Seminário de Estudos Avançados COGNIÇÃO I – FUNDAMENTOS
Complexidade e Linguagem Milton do Nascimento PUC Minas
LINGUAGEM: SISTEMA ADAPATIVO COMPLEXO
Sistemas adaptativos = Sistemas abertos, Os sistemas complexos são abertos e inseparáveis do contexto, mas interagem com fatores contextuais e mudam ao longo do tempo. Dessa forma, precisamos de uma visão corporificada da atividade mental,incluindo o uso e o processamento da linguagem. Nessa visão considera-se que a mente se desenvolve como parte de um corpo físico em constante interação com o ambiente físico e sociocultural, com essa interação contribuindo para a natureza emergente da mente (GIBBS, 2006, in:LARSEN-FREEMAN e CAMERON, 2008, p. 34
)
AUTO-ECO-ORGANIZAÇÃO: NICHOS AMBIENTES “Os ecologistas trabalham com o conceito de nicho.Diz-se de uma espécie de animal que ela ocupa um determinado nicho no ambiente. Nicho é diferente de habitat das espécies; nicho diz respeito mais ao como um animal vive do que ao onde ele vive”. (...) “O ambiente natural oferece várias maneiras de vida, e diferentes animais têm diferentes maneiras de viver. O conceito de nicho implica tipo de animal, e o de animal implica tipo de nicho”. (Gibson, 1986: 128)
Auto-organização, recursão, não linearidade Os
sistemas auto-organizadores, por se organizarem pela recursão, caracterizam-se por serem sistemas não lineares, organizados em termos de um padrão de rede: Há um padrão comum de organização que pode ser identificado em todos os seres vivos? [...] Sua propriedade mais importante é a de que é um padrão de rede. Onde quer que encontremos sistemas vivos – organismos, partes de organismos ou comunidades de organismos – podemos observar que seus componentes estão arranjados à maneira de rede. Sempre que olhamos para a vida, olhamos para redes. (CAPRA, 2006, p. 77-78)
Linguagem: objeto do mundo natural “Gostaria de discutir uma abordagem da mente que toma a linguagem e os fenômenos similares como elementos do mundo natural a ser estudados por meio de métodos ordinários de pesquisa empírica. Usarei os termos “mente” e “mental” aqui sem significação metafísica. Assim, entendo “mental” como estando no mesmo nível de “químico”, “ótico” ou “elétrico”. (...) Usarei os termos “linguístico” e “linguagem” da mesma maneira.(Chomsky. 2002: 193)
LINGUAGEM = ÓRGÃO “A “Faculdade da Linguagem pode ser razoavelmente concebida como um “órgão da linguagem” no mesmo sentido em que os cientistas falam do sistema visual, ou do sistema imunológico, como órgãos do corpo. Entendido desta maneira, um órgão não é algo que pode ser removido do corpo, deixando o resto intacto: é um subsistema de uma estrutura mais complexa. Podemos compreender a sua complexidade investigando partes que têm características distintivas, e suas interações. O estudo da faculdade da linguagem dá-se da mesma maneira. Assumimos, ainda, que o órgão da linguagem é semelhante a outros órgãos relativamente à sua propriedade básica de ser uma expressão dos genes”. (Chomsky, 2004)
LINGUAGEM/ÓRGÃO: CIRCUITOS NEURAIS “...citando Gallistel: a tese essencial de que, em todos os animais, o aprendizado está baseado em mecanismos especializados, “instintos para aprender” de modos específicos; aquilo a que Tinbergen chamava “disposições inatas para aprender”. Esses “mecanismos de aprendizado” podem ser considerados “órgãos dentro do cérebro [que] são circuitos neurais cuja estrutura torna-os capazes de executar um tipo especial de computação”, o que fazem mais ou menos por reflexo, a não ser em “ambientes extremamente hostis”. Nesse sentido, a aquisição humana da linguagem é instintiva, tendo por base um “órgão da linguagem” especializado.”(Chomsky, 2006:102-103)
Faculdade da Linguagem: Sentido Amplo X Restrito [Hauser, Chomsky & Fitch, 2002]
