Boletim Athanor 022 Dezembro 2007

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Dezembro de 2007

Ano 2

Nesta Edição: Editorial

País dos Antípodas pelo R∴H∴ Ulisses

Dicionário da Maçonaria

(16)

pelo R∴H∴ Jeremias Serapião

O Mistério da Forma

(10)

pelo R∴H∴ Joaquim Barão

Mitos Gregos: Hércules pelo R∴H∴ João Silas

A Santíssima Trinosofia

(12)

Conde de S. Germain

Efemérides Céltico-Romanas de Dezembro Colaboração do R∴Ir∴Fr∴ Incógnitus

O Simbolismo da Árvore de Natal Colaboração do R∴Ir∴Feliciano Alves

O Grande Arquitecto pelo I∴P∴Ir∴ Njörour P. Njardvik

A “Carta aos Amigos” (que não terá sido escrita por Gabriel Garcia Márquez)

Palavras Sábias de Mark Twain Recolha do R∴Ir∴ Teixeira Cabral

Athanor – Boletim Esotérico Mensal – Edição n.º 22 – Dezembro de 2007

Editorial

País dos antípodas Pelo R∴Ir∴ Ulisses

A vida de cada um de nós é vivida num labirinto individual. A cada esquina do labirinto existem portas que vão abrindo e fechando. Estas portas estão concebidas de modo a só funcionar uma vez. Isto obriga a que as decisões sejam rápidas: ou se decide seguir por aquele caminho, ou se recusa. Muitos caminhos são tentadores e conduzem a metas gratificantes, do ponto de vista material. Mas tudo na vida tem um preço, e a bemaventurança material, conseguida através de alguns destes caminhos, pode constituir, no nosso entender, o fracasso da Missão que o Cosmos nos confiou. Sabemos de casos assim, que muito nos entristecem e angustiam. Por isso, escolhemos o caminho que nos faz sentir honestos para com o mundo e para connosco próprios, valorizando a humildade e a boa-fé, e recusando os caminhos de glória que assentam na ligeireza habilidosa que a todos convence e de todos se serve, sem rumo ideológico nem meta espiritual. Para alguns filósofos, este é o mundo da ilusão e das aparências. Por isso, diz a sabedoria popular: “Mais vale parecer do que ser”. Mas diz também a mesma sabedoria: “Todo o burro come palha; o que é preciso é saber dar-lha”. E assim terminamos o Editorial de Dezembro, concluíndo com uma das frases mais citadas por um dos avatares cósmicos cujo nascimento é tradicionalmente festejado a 25 deste mês: “Quem tiver ouvidos, que ouça”.

A mim sacerdotes da manha! linhagem dos gazeteiros!

A mim profetisas e carpideiras de enredos tais que escutar-vos é crer-me a ganir convosco! a ganir! a ganir!

A mim país dos antípodas, onde as flores cheiram a caca e os pianos se tocam com os pés!

Quem vos disse que a palavra é inofensiva?

T T∴A A∴T T∴ Ah! lavadeiras da má língua!... esfregai... esfregai... Os artigos apresentados são da responsabilidade dos seus autores e poderão eventualmente, num ou noutro aspecto, não expressar os pontos de vista dos fundadores.

esfregai...

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Athanor – Boletim Esotérico Mensal – Edição n.º 22 – Dezembro de 2007

