Conhecimento Do Enfermeiro

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CONHECIMENTO DO ENFERMEIRO SOBRE SUA ATUAÇÃO EM SANEAMENTO BÁSICO NO PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA (PSF) EM GUARAPUAVA – PR

NURSE’S KNOWLEDGE ABOUT THEIR PERFORMANCE IN BASIC SANITATION IN THE FAMILY HEALTH PROGRAM – GUARAPUAVA – PR, BRAZIL Marcelli Cristina Cervo1, Helena Ângela de Camargo Ramos2

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Acadêmica do Curso de Enfermagem, Universidade Estadual do Centro-Oeste/UNICENTRO. Especialista em Saúde Pública, Professora do Departamento de Enfermagem, Universidade Estadual do Centro-

Oeste/UNICENTRO. Correspondência: Helena Ângela de Camargo Ramos ([email protected]).

Resumo As condições de saneamento básico ofertadas à população são um dos fatores que determinam a qualidade de vida e interferem no processo saúde/doença. O enfermeiro desempenha importante papel nesse processo, na tentativa de garantir à população condições mais dignas de viver. Este estudo tem como foco o conhecimento dos enfermeiros acerca das ações em saneamento básico que lhe são cabíveis, e o modo como são desenvolvidas essas ações, na vida profissional, quando o acesso a esse serviço é limitado e/ou inexistente. Trata-se de uma pesquisa de campo de caráter qualitativo, realizada com enfermeiros das equipes do Programa de Saúde da Família do município de Guarapuava. Os dados coletados foram organizados em quadros segundo sua temática e categoria. Os resultados apresentados demonstraram a preocupação dos enfermeiros em associar às suas práticas de saúde, ações de saneamento, estando cientes dos problemas gerados pela falta de infra-estrutura de saneamento básico. Um dos principais problemas evidenciados é que apesar da importância dada ao assunto, pouco é feito para melhorar a qualidade de vida da população que não dispõe desse bem, seja pela falta de atitude e atuação dos profissionais, seja pela falta de preparo e conhecimento para atuação e intervenção nas situações de risco. Descritores: Saneamento básico; Educação em saúde; Qualidade de vida.

Abstract The basic sanitary conditions offered to a population are one of the factors that determine quality of life and interfere on the health-disease process. Nurses discharge an important role at this process, in attempt to guarantee more dignifying living conditions to population. This research focuses on the nurse’s knowledge about the role they should perform on basic sanitation and the way they develop actions when this service is unsatisfactory or inexistent. A qualitative research was developed with nurses that work on the Family Health Program in Guarapuava – PR, Brazil. Data was organized in squares according to its thematic and category. Results show the nurses’ concern about associate to their health practices sanitation actions, being conscious about the problems created by privation of basic sanitation framing. Despite the issue relevance, not much is done to improve quality of life of population that is not attended by this service. The reasons are the lack of attitude and professional performance due to the fact that nurses are not able to act in risk situations. Keywords: Basic sanitation; Health education; Sanitary education; Quality of life.

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Atuação do enfermeiro em saneamento básico

INTRODUÇÃO Do mundo globalizado, digitalizado e moderno em que vivemos, não fazem parte cerca de três bilhões de pessoas, que vivem em péssimas condições sanitárias, o que facilita a propagação de doenças como hepatite, cólera, febre tifóide, diarréia, entre outras, causando óbitos que poderiam ser evitados. No Brasil, apenas 33,5% dos domicílios são atendidos por rede de esgotos.1 "Esses efluentes e sua ingestão são responsáveis por cerca de 80% das doenças e 65% das internações hospitalares”.2 Em paralelo a tudo isso, destaca-se as produções recordes de lixo, que nos últimos vinte anos atinge 0,74 kg/hab/dia.1 O resultado desse crescimento desordenado e o nível de importância que ele vem assumindo dentro da problemática global, fazem com que, em pleno século XXI, seres humanos estejam dividindo o mesmo espaço com rejeitos sanitários e resíduos sólidos. Esses problemas tornam-se crescentes à medida que nos distanciamos deles. A enfermagem, nesse contexto, possui um importante papel: fornecer condições para que uma população, mesmo sem acesso ao saneamento básico, possa, com medidas alternativas, viver de forma saudável. Um exemplo disso seria a cloração da água para o consumo ou a instalação de fossas sépticas para depositar resíduos sanitários que facilmente seriam lançados em rios, contaminando-os e gerando doenças.