LINGUAGEM: SENTIDO AMPLO e RESTRITO “A Linguagem em Sentido Amplo [FLB] inclui o sistema sensório-mortor e o sistema conceitual-intencional (que nós deixamos em aberto); a Linguagem em Sentido Restrito [FLN] inclui as computações gramaticais nucleares que nós sugerimos limitarem-se à recursão” (Hauser, Chomsky & Fitch, 2002)
A CENTRALIDADE DA RECURSIVIDADE NA LINGUAGEM “A quarta premissa é a mais forte de todas: neste momento, num indivíduo, quando o léxico está suficientemente desenvolvido, o aparato conceitual pode recursivamente enfocar e classificar as várias produções de linguagem em si mesmas – morfemas, palavras, sentenças – como entidades a serem categorizadas e recombinadas sem uma remissão necessária a suas origens iniciais, ou a suas bases na percepção, na aprendizagem, na transmissão social.” (Edelman, 1989: 174)
Recursão e Integração de Espaços Referenciais As
pessoas fingem, imitam, mentem, fantasiam, iludem, enganam, consideram alternativas, simulam, constroem modelos, e propõem hipóteses. Nossa espécie tem uma extraordinária habilidade para operar mentalmente sobre o irreal, e esta habilidade depende de nossa capacidade de efetuar integrações conceituais.” [Fauconnier & Turner, 2002: pg. 217]
RECURSÃO: ‘ um (...) corolário básico da Teoria da
Integração Conceitual: ..um espaço integrado a partir de uma rede pode frequentemente ser utilizado como input para a integração em outra rede” [Fauconnier & Turner, 2002: 334]
RECURSÃO E REDE DE ESPAÇOS REFERENCIAIS
L
En
Ea
A
T E (Eu) (Aqui) (Agora)
(Tu) (Aqui) (Agor a) R(Referência)
Discursivização (D): criação, numa, e única, instância enunciativa, de um espaço de referenciação X, que integre, recursivamente, numa rede, todos os espaços de referenciação instituídos no processo discursivo. D ≡ XEB ⊇ {X (Υ) , Xn (Υn)} [Nascimento e Oliveira (2004: 290)
Linguagem (SAC): “atividade constitutiva” do ser humano Linguagem, objeto do mundo natural: sistema adaptativo complexo; b) Centralidade da linguagem na auto-ecoorganização identitária do ser humano; c) Centralidade da recursividade na configuração da Linguagem em redes hierárquicas recursivamente construídas; d) A recursividade em várias escalas autosemelhantes (fractais): sílaba, palavra, enunciado, enunciação/discurso, e outros tipos de redes... a)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHOMSKY, Noam. Sobre Natureza e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2006. CHOMSKY, Noam. Biolinguistics and the Human Capacity - Lecture at MTA, Budapest, May 17, 2004 FAUCONNIER, Gilles & TURNER, Mark. The way we think – conceptual blending and the mind´s hidden complexities. NewYork: Basic Books, 2002. GIBSON, James J. The Ecological approach to Visual Perception. London: Lawrence Erlbaum Associates, Publishers, 1986. HAUSER, Marc D., CHOMSKY, Noam & FITCH, W. Tecumseh .The faculty of language: what is it, who has it, and how did it evolve? www.sciencemag.org SCIENCE VOL 298, NOVEMBER 2002. JACKENDOFF, Ray. Foundations of Language - Brain, Meaning, Grammar,Evolution. Oxford University Press, 2002. LARSEN-FREEMAN, D., CAMERON, Lynne. Complex Systems and Applied Linguistics. Oxford University Press, 2008. NASCIMENTO, M.; OLIVEIRA, M. A. Texto e Hipertexto: Referência e Rede no Processamento Discursivo. In: NEGRI, L.; FOLTRAN, M.; OLIVEIRA, R.P. (Orgs.). Sentido e Significação; em torno da obra de Rodolfo Ilari. São Paulo: Contexto, 2004, p. 285-303. PAIVA, V.L.M.O; NASCIMENTO, M. Texto, hipertexto e a (re)configuração de (con)textos. In: LARA, G. M. P. (Org.) Língua(gem), texto, discurso; entre a reflexão e a prática. v. 1, Rio de Janeiro: Lucerna; Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2006. p.155-179