Dicionário da Maçonaria ((1166)) Pelo R∴Ir∴ Jeremias Serapião

D Demissão. Qualquer que seja a sua antiguidade ou o grau alcançado, um Franco–Maçom tem sempre a possibilidade de pedir a sua demissão. As razões pelas quais ele o pretende fazer podem ser diversas. Pode pretender desligar-se definitivamente da Franco-Maçonaria, ligar-se a outra Obediência ou pura e simplesmente mudar de Loja. Em todo o caso, o procedimento habitual consiste em informar oficialmente o Venerável e as instâncias superiores da Obediência através de uma carta de demissão. O Franco-Maçom que se demite deve regularizar a sua situação perante o Tesoureiro (cotização devida). Diferentes procedimentos permitem ou a interrupção definitiva das actividades ou a transferência para outras entidades (Obediência ou Loja). Note-se que um Franco-Maçom estando demitido pode sempre solicitar a sua reintegração junto da antiga Loja, mesmo que se tenham passado diversos anos entre a sua partida e o seu desejo de regresso. Com efeito, o princípio maçónico estabelece que quem recebe a Iniciação (a Luz) é sempre iniciado (iluminado) durante toda a sua vida. Pode, pois, retomar o seu antigo grau a qualquer momento. Dever. Refere-se à antiga tradição de companheirismo, que mais tarde deu origem à Maçonaria operativa, à qual sucedeu a Maçonaria especulativa moderna. O “dever” reagrupa todos os compromissos assumidos na Iniciação. Por extensão, fala-se de “deveres Maçónicos”, quando se evoca o juramento da Iniciação e a palavra dada aos Irmãos de agir, para e com eles, no sentido da fraternidade maçónica. Dimensões. Na linguagem maçónica, quando se fala de dimensões é necessário precisar a que nível se situa o discurso. Geralmente emprega-se a palavra “dimensão” segundo dois sentidos diferentes: ƒ Para fazer referência às dimensões do Templo maçónico, pelo que a resposta do Franco-Maçom deverá ser: “O seu comprimento vai do Oriente ao Ocidente, a sua largura do Meio-dia ao Setentrião, a sua altura do Zénite ao Nadir. O Templo é a imagem do cosmos e é essa a razão porque as suas dimensões não podem ser definidas; ƒ Para fazer analogicamente referência à “dimensão interior” do homem. É então em função disso – do Templo simbólico que deve construir dentro de si mesmo – que um indivíduo é julgado. Diploma. Tradicionalmente, documento atestando que um Franco-Maçom atingiu o grau de Mestre. Por analogia, dá-se o nome de “diploma” a certos documentos respeitantes à ascensão a um Alto Grau. Não sendo nossa intenção elaborar um dicionário extenso e completo, devido a razões de espaço e tempo, e face à periodicidade de publicação do Athanor, optámos por apresentar apenas as palavras de cada letra do alfabeto que nos pareceram mais aliciantes. Ainda assim, a listagem apresenta uma significativa extensão. 3

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O Mistério da Forma… … e da Energia ((1100)) Origem dos Corpos Inorgânicos e da Matéria Orgânica PPeelloo RR∴ ∴IIrr∴ ∴ JJooaaqquuiim m BBaarrããoo

1. Origem dos Corpos Inorgânicos O nosso planeta terá sido primeiro uma nebulosa. Ao desprender-se do Sol, ter-se-á concentrado em si mesmo, em virtude da lei da gravitação. Com a sua própria energia, a do Sol e a dos demais planetas, terá adquirido os movimentos que o animam. O conhecido duplo movimento da Terra, ao redor do seu eixo e em volta do Sol, contribuirá para o movimento que arrasta todo o sistema solar até certo ponto do espaço – aparentemente até à constelação de Hércules. No período inicial de condensação, a superfície da Terra, influenciada pelo Sol, terá sido palco de tempestades colossais, nas quais as matérias gasosas, incandescentes e pastosas terão sido projectadas a consideráveis alturas. Sucederão no Sol fenómenos semelhantes, que darão origem às chamadas “protuberâncias”. Tal actividade intensifica-se periodicamente, sendo perceptíveis manchas maiores. Estas ocorrências, segundo alguns, influenciarão fenómenos telúricos, sísmicos e até patológicos e sociais. Alguns dos efeitos destas tempestades terão sido: diminuir a velocidade de rotação da Terra, dissipar a sua energia interna e acentuar a condensação da sua crosta. Com o tempo, ter-se-ão tornado permanentes as deformações produzidas, o que poderá ser explicação para a conformação actual do nosso planeta, com as suas montanhas, vales, lagos e mares.

Sem dúvida, subsiste ainda a energia interna – a que determina sempre, nas partes mais débeis da crosta terrestre, erupções e outros fenómenos sísmicos. A favor do aludido processo, ao que há a adicionar a influência das tempestades solares e lunares, e todas as acções físicas, mecânicas, térmicas e químicas do meio e da atmosfera, foram-se criando os diversos corpos minerais que podemos observar. Se a estas influências associamos as energias eléctricas e magnéticas, muito mais intensas nos períodos primitivos, compreender-se-ão os obstáculos com que se deparam os que se ocupam da criação artificial (ou transmutação) dos minerais, cristais e metais que encontramos na Terra, cuja lenta elaboração é o resultado de incontáveis idades. As rochas vulcânicas, os gases e os líquidos (em especial a água), que se terão condensado e recoberto a Terra, terão sido a causa da desagregação de diversas substâncias, por força da elevada temperatura e da pressão atmosférica existentes. Estas, reagindo umas com as outras, em combinação com os diversos gases e com a água, terão formado as capas sedimentares. Modificações desta natureza ter-se-ão produzindo continuamente, ainda que em condições diferentes, determinadas pelas alterações verificadas na velocidade de rotação, atmosfera, temperatura e grau de condensação da crosta terrestre. A influência do calor interno continua determinando fenómenos modificadores das capas superiores e presidindo à formação de 4

