Clonagem

  • May 2020
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Licenciatura em Enfermagem - ESEC

Bioquímica e Biofísica

Clonagem

AC Santos - 2008/2009

Clonagem é o processo natural ou artificial pelo qual são produzidos clones, cópias fiéis geneticamente de outro ser, por reprodução assexuada. A clonagem tem sido um assunto muito debatido recentemente com o advento de técnicas que permitem a clonagem de animais a partir de óvulos não fecundados. Mas processos de clonagem artificial são conhecidos desde o século XIX entre os horticultores, que já obtinham clones de orquídeas através da cultura de tecidos meristemáticos de uma planta matriz, que originava dezenas de novas plantas geneticamente idênticas. O termo clone foi criado em 1903 pelo botânico Herbert J. Webber enquanto pesquisava plantas no Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Segundo Webber, o termo vem da palavra grega Klón, que significa broto vegetal. É basicamente um conjunto de células, moléculas ou organismos descendentes de uma célula e que são geneticamente idênticas a célula original. Desta forma, a clonagem é um processo de reprodução assexuada, onde são obtidos indivíduos geneticamente iguais (microorganismo, vegetal ou animal) a partir de uma célula-mãe. É um mecanismo comum de propagação de espécies de plantas, bactérias e protozoários. Em humanos, os clones naturais são gémeos univitelinos, seres que compartilham do mesmo DNA, ou seja, do mesmo material genético originado pela divisão do óvulo fertilizado.

A clonagem alcançou a ficção aquando da escrita de "Admirável Mundo Novo", por Aldous Huxley, que talvez não imaginasse que algum dia a ciência poderia aproximar-se tanto da ficção da sua obra. Ainda que com possibilidades remotas de tornar-se realidade, a produção de indivíduos em laboratório, como diz Huxley, já ultrapassou a linha divisória entre a ficção e a realidade.

Clonar significa produzir indivíduos idênticos a um outro, por meio de técnicas que excluem a fertilização. Na área vegetal, a clonagem deixou de ser novidade há muito tempo. A técnica tem sido usada para propagar inúmeras espécies de plantas, como batata, bananeira e abacaxi. Partindo-se de “pedacinhos” de uma planta, é possível originar em meses, dezenas ou centenas de outras plantas iguais. A importância disso é que podemos escolher os melhores indivíduos para serem produzidos, qualquer que seja o aspecto desejado (produção, sanidade, etc.). Enquanto a clonagem vegetal vinha sendo continuamente otimizada, a clonagem animal e, sobretudo, a humana eram consideradas apenas uma visão futurista da ciência.

Clonagem em Biologia Molecular MacFarlane Burnet - prémio Nobel em 1965 com um trabalho sobre síntese proteica e códio genético. Um suiço fez, mais tarde, um raciocínio brilhante: o DNA tem forma de escada, em que os “degraus” são de natureza proteica e os “corrimões” são constituídos por açúcares. Os “degraus” são diferentes de pessoa para pessoa, então se se conseguisse fracturar a molécula em pequenos fragmentos poder-se-ia estudar o genoma do indivíduo! Assim, os utensílios ou ferramentas biológicas são: enzimas de restrição, sondas de DNA ou RNA e hibridização molecular (Werner Arber, Hamilton Smith, Daniel Natham, 1970, USA) ⇒ biologia e a genética moleculares.

Enzimas de restrição ou endonucleases[1] de restrição: são componentes do sistema de defesa celular de bactérias contra DNA estranho. Estas enzimas cortam o DNA estranho de dupla cadeia em sequências nucleotídicas específicas, geralmente com simetria dupla em torno de um ponto central, chamadas sequências palindrómicas[2], mas não o seu próprio DNA (que é metilado em pontos potenciais de reconhecimento). A sua designação deriva do nome da bactéria de que foi isolada (ex: Eco RI da E. coli, Pst I da Providentia stuart).

Família de exonucleases 5'-3‘: (a) exonuclease T5, (b) ribonuclease H do bacteriófago T4 e (c) domínio exonuclease da Taq polymerase, (d) a estrutura colorida da T5 exonuclease codificada de acordo com as regiões que mostram flexibilidade.

[1] [2]

Exonuclease: corta a extremidade da cadeia de DNA. Chama-se palindroma a qualquer palavra que quando se lê de trás para a frente repete o original (ex: anilina, ana, asa, etc.)

