Dissertazen-textual

  • April 2020
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INTRODUÇÃO A Geografia vem enfatizando a necessidade de se avaliar os impactos das atividades de lazer e turismo no espaço e suas conseqüências sociais e ambientais, tanto em ambientes construídos (urbanos e rurais) quanto em áreas naturais, principalmente as protegidas. Para Costa (2008) “a Geografia tem papel relevante, na medida em que seu objeto de estudo está diretamente relacionado com a organização espacial das atividades”. Sales & Assis (2006: 109) referem ainda que “há uma intensa relação entre turismo e espaço, uma vez que o primeiro apropria-se do segundo, fazendo uma série de transformações para atender às suas exigências”.

Apontam igualmente que para a abordagem geográfica do turismo, é preciso identificar os elementos que compõem o espaço, ou seja, os homens, as firmas, as instituições, o chamado meio ecológico e as infra-estruturas e concluem afirmando: “Portanto, cabe à Geografia pesquisar os aspectos relacionados ao uso que o Turismo faz do espaço, quando ao se instalar, modifica a relação sociedadenatureza e altera a dinâmica das paisagens, regiões, territórios e lugares”. Sandeville Jr. (2002:157) comunga da mesma opinião, ressaltando que a natureza nas áreas tropicais, possui duas características importantes onde a biodiversidade é “cenário e objeto de consumo”. A indústria do Turismo analisada pelos geógrafos tem recebido vários enfoques incluindo as atividades que associam atividades de lazer nos espaços naturais, visto que, mormente, o usuário local e o turista fazem uso das mesmas paisagens e infra-estruturas. Cabe ressaltar também, que para Sonaglio (2006), o segmento do ecoturismo é visto, tanto pelo governo como pelos estudiosos do tema, como uma alternativa econômica sustentável e como meio para conservação dos recursos naturais e culturais, além de gerador de benefícios às comunidades locais, a exemplo do previsto na Constituição Federal de 1988, no capítulo “Meio ambiente” (2005)1.

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O qual registra, no artigo 225, que: [...] todos tem o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum, do povo e essencial a sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e a coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

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Cruz (2003) lembra ainda que a apropriação de espaços naturais pelo turismo implica em transformações espaciais relacionadas aos fatores de acessibilidade e hospedagem; e que “em se tratando de unidades de conservação, algumas das transformações espaciais decorrentes do uso turístico de seus territórios diz respeito à abertura de trilhas ou a utilização de pré-existentes, ao longo das quais podem ser instalados instrumentos de educação ambiental (p. 19)”;

As trilhas, objeto desta dissertação, vão muito mais além, pois ao promover e facilitar o acesso a atrativos cria e consolida lugares e territorialidades; tanto para uso direto da visitação quanto para proteção do patrimônio natural. Razão pela qual o planejamento e manejo adequado das trilhas e seus roteiros possibilitam a orientação e monitoramento da dispersão de visitantes, se convertendo assim em importante ferramenta de gestão, fundamental para que unidades de conservação cumpram o seu papel de conservação e preservação do patrimônio natural, dentro dos padrões de sustentabilidade, assim como propiciar a apreciação e qualidade da visitação por seus diferentes usuários.

Deste modo, as atividades de lazer e ecoturismo associadas à ausência de uma malha de trilhas adequada, são particularmente um problema para o Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu/RJ (PNMNI). Este, muito próximo de grandes concentrações populacionais2, atende uma demanda crescente de visitantes e por oferecer entrada franca é uma opção viável financeiramente, sobretudo para as camadas menos privilegiadas, que possuem poucas ofertas de lazer, principalmente as que envolvem a natureza.

Para ressaltar sua importância, sua localização permite estabelecer a relação onde o PNMNI está para os municípios limítrofes, Nova Iguaçu e Mesquita, assim como o Parque Nacional da Tijuca está para o Rio de Janeiro, guardando as devidas proporções. Cabe destacar que municípios próximos como Belfort Roxo, Nilópolis e São João de Meriti possuem 3,34%, 0,00% e 0,00%, respectivamente, de cobertura vegetal de suas áreas totais, conforme levantamento da Fundação Cide em 2001. 2

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, a população da Baixada Fluminense, em 2000 era estimada em aproximadamente três milhões de pessoas, destacando que Mesquita possui 182.495 habitantes e Nova Iguaçu 830.672; municípios onde o parque se localiza, totalizando em torno de um milhão de pessoas em seu entrono imediato.

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Em avaliação preliminar do Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu vigente, ao se considerar o programa de Uso Público, nos subprogramas de Recreação e Lazer e Ecoturismo percebe-se que o mesmo não possui análise mais detalhada do potencial turístico e de lazer, tendo privilegiado os lugares já consolidados para a visitação, como os poços e cachoeiras e caminhadas curtas em sua principal via (a Estrada da Cachoeira).

Contudo, embora a administração do parque perceba o crescimento da procura por lazer de natureza3 e do ecoturismo, principalmente por moradores da Baixada Fluminense, esta não consegue interferir de maneira efetiva na gestão deste aumento de demanda justamente por não possuir alternativas de atrativos oficiais para receber este “novo” visitante. Ressalta-se que não foram concluídas as infra-estruturas previstas no plano de manejo, como áreas para piquenique, Centro de Visitantes e malha de trilhas com mais roteiros, as quais se estivessem operacionais, teriam estimulado o acesso a atrativos e oportunidades de atividades ao ar livre nas áreas hoje subutilizadas.

Desta forma, como hipótese norteadora da presente investigação, parte-se do pressuposto de que, através do ordenamento da malha de trilhas existentes, associado à identificação do espectro de oportunidades recreativas, será possível estabelecer subsídios para o zoneamento recreativo e ecoturístico no Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu e desta maneira induzir, tanto a mudança no perfil médio do usuário, quanto interferir na sazonalidade da visitação estabelecida. Neste sentido, são estabelecidos os seguintes objetivos:

Gerais: · Oferecer subsídios para os processos de planejamento, implantação e manejo de trilhas em Unidades de Conservação · Oferecer subsídios para caracterização e padrão de dispersão de visitantes em Unidades de Conservação

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Cuja divulgação é favorecida pela constante exposição na mídia que indiretamente tem induzido o aumento do fluxo de visitantes.

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Específicos: · Mapeamento e seleção de caminhos e trilhas no interior do Parque, que possam ser utilizados para atividades regulares de lazer na natureza e ecoturismo, de modo a incorporar administrativamente as áreas já consolidadas informalmente pelos visitantes. · Sugerir roteiros de trilhas a ser sinalizado e implantado pela administração do PNMNI nas zonas de uso intensivo, extensivo e de relevante interesse4. · Gerar subsídios para o zoneamento turístico do PNMNI, considerando o atual zoneamento territorial e ambiental, através da análise preliminar de acessibilidade e potencialidades turísticas nas áreas com trilhas roteirizadas no presente trabalho.

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Zona de relevante interesse para a gestão da UC: é uma área de aproximadamente 59,5 hectares que foi incorporada ao PNMNI no ato de sua criação. Nela estão localizadas a Guarita de entrada, represa Epaminondas Ramos e Pedreira desativada São José.

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1.0 ÁREA DE ESTUDO: CARACTERIZAÇÃO GERAL

A opção por escolher o Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu (PNMNI) como objeto de pesquisa se deve à: · Estar localizado na Apa do Gericinó-Mendanha, considerada Reserva da Biosfera pela UNESCO desde 1996, abrigando remanescentes de Mata Atlântica, um dos biomas mais ameaçados do mundo. · É uma das poucas unidades de conservação do estado e do país a ter situação fundiária plenamente resolvida. · É uma importante área de recreação e ecoturismo para moradores da baixada fluminense, podendo contribuir direta e indiretamente para criação e manutenção de unidades de conservação urbanas na Baixada Fluminense e para o crescimento de atividades de lazer e turismo em ambientes naturais. · Embora tenha várias trilhas na zona de uso extensivo, utilizadas oficiosamente por uma pequena fração dos visitantes, não possui roteiros estabelecidos e a visitação é massiva e sazonal no verão, se concentrando na área de uso intensivo. · Desde 2004, vem recebendo subsídios da Diretoria de Recursos Minerais do estado do Rio de Janeiro, através do projeto Caminhos Geológicos, entre outros, para ser elevada a categoria de geoparque, em função dos inúmeros atrativos geológicos existentes.

Assim, o PNMNI oferece uma oportunidade impar de pesquisa sobre o ordenamento da malha de trilhas como uma ferramenta de gestão e de avaliação do zoneamento territorial e ambiental estabelecido, no que tange a visitação e desenvolvimento de atividades recreacionais e ecoturísticas em unidades de conservação. Espera-se que este trabalho contribua para a promoção e/ou melhoria dos serviços e atrativos oferecidos aos usuários, assim como contribuir para a proteção da biodiversidade e paisagens locais, dentre outros.

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1.1 Acessos e localização geográfica: 1.1.1 Acessos: Os principais acessos à estrada da Cachoeira, em cujo final se localiza a entrada do PNMNI são basicamente dois: ·

·

Via Mesquita (melhor opção): Tomando como ponto de referencia a Estação Ferroviária de Juscelino (antiga Vila Nova) na Estrada Feliciano Sodré. Nova Iguaçu: Via Bairro Kaonze: Ponto de referência: Praça do Kaonze. Somente para pedestres. Usa uma extensão informal, não asfaltada, da Rua Juvenal Valadares. É mais utilizada por moradores deste bairro.

Na figura 01 são discriminadas as vias referidas.

Praça do Kaonze

Há uma ligação não oficial e sem pavimentação até a Estrada da Cachoeira utilizada pela comunidade local.

Estação de Juscelino

Clube de Mesquita Figura 01: Acessos ao Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu Fonte: http://maps.google.com – Modificado por Flávio A. P. Mello, 2008.

Para pedestres ou usuários de transportes coletivos as opções mais acessíveis são: · De ônibus: A Viação Mirante dispõe da linha Nova Iguaçu - Mesquita. · De trem: O ponto de referência é a Estação de Presidente Juscelino. Existem, entretanto, inúmeros acessos informais. O mais conhecido e utilizado principalmente por operadores de rapel na Pedra da Contenda e caminhadas à rampa de Vôo Livre, é o Caminho do Tatu-gamela a partir de Nova

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Iguaçu, conhecida também como Estrada da Rampa ou ainda Estrada do Itamar. Esta via é de acesso à Rampa de Vôo Livre por seus praticantes. Dentre outros vários caminhos e trilhas de uso consagrado pelos moradores locais que acendem a área do parque se destacam: a trilha do Capitão, via Bairro Kaonze; as trilhas do Mendanha que liga o PNMNI ao parque do Mendanha; Pau da Letra que segue para Campo Grande e trilhas não identificadas que se dirigem a Cabuçu, seguindo pelo alto da Serra de Madureira e as trilhas e suas variantes pelo bairro da Coreia e bairro Fábrica de Pólvora que seguem pela encosta dos morros localizados na área de Mesquita.

1.1.2 Localização geográfica O Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu, área de estudo da presente dissertação, está localizada na Gleba Modesto Leal, entre as coordenadas 7485/7477 e 650/658, na Baixada Fluminense entre os municípios de Mesquita, Nova Iguaçu e Rio de Janeiro; mais especificamente na vertente iguaçuana do Maciço do Gericinó, conhecido também por Serra do Madureira. De acordo com a lei de uso e ocupação do solo do município (Lei 2.882, de 30 de dezembro de 1997), integra a Zona de Interesse Ambiental (AE-1). Integra com o Parque Natural Municipal do Mendanha, pertencente à Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, as duas únicas unidades de conservação integral do maciço. Faz parte ainda da Área de Proteção Ambiental (APA) do Gericinó-Mendanha, sendo esta considerada Reserva da Biosfera pela UNESCO, desde 1996. Ocupa uma área total de 1.100 hectares (incluindo as áreas localizadas nos municípios de Nova Iguaçu e Mesquita) e sua altitude varia entre 150 metros na entrada da unidade e 956 metros no marco sudoeste, próximo ao Pico do Gericinó.

No entorno do PNMNI há um cinturão de pequenas propriedades, como sítios e chácaras mas sem expressão agrícola marcante que de certa forma protegem o Parque da pressão da expansão imobiliária, entretanto, na partes altas do bairro K11 em Nova Iguaçu e Bairro da Coréia em Mesquita, a proximidade facilita a entrada desautorizada, sendo um problema para a fiscalização.

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NOVA IGUAÇU

N

LEGENDA: Limites: Município de Nova Iguaçu

MESQUITA

Município de Mesquita

658

7477

Mapa 01 Localização geográfica do PNMNI e vias de acesso Fonte: Modificado de D08 – Localização Geopolítica e Vias de Acesso, em Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu – Versão Resumida – SEMUAM, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, 2001. Adaptado por Flávio A. P. Mello, 2007.

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1.2 Breve histórico de criação do Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu.

Segundo referências históricas contidas no Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu – Vs Resumida , no item “Processo histórico de ocupação”, a área onde se localiza o parque, fazia parte da Gleba Modesto Leal, anteriormente formada pelas antigas Fazendas Dona Eugênia e Fazenda São Felipe, que pertenceram a Maria Eugênia Travassos, viúva de Marinho Boom Travassos; que por sua vez as comprou de Custódio Baptista Gonçalves, em 1885.

Em 12 de dezembro de 1916, essas terras foram vendidas a João Leopoldo Modesto Leal (Conde Modesto Leal), razão da denominação anteriormente à criação do parque. Em 21 de julho de 1941, através do Decreto Lei nº 3.365, artigo 15, os remanescentes florestais de Mata Atlântica da Gleba Modesto Leal e áreas contíguas do maciço do Gericinó-Mendanha, foram transformadas em Florestas Protetoras da União, visando proteger os mananciais hídricos existentes.

De fato, o principal elemento catalisador da criação do PNMNI ocorreu em julho de 1985, quando o Governo do Estado do Rio de Janeiro, através da CEHAB, comprou as terras da Gleba Modesto com o objetivo de ali assentar 44 mil pessoas, no programa “Cada Família Um Lote”. Este evento provocou a reação imediata da Prefeitura de Nova Iguaçu, que já havia declarado o imóvel como de Utilidade Pública para fins de desapropriação, em 19 de março do mesmo ano, pelo Decreto nº 2858. Este Decreto foi revogado pelo Decreto nº 2.934, de 14 de junho de 1985, que, por sua vez, foi também revogado pelo Decreto nº 2.937, de 20 de junho de 1985.

Segundo depoimentos coletados junto a administração do PNMNI, a partir de cadastro efetuado pela Prefeitura de Nova Iguaçu, no início de outubro de 1997, foram identificadas e classificadas 32 ocupações no interior do Parque, resultado do extinto programa “Cada Família um Lote”, implantado pelo Governo Estadual. Neste mesmo ano a prefeitura negociou e conseguiu junto a CEHAB que fizesse cessão de uso ao município de 20 anos renovável por igual período, com a finalidade de implantação de um Parque. Assim, 27 (vinte sete) ocupantes foram removidos da

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UC, por sua caracterização como não residentes, identificadas através de cadastro social realizado através da Secretaria de Ação Social do município.

Em 1997 o Parque foi contemplado com recursos do FECAM (Fundo Estadual de Conservação ambiental) para elaboração de seu Plano de Manejo (PM) e algumas ações emergenciais de proteção. O Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu (PNMNI) foi criado então através do Decreto Municipal nº 6.001 de 5 de junho de 1998, visando a proteção da fauna e flora existentes e ainda tornar a unidade opção de lazer da população local.

No ano de 2000 a Prefeitura captou recursos junto ao FNMA para a implantação de algumas ações previstas no referido PM. Foram realizados com este projeto: a construção da sede administrativa; a elaboração de um projeto interpretativo para o centro de visitantes; elaboração materiais educativos (dois filmes institucionais), folhetos e cartazes, e um projeto de educação ambiental com previsão de um ano que se estendeu por três anos e a publicação resumida do PM.

Em 2007, as seis famílias restantes receberam indenização, e se retiraram voluntariamente do Parque. Com isso, os problemas de ocupações irregulares foram totalmente resolvidos, tornando o PNMNI uma das poucas unidades de conservação do estado com sua situação fundiária plenamente resolvida.

Salienta-se que de modo geral, o PNMNI fica subordinado à Secretaria de Meio Ambiente de Nova Iguaçu, contudo, a autonomia desta Secretaria muda de acordo com o governo ou com as reformas administrativas internas. Assim, tomando como exemplo o atual governo, inicialmente a Secretaria de Meio Ambiente era adjunta (uma sub-secretaria) à Secretaria Municipal da Cidade – SEMCID e com o último arranjo interno, a Secretaria de Meio Ambiente deixou de ser adjunta, passando a ser plena. Atualmente, voltou a ser adjunta, e desta vez ligada a SEMUG (Secretaria Municipal de Governo). Ressalta-se que a cada transição de governo e orientações das políticas internas, provoca mudanças na estrutura funcional e tais transições nem sempre são as mais adequadas.

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Sendo assim, o tamanho do quadro funcional também oscila de acordo com as mudanças referidas anteriormente. Atualmente estão lotados no PNMNI o gestor, que acumula a função de Gerente de Unidades de Conservação e 12 funcionários: 01 responsável pela segurança e fiscalização, 01 responsável pela manutenção, 02 para atender as visitas guiadas, 06 que atendem a portaria e 02 para manutenção da sede, banheiros e guarita. Não são cargos oficiais, mas delegações oficiosas internas administrativas.

1.3 Aspectos Abióticos e Bióticos

1.3.1 Clima

As referências sobre o clima da região onde se insere o PNMNI são oriundas de fontes do Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu, editado pela Secretaria de Meio Ambiente de Nova Iguaçu em 2001, daí ter um caráter um tanto genérico. Registra-se que no Projeto de Implantação do Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu (Processo E-07/000.128/2008), encaminhado à Câmara de Compensação Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente, neste presente ano, foi solicitado, porém indeferido, a aquisição de duas estações meteorológicas para sistema de monitoramento de risco de incêndio florestal, as quais contribuíram para conferir mais especificidade aos estudos do micro-clima local; conforme depoimento coletado junto à administração do parque.

O maciço do Gericinó-Madureira-Mendanha é condicionado pelo clima tropical de altitude super-úmido, onde a temperatura é um pouco mais baixa e chove mais, pela amenização climática imposta pela densa cobertura floresta e pela exposição do maciço aos ventos úmidos vindos do mar, respectivamente; sendo o clima da região é relativamente uniforme durante todo o ano. No verão em decorrência do grande calor, não amenizado pelos ventos, e da elevada umidade relativa, ocorrem fortes chuvas (dezembro a março); enquanto no inverno, os totais pluviométricos são baixos.

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Já nas porções mais internas do Maciço do Gericinó-Mendanha, dois tipos climáticos se conjugam: o clima tropical de altitude super-úmido (Cfa), de caráter mesotérmico e que ocorre nas porções elevadas dos maciços litorâneos em altitudes superiores a 500 metros, de influência apenas local; e o clima tropical semi-úmido (Am), que possui uma estação seca no inverno durando um mês e está relacionado aos totais anuais de pluviosidade entre 1.000 e 1.500 mm. Este, por sua vez, ocorre nas áreas mais amenas, principalmente, em estreita faixa do litoral. De acordo com a classificação de Köppen, baseada nos valores médios de temperatura e precipitação, o clima da região em apreço classifica-se, genericamente, como Cw, ou seja, clima temperado brando com verão quente e inverno seco.

Embora esse critério, por seu caráter sazonal, não caracterize completamente as condições ambientais do local ele fornece indicações bastante aproximadas dos aspectos climáticos e a influência de fatores locais nas encostas dos maciços, como o avanço da ocupação urbana e o descontrolado processo de desmatamento, tem ocasionado variações sensíveis nas condições climáticas ambientais (micro-clima da região), como é percebido na vertente iguaçuana do maciço.

Os maiores índices pluviométricos acontecem no período de dezembro a março, ao final do qual a intensidade de chuvas vai diminuindo gradativamente, chegando a valores mínimos entre junho e setembro, De acordo com o estudo da distribuição das chuvas na região, verifica-se que janeiro é o mês mais chuvoso, com uma média que oscila ao redor de 196 mm; e agosto, o mês mais seco, tendo uma precipitação média por volta de 35 mm.

1.3.2 Geomorfologia

O maciço do Gericinó-Madureira-Mendanha, onde se localiza a Gleba Conde Modesto Leal, está inserido na unidade geomorfológica de Colinas e Maciços Costeiros. É circundado pela unidade Planície Costeira, localizada na faixa de dobramentos remobilizados que se estendem ao longo da costa do Estado do Rio de

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Janeiro Este maciço destaca-se na paisagem da planície litorânea e da Baixada Fluminense por seu posicionamento topográfico privilegiado. Trata-se de uma região de relevo bastante acidentado, formada por muitas escarpas e elevações, cujo ponto máximo atinge 974 m (Costa, 1986).

O

maciço

do

Gericinó-Madureira-Mendanha

é

uma

serra

isolada,

subdividindo-se em dois blocos, entalhados por drenagem de rios de pequeno porte. As principais drenagens naturais são formadas pelos rios Guandu do Sapê, localizado no flanco sul-sudeste do maciço, e D.Eugênia, localizado nos contrafortes da porção nordeste do maciço, onde se localiza o PNMNI.

Os vales se apresentam em “V” com vertentes simétricas nas várias etapas de seu percurso, como observado nos vales do Rio Dona Eugênia, Mata Fome e Levi, sendo acomodados de modo geral em rochas subvulcânicas. Já o Vale da Varginha é em forma de ferradura aberto ao norte, possuindo vertentes suaves, com seu interior atulhado por sedimentos, constituindo uma pequena planície e cuja forma sugeriu a possibilidade da existência de um cone vulcânico preservado, originando a referência do “Vulcão de Nova Iguaçu” (Vieira e Klein, 2004 - inédito).

Este maciço está integrado nas bacias dos rios Sarapuí e Guandu-Mirim que drenam para as macrobacias da Baía de Guanabara e da Baía de Sepetiba, ocorrendo dois tipos de drenagem: retangular e pinada. O padrão retangular é conseqüência da influência exercida por falhas, pelo sistema de juntas ou fraturas, constituindo numa variedade de drenagem treliça, como os rios Cabuçu, Guandu do Sapê e alguns afluentes da margem direita do rio Mesquita. O tipo pinada está relacionado aos gnaisses do embasamento que contornam o maciço e às rochas alcalinas, mostrando uma forma paralela como os afluentes do rio Guandu do Sena (Costa op. cit.). A figura 02 apresenta as altitudes e unidades de relevo da região do Parque.

30

N

Figura 02: Hipsometria do PNMNI

Fonte: Mapa de Hipsometria do Parque - Nº HAB-NIG-D06/98. Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu – Vs Resumida – SEMUAM, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo 2001. Modificado por Flávio A. P. Mello, 2008.

No PNMNI propriamente dito, o único rio de destaque é o rio Dona Eugênia, que corre ao longo do vale do mesmo nome. Possui pequenas corredeiras e quedas d’água, se destacando, contudo, a cachoeira Véu da Noiva, localizada próximo ao Casarão, com aproximadamente 55 metros de queda. Este rio possui inúmeros poços utilizados para lazer por usuários e abriga ainda a Represa Epaminondas Ramos, localizada na altura da Guarita de entrada e a Lagoa São Felipe, mais próximo de sua nascente a aproximadamente cinco quilômetros adentrando a unidade.

Há ainda o córrego do Mata-fome, Tapinhoã, da Porteira, Dos Tucanos, do Gambá e vários regatos temporários por toda a extensão do parque. No vale da Varginha, há referencias orais da existência de uma pequena lagoa, hoje assoreada, na qual se encontrava inclusive pequenos peixes.

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Cabe destacar que, a hipótese do Vulcão de Nova Iguaçu, tida como uma referência por vários operadores informais de turismo, e também adotada por várias atividades sociais e de educação ambiental realizadas por várias instituições, não possuem sustentação em artigos científicos devidamente revisados, sendo caracterizado

mais

como

uma

“lenda

urbana”.

As

pesquisas

geológicas

recentemente publicadas em periódicos científicos qualificados revelaram a inexistência

do

cone

vulcânico,

cratera vulcânica, derrames de lava, fluxos

piroclásticos e bombas vulcânicas.

Segundo Motoki et Al (2007) nesta região havia vulcanismo, porém o vulcão e os depósitos eruptivos já foram completamente eliminados por soerguimento regional e intenso efeito de erosão sob o clima tropical. De fato, o vale interpretado como cratera não é constituído por aglomerado piroclástico, mas por traquito maciço. O depósito aluvionar presente no referido vale é composto de materiais regolíticos de espessura de poucos metros. Não foi encontrado o tálus composto de grandes blocos sugestivo de colapso da cratera. Não ocorre a saliência morfológica correspondente ao cone vulcânico. Os afloramentos em torno da suposta cratera não apresentam a estratificação vulcânica.

Desta forma, considera-se que esse vale não corresponde à cratera vulcânica, mas a uma morfologia originada de erosão. O traquito mais abundante é intrudido pelo álcali sienito e, portanto, não pode ser derrame de lava que cobre o sienito. O traquito ocorre até o topo do maciço, 600 m acima da suposta cratera. A disjunção colunar é originada de diques e a estrutura parecida à crosta-de-pão é atribuída a intemperismo. As observações anteriores indicam que esse traquito não é constituinte de derrames de lava, mas de corpos subvulcânicos. Os autores concluem que as rochas vulcânicas em questão não são constituintes de edifício vulcânico, mas de preenchimento de condutos e fissuras subvulcânicos.

Assim

sendo, a geologia subvulcânica de Nova Iguaçu pode ser reconhecida corretamente pelas sociedades regionais como um patrimônio geológico com valor científico inigualável. (figura 03).

32

Perfis geológicos do vale da suposta cratera: A) perfil norte-sul, Vieira e Klein (2004); B) norte-sul, Valente et al. (2005); C) norte-sul e D) leste-oeste, presente trabalho. Nota-se que o perfil A não está de acordo com o mapa topográfico da região. Os diagramas B e C apresentam perfis ao longo da crista e do vale. A escala vertical em A é exagerada 2,5 vezes, conforme Vieira e Klein (2004) e, para comparação, os perfis B, C e D seguem o mesmo padrão. A legenda do perfil B é válida para C e D.

Figura 03: Evolução de proposições para o modelo genético do Vulcão de Nova Iguaçu/RJ Fonte: Motoki, A., Soares, R., Netto, A.M., Sichel, S.E., Aires, J.R., Lobato, M. 2007. Reavaliação do modelo genético do Vulcão de Nova Iguaçu, RJ: origem eruptiva ou intrusão subvulcânica? Revista Escola de Minas, Ouro Preto, v. 60-3.

33

1.3.3 Biodiversidade

1.3.3.1 Flora

Conforme levantamento florístico preliminar, conduzido no Plano de Manejo do Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu (2001), embora a região do maciço Gericinó-Madureira-Mendanha tenha sofrido profundas modificações ao longo do tempo, seu revestimento florestal ainda é bastante expressivo e, aproximadamente, 60% das florestas existentes ainda estão em excelente estado de conservação, sendo o restante, constituídos por matas secundárias, em estágios iniciais de regeneração. As áreas florestais mais preservadas localizam-se nos vales profundos das cabeceiras do rio D. Eugênia e em locais de difícil acesso, principalmente nas cotas altimétricas mais elevadas, onde podem ser encontradas matas em estado clímax. Deste modo, esta área é de grande importância como matriz de proteção e preservação da diversidade biológica e dos mananciais hídricos existentes.

O maciço de Gericinó-Madureira-Mendanha é revestido pela Floresta Pluvial Atlântica e forma com a serra do Tinguá, a serra dos Órgãos e outros maciços costeiros, um dos conjuntos de remanescentes florestais mais importantes do Estado do Rio de Janeiro, integrando a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, homologada pela UNESCO, em 1992. Entretanto este remanescente sofre grande pressão antrópica o que deixa sua fisionomia semelhante a um mosaico, alternando comunidades vegetais em diversos estágios de regeneração natural, com pastagens, plantações e, em alguns casos, com locais em adiantados processos de urbanização.

A cobertura vegetal do PNMNI, pode ser dividida em cinco grupos5: Os campos antrópicos (pastagens), as formações pioneiras (estágio inicial de regeneração), as formações secundárias iniciais (em franco processo de regeneração) e secundárias tardias (em adiantado estado de regeneração) e Clímax (florestas ombrófila densa em bom estado de conservação) conforme discriminação: 5

SEMUAM, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu – Versão Resumida –2001 pag 32

34

·

Campos antrópicos (pastagens): Formações antrópicas compostas por forrageiras da família das gramíneas que predominam nas cotas inferiores do maciço, com predominância do capim gordura (Melinis minutiflora) e nos trechos de campos antrópicos fora do parque e nas cotas altimétricas inferiores há mais ocorrência do capim colonião

(Panicum

maximum).

Os

quais

são

os

grandes

responsáveis pela manutenção do ciclo do fogo tanto em áreas do parque como em seu entorno (a ocorrência desta alteração na paisagem é por conta de desmatamentos antigos e queimadas provocadas por moradores locais e queda de balões, ainda freqüente na região). ·

Formações pioneiras (estágio inicial de regeneração): Presente, sobretudo, nas áreas junto à estrada da Cachoeira, devido à intervenção antrópica mais recente por conta dos sítios instalados antes da formação do PNMNI. A estrutura geral é herbáceoarbustiva com a predominância de espécies ruderais e invasoras como lantana (Lantana camara), mamona (Ricinus comunis), picão (Bidens pilosa), oficial-de-sala (Asclepias curassavica), bunda de nego (Thunbergia alata). Nas formações iniciais maiores, há a dominância de representantes da família Compositae que tem como principais espécies o alecrim (Baccahris dracunculifolia), os assapeixes e os cambarás (Vernonia spp e Eupatorium spp). Cabe destacar, nas áreas mais altas, a presença marcante da candeia (Gochnatia

polymorpha)

de

mesma

família

botânica.

As

representantes das melastomatáceas, nesta formação, são as pixiricas (Miconia albicans e Leandra sp). Alguns exemplares de porte arbóreo observados nestas formações são: Aegyphila sellowiana,

Croton floribundus, Croton urucurana, Schinus

terebinthifolius, Trema micrantha e Cecropia lyratiloba. ·

Formações

secundárias

iniciais

(em

franco

processo

de

regeneração) e secundárias tardias (em adiantado processo de regeneração): A diferença entre estes dois padrões de vegetação no PNMNI é, essencialmente, em relação a estrutura da formação,

35

pois a similaridade florística entre os dois tipos de mata é alta, devido ao fato de que a floresta secundária inicial apresenta em sua composição muitas das espécies da secundária tardia, embora ainda jovens. Em ambas as composições há elevada freqüência de algumas espécies como o jacatirão (Miconia cinnamomifolia) e o angico (Pseudopiptadenia contorta). Entretanto a diversidade florística e a estratificação nas formações secundárias tardias são bem mais complexas do que na secundária inicial e o índice de umidade

torna-se

mais

expressivo

em

virtude

do

maior

sombreamento das copas. Nos trechos de floresta secundária inicial, a altura das árvores não ultrapassa 14 m de altura, alcançando o dossel em torno de 10 metros.

A

falta

de

bromélias

e

orquídeas

é

marcante,

provavelmente devido à coleta, e a presença de trepadeiras agressivas como o arranha-gato (Acacia lacerans) ainda é comum. As árvores que podem ser citadas que compõe o estrato superior deste tipo de mata são: Sapium glandulatum, Croton floribundus, Croton urucurana, Cybistax antisyphilitica, Erytroxylum pulchurum, Alseis floribunda, Pyschotria sellowiana, Albizia polycephala, Siparuna arianae. As árvores que se destacam deste estrato são: Alchornea

triplinervia,

multijuga,

Miconia

Sparattosperma cinnamomifolia,

leucanthum, Tibouchina

Senna mutabilis,

Pseudopiptadenia contorta e Piptadenia gonoacantha, entre outras. As matas secundárias tardias apresentam, assim como as clímax, a ocorrência de três estratos pouco definidos. O estrato inferior apresenta uma altura de até 10 m, onde predominam as palmeiras (Astrocaryum aculeatissimum, Geonoma sp e indivíduos jovens de Euterpe edulis), em conjunto com diversas espécies, a saber: Psychotria nuda, Posoqueria acutifolia, Rheedia gardneriana, Piper rivinoides, Rollinia laurifolia, Annona cacans, Erytroxylum pulchurum, Sorocea guilleminiana, Dahlstedtia pinnata entre outras.

36

Os estratos superiores a este são de difícil delimitação, com limite superior do intermediário de cerca de dezoito metros, sendo possível a observação das seguintes espécies florestais: Apuleia leiocarpa,

Astronium graveolens, Spondias lutea, Alchornea

triplinervia, Senna multijuga, Cassia ferruginea, Cordia trichotoma, Pterocarpus rohrii, Schizolobium parhayba, Andira fraxinifolia, Platycyamus regnellii, Myrocarpus frondosus, Cecropia hololeuca, Chorisia speciosa, edulis,

Gallesia integrifolia,

Piptadenia gonoacantha,

Marlierea edulis,

Inga

Pouroma guianensis, Abarema

brachystachya, Jacaratia spinosa, Euterpe edulis entre outras (fotografia 01).

Fotografia 01. Formações secundárias no Poço da Sede. Fotografia de Flávio A. P. Mello: 05/10/2008.

O superior, que se apresenta descontínuo, possuindo limite superior a

25

metros,

cinnamomifolia, inaequalis,

apresenta

as

seguintes

Pseudopiptadenia

Pterocarpus

rohrii,

árvores:

contorta, Chorisia

Pseudopiptadenia

speciosa,

canjerana, Cedrela fissilis, Centrolobium robustum, paratyensis,

Astronium graveolens,

Miconia

Cabralea Tachigali

Moldenhawera polysperma,

Lecythis lanceolata, Geissospermum vellosii,

Jacaratia spinosa,

Virola oleifera. São poucos os indivíduos que emergem deste estrato, tais como Cabralea canjerana, Centrolobium robustum,

37

Cariniana estrellensis, entre outras. É relevante a presença neste tipo de formação de fetos arborescentes do gênero Dicksonia (samambaiaçu), que em conjunto com as epífitas reflete o caráter úmido das florestas tropicais de encosta. ·

Formações clímax (em bom estado de conservação): Encontradas no PNMNI nas áreas de difícil acesso, onde quase não há ação antrópica. Nestes trechos a dinâmica florestal deve-se quase que exclusivamente da queda e morte de indivíduos. As principais características desta formação são: os altos diâmetros das árvores do dossel e emergentes; o terceiro estrato ou superior que apresenta alturas entre 20-25 metros, com emergentes superando a marca de 30 metros; e uma variedade maior de espécies no dossel com distribuição mais equilibrada, ou seja, não há nenhuma espécie com alta freqüência a ponto de induzir uma interpretação que configure dominância de qualquer espécie. A riqueza de espécies nas matas secundárias tardias e clímax é muito maior quando comparadas com as outras formações. É encontradas maior densidade de palmito juçara (Euterpe edulis), por exemplo, principalmente nas matas clímax, sendo um indicador de adiantado estado de conservação da floresta. O dossel nas matas mais maduras é constituído praticamente das mesmas espécies arbóreas citadas para as matas secundárias tardias evidenciando, porém, uma queda nas populações de espécies como

o

jacatirão

(Pseodopiptadenia

(Miconia

contorta)

cinnamomifolia), e

o

pau-jacaré

o

angico

(Piptadenia

gonoacantha). Além do porte, como citado anteriormente, e da maior densidade do palmito juçara (Euterpe edulis), as matas mais preservadas guardam a ocorrência de espécies mais raras, que por possuírem grande potencial madeireiro não correm nas formações alteradas ou, quando ocorrem, são indivíduos novos. Como exemplo destas espécies pode ser citados: Dalbergia nigra, Mezilaurus navalium, Hymenaea courbaril var. altssima, Virola gardneri, Virola oleifera,

38

Copaifera trapezifolia,

Copaifera lucens, Cariniana legalis e

Cariniana

Geissospermum

estrellensis,

vellosii,

Enterollobium

glaziovii, Cedrela fissilis, Peltogyne angustiflora, Pradosia kullmanii, Pouteria cf. torta.

Destaca-se ainda que a flora do PNMNI compõe-se ainda de diversas espécies exóticas introduzidas por sitiantes que lá residiam ou efetuaram plantios em terrenos ao longo da estrada da Cachoeira. As espécies introduzidas vão desde plantas como café (Coffea arabica), bananeira (Musa paradisiaca), limoeiros e laranjas (Citrus spp) até árvores utilizadas na arborização urbana e em reflorestamentos como é o caso do pau-rei (Pterigota brasiliensis), fedegoso (Cassia grandis), sombreiro (Clitoria fairchildiana), flamboyant (Delorix regia), samã (Pithecellobium samam), eucaliptos (Eucalyptus spp) e ciprestes, etc.

Há também muitas frutíferas, como jambo-rosa (Syzygium jambos), goiabeira (Psidium guajava), jaqueiras (Artocarpus integrifolia), abacateiro (Persea gratissima), mangueiras (Mangifera indica) e outras. Além de algumas plantas ornamentais, principalmente nas proximidades do Casarão e ao redor das ruínas do antigo Clube de Campo Dom Felipe. Nestes locais encontram-se trechos de antigas cercas vivas (Hibiscus

sp, Malvaviscus

sp, etc.), bem como dracenas (Dracena rubra, D.

fragans, etc.) e algumas palmeiras exóticas6.

1.3.3.2 Fauna

A fauna da Região Sudeste do Brasil pertence à Província Florestal Atlântica. Segundo o MMA Atualmente reduzida a 7% de sua extensão inicial (102 mil Km2) encontra-se intensamente fragmentada e distribuída ao longo da costa brasileira, do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte. Abrange atualmente, total ou

6

SEMUAM, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu – Versão Resumida –2001 pag 36

39

parcialmente, 3.409 municípios em 17 estados. No Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo, estende-se pelo interior, até os limites com a Argentina e Paraguai. Nela, são gerados 70% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, sendo estratégica para 120 milhões de brasileiros, regulando o clima, assegurando a fertilidade do solo, protegendo escarpas de serras e encostas de morros e preservando nascentes e fontes, regulando o fluxo dos mananciais que abastecem estes municípios7. Considerada patrimônio nacional pela Constituição Federal, a Mata Atlântica é um dos biomas mais ricos do mundo em biodiversidade. Contudo, segundo a lista da fauna silvestre brasileira ameaçada de extinção8, publicada pelo Ministério do Meio Ambiente em 2003; 185 vertebrados, 118 aves, 16 espécies de anfíbios, 38 mamíferos e 13 espécies de répteis pertenciam à Mata Atlântica.

