e econômica. As forças do Japão modernizado derrotaram a China em 1895, terminando uma disputa pelas concessões territoriais e econômicas, como a que havia ocorrido na África. Em 1898 os Estados Unidos derrotaram a Espanha e juntaram-se às potências imperiais ao tomar as Filipinas. Numa importante guerra em 1905 os japoneses frustraram a expansão russa na Ásia oriental, abriram caminho para a anexação da Coréia cinco anos depois e mandaram uma mensagem aos líderes nacionais de toda a Ásia mostrando que os europeus não eram invencíveis. A era da dominação ocidental sobre o mundo aproximava-se de seu final. Foi nesse contexto que ocorreu a iniciativa missionária protestante. Obreiros entraram nos domínios da Companhia

Britânica das Índias Orientais primeiro como capelães e depois como missionários. Um barco cheio deles saiu rumo ao Taiti em 1796 e muitos outros seguiram o mesmo caminho em direção às ilhas do Pacífico. Robert Morrison começou seus trabalhos no Cantão (China) em 1807 e lá traduziu a Bíblia e lançou os alicerces para uma enorme expansão da obra cristã depois das Guerras do Ópio. Os primeiros missionários entraram no recémaberto Japão em 1859 e Coréia em 1884. Missionários britânicos e alemães atuaram na Indonésia e também encontraram obras bemsucedidas no oeste, leste e sul da África. Muitas outras iniciativas são dignas de menção. O batista George Grenfell liderou uma importante missão na região do Congo. Havia uma pequena obra no Caribe e trabalhos mais extensos entre os índios americanos e canadenses, sendo que destes o mais conhecido é o ministério do Dr. Wilfrid T. Grenfell no Labrador. Foram feitas tentativas de se alcançar os muçulmanos no Oriente Próximo e Médio e na região norte da África. Uma intensificação das iniciativas acompanhou as disputas pela África e China e na virada do século o número de obreiros e as somas empregadas em missões haviam atingido novos patamares. Muitos membros da comunidade missionária tinham esperança de que o triunfo iminente da civilização ocidental significava que o reino de Cristo estava próximo. Porém, o que

não perceberam foi a fragilidade da situação do Ocidente.

O Cristianismo e o Imperialismo Neste ponto, é necessário fazer menção a algumas questões interpretativas. A declaração marxista de que o Imperialismo era (e ainda é) um produto do Capitalismo ainda é aceita sem questionamento em muitos lugares nos dias de hoje, especialmente nos países em desenvolvimento. Essa “ortodoxia popular” afirma que todos os tipos de expansão imperialista ocidental era resultado da busca do Capitalismo pelos lucros no além-mar. Isso incluía tanto o “capital de exportação” como a dependência nos governos locais no sentido de proteger seus investimentos dos capitalistas de países rivais e da resistência das vítimas nativas às suas políticas econômicas. Assim, o Imperialismo serve de slogan apelativo para os líderes de movimentos de libertação, mesmo que, na realidade, a base histórica para essa idéia seja, no mínimo, fraca. Estudos sobre o Imperialismo realizados mais recentemente mostram que os banqueiros ocidentais em busca de lucros dedicavam pouca atenção às áreas não-ocidentais. Ao invés disso, grande parte de seus investimentos era colocada em regiões já desenvolvidas e não em dependências coloniais recém-adquiridas. Fica claro que esse foi o caso com a Grã-Bretanha, Estados Unidos, França e

Alemanha. Alguns países, entre eles Rússia, Itália, Japão e Portugal, que possuíam ou estavam procurando colônias, tinham pouco capital. Além disso, o capital que era investido em novos territórios coloniais não tinha um retorno muito mais alto do que os investimentos domésticos. Assim, seria mais produtivo procurar a origem do Imperialismo em outros fatores — como a busca pelo prestígio nacional — do que em conspirações tramadas em virtude de interesses capitalistas. Essa questão é muito importante para os historiadores do Cristianismo, tendo em vista que uma explicação materialista do Imperialismo como essa descarta qualquer sentimento de filantropia ou motivação missionária. Significa que quando os missionários cristãos cooperaram com o Imperialismo, quer isso fosse prudente ou não, estavam automaticamente promovendo os planos de exploração do Capitalismo ocidental. Na melhor das hipóteses, os missionários era ingênuos e, no pior dos casos, estavam em conluio com os agentes do Imperialismo capitalista. Além disso, essa interpretação impede qualquer avaliação dos benefícios que podem ter resultado desse relacionamento imperialista e, do ponto de vista teológico, não deixa espaço para a obra da providência divina. Porém, um problema de maior seriedade para os cristãos é a relação entre Imperialismo e o conceito de superioridade cultural

do Ocidente. Idéias sociais darwinistas (ver capítulo 21) sobre a “adequação” dos povos brancos para dominar as raças mais “fracas” e trazer civilização e existência esclarecida para aqueles que vivem nas trevas — “as línguas selvagens que não têm por vós temor” e “raças inferiores sem a lei”, como colocou Rudiard Kipling em seu hino poético “Recessional” (1987) — entraram em colisão com a crença cristã da pecaminosidade universal da humanidade e da igualdade de todos os povos diante de Deus. Quanto à versão racista do darwinismo social — as nações mais fortes sempre conquistaram as mais fracas e as raças brancas dominantes tomaram posse de colônias para provar que eram mais fortes e viris — esta não é apenas repugnante para o Cristianismo mas também foi um dos elementos que prepararam o caminho para a manifestação mais terrível de racismo: o nazismo alemão. Porém, a fé na civilização moderna era muito mais sedutora e, na verdade, para muitos havia tornado-se uma espécie de substituto para a religião, tendo o Imperialismo como credo. Os franceses falavam de sua “missão sagrada civilizadora”, os alemães, de espalhar a Kultur, os americanos, das “bênçãos da proteção anglo-saxônica” e os britânicos do “fardo do homem branco”. Esta última expressão foi tirada do poema de Kipling de 1899, que urgia os europeus a dedicarem-se ao serviço altruísta em terras distantes para levar adiante a obra da humanidade. O

problema estava no interesse próprio que era óbvio e na enorme condescendência que acompanhava essa nobre visão. Conforme a observação do historiador britânico Brian Stanley, a maioria dos missionários protestantes do século 19, especialmente aqueles que vinham da Grã-Bretanha, acreditava que as missões transformariam o barbarismo incrédulo em civilização cristã. Essa idéia baseava-se em quatro pressuposições. A primeira era de que as culturas com as quais estavam entrando em contato não eram neutras em relação à religião, mas sim estavam sob o controle de Satanás em todos os seus aspectos, incluindo a política, economia, moralidade pública e artes. Em segundo lugar, eles viam sua própria nação como um modelo de cultura e sociedade cristã; A Bíblia e a Reforma haviam engrandecido seu país. Em terceiro lugar ficava implícita a fé no progresso moral humano que havia sido uma contribuição do Iluminismo ao pensamento cristão. Séculos de influência cristã em seus países havia contido a pecaminosidade que reinava livremente em países incrédulos. E, finalmente, o esforço bemsucedido de “civilizar” os incrédulos, como foi o caso em Serra Leoa e algumas ilhas do Pacífico, parecia confirmar a argumentação de que isso era possível. Foi só no século 20 que as pessoas começaram a reconhecer que a civilização moldada de acordo com a sociedade vitoriana pós-Iluminismo não era

necessariamente cristã.1

Sociedades missionários e a renovação da visão Conforme foi mostrado no capítulo 16, havia uma vitalidade missionária protestante considerável durante o século 18. Mas a expansão geográfica da fé durante o século seguinte foi verdadeiramente extraordinária, tendo em vista o fato de que antes de 1875 o número de obreiros era relativamente pequeno. Muitos escritores consideram que o movimento missionário moderno teve suas origens em 1792, ano em que William Carey (1761-1834) — que antes era um sapateiro e depois tornou-se pregador batista — publicou a obra An Enquiry into the Obligations of Christians to Use Means for the Conversion of the Heathens [Um Inquérito sobre as Obrigações de Cristãos de Usarem Meios para a Conversão de Pagãos] e pregou seu sermão numa reunião de ministros batistas, proferindo as famosas frases “Espere grandes coisas de Deus; tente realizar grandes coisas para Deus”. Isso inspirou a fundação da Baptist Missionary Society [Sociedade Missionária Batista] (BMS). Esses acontecimentos, porém, na verdade marcaram o ápice de um processo no despertar evangélico. Um elemento desse processo era a ênfase na responsabilidade de se pregar o evangelho para todas as pessoas.

Outra era a linha profética ou milenarista originada de Jonathan Edwards que acreditava que os últimos dias estavam próximos e a propagação do evangelho por todo o mundo juntamente com as orações sinceras da Igreja fariam vir o reino de Cristo. A influência de Edwards refletiu-se tanto no Chamado à Oração de 1784, lançado por um grupo de batistas e elaborado de acordo com um apelo semelhante feito por ele quanto no trabalho do teólogo batista Andrew Fuller (1754-1815), cuja obra Gospel Worthy of All Acceptation [Evangelho Digno de Toda a Aceitação] (1785) usou o argumento de Edwards de que a soberania divina operava na propagação do evangelho através do esforço humano. Também, o companheiro de Wesley, Thomas Coke (1747-1814) publicou um plano para uma sociedade missionária em 1738 e levou a primeira missão metodista às Índias Ocidentais em 1786. Além disso, na década de 1790, os evangélicos voltados para missões foram incentivados pela Revolução Francesa, que parecia prestes a derrotar seu antigo inimigo, a Igreja Católica Romana. Em 1793, Carey e sua família navegaram para a Índia, para nunca mais voltar à Inglaterra, nem mesmo para levantar fundos. Na verdade, eles eram imigrantes ilegais, tendo em vista que a Companhia das Índias Orientais era hostil em relação a missionários. Ela temia que a pregação do Cristianismo poderia causar tumultos e enfraquecer o seu controle já incerto. Porém,

Carey conseguiu trabalho como administrador de uma fazenda de índigo e passava seu tempo livre pregando e fazendo a tradução da Bíblia. Em 1799, a BMS enviou mais dois missionários, Joshua Marshman (1768-1837), um professor e William Ward (17641823), um tipógrafo. Proibidos de entrar em Calcutá, eles se estabeleceram no território dinamarquês adjacente, Serampore, e convenceram Carey a juntar-se a eles. Mais tarde ficaram conhecidos como o “Trio de Serampore” e formaram uma das parcerias mais admiráveis da história do Cristianismo. Viveram em comunidade, formaram uma igreja, montaram uma gráfica, dedicaram-se ao evangelismo itinerante e traduziram a Bíblia para várias línguas orientais, inclusive para o bengali, sânscrito e até mesmo para o chinês. Também fundaram uma faculdade a fim de treinar indianos para propagar o evangelho. O próprio Carey tornou-se um especialista no mundo do pensamento hindu e na verdade criou o estilo da prosa bengali na literatura. Publicou uma gramática de sânscrito com mil páginas, traduziu obras hindus para o inglês, lecionou a língua indiana em Fort Williams College, em Calcutá e chegou até a fazer pesquisas na área de horticultura. A criação da BMS marcou a entrada dos anglo-saxônicos na obra missionária de grande escala. Foi também uma sociedade voluntária de fato ao contrário dos outros dois grupos da Igreja

Católica, o SPG e o SPCK (ver capítulo 16) que eram custeados pelo Parlamento e tinham apoio do rei. Por certo, a SPCK sustentou obreiros missionários na Índia, alguns dos quais foram parte da missão dinamarquesa-alemã e outros foram capelães da Companhia das Índias Orientais. Em 1795, a London Missionary Society [Sociedade Missionária de Londres] (LMS) formou-se como uma sociedade interdenominacional, mas dentro de poucos anos tornou-se um órgão dos congregacionalistas. Em 1813 os metodistas consolidaram algumas obras locais, transformando-as numa sociedade missionária. Em 1799 os anglicanos evangélicos, que desejavam manter a identidade de sua Igreja, criaram a Society for Missions to Africa and the East [Sociedade para Missões à África e ao Oriente], que em 1812 recebeu o novo nome de Church Missionary Society [Sociedade Missionária da Igreja] (CMS). Ao contrário dos grupos não-conformistas, a CMS exigia que seus obreiros fossem ordenados. Depois que a SPG do alto clero anglicano passou a dirigir o trabalho da SPCK na Índia na década de 1820, o caráter da SPG mudou e ela deixou de ser provedora de clérigo colonial e tornou-se uma sociedade missionária voluntária mais geral. O entusiasmo dos anglo-católicos refletiu-se na Universities Mission to Central Africa [Missão das Universidades para a África Central], formada depois que David Livingstone fez um discurso

famoso em Oxford e Cambridge em 1857, desafiando seus ouvintes a “levar adiante o trabalho que eu comecei”. Durante um longo tempo, a Igreja da Escócia ficou dividida pela dissensão sobre a questão de dedicar-se ou não às missões estrangeiras e só formou sua própria junta em 1824. Seu obreiro de maior renome foi Alexander Duff (1806-78) que realizou um trabalho educacional na Índia. Porém, vários grupos escoceses locais promoveram missões e alguns escoceses serviram a LMS na África: por exemplo John Philip e Robert Moffat, bem como o genro deste último, David Livingstone. Em 1875-76 tanto a Igreja Livre como a Igreja oficial da Escócia fundaram obras adjacentes em Niasaland (leste da África) — as Missões Livingstonia e Blantyre. Nas colônias da Grã-Bretanha, a Igreja da Inglaterra procurou ir ao encontro das necessidades espirituais dos primeiros residentes europeus e mais tarde da população nativa também. Apesar da Revolução americana ser algo do passado, ainda assim três bispos foram ordenados lá entre 1784 e 1787 para aquela que havia se tornado uma Igreja Protestante Episcopal independente. Porém, ao norte da fronteira, o legalista Charles Inglis (17341816) foi consagrado bispo de Nova Scotia em 1786, o primeiro bispo colonial na Igreja da Inglaterra. Em 1814, depois que o Parlamento abriu os territórios da Companhia das Índias Orientais

para as missões, Thomas F. Middleton (1769-1822) tornou-se bispo de Calcutá e pôs-se a trazer missionários da CMS, muitos dos quais ainda eram luteranos alemães, sob o controle da Igreja Oficial. Nas décadas seguintes, foram criadas dioceses em Bombaim, Madras e outros centros urbanos. Até então, a Austrália era supervisionada por Calcutá, mas em 1836 William G. Broughton (1788-1853) foi nomeado bispo da Austrália. Nos anos seguintes, ele construiu uma extensa estrutura eclesiástica na região esparsamente povoada. George A. Selwyn (1809-78), que foi nomeado bispo da Nova Zelândia em 1841, exerceu um ministério tanto com os colonos britânicos como em comunidades da população indígena Maori. O primeiro bispo na África do Sul, Robert Gray (1809-72) da Cidade do Cabo, tomou posse em 1848 e outros bispados foram criados na África à medida em que os trabalhos missionários progrediam. Nos Estados Unidos o impulso de se criar sociedades para missões estrangeiras foi o Segundo Grande Despertamento. Estudantes tiveram um papel importante nesse processo, sendo o mais notável Samuel J. Mills (1738-1818) que voltou-se para Cristo durante um reavivamento em sua cidade natal e decidiu estudar no Williams College em Massachusetts a fim de prepararse para o trabalho missionário. Lá ele encontrou outros com os quais se identificou e formaram um pequeno grupo chamado

Sociedade dos Irmãos. Uma tarde, em 1806, eles foram pegos por uma tempestade e buscaram abrigo num palheiro perto da faculdade. Usaram a ocasião para fazer uma reunião de oração e assumiram o compromisso de tornarem-se missionários. Mills e os outros do círculo foram para o Seminário Teológico de Andover onde continuaram a proclamar sua visão. Lá, encontraram Adoniram Judson (1788-1850), um jovem que havia se convertido há pouco tempo e também tinha se consagrado ao serviço missionário. Ele seria lembrado como o maior missionário americano do século 19. Em 1810 os jovens convenceram líderes da Igreja Congregacional a fundar a ABCFM - American Board of Comissioners for Foreign Missions [Junta Americana de Comissários para Missões Estrangeiras]. Dois anos depois essa junta enviou seus primeiros obreiros para a Índia, incluindo Judson e sua esposa que eram recém-casados. Durante a viagem, enquanto estudava o Novo Testamento, ele decidiu que o batismo de crianças e a aspersão era impróprios e, ao chegar a Calcutá, pediu a um batista que o imergisse. Um de seus companheiros, Luther Rice (1738-1836) também optou por essa forma de batismo. Eles deixaram a sociedade congregacionalista e buscaram apoio dos batistas americanos, que por sua vez pediram à BMS inglesa para usar Judson em seu trabalho na Índia. A Sociedade,

por sua vez, recomendou que os americanos formassem sua própria junta e assim, em 1814 surgiu a Convenção Missionária Geral da Denominação Batista nos Estados Unidos da América para Missões Estrangeiras. Proibido pela Companhia de trabalhar na Índia, Judson foi para a Birmânia, onde teve um longo e frutífero ministério. Rice voltou para casa e promoveu as missões e o crescimento denominacional. Apesar da ABCFM ser mais conhecida por seu trabalho nas ilhas do Havaí, seu ministério entre os índios americanos, especialmente os Cherokees da Geórgia (as tribos levadas à força para o Oklahoma) e os Nez Perce na região noroeste também foi de grande importância. Tanto a Junta Americana como a sociedade batista logo transformaram-se em juntas denominacionais, um padrão organizacional que tornou-se predominante nos Estados Unidos. Em 1819 os metodistas e em 1835 os episcopais criaram juntas e quase todas as outras denominações protestantes foram pelo mesmo caminho nos anos seguintes. Assim como acontecia na Inglaterra, as sociedades missionárias do continente europeu foram resultado do reavivamento evangélico. Em 1797, Johannes T. Vanderkemp (1747-1811) formou a Sociedade Missionária da Holanda antes de viajar para trabalhar na África do Sul com a LMS e durante algum tempo essa sociedade funcionou como uma assistente holandesa

da LMS. Organizações missionárias semelhantes foram formadas por cristãos reavivados da França, Dinamarca, Suécia e Noruega, mas as iniciativas mais importantes partiram da Alemanha. Em 1800 o pastor Johannes Jänicke (1748-1827), que participou do Erweckung de Berlim, abriu uma escola de treinamento de missionários em sua igreja, sendo que muitos daqueles que se formaram mais tarde foram trabalhar sob a liderança de juntas britânicas. Em 1815 uma escola missionária e sociedade foi fundada na Basiléia, Suíça. Apesar de ter a maior parte de seu sustento vindo dos neo-pietistas do sudoeste da Alemanha, seus laços com os ingleses eram particularmente fortes. Em 1833 trinta obreiros treinados na Basiléia estavam trabalhando para a CMS, sendo que esta também subsidiou o ensino de missionários na Basiléia até 1858. Durante esse período, várias outras sociedades foram fundadas na Alemanha, incluindo as missões de Berlim (1816), Barmen ou Reno (1828), Bremen (1836), Gossner (1836), Leipzig (1816) e Hermannsburg (1849). O exemplo para essas sociedades vinha dos britânicos e, assim como na Inglaterra, os líderes muitas vezes também eram missionários e pessoas da classe média-baixa como funcionários de escritório e artesãos. Mas na Alemanha era novidade que leigos — povo comum da igreja — se juntassem sem a coordenação de nenhuma autoridade superior para fazer aquilo que para eles era a

obra de Deus. Na verdade, a estrutura eclesiástica localizada e territorial da Alemanha levou a esse tipo de individualismo religioso. As sociedades, que eram vistas como uma decorrência natural do espírito missionário na Igreja como um todo, buscava apoio no país inteiro. Como eram iniciativas altamente ecumênicas, os confessionalistas luteranos sentiam-se pouco à vontade para colaborar tanto com os participantes anglicanos britânicos como também com os reformados alemães. Sendo assim, suas agência também tinham um caráter mais separatista. As sociedades e juntas eram necessárias devido à extrema dificuldade em ser auto-sustentável no campo missionário. Os freelancers como Charles Rhenius, que se desligou da CMS no sul da Índia durante a década de 1830 por causa de uma questão de ordenação, ou o ambiciosos alemão Karl Gutzlaff (1803-51), que trabalhou sozinho na China durante as décadas de 1830 e 1840, eram claramente exceções. Porém, o mais notável missionário na China, J. Hudson Taylor (1832-1905), desenvolveu uma abordagem diferente à questão do sustento, a saber, a missão de “fé”. Sua China Inland Mission [Missão do Interior da China] (CIM - fundada em 1865) não tinha o apoio de nenhuma igreja ou denominação e seus obreiros não recebiam uma salário fixo, mas sim confiavam em Deus para suprir suas necessidades. Pedia-se aos simpatizantes dessas iniciativas que orassem pelos

missionários e pelo dinheiro que era necessário para suas passagens e sustento, mas não deveria se fazer nenhum pedido direto por dinheiro. A sociedade, que não queria fazer dívidas, aceitou fundos de cristãos dedicados de todo o mundo. Taylor também exigia que seus obreiros se aculturassem o máximo possível e vivessem nas mesmas condições que os chineses, chegando até a vestir-se como eles. O objetivo da CIM era de pregar o evangelho para o maior número possível de pessoas dentro do menor espaço de tempo e Taylor deixava para outros a tarefa de organizar os convertidos em igrejas. O modelo de missão pela fé foi copiado por várias sociedades antes do final do século: Evangelical Alliance Mission [A Missão da Aliança Evangélica] (1890), Sudan Interior Mission [Missão do Interior do Sudão] (1893), African Inland Mission [Missão do Interior da África] (1895) e Libenzell Mission [Missão Libenzell] (1899).

O princípio nativo Uma questão importante na teoria de missões foi o desenvolvimento de uma igreja independente “nativa” ou indígena. Apesar dessa ter sido claramente uma preocupação no início do século, a discussão principal ocorreu entre 1840 e 1870 e os princípios foram enunciados por Henry Venn (1796-1873), secretário da CMS (1841-72) e Rufus Anderson (1796-1880),

secretário exterior da ABCFM (1832-66). O slogan "autogovernante, auto-sustentável e auto-propagadora”, resumia seu posicionamento. Isso significava descentralização do trabalho missionário e incentivo à iniciativa local. Os fundos para o ministério deveriam vir de fontes locais e não da Europa. Pastores nacionais deveriam ser ordenados e receber a responsabilidade de dirigir suas igrejas, que por sua vez iriam crescer por conta própria e ganhar pessoas da comunidade. Isso liberaria os missionário das funções pastorais e administrativas para que pudessem realizar o trabalho de evangelização. Uma boa ilustração do potencial e limitações dessa doutrina foi Samuel Ajayi Crowther, o cristão africano mais conhecido do século 19. Um Yoruba originário da atual Nigéria, quando era adolescente foi capturado e vendido como escravo para comerciantes portugueses em 1822. Porém, uma esquadra naval britânica parou o navio em que se encontrava, deixando-o em Serra Leoa. Lá ele encontrou a Cristo, foi batizado por um missionário da CMS, adotou o novo nome de Samuel Crowther e recebeu uma educação. Foi professor e evangelista, dedicou-se aos estudos lingüísticos e acabou fazendo uma excelente tradução Yoruba da Bíblia. Também foi enviado para Londres a fim de aprofundar seus estudos e foi ordenado em 1843. Ao voltar, trabalhou em estreita relação com uma missão da CMS em terras

Yoruba. Ainda na linha da teoria de Venn, outros africanos foram ordenados e, por fim, em 1864 Crowther foi consagrado bispo dessa região. Para Venn, o papel do missionário era temporário e uma vez que a igreja indígena estivesse estabelecida, os europeus deviam seguir em frente. Porém, a resistência dos missionários em países estrangeiros — que viam essa teoria como um idéia pouco prática de um administrador que não havia saído do país — era forte demais. Na década de 1880 a visão missionária havia se espalhado entre as classes mais cultas e a CMS tinha um grande número de jovens e perspicazes obreiros europeus que desejavam sair para o campo missionário, ganhar o maior número possível de convertidos e organizar a igreja a seu modo. Tendo em vista que não havia interesse numa igreja africana com autonomia de governo, eles ignoraram Crowther. Em 1891, bastante abatido, ele faleceu e em seu lugar foi colocado um bispo europeu. Mas a idéia de igreja nativa não estava morta. Ela foi retomada pelo missionário presbiteriano americano na China, John L. Neviu (1829-93), que escreveu a influente obra Planting and Development of Missionary Churches [Implantação e Desenvolvimento de Igrejas Missionárias] (1886). Depois de ser convidado por missionários na Coréia para fazer uma avaliação de seu campo em 1890, eles adotaram sua abordagem e houve um

crescimento fenomenal em sua igreja presbiteriana. O “método Nevius” tinha quatro pontos: (1) cada cristão deve ser autosustentável através de seu próprio trabalho e testemunhar de Cristo através de palavras e atos; (2) os métodos de organização da igreja devem ser desenvolvidos somente até o ponto a partir do qual os cristãos nativos possam assumir a responsabilidade; (3) a Igreja deve escolher para o trabalho de tempo integral aqueles que forem mais bem-qualificados e capazes de se sustentar e (4) as igrejas devem ser construídas no estilo nativo e pelos cristãos com seus próprios recursos. Essa abordagem triplamente autônoma (auto-governante, auto-sustentável e auto-propagadora) foi reiterada pelo missionário anglicano na China, Roland Allen (1868-1947). Essas estratégia mostrou-se decisiva no crescimento da Igreja e foi a base de uma enorme expansão eclesiástica em países do mundo não-ocidental que ocorreu no século 20.

As missões e o progresso social Apesar da grande maioria dos missionários ver como sua principal tarefa ganhar os perdidos para Cristo, o movimento como um todo teve um impacto enorme na melhoria da qualidade de vida do mundo não-ocidental. A introdução da Medicina moderna, saúde pública e saneamento foi um benefício real. Por exemplo,

um dos primeiros missionários no Japão, James C. Hepburn (1815-1911) cuidou de uma clínica para pobres nas décadas de 1860 a 1870 onde eram tratados de seis a dez mil pacientes todos os anos e onde também treinou estudantes de Medicina. Outro benefício foi a educação, uma vez que os missionários de um modo geral fundavam escolas e ensinavam o povo a ler e escrever. Isso servia para preparar o caminho com a finalidade de ter uma Igreja auto-governante, tendo em vista que uma liderança nativa instruída era um pré-requisito para se conceder autonomia. Mas alguém que havia sido educado para ler a Bíblia também podia ler os jornais e folhetos políticos, e o fato é que muitos futuros revolucionários nacionalistas foram educados em escolas de missões. O potencial para o ministério educacional revelou-se especialmente no Japão. O Dr. Hepburn e outros pioneiros foram tutores de alunos e abriram escolas e algumas mulheres também começaram escolas para meninas, marcando assim o início da educação feminina no Japão. Guido Fridolin Verbeck (1830-98), um missionário americano-holandês reformado chegou em 1859 e começou uma escola em Nagasaki. Vários de seus alunos viriam a ser líderes do novo Japão. Em 1870 o governo o convidou para ir a Tóquio a fim de fundar uma escola de Línguas Ocidentais e Ciências, sendo que esta veio a tornar-se a Universidade Imperial

de Tóquio, tendo Verbeck como seu primeiro presidente. Outro resultado da educação foi a formação de grupos dedicados de estudantes, os “bandos” cristãos, como o Bando Kumamoto, formado em 1876. Seu membro mais famoso foi Niishima Jo, conhecido no Ocidente como Joseph Hardy Neesima (1843-90). Convertido enquanto estudava na América, ele voltou com a idéia de fundar uma faculdade cristã. IMPORTANTES SOCIEDADES MISSIONÁRIAS ESTRANGEIRAS PROTESTANTES (Antes da 2ª Guerra Mundial) 1649 Sociedade para a Propagação do

1841 Sociedade Missionária

Evangelho na Nova Inglaterra (New

Neuendettelsau (confessional luterana)

England Company)

1842 Sociedade Missionária Noruega

1698 Sociedade para Promoção do

1843 Missão da Igreja Livre da Escócia

Conhecimento Cristão

(formada após a divisão)

1701 Sociedade para Propagação do

1844 Sociedade Missionária da América do

Evangelho no Estrangeiro

Sul

1732 Os morávios de Herrnt iniciam o

1845 Junta de Missões Estrangeiras da

trabalho missionário ultramarino

Convenção Batista do Sul

1792 Sociedade Missionária Batista

1849 Sociedade Missionária de

1795 Sociedade Missionária Londrina

Hermannsburg (confessional luterana)

1797 Sociedade Missionária dos Países

1849 Sociedade Missionária Cristã

Baixos

Americana (Discípulos de Cristo)

1799 Sociedade Missionária da Igreja

1857 Missões Universitárias para a África

1810 Junta Americana de Comissários para

Central

Missões Estrangeiras

1859 Sociedade Missionária Finlandesa

1813 Sociedade Missionária Metodista

1865 Missão do Interior da China (Overseas

Wesleyana

Missionary Fellowship)

1814 Convenção Missionária Geral da

1872 Regions Beyond Missionary Union

Denominação Batista nos EUA para

1872 Junta de Missões Estrangeiras, Igreja

Missões Estrangeiras (American Baptist

Menonita, Conferência Geral

Foreign Mission Society)

1881 Missão para o Norte da África

1815 Missão Basel

1884 Missão Alemã para a Ásia Oriental

1819 Sociedade Missionária da Igreja

1889 Missão Geral para o Sul da África

Metodista Episcopal (EUA)

1890 Missão da Aliança Evangélica

1821 Sociedade Missionária Dinamarquesa

1892 Missão da Igreja Luterana Livre (ou

1822 Sociedade Missionária Evangélica de

Bleckmar)

Paris

1892 União Missionária do Evangelho

1824 Comitê de Missões Estrangeiras da

1893 Missão para o Interior do Sudão

Igreja da Escócia

1895 Missão para o Interior da África

1824 Sociedade Missionária de Berlim

1897 Aliança Cristã e Missionária

1828 Sociedade Missionária Renana (oude

1899 Missão Liebenzell (Alemanha)

Barmen)

1901 Sociedade Missionária Oriental

1829 Missões cristãs em muitas terras

1904 Missão Sudanesa Unida

(Irmãos Cristãos ou de Plymouth)

1908 Missão Christoffel para os Cegos

1835 Sociedade Missionária Sueca

(Christian Blind Mission)

1835 Sociedade Missionária da Igreja

1910 Missão Evangélica Mundial

Episcopal Protestante nos EUA

1914 Departamento de Missões

1836 Sociedade Missionária norte-alemã

Estrangeiras das Assembléias de Deus

(ou de Bremen)

1914 Cruzada Mundial de Evangelização

1836 Sociedade Missionária Gossner (Berlim) 1836 Sociedade Missionária de Leipzig (confessional luterana) 1837 Junta de Missões Estrangeiras da Igreja Presbiteriana nos EUA 1840 Missão Peregrina de Santa Chrischona (Suiça)

O ensino superior era uma ênfase importante e várias faculdades e universidades foram abertas. Dentre as mais notáveis

que podemos citar estavam o Serampore College, na Índia (1819), Wilson College em Bombaim (1832), o Madras Christian College (1837) e o United Theological College em Bagalore (1901). Na China havia trinta e três instituições cristãs em 1914, sendo as mais conhecidas as universidades de Peking, Yenching e St. John‟s. No Japão, a famosa Universidade Doshisha foi organizada em 1874. No Oriente Próximo a Universidade Americana de Beirute e Robert College em Constantinopla foram fundadas na década de 1860. O Fourah Bay College da CMS em Serra Leoa (1827) e o Instituto Presbiteriano Lovedale na Colônia do Cabo (1841) foram as instituições africanas pioneiras. A tradução da Bíblia era uma preocupação central nas iniciativas evangelísticas. Porém, conforme mostra o historiador africano Lamin Sanneh, passar a Bíblia para as línguas vernaculares do mundo significava reconhecer que aos olhos de Deus havia uma pluralidade de culturas e que todas eram iguais perante ele. Assim como nem a cultura judaica e nem a grega eram superiores, o mesmo valia para a cultura ocidental. A revitalização da linguagem de um povo, especialmente quando esta não era escrita, foi um resultado inesperado da tradução da Bíblia. Ela ajudou a preservar a cultura daqueles povos ao invés de destruí-la. Ele concluiu que o uso da língua nativa pelos missionários foi equivalente a adotar critérios da cultura indígena para a mensagem

cristã. Em outras palavras, essa é uma “parte radical na adaptação cultural que vai muito além da imagem que normalmente retrata a missão como uma forma de imperialismo cultural do Ocidente”.2 Os missionários também lutaram contra práticas desumanas e bárbaras. Os primeiros obreiros na Índia pressionaram a Companhia e depois o Parlamento para dar um fim à prática de sati, na qual a viúva era queimada viva na pira funerária de seu marido. Também fizeram campanhas contra o imposto para peregrinos que ajudava a custear os grandes festivais religiosos. Abusos terríveis como as mutilações e sacrifícios humanos aconteciam durante esses festivais. Outra questão que sofreu a crítica dos missionários foi o sistema indiano de castas. Apesar de alguns o tolerarem, a maioria era radicalmente contra. Como disse o bispo de Calcutá em 1835, era “como um câncer que vai comendo as partes vitais de nossas jovens igrejas” e “a distinção de castas deve ser abandonada decisivamente, imediatamente e de uma vez por todas”.3 As escolas missionárias ajudaram a combater esse mal ao dar às pessoas de castas inferiores uma senso de valor próprio e ensinar que o sistema estava errado. Um preocupação específica dos obreiros na China era o costume brutal de amarrar os pés. Até 90 por cento das mulheres da época eram forçadas a suportar um processo doloroso que lhes dava pés muito pequenos. Os missionários lutaram contra essa

prática ao fundar escolas para meninas onde ela não era permitida e ao formar sociedades de oposição que empenharam-se em influenciar a opinião pública contra o costume. Na virada do século, o movimento já havia feito progresso considerável graças aos esforços persistentes tanto dos missionários estrangeiros quanto das próprias mulheres chinesas. Uma outra questão relacionada às mulheres era a prática cruel de circuncisão feminina entre os povos Kikuyu na África Oriental Britânica (Quênia). Os esforços missionários no final da década de 1920 para proibir a operação causaram profundo ressentimento em meio aos homens Kikuyu, resultando numa crise política. Esse confronto aberto entre Cristianismo e valores tradicionais acabou levando ao movimento de resistência Mau Mau no Quênia durante os anos 50. A escravidão era a questão mais delicada para os missionários na África. Conforme foi mencionado anteriormente, ela estava por trás da tentativa de se incentivar o chamado comércio legítimo. Um bom exemplo disso foi o trabalho da Missão da Basiléia na Costa do Ouro (atual Gana). Na década de 1850 ela formou uma companhia a fim de comercializar os produtos das oficinas e das fazendas que a missão havia aberto para empregar africanos. O empreendimento teve sucesso especialmente na produção de cacau, que até hoje é um dos

produtos mais importantes da economia de Gana. O defensor mais notável da política de comércio nativo foi David Livingstone (1813-73). Ele chegou à África do Sul em 1841 e logo pôs-se a evangelizar em áreas remotas. Isso o levou às suas famosas viagens por regiões desconhecidas onde ia à procura de pessoas que ainda não haviam sido contaminadas pelo contato com os brancos. Não tardou para que ele se tornasse mais um explorador do que um evangelista, mas ainda acreditava que a África podia ser aberta para “influências civilizadoras”, isto é, para as missões e um comércio saudável. O que ele considerava nocivo era o comércio de escravos e de colonos brancos opressores e gananciosos como os Boere.2 Ele morreu sem ver realizado seu sonho de uma rede de estações missionários e postos de comércio na África Central. Apesar dos missionários muitas vezes acabarem cedendo aos interesses do poder imperial e de grupos de colonos, alguns deles ofereciam resistência. Um desses missionários foi John Philip (1775-1851), que foi envida pela LMS para reorganizar seu trabalho no sul da África. Ao chegar à Cidade do Cabo em 1819, ficou chocado com a forma como a população nativa era maltratada pelos brancos. Ele acreditava que negros e brancos eram iguais e montou uma campanha para convencer as 2

Plural de boer, fazendeiro, na língua africâner dos descendentes dos holandeses na África do Sul.

autoridades britânicas a dar direitos civis a todas as pessoas de cor. Transformou as estações de sua sociedade em “cidades de refúgio” para negros, onde estariam à salvo da intimidação de residentes brancos por causa de discussões de contrato trabalhista. Philip também tentou arranjar para que comerciantes brancos e fazendeiros fossem tirados das áreas fronteiriças e obteve uma legislação que abolia o trabalho forçado e afirmava a igualdade legal de ambas as raças. Ele foi severamente condenado pelos brancos da colônia por causa desses seus esforços. Um história inspiradora é a do missionário batista inglês William Knibb (1803-45). Ele foi para a Jamaica em 1825 e logo deparou-se com a terrível situação dos escravos das plantações. Ao ver que a evangelização e a libertação eram inseparáveis, suas pregações contra o sistema vigente de plantações foi ficando cada vez mais militante. Seu costume de tratar os negros como seres humanos também desagradava os fazendeiros. Quando uma insurreição escrava eclodiu em 1831-32, Knibb foi acusado de ser seu instigador e um bando violento de brancos pôs fogo em sua capela. Tendo em vista que sua vida estava então em perigo, ele foi para casa e dedicou-se completamente à campanha pela abolição da escravatura no Império Britânico. Publicou documentos e deu palestras sobre as condições na ilha e testemunhou perante uma comissão parlamentar sobre a servidão

nas colônias do Caribe. Ele voltou para a Jamaica depois de aprovada a lei de abolição da escravatura e pôs-se imediatamente a lutar contra o “sistema de aprendizes”, um meio termo entre a escravidão e a liberdade. Para Knibb, a questão fundamental era a justiça para seus “irmãos e irmãs”, como ele chamava os jamaicanos.

As mulheres e as missões A área da Igreja mais aberta para as mulheres era a de missões estrangeiras. Nelas, as mulheres podiam pregar, evangelizar, implantar igrejas, educar líderes nacionais e realizar trabalho humanitário. Apesar de não serem ordenadas, elas trabalhavam com autonomia, longe dos críticos em seus países de origem. Além disso, como a maioria delas dedicava-se a “trabalhos femininos” no campo missionário ou só pregava para ouvintes masculinos “nativos”, as igrejas que eram dirigidas por homens simplesmente faziam vistas grossas. As missões não apenas constituíam uma profissão importante para milhares de mulheres, como também milhões de outras acabavam se envolvendo com as iniciativas de uma forma ou outra uma vez que quase toda a denominação tinha uma sociedade missionária feminina ou um grupo de apoio constituído por mulheres. A historiadora Patrícia Hill comenta que as iniciativas missionárias

eram “substancialmente maiores do que qualquer outro movimento feminino de grande escala durante o século 19” e de proporções ainda maiores do que tanto o conhecido Movimento Voluntário Estudantil como o Movimento de Leigos Missionários.4 As esposas dos missionários eram um elemento nesse fenômeno. Apesar de algumas serem ignoradas por seus maridos (Mary Moffat Livingstone foi um bom exemplo disso), muitas delas eram tão competentes em seus ministérios quanto seus maridos. Era o caso de Ann Hasseltine Judson, primeira esposa de Adoniram que ficou famosa por seus escritos inspirativos e a assistência ao marido quando ele encontrava-se numa prisão na Birmânia. A primeira esposa de J. Hudson Taylor, Maria, o ajudou a fundar a Missão do Interior da China e sua segunda esposa, Jennie, foi uma parceira em pé de igualdade no ministério. O número de obreiras cresceu assustadoramente. A maioria das sociedades também considerava as esposas como missionárias e várias mulheres solteiras foram para os campos a serviço de juntas denominacionais ou através de uma das muitas agências para mulheres como a Sociedade Feminina de Educação (GrãBretanha), a Sociedade Missionária Zenana da Igreja da Inglaterra, Sociedade Missionária da União de Mulheres (Estados Unidos) ou a Ordem das Diaconisas na Alemanha. O fato é que na década de 1890 havia tantas mulheres voluntariando-se para o trabalho que

os homens começaram a vê-las como uma ameaça. Muitas vezes ignoradas pelos historiadores, algumas dessas mulheres foram indivíduos extraordinários. Uma delas foi Charlotte (“Lottie”) Diggs Moon (1840-1912), um professora da Virgínia, membro da Igreja Batista do Sul que foi para a China em 1873 e começou um ministério excepcional de ensino e pregação. Cheia de energia, dizia-se que fazia o trabalho de três missionários. Ela fundou uma estação remota de evangelização no norte da China, onde outros já haviam feito tentativas e fracassado. Lottie Moon também mantinha uma correspondência persistente com a sede da missão, pedindo sempre mais missionários e apoio financeiro. Em 1888 isso resultou no lançamento de uma oferta anual de Natal para as missões estrangeiras levantada nas igrejas batistas do Sul (oferta que depois da morte de Lottie, recebeu o seu nome) que, ao longo do tempo, já arrecadou mais de um bilhão de dólares. Uma personalidade marcante na área das missões médicas foi a Dra. Ida Sophia Scudder (1870-1960). Nascida na Índia, numa família tradicional de missionários americanos, ela havia, a princípio, decidido seguir os passos de seu pai e seu avô. Uma experiência crítica em 1893 a fez mudar de idéia e ela estudou Medicina, voltando para a Índia como médica. Abriu um hospital para mulheres em Velore em 1900 e mais tarde anexou a ele uma

escola de enfermagem e em 1918 uma Faculdade de Medicina para mulheres. Através de sua grande habilidade para levantar fundos, ela construiu um complexo de treinamento médico que envolveu a cooperação de cinqüenta missões de dez países. O lugar ficou conhecido como o melhor centro médico na Índia. Outra figura excepcional que trabalhou na Índia foi Amy Carmichael (1867-1951). Nascida na Irlanda do Norte, ela foi profundamente influenciada pelo Movimento Keswick (ver capítulo 21). Depois de um breve período no Japão ela foi para o sul da Índia em 1895 e nunca mais voltou para casa. Trabalhou em Dohnavur com a Sociedade Missionária Zenana da Igreja da Inglaterra que tentava alcançar as mulheres da casta mais elevada que viviam isoladas da sociedade em geral. (Zenana era a parte de uma casa grande onde viviam as meninas e mulheres.) Um momento decisivo de sua vida foi em 1901 quando ela abrigou em sua casa uma menina que havia fugido pois estava destinada a ser uma prostituta do templo. Logo outras crianças abandonadas e fugitivas do templo passaram a procurá-la e ela começou um programa ativo para resgatar jovens vítimas de abusos. Ela chamou seu empreendimento de Irmandade Dohnavur e em 1912 já havia cento e trinta crianças sob seus cuidados. A organização funcionava como uma sociedade comunitária em que todos os obreiros vestiam roupas indianas, cuidavam das crianças,

ensinavam-nas e lutavam para desenvolver nelas um caráter cristão. Ela formou então uma ordem religiosa para mulheres solteiras chamada Irmãs da Vida Comum. Apesar de inválida desde 1931, ela ficou famosa por seus livros devocionais que eram marcados por uma espiritualidade intensa. A mulher mais admirável de todas foi Mary Slessor (18481915). De uma família operária pobre da Escócia, ela foi criada nas favelas de Dundee. Apesar de ter recebido sua educação limitada e trabalhado numa indústria têxtil para ajudar a sustentar sua mãe e outros membros da família, a morte de David Livingstone inspirou-a para oferecer seus serviços como voluntária na missão presbiteriana em Calabar, oeste da África (atual Nigéria). Ela chegou lá em 1876, lecionou numa escola e aprendeu a língua rapidamente. Em 1880 assumiu a liderança da missão na Cidade Velha, onde morava numa cabana de barro, comia os alimentos locais, supervisionava escolas, distribuía medicamentos, resolvia disputas, lutava contra a bruxaria e bebedeira e cuidava de órfãos, sendo que muitos desses eram gêmeos que haviam sido abandonados. Slessor começou, então, um trabalho pioneiro em meio à tribo dos Okoyong e era tão competente trabalhando com pessoas em questões judiciais que as autoridades inglesas a nomearam vice-consulesa em 1891, a primeira mulher do império a receber esse título. Uma década

depois ela foi ainda mais para o interior para trabalhar entre os Ibos. Sua identificação com os africanos era tanta que, no final de sua vida, ela ficou conhecida como “Mãe de Todos os Povos”.

