Coma

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  • Words: 29,416
  • Pages: 88
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EM BUSCA DO MISTÉRIO PROFUNDO Dr Egmon Strauss Dentro da vida maravilhosa vou caminhando, entre um caminho de mistérios e dúvidas que tocam minha alma...Você já se perguntou o que acontece quando uma pessoa encontra-se entre o Mundo dos Vivos

Hanna é uma pequena e doce criança, que conta na época com 10 primaveras

e o Mundo dos mortos? O que existe nesta fronteira, nesta fina linha que a vida humana?

A história de Hanna, a personagem desta obra reflete uma das infinitas possibilidades dentre o mundo paralelo...o que é estar entre os vivos e os mortos?!

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Hanna a pequena de olhos dourados

Uma dor... a perda da mãe

Um sonho... um novo encontro

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O caminho dentro da mente Um acidente mágico...

O coma

“A JORNADA PELA VIDA ... A BUSCA DO SONHO , NUMA JORNADA ATRAVÉS DA MENTE E DO CORAÇÃO”

UMA VIAGEM NO UNIVERSO DO COMA

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e Da vida daqueles que são importantes para nós Com muito carinho reconstruo o caminho Da pequenina que guiou meu coração

Dr. Egmon Strauss

Dedico este livro aqueles Que ainda mantêm acessa a chama Da infância Da busca do mistério No encontro consigo mesmo e com os outros Aqueles que buscam o sentido das suas vidas

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Para você ainda é desconhecido o Sentido , tudo é tão confuso... eu sei. Mantenha a calma. Porque está chorando ? Não quer encontrar o caminho de volta? - Porque chove tanto? Os trovões me dão medo ... por favor deixe-me sair... Que ruído é este??Tuuc...tuuc...toc...estou com medo ...sinf...sinf... -Não chore... Seu coração bate acelerado ; sua respiração fica curta... Eu quero sairrrrrrr!!!! Abriu os olhos rapidamente , o quarto estava iluminado apenas por uma pálida luz de luar; as janelas de madeira desgastadas batiam de modo incômodo ... e ela ia sentindo leves farpas geladas tocarem sua face ,misturando-se com seu coração agitado e as lágrimas mudas que jorravam sufocadas . Procurou se acalmar . Aqueles esquisitos sonhos haviam retornado ... muito mais reais do que antes e bem mais misteriosos. Capítulo I : O início da jornada

-Olá como você está ?

Levantou -se com movimentos pouco expressivos e acendeu as luzes do quarto ; percorreu os olhos pelo velho assoalho de madeira e viu a cama de casal que foi de sua mamãe... e ali estava , o retrato de sua progenitora na parede ; com suas feições meigas e radiantes decoradas por um belo arco-íris ao fundo da pintura . Seus olhos corriam aflitos através dos vidros

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encardidos...acompanhados por um vento gélido que agitava a longa campina e criava às vezes rajadas rápidas que tocavam as árvores anciãs. A menina seguiu cambaleante e ainda ofegante, até a velha cama , sentou-se e puxou algo de baixo da cama... era sua velha caixinha de “tesouros”, em cuja misteriosa tampa havia ramos grafados e um curioso círculo radiante , então pegou carinhosamente seu precioso diário e iniciou uma escrita profunda e emocionada:

_ Mas juro que serei forte!! Acho que se você estivesse aqui iria dizer : _ Minha linda Florzinha de cabelos amendoados e olhinhos de mel , ilumine seu coração de alegria ,pois no mundo muitos vivem no escuro . Querida Hanna ,saiba que te amo tanto e tanto e tanto... eu não queria partir agora para o céu , mas Deus sabe o que é melhor... tenha fé , pois estarei sempre ao seu lado. Querida mãezinha eu te amo muito , sempre lutarei pelo bem mesmo se for difícil .

Dia 178 depois que mamãe foi para o céu Com carinho de sua filha Hanna _ Mamãe eu sinto muita falta sua , sinto me sem ninguém , mesmo a vovó estando comigo. Hoje tive aquele estranho sonho novamente e acordei chorando muito , gostaria de saber qual o significado dele... _ Sei que você disse para eu ser forte , mas algumas vezes sinto meus olhos cheios de lágrimas e o peito apertado ... acho que minha única amiga além da vovó é aquela boneca que você me deu antes de partir para sempre , ela tinha rasgado o braço delicado num galho de árvore , mas vovó fez uma ótima cirurgia nela ... ela ficou novinha!!

Hanna enxugou três cristaizinhos brilhantes que lhe fugiam dos olhos e fechou o seu amado diário , cheio de pequeninos borrões criados por algumas lagriminhas que misturavam- se às vezes a tinta do papel , apagou as luzes e deitou-se novamente. Dormiu profundamente e somente acordou de manhãzinha pelo insistente canto do galo . Aquele domingo amanhecera lindamente. Pouco a pouco um ranger de madeira começou a se aproximar do seu quarto. Então vagarosamente a porta foi se abrindo , era sua avó Benedita , uma linda senhora de 78 anos , rosto levemente redondo e olhos azulados , com dois graciosos grampos de borboleta presos as laterais da

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fronte . Ela era um misto da delicadeza dos artistas e a bravura dos soldados , Hanna tinha por ela um profundo carinho. _ Vamos tomar café minha Florzinha? _ Mas é claro vovó , já estou indo!! Então soltava uma linda gargalhada em soluçinhos , depois punha a língua para fora e a fechava delicadamente entre os dentes ... ela era dotada de uma graciosidade natural , era forte e delicada , bem como sua avó e sua mãe, talvez fosse uma herança possuída pelas mulheres da família . Vestiu-se vagarosamente com um macacão azulzinho e ficou por alguns instantes sentindo a brisa matinal brincar por entre seus lindos cabelos amendoados e disse para si mesma com um grave tom de determinação: _ Eu tenho que descobrir ... o que significam estes sonhos!! Hoje irei começar a buscar respostas...Mas será que eu vou conseguir?? _ Eu não posso desanimar... eu prometi para mamãe... Após repetir estas palavras quase num tom de bravura , deu um pequenino soco no ar e olhou de forma determinada para o quadro de sua mãe ...lembrando-se de suas últimas palavras ditas por sua mãe antes de partir para a grande viagem. Sua mãe morrera numa quinta-

feira de primavera ensolarada , murchando pouco a pouco ; Hanna fitava-a de modo terno e sentia o seu perfume natural desaparecendo como uma linda flor que vai murchando nas mãos de uma pessoa... a pequenina naquela tarde ficou lado a lado com sua mamãe , cuidando e velando suas mãos até o instante final...naquela época a pequenina contava com dez primaveras. _ Florzinha venha tomar café!! Gritava sua avó lá de baixo. _ Já vou vovó !!! Então saindo do seu pequeno transe , desceu a velha escadaria desbotada pelo tempo. Antes de chegar à cozinha já sentia um delicioso cheiro de ovos mexidos e manteiga caseira , o cheiro de café lhe penetrava os pulmões de modo que quase podia sentir seu gosto ... na cozinha sua avó cantarolava uma linda canção sobre a história de um homem que se perdeu no mar e queria reencontrar o caminho de casa...às vezes , ela sentia-se um pouco como este homem perdido , desejando encontrar algo também. Então, aproximando-se da mesa e puxando levemente uma cadeira para trás , foi se ajeitando ...neste instante sua avó já trazia um delicioso copo de leite espumante que lhe deu água na boca . Depois aquela boa velhinha pegou o seu copo também e sentou a sua frente , sorrindo-lhe de modo radiante.

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_ Aconteceu alguma coisa Florzinha?!

_ Vovó posso ir brincar com o Hércules ?!

_Você está com uns olhinhos tão tristes.. .

_ Claro lindinha!! Mas volte para o almoço...

_ É...aconteceu,sim....

_Tudo bem vovó , beijinho... eu te amo muito!!

_ Sabe vovó... é aquele sonho de novo, ele voltou. _ E ele começa a parecer mais real que antes. E intervalando suas palavras entre um gole de leite e uma mordida no pão disse : _ Eu tenho que entender o que quer dizer!! Onde será que posso encontrar a resposta?? Após ouvir tais palavras sua avozinha ergueu os olhos brilhantes e disse docemente : _ Tenha calma minha querida , Deus dá tudo no tempo certo! Na hora certa seu coração te trará a reposta... - É vovó... tomara que sim! Logo após a penúltima mordida dada pela pequenina no pão , foi entrando pela porta da frente um lindo e pequenino cachorrinho malhado , abanando alegremente o rabinho e latindo de modo engraçado ... como estivesse dando bom dia à pequena e a sua avó; era seu cachorrinho, Hércules , seu grande amigo de aventuras. _ Oi mimizinho , bom dia Ahhh,ahh!Bom dia para você também! Quer um pedacinho de pão? ! _ Sentadinho, tudo bem ? E pouco a pouco a mesa ia sendo iluminada pela aquela , alegre e doce menininha.

Depois de um longo e profundo abraço em sua avó , aquele anjinho sem asas sai correndo pela porta... de quatro e latindo como um exótico cachorrinho cabeludo. Ela e sua avó viviam num lindo lugar de amplas campinas e cachoeiras , bem como de pássaros exóticos, era um lugar distante da agitação urbana . Seu avô tinha comprado o lugar, depois de anos de trabalho árduo e sincero; seu patrão lhe vendeu parte das terras , daí ele comprou um belo madeiramento e começou a construir a graciosa casa onde moram hoje Hanna e sua avó. Ele era uma pessoa extremamente vigorosa e cheia de valor , era um bom homem , morreu numa noite de outono dois anos antes da mãezinha de pequena flor, aos 94 anos. Hanna e Hércules corriam felizes pelos campos , caiam e rolavam na relva; eles se comunicavam de um modo misterioso , era como soubessem e partilhassem segredos a todo instante . Assim ficaram durante vários minutos , dois pontinhos , um azul e outro malhado , flutuando e pulando no tapete verde como dois grilos bem esquisitos. Então, deixaram se cair exaustos ... os dois com a língua para fora e a respiração ofegante . Então a menininha disse de maneira pausada e um pouco ofegante :

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_ Meu amigo Hércules, que acha de irmos ao nosso lugar secreto?!

vermelho esverdeada , na qual existia um estreito sulco que a menininha chamava de “Esquisita boquinha” ...

O cachorrinho respondeu prontamente com dois agudos e breves latidos , como estivesse dizendo sim ... e assim, os dois saíram correndo em direção a um pequeno campo florido cheio de borboletas, este era o caminho pra chegarem lá . Ao longe era possível observar um pequeno conjunto de árvores floridas parecidas com grandes Ipês , parecendo soldados de madeira; belas guardiãs do lugar secreto ... logo atrás destas existia um imenso adensamento de altas árvores , quase como uma pequena floresta.

Nome dado sabiamente , pois algumas vezes , saiam de lá esquisitos sons criados por correntes de ar ; ora doces e suaves , ora fortes e medonhos como gritos. Hanna dizia que aquele lugar falava e só permitia a entrada dela e de Hércules. Pouco a pouco ela e seu fiel companheiro foram se aproximando da fenda , o vento brincava entre os lindos fios amendoados de seus cabelos e ouvia-se somente a brisa e o som abafado de folhas secas nas quais ela pisava .

Nesta altura eles já não corriam , seguiam calados e um pouco ofegantes. Hércules tomou a dianteira e entrou por entre aquelas lindas árvores , a pequena seguia logo atrás . Aquele delicioso calor tornava-se mais ameno e eles sentiam um leve frescor sobre seus corpos ; os lindos cabelos de Hanna agitam-se em harmonia com as verdes folhas e o canto doce dos Bem-te-vis . Ambos seguiam pisando no macio chão forrado de folhas secas e vislumbrando o brilho multicor dos raios de luz que mergulham em pequenas gotas de orvalho . Logo a frente era possível ver uma estreita trilha de tonalidade dourada, fruto da decomposição de flores amareladas, era a estrada que os levaria ao lugar secreto. Após centenas de passadas... chegaram a um pequeno rochedo recoberto por uma linda coloração

Caminhava levemente por entre as paredes estreitas e acinzentadas; o lugar era relativamente úmido e sombrio , mas eles conheciam plenamente cada buraco e curva da passagem que os levaria ao lugar secreto. Transcorridos alguns breves instantes, um tênue raio de luz refletia numa pequenina gota presa ao teto , que aprisionava dentro de si um minúsculo arco-íris . A pequenina ficou ali parada admirando aquele estranho fenômeno ... que a fazia reviver as lembranças de sua mãezinha . Seus olhos brilhavam intensamente e de repente uma lagriminha fugiu de seus olhos, ela abaixou a cabeça por alguns segundos e seguiu em frente. Logo à frente daquele suave raio de luz era possível ouvir o som de uma pequena cachoeira . A pequenina acelerou o passo e o pequeno Hércules latiu

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alegremente , como estivesse avisando que haviam chegado. _ Quietinho Hércules , eu já sei que chegamos... E o pequeno respondia com rápidos e agudos latidos. O local secreto da pequenina era celestial... borboletas brincavam entre as flores , como seguissem a melodia daquele gracioso véu de água brilhantes , que minava por entre as rochas e terminava formando um belo espelho aquoso a refletir o céu. Hanna sentou-se sobre uma pedra de cor esmeralda ... estava cabisbaixa. _ Gostaria tanto de entender o que significa aquele sonho... Por que sinto tanto medo e frio na barriga ? Após estas breves palavras , ela foi se encolhendo , tentando se esconder no próprio abraço ... sentia-se muito angustiada , o mistério a atormentava. Novamente lágrimas minam de seu coraçãozinho dolorido e pequenos soluços saltam de seus lábios rosados , o cãozinho se aproxima e tenta consolá-la lambendo as delicadas mãos de sua amiga . E assim ficaram os dois ... pintados num comovente quadro de ternura e compaixão .Então de repente ela ergueu sua linda face rósea umedecida pelas lágrimas , parecia uma simples rosa orvalhada.

_ Eu juro que descobrirei o significado daquele s... _ Mamãe disse pra eu ser forte! _ Eu vou encontrar... _ Vamos Hércules... vovó já deve estar preocupada. A passos firmes voltaram aqueles dois pequenos valentes . O vento e o calor haviam tornado-se mais fortes ; folhas erguiam-se a médias alturas e os cabelos amendoados de Hanna flutuavam no ar , destacando o brilho claro de seus olhos. Ao longe já era possível identificar o pitoresco lar e ao seu lado uma figura de andar lento e cabelos brancos caminhava pela varanda. _ Olá vovó... ahh ,ahhh! Desculpe o atraso! _ Minha florzinha , já estava preocupada! _ Você deve estar faminta minha neta , vamos entrar fiz uma deliciosa torta de frango e batatas fritas! _ Obaaa... minha comida preferida! E entrando pela porta da frente , avó e neta , seguiam escoltadas pelos latidos do minúsculo Hércules.

E olhando as águas da cachoeira com o olhar dos grandes guerreiros ,disse:

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_ O que está acontecendo! Responda, por favor! _ Você não quer a resposta ? _ S.... diga! Um raio de luz rasga o céu e um tênue arcoíris como a ser formado , os trovões ficam pouco a pouco mais bravios. A pequenina encolhe-se e começa a chorar , seus soluços ecoam dentro da tempestade. _ Por favor... o que iss... quer dizer ? diz a menina de uma maneira melancólica e interrompida. _ Somente você poderá encontrar a resposta... _ Mas, como? Uma seqüência de relâmpagos cai em torno da pequenina ... seu choro fica mais intenso . De repente um círculo flamejante cria-se ao seu redor... _ Eu quero sairrrrrr! Capítulo II : A história mágica _ Porque chove tanto? Estou com medo! Neste instante um raio cruza o céu e parte da nuvem é dissipada.

Hanna acorda ofegante e transpirando de modo intenso . Passos começam a ser ouvidos na escada... _ Florzinha , você está bem ?! Eu ouvi gritos! A pequenina simplesmente abana a cabeça dizendo que não e começa a chorar copiosamente . Sua

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avó a envolve delicadamente entre seus braços e começa a entoar uma doce melodia ... que pouco a pouco acalanta aquele coraçãozinho machucado. Hanninha adormece entre os braços da avó , que ficou ao seu lado durante toda à noite , velando e acariciando seus finos fios de cabelos amendoados. O dia amanheceu límpido e com poucas nuvens no céu . Hanna acordou lentamente ... esfregou os olhos ; e fez um leve agito em seus cabelos ... aquela noite o pesadelo fora dotado de extrema realidade . Seguindo a passos cambaleantes marchou em direção ao banheiro ; abriu a torneira da antiga banheira azulada e iniciou seu ritual de preparo para ir a escola. _ Venha tomar café , querida! _ Já vou vovó ! Sua avó havia preparado deliciosas torradas com geléia de amoras frescas e ovos mexidos . A pequenina desceu após alguns instantes, seu rostinho estava menos angustiado e suas duas trancinhas douradas davam-lhe um ar gracioso. Ela vestia um lindo macacão azul claro e um tênis de coloração rosada , suas cores preferidas ; sempre que estava tristonha usava esta combinação. _ Como estamos hoje, Florzinha? _ Um pouquinho melhor vovó!! Ehh..Ehhh!

_ Ai,aiai!!! Estou atrasada! _ Leve este lanchinho.... _ Tchau vovó , beijinhos! A Florzinha saiu correndo como o vento , com Hércules latindo logo atrás ... e quem a olhasse naquela sua roupinha azulada a confundiria com um pedacinho do céu . Seguiu por uma linda trilha com flores do campo , até avistar a velha escola de madeira , um pontinho marrom preso num vale cercado de árvores ; Tumm , timm, Tumm, timm.... a pequena já escutava as últimas baladas do sino de entrada.Ao chegar cumprimentou calorosamente seus amiguinhos ; a pequenina tinha o dom de entregar alegria aos outros , mesmo sem às vezes possuí-la. De repente uma doce e afinada voz surgiu do pequeno aglomerado...era uma linda figura de cabelos negros e olhos azulados ; substituta da velha mestra Dulce , que se encontrava acometida de uma enfermidade que lhe colocara de cama naquele início de semana. Seu nome era Sueli ; tinha um coração tão doce quanto sua voz. A nova professora então pediu silêncio e começou a ordenar a fila.Cada uma das crianças caminhavam alegremente rumo a sala de aula , por vezes soltando pequenos risos abafados e noutras vezes bem sonoros. Sueli esperou que todos os alunos entrassem na

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sala de aula e se acomodassem; a escola era antiga , lembrava um pouco a coloração das árvores anciãs e tinha um ranger de madeira em seu assoalho.

garotinha havia acordado com uma sensação de leveza que penetrava todo o seu ser... tinha tido um lindíssimo sonho:

Hanna sentou-se bem próxima a sua mesa ; sentiu desde o primeiro momento uma grande simpatia por aquela meiga figura , que mais se parecia com as princesas dos contos de fada. Após todos se acomodarem a nova mestra iniciou as apresentações:

_ Querida venha tomar café logo! Se não você irá se atrasar... _ Já estou descendo vovozinha!

_ Bom dia meus pequenos alunos! Meu nome é Sueli!

Alguns instantes depois , uma pequena florzinha aparecia à porta ; vestida toda de rosa e com um lindo laço azul marinho envolvendo sua fronte.

_ Esta semana eu estarei cuidando de vocês... pois a senhora Dulce está um pouco adoentada.

_ Como você está linda hoje Hanninha ! Parece muito alegre... você viu o passarinho verde ?

_ Espero que possamos passar momentos inesquecíveis juntos!

_ Ah,vovó ...e´que tive um sonho muito

As aulas daqueles quatro primeiros dias ocorreram de modo muito especial ;ela tinha o dom de cativar e envolver aqueles pequeninos olhos e corações brilhantes .A pequena já havia se afeiçoado muito a linda ‘‘princesa’’ . Foi então que algo mágico começava a se construir na vida da pequenina ... algo poderoso ,que mudaria toda a sua vida. Foi numa manhã de sexta-feira,o último dia de aula daquela semana, que a magia começou a se construir. Naquele dia o céu amanheceu muito límpido , quase sem nuvens no céu que estava tingido de lilás . A

lindo!! _ Lembro que navegava num rio... colorido como um arco-íris e que tinha uma cachoeira de luz. Foi muito lindo! _ Eu só não consegui tocar num arco-íris que se formou na minha mão! _ Muito lindo mesmo Florzinha! Mas agora termine seu café... Após acabar de tomar café e escovar os dentes , a garotinha iniciou sua curta jornada em direção a seu pequeno ‘templo’ , a escola.Chegando lá, ,entrou

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vagarosamente na fila e sorriu de modo contagioso ... um lindo anjo lhe retribui de maneira plena de doçura e sinceridade no olhar . A fila novamente foi sendo construída e os pequeninos foram sentando-se em seus respectivos lugares. De repente , um pequeno e misterioso silêncio recaiu sobre a classe ; talvez fruto da despedida iminente daquela amável figura. Então,a professora encarnou uma voz suave e profunda , quase hipnótica... na qual fluíam as seguintes palavras :

da menina Doroti , do homem de lata que desejava ter um coração , falou do leão que queria encontrar a coragem e do espantalho que desejava ser inteligente ... as crianças ficaram mudas ouvindo as maravilhas daquelas palavras , elas haviam sido transportadas para o Mundo mágico de Oz .

_ Meus queridos e queridas pessoinhas ... hoje será meu último dia com vocês.

A pequena Hanna quase não piscava , estava totalmente envolvida pela estória . Foi então, que de repente, algo mágico ocorreu... as palavras começaram a ecoar em sua mente,repletindo-se em ciclos plenos de emoção.

_ Eu gostaria de entregar a todos vocês um presente muito especial , que será construído durante o dia presente...

_ E então ... enquanto os quatro amigos seguiam pela estrada de tijolos dourados , começaram a ouvir as sábias palavras do mago...

Os olhinhos de todos brilharam intensamente , como acessos por dentro ... dos olhos de Hanna era quase possível observar uma delicada e luminosa , lagriminha . _ Contarei a vocês uma estória dada por meu papai , há muito tempo atrás ... antes de ir visitar o céu . Papai morreu quando eu tinha a idade de vocês , mas antes de partir me entregou esta linda estória repleta de momentos mágicos e delicados . _ Chama-se o Mágico de Oz! Pouco a pouco sua voz tornou-se cada vez mais penetrante e a estória teve início. Contou a respeito

_ Para encontrarem o que procuram devem... E um breve e mortal silêncio se fez na sala . Cada palavra continuava a ecoar na mente da pequena . Todos estavam muito apreensivos ... de repente tal como um lindo rouxinol ,a professora , emitiu uma profunda melodia... _ Certa ... vez , eu ouvi alguém contar... _ Que além ... muito além... _ Sob o arco-íris ... existe um lugar aonde todo sonho pode se realizar...