Sendo um importante remanescente da Mata Atlântica, o maciço do GericinóMendanha está inserido na Região Zoogeográfica Neotropical, mais precisamente na Província Zoogeográfica Tupi. A floresta da região das serras de Madureira e Mendanha abriga uma rica diversidade faunística, em especial em altitudes acima da cota 200 metros e nos vales dos cursos d’água. Nesses locais, onde a heterogeneidade de habitats e microhabitats é grande, abrigam-se animais de preferências alimentares restritas (especialistas) que necessitam de áreas preservadas para que suas populações mantenham-se em equilíbrio o que torna a proteção destes remanescentes florestais imprescindível para a manutenção da fauna local.

Originalmente, antes do processo de urbanização da Baixada Fluminense, as matas nativas do maciço do Gericinó-Mendanha abrigavam espécies de grande porte da fauna brasileira, tais como a onça parda ou suçuarana (Felis concolor) e o mono carvoeiro (Brachyteles arachnoides), as quais foram registradas na região em 1922. Porém, com a pressão antrópica nas áreas ao redor do maciço, a fauna, em busca de alimento e abrigo, migrou para áreas mais altas e menos acessíveis aos 7

“Conheça melhor a Mata Atlântica” Fonte: MMA/ASCOM e Wellton Máximo, Repórter da Agência Brasil. Capturado em 12/02/2007. http://www.ecolnews.com.br/lei_da_mata_atlantica.htm 8 Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção. Anexo aos padrões de certificação florestal (Ministério do Meio Ambiente - maio de 2003).

40

moradores da região. Por outro lado, a alteração ambiental causou, também, o desaparecimento de espécies da fauna local, que requeriam áreas com maior capacidade de suporte. A onça parda é um exemplo dessa situação de inadaptabilidade, já que, com os desmatamentos, seu espaço natural de forrageamento ficou bastante reduzido.

A existência de caçadores e passarinheiros na região do Parque Municipal de Nova Iguaçu é registrada pelas atividades de fiscalização e continua sendo um problema para a administração. Embora esporádicas, as atividades de fiscalização são feitas geralmente em ações coordenadas entre órgãos públicos estaduais ou municipais, em atendimento a denúncias de moradores. Com a implantação do Parque Municipal de Nova Iguaçu, essa pressão sobre a fauna diminuiu principalmente nas áreas mais próximas dos pontos de maior visitação, mas é ainda bastante evidente nas partes altas do parque.

Entretanto, salienta-se que há uma grande carência de estudos sobre a composição faunística, incluindo levantamentos atualizados, visto que os dados constantes no plano de manejo foi uma levantamento expedito, e as listas, em grande parte, foram interpoladas de levantamentos em todo o maciço. Relacionamse 02 espécies de anfíbios, 09 de repteis, 157 de aves, 12 de mamíferos e em torno de 30 espécies de invertebrados. Dentre os mais comuns de serem observados estão: Paca (Agouti paca), Preguiça (Bradipus torquatus), Jacupemba (Penelope superciliares), Tangará (Chiroxiphia caudata) e Araçari-banana (Baillonius bailloni) entre outros.

Cabe salientar que projetos de pesquisa recente tendem a confirmar a biodiversidade prevista, dentre os quais se pode citar Menezes Jr. (2008) que em estudos no Parque Natural Municipal da Serra do Mendanha (vertente oposta ao PNMNI, podendo ser acessado através da trilha do Mendanha, na parte alta do parque) foram encontradas 15 espécies de morcego, com destaque para os frugívoros Artibeus lituratus, Carollia perspicillata e Platyrrhinus lineatus. Mesmo assim, espécies ameaçadas de extinção como, Platyrrhinus recifinus e Chiroderma doriae foram capturadas em número considerável, indicando que a região encontra-

41

se em ótimo estado de preservação, podendo sustentar até mesmo grandes populações de espécies ameaçadas.

Já o projeto “Diversidade dos Morcegos e Quiropterocoria no Parque Municipal de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brasil”; conduzido pelo laboratório de Mastozoologia do Instituto de Biologia Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, que pesquisa ecologia e ecomorfologia de quirópteros no PNMNI, já registraram 14 espécies de morcegos em apenas três coletas (Novaes, R.L.M. dados não publicados); onde a espécie insetívora Myotis nigricans e os nectarívoros Anoura caudifer e Anoura geoffroyi são as mais representativas da área. Destaque também para o onívoro Tonatia bidens, que vem sendo tratado como bioindicador de ambientes conservados. O considerável número de espécies de morcego em relação à baixa amostragem do Parque pode indicar a grande diversidade que esta área pode abrigar, dando indícios que esta seja uma importante região para ser conservada. A presença do morcego hematófago Desmodus rotundus e de algumas espécies frugívoras, aliadas aos já citados morcegos insetívoros, nectarívoros e onívoros pode ser um indício da variedade de microhabitats da região, que pode suprir as necessidades específicas das mais variadas guildas alimentares, o que é mais um indicativo de que o Parque pode abrigar uma importante biodiversidade.

Em andamento o projeto de pesquisa de doutorado “A riqueza e diversidade de anfíbios anuros da Serra do Mendanha, Rio de Janeiro, RJ: grau de conservação da floresta, taxa de mudança altitudinal e uso de recursos hídricos”, cujos levantamentos envolvem coletas em vários locais da Serra, apontam grande biodiversidade. Nas coletas realizadas no Parques Natural Municipal do Mendanha, próximo ao

PNMNI, mas na vertente oposta, foram identificadas 13 espécies9,

pertencentes a 3 famílias, de anfíbios anuros em diferentes altitudes. Reporta-se que no mesmo projeto, em atividade paralela, já foram identificadas 27 espécies de serpentes, pertencentes a 04 famílias, que ocorrem nas áreas de coleta de anfíbios. Os trabalhos de coleta no PNMNI já foram iniciados e se espera amostragem semelhante. 9

Dados não publicados do autor Jorge Antônio Lourenço Pontes - [email protected]

42

1.4 Zoneamento Territorial e Ambiental O PNMNI possui 55% de sua área florestal em adiantado estado de regeneração e/ou alto grau de preservação, onde se destacam vários exemplos da flora e fauna da região.

O zoneamento territorial e ambiental sugerido no Plano de Manejo do Parque natural Municipal de Nova Iguaçu (SEMUAM, 2001), definiu sete zonas (quadro 01).

DISCRIMINAÇÃO

ÁREA (ha)

%

OBSERVAÇÕES GERAIS

Zona Intangível

182,8

17,7

Zona Primitiva

384,1

37,3

Abrange matas preservadas das cotas altimétricas mais elevadas Engloba as matas em excelente estado

Zona Uso extensivo

380,3

38,3

Vide mapa do zoneamento (Figura 04)

Zona Uso Intensivo

41,9

4,0

Área do Casarão e arredores

Zona de Recuperação

21,2

2,0

Áreas degradadas ou com solos expostos

Zona de Uso especial

5,7

0,7

Faixa de entrada, após a represa

* Área de relevante interesse para o manejo da UC

59,5

5,4

Inclui a Represa Epaminondas Ramos, a pedreira e o portão principal da unidade

Quadro 01: Zoneamento territorial-ambiental do PNMNI * Esta área de 0,595 km2 localiza-se na parte frontal do Parque Municipal, junto à entrada, e é estrategicamente muito importante para o gerenciamento da unidade. Fonte: Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu – Vs Resumida – SEMUAM, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo 2001 p. 57.

Deve-se observar com especial atenção as áreas das zonas de uso especial e intensivo, que somam aproximadamente 4,7 % da área do PNMNI e recebem atualmente quase a totalidade da visitação; ao passo que a zona de uso extensivo, com área em torno de 38,3% extremamente sub-utilizada. Na figura 04, são evidenciadas as zonas criadas e sua localização no PNMNI:

43

Legenda Zona de Uso Especial Zona de Recuperação Zona de Uso intensivo Zona de Uso extensivo Zona primitiva Zona Intangível

MESQUITA

Figura 04 Zoneamento territorial e ambiental do PNMNI Fonte: Zoneamento Territorial e Ambiental do Parque – Mapa Nº HAB-NIG-D10/98. Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu – Vs Resumida – SEMUAM, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo 2001 p. 67. Adaptação de Flávio A. P. Mello, 2008

44

O Zoneamento proposto obedeceu às seguintes definições e atribuições: ·

Zona Intangível: “É aquela onde a primitividade da natureza permanece

intacta,

não

se

tolerando

quaisquer

alterações

humanas, representando o mais alto grau de preservação. Funciona como matriz de repovoamento de outras zonas onde já são permitidas atividades humanas regulamentadas. Esta zona é dedicada à proteção integral de ecossistemas, dos recursos genéticos e ao monitoramento ambiental. O objetivo básico do manejo é a preservação, garantindo a evolução natural.” Descrição: Situa-se na porção oeste do Parque Municipal, englobando, grosso modo, as terras acima da cota 600 metros. Inclui as nascentes do rio D. Eugênia e trechos bem conservados de remanescentes de Mata Atlântica em estágio avançado de regeneração. Finalidades específicas: o Proteger as nascentes do rio D. Eugênia e dos principais afluentes localizados no seu alto curso. o Proteger o ambiente, os processos naturais e a evolução dos ecossistemas sem interferências antrópicas o Proteger vegetação remanescente de Mata Atlântica, bem conservada, situada nas cotas mais elevadas do PNMNI. ·

Zona Primitiva: “A Zona Primitiva é aquela onde ocorreu pequena ou mínima intervenção humana, contendo espécies da flora e da fauna ou fenômenos naturais de grande valor científico. Deve possuir características de zona de transição entre a Zona Intangível e a Zona de Uso Extensivo. O objetivo geral do manejo é a preservação do ambiente natural e ao mesmo tempo facilitar as atividades

de

pesquisa

científica,

educação

ambiental

e

proporcionar formas primitivas de recreação. Descrição: Localiza-se na parte centro-oeste, envolvendo a Zona Intangível, seguindo aproximadamente a cota 500 m de altitude e incluindo as nascentes do córrego dos Tucanos e do córrego Mata

45

Fome. No trecho oeste e sudoeste também contorna a Zona Intangível, indo-se até o limite do Parque. No lado sul da UC estende-se ao longo da margem direita do córrego Pau da Letra, ficando, porém, dentro desta zona as suas nascentes. Na porção leste inclui as nascentes dos córregos Tapinhoã e Porteira. Ali, em linhas gerais, acompanha a cota 400 m, excluindo, entretanto, as áreas de matas secundárias em fase inicial de regeneração. Esta zona é recoberta em sua maior parte por formações florestais densas, em excelente estado de conservação, mas inclui também pequenos trechos de florestas secundárias tardias, em avançado estágio de regeneração natural. Finalidades específicas: o Proteger as nascentes localizadas na parte sul e sudeste do PNMNI. o Proteger manchas de floresta densa e aberta em bom estado de conservação. o Propiciar o desenvolvimento de pesquisas científicas em áreas remanescentes de Mata Atlântica. o Servir como banco de germoplasma (sementes, propágulos e mudas) para processos de sucessão secundária na Zona de Recuperação. o Oferecer oportunidade para a realização de formas simples de recreação, em contato direto com ambientes naturais. ·

Zona de Uso Extensivo: “É aquela constituída em sua maior parte por áreas naturais, podendo apresentar algumas alterações humanas. Caracteriza-se como uma área de influência entre a Zona Primitiva e Zona de Uso Intensivo. O objetivo geral do manejo é a manutenção de um ambiente natural com mínimo impacto humano, apesar de oferecer acesso e facilidade públicos para fins educativos e recreativos”. Descrição: Esta zona está distribuída por toda parte central, norte e leste do Parque. Engloba grande parte do córrego Pau da Letra (médio e baixo curso) e um trecho de cerca de 2 km do rio D.

46

Eugênia. Abrange parcialmente as Trilhas do Gericinó, Mata-Fome e de Campo Grande (em direção a Serra do Mendanha, acompanhando o córrego do Pau da Letra). Entre os marcos importantes incluídos nesta zona estão: as ruínas do Clube de Campo Dom Felipe, datado de meados do século XX, freuqntado pela elite igualuana da época , o local onde existiu um Quilombo, a Pedra da Quilombo (Contenda) e Varginha (a suposta chaminé vulcânica). A cobertura vegetal da Zona de Uso Extensivo é constituída majoritariamente por florestas densas e por formações florestais secundárias tardias, cujas árvores apresentam menores diâmetros e dossel mais aberto. Ocorrem ainda, matas secundárias em franco processo de regeneração. As áreas degradadas de antigos sítios localizados ao longo da Estrada da Cachoeira foram classificadas como Zona de Recuperação. Finalidades específicas: o Assegurar maior proteção e integridade à Zona Primitiva. o Dar aos visitantes a oportunidade de desenvolver atividades de recreação e lazer em contato com ambientes naturais, como

caminhadas

e

ciclismo

em

trilhas

rústicas,

contemplação de paisagens, observação de elementos de flora e fauna. o Propiciar aos visitantes oportunidades para conhecer e entender aspectos naturais e histórico-culturais da região onde se insere o Parque. ·

Zona de Uso intensivo: “É aquela constituída por áreas naturais ou alteradas pelo homem. O ambiente é mantido o mais próximo possível do natural, devendo conter: Centro de Visitantes, museus, outras facilidades e serviços. O objetivo geral é o de facilitar a recreação intensiva e a educação ambiental em harmonia com o meio.” Descrição: Compreende a Estrada da Cachoeira e uma faixa de cerca de 300 m junto às suas margens, ao longo de um percurso de

47

cerca de 2,5 km — desde as proximidades da coluna de pedras no início da Gleba Modesto Leal até a altura do mirante de onde se avista o vale do rio Dona Eugênia. Esta zona inclui os principais atrativos

de

uso

público

e

áreas

com

potencial

para

o

desenvolvimento de atividades programadas tanto de recreação como de educação ambiental: cachoeiras e piscinas naturais, o Casarão, locais para implantação de áreas de piquenique, equipamentos de ginástica e de um mini-horto, do Centro de Visitantes, etc. A vegetação ali verificada é constituída basicamente por matas secundárias em franco processo de regeneração, formações vegetais pioneiras e áreas degradadas em diversos níveis. Finalidades específicas: o Oferecer áreas e infra-estrutura próprias para recreação e atividades de lazer, interpretação e educação ambiental, capazes de comportar um significativo número de visitantes, de modo a não causar danos aos ambientes e recursos naturais do Parque Municipal de Nova Iguaçu. o Abrigar instalações e equipamentos destinados à recepção, atendimento e orientação aos visitantes. ·

Zona de Uso Especial: “É aquela que contém as áreas necessárias à administração, manutenção e serviços da UC, abrangendo habitações, oficinas e outros. Estas áreas serão escolhidas e controladas de forma a não conflitarem com seu caráter natural e devem localizar-se, sempre que possível, na periferia do Parque. O objetivo geral do manejo é minimizar o impacto da implantação das estruturas ou os efeitos das obras no ambiente natural ou cultural do Parque.” Descrição: Esta zona se estende, ao longo da Estrada da Cachoeira, do Portão de Entrada, junto à Represa Epaminondas Ramos, até um ponto intermediário entre o marco inicial da Gleba Modesto Leal (coluna de pedra) e a ponte da curva, entre Gleba Modesto Leal (coluna de pedra) e a ponte da curva. Inclui a área da

48

pedreira desativada, o Sítio Riacho da Serra e a própria represa Epaminondas Ramos. Finalidades Específicas: Assegurar a realização das atividades administrativas e rotineiras do Parque Municipal de Nova Iguaçu sem, contudo, causar danos às áreas da Unidade de Conservação. ·

Zona

de

Recuperação:

“É

aquela

que

contém

áreas

consideravelmente alteradas pelo homem. Zona provisória, uma vez restaurada, será incorporada novamente a uma das zonas permanentes. As espécies exóticas introduzidas deverão ser removidas e a restauração deverá ser natural ou naturalmente acelerada. O objetivo geral do manejo é deter a degradação dos recursos ou restaurar a área.” Descrição: A Zona de Recuperação é formada por um conjunto de pequenas áreas, que correspondem aos antigos sítios particulares, e por quatro áreas de maiores dimensões, assinaladas no mapa do zoneamento, quais sejam: uma no início da Gleba Modesto Leal, outra junto às ruínas do Clube Dom Felipe, a terceira na parte norte do Parque, nas proximidades da Trilha Mata-Fome, e a última na parte central da UC, nas imediações da cachoeira Véu da Noiva e da ponte das Pedras. Em conjunto são cerca de 22 hectares descontínuos

que

enriquecimento

necessitam

florestal,

estudos

tratamento

específicos paisagístico

de ou

reflorestamento. Essas áreas, de um modo geral, são revestidas por pastagens (campos antrópicos) ou por vegetação pioneira em estado inicial de regeneração. Alguns desses locais apresentam, inclusive, solo exposto, escavados, em certos casos, por grandes sulcos de drenagem superficial. Todas as áreas do Parque que estão atualmente

ocupadas

por

particulares,

em

função

das

características que apresentam, também integram a Zona de Recuperação. À medida que sua situação legal seja equacionada e

49

as áreas desocupadas, deverão ser adotadas ações necessárias à sua restauração. Finalidades Específicas: o Restaurar áreas alteradas pela ação antrópica ocorrida ao longo dos anos, devolvendo ao ambiente as condições naturais. o Proporcionar

o

monitoramento

dos

processos

de

recuperação e das fases de sucessão ecológica. ·

Área de relevante interesse para o manejo da UC. Compreende a área que se estende ao longo do limite leste do Parque Municipal de Nova Iguaçu, perfazendo um total de 59,5 ha. Esse trecho, compreendido entre portão de entrada da UC e o marco da Gleba Modesto Leal, limite do Parque Municipal, reúne locais de grande interesse para o manejo da unidade. Nessa área, estão incluídos a Represa Epaminondas Ramos, a pedreira desativada São José, antes prevista como uma área de estacionamento, se converteu de fato em um espaço multiuso, abrigando atividades de recreação, eventos, e atividades e escolares dentre outros, e outros espaços aprazíveis. Ressalta-se que a faixa territorial em questão possui também uma trilha (trilha da represa) que corre ao longo da margem mesquitense e trechos recobertos por remanescentes de florestas, além da guarita principal (Portão de Entrada) e sanitários públicos.

Em relação à zona de uso Intensivo, o maior volume de visitantes se concentra

na

faixa

compreendida

entre

a

Sede

até

o

Casarão,

com

aproximadamente mil e duzentos metros, onde estão os principais poços para banho (o poço das Cobras e o Poço do Casarão) caracterizando a vocação da área, em conjunto com os outros poços e pequenas quedas d’água do Rio Dona Eugênia. Esta vocação tem sido uma das principais causas do sobre-uso dos visitantes, extrapolando sobremaneira a capacidade de carga prevista no plano de manejo, sobretudo, no verão ou dias mais quentes; o que tem sido caracterizado por alguns funcionários como um fenômeno já consolidado de turismo de massa.

50

Na zona de uso intensivo, destaca-se ainda que embora as caminhadas sejam uma porção expressiva das atividades desenvolvidas pelos usuários no PNMNI, tanto visitantes quanto praticantes de caminhadas matutinas; os roteiros, incluindo os utilizados pelos funcionários do PNMNI nos trabalhos de visitas guiadas, tendem a se restringir aos roteiros que envolvem a Estrada da Cachoeira até o Casarão, podendo se estender da entrada até o Mirante do Alto e mais raramente às Ruínas do Clube Dom Felipe (zona de uso extensivo – onde se recomenda usar guia do parque).

Salienta-se que no plano de manejo inicial houve a implantação da trilha do Pau Pereira, com aproximadamente seiscentos metros de extensão, que descreve um arco junto a Estrada da Cachoeira, tendo seu ponto de partida oficial e ponto final aproximadamente cento e cinquenta metros da Ponte da Curva. Esta inversão do roteiro foi uma adequação ao projeto visto que, embora a trilha tenha sido concebida para receber o público de massa, dada a sua localização; a inadequação do acesso, muito íngreme, fez com que a mesma fosse evitada tanto pelos usuários menos preparados e com menor vigor físico quanto pelas visitas guiadas conduzidas pelo pessoal do PNMNI, daí a “solução” de se começar pelo final, cujo traçado é mais confortável.

A trilha prevista para ligar a Trilha do Pau Pereira à Pedra do Quilombo (da Contenda) não foi projetada ou implantada, havendo apenas a referencia de “planejada”. As referências às trilhas do Mendanha e outras que poderiam conduzir ao Parque do Mendanha e Gericinó, assim como a outras localidades da APA do Gericinó-Mendanha, são caminhos já existentes e não foram considerados nesta dissertação em função de sua localização, próxima e mesmo dentro das zonas primitiva e intangível; cujo estímulo ao fluxo de visitantes seria ilegal, conforme o zoneamento territorial e ambiental vigente, e nocivo à proteção destas áreas nobres, devendo ser mantidas como trilhas de trabalho (fiscalização e pesquisa).

51

1.5 Lazer, Recreação e Ecoturismo no PNMNI

1.5.1 Panorama atual

Embora pouco conhecido pela população local, a exceção da área de entorno imediato de Mesquita, a divulgação do parque pela mídia jornalística na onda do consumo da natureza é cada vez mais intensa, destacado principalmente como agradável possibilidade de lazer e recreação, sobretudo, através de banhos de cachoeira (fotografia 02) em áreas naturais de fácil acesso e práticas de vôo livre (fotografia 03) e rapel na Pedreira desativada São José e Pedra da Contenda.

Com a descoberta em 1979 de resquícios de atividade vulcânica pelos geólogos Victor de Carvalho Klein e André Calixto Vieira, o PNMNI tornou-se uma importante referência geológica no estado do Rio de Janeiro. Data desta época a introdução da referência ao “Vulcão de Nova Iguaçu” e “Serra do Vulcão”, utilizados amplamente pela mídia e prefeituras como “chamariz ecoturístico” por conta da hipótese lançada por estes pesquisadores acerca da existência de sinais de um edifício vulcânico conservado na área historicamente denominada de Varginha é dada as suas características físicas (uma pequena planície fértil no fundo do vale), que foi interpretada como a “cratera do vulcão” de Nova Iguaçu, hipótese refutada por Valente, et al (2005).

Fotografia 02: Visitantes no Poço do Casarão Flávio A. P. Mello : fev./2008.

Fotografia 03: Rampa de Vôo Livre de Nova Iguaçu Fonte: Guia 4 Ventos Brasil

Tal exposição, contudo, está se convertendo em um problema: os municípios de Nova Iguaçu e Mesquita são os que possuem maior interface e facilidade de

52

acesso, possuindo aproximadamente um milhão de habitantes10. Isso indica uma forte condição de massificação do lazer e ecoturismo nesta unidade. De fato, esta situação já é percebida pela administração, por conta do aumento da demanda de visitação tanto no verão, nas atividades de lazer e recreação nos poços e pequenas cachoeiras ao longo do rio Dona Eugênia, notadamente no intervalo do Poço da paixão até o Casarão, onde se encontra a Cachoeira Véu da Noiva com 53 metros de queda; quanto na Pedra do Quilombo (Contenda) e Pedreira São José, através de prática de rapel por conta dos operadores locais, onde sinais de degradação das trilhas, exposição de raízes denotam sinais evidentes de deterioração ambiental.

A maior parte da dispersão dos visitantes adeptos de caminhadas em trilhas, ecoturistas e visitantes não autorizados, ocorre em trilhas não reconhecidas oficialmente pelo plano de manejo e fiscalizadas pelo PNMNI, conforme destacado anteriormente. De fato, a utilização de trilhas com maior potencial para atividades ecoturísticas como as caminhadas nas trilhas da Varginha, Mata-fome e do Quilombo (Contenda), onde ocorrem práticas de lazer e esportes na natureza como rapel, bouldering 11 e escalada e ainda as práticas de Vôo Livre na Rampa, recebem acompanhamento extremamente superficial, praticamente inócuo; sem controle de entrada ou projeções de visitação.

A rampa de vôo livre de Nova Iguaçu, localizada em um dos extremos do Parque (S 21º 31’ 63” W 041º 53’ 24”, na cota 780,00 m.), segundo o Guia 4 Ventos, é considerada o segundo melhor ponto do país (e melhor no estado) para a prática desse esporte, podendo ser praticado durante todo o ano. Seu principal acesso se dá através da estrada do Tatu Gamela, não pavimentada e utilizada também como um atrativo para os adeptos de caminhada, por conta do mirante da rampa. Possuindo como infra-estrutura de decolagem uma rampa de madeira e duas rampas naturais com boa inclinação, possibilidade de decolagens simultâneas. O pouso, de modo geral, se dá na Fazenda Cabuçu. Para o parapente há várias alternativas de pouso junto à estrada de Madureira. Como pontos positivos

10

Contagem da População 2007, Resultados preliminares: Nova Iguaçu: 844.583 habitantes. Mesquita: 185.552 habitantes. Fonte: IBGE - Censo Demográfico 11 Bouldering ou escalada em bloco de pedra ou falésias. Atinge os mais altos graus de dificuldade técnica entre todas as formas de escalada, geralmente realizado em rochas de até cinco metros de altura e sem o uso de cordas. Fonte: http://ibahia.globo.com/irado/corpo_materia.asp?modulo=33&codigo=19892&tit=esporte

53

destacam-se as térmicas fortes, vôo seguro, ótima alternativa para condições de vento Norte e como pontos negativos a proximidade do aeroporto Internacional do Rio de Janeiro e do aeroclube de Nova Iguaçu. Estrada de acesso precário e infraestrutura hoteleira fraca.

As propostas de uso público para a zona de uso intensivo e especial apontadas no plano de manejo do Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu, foram alvo de um estudo12 sobre a qualidade dos espaços de lazer do Parque Municipal de Nova Iguaçu, solicitada pelo DRM RJ - Departamento de Recursos Minerais do Estado do Rio de Janeiro, em 2004, intitulado Diagnóstico Geral do Geoparque Municipal de Nova Iguaçu, por ocasião do lançamento das placas do projeto Caminhos Geológicos, onde se referiu a urgência de se melhorar as condições da estrada de acesso ao parque (limpeza da rua e seu asfaltamento) e a colocação de uma legislação edilícia que impeça construções ilegais e fora das normas (fiscalização constante), assim como a colocação de sinalizações direcionais desde o centro urbano até a entrada do parque.

Dentre os pontos considerados e tratados com bastante ênfase, se destacou a sinalização, com distancias entre as ambiências; área para calçada ao longo da estrada da cachoeira com leito mais regular; o acesso aos poços, cuja precariedade de acesso em relação ao declive muito acentuado, denota perigo para idosos e crianças em uma zona de uso intensivo. Neste mesmo estudo, face as constatação do estado geral das infra-estruturas de apoio ao visitante, onde é sugerido a cobrança de uma pequena entrada, de um real por adulto e de cinqüenta centavos por criança até 12 anos e para os idosos a partir de 60 anos. Recursos estes, que embora pequenos, poderiam atender algumas urgências da unidade, principalmente as relacionadas à segurança, principalmente as relacionadas a pontes, guardacorpos e acessibilidade de idosos e crianças.

Refere-se, entretanto, que apesar do quadro desfavorável, são percebidas atividades embrionárias de turismo conduzidas, mormente, por “guias locais” não

12

“Diagnóstico Geral do Geoparque Municipal de Nova Iguaçu”. Elaborado pela equipe do LAB LET – Laboratório de Lazer e Espaços Turísticos. PROARQ – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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qualificados de modo geral; os quais têm se estabelecido com mais vigor na zona de uso extensivo, notadamente na Pedreira Desativada São José e na região conhecida como Pedra do Quilombo (ou da Contenda), operando quase que exclusivamente atividades de rapel, sendo que nesta última não há participação efetiva do PNMNI na gestão deste espaço.

De fato, ao se avaliar a realidade vivida pelo PNMNI, percebe-se que as características da dinâmica de lazer no Parque, motivo de preocupação da administração, é particularmente clara quando se analisa o perfil do usuário atual. Embora exista grande dificuldade, por motivos operacionais internos, em se estabelecer uma coleta de dados eficaz junto a entrada, para um diagnóstico mais apurado do perfil do visitante, a qual poderia facilitaria tomada de decisões mais precisas

e

estabelecimento

de

prioridades

na

gestão

da

visitação

pela

administração; dados informais de portaria e questionários conduzidos a campo e pela internet para esta dissertação, confirmam esta tendência da visitação e apontam que o oferecimento de outras alternativas de lazer poderia interferir no manejo dos visitantes e em seu perfil.

1.5.2 O Projeto “Caminhos Geológicos” no PNMNI

O Projeto Caminhos Geológicos, coordenado pelo Departamento de Recursos Minerais - DRM-RJ, foi implantado a partir do ano de 2001 (MANSUR & ERTHAL, 2003), com o propósito de trazer a cultura da Geologia para o Estado do Rio de Janeiro, paralelamente, visa também reconhecer e preservar os monumentos geológicos fluminenses, divulgar o conhecimento geológico nas comunidades, incentivar o desenvolvimento econômico relacionado com a geologia e também fortalecer o potencial turístico das regiões. O projeto consiste na colocação de painéis explicativos sobre a evolução geológica do Estado, para que o cidadão tenha acesso à informação e perceba a complexidade e o tempo que a natureza leva para construir a paisagem.

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Dentro deste projeto em parceria com a Prefeitura da Cidade de Nova Iguaçu e universidades presentes no estado do Rio de Janeiro, o DRM-RJ iniciou, em 2004, a implantação do primeiro Geoparque do Estado na área do Parque Municipal de Nova Iguaçu. O patrimônio geológico a ser preservado são as rochas e estruturas relacionadas ao Vulcão de Nova Iguaçu (fotografias 04 e 05), descrito por Klein e Vieira (1980), incluindo parte remanescente da suposta cratera. Foram instalados inicialmente 6 painéis, sendo um geral com 120X90 cm junto à sede do parque e os demais, com 60x60 cm, em afloramentos onde pudessem ser reconhecidas feições simples, de modo geral desconhecidas e que podem despertar interesse do público.

Fotografia 04: Traçado do dique. Local: Poço do Escorrega. Fonte: www.drm.rj.gov.br/item.asp?chave=105

Fotografia 05: Erosão em marmita. Local: Poço do Casarão. Fonte: www.drm.rj.gov.br/item.asp?chave=107

No painel maior, intitulado “Geoparque do Vulcão de Nova Iguaçu”, são apresentadas informações gerais sobre geologia, estrutura da terra, tectônica de placas, magmatismo, vulcanismo e rochas magmáticas e são introduzidos termos relacionadas às rochas, estruturas e demais feições geológicas encontradas na área do Parque. Também é descrito o contexto geológico em que se desenvolveu o vulcanismo documentado pelas rochas da região e como se deu a descrição do vulcão à comunidade científica.

O objetivo deste painel é familiarizar o público, principalmente de alunos de ensino fundamental e médio e moradores dos arredores do parque, com a temática geral do geoparque, utilizando para isso linguagem simplificada e informação sucinta, com ilustrações e fotografias que facilitem o entendimento dos conceitos apresentados, de modo a atrair a atenção dos leitores. Em conjunto com os demais painéis implantados no Parque, apresenta o vulcão e suas rochas aos visitantes permitindo o reconhecimento das feições apresentadas, conscientizando da

56

importância de se preservar não só a fauna, a flora e o patrimônio cultural do local, mas também o patrimônio geológico.

Há a previsão de extensão da sinalização geológica para outras trilhas e afloramentos do Parque de modo a transformá-lo num Geoparque13. Salienta-se que se encontra em fase final de conclusão, o TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), assinado entre o Ministério Público Estadual, a Pedreira Vigné, o governo do Estado e a Prefeitura de Nova Iguaçu. Dentre os itens destaca-se a sinalização geológica e reforma da Trilha da Varginha, cujas referências foram, em parte, obtidas na fase de elaboração desta dissertação.

13

Segundo a classificação da UNESCO (2005): “Geoparque é uma unidade de conservação, em que há preservação e gestão científica do patrimônio geológico integrado à conservação da fauna e da flora”. Fonte: Projeto Geoparques - Serviço Geológico do Brasil – CPRM (2004)

57

2.0 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-CONCEITUAL Os conceitos aqui apresentados e discutidos subsidiaram as análises que foram desenvolvidas. Relacionam temas como lazer em ambientes naturais, ecoturismo, Geoturismo, planejamento e zoneamento turístico, trilhas e impactos relacionados em unidades de conservação.

2.1 Lazer em ambientes naturais, motivação para caminhar, Ecoturismo e Geoturismo.

2.1.1 Lazer em ambientes naturais

Uma das mais importantes interfaces das unidades de conservação com a população são as áreas destinadas ao lazer. As possibilidades de recreação cumprem a função legal previstas em determinadas categorias de UCs previstas no SNUC e ainda determinam mais diretamente o sentido de “utilidade” e valor nas comunidades do entorno e usuários.

Para Dumazedier (1979:171), "o espaço de lazer será cada vez mais necessário para o equilíbrio humano de cidades cada vez maiores, constituídas por uma população cada vez mais rica, cada vez mais instruída, e que trabalha cada vez menos". Boullón (2004) considera o lazer, além de direito do cidadão, tanto um meio para este encontrar a liberdade e a criatividade, quanto um recurso para a formação permanente da pessoa e ainda um veículo para estimular o desenvolvimento social e cultural. Malta (2008:67) entende por sua vez que o conceito de lazer transcende o de tempo disponível, porque agrega o elemento atividade a ser exercida, ou seja, o lazer utiliza a fração de tempo livre destinada a descansar o corpo e o espírito de modo ativo.

Assim, frente aos excessos da vida moderna, várias estratégias de lazer são engendradas, dentre as quais se destaca o “Nadismo” cujo objetivo é o de proporcionar a experiência de parar e dedicar-se totalmente ao ócio. O movimento foi criado pelo designer Marboh (Marcelo Bohrer) em Londres, em 2005, visando

58

criar um evento no qual as pessoas permitissem-se parar com a justificativa de estar participando de uma "atividade" oficial e reconhecida, como forma de frear o ritmo estressante que as pessoas vivem na cidade. Malta (op.cit) ressalta que os períodos de tempo disponível para o lazer, podem ser divididos em duas formas distintas: recreação e turismo. BOULLÓN (2004:98) coloca o turismo como uma forma de recreação: “qualquer tipo de uso que o homem faça de seu tempo livre, sempre que este uso realize-se de forma prazerosa [...] sendo o turismo, portanto, uma forma particular de recreação”. Trigo (1998:18) concorda com a ampliação deste conceito frisando que turismo interliga-se com a imensa variedade de opções destinadas ao tempo livre e aos aspectos culturais, educacionais, da mídia e dos esportes. Salienta-se que a motivação para a participação em atividades recreativas é dependente de variados fatores (quadro 02) e se traduz com diferentes graus de envolvimento: A participação em atividades recreativas é diretamente proporcional ao rendimento. Mudanças nos valores sociais e melhoria financeira possibilitam que famílias de poder aquisitivo menor investam em atividades recreativas;

Tempo disponível

Atividades de lazer estão diretamente relacionadas à mobilidade e à disponibilidade de tempo;

Fontes de informação

Própria, adquirida com outras pessoas, pela mídia ou fortuita. De forma geral, a mídia é quem mais influencia na participação em atividades recreativas;

Quantidade e acessibilidade das áreas recreativas

Disponibilidade de áreas verdes adequadas para a recreação e acessibilidade (condições das estradas e distância das áreas recreativas), interferem acentuadamente na participação da população;

Número de pessoas

O tamanho da população é um dos principais fatores que influi na utilização recreativa. À medida que ocorre o crescimento da população, o nível de satisfação dos usuários pode diminuir, fazendo com que as pessoas procurem outras atividades que ofereçam melhores retornos para seus investimentos em termos de tempo, dinheiro e energia;

Local de residência

O modo de viver das pessoas afeta a escolha das atividades recreativas. As pessoas que sempre viveram no meio urbano acabam por valorizar mais o ambiente natural do que aqueles em que foram criados;

Idade

Define a forma de recreação na qual o indivíduo participará. Espera-se que os jovens participem mais de esportes de aventura, enquanto acampar, observar a natureza, caminhar e fazer piquenique são as principais atividades entre os adultos. A terceira idade, entretanto, tem muito tempo livre e não dispõe de local nem atividades apropriadas;

Escolaridade

A recreação é influenciada pelo nível cultural de cada visitante.

POPULAÇÃO:

Disponibilidade financeira

Quadro 02: Fatores que influenciam na participação dos visitantes em atividades recreativas Fonte: Malta, R. (2008:72). Adaptação de Flávio A. P. Mello, 2008.

59

A participação de visitantes em atividades recreativas em áreas naturais oferece também diversos benefícios sociais e ambientais (quadro 03):

Benefícios psicológicos

Compreendem a melhoria do bem-estar mental percebido pelos visitantes, resultante da participação em atividades recreativas. Podem ser identificados por meio da percepção de tranqüilidade, da aproximação com a natureza e apreciação da beleza cênica, da autoconfiança, do relaxamento físico e mental, da convivência com amigos e qualquer outra experiência satisfatória que use um dos sentidos;

Benefícios na Consistem na melhoria do comportamento ou aumento do desempenho, mudança devido à participação em atividades recreativas. A recreação promove comportamental maior habilidade para dominar o estresse, maior produtividade no trabalho, maior interesse na conservação e conseqüente proteção dos recursos naturais; Benefícios de preservação

São percebidos pelos usuários que ficam satisfeitos em saber que os recursos naturais estão sendo preservados e que existem oportunidades de recreação. Estes benefícios se relacionam basicamente com a conservação da diversidade e da qualidade ambiental, a proteção de características cênicas, a conservação de áreas naturais e preservação de áreas para pesquisas científicas;

Benefícios sociais

A participação em atividades recreativas promove um relaxamento físico e mental, tornando as pessoas menos agressivas, mais saudáveis e produtivas. Se um visitante é mais descontraído e produtivo, ele terá um relacionamento familiar mais solidário, mais disposição para se dedicar às causas de interesse comum e, provavelmente, será favorável ao uso racional dos recursos naturais e culturais. Como conseqüência, estes benefícios se refletem no comportamento das pessoas, estendendo-se para a sociedade como um todo.

