Comunicado 265 Técnico
ISSN 0103-9458 Fevereiro, 2003 Porto Velho, RO
Níveis de Calagem na Formação de Pastagens de Brachiaria brizantha cv. Marandu 1
Newton de Lucena Costa 1 José Ribamar da Cruz Oliveira 3 Antônio N. A. Rodrigues 4 Valdinei Tadeu Paulino
Introdução Em Rondônia, a maioria dos solos apresenta baixa fertilidade natural, caracterizados por elevada acidez, baixa capacidade de troca catiônica e altos teores de alumínio trocável, limitando a produtividade e persistência das pastagens cultivadas, o que implica em fraco desempenho zootécnico dos rebanhos.
A utilização de gramíneas forrageiras que possuam baixos requerimentos nutricionais e que apresentem alta produtividade, persistência e valor nutritivo compatível com às exigências dos animais constitui uma alternativa prática e econômica para o melhoramento das pastagens da região (Gonçalves, 1985). Das gramíneas forrageiras introduzidas e avaliadas em Rondônia, destacou-se entre as mais promissoras a Brachiaria brizantha cv. Marandu, por sua excelente produtividade de forragem, seu bom valor nutritivo, sua tolerância ao fogo e à seca, além de sua resistência às cigarrinhas-das-pastagens (Deois incompleta e D. flavopicta), sendo, atualmente, a gramínea mais cultivada no Estado. Neste trabalho avaliou-se o efeito da calagem sobre a produção de forragem e composição química de B. brizantha cv. Marandu, nas condições edafoclimáticas de Ariquemes, Rondônia.
Material e Métodos O ensaio foi conduzido no Campo Experimental da Embrapa Rondônia, localizado em Ariquemes (190 m de altitude), durante o período de setembro de 1986 a outubro de 1988. O clima da região é tropical úmido 1
do tipo Aw, com precipitação anual em torno de 2.200 mm; temperatura média anual de 25,5ºC e umidade relativa do ar de 89%. O delineamento experimental foi em blocos casualizados com três repetições. Os tratamentos constaram de cinco doses de calcário dolomítico (0, 500, 1.000, 1.500 e 2.000 kg/ha - PRNT = 100%), aplicadas à lanço e incorporadas dois meses antes do plantio. A adubação de estabelecimento consistiu de 40 kg/ha de N (uréia), 50 kg/ha de P2O5 (superfosfato triplo), 40 kg/ha de K2O (cloreto de potássio) e 10 kg/ha de FTE BR-12. Durante o período experimental foram realizados três cortes a intervalos de 56 dias e a 30 cm acima do nível do solo. Os parâmetros avaliados foram rendimento de matéria seca (MS) e teores de proteína bruta (PB), fósforo, cálcio e magnésio. Foram ajustadas as equações de regressão para rendimento de MS (variável dependente) e níveis de calcário (variável independente)(equação 1) e para teores de cálcio e magnésio como variáveis dependentes dos níveis de calcário aplicados (equação 2). Através da equação 1 calculou-se a dose de calcário aplicada relativa a 90% do rendimento máximo de MS, sendo este valor substituído na equação 2 para determinação dos níveis críticos internos de cálcio e magnésio.
Resultados e Discussão O maior rendimento de MS foi obtido com a aplicação de 2000 kg e calcário/ha (9,49 t/ha), seguindo-se o obtido com 900 kg/ha de calcário
Eng. Agrôn., M.Sc., Embrapa Rondônia, Caixa Postal 406, CEP 78900-970, Porto Velho, Rondônia Eng. Agrôn., M.Sc., Embrapa Rondônia Eng. Agrôn., M.Sc., Escola Técnica Federal de Colorado do Oeste, Rondônia 3 Eng. Agrôn., Ph.D., Instituto de Zootecnia, Nova Odessa, São Paulo 2 3
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Níveis de Calagem na Formação de Pastagens de Brachiaria brizantha cv. Marandu (7,65 t/ha). Estas doses proporcionaram incrementos de 310 e 223%, respectivamente, em relação ao rendimento fornecido pela testemunha (Tabela 1). Os rendimentos de forragem ajustaram-se ao modelo quadrático de regressão, sendo a dose de máxima eficiência técnica (DMET) estimada em 1.830 kg/ha de calcário (Tabela 2). Resultados semelhantes foram relatados por Couto et al. (1988) para pastagens de A. gayanus cv. Planaltina estabelecidas em solos sob cerrados. No entanto, Salinas & Delgadillo (1980), na Colômbia, não detectaram efeitos significativos da calagem (0 a 6 t/ha) sobre a produção de forragem de A. gayanus. Segundo Veiga & Falesi (1986), os efeitos positivos da calagem, geralmente, ocorrem quando os teores de cálcio e magnésio no solo são muito baixos, a qual deve ser realizada apenas com a finalidade de suprir as deficiências das plantas nesses nutrientes. Os teores de proteína bruta foram diretamente proporcionais às doses de calcário aplicadas. A aplicação de 1.500 kg/ha resultou nos maiores teores de fósforo e cálcio, enquanto que para os de magnésio, os maiores valores foram obtidos com a aplicação de 1.000 e 1.500 kg/ha (Tabela 1). Com exceção dos teores de proteína bruta que responderam linearmente às doses de calcário, as demais variáveis ajustaram-se ao modelo quadrático de regressão, sendo as DMET estimadas em 676; 793 e 1.002 kg/ha de calcário, respectivamente para teores de fósforo, cálcio e magnésio (Tabela 2). Em geral, os percentuais registrados neste trabalho são semelhantes aos reportados por Jones (1979) para A. gayanus e por Paulino et al. (1994) para B. brizantha cv. Marandu cultivado em diferentes localidades da região amazônica. Os níveis críticos internos de Ca e Mg, determinados através da equação que relacionou a dose de calcário necessária para a obtenção de 90% da produção máxima de MS foram de 4,92 e 3,98 g/kg, respectivamente. Estes valores foram inferior e superior, respectivamente, aos reportados pelo Centro Internacional de Agricultura Tropical (1981) para B. brizantha (3,7 g/kg para cálcio e 2,4 g/kg para magnésio).