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E aquelas doces notas começaram a tocar de modo profundo nossa pequena Hanna ... sentia seu coraçãozinho emocionado ; lembrava-se de sua mamãe... Então, começou a emergir de sua mente o sonho daquela mesma noite ; o arco-íris no qual sua querida mãe estava envolvida no quadro do seu quartinho... Pouco a pouco de seus olhos começaram a saltar pequenas gotinhas. Era como se tudo fizesse muito sentido agora... e num suave sussurro palavras jorravam de seus lábios rosados: _ Além do arco-íris existe um lugar... _ Aonde a gente consegue os sonhos realizar... Hanna repetiu estas palavras durante diversos instantes ... elas ecoavam em sua mente e coração. Ao término da estória algumas crianças choravam emocionadas , outras ficaram estáticas como se houvessem ficado presas em Oz. O ar estava leve e recheado de emoções e sentimentos nobres . Foi então que novamente uma ‘suave brisa’ saiu dos lábios daquele ser angelical , chamada Sueli ... _ Crianças.......... _ Saibam que este lugar realmente existe....... Neste momento, duas grossas e reluzentes lágrimas começaram a brincar pelas curvas daquele belo

rosto ... então, a professora começou a beijar cada um dos alunos ; recolheu seu material que estava posto sobre a mesa e seguiu em direção a porta. _ Espere! Gritou , a pequena Hanna. A professora parou repentinamente e olhou de modo suave para trás .A pequenina seguiu em sua direção de braços abertos e a envolveu calorosamente entre seu coraçãozinho . Nenhuma das duas falou sequer uma palavra , mas contudo ficaram ali , caladas e alegres ... falando uma nova língua , a língua do abraço e da admiração sincera;numa linguagem muda e completa de sentido. Sueli enxugou aquelas doces lágrimas que escorriam do rosto da pequena e seguiu em direção ao caminho de volta,talvez marchando para uma outra escola,na qual deixaria mais uma vez uma marca de magia e compreensão . Naquela tarde caía uma leve garoa pelas planícies e o sol criava um tênue arco-íris próximo ao horizonte ... aquelas palavras e a beleza da cena haveriam de marcar aquele dia para todo o sempre.A professora havia criado uma profunda marca em cada um dos pequeninos , contudo esta se tornaria muito mais intensa no interior da delicada Hanna . Ninguém nunca mais soube nada a respeito daquela rara figura , a única coisa que sabiam é que ela havia entregado um raro e grandioso tesouro a todos aqueles minúsculos coraçãozinhos.Sueli havia entregue uma

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estória em alguns minutos,no entanto, ela teria o poder de ecoar dentro de Hanna por toda sua vida.

Absorta , a pequenina caminhava pela trilha florida ; sentia uma alegria profunda , numa experiência próxima a vivenciada pelos místicos . Seus contornos se desenhavam de modo suave ; quem a observasse de longe diria que exalava alguma espécie de perfume angélico. De vez em quando repetia para si mesma... _ Além muito do arco-íris... existe um lugar aonde os sonhos podem se realizar! A cada término desse curto trecho , os olhinhos da princesinha brilhavam de maneira intensa ; brilho que haveria de acompanha-la para todo sempre , pois naquela sexta-feira , ela tinha recebido um presente tecido com delicados e radiantes fios de amor e esperança , que agasalhou e aqueceu o seu coração angustiado.

Capítulo III : O despertar na tempestade

Hanna ainda sentia cada uma das notas que compuseram aquela estória vibrando dentro de si . Ela estava iluminada por um profundo sentimento de haver encontrado o caminho para sua grande resposta ... o sentido , a estrada para desvendar o misterioso sonho. Talvez finalmente seria entendido.

Naquela tarde sua avó tinha preparado um delicioso almoço , todo colorido e com um cheiro capaz de atrair as pessoas num raio de 8 metros . Ao chegar em seu lar Hanna ainda conservava aquela sensação ; a pequenina foi entrando e seguiu rumo a fonte daquele maravilhoso odor. _ Oi , oi... avozinha! _ Ahh... você já chegou! Venha aqui me dar um beijo! _ Vá lavar as mãos! O almoço já está quase pronto!

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Após aquela deliciosa refeição , a avozinha da menina foi tirar um cochilo... Hanna subiu silenciosamente até seu quarto ; sentou-se em sua cama e permaneceu ali. Parada ... observando o retrato de sua mãe . Pouco a pouco seu olhar foi se tornando pesado ... cada vez mais pesado. Até que o sono a envolveu , ele desejava falar-lhe,Morpheus trazia-lhe uma mensagem. _ Por que tudo está tão escuro!! Cadê a vovó? Trunnn....Trunnnn... um estrodoso trovão envolveu toda aquela escuridão . A menina começou a sentir pequena gotas tocando-lhe a pele , sentiu de repente um frio lhe percorrendo a espinha ... eis então que surgiu um minúsculo globo luminoso. Neste instante ela se apercebe; estava numa campina. _ O que é isto? Pergunta a pequenina franzindo a delicada testa. Dê algum modo, aquele estranho orbe lhe dá um pouco mais de segurança ... similar a bengala dos cegos ; permitia-lhe caminhar nas trevas. Suas roupas estavam encharcadas ... diversas gotas escorrendo de seus cabelos e se equilibrando nas pontas dos fios amendoados . _ Que frio!! Neste instante a pequenina pensou em aproximar-se da diminuta esfera ... talvez ela pudesse aquecê-la ... protegê-la ; teria que se achegar mais para descobrir se suas especulações eram reais.

Tuc...splesh...toc...pluft... desse modo , seguiu alguns metros adiante ; somente ouvindo o som abafado da campina encharcada. À medida que ia se aproximando daquela luz sentiu o seu corpo mais confortado e aquecido , a passos densos e vagarosos achegou-se mais e mais ; sentia um pouco de medo , mas, mesmo assim, aproximou-se até ficar a duas braçadas do ponto. _ Mas o que será isto? É muito estranho! Sentia uma parcela de receio em tocar na esfera ... contudo seu espírito era curioso por natureza , amava a novidade , o místico ... o desconhecido ; eram elementos que exerciam uma certa atração magnética sobre ela. Suas pernas e braços já não eram dominados por ela .Agora o mistério a dominava ; ele tinha o controle sobre ela. Paulatinamente começou a andar ... tuc ... splesh ...toc... de repente começou a sentir um calor mais intenso ... seus olhos brilharam como mil vagalumes ; eles refletiam a luz da esfera. Lentamente seus braços começaram a erguerse movidos por forças misteriosas , à intuição era sua guia ; foi então que num brevíssimo segundo seus dedos tocaram a luz ...tiinnnnnn....... um brilho cresceu progressivamente e assim se fez até que toda escuridão fosse dissipada. A escuridão havia partido. Agora ,apenas a suave chuva e os raios solares interagiam ... eis então que surge um belíssimo arco-íris , irradiando cores nas tonalidades mais puras e delicadas ; a pequenina sente

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uma vontade irresistível de tocá-lo,. timidamente avança um passo, ergue as mãos e sente a luz correndo entre seus finos e delicados dedos ;de modo quente e refrescante.

se meio tonta e adormeceu na relva , despertando estranhamente em sua cama de madeira envelhecida.

_ Minhas mãos brilham!! Ao observar mais atentamente percebeu uma luz que emanava de suas mãos ; pouco a pouco, seus olhos se encheram de lágrimas e figuras fluidas começaram a surgir em suas mãos , eram imagens do alegre passado com sua mãezinha . Vagarosamente curvou sua fronte úmida e rosada , dobrou suas delicadas pernas e ali ... ajoelhada chorou e cada lágrimas que caia sobre a campina era transformada numa linda flor azulada , aos pouquinhos as flores foram se tornando animadas ... e iniciaram uma canção suave como a brisa marítima : _ Tudo passa.... tudooooo....Florzinha é chegada a hora de florescerrr... _ Siga o arco-íris pequeninaaaa..... e num mundo secreto encontrará ....sua resposta vive láaaa...... De repente tudo ficou muito silencioso e as flores azuladas silenciaram seu canto , falavam agora numa voz mudo expressa pelo delicado toque da brisa... então o lindo cenário começa a se desmanchar , desfiando as imagens e memórias ... a pequenina sentiu-

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_ Como foi real...... dizia a pequenina de modo sussurrante para si mesma. Cada detalhe daquele sonho tinha ficado impresso em sua mente ; durante muitas semanas.A pequena pensou nele , mas não conseguiu encontrar a resposta para o enigma ; o que ele significava ? Tudo era ainda muito misterioso. Seis meses haviam se passado ,desde a bela estória ,mesmo assim ... suas memórias eram vívidas e brilhantes ; sua vida seguia tranqüila novamente . Os horripilantes pesadelos há muito não a visitavam ... porém, mesmo estando calmo em sua vida , ela tinha um estranho pressentimento ... parecia que passos a seguiam e vozes falavam dela ; algumas vezes tinha a impressão de escutar curtas frases , como : _ Está quase na hora....Será que ela vai conseguir? _ O vale ?! Talvez consiga.... Capítulo IV : Em busca do toque de luz

De repente,tudo ficava silencioso novamente... o que antes era um incômodo onírico , agora era vivo ao extremo.

Hanna abriu os olhos lentamente e espreguiçou-se de modo quase artístico .Aquele sonho havia sido praticamente real.

O período de férias estava bem próximo ; sem novidades ...somente uma ansiedade típica deste período envolvia o coração de Hanna . Nos dois últimos dias que antecediam ao início do descanso escolar , a pequenina

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começou a sentir um esquisito ardor nas palmas das mãos, suas delicadas palmas ficavam avermelhadas , como o bronze em brasa... o tão esperado momento chegava , mas esta inusitada situação permanecia ; o calor persistia... O último dia de aula chega , tudo ocorre de maneira calma e tranqüila; a pequena despede-se carinhosamente de seus amigos , põe seus livros embaixo e segue em direção ao lar doce lar ... seus pensamentos divagam entre o passado e o presente , ora imaginando o abraço aconchegante de sua mamãe ; ora vivenciando aquele estranho ardor nas palmas . Naquele dia quando chegou em casa sentiu seu corpinho leve e cansado. Depois de tomar um delicioso banho e comer os saborosos quitutes de sua avó , foi escrever um pouco. Subiu vagarosamente pelo velho madeiramento da escada ; tudo estava muito silencioso exceto pelo ranger de algumas madeiras frouxas . Sentada sobre a cama inclinou-se para pegar o seu rico tesouro , abriu a caixinha com um brilho no olhar e retirou de dentro o pequenino diário... abriu-o e iniciou escrevendo:

_ Querida mãezinha : me sinto um pouco diferente... na verdade eu nem sei também o que é ! Sinto muitas saudades suas ... já estou sendo um pouquinho mais forte como você me pediu , mas às vezes é difícil... Vovó tem cuidado direitinho de mim e do Hércules ; ele é muito bonzinho... Ahh...eu e o Hércules vamos preparar um café da manhã especial no aniversário dela daqui a uma semana. _ Sabe mamãe, amanhã começarei uma GRANDE busca... eu quero achar o lugar que a professora Sueli falou , aonde a gente consegue os sonhos realizar. Eu só não sei onde está, mas eu e o Hércules vamos achar ; preciso fazer um pedido muito especial ... _ Desculpe, eu não contar ! Mas é que é surpresa , tá bom ?!

Beijinhos mãezinha....

para

minha

querida

e

doce

De sua filha Hanna

Dia 358 depois que mamãe foi para o céu Após conversar com sua mãezinha, Hanna fechou o seu diário e iniciou os preparativos para sua

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busca ; pegou seu macacão azul , sua faixa rosa e algo que até antes nunca tinha usado, estava guardado bem no fundo da caixinha , bem guardado dentro de um saquinho azul de veludo . Delicadamente retirou o saquinho da caixa ... e ... por alguns instantes ficou a senti-lo em sua mão. Lentamente foi abrindo e colocando seus finos dedinhos lá dentro, retirou-o com um extremo cuidado e respeito. _ Aqui está você! Você nos dará muita sorte na GRANDE busca ! Assim falou a pequena de modo firme e esperançoso para aquele peculiar anel . Era um objeto forte, impregnado por um intenso magnetismo ; ele tinha um brilho de luar prateado , e diferentemente dos anéis comuns era aberto num pequenino trecho de sua curvatura , aonde havia duas gotas brilhantes incrustadas ... era seu anel da sorte e da força , assim acreditava a pequenina ... havia sido dado para sua avó por sua bisavó ; e sua avó deu para sua mãe ... e então quando completou 7 anos sua mãezinha passou para ela. Quando colocava o anel entre os dedos sentiase invadida por um poder quase mágico , talvez fosse o poder do amor, ou; quem sabe, fosse a energia de sua mãezinha que ainda existia no anel ; mas o fato era que ele lhe fazia se sentir mais forte. Terminado os preparativos , guardou cuidadosamente seus preciosos artefatos ; com exceção do anel .

O dia correu de modo tranqüilo .No meio da tarde a pequenina saiu a procura de uma coleira mágica para dar força e proteger seu amigo Hércules . Após longas horas de procura pelas redondezas estava exausta , quase desistindo, naquele instante então, um vento mais forte começou a se criar e pelo ar , ela avistou uma fita dourada , agitando-se tal como uma serpente dourada . _ Achamos você! Vamos atrás dela Hércules ! Os dois amigos começaram a correr pela campina , buscando alcançar o seu precioso tesouro ... _ Ah!Ahhh! Hércules nós conseguimos! Enquanto, Hannna sorria animada , Hércules latia de modo empolgante . Delicadamente a princesinha se curvou e prende o laço ao pescoço do amigo peludo . Agora estava tudo pronto para sua jornada ; ambos tinham um amuleto de poder . A garotinha cantava alegremente enquanto refazia o caminho para seu lar ... e chegando lá comeu uma deliciosa torta de frango , suco de pitanga e bolo de amoras frescas ; após esta inesquecível nutrição subiu para o quarto junto com Hércules e sentada na cama sobre as próprias pernas começou a explicar para seu amigo canino como seria a aventura, ela mostrou um colorido mapa com coisas da região e por onde deveriam começar a busca ... Hércules olhava atentamente enquanto a menina falava ; parecia que compreendia cada palavra , todas as explicações lhe

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pareciam muito claras. Depois de explicar todo o plano de busca do arco-íris , Hanna revisou toda o material posto na mochila para ver se não tinha esquecido nada , guardou-a num cantinho e junto à foto de sua mãezinha começou a rezar baixinho : _ Papai do céu ... amanhã eu e meu amigo Hércules vamos buscar o lugar aonde os sonhos podem se realizar... _ Proteja a gente do perigo e guie os outros que buscam o mesmo que a gente ... o caminho do arcoíris... _ Cuide de vovó e mande um beijo bem grande para mamãe! Ah! Ia quase esquecendo , mas acalma a vovó se ela ficar muito preocupada... tá bom ! Obrigado! _ Agradeço muito, querido Papai do Céu! Um beijinho para mamãe , para os Anjinhos e para Você.... Terminada sua oração , a pequenina foi se deitar ... tanto ela quanto seu peludo amigo dormiram profundamente .Logo de manhãzinha o galo Gerino cantou. Cocorocó.....Cocorocó.... Cocorocó... cantando de modo intenso e persistente. O dia amanheceu mais belo do que de costume , o céu estava muito azul e sem nuvens e os primeiros raios solares refletiam no orvalho ainda preso na ponta

das folhas que brilhavam como cristais . Hanna acordou disposta e feliz ; ela exalava um doce perfume de paz. Vestiu-se com seu macacão azul e desceu para tomar o café .Sua avó ainda estava dormindo ; então a pequenina esquentou um imenso copo de leite , comeu pão caseiro com queijo fresco e um banana ... para seu peludo amigo deu leite e pão com costela assada . Findado o desjejum , aprontou seus estoques para viagem : muita torta de frango e amora fresca , frutas diversas , colocou água num antigo cantil que havia sido de seu avô , e além disso pegou alguns lápis de cor para desenhar seu mapa e diversas caixinhas de fósforo . Depois pegou um dos lápis e escreveu um bilhetinho para sua amada avozinha : Oi , vovó ! Você tá boa? Que bom ! Eu e o Hércules saímos um pouquinho para procurarmos uma coisa muito importante... não se preocupe muito, tá bom! Eu peguei bastante comida e água...pra mim e também pro Hércules. Acho que a gente volta logo ... mas se atrasar um poquito fique calma , tá bom ?! Ah! Ia esquecendo , fiz um desenho de dois cachorrões bem bravos e deixei na porta para eles cuidarem da senhora ... deixei minha florzinha da sorte na porta do seu quarto... também pedi pra Papai do Céu cuidar de você .... tá.

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Beijinhos pra você VoVó , com muito carinho

Hanna e Hércules Vinte minutos depois que eles saíram sua avó acordou e leu o bilhete sobre a mesa do café , e ao lê-lo soltou um meigo e espontâneo sorriso ... e em voz sussurrante pediu para Deus proteger e guiar seus tesouros vivos . Calmamente sentou-se e tomou seu café ,e ali parada começou a pensar na bondosa neta e que delicioso jantar iria preparar para os dois ao final daquela singela aventura . Naquele mesmo instante os nossos valentes aventureiros iniciavam sua jornada em busca do Grande Mistério... caminhando a passos firmes em direção ao horizonte iam desaparecendo no horizonte acompanhados pelo cantarolar dos pássaros no alto na campina florida .

À medida que seguiam o céu tornava-se mais brilhante e o dia ia ficando mais quente ... os passarinhos e os insetos começavam a trabalhar mais intensamente e um conjunto de sons corria pelos ares . A única coisa que Hanna sabia era que primeiro precisava achar a chuva junto com o sol para encontrar o arco-íris ... mas, onde poderia encontrar os dois juntos ? Ela só tinha visto os dois aparecerem sem ninguém esperar ... esta mistura acontecia de surpresa . Caminharam muito ... para ser mais exato a manhã toda ; contudo não viram nem ao menos uma nuvenzinha de chuva . Já era quase meio dia quando os dois pararam para comer... eles se sentaram próximos a um belo lago ;cercado por alguns ipês amarelos e rosados e aonde era possível observar pequenos cisnes e patinhos nadando. _ Tome Hércules ! Você deve estar com fome... né?! _ Auuu!Auuu! _ Está delicioso você não acha? _Puxa, Hércules, como faremos para encontrar o arco-íris ?

Capítulo V : Em busca do Arco-Íris

Seu peludo amigo ficava olhando-a fixamente ... captando cada gesto e palavra ; após alguns instantes ele aproximou-se dela e deitou sua pequenina cabeça em

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seu colo ... e assim durante mágicos instantes ficaram os dois a comer e a pensar como encontrar . Pensativa ela começa a desenhar parte daqueles novos caminhos no seu mapa e com voz aveludada dizia : _ A onde ele estará......? Acabada a refeição os dois se puseram novamente a andar; eram dois pontinhos a caminhar num tapete verde , dois valentes aventureiros. Já estavam bem longe de casa e viam coisas que nunca haviam visto , paisagens novas e um cantarolar de aves diferentes daquelas que moravam perto de sua casa ... de tempos em tempos ela parava para desenhar os novos caminhos em seu mapa. O sol já começava a se pôr e durante todo aquele dia não haviam encontrado nenhum sinal de chuva , nenhuma nuvenzinha sequer. A primeiras estrelas começaram a despontar no horizonte e não muito distante eles avistaram um imenso descampado e um imenso gigante rochoso de tonalidade acinzentada ... de algum modo nossos pequeninos aventureiros sabiam que ali era um lugar seguro para descansarem e seguiram até lá. _ Hércules, você acha que aqui é seguro ? _ Earrr....Earrr... e desparando na frente aquele pontinho peludo mostrava a Hanna que havia uma trilha lateral que os levaria ao todo do rochedo . À medida que

iam subindo a Pequenina recolhia alguns gravetos e grama seca. Neste mesmo instante ; sua avó já estava muito preocupada... _ Eles estão demorando muito! O que aconteceu meu Deus? Então, sua avó subiu até o quarto , pegou um velho chalé xadrez e seu lampião de querosene... desceu as escadas e seguiu até a casa do vizinho mais próximo para ajuda-la a procurar a neta. Eles organizaram um pequeno grupo de busca e vasculharam todos os arredores , mas o que não sabiam era que nossa aventureira estava bem distante dali ... assentada sobre um gigante de pedra. Com os gravetos e a grama seca Hanninha acendeu uma fogueira no topo do ‘gigante’ e sentindo o calor do fogo e uma morna brisa tocando seu rosto ... deitou sobre sua roupa reserva.O luar estava muito claro e o céu bordado de estrelas por todos os lados , e desse modo sob o cobertor de estrelas Hércules adormeceu. A pequenina abriu a mochila e tirou cuidadosamente lá de dentro seu diário , que estava envolto num lindo pano florido ; e ali sob o calor da fogueira e a luz do luar começou a escrever :

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Primeiro dia da Grande Busca

Querida mãezinha ... partimos hoje de manhã em busca do arco-íris , o dia estava muito quente e sem nuvens ; a gente andou muito hoje. Hércules têm se mostrado um grande amigo , me protegendo e me avisando de alguns perigos . Hoje eu vi um monte de pássaros brancos cruzando o céu ... foi lindo. Às vezes quase desanimo , mas eu sei que está comigo e por isso serei uma menininha bem forte , tá bom ?! Ia quase esquecendo... por favor cuide de vovó acho que agente deve encontrá-la daqui uns seis dias. Bons sonhos, mamãe ! Que Papai do Céu guie a todos ... com amor de sua filhinha Hanninha