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novos metais, petróleo e outros minerais. Também as erupções vulcânicas, erosões e outros fenómenos telúricos produzem efeitos nas alterações da superfície. Depois desta sintética exposição, podemos formular uma conclusão interessante: a vida universal manifesta-se por duas correntes opostas, provindo uma das forças cósmicas, dos astros, do sol, da luz, da atmosfera e outros elementos que determinam a modificação dos corpos, e, por outro lado, da força de coesão dos átomos e dos próprios corpos, caracterizados pelas suas propriedades químicas, densidade e forma específicas. O choque entre estas duas correntes determina os fenómenos de agregação e desagregação que caracterizam os corpos inorgânicos do reino mineral.

Mitos Gregos

(2)

Pelo R∴Ir∴ João Silas

HÉRCULES

2. Origem da Matéria Orgânica Numerosos sinais indicam que a vida orgânica se iniciou no mar, numa época em que as águas recobriam totalmente a Terra. As condições especiais criadas pela acção conjunta dos elementos químicos, do calor e da luz, filtrada através das águas, deram lugar à formação de uma substância coloidal chamada «protoplasma», na qual desempenham um papel preponderante o carbono e o azoto. O carbono, o hidrogénio e o oxigénio encontravam-se combinados com os minerais, mas é sem dúvida a intervenção do azoto1 que determinou a faculdade característica do protoplasma de assimilar elementos do mundo exterior. A certa altura, estas mesmas condições terão dado origem à célula viva, constituída ao princípio por uma massa informe de substância protoplásmica, chamada «monera», que representa a vida orgânica na sua forma mais rudimentar. Deste organismo elementar ter-se-ão diferenciado células com núcleo, parecidas às chamadas «amibas», das que derivaram os organismos unicelulares actuais – os protozoários –, constituídos de uma só célula (vegetal, animal ou não diferenciada).

O nome de Hércules está associado à força, ao heroísmo e à sumptuosidade. Este semi-deus tornou-se um símbolo, já que se tornou célebre em todos os cantos do mundo conhecido da época, representando tudo o que é sobre-humano e grandioso. Não houve façanha que não tivesse sido alcançada por Hércules. Os problemas que ocorriam nas sociedades da Grécia inteira, e mesmo para além dela, só podiam ser resolvidos por um único homem e esse homem era Hércules. Ele combateu bandidos, monstros, batalhões, deuses, elementos da natureza, doenças e mesmo a morte e saiu sempre vencedor. O célebre herói que era dotado de qualidades sobrenaturais, mas também de fraquezas

1

Hoje predomina no ar, mas na época do aparecimento da vida orgânica devia encontrar-se em dissolução na água, em maior proporção que agora, por causa da maior pressão atmosférica.

2

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Adaptação do livro Mitologia Grega de Sophia Souli.

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A Santíssima Trinosofia

humanas, pertencia à geração das Pérsides. Nasceu em Tebas da união de Anfitrião com Alclema, mas o seu verdadeiro pai era Zeus que, aproveitando-se da ausência de Anfitrião tomou a sua aparência e dormiu com Alclema. Hércules não nasceu só, já que a acompanhálo veio o seu irmão gémeo Ificles, verdadeiro filho de Anfitrião pois que a sua concepção teve lugar na noite seguinte após o regresso do seu pai. A deusa Hera não tardou a manifestar os seus ciúmes assim que se apercebeu da origem divina de Hércules. Uma noite, assim que Alclema deitou os gémeos, enviou para o berço duas gigantescas serpentes que se enrolaram em torno das crianças. Enquanto Ificles começou a chorar, Hércules sem se deixar invadir pelo medo agarrou uma serpente em cada mão e estrangulou-as. Durante a adolescência este semi-deus era forte, turbulento, desobediente e tinha um crescimento fora do normal. Com a idade de dezoito anos realizou a sua primeira façanha ao matar o leão de Cíteron, que era de tal modo selvagem que provocava danos consideráveis entre os rebanhos de Anfitrião e de Téspio, um rei vizinho de Tebas, sem que ninguém o pudesse impedir. Naquela época, enquanto este grande e belo adolescente se passeava, viu o caminho que percorria dividir-se em dois. A primeira estrada era larga e bela mas estreitava-se ao fundo. À entrada desta estrada encontrava-se uma bela mulher vistosamente vestida. O outro caminho era estreito, cheio de dificuldades, mas ao longe alargava-se e estava coberto de flores. À sua entrada estava uma mulher doce e ponderada, vestida de modo simples e distinto. - Quem és tu?, perguntou Hércules. - Vem comigo, diz-lhe a primeira, e far-te-ei feliz. Meu nome é Cacia (Maldade). - Segue-me, diz-lhe a segunda. Ganharás a estima, o respeito e o amor dos homens. Chamo-me Areti. Depois de ter reflectido, Hércules decidiu seguir Areti.