É preciso ter presente que a promoção da saúde e a Educação em Saúde são indissociáveis. A promoção da saúde só se concretiza em estilos de vida e em políticas públicas saudáveis, se ações educativas ocorrerem simultaneamente, viabilizando a participação de indivíduos, grupos, enfim, da sociedade como um todo.5 Nesta perspectiva, a enfermagem, em seu campo de atuação, torna-se sujeito indispensável para educar no sentido de promover saúde melhorando as condições de saneamento básico da população. Assim, nos serviços de saúde, a educação é básica para o cidadão transpor as limitações impostas pelo processo saúde-doença que o próprio viver lhe impõe, tornando-o participante ativo, podendo, inclusive, trazer sugestões inovadoras e de valor prático inquestionável. Sendo assim, o cidadão participante da atividade pública, no caso o enfermeiro, deve voltar-se com toda sua competência e sensibilidade para o exercício de sua função de orientar, de ajudar e de compreender o valor da vida.6 Para se chegar à qualidade de vida tão propagada neste início de século, os profissionais da saúde não podem ficar enclausurados em suas salas, ao contrário, é preciso que se projetem para junto da população, das autoridades e, que além de conscientizar, promovam práticas de vigilância sanitária capazes de resolver ou minimizar os problemas existentes.7

No entanto, para que as ações de enfermagem se tornem reais, é preciso que sejam subsidiadas por conhecimento científico e prático que deveria ser oferecido pelas Universidades, instituições e órgãos empregadores. Uma das barreiras que dificultam a educação em saúde é a falta de conhecimento dos profissionais de saúde e a própria vivência na realidade dos problemas.3

“No cuidado humano, existe um compromisso, uma responsabilidade em que, estar no mundo, não é apenas para fazer aquilo que satisfaz, mas ajudar a construir uma sociedade com base em princípios morais”.8 Este é o papel da enfermagem!

Existe uma necessidade de reorientação dos serviços de saúde, de uma postura abrangente, que respeite as peculiaridades culturais, de esforço maior de pesquisa em educação em saúde, mudança na educação e no ensino dos profissionais da área de saúde, para que as pessoas sejam vistas e assistidas na integralidade do seu ser.4

Trata-se de uma pesquisa qualitativa que é o método indicado para quem busca entender o contexto onde algum fenômeno ocorre.

METODOLOGIA

A pesquisa qualitativa torna-se importante para: (a) compreender os valores culturais e as representações de determinado grupo sobre temas específicos; (b) para compreender as relações que se dão entre atores sociais; (c) para avaliação das políticas públicas e sociais tanto pelo ponto de vista de

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sua formulação, aplicação técnica, como dos usuários a quem se destina.9 A população de estudo foi composta pelos enfermeiros atuantes nas oito equipes do Programa Saúde da Família do município de Guarapuava, Paraná. Os dados foram coletados por meio de entrevistas. Este método se caracteriza por ser uma interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer e procede-se a partir da coleta de informações junto a um grupo significativo de pessoas sobre o tema em estudo.10 Quanto ao caráter teórico-bibliográfico, esta pesquisa valeu-se de material já publicado sobre o assunto em livros, periódicos e rede on-line, o que possibilitou a construção de uma fundamentação capaz de orientar com maior precisão propostas conscientizadoras ou de ação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados da pesquisa de campo foram registrados em quadros seguidos de inferências; estes possibilitaram uma visão de como o saneamento básico é visto e o que pode ser feito pelos profissionais da saúde para corrigir ou minimizar os problemas através de ações de caráter preventivo. Quadro 1 TEMA Percepção e preocupação dos enfermeiros acerca de saneamento básico e qualidade de vida

CATEGORIA - Saneamento Básico x Qualidade de vida (a,b, f) 37,5% - Destino dos Resíduos sólidos (c) 12,5 % - Conscientizar é sanear (d, e, g, h) 50%