Depois de escrita estas últimas palavras a pequenina também adormeceu.Naquela noite sua avó a procurou por todos os lados até a exaustão , mas o grupo continuou a procura daquela rara jóia perdida no negrume da noite... O segundo dia raiou tão claro quanto o primeiro , porém já era possível ver algumas nuvens tingindo o azul celeste . Quando o rosto de Hanna

começou a ser tocado pelos primeiros feixes de luz , sentiu um suave calor sob as faces rosadas e despertou como as flores tocadas pelo sol ... ergueu-se e abriu os braços e por breves instantes ficou a admirar um sinal de nascença localizado no lado interno de seu pulso direito , uma tênue linha amorenada e curvada , como a de sua mãe . Saída de seu breve transe , começou a vislumbrar a beleza e a imensidão daquele vale rochoso . _ Vamos comer Hércules?! E sentada de joelhos comeu e brincou com seu amigo , lançando a comida ao ar e Hércules interceptando-a no ar . _ Como você é engraçado! Ahh...Ahhh! _ Vamos indo! Temos um longo caminho... Aprontaram suas coisas , e a Pequenina fez novas complementações em seu mapa ; logo depois puseram os pés na estrada novamente. Neste segundo dia a Florzinha estava mais esperançosa de encontrar o arcoíris , pois por volta das 10 horas da manhã já havia muitas nuvens de algodão flutuando no céu. O local por onde caminhavam agora tinha uma coloração mais acre e um pouco menos vegetação , aonde às vezes era possível perceber uma corajosa roseira e pequenos cactos erigidos daquele solo.Depois de duas duras horas de caminhada Hanna já não tinha tanta

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certeza se aquela era a rota mais adequada . De repente parou... deu uma leve coçada na nuca ; apoiou a mochila no chão e retirou de dentro seu mapa... _ Hércules , será que não deveríamos mudar de caminho ? O seu amigo peludo ficou parado lendo cada palavra que sai de seus lábios.Foi então, que num breve instante a Pequenina teve uma brilhante idéia ... e se ela ,desenha-se uma grande nuvem de chuva em alguma parte do mapa , será que ela viria ? Mas , como escolher o lugar certo ? Ela também não sabia ... sentou-se sobre os joelhos , retirou um pouco de torta de frango e pensou , pensou e pensou...quando estava quase desistindo eis que brota em sua mente uma idéia : use o anel... _ É verdade! O anel mágico de mamãe! _ Auuu!Auuuu! falava empolgado o seu amigo peludo. Retirou-o vagarosamente do dedo indicador , e ali ajoelhada pediu para Papai do Céu lhe mostrar o caminho ... então, apoiou o mapa no chão e girou o anel como um pião. O anel realizava um imprevisível andar , tal como um bêbado ; ora cá , ora lá. Hanna olhava atenta ... depois de muito rodopiar o anel caiu num lugar desconhecido , mas ao que tudo indicava, o local era próximo ao seu ‘ Lugar Secreto’ . Ela tentou rodopiar o

anel outras vezes , contudo as duas pedrinhas do anel sempre se acercavam do mesmo lugar . _ Ahhh, Hércules ! É pra lá que devemos ir! _ Vamos lá meu amigo... meia volta volver! O sol estava mais quente que no dia anterior ... e a jornada de nossos aventureiros se fazia a cada passada mais difícil ; o ar estava um pouco seco e poeirento ; a pequenina tinha o rosto suado e empoeirado ... às vezes, pensava em desistir , tudo parecia tão duro e impossível . E quando este pensamento lhe visitava a mente , olhava carinhosamente para o anel e ao ver o brilho das duas pedrinhas incrustadas, ela via o olhar luminoso de sua mãezinha... isto lhe dava força. _ Vamos Hércules! A gente não pode desistir! O seu pequenino amigo estava exausto... eles já estavam caminhando a mais de quatro horas . _ Olhe , Hércules ! O gigante de pedra! _ Agora,devemos estar perto do lago! O pequenino agora quase sem forças ... seguiu em direção a uma enorme pedra ; ele queria proteção contra aquele escaldante calor . Hanna aproximou-se lentamente do rochedo e abrindo as mãos despejou o último punhado de água dentro delas ; Hércules bebeu cada gota.

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_ Quer descansar um pouquinho ? É , também estou cansada!

Talvez a gente ache o arco-íris daqui a poucos dias ... só de pensar fico muito feliz!!

Então, aquele fiel cachorrinho, apoiou sua cabecinha na coxa da menina e adormeceu profundamente , enquanto a menina lhe fazia carícias . Enquanto,Hércules dormia,ela retirou seu diário do interior da mochila e iniciou sua escrita de maneira comovida :

Beijinhos para minha maior heroína , minha querida mãezinha do coração...à noite , a gente conversa mais um pouquinho ,tudo bem... é que agora eu tenho que acordar o Hércules pra gente ir...

Segundo dia da Grande Busca Querida mãezinha ... hoje andamos de muito longe ; tivemos que voltar um pouquinho , seria o melhor caminho ... foi Papai do Céu e o anel que mostraram pra gente. O sol está muito mais forte que ontem , estou suando bastante e Hércules agora dorme como um bebezinho ... minhas pernas doem e estou com algumas bolhas nos pés . Hoje pensei em desistir novamente... mas ,quando lembro de seu sorriso , sinto uma força dentro de mim. Acho que a vovó deve estar muito preocupada... mas, toda noite rezo para que ela não se preocupe muito ; Hércules está cuidando direitinho de mim ... Opsss! menos agora que ele está dormindo...agora é minha vez de cuidar dele , não é ?!

Com amor de sua florzinha Hanna

_ Vamos Hércules , já está na hora! _ Urr ...auuuu...auuu! Respondeu de forma entusiasmada o pequenino... que de pronto se pôs aos pés da amiga. A menina tinha no olhar a determinação dos grandes guerreiros ; girando o olhar em torno da paisagem e admirando o belo anel, ergueu a fronte e recomeçou sua busca , talvez a mais importante de sua vida. De vez em quando parava um instante para buscar orientação nos desenhos feitos .Depois de caminharem a tarde toda, se achegaram próximo as árvores que guardavam seu lugar secreto , contudo eles haviam saído por um lado nunca antes explorado pelos dois... A está altura o sol era somente um estreito filete luminoso no horizonte .As primeiras estrelas

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começavam a piscar no céu , já um pouco encoberto por imensas nuvens de algodão . Uma intensa brisa agitava as folhas das árvores e criava graciosos redemoinhos naquele imenso platô verde-musgo. _ Acho bom ,a gente procurar um lugar para dormir ...Neste instante Hércules disparou a frente da menina , como estivesse lhe mostrando o caminho ... ambos foram seguindo pela penumbra que era clareada somente pelos espaços por onde os raios lunares cruzavam ... _ Que som é este ? Pergunta a pequenina surpresa . Então, começa a tentar seguir o som que mais se assemelhava ao ruído de grandes e secas folhas sendo pisadas ... pouco a pouco , o som torna-se mais intenso e tudo fica muito claro ... era um pequeno riacho , que corria pelo chão tal como uma serpente prateada. Os dois se aproximam da fonte e lavam graciosamente as gargantas secas e os rostos empoeirados. Hanna,então saiu a procura nas proximidades de alguns gravetos secos ... novamente precisariam de luz e calor para protegê-los da escuridão ; e cavando um pequeno buraco próximo ao riacho , enche-o com folhas secas recoberta pelos gravetos ; ateia fogo e... “vualá” , tinham uma aconchegante chama. A três passos do foco luminoso juntou um montinho de folhas secas para lhe

servir de cama para ela e seu amigo . Naquela noite os dois estavam muito cansados e adormeceram tão prontamente se deitassem em sua rústica cama , embalados pela leve melodia dos grilos e sapos das cercanias. Naquele mesmo momento bem próximo dali , o grupo ainda realizava a busca pela pequenina, mas em vão ; sua avó não dormia desde o desaparecimento da Pequena, e durante aqueles difíceis momentos acendia diversas velas e fazia pedidos para os anjos e Deus cuidarem de seu tesourinho , ela era uma mulher muito valente ... daquelas que tinham a capacidade de obter uma força sobre humana em momentos de crise. Nos arredores do lugar secreto Hanna dormia profundamente ... sonhava de modo delirante e algumas vezes , vozes sussurrantes mergulhavam em sua mente lhe dizendo : _ Coragem você está muito perto..... _ Querida, não temas... tudo dará certo... E sob ecos constantes , o sonho da Pequena Flor foi construído numa mistura do tempo passado , presente e futuro ...

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acariciava as faces rosadas e abrindo os olhos lentamente viu pequenas gotinhas prateadas que caiam do céu e mesclavam-se aos primeiros raios matinais que surgiam do horizonte avermelhado. Observando esta cena a Pequenina saltou da cama improvisada como um ágil felino ... Hércules acordou assustado e seu coração vibrava intensamente em seu tórax. _ Obaaa!!! Obaaa!!!Hanna começa a saltar e a girar com os braços abertos . _ Hércules! Hoje a gente vai encontrar o ArcoÍris ! De repente , pega o seu fiel amigo nos braços e lhe enche de beijos e abraços ... Hanna irradiava muita luz naqueles curtos , mas intensos momentos ... era um momento mágico ; muito especial para ela. Seu olhar estava marejado de lágrimas e suas emoções intensas realçavam o brilho mel de seus olhos .

Capítulo VI : Gotas de Prata

Naquele dia diferentemente dos demais , Hanna foi acordada por um leve frescor que lhe

Vagarosamente o sol elevou-se no horizonte e a luz foi ficando mais intensa , juntamente com a leve garoa . Hércules , instintivamente começou a latir em direção a um pequeno rochedo , que estava invisível na escuridão da noite ; era a entrada para o Lugar Secreto ... Neste instante, a Florzinha fixou o olhar em direção ao pequeno rochedo que apontava para o céu e... eis então,que vislumbrou a cena mais bela de toda sua breve existência...

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Lágrimas desciam por entre suas faces rosadas e uma doce emoção dominava todo o seu ser ... Hanna começou então a correr por entre o fino leito prateado , quase flutuando pelo chão úmido e cheio de folhas secas ... correu muito e o mais rápido que pôde... ela precisa subir naquele rochedo e fazer o seu pedido especial... E atravessando a mata de modo fugaz ... ela e Hércules aproximavam-se do local... às vezes sentia um pequeno ardor nos braços e pernas , provenientes dos cortes gerados pelo encontro com espinhos e troncos. Sua respiração estava ofegante e sua garganta seca como no dia anterior. Pouco a pouco , a visão que era quase um ponto foi se agigantando e a menina ali... com os olhos ainda envoltos em lágrimas , a Pequenina admirava a razão de sua Grande Busca. _ Vamos, Hércules! Temos que achar um lugar para subir! _ Rápido, venha! A Pequenina olhou em volta , mas inicialmente não viu nada que podia levá-la ao topo ... _ Ai..aiai...como a gente vai subir? Depois de vasculhar mais atentamente... percebe que numa das laterais da entrada, próximo a “Esquisita Boquinha” havia um troco caído que a levaria

diretamente ao topo. O tronco estava um pouco úmido e escorregadio... Hanna então retira a pequena faixa rósea de sua fronte e a enrola numa de suas delicadas mãos , apoiando os pés calçados no tronco,inicia sua escalada... porém,a cada dois passinhos escorrega vagarosamente para sua posição inicial . Lentamente ela desce ao chão e retira seu par de tênis... e descalça recomeça sua desesperada subida. _ Vamos , lá! Eu tenho que conseguir! _ Força....força.... Hércules latia ao pé da árvore , buscando incentivar sua amiga ... que subia dolorosamente a lentos passos. _ Ai! Gritava a pequenina ao sentir as bolhas dos pés estourarem e os pequenos espinhos lhe cortarem as delicadas mãos ... um minúsculo rastro vermelho começava a descer pelo seu ombro esquerdo. _ Vamos... estou quase lá! A Pequenina utilizava-se de suas últimas forças para alcançar o topo,seus olhos brilhavam de modo valente e suas pequeninas mãos se assemelhavam a pequeninas garras felinas , era como fosse uma linda panterinha aprendendo a escalar. Passados alguns

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instantes e erguendo a fronte... ela vê ... ali brilhando intensamente sobre sua cabeça a luz multicor e pondo os dedos entre uma pequena fresta do topo , iça o seu frágil corpo para o topo. _ Uunnnnn...Ruuu...Unnnn...Runnn... respira lentamente a valente . E olhando admirada tamanha beleza das luzes ... uma salgada lágrima escorre de sua face e caí sobre o mágico anel ; vagarosamente ela inclina a cabeça e agradece a Papai do Céu ... e em tom doce e solene inicia seu pedido: _ Mágico Arco-Íris.... venho de muito longe para lhe falar... _ Por favor... gostaria de encontrar mamãe e poder abraça-la e beijá-la mais uma vezz.... E num tom sussurrante, diz : _ Para compreender qual os sentidos daqueles sonhos e o que é minha vida .... e chorando cabisbaixa , a Florzinha beija o seu doce presente ... e o anel parece lhe responder ternamente a doçura daquela intenção. Então, enxugando as lágrimas salgadas com o braço machucado ... marcha em direção a luz multicor . A cena parecia acontecer de modo onírico , tudo era tão lento , belo e intenso ... e neste cenário, a Pequenina

levanta o braço e tenta alcançar e sentir o Arco-Íris , para que seu pedido torne-se realidade... e no mesmo instante que toca a luz, seus pezinhos perdem o equilíbrio na rocha úmida e escorregando como uma pétala azulada , manchada de vermelho e com lágrimas recolhidas em seu interior,a menina cai inconsciente na relva.Seu fiel amigo se aproxima chorando e lambe seus delicados traços arranhados pela queda , era mais uma flor caída dentre tantas ... porém perfumada como poucas e luminosa como o sol. Hércules começou a movimentar-se intensamente de um lado para o outro desesperado... e de repente como uma flecha lançada ao ar dispara................ e percorrendo o caminho velozmente rumo a sua casa , flui por entre as flores e o capim do caminho. _ Auu...Auuu...! Latiu persistentemente Hércules no instante que avistou seu querido lar.A avó da menina somente avistou uma rápida flecha partindo do horizonte...e vindo em sua direção ; ela inclina-se como um velho caule ao vento e o pequenino saltou entre seus braços ... lambendo a intensamente. _ Hércules ...onde está Hanna ?! Perguntou a velha senhora com os olhos umedecidos... _ Por favor alguém me ajude! Ajudem-me!

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Um dos vizinhos que passava a cavalo a certa distância ... ouvindo o chamado enternecido daquela doce senhora segue em sua direção. _ O que houve? ! _ Minha neta! Pelos céus, me ajude ! _Hércules ... leve-nos até a Hanna ! O cachorrinho dá duas pequenas voltas em torno do próprio corpo e dispara em direção ao Lugar Secreto ... _ Vamos minha senhora... suba rápido aqui! Guiados pela lealdade do pequenino , ambos seguem a cavalo .Naquele instante eram somente um ; unidos pelo desejo de encontrar a pequenina . Pouco a pouco, o cachorrinho aproxima-se do local e começa a orientá-los através da trilha até chegarem ao local do acidente . Ao avistá-la o pequenino acelera o trote e começa a beijá-la na face rósea manchada de terra ... _ Oh, meu Deus! Grita desesperada a velha senhora... Velozmente o homem desce do cavalo de modo afoito ; e num gesto delicado colhe aquela delicada Flor inconsciente... _ Temos que levá-la ao médico!

_ Por favor... leve-a até a cidade! Falou chorando copiosamente a doce velhinha. O homem repousou sua cabecinha sobre o vigoroso pescoço do belo corcel dourado ... e com um salto felino montou no dorso do animal,que ouvindo os gritos do dono partiu como um relâmpago em direção ao pequeno vilarejo... Hércules , o fiel amigo da pequena,tentou acompanhar os vigorosos passos do cavalo ... lutando para cuidar de sua amiga e dona , mas o cansaço o derrotou ; e então homem e menina seguiram solitários pela trilha florida e úmida . A avó caminhou com grande dificuldade até a paróquia local ... chegando lá implorou ao padre para levá-la até o vilarejo , imediatamente aquele já velho servo de Deus preparou sua velha carroça ... então,os dois fiéis e o pequeno canino partiram com a maior velocidade que o veículo era capaz de alcançar. Ao longe, aquele generoso cavaleiro que lhe prestou a primeira ajuda , já conseguia avistar a pequenina Santa Casa local ... que pouco a pouco ia se agigantando perante os seus olhos . _ Doutor me ajude! Achega-se aos gritos o moço... Prontamente saiu uma figura de rosto redondo e faces amorenadas pelo sol ... olhando de modo grave e profundo.

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_ O senhor é o médico?! Perguntou atônito e ofegante aquele enviado dos céus. Sem responder o médico colheu-a entre seus braços e a passos rápidos e firmes levou a pequenina para dentro...

que estava ao seu alcance. Passados , cerca de três quartos de hora , pára na frente da Santa Casa uma velha carroça , da qual descem Hércules e duas figuras anciãs ; o padre e a avó da menina. Hércules esperava pacientemente do lado de fora , enquanto os dois entravam.

_ TRAGA ENFERMEIRA!

COISAS

De longe a velha avista uma figura de branco e corre ao seu encontro...

Deitando Hanna sobre a velha maca ele inicia os primeiros socorros ... verifica seu pulso e respiração ; logo depois ouve seu coraçãozinho...

_ Pelos céus! O senhor viu uma menininha de cabelos amendoados entrar aqui... diga me , por favor!

MINHAS

_Como ela está?! Pergunta o cavaleiro. _ A jovenzinha está somente inconsciente ... os outros sinais parem normais , mas precisarei de alguns exames para ter mais certeza... _ Será que ela vai ficar bem? Indaga o moço , com um brilho quase paterno no olhar. _ Tudo vai ficar bem... Agora preciso fazer os curativos... O jovem ficou a todo instante ao lado do médico e da enfermeira , observando a delicadeza com que cuidavam dos ferimentos da pequenina ... depois de terminado os curativos levaram-na até um singelo e acolhedor quarto azulado , ao seu lado ficou a paciente enfermeira e o jovem moço velando e fazendo de tudo

Carinhosamente o médico a envolveu entre seus braços , como estivesse acolhendo aquele coração dolorido ... levando de forma tranqüila até o quarto onde a menina estava. Ao vê-la ,os olhos da bondosa senhora se encheram de lágrimas,que paulatinamente transbordaram de seus olhos ... _ Ó minha Florzinha... como você está? E ao acariciar levemente a sua face rosada,iam escorrendo grossas lágrimas que percorriam as saliências deixadas pelo tempo. A enfermeira observando a cena pegou em suas mãos e explicou lhe com palavras amenas , o estado de sua netinha. Lentamente a velhinha acalmou-se um pouco.Então ao virar levemente a cabeça para o lado , observou que ali ao seu lado também se encontrava o jovem rapaz ... e num gesto de profunda gratidão beijou suas mãos ,ajoelhando-se para consumar

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o ato;agradecendo aquelas mãos que salvaram a vida de seu tesourinho. Depois de algumas horas o rapaz se retirou , com o fito de buscar alguns alimentos para a doce senhora . Naquele dia inesquecível os corações de todos ainda viviam as emoções de modo intenso.A avozinha olhava por entre as velhas persianas da Santa Casa os últimos raios de sol que adentravam no quarto , enquanto o padre orava ao lado da cama onde estava adormecida a pequenina ; durante toda à noite velaram o sono tranqüilo da menina e algumas vezes contemplavam um leve sorriso que parecia ter estampado nas faces . E assim entre o cheiro de flores silvestres e de uma deliciosa janta trazida pelo rapaz , a noite passou ... lenta ... e pesadamente ...assim, como são as grandes dores da alma. Um pouco antes vencida pelo cansaço e pequenina .Pouco a retornando ao mundo e sons distantes :

início da manhã sua avó fora dormiu um sono leve ao lado da pouco, seus sentidos foram conseguia ouvir um diálogo com

_ Jasmim , ouça ... segundo as evidências que pude atestar , observei que a pequenina feriu a cabeça ...temo dizer , mas... acho que ela entrou em coma... _ O que faremos Doutor?

_ Temos que pedir sua remoção ... conheço um fazendeiro da região que possui um helicóptero ... vou iniciar os preparativos... _ Por favor ... inicie os procedimentos para transferência da menina e da avó... Aqueles sons mergulharam de modo profundo na memória de sua avozinha e após breves instantes abriu rapidamente os olhos...levantou-se e seguiu rumo ao corredor...um pouco mais adiante conseguiu identificar a enfermeira Jasmim... _ Por gentileza , enfermeira ! Ouvindo tais palavras, a enfermeira, cessou o seu andar. _ O que houve dona Benedita? _ É que , eu gostaria de perguntar algo Jasmim... _ Minha netinha está em coma ?! Eu ouvi vocês conversando no corredor... _ Creio que talvez seja verdade ... vamos precisar transferi-la para um hospital maior , mas tudo dará certo! _ Que Deus ouça nossas preces... Três dias depois do ocorrido , todos os preparativos já estavam prontos ... o fazendeiro cedera

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sua máquina voadora e oferecera qualquer outro tipo de ajuda , tanto a avó quanto para menina ... a despedida foi emocionada e enquanto a doce velhinha beijava as mãos daqueles que a haviam ajudado , grossa lágrimas corriam por suas faces enrugadas .Ao entrar no veículo começou a pensar naquelas boas pessoas que ali estavam , o padre , a enfermeira , o cachorrinho ...o cavaleiro e o médico... _ Podemos partir? Disse o piloto ao médico. Num leve aceno de cabeça , o doutor respondeu que sim, então as hélices começaram a girar velozmente e de repente surgiu ao lado da porta onde estava a velhinha , o valente cavaleiro com um delicioso bolo nas mãos e um crucifixo... Lentamente ela abriu a portinha e recolheu o presente... _ Tudo vai dar certo, dona Benedita ...! E de modo delicado beijou aquelas mãos de pele fina e com lágrimas nos olhos lhe disse... _ Pode deixar... nos cuidaremos do Hércules... e tome aqui este é meu telefone ... _ Filho que Deus lhe ilumine... Repentinamente a porta foi fechada e o pássaro de aço mergulhou naquele céu feito de um azul profundo ... migrando em direção ao poço dos milagres,num vôo da esperança...