Quadro 03: Tipos de benefícios gerados mediante a participação dos visitantes em atividades recreativas em áreas naturais. Fonte: Malta, R. (2008:73). Adaptação de Flávio A. P. Mello, 2008.

Cabe destacar que, tanto as atividades de lazer em áreas naturais, quanto as ecoturísticas, em um sentido mais amplo, compartilham do mesmo lócus e consequentemente podem compartilhar de muitas dinâmicas sociais e ambientais. Bezerra

et al (2005:59), ressaltam o papel

que desempenha o ecoturismo na

gestão dessas áreas: “As UCs urbanas, mesmo não concentrando uma grande diversidade biológica, pelo seu alto grau de fragmentação possuem relevante papel, especialmente no que diz respeito às atividades de lazer, educação e turismo”. Costa et al. (2008) destacam ainda que as atividades ecoturísticas em unidades de conservação urbanas têm sido reconhecidas como grandes contribuintes para a qualidade de vida daqueles que vivem nas grandes cidades, além da representação do valor estético, paisagístico e patrimonial natural para aquelas áreas:

60

Ultimamente uma nova e mais ampla visão vem sendo construída, que vai além do valor ambiental intrínseco que as áreas protegidas possuem, ou seja, além da beleza estética (contemplação). Elas estão sendo encaradas também como fonte de oportunidades de renda e trabalho para as comunidades que vivem em seu interior e/ou entorno; como fonte de desenvolvimento social para jovens, fonte de saúde pública e também como um poderoso agente gerador de capital social (Costa et al. 2008:115).

2.1.2 A motivação para andar em trilhas

O deslocamento de visitantes em unidades de conservação em direção a atrativos, de modo geral se dá por caminhadas, onde o próprio ato de andar já faz parte do lazer. Sem esgotar o tema, para Hilman (1993:55 apud Mendonça, 2003:95) em um espaço urbano, o ato de caminhar é apenas uma maneira lenta e ineficiente de nos aproximar daquilo que os olhos já viram. O pé é escravo do olho, o que faz com que o caminhar torne-se chato, uma mera questão de cobrir distâncias. Quando podemos manter a tensão entre o pé e olho, embarcamos numa abordagem circular e indireta. O pé leva o olho, o olho instrui o pé, alternadamente. O caminhar assume o movimento da alma, por que, como disse o grande filósofo Plotino, o movimento da alma não é direto.

Mendonça (2003:96, op. cit.) destaca ainda que na monotonia do espaço urbano, nosso olhar é para baixo, tanto para ambientes externos quanto internos como, por exemplo, para o transito e equipamentos que nos cercam, papeis e outros respectivamente. Já no “espaço natural”, continua a autora, para caminhar: “nossa maneira de ser, de estar, de posicionar nossos corpos é convidada a se modificar. O espaço natural não supõe anterioridade nem dos olhos nem dos pés. Ele é como é. Se a trilha foi planejada, é porque se tornou adequada às curvas de nível, à declividade natural do terreno, e contornou rochas e raízes das arvores maiores. Nossos corpos devem se integrar as curvas do caminho e nosso olhar deve redobrar esforços para localizar obstáculos e apreciar a beleza, tanto pequena, dos pequenos seres, das pequenas gotas, como as amplas, das paisagens abertas. Mas, sobretudo, deve esforçar-se para olhar para cima, para a copa das arvores, para o cume das montanhas, para as nuvens”.

Andrade (2005) em Costa (2006) refere que as trilhas “oferecem oportunidade do contato efetivo com a natureza...” e a prática de caminhar como uma manifestação de ócio ou recreação possui motivação muito próxima destas referências, embora possam ser subliminares os motivos para tanto. Beck (1989:10) coloca que a facilidade de acesso a trilhas urbanas ou próximas a centros urbanos possibilita a uma diversidade extraordinária de pessoas a visitá-las, com iguais expectativas, pois segundo o autor: “há os que buscam as montanhas pela beleza

61

do cenário, pela pura contemplação do dia e da paisagem, pelo prazer do exercício, da mudança de ares, da companhia dos amigos, das fotos que trarão para mostrar.

O autor prossegue afirmando que qualquer trilha fácil, cênica e que traga satisfação ao visitante além de se prestar ao lazer, indica que caminhar por trilhas é uma aventura essencial para o ser humano, pois oferece “a incerteza do desfecho, a excitação de novas descobertas e a magia de revelar em si novas habilidades e forças de cuja existência ele não suspeitava” e autor destaca ainda que psicólogos apontam que esta busca por aventura – distante da aventura inconseqüente e sem sentido – está ligada a um nível de risco calculado, consciente, que permite uma resposta cerebral de satisfação e ampliação da percepção.

Assim, os territórios e lugares proporcionados pelas trilhas, de fato, podem se traduzir em uma gama de experiências e oportunidades de ócio e recreação, incluindo práticas pedagógicas, como por exemplo, as atividades de Educação ambiental, a exemplo do que coloca Guimarães (2007:123), citando Albero e Benayas del Alamo (1994: 79-80), onde a utilização da paisagem como fio condutor em programas de Educação Ambiental tem como marcos os seguintes aspectos: · Motivação: cenários e elementos componentes que incitam e animam à exploração e o desfrutar; · Estimulação dos sentidos: despertar de capacidades contemplativas e de interiorização das vivências ambientais; · Interdisciplinaridade: a paisagem se converte em lugar de encontro de disciplinas distintas de modo multi e interdisciplinar; · Decifração de mensagens: infinidade de estímulos que escondem informações múltiplas obre o entorno que podem ser decifrados pelo conhecimento e treinamento; · Globalização: permite uma análise sistemática e global do médio; · Realista e concreto: vantagens dos estudos das unidades paisagísticas graças a sua visibilidade; · Desencadeamento de juízos e valores: estéticos, éticos e adaptativos direcionados à conservação ambiental;

62

· Implicações na ação e intervenção: relacionadas aos impactos ambientais.

A principio então, podemos antever que a motivação para caminhar em áreas naturais e sobretudo em trilhas, atende não só as demandas de lazer e recreação mas também interfere na psique do caminhante e em sua saúde, o que acaba por se traduzir em mais uma motivação, pois os benefícios físicos de caminhar são vários, conforme divulga o Instituto de

Ortopedia e Saúde, onde a caminhada é um

excelente relacionando desde a integração social quanto benefícios diretos como aumento do vigor físico.

2.1.3 Ecoturismo

O turismo tem sido abordado por vários autores sob diferentes aspectos, incluindo deste as questões sociais e econômicas quanto as ambientais. Para Garcia (2007: 113): “O turismo é fenômeno multifacetado e surge como opção de lazer, no qual o indivíduo usufrui seu tempo livre durante o deslocamento e permanência temporária em localidade diferente da sua origem, desfruta da paisagem ou de elementos intangíveis como banho de mar, visita à parques, assistir à peças de teatro, dançar”.

Silveira (2003:84) refere que há basicamente dois grandes grupos genéricos de turismo: o turismo convencional ou de massa (caracterizado pelo alto custo financeiro, pela presença de mega-empreendimentos e por não considerar os impactos ambientais e sociais decorrentes de seu exercício, sendo compreendido como um espaço antropocêntrico) e o turismo alternativo (figura 05), também interpretado como ecoturismo por alguns autores. O turismo alternativo é mostrado como um modelo opositor ao turismo massificado, caracterizando-se pela adaptação do turista ao lugar, e não o contrário, como ocorre no turismo de massa. No primeiro caso, há a preocupação com os anfitriões, a distribuição das poucas pessoas visitantes pelos locais disponíveis e pela consciência ecológica por parte do visitante e dos anfitriões.

63

Neste viés, o ecoturismo é apontado por Troncoso (2002) como a modalidade de turismo em ambientes naturais da mais especializada, cuja diferenciação de outras atividades similares encontra-se na política de planejamento e no manejo dos recursos naturais, educação ambiental, conhecimento e aprendizagem da natureza, entre outras.

Figura 05: O Turismo Alternativo Fonte: Mieczkowsi apud Wearing e Neil, 2001, p. 5. In SILVEIRA (2003)

Pires (2002), por sua vez, considera que o turismo na natureza pode ser dividido em dois grandes grupos, sendo um deles composto pelo ecoturismo e o outro composto pelo turismo de aventura. Fennell (2002:46), entretanto, refere à ambigüidade de separar o turismo na natureza (a viagem para apreciar as áreas naturais não desenvolvidas ou a vida selvagem) das outras formas de turismo, visto que todos dependem e utilizam os recursos naturais, e nem todos são compatíveis com o meio ambiente: “o turismo na natureza não é ecologicamente correto em princípio, pois concentra-se mais na motivação e no comportamento do turista individual, o que muitas vezes está desconectado com o ambiente natural, pela ânsia de viver experiências, sem atentar para o comportamento perturbador do entorno natural, como barulho, depredação e deposição de resíduos” (Ziffer apud Fennell 2002).

Assim o turismo na natureza envolve todas as formas de turismo - turismo de massa, turismo de aventura, turismo de baixo impacto, ecoturismo, e que os mesmos utilizam os recursos naturais de uma forma selvagem ou não desenvolvida – inclusive espécies, habitats, paisagens, atrações aquáticas de água doce e salgada. Zachi (2004) alerta para o modismo atual de se rotular, como ecoturismo, qualquer grupo que viaje sobre a motivação ligada ao natural e/ou cultural. Nestes grupos, de modo geral, não se percebe a adoção da harmonização entre turismo, conservação e cultura e papel do turismo ligado a natureza, torna-se mais amplo e

64

pode descaracterizar o desejo de se estar em ambiente preservado. Laarman e Durst (apud Fennell 2002:45) definem ainda o turismo na natureza como aquele que “focaliza principalmente os recursos naturais relativamente intocados, como parques e áreas naturais, pantanais, reservas selvagens, e outras áreas de flora, fauna e habitantes protegidos”.

Para Selva e Coutinho (2000), o turismo ecológico é considerado o segmento no qual turistas e promotores de viagens procuram o contato direto com os mais diferentes ambientes naturais, entretanto sem a preocupação com o equilíbrio ecológico, ou mesmo com a compreensão dos fluxos e dinâmica que são estabelecidos no ambiente. De fato, a expressão mais comumente aceita, tanto por órgãos ambientais quanto de turismo principalmente na esfera federal, é que turismo ecológico é definido como sendo “desenvolvido em áreas naturais, onde os seus consumidores procuram usufruir ao máximo a natureza, minimizando os impactos que possam causar, além de desenvolver uma consciência ou compreensão ecológica” (Faria & Carneiro, 2001: 74).

Percebe-se então, que a diversidade de atividades de lazer que podem ser desenvolvidas em ambientes naturais permite inferir em uma grande variedade de “tipos de ecoturismo”. Oliveira (2000) coloca o Ecoturismo como um grande nicho de mercado e aponta as múltiplas vertentes: como o científico, envolvendo estudos e pesquisas

em

diversas

áreas

do

conhecimento (botânica,

zoologia,

paleontologia, geologia, arqueologia e ecologia...); o educativo, abrangendo a interpretação e observação da natureza, da vida selvagem, dos

espaços

geográficos e astrais; o lúdico e recreativo, como caminhadas, acampamentos, contemplação de paisagem, banhos e mergulhos, jogos e brincadeiras, passeios montados; o étnico, onde há contatos e integração cultural do ecoturista com populações autóctones (primitivas/nativas), que vivem em localidades remotas, em estreita relação com a natureza; o naturista, formado pelos adeptos do ‘nudismo’ ao ar livre e junto à natureza, o esportivo, contanto com exercícios como escalada, canoagem, bóia cross, surf, vôo livre, balonismo, e o de aventura, inclui trekking14, montanhismo, expedições, contatos com culturas remotas. 14

Trekking têm sido um termo genérico, utilizado principalmente pelas operadoras de turismo de aventura e ecoturismo para designar os deslocamentos em trilhas, as quais são o atrativo ou parte da atividade principal.

65

Desta

forma,

Oliveira

(op.cit)

salienta

que,

apesar

das

diferentes

classificações estabelecidas, é difícil encontrar um só tipo específico de turismo na natureza, havendo, de modo geral, uma integração entre estes diferentes tipos de atividades turísticas, tanto no momento de seu planejamento, quanto de sua realização, através da integração da atividade educativa com o lúdico-recreativo, ou da esportiva com a de aventura, possibilitando alternativas e experiências diferenciadas em maior ou menor grau, de acordo com o perfil de seus operadores e políticas locais para estas atividades.

2.1.4 Geoturismo

Para Costa (2008, op. cit.), o Geoturismo é mais um evento associado ao turismo na natureza, com destaque para os atributos do meio físico, particularmente da Geologia e da Geomorfologia; pois o conhecimento detalhado das principais feições de relevo existentes em determinada área e de processos geomorfológicos atuantes criam também oportunidades importantes para os estudos ambientais, como as práticas ecoturísticas que envolvem atividades de lazer, recreação e educação ambiental.

Nesta linha de pensamento, destacam-se os estudos de Guerra et al. (2006), que demonstram que o turismo, como um todo, está fortemente relacionado com o meio físico, em especial com aquela modalidade que explora as belezas naturais de uma região, ou seja, o ecoturismo. Costa (op. cit.) destaca atributos como vales com encostas escarpadas e paredões rochosos que permite rapel e escalada; área com rupturas de declives acentuados onde trechos encachoeirados dos rios permitam a prática de canoagem (rafting); lagoas e áreas represadas, que favorecem o banho e contemplação da natureza; pontões/picos, que servem como mirantes entre outros, a exemplo do que ocorre no maciço da Pedra Branca.

Segundo Nascimento (2007), o Geoturismo compreende um novo segmento do turismo de natureza, no Brasil, que surge com a intenção de divulgar o patrimônio Existem trekkings curtos e longos. O termo hiking, comumente utilizados na América, refere-se a caminhadas longas. Contudo, o termo trekker se generalizou como sinônimo de quem utiliza trilhas por lazer ou esporte.

66

geológico, bem como possibilitar sua conservação. Tal atividade utiliza feições geológicas como atrativo turístico, divulgando a geodiversidade da região turística, sendo

útil,

portanto,

para

promover

a

associação

com

as atividades de

ecoturismo, unindo, assim, a bio e a geodiversidade.

O autor relata que há pouca literatura a respeito destacando, contudo, dois trabalhos que tratam do assunto diretamente: o livro “Geoturismo:

scoprire

le

bellezze della Terra viaggiando” de Matteo Garofano, editado em 2003, onde são apresentados os principais pontos geoturísticos da Itália, a

geologia italiana

e

fornece sugestões de como organizar uma viagem geoturística. Em 2006, Ross Dowling e David Newsome, dois autores australianos, lançaram o livro “Geotourism: sustainability, impacts and management”, onde buscam esclarecer os conceitos básicos sobre este segmento do turismo e tece comentários sobre a prática do geoturismo em diversos países do Mundo. Apresenta uma relação de geoparques no mundo, mostrando sua importância para o uso sustentável do geoturismo.

Neste sentido, o Geoturismo se configura como uma possibilidade imediata a ser explorada, em complemento as bases lançadas pelo DRM através Projeto Caminhos Geológicos, onde em 2004, o Departamento de Recursos Minerais DRM-RJ em parceria com a Prefeitura da Cidade de Nova Iguaçu e universidades iniciou a implantação do primeiro Geoparque do Estado na área do Parque Municipal de Nova Iguaçu, em função do grande patrimônio geológico local. Segundo o Serviço Geológico do Brasil (2004), para a UNESCO o geoparque atende as seguintes características:

a) Em

princípio,

representa

um

território

e

paisagem

que

é

suficientemente grande para gerar atividade econômica - notadamente através do turismo. Pequeno afloramento, mesmo tendo importância científica, geralmente não tem esse potencial; b) Deve ter normalmente tamanho suficiente para abarcar um número de pequenos sítios (geositios) que, tomados em conjunto, mostram feições geológicas importantes, raridade de beleza, não precisando ter unicamente

significado

geológico-paleontológico.

Aspectos

arqueológicos, ecológicos, históricos ou culturais podem também

67

representar e devem ser vistos como importantes componentes de um Geoparque; c) Terrenos

que

são

de

interesse

geológico-paleontológico

(e

arqueológico e biológico), mas que não tem público permanente, ou localizam-se em locais muito remotos para gerar atividade econômica, não deveriam servir normalmente como Geoparques. O conceito de Geoparque é elaborado para relacionar as pessoas com o ambiente geológico-paleontolológico e geomorfológico; essa caracterização pode mudar com a evolução sócio-econômica da região no tempo; d) Tem

de

prover

pela

educação

ambiental,

treinamento

e

desenvolvimento de pesquisa científica nas várias disciplinas das Ciências da Terra, e dar destaque ao ambiente natural e às políticas de desenvolvimento sustentável; e) Deve ser proposto por autoridades públicas, comunidades locais e interesses privados agindo em conjunto; f) Deve ser parte de uma rede global (International Network of Geoparks), que deve demonstrar e compartilhar as melhores práticas com respeito à conservação do patrimônio da Terra e a sua integração em estratégias de desenvolvimento sustentável.

Assim, um Geoparque deve preservar o patrimônio geológico para futuras gerações (conservação); educar e ensinar o grande público sobre temas relativos a paisagens geológicas e matérias ambientais (educação) e prover meios de pesquisas para as geociências e assegurar desenvolvimento sustentável (turismo).

O Projeto Caminhos Geológicos conduzido pelo DRM do Estado do Rio de Janeiro, em parceria com a Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos-SIGEP, tem buscado a classificação do Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu como geoparque.

68

2.2 Planejamento turístico e das práticas de lazer na natureza

A complexidade da avaliação do fenômeno do lazer em áreas naturais, principalmente as unidades de conservação incluindo o ecoturismo como uma de suas expressões, demandam abordagens intelectuais e técnicas que proporcionem uma compreensão mínima dos eventos, suas interações e possíveis conseqüências ou resultados face aos objetivos propostos. O que se busca é um modelo ambiental onde seja possível administrar os diferentes conteúdos de lugares e territórios de acordo com a demanda sócio-ambiental requerida.

2.2.1 Sistemas, Modelos e Equilíbrio no contexto da gestão de Unidades de Conservação e da implementação do ecoturismo

A modelagem ambiental é um exercício de abstração mental, onde se procura reconhecer sistemas ante a multiplicidade de fenômenos reconhecidos no meio em questão, procurando estabelecer os elementos componentes e as relações existentes. Por ser um ato subjetivo, o estabelecimento do modelo a servir de referência depende intrinsecamente da qualidade da abordagem frente aos objetivos. Assim, desde posicionamentos filosófico-religiosos, formação técnicocientífica e recursos humanos e materiais, irão interferir no produto final.

Alguns conceitos se fazem necessários para a compreensão da modelagem ambiental. Campbell (1958, apud Christofoletti) propõe algumas normas, não obrigatorias, devem ser consideradas nesta interpretação, como a proximidade espacial de suas unidades, a similaridade de suas unidades, objetivos comuns de suas unidades e padronagem distinta ou reconhecível de suas unidades. O entrosamento destes critérios devem caracterizar organização e funcionalidades, sendo que nos sistemas ambientais o critério funcional e de composição integrativa são os mais relevantes. Cabe destacar que em termos gerais, a composição dos sistemas basicamente ocorre em função da natureza de suas entradas, saídas e reguladores envolvidos nos processos que envolvem os fluxos de massa e energia.

69

Marques (1984) relaciona as ações destes reguladores dos níveis de massa e energia, distribuição de massa e/ou energia para os componentes do sistema, incluindo os armazenadores e determinação do modo e quantidade de saída de massa e energia do sistema como características do padrão de funcionamento de sistemas (aberto ou fechado, simples ou complexo; organizado ou não). Neste sentido, considerando-se o sistema “Unidade de Conservação”, os reguladores são as diferentes ações e condições que interferem na distribuição de massa e energia no sistema, assim, a dificuldade de acesso externo é um regulador do fluxo de energia “usuários”. Este mesmo fluxo pode ter um regulador interno como, por exemplo, as limitações administrativas de acesso a determinadas áreas previstas em um plano de manejo por exemplo.

Cabe destacar que, de modo geral, os sistemas não isolados são mais comuns e mantém relações com os demais sistemas do universo no qual funcionam, podendo ser classificados em abertos quando há constante troca de energia e matéria (recebendo e perdendo) ou fechados quando há permuta de energia (recebem e perdem), mas não de matéria, a qual tende a se manter constante.

Com esta abordagem, é possível interpretar uma unidade de conservação (UC) como um sistema aberto, visto que recebem energia de fora, considerando-se, por exemplo, o volume de visitantes. Esta mesma UC também pode ser definida como um sistema complexo, ao se avaliar as múltiplas inter-relações que se estabelecem entre os diferentes subsistemas que o compõem, ao se diagnosticar fatores bióticos, abióticos, culturais e sociais entre outros. Deste modo, a interpretação do que é massa e o que é energia para a compreensão dos aspectos dinâmicos do sistema decorre, a grosso modo, de sua própria natureza, ou seja: eleito um determinado fator, ele é energia quando empresta movimento a seu objeto de atuação, se caracterizando como massa quando identifica a realidade física local.

Nestes parâmetros, se destaca a possibilidade de se prever a evolução dos sistemas e o tempo necessário para seu término. Esta perspectiva favorece a abordagem dos fenômenos através do tratamento histórico e evolutivo, ao se poder predizer a sucessão de etapas. No que tange às dinâmicas da visitação por exemplo, a coleta regular e discriminada de dados como perfil do visitante, hábitos e

70

padrão de dispersão, são essenciais para se projetar quadros futuros de fluxos dentro da unidade.

Salienta-se que nos sistemas isolados, é possível conhecer as condições iniciais e finais com mais eficiência, visto não trocarem energia ou matéria com o ambiente que o circunda. Contudo, funcionalmente, é possível tratar sistemas abertos e não isolados com alguma previsibilidade conforme indicadores selecionados, como a análise de determinada malha de trilhas, dada as relações com os diferentes componentes encontrados em uma UC, onde a flora e a fauna podem representar o sistema biótico e os visitantes e usuários regulares o sistema que representa a energia e matéria originados de outros sistemas, como urbanos locais e de outras origens.

Estes sistemas interagem com as áreas do parque acessadas por trilhas e cujas alterações acabam por se refletir no universo local como um todo ao se considerar os sistemas relacionados individualmente ou em seu conjunto (a unidade de conservação). Já para critérios conforme a complexidade da composição integrativa, Christofoletti (op. cit.) relaciona quatro sistemas de interesse para a modelagem ambiental, dentro das onze referidas na classificação estrutural de Chorley e Kennedy (1971):

1. Sistemas morfológicos: onde a associações das propriedades físicas, isto é, as formas, dos sistemas e seus elementos se destacam como, por

exemplo:

comprimento,

altura,

declividade,

densidade

e

granulometria de solos, entre outros. 2. Sistemas em seqüência ou encadeantes: quando são identificadas cadeias de subsistemas que pela contigüidade, possuem como grandeza de referencia a localização espacial, isto determina a relevância da análise ao se qualificar os elementos reguladores e os padrões de entrada e saída de energia e matéria. Christofoletti (op. cit.) refere três possibilidades de análise dos processos de entrada e saída por Chorley e Kennedy (1971), identificadas

como

“Caixa-branca”

onde

os

subsistemas

são

substancialmente identificados, assim como seus processos. “Caixa-

71

cinza” onde se conhece parcialmente os subsistemas envolvidos ou a ação se concentra em um número limitado de subsistemas e seus processos. O sistema denominado “Caixa–preta” por sua vez, dada à impossibilidade de se conhecer seus constituintes e processos, faz que o sistema seja considerado como um todo, sem considerar sua organização e dinâmica interna. A atenção se dirige especificamente para as entradas e saídas identificadas. 3. Sistemas de processos e respostas: derivam-se da combinação entre sistemas morfológicos, que indicam a forma e sistemas em seqüência que determinam o processo. A ênfase maior esta em identificar as relações entre o processo e as formas resultantes, que determinam o sistema como um todo. 4. Sistemas controlados: São aqueles onde o homem atua sobre os sistemas de processos-respostas determinando variáveis chaves que podem influenciar a distribuição de matéria e energia nos sistemas em seqüência e assim nas formas como se relacionam.

Christofoletti (op. cit.) destaca ainda outra tipologia de sistemas, atribuída a Weaver (1958) e introduzida nos estudos ambientais por Wilson (1981), onde são classificados três tipos de sistema de acordo com seu grau de organização: Simples, Complexos desorganizados e Complexos organizados.

Estes conceitos são importantes para a compreensão das trilhas não só como um fenômeno geográfico (uma alteração morfológica na paisagem, indutora de territorializações e lugares), mas, principalmente, como um fenômeno dinâmico, que pode ser identificado como um subsistema dentro de um sistema maior (UC) e sobre o qual é necessário avaliar suas relações com os demais subsistemas, como por exemplo o subsistema formado pelos usuários e o subsistema formado pela flora e fauna local, assim como seus efeitos internos sobre os demais e consequentemente ao sistema do parque como um todo.

72

Compreendido a UC como um sistema dinâmico, a condição operacional ótima pode ser entendida como um estado de equilíbrio, aquele que reflete uma condição de equidade entre os processos e morfologias15.

O lazer em áreas naturais, incluindo o ecoturismo, é um fenômeno dinâmico, isto é implica em entradas e saídas de matéria e energia. Assim, mesmo que se estabeleçam medidas de controle, atividades de recuperação de atributos ou mesmo que a própria resiliência local tenda a manter o estado original, existem outros processos que interferem nos diferentes subsistemas e no próprio sistema como um todo. Por exemplo, podemos citar os eventos erosivos nas encostas, as alterações provocadas pelo fogo na estação seca, etc. De fato não nos é possível congelar o “universo” do parque e manter suas características sem alterações; mesmo por que também não somos capazes de identificar todos os sistemas, subsistemas e processos existentes. Cabe então referir alguns conceitos associados ao equilíbrio. Marques (1984) destaca:

a) Auto-regulagem (Correlação entre as variáveis e autocontrole): é a capacidade dos sistemas de se manterem em equilíbrio, isto é, de se manterem os processos e formas que o caracterizam como tal. Podese considerar, por exemplo, uma situação hipotética onde uma trilha possui uma ou mais áreas críticas que podem comprometer a viabilidade ou qualidade da visitação. Se providenciarmos alternativas de traçado que evitem estas áreas críticas, estamos na prática propiciando uma alternativa de autoregulação do fluxo de visitantes sem comprometer o equilíbrio de sua função.

Ao se estabelecer uma correlação entre os visitantes e um circuito de trilhas podemos ter como exemplo de “feed-back” positivo as ações da administração na facilitação de acesso, possibilitando em um primeiro momento maior número de visitantes, dada às facilidades oferecidas, ou seja, quanto mais fácil for à utilização das trilhas, maior visitação terá. Contudo, ao se atingir um determinado nível de uso, as trilhas 15

O equilíbrio é uma relação (um processo) que se estabelece entre os componentes de um sistema, dentro de uma escala percebida ou determinada (Aurélio, Dicionário Eletrônico Século XXI).

73

começam a se degradar e podem ultrapassar a capacidade de administração do parque em manter o estado de “equilíbrio” inicial. Desta forma, o maior afluxo de visitantes determina maior dificuldade em se utilizar a trilha, afastando cada vez mais os possíveis visitantes, diminuindo assim o número de visitas. b) Estabilidade estatística: diz respeito à avaliação probabilística das oscilações de comportamento, considerando as escalas de tempo e/ou espaço; de sistemas, subsistemas ou variáveis em relação a um valor central; sem que isso caracterize uma anormalidade (perda do “estado” de equilíbrio). Quando determina-se a capacidade de suporte de uma trilha ou atrativo, podemos definir uma carga limite de visitantes sobre a qual estabelecemos os indicadores de monitoramento. A manutenção destes indicadores dentro de níveis aceitáveis é uma estabilidade estatística, como, por exemplo, considerar aceitável o alargamento do corredor das trilhas em torno de 10% de sua extensão total. c) Eficiência ótima: Considerando um sistema, subsistema ou processo, representa a mobilização de energia e/ou massa capaz de estabelecer a melhor relação custo-benefício frente a um objetivo ou evento analisado. A definição desta referência, eficiência ótima, serve para se verificar o grau de entropia que o objeto e/ou processo se encontra, isto é desde seu grau de organização até o de eficiência da conversão de massa/energia nos processos envolvidos. Tendo definido um objetivo, como por exemplo, os novos roteiros estabelecidos devem absorver pelo menos 100 visitantes dos 400 mensais que se distribuem nas áreas mais visitadas, diminuindo assim a pressão sobre estes atrativos. O atendimento desta meta vai demonstrar a eficiência deste investimento e os níveis de visitação vão qualificar a eficiência das políticas implantadas e assertiva da proposta. d) Limiar ou Limite crítico para os Sistemas: o limiar significa um limite que uma vez ultrapassado estabelece um novo padrão. Nos sistemas ambientais os limiares são avaliados normalmente em escalas de tempo e espaço. A permanência de um limiar se relaciona diretamente com a eficiência e comportamento dos controladores internos, incluindo as situações onde se ultrapassa o limiar e estes reconduz o sistema à

74

condição anterior. As ações de detecção de desequilíbrios ambientais como estabelecidos, dependem da identificação dos limiares (as referências últimas de “normalidade”, equilíbrio; do sistema) e das causas ou dos movimentos de energia/massa que os ultrapassaram.

As evidências destes movimentos podem ser interpretados a partir de formas e processos identificados como ativos ou inativos. Reencontrar em um ambiente as formas e processos que podem indicar historicamente

que

estes

limiares



forma

ultrapassados

anteriormente, podem indicar que o sistema pode estar caminhando para um novo padrão ou estado de equilíbrio. É comum, ao se abrir novas trilhas ou recuperar traçados, se encontrar vestígios de antigos caminhos como faixas de solos compactados, acidentes erosivos, espécies vegetais pioneiras e sinais de sub-bosque recente. Se estabelecermos que o limiar de referência seja as características do solo e vegetação no traçado proposto, temos assim os sinais de limiares antigos ultrapassados (as marcas de sobreuso do solo e alterações na vegetação). e) Lapso de Reação: É o espaço de tempo entre a execução de uma ação e o início da resposta obtida. Diz respeito à escala e resistência dos componentes do sistema em ajustar às novas condições impostas. O lapso de reação relaciona-se com ao grau de resiliência do sistema e suas formas derivadas servem como referencias para se deduzir situações anteriores. Para os gestores de trilhas, conhecer ou prever o tempo de resposta às atividades de manutenção das trilhas e resiliência da cobertura vegetal, por exemplo (que caracterizam a capacidade da gestão em ajustar as novas condições de uso impostas), é fundamental para se estabelecer um plano de manejo capaz de manter o limiar previsto dentro de padrões de qualidade da visitação e preservação dos recursos naturais aceitáveis.

A identificação do tipo de equilíbrio é fundamental para se estabelecer os parâmetros de funcionalidade dos sistemas e subsistemas, assim como seus limiares e desta forma melhor compreendê-los e avaliar suas tendências e

75

movimentos, subsidiado o monitoramento e a tomada de decisão. Podemos qualificar os principais tipos de equilíbrio em:

a) Estático: De acordo com a escala utilizada é o equilíbrio onde observador não percebe alterações de massa e energia. O processo parece inerte e não afeta o sistema. As forças podem existir atuando dentro de uma oposição de tendências de modo a manter o estado de equilíbrio percebido, ou serem incapazes de o moverem. Quando o monitoramento da qualidade das trilhas se restringe apenas às condições de transito dos visitantes, para o gestor a trilha pode estar em equilíbrio, visto que sua escala não contempla os impactos ambientais por exemplo. Deste modo, apesar de estar ciente das forças que lá atuam, ignora os processos que estão ocorrendo e conduzindo a trilha para outro patamar de qualidade da visitação. b) Estável: É o estado de equilíbrio onde apesar das perturbações e oscilações de massa e/ou energia, se regula dentro da escala estabelecida. Quando estamos em um mirante, podemos perceber grande afluxo de visitantes se destacando na paisagem. Cessada a visitação, a paisagem que caracteriza o patrimônio natural da unidade, volta à normalidade com a ausência da interferência da presença do excesso de visitantes. c) Instável: Nesta situação o efeito do fluxo de massa/energia se torna cumulativo ou insuficiente a ponto de conduzir o sistema para outro padrão estático no mesmo processo. Nas ações de recuperação e manutenção de trilhas, muitas vezes as facilidades e infra-estruturas de apoio oferecidas (leia aporte de matéria/energia), acabam por determinar outra qualificação. Como, por exemplo, uma trilha que antes recebia “x” pessoas com maior vigor físico, agora recebe “x +y” pessoas de diferentes graus de resistência física. Por extensão, podemos deduzir que com o passar do tempo, a deterioração das instalações poderão acabar por selecionar novamente o perfil do visitante de maior vigor físico. d) Meta-Instável: Nesta situação, o fluxo de matéria/energia altera a relação processo-forma, ultrapassando o limiar que caracteriza o

76

sistema. Processos erosivos de grau acentuado podem determinar a perda de função de uma trilha fazendo que seja abandonada ou fechado o acesso para visitação e em seu lugar se estabeleça uma área de recuperação ambiental, por exemplo, caracterizando um novo padrão no sistema local. e) Estado contínuo: Conforme a escala estabelecida, o processo se comporta em torno de uma média sem alterar o sistema. Suas propriedades são mantidas em torno de uma média estatística, sem, contudo,

descaracterizá-las.

As

diferentes

ferramentas

de

monitoramento de impactos ambientais do ecoturismo visam este “equilíbrio em estado contínuo”, ou seja, se admite oscilações na qualidade da visitação, dos impactos e efeitos das medidas mitigatórias, mas os mesmos devem manter as características do sistema.

Ao se considerar as trilhas como sistemas ou sub-sistemas, e os visitantes como energia e/ou massa, a compreensão do fenômeno é melhor avaliada ao se considerar tipos de equilíbrio que se apóiam na teoria geral da termodinâmica16, onde em sistemas fechados toda a energia disponível17 se transforma em energia latente, a qual gera entropia máxima para o sistema, conduzindo a um estado de homeostase.

Assim, em uma unidade de conservação, por exemplo, as plantas, por meio da fotossíntese, consomem minerais, gases e materiais brutos do solo e do ar e usam a energia do sol para converter esses materiais em energia orgânica, base da cadeia alimentar da biosfera, onde animais e plantas convivem interativamente. Deste modo, a quantidade total de energia não é criada nem destruída, mas apenas transformada de um estado para outro. Por conseguinte, pouca ou nenhuma energia é dissipada e o sistema tende ao equilíbrio homeostático, gerando pouca ou

16

A termodinâmica é o paradigma da teoria fenomenológica que não se atém somente em descrever fenômenos de calor, mas propriedades mais gerais que servem de base para a compreensão do comportamento sistêmico do meio ambiente. Mota (2006) refere que a Primeira Lei da Termodinâmica, ou lei da conservação, compreende a relação entre calor e trabalho, afirmando que a matéria e energia não podem ser criadas ou destruídas, mas somente transformadas. Toda forma de energia precisa de trabalho para a sua transformação. 17 A energia disponível ou livre de um sistema é aquela que pode ser transformada em trabalho. A energia latente de um sistema é a que é tornada inútil para realizar trabalho.

77

nenhuma entropia. Entretanto, ao se introduzir energia e/ou massa externa a estes sistemas, aplica-se a Segunda Lei da Termodinâmica, ou lei da entropia, é a medida quantitativa da irreversibilidade. A entropia é representada pela quantidade de energia que não é mais capaz de realizar trabalho e também é a medida do grau de desordem na natureza18.

Nos processos naturais a energia livre é transformada em energia latente, dissipada no meio ambiente, portanto não mais disponível para gerar vida nova. Um sistema somente poderá permanecer vivo, distante da entropia máxima ou da morte é “retirando continuamente entropia negativa do seu ambiente” Mota (2006). O estratagema que o organismo usa para se manter estacionário em um nível bastante alto de ordenação (um nível bastante baixo de entropia) na verdade consiste em continuamente sugar ordenação do seu ambiente. Mota (op.cit) destaca ainda que: Em qualquer processamento ou transformação de energia, alguma energia é dissipada (essa propriedade ocorre também nos processos de troca de energia entre os entes de um mesmo ecossistema; entre esses elementos gera-se energia de baixa entropia, ao contrário das atividades econômicas, que geram energia degradadora do meio ambiente) e em nenhum processamento de energia é possível que o único resultado seja a conversão de uma determinada quantidade de calor – energia térmica – em igual quantidade de trabalho útil (todos os processamentos de energia geram entropia de baixa ou alta intensidades).

As definições relacionadas aos diferentes tipos de equilíbrio (Dinâmico, metadinâmico,

dinâmico

meta-instável)

servem

para

caracterizar

os

diferentes

comportamentos de fluxo de energia e massa ao se estabelecer sistemas para análise das dinâmicas locais. Estes conceitos são fundamentais, por exemplo, para se definir estudos de capacidade de suporte ecoturístico, principalmente quando aplicados a trilhas atrativos. Segundo Stigliano (op.cit p. 02) as definições acerca de capacidade de carga aplicadas a atividades de lazer de modo geral incorporam dois aspectos centrais: “primeiro, o componente biofísico, referindo-se à integridade dos recursos, que implica certo grau de tolerância, ou limite, após o qual a exploração e o uso continuados podem causar extenuação do ecossistema natural; segundo, o aspecto comportamental, refletindo a qualidade da experiência de lazer”.

18

Entropia também pode ser interpretada como a medida de utilização de massa e energia em um sistema, onde a entropia mínima caracteriza energia/massa disponível e máxima onde toda a energia/massa esta comprometida.

78

Assim, para a discussão de sustentabilidade das atividades de turismo e lazer em áreas naturais e os conceitos de capacidade de carga, de fato, o que se pergunta é qual o sistema ou subsistemas envolvidos e que tipo de equilíbrio se procura estabelecer ou atingir. Conforme visto anteriormente, o conceito de equilíbrio varia de acordo com as referências e escalas consideradas, que é à base do conceito moderno de capacidade de carga, cujo foco é os sistemas de monitoramento, baseados na idéia de mudanças aceitáveis ou desejáveis, isto é, na busca de faixas de equilíbrio entre o uso e conservação.