Vector (Hubert Boyer, Stanley Cohen, USA) é um plasmídeo, fago ou cosmídeo no qual é possível inserir sequências de DNA estranho, para proceder à sua clonagem (produzir muitas cópias para formar uma biblioteca de DNA = amplificação). Tabela 1 - Vectores de clonagem

Características

Funções

Serem estáveis na célula hospedeira

Permite a replicação

Controlarem a sua própria replicação

Permite a sua multiplicação dentro da célula com aumento do nº de cópias

Possuirem pequena dimensões

Permite uma rápida introdução na célula por transformação, electroporação ou transdução

Serem cortadas num só local por uma enzima de restrição

Permite a inibição do DNA dador e a circularização do plasmídeo

Não serem transferidos por conjugação

Evita que o DNA recombinante se dissocie para as populações nativas das bactérias

Terem carcaterísticas facilmente detectáveis

Evita possível distinguir as células transformadas das não transformadas

Serem facilmente isoladas das células

Aumenta o rendimento do plasmídeo recombinante

Diagramas de vectores de clonagem simples derivados de um plasmídeo. O plasmídeo pode transportar um ou mais genes que lhe confiram propriedades particulares, tais como a resistência a certos antibióticos. O gene selectivo ampr codifica a enzima β -lactamase, que inactiva a amplicilina (antibiótico).

Vector de expressão 4,85 Kb centrómero Insert de DNA

telómero

Vector de expressão.

origem

bla ex: pGEM (1959 pb)

Local promotor Local múlpiplo de clonagem (MCS ou polylinker) Local terminador

Plasmídeo: segmento circular de DNA de cadeia dupla que se encontra no interior das bactérias e se replica autonomamente.

Cosmídeo: vectores sintéticos para clonagem de genes que podem inserir grandes fragmentos de DNA estranho.

YAC (yeast artificial chromosomes): cromosoma artificial construído com regiões centroméricas e teloméricas dos cromosomas de leveduras, por forma a permitir a inserção de grandes fragmentos de DNA heterólogo (maior que 100 Kb), mantendo a sua capacidade de replicação.

Tabela 2 - Componentes de uma experiência de clonagem.

Componentes

Função

DNA dador (insert)

Fonte do DNA ou gene a ser clonado

Endonuclease de restrição

Enzima utilizada para cortar tanto o DNA do dador como o do vector em locais específicos, de modo a que o DNA do dador possa ser inserido no vector

Vectores

Plasmídeo ou bacteriofago utilizado para introduzir o gene a ser clonado numa célula hospedeira adequada

Ligase de DNA

Enzima utilizada pata ligar as extremidades livres e adaptáveis do DNA do vector e do dador e assim formar um vector recombinante

Célula hospedeira

Geralmente uma bactéria ou uma célula de levedura. Os vectores recombinantes introduzem-se nas células hospedeiras de modo a obter maior quantidade de moléculas de DNA recombinante

Técnicas de amplificação in vitro (PCR) em Biologia Molecular Clonagem de DNA ou clonagem molecular - isolamento seguido de produção de várias réplicas de um fragmento de DNA, pot multiplicação num vector (plasmídeo, fago, cosmídeo, YAC). A reacção de PCR (polymerase chain reaction) foi delineada por Kary Mullis em 1985. Com um fragmento de DNA podem fazer-se milhares de cópias. Utiliza-se uma enzima que se reproduz a temperatura elevada, Taq polimerase (Taq → de Thermophillus aquaticus). PCR = reacão de polimerização em cadeia utilizada para amplificar determinadas sequências de DNA. São usadas duas sequências de oligonucleótidos de DNA flanqueadores, como iniciador de replicação (primers) e, recorrendo a uma polimerase do DNA, fazem-se replicações sucessivas da sequência do DNA inicial. Amplificação de DNA: produção de múltiplas cópias de uma sequência de DNA (amplicons). Primer (sequência de iniciação): sequência de DNA ou RNA complementar para o início de uma sequência nucleotídica e que serve de ponto de partida para esta ser copiada por uma polimerase.