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pequenina ... venha....para o mundo real ... onde tudo é possível............Trummmmmmm...Trummmmmmmmmm ........ Diversos pontos luminosos , que pareciam quase vivos ,circulavam próximos daquele estranho lugar. Um intenso trovão é ouvido e eis então... que de um poço de águas viscosas e multicores , começa a se erguer delicados braços róseos que surgem à superfície ... um dos pontos mais brilhantes , o que tinha uma tonalidade de azul celestial , prende-se as pontas dos dedos de Hanna e levitando-a de modo grácil a traz a tona. Hanna ainda tinha os olhos fechados , sua respiração estava curta e de sua roupinha escorriam uma água multicor ... luminosa e viçosa ao mesmo tempo . Aquele ponto azul afastando-se um pouco da ponta de seus dedos , começa a falar e de cada fragmento de idéia irradiam luzes diversas que pulsam no ambiente... _ Pequenina , hoje você renasceu ...a luz te guiará e ao seguir seus conselhos encontrará o Sentido e o Caminho para casa...

Capítulo VII : Renascida pela Luz Tum...tumtummm...tum...tumtummmm...tum.. .tumtummmmm... Derperte chegou o momento...renasça

A pequena se sentia confusa , seu corpo estava leve e forte ,os ferimentos haviam sumido , somente um persistia na altura do seu coração . Lentamente fazendo esforços titânicos , iniciou a abertura de seus olhos ...neste mesmo instante, a luz e uma doce e morna brisa passearam por seu coração e mente...

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_ Onde eu estou? _ Está no Além do Arco-Íris...o local construído por sua luz.... _ Como vim parar aqui?

_ Pequenina , agora você está no seu mundo de luz pura ... sua avozinha e seu cachorro vivem no mundo de luzes misturadas...Você entenderá a seu tempo... _ Mas, como faço para voltar?

_ Seu pedido , esqueceu ? Aqui encontrará o

_ O caminho será muito difícil! Você tem certeza que quer percorrê-lo ?

_ Mas , do que ?

Com os olhinhos lacrimejantes e os doces cabelos amendoados flutuando perante a brisa , a pequenina abana levemente a cabeça dizendo que sim.

Sentido...

_ De tudo...de tudo que existe... À medida que o diálogo era estabelecido de modo mais intenso , a visão da menina se tornava mais intensa e clara . Ao correr os olhos pelo ambiente viu diversos pontos luminosos a sua volta e três sóis despontados no céu ... o ambiente era repleto de árvores floridas e existiam montanhas flutuantes no horizonte por onde rios corriam terminando em cachoeira,que findavam em lagos flutuantes repletos de animaizinhos coloridos... _ Que lugar lindo!! _ Mas, cadê todo mundo? Vovó ... Hércules... onde eles estão ? O pontinho azul parou a sua frente e começou a falar novamente , e de suas palavras agora irradiavam ondas rosas e douradas,que lembravam as ondulações criadas quando uma pedra é lançada num lago.

_ Tudo bem ,então... _Sua jornada terá início brevemente e você terá que realizar o caminho com suas próprias forças... _ Aproxime-se... Agora estenda a mão de modo que eu possa ver o anel... Então, em tom solene, aquele radioso ponto começa a emanar palavras profundas que vão se tornando cada vez mais altas e retumbantes , emocionando pouco a pouco a Pequenina... _ Pelos poderes celestes do Amor Profundo ... e pelas bênçãos do Criador ... que as luzes guias orientem a jovem Hanna pelo Caminho ao encontro do Grande Sentidooooo...............!

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Depois destas últimas palavras uma linda jóia rosada e bela como o diamante surge flutuando entre as duas brilhantes pedrinhas do anel , no centro da pedra central surge a imagem de sua mãe ... e um daqueles pontinhos que estava em sua volta começa a crescer intensamente e penetra velozmente na pedra. As duas pedrinhas laterais assumem uma coloração azulada e de modo similar surge de dentro delas a imagem de sua avozinha e de Hércules. O anel brilha intensamente e pequeninos raios são emanados de seu interior e neste instante as três pedras se fundem criando um cristalino semelhante ao do olho humano ,cuja tonalidade lembrava um azulesverdeado dos olhos mais expressivos da Terra. _ Eis aqui pequenina... Aqui está o seu guia!

_ Você andará pela Estrada do Sem Fim até encontrar o Vale da Escuridão Eterna ... na saída do vale terá que escalar a Montanha Silenciosa , no topo desta você vai achar o Labirinto dos Bilhões de Espelhos e se você encontrar a saída...então... _ Então ... o quê? Continue...! _ Deverá atravessar o Abismo Dos Mil Anos ... e do outro lado encontrará o que busca... Haaaã , estava me esquecendo de dizer... _ Dizer ,o quê ? _ Pequenina em cada um desses lugares que lhe falei terá que encontrar uma das jóias sagradas ... quando conseguir reunir as cinco jóias sagradas ,a magia virá ao seu encontro...

_ Nossa... que lindo! É a coisa mais bonitinha

_ Tenho que partir agora... e lembre-se seu coração será o seu guia...

_ Você deve partir o mais rápido possível ... a sua vida está se diluindo no tempo e no espaço....Pequenina você terá que vencer e conhecer os cinco grandes caminhos... Falou de modo suave como a brisa ; suas palavras criaram um abismo de silêncio que somente foi quebrado pela doçura da voz de Hanna.

E antes que a pequenina lhe pudesse pedir mais uma orientação , aquelas centenas de pontos luminosos seguiram rumo ao horizonte e somente foi possível ver um belo rastro de luz multicor tingindo o azul celeste. De repente, Hanna se viu sozinha , prisioneira daquele estranho mundo ... tendo que desvendar segredos adormecidos . Por um breve instante ela sentiu medo e fraqueza , não sabia se iria conseguir alcançar nem sequer o topo da Montanha Silenciosa ...

que já vi...

_ Mas , pequeno amigo me diga , quais são eles e como posso encontrá-los?!

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Lentamente e cabisbaixa foi se aproximando do poço com águas multicores ... dobrou os joelhos e ali sob a borda sentiu o coraçãozinho tão apertado que três lagrimas lhe fugiram dos olhos e caíram misturando-se aquelas estranhas águas. Apertando as mãos com força e determinação e recordando-se dos conselhos afetuosos dados por sua doce mãezinha.Aos poucos seu rostinho foi se irradiando de luz e uma determinação titânica invadiu seu coração . Erguendo a fronte mirou a Estrada do Sem Fim e emitiu um olhar flamejante de coragem e disse para si mesma: _ pelo poder do meu amor ... e pela força de meus sonhos...eu acharei as jóias sagradas! Então ,seguindo a passadas firmes, a pequena valente foi cruzando uma densa campina e logo ao longe avistou uma estranha estrada envolta por árvores frondosas e outras coisas irreconhecíveis, pouco a pouco, a estrada foi tornando se cada vez maior frente seus esperançosos olhinhos. A Estrada possui uma tonalidade que oscilava entre o dourado e o cinza ,era como se ela não permanece na mesma cor , além deste curioso fato ,Hanna havia percebido que aquele caminho parecia extremamente fluido , como pudesse alterar-se a qualquer instante . Após cruzar por uma antiga e velha árvore, tão enorme quanto um imenso prédio, a Pequenina pôs os pés na estrada ... naquele instante sentiu um pouco de

medo ; por mais longe que tentasse enxergar não conseguia avistar o final da estrada , era como não houvesse fim. De repente , num jeito detetivesco , ela apoiou as mãos sobre o vigoroso e rosado traçado de seu queixo ... _ E agora... para que lado eu devo seguir? _ Bem...bem...bem... vamos pensar...! E num breve instante, uma das frases dadas pelo misterioso conselheiro pousaram-lhe na mente ... “Lembre-se seu coração será seu guia” . Hanna olhou para as duas extremidades do caminho e por alguma razão que repousa nos mistérios do coração , resolveu seguir na direção dos três sóis . Por longas horas a pequena seguiu pelo caminho , porém, não avistou nenhuma placa , bicho ou homem que lhe pudesse indicar o caminho ; depois de caminhar até o limite de suas forças ... ela parou e ali ao lado da Estrada , repousou seu corpo numa árvore com suculentos frutos e tronco esverdeado. _ Humm...acho que vou experimentar isto! Então, retirou da árvore um fruto azulado em forma de estrela e o saboreou com intensidade . _ Vamos, logo! Não posso demorar muito ...vovó deve estar preocupada...falava a pequenina de maneira enérgica para si própria.

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Nesta altura do dia os sóis estavam quase no centro do firmamento e o calor começava a devorar-lhe as esperanças de seu coração ... seus olhos já estavam se cansando por não avistarem nenhum sinal ... de um instante para o outro surgiu num ponto distante quase próximo ao horizonte, que agora apresentava uma coloração violeta-azulada, avistou algo que parecia ser uma árvore , mas não uma comum ;ela era tão alta que sua sombra ia até o horizonte . Utilizando-se da valentia de seu espírito e determinação, buscou forças dentro de si e acelerou os passos até o respectivo local. Lá chegando , sentiu-se um pequenino ponto perto daquele magnífico ser ... olhou para o alto e percebeu que sua copa atingia as nuvens mais altas... _ Nossaaa...acho que daria pra chegar na lua se eu subisse nela...o que será que têm lá no alto? Por alguns instantes a Florzinha ficou admirando o gigantismo daquele ser...olhando seus galhos , folhas e tronco ... neste instante de contemplação ela começa a perceber um pálido brilho dourado no tronco do “Gigante”. A passinhos furtivos ela se aproximou e viu algo escrito em lindas letras brilhantes : Deste ponto em diante , a estrada torna-se uma contigo e o caminho torna-se invisível aos olhos............................................

_ Mas , que estranho?! O que será que quer dizer? Pouco a pouco , a frágil luz foi se enfraquecendo até desaparecer por completo , tão misteriosamente como seu próprio surgimento. Aquela frase intrigou profundamente a pequena valente ... depois de tentar decifrar o enigma e nada conseguir , decidiu que seria melhor continuar sua busca e desse modo reiniciou sua vigorosa jornada. O dia corria bem rápido , pois ,sua cabecinha estava repleta de mistérios e a todo instante era visitada por diferentes dúvidas , tais como: o que era aquele lugar e as luzes , porque a estrada era tão comprida e o que significava aquela frase... E assim depois daquele estranho dia , a noite foi iniciando Seu reinado... belas estrelas e nuvens multicores começaram a surgir no firmamento , bem ao longe começava a surgir duas belas luas , uma de tonalidade azul céu e outra tinha as cores esverdeadas das jovens folhas de primavera . Hanna parou um pouco e olhou em todas as direções , procurando um lugar para dormir ... um pouco mais adiante viu um amontoado de folhas e flores reunidas e formando um grande monte... _ Hahaha... é aqui mesmo que será minha caminha...

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Deitou-se delicadamente entre as flores , naquele instante parecia uma delas, ajeitou seus longos e desfiados fios amendoados e por longos minutos observou o anel que hora refletia a luz do luar ...hora o lindo brilho caramelo de seu olhar luminoso .Após dar um leve beijinho no anel e soltar um profundo suspiro... iniciou sua oração do sono... “Papai do céu ,eu sei que tudo está um pouquinho difícil e confuso pra mim...eu não sei bem o que me trouxe até esse esquisito lugar , mas como dizia mamãe às vezes você precisa confiar no que não vê.” “Nos momentos duros Você e mamãe sempre cuidaram de mim , eu acredito na força do amor e... prometo lutar até o final . Por favor cuide de vovó e do Hércules...ah...e diga pra eles que eu voltarei o mais rápido que puder . Muito obrigado por tudo e todos...” E depois de emitir as últimas sílabas a pequenina adormeceu abraçada pelas flores e coberta pela tênue luz do luar , que tingia suas faces com raios azulados e esverdeados...

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...uuurmmm....uuurmmmm..... e saltando como um gato novo, pôs se de pé , e gritando num tom alto e agudo... _ aaaaaaaaaaaa! O que é isso ? Passado o susto maior ... aquelas duas figurinhas , Hanna e aquele curioso ser , ficaram parados ...com os olhos mirados um em direção ao outro , uma profunda comunicação foi criada naqueles curtos segundos... Foi, então que viu que era uma simpática criaturinha ... pequenina e fofa como um floco de neve e com dois grandes olhos cor de rubi , no topo da testa havia uma pedrinha com as cores dos arco-íris ... os pêlos que o cobriam eram amarelos e finos como uma teia de aranha ... _ Ahhahhaha!! Que bonitinho... por favor não tenha medo... desculpe ter assustado você amiguinho...

Capítulo VIII : Na Estrada do Sem Fim A pequenina sentia o corpo bem descansado quando acordou e durante alguns instantes após o seu despertar , permaneceu ainda deitada e com os olhos fechados , somente sentindo a luz acariciar suas faces; de repente ouviu um farejar bem dentro de seu ouvido

Pouco a pouco , aquele curioso animalzinho foi chegando mais próximo da pequenina ... até o ponto que ficaram a um passo um do outro ; repentinamente o pequenino salta-lhe nos braços e emite um curioso som... _ Tutuutuuuuu....tuuTuTTuuPuPUPU... _ Que engraçado...ahaha... é assim que você fala?

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_ Pupupppu! Fala de maneira empolgada aquele gracioso ser. _ Gostaria de vir comigo? _ Pupuuupuuuuu.....! _Isso é um sim?! Então, vamos procurar algumas frutas e partir...tudo bem? _ Vamos lá , pé na estrada!! Passado o susto inicial e feita mais uma nova amizade Hanna olha mais atentamente a seu redor ... eis então, que percebe que o chão no qual ela pisava , ia após alguns instantes se transformando numa continuação da estrada; se nossa valente caminhasse para a direita,esquerda,para frente ou para trás, uma nova estrada era se construída . _ AiAiAi ,que estranho? O que será isso? _ Mass..... cadê a continuação da estrada ? A estrada que antes quase conseguia tocar no horizonte havia desaparecido... Hanninha arregalou bem os lindos olhinhos , como estivesse tentando enxergar melhor , mas era real, a Estrada do Sem Fim agora se construía sob seus delicados pés. _ Calminha, Hanna...um probleminha por vez! Falava a pequenina para si mesma.

_ Pequenino , será que você pode me ajudar a achar o caminho? _ Pupu!!! Falou alegramente o pequenino de olhos expressivos. _ Você precisa de um nome... o que acha ? Bem, vamos pensar! _ Haaaã... que tal PUPÚ...? Você gostou desse nome ? _ pupuPupú! Falou empolgado o pequeno. _ Pupú , onde devemos ir? De repente ,num salto Pupú lançasse ao chão e começa a dar longos pingos , como uma bolinha de pingpong.Pouco a pouco ele vai se dirigindo rumo à curva da estrada, este era o último ponto que Hanna havia pisado no dia anterior. Ao que tudo indicava, seu novo amiguinho lhe dizia através de seu escasso vocabulário que ela devia voltar. Depois de alguns breves segundos, a pequenina parou diante do Pequeno... por alguns instantes ela teve medo de voltar...medo de olhar para trás e refazer o caminho... Seus pés apontavam para trás , porém seu olhar desejava ir para frente,subitamente ela começou a andar para frente e a estrada foi se construindo abaixo de

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seus pés... novamente o medo retornou a seu coração e a dúvida de novo visitou-lhe a mente... _ Aiai, como... acharei a jóia ,se não sei nem para que lado seguir? O penetrante olhar de seu amiguinho a seguia atentamente, ele continuava a insistir que Hanna deveria voltar... A pequena abaixou a cabeça e olhou de modo terno para o anel ;depois refletiu por alguns instantes e sentiu que caminho seguir... e de modo corajoso novamente confiou no invisível , na voz oculta de seu coração... e desse modo tem início o caminho por aquela estrada já percorrida.Ela começou a seguir pela estrada do passado,um caminho já seguido... buscando realizar o tão sonhado desejo.

diferentes:”””””””””””””””””””””””””””””””””””””””””” ””’’’’’’ D.....este ponto em diante , a estrada torna-se uma contigo e o caminho torna-se invisível aos olhos............a resposta vive no que não consegue ver...................................................................... No primeiro instante a pequenina ficou confusa com tão enigmáticas palavras ,e dando algumas voltas em torno do próprio corpo e sentou-se junto ao frondoso tronco ...seus olhos estavam compenetrados na busca do entendimento da luminosa frase... _ Pupú , o que será que isto significa ? _ Vamos, Hanna...eu sei, que eu posso conseguir!

No caminho ela colhia deliciosas frutinhas transparentes e sentia as doces luzes da manhã e a brisa a fazerem lhe cócegas nas faces e brincarem com seus lindos cabelos.Ao longe ouvia suaves cantos de pássaros e algumas vezes tinha a impressão de ouvir a doce voz de sua avozinha. Passadas algumas horas, ela se deparou com o ponto mais impressionante da sua jornada de ida... a Árvore Gigante.

O animalzinho peludo encontrava-se parado a frente da Florzinha , ele a olhava atentamente ... parecia admirar profundamente sua coragem e determinação. Durante longas horas, a Pequena lutou bravamente... buscando compreender o sentido daquelas estranhas palavras,mas o significado da frase, pouco a pouco, foi se tornando mais insondável.

O pequenino Pupú de repente pára em frente da árvore .Pouco a pouco, sua pelugem começa a brilhar e aquelas estranhas inscrições surgem novamente...porém mais radiantes do que antes e um pouco

Os sóis corriam o céu e gradativamente iam dando lugar ao brilho das estrelas . Hanna sentiu um leve aperto no peito , pelo qual o medo e o cansaço começaram a adentrar ... tentando dominar sua mente e coração ; de repente, reclinou um pouco a cabeça ,a qual

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foi iluminada somente pela pálida luz do luar ... e num esforço magno iniciou um ardente pedido:

uma breve explosão multicor... delgados fios azulados escorriam do alto como cabelos...

_ Oh! Querida mãezinha ajude-me a encontrála , pelo menos uma última vez....por favor Papai do Céu , eu não posso falhar ... não agora que estou tão perto...

A pequena estava paralisada perante tamanha beleza e por uma mensagem misteriosa de seu coração sentiu um imenso desejo de ver o que havia naquelas grandes alturas ; novamente seus sentimentos lhe mostravam o caminho.

Suas palavras vibravam em meio à noite de modo intenso e quem a visse de perto veria seus olhinhos se enchendo de água e o inicio de breves soluços.Lentamente foi abraçando os seus próprios joelhos e murmurando ... eu tenho que ir em frente... eu tenho que seguir em frente... e repentinamente, num curto intervalo de tempo, uma pálida luz dourado começou a ser irradiada do anel. A pequenina ergue-se como em transe,a luz emanante a atraía.O rosto da menina era uma espécie de espelho de carne,irradiando um pálida luz .De repente de modo inesperado ,um intenso raio de luz saiu do anel e lançou-se em direção ao tronco da Árvore Gigante.Hanna,então como uma ágil felina , começou imaginar-se subindo numa velocidade assombrosa rumo a frondosa copa. O tronco daquele vegetal gigante brilhava intensamente , parecia em chamas.Passados alguns instantes, o raio desapareceu na altura das nuvens . Hanna admirava cada detalhe do divino espetáculo , e ali parada olhando para o alto começou a perceber um novo brilho na copa... cada folha brilhava num tom ouro e após

_ Pupú , você espere aqui, tá bom ?! Eu , já volto... E novamente, com aquela determinação guerreira das mulheres da família... ergueu os olhos mirando o objetivo ; levantou as mangas da camisa ; fez duas longas trancinhas divididas , para evitar que os cabelos a atrapalhassem e... trançando parte daqueles fios de luz, iniciou sua escalada, em direção ao que não se sabe , mas talvez rumo ao desconhecido. De algum modo, à pequenina sentia que encontraria algo lá em cima . Suas mãozinhas deslizavam pela luz azulada e quando se cansava , enrolava a corda de luz num dos pés até recuperar as forças ... corajosamente a pequena valente subia e quando olhava para baixo avistava apenas alguns pontinhos pálidos , ela já estava bem distante do solo. Naquela altura que Hanna estava o vento já era mais bravio e ela precisava fazer um esforço sobre humano para não cair ou escorregar , por um instante

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sentiu os braços fracos e pensou que iria cair mas , novamente o amor daqueles que ama a sustentou. A Pequenina somente conseguia ouvir o som das enormes folhas e sua respiração ofegante seguia solitária,ao mesmo tempo que era acompanhada pelas suas boas memórias . Já havia passado do meio do caminho e logo acima de sua cabeça avistava galhos enormes que partiam do tronco. _ Força...força!! Vamos! E buscando, no fundo do coração, as últimas forças conseguiu chegar a primeira fileira de galhos e... naquele lugar isolado e sereno , “construiu” sua caminha e com o rostinho suado e as mãos feridas adormeceu docemente numa reentrância da madeira , embalada somente pelo vento e pelo arder das mãos. No avançar da noite uma chuva bravia gritava pelo céu,trovões e o assovio do vento se tornavam o acalanto daquela noite fatigante e mágica. Seu doce rostinho estava levemente empoeirado e seu corpinho fatigado.No raiar da manhã a grande tempestade havia passado e como um presente dos céus , uma doce gota de orvalho caiu sob sua face , juntamente com os primeiros raios do amanhecer . Lentamente a Pequenina abriu os olhos e sentindo o frescor das gotículas , abriu as palmas e esfregou os rostinho rosado e abriu um doce sorriso de satisfação

,leve e bondoso ,como são os sentimentos puros. E falando sorrindo para si mesma , disse : _ Aiaiia...que bom , já estou quase chegando! E usando sua estratégia de escalada da noite anterior , recomeçou o caminho vertical . Lá pelo quinto galho , ela observou uma imensa, macia e cheirosa fruta em forma estrelada... aproximou dela e lhe retirou vários pedacinhos , parecia uma linda e simpática aranhinha,tanto no jeito de subir através de sua teia,como no modo de comer. Depois de saciada reiniciou a subida. Durante a manhã toda escalou incansavelmente, lutando contra os medos e dores do mundo interior e exterior . Quando os sóis estavam formando um triângulo no céu , dois na ponta e um no centro , a pequena guerreira começou a tocar as primeiras folhas da copa e algo estranho foi lhe atraindo a atenção era... uma luz suave e sonora, apoiada numa plataforma fluida , sólida como o chão e com aparência aquosa.Ali estava... a primeira jóia. _ Obaaaá! Lá, está ela! Achamos a primeira.... ahahahhhah! Animadamente, Hanna subiu até tocar na borda da plataforma e ali estava... a primeira peça de seu sonho. Ficou admirada com a aparência do suporte de apoio , era como caminhasse sobre as águas... e a passadas firmes foi se aproximando até tocar na jóia ; no

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momento do toque aquele precioso objeto tornou-se mais luminoso e fluido e fundiu-se ao anel de sua mãezinha , refletindo três das sete cores do arco-íris , que alternam se , como serpentes rastejando umas sobre as outras. Assim, a valente consegue a primeira parte das cinco ... e de lá do alto vislumbra toda a imensidão daquela misteriosa terra de magia e mistério , onde quase tudo era brilhante... com exceção... de uma enorme vale com uma redoma negra que existia além das montanhas flutuantes ; Hanna, sentia que ali era O Vale da Escuridão Eterna , onde existiria a segunda jóia... o segunda grande peça do mistério.