As missões afro-americanas na África Não é de conhecimento geral que os afro-americanos dedicaram-se à atividade missionária e ainda há muita pesquisa por fazer antes que a história toda possa ser contada. Um dos primeiros desses missionários foi Daniel Coker (1780-1835), um dos fundadores da Igreja Metodista Episcopal Africana em 1816. Em 1820 ele liderou um grupo de negros livres que imigraram para Serra Leoa e ficaram lá para pastorear uma igreja metodista em Freetown que ministrava para escravos libertados pelos britânicos. Os batistas negros fundaram uma sociedade missionária em 1815, e ela orientou um de seus fundadores, Lott Cary (cerca de 1780-1828), um escravo liberto e pregador autodidata da Virgínia, a acompanhar os colonos a caminho da futura Libéria em 1821-22. Ele fundou uma igreja e uma escola e tentou alcançar os povos nativos bem como os imigrantes vindos da América. Certamente o envolvimento de Cary na iniciativa mal planejada de “repatriar” negros na África pode ter afetado sua reputação histórica, mas sua contribuição foi importante para a posição dominante na qual os

batistas se encontram hoje na Libéria. Mais tarde, batistas afroamericanos deram seu nome a uma junta de missões. Outra iniciativa digna de menção foi iniciada pelos batistas da Jamaica. Em 1838-39 eles começaram a levantar fundos para uma missão que iria para o oeste da África e dois voluntários puseram-se a caminho mas desapareceram sem deixar pistas. William Knibb fez pressão em favor dos jamaicanos junto à Igreja batista de Londres e em 1840 convenceu essa igreja a sustentar o projeto. Um grupo de reconhecimento dos batistas britânicos verificou qual era a situação em Camarões e na ilha espanhola vizinha, Fernando Po, e descobriu que as perspectivas missionárias eram favoráveis. A resposta jamaicana foi cheia de entusiasmo e dois homens de lá, Joseph Merrick e Alexander Fuller, navegaram para Fernando Po em 1843. Cinco meses depois, chegaram mais dois batistas britânicos e trinta e nove jamaicanos, sendo que entre eles havia professores, pregadores e colonos. Apesar de ser muito pobre, a Igreja da Jamaica contribuiu com uma grande soma em dinheiro para apoiar a iniciativa na África e assim refletiu uma notável parceria com a missão britânica. Apesar de terem iniciado um ministério promissor, em dois anos os espanhóis pressionaram os missionários para que deixassem a ilha e a maioria dos jamaicanos voltou para as Índias

Ocidentais. Porém Merrick e suas esposa mudaram-se para o continente, onde ele reduziu uma língua local a uma forma escrita, começou a tradução da Bíblia, abriu uma escola e realizou cultos. Ele morreu em 1849, mas um membro britânico da missão em Fernando Po, Alfred Saker, conseguiu dar ao trabalho batista em Camarões um caráter permanente. . Afro-americanos metodistas e batistas começaram missões na África do Sul na década de 1890. Os metodistas também tinham trabalhos em Serra Leoa, Libéria e Costa do Ouro. Esses laços com os negros americanos foram importantes para o surgimento do “Etiopianismo”, um movimento eclesiástico independente no sul da África durante os anos que antecederam a Primeira Guerra Mundial.

Os avanços católico-romanos Em suas terras não-européias — na América Latina — a Igreja Católica passou por tempos difíceis. Com o fim do patrocínio espanhol, os regimes liberais revolucionários depois de 1815 exerceram suas próprias formas de controle sobre a Igreja e o Catolicismo perdeu grande parte de seu poder e influência legal. Aqueles governos que estavam lutando contra a Igreja muitas vezes encontravam aliados entre os protestantes e isso levou a pequenos avanços destes últimos, especialmente mais para o final

do século. Apesar de, durante algum tempo, as relações com o papado terem sido razoavelmente boas, a religião a nível popular estava em rápido declínio e depois de 1850 os liberais passaram a exigir cada vez mais (e em muitos países conseguiram) a separação entre Igreja e Estado. O rompimento mais radical aconteceu no México, onde até mesmo as terras da Igreja foram confiscadas e as ordens religiosas fechadas. No final do século, um renascimento missionário teve início na América Latina. Várias ordens religiosas trabalharam no meio do povo a fim de ganhá-lo (ou recuperá-lo) para o Catolicismo e os bispos começaram a desenvolver estratégias para preservar a fé levando em consideração os movimentos anti-cristãos e a crescente competição protestante, incluindo metodistas, batistas do sul e missões interdenominacionais que eram especialmente ativas. Em outras partes do mundo, muitas ordens católicas mais antigas deram continuidade ao trabalho missionário, mas suas iniciativas não foram tão espetaculares como aquelas dos protestantes. Além disso, quase cem novas ordens e comunidades religiosas foram fundadas e dedicaram-se a algum tipo de missão. Elas não tinham tanta liberdade de ação como as sociedades protestantes, uma vez que a Propaganda em Roma exercia uma certa supervisão. Mas as missões a seguir podem servir de exemplo.

Em 1868 uma ordem francesa chamada Padres Brancos foi fundada pelo Cardeal Charles M. Lavigerie (1825-92), arcebispo de Algiers e líder da Igreja Católica no norte da África. Eles eram sacerdotes seculares que usavam uma roupa branca distintiva e que faziam votos de servir as missões da África para o resto da vida. A princípio trabalharam entre os muçulmanos, mas depois, em 1877, foram enviados a Uganda, onde criou-se uma rivalidade feroz entre eles, obreiros da CMS e muçulmanos que buscavam o controle do reino de Buganda. A luta contra o comércio de escravos também era uma grande preocupação para ordem que tinha estações por toda a África central e oriental. A Sociedade da Divina Palavra foi formada em 1875, por católicos alemães, em grande parte como reação às crescentes iniciativas protestantes. Seu primeiro campo missionário foi em na região Shantung, na China e o governo alemão usou o assassinato de dois sacerdotes da sociedades por terroristas chineses em 1897 como pretexto para tomar uma cidade portuária na região e transformá-la em base militar. O grupo também fundou trabalhos na América Latina, África e no Sul do Pacífico. Uma outra sociedade importante foi uma congregação americana de sacerdotes diocesanos conhecidos como os Missionários de Maryknoll. Formada em 1911, seus principais campos localizavam-se no leste da Ásia, porém mais tarde abriram missões

na América Latina e na África.

As missões e o Ecumenismo O movimento ecumênico do século 20 originou-se nos avanços missionários e foi um cumprimento destes. Nos campos estrangeiros cristãos de muitas denominações e países dedicavamse ao esforço comum de pregar o evangelho e nos meios nãocristãos eles descobriram que as diferenças entre eles não eram assim tão importantes quando comparadas à tarefa que tinham diante de si. Os recursos limitados e a magnitude da necessidade espiritual forçaram as agências missionárias a aprender como cooperar umas com as outras e as lições que aprenderam lá foram levadas de volta para as sedes na Europa e América do Norte. Um elemento da nova visão ecumênica era o estudo da missiologia. Alexander Duff em Calcutá, que era um forte defensor do ensino como meio de propagar o evangelho, promoveu o estudo científico de missões. Em 1867 ele foi nomeado para a primeira cátedra universitária de missões no Free Church of Scotland‟s New College em Edinburgo. Outro pioneiro no estudo das missões foi Gustav Warneck (1834-1910), que recebeu uma cátedra honorária de missões na Universidade de Halle, editou o primeiro jornal acadêmico dedicado ao estudo de missões e publicou importantes obras teóricas sobre a História,

Filosofia e Teologia das Missões. Julius Richter (1862-1940) foi autor de trinta livros e duzentos artigos sobre missões e foi nomeado para a nova cátedra de missiologia na Universidade de Berlim em 1913. Esses três homens eram fortes defensores do ecumenismo. The Muslim World [O Mundo Muçulmano], fundado em 1911, ainda é o principal jornal sobre as relações entre muçulmanos e cristãos. Uma revista mais popular que noticiava sobre missões de um ponto de vista global era a Missionary Review of the World [Resenha Missionária do Mundo], editada pelo proeminente evangélico americano A. T. Pierson (18371911). Iniciativas conjuntas tiveram início nos campos missionários sob a forma de reuniões regionais e conferências gerais. Também foram importantes as conferências da Aliança Evangélica, uma organização internacional formada em 1846 para prover a unidade entre as igrejas e que enfatizava a autoridade plena das Escrituras, a encarnação e expiação dos pecados em Cristo, a salvação pela fé e a obra do Espírito Santo. Numa Convenção Missionária da União em Nova York e numa reunião da Aliança Evangélica em Londres, ambas em 1854, Duff realizou apresentações empolgantes sobre missões. Várias conferências foram realizadas na Alemanha e Grã-Bretanha durante as três décadas seguintes culminando com grandes encontros Londres (1888) e Nova York

(1900) que pediam maior unidade. Além disso, formaram-se organizações cooperativas entre os países que mais enviavam missionários como o Comitê Permanente de Missões Protestantes Alemãs (1885), a Conferência das Missões Estrangeiras da América do Norte (1911) e a Conferência das Sociedades Missionárias da Grã-Bretanha e Irlanda (1913). Os movimentos estudantis foram um fator ainda mais crucial. A Associação Cristã de Moços, fundada na Inglaterra em 1844 por George Williams (1821-1905), um homem de negócios e evangelista leigo, chegou aos Estados Unidos em 1851. Logo a ACM começou trabalhos nas universidades (em 1884 havia 181), enfatizando o estudo da Bíblia, adoração e evangelismo pessoal. Outros grupos estudantis atuavam em seminários e universidades britânicas, inclusive um em Cambridge onde, em 1882, sete importantes atletas assumiram o compromisso de tornar-se missionários. Os “Sete de Cambridge” tiveram um poderoso impacto sobre o recrutamento missionário. Numa reunião de estudantes na casa de D. L. Moody em Mount Hermon, Massachusetts, em 1886, aconteceu um reavivamento e cem jovens assumiram o compromisso de tornar-se missionários. Um deles foi um jovem estudante da Universidade de Cornell, John R. Mott (1865-1955), que entrou para o trabalho universitário da ACM. Em 1888 ele fundou o SVM - Student

Voluntary Movement [Movimento Voluntário Estudantil para Missões Estrangeiras], cujo lema era “A Evangelização do Mundo Nesta Geração”. Mott continuou sendo obreiro cristão leigo durante toda sua vida e, como seu mentor Moody, nunca recebeu educação teológica formal e nem foi ordenado. Era um escritor e orador talentoso, um organizador cheio de energia e criatividade e um viajante contínuo que deu a volta ao mundo promovendo o trabalho entre estudantes e a cooperação cristã. Além de liderar o SVM, a ACM de estudantes e a Federação Mundial de Estudantes Cristãos, que ele formou em 1895, foi o principal motivador por trás da Conferência Missionária Mundial, em Edinburgo no ano de 1910. Esse foi o primeiro encontro verdadeiramente ecumênico. Foi organizado por um comitê internacional e 1.200 delegados representaram 159 sociedades e juntas missionárias. Dezessete eram líderes asiáticos. O principal assunto das discussões plenárias e das reuniões das comissões era o trabalho missionário. Um Comitê de Continuidade foi nomeado para dar seqüência aos tópicos investigados e preparar o caminho para um concílio missionário internacional permanente. Mott era o presidente dessa organização juntamente com Eugene Stock da CMS e Julius Richter de Berlim o vice. O secretário era J. H. Oldham (18741969), um rapaz dinâmico que se tornaria um dos líderes do

movimento ecumênico. Também foi o editor de International Review of Mission [Resenha Internacional de Missões], fundada em 1912 e que era o órgão do novo ecumenismo. Porém, as esperanças de unidade protestante baseada na cooperação missionária foram cruelmente destruídas pelo começo da guerra em 1914.

O progresso extraordinário das missões estrangeiras levou muitos a pensar que o reino de Cristo estava próximo. O avanço dos valores da classe média que eles identificavam com a civilização cristã escondiam, na verdade, o fato de que outras ideologias estavam competindo pela lealdade tanto do mundo ocidental como do não-ocidental. Um nacionalismo obstinado já se desenvolvia na Ásia enquanto nas cidades industriais da Europa e América do Norte, grandes segmentos da população tinham praticamente abandonado a Igreja. O assalto violento de idéias diferentes e, finalmente, o cataclismo da guerra iriam abalar para sempre o consenso evangélico. O Ecumenismo teria que basear-se não na propagação do evangelho, mas em outras premissas.

Capítulo 21 - A Igreja no crepúsculo do Ocidente Enquanto o Catolicismo foi atrasado pelo conservadorismo do papa, o protestantismo evangélico parecia estar crescendo. O

aumento das obras missionárias era um aspecto desse processo. Outro era a evangelização em massa, tendo em vista que milhares encontraram a Cristo em grandes cultos urbanos da época e os movimentos de santidade e pentecostalismo acrescentaram um dimensão espiritual poderosa ao evangelicalismo. Porém, novas idéias contrárias à tradição cristã ameaçavam as igrejas católicas e protestantes e formavam uma nuvem negra sobre o otimismo que havia sido tão prevalecente no começo do século 20. Os liberais tentavam se adaptar às mudanças e os conservadores resistiam a elas, mas nenhum dos dois podia fazer retroceder as forças que estavam levando a civilização ocidental a se desintegrar.

A política do poder numa era liberal As nações ocidentais passaram por muitas mudanças durante o final do século 19, mas nem todas foram negativas. O governo democrático teve avanços nas regiões norte, oeste e central da Europa. As reformas políticas na Grã-Bretanha haviam estendido o direito de voto a quase todos os homens e em 1911 a Casa dos Lordes perdeu seu poder de veto. Nos Estados Unidos, a união havia sido preservada e a escravidão eliminada. A criação do Domínio do Canadá em 1867 marcou o primeiro exemplo de concessão da liberdade política dentro de um dos impérios coloniais da Europa sem que fosse necessário apelar para uma

revolução violenta. Depois da virada do século, uma condição semelhante foi concedida à Austrália, Nova Zelândia e à União da África do Sul. Até mesmo os impérios monárquicos — Alemanha, Austro-Hungria e Rússia — haviam liberalizado seus regimes. Tanto a Alemanha quanto a Áustria tinham governos parlamentares, ainda que uma porção considerável do poder continuasse com os monarcas. A Rússia aboliu o sistema de servidão em 1861. Os dois problemas que tornaram-se mais ameaçadores com o passar dos anos foram o nacionalismo e o militarismo. O governo britânico na Irlanda era uma constante fonte de dissensão no Reino Unido, enquanto a anexação pela Alemanha das províncias francesas da Alsácia e de Lorena em 1871 contaminaram permanentemente as relações entre os dois vizinhos. Os impérios multinacionais da Europa central e oriental continham muitos povos que queriam suas próprias nações-Estado como os poloneses, checos, romenos e búlgaros. A Itália e a Sérvia desejavam incluir em suas fronteiras pessoas de sua nacionalidade que eram governadas pela Austro-Hungria. A Turquia otomana era uma colcha de retalhos de diferentes nacionalidades, sendo que várias delas queriam seus próprios Estados ou desejavam juntar-se aos seus irmãos de mesma etnia fora do império. Para evitar a possibilidade de guerra entre Alemanha e

França e para impedir que as “grandes potências” se envolvessem num conflito fratricida nos Balcãs, o chanceler alemão Otto von Bismarck elaborou um complexo sistema de alianças. Se a sua estratégia de paz iria ou não funcionar ainda é questionável, mas depois que Bismarck foi dispensado pelo jovem kaiser (imperador) Guilherme II em 1890, só restou uma aliança com a Áustria-Hungria. Porém, o imperialismo deu um novo aspecto ao nacionalismo. A Grã-Bretanha preocupava-se com rivais imperialistas e com o crescente poder econômico da Alemanha, enquanto o kaiser exigia um “lugar ao sol” para seu país. A falta de definição das ambições ultramarinas da Alemanha perturbava os outros países. A Rússia czarista reacionária fez o impensável e realizou uma aliança com a França republicana, enquanto a GrãBretanha acertou suas diferenças coloniais com suas rivais França e Rússia. Em 1908 a Alemanha sentia-se cercada e tinha apenas um aliado, a dupla monarquia da Áustria-Hungria que estava se desintegrando e cujo envolvimento nos Balcãs levaria à guerra. 1854

1856

1878

1908

Dogma da Imaculada

D.L. Moody

Leão

Criado o Conselho

Concepção

chega a Chicago

XIII se

Federal de Igrejas

torna papa 1846

1854

1870

1890

1909

Fundação da

Charles Spurgeon

Concílio

Reavivamento do

Bíblia

Aliança

começa o seu

Vaticano

Movimento de

Scofield

Evangélica

ministério em

I

Comunhão na

1800

Londres

Alemanha

1850

1900

1950

1803

1853-56

1859

1890

1901-05

1914

Eslavofilismo na

Conflito

Origem das

Floresce o

Abraham

Começa a

Rússia

da

Espécies, de

darwinismo

Kuyper,

Primeira

Criméia

Charles

social

Primeiro

Guerra

Ministro da

Mundial

Darwin

Holanda

O militarismo acentuava o problema pois as grandes potências tinham exércitos efetivos enormes e lobistas militares estavam pressionando os governos para realizar gastos ainda maiores. A decisão da Alemanha de construir uma grande marinha como símbolo de sua grandeza nacional ameaçava os britânicos que consideravam sua força naval igualmente vital para a sobrevivência nacional. Voltaram-se então para a França, que já esperava por isso. Líderes militares com seus planos de mobilização e batalha exerceram uma influência excessiva no processo de decisão política. Esse fatos, juntamente com a mudança no sistema de alianças levou a uma situação em que era praticamente impossível conter uma guerra local entre duas grandes potências. Assim, quando um terrorista sérvio assassinou o príncipe da Áustria-Hungria no dia 28 de junho de 1914, os principais países da Europa foram, um por um, puxados para dentro de uma guerra que iria alterar completamente o rumo da

civilização. Mas durante os pacíficos e prósperos anos da era vitoriana, poucos podiam prever o cataclismo que os aguardava além do horizonte.

Conservadorismo católico-romano Com a ascensão de Pio IX (1792-1878) ao trono papal em 1846, parecia, a princípio, que haveria uma certa liberalização, mas a Revolução de 1848 o deixou apreensivo e o fez voltar à costumeira posição reacionária do papado (ver capítulo 18). Ele havia fugido de Roma quando os radicais tinham formado uma república lá e havia retornado em 1850 sob a proteção das forças armadas francesas. O objetivo de Pio era fortalecer sua autoridade espiritual de todas as formas possíveis, o que começou a fazer em 1854 ao proclamar o dogma da concepção imaculada da Virgem Maria. Então, em 1864 lançou uma encíclica (carta papal aos bispos) fazendo uma lista de oitenta proposições ou “erros” que deveriam ser rejeitados pelos católicos. A maioria desses pontos já havia sido condenada antes, mas colocá-los todo em num pacote foi visto como uma rejeição formal ao mundo moderno. Na Lista dos Erros estavam incluídos o panteísmo, naturalismo, Racionalismo, indiferentismo, Socialismo, Comunismo, maçonaria, sociedades bíblicas, ensino público, liberdade de discurso, qualquer limitação ao poder civil do papa e muitos

outros pontos. A seção mais ofensiva era a de número 80, que condenava a afirmação de que “o pontífice romano deve adequarse e alinhar-se com o progresso, o Liberalismo e a civilização moderna”. Essa encíclica enfureceu os protestantes e católicos liberais, mas não havia nada que pudessem fazer. Em 1869-70, Pio IX convocou um concílio (Vaticano I) para tratar de várias questões da Igreja e usou a ocasião para afirmar ainda mais a primazia papal. Os ultramontanos, defensores radicais do papa, eram em número muito maior do que os liberais no concílio e garantiram a aprovação de um decreto que afirmava a infalibilidade do papa. Declarava que o papa era infalível “em seu falar ex cathedra”, isto é, no papel de pastor e mestre e “pela virtude de sua autoridade apostólica suprema define a doutrina acerca da fé ou moral que deve ser aceita pela Igreja Universal”. Superficialmente, essa era uma afirmação chocante, mas na realidade era bastante limitada e a prerrogativa foi usada em raras ocasiões. Porém, o papado havia ganho uma posição de poder dentro do Cristianismo romano como não havia tido nem no século 13 e a maioria dos cristãos católicos pareciam dispostos a conceder essa autoridade à Santa Sé. Na era da democracia, Roma havia construído para si uma fortaleza contra a modernidade. A aceitação incondicional da jurisdição papal havia prevalecido sobre as tendências nacionais e liberais.

A declaração foi aceita por todos, com exceção de um punhado de dissidentes na Alemanha e Áustria. Um distinto historiador da Igreja, Johann von Dölinger de Munique, liderou a oposição ao decreto e foi excomungado, mas não juntou-se ao grupo que se separou em 1871. Esse grupo afirmava que os decretos do Vaticano e outros pronunciamentos recentes haviam criado uma nova Igreja, mas eles desejavam perpetuar o “verdadeiro” Catolicismo. Eles se autodenominavam os “Antigos Católicos”, adotando uma forma episcopal de governo e reconhecendo como corretas a maioria das doutrinas declaradas antes de 1054. Os Antigos Católicos, que nunca passaram de uma minoria, em 1932 acabaram entrando em comunhão com a Igreja da Inglaterra e, com efeito, tornaram-se os Episcopais Alemães. Enquanto o Concílio do Vaticano estava em andamento, eclodiu a guerra entre França e Prússia e a guarnição francesa foi retirada de Roma. Esse era o momento tão aguardado pelo jovem estado italiano. Mais que depressa, suas forças entraram no Vaticano e anexaram a cidade, finalizando assim o poder temporal do papado. A longo prazo, essa ação foi um benefício enorme para a Igreja. Uma vez que o papa não era mais um príncipe secular, aumentou seu poder espiritual sobre os católicos de todo o mundo. Porém, Pio IX ficou indignado que os italianos haviam tomado suas terras e retirou-se para o Palácio do Vaticano. De lá,

assumiu o papel de “prisioneiro do Vaticano” e a “questão romana” encheu de amargura as relações entre o papado e a Itália pelos próximos cinqüenta anos. O Estado fez uma oferta generosa na Lei das Garantias (1871) que, apesar de privar o papa de seu poder soberano, ainda concedia-lhe todas as honras e direitos de um soberano e o tornava isento da lei italiana. Recebeu permissão de ficar com o Vaticano e duas outras propriedades, a Santa Sé continuaria a ter corporações diplomáticas e suas tradicionais unidades policiais, os eclesiásticos podiam ir e vir quando bem entendessem e tratar dos assuntos da Igreja sem impedimentos. Além disso o Estado deu-lhe um fundo anual equivalente ao que teria recebido através de suas antigas propriedades. Pio e seus sucessores rejeitaram essa proposta pois ela não reconhecia o direito do papa de ser um príncipe territorial independente. Foi impossível entrar num acordo, tendo em vista que os italianos não estavam dispostos a devolver qualquer parte dos Estados Papais. A situação foi agravada quando os monarquistas de direita da França apoiaram a posição do papa, gesto que a Itália tomou como uma interferência em suas questões. Quando Leão XIII ordenou em 1898 que os católicos se abstivessem da vida política enquanto ele estivesse naquela “posição intolerável”, o gesto só fez surgir ainda mais anticlericalismo. Essa questão só foi resolvida depois da Primeira

Guerra Mundial. Na Alemanha, um severo conflito entre Igreja e Estado ocorreu durante a década de 1870. Conhecido como Kulturkampf [luta cultural], foi equivocadamente retratado por alguns liberais como um conflito entra a civilização moderna e a religião antiga e obsoleta. Na verdade, as bases do conflito eram políticas. Por várias razões, o chanceler alemão Bismarck temia que na Alemanha, que era dominada por protestantes, a minoria católica fosse uma ameaça à sua segurança. Eles possuíam um partido político forte, o Centro, que era hostil ao seu regime. A declaração de infalibilidade papal parecia ser uma afirmação de superioridade em relação ao Estado. As intensas exigências de alguns católicos por uma intervenção que restaurasse o poder temporal do papa perturbaram a relação amigável com a Itália. Havia, ainda, o perigo dos católicos alemães unirem-se aos seus companheiros na França e Áustria e entrarem numa guerra que desintegraria a unificação alemã. O programa de repressão de Bismarck incluiu a expulsão dos jesuítas (instrumento tradicional de autoridade papal), a abolição do departamento católico no Ministério de Culto Público, a instituição do casamento civil e a transferência da educação sob o controle completo do Estado. Além disso, nomeou um liberal — Adalbert Falk — como Ministro do Culto Público na Prússia e

ordenou que ele defendesse os direitos do Estado contra a Igreja. Falk foi responsável pela adoção das famosas “Leis de Maio” (1873) que declaravam a supremacia absoluta do Estado. Limitavam ainda o poder dos bispos em questões disciplinares, criavam uma suprema corte eclesiástica escolhida pelo imperador, colocavam o treinamento dos sacerdotes sob rígida supervisão estatal e davam ao regime o poder de veto sobre as nomeações clericais. Quando Pio IX condenou as medidas, Bismarck rompeu relações diplomáticas com o Vaticano, cortou todo o apoio financeiro à Igreja alemã e obrigou ordens religiosas a deixarem o país. A resistência católica às ações do Estado foi obstinada e muitos bispos e sacerdotes foram presos ou expulsos de seus cargos. No parlamento o Partido de Centro criticou veementemente essas decisões. Até alguns protestantes simpatizaram com a resistência uma vez que consideravam que as medidas tinham ido longe demais e temiam ser as próximas vítimas da ação arbitrária do Estado. Bismarck, que não esperava que suas medidas fossem atrair uma reação tão hostil, viu-se politicamente constrangido e começou a procurar uma saída. Finalmente, com a ascensão do diplomático Leão XIII ao trono papal, uma mudança no clima político da Europa (os republicanos haviam vencido na França e a Áustria tinha se aliado com a

Alemanha) e com o início da campanha anti-socialista, a política foi revertida e as leis discretamente retiradas dos livros oficiais. A tentativa de Bismarck de intimidar a Igreja Católica e seu partido político havia fracassado completamente. Desde então, o termo Kulturkampf tornou-se parte do vocabulário político moderno e é usado com freqüência para designar um conflito entre a Igreja e o Estado. Na França, a maioria dos principais católicos romanos opunha-se à Terceira República que havia sido fundada em 1870 e defendia a restauração da monarquia. O governo reagiu com leis anti-clericais para manter a Igreja sob controle. Entre estas estava o registro de associações religiosas, a eliminação da capelania do exército, a legislação do divórcio e a educação primária obrigatória que incluía uma proibição do ensino religioso nas escolas públicas. Porém, em 1890 Leão XIII decidiu por uma conciliação com o regime ao ordenar que os católicos franceses deixassem seu apoio à restauração da monarquia. A partir de então as relações entre Estado e Igreja melhoraram, mas não tardaram a sofrer danos irreparáveis com a questão Dreyfuss. Esta envolvia a corte marcial e condenação de um oficial judeu do exército acusado de vender segredos para os alemães. Quando foi mostrado em 1896 que as acusações eram falsas, o país dividiu-se entre os defensores e os críticos do

exército. Os militares recusavam-se a admitir o erro ou tratar do anti-semitismo que era o cerne da questão. Enquanto os republicanos apoiavam o capitão Dreyfuss e exigiam justiça, os monarquistas e o clero católico apoiavam a atitude inicial. O capitão acabou sendo exonerado, mas nesse meio tempo, os republicanos voltaram-se contra os monarquistas e seus aliados clericais e em 1905 aprovaram uma lei que separava a Igreja do Estado. Esta garantia a completa liberdade de consciência, estipulava que o Estado não teria nenhuma relação com a nomeação de clérigos ou com o pagamento de seus salários (o mesmo se aplicava também aos protestantes e judeus) e determinava a formação de corporações privadas que tomariam posse das propriedades da Igreja. A importância dessa ação dificilmente pode ser exagerada. Ela não apenas cancelou o acordo napoleônico entre Estado e Igreja (ver capítulo 17) como, mais importante ainda, significou o fim do um relacionamento especial entre papas e governantes franceses que havia começado em 756 quando Pepino o Breve tinha autorizado Estevão II a assumir o controle de terras na Itália, lançando assim as bases para o poder temporal do papado. Chegava ao fim uma era que havia durado doze séculos. Além disso, os acontecimentos da época ajudam a explicar o motivo da França, apesar de sua forte herança católica, ser hoje um dos

países mais seculares da Europa.

O ressurgimento da ortodoxia Com o rápido declínio do Império Otomano, a autoridade do Patriarca Ecumênico de Constantinopla foi ficando cada vez menor. No decorrer do século, as igrejas sérvias, gregas, romenas e búlgaras tornaram-se todas autônomas. Enquanto isso, a Igreja Ortodoxa da Rússia continuava intimimante ligada ao Estado (ver capítulo 13) e durante o reinado do czar Nicolau I (1825-52), foi desenvolvida a doutrina da “nacionalidade oficial”. Proclamada pelo seu ministro da educação em 1833, ela continha três princípios — ortodoxia, autocracia e nacionalidade. A autocracia significava a manutenção do poder absoluto do soberano, o que era um fundamento indispensável ao Estado. A ortodoxia indicava que o papel oficial da Igreja era de ser a fonte maior da ética e dos ideais que davam significado à vida e à sociedade na Rússia. A nacionalidade referia-se à natureza singular do povo russo, o que fazia deles um poderoso e dedicado defensor da dinastia e do governo. Para possibilitar que a Igreja realizasse um trabalho mais eficaz em inculcar o povo com a lealdade ao czar foram fundados mais seminários e o Estado pagava o salário do clero. Para Nicolau I, a ortodoxia também estava relacionada à política externa. Ele afirmou o direito de “proteger” a ortodoxia

cristã presente no império otomano, o que levou a uma crise diplomática no início da década de 1850. Uma disputa eclodiu entre monges ortodoxos e católicos romanos sobre a custódia dos lugares santos na Palestina e o ambicioso Napoleão III afirmou que a França era a protetora dos católicos lá. Nicolau enviou um ultimato ao sultão turco insistindo para que ele resolvesse a controvérsia da Terra Santa em favor dos ortodoxos e reconhecesse o protetorado russo sobre as igrejas ortodoxas no império. A França e a Grã-Bretanha urgiram o sultão a resistir às exigências, o que ajudou a desencadear a Guerra da Criméia em 1854. Nas décadas de 1830 e 1840 surgiu um grupo de intelectuais românticos conhecidos como Eslavófilos. Eles tiveram um importante impacto sobre o pensamento religioso russo. Rejeitaram o Ocidente e enfatizaram a natureza superior e missão histórica da Rússia e de sua Igreja ortodoxa. Argumentaram que os eslavos eram divinamente chamados para preservar a fé cristã em sua pureza e que sua Igreja e Estado eram guardiões do verdadeiro Cristianismo e da sociedade ideal. De acordo com os Eslavófilos, o caráter do camponês eslavo, especialmente do russo, era marcado pelo amor, liberdade e cooperação, enquanto o Ocidente era decadente. No Ocidente, o Cristianismo havia sido corrompido pelo Racionalismo, pela tirania papal e pelo individualismo

protestante. Alguns diziam que a Rússia deveria libertar todos os eslavos do governo estrangeiro e trazer todos os cristãos para debaixo das asas da ortodoxia. Era uma reafirmação da Santa Rússia como Terceira Roma. Os principais filósofos religiosos eslavófilos foram os leigos Alexis S. Khomiakov (1804-60) e Vladimir S. Soloviev (18531900). Khomiakov argumentava que a Igreja Ortodoxa era um todo orgânico, tendo Cristo como o cabeça e o Espírito Santo como alma e sua essência era a unidade e a liberdade. A autoridade religiosa estava sobre toda a Igreja e não na Bíblia ou no papado. Soloviev apresentou um conceito de “bondade humana” sendo que com isso ele se referia à união da humanidade com a divindade através da identificação do homem com Cristo, a Palavra encarnada. Defendeu a reunião das igrejas do Oriente e Ocidente e o estabelecimento de uma teocracia universal.1 Uma importante figura russa do final do século 19 foi Constantino Pobiedonostev, um advogado que trabalhou como procurador do Santo Sínodo de 1880 a 1905 e foi o arquiteto da política reacionária czarista. Enfatizava a fraqueza e maldade da humanidade e a falibilidade da Razão humana, detestava a Revolução Industrial e o crescimento das cidades e via o propósito do Estado como sendo de manter a lei, ordem, estabilidade e unidade. Na Rússia, a melhor forma de alcançar esse propósito era

através da autocracia e da Igreja Ortodoxa. Constantino não confiava no Ocidente e queria evitar ao máximo que a Rússia fosse contaminada pelas idéias que vinham de lá. Opunha-se aos parlamentos, julgamentos diante de um júri, jornais e escolas seculares e censurava rigidamente a imprensa. A fim de assimilar os vários povos do império para dentro da cultura russa (russificação), ele incentivava as missões ortodoxas entre esses povos. Um dos principais alvos de Pobiedonostev foi a grande população de judeus no oeste da Rússia e Polônia. Declarou que um terço deles se converteria à ortodoxia, um terço emigraria e um terço seria exterminado. Muitos pogroms (palavra russa para a violência organizada contra os judeus) ocorreram durante esses anos, levando a uma migração em massa de judeus russos para a Europa ocidental e América. Seu anti-semitismo era um assustador prenúncio do que aconteceria na Alemanha nazista. Em resumo, ele colocou a ortodoxia firmemente do lado da reação e contribuiu para desacreditá-la aos olhos do povo mais questionador.2 A Igreja Ortodoxa não tinha mais consideração pelos grupos evangélicos do que pelos Molocanos e Doucobores (O fato é que estes últimos emigraram em massa para o Canadá em 1898 para escapar da perseguição). Os primeiros protestantes na Rússia eram imigrantes, mas a fé evangélica acabou criando raízes entre os

russos nativos. Catarina a Grande havia convidado colonos menonitas e huteritas da Alemanha para assentarem-se na Ucrânia, enquanto outros alemães de origem pietista foram para o sul da Rússia no começo do século 19. Alguns deles dedicaram-se à evangelização, mas sob o governo de Nicolau I tais atividades foram dificultadas. Até mesmo a Sociedade Bíblica Russa foi fechada, mas a distribuição clandestina das Escrituras continuou. Na década de 1840, batistas da Alemanha começaram a trabalhar na área do Báltico e, depois da morte de Nicolau, espalharam-se pela Rússia. O grupo dos Estudistas — cujo nome veio de sua prática de estudar a Bíblia em determinados horários — estava intimamente relacionado aos batistas. O movimento surgiu na década de 1860. A princípio, operavam dentro da Igreja Ortodoxa, mas acabaram sendo forçados a sair. F. W. Baedeker (1823-1906), um evangelista alemão de uma alta posição social e laços estreitos com círculos dos Irmãos na Inglaterra, começou a trabalhar na Rússia em 1875 e teve um certo sucesso em alcançar pessoas da classe alta. Um desses convertidos, um coronel do exército, organizou a primeira reunião da União Batista Russa em sua casa em 1884. Por causa de suas ligações, Baedeker podia fazer viagens missionárias freqüentes e até mesmo visitar presídios onde distribuía bíblias. Mais tarde, batistas e estudistas se juntaram,

formando o núcleo dos “Cristãos Batistas Evangélicos” na Rússia.

Avanços evangélicos Enquanto as igrejas oficiais da Europa protestante estavam perdendo impulso no final do século 19, as denominações americanas — que eram unidades bem organizadas e socialmente homogêneas — alcançaram uma porção muito maior da população. Na América, não só o denominacionalismo se desenvolveu, mas também a inovação religiosa. O Adventismo, com sua ênfase na vinda apocalíptica do reino de Deus, desenvolveu-se na década de 1840 e foi institucionalizado formando a Igreja Adventista do Sétimo Dia, que cresceu e transformou-se numa denominação mundial através de sua ênfase na dedicação leiga à área da saúde. Um adventismo bem mais radical era pregado pelas Testemunhas de Jeová, movimento fundado por Charles T. Russel na década de 1870. Mas aquela que viria a ser a maior de todas as novas fés era a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos dias (os mórmons). Ela surgiu na década de 1830 e depois do assassinato de seu fundador, Joseph Smith em 1844, dividiu-se em duas igrejas separadas. A ala maior com sede em Utah tornou-se uma denominação internacional, graças à integridade de sua iniciativa missionária. Um outro grupo, pequeno mas de alto nível, constituiu a Ciência Cristã, fundada na

década de 1870. O historiador Sydney E. Ahlstrom comenta apropriadamente que esses quatro grupos, mais o Pentecostalismo, são os cinco movimentos que podem ser chamados de “norteamericanos”.3 Porém, mais importante do que qualquer uma dessas inovações, foi a formação americana do protestantismo evangélico. Isso o preparou para sobreviver aos ataques ideológicos e a funcionar como uma verdadeira fé global no final do século 20. Um produto do meio americano foi a evangelização em massa. Essa abordagem popularizou-se nas primeiras décadas do século com o trabalho de Charles Finney e tornou-se um dos pilares do Protestantismo nos Estados Unidos depois da Guerra Civil. Suas figura de destaque foi Dwight. L. Moody (1837-99). Convertido quando adolescente em seu estado de origem, o Massachusetts, ele foi para Chicago em 1856 a fim de trabalhar como vendedor de sapatos. Ao mesmo tempo, tornou-se profundamente envolvido com as atividades da ACM, pregou, começou escolas dominicais e distribuiu literatura cristã. Depois de cinco anos, havia se tornado um homem de negócios bemsucedido, mas deixou a carreira para dedicar-se ao ministério em tempo integral. Apesar de ser apenas um leigo sem treinamento teológico, sua fama de pregador cresceu rapidamente. Então,

encontrou o dirigente da área de música Ira Sankey (1840-1908) e entre 1873 e 1875 foram juntos para uma longa missão de pregação na Grã-Bretanha. O sucesso das reuniões foi tanto que Moody recebeu convites de todos os Estados Unidos. Durante os anos seguintes, ele e Ira realizaram cultos evangelísticos em quase todas as grandes cidades do país e voltaram mais duas vezes à Grã-Bretanha. A organização foi um elemento crítico para o sucesso de Moody. Ele se recusava a visitar uma cidade até que todos os pastores das igrejas evangélicas o convidassem. Criava-se então um comitê local para cuidar da preparação como a reserva de um espaço para o evento, a divulgação e a arrecadação de fundos. Organizava-se um coral de voluntários e este ensaiava músicas do hinário de Sankey. Escolhiam-se pessoas para fazer a recepção do povo e pastores e leigos para conversar com aqueles que fossem à frente durante o apelo a fim de receber a Cristo. Durante a campanha, Moody também realizava cursos práticos para obreiros cristãos, sendo que estes teriam um papel importante no “acompanhamento” dos recém-convertidos. Seus modos como pregador eram um modelo de decoro. Vestia-se como um homem de negócios comum, as reuniões eram cuidadosamente planejadas e seguiam uma agenda e ele falava de modo calmo e claro. Suas mensagens eram simples e diretas e ele

concentrava-se em Deus, no pecado e na necessidade de um Salvador. Moody não falava sobre teologia, não tratava de questões doutrinárias e nem promovia a ação social, mas simplesmente chamava homens e mulheres para Cristo. Ele se via, antes de mais nada, como alguém que ganhava almas e seus sermões poderosos eram preparados para atingir esse objetivo. Quanto aos convertidos, seu conselho era que se tornassem membros de uma igreja local imediatamente e começassem a trabalhar para Deus. A agenda de Moody era tão exaustiva, cheia de viagens, reuniões de oração, palestras, cursos com obreiros e entrevistas que, quando ele estava com 62 anos de idade, seu coração não resistiu. Mas seu legado continuou em sua escola de treinamento para leigos em Chicago (o atual Moody Bible Institute), escolas secundárias no Massachusetts e pessoas tocadas por seu ministério como John R. Mott. Todos os outros grandes pregadores entre 1870 e 1920 (os “anos dourados” do evangelismo itinerante das massas) — Samuel O. “Sam” Jones, J. Wilbur Chapman, R. A. Torrey, Rodney “Cigano” Smith, William A. “Billy” Sunday e inúmeras outras figuras menos conhecidas dos Estados Unidos, Grã-Bretanha e Alemanha — seguiram a trilha metodológica desbravada por Finney e transformada em uma auto-estrada espiritual por Moody.

Uma outra contribuição americana foi a ênfase na “santidade”. Teve suas origens nos ensinamentos de John Wesley sobre o perfeccionismo e em textos sobre santificação de autores anteriores à Guerra Civil como Charles Finney, Asa Mahan e Phoebe Palmer. A santidade surgiu com força total nos “acampamentos” que começaram no final da década de 1860 e vários grupos e publicações a promoveram nos meios metodistas. Porém, seus defensores dentro da linha geral das igrejas metodistas (tanto do norte como do sul) sentiram-se cada vez mais alienados pela indiferença às suas preocupações e, finalmente, se separaram e formaram suas próprias denominações de santidade. Dentre estas, as maiores foram a Igreja de Deus, fundada por Daniel S. Warner em 1881 e a Igreja do Nazareno, iniciada por Phineas F. Breeze em 1895. A marca registrada do ensinamento americano de santidade era a “santificação completa”, um estágio do desenvolvimento espiritual que ia além da conversão. Essa “segunda bênção” do Espírito Santo conferia à pessoa a capacidade de resistir às tentações de cometer pecado e de viver uma existência totalmente dedicada a Deus. A idéia da santidade foi levada para a Grã-Bretanha por William E. Boardman (1810-86), autor do livro The Higher Christian Life [A Vida Cristã Mais Elevada], R. Pearsall Smith

(1827-99) e sua esposa Hannah Whithall Smith (1832-1911). Ela escreveu o conhecido livro The Christian’s Secret of a Happy Life [O Segredo do Cristão para uma Vida Feliz]. O casal propagou as doutrinas da santidade na Inglaterra enquanto ele lá esteve a negócios e durante a campanha de Moody, em 1873, juntaram-se com Boardman a fim de transmitir a mensagem aos ministros britânicos. Seguiu-se então uma série de conferências em Oxford em 1874 só sobre a santidade e um convite de um ministro anglicano em 1875 para realizar reuniões ao ar livre em sua cidade de Lake Country, Keswik. Estas tornaram-se um evento anual e outras convenções começaram a acontecer ao redor do mundo. O nome “Keswik” ficou ligado ao ensinamento, mas na Europa ele também é conhecido como “Movimento de Oxford”. Na busca pela santidade pessoal os defensores de Keswik rejeitavam o aspecto perfeccionista da santificação e, ao invés disso, enfatizavam o que chamavam de “plenitude do Espírito”. Era preciso buscar essa experiência, que consistia em um ato de fé em Cristo diferente da regeneração necessária para se conseguir a vitória sobre o pecado. O poder recebido do Espírito Santo também capacitava a pessoa para ser um servo eficiente de Cristo. Alguns termos associados a Keswik eram “viver elevado”, “vida de vitória”, “habitar em Cristo”, “descansar no Senhor”, “entrega total”, “consagração” e “vida cheia do Espírito”.