Ciclo de amplificação 1ª etapa: destruição do DNA (90˚C) (30 '' a 1 min) 2ª etapa: hibridação dos primers (30 '' a 1 min) 3ª etapa: elongação pela Taq polimerase (30 "' a 2 min) volta-se a iniciar outro ciclo e assim sucessivamente ... várias vezes (é só preciso juntar mais primers, a Taq não se gasta) nf = n0 + 2n

nf = nº de cópias final; n0= nº cópias inicial

A PCR é usada correntemente em diagnóstico médico (atenção às contaminações!), em várias áreas (ex: fase de eclipse do vírus da SIDA) porque é uma técnica: - rápida, - sensível, - específica, - não precisa de clonagem, isto é, permite multiplicar um fragmento de DNA sem recorrer a clonagem. Também se utiliza noutras áreas de investigação científica para as mais variadas aplicações.

Hibridação: ligação de sequências unicatenares de ácidos nucléicos (DNA ou RNA) através da complementaridade de bases. Géis (agarose ou poliacrilamida): suprimem s correntes de conversão produzidas por pequenos gradientes de temperatura; servem de crivos moleculares que acentuam a separação. Probes: (sondas): moléculas de DNA ou RNA marcadas com isótopos radioactivos (ex: 32P) ou não radioactivas (ex: peroxidase; avidina-biotina + peroxidase = fluorescência) usadas para detectar a presença de sequências complementares por hibridização. Aplicação de sondas: - diagnóstico genético pré-natal - diagnóstico genético pré-sintomático - identificação individual (DNA fingerprints)

Com a PCR pode fazer-se a sequenciação do genoma, mas utilizam-se várias outras técnicas em Biologia Molecular: - Southern Blotting - Northern blotting - Western blotting

O blotting é a transferência do DNA (ou RNA ou proteínas) de um gel para uma membrana sintética (nylon ou nitrocelulose). Após a hibridização, por ex: tendo usado 32P-DNA, tem de se “revelar” = autorradiografia. O autorradiograma serve então para fazer a leitura (sempre de baixo para cima) da sequência de nucleótidos. Hoje em dia há aparelhos automáticos para fazer quer a PCR quer a hibridização e a leitura dos blots.

Aplicação prática - ex: verificação de mutação genética na fenilcetonúria ou nas anemias (ex: anemia falciforme forma mediterrânica caracterizada por fragilidade dos glóbulos vermelhos). Hb S (anemia falciforme) Hb A (normal) heterozigótico

Fig. 3 - Esquema das bandas electroforéticas num gel de poliacrilamida na anemia falciforme.

SOUTHERN BLOT: - técnica usada para testes de hibridização em fragmentos de DNA separados por electroforese em gel, após acção de enzimas de restrição. A designação Southern vem do nome do cientista que a inventou. As designações de Northern e Western surgiram depois desta e apontam as regiões dos USA onde foram descobertas as respectivas técnicas. Técnica de Southern Blotting extracção de DNA - a célula é lisada com detergentes (ex: SDS, Triton X, Tween) precipitam-se as proteínas com enzimas (ex: proteinase K) o DNA vai ser precipitado com solventes (ex: fenol e formol) com uma vareta enrola-se o DNA e retira-se da solução.

A técnica de Northern Blot é aplicada a amostras de RNA. A técnica de Western Blot aplica-se a amostras de peptídeos e proteínas.

Alguns benefícios da biotecnologia Fizeram-se progressos consideráveis no sentido de introduzir genes em animais e plantas para curar doenças genéticas, aumentar a produtividade das plantas e do gado e tornar os cereais mais resistentes a doenças. Por exemplo, introduzem-se muitos genes em plantas para as tornar resistentes a insectos e a plantas infestantes. Muitos cientistas estão a tentar introduzir em alguns cereais como o trigo, o arroz, a cevada e o milho, os genes bacterianos para a conversão do azoto atmosférico em amónia. Isto permitiria o crescimento dos cereais sem a necessidade de adição de fertilizantes de azoto, bastante dispendiosos e muitas vezes prejudiciais ao meio ambiente

Hibridoma

Anticorpos

Proteínas

Insulina lnterferão Albumina sérica humana Hormona humana do crescimento Activador plasminogénico de tecidos Antitrombina Factores de coagulação do sangue Luciferase (pirilampo) Linfocinas Factor da necrose tumoral Gonadotropina humana

Agricultura

Cereais resistentes a doenças Tomates hidropónicos Resistência a pesticidas Bio-insecticidas Fixação do azoto

