Consumo Florestal

  • October 2019
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COMUNICAÇÃO CONSUMO FOLIAR EM Eucalyptus urophylla POR Acromyrmex laticeps nigrosetosus FOREL (HYMENOPTERA-FORMICIDAE) EDUARDO C. ANTUNES1 TEREZINHA M. C. DELLA LUCIA2 RESUMO - Estimativas dos danos causados por Acromyrmex laticeps nigrosetosus aos reflorestamentos, bem como trabalhos sobre a bioecologia das espécies desse gênero são quase inexistentes. No Brasil, esse inseto é encontrado de Norte a Sul notadamente no município de Paraopeba-MG, onde apresenta, durante todo o ano, grande abundância de ninhos. Este trabalho teve por objetivo avaliar o consumo foliar desta subespécie sobre eucalipto, em condições de laboratório. O trabalho foi desenvolvido no Insetário DBA/UFV, utilizando-se quatro colônias da referida cortadeira. Na avaliação do consumo foliar, foram utilizadas mudas de

Eucalyptus urophylla S.T. Blake, de aproximadamente três meses de idade. As quatro colônias consumiram, em média, 3,53±0,55 g por colônia/dia. Com relação à área foliar, o consumo médio constatado para a espécie representou 222,53±29,5 cm2. Conforme esperado, houve alta correlação (r= 0,96) entre o peso do material vegetal cortado e a área foliar cortada. Os resultados obtidos, juntamente com os dados da literatura, permitem ponderar que esta espécie de cortadeira não representa riscos de perdas consideráveis em volume de madeira, em plantios de eucaliptos em fase de manutenção.

TERMOS PARA INDEXAÇÃO : Formiga cortadeira; Eucalyptus urophylla; Acromyrmex; Quenquém

LEAF-CONSUMPTION IN Eucalyptus urophylla BY Acromyrmex laticeps nigrosetosus FOREL (HYMENOPTERA-FORMICIDAE)1 ABSTRACT - Studies on the ecology and on leafconsumption by Acromyrmex laticeps nigrosetosus are virtually non-existent. This subspecies of leaf-cutting ant is found throughout Brazil, being very abundant and frequent in certain areas of Minas Gerais State. Four colonies of this leaf-cutter were used to evaluate eucalypt leaf-consumption under laboratory conditions. Three month-old seedlings of Eucalyptus urophylla S.T. Blake were offered to each one of the four colonies

and the weight and leaf area were measured before and after daily leaf exposition to the ants. On average, the colonies cut each 3.53 ± 0.55 g per day, the equivalent to 222.53 ± 29.5 cm2, with noticeable differences among them. As expected, there was a high correlation (r = 0.96) between the weight of the leaf and the leaf area cut by the ants. These data suggest that A. laticeps nigrosetosus should not be considered a serious pest to older eucalypt trees.

INDEX TERMS: Leaf-cutting ant, Eucalyptus urophylla; Acromyrmex; Leaf-cutter ant. As formigas cortadeiras são apontadas como as pragas mais importantes nos reflorestamentos de eucalipto e pinus, em razão dos prejuízos que causam e de sua vasta ocorrência. Apesar da escassez de trabalhos direcionados às espécies do gênero Acromyrmex ou quenquéns, em comparação com as do gênero Atta, as Acromyrmex vêm ocupando, cada vez mais, lugar de importância em áreas de reflorestamentos, pois podem, algumas vezes, superar as saúvas em abundância. Mendes Filho (1981) verificou que 200 formigueiros/ha de quenquéns causam perdas de 30% das cepas em euca-

lipto. Entretanto, estimativas de danos provocados por elas tornam-se dificultadas, em virtude de poucos estudos direcionados à bioecologia das espécies desse gênero, os quais fornecem subsídios para essa quantificação de prejuízos. No Brasil, Acromyrmex laticeps nigrosetosus é encontrada desde a região Sul até a Norte. Em Minas Gerais, no município de Paraopeba, esta subespécie apresenta alta freqüência durante todo o ano e grande abundância de ninhos (Araújo, 1996). No entanto, informações sobre ela são quase inexistentes, podendo-se

1. Estudante de Mestrado em Entomologia, Universidade Federal de Viçosa (UFV) 36.571-000 - Viçosa - MG. 2. Professora do Departamento de Biologia Animal, UFV - Viçosa - MG.

