2009
Entrevista a Carlos Fernandes
André Quintas NÚCLEO DE ÁRBITROS FIGUEIRA DA FOZ 20-02-2009
Entrevista a Carlos Fernandes 20 de Fevereiro de 2009 André Quintas
Como e quando surgiu na arbitragem? Sou árbitro há 7 anos e tirei o Curso no início de 2002 nas instalações do Conselho de Arbitragem, na rua Ferreira Borges, em Coimbra. Como acontece com muitos colegas, comecei completamente por acaso. Alguém me disse que estava para abrir um curso, fui ver como era, gostei e ainda cá estou. Certamente, durante todos esses anos, já lhe aconteceram situações caricatas, conte-me uma positiva e uma negativa do qual se recorde. Positiva, sem dúvida, a minha subida ao terceiro escalão nacional na época passada. Foi sem dúvida um grande marco, pois tratou-se do alcançar de um objectivo delineado há muito tempo e para o qual trabalhei afincadamente. A negativa, o abandono de alguns colegas que me eram queridos, aos quais reconheço algumas competências, mas que pelos mais diversos motivos, tiveram de abandonar a actividade. Diga-me, na sua opinião, quais são as principais características que um árbitro deve ter para poder alcançar com sucesso os seus objectivos. Competência, isenção, seriedade, trabalho e, acima de tudo, espírito de sacrifício. Quais os sentimentos que passam pela cabeça de um árbitro ao saber que subiu do distrital para os quadros nacionais? Obviamente que o sentimento mais imediato é uma alegria imensa. Há ainda uma sensação de reconhecimento pelo trabalho desenvolvido e, de alguma forma, há também o
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abrir de novas responsabilidades.
perspectivas
e
um
acréscimo
de
O que está a achar desta experiência de estar no 3º escalão nacional? Estou a gostar bastante, está a ser extremamente enriquecedor e motivador. Espero poder continuar… Quais são as diferenças mais notórias entre arbitragem a nível distrital e a nível nacional?
a
O trabalho é desenvolvido de uma forma mais séria e mais metódica a todos os níveis. Ao nível dos clubes, há mais trabalho, mais rigor, melhor formação, maior experiência. Ao nível da nossa preparação para os jogos há muito mais trabalho, seja no treino, no estudo, na preparação de deslocações mais longas, etc. Financeiramente, é claro que também se é muito melhor remunerado. E se as condições materiais e motivacionais nos permitem desenvolver melhor o nosso trabalho, consequentemente tudo isso tenderá a colocar-nos num patamar superior em de actuação, mais compatível com o futebol praticado e a organização das equipas envolvidas. Sendo assim, existe mais pressão num árbitro do quadro nacional? Como é que encara essa situação? Não considero que exista maior pressão. A pressão dos jogos é exactamente a mesma porque se retirarmos a relatividade e as especificidades inerentes às diferenças entre os campeonatos nacionais e os campeonatos distritais, os objectivos acabam por ser exactamente os mesmos. Podem haver melhores instalações, melhor organização, mais público, mas no fundo a vontade de vencer jogos e competições é a mesma, a entrega é a mesma, o rigor que esperam de nós é o mesmo. Assim
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sendo, só posso continuar a ser sério com o meu trabalho e a encarar cada jogo com muita vontade e pouca pressão, independentemente da competição em que esteja inserido. Agora que o objectivo de estar no escalão nacional já foi atingido, quais são os objectivos que tem para esta época e para as épocas seguintes? Para esta época, essencialmente, o meu objectivo passa por consolidar a minha aprendizagem e a minha experiência no escalão onde estou. Para as épocas seguintes ainda é pouco cedo para avançar com perspectivas, porque é necessário aguardar para ver em que vai resultar a polémica reformulação dos quadros competitivos da Federação. Isso poderá significar uma grande redução do número de clubes e, por consequência, do número de árbitros. De qualquer modo, e independentemente do que possa acontecer, não escondo que gostaria de dar o salto para o escalão seguinte, ou seja, para a 2ª Categoria Nacional. Já fez bons amigos no seio da arbitragem, quer a nível distrital quer a nível nacional? Claro. A arbitragem, como qualquer outra actividade em que sejamos obrigados a relacionarmo-nos com outras pessoas, é um meio de excelência para se fazer amigos e para desenvolver relações interpessoais aos mais diversos níveis. Já fiz muitos e bons amigos no seio da arbitragem e certamente que farei muitos mais enquanto por cá andar. Anteriormente falou no “trabalho de casa” pode, sumariamente, caracterizar como faz esse trabalho de casa? Normalmente dou sempre uma vista de olhos pelas leis de jogo e pela regulamentação para me ir mantendo
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actualizado. Uma vez que por questões profissionais não consigo ir lá mais vezes, tento treinar pelo menos uma vez por semana no centro de estágios de Aveiro/Coimbra, para poder trabalhar sobre as ordens do Professor João Dias, pessoa extremamente competente nessa matéria. O resto da preparação física acabo por ter que a fazer sozinho. Em termos de preparação do jogo, logo que saia a nomeação tento fazer o estudo das equipas quanto às classificações, quanto a algum problema que possa surgir e que seja decorrente de situações anteriores que sejam do domínio público, bem como procuro também fazer uma análise e previsão da viagem, em conjunto com os colegas de equipa. Relativamente aos treinos caracterize-os sumariamente relativamente á periodicidade, ao local, com quem treina e se a sua equipa treina consigo. A parte do treino não é esquematizada ou desenvolvida da forma que seria desejável porque, quer eu quer os meus colegas de equipa temos as nossas obrigações profissionais. Nessa medida e como já referi, acabo por fazer parte do treino semanal sozinho e o outro treino, costumo ir ao centro de treinos de Aveiro/Coimbra. Temos excelentes condições para trabalhar e embora em termos de espaço físico tenham havido algumas variações de acordo com a disponibilidade dos estádios, em termos humanos, acabam por ser mais ou menos as mesmas pessoas que costumam aparecer. Isso acaba por ser extremamente motivador, porque permite trabalhar com os colegas desde a Liga ao distrital, o que permite que para além do treino se aprenda sempre mais alguma coisa, em resultado da troca de experiências, das dúvidas que surgem e até do simples diálogo informal. Em termos de trabalho de equipa, um dos meus árbitros assistentes costuma
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treinar assiduamente comigo, enquanto os outros têm um pouco mais de dificuldade em o fazer. Embora isso não substitua o trabalho de campo e o treino exaustivo, procuramos suprir um pouco essa lacuna aumentando o tempo que dedicamos à análise e desenvolvimento dos mecanismos de trabalho em equipa, sempre no sentido de melhorar a performance da mesma. Finalmente e sucintamente diga quais as diferenças mais notórias entre a arbitragem a nível distrital e a nível nacional? Qualidade, organização, competência de todos os agentes envolvidos e remuneração.