(Autoria atribuída ao Conde S.Germain)

SECÇÃO XII (última) A sala onde entrei era rigorosamente esférica, assemelhando-se ao interior de uma bola. Compunha-se de uma matéria dura e diáfana como cristal e a luz do dia entrava por todos os lados. A parte inferior estava pousada sob areia vermelha, numa grande bandeja. Neste recinto circular reinava um calor doce e homogéneo. Os sábios dão a esta sala o nome de Zelûph (?).

A bandeja de areia, que a sustenta, tem o nome de Asha hôlith (fogo de areia).

Enquanto apreciava, extasiado, este globo de cristal um novo fenómeno excitou a minha admiração: do chão da sala elevou-se um vapor doce e húmido, açafranado. Por ele fui envolvido e elevado docemente no ar, por forma a que, ao cabo de trinta e seis dias, cheguei à parte superior do globo. Depois, o vapor enfraqueceu e fui descendo, lentamente, até que me reencontrei sobre o chão. A minha roupa mudou de cor. Ela era verde quando 6

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entrei na sala, mas agora estava com um tom vermelho gritante. Por outro lado, a areia onde o globo repousava deixou de ser de cor vermelha e tornou-se gradualmente negra. Depois do fim da minha ascensão, ainda permaneci três dias nesta sala. Passado este tempo, saí, indo então parar a uma grande praça, envolta em colunas e pórticos dourados. No meio da praça havia um pedestal de bronze. O pedestal sustentava um casal. Havia ali a imagem de um homem grande e forte, em cuja cabeça majestosa existia um elmo coroado. Através das malhas da sua armadura de ouro, saía uma vestimenta azul. Uma das suas mãos segurava um bastão branco coberto de caracteres e a outra estava estendida a uma bela mulher. O corpo desta não estava coberto por nenhuma roupa, mas sobre o seu peito brilhava um sol; a sua mão direita segurava três globos, unidos por anéis de ouro, e sobre os cabelos tinha uma coroa de flores vermelhas. Ela lançava-se aos ares e parecia elevar consigo o guerreiro que a acompanhava. Os dois estavam sobre nuvens. Ao redor deles, sobre os capitéis de quatro colunas de mármore branco, estavam dispostas quatro estátuas de bronze. Estas estátuas tinham asas e pareciam tocar trombeta. Depois de atravessar a praça, subi por uma escadaria de mármore, que se encontrava à minha frente, e vi com espanto que entrava na sala dos tronos (a primeira onde estive quando cheguei ao palácio da sabedoria). O altar triangular ainda estava no meio da sala, mas o pássaro, o altar e o drio estavam unidos e formavam um só corpo. Perto deles estava pousado um sol de ouro. A espada que eu havia trazido da sala do fogo, repousava a alguns passos de lá, sobre o assento de um dos tronos. Peguei a espada e feri o sol, reduzindo-o a pó. Depois, toquei no pó, e cada molécula tornou-se um sol de ouro, semelhante ao que eu havia destruído. “A obra está perfeita”, exclamou, no mesmo instante, uma voz forte e melodiosa. A esse grito, os filhos da luz apressaram-se a vir juntar-se a mim. As portas da imortalidade foram-me abertas e a nuvem que cobre os olhos dos mortais dissipou-se. EU VI, e os espíritos que comandam os elementos reconheceram-me por seu mestre.