Keswik teve um profundo impacto no evangelicalismo moderno. Moody trouxe as idéias de volta para as conferências de verão que realizou em sua terra natal no Massachusetts e elas espalharam-se rapidamente pelas escolas bíblicas evangélicas e sociedades missionárias. Os termos de Keswik acabaram sendo usados até em corinhos evangélicos populares. Os principais evangelistas de massas seguiram o exemplo de Moody e falaram sobre a plenitude do Espírito Santo, enquanto professores da Bíblia como F. B. Meyer, Andrew Murray, W. H. Griffith-Thomas e W. Graham Scroggie tornaram-se nomes conhecidos tanto para evangélicos britânicos como americanos. Keswik teve um impacto crítico no espetacular reavivamento de Gales em 1905 e sua influência também ficou evidente no Movimento de Comunhão, um reavivamento de santificação que varreu a Alemanha entre 1880 e 1910. Os pregadores desse reavivamento eram relativamente desconhecidos fora da Alemanha, mas a Associação Gnadau, que se formou em torno de uma conferência bíblica dentro do estilo de Keswik, preserva até hoje a forma organizacional do Movimento de Comunhão. Um fruto da ênfase na santidade foi o Pentecostalismo. Este ia além da segundo benção, enfatizando o “batismo no Espírito Santo” que era acompanhado dos “dons do Espírito” ou “charismata”. Esse não era um acontecimento isolado, mas sim

algo que deveria continuar a manifestar-se na vida do crente e na Igreja daquele dia em diante. Entre os dons, estavam a glossolália (falar em línguas), interpretação das línguas, profecia, curas divinas e uma experiência semelhante a um transe de ser “morto no Espírito”. Os primórdios do movimento encontram-se em 1901 quando uma mulher falou em línguas numa escola bíblica dirigida por um pregador metodista, Charles F. Parham (1873-1929), em Topeka, Kansas. Mais tarde, ele formulou a doutrina das “línguas” como primeiro sinal necessário de que alguém experimentou a bênção pentecostal. Então, William J. Seymour (1870-1922), um afroamericano que pregava a santidade, adotou o ensinamento pentecostal depois de ter contato com Parham. Em 1906, tornou-se líder de uma missão de santidade na rua Azuza, em Los Angeles e um dia começou a falar em línguas. Grandes multidões reuniramse no velho prédio para compartilhar essa experiência e essas reuniões, que foram realizadas durante três anos, deram início, de fato, ao pentecostalismo americano. A partir dessas modestas origens surgiu um movimento mundial completo, com divisões denominacionais e debates teológicos sobre questões delicadas da doutrina. Um Pentecostalismo europeu desenvolveu-se independentemente através de Thomas B. Barrat (1862-1940), um

metodista da Noruega que recebeu o batismo do Espírito Santo em 1906. Espalhou-se rapidamente para a Alemanha, mas o Movimento de Comunhão dividiu-se por causa dessa questão. Em Berlim, uma declaração de líderes da santidade em 1909 condenou o “movimento de línguas” e os pentecostais alemães seguiram um outro caminho. O considerável intercâmbio que ocorreu entre pentecostais americanos e europeus ajudou a incentivar o crescimento do movimento. Uma quarta contribuição americana ao evangelicalismo foi a campanha contra as bebidas alcoólicas. O movimento de temperança antes da Guerra Civil foi a iniciativa de reforma com maior repercussão na época e foi trazido de volta depois da Guerra Civil através dos esforços de evangelistas como Frances Willard (1839-98) e sua União Feminina Cristã da Temperança e organizações políticas poderosas como a Liga Anti-Bares. É certo que os grupos de temperança existiam na Grã-Bretanha e Europa, mas eram pequenos e procuravam principalmente refrear a embriaguez. Os americanos, porém, foram mais longe, proibindo o uso de álcool em seus próprios meios e pressionando o governo a impedir completamente a produção e distribuição de todas as bebidas alcoólicas. Em 1914 as leis para isso já estavam vigorando na maior parte dos estados e em 1920 foi estabelecida uma Proibição Nacional. A grande maioria dos evangélicos apoiou essa

medida, mas cristãos de igrejas imigrantes, especialmente luteranos e católicos demonstraram muito menos entusiasmo. Alguns até opunham-se fortemente à medida. Uma crescente divergência pública sobre a Proibição Nacional finalmente resultou em sua suspensão em 1933, mas a maioria dos americanos evangélicos ainda pratica a abstinência total. Um dos pregadores evangélicos mais influentes da época foi Charles Haddon Spurgeon (1834-92). Convertido numa capela metodista, tornou-se batista e começou a pregar aos 17 anos de idade. Três anos depois foi chamado para uma congregação em Londres, onde trabalharia até o fim da vida, trinta e oito anos mais tarde. A igreja cresceu tão rapidamente durante seus primeiros cinco anos que ele teve que construir um novo templo em 1859 chamado Tabernáculo Metropolitano, a fim de abrigar uma congregação que, naquela época, contava com seis mil membros. Também fundou uma faculdade para treinar pastores, um orfanato e várias outras agências de assistência social. Um calvinista evangélico, ele era muito conhecido por seus sermões que foram muldialmente distribuídos e ainda são lidos nos dias de hoje. A principal iniciativa ecumênica foi a Aliança Evangélica. Depois de uma considerável discussão entre líderes protestantes de ambos os lados do Atlântico, foi convocada uma reunião em Londres, em 1846, a fim de criar uma frente unida para defender o

Cristianismo bíblico. A intenção era formar um grupo que promovesse a comunicação e comunhão entre evangélicos de todo o mundo e auxiliasse na propagação do evangelho, mas a delegação americana decidiu não se envolver quando alguns levantaram a questão da escravidão. Os participantes da conferência finalmente decidiram que ao invés de ter uma organização abrangente, cada país iria formar sua própria Aliança nacional. Ainda assim, sendo mais forte, a organização britânica manteve abertos os contatos com os outros e foram realizadas algumas convenções nas principais cidades para reunir o povo. As várias Alianças concentravam-se na defesa da liberdade religiosa dos protestantes evangélicos tanto em países católicos como nãocatólicos, apoiando as iniciativas evangelísticas (como por exemplo, Moody e Sankey na Grã-Bretanha, uma escola bíblica em Berlim e as viagens de Baedeker à Rússia), incentivando o trabalho missionário e patrocinando a Semana Mundial da Oração. Os grupos da Grã-Bretanha e Alemanha foram os que tiveram maior sucesso em cumprir os objetivos da organização. Nos dias de hoje a Aliança Alemã trabalha como uma organização cooperativa para as igrejas livres, enquanto a Aliança Britânica dedica-se a várias obras evangelísticas, missionárias e de assistência. A criação da União Evangélica Mundial em 1951 ajudou a dar novas forças para esse conceito. Enquanto isso, os

Estados Unidos formaram uma Aliança em 1867 e entre seus líderes estava o historiador da Igreja Philip Schaff e a personalidade do Evangelho Social, Josiah Strong. Seu sucesso na promoção da cooperação ecumênica não foi muito espetacular e em 1900 já estava em profundo declínio. Foi suplantada pelo Concílio Federal de Igreja de Cristo, formado em 1908. A influência dos protestantes evangélicos era excepcional. Abastados homens de negócio sustentavam evangelistas e políticos muitas vezes testemunhavam sua fé. O primeiro ministro britânico William E. Gladstone era considerado um cristão admirável, enquanto um dos presidentes americanos, James A. Garfield, tinha sido pregador leigo em sua juventude e confessava abertamente ser “nascido de novo”. Outro presidente, William A. McKinley, era um dedicado leigo metodista e Woodrow Wilson, um presbiteriano participativo, freqüentemente manifestava seus valores cristãos em suas ações presidenciais. William Jennings Bryan, três vezes candidato à presidência e secretário de Estado de Wilson, era um evangélico muito respeitado. Na Holanda, Abraham Kuyper (1837-1920), um ministro Reformado e teólogo lutou contra o Liberalismo de sua época ao desenvolver a “visão de mundo e de vida” neo-calvinista. Esta consistia em formar instituições políticas, econômicas e sociais separadas para que, através delas, a Igreja Reformada pudesse ir ao de encontro de

todos os aspectos da sociedade e cultura com uma perspectiva distintivamente cristã. No âmbito político ele tornou-se líder do Partido Anti-Revolucionário e foi primeiro ministro de seu país de 1901 a 1905.

Novas idéias desafiam a Igreja As ideologias seculares do Liberalismo, Nacionalismo e Socialismo não podiam ser vistas nem como complementos e nem como alternativas do Cristianismo, mas, com o passar do século, surgiram outras ideologias que podiam ser consideradas um desafio frontal à fé. Entre elas estava a evolução darwiniana, o niilismo de Nietzche, o relativismo cultural e a alta crítica. Os problemas que as igrejas tinham diante de si por causas desses elementos eram enormes pois ondas de dúvida e descontentamento varriam a sociedade. A essência do Cristianismo como um todo estava sendo questionada. A publicação em 1859 da obra On the Origin of Species by Means of Natural Selection [Sobre a Origem das Espécies através da Seleção Natural] de Charles Darwin (1809-82), a princípio não chamou muito a atenção, mas logo ondas de choque reverberaram por toda a comunidade cristã. Sua teoria da evolução orgânica causou consternação semelhante àquela provocada pelo aristotelianismo no século 13 e a teoria de Copérnico no século 16.

Na realidade, a idéia de que os seres vivos mudavam e se desenvolviam não era nova. Darwin havia chegado a essa conclusão quinze anos antes, depois de ter estudado as obras de outros cientistas naturais como Jean Lamarck e Charles Lyell e ter realizado uma expedição de pesquisa no sul do Pacífico. Ele chegou até a apressar a publicação de seu livro para que fosse lançado antes da obra de um rival que estava prestes a dizer a mesma coisa. Além disso, as filosofias evolucionárias — a crença de que para se entender alguma coisa é preciso estudar seu desenvolvimento — já eram bastante comuns. Tanto Hegel quanto Marx usaram essa abordagem, como também fizeram historiadores românticos dos Estados nacionais. A idéia de progresso do Iluminismo também era um conceito evolucionário. A contribuição singular de Darwin foi de que ele deu à evolução o selo de Ciência. Darwin argumentava que todas as espécies produzem mais crias do que o ambiente pode sustentar e que elas competem umas com as outras por comida, abrigo e a chance de reprodução. Na “luta pela existência” alguns indivíduos possuem variações inexplicadas, como músculos mais fortes ou garras mais afiadas, que os tornam capazes de vencer, reproduzir-se e passar adiante essas qualidades superiores para suas crias. Com o tempo esse processo de “sobrevivência do mais adequado” leva à mudanças

nas espécies. Assim, todas as espécies de organismos vivos desenvolveram-se através de pequenas mudanças sucessivas daqueles que os antecederam. A decisão quanto a qual filhote vai ter as variações é tomada pela natureza, ou “seleção natural” — isto é, uma espécie de sorteio. Numa obra posterior, ele aplicou a teoria ao desenvolvimento humano e disse que os homens eram descendentes dos animais. Muitos líderes eclesiásticos ficaram assustados com as idéias de Darwin, tendo em vista que essas negavam a criação especial da humanidade e o papel da Providência divina no funcionamento da natureza. Dentre outros, que adaptaram sua visão do mundo natural de modo a incluir as hipóteses darwinianas, havia evangélicos proeminentes como Asa Gray, James Frederick Wright e James Orr. O que eles rejeitavam eram as explicações do processo evolutivo que eliminavam o papel de Deus em orientá-lo. Apesar da “guerra” entre Ciência e Religião não ter sido tão séria como declaravam alguns escritores populares da época, a hostilidade cresceu rapidamente depois da virada do século. Os conservadores viam a evolução como uma contradição das Escrituras e os ativistas sociais temiam seu potencial desumanizador. Tendo em vista que Darwin não podia demonstrar de modo conclusivo que uma espécie verdadeira tivesse evoluído de outra, o debate entre cientistas sobre a veracidade da hipótese

continuou durante décadas. O que facilitou o triunfo da abordagem evolucionária foi o fato de ela ser atraente para as ricas classes empreendedoras e de ter sido aceita em dois importantes campos de pesquisa — a antropologia e o criticismo bíblico. Os abastados descobriram que ela justificava seu estilo de vida e tornaram-se “Darwinistas Sociais”. A figura mais conhecida dessa idéia, isto é, da aplicação da evolução orgânica à sociedade, foi Herbert Spencer (18201903). Ele argumentava que a existência humana evoluia do simples para o complexo e qualquer tentativa de se interferir nesse processo só atrasava o progresso. A evolução como lei universal atuava até mesmo em esferas como a Sociologia, Economia e Política. A competição entre pessoas, negócios e nações resultava na sobrevivência do mais adequado e os governos não deviam interferir para ajudar os fracos ou pobres. Alguns cristãos, como por exemplo William Jennings Bryan (1860-1925) reconheceram que o darwinismo social reduzia os seres humanos a um nível puramente material. Eles não tinham mais valor como criaturas de Deus, mas só como objetos de uso da sociedade, que podiam ser descartados quando não fossem mais necessários. Esse era o sentimento por trás da incessante oposição de Brian ao ensino da evolução, resistência pela qual ele foi tão condenado pelos liberais na década de 1920.

Porém, a maioria dos darwinistas sociais via as coisas de outro modo. Concordavam com a idéia de que a sociedade não era marcada pela cooperação e compaixão, mas pela perversa competição. O empresário de sucesso era o mais “adequado” independente de como havia conseguido esse sucesso. E tendo em vista que a sobrevivência era a única coisa que importava, não havia mais padrões superiores para julgar as ações de um indivíduo. As classes mais altas mereciam ser ricas pois eram “mais adequadas” do que os preguiçosos e inertes pobres. Da mesma forma, a “natureza” mandava que as grandes empresas absorvessem as pequenas e certas raças “superiores” ou “dominantes” deviam governar sobre as “inferiores” — brancos sobre negros, alemães sobre eslavos, não-judeus sobre judeus. Ao fazer uso da teoria biológica da evolução era possível justificar a regra do mais forte dominando o mais fraco em todos os aspectos da vida. Não é de se admirar que o maior darwinista social de todos acabou mostrando-se uma das figuras mais diabólicas da História — Adolf Hitler. Ele fez a competição entre nações e raças a pedra fundamental de seu programa político. Como muitos de sua geração, Friedrich Nietzche (18441900) levou o darwinismo social ao seu final lógico. Ele afirmou que devia-se permitir que a seleção natural ocorresse livremente na sociedade. A constante eliminação dos inadequados iria, um

dia, produzir um raça de “super-homens”. Esses seres nobres com força de caráter iriam governar as massas e aqueles que perecessem durante as lutas eram os moralmente fracos. Declarando que Deus estava morto, Nietzche insistiu que a humanidade precisava passar por esse processo sozinha e criar suas próprias regras de sobrevivência. Porém, os fracos tentavam atrasar os fortes ao inventar religiões como o Cristianismo, que glorificava as “virtudes do escravo” como a humildade, paciência, esperança, amor, aceitação, preocupação com os fracos e abnegação. Nitzche declarou que a mediocridade devia abrir caminho para o talento e a piedade para a competição. Assim, ele não apenas foi um dos culpados pelo individualismo extremo do mundo moderno, como também seus ensinamentos niilistas contribuíram para o sentimento tão prevalecente no século 20 de que a vida é vazia e sem sentido. A Antropologia colaborou muito para ampliar a aceitação do darwinismo. Alguns antropólogos concentraram-se na evolução das raças e determinaram que os brancos eram os que mais haviam se desenvolvido e que nesse grupo os nórdicos, teutônicos e anglosaxões eram os mais competentes. Outros insistiam que nenhuma cultura ou sociedade era “melhor” que qualquer outra e de que todos os padrões eram meramente uma questão de costume e não de moral. Não havia um padrão objetivo para julgar as instituições

sociais; tudo era uma questão de costume social e de ponto de vista. Esse relativismo foi logo infundido em todos os âmbitos das Ciências Sociais, especialmente na Psicologia. Quanto à Religião, em sua obra The Golden Bough [O Ramo Dourado] James Frazer concluiu que os ritos, práticas e idéias do Cristianismo não eram exclusividade sua mas podiam ser encontrados também nas sociedades primitivas. Além do mais, ele via pouca diferença entre a magia e a religião. Uma outra área em que as idéias evolucionárias tiveram impacto foi sobre o criticismo bíblico. O criticismo “inferior” ou textual estava relacionado a determinar-se qual era o texto mais preciso do documento e ao longo dos séculos os estudiosos encontraram muitos manuscritos antigos que tornaram possível a produção de um texto mais preciso para o Novo Testamento. A alta crítica ou crítica literária envolvia questões de forma literária, autoria, data e propósito do texto e dava ao leitor o direito de interpretar qual era o sentido correto. A partir de década de 1830, estudiosos da Alemanha (ver capítulo 18) haviam voltado-se para o criticismo literário do Novo Testamento, rejeitando qualquer elemento sobrenatural encontrado no texto. Escritores posteriores, como J. R. Seeley, Adolf Harnack e Albert Schweitzer deram continuidade a essa tendência em seus estudos sobre “a vida de Jesus”.

A mesma metodologia foi aplicada ao Antigo Testamento por Julius Wellhausen (1844-1918) que defendia que o Hexatêuco (os seis primeiros livros da Bíblia) havia evoluído a partir de uma série de seitas israelitas que acabaram finalmente centralizando-se num único templo. Seguindo as linhas da nova antropologia, ele afirmou que a evolução das crenças religiosas havia progredido do simples tribalismo do período nômade para os grandes escritos dos profetas da era do reinado e a legislação deuteronômica do século 7º antes de Cristo e culminado com a religião sacerdotal da comunidade pós-exílio. Esses livros não eram oráculos fruto de revelação divina e escritos por Moisés e Josué, como a Igreja sempre havia acreditado, mas sim uma compilação de “documentos” de diferentes períodos da história israelita. Enquanto isso, outros críticos “descobriram” que Isaías havia sido escrito em dois períodos de tempo diferentes e que o livro de Daniel era do século 2º antes de Cristo.4 A questão da alta crítica causou profunda angústia dentro das igrejas protestantes, especialmente na América. Os conservadores chamavam a abordagem evolucionária da história de Israel e da Igreja primitiva, bem como a rejeição do caráter sobrenatural da Bíblia de criticismo “destrutivo”. Ele enfraquecia a veracidade e autoridade da Bíblia. A alta crítica também era uma preocupação nos meios católicos e ambos os ramos do Cristianismo viam-se

então diante do problema do “modernismo”.

Reações católicas e protestantes ao modernismo Um papado conservador não estava disposto a adaptar-se a novas idéias, como ficou claro nas já mencionadas medidas de Pio IX e Leão XIII e o mesmo aconteceu em relação à forma como Leão tratou da “Controvérsia Americanista”. Isaac Hecker (181988), um convertido ao Catolicismo e fundador dos Padres Paulinos, havia promovido uma fé democrática. Quando sua biografia foi publicada na Europa, muitos católicos expressaram a preocupação de que a Igreja estava transigindo suas crenças, adaptando-se ao meio americano. Ao mesmo tempo, James Cardinal Gibbons, arcebispo de Baltimore (1834-1921) trabalhou com diligência a fim de trazer a Igreja para a realidade da vida americana e promoveu a idéia de que a Igreja podia crescer numa sociedade sem o apoio do Estado. Em 1895 e 1899 Leão XIII dirigiu encíclicas às igrejas americanas criticando-a por “sua indulgência às teorias modernas populares”, mas Gibbons lhe assegurou de que as heresias não eram toleradas lá. A reação ao “modernismo” foi ainda mais forte. Na França o historiador Louis Duchesne (1843-1922) expôs fraquezas na doutrina e tradição da Igreja em seus muitos livros sobre o Cristianismo primitivo. O estudioso da Bíblia Alfred Loisy (1857-

1940) afirmou uma teoria extrema sobre a composição dos evangelho e declarou que os ensinamentos do Cristianismo não eram os de Cristo, mas sim da Igreja primitiva. Na Inglaterra o jesuíta George Tyrrell (1861-1909) criticou o Escolasticismo e a ortodoxia católica. Primeiro, o papa Leão respondeu à alta crítica em 1893 afirmando a inspiração plenária e a inerrância da Bíblia. Então, Pio X pôs fim a toda a questão através de seu decreto Lamentabili em 1907 que condenava sessenta e cinco erros da “heresia modernista”. Prosseguiu com uma encíclica que exigia que todos os bispos, sacerdotes e professores fizessem um juramento antimodernista. Duchesne retratou-se, Loisy e Tyrrell foram excomungados mas não houve nenhuma divisão na Igreja. O problema do Liberalismo teológico (modernismo) foi bem pior para as igrejas protestantes. Havia se originado nessa comunidade e não havia estruturas de autoridade que pudessem tratar da questão de maneira eficaz como aconteceu na Igreja Católica. Em 1900 as doutrinas estavam bem definidas, apesar de serem poucos os liberais que aceitavam todos estes pontos: 1.

As idéias religiosas devem adaptar-se à cultura e aos

modos de pensar modernos. 2.

Todas as crenças religiosas baseadas apenas na

autoridade devem ser rejeitadas. A razão e a experiência são testes igualmente válidos de crença e a “essência do Cristianismo”

substitui a autoridade das Escrituras, dos credos e da Igreja. 3.

Deus está presente e habitando no mundo e em suas

estruturas (imanência divina), e não acima de tudo como um ser transcendente. 4.

Um sentimento religioso universal está por trás das

instituições e credos de determinadas religiões, de modo que, no final das contas, não há nenhuma diferença entre elas. 5.

O pecado é o mal da imperfeição, ignorância,

desajuste e imaturidade, não uma falha fundamental no universo. 6.

Jesus significou a presença de Deus no mundo

através de seus feitos heróicos e sua morte, mas ele não realizou milagres e nem ressuscitou, exceto no sentido de que, assim como todos os mortais, seu espírito e personalidade continuam vivos. 7.

Deve-se olhar para a concretização do reino de Deus

que será um estado ético de perfeição humana.5 A teologia liberal foi um conjunto de crenças extraordinariamente confusas e contraditórias. Lançava mão de muitas fontes: a Ciência moderna; a alta crítica; o Evangelho Social; o unitarianismo americano; o conceito de consciência de Deus afirmado por Schleiermacher; a redefinição das doutrinas tradicionais em linguagem que, segundo Horace Bushnell, enfatizava a intuição, o potencial humano e o progresso social; a teologia experimental voltada para as ações conforme propôs

Albrecht Ritschl; e a teoria de Adolf Harnack de que deve-se separar o grão permanentemente válido do evangelho da palha que o envolve e que consiste na forma de vida e pensamento em constante mutação. O modernismo teve suas grandes vitórias nos centros de ensino superior e só mais tarde as idéias chegaram ao nível das igrejas locais. As universidades alemãs e britânicas adaptaram-se rapidamente e na América os primeiros centros de pensamento modernista foram o Union Theological Seminary em Nova York e a Universidade de Chicago, representados respectivamente pelas figuras importantes de A. C. McGiffert (1861-1933) e Shailer Mathews (1863-1941). Na Grã-Bretanha uma ampla parte da Igreja no anglicanismo foi particularmente atraída pelo Liberalismo. Os conservadores reagiram energicamente ao avanço do modernismo. Sua estratégia baseou-se em afirmar a integridade da Bíblia como sendo verbalmente inspirada e singularmente confiável e revestida de autoridade. O expoente dessa reação e grande defensor da inerrância bíblica foi Benjamin B. Warfield (1851-1921) do Seminário de Princeton. Na sua definição, isso significava que todas as declarações das Escrituras eram verdadeiras se interpretadas de acordo com o sentido pretendido por seus autores quando as escreveram.

Um outro elemento do contra-ataque conservador foi uma forte ênfase na Escatologia, especialmente na volta pré-milenar de Cristo. Apesar dos evangélicos não serem unânimes nessa questão, muitos tendiam para o dispensacionalismo que havia sido trazido para a América do Norte por J. N. Darby. Essas idéias popularizaram-se através de Niagara e outras conferência de profecias do final do século 19 e começo do século 20 e do bestseller escrito por William E. Blackstone (1841-1935), Jesus is Coming [Jesus Está Vindo] (1908). Elas pareciam oferecer uma alternativa viável no lugar da ênfase liberal sobre o avanço do reino de Deus e a percepção evangélica de que a cultura americana estava rapidamente fugindo ao controle protestante histórico. De longe, a declaração mais influente sobre o ensinamento da dispensação foi a Scofield Reference Bible [Bíblia de Referência Scofield], uma versão anotada das Escrituras publicada pela Oxford University Press em 1909. Um antigo advogado, C. I. Scofield (1843-1921) tornou-se um ministro congregacionalista depois de sua conversão e passou anos trabalhando em conferências bíblicas e estudando antes de levar adiante esse projeto. Um estágio importante da resistência evangélica organizada foi a publicação de uma série de doze livros entre 1910 e 1915 chamado The Fundamentals [Os Fundamentos]. Dois magnatas do

petróleo na Califórnia, Lyman e Milton Stewart, financiaram o projeto e ofereceram três milhões de cópias gratuitas para obreiros cristãos de todo o mundo. Os noventa artigos da coleção foram escritos por respeitados professores da Bíblia de ambos os lados do Atlântico. Eles demonstravam que as doutrinas evangélicas básicas como a inspiração bíblica, os milagres e a ressurreição eram compatíveis com a Ciência moderna e racionalidade e que o testemunho da experiência pessoal podia confirmar a crença cristã. Desde aproximadamente 1895 os evangélicos vinham tentando definir os elementos básicos (ou fundamentos) da fé que precisavam ser protegidos dos efeitos erosivos do pensamento moderno. Uma ilustração importante disso foi a atitude tomada pela Igreja Presbiteriana do Norte em 1910, declarando as cinco doutrinas bíblicas críticas que os candidatos ao ministério deveriam aceitar: a inspiração e inerrância das Escrituras, a concepção virginal, a expiação substitutiva, a ressurreição física de Cristo e sua realização de milagres durante seu ministério na terra. Outros acrescentavam a divindade de Cristo e a Segunda Vinda à sua lista de fundamentos. Na Grã-Bretanha os evangélicos expressaram uma preocupação semelhante em relação ao modernismo, mas suas reações não foram tão bem organizadas ou articuladas com tanto força quanto as de seus colegas na América do Norte. Além disso,

apesar dos conservadores enfatizarem essas crenças fundamentais durante a disputa com os modernistas pela alma do protestantismo anglo-americano, o termo “fundamentalismo” só foi criado em 1920 por um jornalista batista. A essa altura, porém, a contenda já havia assumido um caráter bem diferente. O Cristianismo encontrava-se em estado de desordem. Apesar de muitos protestantes continuarem a ver o mundo em termos otimistas, os evangélicos estavam cada vez mais conscientes de que nem tudo estava certo. O modernismo parecia estar avançando, especialmente em suas instituições de ensino superior e nos empreendimentos de assistência social. Muitos haviam desistido da “cristianização” do mundo e estavam à procura da Abençoada Esperança e da Segunda Vinda. Mas então, quando as chamas da guerra tomaram conta da Europa em 1914, todas as ilusões do otimismo liberal foram despedaçadas. O mundo jamais seria o mesmo.

Capítulo 22 - A Igreja no mundo dividido pelas guerras Enquanto o mundo entrava no século 20, os humanistas liberais, defensores do Cristianismo social e até mesmo muitos evangélicos estavam certos de que o reino de Deus, ou pelo menos um mundo melhor, se aproximava. Talvez nada tenha refletido melhor esse otimismo do que a extensa obra de três volumes do

missionário americano presbiteriano na Síria, James S. Deenis, Christian Mission and Social Progress [As Missões Cristãs e o Progresso Social] (1906). Mas outros questionavam se havia provas válidas de que tal progresso realmente existia e sugeriam que os males da industrialização e urbanização eram muito maiores que seu benefícios. Com certeza os novos sistemas de crença daquele tempo não eram otimistas e nem ofereciam elogios à natureza humana. Os marxistas viam os seres humanos em termos de relação de propriedades, os darwinistas sociais em termos de sobrevivência do mais adequado, os freudianos falavam de uma libido desconhecida e os positivistas, de um Racionalismo científico. Então, duas guerras mundiais, seguidas por quase meio século sob o temor de uma terceira, sepultaram de vez a esperança otimista de aperfeiçoamento humano. Essa situação iria moldar profundamente o Cristianismo do século 20.

A Primeira Guerra Mundial e as igrejas Apesar da Europa dar a aparência de estar rumando para a guerra, ainda assim, o movimento pela conciliação nacional tinha feito muitas conquistas. Havia sociedades pacíficas em vários países e diversos congressos internacionais procuravam dar uma rumo a essa causa. Eles acreditavam que a partir da comunidade internacional iriam surgir instituições que poderiam resolver

disputas entre nações. Nessa época foram formados o Tribunal Permanente de Justiça Internacional (o Tribunal Mundial) em Haia e o Fundo Carnegie para a Paz Internacional. A partir de sua perspectiva cristã, o Secretário de Estado americano, William Jennings Bryan, negociou tratados de conciliação ou “resfriamento” para impedir que certos países se lançassem à guerra e durante o período entre 1913-14 foram assinados trinta desses tratados. Em 1915 ele contou a um amigo que aquele havia sido um dos períodos de sua vida guiados por Deus. Além disso, em 1908 líderes das igrejas na Alemanha e GrãBretanha começaram a trocar visitas para incentivar um entendimento comum e estabeleceram contatos com colegas nos Estados Unidos que também compartilhavam dessas preocupações. Essas iniciativas impressionaram tanto o industrialista Andrew Carnegie que ele doou uma grande soma para criar a CPU - Church Peace Union [União da Paz Eclesiástica] (conhecida nos dias de hoje como Concílio Carnegie de Ética e Assuntos Internacionais). Seu objetivo era promover a cooperação ecumênica entre protestantes, católicos e judeus a fim de buscar os ideais da paz. Em agosto de 1914, representantes da CPU e os europeus formaram a World Alliance for Promoting International Friendship Through the Churches [Aliança Mundial para a Promoção da Amizade Internacional Através das Igrejas].

Apesar dos fundos para a Aliança Mundial virem da CPU, a guerra limitou seu trabalho à educação e a manter abertas as linhas de comunicação entre cristãos de ambos os lados. Em 1919 ela surgiu como uma força importante na promoção do entendimento internacional. Apesar das ações bem-intencionadas dos defensores da paz, as tensões continuaram a crescer. Só foi preciso uma faísca para acender o barril de pólvora da Europa: o assassinato do príncipe austro-húngaro em 28 de junho de 1914. Depois dos diplomatas lutarem em vão para evitar a eclosão de conflitos, os exércitos marcharam alegremente para a guerra. Eles imaginavam que estariam de volta ao lar para o Natal, tendo resolvido todos os problemas prementes pelos quais seus países estavam passando. O que se seguiu, na verdade, foi um impasse, e durante os três anos seguintes todos os esforços de romper as linhas inimigas falharam. Os chamados povos civilizados do Ocidente dedicaram-se a uma carnificina sem precedentes que custou mais de doze milhões de vidas e exterminou uma grande porção da população masculina entre 18 e 32 anos de idade. A liberação das emoções até então contidas da guerra destruiu o otimismo dos defensores da paz. 1896

1917

1923

1929

1937

1945

Theodor

Formação do

J. Gresham

Acordos

Pio XI

Bonhoeffer é

Herzl lança

Conselho

Machen,

Lateranenses

critica o

executado

o movimento

Nacional

Christianity

Nazismo e

sionista

Católico de

and

o

Guerra

Liberalism

Comunismo

1900

1950 1913

Woodrow Wilson se torna

1917

1925

Revolução Julgamento russa

Scopes

presidente

1929

1939

1941-42

1945

Começa a

Começa o

Começa a

A bomba

Grande

Holocausto

Solução

atômica

Depressão

na Polônia

Final

encerra a Segunda Guerra Mundial

1915

1919

1941

Massacres armênios

Tratado de

O ataque a Pearl Harbor coloca os Estados

Versalhes

Unidos na guerra

Tratava-se de uma “guerra total” no sentido de que foi travada em terra, no mar e no ar, contando com o complexo industrial para garantir um suprimento constante de armas. Governos dirigiram a economia de seus países, controlando rigidamente a produção industrial de alimentos e distribuição de matéria-prima e mão-de-obra. Através de um bloqueio naval e submarino, cada um dos lados tentou destruir a economia do outro. As atividades civis também sofreram restrições. Os direitos civis foram cortados para silenciar as críticas contra os esforços de guerra ou combater a subversão doméstica, mesmo que isso fosse ilusório. Eugene Debs, líder do Partido Socialista Americano, por exemplo, foi sentenciada a um longo período de prisão por afirmar que tratava-se de uma “guerra capitalista”. A censura foi usada

para evitar a propagação de notícias que pudessem ajudar o outro lado e também para erguer o moral. A propaganda de guerra retratava o inimigo da pior maneira possível e criava nas pessoas um senso de solidariedade e de convicção de que estavam engajados numa cruzada de retidão. Apesar do Comitê Permanente de Edinburgo e o movimento pela paz terem feito progresso no sentido da cooperação ecumênica, os sonhos de solidariedade cristã se dissipavam à medida em que os ventos da guerra sopravam sobre a Europa. A iniciativa missionária sofreu um golpe devastador tendo em vista que os fundos para obras em outros países haviam sido drasticamente reduzidos e as viagens missionárias dificultadas. Os Aliados também ignoravam a “supranacionalidade das missões”, um princípio amplamente discutido antes de 1914 quando conquistaram os territórios alemães na África e no Pacífico. Eles confiscaram propriedades das missões e detiveram ou repatriaram missionários de nacionalidade alemã que estivessem trabalhando nesses locais. Os Aliados continuaram esse processo em seus próprios territórios na Índia, África e Pacífico Sul. Essas ações levaram a Igreja a envolver-se nos conflitos desde o princípio. Líderes da comunidade teológica e missionária alemã, incluindo Adolf von Harnack, prepararam uma declaração com termos severos, condenando os Aliados de culpar a Alemanha

pela guerra e de tomar posse de propriedades das missões. Afirmaram as medidas tomadas por seu país como sendo de defesa própria. No mês seguinte, líderes e teólogos da Igreja britânica liderados pelo arcebispo de Canterbury responderam com uma defesa igualmente severa de seu país e acusações continuaram a ser trocadas. Pastores de ambos os lados pregavam sermões extremamente cáusticos proclamanado a retidão de sua causa e acusando o inimigo dos mais vis motivos e atos. Apesar de John R. Mott e J.H. Oldham tentarem desesperadamente manter algum tipo de solidariedade ecumênica, o movimento para a cooperação entre igrejas baseado no envolvimento comum em missões se fragmentou. Finalmente, em 1917 os alemães repudiaram Mott completamente. Porém, um aspecto mais positivo foi que, de ambos os lados, grupos cristãos como a ACM trabalharam incansavelmente para dar assistência às regiões afetadas pela guerra e ajudar prisioneiros de guerra e soldados feridos. Entre as atrocidades da guerra, houve uma que mexeu profundamente com o Ocidente — o massacre turco de cristãos armênios. Um massacre anterior em 1895-97 havia atraído a crítica internacional mas não havia sido tão extenso como o de 1915. O conflito existente entre dois nacionalismos, o turco e o armênio, agravou-se pelo fato da Rússia e da Turquia estarem em lados opostos na guerra e a população armênia encontrar-se dividida

igualmente entre os dois países. As forças turcas atacaram os armênios e aproximadamente um milhão deles morreu vítima de assassinato, linchamento e marchas mortais de deportação. É certo que os Aliados condenaram verbalmente o genocídio, mas não o impediram de acontecer. Essa questão é importante pois constituiu um extermínio sistemático de um povo cristão muito antigo e deu a Hitler um modelo para seguir no tratamento dos judeus europeus. Os Massacres Armênios foram preocursores do Holocausto. Ao manipular notícias e explorar os erros alemães, como o naufrágio do navio Lusitânia e a execução da enfermeira Edith Cavell, os propagandistas dos Aliados conquistaram a simpatia de pessoas influentes nos Estados Unidos, especialmente nos meios eclesiásticos. Ao retratar constantemente o conflito em termos moralistas e ideológicos, como sendo uma guerra santa contra a tirania, despotismo e militarismo, uma paz negociada e baseada no restabelecimento do equilíbrio do poder tornou-se totalmente fora de questão. Apesar do presidente Wilson declarar neutralidade, tendia cada vez mais para os Aliados e, finalmente, em abril de 1917, colocou o seu país na guerra. Com o envolvimento de Wilson — o idealista — e a deposição da autocracia russa no mês anterior, o argumento de que a guerra era uma luta entre a democracia e o autoritarismo ganhou novo fôlego. Os Poderes

Centrais precisavam ser derrotados para que uma nova ordem mundial fosse criada. A maioria dos cristãos americanos apoiou com entusiasmo a participação na guerra, apesar das igrejas historicamente favoráveis à paz (Menonitas, Quakers e Igreja dos Irmãos) continuarem firmes em seus princípios pacifistas. Muitos de seus membros foram designados para serviços fora de combate ou recusaram-se completamente a participar. Os menonitas que tomaram esta última posição foram severamente perseguidos pelas autoridades civis e militares. Alguns pregadores protestantes foram a extremos em sua retórica de guerra, como o evangelista Billy Sunday que declarou: “Se você virar o inferno de cabeça para baixo, vai ver a marca „Feito na Alemanha‟ escrito no fundo” ou o proeminente ministro liberal e educador presbiteriano Henry Van Dyke (1852-1933) que defendia que todos aqueles que erguiam a voz contra a participação americana na guerra “deveriam ser enforcados sem demora”. Esse tipo de entusiasmo ilimitado na defesa de seu lado podia ser encontrado igualmente nos sermões de ministros alemães e britânicos. Muito mais importante do que o nacionalismo proclamado dos púlpito americanos foi o impacto que a guerra teve sobre as denominações em si. O recentemente formado FCC - Federal Council of Churches [Concílio Federal de Igrejas], que em 1917

representava dois terços dos protestantes de todo o país, emergiu como uma das forças religiosas mais influentes da América. Isso deveu-se à Comissão Geral de Igrejas em Tempos de Guerra do FCC, que coordenava as iniciativas de assistência social e lidava com o governo. Ao concentrar-se nas questões práticas, as igrejas superaram as divisões e desbravaram novos horizontes na busca pela unidade. Quanto aos católicos, sua experiência com guerras permitiu que se tornassem parceiros integrais da comunidade religiosa americana. Antes dessa época, faltava à Igreja americana uma organização nacional e coesa. Até 1908 ela nem sequer era considerada uma unidade independente da Igreja romana. Antes disso, era uma missão sob a jurisdição primária da Congregação para a Propagação da Fé em Roma (ver capítulo 12). Só depois de 1908 é que tornou-se igual aos ramos europeus da fé católica. Através da liderança competente do cardeal Gibbons — que estabeleceu uma relação bastante próxima com o presidente Wilson — e do ministério em tempos de guerra do Concílio Nacional Católico de Guerra, a Igreja desenvolveu um trabalho nacional unido. Em 1919, essa agência adquiriu caráter permanente como Conferência Nacional Católica de Assuntos de Guerra servindo de centro de intercâmbio para os líderes católicos e cuidando dos interesses da Igreja na esfera política. Em 1966

duas outras organizações assumiram suas funções: a Conferência católica de Bispos para exercer o ministério pastoral conjunto e a Conferência Católica dos Estados Unidos para cuidar de questões políticas públicas. Com sua visão idealista de guerra como uma contenda do bem contra o mal e da democracia contra a tirania e o militarismo prussiano e com sua idéia de um mundo pós-guerra em que todas as nações viveriam em harmonia e resolveriam suas diferenças através de um órgão internacional — a Liga das Nações — o presidente Wilson foi, verdadeiramente, um revolucionário. Vladimir I. Lenin (1870-1924) e seu Partido Bolchevique ofereceram um segundo elemento revolucionário ao quadro geral quando depuseram o governo da República da Rússia em 1917 e estabeleceram uma ditadura. Sua revisão do sistema de crenças ultrapassado de Marx deu-lhe nova vitalidade e o Marxismoleninismo tornou-se um desafio ideológico gigantesco à democracia, conforme mostraremos mais adiante. Ciente de quão fraco era seu controle sobre o poder, Lenin concluiu imediatamente uma paz separada com a Alemanha. Para ele essa era a única forma de preservar a revolução na Rússia. Os alemães estavam prontos para desferir o último golpe na frente ocidental, mas os recursos industriais e humanos dos Estados Unidos impediram uma vitória. Os Aliados lançaram uma

ofensiva em todas as frentes, os Poderes Centrais entraram em colapso, seus países foram varridos por revoluções e a guerra terminou com o armistício de 11 de novembro de 1918.

O falho acordo de paz O clima predominante na conferência de paz que se seguiu em Paris era de nacionalismo do século 19. Os europeus planejavam punir a Alemanha e impedir que ela se levantasse contra eles novamente, enquanto muitos dos grupos de diferentes nacionalidades queriam dividir os antigos impérios em novas nações-Estado. Os defensores do poder político colocaram de lado os líderes das igrejas e os estadistas como Wilson que defendiam a nova diplomacia de se resolver disputas através de leis internacionais e de uma organização supranacional. O medo de que o Bolchevismo se espalharia em seus países firmou ainda mais a resolução dos líderes de não aceitar uma paz conciliatória. Com ondas conservadoras avançando sobre os países Aliados, os líderes em Paris estavam extremamente cônscios das tendências nacionalistas e anti-revolucionárias em suas nações. O Tratado de Versalhes, assinado com seu principal inimigo em 28 de junho de 1919, tinha um caráter de paz imposta pois não foi permitido aos alemães participar das sessões de negociação. A Alemanha foi forçada a ceder territórios ao seus vizinhos,

submeter-se a severas restrições de armamento e à ocupação da Renânia e ainda a fazer pagamentos de indenização. Para garantir o cumprimento desta última exigência a Alemanha teve que aceitar a responsabilidade de ter causado as perdas e danos sofridos pelos Aliados por causa da guerra “imposta sobre eles pela agressão dos alemães e seus aliados”. Essa foi a chamada “cláusula de culpa da guerra” de que os alemães se ressentiram tão amargamente. O acordo de paz também ergueu uma barragem na Europa oriental para conter o Bolchevismo ao permitir a criação de vários países novos nos territórios dos antigos impérios. Uma vez que a ameaça bolchevique foi se dissipando, esses Estados foram assolados pelos conflitos de classe e nacionalidade e a maioria adotou regimes autoritários. As possessões coloniais da Alemanha e grande parte das regiões não-turcas do Império Otomano foram tomadas e distribuídas entre as forças vitoriosas como “mandatos” sob a supervisão da Liga das Nações. Essa era a organização mundial que Wilson havia proposto para manter a paz e sua aliança foi incluída em todos os tratados com os Poderes Centrais. O presidente americano considerou esta a tarefa mais premente da conferência de Paris e fez concessões danosas a fim de garantir sua criação. Ele acreditava que a Liga daria ao acordo de paz um fundamento moral e os mecanismos necessários para corrigir erros nos tratados.1

Uma importante realização da comunidade cristã no acordo de paz foi a preservação das propriedades de missões. Os redatores do tratado haviam incluído seções autorizando os Aliados a confiscar em suas terras todos os bens que pertencessem a cidadãos alemães para quitar dívidas com indivíduos e com os vários governos. Isso teria significado a completa destruição das missões alemãs, mas J. H. Oldham e outros membros do grupo ecumênico persuadiram os redatores do tratado a incluir uma cláusula de exceção no documento. O artigo 438 determinava que as propriedades das missões seriam colocadas nas mãos de um “curador” da mesma denominação que a sociedade envolvida. Depois que as ânimos haviam se acalmado os curadores ocidentais discretamente devolveram as propriedades para seus proprietários alemães.

Os anos inquietos entre as guerras A grande “guerra civil do Ocidente” havia prejudicado fatalmente o posicionamento mundial da Europa. Os novos gigantes industriais, os Estados Unidos e o Japão haviam encontrado seu lugar ao sol imperial, o primeiro na América Latina e o último no leste da Ásia e ambos competiam pelo poder sobre o Pacífico. A Grã-Bretanha estava sob pressão cada vez maior para relaxar o seu controle sobre a Irlanda, Egito, Oriente

Médio e Índia. O fato é que o movimento da M. K. Gandhi na Índia, com sua ênfase sobre a resistência não-violenta, boicotes e desobediência civil, foi grandemente admirado pelos ativistas da paz no Ocidente. O Estatuto de Westminster (1931) concedia aos territórios de brancos da Grã-Bretanha (Canadá, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul e Irlanda) igualdade legal com a Inglaterra na Comunidade Britânica de Nações. Enquanto isso, a iniciativa francesa de promover a assimilação cultural no norte da África e Indochina estava afundando nas pedras do nacionalismo colonial. Ondas cada vez maiores de nacionalismo na China, Japão e Indonésia desafiavam as comunidades cristãs nesses lugares. As perdas sofridas pelos países do Ocidente foram enormes e na realidade quase uma geração toda de líderes pereceu nos campos de batalha. Suas economias estavam em ruínas e a perspectiva de indenização pela Alemanha era incerta. Porém, os tempos haviam mudado. Os regimes democráticos mais antigos alargaram as bases de participação política de modo a incluir as mulheres enquanto os mais novos formados desde a guerra tiveram que lidar com as questões de desemprego, inflação, reconstrução econômica e extremismos políticos de direita e esquerda. Organizações da ala esquerdista como o Partido Britânico do Trabalho e o Partido Social Democrata da Alemanha passaram a participar de coalizões do governo e na maioria dos

países um Socialismo democrático pragmático havia substituído a ênfase no laissez-faire de outros tempos. Até mesmo o “New Deal” de Franklin Roosevelt, cujo objetivo principal era salvar o sistema capitalista, envolvia uma medida considerável de intervenção do Estado na economia. O Socialismo se encaixava bem com os avanços pós-guerra do secularismo, mas como a maioria dos socialistas havia adquirido uma visão de mundo típica da classe média, os esquerdistas radicais voltaram-se para o Comunismo. Apesar das altas aspirações de seus fundadores, a longo prazo, a Liga das Nações não impediu agressões ou preservou a paz. Wilson não conseguiu obter a ratificação do Senado para o Tratado de Versalhes e os Estados Unidos acabaram não participando da Liga. Tendo em vista que a Alemanha e a União Soviética haviam sido excluídas desde sua fundação, os bolcheviques consideravam a Liga das Nações um mecanismo capitalista para cercar a Rússia e dar um golpe no Comunismo enquanto os alemães a viam como um instrumento para fazer cumprir o Tratado de Versalhes e evitar que seu país se reerguesse. Quando as duas potências ostracizadas acabaram juntando-se à Liga (A Alemanha em 1926 e a União Soviética em 1934), só o fizeram para fortalecer sua posição política e não porque acreditavam no novo sistema internacional. Considerando-se que a

maioria dos países realizou negociações de desarmamento fora da Liga e concluiu alianças diretamente entre si, a organização não conseguiu muita coisa a não ser promover a cooperação nos âmbitos técnico e econômico e garantir a liberdade religiosa e missionária nas terras que antes haviam pertencido à Alemanha e Turquia sob sua supervisão obrigatória. Apesar da prosperidade ter retornado à Europa até 1924, a recuperação foi superficial. A economia da Rússia soviética ainda estava arruinada e havia bolsões de pobreza por toda a parte. Então, quando o declínio começou em 1929, nada parecia ser capaz de conter a queda no abismo da Grande Depressão. Desesperadas por qualquer coisa que pudesse ajudar, as pessoas abandonaram o meio-termo democrático e voltaram para os extremos políticos.

