Cruzamento

  • May 2020
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Cruzamento ou Exogamia O cruzamento pode ser definido como o acasalamento de indivíduos pertencentes a diferentes raças ou linhagens diferentes. O efeito fundamental deste sistema de acasalamento é promover a heterose. No estabelecimento de um sistema de cruzamento, deve-se considerar o ambiente no qual será criado os produtos do acasalamento, escolha das raças mais adequadas aos objetivos da criação, definir as características a serem melhoradas, estabelecimento de um sistema de registro e controle zootécnico. A prática de cruzamento de animais de diferentes raças ou linhagens tem os seguintes objetivos: a) aproveitar as vantagens da heterose: esta depende do graus de dominância entre alelos e das diferenças entre as freqüências gênicas entre as populações envolvidas no cruzamento; b) utilizar a “complementariedade” ou melhoramento em produção, associada à combinação de características desejáveis de duas ou mais raças ou linhagens. c) incorporação de genes desejáveis na população a taxa mais rápida do que seria alcançada pela seleção dentro da raça.

O aumento do vigor nos descendentes é denominado vigor híbrido ou heterose. De modo geral, a resposta à heterose é maior para as características de baixa herdabilidade. Assim, o vigor híbrido é alto em características reprodutivas, como fertilidade, tamanho de ninhada e sobrevivência; por outro lado, é menor para as características de crescimento pósdesmame, como eficiência alimentar e composição de carcaça, que são características de herdabilidade média a alta. 1.1.

Tipos de heterose

Heterose individual: é o aumento do vigor em um animal, individualmente, não atribuível aos efeitos maternos, paternos ou ligado ao sexo.

Heterose materna: é atribuível à utilização de fêmeas cruzadas, em vez de puras. Heterose paterna: é atribuível à utilização de machos cruzados, em vez de puros. 1.2.

Causas do vigor híbrido ou heterose

Teoria da dominância: nessa teoria, os genes dominantes têm efeitos favoráveis no vigor, enquanto os alelos recessivos fazem, em geral, com que indivíduos homozigotos sejam menos vigorosos. Como muitos genes influenciam o vigor, a probabilidade e que um animal seja portador de todos esses genes dominantes em homozigose é baixa. Assim, o cruzamento entre dois animais pouco relacionados (diferentes raças ou linhagens) resultará em descendentes com maior número de genes dominantes. Por exemplo, supondo que uma característica seja controlada por três locos, nos quais os alelos A, B e C sejam dominantes. Cada um desses locos, no qual o gene dominante esteja presente, adiciona uma unidade ao desempenho do animal. Assim, o cruzamento de duas raças ou linhagens com os genótipos AabbCC (valor = 2) e aaBBcc (valor =1) produzirá descendentes AaBbCc (valor = 3). Como os genes são dominantes, as condições homozigóticas AA, BB, e CC são idênticas às heteróticas AaBaCc. Teoria da sobredominância: nessa teoria, o heterozigo (Aa) é superior a qualquer dos homozigotos (AA ou aa). Baseia-se na teoria de que, no heterozigoto, ambos os genes podem competir e, na maioria dos casos, o alelo dominante ganha e determina o fenótipo. Outra versão é a de que o alelo A produz determinada substância, enquanto o alelo a produz outra, havendo complementação fisiológica. Essa maior versatilidade tornaria o híbrido mais adaptável e produtivo. Tomando o exemplo anterior, o cruzamento de duas raças ou linhagens com os genótipos AabbCC e aaBBcc produziria descendentes heterozigotos AaBbCc, que seriam mais vigorosos. Teoria da epistasia: nessa teoria, supõe-se que haja interação de genes de diferentes locos. Um gene de um loco junto a outro de loco diferente resultaria em efeito mais favorável.

Nesse caso, as combinações A_B_ (AABB, AABb, AaBB e AaBb) resultam em interações, em que a presença de ambos os genes, A e B, proporcionem vigor superior ao esperado pela presença de apenas um gene A ou B (A_bb ou aaB_). Tomando o exemplo anterior, o cruzamento de duas raças ou linhagens com os genótipos AabbCC e aaBBcc produziria descendentes AaBbCc, que seriam mais vigorosos. 1.3.

Cálculo da heterose

A heterose ou vigor híbrido é a superioridade dos animais, obtida por exogamia, sobre a média de seus pais, com relação a mérito individual, ou seja, é o aumento de vigor dos descendentes em relação aos pais, quando se acasalam indivíduos não aparentados (LASLEY, 1963 e LUSH, 1964).