Na categoria “Saneamento Básico x Qualidade de vida”, 37,5% dos entrevistados relacionam a qualidade de vida com saneamento básico como condição indispensável para a saúde. O abastecimento de água e o esgotamento sanitário são vitais para a melhoria das condições de vida e saúde das comunidades e na recuperação e proteção do meio ambiente, o que consagra a necessidade de sua universalização.11 Na categoria “Destino dos Resíduos Sólidos”, 12,5% apontam preocupação em relação ao saneamento básico e à ação de destinar o lixo

que a população produz. No relato, o sujeito em questão transcreve seu pensamento: “Procuro orientar a população através das visitas que realizo, que o cuidado com o lixo, a limpeza do quintal, etc faz muita diferença e traz grandes benefícios para eles, mas ainda tem muito a ser trabalhado”. Fica explícito que, nesta fala, falta conhecimento do que realmente é saneamento básico. Ele não se restringe apenas ao destino dos resíduos sólidos, mas também ao esgotamento sanitário e ao abastecimento de água. “A palavra saneamento vem de sanear, que, por sua vez, quer dizer ‘tornar são’, ‘habitável’. Compreende a canalização ou rede de distribuição de água e seu tratamento, a rede coletora de esgoto e seu tratamento, a limpeza pública e a coleta de lixo e o seu destino final”.12 A categoria “Conscientizar é Sanear” aponta que a metade dos entrevistados expressa sua preocupação com relação ao saneamento básico através de medidas que visem incorporar nas pessoas hábitos saudáveis, com o intuito de promover a saúde. Quadro 2 TEMA Como o enfermeiro atua junto à comunidade no sentido de conscientizá-la da necessidade de melhorar suas condições sanitárias

CATEGORIA - Ações/atividades desenvolvidas (a, b, c, d, e, h) 63,3% - Atuação em áreas de risco (c, f, g) 37,5%

Na categoria “Ações/Atividades desenvolvidas”, 63,3% dos enfermeiros firmam-se como figuras atuantes em ações de promoção do saneamento básico destacandose o “educar em saúde”. Sem dúvida, eles estão no caminho certo; educar é tornar uma pessoa consciente de seus atos, com noções de higiene e de como, sem mesmo ter água encanada ou coleta e tratamento de esgoto, podem viver de forma saudável. Neste caso, a intervenção da enfermagem faz-se necessária. A defesa de medidas saudáveis implica em adotar certos hábitos, novas posturas, agindo em favor da saúde.13 E é nesse caminho que os profissionais da saúde devem atuar. Enquanto a categoria “Ações/Atividades desenvolvidas” faz educação em saúde com

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toda a população, na segunda categoria do quadro 2 - Atuação em áreas de risco – 37,5% procuram identificar qual área ou qual população necessita de educação em saúde para melhorar as condições de saneamento básico. Educar in loco facilita a proximidade do profissional com a realidade do indivíduo, favorecendo uma educação mais direcionada para o problema identificado. O contato direto da população com o profissional cria vínculos maiores e, sem dúvida, traz resultados compensadores. As pedras angulares da promoção da saúde passam a ser a cooperação intersetorial e a participação da população que, para sua concretização, requerem apoio e estratégias educativas”.13 Quadro 3 TEMA

CATEGORIA

Preparo técnico e científico do profissional para atuar em saneamento básico junto à população

-Graduação incipiente (a,b,c) 37,5% -Formação teórica x dificuldade para prática (d, g, e) 37,5% -Aptos para ação/atuação (f,h) 25%

Em relação à formação profissional, 37,5% dos entrevistados apontam que a graduação é incipiente, destacando que a falta de subsídios para atuar em saneamento básico é falha das universidades, que preparam mal os alunos, e das instituições que contratam o profissional. O relato do sujeito “a“ confirma esta proposição: “Sinceramente, as informações e orientações relacionadas ao saneamento básico não são vistas nas universidades e os municípios não estão preocupados em fornecer cursos e palestras para enriquecer nosso conhecimento sobre saneamento básico. Acho que nosso conhecimento é pouco, uma vez que, se desejarmos ampliar nossas noções, devemos procurar sozinhos”.