Capítulo IX : No Vale da Escuridão Eterna

A pequena valente , ainda se encontrava sobre a plataforma fluida estava parada,admirando aquela

imensa bolha negra ; de repente, seus pezinhos foram sendo envolvidos pela fluidez do apoio,que lentamente ia desaparecendo no interior da copa. A menina usava de todas as suas forças para não ser tragada , mas, seus poderes humanos não conseguiram deter o fato. _ O que é isto ?! Não consigo me soltarrr......E repentinamente , ela desaparece totalmente ,depois de emitir os últimos “rs” abafados. Agora, no interior da Árvore Gigante , a pequenina descia rumo ao solo em altíssima velocidade,ela era levada pela seiva daquele ser magno. Naqueles breves instantes que se seguiram entre o céu e a terra , seus olhinhos ficaram impressionados pela magia interna daquele ser.Ela estava imersa numa água multicor via pequenos cardumes coloridos e imensos sóis envoltos por gigantescas galáxias .Hanna não sabia ao certo como tudo existia no cerne daquela vida e como tudo era tão grandioso. Quando já estava à apenas alguns metros do solo viu a mais bela das imagens... viu-se quando era muito pequenina... sua mamãezinha a embalava carinhosamente em seus braços , cantando um doce e melódico acalanto. Seu coraçãozinho transbordava numa sensação de amor pleno , indescritível para o mundo das palavras e da gramática ,sensação esta que iria perdurar por muitos e muitos anos.

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Inexplicavelmente , a pequena apareceu encostada no frondoso tronco ; estava um pouco sonolenta. Pupú saltou sobre seus cabelos um pouco desfiados e brilhantes e saltando levemente em sua cabeça , emitia aquele engraçado jeito de falar de sua espécie: _ Pu....Pú....Pu....Pú....Pu....Pú....Pupupúuuuuú....! Aos pouquinhos , a menininha de cabelos amendoados abriu os olhos...emitindo um de seus lindos sorrizinhos. _ ahahahhhh! O que você está fazendo ai? Eu , já acordei... tudo bem! Levantou- se e ainda por alguns instantes permaneceu parada , como estivesse admirando cada uma daquelas imagens e sensações . Ergueu a delicadas , mas vigorosas, mãos róseas e começou a desfazer a duas trancinhas ... e com os cabelos brincando numa fresca brisa , falou para Pupú: _ Vamos meu amiguinho! Não temos mais tempo a perder! E olhando de maneira firme em busca das montanhas flutuantes , local que serviria de referência para encontrar o Vale da Escuridão ,partiu novamente rumo a escuridão do desconhecido . Durante dias Hanna

caminhou... e a estrada ainda continuava a ser formada abaixo de seus pés . Seu corpinho estava um pouco fatigado e algumas bolhas surgiam-lhe nos pezinhos. Depois de cruzar um imenso campo de pedregulhos , sentiu um forte e frio vento correndo por aquela região desolada.Após avançar mais alguns metros , avistou o gigantesco Vale da Escuridão Eterna. Hanna ,sentiu uma onda de frio a percorrendolhe a espinha,aquele lugar lhe dava medo. Ao ver aquele lugar Pupú saltou entre seus braços , como estivesse buscando abrigo daquele medonho lugar. Ao correr a vista pelo lugar , a pequenina percebeu que tudo naquela região era composta basicamente por colorações cinzas e negras ... parecia que a vida a muito não visitava aquele lugar , havia somente pedras e areia por toda parte que se olhasse. A passos mais previdentes, a pequenina começou a marchar em frente .O silêncio era quase absoluto ; somente, conseguíamos ouvir os frágeis passos daqueles pés roçando na areia e nas pedras. “Ai”! Grita , Hanna de repente ... algo havia agarrado em suas perninhas , quase jogando-a ao chão e num ato reflexo , ela correu o mais rápido que pode , parando alguns metros mais à frente . O seu coração batia acelerado e sua respiração estava descompassada .Lentamente ela se vira e eis então que vê ...

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Um pedaço de pano tingido de terra e trazido pelo vento... este era o mostro que havia se agarrado as suas pernas . Agora mais tranqüila , ela se aproximou do pano , sacudiu aquele objeto um pouco ao vento e percebeu que aquilo era uma antiga e resistente mochila ... extremamente parecida com sua primeira mochila escolar , que ela havia perdido um ano antes da partida de sua mãe para o céu.

Os três sóis começavam a surgir do seu esconderijo e eis então,que ela observou um curioso fato . À medida que os astros iam se elevando no firmamento, a luminosidade das mediações permanecia na penumbra.Ela olhava perplexa... a imensa redoma de trevas,que sugava a luz emergente ; era como o Vale estivesse se alimentando de luz e transformando o radiante nas mais medonhas trevas.

Aquele dia estava quase acabando , e havia apenas uma tênue luz a clarear o ambiente. A pequena decide então, fazer parte do caminho de volta para recolher algumas frutas e guardá-las na mochila .No mesmo local que apanhou as frutas , “ montou seu acampamento” e naquele mesmo local adormeceu abraçada ao seu peludo amigo.Algumas vezes, durante o sono naquela noite , Hanna chamava pelo nome de sua mãezinha e no cantinho de seus olhos uma umidade de tristeza ia sendo depositada.

Ainda temerosa, a valente foi se aproximando e como no dia anterior , somente o som abafado dos tênis roçando nas pedras e na areia eram ouvidos,era como caminhar num deserto com noite eterna. Seu coração batia acelerado ... alguma coisa estranha existia naquela estranha região sombria , mas, mesmo temendo, a pequena foi seguindo em frente . Algumas vezes , ela abaixava a fronte como se estivesse buscando forças no brilho fluido e luminoso do anel.

O seu sono, naquela noite havia sido inquieto e naquele novo dia Hanna despertou antes dos três sóis . Quando acordou tudo estava silencioso , seu amiguinho ainda dormia.Carinhosamente ela o envolveu em seus braços , pôs a mochila carregada de frutas nas costas e seguiu novamente rumo ao Vale da Escuridão. Ao chegar até o local foi invadida pela mesma sensação de antes .O vento gélido lhe tocou as faces rosadas e o arrepio novamente correu por sua espinha.

Quanto mais se aproximava do cerne sombrio , mais gélido o ar ia ficando... a respiração de Hanna era exalada de suas narinas e boca, como uma névoa esbranquiçada . Seu frágil corpo , começava um leve tremor,abraçava-se com mais força numa tentativa de aquecer a camada mais superficial da pele que estava fria como uma lâmina de aço. _ Ai... como está frio! Brummm...... Dizia a valente com a cabeça levemente adornada no peito.

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De vez em quando , seus olhos se viravam e observavam as primeiras pedras do caminho ficando, mais e mais, diminutas ... seus cabelos agitavam-se frente a um forte vento e a estrada do Sem Fim ,ainda era construída sobre cada passada da garotinha. A imagem daquela redoma negra , fica cada vez mais agigantada ...e seus sentimentos começam a ser afetados pelo frio e medo crescentes.Após centenas de passadas, ali se vê ela , frente a frente , com as estranhas trevas do local...

Ao, mesmo tempo que o coração de Hanna avisava dos perigos daquele local , ele também dizia que uma das jóias estava ali dentro.Contudo , duas barreiras titânicas deveriam ser transpostas : o medo daquele lugar desconhecido e o pavor que Hanna sentia do escuro. Por alguns instantes, ela receou atravessar as trevas , mas... sabia que não podia mais desistir , então ali parada ... inclinou sua fronte e iniciou um doce diálogo com o invisível...

Aproxima o rosto lentamente em direção a redoma escura e inicia uma minuciosa análise .Pouco a pouco , percebe que aquelas trevas tinham um brilho macabro e assustador , lembravam o olhar negro dos grandes bovinos...com um reflexo gelado e envolvente. O vento nas proximidades da grande redoma era quase polar e sempre que Hanna inclinava-se para observar a redoma , o vento lhe falava de modo sussurrante aos ouvidos...

_ Mamãe e Papai do Céu... estou com muito medo...mas...

_ Entreeee........entreeeee.......... Depois de analisar a exterior do Vale , ela reclinou os joelhos e apanhou um punhado de pedras negras... e num movimento de arco , inclinou-se para trás e lançou-se para frente , arremessou-as em direção ao interior do brilho opaco... as pedras percorreram um curto espaço e desapareceram no negrume sem deixar nenhuma evidência ou emitir qualquer ruído.

_Lembro-me da promessa... eu prometi que seria forte... _Por favor ,me dêem coragem para seguir... eu preciso encontrá-la... De repente , três cristais gelados percorreram a face empoeirada de Hanna... e ela emitiu um profundo suspiro...naquele instante, o seu medo e sua tristeza , não lhe permitiram sentir o brilho que saia do anel . Passados alguns segundos, o anel foi tornando-se mais quente , num calor que envolvia todo o seu corpo ... quando esta sensação começou a percorrer o seu físico , ela então olhou para o brilho que sai do objeto sagrado e ao sondálo de modo mais agudo , viu lindas imagens de campos floridos e via sua avó a chorar num quarto branco...

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Quando, sentiu a própria dor da sua avozinha vendo as lágrimas a realçarem as rugas da vivência sentiu seu corpinho se aquecer internamente.Aquele olhar de determinação samurai havia voltado a brilhar na sua mente e no seu coração. Então , abraçando Pupú com firmeza e cerrando os punhos deu um passo adiante,mergulhando no Vale da Escuridão Eterna... _ Pupú... você, está bem? Nossa,eu não consigo ver nada!

vagarosamente, Pupú se aproximou da amiga e abriu a mochila com as frutas. Hanna, ao sentir o doce aroma das frutas, lembrou-se que até então, não havia comido nada e tateando a mochila na escuridão, retirou uma das frutas de lá de dentro. A pequenina comia de modo bovino , mastigando e remastigando lentamente aquele alimento.De repente, surge no meio de tantas trevas uma onda de gritos...

E a partir daquele passo , Hanna mergulhou em trevas... e pela primeira vez sentiu-se cega, absolutamente cega.Uma insegurança tamanha dominou as pernas da pequenina e as sensações do seu quarto escuro foram paulatinamente retornando naquele momento presente. Mas , as lágrimas de sua avó lhe davam coragem para seguir; e diante do medo magno , a coragem se sobrepunha .

_HAhhhAAA...Socorrooooo....Fomeee....AA AA...nos ajude.....Fome....

_ Pupú... como, acharemos a jóia? Eu, não consigo ver nada e tudo é tão sombrio...

As vozes gritavam cada vez mais intensamente... seus gritos assemelhavam-se a quase uivos de sofrimento intenso ; eram somente sons ecoantes numa redoma de trevas. A Pequenina seguia a lentos passos tentando se guiar pela direção dos gritos frente as suas perguntas .

Hanna, começou a tatear o chão de maneira lenta e avançava de centímetro em centímetro.Caminhou durante muito tempo ali dentro ; ela havia até perdido a noção de tempo , já não sabia se tinha caminhado durante alguns minutos ou horas . Ela caminhou até cair exausta no chão pedregoso ... na queda, sua face foi ferida e suas pernas ardiam em dor. Procurou recuperar as forças...

Aquele pandemônio de vozes começou a ecoar no interior do grande Vale e pela primeira vez ... a Pequenina teve um senso de direção e ao mesmo, tempo que temia as vozes , sentia que precisava fazer algo... _ Onde, vocês estão?!

_ Por favor.... nos liberte da dor da fome...e da escuridão!!!

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Ela temia a cada passo.O desconhecido a atormentava profundamente,nem imaginava a onde estava a jóia , mas ,sentia claramente ,qual o lugar de onde ecoavam as vozes.Os gritos foram ficando cada vez mais altos a cada novo movimento da jovem.Inesperadamente, um novo grito se juntou aos outros...era o grito da própria menina , que começava a rolar por um terreno de declive acentuado e pedregoso ... _ Aiaiiiiiii.........!AAAA.... À medida que foi caindo , sentiu sua pele se rasgando e uma dor espalhando-se por todo seu corpo.Repentinamente , seu corpo cessou o movimento. Ainda caída ,sentiu a boca com um punhado de terra e a pele ferida.Superando a dor ardida que corria pelo seu frágil corpo, ergueu-se pela força de seu próprio espírito... ficando a muito custo em pé... _ Calma.... estou indo...! Assim dizia, a Pequenina com uma voz fraca e cansada. _ Nos ajudeeeee.........!! Depois de muito esforço, Hanna conseguiu chegar próxima a nascente daquelas vozes agonizantes e a medida que se aproximava , começou a reconhecer no meio dos gritos , lágrimas abafadas seguidas de soluços e barulhos de correntes.

_ Temos fome....por favor, comida! Hanna seguia mancando rumo aos apelos desesperados... até achegar-se tão próxima que conseguia ouvir a respiração daqueles prisioneiros ; repentinamente sentiu uma mão gélida e peluda tocar-lhe a face.Por um breve instante estremeceu de medo,mas...lembrou-se que fossem o que fossem, eram seres carentes de ajuda , não podia abandoná-los. Então,lentamente tateando na escuridão , segurou naquelas estranhas mãos e como tentasse enxergar com o tato , percorreu os braços a procura do rosto daqueles seres.No momento que tocou na face de um daqueles seres , sentiu algumas rugosidades , narinas planas e muitas lágrimas a lavarem-lhe a face. Lentamente foi abrindo a mochila em suas costas e iniciou a retirada de um dos deliciosos frutos e entregou aquele amigo que era tão real e irreal ,ao mesmo tempo. _ Obrigado... amiga...por trazer esperança... Aquela voz, agora mais tranqüila , agradeceu e começa a degustar o fruto e quando a primeira mordida foi dada ... tudo que antes eram trevas absolutas ,começou a virar trevas relativas.Leves fios radiantes começaram a jorrar do anel , espalhando-se nos arredores.

_ Amigos, eu vim ajudar....!

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Hanna mergulhou o olhar na penumbra e chorou com emoção intensa , em nenhum instante de sua vida havia visto tanta dor reunida . Pessoas de mãos peludas e rostos redondos e rugosos , caminhavam por aquelas paragens arrastando correntes e grandes pesos... os pés da maioria estavam feridos e seus corpos pareciam muito frágeis.Algumas vezes,cruzava com o olhar de pequenas figuras abraçadas por braços maiores; oh, céus ! eram bebês, famintos! A pequena ia passando ao lado deles e olhando com ternura . E tirando um dos frutos entragava para aquelas mãos,havia naquele lugar alguns seres caídos ao chão e com as forças quase exauridas .Para esses, a pequena inclinava o corpo cheio de feridas e carinhosamente punha pequenos pedaços de alimento na boca. Durante horas , ela cuidou de cada um, indo e vindo... distribuindo um pedacinho de alimento para cada um daquela centena de corações dilacerados... _ Desculpem-me amigos , por poder entregar somente um pequeno pedaço de alimento a cada um....assim falava a pequena , numa voz entrecortada por lágrimas e soluços. A cada carícia e cuidado, doados aqueles diferentes seres, ia intensificando-se o brilho do anel.Agora, grossos fios luminosos corriam quais serpentes pelo chão escuro e irregular , fazendo círculos em cada um daqueles indivíduos.O coração da menina foi

ficando, mais e mais apertado... até que explodiu em lágrimas e súplicas... _ Como, pode existir tanta dor....! Senhor do Céu , a comida acabou... o que posso fazer agora?! Falava em lágrimas , Hanna. _ Mãezinha me ajude! Não sei mais o que fazer.... E num momento mágico... como se os céus a tivessem escutado... os fios de luz giraram mais intensamente e criaram redemoinhos de luz multicor ao redor de todos os que sofriam, inclusive ao redor da Pequena Guerreira.Pouco a pouco , as correntes foram sendo quebradas e num misto de lágrimas coletivas e ranger de correntes , eles foram libertados... E o que antes eram súplicas de ajuda , transfiguraram se em lágrimas de gratidão...era um coral de gratidões . Hanna ficou parada, admirando aquele sensível quadro , vendo aqueles seres cheios de chagas e privações se abraçarem e chorarem um nos braços dos outros.As serpentes de luz que antes corriam pelo chão , começaram a metamorfosearem-se em grandes furacões radiantes que subiam até o teto negro.Centenas daqueles tufões de luz iam tocando lá no alto ; era como a pequena fosse o centro de tudo aquilo , um pilar de luz. Na testa da pequena , começou a brilhar um símbolo radiante e uma coluna de luz azulada envolta

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num furacão rósea , marchou rumo ao céu ... lentamente ele foi se elevando até tocar as trevas...tliiiiiiiiimmmmmmmm...um brilho súbito é ouvido. Ela olha para o alto e vê que no lugar aonde existia uma redoma de trevas , agora existia uma gigantesca teia de luz envolta no escuro traçado de luz negra . Aquele adensado luminoso seguia convergindo para um único ponto no alto do teto negro . E, talvez pela primeira vez em centenas de anos... a luz penetrou naquele ambiente. As três colorações das luzes solares misturavam-se e atingiam intensamente cada poeira e pedra do chão,que quando tocadas , transfiguram se em belos girassóis , margaridas , petúnias ...e uma infinidade de outras flores. Do local aonde Hanninha pisava , começou a surgir um poço multicor,que a partir de um pequeno ponto luminoso , começou a se espalhar... até criar um gigantesco lago de luzes viscosas e com um delicioso aroma. Ao verem o lago surgir , houve uma marcha de todas as criaturas em direção as margens do radiante local.Murmúrios de gratidão ainda podiam ser ouvidos em coro , e nessa marcha quase bíblica , eles começaram a beber e se banhar com as águas brilhosas e... lentamente as rugas e o olhar triste começaram a dar lugar a beleza e ao sorriso sincero.E desse modo as trevas foram virando luz.

Logo ao longe , Hanna percebeu que um pequeno grupo vinha em sua direção carregando algo... era uma jóia negra . Ao chegar a frente da pequenina , ela trocou um profundo olhar com aquele que segurava a jóia... carinhosamente quatro deles ergueram a pequena em seus debilitados braços , e marcharam em direção ao Lago de Luz Radiante; lentamente foram afundando as pernas nas águas, Hanna não sentiu medo algum nesse instante. E com uma delicadeza materna , começaram a lavar cada uma das feridas ... que ao leve toque das e águas e das mãos , iam sendo curadas uma à uma. A Pequenina sentia uma doce sensação de leveza .A dor e o cansaço haviam partido de seu corpo. De repente , um dos seres que carregava a jóia se aproximou da menina envolta em raios de luz e num gesto pleno de humildade lhe entregou a pedra preciosa negra .A menina pegou a pedra e a mergulhou nas lindas águas ...e como num passo de mágica , a jóia começou a ficar radiante e no seu interior surgiu um fluido róseo brincando alegremente , como uma nuvem vaporosa. E mais uma vez ,houve a fusão desta nova jóia ao anel e de maneira plástica , a pedra do anel assumiu a forma de um coração, no qual, sempre que Hanninha olhasse podia ver sorrisos e pessoas felizes. A pequena agradeceu emocionada a cada um daqueles novos amigos e ao olhar para trás viu uma linda e minúscula montanha verde com um pico branco...era a Montanha Silenciosa.

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E erguendo os olhos de modo guerreiro... continuou sua marcha rumo ao horizonte , em busca do grandioso sonho . Partia deixando ali bons amigos,mas levava consigo, bons companheiros que a seguiriam na eternidade ... as boas memórias.

desaparecerem por completo na linha do horizonte. Hanna seguia absorta em seus pensamentos , tinha a cabeça levemente abaixada e os seus olhinhos caramelo admiravam o rostinho dorminhoco de Pupú,e de vez em quando voltava a cabeça para trás .Talvez somente para saber se tudo ainda estava bem . Foram três longos dias de caminhada até chegarem ao platô da Montanha Silenciosa e durante todo aquele trajeto a Pequena sentia uma estranha sensação , era um misto de compaixão e serenidade por tudo,algumas vezes , tinha a impressão que alguém acariciava seus cabelos amendoados e desfiados, criados pelo mistério da vida. Algumas vezes parava para colher flores e frutos dos mais diversos e assim foi seguindo pela longa estrada. No último trecho do caminho, as curvas serpenteavam aos seus pés , terminando numa relativa inclinação ,que a guiava rumo a um imenso vale com flores do campo que circundavam toda a extensão da Montanha. Ao ver aquele lindo espetáculo , Hanna emocionou-se... _ NOSSAAAA! QUE LINDO !

Capítulo X : A escalada da Montanha Silenciosa

_ Você , não acha Pupú ? _ puuuuPUPU!

