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INTRODUÇÃO
No mundo contemporâneo, dominado pela multiplicidade de informações, a mídia¹ tem um importante papel, o de divulgar as i n f o r m a ç õ e s at rav é s d o s diferentes meios de comunicação. Nesse contexto, destacam-se os meios de comunicação em massa, que proporcionam formas de alcançar o indivíduo através da produção e distribuição de informações ou entretenimento em larga escala, e é aí que se encaixam as histórias em quadrinhos² (Figura 1). Como meio de comunicação de Figura 1: Hq Krazy kat massas, observa-se que a história Fonte: A Katnip Kantata in the Key of K (1991). em quadrinhos é capaz de refletir gerações em sua íntegra, desde suas relações sociais, expectativas, visões de passado e futuro, anseios, etc, até sua arquitetura (Figura 2). A arquitetura, também é capaz, por si só, através das configurações e manipulação do espaço, de rememorar as mais variadas épocas e refletir as características de cada sociedade (Figura 3). Assim, já percebemos aqui o primeiro e principal ponto de contato entre essas duas formas de arte³: a maneira que ambas tratam a questão do espaço e do tempo. ¹Designa, de forma genérica, todos os veículos que são utilizados para a divulgação de conteúdos de publicidade e propaganda. O termo mídia também é utilizado no mesmo sentido de imprensa, grande imprensa, jornalismo, meio de comunicação, veículo (GUAZINA, 2004). ²No trabalho vamos adotar a forma “hq” para se referir as histórias em quadrinhos. ³Foi o italiano Ricciotto Canudo que elencou as manifestações artísticas, em 1911, através de uma lista indicativa com a relação da arte e de seu canal de manifestação. Inicialmente eram sete, hoje a lista abrange até a nona arte. Segue abaixo a lista de Riccioto com os devidos acréscimos: 1ª arte: Música (som) 2ª arte: Pintura (cor) 3ª arte: Escultura (volume) 4ª arte: Arquitetura (espaço e tempo) 5ª arte: Literatura (palavra) 6ª arte: Coreografia (movimento) 7ª arte: Cinema (integra os elementos das artes anteriores) 8ª arte: Fotografia 9ª arte: Arte seqüencial (quadrinhos)
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As figuras 2 e 3 mostram imagens que nos conduzem a outra época, ao período em que o neoclassicismo imperava, mostrando assim como quadrinhos e arquitetura possuem o potencial de refletir sociedades diversas.
Tanto a arquitetura, quanto os quadrinhos possuem uma g ra n d e n e c e ss i da d e da abordagem e uso da questão do tempo e espaço para serem desenvolvidas. O quadrinista Will Eisner já salientava a importância que esses dois elementos tinham para os quadrinhos, bem como para o homem:
Figura 2: Cidade européia em 1788 Fonte: Marie Tempête (1992).
Figura 3: Palácio Real de Madrid Fonte: Patrimonio Nacional, acessado em 01 jun. de 2008.
“O fenômeno da duração e da sua vivência – comumente designado como tempo (time) – é uma dimensão essencial da arte seqüencial. No universo da consciência humana, o tempo se combina com o espaço e o som numa composição de interdependência, na qual as concepções, ações, movimentos e deslocamentos possuem um significado e são medidos através da percepção que temos da relação entre eles.” (EISNER, 1989, p.25)
Em arquitetura essa relação não é diferente, pois toda a arquitetura é feita para o homem, e como este não é um ser estático, a variação de tempo/espaço interfere diretamente em sua criação e compreensão. Procuramos no trabalho, através dessa relação, explorar os pontos de contato existentes entre as duas artes e, para isso, fizemos uma extensa pesquisa bibliográfica, que se deu em duas frentes. A primeira se destinou a explorar livros e artigos que abordassem a questão do tempo e do espaço na arquitetura. Na segunda frente procurou-se material teórico que trabalhasse essas questões nas hq, bem como quadrinhos que representassem bem os conceitos de tempo-espaço. É interessante falar aqui que o trabalho se utilizou de um jogo de escalas na sua elaboração, indo da escala macro até a micro. Quando falamos em escala macro estamos nos referindo a quantidade de material analisada, cerca de 600 revistas em quadrinhos, onde a escolha procurou ser a mais diversa possível, trabalhando de histórias adultas a infantis, o gênero cômico, de aventura, romance, entre outros, hq americanas, brasileiras, européias, japonesas (Figuras 4, 5, 6 e 7)... Enfim, a variedade foi algo buscado, a fim de comprovar se a questão do espaço/tempo recebe um tratamento próximo em todas as hq, caracterizando assim esse trabalho como uma pesquisa quantitativa.
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Figura 5: Mangá de aventura Berserker Fonte: Berseker nº1 (1991).
Figura 4: Hq infantil cômica Cascão... Sem limites Fonte: Portal Turma da Monica, acessado em 01 jun. 2008.
Figura 7: Nyx hq sobre mutantes, norte-americana Fonte: Nyx nº01 (2003)..
A escala micro, ou seja, a pesquisa qualitativa, foi empregada ao elegermos alguns trechos e cenas de hq para serem analisados de maneira mais minuciosa e relacionados mais profundamente com o tema. Como também na medida em que formulamos conceitos para a análise e exploração das questões propostas.
Figura 6: Histoire d'O, hq européia erótica Fonte: Históire d'O (1975).
Durante a pesquisa produziu-se também um questionário, destinado aos roteiristas e desenhistas de quadrinhos, que teve o intuito de analisar a questão da arquitetura e do tempo/espaço nos quadrinhos a partir da ótica de quem produz as hq, constituindo-se também em um elemento de análise qualitativa. Esse questionário contribuiu para a melhor definição e direcionamento da pesquisa e pode ser encontrado na seção Anexo. De forma a cumprir com os objetivos supracitados estabelecidos e procurando a melhor organização da pesquisa, essa foi dividida nos seguintes capítulos: ·
Conceituando – aqui a proposta é definir os conceitos de arquitetura e de hq adotados nesse trabalho, conceitos esses que privilegiam as relações de tempo/espaço e permitem o relacionamento entre as duas artes;
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O que é Hq? – esse capítulo procura inteirar aquele leitor que desconhece o universo quadrinístico sobre a história, produção, composição e elementos da história em quadrinhos;
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Tempo e espaço – é onde abordamos as formas com que quadrinhos e arquitetura lidam com a questão do tempo e do espaço e assinalamos os seus pontos em comuns;
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Hq e os estilos arquitetônicos – nesse segmento passamos a uma análise mais visual de como o tempo e espaço marcam uma arquitetura e como isso aparece nos quadrinhos. É um capítulo mais prático, onde a ênfase da pesquisa é dada às cidades contemporâneas e no qual se procura fazer comparações entre cidades reais com as apresentadas nos quadrinhos.
Com isso trabalhamos a relação do tempo e espaço, buscando mais do que identificar as questões comuns entre arquitetura e quadrinhos, mas descobrir se essas semelhanças permitem às hq servirem como um bom referencial arquitetônico às futuras gerações.