Vacinas

Hepatite B Herpes Gripe Malária

Pesquisa do genoma humano Há três grande projectos a nível mundial nesta área desde 1985: USA, Japão e CEE. O genoma humano haplóide (23 com) tem 3 × 109 pb. Pretende-se fazer a sequenciação do genoma, isto é, determinar a ordem efectiva das 3 × 109 unidades (nucleótidos) que constituem o genoma. Conhecendo o genoma teremos mais possibilidades de entender a fisiologia normal, ver quais os mecanismos etiológicos e etiopatogénicos das doenças, para produzir novos medicamentos, novos alimentos, etc.. Até ao momento já foi feito o mapeamento cromosómico, ou seja, a identificação de marcadores moleculares que permitem uma localização rápida e aproximada de genes, e a divisão dos cromosomas em fragmentos de DNA com extremos comuns. Ainda não está terminado para os 23 crom a sequenciação dos fragmentos de DNA obtidos; a reconstituição da ordem das bases púricas e pirimídicas nos cromosomas, recorrndo à sobreposição das regiões comuns nos extremos dos fragmentos de DNA; a comparação das sequências entre diversos genes, indivíduoas da mesma espécie ou mesmo de outras espécies. Já estão descobertos cerca de metade dos nossos genes e com os novos conhecimento entretanto adquiridos o número de genes diminuiu para 20 a 25 mil genes…

1º é preciso fazer um mapa genético (em cada cromosoma encontrar marcadores moleculares, onde as enzimas de restrição vão actuar; 1 centimorgan = 1 milhão de pares de bases). Depois faz-se um mapa físico, formado por várias sequências. A seguir é necessário pô-los topo a topo até encontrar o comprimento total do cromosoma. Por fim quando se tiverem todas as sequências é que se vê o que é “lixo” ou não (o DNA codificante é só entre 5 a 10%)…

Na espécie humana já foram identificados mais de 5 000 genes e localizados e clonados 1 500 genes.

Crom 1 = 263 Mb (8,6% do genoma) Crom 21 = 50 Mb (1,6% do genoma) - contém o gene da doença de Alhzeimer (braço longo - AD1), da amiloidose cerebral (APP), do síndroma de Down (DCR), … Crom X Croms Y - 2 genes

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/science96/

Chromosome 1 GBA. In Gaucher disease, the defective enzyme is unable to metabolize glucocerebrosides which accumulate in characteristic, distended phagocytic cells

Cromosoma 1

AD4.
Brain
scans
of
a healthy
elderly
person and
a
patient
with Alzheimer's
disease

DMD 
Defects
in
the
dystrophin gene
cause
Duchenne muscular
dystrophy,
a fatal
progressive degeneration
of
muscle tissue

ATP7A Abnormal
Purkinje
cell dendrites
in
the
brain of
a
patient
with Menkes
disease

Cromosoma X

FMR1 An
unstable
nucleotide
repeat
is associated
with
the
most
common form
of
mental
retardation
known as
Fragile
X
syndrome

ALD 
Mylein-stained
section
of
brain
in adrenoleukodystrophy,
characterized
by defective
catabolism
of
long
chain
fatty acids

TDF
-
Testis-determining
factor
(also
known as
SRY)
binds
to
DNA
and
regulates
genes controlling
the
development
of
the
testis

http://www.genome.gov/12513430

Como resultado do avanço no conhecimento científico, tanto a clonagem humana como a animal estão na ordem do dia. Isto ficou mais evidente em Fevereiro de 1997 com o nascimento da ovelha Dolly, o primeiro mamífero a ser clonado a partir de uma célula adulta, na Escócia.

Clonagem Plasmídeo recombinante

Bactéria hospedeira (E. coli) Transformação da bactéria hospedeira por mistura com o plasmídeo recombinante Crescimento em meio de cultura durante 24h a 37ºC

1997 - Ian Wilmut (Edimburg, UK) - 1º clone de animal adulto (ovelha Dolly): Ovelha Finn Dorset → célula do dador (glândula mamária), clonada numa cultura com muito baixa concentração de nutrientes para que não se exprimisse. Ovelha Blackface → óvulo (colhido por sucção). Fundiu as duas células (1º impluso eléctrico serve para as pôr em contacto e o 2º impulso eléctrico funde-as). O embrião resultante foi implantado (mórula com 6 a 8 células) no útero de outra ovelha. O resultado foi um cordeiro da raça Finn Dorset, geneticamente igual ao dador inicial.

Como o que foi clonado foi uma célula adulta houve envelhecimento precoce, devido à peristase (o ambiente intra-uterino mantém o extra-uterino).