Efemérides Céltico-Romanas de Dezembro

Recolha do R∴Ir∴Fr∴ Incógnitus (Fontes: “Lealdade Sacra”; António Grilo, sacerdote da Nova Roma, e outras)

Dezembro é consagrado a Vesta, Deusa da Chama Sacra do Lar e do Estado. É a Divindade da pureza, do rigor, da disciplina, da lealdade e da constância. Na antiga Roma, tinha em Sua honra um corpo de sacerdotisas inteiramente dedicadas ao Seu culto e à manutenção da chama da cidade de Roma. Saudemos pois o Fogo Sagrado da Pátria – grande solenidade de raiz solar –, celebrado nesta época natalícia (Solstício de Inverno), pelo que se juntam a influência da Chama e do Astro de Fogo Celeste, que ilumina, guia, protege e faz prosperar. É uma interessante coincidência que o dia da Restauração da Independência Nacional seja precisamente o primeiro do mês dedicado à Deusa do Fogo Sagrado da Pátria. 7

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1

O dia 1 de Dezembro era consagrado a: ƒ Pietas, Deusa que consiste na força divina da piedade, tal como era concebida em tempos antigos: respeito aos Deuses e aos homens da cidade; zelo pelos deveres patrióticos. ƒ Neptuno, Deus do Mar, ao qual se dedicou um templo, em 721 A.U.C. (32 a.e.c.). Neptuno tem como atributos simbólicos o golfinho, o tridente e a cornucópia, indicando um antigo aspecto fertilizador que o Deus teria. O Seu nome parece estar ligado, linguisticamente, ao Indo-Iraniano Apam Napat - «Senhor das Águas» -, bem como ao Irlandês Necthan, herói possuidor de um poço, do qual só os seus amigos podem beber, ficando cego todo e qualquer outro indivíduo que daí bebesse. ƒ Salácia, Deusa ligada à água salgada e ao culto de Neptuno, sendo por vezes considerada como Sua esposa. Salácia - cuja etimologia indica um significado associado ao acto de saltar, pular, aludindo ao movimento das águas do mar, bem como dos rios - estaria particularmente associada às águas salgadas. A localidade de Alcácer do Sal3 tinha o nome romano de Salácia.

ƒ Vénus e Cupido, duas Deidades do amor erótico.

3

O dia 3 de Dezembro é marcado pela celebração da Bona Dea, a Boa Deusa, também conhecida como Fauna. Realizava-se em Roma um rito secreto na casa do cônsul que oficiava cerimónias religiosas, ou de um pretor. Os homens eram excluídos e as matronas eram acompanhadas pelas Vestais. A celebração, entre o privado e o público, não estava no calendário. De privado, tinha o facto de não se realizar no templo da Deusa, de não contar com a presença dos pontífices e de não ser paga pelo Estado (não era «publico sumptu»). De público, tinha a comparência das vestais, a dedicação ao Povo Romano («Pro Populo Romano») e a realização na casa de um cônsul ou de um pretor urbanus. A presença de homens não era permitida - a festividade era exclusivamente feminina.

3

Há uma lenda popular, narrada pelo Dr. Rocha Martins em 1935: “Na verdade, ao que parece, Alcácer do Sal foi fundada pelos lusitanos no ano Vlll de César, isto é trinta anos antes de Cristo. Que conta a história? Bogud, califa africano, invadiu a Lusitânia, pondo as povoações a ferro e fogo. Havia na região de Alcácer um tempo dedicado à deusa Salácia (um dos nomes da deusa Diana), que foi profanado pelos africanos. Quando estes se faziam ao mar, porém, um grande temporal destruiu as embarcações, perecendo no naufrágio a maioria dos invasores, e perdendo-se as riquezas roubadas. Os lusitanos viram no acontecimento um milagre da deusa, e fundaram uma vila a que deram o nome de Salácia. Há também uma corrente de opinião para quem o nome de Salácia se referia, não à deusa, mas à abundância de sal existente na região." (http://s2.excoboard.com/exco/thread.php?forumid=64665&threadid=1741791). 8