Anti-semitismo e sionismo O crescimento do racismo europeu é um assunto complexo, mas fica claro que a criação de estereótipos como o “nobre ariano” e a sistematização dos tipos raciais à partir de características físicas eram voltadas para um grupo — os judeus. Muito disso tinha suas raízes nos conceitos românticos de Volk e de sangue e nas idéias do Socialismo darwiniano de evolução das raças. Havia também uma lenda medieval bastante popular nesse período sobre

um “judeu errante”, um homem chamado Assuero que apressou Jesus a caminho da crucificação, recusando-se a confortá-lo e darlhe abrigo e que por isso foi amaldiçoado, condenado a uma infindável existência errante. Essa lenda reforçava a idéia do judeu como o eterno estrangeiro, um nômade incapaz e sem raízes que dedicava-se ao comércio — diferente do bom fazendeiro ariano que tinha raízes. Um outro mito era o da sinistra conspiração mundial judia, um tema da ficção do século 19 que foi incorporado no maior livro anti-semítico de todos os tempos, The Protocols of the Learned Elders of Zion [Os Protocolos dos Sábios Anciãos de Sião]. Produzido na Rússia por volta de 1905, chegou traduzido no Ocidente em 1918 e é considerado desde então a “bíblia” dos anti-semitas. Em contraste com esse pensamento, havia a idéia iluminista de assimilação dos judeus. Esta afirmava que os judeus poderiam tornar-se parte da civilização em geral e que deveriam ter os mesmos direitos que todas as outras pessoas. A emancipação — concessão de direitos civis aos judeus — foi alcançada em muitos países durante o século 19. Mas em décadas posteriores, o sentimento anti-judeu mostrou sua cara assustadora outra vez, especialmente na Rússia mas também na Áustria-Hungria e na Alemanha. Theodor Herzl (1860-1904), um jornalista austríaco que acompanhou o julgamento de Dreyfuss e viu o anti-semitismo

agressivo naquele que era o mais liberal de todos os países — a França — concluiu que a assimilação não era a solução. Publicou um livro no qual argumentava que os judeus deveriam ter sua própria terra — um Estado judaico. Herzl foi o fundador do sionismo moderno, o movimento em favor de um país para os judeus. Para ele essa era uma resposta racional para o anti-semitismo e não alguma coisa baseada num profundo sentimento de identidade nacional dos judeus. Ele não foi capaz de negociar um acordo com o sultão para separar um território na Palestina otomana, mas um número cada vez maior se dirigia para lá de qualquer forma, um gesto que causou espanto nos árabes nativos da região. Com o crescimento do nacionalismo árabe por todo o Oriente Médio em 1914, já existia um potencial para conflitos. Porém, pelo fato da Turquia ter tomado partido dos Poderes Centrais, o sentimento de sionismo cresceu no Ocidente. Chaim Weizman (1874-1952), um fervoroso defensor do movimento na Grã-Bretanha e que tinha contatos em cargos elevados, persuadiu o Secretário de Assuntos Estrangeiros Arthur Balfour a apoiar o sionismo como uma medida de guerra. Na famosa Declaração de Balfour em 2 de novembro de 1917, ele afirmou que o governo britânico “vê favoravelmente a fundação na Palestina de um lar nacional para o povo judeu”. A intenção dessa declaração era firmar o apoio de judeus americanos

e russos para as iniciativas de guerra e buscar um possível endosso alemão para o sionismo e, de fato, no mês seguinte as tropas britânicas entraram em Jerusalém. No tratado de paz a GrãBretanha recebeu um mandato da Liga das Nações sobre aquela área, enquanto a França assumiu o mandato do Líbano e da Síria. Imigrantes judeus começaram a dirigir-se em massa para a Palestina mandatária, compraram terras, construíram cidades, fundaram escolas e hospitais e, em 1929, criaram um órgão de governo próprio, a Agência Judia da Palestina. Durante os anos que se seguiram, a violência entre grupos de guerrilha judeus e árabes intensificou-se e os britânicos ficaram presos entre os dois. Depois que Hitler subiu ao poder na Alemanha, a imigração cresceu ainda mais e com ela também o ressentimento árabe. O número de judeus na região havia subido de 58 mil em 1919 para 450 mil em 1939. Para a Grã-Bretanha o problema na Palestina parecia não ter solução.

A crise cultural e o pensamento cristão A revolução de idéias que havia se iniciado antes da Primeira Guerra Mundial espalhou-se para toda a população na década de 1920. A sociedade ocidental começou a questionar e até mesmo abandonar valores que antes eram considerados preciosos e crenças que os haviam orientado desde o Iluminismo. Muitos

autores rejeitaram a fé geral no progresso e racionalidade humana e sugeriram que a experiência direta e a intuição eram tão importantes quando o pensamento científico. Vários profetas do apocalipse falaram do declínio da civilização ocidental e usaram a guerra mais destrutiva da História como prova de que os seres humanos eram um bando de animais violentos e irracionais. Dúvida, desordem, incerteza, alienação e pessimismo marcaram a crise do pensamento. A nova Física retratou um universo sem qualquer realidade absoluta e objetiva. Tudo era relativo e dependia da referência usada pelo observador. A Psicologia freudiana explicou o comportamento humano em termos de inconsciente irracional que era dirigido por desejos sexuais, agressivos e dirigidos para o prazer que estavam em constante conflito como as partes racionais e morais da mente. O Positivismo lógico afirmou que os únicos conceitos válidos eram aqueles que podiam ser testados através de experimentos científicos ou demonstrados pela lógica da Matemática. Assim, não se podia falar de conceitos como Deus, liberdade e moralidade pois estes não tinham significado. Esses acontecimentos afetaram profundamente a Teologia. Desde a Idade Média a Fé e a Razão estavam ligadas e a confiabilidade do Cristianismo só era questionada por aqueles que estavam do lado de fora, como foi o caso do deísmo iluminista,

que na verdade era uma religião rival. Porém, no século 19 o conceito de revelação divina foi colocado em dúvida não apenas por descrentes mas por teólogos dentro da própria Igreja. Essa foi uma questão extremamente significativa. Se Deus se revelou em Cristo e redimiu a humanidade do pecado, deve haver submissão a essa revelação impositiva. Porém, a quem deve-se ser submisso e até que ponto pode-se acreditar? Essas questões dividiram os cristãos modernos mais do que as antigas separações denominacionais. A reação liberal foi de reforçar a nova situação enquanto os conservadores a rejeitaram. No cenário americano essa posição preparou o terreno para um terrível conflito cultural na década de 1920, a controvérsia fundamentalista-modernista. Os conservadores desafiaram os princípios básicos do modernismo com coragem profética e mostraram que coisas como a teoria da evolução e a hipótese documentária das Escrituras eram incompatíveis com o Cristianismo bíblico. Porém, no estágio inicial do movimento, conforme exemplificado na obra Os Fundamentos, os conservadores foram moderados em suas críticas aos liberais, chegando a cooperar com eles em projetos denominacionais e interdenominacionais. Mas a guerra santa de Wilson contra o “barbarismo” alemão e em favor da “sobrevivência da civilização e moralidade”

transformou a disputa teológica numa luta cultural. Os conservadores encontraram uma explicação plausível para o “colapso” da civilização alemã na teologia modernista e na evolução darwiniana. Logo viram que a “descrença” que havia destruído a alma da Alemanha estava enfraquecendo as instituições religiosas e educacionais da América. Assim, a intensidade e militância da Guerra Mundial foi transferida para o campo da religião. Outro fator que estimulou o ativismo fundamentalista foi a profecia bíblica. A libertação britânica de Jerusalém dos turcos havia aberto caminho para a volta dos judeus e para muitos isso significava que a Segunda Vinda estava próxima. Então, o exército celestial do Rei Jesus iria aniquilar as formas terrenas do mal. Em 1919, W. B. Riley (1861-1947), um proeminente pregador batista do norte em Minneapolis, organizou um encontro de conservadores na Filadélfia para lançar a World’s Christian Fundamentals Association [Associação Mundial dos Fundamentos Cristãos]. Seu credo era a inerrância bíblica e a volta pré-milenar e iminente de Cristo. O movimento espalhou-se rapidamente e desafiou os modernistas em duas frentes: nas igrejas e na cultura de um modo geral. As principais denominações e suas agências missionárias combateram o Liberalismo ao pressionar os oficiais a se comprometerem com as doutrinas tradicionais. Modernistas

como Shailer Mathews e Harry Emerson Fosdick (1878-1969), que se chamavam de “liberais evangélicos”, apelaram para a tolerância e insistiram que na verdade estavam preservando as linhas principais da ortodoxia cristã numa expressão mais adequado para os novos tempos. Em grande parte esse era um problema do norte, tendo em vista que os conservadores controlavam as denominações do sul. As lutas mais dramáticas aconteceram nos Discípulos de Cristo, Convenção dos Batistas do Norte e Igreja Presbiteriana nos EUA. Uma figura central desse último grupo foi o brilhante estudioso do Novo Testamento do Seminário de Princeton, J. Gresham Machen (1881-1937), cujo livro Christianity and Liberalism [Cristianismo e Liberalismo] (1923) argumentava de modo convincente que esses dois lados eram religiões diferentes. Na esfera cultural, o movimento concentrou-se em salvar a civilização americana da influência perniciosa do darwinismo, que foi acusado de causar a revolução na moralidade e ameaçar a democracia. Os fundamentalistas asseguraram-se de que fossem aprovadas leis em alguns estados proibindo o ensino da evolução nas escolas públicas, mas a lei do Tennessee foi desafiada pelo Julgamento de Scopes em 1925. A mídia transformou esse julgamento num circo. Os fundamentalistas foram ridicularizados e o movimento perdeu força rapidamente. Machen deixou

Princeton em 1929 e começou o novo Westminster Theological Seminary e os conservadores deixaram as principais denominações para começar novos grupos, como a Igreja Presbiteriana Ortodoxa (1932), a Igreja Metodista do Sul (1936), as Igrejas Independentes Fundamentais da América (1930) e a Convenção Cristã Norte-Americana (1927). Pelo fato de concentrarem-se exclusivamente em negar o modernismo, os fundamentalistas deixaram de desenvolver uma visão afirmativa de mundo e tornaram-se, desse modo, o partido derrotado na política denominacional. Ainda assim, o fundamentalismo passou por uma transformação institucional, transformando-se numa religião popular através da criação de uma complexa rede de institutos bíblicos, conferências bíblicas de verão, iniciativas de radiodifusão religiosa e sociedades missionárias. Isso permitiu que os conservadores voltassem à tona com vigor renovado na década de 1940. Ao mesmo tempo, um outro movimento chamado neoortodoxia oferecia respostas mais singulares para o dilema moderno. Uma importante fonte dessa nova visão de mundo foi Soren Kierkgaard (1813-55), um filósofo dinamarquês cujas obras eram desconhecidas fora de sua terra natal até o século 20. Ele veio de uma família devota, estudou para o ministério mas nunca pastoreou uma igreja e viveu uma existência solitária e

deprimente. Passou a ver a importância da fé pessoal baseado num coração partido, rebelou-se contra as explicações sobre a fé oferecidas pelo racionalismo popular e insistiu que a verdade podia ser vista através das lutas, da dedicação e da decisão. Kierkgaard declarou que “a existência é anterior à essência”, isto é, que a pessoa individual é mais importante do que a abstração. Possuía uma profunda consciência do pecado e achava que o abismo entre o Deus distante e majestoso e a humanidade podia ser transposto somente através da fé em Cristo. Cada pessoa está sozinha diante de Deus e deve encontrar o caminho até Ele através da ansiedade e do desespero. Deve-se ter uma fé autêntica e pessoal, não algo recebido de segunda mão da Igreja oficial secular e morna de sua época. Foi o primeiro expoente do Existencialismo, a filosofia que rejeitava tanto o Romantismo como a Razão e enfatizava a existência da pessoa como um todo (ou o ser) e a experiência como base para o viver. Foi depois da Primeira Guerra Mundial que a melancolia do dinamarquês influenciou a Teologia. O sofrimento daquele conflito desacreditou a fé na Ciência e na capacidade de aperfeiçoamento do ser humano e muitos se perguntaram como Deus podia permitir tal tragédia. O pastor suíço Karl Barth (18861968), que viria a ser o maior teólogo do século 20, publicou um comentário sobre Romanos (1919) que tomava por base a Bíblia e

a obra de Kierkgaard e mostrava a inadequação do Liberalismo e a necessidade de uma fé genuína em Deus. Rejeitando a ênfase liberal sobre a imanência de Deus na natureza, Barth insistiu na transcendência divina. A teologia não era uma experiência religiosa ou filosofia humana, mas uma dependência da palavra revelada de Deus. A História não era o desenvolvimento gradual e progressivo de uma vida boa, mas sim de caráter “dialético” ou “cataclísmico”. Ele caracterizou a existência humana como a tensão entre o julgamento e a graça de Deus. A única esperança estava na “crise de fé” quando havia o arrependimento diante de Deus e o viver num estado de humildade, perdão e obediência. Isso preparava o indivíduo para a participação na Igreja e no reino de Deus, para o qual não há substitutos nas meras instituições humanas. Apesar dessas idéias serem semelhantes às dos reformadores protestantes, a neo-ortodoxia reteve algumas coisas do Liberalismo do século 19, incluindo a explicação científica da natureza e da vida humana, a natureza histórica das declarações e atividades religiosas e a necessidade de relevância por parte da mensagem cristã. Além disso, por não ser uma escola organizada ou movimento, foi difícil encontrar qualquer teólogo associado a ela que concordasse com todas essas afirmações. Eles vão dos “ortodoxos” Barth e Emil Brunner (1889-1956) até Reinhold

Niebuhr (1892-1971) e o “liberal” Paul Tillich (1886-1965). Na realidade, tratava-se de uma síntese do velho e do novo que contribuiu muito para restabelecer a mensagem da Bíblia, a missão singular da Igreja, a importância da Teologia e a relevância do evangelho cristão tanto para a vida pessoal quanto social. Depois de 1918, a religião tornou-se mais importante e significativa para os pensadores do que havia sido antes. Não apenas os filósofos franceses Gabriel Marcel (1889-1973) e Jacques Maritain (1882-1973) voltaram-se para o Catolicismo em busca de sustento para sua fé como também os escritores T. S. Eliot (1888-1965) e C. S. Lewis (1898-1963) eram profundamente comprometidos com os valores cristãos. Através de suas obras literárias e apologéticas, Lewis exerceu uma enorme influência no evangelicalismo anglo-americano, onde é considerado em alta estima até os dias de hoje.

Ditaduras desafiam a Igreja O maior desafio para o Cristianismo no período entre guerras foi das ditaduras brutais que surgiram na Itália, Alemanha e Rússia. Elas normalmente são chamadas de “totalitárias”, apesar da maior parte dos historiadores relutar no uso desse termo pois ele não transmite uma definição significativa e é usado principalmente no contexto de propaganda.

O Fascismo e a Igreja Católica A primeira ditadura foi a de Benito Mussolini (1883-1945) na Itália. Um ex-jornalista, veterano de guerra e orador talentoso, ele fundou o Partido Fascista em 1919, sendo que este explorava os descontentamentos nacionalistas e o medo do Bolchevismo. Ele chegou ao poder através de um blefe na chamada Marcha sobre Roma em 1922 e nos anos seguintes governou o país com mão de ferro através da supervisão policial, terror, censura e propaganda. Na esfera religiosa, a maior realização de Mussolini foi a reconciliação entre a Igreja Católica Romana e o Estado italiano. O papa Pio XI, eleito em 1922 e inimigo fervoroso do Comunismo bem como do Liberalismo tradicional estava disposto a fazer vistas grossas para os aspectos menos atraentes do regime fascista a fim de resolver a Questão Romana. Apesar do próprio Mussolini ser contra o clero, ele via as vantagens políticas de um acordo e o resultado foram os Acordos de Latrão de 1929. O papado abriu mão da petição de territórios na Itália, reconheceu a dinastia governante italiana e concordou em ficar fora da política. Da sua parte, a Itália reconheceu a Cidade do Vaticano como um Estado independente e soberano, compensou a Santa Sé pela perda de Roma em 1870, estabeleceu o Catolicismo como “única religião do Estado”, estendeu as leis canônicas às questões de casamento,

permitiu a instrução religiosa nas escolas e concordou em dar condição legal permanente às ordens e associações religiosas. Apesar de Pio ter elogiado o ditador como “homem enviado pela providência”, as relações entre eles logo esfriaram. Em 1931 o papa criticou alguns aspectos do regime de Mussolini, especialmente sua sanção severa sobre a Ação Católica, uma grande organização leiga que dedicava-se à educação e assistência social. O Duce acabou cedendo e permitindo que a associação continuasse a existir, mas sob severas restrições. Líderes eclesiásticos italianos deram sua bênção para iniciativas ultramarinas como a conquista da Etiópia e a intervenção na Guerra Civil Espanhola e a única crítica das ações fascistas foi em relação a questões específicas da competição entre Igreja e Estado e não sobre assuntos teológicos ou filosóficos mais amplos, Também houve laços entre o Catolicismo e outros movimentos de estilo fascista na Áustria, Espanha, Portugal e Hungria.

O sistema nazista e a reação cristã O Socialismo nacionalista (Nazismo) na Alemanha nutriu-se das desilusões com a guerra, do ressentimento sobre a paz e dos problemas econômicos. Um veterano de guerra e agitador político nascido na Áustria, Adolf Hitler (1889-1945), transformou o Partido Socialista Nacional numa organização poderosa depois do

início da depressão. Conservadores de pouca visão que consideravam-no um antídoto para o Comunismo ajudaram-no a tornar-se chanceler em 30 de janeiro de 1933. Uma vez com o poder em suas mãos, Hitler colocou gente de sua confiança em cargos estratégicos e usou da força para intimidar seus inimigos. Em dois anos o Estado estava sob seu controle absoluto. A idéia organizacional básica de Hitler era a união do povo alemão com um líder (Führer) e a introdução do princípio de liderança nas estruturas políticas, econômicas e sociais do país. Ao integrar todas as classes que estavam em competição e os grupos de interesse dentro de uma nação, os nazistas esperavam formar a supercomunidade ideal mas não conseguiram ganhar a lealdade completa do exército e dos líderes da Igreja. Ideologicamente, os nazistas rejeitavam o Iluminismo, a vida urbana, a democracia e outros aspectos da existência moderna e exaltavam o Volk, sangue e solo, afirmando que os alemães possuíam várias características ligadas à sua pátria e ambiente que os diferenciavam do resto. Na luta social darwiniana entre grupos e nações, os alemães mais fortes iriam deslocar e destruir as raças mais fracas. Uma destas eram os russos. Hitler disse que os alemães precisavam de “espaço para viver”, o que iriam obter com a conquista da Rússia. Então, fazendeiros alemães seriam assentados lá, longe das influências corruptíveis das cidades e supririam a matéria prima, alimentação

e força de trabalho para o “Reich de Mil Anos”. Na teoria racial de Hitler, os judeus eram a fonte de todos os males, a “raça destruidora de cultura” que deu ao mundo tanto o Capitalismo como o Marxismo. Até a fé cristã era uma artimanha dos judeus: “o maior golpe a atingir a sociedade foi a chegada do Cristianismo. O Bolchevismo é o filho ilegítimo do Cristianismo. Ambos são invenções dos judeus”.2 Ele via a raça ariana “criadora de cultura” como se estivesse envolvida numa luta pela sobrevivência, sendo que a erradicação dos judeus como raça seria um ato de purificação social que restauraria o passado nãocorrompido. Estas foram as bases ideológicas do Holocausto. Os nazista privaram meio milhão de judeus alemães de seus direitos de cidadania e através de boicotes, expulsão de seus empregos e perseguição constante, incentivaram-nos a emigrar. Em novembro de 1938 eles foram vítimas de um terrível massacre organizado conhecido como a “Noite do Vidro Quebrado”. Depois que os exércitos alemães marcharam sobre o leste da Europa, cuja população de judeus era bem maior, o anti-semitismo tornou-se muito mais violento. Na Rússia, esquadrões da morte nazistas assassinaram centenas de milhares de judeus onde quer que estivessem enquanto na Polônia eles foram ajuntados em favelas urbanas miseráveis chamadas de “guetos”. Os notórios campos de concentração, construídos a princípio

para quebrantar o espírito dos inimigos do Nazismo, tinham um significado ainda mais sombrio para os judeus. Em 1940-41 foram criados seis campos na Polônia, sendo os mais conhecidos Auschwitz e Treblinka, onde os nazistas colocaram em funcionamento a “solução definitiva”, o extermínio de populações inteiras de judeus da Europa. Homens, mulheres e crianças eram transportados para essas “fábricas de morte” e, a sangue frio, de modo calculado, eram espancados, deixados para morrer de fome ou exaustão com trabalhos forçados, usados em experiências médicas e mortos em câmaras de gás. As estimativas mais precisas indicam a morte de aproximadamente seis milhões de judeus no Holocausto e até hoje teólogos e filósofos procuram o significado dessa tragédia incompreensível. A situação dos cristãos sob o regime nazista também era precária. Nascido e educado no Catolicismo, Hitler abandonou qualquer princípio cristão que pudesse ter possuído mas nunca rompeu formalmente seus laços com a Igreja e nem foi excomungado. O Socialismo Nacional em si era uma nova fé que apelava para os alemães que almejavam a regeneração nacional. A atitude de Hitler para com as igrejas era política; ele invejava o poder que o Catolicismo exercia sobre seus fiéis mas desprezava o Protestantismo por sua falta de unidade e autoridade. Porém, durante sua ascensão ao poder ele procurou agradar a membros de

ambas as igrejas. A maioria dos protestantes não tinha nenhum envolvimento com a república pós-guerra, cuja Constituição separava a Igreja e o Estado e parecia ser dominada por socialistas e católicos, mesmo que a Igreja Católica continuasse a ter uma posição privilegiada. A maioria dos líderes eclesiásticos simpatizava com a ala de direita anti-republicana e via de forma positiva o “movimento nacional” de Hitler à medida em que as condições foram se deteriorando depois 1929. Eles faziam vistas grossas para o lado anti-semítico e pagão do Nazismo e louvavam o anticomunismo de Hitler e seu chamado para um “Cristianismo positivo”. Um partido pró-nazista chegou a surgir dentro da Igreja, os chamados “Cristãos Alemães”. A “tomada do poder” por Hitler foi recebida com entusiasmo. Alguns esperavam ver a república “marxista” ser substituída por um governante cristão. Seu programa “pró-moral” e “pró-família” também era atraente no sentido de que enfatizava a importância de se ter filhos e o lugar da mulher no lar e prometia eliminar a pornografia, prostituição e homossexualidade. Mas sua própria política era puramente pragmática, tendo em vista que ele percebeu o poder que era exercido pela Igreja e não queria um outro Kulturkampf. Mais que depressa ele conquistou a simpatia dos católicos e o Partido de Centro votou em favor da medida que permitia que ele governasse por decreto. Depois que seu partido e

os sindicatos de trabalhadores foram dissolvidos, Hitler assinou um tratado com o Vaticano garantindo aos católicos alemães o direito de praticar sua religião e a independência da Igreja. Isso sem dúvida enfraqueceu a resistência nos meios católicos. Os nazistas tiveram mais problemas com os protestantes. Os Cristãos Alemães desejavam unificador todas as igrejas regionais numa única Igreja nacional sob um “Bispo do Reich” nazista chamado Ludwig Müller (1883-1945). Também queria que a Igreja introduzisse o princípio de Fürher e adotasse o “Parágrafo Ariano” que permitia a demissão de qualquer funcionário da Igreja de descendência judia. Mas Hitler rejeitou a idéia de uma Igreja de Estado Socialista Nacional pois acreditava que a única função da Igreja era atender ao povo ignorante que ainda tinha necessidades religiosas. Qualquer igreja, até mesmo uma que fosse nazificada, poderia limitar seu poder e não tardou para que os Cristãos Alemães fossem completamente ignorados. O Parágrafo Ariano indignou muitos dentro da Igreja e em setembro de 1933 o pastor Marin Niemöller (1892-1984) formou a Liga de Emergência dos Pastores para combater as idéias dos Cristãos Alemães. Isso marcou o início do “conflito eclesiástico”. Seu grupo repudiou o Bispo do Reich e criou uma estrutura eclesiástica de governo alternativa conhecida como a Igreja Confessional. Suas bases teológicas foram apresentadas pela

Declaração de Barmen em maio de 1934. Escrita em grande parte por Karl Barth, ela chamava a Igreja alemã de volta para as verdades centrais do Cristianismo e rejeitava as afirmações totalitárias do Estado nas questões da fé. A Declaração não tinha a intenção de ser um protesto político e a Igreja Confessional não planejava liderar uma resistência contra o Nazismo. Essas medidas foram tomadas a fim de defender a fé ortodoxa de inovações e distorções heréticas dos Cristãos Alemães. Porém, a Igreja Confessional foi repudiada ou pelo menos ignorada pela maioria dos líderes protestantes e perseguida pela Gestapo. Sua própria existência era embaraçosa para os nazistas e seu testemunho do senhorio de Cristo desafiava implicitamente a declaração de poder absoluto da parte de Hitler. Algumas figuras da Igreja, sendo uma das mais conhecidas Dietrich Bonhoeffer (1906-45), envolveram-se com a resistência anti-hitlerista, mas o conservadorismo e nacionalismo da maior parte dos cristãos os impediu de erguer-se contra o sistema perverso. Ainda assim, a Igreja Confessional havia desafiado a aliança tradicional entre Igreja e Estado, fato que marcou o rompimento mais radical na história da Igreja alemã desde a própria Reforma. Os católicos também foram envolvidos no Conflito Eclesiástico quando os nazistas destruíram uma rede de

organizações católicas e fecharam o cerco em torno de sua imprensa e escolas. Os líderes ficaram alarmados com a propagação do “novo paganismo” e em 1937 o papa Pio XI emitiu a encíclica Com Profundo Pesar, que foi levada clandestinamente para dentro da Alemanha e lida dos púlpitos no Domingo de Ramos. Pedia aos católicos que rejeitassem o culto idólatra à raça e ao Estado e se mantivessem leais a Cristo e Sua Igreja. Enfurecido, Hitler evitou um rompimento com Roma ao responder com o silêncio. Os nazistas mantiveram a pressão sobre o clero para evitar qualquer resistência mas não tomaram nenhuma atitude contra dignitários como o Bispo de Münster que criticou o programa de eutanásia em 1941.

O Cristianismo sob o Comunismo soviético A terceira grande ditadura foi fundada por Lênin na Rússia. Ele havia desenvolvido uma doutrina do Partido e da natureza da Revolução que iriam garantir a vitória ao proletariado, mesmo num país retrógrado como a Rússia. Sob um partido rigidamente organizado trabalhadores e camponeses podiam dar um golpe no regime czarista e estabelecer uma ditadura revolucionária para dirigir o desenvolvimento econômico do país e criar uma sociedade sem classes. Em 1917 os bolcheviques se identificaram com os concílios eleitos pelo povo (soviets) e tomaram o poder de

uma república fraca que havia substituído o czar. Ao começar a colocar suas teorias em prática, seus inimigos contra-atacaram, levando a uma amarga guerra civil e à intervenção dos Aliados ocidentais. Os bolcheviques tentaram em vão incentivar revoluções nos países capitalistas, mas quando perceberam que a força dos Estados europeus era derivada de seus impérios, os comunistas também apoiaram a libertação colonial. Logo depois da morte de Lênin em 1924, o ambicioso Joseph Stalin (1879-1953) subiu ao poder. Quando menino ele freqüentou um seminário ortodoxo em Tiflis, mas abandonou a religião em troca do Materialismo marxista. Stalin percebeu como era fútil tentar espalhar a revolução para além da Rússia e pôs-se a transformá-la num Estado industrializado tomando como base seus próprios recursos para que pudesse competir com as nações capitalistas do Ocidente. O que se seguiu foi a criação de uma ditadura ainda mais brutal que a de Hitler, envolvendo a coletivização forçada de fazendas, terror policial, campos de trabalho escravo, extermínio de rivais e russificação dos povos subjugados do antigo império czarista, que em 1922 recebeu o novo nome de União Soviética. Ele trouxe para o Comunismo o “culto à personalidade”. Tendo em vista que a hostilidade para com todas as religiões era um tema central do Marxismo-leninismo, os comunistas russos

lutaram ativamente contra a Igreja. Eles não apenas viam o Cristianismo como uma força social reacionária que impedia o progresso rumo a uma sociedade sem classes, como também o consideravam uma visão de mundo alternativa que ameaçava o poder e o prestígio do partido comunista. Da sua parte, os cristãos não podiam aceitar a visão secular de que a natureza estava encaminhando a humanidade para um final definitivo e perfeito e nem a ênfase marxista-leninista sobre a luta violenta entre classes. Nos últimos dias do regime czarista, muitos líderes eclesiásticos acreditavam que as condições dos trabalhadores e camponeses precisavam ser melhoradas, mas poucos estavam dispostos a aceitar o Socialismo. Assim, eles receberam de braços abertos a Revolução de março de 1917 que criou a república. Em agosto de 1917, foi convocado um conselho totalmente russo (Sobor) da Igreja. Este foi contra a opinião pública ao reintroduzir o sistema patriarcal de governo eclesiástico que havia sido abolido em 1700, ao nomear para o cargo o prelado de Moscou, Tikhon (1866-1925). Quando os bolcheviques tomaram o poder em novembro, confiscaram terras da Igreja, cancelaram subsídios do Estado para a Igreja, decretaram o casamento civil e nacionalizaram as escolas. O patriarca Tikhon reagiu excomungando os líderes do governo e através de manifestação pública os oficiais da Igreja pediram a

restauração da monarquia. O governo de Lenin retaliou ordenando a separação imediata entre Igreja e Estado e reconhecendo a igualdade perante a lei de todos os grupos religiosos. Todo e qualquer vestígio de religião foi banido das escolas públicas e todas as propriedades da Igreja foram nacionalizadas. Propriedades que geravam lucro ficaram com o Estado enquanto os edifícios usados para cultos foram cedidos para as congregações sem que nada fosse cobrado. Tikhon condenou severamente a tomada de tesouros da Igreja, com a finalidade de alimentar os famintos mas acabou se retratando por suas “ações anti-soviéticas” e declarou-se leal ao regime. Um cisma ocorreu quando um grupo de sacerdotes paroquiais formaram a “Igreja Viva” que apoiava as reformas. Porém, o Sobor de 1923 aceitou a postura soviética, cortou todos os laços contra-revolucionários e assegurou o governo de sua lealdade. Apesar das várias constituições garantirem “liberdade religiosa e de propaganda anti-religiosa”, a Lei de Associação Religiosa de 1929 limitava rigidamente as atividades das igrejas. Elas não podiam dedicar-se a trabalho social, educacional ou de caridade, distribuir ajuda material para seus membros ou realizar reuniões que não fossem cultos. Além disso, cada congregação tinha que ser registrada, reuniões extraordinárias ou conferências religiosas necessitavam de permissão especial e oficiais fechariam

a Igreja se resolvessem que precisavam do prédio para alguma finalidade pública. A década seguinte foi de intensa perseguição, durante a qual milhares de clérigos foram presos ou assassinados e os sobreviventes, tratados como cidadãos de segunda categoria ou perseguidos pela polícia secreta. Em decorrência disso, a Igreja ortodoxa russa viu-se à beira da desintegração, enquanto o terror stalinista eliminava completamente os luteranos e destruía as denominações evangélicas cristãs-batistas. Um grande número de menonitas emigrou para as Américas na década de 1920 e aqueles que ficaram foram perseguidos, assim como todos os outros grupos religiosos — católicos romanos, católicos uniatas, antigos crentes e até mesmo judeus e muçulmanos. O Vaticano condenou energicamente as perseguições e em 1937 Pio XI declarou que o “Comunismo é intrinsecamente errado e ninguém que pretendia salvar a civilização cristã poderia colaborar em suas ações quaisquer que fossem elas”. Porém, depois que a Rússia entrou na Segunda Guerra Mundial, Stalin permitiu muito mais liberdade para a Igreja, pois percebeu que esta poderia contribuir para o moral do povo e servir para promover a política externa soviética.

A Segunda Guerra Mundial e as igrejas As atividades expansionistas dos ditadores da Alemanha e

Itália e a sociedade exclusivista de militares do Japão foram fatores que levaram à Segunda Guerra. Em 1941 a Rússia foi atacada pela Alemanha e os Estados Unidos pelo Japão, preparando desta forma o cenário para o maior conflito de toda a História. Durante a década de 1930, os cristãos estavam divididos em suas atitudes para com as ditaduras. Alguns eram tão profundamente anti-comunistas que apoiavam movimentos do tipo fascista e Hitler até encontrou favor entre alguns cristãos. Um deles chegou a elogiá-lo em 1936 por construir “uma frente de defesa contra o Anticristo do Comunismo”. Cristãos liberais pendiam para a esquerda e alguns eram socialistas ativos, como Reinhold Niebhur e Norman Thomas, mas poucos juntaram-se ao partido comunista ou condescenderam com os acontecimentos na União Soviética. O movimento de paz na América serviu de apoio para as políticas isolacionistas, mas alguns liberais perceberam uma vasta diferença entre 1914 e a situação de sua época e começaram a argumentar em favor da participação americana nas lutas cada vez mais abrangentes. Irados com aquilo que consideravam um pacifismo cego, Niebuhr e outros fundaram o jornal Christianity and Crisis [Cristianismo e Crise] em fevereiro de 1941, desafiando o povo da igreja a rejeitar a neutralidade e aceitar a intervenção como uma alternativa necessária.

Uma vez que a guerra chegou, líderes eclesiásticos de vários países juraram lealdade a seus regimes, mas em comparação com 1914, o compromisso não foi tão rígido. No Ocidente, igrejas davam aos soldados cuidado pastoral através de capelães militares, os direitos de objetores religiosos conscientes eram normalmente respeitados e alguns clérigos chegaram a demonstrar oposição à guerra ou pelo menos criticaram o bombardeio destruidor sobre a Alemanha e Japão. Líderes protestantes e católicos alemães também pediram ao seu povo que se retirasse das iniciativas de guerra, enquanto as igrejas russas apoiaram com entusiasmo a “Grande Guerra Patriótica”. No Japão a pequena comunidade cristã havia sido forçada a formar uma única igreja, a Kyodan, sendo que esta urgia seus seguidores a “promover o grande empreendimento”. Alguns evangelistas que criticavam os festivais patrióticos shintoístas foram perseguidos. Na Alemanha, as atitudes conciliatórias dos líderes da Igreja não impediram a perseguição de cristãos. Os conselheiros mais próximos de Hitler estavam trabalhando no sentido de chegar a uma “solução final” das relações entre Igreja e Estado e seu Cristianismo de “nova ordem” seria deixado agonizando até que, nas palavras de Hitler, tivesse uma “morte natural”. Nas áreas ocupadas sacerdotes e pastores, juntamente com leigos devotos, eram tratados como criminosos comuns e milhares foram

executados ou enviados para campos de concentração. Porém, alguns cristãos foram motivados por sua consciência a rejeitar o regime nazista e até mesmo matar Hitler se isso fosse necessário para dar um basta à violência demente que ele havia desencadeado pelo mundo. Alguns estavam envolvidos na conspiração para depor o Fürher e, na realidade, a pessoa que plantou a bomba no dia 20 de julho de 1944 foi o conde Klaus von Stauffenber, um católico fervoroso. Infelizmente, a explosão só feriu Hitler e a retaliação nazista foi rápida. Dentre os milhares de mártires estavam o leigo luterano Conde Helmuth von Moltke, o jesuíta Alfred Delp e Dietrich Bonhoeffer. Martin Niemöller passou mais de sete anos em campos de concentração como “prisioneiro pessoal” de Hitler. No final das contas, porém, as igrejas protestantes não tiveram a coragem moral de resistir a Hitler, fato que foi reconhecido na “Declaração de Culpa de Stuttgart”, escrita por Niemöller em outubro de 1945. Isso deveu-se a sua preocupação exclusiva com a fé pessoal individualista, sua tradição de submissão ao Estado e uma visão de mundo conservadora que lhes permitiu aceitar a declaração nazista de que eram a única alternativa ao Comunismo. O silêncio de Pio XII quando subiu ao trono papal em 1939 foi especialmente controverso tendo em vista que ele pessoalmente detestava o Nazismo e o Comunismo. Os

críticos afirmam que sua falha em condenar a agressão nazista e o massacre de milhões de judeus foi porque ele queria ver a destruição do Comunismo. Os defensores argumentam que ele precisava ser neutro e que os católicos alemães apoiavam Hitler tão fortemente que não reagiriam a qualquer iniciativa que fosse tomada para contra-atacar as políticas nazistas em relação aos judeus. O movimento ecumênico protestante também viu-se numa posição difícil pois não queria colocar em perigo o destino dos crentes na União Soviética, nos países do Eixo ou nos territórios ocupados pelos japoneses ao condenar pecados específicos de lideres nacionais desses lugares. O Concílio Missionário Internacional ajudou as “missões órfãs” da Alemanha e de outros países europeus na África e na Ásia a continuar funcionando, demonstrando assim que uma comunhão cristã mundial era possível. Outros grupos ecumênicos concentraram-se na ajuda internacional, cuidando de prisioneiros de guerra e refugiados e mantendo contato entre as igrejas de ambos os lados. A guerra teve, claramente, um impacto devastador sobre o Cristianismo, tanto física quanto moralmente. Milhares de igrejas foram destruídas, clérigos foram mortos e crentes perseguidos ou arrancados de seus lares. O nível de violência cresceu por causa de tantas novas armas, de bombardeios incendiários e, no final, da

bomba atômica, sendo que todos estes resultaram na morte de milhões de pessoas. O rumo intencional tomado pela guerra de se atacar civis e a indiferenças dos líderes ocidentais que se diziam cristãos diante do sofrimento dos judeus e a aliança das democracias do Ocidente com a União Soviética foram questões morais de grande preocupação para os cristãos. Isso levou muitos a perguntar se a “guerra justa” ainda era possível e a sugerir que o apoio cristão à guerra só levou à sua intensificação. A Segunda Guerra Mundial terminou com grandes porções da Europa e Ásia em ruínas. Mas a paz que retornou foi irrequieta porque uma “guerra fria” entre os dois aliados — Estados Unidos e União Soviética — logo passaria a dominar o cenário internacional. Ainda assim, o poder ocidental havia terminado e o processo de libertação colonial significava que um novo mundo estava se formando. Nessas áreas, o Cristianismo realizou grandes avanços e dentro de algumas décadas o centro de gravidade numérica mudou-se da Europa e América do Norte para a Ásia e América Latina. Isso apresentou novos desafios para a fé cristã na última metade do século 20.

Capítulo 23 - A Igreja como instituição global O impacto da Guerra Fria sobre as igrejas foi misto. Nos países do bloco soviético os cristãos sofreram discriminação, os

regimes sujeitaram as igrejas a constantes pressões e o Cristianismo foi levado à clandestinidade ou reduzido à impotência política. Nas terras ocidentais o evangelicalismo desabrochou, mas as igrejas tradicionais experimentaram uma queda contínua na freqüência aos cultos. Em ambas as partes, a influência pública das igrejas decresceu, mas pelo menos os líderes políticos do Ocidente continuavam a identificar-se com uma igreja ou denominação, quer fossem membros praticantes ou não. Os evangélicos nos Estados Unidos contribuíram muito para a propagação da fé através de uma crescente força missionária e da evangelização de massas. Consequentemente, as igrejas do mundo não-ocidental cresceram a passos largos. Mas encontraram um grande rival no ressurgimento das religiões não-cristãs.

A guerra fria do começo ao fim A Segunda Guerra Mundial não terminou com um tratado geral de paz. Os líderes Aliados traçaram um esboço do mundo pós-guerra durante várias conferências mas profundas divisões surgiram entre Stalin e seus colegas do Ocidente — Churchil da Grã-Bretanha e Roosevelt dos Estados Unidos. Esses dois últimos sonhavam com uma nova era em que todas as nações teriam um governo próprio, direitos iguais e trabalhariam juntas em busca de segurança econômica, melhoria do padrão de vida e eliminação da

força e das agressões nas questões internacionais. Com o final da guerra em 1945, formou-se a Organização das Nações Unidas. O sonho de um mundo onde todos os povos viveriam em paz parecia prestes a se realizar. Porém, esse não seria o caso. Os soviéticos, que haviam sofrido ataques do Ocidente duas vezes no último século, estavam inflexíveis quanto a necessidade de segurança contra qualquer futura agressão alemã. Assim, o Exército Vermelho permaneceu na Europa oriental, onde eles puseram-se a estabelecer “democracias populares” comunistas nesses países. As tensões entre Oriente e Ocidente cresceram à medida em que os soviéticos paralisaram as Nações Unidas com seus vetos e tentaram forçar os poderes ocidentais a sair de Berlim. Os vitoriosos haviam conseguido ocupar a Alemanha e o Japão e de fazer tratados com a Itália e o Japão mas tinha sido impossível chegar a um acordo final sobre a Alemanha. Apesar da Guerra Fria ter começado como uma rivalidade entre duas grandes potências, adquiriu rapidamente um caráter ideológico, tendo em vista que os soviéticos pregavam as doutrinas do Comunismo e pediam a libertação dos povos oprimidos pelos “imperialistas”. Em 1949 a recuperação econômica e a divisão real da Alemanha levaram à estabilidade através de um desconfortável equilíbrio de poder na Europa, mas a luta espalhou-se pela Ásia onde, depois de uma amarga guerra civil, os comunistas chineses assumiram o controle

de seu vasto país. Como líder das democracias ocidentais, os Estados Unidos tomaram a iniciativa de “conter” o poder comunista ao suprir armas e assistência econômica aos países ameaçados. Apesar da contenção da expansão soviética continuar a ser a pedra fundamental da política externa americana até o final da União Soviética em 1991, muitos procuravam ampliá-la de forma a incluir a oposição ao Comunismo como doutrina social, especialmente depois de “perder” a China. O Comunismo em qualquer parte, quer fosse dentro de seu próprio país, na Europa ou no mundo não-ocidental, era considerado uma ameaça à segurança nacional americana. As “caças às bruxas” do senador Joseph McCarthy e outros investigadores eram voltadas para a subversão doméstica, enquanto ajuda externa e alianças militares resistiam à exploração comunista das fraquezas de outros países. Isso levou a um envolvimento militar direto na Coréia e, mais tarde, no Vietnã. Na metade dos anos 50, depois da morte de Stalin e da ascensão de Eisenhower ao poder, as tensões da Guerra Fria diminuíram um pouco. O desenvolvimento da bomba H e dos mísseis balísticos de longo alcance tornaram a guerra entre as duas superpotências algo impensável. Tanto a Coréia quanto o Vietnã foram divididos entre regimes comunistas e não-comunistas e os

Estados Unidos não interferiram quando os soviéticos entraram na Polônia e Hungria em 1956. Então, quando Nikita Kruschev assumiu o controle do governo soviético, decidiu testar a posição do Ocidente em dois pontos de Berlim e em Cuba. A América não tentou impedir a construção do Muro de Berlim em 1961, mas respondeu energicamente à crise de mísseis em Cuba no ano de 1962 e, durante alguns dias, as duas nações ficaram à beira da Terceira Guerra Mundial. Isso marcou um ponto crítico da Guerra Fria. Nos anos seguintes foram feitos mais esforços para se negociar as diferenças enquanto os blocos polarizados se desintegraram com a saída da China e da França e os Estados Unidos se afundaram numa guerra sangrenta e inconclusiva de contenção no Vietnã. Enquanto isso, os soviéticos seguiram uma política de repressão dentro de seu país e no bloco comunista e sua entrada no Afeganistão em 1979 para ajudar um regime marxista que se encontrava em declínio acabou sendo desastrosa. Também buscaram a igualdade com a América em poder naval e armas estratégicas e a crescente corrida armamentícia levou as duas nações à falência. 1948

1962-65

Fundação da WCC

Concílio Vaticano II

1928

1945

1949

1974

1989

InterVarsity

John R.W. Stott

Cruzada

Congresso de

Congresso

Christian

começa seu

Billy

Fellowship no

ministério na All

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Evangelização Lausanne II em em Lausanne

Manila

Canadá

Souls Church

Los Angeles

1925

1942

1950

1951

1978

Formada a Igreja

Criação da

Criação da

Fundação da

João Paulo II

Unida do Canadá

NAE

Visão Mundial

Campus Crusade for

eleito papa

Christ 1900

2000 1939-45

1948

1961

1967

Segunda Guerra

Criação do

Levantado o

Agrava-se a Guerra

Mundial

Estado de Israel

Muro de Berlim

do Vietnam

1946-47

1962

1991

Começa a Guerra Fria

Crise dos misseis em Cuba

Fim da União Soviética

Em 1985 Mikhail Gorbachev introduziu um programa de reformas que abriu a sociedade soviética, mas já era tarde demais para salvar o sistema. À medida em que uma onda de revoluções populares varreu o Europa oriental, o bloco soviético se desintegrou. Por fim, a própria União Soviética dissolveu-se num colosso de entidades nacionais. Os Estados Unidos ficaram como única superpotência internacional, mas sua economia estava atolada numa recessão e tensões sociais dividiam o país.

As revoluções coloniais e o Terceiro Mundo O colapso de todo o mundo colonial veio logo depois da Segunda Guerra Mundial. Nos anos 40 e 50 toda a região sul e sudeste da Ásia conquistou a independência e no Oriente Médio haviam terminado os mandatos da antiga Liga das Nações. Entre

1951 e 1968 todos os Estados muçulmanos do norte da África e a maioria das colônias a sul do Saara estavam livres. Em 1974-75, o império português havia se desintegrado. Em 1980 o Zimbabwe e em 1990 a Namíbia ganharam a independência. O único bastião de poder branco que restava era a África do Sul, que saiu da União das Nações Britânicas em 1961 por causa das críticas à sua política de apartheid. Um processo semelhante ocorreu no Caribe e nas ilhas do Pacífico Sul. O problema mais complexo foi na Palestina, onde os britânicos entregaram a questão para as Nações Unidas que recomendou uma divisão em Estados judeus e árabes. Quando os árabes rejeitaram essa proposta, os sionistas radicais declararam a criação de Israel em 14 de maio de 1948. Enfurecidos, os membros da Liga Árabe atacaram imediatamente a nova nação mas não foram capazes de eliminar o Estado judeu. Israel acabou ficando com um território maior do que aqueles que havia sido proposto pela comissão da ONU. Ainda assim, vivia num constante estado de sítio e envolveu-se em mais conflitos em 1956 e 1967 a fim de melhorar sua posição defensiva. Na Guerra do Yom Kippur em 1973 Israel sofreu uma derrota temporária e sua imagem de força foi manchada. Mas não parecia possível haver uma solução para a questão árabe-israelense. Na verdade, as chances de uma resolução pacífica ficaram ainda menores por causa das exigências de judeus

radicais tradicionalistas de que se tirasse todos os árabes de Israel e por causas de um simultâneo fortalecimento da resistência palestina na chamada “Intifada”. A reação dos cristãos ao problema foi complicada por vários fatores. Quase todos os árabes cristãos, quer católico-romanos, ortodoxos ou protestantes, apoiavam firmemente os palestinos. Assim como os árabes muçulmanos, eles consideravam Israel um ponto de colonialismo ocidental e ao mesmo tempo se identificavam com os muitos cristãos que eram palestinos. Os cristãos do Ocidente, especialmente os liberais, foram atormentados por um sentimento de culpa por causa do Holocausto, mas ainda assim queriam que se fizesse justiça para aqueles que haviam sido tirados de suas casas. Tinham medo de criticar a política de Israel e ser taxados de anti-semitas. De qualquer forma, muitos condenaram o tratamento recebido pelos árabes. Protestantes conservadores, especialmente os prémilenialistas, por outro lado, estavam entre os simpatizantes mais articulados de Israel. Apesar do trabalho missionário ser proibido lá, ainda assim muitos viram os acontecimentos na Palestina como um cumprimento de profecias bíblicas. O termo “Terceiro Mundo” começou a ser usado na década de 1950 para as nações menos economicamente avançadas ou nações “em desenvolvimento” na África, Ásia e América Latina.