Pouco a pouco , os novos amigos iam ficando cada vez mais diminutos ... até que finalmente

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À medida que avançavam , a Pequenina teve uma estranha percepção... parecia que quanto mais próximo chegavam da Montanha , mais silencioso tudo ia ficando , era como os sons fossem ficam raros naquelas paragens. Às vezes , tentava falar com Pupú , mas sua voz era quase inaudível... gritava o mais alto que podia , mas o som sai com a força de um alfinete caindo no chão. De repente , após três centenas de passos, ali estava ela , bem ao pé da montanha e a partir daquele ponto tudo se fez num silêncio mortal , nada podia ser ouvido... nem o vento , nem as pegadas , nem a voz.O silêncio era absoluto. Aquela sensação de mudez gerou um certo incômodo na pequena , mas o pequeno amigo a consolava com os imensos e radiantes olhos. Aos pouquinhos a luz foi cedendo lugar a escuridão e Hanna achou que seria melhor iniciarem a escalada na manhã seguinte.Procurou alguns gravetos , palha seca e duas pedras lisas; e bem ali ,na encosta da Montanha Silenciosa criou uma fogueira . Deitou-se como uma pluma sobre a relva ,com os olhos focados no céu da noite admirando as estrelas do céu. Lembrou-se das músicas e da doce voz de sua avozinha e de repente teve um imenso susto ... todas as vozes de suas memórias e pensamentos haviam emudecido. Tentou se acalmar...e lembrar das imagens alegres ; os pulinhos de Hércules , as caricias de sua avó e o sorriso de mamãe. E acalantada por estes belos

quadros foi adentrando no mundo de Morpheus , para acordar somente ao raiar dos sóis. Como era de costume, ela acordou cedo e selecionou as frutas de cores mais belas para ela e Pupú fazerem o desjejum. Depois de findado o café da manhã iniciaram a escalada... Pupú saiu pulando na frente,como estivesse à procura do melhor caminho ; durante alguns minutos ele ficou saltando num mesmo lugar , Hanna achou que talvez ali, fosse uma trilha pela qual pudessem subir e saiu correndo o mais veloz que pode até o local apontado . Chegando lá , viu que realmente era uma trilha ...íngreme e coberta por minúsculos seixos arredondados , ela sentia que a subida seria difícil ,mas não podia perder mais tempo procurando um caminho alternativo, teria que ser aquele mesmo. Recuou um pouco mais rumo ao início da encosta a procura de um cajado de madeira que pudesse servir de apoio na escalada. Transcorridos alguns instantes,volta a Pequenina com um pedaço de madeira nas mãos , que mesclavam-se a sua determinação expressa em seus amendoados olhinhos.A mistura de seu olhar e o cajado acabavam dando a pequena valente um caráter quase élfico,místico. No começo da subida a trilha se apresentava razoavelmente larga , mas , à medida que os passos avançavam, ela foi ficando mais e mais estreita, às vezes , escorregava nas pedrinhas e sentia o coração acelerar ,

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pois qualquer queda daquela altura já seria fatal. Seu peludo amigo ia saltitando logo à frente , tranqüilo e alegre como era de seu feitio. Sem saber o motivo , de repente a Hanna ficou imóvel, sentia que algo estranho estava para acontecer, mas, não sabia o que...correu o olhar por todas as direções a procura de pistas, tudo em vão.Então, continuou em frente. A subida foi ficando cada vez mais perigosa , pois a trilha ia ficando tão estreita, quanto os dois pezinhos da jovenzinha. Pupú parecia não temer tal situação e continuou saltitante , mesmo diante daquele perigo iminente. Passados alguns instantes , o alerta de perigo retornou ao coração de Hanna e novamente ela buscou nos arredores sinais de qual haveria de ser o motivo desta sensação perturbadora.Eis então que se apercebe,e ao olhar para o peludo amigo vê uma imensa pedra caindo na direção de Pupú... desesperadamente tenta gritar o mais intenso que pode , mas nenhum som sai de seus lábios. A pedra caia na mira do amigo em grande velocidade ,suas pernas repentinamente são impulsionadas por um instinto típico das amizades sinceras e ela segue correndo o mais rápido que pode rumo ao amigo percebendo que não chegaria a tempo arremessa o cajado o mais forte que pudesse cair na frente do amigo servindo-lhe de sinal. Mas , já era tarde demais .Ela somente vê o corpinho ferido do amigo rolando em sua direção. Neste momento , as lágrimas descem intensamente por seu

rosto e num gesto tremulante e preocupado , ela reclina os joelhos e envolveu o amiguinho entre seus bracinhos bronzeados . Queria tanto falar... perguntar ao amigo se estava tudo bem , mas aquele silêncio absoluto a matava de angústia ; a única comunicação que lhe restava naquela hora era o da sensação táctil. E assim ela fez, apertou o frágil corpinho peludo sobre o seu peito e o beijou intensamente , pela primeira vez sentia a dor da partida de um amigo , no qual o acaso lançava uma flechada certeira . Pensou em voltar ,mas então se deu conta que estava solitária .Naquele momento seu único companheiro era a sua dor interna. A única alternativa que havia restado , era continuar avançando.E assim , sem conseguir expressar sua intensa dor marchou corajosamente em frente , no mais absoluto silêncio. Durante duras horas caminhou pela estreita trilha , somente ela e o pequeno amigo ferido entre os braços. A luz , pouco a pouco , começou a ser substituída pelas trevas,até o ponto em que apenas uma tênue luminosidade iluminava o caminho ; quase tudo já estava metamorfoseado num manto de penumbra . Os olhinhos de Hanna abriram-se o máximo que puderam , tentando desesperadamente utilizarem-se dos esparsos raios lunares .Durante toda aquela noite ,ela seguiu

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caminhando rente à encosta , lutando desesperadamente pelos últimos sinais de vida, dados pelo amigo. Algumas vezes , olhava para baixo e admirava assustada a imensa altura em que se encontrav, noutras horas lembrava da imagem de sua mãezinha sorrindo e acariciando seus cabelos desfiados. Quando já se encontrava bem próxima do cume , o chão começou a ficar mais escorregadio e o vento mais intenso e gélido,esta nova situação a obrigava , a uma tentativa desafiadora de agarrar-se as fendas da encosta .Neste processo suas mãozinhas se arranhavam e feriam-se constantemente; o frio ia tocando as feridas como farpas de gelo penetrando pele adentro. Depois de um esforço extremo para prosseguir frente aos constantes desafios , a pequenina deparou-se com a maior de todas as dificuldades do trajeto , subitamente a trilha findou-se e transformou-se num platô apoiado sobre uma alta e fina muralha de pedra plena de irregularidades e sulcos. No instante que contemplou a nova adversidade , sentiu os joelhos dobrarem-se e num gesto de exaustão intensa, caiu naquela cama de pedra.A medida que seus olhos iam se fechando , seus lábios se moviam pedindo desculpas ao amigo,pois naquele instante, todas as suas forças estavam exauridas. Desmaiada,pelo grau sobre humano de esforço o seu corpo desfaleceu ; contudo, ainda encontrou forças

para manter o pequeno amigo protegido entre seu peito . Naquela,mesma madrugada foi visitada por sonhos agitados , no qual vinham pequenos lampejos de imagens... via Hércules triste e sua avó chorando ; mergulhava num arco-íris gelatinoso e dormia no colo de sua amada mãe; tudo era muito confuso e turbulento. Quando a nova manhã chegou ,a jovem não foi despertada pelo calor , mas sim, pela fria lápide sobre a qual seu rostinho se apoiava . Lentamente começou a mover os dedinhos endurecidos pelo frio das alturas e sentiu aquele ar gelado mergulhando em seus pulmões... e ainda abraçada ao amigo quase morto , ergueu-se com a valentia e determinação das amazonas feridas . Ela sabia que não poderia demorar-se mais ali , então olhando fixamente para o cume , como estivesse lançando um arpão , pôs delicadamente o peludo amigo na mochila... e cravando as mãozinhas endurecidas e feridas nos sulcos , iniciou uma brava escalada rumo ao céu. Hanna demonstrava uma força imensa ; naqueles instantes que se passaram, suas mãos haviam se transformado em poderosas garras de águia , pois era impossível que depositado naquele frágil corpo, pudesse existir tamanho vigor e determinação . A jovem avançava aos poucos , ora subindo e ora escorregando,de repente sentiu os braços invadidos por um bafo gelado ; quando mirou os olhinhos no local da sensação , viu uma pequena corrente de sangue a correr-lhe das mãos e marcarem-lhe os membros superiores.

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Na verdade , talvez ninguém pudesse explicar como ela ainda avançava ... era como se o seu corpo houvesse adquirido um mágico poder de resistência ; uma força íntima poderosa e mística a sustentasse . E assim se fez a dura escalada,mediada e compassada pelas fortes batidas do músculo cardíaco e da respiração entre cortada. Finalmente , após horas que se eternizavam pela angústia, ela alcançou o cume , chato como uma folha e cinzento como as nuvens de dias tristes . Cuidadosamente ,ela retirou o amigo da mochila e o olhou com ternura.Durante longos minutos sentiu sua amizade e lealdade ; e curvando-se sobre a fria lâmina derramou grossas lágrimas sobre seu corpinho inerte. As lágrimas começaram a penetrar na suave e brilhante pelugem do amigo e ali , em meio ao silêncio e dor , ela beijou o centro da testa do amigo e o acariciou com as mãos manchadas de sangue coagulado. Hanna chorava cabisbaixa pela morte do amigo e sem se aperceber ;uma luz começa a se irradiar do corpinho de Pupú . A menina fica petrificada, admirando aquele súbito fato,então como num passe de mágica , o corpinho do amigo começa a virar uma esfera luminosa que aos poucos vai se contraindo.A jóia do centro de sua testa absorvia a luz de seu corpo imóvel; aquela era a terceira jóia. Delicadamente , a pequenina a segura entre o indicador e o polegar,até fugir-lhe dos dedos flutuando e ir em rumo a pedra do anel.E como

mergulhasse num oceano radiante , faz-se uma com o anel. A pequena inclinou o olhar para a pedra e quando olhou lá , bem lá no fundo;viu a imagem sorridente de seu grande amigo.Então, num último gesto de despedida , beijou profundamente a imagem refletida na jóia.Aquele era o tesouro que carregava no dedo.Hanna começa a ser preenchida por uma emoção plena que começa a dançar em sua mente;e ali , sozinha e bem pertinho do céu , começa a sentir o amor. Às vezes , pensando em mamãe e noutras no Papai do Céu e agradecendo comovida , olha para o horizonte imenso a sua frente. E subitamente , depois de vários dias de surdez e mudez , ouve o próprio choro e um ranger abafado logo atrás de suas costas. Rapidamente , a pequena se vira e vê uma entrada que se abre no chão e como uma planta brotando da terra, eis que surge à entrada do lendário Labirinto dos Bilhões de Espelhos. Lentamente, a valente inicia sua nova marcha e caminhando de cabisbaixa ,segue enxugando as dores da perda.Na sua frente , marchavam somente sua sombra e uma firme tocha de esperança e nas suas costas a Senhora Dor a olha admirada , alegre por saber que ainda existem pessoas tão fortes assim.

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Capítulo XI : No Labirinto dos Bilhões de Espelhos

Tuc...tuc...toc...tuc...toc....tuc....toc...tuc...vaga rosamente a Pequenina vai descendo por uma escadaria , mergulhando nas profundezas daquele novo e estranho lugar. Seu olhar estava atento e a todo instante ele corria firmemente pelo ar , talvez na tentativa de localizar em cada um dos minúsculos detalhes , a resposta para parte dos mistérios;mas , a única pista que conseguia ver, era o próprio rosto refletido por todos os lados. Hanna, se sentia um pouco triste e solitária ; era uma estranha ironia do destino,na qual estava cercada por centenas de pessoas iguais a si , com rostos cansados e de mãos machucadas. E assim , oscilando entre as imagens refletidas e os seus próprios pensamentos , foi descendo até chegar a entrada principal do local.Nada , absolutamente nada, naquele local lembrava as cinzas rochas da montanha.Tudo ali era tão luminoso . À medida que caminhava sobre o chão espelhado , observou um intrigante fato,o teto parecia ter uma profundidade infinita e nele havia imagens móveis de planetas e galáxias longínquas.Aos olhos da pequena, aquilo lembrava uma janela... talvez uma janela para o sem fim. A frente da pequena valente existia uma imensa muralha de espelhos , na qual, havia milhares de

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entradas que confundiam seu doce coraçãozinho . Durante alguns instantes a pequena meditou sob qual caminho seguir e de vez em quando , falava consigo mesma refletindo em voz alta.Dentre aquelas centenas e centenas de imagens sentia a sua própria pergunta sendo respondida através dos ecos criados no imenso espaço.

....ele pensou muito , mas nada descobriu... e no silêncio da dúvida , começou a ouvir seu próprio coraçãozinho... e bem naquele lugar , seu coração lhe dizia:....vá pelo meio...e assim , o jovenzinho fez....e assim deste modo , voltou a casa de sua mãezinha e de seus sete irmãos...

_ Qual o caminho que devo seguir?

.... às vezes , minha querida neta é uma força misteriosa que nos mostra o caminho...

....qual o caminho....inho....inho....que devo...devo...evo...evo...seguir...ir...irrrrrrrr... e depois de continuas repetições, tudo se fazia silencioso novamente. A incerteza rastejava-lhe na mente e com um rostinho choroso , ela admirava o anel.De repente , um tênue vapor rosado flui do interior da pedra... atentamente ela procura mergulhar o olhar nas profundezas do anel.Eis então , que vê uma de suas memórias do passado sendo rememorada.A pequena Hanna estava envolvida nos fortes braços de sua avó , tinha os olhinhos sonolentos e naquela tarde o calor era ameno e o dia claro , como um lago de cristal; subitamente os ecos do diálogo começaram a ser construídos em sua mente..... Vovó , então que caminho o menino escolheu?e.... depois de fugir das garras do mostro, o menino estava entre três caminhos;todos pareciam iguais.......então, diga! E qual deles ele escolheu... ....Tenha paciência , minha pequenina...

Aquelas doces memórias se transformaram num refrigério para sua alminha cansada , e um novo brilho começou a emanar de seus olhos caramelados .Naquele instante , sua luz interna começou a clarear a escuridão da dúvida... e então , caminhando a firmes passos , seguiu em direção a entrada que estava logo a sua frente. Os milhares de reflexos a olhavam de modo firme e corajoso.Quem a visse de longe , juraria que naquele segundo, a pequenina não estava só mas, era acompanhada por um gigantesco exército , cheio de bravura e coragem , que mesmo ferido marchava valentemente adiante. Tuc...tuc...tuc...tuc...uhnnn.....ruhnnn.....uhnnn ....ruhnnn.Somente se ouvia os passos e a respiração dela, pouco a pouco, as imagens foram crescendo , até o ponto de assumirem a altura da valente guerreira . Hanna, de repente parou e ficou olhando fixamente por alguns segundos os dois espelhos que se abriam na entrada do

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labirinto admirando seus próprios reflexos ;era como se as imagens mergulhassem na alma dela e ela mergulhasse nas imagens . E olhando fundo nos olhos da imagem disse: _ Vamos!! Tenho que ir em frente ... por Pupú....por mamãe... e por meu sonho...! Então , novamente os ecos responderam,como num coro de reflexos sonoros...meu sonho...sonho.sonhooo... Lentamente ela virou a cabeça e olhou para trás , como estivesse se despedindo e admirando o pequeno ponto de luz ,o portal de sua entrada ; tinha a sensação que Pupú ,ainda adormecia em seus braços e que viveria para todo sempre , protegido entre seus braços e coração. Trouxe novamente a cabeça à posição inicial e a movimentou numa leve oscilação entre a terra e o céu .E uma vez mais marchou,para dentro do misterioso encontro , buscando a nova jóia ou, talvez quem sabe , buscando um encontro de quem era. Hanna , avançava.Sempre acompanhada por diversas Hannas,que permaneciam sempre à mesma distância entre uma extremidade e outra do corredor.Este tinha cerca de oito metros e as paredes eram tão altas quanto os antigos carvalhos . Durante horas, ela caminhou pelo ambiente espelhado , observando que por alguma razão oculta , não enxergava o reflexo da bela e

imensa massa negra,aquela imagem viva do universo , parecia não ter imagem frente aos espelhos. Dentro daquele lugar a pequenina perdeu toda noção de tempo,não sabia ,se havia passado somente alguns minutos ou alguns dias ;mas de alguma forma sentia que o tempo ali corria de modo esquisito. Errou muitas vezes o caminho . Às vezes , caminhava até a exaustão... pensando que havia encontrado um novo caminho ; eis então , que percebia que não tinha saído do lugar.Via a mesma parede espelhada que bloqueava o caminho ou a mesma bifurcação. _ Aiaii! Acho, que não estou avançando um passo...preciso encontrar uma idéia e bem rápido! Eu só tenho ,três frutas! E novamente , os ecos e as imagens imitaram suas palavras,parecendo zombar dela. Enquanto pensava num jeito de encontrar a saída , sentou-se apoiada numa das paredes do largo corredor e começou a mastigar lentamente o antepenúltimo dos frutos.Então , iniciou um diálogo em voz alta consigo mesma e com os ecos: _ Hummm.... subir as paredes não dá, elas são muito lisas e altas... _ Hummm.... e que tal quebrar os espelhos que fecham o caminho?! É mesmo... esse pode dar certo... Num salto a jovenzinha se ergueu e chutou o mais forte que pode o espelho e não houve nem um arranhão.

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_ Isso não deu... vamos pensar de novo...hummmm...E se eu marcasse o caminho?! Mas, como ? Talvez , eu possa riscar o espelho ou marcar ele de outro modo... _ Boa!! É isso mesmo , vamos ver ... Aproximando-se da lateral espelhada , esfregou a pedra do anel, mas nenhuma das superfícies se abalou. De repente , teve uma nova idéia.E se eu deixasse uma gotinha de sangue em cada espaço diferente! Hanna, ao mesmo tempo em que estava eufórica , temia pelo ferimento que haveria de ser feito mas, aquela marca de sangue era sua única tinta no momento. Com as mãos ainda um pouco feridas; abriu um dos bolsos da mochila, procurando uma superfície perfurante e para sua decepção , nada encontrou. _Ei , espere um pouco! O que é isso?! Enquanto suas mãos machucadas e sensíveis , corriam no fundo da mochila,ela sentiu uma superfície lisa e fria,cuja forma lhe lembrava um círculo. Depois de algum esforço , prendeu aquele misterioso objeto entre os dedos .Era um pequenino espelho discreto e que sempre estivera junto dela sem que ela houvesse se apercebido.O diminuto espelho um pouco maior que os olhinhos de Hanna. A pequena o ergueu e o observou minuciosamente.Por ele, a pequenina somente enxergava o reflexo dos próprios olhos amendoados. Acariciou ele

entre os dedos e percebeu o quanto sua lateral era delgada , parecia quase laminar. Pensou durante alguns instantes,um daqueles pensamentos sem palavras.Ela sentiu um pequeno e súbito pavor,e então segurou aquele objeto circular com um movimento de pinça.Depois sentiu o espelhinho bem seguro,respirou profundamente e fez um breve trajeto num dos dedos..Aiiii!Disse Hanna franzindo a testa e fechando os olhos.Após esta cena que se construía,uma pequenina gota de sangue escorreu para o exterior do seu corpo, deixando uma marca avermelhada na borda do espelhinho. Por muitas e muitas horas aquela pequena figurinha cansada, vagou pelo interior do imenso labirinto.Havia deixado muitas marcas para guiá-la no caminho correto, mas tudo parecia em vão. Seus dedinhos latejavam nas pontas , pois a cada momento que o sangue cristalizava , nossa heroína precisava fazer um novo ferimento. Vagou e vagou , até chegar a exaustão de suas forças.Pouco a pouco , seus joelhos foram se curvando , juntamente com sua linda cabecinha até tocarem no chão espelhado. Hanna adormeceu profundamente tinha a fronte apoiada sobre a fria e brilhante superfície espelhada. O seu sono, naqueles instantes que transcorreram , ocorreu de um modo pesado e árido,talvez o mais agreste de toda a sua jornada.Pois foi neste ponto de sua busca que sentiu que não conseguiria avançar mais sequer um passo.

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Em meio aquele sono, surgiam para Hanna imagens das figuras mais caras e amadas de toda sua vida. _Vovó....mamãe.... Hércules........Pupú..............! De repente , sentiu o coração apertado e por um breve segundo sentiu o ar lhe falhar nos pulmões. Mais do que nunca,ela se sentiu muito sozinha , como nunca havia se sentido em todo sua existência ; sob o peito percebia uma sensação gelada e escura.A desesperança começava a vagar por aquele frágil e franzino corpo , que ia aos pouquinhos sendo envolvidos pelo medo e a solidão; sentia que não conseguiria avançar mais nenhum passo. Subitamente... começou a mergulhar nas memórias do passado , vendo os tempos alegres de sua pequenez, sentindo os doces abraços de sua mãezinha e seu sorriso.Eram os tempos em que as duas brincavam na primavera, tudo estava tão florido e lindo... Encolhendo-se como um ursinho , sentia a emoção mais intensa e então de repente... algumas lágrimas escorreram por suas faces arranhadas e depositaram-se sobre a lâmina brilhante.Hanna dormiu,como não dormia há muito tempo ; dormindo um sono terno,que lhe trazia suas lembranças mais caras.

Durante o seu profundo adormecer e o rolar de algumas lágrimas,algo estranho começou a acontecer.O anel começou a emitir um brilho esmeralda. Junto daquele corpinho foi nascendo uma minúscula poçinha salgada que refletia a luz do anel e as imagens do teto celestial. _ Mamãe?! É você? Naquele dia,ela sentia o sonho de modo muito intenso e real... _ Minha mãezinha....minha doce mãezinha.... De repente ,Hanna despertou ,tendo no coração uma sensação leve e no rostinho podia sentir ainda o calor de um doce beijo, um beijo entregue em sonho; um beijo de sua mãe. Lentamente ela foi se levantando e sem querer, encostou o anel que ainda brilhava naquele laguinho salgado...tlinnnnnnnnn....a luz que antes vivia no anel começou a fluir subitamente para a pequena poça ,que começou a irradiar o brilho esmeralda. No instante em que a pequenina olhou para o chão começou a enxergar uma figura angelical...era o rosto de sua mãezinha. _ Mamãe!Mamãe......! E sua voz novamente ressoou pelo imenso labirinto... As lágrimas desciam em fluxo contínuo e pouco a pouco , iam tocando a superfície espelhada tal como uma fina garoa. Hanna tinha o olhar fixo no chão , mas mal se dava conta que cada lágrima brilhava em tom

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esmeralda; e as gotas antes dispersas,começaram a ordenar-se num círculo aquoso ao redor da pequena valente.A superfície nuclear assumia aos poucos uma consistência metálica pastosa que sugava começou a sugar seu já frágil corpo. À medida que sentia o corpo mais próximo do chão espelhado , lutava com a bravura dos grandes ursos, contudo, suas forças humanas foram insuficientes para deter o fato.Desse modo , a pequena foi devorada pela pasta metálica , até sumir por completo. Os sentidos tentavam desesperadamente captar evidências do que estava acontecendo , mas o único elemento que sua memória reteve , foi a desaparecer do brilho nítido...e o seu transformar num brilho aquoso e disforme. Hanna sentia-se imersa nesta pasta metálica que a arrastava num movimento espiral repleto de figuras de si mesma. Por um breve segundo, talvez disfarçado como horas, a Pequena teve um lapso de memória e tudo se apagou...até ocorrer o seu súbito despertar num local similar ao de origem da poça.Tudo parecia muito similar ao antigo lugar , até a última marca de sangue estava lá;mas , Hanna sentia algo estranho naquele novo lugar.Então , aproximando-se da parede espelhada focou o olhar,no entanto não conseguiu observar mais nenhum reflexo... _ Cadê?! Aonde foi minha imagem?! Assim, indaga a pequenina, perplexa.