209 destacar apenas os estudos sobre sua nidificação e forrageamento que se limitam aos trabalhos de Gonçalves (1961), Araújo (1996) e Araújo e Della Lucia (1997). Este trabalho teve por objetivo avaliar o consumo foliar de A. laticeps nigrosetosus sobre eucalipto, visando, ainda, fornecer informações sobre o seu potencial como espécie-praga. Este trabalho foi desenvolvido no Insetário do Departamento de Biologia Animal, Universidade Federal de Viçosa (UFV), utilizando-se quatro colônias de A. laticeps nigrosetosus, coletadas na Mannesman Florestal Ltda, Fazenda Itapoã, em Paraopeba - MG, e mantidas em criação, conforme descrito por Della Lucia et al. (1993), entre 25 e 30 °C; 70 e 85% U.R. e em escotofase de 18h. 7A área de forrageamento era constituída por uma superfície de madeira de 30x30 cm, fixada sobre um suporte de ferro tipo mesa, cujos pés foram colocados num pote plástico de 500 ml, com uma fina camada de talco inerte para evitar a fuga das formigas. Durante o período de adaptação no laboratório, as colônias foram expostas diariamente à folhas e pétalas de diferentes plantas. Três colônias (C2, C3 e C4) apresentaram volume de fungo de aproximadamente 500 ml, e uma outra (C1), 1700 ml de fungo, possuía maior número de operárias e, conseqüentemente, maior atividade de forrageamento. Na avaliação do consumo foliar, foram utilizadas mudas de Eucalyptus urophylla S.T. Blake de aproximadamente três meses de idade, cedidas pelo Viveiro Florestal/UFV. Vinte e quatro horas antes de iniciar cada teste, foi retirado todo o substrato vegetal das colônias, as quais permaneceram em jejum. Após este jejum, foram oferecidas folhas de E. urophylla durante um período de 24 horas. Essas foram pesadas em balança de precisão e suas áreas medidas em medidor de área foliar, antes e após seu oferecimento às formigas. Obteve-se também a correção para a perda de água. Para isso, folhas do eucalipto avaliado foram pesadas e mantidas intactas, longe do alcance das formigas no mesmo local e ambiente onde os lotes de folhas foram oferecidos às formigas. Por diferença de peso se

obtinha a perda de água das folhas. Foi conduzido um total de oito repetições para cada colônia, sendo que entre cada repetição, permitia-se um intervalo de 12 horas, em que as colônias eram expostas a folhas e pétalas de Rosa gallica L. (rosa), Ligustrum japonicum Buch. Harm. Ex D. Don (alfeneiro) e Acalypha wilkesiana Muell. Arg. (califa), evitandose, desta forma, estresse nas colônias, em razão da utilização ininterrupta de um único substrato. Observou-se, ainda, o comportamento geral de forrageamento dessa cortadeira. O consumo foliar desta espécie foi pequeno em relação ao consumo de eucalipto por outras espécies de cortadeiras, como citado em Pereira (1995). As quatro colônias consumiram, em média, 3,53 ± 0,55 g por dia (Tabela 01). Houve, todavia, considerável diferença entre colônias. Entretanto, três colônias (C2, C3 e C4) consumiram, em média, apenas de 1,94 g por dia; e uma outra colônia (C1) consumiu 4,5 vezes mais. Essa diferença é estatisticamente significativa (p < 0,05 Newman - Keuls). Esse fato se deve ao maior tamanho desta colônia e intensa atividade forrageadora de suas operárias. Formigueiros pequenos de cortadeiras geralmente apresentam menor atividade de forrageamento (Della Lucia et al., 1995). De acordo com Fowler e Robinson (1979), a intensidade de forrageamento pode ser definida, em algumas situações, pelo tamanho do ninho, pelo número de imaturos e pelas necessidades internas da colônia. Em Acromyrmex landolti, os valores de consumo de gramíneas, em pastagens, foram estimados em cerca de 5,9 g/colônia/dia, em termos de peso seco (Cherrett, Pollard e Turner, 1974), e em 2,3 g/colônia/dia para essa mesma espécie de cortadeira (Robinson e Fowler, 1982). Isso representa valor próximo aos obtidos no presente trabalho. No campo, o carregamento de vegetal por A. laticeps nigrosetosus foi estimado em 1,08 kg/colônia/ano ou 2,9 g/colônia/dia, incluindo diversas outras espécies de vegetais do sub-bosque no reflorestamento, além do eucalipto (Araújo, 1996).

TABELA 1 - Peso total médio (g) de folhas de Eucalyptus urophylla cortadas e carregadas por Acromyrmex laticeps nigrosetosus, em laboratório. Colônias

Peso total médio carregado (g)

Erro Padrão(g)

C1

8,29 a

7,41

C2

2,44 b

3,33

C3

1,94 bc

2,61

C4

1,45 c

1,69

3,53

0,55

Média

Ciênc. e Agrotec. V.23, n.1, p.208-211, jan./mar., 1999

210 Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si Com relação à área foliar, o consumo médio constatado para a subespécie representou 222,53 ± 29,5 cm2 (Tabela 2). Conforme esperado, houve alta correlação (r = 0,96) entre o peso do material vegetal cortado e a área foliar cortada. Quanto à intensidade do forrageamento, observou-se que esta foi maior durante a fase escura, tendo havido intenso contato antenal entre as operárias durante essa escotofase. O número médio de ninhos/ha dessa subespécie em plantios de eucalipto em fase de corte é de 2,69 e o tamanho médio desses formigueiros é de 0,92 m2 (Araújo, 1996). Segundo este mesmo autor, essa cortadeira forrageia a vegetação do sub-bosque, além do eucalipto. De acordo com Oda e Berti Filho (1978); Freitas e Berti Filho (1994); Oliveira (1996), dentre outros, somente um nível de 100% de desfolha em