Com os avanços obtidos na área animal, abriram-se perspectivas para que a técnica também fosse estudada em seres humanos com fins terapêuticos. No entanto, a manipulação de células humanas gerou polémica que culminou quando foi levada para o plano reprodutivo. Em 2002, equipas de investigadores fizeram anúncios sobre possíveis trabalhos visando à produção de clones humanos. O mais recente foi feito pela Companhia Clonaid, uma organização religiosa internacional fundada há pouco mais de 6 anos que acredita na existência de extraterrestres e se denomina como a primeira companhia do mundo a oferecer serviços de clonagem humana, a qual anunciou, sem nenhuma comprovação científica, o nascimento do primeiro clone humano. Alguns dias mais tarde, a mesma empresa anunciou o nascimento de um segundo clone, mais uma vez sem apresentar nenhuma prova sobre a bagagem genética destes recém-nascidos, causando desconfiança na comunidade científica internacional sobre a veracidade de tais nascimentos.

Embora a teoria seja simples, na prática a clonagem é complexa. Nos animais os resultados da clonagem têm freqüentemente apontado para nascimentos com algum tipo de anomalia e alta ineficiência quando os resultados são expressos em nascimentos vivos por transferência de embrião. Mesmo assim, as pesquisas na área não param e depois do anúncio do nascimento da ovelha Dolly, proles vivas de camundongos, ratos, coelhos, porcos e vacas já foram registradas. O Brasil também já apresenta resultados na área. Em março de 2001, pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia anunciaram o nascimento do primeiro clone bovino batizado de “Vitória”. Embora a técnica de clonagem animal seja bem mais complexa do que a vegetal e ainda esteja longe de ser totalmente dominada, os objetivos finais são bastante semelhantes àqueles da clonagem vegetal e incluem, entre outros, a possibilidade de multiplicação de animais com boas características genéticas e a recuperação de populações de espécies silvestres ameaçadas de extinção.

Sob o ponto de vista técnico, e para os defensores da clonagem humana, a tecnologia poderia beneficiar, por exemplo, casais inférteis que deixariam de utilizar as técnicas atuais de fertilização in vitro para reproduzir indivíduos relacionados a si mesmos. No plano da ficção, acredita-se que por meio dela seria possível clonar novos Hitlers, Einsteins, Vivaldis, etc.. Baseando-se nas experiências com os animais, nas quais a eficiência em se produzir proles vivas e normais é bastante baixa, actualmente a clonagem humana para fins reprodutivos é injustificável. Devido a estes riscos e aos princípios éticos, instituições como a Organização Mundial da Saúde e Unesco são contra os estudos de clonagem para estes fins.

O objectivo da investigação da clonagem humana nunca foi clonar pessoas ou criar bebés para no futuro serem dadores de partes ou produtos humanos. A investigação tem como objectivo obter células estaminais para curar doenças

As células estaminais são células cujo destino ainda não foi "decidido". Podem transformar-se em vários tipos de células diferentes, através de um processo denominado "diferenciação". Nas fases iniciais do desenvolvimento humano, as células estaminais do embrião "diferenciam-se" em todos os tipos de células existentes no organismo - cérebro, ossos, coração, músculos, pele, etc..

Os cientistas estão entusiasmados com a possibilidade de controlar o espectacular poder natural destas células para curar vários tipos de doenças. Por exemplo, as doenças de Parkinson e Alzheimer resultam de lesões em grupos de determinadas células no cérebro. Ao fazer um transplante das células estaminais de um embrião para a parte do cérebro com lesões, os cientistas esperam substituir o tecido do cérebro que se perdeu. Num futuro próximo, a investigação das células estaminais poderá revolucionar a forma de tratamento de muitas "doenças mortais" como, por exemplo, acidentes vasculares cerebrais, a diabetes, doenças cardíacas e até mesmo a paralisia.

As atitudes relativamente à utilização de células estaminais embrionárias para fins de investigação e tratamentos médicos variam de país para país. Na Alemanha, por exemplo, a remoção de células estaminais de um embrião humano é considerada ilegal. Na Grã-Bretanha é legal mas, de acordo com regulamentos rigorosos, os cientistas britânicos podem utilizar embriões humanos para investigação até 14 dias após a fertilização. Nesta altura, o embrião é uma bola de células com cerca de um quarto do tamanho de uma cabeça de alfinete (0,2 mm). Muitos países ainda não possuem leis claras que regulem a investigação de células estaminais humanas. Uma vez que a utilização de embriões é uma questão controversa eticamente, os cientistas em todo o mundo estão à procura de outras fontes de células estaminais. As células estaminais encontradas na medula óssea dos adultos são uma possibilidade. Estas células têm o potencial para se "diferenciarem" em diferentes glóbulos vermelhos ao longo do ciclo da vida. No futuro, os cientistas esperam manipular estas células estaminais adultas para que, em vez de produzirem apenas glóbulos vermelhos possam produzir células do cérebro, fígado, coração e células nervosas.