2.2.2 Planejamento da atividade turística e das práticas de lazer na natureza

Conforme referido anteriormente, mesmo com motivações diferentes, o Ecoturismo e as práticas de lazer em ambientes naturais muitas vezes compartilham o mesmo espaço físico e apresentam intensa similaridade nas dinâmicas de impacto sobre o patrimônio construído e natural das unidades de conservação. Divididas entre preservar e consumir, o desenvolvimento e gestão destas atividades pressionam as áreas naturais com uma multidão de consumidores cada vez mais aparelhados e numerosos. Destas atividades, aquelas que utilizam as trilhas para promoção, venda de serviços e acesso aos atrativos, são as mais sensíveis às variações de eficiência desta infra-estrutura. Sendo a trilha a infra-estrutura mais próxima do usuário, seu estado e qualificação refletem variáveis que interferem diretamente na oferta de serviços e qualidade dos produtos atuais e futuros.

Assim, com o crescimento das ofertas de produtos ecoturísticos e a popularização desta atividade, o grau de exigência e a percepção ambiental para o grau de deterioração e manutenção das trilhas e seus atrativos são percebidos cada vez mais intensamente; mesmo para visitantes menos atentos e para as administrações de unidades de conservação deficitárias em recursos humanos e financeiros. Desta forma, para o lazer na natureza tão dependente da riqueza de experiências que paisagens, lugares e biodiversidade podem proporcionar; o crescimento da demanda e da oferta de serviços, representam um sério risco para sua própria integridade e sobrevivência, principalmente quando não é desenvolvido sobre um planejamento consistente e acompanhado por atento monitoramento.

79

O planejamento e o manejo das trilhas são essenciais para a manutenção das funções das unidades de conservação tanto públicas quanto privadas. Assim a compreensão geográfica do que significa a malha de trilhas para a apropriação de espaços e as interações sociais e ainda o impacto de sua implantação e manutenção junto ao somatório natural, resgata a devida importância da questão do manejo de trilhas e conseqüentemente da gestão dos lugares turísticos e conservação de áreas naturais.

Na prática, considerando o conceito de ciclo de vida de destinações turísticas referido por Butler (apud Ruschmann 1997), de modo geral não se aplica diretamente à dinâmica de uso das potencialidades turísticas das unidades de conservação, sobretudo por conta da falta de diagnósticos e planejamentos consistentes; pois as considerações de interdependência de paisagens, lugares e biodiversidade e a qualidade das experiências e produtos que podem ser proporcionados, devem ser considerados diretamente com os parâmetros de sustentabilidade. Este enfoque foi amplamente destacado na Declaração de Quebec em 2002, elaborada na Conferência Mundial do Ecoturismo, onde se relaciona quatro aspectos indicadores de sustentabilidade para a atividade ecoturística: · Contribui ativamente para a conservação do patrimônio natural e cultural; · Inclui as comunidades locais e indígenas em seu planejamento, desenvolvimento e exploração e contribui para seu bem-estar; · Interpreta o patrimônio natural e cultural do destino para os visitantes; · Serve melhor aos viajantes independentes, bem como aos circuitos organizados para grupos de tamanho reduzido.

Deste modo, por definição, o Ecoturismo deve se caracterizar como uma modalidade de turismo das mais sustentáveis e responsáveis. Apesar de que tanto o turismo em geral quanto o ecoturismo em particular, assim como muitas atividades na natureza, tenham sido caracterizados como uma indústria limpa, sem geração de degradação ambiental; na prática, da mesma forma que as atividades industriais e de mineração, os impactos dessa atividade podem ser tão ou mais nocivos como

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qualquer outra; principalmente em função da preferência por lugares diferenciados para seu exercício onde, mormente, os ecossistemas são frágeis e suscetíveis de alterações negativas a qualquer contato humano menos cuidadoso. Assim, o turismo sustentável (decorrente do princípio do desenvolvimento sustentável) deve ser buscado em todas as modalidades, inclusive no de massa, conforme salienta Dias (2003, p. 69): “Importante assinalar que a concepção de desenvolvimento turístico sustentável não considera o turismo de massas como uma realidade irreconciliável com o turismo sustentável. Os princípios de sustentabilidade devem constituir o objetivo principal de qualquer espaço ou produto turístico, em qualquer de seus estágios evolutivos, e não circunscrever-se exclusivamente às manifestações supostamente alternativas, como o ecoturismo e o turismo rural. Na realidade, eles são mais necessários exatamente em espaços turísticos consolidados, com maiores níveis de pressão ambiental, onde a estabilidade socioeconômica em grande medida dependerá da evolução positiva e equilibrada (sustentável, portanto) da atividade turística”.

Entretanto, o turismo massificado é o mais impactante das modalidades de turismo, gerando inúmeros problemas, conforme muito bem salientado por Dias (op. cit.): “O excesso de turistas conduz ao super-dimensionamento dos equipamentos destinados ao alojamento, alimentação, transporte e entretenimento, que impreterivelmente ocupam grandes espaços – agredindo paisagens e destruindo ecossistemas. Além disso, a falta de cultura turística dos visitantes faz com que se comportem de forma alienada em relação ao meio que visitam – acreditam que não têm nenhuma responsabilidade na preservação da natureza e na originalidade das destinações. Entendem que seu tempo livre é sagrado, que têm direito ao uso daquilo pelo qual pagaram e que, além disso, permanecem pouco tempo – tempo insuficiente, no seu entender, para agredir o meio natural”. (p. 15).

Para Villaverde (2001:110) quando o contato com o meio natural é mediado por vivências de lazer e esportes na natureza: “está em jogo muito mais uma relação de contrato, de negociação com os elementos da natureza, do que uma relação de domínio e controle”.

É a necessidade de relação dialógica, de sintonia com os

elementos naturais, imposta pela prática de esportes na natureza que potencializa a difusão de um sistema de valores necessários à mudança de postura e consciência ambiental, pois a imprevisibilidade característica desses esportes induz seus praticantes a sincronizar suas ações a diversos outros elementos, tendo como conseqüência, o redimensionamento do paradigma moderno que concebe homem e natureza como pólos distintos. Para que as ações dos esportes na natureza sejam bem sucedidas é preciso que homem e natureza sejam encarados em conjunto.

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Contudo, esta realidade, na prática quando diz respeito aos impactos causados ou construídos para amparar estas atividades e o sobreuso dos recursos, descaracterizam a paisagem e comprometem a qualidade dos serviços oferecidos, assim como ocorre no ecoturismo. Cumpre ressaltar que uma das principais características do visitante adepto do ecoturismo e dos esportes de na natureza é a sua constante movimentação sempre atrás de novas paisagens e experiências, razão esta claramente percebida nesta territorialização fugaz e meio sem controle, conforme destacado por Fratucci (2007) referindo o geógrafo francês Remy Knafou.

Para Costa et al (2008) o turismo e suas vertentes, compreendem uma gama de escolhas ou estilos de recreação, expressa por viagens ou por uma mudança temporária, de seu local de residência. É uma modalidade de lazer e/ou recreação. O mercado e as mudanças rápidas de tecnologias e nos sistemas social, político e econômico, permitiram às pessoas, procurarem novas e diferentes formas de recreação, aumentando a importância do turismo, concordando com Mathleson e Wall (1982), onde o turismo possui um desenvolvimento evolutivo ao fazer uso do lazer e, portanto, representa a ampliação da oportunidade para o exercício da escolha dos tipos de atividades recreativas.

Por conseguinte, a leitura dos

parâmetros de uso do espaço natural, podem ser interpretados também para as atividades de lazer em áreas naturais que não o turismo, tendendo para a mesma dinâmica de ocupação dos lugares e territórios.

2.2.2.1 O espaço turístico e das práticas de lazer na natureza

Para Garcia (2007:125), o uso do espaço para o lazer e turismo estabelece uma lógica na configuração territorial e alia-se ao homem que desempenhará novas relações naquele ambiente específico, vinculado ao seu objetivo de deleite e prazer. Desta forma, continua a autora, há cada vez há mais a especialização de lugares onde o lazer se identifica com esta tendência ao configurar e dar funcionalidade ao território para atender à população local e ao turista. Assim lugares são criados com esta única finalidade ou são transformados para atender esse mercado em expansão; concordando com SANTOS (1999: 214) onde:

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Numa situação em que às virtualidades de cada localização estão sempre mudando, instala-se o que bem se pode denominar de guerra dos lugares. Estes não apenas devem utilizar suas presentes vantagens comparativas, como criar novas, para atrair atividades promissoras de emprego e de riqueza. Na batalha para permanecer atrativos, os lugares se utilizam de recursos materiais (como as estruturas e equipamentos), imateriais (como os serviços). E cada lugar busca realçar suas virtudes por meio dos seus símbolos herdados ou recentemente elaborados, de modo a utilizar a imagem do lugar como imã.

Garcia (op. cit. 2007:123) reforça ainda que a especialização de lugares para experienciar atividades distintas, tais como: se desligar e perder os vínculos com a rotina através do deslocamento, adquirir novo ânimo para atividades cotidianas, desfrutar de ambiente diferenciado em contanto com o meio natural, ou mesmo divertir-se junto a familiares e amigos; enfim, são motivações que irão reivindicar áreas e equipamentos específicos atrelados aos hábitos cotidianos incorporados pela sociedade. Portanto o planejamento do espaço turístico19 é condição para a territorialização das atividades previstas.

Para Boullón (2002: 79) o espaço turístico é conseqüência da presença e distribuição territorial dos atrativos turísticos que por sua vez são a matéria-prima do turismo. Os atrativos turísticos em conjunto com o empreendimento e a infraestrutura turística, definem o espaço turístico de qualquer país. Contudo o espaço turístico é entrecortado, isto é, se distribui em função das configurações particulares que o identificam como tal, quer de forma paisagística, cultural ou histórica. Assim não se pode recorrer a técnicas de regionalização sem critérios específicos para proceder à delimitação, dada à possibilidade de se abranger toda a superfície do país ou da região em estudo ao se utilizar parâmetros muito genéricos. Desta forma grandes superfícies que não são turísticas poderiam ser entendidas como turísticas, apenas existentes, talvez por serem contíguas umas das outras.

Ruschmann (1997) avalia que planejar e desenvolver os espaços e as atividades que tenham anseios das populações locais e dos turistas constitui a meta dos poderes públicos que, para implantá-los, vêem-se diante de dois objetivos conflitantes: o primeiro destaca como primordial prover oportunidades e acesso às experiências recreacionais ao maior número de pessoas possível. O segundo afirma, no entanto, que o desenvolvimento ecoturístico deve ser proteger e evitar a 19

Podemos ampliar como espaço de lazer, visto que o turismo e suas vertentes podem ser interpretadas como uma manifestação de lazer. Nota do autor

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descaracterização dos locais privilegiados pela natureza e do patrimônio cultural das comunidades. Para o ecoturismo e demais atividades de lazer que utilizam o meio natural, a proteção ao Meio Ambiente necessita de cuidados especiais, visto que sua manutenção significa preservação das características locais, base para toda a cadeia produtiva turística relacionada, afinal as imagens naturais de fundo, as paisagens são agregadas aos produtos e bens de consumo oferecidos aos visitantes.

Conti e Cruz (apud Costa 2006 p. 19) concordam que o turismo participa em suas múltiplas manifestações da produção do espaço geográfico introduzindo objetos definidos e/ou aproveitando os recursos pré-existentes, viabilizando práticas e implicando na reorganização espacial em função de uma nova demanda. Destacam ainda que a diferenciação das condições geográficas de um determinado local pode se constituir em um forte atrativo, tendo a geomorfologia um papel importante na geração de fluxos ecoturísticos.

Lembram ainda que a apropriação de espaços naturais pelo turismo implica em transformações espaciais relacionadas aos fatores de acessibilidade e hospedagem e que “em se tratando de unidades de conservação algumas das transformações espaciais decorrentes do uso turístico de seus territórios diz respeito à abertura de trilhas ou a utilização de trilhas pré-existentes, ao longo das quais podem ser instalados instrumentos de educação ambiental”.

Costa (op. cit: 35) complementa que no ecoturismo, os atrativos que oferecem ao visitante maior experiência e vivência da natureza são as trilhas, mas que exigem uma infra-estrutura de manejo apropriada à demanda de seus usuários, principalmente quando em áreas de elevado potencial. Guardando as devidas proporções, no ecoturismo as atividades e espaços configuram a imagem como um valor fundamental, seja através da vivência da paisagem que transporta satisfações e sentimentos, seja através da documentação fotográfica.

Neste aspecto, cabe referir que a fotografia, por exemplo, cria referências e significados nem sempre condizentes com a realidade que de fato existe e sob a qual a vida se manifesta muito além da percepção do turista e de seu operador.

84

Idelber Avelar em artigo sobre Baudrillard refere à obra Simulacro e Simulação

escrita em 1981, onde o autor ressalta que a imagem passa por quatro fases, nas quais ela sucessivamente: Reflete uma realidade básica. mascara e perverte uma realidade básica; mascara a ausência de uma realidade básica e não mantém qualquer relação com qualquer realidade: sendo o seu próprio simulacro. Sem nos aprofundarmos nesta temática, mas considerando que o real é substituído por imagens e que o momento vivido desaparece; percebe-se que na atividade turística e de lazer na natureza, pode-se se criar espaços e significados mascarados por um suposto compromisso com preservação e conservação, sem considerar os impactos e alterações ambientais sob a alegação de prover aos turistas e visitantes infra-estruturas e facilidades que propiciem um maior contato com a natureza.

Assim, o planejamento necessariamente deve refletir a idéia de que não apenas otimiza roteiros, mas contribui ativamente para a conservação e preservação das paisagens e biodiversidade; possibilitando assim oportunidades de acesso à realidade, além das simulações e simulacros de interação com o meio natural tão ao gosto dos fabricantes de paisagens e de usuários incapazes de perceber a vida que se ausenta com os excessos das práticas turísticas e de lazer nos ambientes naturais.

2.2.2.2 Planejamento do Espaço Turístico

No planejamento do espaço turístico, Laube (2006) destaca que o mesmo se apóia na teoria geral de sistemas, englobando processo, eficiência, prazos e metas, prevendo de forma integrada o comportamento de todas as unidades independentes implicadas no processo, daí a necessidade de uma abordagem coordenada e sistêmica, considerando ainda que revisões contínuas façam parte do processo, visto que a realidade (o ambiente) encontra-se em permanente mutação. Sendo da mesma opinião que Boiteux & Werner (2003): “Planejar um destino turístico significa estruturá-lo para que a atividade possa gerar empregos, renda, consumo e, conseqüentemente, aumentar a qualidade de vida do

85

município. A cidade é boa para o turismo quando é boa para quem nela vive. O planejamento turístico prevê o controle e organização dos impactos positivos gerados pela indústria turística. O conceito de sustentabilidade deverá nortear o planejamento de um núcleo receptor, pois integra e valoriza e preserva seu patrimônio histórico, natural, cultural e social. Dividindo-se em oito etapas: Inventário; Análises tendenciais; Definição de objetivos; Criação de estratégias; Seleção de vocação; Estratégias para atingir os objetivos vocacionais; Implementação do plano estratégico e Avaliação” (BOITEUX; WERNER, 2003:20)

Ruschmann (1997:9-10) acredita que o planejamento turístico tem como importância: “a ordenação das ações do homem sobre o território e ocupar-se em direcionar a construção de equipamentos e facilidades de forma adequada, evitando dessa forma, os efeitos negativos nos recursos, que os destroem ou reduzem sua atratividade”. Entretanto, todos os espaços com beleza considerável vêm sendo literalmente “invadidos” nas temporadas de férias por turistas ávidos para usufruir o seu tempo livre da forma mais gratificante possível, sem considerar os riscos que sua presença (em massa) e seu comportamento individualista trazem não só aos recursos naturais, mas também para as populações autóctones e para o patrimônio histórico-cultural, prejuízos irreparáveis. Por isso, a autora acredita que: “o planejamento é fundamental e indispensável para o desenvolvimento turístico equilibrado e em harmonia com os recursos físicos, culturais e sociais das regiões receptoras, evitando assim, que o turismo destrua as bases que o fazem existir”.

Guimarães (2007) considera que no planejamento e gestão do espaço turístico e de lazer, a paisagem como objeto de identificação e territorialização, deve propiciar a utilização do patrimônio natural e cultural, conforme suas funções de uso, proteção, recreação, de modo a conseguir um equilíbrio entre o potencial da paisagem como um recurso ambiental, levando-se em conta suas efetivas restrições e limitações de natureza quanti-qualitativa, as diferenças locais e regionais das unidades paisagísticas e as necessidades e demandas da sociedade. Para tanto refere Seibert (1978), para o qual os aspectos relativos ao planejamento paisagístico têm como finalidade encontrar um equilíbrio entre o potencial natural da paisagem, limitado quantitativa e qualitativamente, e a sociedade: O planejamento paisagístico, atrelado ou não a programas e projetos de maiores dimensões (regionais, por exemplo), deve considerar os inventários e os diagnósticos da paisagem a partir de sua valoração como recurso paisagístico natural ou construído, em função de suas estruturas físicas, ecológicas, sócio-econômicas, culturais, diagnosticando o plano-base, sob a visão da conservação necessária para a avaliação das possibilidades de seus usos futuros como um bem, um recurso ambiental. (SEIBERT, 1978:125).

86

Neste

sentido,

Boullón

(2002:225)

alerta

que

“a

preservação

das

características do ambiente natural que lhe servem de base é o fator a que deveria estar subordinado qualquer plano de exploração de suas possibilidades turísticas”. Resguardando as devidas limitações da aplicação estrita do conceito e do contrasenso que seria a missão de planejadores e paisagistas de intervir na natureza e criar paisagens. Neste sentido, no turismo as metas paisagísticas são muito simples: “conservar o meio natural de tal modo que as obras turísticas o afetem o mínimo possível”; por conseguinte, a paisagem pode ser aproveitada em sua totalidade devido a condição de que o planejamento turístico do espaço natural é uma decisão anterior à definição dos usos e atividades, pois: onde o procedimento correto não é impor a cada atrativo natural o uso que se considera mais conveniente de acordo com critérios desenvolvimentistas; deve-se antes (uma vez estabelecidas as necessidades de crescimento do setor em relação à incorporação de novos atrativos naturais ou à expansão do empreendimento turístico dos que estão sendo explorados) identificar quais se prestam melhor a cada tipo de uso. Outra possibilidade é partir de cada atrativo e determinar o tipo de desenvolvimento que admite. Boullón (2002:226)

Entretanto, Lobo & Moretti (2008) salientam que as diversas territorialidades do turismo na natureza se asseguram em função da riqueza do conjunto de paisagens que simbolizam uma forma de retorno à vida primitiva do ser humano de modo que a atividade se torna melhor à medida que aumenta a noção de wilderness. Neste sentido, a natureza intocada, ao mesmo tempo em que é almejada pelos turistas, precisa ser transformada para se tornar acessível às suas necessidades de consumo e segurança. Moretti (2001) lembra que isto elimina a “aventura”, uma característica intrínseca ao ideário de wilderness20 e que consiste em uma territorialidade turística à parte, face à artificialização e ao domínio da técnica.

Salienta-se que duas concepções se apresentam: a Conservação dos Recursos Naturais e o Preservacionismo. Gifford Pinchot (apud Diegues,1998), propõe seu uso racional pela geração presente, prevenindo desperdícios e beneficiando a maioria dos cidadãos. Esses princípios foram precursores do conceito de Desenvolvimento Sustentável. Em contrapartida ao Preservacionismo21, 20

Wilderness: natureza selvagem Segundo Diegues (1988), a preservação é o ato de preservar a natureza, sem a presença do homem, de forma a manter um espaço natural, separado do espaço ocupado pelo homem. 21

87

o conceito de conservação se manifesta em se preservar o ambiente da maneira mais sustentável possível, permitindo uma troca entre homem e natureza, considerando que o primeiro faça parte do segundo. Desta forma, se a essência da ‘conservação de recursos’ é o uso adequado e criterioso dos recursos naturais, a essência da corrente oposta, a preservacionista, é mais restritiva e pode ser descrita como a reverência à natureza no sentido da apreciação estética e espiritual da vida selvagem (wilderness), mantendo suas características, protegendo a natureza contra o desenvolvimento moderno, industrial e urbano.

Lobo & Moretti (op.cit) destacam que para o ecoturista habitual – aquele que viaja para as mais diferentes áreas naturais buscando uma experiência mais direta no contato com a natureza – a artificialização pode ser um problema, dado que as facilidades desestimulam este tipo de turista a fazer suas viagens, mas para os ecoturistas eventuais, facilidades são necessárias como suporte à vivência de experiências, mesmo tênues junto à natureza, onde a sensação plena de segurança e o conforto estão em primeiro plano.

De fato, citando (Spink et al., 2005), estes “ecoturistas” buscam o simulacro de se parecer com verdadeiros aventureiros mas sem se sujeitar às mesmas condições que estes vivenciam em suas aventuras. Desta forma, dentro do planejamento do espaço turístico, a intervenção na paisagem pode ser considerada, a princípio, entre o viés conservacionista ou preservacionista, mas, sua intensidade deve prever múltiplos aspectos, tanto ambientais quanto sociais e culturais.

2.2.2.3 Conceito de Paisagem no contexto do Ecoturismo

Embora o aprofundamento na conceituação de Paisagem não seja objeto central desta dissertação, algumas considerações se fazem necessárias para o entendimento da relação espaço – lugar – paisagem no contexto do Ecoturismo. Para TUAN (1983, p.151), “o espaço transforma-se em lugar à medida que adquire definição e significado”.

88

Pinheiro (2004) entende “lugar” como local ocupado, pontual e parte de um todo de maior amplitude chamado "espaço", algo aberto, geral, indefinido; em que para se entender como um espaço pode se tornar lugar deve-se considerar aspectos das relações homem-ambiente, conforme definição que propõe onde “Paisagem é o conjunto de elementos geográficos (habitat, culturais e naturais), num espaço perceptível, que inter-relacionados e sob influências

recíprocas

(relações

de

interdependência), resultam numa imagem limitada aos sentidos do observador.” Para tanto cita Rodrigues (2001, p.32): “O lugar, como categoria filosófica, não trata de uma construção objetiva, mas algo que só existe do ponto de vista do sujeito que o experiencia”...... “Assim, o lugar é o referencial da experiência vivida, pleno de significado; enquanto o espaço global é algo distante, de que se tem notícia, correspondendo a uma abstração”.

Boullon (2002:156) considera que o conhecimento da paisagem fica empobrecido se é limitado à unidade visual que se pode perceber de um determinado ponto. Constata que a paisagem é enriquecida quando sujeita a tempos de observação sucessivos e expectativas, pois os diferentes fragmentos da realidade compõem um quadro mais complexo, referido pelo autor como “visão em série”; muito mais eficiente em se fixar na memória como experiência com sentimentos e significados (figura 06).

Deste modo, paisagens não são sinônimos de meio ambiente, conforme destaca Guimarães (2007:22), pois menos inclusivas, é mais percebida em particularidades principalmente como espaço vivido, identificadas como lugares, definidas através do campo visual e interpretadas subjetivamente.

Nesta

perspectiva, as paisagens são envolvidas pelo meio-ambiente e são parte da dimensão ambiental, devendo ser analisadas segundo as condições atuais e futuras dos recursos ambientais existentes nas unidades paisagísticas. Devem, portanto, ser considerados os diagnósticos referentes ao estado dos patrimônios paisagísticos, assim como suas projeções de riscos e impactos ambientais adversos, incluindo seus efeitos sinérgicos.

De fato, o recurso paisagístico é único em sua história evolutiva, mesmo quando são resguardadas as semelhanças aparentes; distinguindo-se das outras

89

unidades e matrizes de paisagem natural em função de suas complexidades e peculiaridades visíveis e não-visíveis.

Figura 06: Formação de imagens da Paisagem Fonte: Boullon (2002:156) Adaptação de Flávio A. P. Mello, 2008.

Assim, a vocação da área que comporta um ou mais recursos paisagísticos deve ser cuidadosamente avaliada e valorada em razão dos critérios utilizados para zoneamentos de recursos paisagísticos locais e regionais. Em Rodrigues (Op. cit. 2001:48) observa-se a estreita relação entre a paisagem e o turismo: “A observação da paisagem assim considerada é de grande importância nos estudos de Geografia do Turismo, uma vez que a paisagem em si é um notável recurso turístico. Tendo em vista que o turista busca na viagem a mudança de ambiente, o rompimento com o cotidiano, a realização pessoal, a concretização de fantasias, a aventura e o inusitado, quanto mais exótica for a paisagem mais atrativa será para o turista. É baseado nesse princípio que se desenvolvem os estudos sobre imagem turística, em que os folhetos publicitários oferecem um rico e interessante material de pesquisa”.

Opinião compartilhada por Pinheiro (op. cit. 2004) que refere o Turismo como uma das atividades a se beneficiar de paisagens (seu maior produto) que são percebidas e os sonhos construídos antes mesmo da viagem. Assim sendo, quando a oferta turística como conjunto de atrativos, bens e serviços disponibilizados ao visitante existe para atender necessidades em suas viagens, torna-se clara então a importância na compreensão sobre as imagens do que se estará ofertando. Nogué

90

(apud Pinheiro, 2004) ao se referir à paisagem como um componente da oferta turística destaca: “Conservar a autenticidade de uma paisagem regional, não significa mantê-la intacta, fossilizada. A paisagem é algo dinâmico, o resultado de uma tensão entre elementos abióticos, bióticos e antrópicos. Trata-se de tentar conservar a especificidade e originalidade dos elementos que a constituem (...). Somente assim poderá ser preservado o caráter do lugar, sem convertê-lo em um museu sem vida. Somente assim pode-se falar da paisagem como um verdadeiro recurso turístico. Somente assim pode-se consolidar para o futuro uma determinada oferta turística”

Deste modo, a atividade turística antes de ser praticada nos ambientes é precedida de um processo virtual na construção de paisagens que ainda serão usufruídas. espaços

Elas têm suas dinâmicas das interações temporais por meio dos

nos

quais o

homem

estará construindo

seu

lugar,

ainda

que

momentaneamente ao se utilizar mecanismos cognitivos e perceptivos.

Concluindo, para Guimarães (2005), o planejamento, a gestão e a proteção dos recursos paisagísticos naturais e construídos envolvem essencialmente a interrelação entre os seres humanos e suas paisagens. Fundamentam-se em aspectos relativos às experiências e vivências ambientais, às atitudes, condutas e valorações objetivas e subjetivas, tangíveis ou não, porém, intrínsecas à dinâmica de vida das diferentes populações e de suas respectivas culturas. Soma-se ainda às formas de cognição, percepção, interpretação e representação do meio ambiente, de construção do sentido de lugar, do sentimento de enraizar-se, bem como ao do significado de pertinência em relação a uma paisagem e suas relações identitárias.

2.2.2.4 Fluxo e dispersão dos visitantes

Um dos aspectos cruciais da visitação em unidades de conservação é o fluxo e seu padrão de dispersão dos visitantes em relação aos atrativos, equipamentos e instalações turísticas. Não basta saber quantos entram na unidade e qual o seu perfil. Estas informações somente terão relevância estratégica se conjugadas com a determinação do padrão de dispersão, que pode abordar questões como:

91

· Para onde vão os visitantes quando entram em uma unidade de conservação? · Quais os pontos de concentração? · Que vias utilizam para chegar a estes pontos? · Que atividades desenvolvem dentro dessas áreas e os prováveis impactos que ocorrem em decorrência da visitação.

Nos planos de manejo, usualmente ao se definir o zoneamento ambiental e as vias de acesso, o fluxo e a dispersão dos visitantes são previstos, planejados e condicionados dentro de padrões de qualidade e de acordo com os interesses maiores da unidade de conservação. Entretanto, é comum se perceber impactos ambientais nos atrativos e perda da qualidade da visitação nos zoneamentos estabelecidos. Isto se deve basicamente por que a visitação é um fenômeno dinâmico, fracionado de acordo com os diferentes perfis de usuários e ainda sujeito a oscilações de fluxo de visitação conforme os padrões de sazonalidade, apelos da mídia e desenvolvimento de atividades afins. Assim sendo não é possível se prever com exatidão o comportamento e nem a dispersão dos visitantes. Para tanto devem necessariamente ser modulados e monitorados por diferentes estratégias de gestão.

Desta forma, a real percepção destes fenômenos é uma condição para o estabelecimento de estratégias adequadas de gestão, que incluem a normatização das orientações de visitação; diferentes formas de sinalização para orientação, localização e diretrizes de comportamento; adequação dos equipamentos e instalações através da previsão do fluxo de visitação e sistematização da capacidade de suporte dos atrativos.

Embora o estabelecimento de parâmetros de capacidade de “carga ou de suporte”22 para zonas e atrativos através do monitoramento dos impactos possam ser eficientes, na medida em que modulam a movimentação dos visitantes, com ferramentas como a Determinação da capacidade de carga turística em áreas protegidas, o LAC – Limites Aceitáveis de Mudança e o VIM – Gerenciamento de

22

Existem várias interpretações de capacidade de carga ou de suporte, mas todos remetem o conceito de referência de limiar para determinado parâmetro onde ultrapassado se pervertem as características originais ou desejáveis.

92

Impactos da Visitação; estas de fato não consideram as dinâmicas e sistemas de motivação e gestão dos visitantes de maneira tão mais eficiente como aquelas focadas primariamente na gestão da visitação, embora as contribuições do monitoramento de impacto sejam complementares e necessárias.

Para

melhor

exposição,

Stigliano

(2005)

detalha

algumas

destas

metodologias como o ROS – Espectro de Oportunidades Recreativas, o VERP – Processo de Gerenciamento da Visitação, o TOMM – Modelo de Otimização do Gerenciamento Turístico e VAMP – Processo de Gerenciamento da Visitação: ·

ROS - Recreation Opportunity Spectrum (Espectro de Oportunidades Recreativas). O método fundamenta-se em práticas de inventariar, planejar e gerenciar a experiência de lazer e o ambiente no qual ela ocorre. O processo estabelece classes de oportunidades as quais subsidiam o entendimento de relações administrativas, físicas, biológicas e sociais, estabelecendo, por conseguinte, parâmetros e diretrizes para a administração de oportunidades de lazer. As classes de oportunidade são ordenadas de acordo com suas características físicas e de uso: primitiva, semi-primitiva não motorizada, semi-primitiva motorizada, natural com vias de transporte, rural e urbana. Uma classe de oportunidade definida através dos tipos de condições sociais e recursos que são aceitáveis para aquela classe e o tipo de ação administrativa apropriada. São descrições hipotéticas das condições que os administradores consideram possíveis de serem mantidas ou restauradas na área. O ROS, metodologia aqui empregada, propõe o estabelecimento de capacidade de uso e para o gerenciamento de impactos da atividade recreativa. É amplamente baseado em julgamentos e valores subjetivos, porém, estabelece padrões explícitos com relação a condições apropriadas para cada categoria de oportunidade. Além disso, oferece uma estrutura sistemática de verificação da distribuição das

oportunidades

e

indicações

de

procedimentos

estabelecimento de possíveis ações gerenciais.

para

o

93

É um processo prático cujos princípios levam os administradores a racionalizar a administração a partir de três perspectivas: 1) proteção do recurso; 2) oportunidades para uso público; 3) habilidade (da organização) em lidar com as condições existentes. Abrangendo demanda e oferta e podendo ser facilmente integrado a outros métodos, assegurando que uma gama de oportunidades de lazer seja oferecida ao público. Salienta-se que o ROS é empregada nesta dissertação para auxiliar o zoneamento ecoturístico e de lazer do PNMNI. · VERP - Visitor Experience and Resource Protection (Proteção à Experiência do Visitante e aos Recursos). Nesta metodologia o objetivo é qualificação dos recursos e da experiência turística, subsidiando a tomada de decisões quanto a capacidade de uso, sendo uma adaptação do LAC, este processo é expandido para abordar uma ampla variedade de ambientes com diferentes tipos de recursos e experiências em áreas mais e menos antropisadas, visto que o número excessivo de visitantes é considerado apenas mais um dos elementos que influi na qualidade da experiência turística. · TOMM - Tourism Optimisation Management Model (Modelo de Otimização do Gerenciamento Turístico). Este método privilegia a abordagem

política, isto é, procurando se ater as redes sociais

estabelecidas (o desempenho de vários fatores – econômicos, ambientais, sócio-culturais e oportunidades de mercado) buscando monitorar e gerenciar o turismo de forma a proporcionar um desempenho otimizado na busca pela sustentabilidade. É considerado um modelo de gestão de médio e longo prazo por ter que estabelecer um sistema de gerenciamento e monitoramento sustentáveis junto à comunidade local. · VAMP - Visitor Activity Management Process (Processo de Gerenciamento da Visitação). O VAMP enfatiza a interpretação e os serviços prestados ao visitante a partir de um modelo hierarquico de tomada de decisões em um programa de gerenciamento. As decisões administrativas referem-se à seleção e à criação de oportunidades para visitantes usufruírem a unidade de conservação através de atividades

94

educativas e recreativas, as quais são apresentadas em um plano de serviços. Seabra (2005) destaca ainda a metodologia MPTD – Monitoramento Participativo do Turismo Desejável, onde : “a metodologia MPTD coloca o foco de suas atenções nas comunidades receptoras e no turismo por elas desejável. Parte do princípio que as comunidades são dirigentes de seu destino, sendo partícipes no planejamento e no monitoramento da atividade. Neste sentido, empondera a comunidade, criando condições materiais para o exercício da gestão sustentável de seu legado cultural. Assim, angariar percepções, desejos e anseios das comunidades, frente ao fato turístico, é etapa importante na metodologia; bem como, criar instrumentos efetivos para o monitoramento das variáveis de interesse.”

Pode-se salientar que o envolvimento dos usuários, comunitários ou não, são essenciais para os diagnósticos e monitoramento das ações de gestão da visitação em unidades de conservação e áreas de lazer e que podem induzir a novos zoneamentos de acordo com as tendências e singularidades diagnosticadas.

2.2.2.5 Zoneamento ambiental e ecoturismo

Segundo Silva & Santos (2004), zonas ou unidades de zoneamento são espaços identificados em um território e determinadas por agrupamentos de componentes, fatores e atributos que apresentam alto grau de associação e significativa diferenciação entre os grupos. Possuem similaridades internas de acordo com variáveis ambientais e podem ser delimitados no eixo horizontal do espaço e em escala definida.

De fato, é necessário reconhecer as similaridades dos componentes de um grupo e, simultaneamente, as diferenças evidentes entre os grupos vizinhos. Os componentes

ambientais

podem

ser

as

temáticas

do

meio

biofísico

e

socioeconômico e os fatores referem-se aos temas utilizados em cada temática; tais como geologia, solo, uso da terra, dentre outros. Já os atributos são dados e informações obtidas de cada fator ambiental. A delimitação dessas zonas leva em consideração o conceito de organização hierárquica da natureza e a inter-relação entre os fatores ambientais.

95

A identificação e a delimitação de zonas podem estar diretamente ligadas às concepções sobre a paisagem ou espaço geográfico, discutidas em disciplinas como a Geografia, a Ecologia e com mais propriedade na Ecologia da Paisagem. Para Metzger (2001), a abordagem geográfica foca o estudo das paisagens modificadas pelo homem e o planejamento da ocupação territorial, em função do conhecimento dos limites (fragilidades) e das potencialidades (vocações) de cada “unidade de paisagem” – um espaço de terreno com características comuns. Para o autor, essa abordagem aplica-se mais a macroescalas.

Com a abordagem ecológica, a aplicação se dá em uma ampla gama de escalas e enfatiza as unidades da paisagem como cada unidade componente da paisagem, como se fossem cada qual um ecossistema.

Em planejamento ambiental, é comum adotar a estratégia de avaliar um território por meio de seu zoneamento – método apontado como integrador de informações ambientais. Para Silva & Santos (op.cit. 2004): “Zoneamento” é a identificação e a delimitação de unidades ambientais em um determinado espaço físico, segundo suas vocações e fragilidades, acertos e conflitos, determinadas a partir dos elementos que compõem o meio planejado. Seu resultado é a apresentação de um conjunto de unidades, cada qual sujeita a normas específicas para o desenvolvimento de atividades e para a conservação do meio.

Na prática, o zoneamento, sendo um trabalho interdisciplinar passível da análise quantitativa e parte do enfoque analítico e sistêmico, visa a orientar a revisão e/ou formulação de políticas de pesquisa e conservação e manejo integrado de recursos naturais. Considera-se que a abordagem analítica relaciona-se com a regionalização, inventários e diagnósticos temáticos dos atributos mais importantes; já a abordagem sistêmica remete à estruturação e integração de

diagnósticos,

prognósticos e síntese para cada conjunto de informações. Portanto, a eficiência do zoneamento ecoturístico e de lazer demanda em se caracterizar a vocação das áreas passíveis de uso público, potencialidades, fragilidades e ainda contextualizálas dentro dos escopos ambientais, sociais e legais.

Contudo, o zoneamento somente é testado quando confrontado com a realidade dinâmica do ciclo de vida das destinações turísticas, conforme

96

representado na Figura 07, onde o ciclo 01 é o previsto e o ciclo 02, o ocorrido. Este, por sua vez, é aquele em que as oportunidades são percebidas com pouco ou nenhum diagnóstico, cuja exploração é iniciada sem os cuidados necessários para a devida consolidação, situação que recorre em muitas unidades de conservação, onde não se percebe o planejamento estratégico da gestão da visitação e recursos paisagísticos.

Figura 07: Bio-ritmo das destinações de lazer e turísticas. Fonte. Butler,1980. Modificado por Mello, Flávio A. P. 2008 inédito

Assim, o estabelecimento do Ciclo 02,“ocorrido”, significa o uso pouco criterioso dos recursos locais, ou não previstos no planejamento; caracterizando-se pelo sub-desenvolvimento das atividades potenciais, mas com impactos já presentes nas áreas de sobre-uso, que podem conduzir a um estado prematuro de estagnação e declínio ou em um nível aquém do nível de consolidação (na figura 07 no chamado de “Ciclo” 01, previsto ou planejado), por conta das alterações e degradações identificadas como parte do ciclo 02. Para melhor entendimento, considera-se: · Fase da exploração, a localidade apresenta algumas facilidades para os primeiros visitantes, que são ampliadas rapidamente pela população local na fase do desenvolvimento, com o objetivo de conseguir lucros na criação de um mercado forte e fiel.

