Diretrizes

  • November 2019
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http://www.revistapatio.com.br/numeros_anteriores_numero.aspx?id=2 Revista Pátio - Educação Infantil Ano I - Nº 02 - De que Professor precisamos para a Educação Infantil - Julho à Outubro de 2003

Diretrizes para a formação de professores de educação infantil Z ilm a d e M or aes Ram os de O live ir a O professor da educação infantil deve preparar-se para ser um pesquisador capaz de avaliar as muitas formas de aprendizagem que estimula em sua prática cotidiana, as interações por ele construídas com crianças e famílias em situações específicas. Ele é alguém cuja riqueza de experiências vividas deve ser integrada ao conjunto de saberes que elabora o seu fazer docente.

A educação infantil vive um período bastante agitado, porém muito rico. Diversos caminhos têm sido trilhados para se definir seu lugar e sua função atual em nossa sociedade. Novas perspectivas em relação ao desenvolvimento infantil têm aberto interessantes possibilidades de promover a aprendizagem e o desenvolvimento de crianças pequenas em ambientes de educação coletiva, como a creche e a pré-escola. Uma das importantes questões nesse processo é a da formação do professor de educação infantil, considerado como sendo todo profissional que trabalha diretamente com as crianças no período em que elas ficam na creche ou na pré-escola. Muitos desses profissionais têm uma formação mais próxima de uma visão tradicional do que seria o trabalho escolar com crianças mais velhas, faltando-lhes modelos de desempenho adequados para mediar o desenvolvimento de crianças desde o nascimento. Outros, em número não desprezível, não têm sequer o nível mínimo de escolaridade legalmente requerido -- a habilitação magistério ou o curso normal em nível médio --, o que tem levado as políticas públicas na área a dar maior atenção ao problema, criando programas especiais de formação docente, sobretudo para os educadores de creches.

As questões mais freqüentes são: de que professor precisamos para a educação infantil e que pressupostos e alternativas de qualificação devem orientar a formação docente? O que as pesquisas na área têm apontado é que a criança desenvolve desde cedo sua sensibilidade, sua autonomia e sua solidariedade a partir de experiências educativas cuidadosamente organizadas. Isso também se faz presente na educação infantil. Nas múltiplas situações criadas em creches e pré-escolas, a criança tem no professor alguém qualificado para mediar seu desenvolvimento, auxiliando-a a ampliar as linguagens que usa para representar e exprimir sua forma de compreender o mundo e a si mesma. Tem sido apontado que o professor de educação infantil deve ter formação ética e competência na especificidade de sua tarefa, levando-se em conta o atual momento sócio-histórico, que ocorre em um mundo complexo, contraditório, violento, individualista, consumista e em constante mudança. O importante é proporcionar aos professores de creches e préescolas o domínio de conceitos e habilidades necessários para se ter uma atuação junto às crianças, atuação esta que seja promotora da aprendizagem e do desenvolvimento delas no sentido de lhes garantir o direito à infância. O professor da educação infantil deve preparar-se para ser um pesquisador capaz de avaliar as muitas formas de aprendizagem que estimula em sua prática cotidiana, as interações por ele construídas com crianças e famílias em situações específicas. Ele é alguém cuja riqueza de experiências vividas deve ser integrada ao conjunto de saberes que elabora sobre o seu fazer docente. Dele são exigidos investimento emocional, conhecimento técnico-pedagógico e compromisso com a promoção do desenvolvimento dos alunos. Ele precisa abrir-se a seus próprios modos de agir para enfrentar combinações que podem ser criativamente estabelecidas entre diferentes coisas, lidar com os próprios desejos e com a imaginação, compreendendo a maneira como a criança constrói significados sobre o que a cerca e sobre si mesma. Como na relação com a criança o professor repete suas próprias experiências infantis, em sua formação profissional ele precisa reconhecer suas emoções, trabalhar certos sentimentos que lhe desperta a atuação profissional, analisar continuamente suas próprias frustrações e sua agressividade para poder estabelecer uma relação segura com a criança, co-construir com ela conhecimentos em clima carinhoso e ter uma compreensão mais autônoma do próprio trabalho. Essa perspectiva de educação continuada integra-se ao projeto educativo constituído na instituição em que atua ou irá atuar, o que requer discutir como a articulação entre educar e cuidar é trabalhada na formação docente. As tarefas de cuidar e educar os membros socialmente imaturos realizadas pelos membros mais experientes de seu grupo têm atravessado os tempos, adquirindo feições novas e ajustando-se às demandas de cada época histórica. No entanto, os termos "cuidar" e "educar" têm significados particulares na educação infantil: o primeiro tem sido