Conclusões 1. A calagem incrementou significativamente os rendimentos de MS, teores de fósforo, cálcio e magnésio e proteína bruta; 2. A dose de máxima eficiência técnica para a produção de forragem foi estimada em 1.830 kg/ha de calcário; 3. Os níveis críticos internos de cálcio e magnésio, relacionados com 90% do rendimento máximo de forragem, foram de 4,92 e 3,98 g/kg, respectivamente.
Referências Bibliográficas CENTRO INTERNACIONAL DE AGRICULTURA TROPICAL. Programa de pastos tropicales 1980. Cali, Colômbia: 1981, p.57-116. COUTO, W.; SANZONOWICZ, C.; LEITE, G.G. Adubação para o estabelecimento de pastagens consorciadas nos solos de cerrados. In: SIMPÓSIO SOBRE O CERRADO, 6., 1981. Brasília. Anais... Brasília: EMBRAPA-CPAC, 1988. p.61-78. FALADE, J.A. The effects of phosphorus on growth and mineral composition of five tropical grasses. East African Agriculture and Forestry Journal, v.40, n.4, p.342-350, 1975. GONÇALVES, C.A. Crescimento e composição química das gramíneas Brachiaria humidicola, Andropogon gayanus cv. Planatina e Setaria sphacelata cv. Nandi em Porto Velho-RO. Porto Velho: EMBRAPA-UEPAE Porto Velho, 1985. 28p. (Boletim de Pesquisa, 5). ITALIANO, E.C.; CANTO, A. do C.; TEIXEIRA, L.B.; MORAES, E. Calagem e níveis de fósforo na produção de gramíneas forrageiras em Manaus, AM. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 15., 1978, Belém. Anais... Belém: SBZ, 1978. p.339-340. PAULINO, V.T.; COSTA, N. deL.; LUCENA, M.A.C.; SCHAMMAS, E.A.; FERRARI JÚNIOR, E. Resposta de Brachiaria brizantha cv. Marandu a calagem e a fertilização fosfatada em um solo ácido. Pasturas Tropicales, Cali, v.16, n.2, p.34-40, 1994. JONES, C.A. The potential of Andropogon gayanus Kunth. in the oxisol and ultisol savannas of tropical America. Herbage Abstracts, v.49, n.1, p.1-8, 1979. SALINAS, J.G.; DELGADILLO, G. Respuesta diferencial de ocho gramíneas forrajeras a estrés de Al y P en un oxisol de Carimagua. In: CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE LA CIENCIA DEL SUELO, 7., 1989, Heredia, Costa Rica. Anais... Heredia: SLACS, 1989. p.1-19. VEIGA, J. B. da; FALESI, I.C. Recomendação e prática de adubação de pastagens cultivadas na Amazônia brasileira. In: SIMPÓSIO SOBRE CALAGEM E ADUBAÇÃO DE PASTAGENS, 1., 1985, Nova Odessa. Anais... Piracicaba: POTAFOS, 1985. p.257-282.
Níveis de Calagem na Formação de Pastagens de Brachiaria brizantha cv. Marandu
Tabela 1. Rendimento de matéria seca (MS), teores de proteína bruta, fósforo, cálcio e magnésio de B. brizantha cv. Marandu, em função da calagem. Calcário (kg/ha) 0 500 1000 1500 2000
MS (t/ha)1 2,31 e 3,97 d 5,81 c 7,65 b 9,49 a
Proteína Bruta % 8,13 d 8,48 cd 8,97 c 9,58 b 10,47 a
Fósforo Cálcio Magnésio ------------------------------ g/kg ------------------------------1,31 d 3,73 d 2,75 d 1,39 c 4,07 cd 3,90 bc 1,45 b 4,93 b 4,33 a 1,59 a 5,43 a 4,02 ab 1,40 bc 4,27 c 3,58 c
- Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si ( P > 0,05) pelo teste de Tukey 1. Totais de três cortes
Tabela 2. Modelos ajustados pela análise de regressão para produção de matéria seca, teores de proteína bruta, fósforo, cálcio e magnésio de B. brizantha cv. Marandu, em função da calagem. Variável Matéria Seca Teor de Fósforo Teor de proteína Bruta Teor de Cálcio Teor de Magnésio
Comunicado Técnico, 265
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO
Equação de Regressão Ajustada Y = 2,13 + 5,0633 x 10-3 P – 1,382 x 10-6 P2 (R2 = 0,94**) Y = 1,32 + 4,87 x 10-5 P - 3,6 x 10-9 P2 (R 2 = 0,91**) Y = 7,97 + 0,001156 PB (r2 = 0,89*) Y = 3,51 + 1,411 x 10-4 Ca – 8,9 x 10-8 Ca2 (R2 = 0,96**) Y = 2,91 + 2,204 x 10-4 Mg – 1,1 x 10-7 Mg2 (R2 = 0,87 **)
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Presidente: Newton de Lucena Costa Secretária: Marly Medeiros Normalização: Alexandre Marinho Membros: Claudio R. Townsend, Marilia Locatelli, Maria Geralda de Souza, José Nilton M. Costa, Júlio César F. Santos, Vanda Gorete Rodrigues, Supervisor Editorial: Newton de Lucena Costa Revisão de texto: Ademilde Andrade Costa Editoração Eletrônica: Marly Medeiros
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