condizentes, a enfermeira sozinha não faz milagres”. Sentem-se preparados para atuar em saneamento básico, 25% dos entrevistados que pertencem à categoria “Aptos para ação/ atuação”. Educação em saúde pressupõe uma combinação de oportunidades que favoreçam a promoção e a manutenção da saúde. Sendo assim, não podemos entendê-la somente como a transmissão de conteúdos, comportamentos e hábitos de higiene de corpo e do ambiente, mas também como adoção de práticas educativas que busquem a autonomia dos sujeitos na condução da sua vida. Educação em saúde nada mais é que o exercício de construção da cidadania.3 Portanto, a qualidade do ambiente de cuidado depende das pessoas envolvidas, seus conhecimentos, sentimentos, atitudes, e conscientização da importância das relações entre as pessoas e o ambiente nos seus limites da abrangência mais interna ou mais externa.14 Ao longo da interpretação dos questionários, notou-se grande contrariedade entre as respostas. Nelas, os enfermeiros relatam as formas com que atuam, ou seja, os dispositivos utilizados para realizar ações que visem à promoção de saneamento básico. Entretanto responderam, em outro questionamento, que não realizam educação em saúde por se sentirem inseguros e despreparados, tanto em decorrência de sua formação na universidade, como pela falta de capacitação observada na instituição em que atuam. Não obstante, demonstram ainda, grande preocupação com relação às ações de educação em saneamento básico, porém afirmam não realizar essa prática, alegando falta de conhecimento e/ou despreparo técnico-científico. Quadro 4 TEMA

CATEGORIA

Na segunda categoria do quadro 3 “Formação teórica x dificuldade para práticas”, 37,5% dos enfermeiros afirmam que para atuar, é necessário que outros setores também responsáveis pela saúde cooperem, pois o enfermeiro sozinho não consegue grandes resultados. O sujeito “g” responde assim:

Identificação pelos enfermeiros das intercorrências e agravos decorrentes da ausência e/ou deficiência de saneamento básico

“Não, pois trabalhamos necessitando

Com relação às doenças decorrentes da falta de saneamento básico, 100% dos enfermeiros identificaram as doenças vinculadas ao

a é

comunidade com que extremamente carente de políticas públicas

- Agravos relacionados ao aparelho gastrintestinal 100% - Agravos relacionados à dermatites (f, e, d) 37,5%

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aparelho gastrintestinal e 37,5% as dermatites. A atuação da enfermagem em saneamento básico deve ser preventiva, afinal, “a melhor maneira de cultivar a sacralidade da vida20é preparar-se individual e coletivamente, numa educação que assegure, na medida do possível, uma decente qualidade de vida para todos”.15 Existem meios alternativos de realizar promoção à saúde sem depender de recursos ou de intervenções de outros setores. As instituições de ensino devem proporcionar aos alunos acesso as informações de que necessitam para adequada formação profissional. Quadro 5 TEMA Conhecimento do mapeamento de risco e como ele subsidia as ações do enfermeiro

da necessidade de intervenções de maior impacto e significação social. As ações sobre esse espaço representam desafios a um olhar técnico e político mais ousado, que rompam os muros das unidades de saúde e se enraízem para o meio onde as pessoas vivem”.16 Quadro 6 TEMA Percepção do enfermeiro quanto a sua responsabilidade em melhorar a qualidade de vida das pessoas através de ações de educação em saúde e promoção do saneamento básico.

CATEGORIA -Parcial/estática (c,f) 25% -Integral/dinâmica (a,h,b,d,e) 63,3% -Dependente de conhecimento e habilidade (g) 12,5%

CATEGORIA -Planejamento com ação focada no problema (d,e,f,b) 50% -Dificuldade para a ação por desconhecimento da realidade (h,g,c, a) 50%

Na categoria “Planejamento com ação focada no problema”, 50% dos enfermeiros baseiamse no mapeamento de risco para desenvolver ações de saneamento básico. O mapeamento serve como “raio X” da área de atuação, em que são identificadas regiões ou microrregiões mais problemáticas e que necessitam de intervenções de maior urgência. Os outros 50% enquadram-se na categoria “Dificuldade para ação por desconhecimento da realidade”. Alegam não ter conhecimento do mapeamento de risco da unidade de atenção. Fica difícil direcionar as ações quando não se sabe por onde se deve caminhar. O sujeito “a” responde: “não tenho, pois faz pouco tempo que trabalho no bairro”. Quando as áreas que dependem de maior atuação e educação em saúde são conhecidas, os problemas identificados tendem a ser resolvidos e/ou minimizados e a qualidade de vida da população se eleva. Esta é a proposição do Ministério da Saúde que aponta que: “Mais que uma delimitação geográfica, é neste espaço que se constroem as relações intra e extrafamiliar e onde se desenvolve a luta pela melhoria das condições de vida – permitindo, ainda, uma compreensão ampliada sobre o processo saúde/doença e, portanto,