97

· Fase do desenvolvimento, a participação e o controle dos equipamentos pela população local caem rapidamente e dão lugar às facilidades criadas por organizações externas, que estimulam o crescimento do número de visitantes. · Fase da consolidação se caracteriza pelo domínio de empresas e serviços multinacionais, cuja participação ajuda a controlar os custos e a manter a competitividade do local diante de outras destinações. O aumento quantitativo da demanda é alcançado e, a partir daí, a destinação começa a decair na preferência dos turistas. Na luta pela sobrevivência, por meio da quantidade de turistas que precisam lotar os equipamentos para viabilizá-los economicamente, os preços baixam e passam a atrair uma demanda de menor poder aquisitivo. · Fase de declínio ou rejuvenescimento. A localidade passa por um desgaste econômico, social e ambiental. Os equipamentos físicos começam a se degradar e as atrações criadas para o atendimento dos turistas nas fases de desenvolvimento e de consolidação envelhecem, saem de moda e perdem a atratividade. O ambiente natural, que antes era o ponto de maior atração, deteriora-se pelo mau uso da paisagem na construção de hotéis e de outros equipamentos, e o número de visitantes excede os limites da capacidade de carga. O rejuvenescimento por sua vez, caracteriza-se por um retorno aos ciclos anteriores, seja através da exploração de novas potencialidades, ou de requalificações paisagísticas, tanto naturais (como por exemplo, reflorestamento,

recuperação

de

áreas

degradadas...),

quanto

construídas (novos equipamentos e infra-estruturas de apoio)...

2.3 Trilhas em Unidades de Conservação

A adequada gestão da visitação é fundamental para que as unidades de conservação cumpram o seu papel de conservação e preservação do patrimônio natural, dentro dos padrões de sustentabilidade, assim como propiciar a adequada

98

apreciação e qualidade da visitação por seus diferentes tipos de usuários.

O

monitoramento regular da dispersão de visitantes se converte, então, em uma ferramenta de gestão, visto que o deslocamento dos visitantes em áreas naturais normalmente ocorre através do uso das trilhas.

Cruz (2003) lembra que a apropriação de espaços naturais pelo turismo implica em transformações espaciais relacionadas aos fatores de acessibilidade e hospedagem; e que: “... em se tratando de unidades de conservação, algumas das transformações espaciais decorrentes do uso turístico de seus territórios diz respeito à abertura de trilhas ou a utilização de trilhas pré-existentes, ao longo das quais podem ser instalados instrumentos de educação ambiental” (p. 19).

2.3.1 Importância das trilhas em Unidades de Conservação

Costa (2006:4) refere que “as trilhas são os únicos meios de acesso às Unidades de Conservação e que elas oferecem oportunidade do contato efetivo com a natureza ...” Cole, et al. (apud Passold, 2002) refere que em áreas naturais protegidas, as trilhas promovem o acesso e oportunidades recreacionistas e ainda protegem os recursos e atrativos ao definir as áreas de acesso e uso. Contudo, em todas estas atividades a ação antrópica altera o espaço natural modificando. Sendo a atividade turística valorizada como consumidora de espaços, a lógica de produzir e consumir representa um problema a ser administrado, principalmente quando se trata de atividades ecoturísticas que por definição, pretendem a sustentabilidade para a manutenção dos lugares como fonte de trabalho e recursos.

Costa (op. cit., p. 46), indica que uma trilha pode ter várias funções sendo principal a de deslocamento. Coloca ainda que bem planejadas, possibilitam mudanças de valores, principal alicerce da educação ambiental. Destaca também que as trilhas podem ser de diferentes tipos, podendo ser classificadas quanto à função, forma, grau de dificuldade e declividade do terreno. Ressalta também que muitas trilhas e caminhos hoje utilizados para o ecoturismo; foram tradicionalmente utilizadas por determinadas comunidades, para se locomoverem. Atualmente as

99

trilhas são o veículo para estabelecimento e operação de várias atividades em ambientes naturais, tanto o ecoturismo quanto turismo na natureza, turismo rural e ainda atividades esportivas e de lazer.

Contudo, como em toda infra-estrutura, os impactos decorrentes de seu uso são rapidamente percebidos ao longo do tempo e um dos aspectos mais relevantes é a descaracterização de sua paisagem ou até perda dos atrativos para onde conduzem (Costa & Mello, 2005). Podemos destacar ainda impactos na flora e fauna induzidas pela fragmentação das massas florestais assim como os causados pelo acesso de visitantes em áreas cuja biodiversidade possui baixa resiliência às modificações introduzidas com a territorialização turística.

Nestes aspectos, as trilhas são, portanto, indicadores das condições de uso, intensidade da visitação, qualidade e segurança de serviços oferecidos e alterações no patrimônio natural (biodiversidade e paisagens). Com a percepção destas alterações

foram

desenvolvidas

várias

ferramentas

metodológicas

para

o

gerenciamento da visitação e controle dos impactos em áreas naturais, conforme destacado no item 2.2.2.4 Fluxo e dispersão dos visitantes (pag. 70).

2.3.2 Impactos Ambientais relacionados a trilhas

Para Guerra & Guerra (1997:350) impacto ambiental é: “a expressão utilizada para caracterizar uma série de modificações causadas ao meio ambiente, influenciando na estabilidade dos ecossistemas. Os impactos ambientais podem ser negativos ou positivos, mas, nos dias de hoje, quando a expressão é empregada, já está mais ou menos implícito que os impactos são negativos. Os impactos podem comprometer a flora, fauna, rios, lagos, solos e a qualidade de vida do ser humano”.

No caso das trilhas, Lechner (2004) ressalta que muitos impactos podem ser reduzidos e alguns eliminados com o conhecimento dos processos que atuam na área de implantação e manejo. De fato, alguns impactos sempre vão existir, desde a implantação que se caracteriza como tal, até as alterações mais sutis, decorrentes do uso das trilhas e da reacomodação da biota e do solo como resposta à alteração introduzida. Embora não seja objeto deste trabalho o aprofundamento nas múltiplas

100

categorias de impactos ambientais causados implantação e manutenção de trilhas em áreas naturais, podemos qualificar zonas de influência e espacializar as ocorrências através dos seguintes parâmetros de causalidade: Fragmentação florestal, efeito de borda, impactos no leito e efeitos na paisagem, conforme descrito a seguir:

2.3.2.1

A fragmentação florestal induzida por trilhas.

Com foco na utilização turística, para melhor compreensão da dinâmica das trilhas, é possível definir para fins de análise, uma unidade de conservação ou área natural privada, a ser reconhecida como uma dada região (o espaço que possui propriedades e escalas conhecidas que lhe confiram uma determinada identidade). Nesta região, através de diagnósticos orientados ou resgate de informações locais, é identificado o patrimônio turístico, determinado, segundo Boullon (2002:66) como a integração de quatro componentes: · Atrativos Turísticos (a matéria prima) · Empreendimento turístico (aparato produtivo) · Infra-estrutura (recursos de apoio ao aparato produtivo) · Superestrutura

turística

(subsistema

organizacional

e

recursos

humanos disponíveis para operar o sistema).

Destes componentes destaca-se o primeiro, pressupondo um espaço natural virgem, isto é, sem intervenções humanas. A identificação da distribuição e qualidade dos atrativos turísticos serve de base e justificativa para o estabelecimento dos empreendimentos em um processo semelhante à criação de corredores turísticos de translado e de estada, previsto por Boullon (Op. cit., p. 97) como vias de conexão entre zonas, complexos, centros, conjuntos e atrativos turísticos.

Guardando as devidas proporções, é possível fazer um paralelo destes corredores com as trilhas, categorizando-as também em dois grupos, onde o “corredor turístico de translado” serve de parâmetro para a trilha cujo potencial é subutilizado, sendo operada basicamente para acessar o atrativo, e o conceito de

101

“corredor turístico de estada” pode ser adaptado para a trilha que se constitui de um atrativo em si, proporcionando a oferta de diferentes serviços e produtos em sua extensão.

Assim ao identificarmos os atrativos como pontos em uma área determinada, podemos visualizar que o estabelecimento de circuitos de trilhas para acessar e interligar os atrativos tem como conseqüência a divisão de áreas contínuas em unidades menores, individualizadas pela interrupção física no tecido florestal pelo corredor da trilha; embora ainda estejam identificadas como uma mesma região. Este processo é conhecido como fragmentação florestal que constitui “ilhas” do ecossistema original, inseridas em uma matriz com diferentes ecossistemas, segundo Saunders et al (1991, in Fleury, 2003).

Pode-se inferir. portanto, que a fragmentação pode ser evidente e prejudicial conforme o ecossistema onde se encontra, de acordo com suas dimensões, pois as conseqüências da formação destas “ilhas” ou da descontinuidade dos ambientes podem interferir significativamente na flora e na fauna, alterando assim a paisagem original e as oportunidades potenciais da região. Deste modo as dimensões das trilhas podem agravar o fenômeno da fragmentação.

Cabe destacar que o dimensionamento destas medidas deve ser adequado à localização dentro do zoneamento da unidade, do perfil do visitante e das atividades a que servem; visto que variam de acordo com a utilização conforme diretrizes gerais referidas por Costa (2006, apud USDA, 2002 e Lechner, 2003). Outro aspecto a se considerar é que a apropriação destes espaços por parte dos visitantes, assim como as alterações promovidas para o estabelecimento de equipamentos e instalações de apoio, acaba por afastar a biota mais refratária a esta nova convivência.

No quadro 04, relacionam-se dimensões genéricas de acordo com o perfil do usuário de trilhas:

102

Quadro 04: Tipos de trilhas e Graus de dificuldade Fonte: Willamette National Forest Hiking Trail, Oregon. U.S. Department of Agriculture Forest Service (USDA), 2002 (http://www.fs.fed.us/r6/willamette/recreation/trails/) e LECHNER, 2003. Traduzido e adaptado por Costa, V. C. da (2006, in: anotações de apresentação de palestra). Modificado por Flávio A. P. Mello, 2008.

2.3.2.2

O efeito de borda como impacto das trilhas

Grande parte dos sistemas fragmentados não sustenta a mesma diversidade de espécies encontradas em ecossistemas originais por influência do “efeito de borda” (Fleury, 2003). De acordo com Paciência & Prado (2004), as bordas podem ser entendidas como áreas de transição entre unidades da paisagem de hábitat e não-hábitat, regidas pelas “forças de interação” entre as mesmas. Alguns estudos apontam que as bordas por serem mais expostas às perturbações externas, possuem maior diversidade de espécies vegetais decorrente da sobreposição de espécies do interior e da matriz e maior cobertura, densidade de indivíduos e produtividade primária proporcionado pelo aumento da taxa fotossintética total nestes ambientes.

Funcionalmente as bordas são áreas onde a intensidade dos fluxos biológicos entre as unidades de paisagem se modifica de forma abrupta, devido à mudança abiótica repentina das matrizes para os fragmentos e vice-versa. Vista do interior da

103

mata, tal mudança pode ser evidenciada por um aumento da penetração da luz solar e maior incidência de ventos.

Paciência & Prado (Op. cit) referem não haver padrões claros quanto à penetração das alterações micro-climáticas das bordas que podem ser percebidas no interior dos fragmentos, citando diversos estudos que demonstram a distância de penetração destas alterações que podem chegar de 10 a 40m. Estes efeitos são percebidos de maneiras diferentes pelos vários extratos, observando-se próximo à borda, um incremento da mortalidade das espécies arbóreas florestais de grande porte, ao mesmo tempo, verifica-se que há um aumento das espécies pioneiras e tolerantes às condições climáticas do ambiente alterado.

Fleury (2003) destaca que estas mudanças microclimáticas (como aumento da temperatura e ressecamento próximo à borda acarretando em alterando a composição de espécies e na estrutura da vegetação) podem afetar drasticamente os processos ecológicos como polinização, predação, comportamento territorial e hábitos alimentares das espécies, causando perda da diversidade de plantas e animais, e em casos extremos, levando à total perda das espécies da fauna local.

Estas alterações promovidas pela fragmentação florestal e pelo conseqüente efeito de borda irão interferir diretamente na qualificação dos atrativos e como um efeito cascata em toda a cadeia produtiva, podendo requer mais investimentos e mesmo inviabilizar negócios, forçando readequações estratégicas ou busca por novas vocações e produtos turísticos. Portanto, o impacto causado pelo transito de visitantes pelas trilhas podem ser somados às alterações verificadas no efeito de borda, através de eventos como o pisoteio da flora marginal, alterações de drenagem decorrentes das alterações no leito das trilhas pela compactação induzida pela visitação, alterações no comportamento da fauna pela presença física e barulho de visitantes, entre outros.

104

2.3.2.3 Impactos causados no leito da trilha Embora a abertura de uma trilha já represente um impacto considerável, em trilhas existentes o impacto mais diretamente relacionado com o uso das trilhas é causado pelo pisoteio, responsável pela compactação do solo e aceleração dos processos erosivos, também possui grande importância na relação com a flora.

A revisão de Magro & Talora (2006) confirmaram que as áreas sujeitas ao uso recreacional eventualmente mostram sinais de deterioração dos seus recursos e implicam ainda a redução da biomassa das plantas e a cobertura do solo; a diminuição na densidade de ervas, arbustos e plântulas e a substituição de espécies menos tolerantes por aquelas mais tolerantes ao impacto do pisoteio; e mudanças associadas ao solo que são freqüentemente menos óbvias, mas não menos importantes, uma vez que ao longo do tempo eles podem conduzir a um declínio no vigor das plantas e a uma redução na biomassa da fauna do solo.

Estas mudanças estariam relacionadas à compactação do solo, redução no conteúdo da matéria orgânica, diminuição na taxa de infiltração de água e aumento no escoamento superficial. Lechner (Op. cit. p.79) apresenta uma relação de impactos que podem ser observados na trilha: · Impactos biofísicos potenciais nas trilhas: § Erosão e transporte de solo; § Contaminação e sedimentação em rios e outros corpos de água; § Perda de vegetação ao longo do corredor da trilha; § Introdução de espécies invasoras ao longo do corredor da trilha; § Aumento do acesso à área por espécies predadoras ou indesejáveis

(mudança

da

composição

de

espécies)

e

perturbações / deslocamento da vida selvagem; · Impactos sociais potenciais nas trilhas: § Conflitos de visitantes e conflito entre a comunidade e visitantes; § Lixo; § Insatisfação;

105

§ Uso das trilhas para atividades ilegais / indesejáveis (caça, extração ilegal, etc.); § Alargamento da trilha por usuários para evitar lamaçais, ou por andarem lado a lado ou por obstáculos como árvores caídas e pedras soltas; § Vandalismo (pichações em rochas e árvores e danos à infraestrutura como placas de sinalização, bancos, etc.); § Possíveis áreas de risco de acidentes aos visitantes. · Impactos ambientais potenciais ou de uso sobre as condições das trilhas: § Alargamento e inundação do corredor e do piso da trilha; § Usos múltiplos / sobreposição de usos; § Perda da borda crítica da trilha (e da drenagem); § Ruptura no talude; § Aprofundamento do leito da trilha (com perda de drenagem); § Entupimento por sedimentos em drenos, perda ou danos a barragens de água, drenagens e bueiros; § Resíduos ou entulhos na trilha; § Deterioração de fundações de pontes, decks e paredes de contenção levadas por inundações, além das condições de segurança de sua superfície e de seus corrimãos; § Falta, perda ou deterioração de sinalização de orientação, degraus e paredes de pedra.

2.3.2.4 Impactos na paisagem promovidos pelas trilhas

Como conseqüência das alterações promovidas ou induzidas pelas trilhas, tem-se a descaracterização da paisagem, conforme destaca Magro & Talora (op. cit.) onde a trilha representa também uma cicatriz na paisagem, sendo uma zona sacrificada, desprovida de vegetação, um “corte raso” linear que pode representar cerca de 0,45 ha ou mais em cada trecho de 1,6 Km e, apesar do impacto, refere que as trilhas são vistas como uma construção aceitável em áreas naturais, onde se aceita a área de solo nu quase como parte natural das áreas protegidas.

106

A importância da paisagem está para o lazer como o cenário para suas atividades como para o turismo que a transforma em produto de consumo representando uma novidade estética. Para ambos a paisagem serve como ferramenta para a ampliação do conhecimento e agente sensibilizador de conservação

ambiental.

Contudo

sendo

interpretado

também

como

um

“equipamento”, os impactos decorrentes de seu uso são rapidamente percebidos ao longo do tempo e um dos aspectos mais relevantes é a descaracterização de sua paisagem através de instalações de apoio ao visitante, como por exemplo, mirantes, circuitos de trilhas, áreas para lazer entre outros.

Neste concepção, o conceito da paisagem como um “recurso” a ser administrado deve ser considerado como mais cuidado e prioridade nos programas de gestão das unidades de conservação e lugares turísticos; pois a perda da paisagem, isto é, do patrimônio cênico, não só pode desqualificar o lugar, como também selecionar os visitantes já que o “produto” pode ser alterado.

Cabe então salientar os conceitos de valoração da paisagem e de seus componentes bióticos e abióticos, visto que não raro, os impactos na flora e fauna induzidas pela fragmentação das massas florestais assim como os causados pelo acesso de visitantes em áreas cuja biodiversidade possui baixa resiliência às modificações

introduzidas

com

a

territorialização

turística

são

passadas

despercebidas, dada a compreensão geral de paisagem como um “grande cenário” apenas. Esta condição decorre do fato da paisagem de modo geral ser percebida como um todo.

Contudo, Guimarães (2007:83) concorda com estudos de Gonzalez Bernáldez, que interpreta a paisagem através de processos onde se decifra camadas de informação, tanto aparentes quanto ocultas. A autora relaciona duas vertentes: “(1) uma forma de interpretação fundamentada na percepção global e integrada da paisagem, a partir do que o observador desenvolve suas conclusões de “visu” mediante sua experiência, intuição ou “olho clínico”, sem que seja necessário um processo reflexivo; (2) uma descrição analítica, mediante o isolamento de diversos componentes paisagísticos. Para o autor, ambos os procedimentos metodológicos têm suas possibilidades, de acordo com a aplicação que estamos dando à interpretação da paisagem.

107

Assim, o planejador, o gestor; devem considerar os impactos tanto no microambiente das trilhas, considerando a experiências mais próximas do usuário; como também deve considerar o comprometimento da paisagem, enquanto recurso patrimonial, por exemplo, nas alterações que a comprometem quando as trilhas são percebidas na paisagem como uma solução de continuidade.

Deve-se, contudo, na avaliação e utilização da paisagem como um “recurso”, considerar as repercussões históricas, sociais e ambientais, Motta (1998) cita que o processo de apropriação do capital natural (e social23) sem a preocupação com os possíveis usuários excluídos (presentes ou futuros); rotineiramente são ignorados e podem passar despercebidos ou subestimados; visto que o uso de recursos ambientais não possui preço reconhecido no mercado, embora seu valor econômico exista, pois seu uso altera o nível de produção e de consumo dos bens de serviço atrelados a eles.

Na valoração econômica ambiental, o valor econômico de um recurso ambiental, é estimado a partir do valor monetário de um bem ou serviço disponível na economia. Com a utilização desta referência monetária a descaracterização de paisagens (e conseqüentemente comprometimento da biodiversidade, perda da qualidade da visitação, entre outros), passa também a se correlacionar com outros aspectos da gestão sob a mesma ótica, de maneira que a priorização orçamentária e as previsões de valor patrimonial adquirem maior relevância nas chaves de decisão influindo desde a gestão local até as políticas públicas mais gerais.

Assim, as estratégias de gestão e uso da paisagem estão diretamente relacionadas à amplitude de valoração econômica do patrimônio local e de serviços disponíveis ou possíveis. Motta (op. cit.) relaciona o critério econômico no gerenciamento

dos

recursos

naturais,

restringindo-o,

basicamente,

a

três

abordagens básicas: ·

Análise Custo-Benefício (ACB). É a técnica econômica rotineiramente utilizada para a determinação de prioridades na avaliação de políticas e

23

Parênteses do autor

108

de mais fácil compreensão, embora possa adquirir um caráter superficial em função da prévia qualificação diagnóstica. A ACB compara custos e benefícios derivados de estratégias e políticas implementadas em termos de valores monetários. Os benefícios são bens

e

serviços

ecológicos,

cuja

conservação

acarretará

na

recuperação ou manutenção destes para a sociedade, impactando positivamente o bem-estar das pessoas e do patrimônio natural. Os custos representam o bem-estar que se deixou de ter, fluxo de bens e serviços não-ecológicos, em função do desvio dos recursos da economia para políticas ambientais em detrimento de outras atividades econômicas e ainda das perdas em biodiversidade que geravam serviços e produtos. · Análise Custo-Utilidade (e viabilidade institucional) – ACU. Os indicadores, embora não sejam compreendidos como a única variável monetária de um determinado benefício, são calculados para valores econômicos

e

também

insubstitutibilidade,

para

o

critério

vulnerabilidade,

grau

ecológico, de

como ameaça,

representatividade e criticabilidade. A percepção destes critérios ecológicos, entretanto dependem de não só de conhecimentos técnicos, mas, sobretudo éticos, visto que na prática, a quantificação financeira reduz a importância da natureza às necessidades e horizontes humanos. · Análise Custo-Eficiência (ACE). A ACE compara as opções disponíveis para orientar a política definida, relacionando os custos em atingir os objetivos estabelecidos, identificando a opção mais eficiente para obtenção da melhor relação custo-benefício. A ACE não prioriza opções, mas orienta para a definição de ações, principalmente em situações de decisão nas quais os custos institucionais da avaliação do projeto excedem aos ganhos de eficiência com uso de ACB ou ACU.

O valor econômico dos recursos ambientais (VERA), por sua vez, pode ser interpretado como valor de uso (VU) e valor de não-uso (VNU). Os Valores de uso podem ser desagregados em:

109

· Valor de Uso Direto (VUD) - quando o indivíduo se utiliza atualmente de um recurso, por exemplo, na forma de extração, visitação ou outra atividade de produção ou consumo direto; · Valor de Uso Indireto (VUI) - quando o benefício atual do recurso deriva-se das funções ecossistêmicas, como, por exemplo, a proteção do solo e a estabilidade climática decorrente da preservação das florestas; · Valor de Opção (VO) - quando o indivíduo atribui valor em usos direto e indireto que poderão ser optados em futuro próximo e cuja preservação pode ser ameaçada. Por exemplo, o benefício advindo de fármacos desenvolvidos com base em propriedades medicinais ainda não descobertas de plantas em florestas tropicais.

O valor de não-uso (ou valor passivo) representa o valor de existência (VE) que está dissociado do uso (embora represente consumo ambiental) e deriva-se de uma posição moral, cultural, ética ou altruística em relação aos direitos de existência de espécies não-humanas ou preservação de outras riquezas naturais, mesmo que estas não representem uso atual ou futuro para o indivíduo, como, a grande atração da opinião pública para salvamento de baleias ou sua preservação em regiões remotas do planeta, onde a maioria das pessoas nunca visitará ou terão qualquer benefício de uso. Assim, uma expressão para VERA é:

VERA = (VUD + VUI + VO) + VE.

Desta forma, a paisagem enquanto construção subjetiva e por isso, menos tangível, deve ser encarada não somente como um valor de uso direto, mas também na categoria de valor delegado e de existência, enquanto elemento passível de apropriação. Afinal, paisagem, além de seu valor intrínseco por ser o somatório de condições físicas e ecológicas, é também memória e identidade entre outros aspectos sociais e culturais. Assim, deve ser protegida tanto pelo poder público quanto privado.

Embora a utilização de termos como recursos riquezas e patrimônio possa a princípio induzir à percepção de um reducionismo utilitarista da natureza, a intenção

110

deste conceito visa criar um denominador comum, facilmente compreendido por indivíduos, instituições e governos, onde cujas possibilidades de lucros com serviços ou prejuízos por perdas de “patrimônio” tendem a ser mais quantificáveis e palatáveis quando se discute variável que podem requerer uma compreensão maior da paisagem que o olho pode não ver, mas que existe.

No quadro 05 é demonstrado às diversas qualificações de valores e o seu grau de tangibilidade.

Quadro 05 Categorias de valores econômicos atribuídos aos bens ambientais Fonte Munasinghe,1992 (in MOTTA, R. S. da. Manual Para Valoração Econômica de Recursos Ambientais – Adaptação de Flávio A. P. Mello, 2008.

Para o gestor, para o planejador e sobretudo para o usuário, tornar palpável uma construção mental como a paisagem significa sobretudo a possibilidade real de se gerir uma realidade com parâmetros próximos ao dia a dia das tomadas de decisão, seja como investimento, seja como a conduta consciente de visitação.

111

2.3.3 Conservação e recuperação de trilhas em ambientes de Mata Atlântica Diversos pontos da Mata Atlântica são considerados hotspots24 de biodiversidade e somado ao grande endemismo, são considerados prioridade para a conservação e preservação. Com o ritmo acelerado de comprometimento e destruição de seus remanescentes, agora associado a incremento das atividades de lazer, esportivas e de turismo em ambientes naturais, notadamente nas unidades de conservação; os circuitos de trilhas devem ser interpretados como os veículos da apropriação de territórios pela visitação e agentes de alterações ecológicas importantes conforme demonstrado anteriormente. Percebendo a trilha fisicamente como um corredor que funciona como eixo de ligação a atrativos ou se manifesta como tal, suas restrições espaciais podem ser: · Restrita ao leito · Incluindo o efeito de borda (corredor e áreas mais profundas conforme referido por Paciência & Prado (op.cit.)25 · Incluindo o leito, o efeito de borda e a fragmentação induzida pelos recortes promovidos pela implantação dos circuitos de trilhas; interferindo assim na dinâmica regional como um todo.

Com esta espacialização, as ações de conservação e recuperação de trilhas na prática ultrapassam as atividades de controle de erosão, compactação de solos, drenagem e conflitos entre visitantes, restritas de modo geral ao leito; mas passam incluir a região ou zona onde se encontram as trilhas. Por conseguinte o foco de preservação e conservação deve considerar além da biodiversidade intrínseca, o patrimônio paisagístico e a importância dos fragmentos florestais como bancos genéticos para todo o trabalho de restauração e preservação do que resta de Mata Atlântica. 24

O conceito Hotspot foi criado em 1988 pelo ecólogo inglês Norman Myers para resolver um dos maiores dilemas dos conservacionistas: quais as áreas mais importantes para preservar a biodiversidade na Terra? Ao observar que a biodiversidade não está igualmente distribuída no planeta, Myers procurou identificar quais as regiões que concentravam os mais altos níveis de biodiversidade e onde as ações de conservação seriam mais urgentes. Ele chamou essas regiões de Hotspots. Hotspot é, portanto, toda área prioritária para conservação, isto é, de rica biodiversidade e ameaçada no mais alto grau. É considerada Hotspot uma área com pelo menos 1.500 espécies endêmicas de plantas e que tenha perdido mais de 3/4 de sua vegetação original. In: www.conservation.org.br/como/index.php?id=8 . Capturado em 18/02/2007 25 Referindo Kapos (1989) que mostrou que à distância de penetração destas alterações chega a 40 m, a partir do limite físico do fragmento com a matriz, como 15-25 m (Williams-Linera 1990), 7-12 m (MacDougall & Kellman 1992), 10-20 m (Esseen & Renhorn 1998)

112

O estado de conservação ambiental da região em questão onde esta instalada a malha de trilhas ou irá ser instalada, definirá seu papel, podendo ter seu planejamento e manejo direcionado tanto para a preservação, isto é, protegendo áreas chaves; quanto para a restauração; podendo utilizar a malha de trilhas como acesso a áreas a ser reflorestadas ou restauradas por funcionários locais e voluntários, servindo de veículo para atividades de educação ambiental.

Desta maneira as estratégias de conservação que envolvam as interações flora e fauna são as mais eficientes e segundo Kageyama & Gandara (2006) nas florestas tropicais estas interações são bastante intensas e determinantes para a estruturação do ecossistema, envolvendo relações fundamentais como polinização, dispersão de sementes e herbivoria/ predação. Destacam ainda que as espécies vegetais das florestas tropicais são em sua maioria alógamas (necessitam trocar pólen para que haja sua polinização, sendo feita fundamentalmente por animais, principalmente insetos, morcegos e aves).

113

3.0 MATERIAL E MÉTODOS

São, a seguir, descritos os principais materiais e métodos adotados visando atender os objetivos propostos. Em termos gerais buscou-se como prática metodológica a “pesquisação” ou “pesquisa-ação26”, isto é, para se atingir os objetivos propostos, foram estabelecidas estratégias para coleta e verificação de dados, a partir do envolvimento dos usuários e da administração da unidade, em maior ou menor grau, quer através do estímulo ao voluntariado ambiental, quer por meio de questionários e pesquisas de campo.

3.1 Fonte de informações

Para elaboração da base dados primários sobre o PNMNI, foram realizadas entrevistas formais e informais com a administração do PNMNI (inicialmente com direção e posteriormente com funcionários da manutenção e vigilância) acerca de aspectos da visitação, malha de trilhas e caminhos existentes. Embora destacassem a existência de várias trilhas, somente a trilha do Pau Pereira é, de fato, considerada para fins de gestão, assim como a Estrada da Cachoeira, como acesso a atrativos mais consolidados. Encaminhou-se então, ofícios às Secretarias de Meio Ambiente das Prefeituras de Nova Iguaçu e de Mesquita, solicitando bases cartográficas digitais, incluindo ortofotos e imagens de satélite; além de informações sobre programas ou sub-programas em andamento que pudessem ser úteis para a presente pesquisa.

A solicitação documental sobre o Parque Municipal de Nova Iguaçu foi requerida junto aos municípios de Nova Iguaçu e Mesquita, onde neste último se localiza aproximadamente 38% da área do Parque. Fato oriundo da emancipação deste município no ano de 2000, data posterior à criação do parque (1998). Salientase que esta situação é motivo de discussões acerca de uma possível gestão compartilhada, cujas primeiras referências apontam um suposto acordo informal 26

SN: Modalidade de pesquisa qualitativa que se caracteriza por partir da ação sem nenhuma assunção teórica, pela participação do investigador na situação e o uso da metodologia etnográfica como método de recoleção de dados. A expressão foi acunhada por K. Lewin (1890-1947), que assinala três traços típicos: participação, impulso democrático e contribuição à mudança social. Fonte: Tesauro na Filosofia da Educação

114

estabelecido a época da emancipação, entre as secretarias de Meio Ambiente de Nova Iguaçu e Mesquita para o revezamento bi-anual na direção da unidade.

Contudo, devido ao fato da área do parque ser uma concessão estadual à Nova Iguaçu e como até a presente data, não se estabeleceu oficialmente a contrapartida em recursos humanos e materiais do município de Mesquita, o revezamento ficou restrito à direção do conselho consultivo a cada dois anos, por razões de boa vizinhança. Atualmente a gestão deste conselho está a cargo de Nova Iguaçu, devendo se estender até 2010. Entretanto, o conselho gestor não tem se reunido com regularidade, caracterizando de fato uma violação do plano de manejo que prevê gestão participativa.

Embora a anuência e colaboração da Secretaria de Meio Ambiente tenha sido fundamental para a realização deste trabalho, através da cessão da íntegra do plano de manejo original, algumas bases digitais e diversas informações de caráter geral, constatou-se em diversas situações, várias inconsistências em diversas demandas de informações importantes para a presente pesquisa; como, por exemplo, a relação dos trabalhos acadêmicos produzidos sobre o Parque e a tabulação regular dos dados gerados na entrada principal.

Cabe destacar que embora haja projetos acadêmicos e de pesquisa concluídos e em andamento no PNMNI, a Prefeitura e o Parque não dispõem deste acervo bibliográfico completo e organizado. De fato o PNMNI, a exemplo de tantas outras unidades de conservação, sofre com a falta de investimentos em recursos humanos e materiais, mantendo, portanto, a característica presente em cada administração que é a de não estabelecer ou proporcionar continuidade a um banco de dados sólido e confiável sobre o histórico ambiental e administrativo da unidade.

Na pesquisa por bases digitais sobre o PNMNI que constam no Plano de Manejo, constatou-se também que a Prefeitura, não possui estes dados na íntegra. A documentação disponível relaciona as cartas em arquivos no formato PDF (não possuem e disponibilizam bases georreferenciadas em Sistema de Informação Geográfica – SIG). A empresa Habtec, contratada pela prefeitura de Nova Iguaçu para elaboração do referido plano, foi contatada no sentido de se obter cópias das

115

bases cartográficas importantes, tais como: cartas topográficas, mapas de uso de solo, vegetação, pedologia e geologia, mas declararam impossibilidade de atendimento, devido a pendências com a Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu.

Quanto à topografia e uso de solo, as bases cedidas pela Prefeitura de Nova Iguaçu foram conseguidas junto à Secretaria Municipal da Cidade – SEMCID, setor de Geoprocessamento, porém não contemplam a área do Parque pertencente ao município de Mesquita. Esta situação deixou caracterizada que se a direção for desenvolver algum trabalho onde sejam necessárias as bases digitais do Parque como um todo, poderá contar somente com documentação da área de Nova Iguaçu, aproximadamente 60 % da área total, visto que aparentemente, a Prefeitura Municipal de Mesquita também não dispõe tal acervo.

Posto as condições sobre a construção da base de dados obtida junto ao PNMNI, os materiais e métodos utilizados na construção desta dissertação prosseguiram com o seguinte ordenamento:

3.2 Revisão do conteúdo do Plano de Manejo referente ao Programa de Uso Público.

Tomando como base o Plano de manejo do PNMNI e as atividades de campo, foi possível caracterizar e reavaliar as zonas destinadas à visitação no interior da área protegida, como atualmente ela é utilizada. Neste sentido, foi considerada a seguinte ordem metodológica: · Avaliação do perfil do visitante e padrão de dispersão. · Levantamento das trilhas e identificação de atrativos · Zoneamento ecoturístico e aplicação da metodologia ROS · Conclusão e elaboração de sugestões ao PNMNI

Pretende-se, deste modo, confirmar sugestões previstas no plano de manejo e oferecer subsídios para adequações e aprimoramentos da gestão da visitação,

116

consonantes com o momento atual, oferecendo assim bases para atualizações subseqüentes do plano de manejo.

3.2.1 Avaliação do perfil do visitante e padrão de dispersão

Após a devida contextualização sobre o uso das zonas abertas à visitação, procurou-se identificar o perfil do visitante, assim como seu padrão de dispersão dentro da unidade como condição para se estabelecer a eficiência do zoneamento territorial-ambiental vigente, paralelamente, por extrapolação, formar uma “imagem” de como, de fato, os visitantes estão se organizando no interior da unidade e a gestão dos mesmos. Dada a existência de uma grande malha de trilhas e caminhos informais, o raciocínio lógico foi que a identificação de atrativos e atividades (consolidadas e previstas) deve nortear o ordenamento de roteiros e, conseqüente, a seleção de trilhas e acessos para tanto. Deste modo, será possível, a partir da identificação dos atrativos e acessos, confirmar vocações e elaborar proposta para zoneamento turístico e de lazer.

Inicialmente, a importância sobre o conhecimento do perfil do usuário e seus padrões de fluxo e dispersão foi destacada através da elaboração de um sistema onde foram categorizados os visitantes em autorizados27 e não autorizados, identificados e não identificados e com acessos à áreas livres e restritas a visitação, visto que o controle de entrada do PNMNI não é eficiente (figura 08). A abordagem sistêmica teve como objetivo visualizar em linhas mais gerais, como poderia estar ocorrendo à visitação dentro da unidade. Foi elaborado então um modelo de Sistema Sequencial ou Encadeante onde foram considerados três parâmetros: Visitantes: autorizados e não autorizados; Visitantes: Identificados e não identificados e Acesso a zonas permitidas e não permitidas, segundo o Plano de Manejo.

Este sistema é particularmente importante por que relaciona as situações administrativas de dispersão de visitantes e aponta para a criação de políticas

27

Este controle têm por base a administração, podendo ser via funcionários da guarita, por exemplo.

117

diferenciadas a ser utilizadas como reguladores. Marques, J. S (1984) relaciona três tipos de ação dos reguladores: Regulação dos níveis de massa e energia, Distribuindo massa e/ou energia para os componentes do sistema, incluindo os armazenadores e Determinando o modo e quantidade de saída de massa e energia do sistema.

a c

b

Legenda:

Armazenamento Armazenamento

I O

Input: Entrada de visitantes Output: Saída de visitantes

!

Regulador a: Guarita de entrada / Sinalização Regulador b: Entradas sem fiscalização e informais Regulador c: Fiscalização / Sinalização

1 2 3 4

Visitantes e não visitantes com autorização. Invasores, visitantes e não visitantes sem autorização. Invasores, visitantes e não visitantes sem autorização não identificados. Invasores, visitantes e não visitantes sem autorização identificados.

Z¹ Z²

Zonas permitidas à visitação: de uso especial, intensiva e extensiva. Zonas não permitidas à visitação: primitiva, intangível.

Figura 08: Análise sistêmica de Visitação no PNMNI Fonte: MELLO, Flávio A P. 2007

De fato, a criação destes reguladores repercute na qualidade do monitoramento do fluxo de visitantes e, consequentemente na gestão das alterações fisicas e funcionais que possam ocorrer no Parque, tais como erosão das trilhas, lixo, depredação do patrimônio natural e construido, entre outros. Deste modo, para a

118

eficiência das ações da administração, estas alterações podem ser fortemente influenciadas pela relação entre os visitantes autorizados e não autorizados e seu padrão de distribuição na área do Parque, pois demandam de abordagens diferenciadas.

Evidentemente, o monitoramento mais eficiente pode dimensionar com mais precisão a relação entre os diferentes grupos de visitantes referidos, entretanto, como ferramenta de análise geral, é possivel

se estabelecer elementos para

subsidiar a gestão da visitação. Hipotéticamente, se a administração começa a receber denúncias o constata o aumento de visitantes não autorizados em áreas restritas, esta pode pressupor que sua “caixa cinza” de invasores e visitantes não autorizados (item 02 na figura 08) pode ser maior do que se supõe, assim como seus impactos referentes. Desta forma, medidas diferenciadas devem ser tomadas, como estabelecimento de eco-limites, aumento da fiscalização, fechamanto de trilhas e atalhos não autorizados, entre outros.

Assim as ações envolvendo preservação do patrimonio natural ante a pressão da visitação e qualidade dos atrativos e atividades oferecidas, deve ser capaz de desenvolver políticas personalizadas para cada sub-sistema28, principalmente se considerando que o Parque não possui um controle eficiente de entrada e saída de visitantes. A existência de atividades ilegais de caçadores e passarinheiros e ainda atividades de ecoturismo e de lazer sem o conhecimento da administração da área protegida, principalmente na Pedra da Contenda e Rampa de Vôo Livre, denotam a necessidade de se incorporar as categorias de visitantes nas politicas de gestão da Unidade.