E então correndo o olhar a sua volta avista a cena mais assustadora de sua jornada ; mais medonho até que o Vale da Escuridão Eterna,ela vê milhares de sósias ou melhor pessoas idênticas a si mesma ,com as mesmas feridas e objetos , formando um novo e gigantesco labirinto de carne humana. Aquelas estranhas figuras idênticas a Hanna vagavam num ritmo próprio ,serena e silenciosamente.A pequena começou a sentir calafrios no dorso , era uma cena muito bizarra.E como tentativa para dispersar seus fortes temores , disse em alto e claro tom : _ Quem é que são vocês?! E novamente o eco vibrou...mas , bem mais assustador que antes, pois agora ela via milhares de figuras gêmeas pararem e focarem o olhar nela ,além de moverem os lábios e o corpo de modo sincronizado com sua doce voz.A pequena sentiu uma corrente gélida correndo pelo interior de seu corpo; o medo a farejava...buscando devorar os últimos vestígios de coragem. De repente ,todas aquelas imagens ficaram estáticas ,como se fossem estátuas esculpidas em carne.E o que antes era um labirinto com espelhos , agora se fazia num labirinto carne,construído com sósias de si mesma. Diante daquela situação medonha,Hanna somente possuía uma alternativa;tinha que marchar em frente , devia prosseguir na sua busca mágica. Tucc....tuccc.tucc...tuccc...tuc....tucc....naquele ambiente silencioso ecoavam as tímidas passadas da

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pequenina.Tudo ali era deserto , sem vida,era como caminhar no nada , sem noção de tempo e sem noção de espaço.Era somente silêncio, um silêncio mórbido e angustiante. Aos poucos ,Hanna foi marchando em direção as primeiras sósias de si mesma... o silêncio dominava a sua mente , e o seu coração batia acelerado. Lentamente...um leve tremor de mãos começou a dominá-la e à medida que chegava mais próxima da primeira sósia ia sentindo as extremidades frias.O calor fugia desesperadamente de seu corpo , naqueles instantes que se passavam o medo tornava-se um animal selvagem que farejava a sua própria vida. Após alguns passos , ali estava... encarando a primeira figura gêmea.Tudo na sósia era tão perfeitamente idêntico a ela: os cabelos amendoados,as roupas e as diversas feridas da jornada. A pequena correu os olhos diante daquela estátua de carne, buscando centralizar o olhar a procura de detalhes diferenciadores,mas nada encontrou.De repente,sentiu um medo extremo.No lugar de seu olhar sincero e amendoado , viu um olhar negro na imagem;o espaço dos olhos estava preenchido por uma massa viscosa e escura, semelhante a petróleo e que refletia sua imagem por completo. Vagarosamente foi vagando por entre aquele estranho labirinto de carne, sentindo que os olhares a

seguiam e algumas vezes ,tinha a impressão de ouvir a respiração daquelas figuras idênticas. Aqueles olhares negros incomodavam profundamente Hanna.E movida por uma força misteriosa sentiu uma vontade quase irresistível de tocar uma daquelas figuras.Repentinamente , parou.Ficou estática diante de uma delas e a encarou com um olhar assustado. Lentamente foi erguendo o braço direito e como numa imagem de espelho ,aquela figura real lhe acompanhou os movimentos. As frias mãos de Hanna tocaram a face da sósia e simultaneamente , a sósia tocou sua face com a mão esquerda,a pequena sentiu o frio das próprias mãozinhas feridas sob sua face; depois de baixar os braços ,continuou sua estranha jornada. Caminhou durante muito e muito tempo ali dentro.Aquelas “estátuas” pareciam ser infindas e por mais que avançasse , tudo permanecia muito parecido; valentemente ela seguiu , até a exaustão das já escassas forças de seu espírito. Seu espírito estava cansado,abatido e exausto.Subitamente,seu corpo se curvou em direção ao chão espelhado e desfaleceu como um ramo seco,batendo os lábios no solo e criando um leve ferimento do qual escorreu um grosso filete de sangue. Rastejando com muito esforço ela foi se agarrando as pernas de uma daquelas figuras e ao mesmo tempo, que agarrava aquelas pernas...ia sentindo suas perninhas também sendo

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seguras por um firme aperto.Ao sentir aquelas, firmes e frias, mãos tocando-a , ela emitiu um grito agudo e desesperador que ecoou em longos ciclos.

_ Mamãe! Mamãeeeeeeeeeee......! Gritava numa voz chorosa , que era repetida em coro pelas figuras de carne do labirinto.

Quando ergueu os olhos viu aqueles negros olhares a observando e abaixando as cabeças em sua direção.Juntamente com este movimento lento e sincronizado , viu as bocas se mexendo e emitindo um grito igual ao seu , que reverberou durante alguns instantes.E com lágrimas de pavor estampadas no rosto ergueu os braços num pedido de socorro desesperado,o qual foi respondido prontamente por todas as figuras do corredor de carne.Enquanto estendia os braços para cima , suas sósias iam estendendo os braços para baixo.

Depois de avançar diversos metros viu uma entrada diferente,que terminava formando um gigantesco círculo humano, com centenas de imagens semelhantes a ela...e marchando com as últimas energias adentrou nesta nova estrutura circular, até alcançar o seu centro. Cabisbaixa...ofegava Uruuuu...URUUUU....Uruuuu....Uruuu..de modo irregular.Permaneceu estática no cerne do círculo.

E num esforço máximo para se reerguer, esticou os braços feridos e segurou firmemente nas mãos da figura de olhos negros; tudo ali era uma estranha resposta espelhada. Então, forçando os braços para trás ,sentiu-se impulsionada para frente...e com extremo esforço, se pôs de pé,com os joelhos levemente dobrados pelo abatimento que a corroia. Desesperadamente começou a correr por entre aquele bizarro labirinto , mancando e gotejando pequenos filetes rubros dos lábios. _ Mamãe ....! Socorro... me, ajude! Me , ajude por favor!

Seu espírito estava angustiado ,eis então que começa a ouvir sons de passos se movendo e ao erguer a fronte , observa uma imensa marcha vinda de todos os lados. As figuras começaram a andar coordenadamente , e iam se aglomerando e fechando cada fresta do círculo; Hanna estava sendo envolvida e cercada. Quando a pequena correu o olhar no ar ,tinha a impressão de haver bilhões de sósias de olhos negros, aglomeradas num círculo,olhos que pareciam mergulhar nas profundezas dos segredos de seu ser. Um silêncio ensurdecedor começou a se instaurar no ar,um silêncio incômodo começou a flutuar pelo ar.Somente os sons da respiração turbulenta de Hanna eram ouvidos. Após velozes segundos,a pequena começou a ouvir um leve sussurro em coro que ia

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aumentando progressivamente..quem é você?! quem é você?!quem é você?!Quem é você?!Quem é você?! _ Eu sou Hanna....! Falou a pequenina com uma voz tremulante. Fez se um breve silêncio , que novamente foi quebrado pelo imenso coro... Ela diz que é Hanna... ela diz que é Hanna.... ela diz que é Hanna....Hannaanananana..... _ Diga o que fazes aqui...aqui...aquiiii.....! Falou serenamente o conjunto de sósias em uníssono. Hanna sentia que as vozes iam ficando mais intimidadoras e firmes,mas não conseguia enxergar além das trevas que existiam nos olhos daquelas figuras enigmáticas. A pequena sentiu por mais um instante o medo devorando-lhe as esperanças.Contudo lembrou-se da valentia de Púpu e de sua mãezinha, que haviam seguido em frente sem desistir jamais ,então ,seus olhos voltaram a expressar aquela força secreta e o que antes era uma voz trêmula , se transformou no rugir dos mares sobre as rochas... _ Fui guiada até este local sagrado... vim à procura da Jóia Sagrada! Será que vocês poderiam me ajudar?! De repente , como estivessem respondendo em silêncio...caminharam todas juntas para mais próximo de

Hanna, tornando o círculo bem menor . Todas as imagens olhavam mudas para pequena , tentando envolve-la com aquele escuro olhar e mais uma vez perguntaram : _ Tem certeza que deseja encontrar a jóia?! _ Nunca tive mais certeza... estou disposta a encontra-la! Diga-me o que devo fazer ,eu juro que farei o máximo que puder! _ Você deverá encontrar sua verdadeira imagem...imagem....imagem...gemgem... Após estas breves palavras , o círculo sofreu uma imensa expansão...ficando gigantesco. Todos aqueles milhares de olhares, ainda se posicionavam na direção da Pequena, de modo tão sólido e coeso como as muralhas. Ela sentiu-se confusa.Como faria para encontrar sua verdadeira imagem?! Enquanto,sua fronte estava apoiada sobre o peito , refletia profundamente buscando o calor da verdade.A todo custo buscava alento numa resposta para acalantar sua alma. O ambiente estava perfeitamente silencioso , parecia que o tempo de todos os processos havia cessado.Foi então,que repentinamente ergueu a cabeça e focou seu olhar logo à frente; neste momento, ela se deu conta que cada “pessoa-sósia” repetia perfeita e simultaneamente seus movimentos ; era um espelho sem

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reflexo , ou melhor , seu reflexo vivia nos olhos de suas “pessoas cópias” . Timidamente , a pequena avançou um passo... e conjuntamente com ela o gigantesco círculo também.Avançou um passo.Depois deste movimento novamente a roda havia encolhido e quanto mais passos ela avançasse,menor o círculo seria.Parecia que o recuo ou avanço naquele processo geraria retração ou expansão do círculo. Hanna sentia seu coração ser invadido por uma incerteza tamanha,crescente...que teve seu ápice numa leve sensação de pânico.E a agora?! Eu quero sair!! Falava a pequenina com os lábios trêmulos. A pequenina ia sentindo seu corpo a cada instante mais estranho,era como se o tremor dos lábios agora se espalhasse por todo o seu corpinho ferido... sentia uma gélida impressão no estômago , o coração batia de modo forte e firme,seu tórax vibrava. E num gesto irrefletido , a Hanna lançou-se no espaço e correu velozmente,o mais rápido que pôde , tentando talvez, romper aquela muralha de carne. A cada uma de suas rápidas passadas na direção da borda,percebia... uma monstruosa “manada de búfalos” marchando ferozmente em sua própria direção...naquele instante ela assistia ao próprio olhar desesperado e via a própria velocidade espelhada nas sósias . Os instantes foram passando...e junto com eles... a circunferência foi diminuindo ,e como nas sensações de

afixia... o ar foi tornando-se mais e mais escasso. Quando a borda foi avistada agigantada,Hanna aumentou a velocidade de suas pernas...até impactar com a imensa muralha circular...construída de Hannas. Neste milésimo de segundo que se passou entre o impacto e uma inspiração ofegante , uma onda de luz foi criada...uma luz prateada de brilho metálico começou a oscilar ...seguindo paralela ao chão espelhado. De repente,todas as Hannas caíram ao chão e por alguns minutos ficaram estáticas , tudo estava muito confuso.Era uma confusão na igualdade. Lentamente a garota foi se erguendo,seus cabelos cobriam levemente seu rostinho marcado e de seus olhinhos exalava uma sinceridade de intenções. Ao erguer a fronte e lançando aqueles fios amendoados e desfiados para trás...viu as suas imagens bem próximas de si. Todas estavam à apenas um palmo de si , e o que era medo no início foi sendo metamorfoseado em outras impressões.Diante daquela experiência tão próxima e intensa , Hanna sentia que seu verdadeiro EU estava ali , focando seus olhos nela, a admirando e talvez a sua busca. Pouco a pouco , as sensações de certeza pousaram no seu coraçãozinho e uma alquimia interna começou a agir em seu interior.O medo daquelas imagens idênticas a si , transformou-se em compaixão ; seus olhinhos caramelo pendiam levemente para baixo,existia muita misericórdia neles.

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_Vocês doloridas...não é?!

também

estão

feridas...estão

A luz nos olhinhos da pequenina mudou e a compaixão foi aumento dentro de si,aquelas próprias imagens também estavam sofrendo pela dor e cansaço e de algum modo pareciam que estiveram com Hanna em todas as dificuldades de sua jornada.Era um exército invisível que havia marchado ao seu lado. Foi então, que vagarosamente a pequenina ergueu os braçinhos e num gesto delicado e profundo , iniciou o cuidado das feridas das imagens que sofriam a sua frente e à medida que tentava aliviar a dor daquelas figuras de olhos negros , percebeu que estas também tratavam de suas feridas. Aos pouquinhos seus olhinhos foram ficando marejados por uma tênue umidade e também aos pouquinhos,foi sentindo a dor daquelas figuras iguais a si. Suas mãos flutuavam no ar e enquanto procurava curar , também era curada. A emoção da cena ia crescendo gradativamente e algumas lagriminhas escorreriam pelas lindas e macias bochechas róseas.De repente,todas as imagens estavam sentindo as mesmas sensações dela.Naquele instante era possível observar que de todas as faces corriam lágrimas emocionadas.Aos poucos , o olhar negro das imagens foi se transformando e negrume do olhar começou a ser diluído do centro para as bordas.

Hanninha observava de modo atento tudo a sua volta... com lágrimas nos doces olhinhos.Percebeu uma luz dourada surgindo no centro de cada um dos escuros olhares e então, aquele brilho cósmico ,expandiu como as ondulações produzidas por uma pedra lançada em plácidas águas. E com uma voz carregada de emoção, disse: _ Vocês estão bem?! Por favor, respond....! E antes de terminar a última palavra,sentiu uma gigantesca onda radiante vindo do horizonte...era a mesma onda de luz prateada , que retornava parecendo responder a pergunta da pequenina. Ao focar os olhos na grande crista de movimento serpenteante...sentiu dois imensos olhos faiscantes a mergulharem nas profundezas de seu ser . Então,ainda com a alma impregnada pela magia indescritível do mistério...apercebe-se que as imagens a sua volta tinham o mesmo brilho de seus olhos e de maneira tímida , pergunta: _ Por que seus olhos são idênticos aos meus? E num coro magnífico,as centenas de milhares de figuras respondem... _ Nós e você...você e nós... agora somos um conjunto em muitas unidades e diversas unidades em variados conjuntos...juntos...juntos....ntos....ntos...os...os....s...s...... .

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Hanna, mal compreendia aquelas estranhas palavras , mas sentia que algum imenso mistério lhe haviam revelado. Paulatinamente, o chão espelhado foi admitindo uma consistência pastosa...de brilho idêntico à onda de luz prateada... e como no interior de uma onda oceânica Hanna foi sendo envolvida. O momento tornava-se a cada instante mais mágico...a pequenina se encontrava agora envolta num túnel de brilho prateado intenso; nas extremidades via um brilho dourado...diferente de tudo o que já havia visto em sua vida.As sósias da pequenina estavam agrupadas numa gigantesca fila...que tinha o seu apogeu no brilho dourado. Hanna começou a sentir uma estranha sensação que ultrapassava tudo do contexto humano...sentia a mente leve, o pensamento claro e as emoções intensas...e ali...parada no centro do túnel , sentiu o coração arder em compaixão e amor, enquanto as lágrimas corriam descontroladas de seus olhinhos dourados.De súbito, os brilhos das extremidades foram se aproximando,e na velocidade da luz... as imagens correram na direção da pequenina...fundindo-se para sempre com ela; e os dois extremos dourados mergulharam em cada metade de seu frágil corpo. Hanninha exalava um brilho dourado...intenso....seu corpo irradiava luz...de modo tão intenso como as estrelas jovens, e assim envolta pelo fantástico ,viu a sua frente o túnel se comprimindo num

dos extremos e virando uma linda jóia de brilho lunar que seguiu flutuando na sua direção.E entre lágrimas e sorrisos profundos , disse.... _Oba,Oba....Heiheihei!!!! Hahhhhahhh!!! E numa alegria somente explicada por interjeições, sorriu com os olhos e palavras carregadas de sentimento.E bem ali,com as mãos levemente estendidas a jóia pousou sobre a pele sedosa de sua mão esquerda e uma atração súbita entre o anel e a pedra começa a ser criada novamente.Sua mão direita moveu-se lentamente em direção a jóia, e eis que uma nova fusão ocorreu seguido por um brilho tão intenso a ponto de cegar foi criado no ambiente e as últimas percepções que Hanna teve , foi a de uma bolha pastosa a envolvendo.Depois disso tudo se apagou de sua memória;de algum modo misterioso como era tudo naquele lugar. As imagens haviam ensinado a pequena uma lição rara,um sentido magno...tinham ensinado a compaixão pelo próprio reflexo...Hanna ainda não sabia,mas tinha feito as pazes consigo...amando e compreendendo seus próprios defeitos,entendo secretamente que não devia lutar contra os defeitos...mas,ao invés disto acolhê-los e embalá-los na bondade.Os defeitos precisam de bondade,são sentimentos que foram criados na solidão...ninguém nunca havia ensinado para eles uma outra maneira de

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existir, eles somente haviam existido no abandono e no confronto.

De algum modo oculto , o brilho havia levado Hanna até o Abismo dos Mil anos.A pequenina tinha o rostinho colado junto ao chão e seu corpinho abatido fazia movimentos sutis,oscilando delicadamente para cima e novamente para baixo , aquele era o leve arfar de sua própria respiração. Tudo ali era extremamente silencioso,quase tão silencioso quanto a Montanha Silenciosa.Parecia que o único habitante daquele seco lugar , era o vento que brincava arrastando e criando pequenos redemoinhos com os minúsculos grãos esverdeados existentes em todos os pontos daquela paragem. Algumas vezes , uma forte torrente de ar deslocava-se em direção aos longos cabelos amendoados da pequenina... erguendo fio a fio, como dedos que passeiam por entre os fios de cabelo.

Capítulo XII : Transpondo o Abismo dos Mil Anos

Hanna permaneceu adormecida durante muito tempo , talvez numa tentativa de repor todas as suas energias mobilizadas para atingir o seu ponto atual,este ponto que demarcava a tênue linha entre a vida e a morte.De alguma maneira e mesmo adormecida , ela sentia que necessitaria do máximo poder de seu espírito para cumprir esta última etapa. Durante horas permaneceu adormecida e durante as mesmas horas , o vento velou pelo seu sono , acariciando seu rostinho rosado de modo singelo,criando uma coberta de areia esverdeada que a ia recobrindo em algumas partes de seu

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corpo.Por alguma razão misteriosa , os três sóis nunca se punham na região do Abismo dos Mil anos.Eram três guardiões que iluminavam o caminho daqueles que por ali seguiam. De repente, uma voz suave e profunda...mergulhou na mente da pequenina... _Desperte pequena....pequena....pequen...você vovó....

precisa

minha ajudar

_Creia...creia...creiaaaa...... E à medida que a voz ia ressoando na mente de Hanna , ela sentia uma estranha sensação percebida por seus sentidos ainda entorpecidos.Parecia que o vento lhe sussurrava aos ouvidos. Aos poucos , sua lucidez foi retornando e lentamente foi abrindo os olhinhos dourados e numa posição ainda rente ao solo ,observou um lindo brilho esverdeado que cintilava como estrelas distantes. Então , num esforço admirável e valente , enfrentou a dor e o cansaço...e após, breves instantes estava de pé , com aquele firme olhar brilhando nos olhos e com os cabelos desfiados esvoaçando ao vento. Serenamente correu o olhar por aquele fabuloso local e por mais longe que mirasse,a única coisa que avistava eram dois gigantescos platôs esverdeados, feitos por uma areia esmeralda, separados unicamente por um abismo tão largo , que lembrava um oceano preenchido somente por ar. A passos lentos a pequenina

seguiu até a extremidade do precipício e a medida que avançava , sentia o coração pulsando mais forte...puc...toc...puc...toc...puc...toc... Quanto mais perto foi chegando da orla que separava as duas metades, começou a sentir uma leve tontura, que ia se intensificando mais e mais... _ Nossa!!! Parece que as coisas estão rodando devagarzinho.... A custa de muito esforço , ela se manteve em pé junto à borda do penhasco e lentamente foi abaixando os olhos , juntamente com o pescoço. Hanna nunca havia visto um lugar tão vazio e profundo em toda sua existência.O olhar da pequenina se perdia naquele vazio , parecia estar olhando para o próprio infinito. Os paredões da encosta eram de uma coloração luminosa e pareciam seguir até o infinito. _ Ai...ai...que alto!! Parecia impossível chegar à outra margem,era como tocar as estrelas dando um salto; mas, Hanna acreditava no poder de um sonho...um sonho que às vezes agia de modo misterioso , transformando o impossível em mágico ;e o mágico em real. Após alguns instantes de reflexão,a pequenina decidiu caminhar a beira do abismo ,na esperança de encontrar uma ponte ou algo que a pudesse levar até a outra margem.

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A passos serenos foi marcando as areias esmeralda e algumas vezes o leve vento que soprava na região apagava algumas de suas pegadas .Hanna seguia sozinha em sua nova jornada , somente as memórias a seguiam como companheiras naquele caminho claro e vazio , num misto de medo e esperança. A pequenina caminhou e caminhou...até formarem em seus pezinhos bolhas ardentes imensas..com as quais avançou até a exaustão. _ Ai... mãezinha...dai me coragem para avançar... _ Vamos Hanna, você deve continuar....lembre-se precisa achar a última jóia...! Fala a pequenina determinada para si mesma. Suas palavras a impulsionavam rumo ao prosseguimento de sua busca , mas , por alguma razão suas perninhas não conseguiam marchar mais nenhum passo.Elas não conseguiam responder as vontades da pequenina.Então ,a pequena sente suas forças viajando,indo... afastando-se de seu corpo. As perninhas vão se arqueando e uma moleza vaga domina todos os seus músculos.Lentamente curva se para frente e caiu ao lado do Abismo.Os seus brilhantes olhinhos caramelados, tatearam junto à outra margem...