Na categoria “Parcial/estática”, 25% dos entrevistados admitem que não conseguem atuar como enfermeiro na promoção do saneamento básico com práticas de educação em saúde, alegando inúmeras atividades que já lhe são cabíveis. O sujeito “f” responde: “Deficiente, pela falta de tempo e múltiplas atividades do enfermeiro”. Na categoria “Integral/dinâmica”, 63,3% dos enfermeiros acreditam ser responsáveis pela adoção de práticas que visem à promoção de saneamento básico. Um processo educativo, para ser efetivo, deve atender à perspectiva ampla da promoção da saúde e possuir características especiais, ou seja: precisa ser democrático, participante e problematizador. Precisa considerar a humanidade dos envolvidos, o saber popular, o seu valor específico e sua potencialidade de transformar e ser transformado em contato com o conhecimento científico.5 Na categoria “Dependente de conhecimento e habilidade”, 12% dos entrevistados consideram o enfermeiro como uma figura indispensável para a melhoria das condições de saneamento básico, porém acreditam que, se houvesse mais conhecimento/formação, as ações de saneamento tornar-se-iam mais presentes junto aos programas existentes. Nesta perspectiva, os novos conhecimentos acerca do ambiente saudável e das cidades saudáveis, abrem caminho para um olhar mais focalizado no ambiente do cuidado e sua relação com a dimensão ecológica.14

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CONCLUSÃO Os resultados obtidos nos levam a um questionamento já colocado no início deste 21 trabalho. Será que os enfermeiros das equipes dos Programas de Saúde da Família – PSF têm conhecimento para atuar em ações de saneamento básico? No decorrer da análise dos dados, foram identificadas grandes diversidades de respostas, o que permitiu interpretá-las de forma bastante crítica. Todos os entrevistados consideraram de fundamental importância o desenvolvimento de práticas que permitam e facilitem o acesso a um saneamento básico de qualidade para promoção da saúde e, afirmaram estar junto à comunidade em práticas de educação em saúde. No entanto, alguns dos profissionais enfermeiros, em seus relatos, afirmaram não ter o conhecimento e a segurança necessários para atuarem nesta área. O cuidado de enfermagem contém em sua estrutura relações sociais específicas e o conhecimento (saber de enfermagem) corporificado em um nível técnico (instrumentos e condutas), visando ao entendimento de necessidades humanas que podem ser definidas no ponto de vista biológico, psicológico e social.16 É nesse sentido que a enfermagem deve atuar, através de conhecimentos aliados a ações de recuperação, proteção e, principalmente, prevenção em saúde, justamente o que preconiza a estratégia do Programa Saúde da Família. Os enfermeiros, ainda conservam as raízes históricas do Brasil Colônia, em que remediar era a melhor forma de eliminar patologias. Inverter um modelo assistencial seguido por tantas décadas significa incorporar mudanças de ação com envolvimento do enfermeiro assumindo um compromisso profissional com o bem-estar da comunidade. Faltam iniciativas para essas mudanças, mas de quem? Do profissional enfermeiro? Ou de toda a equipe de saúde? Da população que espera mudanças? Das instituições de saúde? Ou das universidades, que, segundo os entrevistados, restringem os conhecimentos necessários para atuação nesta área? Acreditamos que o saneamento básico seja uma responsabilidade comum, e que, todos os

seguimentos sociais devam participar como colaboradores e construtores de um sistema que favoreça a promoção e proteção da saúde. É claro que esse compromisso não pode fugir da responsabilidade da enfermagem. Mesmo que existam dificuldades de ordem formativa/organizacional, divergências quanto à cooperação interinstitucional e multiprofissional, e, falta de entendimento quanto às responsabilidades sociais, o profissional enfermeiro deve estar presente, ciente de seu papel na sociedade e dentro do contexto de promoção à saúde, atuar e desenvolver ações na área de saneamento básico, munido de conhecimento técnico-científico fundamentado em sua vivência prática profissional. Os problemas de saúde identificados pelas equipes de PSF e vivenciados pela população, especialmente os que se referem a falta de infra-estrutura e saneamento básico, devem ser objeto da ação de um saber conjunto construído em equipe, e concebido na visão do processo saúde/doença, o que requer do profissional enfermeiro uma atuação dinâmica que resulte num processo formativo de aperfeiçoamento e contínua construção.

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Recebido em: 14/02/2005 Aprovado em: 06/03/2006

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