Ele distinguia esses países dos outros dois “mundos” industriais — o bloco ocidental (incluindo o Japão) e o bloco comunista. Também viam-se como sendo “neutros” ou “não alinhados” apesar de, na verdade, muitos deles (como Cuba) serem mais alinhados com o bloco comunista. As Nações Unidas serviam como principal fórum no qual essas nações podiam expressar suas idéias. Elas pediam uma Nova Ordem Econômica Internacional — uma remodelação da economia global que daria a elas mais acesso aos fundos de investimentos e tecnologias do Ocidente. Tendo em vista que o antigo mundo colonial situava-se na porção sul dos hemisférios, o confronto adquiriu um caráter de “norte-sul”. As igrejas reagiram de várias formas à mudança da configuração mundial e apesar das tendências de secularização e do ressurgimento de religiões rivais, elas continuaram a ser as principais protagonistas no cenário mundial.

A Guerra Fria e as igrejas Na Alemanha a Igreja foi parte da Guerra Fria. Konrad Adenauer, o primeiro chanceler da Alemanha Ocidental, era um obstinado anti-comunista católico e seu partido da União Cristã Democrática juntou católicos e protestantes conservadores. A princípio, as igrejas não foram divididas pela fronteira política imposta que atravessava a Alemanha e sua estrutura

organizacional ajudou a perpetuar a idéia de unidade. A Kirchentag (Assembléia da Igreja) — reunida pela primeira vez em 1949 — era uma inovação na Igreja protestante e as grandes multidões que compareciam mostravam o papel importante que podiam desempenhar trazendo os leigos de volta para a vida eclesiástica. No desenvolvimento da consciência cristã entre os leigos também foram importantes as academias evangélicas fundadas depois da guerra. Uma vez que a divisão política da Alemanha tornou-se permanente, o regime comunista forçou as igrejas a redefinir seus limites de forma a coincidir com as fronteiras políticas. Na Alemanha Oriental, ocorreu uma secularização quase total da vida pública, mas a Igreja institucional não foi destruída. Em 1978, depois de décadas de perseguição, líderes das igrejas chegaram a um acordo com o Estado no qual ela seria a “Igreja no Socialismo”. Por outro lado, a Igreja na Alemanha Ocidental pôde continuar funcionando normalmente. Tinha permissão de cobrar um “imposto” de seus membros, oferecer ensino religioso nas escolas e participar ativamente dos assuntos públicos. Porém, o nível de envolvimento da Igreja em ambos os Estados alemães diminui ao longo dos anos. Nos países do bloco comunista os cristãos sofriam intensa pressão, apesar da natureza desta variar de um país para o outro e

de uma época para outra. Por um lado, a influência da Igreja Católica na Polônia era considerável; por outro lado, a Albânia proibiu oficialmente todo tipo de religião. As condições nos outros países do bloco oriental variavam entre esses dois extremos. A ausência de religião era conscientemente incentivada através do ensino do Materialismo marxista nas escolas, das organizações ateístas e da substituição de ritos religiosos por outros seculares como a “dedicação da juventude” na Alemanha Oriental. O Estado stalinista na Rússia soviética acabou com os uniatas — católicos de ritos gregos na Ucrânia — forçando-os a tornarem-se ortodoxos russos. Com o crescimento da perseguição na Rússia, em 1959 os batistas dividiram-se quanto a questão de se deveriam ou não continuar se submetendo às regulamentações do Estado sobre as atividades da Igreja. Josef Cardinal Mindszenty (1829-1975) denunciou o regime comunista húngaro e foi sentenciado a prisão depois de um julgamento arranjado em 1949. Libertado durante a revolta de 1956 em Budapeste, ele buscou refúgio na embaixada americana e ficou lá durante anos como um símbolo anticomunista até que o papa assegurou sua libertação. Em todos os países da Europa oriental o Estado exercia influência sobre a nomeação de oficiais da Igreja e dava a algum órgão do Estado a tarefa de supervisionar os assuntos eclesiásticos. Havia cada vez menos clérigos e sua idade média era

cada vez maior; menos pessoas freqüentavam os cultos (exceto na Polônia) e foram fechadas muito mais igrejas antigas do que se abriram novas. Mas isso também aconteceu na Europa ocidental. A diferença era que o Ocidente havia se tornado mais secular apesar do Estado em si não ser anti-religioso. Outro acontecimento interessante no lado oriental foi a fundação da Conferência de Paz Cristã (CPC) em 1958. Seu líder, Josef L. Hromádka (1889-1969), um teólogo de Praga altamente respeitado, transformou a CPC numa importante ponte entre os dois blocos. Ela promoveu a conciliação entre Leste e Oeste, diálogo entre cristãos e marxistas, desarmamento nuclear e questões de justiça no Terceiro Mundo. Mas a invasão soviética da Tchecoslováquia em 1968 praticamente desacreditou a CPC aos olhos da maior parte dos ocidentais. O principal impacto da Guerra Fria nas igrejas ocidentais foi o encorajamento do anti-comunismo. Esse foi o caso especialmente nos Estados Unidos onde o Liberalismo, Socialismo e outras tendências de esquerda eram mais do que depressa rotuladas de comunistas. Alguns fundamentalistas acusavam os líderes eclesiásticos liberais de serem “Vermelhos” ou “camaradas de viagem”. Em um incidente em 1953, um investigador do comitê de McCarthy afirmou que o maior grupo que apoiava o sistema comunista era composto pelos clérigos protestantes. Truman e

Eisenhower repetidamente ligaram a fé em Deus ao modo americano de vida em contraste com o ateísmo comunista. Na verdade, a adição do termo “under God" [sob Deus] no Juramento de Lealdade em 1954 e a adoção de “In God We Trust" [Em Deus Confiamos] como lema nacional em 1956 foram resultado direto da ênfase dada a Deus e ao país durante a Guerra Fria. Os regimes comunistas da Europa oriental, apesar de seus esforços, não conseguiram erradicar o Cristianismo. A nível popular, os sentimentos religiosos eram profundos, como ficou evidente pela recepção entusiasmada que Billy Graham recebeu em suas viagens para o bloco soviético a partir de 1977. O colapso do Comunismo começou na Polônia, onde a Igreja Católica havia se mantido firme e lutado por seus direitos ao longo dos anos. A Igreja polonesa foi ainda mais encorajada pela eleição do primeiro papa polonês em 1978. Um governo baseado num partido de classe proletária altamente católica (Solidariedade) chegou ao poder em 1989 e começou a desmontar o sistema marxista. As igrejas também tiveram um papel importante nas outras revoluções, como os cultos de oração e passeatas à luz de velas na Alemanha Oriental e o apoio crucial do cardeal Tomasek à revolta na Tchecoslováquia e o corajoso pastor reformado Laszlo Tökes que deu início à resistência romena contra o governo brutal de Ceausescu. As leis religiosas nada populares foram abolidas em

todos os países, inclusive na Rússia. As pessoas passaram a ter o direito de cultuar livremente e as igrejas recobraram o controle de suas propriedades confiscadas. É certo que alguns argumentaram que as revoluções não precisaram das igrejas. Como o governo comunista não podia mais suprir as necessidades econômicas dos cidadão ou depender do apoio de tanques soviéticos, o povo poderia ter-se manifestado por conta própria. Mas essa idéia ignora as condições históricas existentes. O Cristianismo era a única “oposição” por assim dizer, que havia sido permitida dentro do bloco soviético e os cristãos, com sua visão de mundo diferente daquela dos marxistas, tinham bases para uma ação ética. Além disso, tendo em vista que os governos haviam repudiado a religião, não podiam procurar na Igreja a legitimação como fizeram ditadores de outros partes do mundo. Por fim, as igrejas eram parte integrante dos países pois compartilhavam da evolução histórica dessas nações. Os comunistas argumentavam que a unidade humana estava nas classes, mas na verdade a unidade podia ser encontra na família e nação. Quando foi seriamente testada, a ideologia marxista fracassou.

O movimento ecumênico Mesmo antes da Primeira Guerra Mundial os protestantes da

Europa e América do Norte já pensavam na cooperação cristã em âmbito internacional e nacional e as primeiras tentativas de união aconteceram depois da Segunda Guerra com o “movimento ecumênico”, termo que se refere à ampla gama de iniciativas no sentido de reintegrar o Cristianismo. Entre os primeiros exemplos de empreendimentos cooperativos podemos citar as sociedades bíblicas, a ACM, grupos cristãos estudantis e o Esforço Cristão. Depois de 1900 os concílios nacionais e regionais das igrejas começaram a se organizar. Os primeiros foram os da Federação Protestante da França, formado em 1905 e o Concílio Federal das Igrejas de Cristo na América, fundado em 1908 e reestruturado como Concílio Nacional de Igrejas em 1950. Concílios Nacionais Cristãos foram criados na Índia, China e Japão em 1922 e na Coréia em 1924. A Igreja Evangélica na Alemanha (1922) e o Concílio Britânico de Igrejas (1942) foram organizações nacionais importantes para a Europa. Em 1948, havia trinta concílios nacionais em todo o mundo e em 1990 o número já havia alcançado a casa dos noventa. Depois da Segunda Guerra, formaram-se vários concílios regionais. O primeiro deles, a Conferência de Igrejas do Leste da Ásia (que mais tarde mudou de nome para Conferência Cristã da Ásia) foi formado em 1959, sendo D. T. Niles (1908-70) do Sri Lanka seu primeiro secretário geral. Um evangelista da Igreja

Metodista, ele era um brilhante organizador e trabalhador incansável em prol das causas ecumênicas. Outros grupos regionais incluiram a Conferência de Igrejas Européias (1959), a Conferência de Igrejas de Toda a África (1961), a Conferência Pacífica de Igrejas (1966), a Conferência Caribenha de Igrejas (1973), o Concílio de Igrejas do Oriente Médio (1974) e o Concílio Latino-Americano de Igrejas (1982). Todos eles almejavam ajudar as igrejas divididas a entenderem-se e a trabalhar juntas, mas não esperavam que os membros aceitassem uma posição doutrinária comum ou abrissem mão de qualquer autonomia. Uma outra forma de cooperação ecumênica ocorreu dentro de grupos denominacionais específicos. A primeira foi a das Conferências de Lambeth, reuniões consultivas de bispos da família anglicana de igrejas que tiveram início em 1867 e tem sido realizadas a cada dez anos desde então. A Aliança Mundial de Igrejas Reformadas (1970) foi resultado da união de uma agência criada pelas igrejas presbiterianas britânicas e norte-americanas em 1875 com o Concílio Congregacional Internacional. A Aliança Mundial Batista foi formada em 1905 e concentrava-se na comunhão e em programas nos quais os batistas podiam oferecer apoio mútuo. A Federação Mundial Luterana foi fundada em 1947 tendo como base uma organização anterior conhecida

especialmente por suas iniciativas assistenciais. O Conselho Mundial Metodista foi criado em 1951 como sucessor de uma conferência ecumênica que vinha se encontrado a cada década desde 1881. A maioria deles entrou num relacionamento consultivo através do WCC - World Church Council [Concílio Mundial de Igrejas] e são conhecidas como “Sociedades Cristãs Mundiais”. O CRISTIANISMO COMO FÉ GLOBAL (Dados de 1993) População mundial (total) -------------------------------------------------------------------------------------

5.575.954.000 -------------------------------------

População mundial por religião Cristãos (de todos os grupos) Não-cristãos

1.899.751.000

Muçulmanos Sem religião

1.014.372.000

Hindus

912.874.000

Budistas

751.360.000

Ateístas

334.002.000

Novas religiões

241.852.000

Religiões tribais

123.765.000

Sikhs

19.853.000

Judeus

18.153.000

Religiões menores ou não classificadas Total Total percentual de cristãos na população mundial -------------------------------------------------------------------------------------

190.234.000 3.706.202.000 34% -------------------------------------

Membros por bloco eclesiástico Anglicanos (Episcopais) Católicos Romanos (incluindo Uniatas) Protestantes Protestantes periféricos

55.974.000 1.020.804.000 342.696.000 20.020.000

Ortodoxos (todos os grupos)

185.568.000

Cristãos nativos não-brancos

161.873.000

Crentes secretos ou não classificados

112.816.000

-------------------------------------------------------------------------------------

-------------------------------------

Porcentagem de cristãos por área geográfica África

16.6%

Ásia Oriental

6.2%

Europa

24.1%

Norte da Ásia (antiga União Soviética)

6.7%

América Latina

25.3%

América do Norte

11.6%

Sul e Sudoeste da Ásia

8.4%

Oceania

1.1%

Fonte: David B. Barret, "Annual Statistics Table on Global Mission - 1993", International Bulletin of Missionary Research 17 (January 1993), 23.

A iniciativa mais enérgica em busca de unidade foi a criação de igrejas unidas de diferentes tradições confessionais. Grande parte dessas uniões surgiu depois de longos períodos de negociação e planejamento. Mas uma exceção, a Igreja Unida de de Cristo no Japão (Kyodan), foi resultado de uma ordem do governo em 1941. A maior iniciativa do século 20 foi a Igreja Unida do Canadá (1925), na qual juntaram-se congregacionalistas, presbiterianos e metodistas. Esses mesmos três grupos formaram a Igreja Unida da Austrália em 1977. Também foram de grande importância a Igreja do Sul da Índia (1947) e a Igreja do Norte da Índia (1970), que incorporaram anglicanos, metodistas, congregacionalistas e presbiterianos. A principal figura que deu início ao movimento responsável por essas uniões foi V. S. Azariah (1874-1945), o primeiro bispo indiano da Igreja Anglicana, personagem memorável da história da Igreja da Índia.

Desde 1962 a Consultoria sobre União de Igrejas tem explorados possíveis caminhos para uma Igreja unificada nos Estados Unidos. A iniciativa ecumênica mais importante foi o Concílio Mundial de Igrejas. Sua raízes encontram-se em três organizações anteriores. Primeiro o Concílio Missionário Internacional, formado em 1921, institucionalizou a idéia da Conferência de Edinburgo e realizou grandes convenções em Jerusalém (1928) e Madras (1938) para coordenar e incentivar a obra missionária. Em segundo lugar, a Conferência Mundial de Fé e Ordem encontrouse em Lausanne em 1927 e promoveu o diálogo teológico sobre questões que dividiam a Igreja como o batismo, a eucaristia, os ministros ordenados, credos e confissões, a autoridade das Escrituras, formas de culto e Eclesiologia. Em terceiro lugar, a Conferência Universal Cristã sobre a Vida e o Trabalho foi inspirada pelo arcebispo luterano de Uppsala, Nathan Söderblom (1866-1931). Em 1925 ele convocou uma reunião para discutir as questões sociais em Estocolmo e buscar a aplicação do modo de vida cristão aos problemas contemporâneos. Uma segunda Conferência de Vida e Trabalho em Oxford em 1937, adotou uma declaração teológica que tratava do papel do cristão no mundo moderno. A Fé e Ordem encontrou-se em Edinburgo naquele mesmo ano e esclareceu vários pontos relacionados à unidade cristã.

O mais importante foi que estas últimas decidiram criar uma assembléia representativa de igrejas. Em 1938 um comitê temporário foi escolhido para formar o Concílio Mundial de Igrejas, tendo como presidente o arcebispo anglicano William Temple e Willem A. Visser „t Hooft (1900-85) da Holanda como secretário geral. Uma assembléia fundadora foi planejada para 1941, mas a guerra alterou os planos e Visser t‟ Hooft dirigiu a iniciativa ecumênica de Genebra. Assim que a paz retornou, continuou o planejamento e a reunião de abertura aconteceu em Amsterdã em 1948. Assembléias subseqüentes foram realizadas a cada sete a oito anos. Apesar do Concílio Missionário Internacional ter continuado como uma organização separada, ele finalmente uniu-se ao WCC em 1961. Durante a guerra, a recém-formada organização ecumênica foi envolvida no movimento anti-Hitler. Dietrich Bonhoeffer estava trabalhando como mensageiro dos conspiradores que planejavam dar um golpe no Führer e encontrou-se com vários líderes ecumênicos, mantendo-os informados dos acontecimentos na Alemanha. Porém, o governo britânico ignorou os pedidos de ajuda feitos através desses contatos. O envolvimento de Bonhoeffer nesse movimento acabou custando-lhe a vida. Decidiu-se que o WCC seria uma “comunhão de igrejas que aceitam nosso Senhor Jesus Cristo como Deus e Salvador”. Não

seria uma “superigreja” mas um instrumento através do qual as igrejas poderiam dar testemunho conjunto de sua lealdade a Cristo, buscar a unidade que ele deseja para sua Igreja (Jo 17.11) e cooperar em questões de interesse geral. Para alcançar esse objetivo o WCC desenvolveu uma estrutura complexa. Também cresceu rapidamente, passando de 147 membros em 1948 para 311 igrejas em 100 países em 1991. Não era apenas uma instituição protestante pois as igrejas ortodoxas gregas, russas e orientais também participaram, bem como algumas igrejas independentes africanas. Apesar de seu conceito de Igreja impedir que se tornassem membros, os católicos romanos participaram de programas do WCC. O entusiasmo pelo Ecumenismo em geral e o Concílio Mundial em particular eram tidos em alta consideração em muitos meios, mas o movimento também já foi criticado. Do ponto de vista teológico, alguns apontaram para as idéias erradas, limitadas e incoerentes do que vinha a ser Ecumenismo e os cínicos sugeriram que o movimento era mais uma jogada política diante das congregações e fundos cada vez menores. A unidade foi exaltada às custas da verdade, colocou-se mais ênfase na ação social do que nas questões doutrinárias, minimizando a importância de se proclamar o evangelho e enfraquecendo o testemunho cristão através de diálogos com outras religiões.

Outros criticaram a teologia “liberal” do WCC, o número excessivo de burocratas que eram “profetas” de um único assunto e não tinham experiência no trabalho pastoral, o posicionamento político vago e incoerente, o desperdício de tempo e dinheiro em conferências internacionais.

O ressurgimento evangélico Entre os fundamentalistas americanos, cresceu o sentimento de que deveriam cooperar uns com os outro, mas viam o Concílio Federal com uma organização totalmente modernista. O primeiro passo foi dado por Carl McIntire, que nasceu em 1906, estudou com J. Gresham Machen e seguiu seu mentor e outros quando estes deixaram o Seminário de Princeton. Quando desafiaram a Igreja Presbiteriana dos EUA ao formar uma junta de missões independente, foram expulsos do ministério. Então, McIntire rompeu com seus colegas por causa de questões de pré-milenismo e estilo de vida e criou uma nova denominação e seminário. Em 1941, organizou o ACCC - American Council of Christian Churches [Concílio Americano de Igrejas Cristãs], cujas bases teológicas eram o fundamentalismo e o exclusivismo separatista. Nenhuma denominação ou igreja individual podia juntar-se ao ACCC a não ser que renunciasse formalmente o modernismo e cortasse todos os laços com o Concílio Federal.

Uma outra abordagem à cooperação evangélica transdenominacional foi a de J. Elwin Wright (1896-1966). Em 1929 ele formou a Sociedade da Nova Inglaterra, cujo programa cooperativo incluía um ministério no rádio, educação cristã, livrarias e conferências bíblicas. Ele urgiu os representantes de quase quarenta denominações reunidos em St. Louis em 1942 a formar a NAE - National Association of Evangelicals [Associação Nacional de Evangélicos]. Eles adotaram uma declaração de fé conservadora mas rejeitaram o pedido de McIntire para que se juntassem ao seu concílio separatista (o ACCC). Ao invés disso, optaram por uma sociedade para ações unificadas em campos como a evangelização, a transmissão por rádio, missões estrangeiras e relações entre Igreja e Estado. A NAE assumiu uma postura separatista no sentido de que as denominações que eram parte do Concílio Federal (depois chamado de Nacional) não podiam candidatar-se à afiliação, sendo que esse requisito não se aplicava a indivíduos ou congregações. Além disso, organizações pentecostais e da santidade também podiam se afiliar. As diferenças entre os dois grupos eram claras e os encontros de McIntire e do ACCC atacaram mordazmente a NAE por sua posição “transigente” e “inclusiva”. Devido ao seu próprio negativismo e anti-liberalismo a NAE não conseguiu atrair muitos que poderiam ser definidos como evangélicos, como as igrejas

mais conhecidas e das denominações negras. Na verdade, as grandes denominações conservadoras — a Convenção dos Batistas do Sul, Igreja Luterana-Sínodo de Missouri e Igrejas de Cristo — não se afiliaram. Porém, grupos secundários como A Associação Evangélica de Missões Estrangeiras, Radiotransmissores Nacionais Religiosos, Comissão de Assistência Mundial e Associação de Imprensa Evangélica ajudaram a realizar a visão cooperativa. Mais importante ainda foi o surgimento de uma nova geração de intelectuais fundamentalistas. Muitos deles, tendo se formado em importantes universidades, começaram a ser ouvidos nos meios teológicos e acadêmicos. O Fuller Theological Seminary, fundado em 1947, era o centro desses novos estudiosos e o crescimento acelerado das faculdades e seminários refletiu uma sede de ensino entre os evangélicos. Novas sociedades acadêmicas foram formadas para representar essa visão de mundo, incluindo a Afiliação Científica Americana em 1941 e a Sociedade Evangélica Teológica em 1949. Em 1947 o jornalista e teólogo de 34 anos, Carl F. H. Henry, publicou The Uneasy Conscience of Modern Fundamentalism [A Consciência Inquieta do Fundamentalismo Moderno], que desafiava as igrejas conservadoras a irem ao encontro dos problemas que confrontavam a mente e a sociedade modernas.

Henry e outros argumentavam que o Fundamentalismo, apesar de afirmar a integridade do Cristianismo ortodoxo diante dos desafios modernos, havia perdido seu caráter profético e passado a ser uma ameaça para a fé histórica. Eles o culpavam de simplificar em demasia questões teológicas complexas, separar a fé do indivíduo de sua vida diária, ser anti-intelectualista e ter um caráter belicoso e negativo. Afirmavam que, na mente popular, o Fundamentalismo havia se tornado repleto de conotações ruins e as contribuições positivas porventura realizadas num período crítico da Igreja haviam sido esquecidas. O “novo evangelicalismo”, um termo criado por um de seus fundadores, Harold J. Ockenga (1905-85), representava uma força vital do Protestantismo americano. Em uma década havia alcançado uma posição de liderança. Um símbolo dessa escalada foi a fundação da revista Christianity Today em 1956, tendo Henry como seu editor. Essa visão de unidade que os novos evangélicos expressavam era uma iniciativa de cooperação realizada por pessoas de pensamento semelhante em áreas como evangelização, educação e ação social e não uma fusão de denominações ou um ecumenismo abrangente. Sua estratégia era de “infiltração”, não separação e iria ministrar a todas as igrejas e influenciá-las através da aplicação da verdade cristã a todas as fases da vida.

A personalidade mais relevante que comunicou a idéia de um evangelicalismo mais amplo foi William F. “Billy” Graham. Nascido em 1918, converteu-se numa reunião evangelística e estudou em Wheaton College. Em 1943 começou o ministério trabalhando para a MPC - Mocidade Para Cristo, uma das maiores organizações do novo evangelicalismo e identificou-se com a NAE e sua posição intermediária entre o negativismo fundamentalista e a heresia modernista. Seu chamado era claramente para a evangelização de massas, tornando-se uma figura nacional depois de uma cruzada em Los Angeles em 1949 e ganhando renome internacional com sua campanha em Londres em 1954. Na metade da década de 50 já não havia a quem compará-lo nesse campo. Em seus primeiros anos ele demonstrou características de Fundamentalismo americano — uma teologia conservadora ligada a uma filosofia política e social que enfatizava a ética de trabalho, o patriotismo, o papel central da religião na vida pública, papéis tradicionais dentro do lar e nos relacionamentos familiares, uma defesa nacional forte e a rejeição da ideologia estrangeira comunista. Porém, Graham possuía uma flexibilidade excepcional e foi capaz de mudar à medida em que os tempos mudavam. Apesar de, no fundo, ser um humilde rapaz do interior, era capaz de relacionar-se com os mais altos membros do governo e do mundo

dos negócios. Seus contatos com eles e inúmeras viagens ampliaram sua visão de mundo. Sua ênfase no “evangelização cooperativa”, isto é, no apoio ecumênico local para suas várias cruzadas enquanto mantinha o funcionamento com firmeza nas mãos de sua organização e de outros evangélicos, tudo isso contribuiu imensamente para seu sucesso. Mas também lhe conferiu uma persistente inimizade com os fundamentalistas separatistas. Além disso, ele amadureceu em sua visão das questões sociais, abandonando em primeiro lugar a segregação racial que havia aprendido como tantos outros do sul do país e, mais tarde, moderando seu anti-comunismo depois de visitas à Europa oriental. Também passou a perceber a necessidade do desarmamento nuclear e de abrir mão de seu antigo superpatriotismo. O mais extraordinário, porém, foi sua capacidade de criar uma ponte sobre o abismo que separava os evangélicos das outros expressões de fé cristã, chegando até a comparecer a eventos do Concílio Mundial e estabelecer uma relação cordial com o papa João Paulo II. Graham também promoveu o Ecumenismo entre os evangélicos. Ele não apenas os reuniu em suas cruzadas locais como também foi o principal motivador do lançamento da revista Chrisitianity Today. Sua organização patrocinou congressos sobre evangelização, começando com uma reunião em Berlim em 1966,

sendo que todos esses eventos incluíam uma vasta gama de participantes. Foi facilitador do Congresso de Lausanne sobre Evangelização Mundial em 1974 e sua reunião de acompanhamento em Manila no ano de 1989. Também realizou conferências de treinamento para evangelistas itinerantes em Amsterdã em 1983 e 1986. Essas reuniões, enfatizando a importância do esforço cooperativo em escala global para alcançar homens e mulheres para Cristo, incluíam em sua visão não apenas os ensinamentos bíblicos mas também a preocupação social. O evangelicalismo americano deu origem a inúmeras instituições evangelísticas, missionárias, educacionais e de assistência social que funcionam a nível interdenominacional e muitas vezes internacional. A organização World Vision [Visão Mundial], por exemplo, foi fundada em 1950 por Robert “Bob” Pierce (1914-78) para ajudar órfãos coreanos e hoje está entre as maiores organizações humanitárias do mundo. O InterVarsity Christian Fellowship [Aliança universitária cristã], que teve origem na Inglaterra e depois passou para o Canadá em 1928 e Estados Unidos em 1940, tem sido uma das grandes forças no incentivo à evangelização e interesse em missões estrangeiras junto a estudantes. Uma organização associada, a International Fellowship of Evangelical Students [Aliança internacional de estudantes evangélicos], formada em 1947, auxilia e encoraja o

trabalho com estudantes nativos em 130 países. Um ministério com estudantes de igual importância é a Campus Crusade for Christ International [Cruzada Estudantil], fundada em 1951 e que também trabalha em âmbito global. O Comitê de Lausane para Evangelização busca, através de conferências, publicações e contatos, ser um catalisador e facilitador da evangelização mundial. O crescimento evangélico não foi apenas um fenômeno americano. Na Grã-Bretanha, durante os anos entre as duas grandes guerras, a divisão entre conservadores e liberais não era tão hostil como na América. Os conservadores estavam envolvidos na estrutura institucional das igrejas, onde sua voz era ouvida. Alguns conservadores moderados como o batista W. Graham Scroggie (1877-1958) e o congregacionalista G. Campbell Morgan (1863-1945), haviam visitado a América e voltado lamentando-se do estrago que o Fundamentalismo havia feito ao evangelho. Tendo em vista que a separação entre liberais e conservadores britânicos não foi absoluta e os evangélicos estavam ampliando sua própria visão das questões teológicas, o evangelicalismo britânico era de caráter bastante diferente. Assim como seus colegas na América do Norte, o InterVarsity Fellowship (hoje chamado de Universities and Colleges Christian Fellowship), formado em 1920, estimulou o

avanço do evangelicalismo conservador depois da Segunda Guerra. Entre seus empreendimentos estava a criação de associações de profissionais cristãos, a fundação da Tyndale House em Cambridge em 1945, como um centro para estudos bíblicos, a fundação do London Bible College em 1954 a fim de treinar pessoas para o trabalho cristão e a publicação de literatura cristã acadêmica. Dentro da própria Igreja da Inglaterra, o líder do movimento que trouxe o Cristianismo evangélico de volta para a linha principal em termos de vida e pensamento foi John R. W. Stott. Nascido em 1921 e educado em Cambridge, ele trabalhou na All Soul‟s Church em Londres, onde teve um ministério notável entre 1945 e 1975. Através de suas palestras e escritos tornou-se conhecido em todo o mundo como um grande evangelista apologista e professor da Bíblia. Foi o organizador do Primeiro Congresso Nacional Evangélico Anglicano em Keel em 1967, um acontecimento que teve impacto decisivo sobre a renovação do evangelicalismo dentro da Igreja. Entre outras figuras conhecidas do evangelicalismo britânico estão o eminente líder anglicano e estudioso de Lei Islâmica, Sir Norman Anderson; o estudioso do Novo Testamento, F. F. Bruce; o estudioso do Antigo Testamento, D. J. Wiseman; e o pregador D. Martyn Loyd-Jones. Além disso, o TEAR - The Evangelical

Alliance Relief Fund [Fundo para a Assistência da Aliança Evangélica], criado em 1968, tem se tornado uma importante agência de assistência social, enquanto o Projeto Shaftesbury incentivou o pensamento e a ação no meio social. Na Alemanha, o número de evangélicos era pequeno se comparado com os Estados Unidos e Grã-Bretanha, mas as igrejas livres e a Aliança Evangélica promoveram a obra evangelística e nos anos pós-guerra cresceram os esforços realizados por estes e muitos outros grupos. Billy Graham foi à Alemanha em várias ocasiões e suas reuniões atraíam enormes multidões. O pregador itinerante Anton Schulte, Ulrich Parzany da ACM alemã, o Bispo Rolf Scheffbuch da Igreja protestante de Württemberg e o Dr. Theo Lehmann, o principal evangelista de jovens na antiga Alemanha Oriental, tornaram-se figuras respeitadas do evangelicalismo alemão. A Rádio TransMundial começou a operar na Alemanha em 1961 e tornou-se uma importante organização cristã. Além disso, evangélicos alemães patrocinaram uma convenção nacional bienal criada para ser um contrapeso da Kirchentag (Assembléia da Igreja) das igrejas tradicionais.

Novas correntes nas missões cristãs Nos anos entre as duas grandes guerras o entusiasmo pelas missões foi ficando cada vez menor. Muitos ainda pensavam em

termos de “cristandade”, isto é, a idéia de se criar uma civilização global cristã tendo a Igreja como centro religioso em torno do qual as nações e povos se uniriam. Ainda assim, a maré de crescentes expectativas dentro do mundo não-ocidental fluiu para uma direção bem diferente. Eles desejavam acentuar suas próprias tradições culturais dentro de uma estrutura democrática e um Cristianismo expansionista só podia ser mantido através da coerção. Críticos liberais negaram que o Cristianismo podia afirmar ser o único verdadeiro enquanto todas as outras religiões eram falsas e sugeriu que essa era uma forma de Imperialismo cultural. Missionários das principais igrejas tiveram grande dificuldade em se adaptar a essa nova situação, enquanto os fundamentalistas continuaram a interpretar o chamado para missões como o ato simples e não-ambíguo de salvar almas, ignorando as questões sócio-políticas. Suas missões cresceram mas perderam impulso e na década de 1930 estavam passando por um forte declínio em termos de voluntários e fundos. Até mesmo o SVM - Student Volunteer Movement [Movimento Voluntário Estudantil], antes tão vibrante, haviam enfraquecido. Algumas vozes influentes na Igreja questionaram se as missões sequer tinham um futuro, como ficou evidente no relatório de uma comissão liderada pelo filósofo da religião de Harvard William Ernest Hockning (1873-1966) publicado em 1932. Com o

título Re-Thinking Missions: A Laymen’s Inquiry After One Hundred Years [Repensando as Missões: O Inquérito de Leigos depois de Cem Anos], ele argumentava que os missionários deveriam procurar ligar sua fé às características comuns que podiam encontrar em outras religiões não-cristãs e que deveria haver maior unidade nas atividades missionárias tanto entre missões como também com membros de outras religiões. O objetivo não deveria ser a criação de igrejas institucionais nos campos estrangeiros, mas de permear a sociedade com ideais criativos e, a seu tempo, formar uma união internacional na qual cada religião encontraria seu lugar apropriado. Os fundamentalistas viram isso simplesmente como mais uma prova de que o modernismo estava destruindo as missões, apesar de muitos missionários na verdade serem bastante conservadores. Muitas figuras proeminentes se encaixavam nessa categoria: o batista e professor de Yale, Kenneth Scott Latourette (1884-1968), principal historiador de missões; Robert E. Speer (1867-1947), que trabalhou durante quarenta e seis anos como secretário da Junta Presbiteriana de Missões Estrangeiras; Samuel Zwemer (1867-1952), o grande obreiro entre árabes muçulmanos e E. Stanley Jones (1884-1973), o renomado missionário metodista na Índia, além de outros. Além disso, como mostra Joel Carpenter, 40 por cento dos obreiros em 1935-36 vinha de juntas de

denominações conservadoras e missões de fé e, em 1952, esse número passava de 50 por cento.1 A criação da Sociedade de Estudantes para Missões Estrangeiras em 1936 e sua ligação com a InterVarsity Christian Fellowship uma década depois também garantiu que a visão que se perdera no SVM ganhasse nova vida nos campi. A mudança na força missionária da Grã-Bretanha e Europa para a América do Norte também foi muito importante. Enquanto o número total de obreiros dobrou durante o século 20, o contingente americano sextuplicou. No começo do século um terço dos missionários protestantes era da América do Norte, mas em 1969 essa proporção havia crescido para 70 por cento. As organizações missionárias de linha ecumênica decresceram enquanto que as evangélicas cresceram a passos largos. O número de sociedades missionárias e agências de apoio também subiu dramaticamente. Foram vários os motivos que levaram ao rápido crescimento da obra missionária americana. Um deles foi a forte ênfase teológica nas igrejas e escolas evangélicas sobre a propagação do evangelho. Outro foi o próprio impacto da Segunda Guerra. A retórica de conflito e conquista prevalecia nos sermões missionários, enquanto muitos que haviam servido nas forças armadas em outros países tinham a visão de voltar e trabalhar entre

os povos desses lugares. O chamado do general Douglas McArthur para que missionários fossem enviados ao Japão também animou as igrejas evangélicas. A introdução da metodologia científica na prática de missões através de disciplinas como a Antropologia cultural, Lingüística, Estatística e Comunicações impulsionou a relação entre pesquisas acadêmicas e trabalho prático. Tecnologias como a aviação e o rádio passaram a ser usadas nessas iniciativas e especialistas dessas áreas juntaram-se a obreiros médicos e educacionais para formar as equipes de apoio. E, por fim, deu-se grande importância à contextualização da mensagem do evangelho, ao crescimento da Igreja e ao progresso do reino de Deus. Essas idéias ressaltaram a crescente influência das igrejas do Terceiro Mundo, que viam as questões sociais, políticas e econômicas como parte vital do processo de evangelização mundial. Elas enfatizaram a abordagem “holística” em missões, na qual uma profunda espiritualidade era combinada por uma preocupação com o bem-estar total do indivíduo. Também foi de grande importância o desenvolvimento de agências emissárias de obreiros no Terceiro Mundo, como as da Coréia e Brasil. O número de missionários de países não-ocidentais cresceu continuamente durante os anos 80 e 90. O papel das missões pentecostais, com grande ênfase ao papel do Espírito Santo na

evangelização é um outro fator importante no Cristianismo do Terceiro Mundo. Teólogos desses países, como o evangélico Orlando Costas (1942-87), muitas vezes acusaram os ocidentais de serem prisioneiros de um individualismo e racionalismo que impedia que a Palavra de Deus operasse com pleno poder e condenavam a “descrença prática” daqueles que se diziam cristãos mas oprimiam o próximo.

Pentecostalismo e movimento carismático Antes da Segunda Guerra, havia a tendência de se associar o Pentecostalismo às classes sócio-econômicas mais básicas e o movimento era colocado à margem do Cristianismo evangélico. Porém, através do trabalho do evangelista Oral Roberts, cuja ascensão à fama foi comparada à de seu contemporâneo Billy Graham e do fazendeiro de gado leiteiro da Califórnia Demos Shakarian, que fundou a Sociedade de Homens de Negócio do Evangelho Pleno em 1951, o Pentecostalismo aproximou-se mais da maioria. Então, o sul-africano David J. du Plessis (1905-87), chamado carinhosamente de “Sr. Pentecostes”, transformou essa obra num movimento internacional. Ele era pastor e secretário geral da maior Igreja pentecostal de seu país e em 1947 começou a trabalhar com a Conferência Mundial Pentecostal, na Suíça. Mais tarde, mudou-se para os Estados Unidos, entrou para a Assembléia

de Deus e envolveu-se no movimento ecumênico. Para o espanto de muitos, ele era um participante freqüente das assembléias do Concílio Mundial de Igrejas e deu início aos diálogos entre pentecostais e católicos romanos. Na década de 1950, vários indivíduos nas igrejas evangélicas e também nas mais tradicionais experimentaram o batismo do Espírito Santo e no começo dos anos 60 a chamada “renovação carismática” já estava crescendo rapidamente. Em 1962 du Plessis organizou o primeiro encontro de carismáticos de tradições nãopentecostais. Em 1967 a renovação espalhou-se para a Igreja Católica Romana, onde o prelado belga Joseph Cardinal Suenens tornou-se seu defensor. Durante os anos 70 e 80 o movimento espalhou-se por todas as igrejas americanas; todas as denominações maiores tinham grupos e conferência de renovação carismática, mas tensão e fragmentação consideráveis ocorreram dentro do movimento. Vários dos principais carismáticos tinham ministérios na televisão, incluindo Rex Humbard, Marion “Pat” Robertson, Paul Crouxh, Jimmy Swaggart, Jim Bakker e James Robinson. O movimento espalhou-se para a Grã-Bretanha onde o clérigo anglicano Michael Harper, um colega de John Stott, recebeu o batismo do Espírito Santo e em 1964 fundou a Fountain Trust, uma agência a serviço da renovação carismática. Também

criou raízes nos meios protestantes e católicos de toda a Europa. Houve uma importante difusão de Pentecostalismo na Ásia, sendo o exemplo mais conhecido David (Paul) Yonggi Cho, um pastor da Assembléia de Deus em Seul, Coréia, que começou uma igreja de tabernáculo em 1958 e a transformou na maior congregação do mundo, a Igreja Yoido do Evangelho Pleno, com mais de meio milhão de membros. Na América Latina o Pentecostalismo tornou-se uma importante força religiosa, mas não manteve o caráter ecumênico que teve na América do Norte e na Europa. Apesar da renovação ter sido abrangente na Igreja Católica latino-americana, com aproximadamente dois milhões de carismáticos no final dos anos 80, a própria hierarquia era extremamente hostil em relação a pentecostais protestantes. Eles eram considerados intrusos proselitistas que “roubavam” os fiéis enquanto os evangélicos viam os católicos como pagãos perdidos num pântano de superstição. Em 1987 estimava-se que entre 80 e 85 por cento dos protestantes eram pentecostais ou carismáticos. A maioria deles pertencia a igrejas nacionais independentes onde contribuíram de modo vital para o Cristianismo latino americano.

Mudanças na Igreja Católica Romana A linha conservadora do papado continuou durante os anos

50, como ficou exemplificado pela atitude unilateral do papa Pio XII em 1950 ao decretar como dogma da Igreja a assunção física da Virgem Maria aos céus. Porém, a maior mudança ocorreu com a eleição de Angelo Roncalli (1881-1963) como papa João XXIII em 1958. Ele escolheu esse nome para repudiar João XXIII que havia sido o papa de Pisa no tempo do Grande Cisma (ver capítulo 9). Esperava-se que ele fosse apenas uma papa de “manutenção”, mas ele surpreendeu o mundo ao anunciar que iria convocar um Concílio Ecumênico (o Vaticano II) e ao criar o Secretariado para a Promoção da Unidade Cristã, a fim de incentivar o diálogo com outras igrejas. Na abertura do Vaticano II em 1962, João disse que queria “atualizar” a Igreja pois a maneira mais eficaz de se combater o erro seria demonstrar a validade de seu ensinamento ao invés de condenar suas falsidades. Seu propósito seria de promover a concórdia e a unidade fraternal de todos. Apesar de João XXIII ter morrido depois da primeira sessão, Paulo VI (196378) acompanhou o concílio até seu encerramento em 1965. As várias decisões do Vaticano II transformaram radicalmente a Igreja Católica. A liturgia deveria ser realizada na língua do povo e não mais em latim. A Igreja teria um caráter mais “colegial”, ou seja, a hierarquia deveria fazer parte do povo de Deus e não se separar dele e os bispos trabalhariam junto com o papa a fim de orientar a Igreja. Do ponto de vista pastoral, a Igreja

estava no mundo e sua missão era servir a toda a família de seres humanos para que pudesse surgir um mundo benevolente. Colocou-se maior ênfase na revelação contida nas Escrituras e na importância do fácil acesso dos fiéis à Bíblia. Além disso, pelo fato de Deus falar através de outras religiões, a Igreja deveria estar em diálogo com elas. Tendo em vista que os judeus tinham um relacionamento especial com a Igreja e não podiam ser culpados pela morte de Jesus, o anti-semitismo foi condenado. Afirmou-se a liberdade religiosa para todos e ninguém deveria ser forçado a aceitar a fé. Admitiu-se que ambos os lados eram responsáveis pela divisão entre os cristãos e encorajou-se a cooperação e o diálogo entre as “igrejas e comunidades separadas” em relação a questões de interesse comum. Depois do Vaticano II, surgiu um novo clima encorajador no relacionamento entre protestantes e católicos, incluindo cultos em conjunto e cooperação ecumênica. Os católicos passaram a ter representantes na Comissão de Fé e Ordem da WCC, a participar de concílios locais das igrejas e de diálogos com outros grupos cristãos desde anglicanos até pentecostais tornaram-se uma atividade regular. Em dezembro de 1965, Paulo VI e o patriarca de Constantinopla, Atenágoras, revogaram as excomunhões de 1054 e as consideraram “apagadas da memória” da Igreja. Seguiu-se então um contínuo diálogo entre ortodoxos e católicos romanos.

Alguns católicos ficaram consternados com as mudanças e procuraram conforto em congregações tradicionais que haviam se separado do resto enquanto outros que queriam ir ainda mais longe formaram igrejas informais ou “domiciliares”. O fato de ainda haver um forte elemento de conservadorismo ficou evidente na afirmação do papa Paulo em 1968 sobre a posição tradicional da Igreja contra todas as formas artificiais de controle de natalidade e na atitude de Roma ao dispensar o teólogo extremamente popular Hans Küng de suas atividades como professor da Faculdade Católica de Tübingen por ser radical demais em suas idéias. O cardeal Karol Wojtyla, que tomou posse como papa João Paulo II em 1978, também assumiu uma postura conservadora em questões polêmicas como o celibato clerical, a ordenação de mulheres e o controle de natalidade. Porém, suas fortes afirmações de liberdade política e religiosa e sua visita à Polônia em 1987 ajudaram-no a dar início às revoluções no mundo comunista. Como o papa mais viajado da História, ele tem sido um proponente firme do Ecumenismo e bastante popular no Terceiro Mundo.