Existem actualmente pelo menos 100 000 embriões excedentários congelados armazenados por toda a União Europeia. Estes embriões foram criados como uma fase de rotina dos tratamentos da esterilidade (FIV). Um único ciclo de tratamento de FIV envolve normalmente a fertilização simultânea de vários ovos. De seguida, vários ovos fertilizados são reimplantados na mãe e os restantes são congelados, caso a primeira tentativa de gravidez não seja bem sucedida. Se a mulher sujeita à FVI engravidar de imediato, o casal pode optar por não utilizar os restantes embriões. Em alguns países, os casais podem optar por doar os embriões para investigação ou pela sua eliminação. No entanto, nunca chegou a ser tomada uma decisão sobre o destino de alguns embriões armazenados. Nos últimos 20 anos, desde o início da FIV, muitos dos dadores de ovos e esperma mudaram de casa, voltaram a casar e mudaram de nome ou talvez até já tenham morrido. As clínicas de fertilidade podem não conseguir encontrá-los. O destino de muitos embriões armazenados é, por isso, incerto. Uma segunda fonte de embriões para o fornecimento de células estaminais, ainda mais controversa, seria a criação de embriões somente para investigação ou tratamento. Contudo, já existem milhões de espermatozóides e milhares de ovos não fertilizados congelados em clínicas de FIV em toda a Europa. Se os espermatozóides fossem utilizados para fertilizar os ovos, existiriam ainda mais embriões para fornecer células estaminais de modo a curar doenças.

Medula óssea de adultos Uma fonte promissora de células estaminais poderia ser a medula óssea de um adulto. As células estaminais da medula óssea dos adultos produzem normalmente glóbulos vermelhos e células da medula óssea. Até há pouco tempo, os cientistas pensavam que era impossível a estas células da medula óssea "voltar atrás no tempo" e reinventarem-se a elas próprias para produzirem tipos de células completamente diferentes como, por exemplo, células do cérebro, células nervosas, do intestino ou da pele. Nos Estados Unidos os cientistas identificaram, recentemente, uma célula estaminal da medula óssea de adultos que pensam poder desenvolver-se noutro tipo de células. "É algo de extraordinário", afirma o perito em células estaminais Austin Smith do Centre for Genome Research em Edimburgo, Reino Unido. Não só as células estaminais retiradas de um adulto com o seu consentimento seriam eticamente aceitáveis para a maioria das pessoas e governos, como seriam também melhores para os pacientes. Imagine que padece de uma doença que está a matar as células do cérebro. As células estaminais poderiam ser retiradas da sua medula óssea, seriam manipuladas no laboratório para se tornarem em células cerebrais e voltariam a ser implantadas no seu cérebro - não existindo, assim, uma rejeição imunitária do transplante.

Caso funcione, esta é uma perspectiva muito entusiasmante. Os primeiros resultados parecem promissores, mas os cientistas não têm ainda conhecimento da versatilidade exacta das células estaminais da medula óssea. Estão muito mais confiantes sobre o que as células estaminais dos embriões possam fazer. Tipos diferentes de células estaminais poderiam resultar mais eficazmente em tratamentos de doenças diferentes, por isso, a maioria dos cientistas optaria por continuar a investigação de ambos os tipos. Sangue placentar Uma última opção como fonte de células estaminais é o sangue do cordão umbilical que normalmente é eliminado no parto. Algumas empresas recolhem o sangue da placenta e, através de uma taxa, armazenam-no caso a criança venha a adoecer. Esta técnica prevê que as células estaminais recolhidas desta forma possam ser utilizadas para tratar problemas sanguíneos como, por exemplo, leucemia e algumas perturbações genéticas e imunitárias. No futuro, o sangue do cordão umbilical poderá vir a ser uma fonte de células estaminais para curar acidentes vasculares cerebrais, a diabetes, a doença de Parkinson e a distrofia muscular.

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