H=

XC − XP × 100 , XP

em que H = grau de heterose; X C = média dos cruzamentos; e X P = média dos pais. 1.4.

Efeito materno

Efeito materno é definido como a influência pré e pós-natal que as mães exercem sobre o fenótipo de seus filhos. Geralmente, os valores médios das características nos descendentes do cruzamento de duas raças ou linhagens podem variar conforme a raça da mãe. Assim, os descendentes do cruzamento de machos A com fêmeas B podem ser diferentes do recíproco (machos B com fêmeas A). Essas diferença se deve à superioridade das mães de uma raça em relação às de outra. 1.5.

Tipos de cruzamentos

1.5.1. Cruzamento simples Nesse sistema de cruzamento, fêmeas de uma raça (B) são acasaladas com machos de outra raça (A). O criador precisa possuir machos e fêmeas puros das raças A e B. Exemplo: A × B ↓ 1 AB (F1) 2 Esse sistema permite o aproveitamento da “complementariedade” de duas raças. O uso do cruzamento F1 x F1 serve como alternativa de preservação das características desejáveis do F1. Entretanto, a variação no desempenho do F2 é maior do que a observada no F1. Esse processo mantém 50% da heterose obtida no F1, o que, em alguns casos, pode ser vantajoso. 1.5.2. Cruzamento contínuo ou absorvente O cruzamento contínuo ou absorvente consiste no uso contínuo de reprodutores de raças geneticamente superiores, até que haja a absorção da raça nativa ou de menor potencial genético. Obtêm-se, sucessivamente, os “graus de sangue” 1/2; 3/4; 7/8; 15/16, até a obtenção da raça pura, por cruzamento. Exemplo:

A × B ↓ 1 A × AB 2 ↓ 3 A × AB 4 ↓ 7 A × AB 8 ↓ 15 A × AB 16 ↓ 31 A × AB (Puro por cruza ). 32 Esse processo exige mudanças gradativas nas condições de criação, uma vez que, à medida que os animais se aproximam da raça pura, maiores são suas exigências nutricionais e melhores devem ser o controle sanitário e as instalações. 1.5.3. Cruzamento rotativo ou alternado a) Cruzamento alternado entre duas raças Consiste no cruzamento entre duas raças, alternando a raça do reprodutor, a cada geração. Após algumas gerações, o criador terá em seu rebanho dois “graus de sangue”: 2/3 A : 1/3 B e 1/3 A : 2/3 B, aproximadamente. Exemplo:

A × B ↓ A × AB ↓ B × A(AB) ↓ A × B(A(AB)) ↓ B × A(B(A(AB))) Λ Esse sistema é o ideal para produtores que tenham baixo nível de criação, porque o maior “grau de sangue” A (2/3) não terá maiores problemas de manejo. Outra vantagem desse sistema é que o criador pode fazer a reposição de fêmeas com animais do próprio plantel. O criador precisa adquirir machos das raças A e B, alternativamente, de rebanhos de raças puras.

b) Cruzamento alternado entre três raças Consiste no cruzamento entre três raças, alternando a raça do reprodutor, a cada geração. Exemplo: A × B ↓ C × AB ↓ A × C(AB) ↓ B × A(C(AB)) ↓ C × B(A(C(AB))) Λ

Nesse sistema, o criador pode, também, fazer a reposição de fêmeas com animais do próprio plantel. O criador precisa adquirir machos de três raças A, B e C, alternativamente, de rebanhos de raças puras. Existe, entretanto, o inconveniente de ser difícil encontrar três raças que se adaptem bem a esse esquema. O controle reprodutivo também é mais complicado. 1.5.4. Cruzamento triplo ou “tricross” Nesse sistema, fêmeas cruzadas ½ AB são acasaladas com machos puros de uma terceira raça (C). Exemplo: A × B ↓ C × AB ↓ ABC (Tricross) Essa é uma opção para o criador que deseja obter alto grau de heterose e, ao mesmo tempo, alto nível de produção, provenientes das raças utilizadas nos cruzamentos. O inconveniente desse sistema é que o criador precisa adquirir machos puros da raça C e fêmeas cruzadas ½ AB, para reposição do plantel. 1.5.5. Cruzamento duplo entre quatro raças Nesse sistema, fêmeas cruzadas ½ CD são acasaladas com machos cruzados ½ AB. Essa é a opção para o criador que deseja aproveitar a heterose individual do híbrido duplo, a heterose materna, atribuível às fêmeas cruzadas, e a paterna, atribuível aos machos cruzados. Existe o inconveniente de o criador ter que adquirir machos cruzados ½ AB e fêmeas cruzadas ½ CD, para a reposição do plantel. Exemplo:

A × B

C × D





1 AB 2

×

1 CD 2

↓ ABCD (Híbrido duplo)

Formação de uma nova raça sintética Para fixação de uma nova raça é necessário o acasalamento entre touros e vacas mestiças, geralmente de um mesmo grau de sangue, por exemplo, bimestiço Girolando, que é o 5/8 HZ. A partir do F1 pode-se obter o girolando ou 5/8 H + 3/8 Gir, como demonstrado nos diagramas I e II, fixando o grau de sangue da nova raça. Na tentativa de se obter e fixar uma raça leiteira tropical, o MAPA, através da Portaria 079, de 07 de Fevereiro de 1996, oficializou a criação da raça “Girolando” que é o cruzamento do Holandês com Gir, tendo 5/8 de “sangue” Holandês + 3/8 de Gir. A Associação Brasileira de Criadores de Girolando, sigla “Girolando”, é a Entidade Oficial encarregada do Registro Genealógico, tendo como finalidade incrementar a criação da raça Girolando. Um gado leiteiro produtivo e padronizado, adaptado à região tropical e subtropical. A sede da “Girolando” fica em Uberaba – MG. O diagrama I ilustra a estratégia de cruzamento mais comum utilizada para obtenção do gado Girolando. Touros P.O. da raça Holandesa, de preferência provados para leite, são cruzados com vacas Gir, obtendo-se o F1. As fêmeas F1 são cruzadas com touro Gir tembém provado, obtendo-se o ¼ H + ¾ G. As fêmeas ¼ H + ¾ G são então cruzadas com touro Holandês P.O. obtendo-se animais 5/8 H + 3/8 G, que acasalados entre si formam o bimestiço que se pretende fixar como raça pura, adaptada aos trópicos. Para implementar este esquema estão disponíveis no mercado touros Holandês P.O e Gir leiteiro P.O. provados (pelo teste de progênie) para produção de leite.

Outra opção para obter animais bimestiços é cruzar touro Holandês P.O. com vacas Gir, obtendo-se o F1 . As fêmeas F1 são cruzadas com touro Holandês P.O. obtendo-se as ¾ H + ¼ Gir. As fêmeas ¾ H + ¼ G são então cruzadas com touros ½ HG (F1),ou o inverso,fêmeas 1/2 HZ cruzados com touro 3/4 HZ, obtendo-se o 5/8 H + 3/8 G. O problema neste esquema é que não se dispõe de touros meio-sangue, e nem touros 3/4 HZ, provados para leite. Neste caso o melhor é escolher o touro pelo “pedigree” e pela produção da mãe. A Associação Girolando aceita o uso de touros 5/8H + 3/8 G para cruzar com vacas ¾ H + ¼ G, visando formar um grupamento de animais próximo ao grau de sangue desejado de 5/8 H + 3/8 G, (4,5 de H + 3,5/8 de G), conforme demonstrado no diagrama II. Estratégia de Cruzamento

Fonte: Associação Brasileira de Criadores de Girolando. Após atingir o grau de sangue desejado de 5/8 H + 3/8 G, o rebanho deve ser estabilizado, utilizando-se touros 5/8 H + 3/8 G, mantendo-se assim o bimestiço Girolando . Este é o exemplo clássico de estabilização de raças bimestiças em todo o mundo. Isto será acelerado após dispor de touros 5/8 H + 3/8 G provados para leite. Com o processo de seleção a raça poderá aumentar sua média de produção de leite. O tempo requerido para estabilizar a raça Girolando em 5/8 H + 3/8 G é considerável,no mínimo de 10 a 15 anos. Para acelerar este processo, o produtor poderá adquirir fêmeas ¾ H + 1/4 G e cruzá-las com touro ½ HG, ou fêmeas 1/2 HG cruzadas com touro 3/4 HG. Fêmeas ¼ H + ¾ G tem pouca disponibilidade no mercado, mas cruzadas com touro Holandês P.O. vai dar o 5/8 H + 3/8 G, como no diagrama 1.

Outro exemplo: O esquema abaixo mostra como isso foi feito no caso da raça Piemonel

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