Cristianismo e conflito étnico e racial Um problema sério enfrentado pela Igreja do século 20 foram os conflitos étnicos e raciais, como ilustram os exemplos a

seguir. Apesar de ter características religiosas, a luta entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte na verdade foi luta entre classes e etnias. Os gregos ortodoxos e os turcos muçulmanos entraram em conflito em Chipre, onde o arcebispo Makarios (1913-77) foi escolhido como presidente em 1960. A minoria turca, com medo de ser dominada pelos gregos, recebeu ajuda da Turquia em 1974 e a nação insular foi divida em duas comunidades étnicas. A luta entre judeus e árabes na Palestina também teve uma dimensão religiosa, e continua havendo conflito entre muçulmanos tradicionalistas e coptas no Egito e entre muçulmanos e cristãos na Nigéria e no Sudão. O problema mais sério foi a questão do apartheid na África do Sul. Essa política legal de separação racial supostamente assegurava o pluralismo através do “desenvolvimento separado” ou “coexistência cooperativa” e garantia a paz, liberdade e prosperidade para todos. Na verdade, era um mecanismo que tinha por finalidade manter o poder político e econômico dos brancos às custas da maioria não-branca. É certo que a segregação racial originou-se logo no começo da África do Sul, mas tornou-se muito mais intensa depois da fundação da união em 1910. A política do apartheid nasceu da luta entre as populações de ingleses e africânderes (de língua holandesa) e o partido Nacionalista Africânder subiu ao poder em 1948 usando como plataforma a

promessa de implementar uma supremacia branca. Durante os anos 50 foram aprovadas as leis mais restritivas, incluindo a classificação racial, obrigatoriedade de carteiras de identidade, proibição de casamentos e relações sexuais inter-raciais, segregação das áreas residenciais e públicas e criação de “terrasnatais” onde os africanos negros poderiam exercer seus direitos políticos e ter “independência soberana”. O sufrágio e os melhores empregos eram reservados aos brancos. O exército e a polícia agiam arbitrariamente para fazer cumprir as leis. Essa política transformou a África do Sul num pária internacional ao mesmo tempo que cresceram as oposições internas. Mas a polícia de segurança foi impiedosa tanto com críticos moderados como com grupos de resistência ilegais. As várias igrejas reformadas holandesas eram, de um modo geral, a favor do apartheid, mas durante os anos 80 cada vez mais igrejas voltaram-se contra a política racista. O Conselho Mundial de Igrejas iniciou um PCR - Program to Combat Racism [Programa de Combate ao Racismo] em 1969 a fim de voltar a atenção do mundo para essa situação e levantar fundos para sustentar a resistência. O PCR foi bastante criticado no Ocidente por incentivar a violência. O bispo anglicano Desmond Tutu defendeu o programa ao perguntar por que Bonhoeffer era considerado um santo na Europa por ter tentado matar Hitler e livrar os alemães do

sistema nazista, enquanto os sul-africanos negros que lançavam mão de armas para derrotar o sistema de apartheid eram considerados terroristas. O WCC também fez lobby em favor da suspensão de investimentos na África do Sul e das sanções da ONU contra o regime. Os próprios cristãos da África do Sul estavam na frente de batalha: o bispo Desmond Tutu, o autor Alan Paton, Byers Naudé do Instituto Cristão, o ministro reformado Allan Boesak, Michael Cassidy do Empreendimento Africano, o pastor pentecostal Frank Chikane, o metodista Charles Villa-Vicenio e o historiador da Igreja John de Gruchy. Líderes cristãos fizeram diversas declarações criticando com ousadia o sistema, sendo que a Declaração Rustenburg (1990) foi particularmente notável tendo em vista que foi assinada por representantes de todas as igrejas da África do Sul exceto dois grupos linha-dura de holandeses reformados. Ela afirmava que o apartheid era um pecado e uma heresia e pedia formas concretas de reparação. Finalmente, o regime sul-africano começou a desintegrar o apartheid. A discriminação contra os negros também foi um problema sério nos Estados Unidos e sua luta por justiça foi longa e dura. O movimento de direitos civis nasceu e cresceu na igreja negra. Muitos de seus líderes eram filhos de pastores ou pelo menos haviam sido criados como membros da igreja e muita da

organização e orientação vinha de pessoas das igrejas. A figura central, Martin Luther King , Jr. (1929-68) era um ministro batista. Ele deu o direcionamento teológico do movimento pela liberdade e insistiu que a não-violência e o amor estivessem sempre no cerne da luta. A partir de suas origens espirituais, ele desenvolveu uma visão do sofrimento negro, do significado da labuta histórica e da fé na vitória final de Deus. Apesar de sua mensagem ter encontrado resistência considerável, especialmente na comunidade cristã branca, e de ele ter se tornado um mártir da causa da liberdade, sua visão acabou triunfando. Líderes ecumênicos e tradicionais apoiavam King e o movimento de direitos civis, mas os evangélicas tinha a tendência de ficar para trás. Porém, Billy Graham ofereceu o seu apoio à causa ao começar a realizar cruzadas não-segregadas no sul em 1953 e nomear um afro-americano (Howard O. Jones) para fazer parte de sua equipe de evangelistas em 1957. Também passou algum tempo no Alabama promovendo a reconciliação durante o auge da luta pelos direitos civis naquele estado em 1965 e recusou-se a falar na África do Sul até que fosse permitida uma platéia mista. Durante os anos 60, vozes afro-americanas como William Pannel, John Perkins e E. V. Hill passaram a ser cada vez mais ouvidas nos meios evangélicos.

O vinho velho em odres novos A fé cristã estava constantemente sendo apresentada de novas maneiras. Na África uma rica variedade de igrejas “Independentes” ou de “Instituição Africana” surgiram nas primeiras décadas do século 20, a começar pelas igrejas “Etíope”, “Sionista” e “da cura profética” na África do Sul. Outras incluíam a Igreja Harriste na Costa do Marfim, a Igreja do Exército de Cristo no Delta do Níger, as igrejas Aladura (de oração) entre os Yoruba da Nigéria, a Igreja Kimbanguista no Zaire e a Igreja de Cristo na África em meios aos povos Luo e Quênia. Elas adaptaram características da cultura e formas africanas ao Cristianismo, dando grande ênfase ao Espírito Santo e à sua obra, tinham um caráter fortemente biblicista e um profundo senso de comunidade. Essas igrejas continuam crescendo tão rapidamente que muitos prevêem que a África logo será o continente mais cristão. Nos anos 60 “comunidades de base” populares surgiram entre os católicos romanos na América Latina e a idéia espalhouse amplamente para outras partes, inclusive África e Ásia. Nesses grupos que existem à margem da Igreja institucional, o povo pobre estuda a Bíblia à luz de sua própria experiência de opressão e recria a experiência da Igreja primitiva como comunidade participatória. Essa região também foi o solo de onde germinou a

“teologia da libertação”, uma abordagem complexa e multifacetada à questão da libertação política e econômica. Apesar de seus expoentes mais conhecidos — Gustavo Gutiérrez, José Miranda, Juan Luís Segundo e Leonardo Boff — serem católicos e algumas vezes ter influências da teoria marxista, muitos protestantes latino-americanos como José Miguel Bonino e membros da Fraternidade Teológica Latino-Americana apoiam sua ênfase. Ela valoriza a “praxis”, isto é, a crença de que a teologia surge das experiências dos pobres e de que a Bíblia deve ser aplicadas às situações nas quais as pessoas se encontram.

Novas teologias e abordagens da fé foram abundantes na segunda metade do século 20. Havia teologias geográficas — africana, asiática, coreana, “minjung” (do povo), japonesa “dor de Deus”, “coco” das ilhas do Pacífico e da libertação na América Latina — e diversos tipos de teologias feministas, negras e políticas. Também estiveram presentes movimentos transitórios como o da “Morte de Deus” e Teologia da Esperança. Enquanto o crescimento desacelerou na América do Norte e decresceu na Europa, igrejas estavam se multiplicando na América Latina, África sub-Saara, China, Coréia e outras partes da Ásia e do Pacífico. Porém, havia outras forças em ação que desafiariam a Igreja com a chegada do fim do século.

Epílogo Desafios contínuos aos avanços da Igreja À medida que nos aproximamos do fim deste relato de dois mil anos de história cristã, a Igreja de Jesus Cristo está de pé e mais firme do que nunca. Ela de fato sobreviveu ao teste do tempo. Quanto ao futuro, os cristãos estão convencidos de que Deus continuará a trabalhar no processo histórico. Apesar de não poderem usar as ferramentas da Ciência moderna para demonstrar objetiva e conclusivamente a operação do sobrenatural, ainda assim podem ver o agir de Deus com os olhos da fé. Deste modo, afirmam com segurança que sua Igreja continuará a realizar a tarefa da qual foi incumbida por ele, que é de tornar seu nome conhecido por todos os povos. Ao entrar no século 21, a Igreja enfrenta muitos desafios, mas ao mesmo tempo são oportunidades de testemunhar sobre aquele que chamou a todas as nações e comprou-as com seu sangue.

O desafio da secularização O desafio mais imediato da Igreja é algo com que ela já vem lutando há muito tempo — o processo de secularização. O termo secular vem da palavra latina saecullum ("era" - o mundo considerado de acordo com os aspectos do tempo) e foi usada para

traduzir o termo grego aion, que possuía o mesmo sentido. No Novo Testamento aion refere-se a “era” que foi criada por Deus (Hb 1.2) na qual vivemos e fazemos o bem ao nosso próximo (1Tm 6.17) sendo que não devemos nos conformar com seus valores e padrões (Rm 12.2) e um tempo que terminará com o julgamento de Deus (Mt 24) e que será seguido da era futura na qual os fiéis gozarão a vida eterna (Lc 18.30). Foi o tempo histórico no qual as pessoas viveram a expectativa do Redentor que estava por vir. Porém, a palavra assumiu um significado diferente na Idade Média, quando o “secular” passou a ser identificado com o “temporal”, a era presente em contraste com o “eterno”, a esfera do espiritual, sagrado e divino. Nos tempos modernos, a secularização veio a significar mais do que apenas um processo de viver e agir no mundo presente. É, agora, uma visão de mundo que pode ser chamada de “Secularismo”. Essa é uma filosofia que enfatiza o material sobre o espiritual, o respeito por toda verdade, independente de sua origem, desde que leve ao aprimoramento humano, uma preocupação exclusivamente com coisas desse mundo e não de um outro mundo que possa vir e uma moralidade racional independente de qualquer referência a Deus ou à realidade espiritual. Do ponto de vista secularista, a região convencional fica à margem do funcionamento da ordem social e a sociedade é

governada por sistemas impessoais de controle, tais como a Burocracia, Ciência, Tecnologia e Pragmatismo (qualquer coisa que funcione). Grupos que valorizam o sobrenatural não têm mais permissão de exercer um papel no processo de tomar decisões. Apesar do Secularismo aparentar ser a visão de mundo predominante dos tempos modernos, seu vazio foi demonstrado pela condição deplorável das cidades da Revolução Industrial, pela tirania de Hitler, Stalin e Mao Tse-tung, bem como a criação de armas de destruição em massa que poderiam eliminar toda a vida na Terra. Até mesmo no Ocidente “esclarecido” onde a Ciência produziu os mais altos padrões de vida na História e a separação entre Igreja e Estado permitiu a ambos funcionar de maneira mais autêntica, o Secularismo fracassou na tarefa de oferecer respostas significativas para os problemas básicos do ser humano. A corrupção política, o número crescente de ameaças ao meio ambiente e o perigo de novas doenças mortais como a AIDS ajudaram a destruir a ilusão de otimismo que havia tomado conta do Ocidente no início do século 20. Até mesmo para muitos cristãos o ritmo de vida na era secular deixa muito a desejar. Isso fica evidente no aumento do uso de medicamentos para dormir bem como de outras drogas e pelas estatísticas sobre saúde mental, doenças relacionadas ao estresse e suicídios. Eles não são imunes aos males que assolam os

outros no mundo. Um outro tipo de Secularismo consiste na devoção quase religiosa a coisas ou processos que aparentemente não tem ligação nenhuma com aquilo que é considerado religião. Entre os novos deuses seculares desta era estão a obsessão com a sexualidade, a confiança no Estado-nação, a crença nos processos tecnológicos, a fixação por entretenimento e esportes e o desejo de bens materiais. Apesar de não haver nada intrinsecamente errado nessas coisas, ainda assim qualquer uma delas pode exigir um nível de comprometimento que deve ser reservado exclusivamente para Deus. O ressurgimento de religiões tradicionais em todas as partes do mundo é uma prova de quão vazio é o Secularismo e isso reforça para os cristãos o fato de que não devem ignorar o problema existente e deixar a encargo de outros a tarefa de desafiar o sistema do mundo. Eles não devem se conformar com o espírito destes tempos ou permitir que a Igreja seja manipulada por líderes políticos ou outros que estejam em busca de benefícios temporais. A reação dos crentes ao Secularismo deve ser de tornar a fé relevante a todas as questões da atualidade. Não existe nenhuma esfera da vida que seja isenta do escrutínio de Deus. Por outro lado, não devem procura voltar a imaginários tempos áureos da

cultura cristã ou se retrair em algum tipo de gueto cristão. É preciso que os crentes confrontem o secularismo vivendo no mundo e demonstrando como é possível ter uma vida integrada cujas diferentes partes são unidas pelo conceito de um Deus criador que se preocupa com seu universo e que possibilitou a redenção através da morte de Cristo.

Riqueza e pobreza Um segundo desafio que confronta a Igreja é a extrema divergência entre os ricos e os pobres do mundo de hoje, um contraste que muitas vezes é descrito em termos de divisão entre Norte e Sul. Especialistas em dados demográficos estimam que em 2000 a população do mundo será de 6,3 bilhões de pessoas e em 2025 pode chegar aos 8,5 bilhões. Além disso, 95 por cento do crescimento populacional durante esse período será nos países em desenvolvimento da América Latina, África e Ásia. Em 2025 o México terá tomado o lugar do Japão entre os dez países mais populosos do mundo e a população da Nigéria será maior que a dos Estados Unidos. Apesar do verdadeiro progresso realizado no crescimento econômico, saúde pública e alfabetização no Terceiro Mundo, pelo menos 800 milhões vivem em condições de “pobreza absoluta”. O termo significa uma condição de vida na qual a

desnutrição, o analfabetismo, doenças, habitação inadequada, alta taxa de mortalidade infantil e baixa expectativa de vida estão abaixo de qualquer definição de decência humana. A dura realidade é que o Norte (incluindo a Europa Oriental e excluindo a China), tem um quarto da população mundial e 80 por cento de sua renda, enquanto no Sul (incluindo a China), três quartos da população do mundo vivem com um quinto de sua renda. Além disso, aproximadamente 90 por centro da indústria mundial de manufatura encontra-se no Norte. Enquanto a qualidade de vida no Norte sobe num ritmo regular, no Sul a cada dois segundos uma criança morre de fome ou doença. Ainda assim, o contraste entre a riqueza e a pobreza não corresponde exatamente à divisão Norte-Sul. Muitos dos países da OPEP são ricos enquanto a pobreza pode ser encontrada na América do Norte e Europa. Nos Estados Unidos, 14 por cento das pessoas e um quinto de todas as crianças estão abaixo da definição legal de pobreza e na Grã-Bretanha mais de 10 a 15 por cento estão próximos desse ponto. A realidade é que a grande disparidade entre riqueza e pobreza não existe somente entre as nações mas também dentro delas. Por outro lado, um quinto da população do mundo vive em relativa afluência e consome aproximadamente quatro quintos da produção mundial. Além disso, de acordo com um relatório do

Banco Mundial, no ano de 1988 a “contribuição total” das nações ricas para o Terceiro Mundo foi de $92 bilhões, um número equivalente a menos de 10 por cento dos gastos mundiais com armamentos, mas isso foi mais do que compensado pelo “serviço total de débito” de $142 bilhões. O resultado foi uma transferência negativa de aproximadamente $50 bilhões do Terceiro Mundo para os países desenvolvidos. Essa disparidade entre riqueza e pobreza é uma injustiça social tão grave que os cristãos não podem ousar ignorá-la. Não se deve culpar a Deus pela situação na qual existe o pobre. Ele deu recursos suficientes através do solo e dos mares da terra para atender as necessidades de todos. Também não é culpa dos próprios pobres, tendo em vista que a maioria deles nasceu na pobreza, mas alguns dos líderes de seu governo podem ser culpados de corrupção e incompetência. Além disso, não é necessariamente culpa daqueles que estão no Ocidente. Porém, os cristãos tornam-se pessoalmente culpados quando não fazem nada sobre essa situação. Na história do Homem Rico e Lázaro (Lc 16.19-31) não há nenhuma indicação de que a pessoa rica fosse responsável pela triste situação do pobre. A culpa estava em sua ignorância cega quando ao mendigo em seu portão. Ele não usou sua afluência para suprir as necessidades do homem e permitiu que uma situação

de pobreza extrema privasse Lázaro de sua humanidade. O Homem Rico foi enviado para o inferno não porque explorou o mendigo, mas porque o ignorou. Os cristãos de hoje são tentados a usar a complexidade da economia como desculpa para não fazer nada. O povo de Deus precisa dedicar-se não apenas à evangelização, mas também a atender as necessidades humanas, tanto em seu próprio país como nos confins da terra. Isso explica porque os cristãos no Terceiro Mundo colocam as questões de pobreza e desenvolvimento no topo de suas prioridades teológicas. Alguns cristãos no Norte têm dificuldade de entender que a “libertação” é tão central no pensamento de seus irmãos na América Latina, África e Ásia, mas eles nunca enfrentaram a realidade dura e desumana da pobreza completa. Não deve ser surpreendente que os evangélicos do Sul, com seu forte compromisso com a integridade e autoridade das Escrituras, estejam na vanguarda da iniciativa de se garantir mais justiça para seus vizinhos. Eles simplesmente acreditam naquilo que a Bíblia diz. Essa dedicação à ação nunca foi mais eloqüentemente afirmada do que no Manifesto de Manila, adotado no II Congresso Internacional de Evangelização Mundial em Lausanne no mês de julho de 1989. Com três mil representantes de cento e setenta países, essa reunião nas Filipinas foi a organização mais

representativa de evangélicos a se reunir em um único lugar. As palavras a seguir estão na seção que tem como título “o Evangelho e a Responsabilidade Social”:

Ao proclamar o amor de Deus devemos estar envolvidos no serviço de amor e à medida em que pregamos o reino de Deus devemos estar comprometidos com suas súplicas de paz e justiça... Jesus não apenas proclamou o reino de Deus, mas demonstrou sua chegada através de gestos de misericórdia e poder. Somos chamados a fazer uma integração semelhante entre as palavras e os atos. Num espírito de humildade, podemos pregar, ensinar, ministrar aos enfermos, alimentar os famintos, cuidar dos prisioneiros, ajudar os incapacitados e deficientes, resgatar os oprimidos... Em nossa preocupação pelos pobres, somos perturbados pelo fardo de dívidas do Terceiro Mundo. Também ficamos indignados com as condições desumanas em que vivem milhões de pessoas que foram feitas à imagem de Deus como nós. Nosso contínuo comprometimento com a ação social não é uma confusão do reino de Deus com uma sociedade cristianizada. É, na verdade, um reconhecimento de que o evangelho bíblico tem implicações sociais das quais não podemos escapar. A verdadeira missão... precisa entrar humildemente no mundo de outras pessoas, identificando-se com sua realidade social, sua tristeza e sofrimento e suas lutas por justiça contra os poderes opressores. Isso não tem como ser feito sem sacrifícios pessoais.1

A contínua ameaça de guerra O alívio das tensões internacionais que veio logo depois do fim da União Soviética levou muitas pessoas à complacência com a ameaça contínua de guerra. Mesmo quando dissipou-se o perigo

internacional do Comunismo e, com ele, o medo de um holocausto nuclear, seu lugar foi tomado pelo nacionalismo de fragmentação. Um grande número de mini-nacionalismos demonstrou o grande paradoxos desses tempo, a saber, a dolorosa divisão de um mundo que, em outros aspectos está cada vez mais unificado. Desde o final da Segunda Guerra mais de cem novos Estados declararam sua independência e puseram-se a caminho de construir uma nação. Normalmente instáveis e economicamente fracos, esses Estados enfrentam problemas graves. O surgimento de tantos novo e pequenos países tem estimulado o nacionalismo em grupos minoritários de países maiores e mais antigos. Porém, o fato é que esses movimentos muitas vezes levam à violência e o derramamento de sangue parece não preocupar os líderes dessas novas nações. Como disse um deles: “preferimos um governo próprio cheio de perigo do que a tranqüilidade na servidão”. A maioria desses Estados foi aceita como parte das Nações Unidas, determinando assim um precedente para outros grupos dissidentes de que eles também devem ser ouvidos, mesmo aqueles que vivem em situações que não seriam tradicionalmente consideradas “coloniais”. Até pouco tempo atrás, todos os países existentes haviam declarado que a situação de suas “minorias” étnicas estava sob controle, tendo o caráter de uma questão basicamente interna, mas a natureza da política internacional

encontra-se num ponto em que esse não é mais o caso. Líderes de nacionalidades supostamente “oprimidas” buscam conquistar a simpatia da comunidade mundial por sua luta e alguns chegam a recorrer ao terrorismo para isso. A existência de tantos Estados nacionais é uma questão séria pois encontram-se em condições tão precárias. Tendo em vista sua pequena área territorial e recursos limitados, as esperanças que foram estimuladas pela independência não podem ser alcançadas através do desenvolvimento pacífico. Consequentemente, muitos acabam lançando mão das armas para conseguir o que desejam. Essas guerras podem ser travadas com armas convencionais, mas há sempre a tentação de se fazer uso de combate a nível atômico, biológico e químico (ABC - Atomic, Biological, and Chemical). O uso de armas químicas pelos iraquianos durante os anos 80 mostra como esse é o caso. O que faz disso uma ameaça tão assustadora é a proliferação de armas atômicas. Nos anos 80 apenas cinco países as tinham — os Estados Unidos, a União Soviética, a Grã-Bretanha, a França e a China. No início da década de 90, sabia-se de dezessete outros países que tinham capacidade de produzi-las. Muitos acreditam que na primeira década do século 21, o “clube nuclear” pode vir a ter mais de uma centena de membros. Com tantos países de posse de armas nucleares, a possibilidade de serem usadas numa guerra é

extremamente grande. Isso torna urgente as iniciativas cristãs em favor da paz. Como disse Jesus: “Bem-aventurados os pacificadores, pois ele serão chamados filhos de Deus” (Mt 5.9). Estas e outras declarações de Cristo devem eliminar completamente o uso de força em conflitos entre nações. Mas devido à complexidade dessas situações é possível que alguns cristãos ainda pensem que é melhor aquiecer com a questão armamentista. Certamente não pode haver espaço para armas nucleares nesse tipo de conflito, mas armas convecionais, incluindo aquelas de alta tecnologia, estão a disposição em quantidade assustadora. Um observador imparcial de outro planeta iria concluir que, de fato, a Terra é um lugar estranho. Há um excedente tão grande de armas letais e ao mesmo tempo uma escassez de comida para os famintos e de abrigo para os que não tem um lar. Assim, a tarefa que está confrontando a Igreja é urgente. A Igreja deve ensinar as pessoas a transformar suas espadas em arados e a construir a paz no mundo tendo por base um verdadeiro conhecimento de Deus, um relacionamento de justiça entre as nações e uma preocupação pelos membros mais fracos e vulneráveis da sociedade.

Racismo e etnicidade O racismo e a etnicidade estão intimamente ligados aos

problemas de guerra. Uma definição amplamente aceita dentro da comunidade cristã afirma que racismo é

O orgulho etnocêntrico de seu próprio grupo racial e preferências pelas características distintivas desse grupo; crença de que essas características são fundamentalmente de natureza biológica; [e] fortes sentimentos negativos para com outros grupos que não compartilham dessas características além de um impulso para descriminar e excluir esses grupos de uma participação plena em sua comunidade.2

A etnicidade tem a ver com a identidade cultural ou do grupo. Membros de um grupo étnico (muitas vezes chamado também de “nacionalidade”) compartilham de uma língua e de instituições sociais e culturais em comum e estão conscientes de que essas características os diferenciam de outros grupos. A etnicidade era o que distinguia os hebreus dos outros povos e o conceito de nação é reconhecido no Novo Testamento (At 2.5; Ap 21.24). Os próprios cristãos, porém, constituem uma “nação sagrada” (1Pe 2.9) e na era apostólica as diferentes congregações eram estruturadas geograficamente (como era o caso da igreja de Corinto) e não etnicamente. O racismo e a etnicidade são questões globais e não algo que se restringe ao Ocidente. Antes da expansão européia (1500 d.C.) as diversas raças da família humana viviam num certo isolamento,

mas isso foi sendo gradualmente modificado pelas migrações em massa, tanto livres quanto forçadas, e hoje em dia existe um grau variado de misturas raciais pelo mundo. A mudança no mapa racial do mundo não fez com que os conflitos se tornassem necessariamente inevitáveis. O que na verdade promoveu esses choques foi a expansão européia. Os europeus possuíam superioridade tecnológica e militar e conquistaram vastos territórios coloniais na África, Ásia e Américas, transportando milhões de escravos africanos para o Novo Mundo. Ao longo desse processo, os europeus desenvolveram um mito de superioridade racial para justificar sua conduta. No mundo contemporâneo, as tensões raciais e étnicas vem aumentando constantemente. Os cristãos estão de posse de ferramentas especialmente adequadas para lidar com essas situação, como o apóstolo Paulo mostrou em seu famoso discursos aos atenienses (At 17.22-31). Atenas estava entre as cidades mais racial, étnica e culturalmente diversificadas do Império Romano e ele tratou do assunto de suas diferenças aos olhos de Deus. Seu sermão enfatizou quatro pontos. Primeiro, ele afirmou a unidade da raça humana pois Deus é o Criador, sustentador e Pai de toda a humanidade. Conseqüentemente, o racismo não é apenas tolo, mas também perverso, tendo em vista que viola os propósitos criativos de Deus.

Em segundo lugar, Paulo reconheceu a diversidade das culturas étnicas. Apesar do fato de Deus ter feito todas as nações a partir de um homem, “ele determinou o tempo de cada uma e o lugar onde deveriam viver” (v.26). As Escrituras reconhecem que as culturas enriquecem a vida humana como um todo, assim os cristãos podem afirmar tanto a unidade da humanidade como sua diversidade étnica. Em terceiro lugar, Paulo aceitou a riqueza das várias culturas, ele não transportou essa questão para o âmbito religioso. Ele não aceitou a idolatria na qual estavam baseadas pois Deus não tolera rivais de seu Filho Jesus Cristo, o único Salvador e Juíz da humanidade. Por fim, o apóstolo declarou a importância da Igreja, que seria uma comunidade nova e reconciliada da qual todos poderiam fazer parte (v.34). Como Paulo afirmou em Gálatas 3.28 e Colossenses 3.11, em Cristo “não há judeu nem grego, escravo ou livre”. Nele, todos são um. John R. W. Stott resume com eloqüência o ímpeto do sermão de Paulo aos atenienses:

Por causa da unidade da raça humana, exigimos direitos iguais e respeito igual para as minorias raciais. Por causa da diversidade de grupos étnicos, renunciamos o imperialismo e buscamos preservar toda a riqueza da cultura inter-racial que for compatível com o senhorio de Cristo. Por causa do caráter decisivo de Cristo, afirmamos que a liberdade religiosa inclui o direito de propagar o evangelho. Por causa da glória da Igreja, devemos

procurar nos desfazer de qualquer traço de racismo e transformá-la num modelo de harmonia entre as raças, no qual o sonho multirracial tornou-se realidade.3

O desafio ambiental Talvez o desafio mais sério para a Igreja do século 21 seja o de preservar a Terra. A extensão da destruição ambiental é assustadora, como indicam desastres recentes como o vazamento de gás venenoso de uma indústria química em Bhopal na Índia em 1984, que matou mais de duas mil pessoas e deixou seqüelas em mais de duzentas mil; o acidente na usina nuclear de Chernobyl na Ucrânia em 1986, cujos efeitos letais só serão conhecidos ao longo de décadas; o derramamento de petróleo da Exxon Valdez no Alasca em 1989 e o derramamento ainda maior de petróleo nas Ilhas Shetland. Acontecimentos alarmantes como a destruição da floresta amazônica, a eliminação sistemática das florestas no norte da Índia, o deserto do Saara avançando para o sul, as crises de chuva ácida na Europa e América do Norte, os buracos na camada de ozônio, a eliminação de inúmeras espécies de animais e plantas chamaram a atenção do público para a necessidade de responsabilidade ambiental. Infelizmente, ecologistas seculares acusam a Igreja de ser a principal origem desse problema por causa da afirmação em Gênesis 1.26,28 de que a humanidade deve “subjugar” e ter

“domínio” sobre a terra e toda a vida que nela há. Alguns chegam a afirmar que os cristãos tem uma boa dose de culpa na exploração desordenada do meio-ambiente e pedem uma religião panteísta que junte os seres humanos e a natureza. Os cristãos devem responder a essas acusações mostrando que Gênesis 1 e 2 tem um equilíbrio mútuo. Deus delegou o domínio aos seres humanos mas estes seriam responsáveis perante ele e deveriam cooperar com as forças da natureza. O princípio de que Deus possui a terra e supervisiona o que acontece com ela aparece repetidamente nas Escrituras “A terra é do Senhor” (Sl 24.1), “cada animal na floresta é meu bem como o gado em milhares de colinas” (Sl 50.10) e ele alimenta os pássaros, faz crescer os lírios e veste a erva dos campos (Mt 6.26,28,30). Isso exige a conservação dos recursos da terra, incluindo sabedoria para usar e reciclar produtos manufaturados. Se deseja manter sua credibilidade no mundo de hoje, a Igreja deve promover a consciência da responsabilidade ambiental.

Mulheres no ministério? Nas últimas décadas do século 20, poucos assuntos foram tão controversos nos meios protestantes e católicos como a questão da mulher ser aceita e ordenada como clériga. De um lado, estão aqueles que acreditam que a missão da Igreja de Deus é

prejudicada quando é negada a metade dos membros a oportunidade de exercer os dons que receberam de Deus. Do outro lado estão os que acreditam com igual convicção que o ministério masculino foi instituído pelo próprio Jesus quando chamou doze homens para serem seus apóstolos. Tanto os tradicionalistas quanto os igualitários lançam mão das Escrituras Sagradas e do desenvolvimento histórico da Igreja para apoiar seu posicionamento quanto ao papel da mulher no ministério. Cada um acusa o outro de projetar na Bíblia sua própria visão preconceituosa escolhendo passagens que reforçam sua posição sobre o assunto. No século 19, vários grupos protestantes permitiam a participação de mulheres no ministério público. Entre os exemplos mais conhecidos estavam a metodista americana Phoebe Palmer, Catherine Booth do Exército da Salvação e Hannah Whitall Smith, que ajudou a começar o movimento Keswick. Nos Estados Unidos a maior parte das organizações pentecostais e movimentos da santidade tiveram mulheres como pastoras e evangelistas no início, mas foi só na metade do século 20 que as denominações mais tradicionais começaram, de fato, a ordenar mulheres. Porém, a nível de igreja local, havia uma considerável resistência até pouco tempo atrás. Nos dias de hoje, quase um terço dos alunos de seminários são mulheres.

Os luteranos da Suécia começaram a ordenar mulheres em 1958 e os alemães seguiram o exemplo alguns anos mais tarde. A primeira mulher alemã à exercer o bispado foi nomeada em 1992. A Igreja Reformada e a Igreja da Escócia começaram a aceitar mulheres no ministério nos anos 60 e os batistas e metodistas na Grã-Bretanha e Alemanha, só mais recentemente. Os evangélicos de um modo geral são resistentes a essa tendência, mas alguns deles têm argumentado em favor da ordenação feminina. As tensões mais sérias podem ser vistas nas igrejas Anglicana e Católica Romana. Nos anos 70 tanto a Igreja Anglicana do Canadá como a Episcopal da América começaram a ordenar mulheres e em 1991 a Nova Zelândia nomeou uma mulher para o cargo bispal. Mas as igrejas anglicanas na Grã-Bretanha e Austrália foram divididas por profundas dissensões. Em 1992, a decisão de permitir mulheres no ministério ameaçou dividir a Igreja nos dois países e colocou em sério risco a iniciativa de ecumenistas anglicanos no sentido de estreitar os laços com Roma. O papa João Paulo II adotou um posicionamento intransigente na questão da ordenação feminina, apesar das pressões contrárias de um forte movimento feminista dentro da Igreja Católica. As igrejas ortodoxas orientais nunca estiveram mais firmes do que agora em sua rejeição da ordenação feminina. Pelo visto essa questão ainda continuará a perturbar várias

comunidades cristãs pelo mundo afora por anos ou talvez mesmo décadas futuras. Muitos cristãos devotos, entre eles multidões de mulheres, apegam-se fervorosamente aos antigos costumes quando tudo o que lhes é sagrado parece estar desmoronando. É por isso que igrejas conservadoras que opõem-se rigorosamente à ordenação de mulheres continuam a crescer. A fim de ter sucesso a longo prazo, o novo feminismo cristão terá que demonstrar que a igualdade entre os gêneros contribui para a força moral e espiritual da Igreja.

O ressurgimento das religiões não-cristãs Uma das conseqüências do fim da era imperial tem sido o ressurgimento das religiões não-cristãs. O século 20 começou com o sonho triunfalista de ver o Cristianismo conquistar o mundo e encerra-se com os credos não cristãos na posição ofensiva em muitos lugares. Do ponto de vista cristão, ainda é mais preocupante a forma com que está se organizando o contra-ataque, a saber, o tradicionalismo militante. Um importante projeto de pesquisa iniciado no começo dos anos 90 na Universidade de Chicago tem procurado avaliar as dimensões e impacto a longo prazo desse ressurgimento do tradicionalismo em várias religiões do mundo e os resultados até agora tem sido assustadores. O Hinduísmo, o desafio mais antigo e complexo ao

Cristianismo, afirma ter 751 milhões de fiéis, a maior parte na Índia ou seja, 13 por cento da população mundial. O Budismo, um de seus rebentos, varreu a Ásia no século 3º a.C. e então estagnouse. Mas depois da Segunda Guerra Mundial, o movimento vem passando por um reavivamento. Os budistas hoje têm um total de aproximadamente 334 milhões de adeptos, ou 6 por cento da população mundial e predominam por toda a Ásia oriental, exceto na China. O Islamismo é a fé mais parecida com o Cristianismo no sentido de afirmar ser uma religião universal e, ao mesmo tempo, a única verdadeira religião. Com seu fervoroso zelo missionário, o Islã é a religião que está crescendo mais rapidamente no mundo e afirma ter um bilhão de praticantes do Marrocos às Filipinas ou 18 por cento da população mundial. Mais 12 por cento do mundo identifica-se com vários outras crenças como o Xintoísmo, Jainismo, Sikhismo, Judaismo e religiões tribais africanas. Esse reavivamento de outras religiões vem acontecendo tanto através de iniciativas missionárias como pela determinação política de uma religião oficial do Estado, como é o caso do Paquistão, Irã e Malásia. Os praticantes dessas crenças afirmam que elas são mais relevantes às necessidades das pessoas. Essas religiões apresentam-se como um modo de vida que é sinônimo da cultura. O Cristianismo, por outro lado, é visto como uma religião estrangeira e culturamente distante. Alcançar os seguidores de

crenças não-cristãs é uma tarefa monumental que a Igreja deve encarar. Nas áreas que antes eram dominadas pelo Comunismo, há um enorme vácuo espiritual que tanto os cristãos como seus concorrentes estão tentando preencher. Porém, o Ocidente secularizado está rapidamente tornando-se, ele próprio, um campo missionário. Religiões orientais híbridas competem com muitas outras “novas religiões” pela lealdade de pessoas que não tem outro deus a não ser o Materialismo e isto também é um desafio missionário para a Igreja.

Rumo ao futuro A lista de problemas apresentada acima não é, de forma alguma, completa. Entre outras questões que poderiam ser mencionadas estão a era da informática, o totalitarismo de alguns chefes de Estado, o impacto das tecnologias de comunicação, alienação do mundo moderno, questões familiares (como divórcio, violência contra cônjuges e filhos, homossexualidade e eutanásia), uso de drogas e álcool, analfabetismo e ignorância, direitos humanos, emprego e trabalho e relações industriais. Só de pensar nos múltiplos desafios que se apresentam à Igreja poderia levar ao desespero. Porém os cristãos não devem jamais fraquejar em sua crença de que o poder soberano de Deus está agindo sobre o

mundo. Caso os acontecimentos continuem no rumo que estão tomando no momento, é bastante provável que em algum momento do futuro a Igreja seja obrigada a voltar a uma existência parecida com a que era predominante antes do tempo do imperador Constantino. Ao invés de fingir seu uma extensão do mundo, ela terá que operar como a Igreja de uma minoria e aceitar a posição de antagonismo consciente do mundo. Independente do que reserve o futuro, as palavras de despedida de Jesus aos seus discípulos são tranquilizadoras: Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo passais por aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo (Jo 3.16).

Notas Capítulo 2 1.

Tático, Anais 15.44.

2.

Eusébio, História Eclesiástica 8.2.4-5.

3.

Orígenes, Homilias sobre Levíticos 9.1.3.

4.

Hipólito, Refutação de Toda Heresia 9.12.21-22.

5.

Minúcio Félix, Otávio 8.4

6.

Ibid., 9.4.

7.

Ibid., 31.7-8.

8.

Tertuliano, Apologia 37.4.

9.

Lactâncio, Sobre a Morte dos Perseguidores 44.5.

Capítulo 3 1.

Clemente, Stromateis 6.8.

2.

Tertuliano, Sobre o Corpo de Cristo 5.4.

Capítulo 4 1.

Para lendas cristãs sobre Juliano, ver Robert

Browning, The Emperor Julian (Berkley, Calif.: Univ. of Califórnia, 1976), 225-58. 2.

Hipólito, A Tradição Apostólica 2.20.7-21.1.

Capítulo 5 1.

Bede, Uma História da Igreja Inglesa 2.13.

2.

Citado de uma fonte contemporânea por J. Brondsted.

The Vikings (Londres: Penguin, 1965), 58.

Capítulo 6 1.

Alcuin, carta à Meginfried (796).

2.

Einhard, Life of Chalemagne 28.

3.

Capitulário (820) de Luís o Pio de Capitularia

Requim Francorum 1, 298.

4.

Inocêncio III, carta a Acerbus (1198).

Capítulo 8 1.

Teodoro o Estudita, First Refutation of the

Iconoclasts 2. 2.

John J. Norwich, Byzantium: the Apogee (Nova York:

Knopf, 1992), 321. 3.

T. Fitzgerald, “Toward the Reestablishment of Full

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Capítulo 9 1.

A. G. Dickens, The English Reformation (University

Park, Pa.: Pennsylvania State Univ., 1991), 46-60. 2.

Matthew Spinka, Advocates of Reform from Wyclif to

Erasmus. Library of Christian Classics (Filadélfia: Westminster, 1953), 15:337.

Capítulo 10 1.

Roland H. Bainton, Here I Stand: A Life of Martin

Luther (Nashville: Abingdon-Cokesbury, 1950), 65. 2.

Ibid., 185.

3.

Ibid.

Capítulo 11 1.

Clyde, L. Manschreck, A History of Christianity in

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Capítulo 12 1.

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Capítulo 13 1.

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Capítulo 14

1.

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Blaise Pascal, Pensées, Fragmentos 432-380;

3.

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Capítulo 20 1.

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Capítulo 21 1.

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(Ann Arbor, Mich.: Univ. of Michigan, 1978), 194-97. 2.

Ibid., 221-26.

3.

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Capítulo 22 1.

Ver a discussão em Richard V. Pierard e Robert D.

Linder, Civil Religion and the Presidency (Grand Rapids: Zondervan, 1988), 153-58. 2.

Hitler’s Secret Conversations 1941-1944 (Nova

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Capítulo 23 1.

Joel A. Carpenter e Wilbert R. Shenk, org., Eaarthern

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Epílogo 1.

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Índice de Pessoas à Kempis Abelardo, Pedro Abgar IX Abraão Acácio Adalberto Adam de Bremen Adão Adelaide Adenauer, Konrad

Adolfo, Gustavo (da Suécia) Adriano (Imperador) Africanus, Scípio Ágabo Agostinho de Canterbury Agostinho de Hipona Agripa Agripa II Agripina Agripino Ahlstrom, Sydney E. Ahrun al-Rashid Ahuramazda Aidan Alá Alarico Alberto de Hohenzollen Alberto o Grande Alcuin de York Alemanos Alexander I (czar) Alexander, James Alexander, Robert

Alexandre de Jerusalém Alexandre o Grande Alexandre V (papa) Alexandre VI (papa) Alexandre, Tibério Alexis Alfonso I (rei) Alfredo o Grande Ali (califa) Ali, Hyder Alighieri, Dante Allen, Richard Allen, Roland Alline, Henry Al-Mansur Almeirante Coligny Alsted, Johann Heinrich Alvarez, Francisco Amando de Aquitane Ambrósio Amon Ana Anacleto

Ananias Anás Anderson, Norman Anderson, Rufus André Angelo, Aléxio Aníbal Anne Anselmo de Canterbury Ansgar Antipas Antipater Antônio do Egito Antônio, Marco Apolinário Apolo Apolo de Alexandria Áquila Aquno, Tomás de Arcádio Ário Aristarco de Samos Aristídes

Aristóteles Armínio Arndt, Johann Arouet, Marie Arquelau Artêmis Artur Asbury, Francis Assuero Atargatis Atanásio de Alexandria Atenágoras Átila Átis Augusto (imperador) Augusto, Carlos Augusto, Filipe II Augustus II (eleitor da Saxônia) Aureliano Aurélio, Marco (imperador) Azarias Babai o Grande Bábilos de Antioquia

Baccaria, Cesare Bach, Johann Sebastian Backus, Isaac Bacon, Francis Bacon, Roger Baedeker, F. W. Bakker, Jimmy Bakr, Abu Balfour, Arthur Ball, Hannah Ball, John Baradeus, Jacob Barão de Montesquieu Barclay, Robert Barlaam o Calábrio Barnabé Barnardo, Thomas John Barrabás Barratt, Thomas B. Barth. Karl Basílides Basílio da Cesaréia (o Grande) Basílio II (imperador)

Baur, F. C. Baxter, Richard Bayly, Lewis Beatriz Bebbington, David Becker, Carl Becket, Thomas Bede Beecher, Lyman Belzebu Benedito de Aniane Benedito de Núrsia Benedito XIV (papa) Bengel, Johann Albrecht Bentham, Jeremy Berengar Berenice Bering, Vitus Bernardo de Clairvaux Bernini, Giovanni Lorenzo Berta Beza, Theodore Bismarck

Blackstone, William E. Blanc, Louis Bloodaxe Blumhardt, Johann Christolph Blutooth, Herald Boardman, William E. Boécio Boehme Boff, Leonardo Böhler, Peter Bolena, Ana Bonaparte, Napoleão Bonaventura Bonhoeffer Bonifácio Bonifácio VIII (papa) Bonino, José Miguez Booth, Catherine Booth, Maud Booth, William Borgia, Cesare Borgia, Rodrigo Boris (czar)

Borromeo, Charles Bosco, John Bossuet, Jacques0Bénigne Boussuet Bradford, William Brahe, Tycho Brainerd, David Bramante Bray, Thomas Breese, Phineas F. Brewster, William Broughton, William G. Brown, Ford K. Browne, Robert Bruce, F. F. Brude (rei) Brunelleschi, Filippo Brunner, Emil Bruno, Giordano Bryanm William Jennings Bucer, Martin Buchez, Phillippe Buda

Bull, George Bullinger, Heinrich Bunyan, John Burckhardt, Jacob Burke, Edmund, Burro Bushnell, Horace Buxtehude, Dietrich Buxton, T. Fowel Cabbot, John Caifás Calas, Jean Califa al-Hakim Calígula, Gaio Calisto Callenberg, Johann Heinrich Calov, Abraham Calvino, João Camus, Albert Candace Capadócia, Patriarcas da Capeto, Hugo Capitein, Jacobus

Carey, William Carloman Carlos “o Calvo” Carlos “o Gordo” Carlos “o Simples” Carlos de Anjou Carlos IV Carlos IX (da França) Carlos Magno (Imperador) Carlos Martel Carlos V (da França) Carlos VII (da França) Carmichael, Amy Carpenter, Joel Cartier, Jacques Cary, Lott Cassiano, João Cassidy, Michael Cassiodoro Catarina de Aragão Catherine II (a Grande) Cautes Cautopates,

Cavell, Edith Ceciliano de Cartago Cecílio Celéstio Celso “Chrestus” Cerinto Cerulário, Miguel (Patriarca) César, Júlio Cesário de Arles Chalmers, Thomas Champlain, Damuel Chapman, Wilbur Charles I (da Inglaterra) Charles II (da Inglaterra) Charles XII (da Escandinávia) Chaucer Chikane, Frank Cho, David (Paul) Yongi Christian IV (da Dinamarca) Chrysoloras, Manuel Churchill Churiguera, José

Cibele Cícero Cipriano de Cartago Cipriano de Roma Cirilio de Jerusalém Cirilo (ou Constantino) Cirilo de Alexandria Clarkson, Thomas Cláudio (Imperador) Clemêncio Clemêncio de Alexandria Clemente de Roma Clemente V (Papa) Clemente VIII (Papa) Clemente XI (Papa) Clemente XIV (Papa) Cleópatra (Rainha) Cliver, Robert Clotilda Clóvis Cnut Cobbett, William Coke, Thomas

Coker, Daniel Colbert, Jean Baptiste Coleridge, Samuel Colet, John Colombo, Cristóvão Columba Columbano Comeno, Aléxio Cômodo Conde de Alva Conde de Tilly Confúcio Conrado da Francônia Conrado III Constance Constâncio (Imperador) Constantina Constantino (Imperador) Constantino II (Imperador) Constantino IV (Imperador) Constantino V (Imperador) Constantino VII (Imperador) Cook, James

Cooper, Anthony Ashley Copérnico, Nicolau Cornawallis, Charles Cortés, Hernando Costas, Orlanod Cotton, John. Court, Antoine Cowper, William Cranmer, Thomas Crasso Crisóstomo, João Cristina Cromwell, Oliver Crouch, Paul Crowther, Samuel Ajayi D‟Aubigné, Jean Henri Merle Da Gama, Vasco Da Silveira, Gonçalo Da Vinci, Leonardo Dallington Damásio I de Roma (Papa) Damião, Pedro Daniel

Daniel o Estilita Dante Alighieri Darby, John Nelson Darwin, Charles Davi De Albuquerque, Alfonso De Balboa, Vasco Nuñez De Behaine, Pigneau De Bonald De Brebeuf De Brienne, Loménie De Chantal, Jeanne Françoise De Chateaubriand, François René Vicomte De Cisneros, Ximénez De Corvilha, Pero De Gruchy De Gusmão, Dominique De L‟Incarnation, Marie De La Motte, Pierre Lambert De Labadie, Jean De Lamennais, Félicité De Las Cásas, Bartolomeu De Laval-Montmorency, François Xavier

De Maiosonneuve, Paul De Maistre, Joseph De Médici, Catarina De Médici, Cósimo De Médici, Lourenço De Molinos, Miguel De Monfort, Simon De Nobili, Robert De Paulo, Vicente De Rodes, Alexandre De Salazar, Domingo De Sales, François De Secondat, Charles De Sepúlveda, Juan Guinés De Tocqueville, Alexis De Villegaignon, Durand Debs, Eugene Décio (Imperador) Delp, Alfred Dennis, James S. Dewi (S. Davi) Diana Diaz, Bartolomeu

Diderot, Denis Diocleciano (Imperador) Dionísio Dionísio de Alexandria Dmitri Do Couto, Diogo Dober, J. L. Domiciano (Imperador) Domitila, Flávia Domna, Julia Donatello Donato Drake, Francis Drummond, Henry Drusila Du Plessis, David J. Duchesne, Louis Duff, Alexander Dupleix, Joseph Duvergier, Jean Dwight, Timothy Dyke, Henry Van Eck, John

Eckhart, Johannes (von Hochheim) Eduardo I (da Inglaterra) Eduardo III (da Inglaterra) Eduardo VI (da Inglaterra) Edward, Charles Edwards, Jonathan Edwin Efraim o Sírio Efraim de Edessa Egede Einhard Eisenhower Elagabalo Eleanor de Aquitane Eliot, John Eliot, T. S. Elizabete I (Rainha) Elvídio Emma Engels, Friedrich Epifânio Epíscopo, Simão Erasmo, Desidério

Erasto Ermark Ernesto da Bavária Escariote, Judas Espártaco Estevão Estevão II (Papa) Estílico Estilita, São Simeão Etelberto Eudóxia (Imperatriz) Eurípides Eusébio de Cesaréia Eusébio de Nicomédia Eustóquio Eutiques Eva Exíguo, Dionísio Ezana Fabiano de Roma Fabricius, Johann Philipp Falk, Albert Falk, Johannes

Farel, William Fawkes, Guy Febe Febrônio, Justo Felicitas Félix (Governador) Félix de Urgal Félix, Minúcio Fénelo, François Ferdinando (da Espanha) Féstus Feuerbach, Ludwig Fichte, J. G. Ficino, Marsílio Filipe de Hesse Filipe II (da Espanha) Filipe IV (da França) Filipe o Evangelista Filo Finney, Charles G. Fletcher, John Fliedner, Friederike Fliedner, Theodor

Fosdik, Harry Emerson Fótio Fourier, Charles Fox, George Foxe, John Francis I (da França) Francisco de Assis Francke, August Hermann Franklin, Benjamin Frazer, James Frederico (da Saxônia) Frederico I (da Dinamarca) Frederico II (Frederico o Grande) Frederico III (da Alemanha) Frederico IV (da Dinamarca) Frederico V (da Alemanha) Frelinghueysen, Theodorus Freylinghausen, Johann A. Frobisher, Martin Fronto Frumêncio Frumêncio de Tiro Fry, Elizabeth Gurney

Fuller, Alexander Fuller, Andrew Fundano Gabriel Gaiseric Galério (Imperador) Galilei, Galileu Gálio Gall Gamaliel Garfield, James A. Gaussen, François Gelásio Georg Calixtus George II (da Inglaterra) George III (da Inglaterra) Gerbert de Aurillac Gerhard, Johann Gerhardt, Paul Germano de Paris Geroge I (da Inglaterra) Gerson, John Ghandi, M. K.