E ali caída observava e sentia o que havia além do Abismo.Começa a sentir as emoções como o início de uma gisgantesca tempestade.... _ Mãezinha....eu jurei que ia conseguir...mas, minhas perninhas não obedec...E nas últimas palavras daquela frase , uma torrente de lágrimas misturou-se a soluços... _Descul.....pe.....minha.....mã....e....zinha....Sniff....S nif.... As lágrimas escorriam quentes e grossas, pelo canto de seus olhos ,e aos poucos....em sua memória ,iam surgindo imagens de todos os tempos de sua vida,imagens recheadas de bondade e emoção.Era como se uma voz falasse ao coração da pequenina. _Avozinha....Hércules.....Púpu.....a Jornada.....a queda......abusca.....mãezinha.....saudade......coragem.......l ágrimas......compaixão.... Seus olhinhos usam do pouco de força que lhe restavam para permanecerem abertos e o vento ,o estranho morador daquele local, acariciava aqueles fios luminosos e amendoados... As emoções dentro de si cresciam e cresciam,ficando a cada instante mais intensas que,nem a própria pequenina conseguia mais definir.Desse modo

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teve início o fluxo mais intenso de sentimentos vivenciados por ela,algo tão grandioso e indescritível,algo que não habita o mundo das formas e que somente pode ser entendido no mundo das essências.Hanna via-se nos braços de sua doce mãe que a embalava naqueles grandes olhos azuis. _Minha mãezinha....Falava soluçando. Um sentimento misto de esperança,saudade e medo ;foi o primeiro a visitar seu coração.Ela sabia que estava bem próximo de rever sua mãe, mas seu corpo se rebelava contra suas ordens.Hanna sentia que talvez morreria ali,a um passo de rever a figura mais amada de sua existência... E em meio a esta delicada cena , parte da areia úmida voou nas asas do vento e caiu no interior daquele Abismo Sem Fim.A pequenina,ainda chorava e agora ia sentindo os olhinhos pesados,cada vez mais e mais pesados. E de seus lábios sussurravam talvez o que seriam suas últimas palavras. _Desculpe.....desculp.....mãezinha por ter falhado.....E novamente as lembranças daquela figura especial lhe vinham a mente. E com as lágrimas mais intensas e a respiração agitada,tentou num esforço magno beijar a pedra do anel,

talvez fosse o único jeito de despedir-se de todos o que amava,na verdade nem mesmo ela sabia , o porquê daquela ação.Então , pouco a pouco, o brilho róseo de seus lábios foi se fundindo a luminosidade aquosa do anel. _Desculpem........amigos....... me...perdão.....

perdoem-

E após estas palavras os olhinhos que antes tinham luz , foram se fechando mais e mais,até fecharem-se por completo e num dos olhos , somente persistia o brilho de duas últimas lágrimas solitárias.Neste instante,duas visões a invadem,dois futuros se apresentam,duas estórias se constroem paralelas,uma no alto do Abismo e a outro nas profundezas do mesmo.Contudo ambos levariam a pequenina ao mesmo ponto.Era como um círculo que se formava a partir de uma origem comum e terminava no mesmo elemento pontual do início. Naquele instante,Hanna vivia dois futuros simultaneamente,era como se duas partes de si mesma construíssem o seu sonho,talvez fosse uma de suas imagens colhidas no Labirinto que agiam agora dentro de si.

Ruptura temporal: Nas profundezas do Abismo

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Hanna não se apercebeu,mas,no mesmo instante que havia tocado os lábios ao anel,a jóia tornou-se progressivamente mais fluida transfigurando-se num líquido radiante indescritível,que começou a serpentear junto ao seu corpo estático.Aos poucos,o líquido foi entrando debaixo da pequenina,sendo carregada para a borda do precipício. Ela estava sendo levada,guiada pelas jóias fluidas do anel.Paulatinamente,um brilho começou a crescer logo abaixo de si e a cada instante,ela se encontrava mais próxima das paredes de rocha radiante.Eis então,que como estivesse presa ao líquido,este prende-se ao paredão;e neste breve intervalo,ambas as luzes se fundem,a luz do líquido e a luz das paredes assume uma única forma. Uma vibração intensa começa a ser emanada das profundezas do Abismo,semelhante a um turbilhão de chamas douradas.A luz vai se intensificando, até culminar num grande pulso que emerge das profundezas e segue oscilando pelo ar,como um tremor invisível que levanta os finos grãos verdes. De repente,os diversos grãos esverdeados começam a flutuar por toda aquela paisagem.A luz dos três sóis ao tocá-los irradiava uma luz muito tênue de coloração multicor.

Então,uma voz retumba das profundezas,tornando-se a cada instante mais sonora e poderosa. _transforma-te! _Transforma-te!Transforma-te! _Transforma-te! Os grãos esverdeados começam a ressoar juntamente com aquele misterioso som,bem como o corpo de Hanna,que estava sustentado pela luz.Neste instante,a Voz,Hanna e os grãos,vibram em uníssono. Algo estranho começa a acontecer neste momento.O corpo humano de Hanna começa a transformar-se num lindo golfinho e o terreno sólido e verde que apoiava,transfigura-se pouco a pouco numa substância leitosa esmeralda.Depois,o leitoso tornase,cada vez mais fluido e o corpo da pequena começa a ser lavado pela água de brilho metálico fluido e esverdeado. Um oceano começou estão a se formar.O deserto não mais existia sob a forma sólida,mas era todo fluido.As águas verdes começam a bramir e de ambos os lados do abismo duas gigantes cataratas se formam,nas quais o brilho das paredes torna-se um,com o brilho das águas.

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Hanna,agora com sua nova forma foi sendo ,pouco a pouco,arrastada pela força das águas.Ela flutuava ternamente na superfície sem jamais afundar,apenas seguindo o fluxo das águas.Então,quando toca nas paredes do Abismo,seu corpo começa a ser acelerado,cada vez mais e mais,até quase atingir a velocidade do infinito.E a medida que vai avançando no espaço,filetes radiantes tocam sua nova forma e ao invés de percorrer o Abismo dos Mil Anos,em mil anos,alcança o seu fundo em parcos minutos.

Progressivamente os tons violáceos foram se fundindo e assumindo a forma de uma nova jóia que seguiu em direção a Hanna.

Repentinamente,quando estava quase tocando a luz do fundo do abismo,Hanna abre os olhos lentamente,como tivesse acordado de um longo sonho,vendo um imensa galáxia,na qual mergulha e apenas consegue avistar feixes luminosos.

Naquele instante Hanna vivia as sensações de um mundo de paradoxos,onde era sem ser;existia não existia e sabia não sabendo.Ela e a fonte de todos os mistérios eram uma só forma,um só sentimento e uma só razão.

Hanna,ainda não sabia mas estava indo na direção de todas as coisas,a origem de tudo,a fonte de todas as jóias.De repente,ela se vê nesta nova forma,nadando graciosamente num oceano plácido de águas esverdeadas.Por alguns instantes,a pequena permanece flutuando e pensando nas pessoas que mais ama.

E ainda permeada por tais sensações intensas e indescritíveis,sentia-se novamente envolvida pelo calor da mãe, a qual visualizava meiga e doce fazendo um gesto de despedida,mais uma nova despedida e lhe entragando estranhos grãos esverdeados.

Sentia um calor terno pairando nas águas.Aos pouquinhos a intensidade de seu amor foi crescendo.As águas a sua volta começaram a vibrar e lindas tonalidades violetas começam a surgir.Suas profundezas mais caras,vibravam de modo intenso naquele momento.

A pequenina ficou imóvel,apenas sentindo aquela estranha situação.Pouco a pouco,a jóia foi se aproximando mais e mais,até parar em sua frente.O coração de sua nova forma batia intensamente,naquele instante a pequena era vibração pura e intensa,ressoando as oscilações da misteriosa fonte de todos os mistérios.

Após mais esta nova despedida,Hanna foi se afastando , seguindo em direção ao portal.Sua mãe a acompanhava com lágrimas cheias de amor e do mesmo modo, a pequena avançava chorando...lembrando dos beijos e do presente.Pouco a pouco, o olhar do portal a envolvia,num brilho dourado e as últimas imagens que

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conseguiu construir foi um turbilhão radiante,que a levaria de volta ao mundo onde sua avó estava...

Ruptura temporal: No alto do Abismo

Hanna não se apercebeu, mas ,no mesmo instante que havia tocado os lábios ao anel, a jóia tornouse progressivamente mais fluida transfigurando-se num líquido radiante indescritível , que fundiu se a saliva e a todo o interior daquele corpinho valente e guerreiro.Transpassados alguns instantes , algo profundo e misterioso começou a acontecer. De repente , tão alto quanto o som dos trovões começou a ecoar das profundezas do Abismo uma única e poderosa palavra.... _ Erguete! _Erguete! _ERGUETE!!! O poderoso som ressou por todos os lados....tudo era penetrado pela intensidade daquelas vibrações ;das areias à mente . E num movimento de gongo chinês, as vibrações foram crescendo em seu interior...até culminarem num intenso arrepio que

percorreu todas as profundezas de Hanna.Uma nova força havia retornado a seu corpo.Ainda caída, apertou a areia esverdeada e abriu os olhinhos.Ergueu-se vagarosa e majestosamente,com aquele olhar determinado, herdado de suas gerações passadas...mirou a mente rumo ao outro lado... E num tom de voz macio e poderoso...emitiu algo que nem mesmo ela sabia porque dizia. _ A última jóia mora em mim....em mim....! Eis então, que começou a jorrar das profundezas de seu coração...o reflexo de seu sonho.... Uma luz começou a ser formada a partir no centro do Abismo,entre os dois lados , numa altura similar a que Hanna se encontrava e linda como as flores mais delicadas...surgiu sua mãezinha , com aquele brilho azul nos olhos e o sorriso contagiante.Talvez fosse por isso que Hanna amava a cor azul e tinha aquela alegria tão mágica em seu interior. _Mãe!!!Mamãe!!!!Ahahhhhh!!! _Mãeeeeeê! A expressão de alegria era tão intensa,que as lágrimas novamente lhe desciam das faces...era o momento mais mágico de toda sua vida. E de longe, Hanninha ouve a melódica voz de sua mãezinha lhe chamando e dizendo:

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_Venha, vazio....confie....

minha

Florzinha...não

tema

o

pelo aconchego da mãe , sentia-se num mundo leve e de sensações indescritíveis para o mundo das palavras.

O coração da pequenina começa a bater mais acelerado...e ela inicia uma marcha pelo vazio , confiando plenamente em seu amor e no amor daquela figura angelical e como num passe mágico ,Hanninha começa a caminhar sobre o vazio do ar e algumas vezes, quando olhava para baixo , avistava uma linda luz dourada no infinito,permeando as profundezas daquelas alturas.

Ao chegarem do outro lado , havia a mesma areia esmeralda e ao fundo um portal , de aparência mágica que lembrava um olho magnífico...

Aquela haveria de ser, a marcha mais inesquecível de toda sua existência e caminhando pelo ar, foi sentindo , mais e mais , a doçura maternal.Ao chegar bem pertinho da mãe , a admirou com os olhinhos molhados;olhando levemente para o alto. Aquele anjo sem asas , sorriu e deixou cair do canto daquele azul sem fim, diversas lágrimas de alegria...e ajoelhando-se,como os antigos cavaleiros....envolveu a pequenina no infinito de seu amor;beijando-a e conversando de modo silencioso e mágico,num diálogo que transcende o mundo das palavras e idéias.

_Florzinha...você deve partir agora....muitos precisam de você ainda...

Com um carinho sem igual ,ela ergueu delicadamente a filha,entre os braços, parecendo colher uma preciosa e rara flor.Assim,terna e meiga iniciou uma marcha que criava um rastro tênue de luz, em direção ao outro lado do Abismo.A travessia foi feita lenta e plena de sentimentos raros .Hanna estava totalmente envolvida

A mãe e a menina , foram se aproximando do portal...e de modo tão delicado como a havia recolhido nos braços a colocou no chão esverdeado.E dizendo com aquela doce voz envolvente,falou...

_ Mãezinha ,eu quero ficar aqui com você! Falava a pequena com os olhos brilhantes. _ Minha querida Hanna , muitos precisam de você....não temas, pois sempre estive e sempre estarei , vigiando e cuidando de seus passos....estamos unidas por laços eternos.... A pequenina abaixou a fronte e ainda com os olhinhos úmidos;abraçou bem forte, a figura que mais amou em toda sua breve existência. Aquele anjo,no qual as asas haviam se transformado em braços, beijou carinhosamente sua filhinha e pegando um punhado da areia esmeralda,disse com uma voz aveludada:

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_ Hanninha....leve com você isto.....é a areia da esperança...e por onde passar....entregue um pouco a todos....

envolvia,num brilho dourado e as últimas imagens que conseguiu construir foi um turbilhão radiante,que a levaria de volta ao mundo onde sua avó estava...

_ Mas, mãezinha....e se acabar? E num movimento de pinça,a mãe pôs um pequenino grão em sua mãozinha de linhas claras, e tecido delicado... _ Veja....!Disse a mãe,sorrindo. _ Eles...eles....estão se multiplicando...mais e mais....mãe! _ Minha Florzinha...eles nascem em seu coração... Hanna guardou o presente dado por sua mãezinha e segurou firmemente em suas mãos.Sua mãe sorriu docemente para filha e seguiu adiante até o portal.Então, curvando-se amorosamente beijou a cabeça da filha, e neste instante as lágrimas desceram dos olhos das duas. _ Filha...é hora de partir... E após mais uma despedida,Hanna foi se afastando , seguindo em direção ao portal.Sua mãe a acompanhava com lágrimas cheias de amor e do mesmo modo, a pequena avançava chorando...lembrando dos beijos e do presente.Pouco a pouco, o olhar do portal a

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Capítulo XIII : A areia da esperança

Naquele dia, quinto dia de junho, Hanna completava mais um ano de sua existência.Sua avó havia permanecido ao seu lado durante todos aqueles meses de silêncio e tristeza advindos do coma da neta.A avó estava olhando pela janela do terceiro andar tendo aquele olhar distante e tristonho,que focava o infinito. Lentamente ela cerrou os olhos e iniciou uma emocionada oração aos sons dos Bem-ti-vis que habitavam próximos ao hospital.Findado o seu fervoroso pedido celestial , transpôs a porta do quarto e seguiu até a máquina de café,que ficava próxima ao quarto da neta. Enquanto ingeria o líquido , lembrou do lindo sorriso de Hanna e retirando da bolsa uma foto sua ,admirou a luz que sai de seus lábios e que a aconchegavam.Pouco a pouco, foi envolvida pelo sorriso sincero e amplo da pequenina,que sorria sempre para todos;dos fotógrafos as nuvens de algodão de uma tarde azulada. De repente, sua avó sentiu uma intuição extremamente viva em seu coração,algo que era indescritível.Ela começou a ouvir um som vindo do quarto; uma movimentação estranha de médicos e enfermeiras...

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Então, soltando o copo de café no ar e marchando o mais rápido que pode seguiu em direção ao quarto...sentiu algumas lágrimas descendo por sua face enrugada e as mãos levemente trêmulas...Ouviu vozes mais claramente... _ Enfermeira verifique a instrumentação , por favor! _Sim, Dr. Abrão! _ Parece um milagre, não é? O coração de sua avozinha começou a vibrar mais intensamente , e então quando chegou a entrada do quarto viu aqueles dois imensos olhos caramelo ,brilhando intensamente e mirados exatamente nela.Seus olhos experientes foram ficando marejados e com uma voz emocionada, disse: _ Minha Florzinha, voltou.....minha querida Florzinha....! _ Fique tranqüila... os sinais, parecem normais!Disse a enfermeira , emocionada por aquela cena milagrosa. Lentamente a avó se aproximou de seu leito e com uma profunda troca de olhar silencioso ,ela beijou carinhosamente a fronte de Hanna e com muito esforço, a pequena disse:

_ Vovó....eu encontrei a mamãe... _ Sim, minha Florzinha...mas, ela sempre esteve contigo... A equipe médica foi saindo aos poucos do quarto e somente uma enfermeira ficou a porta do quarto.Mas, naquele mesmo dia Hanna já havia começado sua tarefa de espalhar a areia da esperança,pois naquele dia todos vivenciaram um milagre e naquela mesma noite, na reunião dos funcionários o fato foi espalhado.E no elevador, às vezes, se ouvia dois funcionários contando a história e as pessoas em volta ouviam discretamente a conversa. Toda a aventura de Hanna havia sido real e as areias da esperanças trazidas por ela começavam a viver nos corações de muitas pessoas dentro do hospital .A mensagem entregue pela pequena foi levada aos lares daqueles que haviam ouvido a experiência daquela criatura graciosa.Luz havia sido feita,um brilho quente e aconchegante para muitos corações tristes.Durante anos e anos...sua história voou entre os corações e mentes de muitas e muitas pessoas,pois , Hanna era especial , ela havia nascido com o poder de cura,o poder de curar corações tristes e escuros.A luz vivia dentro de si, ela era uma vela que acendia outras velas. Após duas semanas, a Florzinha retornava ao lar e no caminho de volta,no mundo dos seus

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pensamentos sentia que queria ser como aquelas pessoas de branco que haviam cuidado dela durante todo aqueles longos dias de um sono vivo...

Capítulo XIV: A Curandeira

Sua avozinha, partiu para o céu numa bela manhã de primavera,estava serena e com suas últimas forças acariciava a pequena neta,que já contava com quinze primaveras.Hanna chorou muito e como último presente preparou um belo chapeuzinho com flores do campo ,decorando os lindos traços daquela figura sábia.Depois da partida de sua mãezinha...aquele havia sido o dia mais triste de toda sua vida...Naquela época, Hanna contava com 15 anos.

No final do ano de 2002 , Hanna prestou a prova vestibular numa grande universidade do estado de São Paulo e sentindo novamente o que deveria ser feito, escolheu o curso da arte de cuidar,ela ainda desconhecia, mas seria no futuro uma das mais maravilhosas curanderias de alma.Ela seria uma médica e enfermeira de almas, fazendo curativos internos e externos , tratando mente e espírito...

Então, agora sob os cuidados de uma tiaavó...foi trazida para cidade de São Paulo.Hanna não sabia por qual motivo tudo ocorria,mas sentia que novamente o mistério a guiava e durante muitas vezes lembra-se do amigo Púpu...do Vale da Escuridão e do encontro com sua mãezinha.Aquelas memórias eram fontes de energia e amor,das quais a pequenina bebia sempre que estava triste e abatida... Ela havia se transformado, numa guerreira de luz,que tinha guardado dentro de si ...o mistério... sagrado e profundo...

Então, por méritos de seus próprios esforços e pela vibração de situações misteriosas ingressou em fevereiro de 2003 numa das maiores universidade do país. E durante aqueles quatro meses iniciais espalhou a alegria, a esperança e a bondade tão intrínseca ao seu coração. O mistério havia gerado o encontro e do mesmo modo que Hanna havia se encontrado,foi levada ao encontro de outros...conhecendo a alegria pueril de Flor, o jeito firme e brincalhão de Gemini,a doçura de Reni e o jeito diferente de Egon.Algumas vezes tudo parecia estranho,mas, o mistério envolvia todos aqueles novos corações.Novos amigos que durante os anos que se seguiriam juntamente com Hanna,iriam a procura do profundo mistério.O mistério de ser e descobrir na arte de

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amar e na constante busca de si mesmo.Alcançando o Segredo...

_ Amigo....agora é o caminho de ida....em busca do Mistério Profundo....

Às vezes , seu pensamento ficava inquieto,pois, alguns fatos vividos nestes quatro primeiros meses eram sem um claro sentido ainda.Mas, muitos destes sentidos profundos, somente serão entendidos no amanhã...quando seu coraçãozinho for avançando sobre as páginas da vida ...

E depois, deste breve diálogo,Hanna ficou admirando o pôr do sol, do alto de seu prédio nas redondezas de um belo parque.Pensando e refletindo no que tudo, aquilo havia significado.Mas, um dia ela entenderia que às vezes, ela se torna a chave do Céu,criando para alguns a ligação com o próprio mistério da existência.

Então, quando a pequenina de olhos caramelados e luminosos e com lindos fios amendoados perceber que é a sua alma de seda, resistente e transparente,que realizará um leve e profundo traçado, nas páginas da vida e nos corações dos que a acompanham na magia de sua simples e humilde existência. Eis que dois dias após seu aniversário de dezoito anos, novamente o profundo mistério vem lhe tocar e do mesmo modo, que ocorria em sua tenra infância...uma voz ressou dentro do brilho de seu olhar.... -Olá como você está ? Para você ainda é desconhecido o Sentido , tudo é tão confuso... eu sei. Mantenha a calma. Porquê está chorando ? Não quer encontrar o caminho de volta? E depois que a voz retornou para junto de si,a pequena apenas diz:

À parte que me cabe cessa aqui por enquanto,pois a maior parte de toda a sua história, ainda está por ser construída pelo seu próprio coração e mente, numa escrita que jamais poderá ser apagada.Pois, o que escreves com a tinta da vida criará uma cópia dentro de si e dentro de cada um que cruzar seu caminho. No medo ,coragem....na dúvida,certeza;na dor,bondade,pois todo o Universo ainda necessita dos grãos de sua esperança.Então, a partir daquele dia 08 de junho...a história Sem Fim....começou a ser escrita , um pouco nas folhas em branco,um pouco, no próprio coração................................................................................ ............................................................................................ ............................................................................................ .........................continua.........................pela doçura do coração que ligou um outro coração aos mistérios do Céu...................................................................................... ...............................................................com

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amor................ao brilho de Hanna, benfeitora........que guiou um coração em Busca do Mistério Profundo.......................a história continua.............................................................................. ............................................................................................

Nome : PABLO Z. SANTOS LIRA PSEUDÔNIMO : DR. Egmon Strauss

Telefone: 3609-80 97

............................................

.........

9934-1454 / 9552-7957

e mail: [email protected]

Graduando na Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo ( EEUSP) O prefácio pode ser feito pela professora Doutora Maria Julia ( EEUSP)

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