associado às necessidades do corpo e o segundo, às possibilidades da mente; o primeiro está voltado a dar condições de sobrevivência às populações desprivilegiadas e o segundo, ao desenvolvimento intelectual dos filhos de grupos de maior prestígio social. O que a educação infantil busca fazer hoje é redefinir os dois termos, integrando-os em uma única meta: mediar o desenvolvimento sociocultural de nossas crianças desde o seu nascimento. Um modelo pedagógico que planeje a especificidade educativa da instituição de educação infantil não reduz a idéia de cuidado a assistência e custódia. O professor educa e cuida quando acolhe a criança nas situações difíceis, quando a orienta nos momentos necessários e apresenta-lhe pontos que considera significativos do mundo da cultura, da natureza, das artes, das relações sociais, conforme a leva a passear, brincar, observar a natureza, ouvir e ler histórias, ouvir música, conforme a ajuda a comer e dormir, sentir-se limpa, confortável e segura. Um trabalho pedagógico em que cuidar e educar são aspectos integrados é realizado pela criação de um ambiente em que a criança sinta-se segura e acolhida em sua maneira de ser, em que ela possa trabalhar adequadamente suas emoções, construir hipóteses sobre o mundo e elaborar sua identidade. Isso requer que cada professor aproprie-se criticamente de teorias sobre o desenvolvimento humano e examine o contexto concreto no qual as crianças vivem e as múltiplas formas como a cultura atua na promoção do seu desenvolvimento. A partir daí, o professor em formação pode aprender a planejar o dia-a-dia de uma creche ou pré-escola como um contexto que garanta o direito de toda criança a um ambiente acolhedor e desafiador, a organizar tempos e espaços para a realização de diferentes atividades que promovam o aprendizado do cuidado pessoal, o envolvimento das crianças em brincadeiras e o estímulo à realização por elas de projetos de investigação que atendam a seus interesses e necessidades, tudo isso em um programa de parceria com as famílias. Segundo essa concepção integrada de educar e cuidar, o professor de educação infantil participa da elaboração da proposta pedagógica de sua instituição, efetiva a partir dela um plano de trabalho junto às crianças, zela por sua aprendizagem e por seu desenvolvimento, ajustando as condições do ambiente físico e social da instituição, e responde diante da sociedade pela programação estipulada, avaliando seus resultados. Para desempenhar suas tarefas, o professor da creche participa de espaços de formação junto com seus colegas e trabalha em articulação com a família e a comunidade, devendo ser preparado para considerar os conflitos surgidos em sua relação com a criança e sua família. A ênfase curricular deve recair em experiências diversificadas, que estimulem a iniciativa e a autonomia intelectual dos professores em

formação e ofereçam-lhes oportunidades de desenvolver habilidades e de construir conhecimentos e valores em circunstâncias reais. Tais experiências devem partir da vivência concreta e promover o fortalecimento do pensamento crítico, do raciocínio argumentativo, da sensibilidade pessoal e da capacidade para trabalhar em equipe. Para tanto, a formação do docente da educação infantil deve articular os vários conceitos trabalhados no programa de capacitação -- inicial ou continuada -- com sua prática profissional cotidiana. Reuniões de supervisão da prática de ensino são um ponto fundamental na formação defendida. Nelas, tanto a percepção do papel do professor quanto o desempenho do mesmo devem ser trabalhados de maneira integrada e crítica. O desenvolvimento de competências para tomada de decisões nas situações interativas que o professor estabelece com as crianças também é requerido, cuidando-se ainda de garantir o exame das dimensões éticas da atuação docente. A fim de consolidar uma atuação mais eficiente, todo o período de prática de ensino requer criar uma programação estimulante de atividades que dê espaço para que a pesquisa ocorra e conduza os alunos a sistematizar suas reflexões em várias modalidades de registro. A possibilidade de se implementar inovadores, criativos e instigantes programas de formação docente a partir desses pontos tem aberto novas questões e reformulado perspectivas, em um movimento que é muito bem-vindo na área. Zilma de Moraes Ramos de Oliveira é pedagoga e livre-docente em Psicologia do Desenvolvimento. E-mail: [email protected] REFERÊNCIAS DEVRIES, R. e ZAN, B. A ética na educação infantil: o ambiente sócio-moral na escola. Porto Alegre: Artmed, 1998. SCHÖN, D.A. Educando o profissional reflexivo: um novo design para o ensino e a aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2000

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