Ghiberti, Lorenzo Gibbons, James Cardinal Gillespie, George Giotto Gladden, Washington Gladstone, William E. Godfrey de Bouillon Godwinsoon, Herold Gomar, Francis Gorbachev, Mikhail Gordon, A. J. Gossner, Johann Evangelista Graham, William F. “Billy” Gray, Asa Gray, Robert Grebel, Conrad Gregório (I) o Grande (Papa) Gregório de Nazianzo Gregório de Nissa Gregório de Tours Gregório II (Papa) Gregório IX (Papa) Gregório o Iluminador

Gregório VII (Papa) Gregório XI (Papa) Gregório XV (Papa) Grenfell, Wilfrid, T. Grey, Lady Jane Griffith-Thomas, W. H. Groote, Gerar Grotius, Hugo Grundtvig, Nikolai Gurij Gutenberg, Johann Guthrum Gutiérrez, Gustavo Gutzlaf, Karl Hadle, J. Keir Haimonot, Tekla Halévy, Elie Halley, Edmund Hamilton, Alexander Handel, Frederic Harding, Stephen Harms, Klaus Harnack, Adolf

Harpes, Michael Harris, Howel Hastings, Selina Hastings, Warren Hauge, Hans Nielsen Hawkins, John Headlam, Stewart D. Hebreus, Gregório Bar Hecker, Isaac Heermann, Johann Hegel, Georg W. F. Helena Helena de Tróia Helwys, Thomas Hengstenberg, E. W. Henrique de Navarro Henrique I (da Inglaterra) Henrique II (da Inglaterra) Henrique III (da Inglaterra) Henrique IV (da Inglaterra) Henrique V (da Inglaterra) Henrique V (da Inglaterra) Henrique VIII (da Inglaterra)

Henry, Carl Henry, duque de Guise Henry, Frederick Henry, Patrick Hepburn, James Heracleon Heráclito Herder, Johann Gottfried Heródes Agripa I (o Grande) Heródes Agripa II Herzl, Theodor Heyling, Peter Hideyoshi Hilário de Arles Hilário de Poitiers Hildebrand, Karl Hildrebrando Hill, E. V. Hill, Patrícia Hillel Hiller, Philipp Friedrich Hipólito Hircano, João

Hitler, Adolf Hocking, William Ernest Hodge, Charles Hofacker, Ludwig Hoffmann, Melchior Honório Hooker, Thomas Hooten, Elizabeth Horácio Hósio Howard, John Hromádka, Josef Hsi, K‟ang (Imperador) Hubmaier, Balthazar Hudson, Henry Huernius, Justus Humbard, Rex Humbert of Silva Candida Hus, John Hut, Hans Hutchinson, Anne Hutter, Jacob Iavé

Illyricus, Matthias Flacius Inácio de Antioquia Inácio de Loyola Ingeborg da Dinamarca Inglis, Charles Inocêncio I (Papa) Inocêncio II (Papa) Inocêncio IV (Papa) Inocêncio VI (Papa) Inocêncio VIII (Papa) Inocêncio X (Papa) Irene Irineu Isabela (da Espanha) Isaque Isidoro Ísis Ivan I (da Rússia) Ivan III (da Rússia) Ivan IV (da Rússia, o Terrível) Jacó de Edessa Jagiello Jairo

James I (da Inglaterra, James VI da Escócia) James II (da Inglaterra) Jänicke, Johannes Jansen, Otto Jefferson, Thomas Jerônimo Jerônimo de praga Jesus (Cristo) Jó Jo, Nishima Joana D‟Arc João Batista João Crisóstomo João da Cruz João de Damasco João de Leiden João de Licópolis João de Montecorvino João de Planocarpini João de Salisbury João I (Papa) João II (Papa) João Paulo II

João VIII (Papa) João XII (Papa) João XXIII (Papa) João, o Apóstolo John (da Inglaterra) John, Prester Jones, E. Stanley Jones, Howard O. Jones, John Paul Jones, Samuel “Sam” P. José José de Arimatéia Josefo Joseph II (da Áustria Josué Judas Judas da Galiléia Judas o Zelote Judson, Adoniram Judson, Ann Haseltine Juliano de Eclano Juliano o Apóstata Júlio

Júlio II (Papa) Juno Jurieu, Pierre Justiniano (Imperador) Justino Juvenal Kant, Immanuel Keble, John Kepler, Johann Khomiakov, Alexis Kierkgaard, Soren Kiernander, John Z. King, Jr., Martin Luther Kinglsley, Charles Kipling, Adolf Kipling, Rudyard Klopsch, Louis Knibb, William Knox, John Knute Kruschchev, Nikita Küng, Hans Kutter, Hermann

Kuyper, Abraham Lactâncio Lalibela Lamarck, Jean Lampe, Friedrich Adolf Lanfranc Langton, Stephen Latourette, Kenneth Scott Laud, William Lavigerie, Charles M. Lázaro Leandro Leão de Roma Leão I (Papa) Leão III (Imperador) Leão IX (Papa) Leão V (Papa) Leão VI Leão X (Papa) Leão XIII (Papa) Lehmann, Theo Leibnitz, Gottfried Leland, John

Lênin, V. I. Leônidas Lépido Lessing, Gotthold Ephraim Leszcynski, Filofei Lewis, C. S. Libânio Libério Licínio Lídia Lilburne, John Lino Lisa Lívia Livingstone, David Livingstone, Mary Moffat Livy Lloyd-Jones, D. Martyn Locke, John Lodbrok, Ragnor Lohe, Wilhelm Loisy, Alfred Lombardo, Pedro

Lopez, Gregory Lord Baltimore Lord Herbert Carterbury Lorenzo o Magnífico Lothar (Lothair) Loyola, Inácio Lucas Ludlow, John M. Ludmila Luís a Criança Luis IX (da França) “Luís o Gago” “Luís o Lerdo” Luís o Pio Luis VI (da França) Luís VII (da França) Luis XIII (da França) Luis XVI (da frança) Luis XVIII (da França) Lull, Raymond Lutero, Martinho Lyell, Charles MacArthur, Douglas

Machen, Alexander Madalena, Maria Madame Roland Madison, James Magalhães, Fernando Magno, Alberto Magus, Simon Mahan, Asa Makarios Malan, César Mani Manz, Felix Mao Tse-tung Maomé (Muhammad) Marat, Jean Paul Marcel, Gabriel Marciano Marcílio de Pádua Marcion Margarete de la Motte Guyon, Jeanne Maria Maritain, Jacques Mark, John

Marozia Marquês de Condorcet Marquês de Wesley Marquette, Jacques Marshman, Joshua Martel, Carlos Martin de Tours Martin V Mártir, Justino Marutha Marx, Karl Mary (filha de James II) Mary (Rainha dos Escoceses) Masacchio Materno Mateus, o Apóstolo Mathews, Shailer Matias Matthys, Jan Maurice, Frederick D. Maurício de Nassau Maxêncio Maxmilia

Maxmiliano da Bavária Mayhew, Thomas Mazarin, Jules McAuley, Jerry McCarthy, Joseph McGiffer, A. C. McIntire, Carl McKinley, William A. Melanchton, Philip Melania a Ancião Melânia a Jovem Melodo, Romano Melville, Andrew Menander Menelik I Merrick, Joseph Metódio Meyer, F. B. Middleton, Thomas F. Mieszko Miguel III (Patriarca) Mills, Samuel J. Milner, Isaac

Milner, Joseph Milton, John Mindszenty, Josef Cardinal Miquelângelo Miranda, José Mirandola, Giovanni Picco Della Mitras Mitríadates Moddy, Dwight L. Moffat, Robert Moisés Mônica Monod, Frédéric Montano Montezuma Montverdi Moon, Charlotte (“Lottie”) Diggs More, Hannah More, Sir Thomas Morgan G. Campbell Morosini, Thomas Morrison, Robert Mott, John R.

Mueller, George Mueller, Heinrich Mueller, Henry Melchior Muhlemberg Müntzer, Thomas Murray, Andrew Musa, Mansa Mussoline, Benito Myconius, Oswald Napoleão III Naudé, Beyers Neander, Joachin Neander, Johann August Neesima, Joseph Hardy Nênio Neri, Philip Nero Nestório Nevius, John L. Nevsky, Alexander Newman, John Henry Newton, Isaac Newton, John

Nicolai, Philipp Nicolau I (Czar) Nicolau I (Papa) Nicolau II (Papa) Nicolau V (Papa) Niebuhr, Reinhold Niemöller, Martin Nietzche, Friedrich Nightingale, Florence Nikon Niles, D. T. Niniano Nitschmann, David Norwich, John J. Novaciano Oastler, Michael Oberlin, Jean Frédéric Ockenga, Harold J. Odovacaer Oecolampadius, John Oglethorpe, James Olavo o Coletor de Impostos Oldham, J. H.

Oleg Olier, Jean Jacques Oncken, Johann Gerhard Orígenes Orr, James Osíris Osman Osvaldo Otaviano (Imperador) Otto de Bamberg Otto I (da Alemanha) Otto II (da Alemanha) Otto III (da Alemanha) Otto IV (da Alemanha) Ovídio Owen, John Owen, Robert Pacômio Paine, Thomas Paládio Palamas, Gregory Palas

Paleólogo, Miguel VIII (Imperador) Pallu, François Palmer, Phoebe Pannel, William Parham, Charles F. Parzany, Ulrich Pascal, Blaise Paton, Alan Patrick Patt, William Paula Paulino Paulo de Samosata Paulo III (Papa) Paulo IV (Papa) Paulo o Apóstolo Paulo o Diácono Paulo VI (Papa) Paulo, Sérgio Pedro I (Pedro o Grande) Pedro o Apóstolo Pedro o Heremita Pelágio

Penn, William Pepino I Pepino III Perkins Perpétua Petrarca Philip, John Pierce, Robert “Bob” Pierson, A. T. Pilatos, Pôncio Pio II (Papa) Pio IX (Papa) Pio VI (Papa) Pio VII (Papa) Pio X (Papa) Pio XI (Papa) Pio XII (Papa) Pio, Antônio Pirenne, Henri Pizzaro, Francisco Plácida, Gala Platão Pliny o Jovem

Plótino Plütschau, Heinrich Pobiedonostsev, Constantine Policarpo Pompeu Ponciano Pôncio Pilatos Pontiano Pôntico, Evágrio Pope, Alexander Porfírio Pótino Prester, John Priestley, Joseph Príncipe Henrique (“o Navegador”) Prisca Priscila Ptolomeu I Ptolomeu XII Ptolomeu, Cláudio Pulquéria Purcell, Henry

Pusey, E. B. Quadrato Quaque, Phillip Quenstedt, Johann Andreas Quesnay, François Rafael Raffles, Sir Stamford Ragaz, Leonhard Raikes, Robert Rainha de Sabá Ramus, Petrus Raymond de Toulouse Rauschenbusch, Walter Reccared Reimarus, Hermann Samuel Renan, Joseph Ernest Reuchlin, Johannes Rhenius, Charles Ricardo I (da Inglaterra) Ricardo II (da Inglaterra) Ricci, Matteo Rice, Luther Richelieu, Cardeal

Richter, Julius Riley W. B. Ritschl, Albrecht Roberto da Normandia Robertson, Marion “Pat” Robespierre, Maximilien Robinson, James Robinson, John Roland Rollo Romaine, William Romanov, Michael Roncalli, Angelo Roosevelt, Franklin Rosenius, Karl Olaf Rousseau, Jean-Jacques Rowland, Daniel Rubens, Peter Paul Rudolf de Habesburgo Rufino Rufo Russel, Charles T. Rutherford, Samuel

Sabélio Saccas, Amônio Sadler, Michael Safira Saint Simon, Conde de Saker, Alfred Saladin Salomão Sankey, Ira Sanneh, Lamin São Francisco São Marcos São Maron São Martinho de Tours São Nicolau São Pedro Saraiva, Adrian Satanás Satúrnio de Antioquia Saulo de Tarso Sauma, Rabban Savonarola, Girolamno Schaff, Philip

Scheffbuch, Rolf Schleiermacher, Friedrich Schulte, Anton Schütz, Heinrich Schweitzer, Albert Schwenkfeld, Caspar Scofield, C. I. Scott, Sir Walter Scroggie, W. Graham Scudder, Ida Sophia Scwartz, Christian Friedrich Seeley, J. R. Segundo, Juan Luis Sejano Selwyn, George A Semmel, Bernard Sêneca Serápis Sérgio Sérgius de Radonezh Serra, Junipero Servetus, Michael Severino

Severo, Séptimo Severo, Sulpício Severtus, Alexander Seymour, William J. Shakarian, Demos Sharp, Granville Shaw, George Bernard Sheldon, Charles Sigismund, John Sigismundo Sigismundo III (da Polônia) Silas Silbermann, Gottfried Silvestre II Simão Bar-Jonas Simão bAr-Kochba Simeon, Charles Simons, Menno Simpson Sirício Sisto II (Papa) Slessor, Mary Smith, Adam

Smith, Hannah Whitall Smith, Joseph Smith, R. Pearsall Smith, Rodney “Cigano” Smyth, John Socinus, Flavius Sofia Sofrônio Söderblom, Nathan Soloviev, Vladmir S. Spangenberg, Gottlieb Speer, Robert E. Spencer, Herbert Spener, Philipp Jakob Spittler, Christian Friedrich Spurgeon, Charles Haddon Stalin, Joseph Starck, Johann Friedrich Steinkopf Stephen (Rei magiar) Stephen de Blois Stephen de Cartago Stewart, Lyman

Stewart, Milton Stiles, Ezra Stoecker, adolf Stott, John R. W. Strauss, David Friedrich Strong, Josiah Suenens, Joseph Cardinl Suetônio Suger Sunday, William A. “Billy” Swaggartr, Jimmy Tácito (Imperador) Talleyrand Tamerlane (Timur) Tarásio Tatiano Taylor, J. Hudson]Taylor, Jennie Taylor, Marua Telermann, Georg Philipp Temple, William Tennet, Gilbert Teodora (Imperatriz) Teodorico I

Teodoro de Mopsuéstia Teodoro dos Estúdios Teodósio I (Imperador) Teodósio II (Imperador) Teofano Teófilo (Patriarca de Alexandria) Teófilo de Antioquia Teógenes Terceiro Conde de Shaftesbury Teresa de Ávila Tersteegen, Gerhard Tertuliano Tetzel, Johann Thaumaturgas, Gregoy Tholuck, Friedrich August Thomas, Norman Thompson, Thomas Thorkill the Skullspliter (o Quebrador de Crânios) Thorton, Henry Thorton, John Thrax, Máximo Tiago, o Apóstolo Tibéro

Tiepolo, Giovanni Battista Tifo Tikhon Tillich, Paul Timóteo I Tirano Tirídates Tito Tokes, Laszlo Tomás o Apóstolo Tomasek, Cardeal Toplady, Augustus Torquemada Torrey, R. A. Trajano (Imperador) Trismegistos, Hermes Truchess, Gerhard Truman Trygvesson, Olaf Tsung T‟ai (Imperador) Turretin, François Tutu, Desmond Tyler, Wat

Tyndale, William Tyrell, George Ulfilas Umar Untereyck, Theodor Urbano I (Papa) Urbano II (Papa) Urbano VI (Papa) Urbano VIII (Papa) Urlsperger, Johann Uthman Valêncio Valentiniano Valentiniano III Valentino Valeriano (Imperador) Valignano, Alessandro Vallas, Lorenzo Van Oldenbarneveldt, Jan Van Rijn, Rembrandt Vanderkamp, Johannes T. Vasa, Gustavus Vaz, Joseph

Velasquez, Diego Venn, Henry Venyaminov, Iva Verbeck, Guido Fridolin Verbiest, Ferdinand Vespasiano Vespúcio, Américo Vieira, Antônio Vigilâncio de Aquitane Vigílio Villa-Vicenio, Charles Virgílio Viscontti, Otto Visser „t Hooft, Willem Vítor I Vives, Juan Luis Vladmir I (Príncipe de Kiev) Voetius, Gisbert Voltaire Von Bell, Schall Von Bodelschwingh, Friedrich Von Bora, Katherine Von Castein, Barão

Von Dölinger, Johann Wolfgang Von Harnack, Adolf Von Hohenau, Ernst Christoph Hochhmann Von Hontheim, Johann Nikolaus Von Kettler, Wilhelm Von Kottswitz, Ernst Von Krüdner, Julie Von Moltke, Helmuth Von Schiller, Friedrich Von Schlegel, Klalus Von Staupitz, Johann Von Wallenstein, albrecht Von Welz, Justinian Von Zinzerdorf, Nikolaus Ludwig Waldo, Peter Waldseemüller, Martin Walker, Samuel Walther, C. F. W. Ward, William Warfield, Benjamin B. Warneck, Gustav Warner, Daniel S. Washington, George

Weishaupt, Adam Weizmann, Chaim Wellhausen, Julius Wells, H. G. Wenceslav (Vaclav) Wesley, Charles Wesley, John Wesley, Susanna Westphal, Joachim Whitefield, George Wichern, Johann Hinrich Widikund Wilberforce, William Willard, Frances William de Ockham William de Orange William de Rubruquis (Rubruck) William I, Frederick William II (da Alemanha) William III, Frederick William o Conquistador Williams, Roger Willibrord

Wilson, Woodrow Winstanley, Gerrard Winthrop, John Wiseman, D. J. Wojtyla, Karol Woodsworth, William Wright, J. Edwin Wright, James Frederick Wycliffe, John Wynfrith Xavier, Francisco Xenofonte Ximenes Yahballaha III Yakob, Zar‟a Yaroslav o Sábio Yekuno-Amlak Zacarias (Papa) Zadoque Zebedeu Zeisberg, David Zeno Zenóbia

Ziegenbalg, Bartholomäus Zimmerman, Dominikus Zizka, Jan Zoroastro Zwemer, Samuel Zwingli, Ulrich

Índice de Assuntos e Lugares 1 Clemente 1 Coríntios 1 Pedro 1 Timóteo 2 Clemente 2 Coríntios 2 João 2 Pedro 2 Timóteo 3 João A Cidade de Deus A Civilização da Renascença na Itália A Fé Cristã A Ira de Deus

Abba Abordagem triplamente autônoma Absolutismo alemão Absolutismo monárquico: Absolutismo russo Academia fiorentina Academia platônica Acádia Aceticismo Acordo Elizabetano Adiáfora Admoestação a se Começar o Testemunho Evangélico nas Índias Adocionismo Adoração do Nome Sagrado de Jesus Adoração dos Magos Adrianópolis Adventismo Adventistas do Sétimo Dia Aelia Capitolina Aerópago África África do Sul, União da Agência Judia da Palestina

Agincourt Alasca Albânia Albigencianismo, Albigencianos Alemã Reformada, Igreja Alemães Alemanha Alemanha Oriental Alemanos Alexandria Alexiad Algiers Aliança alemã Aliança Cristã e Missionária Aliança de Missões da Suécia Aliança Evangélica Aliança Mundial Batista Aliança Mundial das Igrejas Reformadas Aliança Mundial para a Promoção da Amizade Internacional Através das Igrejas Aliança Nacional Alpes Alsácia

Altar da Paz América Central América do Norte britânica América do Norte francesa Amilenialismo Amronitas Anabatistas Anatólia Anglicanismo, anglicanos Anglos Anglo-saxônicos Angola Angorá Anticlericalismo Antigos católicos Antigos Crentes Antigüidade Judaica Antilhas Antioquia Antônia Apartheid Apocalipse Apocalipse, Livro de

Apócrifos Apolinarianismo Apolo Hélio Apologética, apologistas Apologia Apologia Apologia Contra os Arianos Apologia Pro Vita Sua Árabes Árabes nabateus Arábia Arianismo, arianos Arles Armada espanhola Armênia Armênios Arminianismo, arminianos Arquidiácono Arquitetura/construção Arte:

Barroca, Gótica, Renascença, Romanesca

Artigos de Confederação Artigos Esmalcádicos As Confissões

As Missões Cristãs e o Progresso Social Asceticismo Ashley Down Ásia Menor Asiarcas Assembléia de Teólogos de Westminster Assírios Assistência da Aliança Evangélica Associação de Imprensa Evangélica Associação dos Fundamentos Cristãos Mundiais Associação Evangélica de Missões Estrangeiras Associação Geral dos Batistas Regulares Associação Internacional de Trabalhadores Associação Nacional de Evangélicos Atenas Atos de Tomás Atos dos Apóstolos Augsburg Austrália Áustria-Hungria Autoridade das Escrituras Autoridade do papa Avares

Avignon Azusa Babilônios Bagdá Baixo clero Baltos Bando Kumamoto Bascos Basiléia Basílica de São Pedro Batalha de: Áctio, Carrae, Hastings, Makizert, da Ponte Mílvia, Tours Batávia Batismo de crianças Batismo do Espírito Santo Batistas do sul Batistas: Ingleses, Gerais, Particulares Bavária Beijo de Amor do Céu, O Belém Bélgica Belgrado Beneditinos

Benjamin, tribo de Beréia Berlim Betel na Alemanha Bíblia de Berleburg Bíblia de Referência Scofield Bíblia Jefferson, A Bíblia King James Bielefeld Bielorussos Biografias Selecionados dos Santos Bispo do Reich Bispos Bítinia Bizâncio Boas obras Boêmia Boêmios Bogomils Bolchevismo, Bolchevique Bolonha Bordeaux Boston

Brandenburg Brasil Bretães Bruxas, bruxaria Buenos Aires Bula de Ouro Bulgária Búlgaros Burguesia Burgúndios Cabo da Boa Esperança Cafarnaum Cairo Calcutá Calendário cristão Califórnia Calvário Calvinismo, calvinistas Câmara dos Comuns Camarões Cambridge Campo de Marte Canadá

Canadá Francês Canal de Suez Canção de Roland Cânon das Escrituras Cânon Muratoriano Cânones Cânones de Dort Cantares de Salomão Canterbury Capadócia Capela Sistina Capitalismo Capri Capuchinhos Carta Magna Cartago Cartas Filosóficas sobre os Ingleses Cartas Persas Cartas Provinciais Cartas sobre a Tolerância Casa de São Pedro Casa Dourada Casamento

Casuísmo Catecismo de Heidelberg Catecúmenos Cativeiro Babilônio da Igreja, O Católicos Cavaleiros da Espada Cavaleiros Hospitaleiros Cavaleiros Templários Cavaleiros Teutônicos Ceilão (Sri Lanka) Celibato Celtas Cesaréia Cesaropapismo Ceuta Chamado Macedônio” Chicago China Chipre Christian Observer Christus Cidade Celestial dos Filósofos do Século Dezoito Bênçãos, As Cidade do México

Ciência e a igreja, A Cilícia Circuncisão Cirenaica Cirene Cisma acaciano Cisma de 1054 Cisma de Fótio Cistercianos Citeaux Clapham Cláusula Filioque Clube Santo Cluny Código Clarendon Código Justiniano Coimbra Colégio dos Sete Diáconos Colégio Espiritual (Santíssimo Sínodo) Colônia Colóquio de Marburg Colóquio de Poissy Colossenses

Colunata Real Com Profundo Pesar Comentários Comissão para Auxílio Mundial Comitê de Continuidade de Edinburgh Comitê Permanente de Missões Protestantes Alemãs Companhia Britânica das Índias Orientais Companhia da Nova Inglaterra Companhia Francesa das Índias Orientais Companhia Holandesa das Índias Ocidentais Companhia Holandesa das Índias Orientais Comunidade de Base Comunidade de Qumran Comunismo Concílio Americano de Igrejas Cristãs (ACC - American Council of Christian Churches) Concílio Britânico de Igrejas Concílio Congregacional Internacional Concílio de Igrejas do Oriente Médio Concílio Federal das Igrejas de Cristo Concílio Federal das Igrejas de Cristo na América Concílio Federal de Igrejas Concílio Latino-Americano do Igrejas

Concílio Metodista Mundial Concílio Missionário Internacional Concílio Mundial de Igrejas (WCC - World Council of Churches) Concílio Nacional Católico de Guerra Concílio Nacional de Igrejas Concílio: de Ancira, de Arles, ecumênico de Cartago, de Cartago, Quarto Ecumênico da Calcedônia, de Constance, Quinto Ecumênico de Constantinopla, Sexto Ecumênico de Constantinopla, de Elvira, Terceiro ecumênico de Éfeso, de Ferrara-Florença, de Florença, Quarto Latrão, de Frankfurt, de Jerusalém. De Nicéia, de Pisa, de Saragossa, Sétimo Ecumênico, de Trento Concílo de toda a Rússia Conferência Caribenha de Igrejas Conferência Cristã da Ásia Conferência das Igrejas de Toda a África Conferência de Igreja do Leste Asiático Conferência de Igrejas Européias Conferência de Missões Estrangeiras da América do Norte Conferência de Paz Cristã Conferência de Sociedades Missionárias da Grã-Bretanha e Irlanda Conferência Mundial de Fé e Ordem Conferência Mundial Pentecostal Conferência Nacional de Bispos Católicos

Conferência Pacífica de Igrejas Conferência Universal Cristã sobre a Vida e o Trabalho Conferências Conferências de Lambeth Confessio Catholica Confirmação Confissão de Augsburg Confissão de Westminster Confissões Congo (Zaire) Congregação para a Propagação da Fé Congregacionalismo, congregacionalistas Congresso de Lausane sobre Evangelização Mundial Congresso Nacional Evangélico Anglicano Consciência Irrequieta do Fundamentalismo Moderno, A Conservadores, “confessionalistas” luteranos Conservadores, “tradicionalistas” católico Conservadorismo, conservadores: católicos romanos Consôlo da Filosofia Conspiração da Pólvora Constantinopla Constituição civil do clero Constituição de Clarendon

Constituição dos Estados Unidos Constituições Apostólicas Consultoria sobre União de Igrejas Contos de Canterbury, Os Contra as Hordas de Camponeses Criminosos e Assassinos Contra Celsum Contra Eunomias Contra Heresias Contra Marcion Contra os Galileus Contra os Judeus Contra os Maniqueus Contra Praxeas Contrato Social, O Controvérsia das investiduras Controvérsia dos ritos Controvérsia dos ritos Chineses Controvérsia nicena Controvérsia Quartodecimana Controvérsias cristológicas Controvérsias luteranas Convenção Batista do Norte Convenção Batista do Sul

Convenção Cristã Norte-Americana Convenção Missionária Geral da Denominação Batista Conventículos Conventos Córdoba Coréia Corinto Côrte Permanente de Justiça Internacional Crécy Credo de Antioquia Credo de Atanásio Credo de Nicéia Credo dos Apóstolos Cristandade ou Europa Cristãos de Malabar” Cristianismo e Crise Cristianismo e Liberalismo Cristianismo e o Evangelho Social Cristianismo e Ordem Social Cristianismo russo Cristologia Crítica da Razão Pura Criticismo bíblico: Superior, Inferior

Croatas Crônica de Edessa Cruzada Estudantil (Campus Crusade for Christ International) Cruzada: das crianças, quinta, primeira, quarta, segunda, terceira Cruzadas Cuba Culto à personalidade Culto à razão Culto ao imperador Culto de Domingo Culto Feminino, O Culto Imperial Cumans turcos Curdistão Dalmácia Damasco Danelaw Daniel Danúbio Darwinismo Darwinismo Social Das Kapital Declaração de Balfour

Declaração de direitos Declaração de Independência Declaração de Indulgência Declaração de liberdade de consciência Declaração dos direitos do homem e cidadão Defensor Pacis Definição calcedônia Deísmo Demonstração Derbe Desejo Profundo de uma Reforma Agradável a Deus da Verdadeira Igreja Evangélica Deus Desconhecido Deus Vult Dezoito Bênçãos Dia de Pentecoste Diaconato Diáconos/diaconisas Diálogos Sobre os Dois Principais Sistemas de Mundo: o Ptolomeico e o Coperniano Diário da Primeira Viagem à América Dias santos Diáspora

Diatessaron Dictatus Papae Didascália Didasche Dieta de Worms Dinamarca Dinamarqueses Dinastia Macedônia Direitos civis Direitos divinos dos reis Direitos do Homem Discípulos de Cristo Discurso à Nobreza Cristã da Nação Alemã Discurso aos Gregos Dispensacionalismo Dissidentes (não-conformistas) Divina Comédia, A Doação de Constantino Docetismo Dois Tratados de Governo Domingo de Ramos Dominicanos Domínio do Canadá

Donatismo Doukhonors Doutrina: da criação, da eleição, da soberania de Deus, da graça, das justificação pela fé, da expiação limitada, do novo nascimento, do pecado original, da perfeição, da perseverança dos santos, da predestinação, do sacerdócio dos crentes, da “segunda bênção”, da Trindade, das “duas espadas”, da depravação completa Doze Artigos dos Camponeses Suábios, Os Ebionitas Ecologia Ecumenismo, movimento ecumênico Edessa (atual Urfa) Édito:

de Milão, de Nantes, da Restituição, da Tolerância,

da União Educação da Raça Humana, A Efésios, livro de Éfeso Egito Elcasitas Em Seus Passos Emesa (Homs) Emile Enchiridion

Enciclopedié Encyclopedis Septum Tomis Distincta Enoque Ensaio sobre o Livre Arbítrio Epifania Épiro Episcopais Epístola de Barnabé Epístolas Paulinas Eremitas Erwekung Esboço para um Quadro Histórico do Progresso da Mente Humana Escandinávia Escatologia Escócia Escola Dominical Escola Real para Avanço da Causa do Evangelho Escolas catedrais Escolas/universidades Escolasticismo Escravidão Escrituras

Eslavófilos Eslavos Eslovacos Eslovênios Espanha Espetáculos, Os Espírito das Leis, O Espírito Santo Espiritualidade católica Espiritualistas, Os Essência do Cristianismo Essenos Estado das Prisões, O Estados Papais Estados Unidos Estatuto de Westminster Estér, livro de Estilitas Estoicismo Estônia Estreito de Gibraltar Etiópia Eucaristia

Eutiquianismo Evangelho da Verdade, O Evangelho de Pedro, O Evangelho de Tomás, O Evangelho Digno de Toda Aceitação, O Evangelho dos Ebionitas, O Evangelho dos Nazarenos, O Evangelho Segundo os Hebreus, O Evangelho Social, O Evangelhos Evangelhos de Lindisfarne Evangelicalismo na Grã-Bretanha Moderna Evangelicalismo, evangélicos: ressurgimento dos, ascensão dos Evangélico Evangelismo cooperativo Evolução Exercícios Espirituais Exército da Salvação Exilados marianos Existencialismo Exortação aos gregos Expansão européia da igreja: fase ibérica, fase russa, fase ocidental Experimento Sagrado

Extrema Unção Ezequiel, livro de Facismo Falsos Decretos Fariseus Farsalo Fausto Febronianismo Federação Mundial de Estudantes Cristãos Federação Mundial Luterana Federação Protestante da França Felipo Festa da Natividade Festa do Chá em Boston Festival das Semanas Feudalismo Filadélfia Filantropia cristã Filemon Filipe Finlândia Flandres Florença

Flórida Foederati Fórmula de Concórdia Fountain Trust Frades menores França França dos capetos Franciscanos Francos Frankenhausen Fraternidade Socialista Cristã Freetown Frequens Frígia Fundamentalismo Fundamentos, Os Fundo Carnegie para a Paz Internacional Galácia Gálatas Gales Galês Gália Galicanismo

Galiléia Geistliches Liederkästlein Geistreiches Gesangbuch Gemara Genebra Gênio do Cristianismo, O Gênova Geórgia Germantown Glastonbury Glória de Reis Glossolália (línguas) Gnésio-luteranos Gnomon Novi Testamenti Gnosticismo Gnósticos Goa Godos Gólgota Götz von Berlichingen Grã-Bretanha Granada Grande Cisma

Grande Depressão Grande Despertar Grécia Groelândia Guatemala Guerra da Criméia Guerra de Bar Koshba Guerra dos Camponeses na Alemanha Guerra dos Cem Anos Guerra dos Trinta Anos Guerra entre franceses e índios Guerra fria Guerra Judaico-Romana Guerra Revolucionária Guerras da Rosas Guerras religiosas Hadith Hagia Sophia Haia Halle Hamburg Hanover Hasmoneus

Hebreus Henoticon Herculano Heresias, hereges Hernhut Hesicasmo Hesse Hexameron Hexapla Hierápolis (Bambice) Hijra Hinduísmo Hinologia Hipona Hispaniola História dos Francos História dos Lombardos História Eclesiástica do Povo Inglês Holanda Holocausto Homens do Quinto Monarca Homoousios Huguenotes

Humanismo Húngaros Hungria Hunos Hussitas Huteritas Iconium Iconoclasmo Idade Média Idéia de uma Universidade Idéias sobre a Filosofia da História da Humanidade Idumeus Igreja Abissínia Igreja Anglicana Igreja apostólica Igreja armênia Igreja búlgara Igreja Católica Apostólica Igreja católica de rito oriental Igreja Católica Romana: mudanças modernas na Igreja confessional Igreja copta Igreja da Etiópia

Igreja de Santa Sofia Igreja e estado: Inglaterra, França, Alemanha, Rússia Igreja evangélica na Alemanha Igreja grega Igreja Livre da Escócia Igreja Luterana - Sínodo de Missouri Igreja Metodista do Sul Igreja Metodista Episcopal Africana Igreja monofisita Igreja morávia Igreja nestoriana Igreja Presbiteriana Igreja Presbiteriana nos E.U.A. Igreja Presbiteriana Ortodoxa Igreja Protestante Episcopal Igreja Reformada Igreja Romena Igreja Russa Igreja Sérvia Igreja Síria Igreja Uniata Igreja Unida de Cristo Igreja Unidade em Cristo no Japão (Kyodan)

Igreja:

da Inglaterra, de Deus. Do Sul da Índia, de Jesus

Cristo dos Santos dos Últimos Dias, dos Irmãos, da Natividade, do Santo Sepulcro, do nazareno, dos doze apóstolos Igrejas de Cristo Igrejas Fundamentalistas Independentes da América Igrejas Independentes (África) II Congresso de Lausane sobre Evangelização Mundial Ijma Ilha de Martha‟s Vineyard Ilhas Britânicas Ilhas Canárias Ilhas maldivas Ilhas Marianas Ilhas Nicobar Ilhas Virgens Dinamarquesas Illuminati Iluminismo:

e despotismo, e reforma social

Imitação de Cristo, A Imperialismo Império bizantino Império Otomano Império Romano Implantação e Desenvolvimento de Igrejas Missionárias

Incarnação Independentes Índia Índias Ocidentais Índice de Livros Proibidos Índice de Lugares Individualismo Indonésia Indulgências Inerrância Inerrância bíblica Infalibilidade do papa Inglaterra Inglaterra em 1815, A Inglaterra normanda Innsbruck Inquérito sobre a Natureza e Causas da Riquezas das Nações Inquisição Instituição Betel Institutas Institutas da Religião Cristã Institutio theologiae elencticae Instituto de Enfermagem

Instrutor International Fellowship of Evangelical Students Interpretação alegórica InterVarsity Christian Fellowship Introdução à Vida Devocional Invasões bárbaras:

Anglo-saxônicas, Germânicas, Viquingues

Invasões mongóis Invasões viquingues Irã Irlanda Irlandês Irmandade de Jesus Irmãos Abertos Irmãos da Vida em Comum Irmãos de Plymouth Isaías Islã Islândia Itália Jacobinismo Jacobitas Jamaica James

Jamnia Jansenismo Japão Jardim do Getsêmane Java Jejuns Jena Jerash Jerusalém Jesuítas Jesus (Cristo) Jesus (Cristo) Jesus Está Vindo Jesus:

Sepultamento, Crucificação, Ministério,

Ressurreição Jihad Jó João Jogos Pan-helênicos Jordânia Jornal da Igreja Evangélica Josefismo Judá

Judaismo Judas Judas Macabeus Judéia Judeus “Sefárdicos” Judeus ortodoxos Judeus, anti-semitismo Judeus, judaismo Junta Americana de Comissários para Missões Estrangeiras (ABCFM - American Board of Comissioners for Foreign Missions) Jutos Kaaba Kamchatka Kazan Kent Kirchentag Kultur Kulturkampf Kyodan Labrador Lago Peipus Lamentabili Lar Temporário Industrial

Lares Florence Crittenton Las Navas de Tolosa Latitudinarianos, latitudinarianismo Latrocínio de Éfeso Laudas Lecionários Lei das Fábricas de 1833 Lei de Quebec de 1774 Lei de Seis Artigos Lei de Teste de 1673 Lei de Tolerância Lei de União Lei do Canadá Lei Mosaica Lei para Estabelecimento de Liberdade Religiosa Lei sobre associação religiosa Lei sobre Religião Lei, A Leipzig Leis de Maio Leis dos Direitos Leitores Lépidus

Letônia Libellus Liberais Liberais evangélicos Liberalismo Liberdade de um Homem Cristão Libéria Líbia Liga Anti-Bares Liga Árabe Liga Católica Liga comunista Liga das Nações Lilitz Lindisfarne Lion Lista dos Erros Listra Lituanos Liturgia Livre arbítrio Livro de Concórdia Livro de Orações Comuns

Livro dos Kels Livro dos Mártires Livros sobre o Verdadeiro Cristianismo Loci Theologici Logos Lolardos Lombardos Loraine Louisiana Lucas Ludwigsburg Luteranismo, luteranos Macau Macedônia Macedônios Maçonaria Madaura Madras Magdeburge Magiares Mainz Maiorca Málaca

Malaia Malásia Malta Mamluk Manifesto Comunista Manifesto de Manila Maniqueísmo, maniqueus Manual Diário do Bem e do Mal Mar da Galiléia Mar Egeu Mar Morto Mar Negro Marcionitas Marcos Marcos, Livro de Marranos Marrocos Marselha Martelo das Bruxas, O Mártires Maryland Massacre de São Bartolomeu Massacre do Dia de Bartolomeu

Massacre em Drogheda Massacres armênios, Os Masschusetts Mateus, Livro de Mauritânia (Marrocos) Meca Medina Menonitas Mércia Meroe Merovíngeos, governantes Mesopotâmia Messias Messias Metodismo Calvinista Galês Metodismo, metodistas Método Breve e Muito Fácil de Oração México Milão Milenialismo Militarismo Ministerium da Pensilvânia Minuscule

Miscellanies Mishnah Missa Missa em si menor Missão da Aliança Evangélica Missão da Aliança Evangélica Missão da Basiléia Missão de Liebenzell Missão de Walter Street Missão do Interior da África Missão do Interior da China (CIM - China Interior Mission) Missão dos Cinco Pontos Missão Interior Missão Interior do Sudão Missão Peregrina Missões de fé Missões: Afro-americanas na África, Anglo-saxônicas no continente, Agostinianas, beneditinas, à Grã-Bretanha, Católicas na China, Católicas, Celtas, Evangélicas Contemporâneas, Dominicanas, e Ecumenismo, Franciscanas, Alemães, e Imperialismo, e Indigenização, à Irlanda, e o Islã, Jesuítas no Oriente Distante, Latinas, e Sociedades Missionárias, Morávias, Nestorianas, Ortodoxas, Portuguesas na África, Portuguesas no Oriente, Protestantes - indiferença, oficialmente

patrocinadas, Católicas Romanas, Russas, e o Progresso Social, Espanholas à América Central, Espanholas à América do Norte, Espanholas à América do Sul, no Terceiro Mundo, de Ufila entre os Godos, e as Mulheres Misticismo Mitraismo Moçambique Modernismo Molucas Mona Lisa Monarquia dinâmica Monarquianismo Monarquianismo modalista Monasticismo: Ancorítico, Beneditino, na Grã-Bretanha, Celta, Cisterciano, Cluníaco, Continental, Oriental, Egípcio, na Irlanda Mongóis Monoepiscopacia Monofisitismo, monofisitas Monoteletismo Montanismo, montanistas Montanistas Monte Atos Monte das Oliveiras

Monte Gerazim Monte Marte Monte Palatino Monte Vesúvio Morávia Morte Negra Moscou Mouros Movimento carismáticos Movimento da santidade Movimento das “diaconisas” Movimento de Kenswick Movimento de Oxford Movimento de Temperança Movimento Missionário de Leigos Movimento Voluntário Estudantil para Missões Estrangeiras (SVM - Student Voluntary Movement) Movo México Muçulmanos Mulheres no Ministério Mundo Muçulmano, Jornal Munique Münster

Música Myriobiblion Na Mais Escura Inglaterra - E o Caminho para Fora Nacionalismo:

Alemão

Nações Unidas Nag Hammadi Nagasaki Namíbia Nantes Nápoles Natã o Sábio Natal Nazaré Nazareth, Pensilvânia Nazireus Nazismo Neo-ortodoxia Nepotismo Nestorianismo New Brunswick Newfoundland Nicomédia Nigéria

Niilismo Nisibis Nissa Niveladores Nominalismo versus realismo Normandos Nortúmbria Noruega Nosso País Notícias Espirituais Nova França Nova Heloise Nova Holanda Nova Inglaterra Nova Roma Nova Scotia Nova Zelândia Novo Evangelicalismo Novo Testamento Núbia Numídia (Algéria) O Que Faria Jesus? O Segredo do Cristão para uma Vida Feliz

Olokans Ontário Oração Oração de Jesus Ordem Apostólica da Igreja Ordem: Agostiniana, Barnabita, Carmelita, Dominicana, Franciscana, Jesuíta, Lazarista (Vicentinos), Premonstratencianos, Irmãs da Vida Comum, Irmãs da Caridade, Sociedade de Jesus, Teatina, da Visitação (Visitandinas ou Irmãs Salesianas), dos Padres Brancos Ordenação Organização/hierarquia da igreja Ortodoxia oriental Ortodoxia Protestante Ortodoxia russa: Ortodoxo armênio Os Santos Osnabruck Ostrogodos Oxford Pacifismo Pádua Pafos Pais dos Vitorianos

Ressurgimento

Palácio de Latrão Palestina Panfletagem Panfletos Baratos do Receptáculo Panfletos para os Tempos Panteon Papa:

Alexandre Vi, Benedito XIV, Bonifácio VIII, Clemente,

VIII, Gregório II, Gregório IX, Inocêncio III, Inocêncio X, João Paulo II, João XXIII, Leão X, Leão, XIII, Leão, Nicolau I, Nicolau II, Paulo IV, Paulo II, Pio II, Pio VI, Pio VII, Pio XI, Estevão II, Silvestre II, Urbano II, Vigílio, Zacarias. Papado Papas Renascentistas Papiros do Mar Morto Paquistão Para Autólico Para Sua Esposa Parágrafo ariano Paraguai Paraíso Perdido Paraíso Reconquistado Paris Parma

Pártia Partianos Partiarca ecumênico Partido Anti-Revoluvionário Partido Central Alemão Católico Partido Democrático Social da Alemanha Partido dos Trabalhadores Cristãos Socialistas Partido Socialista da América Páscoa Páscoa, Data da Pastor de Hermas Pátmos Patriarca do Oriente Patriarcas apostólicos Patriarcas da igreja: Patriarcas pré-nicenos, Patriarcas gregos pósnicenos Patriarcas latinos pós-nicenos Patriarcas ortodoxos orientais Paulicianos Pávia Paz de Augsburgo Paz de Westphalia Paz Romana (Pax Romana)