3.2.1.1 Uso de questionários e perguntas dirigidas

Para a identificação do perfil e da dispersão de usuários, optou-se pela elaboração de questionários, onde a opção foi o modelo fechado, isto é, o

28

Sub-Sistemas: (A) Visitantes e não visitantes autorizados. (B) Visitantes e não visitantes não autorizados e invasores. (C) Visitantes identificados. (D) Visitantes identificados em áreas permitidas. (E) Visitantes identificados e não identificados em áreas proibidas.

119

entrevistado opina sobre dados pré-determinados, conforme preconizado por Günther (2003), que estabelece o seguinte critério: · Perguntas abertas: Para pesquisa inicial, exploratória, onde não se conhece a abrangência ou variabilidade das possíveis respostas. · Perguntas fechadas: Quando se conhece os tópicos geralmente mencionados pelos entrevistados acerca de uma dada temática, principalmente quando o universo amostral é grande e/ou o tempo de coleta é pequeno.

Segundo o autor o uso de perguntas fechadas “mostra freqüentemente mais respeito à opinião das pessoas, deixando-as classificar suas respostas como positivas, negativas ou neutras, em vez do pesquisador fazer isso por elas”.

As pesquisas desenvolvidas através de questionários foram inicialmente: · Pesquisa de perfil e dispersão de visitantes (internet e coleta de dados em campo): Onde se buscou identificar o perfil geral do visitante (gênero, faixa etária, ocupação profissional, motivação da visita, destino no parque). Através da metodologia de Amostragem Casual ou Aleatória Simples. Neste sentido, não houve critérios para a seleção dos entrevistados, sendo aleatória, assim como nas coletas realizadas durante a semana (duas vezes). Entretanto foram realizadas coletas regulares aos sábados e domingos durante os períodos estipulados das temporadas de verão e inverno. Quanto aos horários, buscou-se coletar dados entre 10:00 horas e 13:00 horas, quando há maior afluxo de visitantes. · Pesquisa de perfil e dispersão de operadores de ecoturismo e lazer na natureza – PNMNI (somente internet): Procurou identificar se o operador era formal (autônomo com credenciamento ou empresa legalmente

constituída),

sua

formação,

roteiros

operados,

se

desenvolvia atividade voluntária no PNMNI e opinião aberta sobre o PNMNI.

120

Como complemento a estas duas pesquisas e após haver sido selecionadas as trilhas a ser avaliadas, procedeu-se às seguintes avaliações: · Valoração econômica dos serviços de condução de visitantes no PNMNI (internet e coleta de dados em campo). Buscou-se identificar a origem do visitante, tempo e meio de acesso, freqüência anual da visita, tempo médio de permanência; aspectos ligados à percepção ambiental e cognição ambiental e predisposição a se pagar pelos serviços de condução de visitantes na Unidade. A aplicação do questionário pretendeu auxiliar na oferta de novos produtos para lazer quanto a avaliar o potencial de se instalar serviços de condução de visitantes formais, como uma atividade econômica consolidada. A sua montagem foi baseada nos questionários de valoração de uso recreativo e ecoturístico desenvolvidos por MALTA, (2008).

Para otimizar a coleta de dados e propiciar um canal adicional de comunicação com o usuário do parque, foi encaminhado à direção do parque um ofício para a elaboração voluntária de um site denominado “Amigos do Parque” (anexo 01).

Cabe destacar que este site se consolidou como o site oficial da

unidade, onde foi estabelecida, além de informações gerais da unidade, uma seção exclusiva para a administração. Neste site foram disponibilizadas as três pesquisas referidas: Pesquisa de fluxo e dispersão de visitantes (anexo 02); Pesquisa de perfil e dispersão de operadores de ecoturismo e lazer na natureza (anexo 03) e Valoração econômica dos serviços de condução de visitantes no PNMNI (anexo 04).

O conteúdo destas pesquisas foi o mesmo a ser utilizado nos levantamentos de campo pelo autor. Foram realizadas ainda chamadas no site de relacionamentos ORKUT em comunidades afins ao PNMNI. Para identificação destas comunidades procedeu-se a pesquisa utilizando a ferramenta de busca interna para Comunidades do próprio site, utilizando as chaves: Parque Municipal + Nova Iguaçu, Serra do Vulcão e Vulcão + Nova Iguaçu; visto serem as mais percebidas na mídia.

121

Com exceção das comunidades de vôo livre, foram enviadas mensagens para as seis comunidades que possuem atividades de visitas ao PNMNI, notadamente a região da rampa de vôo livre e Pedra da Contenda. Com chamada em 07/09/2007, decorridos 120 dias, houve poucas manifestações. Credita-se a esta situação o fato de que as comunidades encontradas no site de relacionamentos “Orkut”, embora possam ter listados numerosos membros, muitos fazem parte de várias comunidades similares e pela datação e volume das mensagens trocadas, percebeu-se que provavelmente o acesso a estas comunidades parecem não ser constante. Deste modo, confirma-se a pouca eficiência deste veículo para mobilização em causas não tão importantes e relevantes para todos.

Como complemento às pesquisas de identificação do perfil do visitante, do operador e o padrão de dispersão relacionado, foi criada a “Pesquisa de valoraçăo econômica dos serviços de conduçăo de visitantes no PNMNI”. Este questionário, um pouco mais completo, visou captar informações para uma possível valoração contingente de serviços de condução em trilhas e perfil socioeconômico, de modo a antever as possibilidades de sustentação da atividade profissional de guias de ecoturismo (Anexo 4). Nesta pesquisa, além de se avaliar o custo de deslocamento, predisposição para gastos com serviços de guias, foram introduzidas perguntas quanto à oferta de alimentação e souvenirs no parque.

3.2.1.2

Definição da base amostral

Os padrões de dispersão dos visitantes são fortemente influenciados pelo seu perfil (faixa etária, nível social, motivação, disponibilidade financeira, sazonalidade, clima, acessibilidade, entre outros). No PNMNI, há controle de entrada de visitantes, porém restrito à entrada principal. Anteriormente, até inicio de 200629, havia um apontamento, irregular, de dados referentes ao gênero, idade e município de origem dos visitantes; porém devido a constantes dificuldades com recursos humanos e remanejamento de funcionários, o acompanhamento da visitação se restringe atualmente à contagem pouco criteriosa através de uma roleta instalada na guarita.

29

Conforme informação de funcionários da portaria.

122

Nesta contagem, por exemplo, não são computados os praticantes de caminhadas matinais, que constituem um grupo regular e expressivo de usuários do Parque e muitos estendem suas atividades físicas até o Casarão. Neste sentido, o ato de passar na roleta tem sido utilizado pelos agentes de portaria, mais para orientação e fiscalização dos visitantes do que para controle de lotação. A ausência de dados exatos para o estabelecimento da base amostral limitou as projeções e análises estatísticas.

De fato, para o adequado conhecimento do perfil de visitantes e de seu padrão de dispersão (como os visitantes ocupam os diferentes atrativos, que vias utilizam para tal, que atividades desenvolvem...), se faria necessário, a princípio, um controle mais eficaz de entradas e saídas. Assim, mesmo metodologias mais acessíveis, como Amostragem Casual ou Aleatória Simples e aquelas um pouco mais elaboradas, como a Amostragem Proporcional Estratificada - onde é possível identificar não só a composição média dos usuários e, sobretudo, coletar dados aptos para a criação de estratos, de modo a se poder aferir características próprias de cada subgrupo, conforme preconizada por Tiboni (2002:22-23) - seriam mais factíveis.

Dada a inconsistência dos dados, optou-se por definir duas faixas no calendário, que pudessem colaborar no esforço do Parque em combater a sazonalidade e estimular outras atividades. Sugeriu-se à administração que se colocasse no calendário duas temporadas com atividades predefinidas no calendário de eventos: Uma de verão, que se estende de dezembro a fevereiro do ano subseqüente e outra de inverno (maio a junho, temporada de montanhismo no calendário nacional).

Segundo dados coletados junto à portaria, o volume anual de visitantes gira em torno de 30.000 usuários, principalmente se considerando que em dias de muito calor é possível registrar cifras em torno de 1.200 usuários/dia aos fins de semana. Face a estas condições, optou-se por admitir algo em torno de 1% do universo amostral, como indicativo de “tendência”.

123

A amostra ficou estipulada em 184 questionários, de um universo presumível de 18.393 usuários, incluindo a totalidade dos dados das temporadas conforme mostra o quadro 06: Visitantes registrados na guarita do PNMNI

Temporada de referência

Tamanho da amostra (1%)

Questionários realizados 01 02 03

Temporada de verão Dez /2007 a Fev/2008

12.563

126

125 (49)

0

0

Temporada de inverno Mai - Jul/2008

05.830

058

058 (17)

0

100 (33)

Total:

18.393

184

183 (86)

0

100

Legenda

01: 02: 03: (n):

Questionário Perfil e dispersão de visitantes Questionário Perfil e dispersão de operadores de ecoturismo e lazer na natureza Questionário Valoração econômica dos serviços de condução de visitantes no PNMNI Nº de questionários respondidos diretamente no site www.pmni.infotrilhas.com

Quadro 06 Cálculo da base amostral para realização dos questionários de Dispersão de visitantes no PNMNI Fonte: Mello, Flávio A. P. (2008)

Deve-se salientar que o fato de não haver dados referentes ao “Questionário Perfil e dispersão de operadores de ecoturismo e lazer na natureza” se deve à postura pouco colaborativa dos operadores com os quais houve contato. A percepção constatada é de que o questionário foi interpretado como uma tentativa de identificação, e, conseqüentemente controle, temor este justificado pelo fato de que a maioria contada não dispunha de licenciamento ou capacitação técnica evidente para o exercício da atividade. Esta situação deve ser considerada pela administração do Parque a partir do momento em que ordenar o uso público de para ecoturismo e práticas de lazer de aventura.

3.2.2 Coletas de dados informais.

Como estratégia complementar para a identificação do perfil do visitante, mas em caráter geral, foram realizadas observações pessoais, entrevistas informais com usuários durante visitas ao Parque ou nos passeios conduzidos através do Projeto “Amigo do parque conhece o Parque”, funcionários do parque na guarita de entrada e depoimentos da direção da Unidade.

124

A escolha por este método complementar ocorreu ao se perceber que havia um grande banco de dados informais no coletivo relacionado ao Parque e que poderia ser abordado com mais liberdade e de maneira mais informal, oferecendo informações valiosas sobre aspectos gerais do Parque.

3.3 Ordenamento da malha de trilhas

Para o ordenamento da malha de trilhas, isto é, para estabelecer uma seleção de trilhas existentes, atalhos, picadas e demais vias que pudessem ser incorporadas em um conjunto de caminhos que pudessem contribuir para a orientação do fluxo de visitantes dentro do PNMNI, procedeu-se com as seguintes etapas:

3.3.1 Levantamento de traçado

Concomitantemente aos levantamentos preliminares do perfil dos visitantes e padrões de dispersão, foi conduzido o levantamento de atrativos, trilhas e caminhos que pudessem ser utilizados na confecção de roteiros que deverão orientar o PNMNI a reconhecer atrativos já consolidados pelo uso informal e suas vias de acesso, e conseqüentemente, lançar as bases para proposta de zoneamento turístico e de lazer. O PNMNI não dispõe das bases digitais da malha de trilhas existentes. Seus registros incluem Estrada da Cachoeira e referências da Trilha do Pau Pereira e Trilha do Mendanha que faz ligação com o Parque Natural Municipal do Mendanha.

A administração conhece as trilhas do Mata-Fome, da Contenda e do Gericinó e do Mendanha, sendo que estas duas últimas e a Trilha do Pau da Letra estão próximas à Zona Intangível e Primitiva e por este motivo, não foram consideradas neste levantamento diagnóstico. A presente dissertação procurou evitar a “cunha”30 que a Estrada da Cachoeira faz na Zona primitiva.

30

Coloca-se a expressão “cunha” por que a Estrada da Cachoeira ao atingir as Ruínas do Clube Dom Felipe, quase que literalmente divide a Zona primitiva em duas, evidenciado o fenômeno de Fragmentação florestal já comentado neste trabalho.

125

Destaca-se que o Plano de Manejo do PNMNI já prevê que as visitas após o Poço da Natureza, ponto mais extremo da área de uso intensivo, devem ser acompanhadas por guias autorizados pela unidade. Assim, buscou-se orientar o levantamento de traçado para as áreas da zona de Uso extensivo, cuja vegetação apresentasse menor vulnerabilidade ao aumento da visitação.

Observou-se ainda que nesta fase de desenvolvimento do PNMNI, os atrativos tendem a se concentrar a noroeste e nordeste do eixo Guarita - Casarão, mais especificamente na borda atendida pela estrada do Tatu-Gamela e a Pedra da Contenda - Varginha - Vale do Levi. Estas por sua vez, coincidem com as áreas cuja vegetação se compunha basicamente de pastagens degradadas e possuíam maior potencial para caminhadas com grandes mirantes e em espaços abertos conforme fotografia 06: Pedra da Contenda

Maciço do Tinguá (ao fundo) Varginha ( a “cratera” do Vulcão de Nova Iguaçu)

Fotografia 06: Panorâmica da Varginha (a “cratera” do vulcão de Nova Iguaçu-RJ) Foto de Flávio A. P. Mello. 02/06/2008

Cabe destacar que o Vale do Mata-fome, com a trilha do mesmo nome, é uma importante ligação da Estrada da Cachoeira com a Estrada do Tatu-Gamela. Esta trilhas esta localizada a aproximadamente 100 metros do Mirante do Alto, mas é um tanto ignorada pela administração, tanto para as visitas guiadas, quanto para ações de fiscalização. Na figura 09, é demonstrado às áreas supracitadas e a fragmentação induzida pela Estrada da Cachoeira.

126

Legenda Zona preferencial para “Trekkers” 01

Complexo do Vulcão: Pedra da Contenda Varginha - Vale do Levi

02

Acesso è Rampa de Vôo Livre: Estrada do Tatu-Gamela

03

Vale do Mata-Fome

01

02

03

“Cunha” da Estrada da Cachoeira Legenda do Mapa base Zona de Uso Especial Zona de Uso intensivo Zona de Recuperação Zona de Uso extensivo Zona primitiva Zona Intangível

Figura 09: Zoneamento territorial-ambiental destacando a fragmentação induzida pela zona de uso extensivo (como uma “Cunha”) que se projeta na zona primitiva e áreas com potencial para uso de trekkers Fonte: Zoneamento Territorial e Ambiental do Parque – Mapa Nº HAB-NIG-D10/98. Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu – Vs Resumida – SEMUAM, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo 2001 p. 67. Adaptação de Flávio A. P. Mello, 2008.

127

Assim sendo, foi iniciado o reconhecimento em campo das trilhas mais utilizadas e a identificação de outras entradas e pontos de interesse, utilizando aparelhos de GPS (Global Positioning System – Sistema de Posicionamento Global) de navegação manual das marcas Garmin (modelos 12 XL e GPSmap 76S). Devido à geografia local e a cobertura vegetal ser menos densa na maior parte das trilhas encontradas nas áreas de uso especial, intensivo e extensivo, não foram observadas limitações como perda de sinal provocada por obstáculos naturais (afloramento rochoso, copas das árvores na área de floresta), principalmente por terem sido escolhidos dias com poucas nuvens e não existirem edificações, torres de eletricidade, por exemplo, que poderiam comprometer a recepção dos sinais de modo mais significativo.

De modo geral, a degradação considerável do sinal provocado pelo EPE (erro de efeméride) oscilou entre 3 m a 10 m de erro, o que de certa forma não dificultou o mapeamento mais detalhado, na carta topográfica (1:10.000). Para otimizar a eficiência da ferramenta de GPS com a cartografia digital a ser trabalhada em Sistema de Informação Geográfica, foi realizada a superposição da base gerada com imagens do Google Earth. Para a seleção da melhor opção de traçado, considerou-se o estado de conservação dos caminhos quanto a erosão e declividade, incluindo a possibilidade de se chegar à Pedreira Vigné, da qual se avista a cidade de Nova Iguaçu, oferecendo um belo contraste entre três aspectos da ocupação: a unidade de conservação representada pelo PNMNI, a Pedreira Vigné, denotando a exploração econômica do recurso natural e as transformações na paisagem pela ocupação urbana. No Vale do Levi, entretanto, a porção da Trilha da Varginha, que se estende da Pedreira desativada São José até a Praça do Boi, início da Varginha propriamente dita, dois aspectos condicionantes interferiam na definição traçado: · O seu terço final, praticamente se localiza as margens de um riacho temporário e muitas vezes segue por seu curso. Próximo a seu final cruza uma nascente, com pouco volume de água. Assim, considerando a legislação ambiental vigente acerca dos cursos d’água e nascentes, optou-se por deslocar o traçado para as encostas, mantendo-se o caminho original como uma trilha de serviço.

128

· Para a elaboração do novo traçado, a seleção do caminho mais adequado deveria ser observada entre uma rede de caminhos que cruzam a encosta. Para tanto se observou como critério de seleção, a constatação de eventos erosivos e a declividade de percurso,(sendo considerados aceitáveis o gradiente entre 0° e 15°.

A multiplicidade de caminhos encontrados são acessos construídos pelo pisoteio de bovinos em seu deslocamento a procura de pastagens, sendo que alguns são utilizados rotineiramente por usuários do Parque. Cabe frisar que embora o PNMNI tenha sua situação fundiária resolvida, o mesmo não possui fiscalização mais intensiva para coibir o transito destes animais e também não possui eco-limites implantados (como cercas) o que facilita a invasão de animais de propriedades próximas e queimadas, embora muitas sejam causadas por balões. Entretanto, na ocasião do levantamento das trilhas, houve um grande incêndio nas áreas de Vale do Levi e da Varginha, que expôs os caminhos acima mencionados, facilitando de certa forma a visualização dos traçados que deveriam ser selecionados.

Para a seleção do caminho mais adequado ao uso como trilha turística, foram estabelecidos alguns critérios para a seleção do mesmo e depois ser procedido o registro com o uso do GPS. Na avaliação visual, foi identificado que muitas das “trilhas” dos bois coalescem em trilhas mais regulares, que por sua vez tendem a manter por grandes extensões, gradientes em torno de 5 a 15% (positivas e negativas). Na prática, os bois, diferentemente de muitos usuários de unidades de conservação, não gostam de atalhos e tendem a obedecer as curvas de nível em seu deslocamento. Muitos caminhos, de fato, se entrecruzam e muitas vezes terminam abruptamente. Assim, optou-se então pela seleção prévia de pontos de referencia chaves e em seguida a avaliação das melhores opções de caminhos, buscando identificar os segmentos que fossem mais regulares, mantivessem em sua extensão declividades não superior a 15% e ainda, que fosse possível interligá-los sem grandes obras de construção ou manutenção.

Com estes parâmetros, no levantamento de campo foram selecionados dois caminhos, que facilmente se confundiam nas vertentes analisadas e dificultava a aproximação ao ponto de referência estabelecido no mirante localizado próximo a

129

quatro mangueiras antigas e dispostas em linha, ao lado de afloramento rochoso sobre o qual se localizava a casa do antigo morador de nome Levi, do qual se estabeleceu a toponímia para este vale sem identificação no plano de manejo ou em consultas com alguns moradores antigos. Para facilitar a visualização dos traçados escolhidos, foram confeccionadas bandeirolas, presas a varas de bambu (1,5 m), feitas de saco de ração canina com aproximadamente 0,40 cm de comprimento e colocadas na trilha para análise visual desde o ponto de início ao ponto final (com eqüidistância média de 50 a 75 metros), conforme pode ser observada nas fotografias 07 e 08:

Fotografia 07: Detalhe da bandeira

Fotografia 08: Marcação da Trilha com visualização das bandeiras

Localização e seleção de trilhas com sinalização alternativa Flávio A. P. Mello (2007). Local: Vale do Levi / PNMNI.

Havia sido cogitado a possibilidade de antecipar o registro definitivo com o GPS, identificando o melhor traçado a partir das curvas de nível; entretanto se observou que as duas “trilhas” percorriam uma encosta com inclinação média de 35 a 50° e o EPE (erro de efeméride) oscilou entre 3 m a 10 m de erro, conforme referido; margem de erro suficiente para comprometer o traçado feito em gabinete, daí a aplicação do método de sinalização alternativa em campo. Como avaliação complementar, observou-se a sinalização a partir da vertente oposta, assim foi possível identificar o melhor traçado visualmente a partir da sinalização estabelecida.

Salienta-se que além dos critérios de uso histórico, acessibilidade e presença de atrativos já consolidados ou potenciais; o levantamento dos traçados para a seleção das trilhas foi dirigido de modo a possibilitar a criação de pelo menos uma trilha de grande percurso, face o público a ser beneficiado, a se denominar Circular Externa, conforme proposta estabelecida no Parque Nacional da Tijuca durante a

130

gestão de Pedro da Cunha e Menezes, Diretor-Executivo do Parque Nacional da Tijuca (1999 – 2000). Para a estruturação da “Grande Trilha Circular do Parque Nacional da Tijuca” foram utilizadas trilhas e picadas existentes, com as quais se compôs duas trilhas circulares concêntricas: a externa, “Major Archer” (com cerca de 35 km) e a interna, “Castro Maya” (com cerca de 15 km); esta última a uma altitude inferior à primeira e desenhada de modo a incorporar em seu traçado grutas, prédios históricos, ruínas e restaurantes.

3.3.2 Identificação de atrativos

Para o presente trabalho, a identificação dos atrativos se baseou no registro de atrativos já consolidados, a exceção de proposições de mirantes que foram sugeridos a partir de observações de campo durante o levantamento da malha de trilhas. Destaca-se que principalmente no eixo do Rio Dona Eugênia, a exceção do Poço do Escorrega, das Cobras e do Casarão, as toponímias atualmente existentes para os poços foram criadas por funcionários de administrações anteriores ou alteraram nomes existentes, como é o caso do Poço da Morte que passou a se chamar de Poço da natureza e aproximadamente quatro anos para cá.

3.3.3 Zoneamento Recreativo.

Identificadas e selecionadas as principais trilhas a ser trabalhadas, procurouse estabelecer regiões geográficas, nas quais fossem diagnosticadas atividades instaladas ou potenciais. Em termos de gestão, o tratamento diferenciado para regiões com aptidões diferenciadas pode definir o sucesso da gestão, dos investimentos e conservação do patrimônio natural e construído. Lugares com identidades bem definidas tendem a atrair perfis específicos de visitantes.

Deve-se salientar que dentre as observações da administração, o sobreuso de alguns atrativos (notadamente os poços e cachoeiras até o Casarão) por grande parte dos usuários deve-se a pouca oferta de locais e atividades diferenciadas. Considerou-se para tanto, o Zoneamento Territorial e ambiental do PNMNI como

131

base para o estabelecimento de zoneamento turístico, de modo a procurar atender as demandas da Unidade. Para fins operacionais, procurou-se identificar estas zonas como subsistemas, de acordo com os parâmetros de Campbell (1958), referidos por Christofoletti (1979): como a proximidade espacial, a similaridade, objetivos comuns e padronagem distinta ou reconhecível de suas unidades. Neste sentido, para avaliar cada zona como um subsistema, foram utilizadas as feições geomorfológicas dos vales como unidades de identificação e caracterizadas através da metodologia ROS, cujos objetivos são: · Identificar, delinear e classificar as áreas em classes de oportunidade de recreação, de acordo com seu estado de natureza, grau de isolamento e experiência de visitação esperada; · Prover informações sobre as oportunidades de recreação existentes para administradores, de modo a auxiliá-los nas tomadas de decisão referentes ao uso da terra, desenvolvimento dos recursos e ações de manejo.

O ROS caracteriza as oportunidades de recreação como a combinação de ambientes e experiências prováveis, categorizando-as em seis classes, definidas por critérios como grau de modificação do meio, acessibilidade, oportunidades de interação social e controles administrativos. Salienta-se que esta classificação é hipotética, amplamente subjetiva, mas que estabelece padrões explícitos para cada uma delas. Estas categorias são classificadas em Área primitiva, Semi-primitiva não motorizada, Semi-primitiva motorizada, Natural com vias de transporte, Rural e Urbana. Esquematicamente pode-se caracterizar como a figura 10:

Figura 10 Oportunidades recreativas a partir da modificação do meio. Fonte: Mello, 2007. In Palestra: Capacidade de carga aplicada ao Ecoturismo. I Ciclo de Palestras sobre ecoturismo e Conservação da Natureza. Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro (Abr/ 2007).

132

O Quadro 07 a seguir descreve as características de cada classe recreativa, de acordo com a metodologia ROS:

Quadro 07: ROS – Classes de Oportunidades Recreativas segundo o ROS Fonte. Graefe et al. apud Hauff, 2000. Adaptação de Flávio A. P. Mello, 2008.

133

4.0 RESULTADOS E CONTRIBUIÇÕES

Visando atender os objetivos definidos, vários resultados foram obtidos, sendo que alguns foram imediatamente absorvidos pela administração da Unidade. De fato, considerando trabalhos acadêmicos realizados que foram relacionados como projetos de pesquisas, dissertações, artigos técnicos e outros, o ineditismo desta abordagem, focado em uma necessidade real e imediata da gestão, somado ao estreitamento dos contatos com a administração e funcionários, possibilitou a criação de várias oportunidades para se testar hipóteses e consolidar estratégias de gestão, muitas previstas mas não operadas. Desta forma, foram gerados 4 grupos de produtos, alguns já aplicados, conforme referido anteriormente, e outros que poderão ser utilizados pela administração do PNMNI futuramente, que estão resumidos no quadro 08: Área

Descrição

Visitantes

Perfil do visitante Padrão de dispersão

Ordenamento da malha de trilhas

Trilhas e atrativos selecionados Roteiros sugeridos Valoração econômica dos serviços de condução

Zoneamento

Alteração do zoneamento territorial ambiental Zoneamento de oportunidades de lazer Ordenamento das ambiências da Zona de uso intensivo (até o Casarão)

Apoio à Gestão

Site Voluntariado

Operação

Aplicação Imediata

Subsídio

Projetos Mutirões

Temporada de Verão Temporada de Inverno (de montanhismo) Pesquisa permanente de perfil e dispersão Observações: A coluna Aplicação diz respeito ao grau de interação com a administração do parque, onde “em operação” relaciona os produtos e sugestões já em andamento; “imediata”, item disponível para aplicação e “subsídio” refere informação que pode auxiliar na compreensão do assunto em questão. O subitem “Gestão” relaciona duas condições: “imediata” onde a UC pode aplicar já ao tomar conhecimento mais detalhado. A condição “subsídio” alerta que a informação deve ser utilizada para estudos complementares ou aprofundamentos da temática. Quadro 08: Produtos gerados na dissertação Flávio A P Mello 2008

A seguir são descritas os produtos e as principais proposições desta dissertação

134

4.1 Caracterização e reavaliação das vias de visitação do PNMNI

Entende-se que o Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu é uma unidade eminentemente urbana, com 45% de sua área (aproximadamente 462,9 hectares) aberta à visitação. Destaca-se que aproximadamente 47,6 hectares (4,7%) é dedicada à visitação intensiva e 394,1 ha (38,3% de sua área total) aberta à visitação extensiva, conforme discriminado no quadro 09:

Discriminação

Área (ha)

%

Observações gerais

59,5

-

total:

59,5

-

Faixa de entrada do Parque, envolve a Represa Epaminondas Ramos, Pedreira São José e área ao longo do Córrego da represa até a cota 530 m. Complementa a área de uso intensivo, embora não faça da área oficial do Parque

Zona de Uso Especial

05,7

0,7

Zona de Uso Intensivo

41,9

4,0

sub-total:

47,6

4,7

Zona de Uso Extensivo

394,1

38,3

Zona de Recuperação

21,2

2,0

Áreas degradadas com solos expostos localizadas nas zonas de uso Intensivo e Extensivo. Oriundas de antigos sítios antes da formação do PNMNI

Total de área aberta à visitação*:

522,4

48,0

Inclui área de relevante interesse para manejo da unidade

Zona Primitiva

384,1

37,3

Zona Intangível

182,8

17,7

566,9

52,0

Zona de relevante interesse para manejo da UC

Total de área de visitação controlada Área total da unidade:

Faixa ao longo do Rio Dona Eugênia, a partir da Represa Epaminondas Ramos até a Sede. Compreende áreas ao longo do Rio Dona Eugênia, a partir da Sede até arredores do Casarão.

Envolve as áreas mais antropisadas, principalmente com capoeiras e pastagens degradadas. Estendese do Casarão ao Clube Dom Felipe e ocupa os vales do Levi e Varginha.

Área com alto grau de conservação, envolve a Zona Intangível. A área de uso extensivo se projeta fortemente fragmentando esta massa florestal em duas partes. Matas preservadas de cotas mais elevadas. É um núcleo envolvido pela Zona primitiva

1.089,3 ha

Quadro 09: Quadro analítico de áreas abertas à visitação no Zoneamento territorial e ambiental do PNMNI Fonte: Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu – Versão Resumida – SEMUAM, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo 2001:77. Adaptação de Flávio A. P. Mello, 2008.

Dado o pouco desenvolvimento da Zona de Uso Extensivo, principalmente no que tange as atividades de caminhadas e ecoturismo - apesar do potencial paisagístico ser bastante expressivo – foi possível constatar que o PNMNI possui

135

uma área extremamente significativa para o desenvolvimento destas atividades, pois são 522,4 hectares disponíveis para visitação em áreas de relevo acidentado, com vários riachos, matacões e inúmeras possibilidades de lugares e mirantes.

Cabe observar que embora o plano de manejo conte com o zoneamento territorial-ambiental, foi constatado, através de entrevistas e depoimentos coletados junto à administração da UC, que a maioria dos programas de manejo para a implantação e operação do PNMNI ainda se encontram em fase muito preliminar e alguns não foram sequer iniciados. Dentre eles, destaca-se o “Programa de Uso Público do Parque” que afeta diretamente a gestão da visitação, através dos subprogramas de Ecoturismo, Interpretação e Informação Ambiental e de Recreação e Lazer. Nos quadros 10, 11, 12 são relacionadas as principais atividades previstas para cada subprograma referido e comentários atualizados durante o levantamento de dados para este trabalho:

Atividades previstas ·

Mapeamento de atrativos ao longo da estrada da cachoeira até as Ruínas do Clube de Campo Dom Felipe

·

Estabelecer de caminhadas guiadas até as Ruínas do Clube de Campo Dom Felipe

Comentários Não há conhecimento de levantamento formal dos atrativos. O estudo mais próximo ficou restrito da Guarita ao Casarão (Diagnóstico Geral do Geoparque Municipal de Nova Iguaçu. Elaborado pela Equipe do LAB LET – Laboratório de Lazer e Espaços Turísticos. PROARQ – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal do Rio de Janeiro. P 07 - Setembro /outubro de 2004).

Quadro 10: Programa de Uso Público do Parque - Subprograma Ecoturismo Fonte: Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu – Versão Resumida – SEMUAM, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo 2001:74. Adaptação de Flávio A. P. Mello, 2008.

Atividades previstas

Comentários

Implantação do Centro de Visitantes com várias atividades previstas como: · Exposições permanentes e temporárias, · Serviços de visitas guiadas, · Projetos interpretativos, · Construção de quiosques para atendimento complementar ao visitante.

Em fase de Licitação. Implantação prevista para 2009. Verba oriunda de projeto encaminhado ao Fundo Estadual do Meio Ambiente

Quadro 11: Programa de Uso Público do Parque - Subprograma Interpretação e Informação Ambiental Fonte: Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu – Versão Resumida – SEMUAM, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo 2001: 72-74. Adaptação de Flávio A. P. Mello, 2008.

.

136

Atividades previstas

Comentários

Implantação de sistema de cobrança

Não implantado

Implantação e controle do nº de visitantes em três áreas de piquenique

Implantada apenas a área perto da Ponte da Curva que se encontra desativada.

Padronizar pontos de venda para lanches e produtos essenciais na zona de uso intensivo

Não implantados. Atualmente funciona informalmente um pequeno quiosque não padronizado nos dias de maior afluxo de visitantes.

Pedreira Desativada São José · Estabelecer 04 vias de rapel · Palco para shows e eventos

A Pedreira havia sido concebida também como possível área de estacionamento, contudo as administrações optaram por não sacrificar o local e consolidá-lo como espaço multiuso, dado a facilidade de acesso e deficiência de espaços amplos para eventos no Parque. Foi construído um pequeno palco e a capoeira que se estabeleceu marginalmente aos pés dos paredões da Pedreira compuseram uma paisagem que vêm sendo utilizada para práticas de Educação Ambiental, Observação de Aves, área de lazer, área de eventos oficiais da Unidade. Foram abertas informalmente duas vias de rapel, mas a principal foi fechada por problemas erosivos.

Trilhas interpretativas · Identificação e implantação de duas trilhas autoguiadas na zona de uso intensivo

O DRM, através do Projeto Caminhos Geológicos implantou uma trilha interpretativa sinalizando 6 pontos com atrativos geológicos. Algumas placas foram retiradas e os guias, tanto do parque, quanto informais, não utilizam os atrativos e informações da sinalização Foi implantada a trilha do Pau Pereira, para visitas guiadas e autoguiadas, mas não possuem detalhamento interpretativo. A trilha da Pedra da Contenda, como concebida, não foi implantada. A trilha da Contenda contemplada neste trabalho refere-se à trilha já consolidada historicamente pela comunidade local (trilha do Quilombo). A trilha do Pau da Letra, pela distância e localização (próximo a zona primitiva) não tem sido usada pela administração que desconhece formalmente sua situação. Possui a mesma situação da trilha do Pau da Letra, porém deve ser reavaliada devido à criação da APA de Mesquita e Parque Natural Municipal de Nilópolis, cuja prefeitura conseguiu uma concessão do Ministério do Exército.

Trilhas para passeios guiados (Identificação e implantação de duas trilhas guiadas e interpretadas na zona de uso intensivo) Indicações: · Trilha da Pedra da Contenda · Trilha do Pau da Letra

Proibição do acesso à trilha do Gericinó (acessa o campo de treinamento do Ministério do Exército) Construção do Mirante para o Vale do Rio Dona Eugênia e Cachoeira Véu da Noiva

Foram construídos 03 mirantes, um na Estr. da Cachoeira pouco antes do Poço da Natureza (estrutura de apoio em madeira foi retirada), um na trilha do Pau Pereira (estrutura de apoio em madeira/bambu foi retirada) e outro, pequeno, em uma ramificação com vista para a cachoeira Véu da Noiva, ainda operacional.

Cursos para capacitação de Guias locais e reciclagens regulares

Não implantados. Visitas guiadas do parque são exercidas por 02 funcionários e por guias informais.

Casarão: Visitantes

O Casarão será reformado como centro de visitantes a partir de 2009 graças à verba do Fundo Estadual de Meio Ambiente. Estão previstos além da reforma do Casarão, reforma da sede, melhorias na Estrada da Cachoeira no trecho Guarita – Casarão, incluindo reformas nas pontes da Curva e Casarão e áreas de apoio ao usuário próximo ao complexo Poço das Cobras-Casarão.

Implantar

Centro

de

Quadro 12: Programa de Uso Público do Parque - Subprograma Recreação e Lazer Fonte: Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu – Versão Resumida – SEMUAM, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo 2001: 70-72. Adaptação de Flávio A. P. Mello, 2008.

137

Na avaliação dos quadros 10, 11 e 12, observa-se que o planejamento da visitação foi concentrado na Estrada da Cachoeira, devido à acessibilidade e concentração dos atrativos mais importantes, atendendo ao perfil de visitação intensiva, cuja motivação principal é o lazer nos poços do rio Dona Eugênia e caminhadas curtas ao longo da Estrada da Cachoeira até o Casarão, sendo que algumas são atividades matinais de caminhada e corrida pela população de bairros próximos de Mesquita e Nova Iguaçu, ocorrência que já era percebido já na época de sua criação. É importante destacar que desde a criação do Parque (ano 1998), a referência ao “Vulcão de Nova Iguaçu” já era reconhecida pela mídia e população local como um importante atrativo. Tendo sido usado regularmente tanto por guias informais, quanto pelo próprio poder público como um chamariz para atividades “turísticas”.

Não se observou registro, ou mesmo uma estruturação preliminar no plano de manejo vigente, para o desenvolvimento de atividades que envolvam caminhadas mais longas e o aproveitamento de aspectos cênicos mais relevantes. Estes atrativos estão mais concentrados na região da Varginha (área da suposta cratera do “vulcão” de Nova Iguaçu), Pedra da Contenda e as paisagens do Vale do Levi, assim como a Rampa de Vôo Livre, que embora tenha seu acesso principal através da estrada do Tatu-Gamela, fora dos PNMNI, está localizada na unidade, tendo sido consolidada como atrativo para trekkers, além de sua importância como rampa de vôo livre. Destaca-se que a administração não possui controle mais efetivo do uso da Rampa quanto ao seu uso e acesso.

De fato, as trilhas privilegiadas no referido plano de manejo se concentram no interior do Parque, a uma distância de aproximadamente 4,5 km da guarita, próximo das áreas mais preservadas do Maciço do Gericinó-Mendanha. Uma das justificativas para esta atenção se deve as trilhas do Gericinó e Mendanha, que poderiam sugerir travessias para o Campo de Treinamento do Gericinó e para o Parque Natural Municipal do Mendanha, respectivamente. Como exceção, foi construída a trilha do Pau Pereira, localizada na Zona de Uso Intensivo, com aproximadamente 600 metros e que descreve um arco entre o Casarão e uma entrada logo após a Ponte da Curva. Contudo, mesmo com a ausência de estruturação da Zona de Uso Extensivo, a popularização do ecoturismo e das

138

atividades ao ar livre e a constante exposição do PNMNI na mídia, estimularam o crescimento da demanda e apropriação informal de lugares pelos novos visitantes, em áreas sem planejamento previsto no plano de manejo vigente, um tanto à revelia da administração da UC.

Sem a devida incorporação administrativa destes novos territórios por parte do PNMNI, a sub-utilização gerou alguns impactos, conforme pode ser constatado nos levantamentos de campo, como por exemplo, o comprometimento de flora, a erosão de encostas por prática de rapel na Pedra do Quilombo (da Contenda) e na Pedreira desativada e a deterioração de trilhas, como as trilhas da Pedreira e Matafome, Levi e Varginha (fotografias 09 e 10). Salienta-se ainda a existência da caça de pássaros na área da Varginha e partes altas do PNMNI e a presença de gado (Varginha e Vale do Levi), oriundos de algumas poucas e pequenas propriedades do entorno, os quais contribuem para a manutenção de um ciclo de queimadas para renovação de pastagens dentro da unidade.