pelo teste Newman - Keuls (p < 0,05) Eucalyptus é capaz de afetar drasticamente o crescimento em diâmetro e altura e, portanto, o volume de madeira das árvores. Diante do exposto e dos resultados obtidos neste trabalho, pode-se inferir, com segurança, que A. laticeps nigrosetosus não representa risco de perda em volume de madeira para florestas de eucalipto em fase de manutenção. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à FAPEMIG o apoio financeiro ao projeto (CAG 224-94) e a Bolsa de Aperfeiçoamento concedida ao primeiro autor. Ao CNPq, pela bolsa de pesquisador e à Mannesman Florestal Ltda, pela disponibilidade da área e auxílio no campo.

TABELA 2 - Área foliar total médio (cm2) de Eucalyptus urophylla cortada e carregada por Acromyrmex laticeps nigrosetosus, em laboratório. Colônias

Área Foliar Total Médio Carregada (cm2)

Erro Padrão(cm2)

C1

468,16 a

54,15

C2

158,30

b

17,85

C3

141,23

b

13,80

C4

110,87

b

20,44

Média

222,53

29,44

Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste Newman - Keuls (p < 0,05)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, M.S. Espécies de formigas cortadeiras e ecologia de Acromyrmex laticeps nigrosetosus num povoamento de eucalipto. Viçosa: UFV, 1996. 51p (Tese - Mestrado em Entomologia). ARAÚJO, M.S; DELLA LUCIA, T.M.C. Caracterização de ninhos de Acromyrmex laticeps nigrosetosus Forel, em povoamento de eucalipto em Paraopeba, MG. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, Londrina, v.26, n.1, p.205-207, 1997. CHERRETT, J.M.; POLLARD, G.V.; TURNER, J.A. Preliminary observations on Acromyrmex landolti (For,) and Atta laevigata (Fr. Smith) as pasture pests in Guyana. Tropical Agriculture, Sunney, v.51, p.66-74, jan. 1974. DELLA LUCIA, T.M.C.; VILELA, E.F.; ANJOS, N.; MOREIRA, D.D.O. Criação de formigas cortadeiras Ciênc. e Agrotec. V.23, n.1, p.208-211, jan./mar., 1999

em laboratório. In: Della Lucia, T.M.C. (ed). As formigas cortadeiras, Viçosa, UFV, 1993, p.151162. DELLA LUCIA, T.M.C.; OLIVEIRA, M.A.; ARAÚJO, M.S.; VILELA, E.F. Avaliação da não preferência da formiga cortadeira Acromyrmex subterraneus subterraneus FOREL ao corte de Eucalyptus. Revista Árvore, Viçosa, v.19, n.1, p.92-99, jan/abr. 1995. FOWLER, H.G.; ROBINSON, S.W. Foraging by Atta sexdens (Formicidae; Attini). Seasonal pattern, caste and efficiency. Ecological Entomology, Oxford, v.4, p.239-247, 1979. FREITAS, S. e BERTI FILHO, E. Efeito do desfolhamento no crescimento de Eucalyptus grandis Hill Ex. Maiden (Myrtaceae). Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais, Piracicaba, v.47, p.36-43, 1994.

211 GONÇALVES, C.R. O gênero Acromyrmex no Brasil (Hymenoptera: Formicidae). Studia Entomologica, Petrópolis, v.4, p.113-180, 1961.

1996. 61p (Tese - Mestrado em Entomologia).

MENDES FILHO, J.M.A. Ação danosa de pragas desfolhadoras sobre as florestas de Eucalyptus. Piracicaba: ESALQ/USP, Piracicaba, p.1-6, 1981. P1-6. (Circular Técnica, 131).

PEREIRA, R.C. Estimativa de consumo foliar por Acromyrmex subterraneus subterraneus FOREL, 1893 (Hymenoptera: Formicedaae) em povoamento de eucalipto na Cenibra Florestal S.A. Viçosa: UFV, 1995. 50p. (Monografia - Graduação em Engenharia Florestal).

ODA, S. e BERTI FILHO, E. Incremento anual volumétrico de Eucalyptus saligna em áreas com diferentes níveis de infestação de Thyrinteina arnobia. Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais, Piracicaba, v.17, p.27-31, 1978.

ROBINSON, S.W. e FOWLER, H.G. Foraging and pest potential of Paraguyan grass-cutting ants (Atta and Acromyrmex) to the cattle industry. Zeitschrift fuer Angewandte Entomologie. Humburg. v. 93, p. 4254, 1982.

OLIVEIRA, M. A. Identificação de formigas cortadeiras e efeito do desfolhamento simulado em plantios de Eucalyptus grandis. Viçosa. UFV,

Ciênc. e Agrotec. V.23, n.1, p.208-211, jan./mar., 1999

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