Pecado e disciplina Pelagianismo, Pelagianos Pensées Pensilvânia Pentecostalismo Pentecoste Pepuza na Frígia Pequeno Jardim do Paraíso Pequim Peregrino, O Peréia Perga Perseguição de Paulo Perseguições Pérsia Peru Peshitta Petição de Direito Petição e Protesto Petição em Favor dos Cristãos Petição Milenar Petros Pharsalo

Pia Desideria Pietismo: Educação, Alemão, Preocupação Social, Literatura do, Pisa Pisídia Pobreza Pobreza apostólica Poitiers Poloneses Pomerânia Pomerânios Pompéia Pontifex Maximus Pontus Por Que Deus Tornou-se Homem Por Que e Como Deus Deve Ser Amado Port Royal na Acádia Porta da esperança Portugal Poznan (Posen) Praga Prática da Piedade, A Predestinação dupla Pregação

Premilenialismo Preocupação social Presbiterianismo escocês Presbiterianismo, Presbiterianos Presbíteros Primazia de Pedro Primeira Apologia Primeira Emenda Primeira Guerra Mundial Principia Princípio da Igreja Territorial Proclamação Real Contra o Vício e a Imoralidade Programa de descristianização Proibição Nacional Projeto Shaftesbury Propaganda, A Protestantes Protestantes da espiritualidade Protestantes não-conformistas Protestantismo Reformado Protestantismo, Protestantes:

Americanos, Evangélicos

Protesto Protocolos dos Sábios Anciãos de Sião, Os

Provas de Deus Prússia Prussianos Pseudoepígrafe Purgatório Puritanismo, Puritanos Qu‟ran Quadrivium Quakers (Amigos) Quaresma Quatro Artigos Galicanos Quatro Livros de Diálogos sobre a Vida e Milagres dos Santos e sobre a Imortalidade da Alma, Os Quebec Quelle Quênia Quietismo Quiliasmo Quinta-feira Santa Qumram Racionalismo Racismo Rádio Transmundial

Radiotransmissores Nacionais Religiosos Rainha do Céu Ramo Dourado, O Rauhe Haus Ravena Realismo” Reavivamento: na América, no século dezoito, na França, na Alemanha, na Escandinávia Reconquista, A Recorditas Reflexões sobre a Revolução na França Reforma Reforma católica Reforma das fábricas Reforma gregoriana (“pobreza apostólica”) Reforma penitenciária Reforma Protestante: Reforma Radical Reformada holandesa Reformas Tridentinas Regensburge Registro, O Regra

Inglesa, Luterana, Radical

Regra de fé Regra Pastoral Rei dos Judeus Reich de Mil Anos Reino de Cristo, O Reino de Deus Religiões de mistério Religiões não-cristãs, ressurgimento das Relíquias de Santos Renascença Renascença carolíngea Renovação Carismática Repensando as Missões: O Inquérito de Leigos depois de Cem Anos Rerum Novarum Resenha Internacional de Missões Resenha Missionária do Mundo Ressurreição Réveil Revista Christianity Today Revolta dos macabeus Revolta judia Revoltas Camponesas:

Alemanha, Inglaterra

Revolução Americana Revolução espiritual britânica, A Revolução Francesa Revolução Gloriosa Revolução Industrial: Revolução inglesa Revoluções coloniais Rheims Rhode Island Rio Eufrates Rio Jordão Rio Rúbicon Riqueza Rodes Roma Roma Antiga Roma, Queda de Romanos Romantismo Romenos Rouen Rússia Rússia Soviética

Impacto

Russos Rutênios S. Criscona S. Dominique Sábado Sabelianismo Sacerdócio Sacramentos Sacro Império Romano Sacrossanta Saduceus Salamanca Salém na Carolina do Norte Salerno Salmos Saltério de Genebra, O Salzburg Samaria Samaritanos San Clemente Santa Prisca Santa Priscila Santa Trindade

Santo Graal Santos de Pilares São Clemente São Salvador Sárdica Sarracenos Sassanianos Saxões Schwarzenau Scília Sé apostólica Sé Romana Sebaste Secularização Século Protestante Segunda Apologia Segunda Guerra Mundial Segunda Revolta Judia Segundo Grande Despertar Seis Livros sobre a Revolução das Esferas Celestes Seita Clapham Semana Santa Senegal

Septuaginta Serampore Sermão da Montanha Sermões para todos os Domingos, Festivais e Dias Santos Serra Leoa Sérvia Sérvios Servo do Arbítrio Sete de Cambridge, Os Sete maravilhas do mundo Shabuoth Shema Sião Sibéria Sicília Siegerland Silésia Simonia Sinagogas Sincretismo Sinédrio Sínodo de Dort Sínodo de Toledo

Sionismo, Sionistas Síria Sirmium Sistema de datas Sistema Otoniano Sistema senhorial Sitka Slovênia Smirna Sobre a Clemência Sobre a Doutrina Cristã Sobre a Igreja Sobre a Incarnação Sobre a Monogamia Sobre a Origem das Espécies Através da Seleção Natural Sobre a Religião: Discursos aos Ilustrados que a Desdenham Sobre a Vida de Homens Ilustres Sobre o Corpo de Cristo Sobre o Domínio Civil Sobre o Domínio Divino Sobre o Estado da igreja e o Poder Legítimo do Pontífice Católico Sobre o Papa Sobre os Primeiros Princípios

Socialismo marxista Socialismo Nacional (ver Nazismo) Socialismo:

Cristão, Secular

Socialistas Religiosos Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira (BBFB - British and Foreign Bible Society) Sociedade Bíblica Canstein Sociedade Cristã Alemã Sociedade da Nova Inglaterra Sociedade da Proclamação Sociedade de Londres para a Promoção do Cristianismo entre os Judeus Sociedade de Panfletos Religiosos Sociedade Fabian Sociedade Feminina de Auxílio aos Pobres e Enfermos Sociedade Missionária de Londres Sociedade Nacional para a Educação dos Pobres Sociedade:

dos Irmãos, da Divina Palavra, de Jesus, para

Missões a África, para a Promoção de Crescimento Cristão (SPCK Society for Promoting Christian Knowledge), para a Propagação de Crescimento Cristão, para a Propagação do Evangelho em Regiões Estrangeiras (SPG - Society for Propagation of the Gospel in Foreign Parts), de São Francisco de Sales (padres salesianos), Batista Missionária

(BMS - Baptist Missionary Society), do Cristianismo, Missionária da Igreja (CMS - Church Missionary Society), Missionária Zenana da Igreja da Inglaterra, Evangélica de Genebra, de Educação Feminina, Missionária de Londres, de Missionários Mary Knoll, de Missões Estrangeiras de Paris, Bíblica Russa, Missionária da União das Mulheres Sociedades de Amigos dos Estranhos Société des Missions Étrangéres Socinianos SPCK SPG Strasburg Suábia Subordinacionismo Sucessão apostólica Sudão Suécia Suíça Summa Theologiae Supernaturalismo natural Surat Suriname Systema locorum theologicorum Tabernáculo Metropolitano

Taboritas Talmude Tarso Tártaros queremissianos Tchecos Tchecoslováquia Templo Templo de Artêmis Tempos Tumultuosos Teologia liberal Teologia Natural Teologias da libertação Teologias variantes Teoria da guerra justa Terceiro Mundo Terra Santa Terror Tessalônica Testemunhas de Jeová Texas Theologia didactico-polemica Timóteo Tiro

Tobolsk Tolerância Tomo de Leão Tóquio Torá Toulouse Trabalho humanitário evangélico Trace Traducionismo Tranquebar Transfiguração Transilvânia Transjordânia Transubstanciação Tratado: de Dover, da França, de Saragossa, de Tordesilhas, de Versailles Trento Treveca Trier Trinta e Nove Artigos Trio de Serampore Tripolitana Tristezas do Jovem Werther

Trivium Troas TULIP Tunísia Turcos Otomanos Turquia Turquia Otomana Ucranianos Uendes Uganda Última Ceia, A Ultramontanismo Ultrecht Um Guia Espiritual Um Inquérito sobre as Obrigações do Cristão de Usar Meios para a Conversão de Descrentes Uma Carta aos Soldados de Coroticus Uma Teologia do Evangelho Social Unam Sanctum União Batista Russa União da Paz Eclesiástica (CPU - Church Peace Union) União da Temperança União das Escolas Dominicais

União das Escolas para Crianças Pobres União das Nações Britânicas União de Brest-Livotsk União Evangélica União Evangélica Mundial União Protestante, A Unitarianismo Universities and Colleges Christian Fellowship Upsala Utopia Valdensianos Vale do Rio Pó Vândalos Vaticano Vaticano I Vaticano II Velho Testamento Veneração dos Santos, relíquias Veneza Verdadeira Doutrina, A Verdadeiras Leis das Monarquias Livres, As Verdadeiro Cristianismo Versalhes

Véspers Vida Cristã Mais Elevada, A Vida de Antônio, A Vida de Jesus Examinada Criticamente, A Vida de Jesus, A Vida pastoral protestante Viena Vietnã Vigário de Cristo Viquingues Virgem Maria: Assunção, Concepção Imaculada, Mariolatria, Méritos da, Virgindade Perpétua da Virgínia Visão da igreja:

Anabatista, Calvinista, Luterana, Nominalista,

Protestante, Puritana, de Wycliffe Visão Mundial Visigodos Visões de Constantino Voluntários da América Vulgata Wessex Westphalia Whitsunday

Wittenberg Worms Wuppertal Württemberg Xiitas York Zara Zelotes Zimbábue Zodíaco Zoroastrismo

Two Kingdoms - Cronologias e ilustrações

Capítulo 1 100 a.C. 63 - Pompeu conquista a Palestina 44 - Assassinato de César 37-40 - Herodes o Grande 27 a.C.-14 d.C. - Augusto 0 5 a.C.-33 d.C. - Jesus 14-37 - Tibério 26-36 - Pôncio Pilatos 41-44 - Agripa 50 - Concílio em Jerusalém 54-68 - Nero 70 - Destruição do Templo 81-96 - Domiciano 100 d.C.

Ilustração - Territórios romanos (50 a.C.-100 d.C.) Legenda - Território romano no tempo de Júlio César (faleceu em 44 a.C.) Território romano no tempo de Trajano (faleceu em 14 d.C.) Território romano no tempo de Augusto César (faleceu em 117 d.C.) Território controlado temporariamente por Roma Extensão do Império Romano Ilustração - Igrejas Primitivas Ilustração - As viagens missionárias de Paulo

Capítulo 2 Cronologia 100 117-138 - Adriano 132-135 - Revolta Bar Koshba

138-161 - Antônio Pio 156 - Martírio de Policarpo 161-180 - Marco Aurélio 165 - Martírio de Justino 170 - Hipólito 193-211 - Séptimo Severo 200 200-258 - Cipriano 233-305 - Porfírio 284-305 - Diocleciano 300 305 - Concílio de Elvira 306-337 - Constantino 314 - Concílio de Arles 325 - Concílio de Nicéia 337-361 - Constâncio 379-395 - Teodósio I 400

Ilustração - O Coliseu em Roma Ilustração - Expansão da Igreja Primitiva Ilustração - O Mithraeum de Carrawburgh no Muro de Adriano

Capítulo 3 Cronologia 300 260-336 - Ário 306-337 - Constantino 315-403 - Epifânio 330 - Constantino inaugura Constantinopla 337-361 - Constâncio 339-397 - Ambrósio 347-420 - Jerônimo

354-430 - Agostinho 381-451 - Nestório 381 - Concílio de Constantinopla 400 410 - Saque de Roma 431 - Concílio de Éfeso 440-461 Papado de Leão I 451 - Concílio da Calcedônia

Ilustração - Orígenes de Alexandria

Quadro - Lugares dos Patriarcas da Igreja Primitiva Nome

Lugar

Agostinho

Cartago

Ambrósio

Milão

Atanásio

Alexandria

Basílio

Capadócia

Cipriano

Cartago

Clemente

Alexandria

Irineu

Lion

Jerônimo

Belém

Justino

Éfeso, Roma

Orígenes

Alexandria

Tertuliano

Cartago

Ilustração - Agostinho de Hipona

Capítulo 4 Cronologia 300 305 - Concílio de Elvira 316-397 - Martinho de Tours 347-420 - Jerônimo

364-375 - Valenciano (Ocidente) 364-378 - Valêncio (Oriente) 366-384 - Papado de Damásio I 378 - Batalha de Adrianópolis 380 - Concílio de Saragossa 398 - João Crisóstomo torna-se 420-453 - Ataque dos Hunos 440-441 - Papado de Leão I 450 451 - Concílio da Calcedônia 455 - Os Vândalos atacam Roma 476 - Último imperador do Ocidente é deposto 480-550 - Benedito 527-565 - Justiniano

Ilustração - Igreja de Hagia Sofia em Constantinopla Ilustração - A expansão do monasticismo Legenda -

Mosteiro

Expansão do monasticismo no deserto Principal centro de monasticismo Principal centro de educação monástica Mapa da esquerda -

Melânia a Jovem (cerca de 373-439) funda um convento no Monte das

Oliveiras Sabas (439-532) funda um mosteiro no deserto da Judéia (cerca de 478) Antônio (cerca de 251-346) é pioneiro do monasticismo no deserto. Pacômio (cerca de 290-346) organiza os cenobitas; funda vários mosteiros Mapa da direita - O maior complexo monástico de Martinho, bispo de Tours (cerca de 315-397) João Cassiano (cerca de 360-435) funda um mosteiro (cerca de 415); oferece ao monasticismo disciplina e doutrina Columbano (cerca de 550-615) funda mosteiro na Gália Benedito de Nurela (cerca de 480-ceerca de 550) funda centro com a nova Regra (cerca de 529) Ilustração - Imperatriz Teodora, esposa de Justiniano

Capítulo 5 Cronologia 400 389-461 - Patrício 410 - Saque de Roma pelos visigodos 453 - Morte de Átila o huno 466-511 - Clóvis 516 - Conversão de Sigismundo 550 563 - Columba funda Iona 568 - Invasão da Itália pelos lombardos 570-632 - Maomé 589 - Terceiro Concílio de Toledo 596 - Missão de Agostinho à Inglaterra 603 - Batismo de Etelberto 627 - Batismo de Edwin 680-754 - Bonifácio 711 - Invasão da Espanha pelos mouros 732 - Batalha de Tours 750 793 - Ataque viking sobre Lindesfarne 795 - Primeiros ataques vikings sobre a Irlanda 786-809 - Harun al-Rashid 863 - Cirilo e Metódio são enviados para a Morávia 900

Ilustração - Cruz celta na frente de uma Torre Redonda Ilustração - Bonifácio, “Apóstolo aos alemães”

Mapa - Missões para a Escandinávia e Europa Ocidental

Capítulo 6

Cronologia 500 590-604 - Papado de Gregório I 698 - Conversão dos lombardos do Arianismo para o Catolicismo 741-768 - Pepino o Breve 752-757 - Papado de Estevão II 768-814 - Carlos Magno 795-816 - Papado de Leão III 800 800 - Coroação de Carlos Magno como imperador pelo papa Leão III 858-867 - Papado de Nicolau I 936-973 - Oto I 955 - Batalha de Lechfeld 973-983 - Oto II 993-1003 - Papado de Silvestre II 1000 1002 - 1024 - Henrique II 1056-1087 - Henrique IV 1066-1087 - Guilherme o Conquistador 1073-1080 - Gregório VII 1087-1100 - William II 1118-1218 - Thomas Becket 1152-1190 - Frederico Barbaroxa 1154-1189 - Henrique III 1198-1216 - Papado de Inocêncio III 1215-1250 - Frederico III 1300

Quadro - A Dinastia Carolíngea Carlos Martel - Prefeito Palaciano - 714-41 Carloman - Prefeito - 741-47 Pepino o Breve - Prefeito 741-51, Rei - 751-68 Carloman - 768-71

Carlos o Grande (Carlos Magno) - 768-814, Imperador 800-814 Carlos - Rei da França - 781-811 Pepino - Rei da Itália e da Bavária - 781-800 Luís o Pio - Rei de Aquitaine - 781 Imperador - 814-40 Lothar I - Rei da Itália - 817-55, Imperador 840-55 Pepino - Rei de Aquitaine - 817-38 Luís o Alemão - 817-76 Carlos o Gordo - Imperador 881-87 Carlos o Calvo - Rei da França - 843-77, Imperador 875-77

Mapa - Europa do século nove

Quadro - A Dinastia Hohenstaufen Frederico I - Duque da Suábia - 1079-1105 Agnes - Filha do Imperador Henrique IV Frederick II - Duque da Suábia - 1105-47 Conrad III - Rei da Alemanha - 1138-52 Frederico Barbaroxa - Imperador - 1152-90 Henrique VI - Imperador - 1190-97 Constance - Herdeira da Sicília Filipe da Suábia - Rei - 1198-1208 Frederick II - Rei da Alemanha - Imperador 1215-1250 Conrad IV - Rei da Alemanha - 1250-54 Conradin - (falecido em 1268)

Capítulo 7 Cronologia 900 910 - Fundação da Abadia de Cluny 1075 - Começa a controvérsia das investiduras 1079-1142 - Pedro Abelardo 1095 - Primeira Cruzada é pregada em Clemont

1146 - Segunda Cruzada 1146 - Bernardo de Clairvaux 1198-1211 - Papado de Inocêncio III 1204 - Quarta Cruzada e Saque de Constantinopla 1208 - Fundada a Ordem de São Francisco 1215 - Quarto Concílio de Latrão 1267-1273 - Tomás de Aquino escreve Summa Teológica 1300

Mapa - As Cruzadas Legenda: Primeira Cruzada 1096-1099 Segunda Cruzada 1147-1149 Terceira Cruzada 1189-1192 Quarta Cruzada - 1202 - 1204

Ilustração - Tomás Aquino

Ilustração - Catedral de Rheims na França

Capítulo 8 675-802 - João de Damasco 700 715-731 - Papado de Gregório II 717-741 - Leão III 741-775 - Constantino V 787 - Segundo Concílio de Nicéia 800-814 - Carlos Magno 858-886 - Cisma de Fótio 867-886 - Basílio I 886-912 - Leão IV 945-963 - Constantino VII 1000

1049-1054 - Papado de Leão IX 1137-1270 - Dinastia Abissínia Zagwe 1181 - Maronitas tornam-se a igreja uniata 1200 1202-1204 - Quarta Cruzada 1250-1517 - Império Otomano 1274 - Concílio de Lyon 1325 - Sede da Igreja Ortodoxa muda-se para Moscou 1328-1340 - Ivan I 1438-1439 - Concílio da União em Ferrara-Florença 1453 - Queda de Constantinopla para os turcos 1500

Mapa - Impérios Carolíngeo e Bizantino

Mapa - A propagação do Cristianismo oriental

Ilustração - Igreja de São Basílio em Moscou

Capítulo 9 Cronologia 1300 1321 - Guilherme de Ockham, Controvérsia realista/nominalista1330-1384 - John Wiclyffe 1337 - Começa a Guerra dos Cem Anos 1347-1348 - Primeira onda de Peste Negra 1369-1414 - Jan Hus 1378 - Começa o Grande Cisma 1380-1471 - Thomas à Kempis 1400 1414-1417 - Concílio de Constance 1431 - Joana D’Arc é executada 1434 - Começa o domínio Médici sobre Florença 1450 - Invenção dos tipos móveis

1453 - Queda de Constantinopla 1460-1536 - Desidério Erasmo 1494 - Carlos VIII invade a Itália 1494-1498 - Savonarola em Florença 1498 - Leonardo da Vinci pinta a Última Ceia 1500 1508 - Michelangelo começa a pintar a Capela Sistina 1508-1513 - Rafael pinta a Madona Sistina 1513 - Leão X torna-se papa 1550

Quadro - O papado no final da Idade Média Bonifácio VIII (1294-1303) Benedito XI - (1303-4) Começo do Papado de Avignon Clemente V (1306-14) João XXII (1316-34) Benedito XII (1334-42) Clemente VI (1342-52) Inocente VI (1352-62) Urbano V (1362-70) Gregório XI (1370-78) O Grande Cisma Papas Romanos Urbano VI (1378-89) Bonifácio IX (1389-1404) Inocêncio VII (1404-6) Gregório XII (1406-15) Papas de Pisa Alexandre V (1409-10) João XXIII (1410-15) Papas de Avignon Clemente VII (1378-94)

Benedito XIII (1394-1423 Concílio de Constance - Reunificação da Igreja, 1415-17 O papado na Renascença Martin V (1417-31) Eugênio IV (1431-47) Nicolau V (1447-55) Calisto III (1455-58) Pio II (1458-64) Paulo II (1464-71) Sisto IV (1471-84) Inocêncio VIII (1484-92) Alexandre IV (1492-1503) Júlio II (1503-13) Leão X (1513-21)

Ilustração - Moisés de Michelangelo Ilustração - Basílica de São Pedro em Roma

Capítulo 10 Cronologia 1450 1466-1536 - Erasmo 1483-1546 - Martinho Lutero 1484-1531 Ulrich Zwigli 1486-1525 Frederico da Saxônia 1491 - 1556 - Inácio de Loyola 1497-1560 - Melancthon 1500 1509-1547 - Henrique VIII 1509-1564 - João Calvino 1513-1521 - Papado de Leão X

1514-1572 - John Knox 1515-1547 - Francis I 1519-1556 - Carlos V 1521 - Dieta de Worms 1525 - Thomas Munzer é executado 1542-1587 - Mary, Rainha dos Escoceses 1550 1558-1587 - Elizabeth I 1600

Ilustração - Quatro reformadores: Farel, Calvino, Beza e Knox

Mapa - A Reforma Legenda: Católico Romano Luterano Calvinista (Reformado) Igreja da Inglaterra

Ilustração - Catedral de Mainz, na Alemanha

Capítulo 11 Cronologia 1500 1519-1605 Theodore Beza 1527-1598 - Filipe II 1542 - Volta da Inquisição 1555 - Paz de Augsburg 1558-1603 - Elizabeth I 1560-1609 - Jacobus Arminius 1572 - Massacre do Dia de São Bartolomeu 1577 - Fórmula de Concórdia

1589 - Henrique de Navarro torna-se rei 1598 - Édito de Nantes 1600 1603-1625 - James I 1618-1619 - Sínodo de Dort 1618-1648 - Guerra dos Trinta Anos 1625-1649 - Carlos I 1633-1645 - William Laud 1643-1647 - Assembléia de Westminster 1648 - Paz de Westphalia 1653-1658 - Oliver Cromwell

Quadro - Soluções para a Questão Religiosa Divisão - Dividir um país em territórios católicos e protestantes sendo que o governante de cada região determina a fé que será praticada pelo povo. Paz de Augsburg na Alemanha em 1555 Guerras Religiosas na França, 1562-89 resultam na decisão de Henrique IV de tornar-se católica mas dando aos huguenotes a liberdade de praticar sua fé em áreas nas quais fossem predominantes

Acordo - O Estado faz um acordo que resolve as diferenças religiosas e todos são forçados a aderir ao mesmo Elizabeth I e a adoção dos Trinta e Nove Artigos definindo as crenças da Igreja Anglicana

Repressão - O Estado escolhe um lado na questão religiosa e elimina todos os dissidentes através de execução e exílio Mary Tudor na Inglaterra Filipe II - reprime todos os dissidentes na Espanha mas não consegue impor o Catolicismo sobre os holandeses

Tolerância - O Estado permite que diferentes fés coexistam em liberdade dentro de suas fronteiras Holanda no final do século 16 e século 17 Roger Williams em Rhode Island e William Penn na Pensilvânia estipulam que todas as crenças terão liberdade de culto.

Mapa - As Guerras Religiosas Legenda: Território espanhol Habsburgo Estados alemães Terras prussianas Terras suecas Território austríaco Habsburgo Limites do Sacro Império Romano Principais Batalhas

Ilustração - Oliver Cromwell

Capítulo 12 Cronologia 1394-1460 - Príncipe Henrique o Navegador 1400 1445 - Nicolau V dá o Padroado 1474-1556 - Bartolomé de las Cásas 1492 - Conquista espanhola de Granada e expulsão dos judeus 1493 - Colombo chega na América 1497 - Vasco da Gama chega na Índia 1519-1522 - Navios de Magalhães circunavegam a Terra 1521 - Cortés derrota Montezuma 1541-1552 - Francisco Xavier trabalho no Oriente 1557 - Missão espanhola nas Filipinas 1582-1610 - Matteo Ricci na China 1600 1602 - Fundada a Companhia Holandesa das Índias Orientais 1609 - Fundação de Quebec 1622 - Gregório XV cria a Congregação para a Propagação da Fé 1663 - Formação em Paris da Sociedade para Missões Estrangeiras 1700 - Pedro I promove as missões na Sibéria

1769 - Junípero Serra funda a primeira missão na Califórnia 1794 - Primeira missão russa ortodoxa no Alasca 1800

Mapa - Impérios Comerciais dos Séculos 16 e 17 Legenda: Controle holandês Controle português Controle espanhol

Ilustração - Igreja Ortodoxa Russa de S. Miguel em Sitka, Alasca

Ilustração - Bartholomé de las Cásas

Capítulo 13 Cronologia 1500 1575 - Filipe Nicolau 1575 - Ivan I (O Terrível) 1598 - Édito de Nantes 1600 1600 - Johann Heinrich Alsted 1625 - Cardeal Richelieu assume o cargo de principal ministro de Luís XIII 1640 - Frederico Guilherme o Grande Eleitor sobe ao poder 1650 - Jacques Benigne Bossuet 1688 - Frederico I sobe ao poder 1689 - Pedro I (o Grande) torna-se czar 1700 1702-1710 - revolta dos Camisards 1723 - Johann Sebastian Bach torna-se dirigente do coral em Leipzig 1725 - George Frederick Handel destaca-se na Inglaterra 1800

Ilustração - Pedro o Grande

Mapa - Estados Absolutistas na Europa Legenda: Terras espanholas Bourbon Terras francesas Bourbon Terras prussianas Grã-Bretanha Terras austríacas Habsburgo Limites do Sacro Império Romano

Ilustração - George Frederic Handel

Capítulo 14 Cronologia 1600 1600 - Thomas Helwys funda a primeira igreja batista 1625 - Cornelius Jansen 1629 - Começa o assentamento de puritanos no Massachusetts 1642-1649 - Guerra Civil Inglesa 1647 - Adotada a Confissão de Westminster 1650 - John Owen 1650 - John Milton 1650 - John Bunyan 1670 - Publicação da obra Pensées de Blaise Pascal 1675 - Philipp Jacob Spener publica Pia Desideria 1675 - Joachim Neander 1681 - William Penn funda a Pennsylvania 1698 - August Hermann Francke abre o primeiro orfanato em Halle 1700 1708 - Alexander Mack funda a Igreja dos Irmãos 1722 - N. L. von Zinzerdorf funda a comunidade de Hernhut 1800

Ilustração - Francke em Halle, na Alemanha

Mapa - O crescimento da Áustria e Brandenburg-Prússia Legenda: Território austríaco no final da Guerra dos Trinta Anos (1648) Aquisições austríacas depois de vitória decisiva sobre o império otomano (1699) Território prussiano na ascensão do Grande Eleitor (1640) Aquisições prussianas quando da morte do Grande Eleitor (1688) Aquisições prussianas quando do fim da Guerra de Sucessão Austríaca (1748) Limites do Sacro Império Romano

Capítulo 15 Cronologia 1500 1543 - Obra Revolução das Esferas Celestes de Copérnico 1550 - Tycho Brahe 1600 1600 - Johann Kepler 1632 - Obra Dois Principais Sistemas de Mundo de Galileu 1650 - John Locke 1687 - Publicada a obras Principia de Isaac Newton 1700 1735 - Voltaire é o principal porta-voz da liberdade religiosa 1740 - Frederico II (o Grande) sobe ao poder na Prússia 1750 - Benjamin Franklin 1778 - Fundado o Illuminati 1780 - Joseph II, governante das Áustria 1781 - Obra Crítica da Razão Pura de Kant.

Ilustração - A Teoria Geocêntrica

Mapa - A Europa em 1715

Legenda: Terras austríacas Habsburgo Brandenburg-Prússia Bourbons espanhóis

Ilustração - Adam Smith

Capítulo 16 Cronologia 1550 1555 - Refúgio huguenote no Brasil 1596 - Obra O Reino de Cristo de Philipp Nicolai 1600 1602 - Fundada a Companhia Holandesa das Índias Orientais 1619 - Concessão de Surat às Índias Orientais Britânicas 1634 - Peter Heyling 1642 - Thomas Mayhew 1642 - Fundação de Montreal 1649 - Formação da Companhia da Nova Inglaterra 1652 - Holandeses fundam colônia do Cabo 1664 - Formação da Companhia Francesa das Índias Orientais 1681 - Fundação da Pensilvânia como refúgio de liberdade religiosa 1698 - Fundação da SPCK 1700 1706 - Fundação da missão conjunta da Dinamarca e Halle 1725 - O Grande Despertar 1731 - Missão na Morávia 1732-1733 - Assentamento da Geórgia visando a liberdade religiosa 1735-1736 - John e Charles Wesley vão para a Geórgia 1738 - George Whitefield começa cultos ao ar livre 1743-1747 - David Brainerd entre os índios Delaware. 1775 - Henry Alline em Nova Scotia 1791 - Lei do Canadá oferece Reservas para o Clero

1800

Ilustração - Exemplo da escrita de John Wesley

Ilustração - George Whitefield

Ilustração - Conde Nikolaus Ludwig von Zinzerdorf

Capítulo 17 Cronologia 1700 1725 - O Grande Despertar 1750 1755 - Conversão de John Newton 1763 - Tratado de Paris 1763 - Proclamado o febronianismo 1773 - Papa determina o fim da ordem jesuíta 1774 - Lei de Quebec 1775 - Início da Revolução Americana 1781 - Édito de Tolerância de Joseph II 1787 - Convenção Constitucional 1789 - revolução Francesa 1790 - Constituição Civil do Clero 1791 - Ratificada a Carta de Direitos 1792 - Reúne-se a seita Clapham 1792-1798 - Hannah More publica Panfletos Baratos de Repositório 1800 1801 - Acordo de 1801 entre Napoleão e o papa 1804 - Napoleão torna-se imperador 1806 - Dissolução do Sacro Império Romano 1807 - Parlamento adota o projeto de Wilberforce abolindo o comércio de escravos 1813 - Índia abre-se para as missões 1815 - Derrota final de Napoleão

1850

Quadro - Denominações Proeminentes nas Treze Colônias Americanas COLÔNIA Virgínia Massachusetts New Hampshire Nova York Maryland Connecticut Rhode Island New Jersey Delaware Carolina do Norte Carolina do Sul Pensilvânia Geórgia Nova Scotia (Acádia)

PRIMEIROS ASSENTAMENTOS EM: 1607 1620 1623 1626 1634 1634 1636 1638 1638 1653 1670 1681 1733

1710, 1749

PRINCIPAIS DENOMINAÇÕES: 

Anglicana / Presbiteriana / Batista



Congregacional / Puritana / Separatista, Batista



Congregacional



Reformada Holandesa / Anglicana / Presbiteriana



Católica Romana / anglicana / Presbiteriana



Congregacional



Congregacional / Batista / Quaker



Reformada Holandesa / Presbiteriana / Quaker



Luterana / Anglicana



Anglicana / Presbiteriana / Morávia



Anglicana / Huguenote / Presbiteriana



Quaker / Luterana / Menonita / dos Irmãos / Reformada Alemã / Schwenckfelder /

Presbiteriana / Morávia 

Anglicana / Morávia



Anglicana, mas havia tolerância a quase todas as fés

IGREJA OFICIAL: Anglicana Congregacional Congregacional Anglicana (1693) Anglicana (1691) Congregacional Nenhuma Nenhuma Nenhuma Anglicana Anglicana Nenhuma Anglicana (1758)

Anglicana (1758)

Ilustração - Hannah More

Quadro - A Seita Clapham O termo “Seita Clapham” foi criado na década de 1840 para designar um grupo muito fechado de cristãos, na maioria anglicanos evangélicos que moravam no subúrbio londrino de Clapham ou o visitavam com freqüência durante o período por volta de 1792-1815. Eram pessoas de altas posições sociais que trabalhavam juntas pela reforma social e a propagação do evangelho.

* Pessoas que moraram em Clapham pelo menos durante parte desse tempo: Charles Simeon (1759-1836), vigário da Igreja da Santa Trindade em Cambridge e mentor de toda essa geração de evangélicos. * John Venn (1759-1813), desde 1793 era pároco da igreja de Clapham e líder espiritual do grupo * Henry Thorton (1760-1815), proeminente banqueiro e membro do Parlamento que mudou-se para Clapham em 1792 e cuja casa era o lugar de encontro do grupo. * William Wilberforce (1759-1833), membro do Parlamento, líder da luta contra o comércio de escravos e a corrupção moral na Inglaterra, primo de Thorton * James Stephen (1758-1832), advogado nas Índias Ocidentais e depois em Londres, também era membro do Parlamento e casado com a irmã de Wilberforce. * Zachary Macaulay (1768-1832), supervisor de plantações nas Índias Ocidentais e que mais tarde liderou o assentamento em Serra Leoa. * Charles Grant (1746-1823), oficial da Companhia das Índias Orientais e, à partir de 1794 principal diretor do Concílio das Índias Orientais em Londres, membro do Parlamento. * John Shore, Lord (Barão) Teignmouth (1751-1834), governador geral da Companhia das Índias Orientais (1793-97) Thomas Gisborne (1758-1846), clérigo em Yoxall, Staffordshire, conselheiro de Wilberforce nas questões escravagistas, passava seu tempo livre em Clapham. Thomas Babington (1758-1837), membro do Parlamento, de Rothley Temple, Leicestershire, cunhado de Gisborne e Macaulay. * William Smith (1756-1835), membro do Parlamento. 

Charles Elliot (1751- 1832), cunhado de John Venn.

* Edward James Elliot (1758-1797), cunhado do primeiro-ministro Pitt, indicado para ser

governador-geral na Índia, mas morreu inesperadamente. Hannah More (1745-1833), escritora e reformadora educacional em Somerset, passava bastante tempo na companhia de moradores de Clapham. Granville Sharp (1735-1813), abolicionista que garantiu a decisão da corte em 1772 de proibir a escravidão na Grã-Bretanha. Thomas Clarkson (1780-1846), figura proeminente do movimento abolicionista, juntou informações usadas por Wilberforce. Josiah Pratt (1768-1844), primeiro editor de Christian Observer em 1802, fundador tanto da CMS e da Sociedade Bíblica Estrangeira da Grã-Bretanha.

Causaas que defenderam: Abolição do comércio escravo Formação de sociedades bíblicas e de panfletos com a finalidade de propagar o evangelho Missões estrangeiras e abertura de obras missionárias na Índia Escolas dominicais e educação básica Assistência aos pobres e melhorias para a classe trabalhadora Fim da imoralidade pública, esportes violentos e embriaguez Reforma penal e penitenciária Guardar o sábado

Capítulo 18 1750 1775 - Frederick Schiller 1775 - Johann Wolfgang von Goethe 1799 - Segundo Grande Despertamento 1800 1810 - Georg F. Hegel 1813 - Guerras de Libertação 1813 - J. A. Neander é nomeado professor 1814 - Restabelecimento dos Jesuítas 1814-1815 - Congresso de Viena 1815 - Fundada a Escola de Missões da Basiléia

1825 - F. A. Tholuck começa a lecionar em Halle 1828 - Rejeitada a Lei do Teste 1830 - Revoluções de 1830 1831 - Formada a Sociedade Evangélica de Genebra 1833 - Começa a Panfletagem 1835 - Charles G. Finney 1848 - Revoluções de 1848 1850 1850 - J. C. Blumhardt abre um centro para evangelismo 1853-1856 - Guerra da Criméia 1861-1865 - Guerra Civil Americana 1871 - Unificação da Alemanha 1900

Ilustração - Timothy Dwight

Ilustração - John Nelson Darby

Ilustração - Friedrich August Tholuck

Capítulo 19 Cronologia 1700 1750 - Começo da Revolução Industrial na Inglaterra 1780 - Robert Raikes lança o movimento da Escola Dominical 1800 1813 - Elizabeth Fry começa as visitas à prisões 1833 - Lei da Fábrica 1833-1834 - Abolição da escravatura no Império Britânico 1848 - Missão Interior na Alemanha 1848 - Publicação do Manifesto Comunista 1853 - Florence Nightingale funda a enfermagem científica 1865 - Fundação do Exército da Salvação

1883 - Fundada a Sociedade Fabiana 1891 - Leão XIII, Rerum Novarum 1900 1911 - Liga Socialista da Igreja 1950

Ilustração - Anthony Ashley Cooper, Sétimo Conde de Shaftersury

Ilustração - Os males da Revolução Industrial

Ilustração - William Booth, Fundador do Exército da Salvação

Capítulo 20 Cronologia 1750 1786 - Thomas Coke lidera a primeira missão metodista para as Índias Ocidentais 1788 - Começa a colonização britânica na Austrália 1793 - William Carey embarca para a Índia 1800 1806 - Reunião de oração no monte de feno 1812 - Adoniram Judson vai para a Birmânia 1834 - Emancipação dos escravos britânicos no Império Britânico 1844 - Fundação da ACM 1850 1864 - Samuel Crowther é nomeado bispo da África Ocidental 1865 - Hudson Taylor funda a Missão do Interior da China 1869 - Completado o Canal de Suez 1888 - Fundação do Movimento Estudantil Voluntário 1891 - Mary Slessor nomeada vice-consulesa em Calabar 1898 - Guerra Hispano-Americana 1899-1902 - Guerra dos Boers na África do Sul 1900 1901 - Amy Carmichael forma a Irmandade Dohnavur

1904-1905 - Guerra Russo-Nipônica 1910 - Conferência Mundial Missionária em Edinburgh 1914 - Começa a Primeira Guerra Mundial 1950

Ilustração - Samuel Crowther

Quadro - Importantes Sociedades de Missões Estrangeiras Protestantes (antes da Primeira Guerra Mundial) 

1649 - Sociedade para a Propagação do Evangelho na Nova Inglaterra (Companhia da nova

Inglaterra) 

1698 - Sociedade para a Promoção do Conhecimento Cristão



1701 - Sociedade para a Propagação do Evangelho em Partes Estrangeiras



1732 - Os morávios em Hernhut começam trabalho missionário no exterior



1792 - Sociedade Missionária Batista



1797 - Sociedade Missionária da Holanda



1799 - Sociedade Missionária da Igreja



1810 - Junta Americana de Comissários para Missões Estrangeiras



1813 - Sociedade Missionária Metodista Wesleiana



1814 - Convenção Geral Missionária da Denominação Batista para Missões Estrangeiras

(Sociedade Batista Americana de Missões Estrangeiras) 

1815 - Missão da Basiléia



1819 - Sociedade Missionária da Igreja Metodista Episcopal (EUA.)



1821 - Sociedade Missionária Dinamarquesa



1822 - Sociedade Missionária Evangélica de Paris



1824 - Comitê da Igreja da Escócia para Missões Estrangeiras



1824 - Sociedade Missionária de Berlim



1828 - Sociedade Missionária do Reno (ou Barmen)



1829 - Missões Cristãos em Muitas Terras (Irmãos Cristãos ou de Plymouth)



1835 - Sociedade Missionária Sueca



1835 - Sociedade Missionária da Igreja Episcopal Protestante nos EUA



1836 - Sociedade Missionária do Norte da Alemanha (ou Bremen)



1836 - Sociedade Missionária Gossener (Berlim)



1836 - Sociedade Missionária de Leipzig (Luterana Confessional)



1837 - Junta de Missões Estrangeiras da Igreja Presbiteriana nos EUA



1840 - Missão Pioneira S. Chrischona (Suíça)



1841 - Sociedade Missionária de Neuendetteslau (Confessional Luterana)



1842 - Sociedade Missionária Norueguesa



1843 - Missão da Igreja Livre da Escócia (formada depois da Separação)



1844 - Sociedade Missionária da América do Sul



1845 - Junta de Missões Estrangeiras da Convenção de Igrejas Batistas do Sul



1849 - Sociedade Missionária Hermannsburg (Discípulos de Cristo)



1857 - Missão das Universidades para a África Central



1859 - Sociedade Missionária Finlandesa



1865 - Missão do Interior da China (Irmandade Missionária do Exterior)



1872 - União Missionária das Regiões Distantes



1872 - Junta de Missões Estrangeiras da Conferência Geral da Igreja Menonita



1881 - Missão da África do Norte



1884 - Missão Alemã do Leste da Ásia



1889 - Missão Geral do Sul da África (Irmandade Evangélica da África)



1890 - Missão Evangélica da Aliança



1892 - Missão da Igreja Luterana Livre (ou Bleckmar)



1892 - União Missionária do Evangelho



1893 - Missão do Interior do Sudão



1895 - Missão do Interior da África



1897 - Aliança Cristã e Missionária



1899 - Missão Liebenzel (Alemanha)



1901 - Sociedade Missionária Oriental



1904 - Missão Unida do Sudão



1908 - Missão Christoffel para os Cegos (Missão Cristão para os Cegos)



1910 - Missão do Evangelho Mundial



1914 - Departamento de Missões Estrangeiras da Assembléia de Deus



1914 - Cruzada Evangélica Mundial

Ilustração - Mary Slessor

Capítulo 21 Cronologia 1800 1833 - Eslavofilismo na Rússia 1846 - Fundação da Aliança Evangélica 1850 1853-1856 - Conflito da Criméia 1854 - Dogma da Concepção Imaculada 1854 - Charles Spurgeon começa seu ministério em Londres 1856 - D. L. Moody vai para Chicago 1859 - Obra Origem das Espécies de Charles Darwin 1870 - Primeiro Concílio do Vaticano 1878 - Leão XIII torna-se papa 1890 - Cresce o darwinismo social 1890 - Reavivamento do Movimento da Irmandade na Alemanha 1900 1901-1905 - Abraham Kuyper é primeiro-ministro na Holanda 1908 - Criado o Concílio Federal de Igrejas 1909 - Bíblia de Referência Scofield 1914 - Começa a Primeira Guerra Mundial 1950

Ilustração - Nicholas I, Czar da Rússia

Ilustração - Dwight L. Moody

Ilustração - William Jennings Bryan

Capítulo 22 Cronologia 1896 - Theodor Herzl lança o movimento Sionista

1900 1913 - Woodrow Wilson torna-se Presidente 1915 - Massacres Armênios 1917 - Formação do Concílio Católico Nacional de Guerra 1917 - Revolução Russa 1919 - Tratado de Versalhes 1923 - Obra Cristianismo e Liberalismo de J. Gresham Machen 1925 - Julgamento de Scopes 1929 - Acordos de Latrão 1929 - Começa a Grande Depressão 1937 - Pio XI critica o nazismo e o comunismo 1939 - Começa o holocausto na Polônia 1941-1942 - Inicia-se a Solução Final 1945 - Bonhoeffer é executado 1945 - Bomba atômica termina a Segunda Guerra Mundial

Ilustração - Presidente Woodrow Wilson

Ilustração - Judeus num gueto de Varsóvia

Ilustração - As desonras da guerra Marte: Eu costumava ser o deus da guerra e não da carnificina

Capítulo 23 Cronologia 1900 1925 - Forma-se a Igreja Unida do Canadá 1928 - InterVarsity Christian Fellowship no Canadá 1939-1945 - Segunda Guerra Mundial 1942 - Criação da NAE 1945 - John R. Stott começa o ministério na Igreja de Todas as Almas 1946-1947 - Começa a Guerra Fria 1948 - Fundação da WCC

1948 - Criação do Estado de Israel 1949 - Billy Graham, Cruzada de Los Angeles 1950 - Criada a Visão Mundial 1951 - Fundação da Cruzada Estudantil para Cristo 1961 - Construído o Muro de Berlim 1962 - Crise Cubana dos Mísseis 1962-1965 - Segundo Concílio do Vaticano 1967 - Começa a Guerra do Vietnã 1974 - Congresso de Lausane sobre Evangelismo Mundial 1978 - Papa João Paulo II é eleito 1989 - Congresso Lausane II em Manila 1991 - Fim da União Soviética 2000

Quadro - O Cristianismo como fé global (dados de 1993) População mundial (total) 5.575.954.000 População mundial dividida por religião Cristãos (de todos os tipos) 1.899.751.000 Não cristãos Muçulmanos 1.014.372.000 Não-religiosos 912.874.000 Hindus 751.360.000 Budistas 334.002.000 Ateus 241.852.000 Novas religiões 123.765.000

Religiões tribais 99.736.000 Sikhs 19.853.000 Judeus 18.153.000 Religiões menores e não-classificadas 3.706.202 Total de cristãos como porcentagem da população mundial: 34%

Membresia por divisão eclesiástica Anglicanos (episcopais) 55.974.000 Católicos romanos (incluindo uniatas) 1.020.804 Protestantes 342.696.000 Protestantes marginais 20.020.000 Ortodoxos (todos os tipos) 185.568.000 Cristãos nativos não-brancos 112.816.000

Porcentagem de cristãos por áreas geográficas África 16% Ásia Oriental 6,2% Europa 24,1% Norte da Ásia (antiga USSR) 6,7% América Latina 25,3% América do Norte 11,6% Sul/Sudeste da Ásia 8,4% Oceania 1,1%

Fonte: David B. Barret “Annual Statistical Table on Global Mission: 1993”. International Bulletin of Missionary Research 17 (Janeiro 1993), 23.

Ilustração - Harold J. Okenga

Ilustração - Desmond Tutu

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