Fotografia 09: Erosão e queimadas no Vale do Levi Flávio A. P. Mello. 09/2007

Fotografia 10: Lixo na Trilha da Varginha Flávio A. P. Mello.09/2007

4.2 Caracterização do perfil do visitante e seu padrão de dispersão.

É de senso comum, entre os funcionários da administração do PNMNI, que a grande maioria dos visitantes e usuários utiliza a unidade basicamente para lazer através de banhos nos poços do Rio Dona Eugênia, cuja sazonalidade encontra seu pico no verão e em feriados de dias quentes. Sabe-se que as atividades de caminhadas propriamente ditas, tendem a se concentrar na Estrada da Cachoeira, entre a Guarita e o Casarão, havendo também uma menor movimentação até o

139

atalho que dá acesso à cachoeira Véu da Noiva em sua porção superior (a “Janela do Céu’) e poço da Natureza, a aproximadamente 800 metros após Casarão.

Já a utilização das trilhas para caminhadas e ecoturismo é inexpressiva, conforme relatos e observações realizadas durante a coleta de dados nesta unidade de conservação. Embora haja guias informais - os quais de modo geral não são habilitados legalmente, estes tendem a ter como atividades de maior atenção o rapel desenvolvido na Pedra do Quilombo (ou Contenda) e Pedreira desativada São José como “proposta de turismo de aventura”. Outras características locais que de fato podem abrir mais possibilidades de mercado, tanto em termos de produtos quanto de consumidores, não são exploradas.

Desta maneira, o conhecimento do perfil médio do visitante e seu padrão de dispersão é uma condição essencial para a gestão de unidades de conservação abertas ao público, pois permite antever através do padrão comportamental frente ao uso dos recursos naturais, apontar tendências de territorializações. A discriminação de classes de usuários com maior detalhamento, contudo, permite ajustes com mais eficiência e em algumas situações pode ser prevista a formação de lugares, conforme aumenta o fluxo de visitantes.

Entretanto, é comum, na ausência de recursos humanos e materiais, que o gestor opte por concentrar o maior volume de visitantes em áreas já consolidadas e de fácil acesso por uma questão operacional. Neste sentido, a UC estimula a massificação de parte de seu patrimônio de lazer e ecoturístico, por conseqüência e não por opção; mesmo ciente de que o excesso de visitantes, em áreas restritas, diminui a qualidade da experiência do visitante, pressiona o patrimônio natural (e construído) e faz com que se altere o perfil sócio-econômico do usuário menos exigente, condição esta que acaba por desqualificar a unidade em algumas situações.

No caso do PNMNI, sendo uma unidade relativamente nova e por não ter concluído diversos aspectos do plano de manejo, a massificação do eixo dos poços da Estrada da Cachoeira entre a Represa e o Casarão, acabou sendo estimulada indiretamente pela falta de investimentos, visto que ao se analisar o entorno, o

140

PNMNI se configura como uma das poucas opções de lazer gratuito de comunidades locais, principalmente as carentes, cuja motivação foi fixada pela proximidade e ausência de ofertas alternativas.

O objeto de estudo deste trabalho são as trilhas e como elas podem colaborar para o estabelecimento de um novo zoneamento de lazer e turístico, de modo a interferir em diversos aspectos da visitação, como sazonalidade, motivação e alteração do perfil médio do visitante. Neste sentido as observações de campo caracterizaram, em um primeiro momento, os subgrupos atuantes no PNMNI nos aspectos referidos. Contudo, através da realização de questionários, se buscou confirmar estas observações e informações complementares.

Segundo dados cedidos pelo PNMNI, nas duas temporadas (de Verão – dezembro de 2007 a fevereiro de 2008 e de Inverno – maio a julho de 2008) o Parque recebeu aproximadamente 18.393 visitantes, com 12.563 no verão e 5.830 no inverno aproximadamente. Deste volume, foi definida uma massa amostral de 1%. Deste trabalho, embora nem todas as suas correlações tenham sido exploradas, pode-se destacar os resultados onde foram caracterizados 05 grupos distintos de visitantes quanto à ocupação do espaço e sazonalidade.

Salienta-se que o público identificado nas trilhas consiste basicamente de jovens, universitários e adultos, principalmente de Nova Iguaçu, os quais foram mais comumente encontrados nos trabalhos de levantamento a campo desta dissertação. Esta configuração deve orientar a unidade a identificar outras estratégias para a divulgação das trilhas, visando à adesão de novos usuários e também aqueles regulares, mas que por falta de motivação ou curiosidade, se mantém com as mesmas atividades e roteiros. Cabe então, não só por parte da administração, mas também de potenciais operadores de ecoturismo e lazer, assim como guias formais e informais, a divulgação e implementação de produtos diferenciados, como por exemplo, observação de aves e safáris fotográficos, entre outros.

No quadro 13 são discriminados os grupos de Visitantes, motivação, espaço e sazonalidade, encontrados:

141

Grupo

Motivação

Local de concentração

Jovens, universitários e adultos, principalmente de Nova Iguaçu

Lazer e ecoturismo: cons. de paisagens dos mirantes e práticas desportivas: rapel e escalada

“Vulcão” de Nova Iguaçu, e Pedra da Contenda. Caminhadas à rampa de Vôo Livre

Famílias e adolescentes do entorno, moradores de Mesquita e Nova Iguaçu

Lazer: banhistas e caminhada/passeio

Vários poços, pequenas cachoeiras e represamentos do rio Dona Eugênia

Principalmente adultos do Rio de Janeiro

Prática desportiva: Vôo Livre

Rampa de Vôo Livre, cujo acesso se dá pela estrada do Tatu-Gamela.

Instituições de Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu (Educadores dos 3 níveis)

Diferentes atividades de complementação pedagógica (interpretação e EA).

Eixo da Estrada da Cachoeira até o Casarão. Algumas atividades até o Clube Dom Felipe

UERJ, UFRRJ, UFRuRJ, ESTÁCIO, UNIG...

Pesquisadores e acadêmicos com produção de trabalhos escolares, monografias, dissertações, etc.

Represa Epaminondas Ramos, Eixo da Estrada da Cachoeira até o Casarão, e algumas atividades até o Clube Dom Felipe

Pr/Ver (T° >)

Out/Inv (T° <)

Pr./Ver. (T° >): Primavera / Verão (Temperaturas maiores) Out./Inv. (T° <): Outubro /Inverno (Temperaturas menores) Quadro 13: Visitantes, motivação, espaço e sazonalidade Fonte. Mello, Flávio A. P. 2007

Foram procedidas ainda as análises dos dados obtidos a partir da aplicação dos questionários de Pesquisa de Fluxo e Padrão de Dispersão de Visitantes e de Pesquisa de Valoração econômica dos serviços de condução de visitantes:

a) Composição por faixa etária nas duas temporadas: Na análise do Gráfico 01 (Visitantes por faixa etária – Temporada de Verão), pode ser observado que as faixas 01 e 02 (Menores de 14 anos e de 15 a 24 anos), representam 51% da amostragem, significando visitantes com mais energia para se deslocar, expor-se ao perigo e pressionar a fiscalização. Quando somados a faixa seguinte (25-34), têm-se 70% de ocupação com público eminentemente jovem. No outro extremo, as faixas 05 e 06, referentes a maiores de 45 anos totalizam 14% do total. Isto pode significar, entre outros, que o PNMNI possui poucos atrativos para estas faixas de idade e que a qualidade do acesso ao parque pode estar interferindo de fato, visto que a

142

maioria

que

visita

a

unidade

caminha

aproximadamente

três

quilômetros do início da Estrada da Cachoeira até a Guarita.

Gráfico 01: Visitantes por faixa etária – Temporada de Verão * N/%: Entrevistados / percentagem na amostra

Já na temporada de inverno (gráfico 02) constata-se que todas as faixas diminuem sua participação em aproximadamente 25%, contudo a faixa 03 (usuários de 25-34 anos) - embora tenha sua participação ainda menor que a faixa precedente 02 (15-24 anos), possui um aumento específico de aproximadamente 30% na temporada de verão. Uma das possibilidades é que esta faixa de visitante efetue caminhadas como prática saudável, mais propícia de ser realizada nas estações mais frias. Inclui-se também o desfrute da paisagem. É possível considerar ainda as férias escolares neste contexto.

Gráfico 02: Visitantes por faixa etária – Temporada de Inverno * N/%: Entrevistados / percentagem na amostra

143

O público jovem, percentualmente, registra também um pequeno aumento, cabendo destacar, entretanto, que o perfil do jovem da temporada de verão, por observações de campo, são na sua maioria jovens moradores do entorno, de camadas sociais mais carentes. Muitos dos jovens identificados na temporada de inverno são em sua maioria universitários, atraídos pelo uso de trilhas e práticas de rapel. b) Motivação, por faixa etária, nas duas temporadas: Nos gráficos 03 e 04, buscou-se identificar as principais motivações de visita ao PNMNI, de acordo com a faixa etária. Cabe salientar que nas avaliações, a motivação por banho se destacam como principal opção das classes mais jovens, mas aparecem com maior visibilidade as caminhadas e os batismos de igrejas evangélicas que utilizam principalmente o Poço do Escorrega, próximo à sede, devido ao maior volume de água e espaço mais amplo para as atividades. Ressalta-se que no Parque não são permitidas oferendas.

Prat. Acadêmicas

6 (> 60)

Cer. Religiosas Trilhas

05 (45-60)

Caminhada 04 (35-44)

Banho

03 (25-34) 02 (15-24) 01 (<14) 0

2

4

6

8

10

12

Gráfico 03: Motivação por faixa etária – Temporada de Verão

Na temporada de inverno, embora o banho de cachoeira continue como o principal atrativo, observa-se um expressivo crescimento do volume de caminhadas na Estrada da Cachoeira e uso das trilhas. As visitas de diferentes instituições de ensino para práticas acadêmicas (aulas práticas, visitas de campo...) e são mais evidentes, devido à menor incidência de chuvas.

144

Prat. Acadêmicas

6 (> 60)

Cer. Religiosas Trilhas

05 (45-60)

Caminhada 04 (35-44)

Banho

03 (25-34) 02 (15-24) 01 (<14) 0

2

4

6

8

10

12

Gráfico 04: Motivação por faixa etária – Temporada de Inverno

Portanto o perfil médio atual do usuário do PNMNI é composto por indivíduos jovens, usuários de modo geral dos poços para lazer (banhos principalmente). Destacam-se, entretanto, dois grupos complementares: as famílias com motivação aos jovens e adultos que utilizam o Parque como extensão das caminhadas matutinas.

4.3 Zoneamento das oportunidades recreativas

O método ROS oferece uma estrutura sistemática de verificação da distribuição das oportunidades e indicações de procedimentos para possíveis ações gerenciais das condições que os administradores consideram possíveis de serem mantidas ou restauradas na área; atuando a partir de três perspectivas: a proteção do recurso; oportunidades para uso público e a habilidade (da organização) em lidar com as condições existentes.

Baseado nestes referências, foram identificadas seis áreas a ser classificadas nas zonas de Uso Intensivo, Extensivo e de Relevante Interesse do PNMNI, conforme previsto no Plano de Manejo do Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu. Observa-se, contudo, que esta análise do espectro de oportunidades recreativas é uma referência estabelecida face as condições atuais de visitação e infra-estruturas disponíveis, devendo ser regularmente estabelecida de modo a representar com

145

mais exatidão a realidade vivida. No quadro 14 é discriminado o zoneamento elaborado:

Zona / Localização

Via de referência

Principais atrativos

Principais aptidões

(a) Central:

Estrada da Cachoeira: da Guarita de Entrada até o Casarão

Represa Epaminondas Ramos; Pedreira São José;Poços do Rio Dona Eugênia, Casarão, Cachoeira Véu da Noiva e Trilha do Pau Pereira

Caminhadas leves, banhos de Rio e cachoeira, pic-nics, rapel e eventos na Pedreira, atividades educativas e acadêmicas, observação de fauna

05

Trilha da Varginha e Trilha da Contenda

Mirante do Levi, Praça do Boi, Mirante da Varginha (próximo a Pedreira Vigné). Pedra da Contenda e mirantes

Caminhadas moderadas, rapel e boulder na Pedra da Contenda, atividades educativas e acadêmicas, obs.de fauna e paisagem

03

Estrada do Tatu-Gamela

Rampa de Vôo Livre, Visão Panorâmica de Nova Iguaçu

Caminhadas moderadas a pesada, observação de paisagem e práticas de Vôo Livre. Passeios de Gaiolas.

05

Estrada da Cachoeira: do Casarão até o Poço da Natureza e Trilha do Mata-Fome

Mirante do Alto (Estrada da Cachoeira); Janela do Céu do PNMNI (alto da Cachoeira Véu da Noiva); Trilha do Mata-Fome

Caminhadas leve a moderadas, atividades educativas e acadêmicas, observação de fauna e paisagem

04

Estrada da Cachoeira: do Poço da Natureza até as Ruínas do Clube Dom Felipe.

Ruínas do Clube Dom Felipe. Posto Quatro (P4): Casa de morador que deve ser reformada como Casa do Pesquisador.

Sob Autorização: Caminhadas moderada, porém longa, atividades educativas e acadêmicas, observação de fauna e paisagem

02

Trilhas do Gericinó, Mendanha e Pau da Letra

Não computados. Próximos a Zona Primitiva e Intangível.

Sob Autorização: Caminhadas moderada, atividades educativas e acadêmicas, observação de fauna e paisagem

01

Vale do Rio Dona Eugênia

(b) Complexo do Vulcão: Vale do Levi e Varginha (c) Rampa: Estrada do Tatu-Gamela (d) MataFome Vale do Rio Dona Eugênia - Vale do Mata-Fome (e) P4: Vale do Rio Dona Eugênia

(f) Pau da Letra: Vale do Rio Dona Eugênia

OBS: Para fins de gestão, as zonas recreativas sugeridas foram nomeadas de acordo com as referências comumente utilizadas pela Administração e funcionários.

R O S

ROS (Classe)

01

Baixa interação social e mínima evidência de usuários.

02

Baixa interação social, mas com evidência de usuários.

03

Baixa interação social, freqüentes evidências de usuários. Baixa e moderada interação social. Alterações dos recursos e práticas de utilização evidentes. Vistas e sons humanos evidentes e alta interação com usuários. Práticas para salientar atividades de recreação

04 05

Quadro 14: Descrição das Zonas propostas segundo o método ROS. Flávio A P Mello 2008:

146

Cabe ressaltar, que embora tenha potencial para estabelecer algumas diretrizes de gestão, sua eficiência exatidão é melhor aproveitada quando combinada com outras metodologias complementares de monitoramento de impactos e gestão participativa.

4.3.1 Reordenamento das ambiências nas zonas de Uso Especial, Intensivo e área de relevante interesse do PNMNI

As zonas de Uso Especial, Intensivo e área de relevante interesse do PNMNI, localizadas ao longo da estrada da Cachoeira no eixo entre a Represa Epaminondas Ramos e o Casarão, concentra a quase totalidade da visitação, devido a seu fácil acesso e por nele se localizar a principal área para banhos. Embora sejam muitos e variados os atrativos, não se percebeu por parte da administração um tratamento diferenciado e dirigido na gestão destes espaços.

Para tanto, foi sugerido para este espaço de lazer, o nome de “Circuito das águas”, como subsídio ao manejo diferenciado deste, e ainda, futuras propostas e iniciativas de turistificação. Extrapolando o diagnóstico31 das ambiências do Parque conduzidos pela Equipe do Laboratório de Lazer e Espaços Turísticos da UFRJ, buscou-se agrupar nove conjuntos de ambiências, agrupando as mais próximas entre si, como unidades de gestão, visando orientar a administração a tratar de maneira diferenciada lugares com identidades complementares e próximas. Desta forma,

estes

agrupamentos

de

ambiências

visam

caracterizar

lugares

e

territorialidades que possam receber tratamento e atenção diagnóstica diferenciada, como por exemplo, estudos individualizados de perfil de visitantes, estudos de capacidade

de

suporte

local,

estruturação

de

infra-estruturas

de

apoio

personalizadas, etc.

Salienta-se entretanto que:

31

Diagnóstico Geral do Geoparque Municipal de Nova Iguaçu. Equipe do LAB LET – Laboratório de Lazer e Espaços Turísticos. PROARQ – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal do Rio de Janeiro. p 07 - Setembro /outubro de 2004.

147

· A Entrada do Parque sofreu recente intervenção (08/2008), onde se estendeu

um

“jardim”

protegido

por

cerca

de

cordas

por

aproximadamente 6 metros, em ambos os lados; descaracterizando a entrada, retirando a área de manobra de veículos e ainda obrigando usuários de bicicletas a estacionarem longe da visão da guarita. · A Pedreira desativada São José, consolidada como espaço multi-uso pelas administrações, dada a inexistência de espaço mais amplo para eventos e mesmo área de recreação, não possui banheiros. Como alternativa para estacionamento, deve ser avaliado a possibilidade de se criar vagas ao longo da Estrada da Cachoeira, nos moldes, por exemplo, do Parque Nacional da Tijuca. · A trilha para o “Vulcão” a partir da Pedreira São José teve seu nome resgatado junto a antigos moradores como Trilha da Varginha. · O poço da sede não é aberto à visitação, assim como a Represa Epaminondas Ramos. · As áreas de piquenique não estão sendo utilizadas para tal devido à falta de manutenção dos equipamentos e acessos. · Os Mirantes do Véu da Noiva e do vale do Dona Eugênia, localizados na trilha do Pau-Pereira, assim como o Mirante do Alto, localizado na Estrada da Cachoeira, estão desativados e necessitando de reformas. · O roteiro até as ruínas do Clube Dom Felipe, distante e com os atrativos

pouco

caracterizados,

embora

tenha

sua

visitação

recomendada pelos guias do Parque, deve ter sua utilização revista. · Placas de informação e orientação foram recentemente instaladas havendo, contudo, restrições quanto às informações prestadas, visto que algumas não fazem sentido (por exemplo: “Zona de uso intensivo”).

Outro aspecto a ser considerar com esta proposta de zoneamento, é a facilitação das ações de fiscalização, assim como a orientação à dispersão dos visitantes, consolidando ao longo do tempo mais opções de uso em áreas atualmente pouco consideradas, tanto pelos usuários quanto pela administração.

148

No quadro 15 são ilustrados os diferentes grupamentos de ambiências. Bem como a relação dos atrativos que as compõem:

Mirante do Alto

Rio Dona Eugênia Estrada da Cachoeira Trilhas

Casarão

Pau Pereira

Poço das Cobras

Pic-nic 01

Sede

Antes da sede

Entrada

Pedreira

Quadro 15: Ambiências das Zonas de Uso Especial, Intensivo e área de relevante interesse do PNMNI Fonte: Diagnóstico Geral do Geoparque Municipal de Nova Iguaçu. Equipe do LAB LET – Laboratório de Lazer e Espaços Turísticos. PROARQ – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal do Rio de Janeiro. p 07 - Setembro /outubro de 2004. Adaptação de Flávio A. P. Mello, 2008.

149

4.3.2 Identificação dos principais atrativos do PNMNI

A identificação preliminar de atrativos é particularmente relevante devido a sua importância na construção ou manutenção de lugares que serão acessados por trilhas e, portanto, onde se inicia o reconhecimento dos possíveis fluxos de visitantes que podem se estabelecer de acordo com a qualidade e características destes atrativos.

A princípio pode-se considerar que as qualidades e limitações dos atrativos podem selecionar o perfil do visitante. Em parte esta premissa é verdadeira, mas deve-se considerar que no estabelecimento da infra-estrutura de apoio, desde a caracterização das trilhas às facilidades de acesso (degraus, corrimão, guardacorpos...) e adaptação estrutural dos atrativos, este perfil pode ser mudado ao se alterar as ambiências aos perfis de visitantes desejados. No quadro 16 relacionamse os principais atrativos percorridos através de trilhas e vias avaliadas.

Via

Atrativo

Estrada da Cachoeira

Represa Epaminondas Ramos Pedreira desativada São José Poço do Escorrega Caminho Geológico do PNMNI Poço das Cobras Casarão Poço do Casarão Cachoeira Véu da Noiva Mirante do Alto

Trilha do Pau Pereira

Janela do Céu do PNMNI Ruínas do Clube de Campo Dom Felipe Mirante do Pau Pereira

Observação Não é permitido banho, mas é um atrativo cênico e há práticas de rapel em sua parede externa. Além de sua função multiuso, possui uma pequena trilha que leva a um mirante na parte superior da Pedreira. Além de área de lazer, é utilizado também para batismos de comunidades evangélicas São seis placas explicativas de feições geológicas distribuídas entre a Pedreira São José e o Casarão. Atualmente desativadas. Segundo ponto de maior afluxo de banhistas. Há um quiosque informal atendendo visitantes em dias de maior fluxo. Em processo de captação de verbas para reforma como Centro de Visitantes Primeiro ponto de maior afluxo de banhistas. É um dos acessos a Cachoeira Véu da Noiva Queda d’água com 55 metros, é utilizada também para práticas de cascading (técnica de rapel em cachoeiras). A estrutura de madeira foi retirada; mas o local permanece com a função *Atalho que desce a cabeceira da Cachoeira: muito erodido, é recomendável que seja fechado Distantes 4,5 km da guarita, é utilizado em visitas guiadas pelo PNMNI, porém o roteiro é pobre. Pequeno mirante para até três pessoas. Avista-se a Cachoeira Véu da Noiva.

Quadro 16: Principais atrativos e vias de acesso no PNMNI Fonte. Mello, Flávio A. P., 2008.

150

.Quadro 16 (Continuação): Vias de acesso e principais Atrativos do PNMNI Trilha da Varginha

Espelho de falha

Mirante do Levi Praça do Boi Mirante da Vigné

Elemento indicativo de existência de uma falha geológica (uma quebra nas rochas através da qual se verifica que houve movimentos relativos, ou seja terremotos. Na área do PNMNI há falhamentos mapeados, e esse local é uma expressão de um deles. É um ponto de grande importância científica e didática, principalmente por estar aparente. Próximo a entrada da Trilha, ao lado da Pedreira desativada. *Localizado na derivação proposta neste trabalho, avista-se o vale do Levi e o vale do Rio Dona Eugênia *No divisor de águas entre o vale do Levi e Varginha, é inicio da Trilha da Contenda *Localizado em afloramento rochoso, na extremidade oposta a Praça do Boi. Avista-se a Pedreira e Nova Iguaçu.

Trilha da Pedra do Quilombo (Contenda)

Mirante da Varginha Mirante da Contenda Mirante da Preguiça

*Pequeno Mirante na Trilha da Contenda, próximo à elevação do mesmo nome. Visualiza-se a varginha como um todo. Panorâmica da Serra de Madureira e Vale do Mata-Fome. Possui vias de rapel e boulder *Na continuação da Trilha do Quilombo até a estr. do Tatu gamela, possui visão privilegiada da base do rapel.

Estrada do Tatu-gamela

Rampa de Vôo Livre

2° melhor ponto de Vôo Livre do país, a estrada também é utilizada para caminhadas devido à ampla paisagem panorâmica da Baixada com visão para Nova Iguaçu, maciço de Tinguá e Serra dos Órgãos

Fonte. Mello, Flávio A. P., 2008. Quadro 16: Principais atrativos e vias de acesso no PNMNI

4.3.3 Ordenamento da malha de trilhas

As trilhas, de modo geral, surgem para possibilitar o acesso a lugares de interesse e, mormente, são traçadas em função da distância a ser percorrida e acessibilidade. Em se tratando de unidades de conservação, outros cuidados e interesses devem ser considerados, de acordo com o plano de manejo e à legislação vigente, se este apresentar alguma inconsistência. Neste sentido, o ordenamento das trilhas em uma malha lógica que atenda as necessidades de deslocamento e proteja o patrimônio natural e construído da Unidade, se reveste de particular relevância quando se considera que as trilhas, ao se estabelecerem, se comportam como uma entidade dinâmica, geradora de mudanças, tanto ambientais quanto sociais.

Assim,

quando

se

ordena

a

malha

de

trilhas,

fechando

atalhos,

recategorizando as trilhas existentes, interligando trilhas separadas, entre outros, se procura induzir indiretamente territorializações e consolidação de lugares de

151

interesse da gestão da UC. No caso específico do PNMNI, a necessidade de se ordenar a malha de trilhas existentes nas áreas abertas à visitação, se deve principalmente ao fato de com o desenvolvimento das atividades recreativas, algumas estão se processando um tanto quanto à revelia da administração, de modo a ser possível perceber a formação de dois núcleos de atividades diferenciadas:

1. Núcleo Central: Que se concentra na Área de Uso Intensivo, composto por usuários que utilizam os poços do Rio Dona Eugênia até o Casarão, para lazer e também aqueles que se dedicam a caminhadas e contemplação da natureza e cuja principal porta de entrada é a guarita da Estrada da Cachoeira 2. Núcleo da Varginha, que se desenvolve um tanto a revelia da administração, se concentrando na área da Pedra do Quilombo (Contenda) e rampa de Vôo livre, com atividades de caminhada mais longas e rapel; cujo acesso se dá pela estrada do Tatu-Gamela e trilhas a partir do Morro do Cruzeiro e Bairro Kaonze.

Neste sentido, a presença mais superficial na administração da área do vale da Varginha, compromete tanto as possibilidades de desenvolvimento sustentável das atividades potenciais, como já sofrem os efeitos do uso pouco criterioso de seus acessos e atrativos, com evidentes sinais de degradação. Com estas referências percebidas, buscou-se então, unir estes dois núcleos e concentrar a entrada a partir da entrada oficial do parque; promovendo assim maior controle e interface com os visitantes, possibilitando diagnósticos e orientação de uso da unidade.

Nesta condição, se fez necessário então promover o acesso à Pedra da Contenda a partir da Trilha da Varginha, que se origina na Pedreira desativada São José e cruza com a trilha da Contenda em seu terço médio, na altura da Praça do Boi. A trilha da Varginha não tem sido utilizada: devido a seu traçado, a falta de sinalização e as condições de manutenção, que a deixam fechada por capim colonião muitos meses ao ano. Estas características da trilha da Varginha são consideradas também como alternativa ao roteiro de visitas às ruínas do Clube de Campo Dom Felipe, que de acordo com o zoneamento proposto, passa a se localizar em zona de recuperação especial, a qual possui limitação de visitação.

152

Destaca-se que nos trabalhos de seleção, foram considerados os vales por onde passam as trilhas, como unidades geomorfológicas de referência. Foram identificadas e selecionadas então as seguintes vias (trilhas, estradas e atalhos) de interesse conforme exposto no quadro 17:

Localização

Via

Característica

Atrativos Principais

Vale do Rio Dona Eugênia

Estrada da Cachoeira

Estrada de acesso, não pavimentada, possui 4,6 km de extensão. Dá acesso as trilha do Gericinó, Mendanha e Pau da Letra

Circuito das águas, Casarão, Janela do Céu, Mirante do salto, Clube Dom Felipe

Trilha do Pedreira

Pequena trilha linear, reaberta na Pedreira São José, com aproximadamente 200 metros, leva a um mirante em sua porção superior, com vista para o Vale do Rio Dona Eugênia

Mirante da Pedreira, vias de rapel e mata ciliar na base da Pedreira em sua face interna com grande afluxo de avifauna

Trilha do Pau-pereira

Trilha em atalho com 0,6 km. Liga o Casarão a ponte da Curva, na estrada da Cachoeira

Mirante do Pau Pereira, poço Escondido

Vale do Córrego do Mata-fome

Trilha do Mata-fome

Trilha Linear, com aproximadamente 1,3 km de extensão. Liga a Estrada da Cachoeira, aproximadamente 100 metros antes do Mirante do Alto, à Estrada do Tatu-gamela, mais ou menos 500 metros acima da Pedra da Contenda

É uma trilha de ligação. Em seu terço médio inicial é muito agradável e com boas possibilidades de obs. De aves

Estrada do Tatugamela

Vertente iguaçuana do Maciço do Gericinó

Liga as Estrada de Madureira (Av., Abilio Augusto Távora) à rampa de Vôo Livre. Da entrada da Trilha da Contenda até a rampa, são aproximadamente 2 km de acordo com o caminho. Há 02 variantes que são usadas de acordo com as condições da estrada.

Visão Panorâmica para Nova Iguaçu, maciço do Tinguá e Serra dos Órgãos, Rampa de Vôo Livre

Vale da Varginha

Trilha da Contenda

Trilha Linear, liga a Estrada do Tatugamela à Praça do Boi. Possui atalho para a subida a Pedra do mesmo nome.

Visão Panorâmica do vale do Mata-fome, Varginha e Estrada do Tatu-gamela

Trilha da Varginha 2º Segmento

Em seu interior e encostas há inúmeras variantes, foi selecionado um traçado linear da Praça do Boi ao cento da Varginha onde segue como uma pequena circular em direção à Parada da Jaqueira, a noroeste, Mirante da Vigné e Parada do Curralzinho, retornando ao centro. Possui aproximadamente 1,4 Km

Praça do Boi,Mirante da Varginha, Mirante da Vigné, Pedra da Contenda. Dá acesso as trilhas do capitão e Cruzeiro, que se dirigem ao Cruzeiro de Nova Iguaçu e Bairro Kaonze.

Trilha da Varginha 1º Segmento

Trilha Linear da Pedreira desativada São José até a Praça do Boi. Em sua porção final cruza uma nascente e é de acesso que exige cuidados. Possui aproximadamente 1 km de extensão. Para a área de nascente, optou-se por sugerir uma variante que desloca a trilha para uma cota acima, promovendo inclusive maior aporte paisagístico.

Mirantes do Levi e da Mangueira, ambos sugeridos na alteração de traçado que a amplia para 1,8 Km

Vale do Levi

Quadro 17: Trilhas selecionadas e atrativos Flávio a P Mello 2008

153

4.3.3.1 A Trilha da Varginha

Posto a importância da Trilha da Varginha como elo de ligação entre as os dois núcleos de atividades do PNMNI, foi elaborada uma proposta de traçado dividindo a trilha em dois segmentos: o primeiro, a ser desenvolvido na área do vale do Levi, ligando a Pedreira desativada São José à Praça do Boi (no divisor de águas entre os dois vales) e o segundo na Varginha propriamente dita, conforme destacado na figura 11:

N 2º segmento Vale da Varginha

Tr. de serviço

1º segmento Vale do Levi

Alteração de traçado com destaque ao Mirante do Levi Figura 11: Proposta para a Trilha da Varginha Fonte: Google Earth – Realizado por: Flávio A. P. Mello 2008

Ressalta-se que no primeiro segmento, a trilha atual corre ao longo do córrego do Levi, adentrando em seu leito em vários pontos. No seu terço médio cruza um trecho bastante próximo à sua nascente. A partir deste ponto, por uma extensão de aproximadamente 200 metros, continua em aclive com pontos de acesso mais complicado, passando por blocos rochosos e erosões. A vegetação é basicamente composta por pastos sujos, principalmente capim colonião (Pannicum sp.), grande responsável pela manutenção do ciclo de fogo que se instala nos períodos de inverno.

154

O traçado original existe por ser mais curto e historicamente, era utilizado pela população local como rota de acesso à Varginha e áreas limítrofes. Sugere-se que o trecho seja mantido como “trilha de serviço”, isto é, mantida operacional para funcionários e fiscalização como via de rápido acesso às trilhas da Contenda e segundo segmento da Trilha da Varginha. Deve haver sinalização restritiva para orientação dos visitantes. Cabe destacar que neste trecho, inicio da micro-bacia onde se localiza a nascente do córrego do Levi, se recomenda a implantação de projeto de reflorestamento tanto para proteger e recuperar os pontos de erosão como revitalizar a nascente aí localizada.

Outros propósitos estabelecidos deverão ser atendidos com o novo traçado além da proteção à nascente, dentre eles se destaca a requalificação turística da trilha, que de trilha imersa na mata ciliar, ao ser deslocada para cota superior, aproximadamente 50 metros, recebe mirantes com visão panorâmica do vale do Levi e vale do rio Dona Eugênia, valorizando a trilha em seus aspectos cênicos. Salientase que a área do Levi, se reveste de especial importância por conta de sua proximidade e acesso e oferecimento de mirantes, que podem ser desfrutados sem grandes deslocamentos, embora a trilha mereça recuperação e adequação em diversos pontos.

4.3.3.2 Circuito de Trilhas do “Vulcão” de Nova Iguaçu

No processo de ordenamento das trilhas, buscou-se concentrar a proposta para o circuito de trilhas nas áreas com maior apelo da mídia e que coincidentemente se localiza nas áreas mais degradadas. Esta área se concentra na região da Varginha, tida como a “cratera” do “Vulcão” de Nova Iguaçu. Para se estabelecer a conexão com a área de banhos, foi selecionada a trilha da Varginha e a Trilha do Mata-fome, possibilitando duas vias de acesso. Este traçado atende portanto a preocupação de integração entre os principais núcleos de visitação.

Cabe destacar que na Pedreira desativada São José foi reaberta uma trilha antiga, resgatando um mirante de fácil acesso (300 metros da entrada do Parque) e maior capacidade de visitantes, na zona de visitação intensiva, servindo como

155

contraponto ao mirante da trilha do Pau Pereira que dá vista apenas para a Cachoeira Véu da Noiva, recebendo no máximo três pessoas por vez ou ainda, o Mirante do Alto, localizado a 2,5 quilômetros da entrada do Parque e que se encontra com as instalações desmontadas.

A trilha do Pau Pereira, embora tenha sido pensada para receber um público médio, inclusive crianças e idosos, deve ter seu traçado corrigido, principalmente m sua porção próxima a ponte da Curva, cujo aclive supera os 35%, limitando, por conseguinte o perfil do visitante.

Para o segmento da Estrada da Cachoeira, após o poço da Natureza, propõese obrigatoriedade da presença de guias, porém credenciados pela administração, devido a nova condição de Zona de Recuperação Especial. As atividades ai desenvolvidas deverão ter como foco o ecoturismo especializado como, por exemplo, a observação de fauna e turismo científico.

Já a seção da estrada do Tatu-gamela, da Pedra da Contenda à rampa de Vôo Livre, embora se localize no limite do Parque, pode ser incorporada como opção de roteiros. De fato, a estrada do Tatu-gamela não faz parte do PNMNI sendo, no entanto, um de seus limites. É via de acesso à rampa de Vôo Livre que é utilizada por visitantes que optam como alternativa para chegar à Pedra da Contenda ignorando a guarita do parque, localizada em extremo oposto. Esse fato se constitui em um problema para a administração, cujo controle de visitantes é comprometido.

Na figura 12 são apresentadas as trilhas selecionadas e alguns pontos atrativos extremos do Parque (Guarita de entrada, Mirante da Pedreira Vigné, Rampa de vôo Livre e Ruínas do Clube de campo Dom Felipe).

156

N

Estrada do Tatu-gamela

MIRANTE DA PEDREIRA VIGNÉ

Trilha da Contenda

Trilha da Varginha

Estrada do Tatu-gamela Acesso à rampa de Vôo Livre

Trilha da Pedreira Trilha do Pau Pereira

RAMPA DE VÔO LIVRE

GUARITA DE ENTRADA

Acesso à sede

Estr. da Cachoeira Seção de visitação controlada

Estr. da Cachoeira Seção de visitação intensiva

CLUBE DOM FELIPE Figura 12: Circuito de Trilhas proposto Fonte: Google Earth – Realizado por: Flávio A. P. Mello 2008

157

4.3.3.3 Roteiros sugeridos

Elaborar o traçado de uma trilha é apenas parte de seu planejamento. Embora seja lógico considerar as oportunidades paisagísticas, pontos notáveis, acessibilidade e adequação sócio-ambiental, é preciso dar uma identidade ao conjunto de segmentos de trilhas, de modo a criar referências que possam ter maior poder de atratividade junto aos visitantes, e aos gestores e operadores de turismo e lazer na natureza. Neste sentido, busca-se aguçar a curiosidade do visitante ou chamar a atenção para um “valor” de interesse.

No caso do PNMNI, observou-se que embora houvesse grandes cenários na zona de uso extensivo, as trilhas eram curtas, tendendo a ter em média 2,0 km as mais extensas. Estas distâncias, de certa maneira, são curtas para a prática de caminhadas quando se visualizam produtos que se adeqüem às categorias 02 a 04 previstas no ROS sugerido ao PNMNI (quadro 07), pois rapidamente se chega ao atrativo, impedindo a possibilidade de inserção no cenário e desfrute da paisagem.

Considera-se que as trilhas que possibilitam acesso rápido a seus atrativos principais, tendem a receber visitação massiva e ser explorada em aspectos pontuais, a exemplo do que ocorre com os operadores de rapel, cuja preocupação em valorizar o produto, induz à utilização superficial do cenário e consequentemente a geração de impactos em zonas específicas, comprometendo uma série de atributos que valorizam as trilhas para o desfrute da paisagem e introspecção.

Para atender a esta expectativa, o levantamento dos traçados para a seleção das trilhas visou a criação de uma trilha de grande percurso (para os padrões do PNMNI), com o nome sugerido de “Circular Externa”, conforme proposta estabelecida para o Parque Nacional da Tijuca durante a gestão inovadora de Pedro da Cunha e Menezes. Para o PNMNI a proposta de uma Grande Circular externa unirá segmentos da Estrada da Cachoeira, Trilha da Varginha, Estrada do Tatugamela e a totalidade das trilhas da Contenda e Mata-fome (figura 13). Com este traçado se obterá uma trilha com aproximadamente 8 km de extensão.

158

Complexo do “Vulcão”

N

Legenda

Mirante da Pedreira Vigné

Atrativo de referência Circular interna Trilha da Varginha

Praça do Boi Trecho da Estrada do Tatu -gamela

Varginha (“a cratera”)

Pedra da Contenda

Trilha da Contenda

Trilha da Varginha. Segmento Vale do Levi

Circular Externa

Guarita de entrada SEDE Trilha do Mata-fome Mirante do Alto

Casarão

Estrada da Cachoeira Seção de visitação intensiva

Figura 13: Proposta para Circular externa (pontilhado): Somatório de segmentos Estrada da Cachoeira + Trilha do Mata-fome + Trilha da Contenda + Trilha da Varginha Fonte: Google Earth – Realizado por: Flávio A. P. Mello 2008

Foram elaborados então sugestões de roteiros conforme quadro 18:

Trilha do Pau Pereira Trilha da Contenda

Pedreira São José

Mirante do Levi

Estrada da Cachoeira

159

Roteiro Mirante da Pedreira

Via Pedreira São José, acesso pela trilha do mesmo nome

Público beneficiário Público com condicionamento físico.

Parque Expresso

Estrada da Cachoeira, Roteiro inclui a Represa, Mirante da Pedreira e subida até o Casarão Estrada da Cachoeira. Poços entre o Poço da Paixão e a Cachoeira Véu da Noiva

Público com condicionamento físico.

Trilha do Pau Pereira Trilha do Levi

Trilha do Pau Pereira

Trilha do Vulcão

Trilha da Varginha em seus dois segmentos (Vale do Levi e Varginha

Pedra da Contenda

Trilha da Contenda

Paisagens da Baixada

Circular Externa

Caminhada da Rampa

Estrada da Cachoeira - Trilha do Mata-fome Estrada do Tatugamela - Rampa de Vôo Livre Estrada da Cachoeira, da Guarita até as Ruínas do Clube de campo Dom Felipe

Segmentos muito íngremes. Público com condicionamento físico. Segmentos íngremes, e locais com grande exposição ao sol. Público com condicionamento físico.. Segmentos íngremes, e locais com grande exposição ao sol. Público com condicionamento físico. Segmentos íngremes, e locais com grande exposição ao sol. Público com condicionamento físico. Segmentos íngremes, e locais com grande exposição ao sol. Público com bom condicionamento físico. Segmentos íngremes, e locais com grande exposição ao sol. Público com bom condicionamento físico. Segmentos íngremes, local de difícil acesso motorizado. Recomenda-se público condicionamento físico.

Circuito das Águas

Dom Felipe

Primeiro segmento da Trilha da Varginha, conduz até o Mirante do Levi

Púbico em geral.

Atividades recomendadas Práticas de Educação ambiental e espaço acadêmico. Na Pedreira: espaço para lazer, práticas de Tai Chi Chuan, escalada, observação de aves. No Mirante: Ocio, observação de paisagem de aves. Práticas de Educação ambiental e espaço acadêmico. Caminhadas. No Mirante: Observação de paisagem, observação de aves. Lazer e ócio nos poços e cachoeiras. Observação da natureza. Práticas de Educação ambiental e espaço acadêmico. Safáris fotográficos. Caminhada de lazer, observação da natureza. Práticas de Educação ambiental e espaço acadêmico. Caminhadas. No Mirante: Observação de paisagem, observação de aves. Práticas de Educação ambiental e espaço acadêmico. Caminhadas e opção para grupos especializados: observação de fauna, safáris fotográficos. Práticas de Educação ambiental e espaço acadêmico. Caminhadas e opção para grupos especializados: observação de fauna, safáris fotográficos.; Práticas de Educação ambiental e espaço acadêmico. Caminhadas e opção para grupos especializados: observação de fauna, safáris fotográficos. Caminhadas e acesso a rampa de Vôo Livre. Safáris fotográficos.

Práticas de Educação ambiental e espaço acadêmico. Caminhadas para grupos especializados: observação de fauna, safáris fotográficos. Turismo científico...

Quadro 18: Roteiros sugeridos e vias de acesso Flávio a P Mello 2008

Como proposta complementar, soma-se a proposta da criação da Circular Interna conforme figura 14 baixo:

160 Legenda

N

Atrativo de referência

Praça do Boi

Circular interna

Trilha da Varginha.

Pedra da Contenda

Trilha da Varginha

Pedreira São José

Estrada da Cachoeira Trilha do Pau Pereira

Possível traçado de trilha de ligação

Trilha da Contenda Circular Interna

Trilha do Pau Pereira

Sede Casarão

Estrada da Cachoeira

Figura 14: Proposta para Circular interna Fonte: Google Earth – Modificado por Flávio A P Mello 2008 OBS: Para a Circular interna é necessário a construção de uma variante da trilha do Pau Pereira à Trilha da Contenda. Em consultas informais com antigos moradores soube-se da existência de vestígios de um antigo traçado.

Com esta variante cria-se um roteiro com aproximadamente quatro quilômetros (unindo o primeiro segmento da Trilha da Varginha no vale do Levi, a parte inicial da Estrada da Cachoeira e parte d trilha do Pau Pereira

161

4.3.4 Valoração econômica dos serviços de condução de visitantes no PNMNI

Em apoio às sugestões de criação de diferentes roteiros para as trilhas selecionadas, foi conduzida uma primeira avaliação quanto ao potencial econômico deste ordenamento, através da pesquisa “Valoração econômica dos serviços de condução de visitantes no PNMNI”. Foram aplicados cem questionários, salientandose que 67 foram aplicados em fins de semana e de terça a sexta feira, no período de maio a julho de 2008, e trinta e três foram obtidos via internet, através do site Amigos do Parque no link http://www.pmni.infotrilhas.com/zen_pesq.html.

No Gráfico 05, buscou-se relacionar a origem e disponibilidade do visitante pagar por serviços de condução com guias credenciados e lembranças do parque (postais, camisas, etc.).

100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Origem

Nova Iguaçu

Origem dos visitantes Nova Iguaçu Mesquita Nilópolis Belfort Roxo Rio de Janeiro Outros

Conhece as trilhas para o Vulcão

Mesquita

Origem 26 38 12 5 25 8

Pagaria por passeios de 2 horas

Nilópolis

Conhece as trilhas para o Vulcão 06 (23%) 08 (21%) 03 (26%) 01 (20%) 03 (12%) 00

Pagaria por passeios de 4 horas

Belfort Roxo

Pagaria por passeios de 2 horas 00 00 02 (17%) 00 04 (16%) 01 (12,5%)

Pagaria por passeios de 6 horas

Rio de Janeiro

Pagaria por passeios de 4 horas 12 (46%) 10 (26%) 08 (67%) 02 (40%) 19 (75%) 05 (62,5%)

Gráfico 05: Valoração econômica dos serviços de condução de visitantes no PNMNI

Pagaria por lembranças do PNMNI

Outros Estados

Pagaria por passeios de 6 horas 18 (69%) 13(34%) 09 (75%) 02 (40%) 20 (80%) 06 (75%)

Pagaria por lembranças do PNMNI 14 (54%) 02 (05%) 03 (25%) 01 (20%) 08 (32%) 02 (25%)

162

Para criar uma referência quanto às respostas, foi inserida uma pergunta quanto ao conhecimento das trilhas do parque, usando como referência a região do “vulcão”, mais conhecida e onde se localizam a maioria das trilhas selecionadas neste estudo. Das perguntas relacionadas nos questionários, dentre outras informações coletadas, ressalta-se as seguintes:

a) Para o período de inverno, as maiores participações são de visitantes de Mesquita, Nova Iguaçu e Rio de Janeiro, salientando que há uma maior aproximação entre o nº de visitantes do Rio de Janeiro e Nova Iguaçu. Isto demonstra que o fato dos cariocas possuírem mais referências de caminhadas, esteja fazendo com que sua presença seja quase tão evidente quanto à dos iguaçuanos, ainda pouco afeitos às caminhadas em parques. O maior volume de visitantes de Mesquita se deve a busca pela utilização das cachoeiras, mesmo no inverno, onde há dias não tão frios e mesmo de calor. b) Destaca-se ainda que a média de usuários que conhecem as trilhas do Parque, principalmente na área do “vulcão”, gira em torno de 22,5%, o que demonstra o grande potencial para guias e mesmo para o PNMNI trabalhar. Observa-se ainda que os visitantes do Rio de Janeiro totalizaram 12,5%, o que denota que nos dias pesquisados, vieram para conhecer as trilhas da região. c) Quanto à predisposição para pagar por serviços de condução de visitantes com guias credenciados, de modo geral não há tal tendência para passeios de quatro horas, os quais se concentram nas áreas de uso intensivo. Isso provavelmente se justifica pela segurança que a localidade dá e facilidade de acesso. Contudo, dada a riqueza de atrativos, não devem ser desconsiderados os produtos temáticos. Nesta avaliação, pontuaram Nilópolis com 17%, Rio de Janeiro com 16% e outros estados com 12,5%. Mesmo com tais percentagens, pode-se considerar como justificativa o nível sócio-econômico para tal disposição. d) Nas avaliações para passeios com duração de quatro a seis horas que incluem a zona de uso intensivo e derivações para demais áreas do parque (Complexo do Vulcão, Rampa de Vôo Livre, Vale do Mata

163

Fome e Ruínas do Clube Dom Felipe) - a disposição para pagar salta para médias de 45 a 75%, a exceção de Mesquita, que mantém níveis de 26 e 34% para passeios de quatro a seis horas respectivamente. É possível que o hábito por lazer na cachoeira interfira neste julgamento. Entretanto, para passeios com as durações e roteiros supra mencionados, Nova Iguaçu, Nilópolis, Rio de Janeiro e “outros estados”, os visitantes apresentam disposição para pagar por serviços de guias em torno de 75% em média, o que aponta um grande mercado não explorado e uma possibilidade de realmente poder mudar o perfil médio do usuário e interferir na sazonalidade vigente.

4.3.5 Zoneamento recreativo no PNMNI

No

zoneamento

proposto

na

presente

dissertação,

houve

grande

preocupação em se garantir a proteção das áreas mais preservadas, dado o potencial intrínseco de comprometimento do patrimônio natural que a visitação pode representar, principalmente para a flora e para a fauna, cujos estudos e diagnósticos da biodiversidade local são incipientes.

Salienta-se como agravante, que foi publicado no Diário Oficial da Cidade do Rio de Janeiro no dia 18/08/08 a Lei Municipal 4.899/08, projeto aprovado pelos vereadores cariocas de autoria do vereador Jorge Felippe (PMDB-RJ) e sancionada pelo Prefeito César Maia, que extingue o Parque Natural Municipal da Serra do Mendanha, para transformá-lo em uma Área Especial de Interesse Social. Esta categoria se destina a dar títulos de propriedades e para implantar programas sociais, tais como: conjuntos habitacionais, favela bairro, entre outros. Ressalta-se que esta UC era uma das raras com a situação fundiária resolvida, coberta com a Floresta Ombrófila Densa mais bem conservada da Cidade do Rio de Janeiro e de toda a Região Metropolitana do Estado do RJ. Pouco estudada, mas com enorme potencial, tendo sido noticiado recentemente à descoberta de uma nova espécie de anfíbio. Em relação ao PNMNI, o Parque do Mendanha se liga através da trilha do mesmo nome, próximo a zona primitiva, daí sua importância estratégica para as áreas de proteção integral de todo o maciço.

164

Retornando ao zoneamento proposto, o PNMNI foi divido em duas grandes áreas e para fins de gestão, as zonas recreativas sugeridas foram nomeadas de acordo com as referências comumente utilizadas pela Administração e funcionários (figura 15): · Área (01) Visitação livre: envolvendo as zonas de uso especial, de uso intensivo e extensivo (a exceção da área a partir do Poço da Natureza até o Clube Dom Felipe). · Área (02) Visitação controlada: Composta pela área da zona de uso extensivo a partir do Poço da Natureza até o Clube Dom Felipe, zona primitiva e zona intangível.

Deve-se observar que na área (2), as zonas delimitadas pela linha tracejada em verde, diz respeito à proposta de mudança de classe deste segmento da Zona de Uso Extensivo para Zona em Recuperação Especial, com fins de se proteger a Zona primitiva. Esta mudança de classe visa minorar os efeitos de fragmentação induzida pela “cunha” que a Estrada da Cachoeira representa para o tecido florestal, que são ampliados com a visitação mantida nos moldes de uma zona de uso extensivo.

Neste sentido, a visitação nestas áreas devem ter caráter mais restrito, sendo utilizadas principalmente para fins de pesquisa e de turismo especializado cujo viés principal seja a observação e conservação, como observação de fauna e turismo científico, principalmente neste momento, em que os diagnósticos ambientais são insuficientes e os recursos humanos e materiais não permitem um adequado controle da visitação.

Desta forma, o maior volume fica concentrado na Área 01, nas zonas mais alteradas, mas com grandes cenários devido as encostas recobertas por vegetação rala e pastagens degradadas, as quais são grande promotores do consumo de paisagem através de caminhadas.

165

Legenda: Zoneamento proposto aplicando o ROS: Área (1) visitação aberta

(b) Zona (a) Central. Zona (b) Complexo do Vulcão Zona (c) Rampa. Zona (d) Mata fome.

(c)

Área (2) Controlada Zona de Recuperação Especial

(d) (a)

2

1

Zona (e) P4 (Posto Avançado). Zona (f) Pau da Letra. Mapa base:

(e)

(f)

Zona de Uso Especial Zona de Uso intensivo Zona de Recuperação Zona de Uso extensivo Zona primitiva Zona Intangível

Figura 15 Zoneamento de Oportunidades Recreativas para o PNMNI, segundo metodologia ROS Fonte: Zoneamento Territorial e Ambiental do Parque – Mapa Nº HAB-NIG-D10/98. Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu – Vs Resumida – SEMUAM, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo 2001 p. 67. Modificado por Flávio A P Mello 2008

166

4.4 Ações de apoio à Gestão do PNMNI

No decorrer dos trabalhos para a realização desta dissertação, a aproximação com o corpo administrativo do PNMNI possibilitou a criação de vários produtos de apoio à gestão, a partir de diagnósticos de demandas e análise das características objeto de estudo. A receptividade da administração tanto possibilitou a antecipação de algumas sugestões desta dissertação quanto testaram possibilidades aventadas em seu desenvolvimento e conclusão . A seguir são resumidamente descritos as de maior significância:

4.4.1 Sitio na internet para divulgação Institucional do PNMNI

Em 06/2006, início da presente pesquisa, foi oferecido à Administração serviços voluntários de redator e designer, através da criação do site Amigos do Parque (anexo 01) para a promoção do ecoturismo responsável e divulgação do PNMNI. O nome “Amigos do Parque” foi escolhido por ser uma iniciativa informal, de pessoa física, mas com fins de promoção da UC, a exemplo de iniciativas correlatas existentes. O site hospedado em http://www.pmni.infotrilhas.com, possui atualização regular e dispõe de seção especifica para a administração, a qual oferece também um serviço de atendimento ao usuário, através de formulário on line. Entre as seções existentes salientam-se: · Lazer e Turismo: Lista dos principais atrativos em links individualizados e com textos explicativos, · Biblioteca digital: Dada a dificuldade de se relacionar o material técnico e acadêmico produzido sobre a unidade, o link divulga a produção catalogada até o momento, oferecendo links para download. · Agenda: Divulga os eventos que ocorrem no parque. · Voluntariado: Descrição dos serviços voluntários desenvolvidos no parque e agenda. · Fotorama: Hospedado em http://picasaweb.google.com.br/infotrilhas, São álbuns fotográficos das atividades voluntárias e eventos

167

desenvolvidos com a Participação de Voluntariado Ambiental Programa Amigos do Parque no PNMNI.

4.4.2 Estímulo ao Voluntariado em Unidades de Conservação

Com a evolução dos levantamentos desta dissertação, os dados coletados justificaram um primeiro desdobramento da criação do sitio na internet, através de uma proposta mais elaborada de voluntariado, protocolada pelo autor em 31/07/2007 junto a direção da unidade, tendo como objetivo desenvolver a cidadania ambiental dos usuários do Parque através de ações envolvendo o manejo de trilhas como eixo de educação e sensibilização ambiental. Esta proposta foi denominada Programa

Amigos

do

Parque

de

Voluntariado

Ambiental

(anexo

05).

Operacionalmente, foi estabelecido um calendário mensal onde, a cada mês, se alternavam mutirões de manejo de trilhas e/ou reflorestamento (fotografias 11 e 12), conservação do viveiro de mudas florestais com passeios gratuitos guiados, com um custo de um kg de alimento não perecível, doado a entidades do entorno. Apoio ao voluntariado ambiental

32

Fotografia 11: Voluntários instalando poleiro seco no vale do Levi Flávio A. P. Mello: 2007

Fotografia 12: Voluntários transportando em corrente material para mutirão na trilha do Levi Flávio A. P. Mello: 2007.

As datas são divulgadas no link “Agenda” (anexo 06) com inscrições também via internet. No ano de 2008, foram realizados 5 mutirões de manejo de trilhas, 4 mutirões de manutenção do Viveiro de mudas florestais e 6 passeios guiados, 32

Poleiros secos são uma estratégia de conservação onde se introduz pontos de descanso e observação para aves, principalmente em zonas descampadas, de modo induzir a dispersão de sementes veiculadas por aves em pontos dirigidos.

168

destacando-se que o 6º passeio foi um safári fotográfico para 20 participantes. Ressalta-se que os voluntários recebem certificado de participação que podem ser contados como estágio por algumas instituições de ensino. Em agosto/2008 o Projeto Amigos do Parque entrou em uma nova fase de açőes para conservação e educação ambiental através do direcionamento do voluntariado para a produçăo acadêmica através de 02 linhas mestras: · Apoio e orientaçăo para produção acadêmica, onde se buscou orientar ou co-orientar estudantes para elaboração de artigos para revistas, congressos e trabalhos de conclusão de curso. Atualmente estão sendo orientados dois grupos: um grupo da turma do curso Técnico em Meio Ambiente, do Colégio presidente Kennedy em Belfort Roxo, que desenvolve um pequeno projeto de recuperação ambiental de um platô na Pedreira São José (fotografia 13) e um grupo de alunos do curso de Biologia da Universidade Souza Marques, que atua no Viveiro de Mudas Florestais elaborando um projeto de gestão do viveiro. · Criação de núcleos de apoio voluntário a pesquisadores. Os núcleos são coletivos de alunos de diversas áreas, que auxiliam projetos do Amigos do Parque ou de pesquisadores que se articulam com este, propiciando estágio e oportunidades de produção acadêmica. O conceito surgiu a partir da parceria entre Projeto Amigos do Parque de Voluntariado Ambiental e o Projeto Pró-Morcegos (fotografia 14): Apoio e orientação à pesquisa acadêmica

Fotografia 13: Alunas do curso Técnico em Meio Ambiente, do Colégio Pres. Kennedy em Belfort Roxo, coleta de dados na Pedreira São José Foto de Flávio A. P. Mello : 2008.

Fotografia 14: Pesquisadores e alunos voluntários no projeto “Diversidade dos Morcegos do PNMNI”. Preparativos para a subida ao P4 Foto de Flávio A. P. Mello : 2008.

169

4.4.3 Temporadas de Verão e Montanhismo

O calendário de eventos do PNMNI, até a presente data (novembro de 2008) tem-se focado, de modo geral, nas comemorações do calendário ecológico, notadamente com a semana do meio ambiente e dia da arvore, além de eventos isolados

de

iniciativas

de

particulares,

como

caminhadas

“ecológicas”

e

comemorações variadas. Contudo, embora tenha como proposta o lazer e o ecoturismo, a direção não possuía nada mais elaborado neste sentido e para tanto foi sugerido a criação de duas temporadas de atividades, não só para concentrar ações similares em uma mesma época, como também criar uma demanda no período de menor visitação durante a estação de inverno. Desta forma, foram criadas as temporadas de Verão, cuja segunda edição ocorrerá de 07/12/2008 à 28/02/2009 e de Montanhismo, com sua primeira edição ocorrida em 25/05/2008 a 17/08/2008.

Estas temporadas foram incorporadas no calendário do PNMNI, tendo sido realizadas eventos de abertura com grande adesão dos usuários. Cabe salientar que na Temporada de Verão é realizada a “Operação de Verão” que têm como objetivo principal educar o usuário, através de abordagens educativas e realização de mutirões relâmpagos de coleta de lixo nos poços e acessos, realizados por voluntários e funcionários do parque (fotografias 15 e 16). Temporada de Verão no PNMNI

Fotografia 15: Funcionário e voluntária abordando usuários Foto de Flávio A. P. Mello : 2008.

Fotografia 16: Mutirão relâmpago de coleta de lixo no poço do Casarão Foto: Flávio a p Mello: 2008

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A temporada de Montanhismo de 2008 foi a primeira iniciativa com fins específicos de se estimular o ecoturismo e lazer em trilhas no PNMNI. As datas da temporada são escolhidas em consonância com as demais temporadas de montanhismo que ocorrem em todo pais. No caso do Rio de Janeiro, o estado como um todo, é tido como região de grande expressão para atividades de montanha, que incluem além de escaladas, as atividades em trilhas: como trekking, corridas de orientação e outros.

Assim, apesar do PNMNI não ter muitas possibilidades de escalada, possui o geoparque e trilhas que podem ser utilizadas para tal. Destaca-se que o maciço do Gericinó-Mendanha possui inúmeras trilhas, algumas históricas, que podem vir a estimular a criação de nova unidades de proteção integral, tendo como viés a preservação do patrimônio natural como área de lazer, a exemplo da criação do Parque Natural Municipal de Nilópolis em área do Gericinó. Esta temporada é marcada pelo evento Abertura de Temporada de Montanhismo do PNMNI, que dá início oficial e oferece espaço para divulgação do Parque, parceiros e iniciativas afins (fotografias 17 e 18). Espera-se que com os anos, o evento venha a consolidar o PNMNI como uma referência em caminhadas em trilhas na região da Baixada, tornando-se um irradiador de melhores práticas em visitação em áreas naturais para a região. Abertura de Temporada de Montanhismo do PNMNI

Fotografia 17: Visitantes na Pedreira São José durante a ATM-2008 Foto de Flávio A. P. Mello: 2008.

Fotografia 18: Carlos Papel, fotógrafo amador expondo fotos do PNMNI durante a ATM 2008 Foto de Flávio A. P. Mello: 2008.

171

4.4.4 Programa “Amigo do Parque conhece o Parque”

O Programa “Amigo do Parque Conhece o parque” foi desenvolvido através de uma programação bimestral, com inscrição pelo site Amigos do Parque a um custo de um kg de alimento não perecível que foi doado aos funcionários do parque e instituições de caridade do entorno. As inscrições eram abertas até um mês antes do passeio, para 12 vagas, tendo sido realizados 8 passeios guiados até novembro de 2008, atendendo 54 usuários que se inscreveram através do site “Amigos do Parque”.

Este “programa” foi uma estratégia de pesquisa, onde se buscou um contato com os possíveis usuários de trilhas, visando conhecer seu perfil de uma maneira menos formal (sem questionários e informando que eram objetos de pesquisas). Utilizando a formação de guia de ecoturismo do pesquisador, foram procedidos os serviços de condução de visitantes de maneira profissional e dentro dos moldes do ecoturismo responsável (grupo pequeno, indução ao consumo de paisagens, informação dirigida para valores conservacionistas visando à valoração ambiental local e traçando paralelos com a vida urbana...), conforme figuras 19 e 20. Programa “Amigo do Parque conhece o parque”

Fotografia 19: Flávio Zen e grupo no Circuito das Águas Março de 2008

Fotografia 20: Grupo na Pedra da Contenda Julho de 2008

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4.4.5 Síntese das recomendações ao PNMNI, por área temática

A seguir são descritas as recomendações e sugestões de uso público geradas nesta dissertação (quadro 19). As recomendações foram agrupadas por áreas de atuação:

01

Gestão Participativa

Fortalecer o Conselho consultivo, estimulando a formação de câmaras técnicas setoriais Consolidar no calendário anual do PNMNI as temporadas de Verão e Montanhismo como forma de se organizar eventos, e ações de gestão específicas e estimular parcerias, dentro de parâmetros mais definidos Estimular o voluntariado ambiental, dando ênfase à produção acadêmica e projetos de manejo de trilhas, recuperação de áreas degradadas, diagnósticos ambientais e turísticos.

02

Zoneamento

Elaborar plano de gestão diferenciado para o Circuito das Águas, observando entre outros: capacidade de suporte, qualidade da experiência do visitante e balneabilidade dos poços. Confirmar a área da pedreira desativada São José como espaço multi-uso, mantendo a vegetação ciliar no sopé da lavra como espaço para Educação Ambiental, Observação de Aves e patrimônio paisagístico. Continuar o mapeamento das trilhas do parque, visando identificar as trilhas adicionais para o zoneamento recreativo e de conservação. Consolidar a área de uso extensivo nas áreas de maior alteração antrópica e de maior grau de degradação (zonas a, b, c e d), referidas Zoneamento de Oportunidades Recreativas no PNMNI Criar vagas para estacionamento ao longo da Estrada da Cachoeira, preservando o espaço da Pedreira São José, mas atendendo uma demanda mínima (realizar estudos complementares)

03

Conservação

Requalificar as zonas ”e” e “f” referidas Zoneamento de Oportunidades Recreativas no PNMNI, como zona de recuperação especial. Priorizar a ativação da Casa do Pesquisador, Prevista para o Posto de Fiscalização nº 4, como forma de ocupar a parte alta da Unidade e inibir a ação de pessoas desautorizadas e caçadores. Estimular programas de Educação Ambiental que valorizem a fauna, em especial os pássaros, alvos de apreensão por parte de moradores. Assim como apoiar iniciativas de turismo especializado como Observação de aves. As práticas de rapel devem ser avaliadas face os flagrantes sinais de degradação observados. Na possibilidade de operação de vias de escalada, na pedreira desativada, devem ser contemplado um projeto especifico visando a segurança e a conservação da mata ciliar conforme referido

04

Visitação

Manter o site Amigos do Parque como interface com o usuário e instrumento de divulgação da unidade ou estabelecer junto à secretaria municipal de meio ambiente de Nova Iguaçu, sitio com função e agilidade semelhante. Monitorar o fluxo e dispersão de visitantes através do maior controle da roleta e amostragens sistemáticas do perfil do usuário. Consolidar os roteiros sugeridos, dando ênfase ao Circuito das Águas e Trilha Circular Externa como referências para as temporadas de Verão e Montanhismo respectivamente Iniciar cadastro de operadores de turismo e lazer formais e informais que agem na unidade Estabelecer normas de uso para a Pedra da Contenda, visando a proteção do patrimônio ambiental e segurança dos visitantes

Quadro 19: Recomendações e sugestões ao PNMNI

173

Em termos mais específicos, algumas observações também são pertinentes: Para o PNMNI, é recomendado que a roleta localizada na guarita de acesso à área seja utilizada com mais regularidade e critério, para que de fato possa identificar qual a quantidade de pessoas que se movimentam na Unidade a partir desta entrada e como se distribuem ao longo do ano. Foi percebido que, de acordo com situações específicas, às vezes os visitantes não eram contabilizados ou os dados na roleta não eram atualizados diariamente. Com estes dados mais exatos e regulares, será possível comparar diversas leituras como, por exemplo, os quantitativos mensais e de temporadas, as flutuações em função do clima, e ainda, cruzar os dados de total de visitantes com as capacidades de carga previstas para determinados atrativos e principalmente, constituir uma referência mais aproximada da base amostral para os estudos estatísticos.

Para as interpretações mais qualificadas, é recomendável a utilização de ferramentas

estatísticas

mais

elaboradas

como

Amostragem

Proporcional

Estratificada, onde é possível identificar não só a composição média dos usuários, como também coletar dados aptos para a criação de estratos, de modo a se poder aferir as características próprias de cada subgrupo, conforme preconizada por Tiboni (2002:22-23).

Neste sentido, o controle de portaria com a correta utilização da roleta, conforme referido, torna estas abordagens mais factíveis. A princípio, contudo, podese estabelecer uma base aleatória onde para cada 20 visitantes fossem requeridas perguntas rápidas como: origem, se é a primeira vez que vem ou se é usuário regular (quantas vezes ao ano) e para onde pretende ir dentro do Parque (mapeamento da dispersão). Os dados referentes a gênero e faixa etária poderiam ser incluídos mediante observação do apontador.

Cabe observar que se faz necessário um amplo cadastro de operadores informais, que devem incluir os agentes que atuam com passeios de lazer, ecoturismo, rapel e os grupos institucionais como: igrejas, escolas e associações. Estes, são grandes agentes de descontrole da visitação quando não orientados, principalmente quanto à responsabilidade ambiental e das relações de consumo. Embora pouco confortável para alguns visitantes, o cadastro permite a UC monitorar

174

e passar a sensação de algum controle junto a estes operadores e ainda ter parceiros para atividades específicas, como a divulgação das normas de visitação e outras informações de interesse. As instituições que desenvolvem atividades no parque ou em seu entorno, ou que poderão contribuir para tal.

Destaca-se ainda que uma aproximação operacional com a Prefeitura de Mesquita poderia otimizar os trabalhos de diagnose e educação ambiental, visto que a grande maioria dos usuários são oriundos deste município. Neste sentido, a Secretaria de Meio Ambiente (via Sala Verde de Mesquita) têm desenvolvido várias atividades sócio-ambientais no PNMNI, mas não há o adequado compartilhamento de dados ou de iniciativas que possam redundar em benefício da unidade mútuo. Ressalta-se, portanto, a necessidade de tornar o Conselho Consultivo, de fato, uma ferramenta de gestão e de participação comunitária, inclusive com o fomento de câmaras técnicas, que podem orientar a produção acadêmica sobre o PNMNI assim como muitas decisões de gestão.

Os contatos com as secretarias de educação de ambos os municípios chegaram a ser cogitados no decorrer da elaboração desta dissertação, entretanto, foi constatado que estas secretarias, no tocante a programação de atividades que envolviam o PNMNI, já possuíam uma programação de visitas ao Parque através de duas formas: via programas específicos da Secretaria de Meio ambiente de visitas guiadas e de treinamento de educadores (escolas públicas e privadas), notadamente da prefeitura de Mesquita, via Sala Verde (Tapinhoã); ou através de visitas independentes ao Parque, através de agendamento direto (principalmente Nova Iguaçu).

Salienta-se ainda, a importância do fomento ao voluntariado em unidades de conservação que é uma tradição em inúmeros países do mundo. Nos Estados Unidos, o Serviço de Parques Nacionais conta com um programa de voluntários nos parques que gera benefícios mútuos para os parques e para os voluntários. No Brasil o trabalho voluntário foi regularizado pela lei 9608/98. Segundo esta lei, o serviço voluntário é uma atividade não remunerada, prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza ou a instituição privada sem fins lucrativos que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de

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assistência social inclusive a mutualidade. Ressalta-se que o serviço voluntário não gera vínculo empregatício nem obrigação de natureza trabalhista previdenciária ou afim. No PNMNI, o desenvolvimento desta dissertação propiciou uma mobilização conhecida como Projeto Amigos do Parque, o qual têm como objetivo desenvolver a cidadania ambiental junto a seus usuários, através de ações de voluntariado envolvendo uma agenda regular de mutirões de plantio de mudas e manejo de trilhas como eixo de educação e sensibilização ambiental, assim como a promoção do ecoturismo responsável e divulgação do PNMNI.

Apesar da mobilização de voluntários, as dificuldades de gestão do Parque permanecem, pois o serviço voluntário, por suas características peculiares não visa à substituição do pessoal efetivo e ainda seu espectro de atuação é limitado, de acordo com a disponibilidade de voluntários. Contudo, foi demonstrado à direção da Unidade, que é possível minorar ou mesmo suprir determinadas deficiências administrativas, e ao mesmo tempo, propiciar experiência e oportunidades de cidadania ao voluntário, desde que haja um mínimo de planejamento das atividades e pessoal técnico responsável; conforme o saldo de atividades até a presente data aonde desde sua implantação, o programa conduziu 14 mutirões de manejo de trilhas, plantio de mudas nas áreas da Pedreira e vale do Levi e revitalização do viveiro de mudas florestais; mobilizou voluntários para as atividades de abertura das temporadas Montanhismo e de Verão 2008, na qual foram realizados mutirões relâmpagos de limpeza dos poços e acessos.

Embora um tanto despercebido pela administração, a divulgação antecipada de um calendário de atividades previstas, também auxilia sobremaneira na gestão da visitação da unidade e o planejamento a médio prazo das atividades mais representativas, que devem ter maior atenção face as repercussões na mídia e para as políticas públicas de promoção da unidade e interação com seu público usuário. Um outro aspecto a se destacar é a urgência de contratação de pessoal técnico qualificado para que possa auxiliar na gestão, expandindo as funções do parque além da manutenção da Estrada da Cachoeira até o Casarão e o controle de portaria, conforme salientado nas várias iniciativas conduzidas através do voluntariado Amigos do Parque.

176

5.0 CONCLUSÕES

As análises realizadas, bem como os principais resultados obtidos, permitiram concluir que os objetivos propostos foram plenamente atingidos no que tange ao mapeamento e ordenamento de circuito de trilhas, criação de roteiros e geração de subsídios para o zoneamento turístico do PNMNI. A abertura de trilhas em áreas preservadas, por si só, é uma agressão ao meio ambiente e seu estudo é de suma importância, na medida em que é possível avaliar a relação custo-benefício das interferências que repercutem no patrimônio natural da unidade de conservação, tanto em termos de biodiversidade quanto em valores menos tangíveis, como nos cenários. De fato, embora utópico, o ideal seria poder comparar o custo das interferências e os benefícios advindos da aplicação sistemática de valoração ambiental. Entretanto, tal condição deve ocorrer com base em diagnósticos mais precisos, suposições e expectativas, visto que muitos de seus valores partem de condições subjetivas. É justo, portanto, pressupor que a manutenção de áreas com elevados índices de preservação e mesmo de conservação, deve ser considerada com maior relevância principalmente em tempos de mudanças climáticas e extinção massiva de espécies por alterações antrópicas de ecossistemas protegidos ou não.

Por extensão, ao se examinar o ordenamento da malha de trilhas existentes em unidades de conservação, é patente que este se reveste de capital importância, ao se traduzir em potencial instrumento de proteção ambiental. O ordenamento é uma via de mão dupla, pois ao mesmo tempo em que interfere nos lugares e territórios,

também sofre

sua

repercussão

e

conseqüência. Deste

modo,

considerando o viés da conservação, a seleção de trilhas através da elaboração de roteiros com fins definidos e específicos, constitui por si mesmo, um dos vetores de zoneamento territorial e ambiental, pois ao se modular a acessibilidade da visitação, maneja direta e indiretamente os impactos, dentro de limites aceitáveis, em cada zona estabelecida.

É fato reconhecido que a gestão ótima de recursos ambientais pressupõe uma visão multidisciplinar e transversal, cujo julgamento, entretanto, tende a minimizar ou ignorar elementos componentes que possam comprometer o objetivo final, de acordo com a percepção e interesse do operador. Para a realidade do

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PNMNI, mesmo aquelas com prerrogativas de uso para a visitação estabelecida conforme a categorização do SNUC, a ausência de informações inconclusivas quanto à fauna, a flora e demais recursos, devem ser consideradas com mais acuidade quando se trata de unidades de conservação de proteção integral.

Por suposto que esta condição, de proteção integral, não deve ser impeditiva para o estabelecimento da visitação, pois esta também cumpre sua função social e cultural, contudo, a atenção, quanto aos impactos presentes e futuros, deve ser considerada, não só nas trilhas, espaços de lazer e de contemplação, mas também em seus efeitos deletérios por contigüidade, como é o caso dos eventos percebidos na fragmentação florestal induzidas pela abertura ou manutenção destas vias e espaços.

Ante a complexidade, demanda técnica e financeira de se estabelecer a valoração ambiental de recursos naturais da Unidade, essencial para se ter um parâmetro mais palpável para as relações custo-benefício de elementos tangíveis e intangíveis, deve-se optar pelo “principio da precaução” e estabelecer com mais prioridade as ferramentas de monitoramento de impactos, assim como aquelas que induzem a participação dos diversos atores; como preconizado pela metodologia de Monitoramento Participativo do Turismo Desejável (MPTD) sugerido por Seabra (2005, op.cit) e outras como o TOMM, VERP e VAMP. Salienta-se que estas ferramentas metodológicas são muito eficientes para a mobilização de conselhos consultivos,

que

no

PNMNI

embora

instituído,

possui

participação

e

representatividade muito aquém do desejado. De fato, os conselhos consultivos podem ser muito eficientes para criar condições políticas a favor da gestão das unidades, a exemplo de experiências vitoriosas como a estabelecida no Parque Nacional da Serra dos Órgãos através de suas diferentes câmaras técnicas e fóruns de participação com as comunidades de usuários.

No tocante à ampliação do perfil dos usuários, conforme demonstrado nesta dissertação, o conhecimento regular de seus hábitos e expectativas sobre o Parque é uma informação estratégica e de relevância, principalmente em unidades com carência de recursos humanos e materiais, como é o caso do PNMNI. Estas informações permitem que se otimizem recursos e se tracem estratégias para a

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adequada proteção dos recursos naturais e construídos, dentre os limites operacionais disponíveis. De fato, a massa de dados gerada irá consubstanciar as demandas da administração a quem de direito, assim como municiar pesquisas acadêmicas e técnicas.

Finalmente, pode-se dizer que nos trabalhos para desenvolvimento desta dissertação, a proposição de se subsidiar o zoneamento de lazer e ecoturismo utilizando a seleção de trilhas e estabelecimento de roteiros predefinidos, pode ser atingida e lançada as bases para se testar ao longo do tempo, a hipótese de se induzir a mudança no perfil do usuário do parque desejada pela administração; isto é, que o usuário médio do Parque também fosse capaz de utilizar as trilhas e outros espaços e atividades, além do uso sazonal de verão e localizado nos poços e cachoeiras do rio Dona Eugênia. Ressalta-se que em seu bojo o ordenamento da malha de trilhas selecionadas, assim como, o zoneamento recreativo proposto, irá facilitar os serviços de fiscalização da visitação e preservação dos recursos naturais e paisagísticos locais, os quais somente foram possíveis graças às múltiplas abordagens e vivências estabelecidas através de diferentes estratégias de percepção e aquisição de dados.

De fato, poder-se-ia abster destas derivações, como por exemplo, a criação do voluntariado e dos passeios guiados gratuitos, e concentrar-se apenas no objeto do mapeamento das trilhas, avaliação de territórios e lugares e propor um zoneamento conforme as diferentes proposições metodológicas existentes. Contudo, optou-se pelo trabalho interativo, pesquisa e ação. Desta forma, a riqueza conceitual para o ordenamento da malha de trilhas e o zoneamento conseqüente, tangencia diversos aspectos teóricos e práticos, de organização de sistemas e fluxos de energia, valoração ambiental, à conservação e turismo, dentre outros, reafirmando a necessidade da abordagem multidisciplinar e transversal do manejo de trilhas como ferramenta de conservação efetiva, representadas por diferentes contribuições.

Concluindo, como consideração final, pode-se estabelecer que a utilização das trilhas como vetores de zoneamento turístico e de lazer, possui grande potencial para, através de seu ordenamento, subsidiar o zoneamento territorial e ambiental de unidades de conservação.