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Plutarco4 comparou alguns dos ritos nocturnos da Bona Dea com os dos órficos (e Cícero até se lhes refere como «Mysteria», isto é, ritos iniciáticos). Sabe-se que uma serpente sagrada aparecia junto de Bona Dea5, que os tabernáculos eram cobertos com folhas de videira, que as representações de animais do sexo masculino eram cobertas com véus6 e que a imagem de genitais masculinos era proibida. Todos estes aspectos parecem ser comuns a esta celebração e à das Bacanais gregas em honra de Baco ou Diónisos. No entanto, ao contrário da Bacanália, a festa de Bona Dea7 não parece ter tido um aspecto orgiástico. Sacrificava-se um porco8, e procedia-se seguidamente a um banquete. Durante o ritual, expunham-se os «symbola» e uma oferta de vinho referida como leite com mel. As mulheres dançavam ao som de harpas e de flautas. Talvez o mirto fosse também um elemento do ritual, mas é de duvidar, uma vez que, segundo Plutarco, o mirto tinha sido excluído do uso nos rituais caseiros porque, sendo consagrado a Vénus, podia conduzir à «impureza sexual»; e, de acordo com Macróbio, o seu uso fora igualmente banido do templo de Bona Dea. O ritual pode ter incluído a presença do pontifex maximus trajado como uma Vestal (como em 25 de Agosto), e, talvez, o seu espancamento. O aniversário do templo de Bona Dea era uma celebração pública realizada no Primeiro de Maio. È também o dia das Calendas do mês de Dezembro. As Calendas são consagradas a Juno. O dia 3 de Dezembro é também consagrado a Ceres, Deusa da Fertilidade da Terra e do Crescimento.

5

Dia 5 de Dezembro é o das nonas do mês. As nonas de cada mês são consagradas a Juno Covella, que é Juno enquanto lhe é associada a lua nova, anunciada (“calantur”9) pelo Rex Sacrorum, nos degraus do Capitólio, momento em que o referido sacerdote anunciava ao povo que dias do mês seriam sagrados. Nesta ocasião, a Regina Sacrorum (esposa do Rex Sacrorum) realizava um sacrifício em honra da Deusa, enquanto o Rex Sacrorum (que permanecia nos degraus do Capitólio) anunciava ao povo que dias do mês seriam sagrados.

4

Em Vidas Paralelas, Caesar, 9, 6. Referido por Plutarco em Vidas Paralelas, César, 5. 6 Séneca, Cartas a Lucílio, 97, 2. 7 À qual Cícero chamou «incredibilis cerimonia». 8 Tal como nos rituais a Divindades ctónicas como Ceres e Tellus. 9 Virá daí o Português «cantar»? 5

9

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Este dia é ainda consagrado a Faunus, razão pela qual era também conhecido como Faunália. A Faunália era especialmente celebrada nas áreas rústicas, sendo um festejo da natureza e dos animais. O povo realizava este festival com danças feitas de um modo triplo, sendo essa mesma dança feita pelos sacerdotes Sálios, consagrados a Marte. Faunus, mitologicamente filho de Saturno, é adorado como Deus dos Campos e dos Rebanhos, e tem um carácter profético. Conta uma lenda que foi a Sua voz que interveio favoravelmente aos Romanos quando estes enfrentavam os Celtas, na Itália...

8

O dia 8 de Dezembro é marcado por celebrações em honra de Tiberinus (O Deus do rio Tibre, em Roma, uma das raízes de Portugal) e de Gaia, A Deusa da Terra.

9

O dia 9 de Dezembro é consagrado a OPS, Deusa Romana da Colheita e da Abundância, esposa de Saturno. É um dia marcado por especiais observâncias religiosas. O Rex Sacrorum oferecia aos Deuses o sacrifício de um animal não submetido por jugo. O dia é também consagrado a Janus, Deus dos Inícios. Não é demais lembrar que Janus é o Porteiro do Céu, o guardião dos portais. É representado com duas faces, olhando em direcções opostas, simbolizando com isso o passado e o futuro, e porque qualquer porta ou passagem dá para dois lados. Havendo vários templos de Janus em Roma, os portais dos Seus principais templos estavam abertos em tempo de guerra e fechados (mas não trancados) em tempo de paz. O dia de hoje é na tradição romana chamado de Septimonium, porque marcado pela celebração das sete colinas de Roma, assinalando a incorporação da sétima colina, a Collina, como parte da cidade de Roma. Um dos elementos da celebração é a realização de corridas de carros. É curioso que Lisboa seja também a cidade das sete colinas. Tal semelhança pode consistir numa descendência cultural localizada ao nível das elites – uma semelhança que se estabeleceu porque a elite portuguesa, de cultura latina, (tal como outras elites europeias) assim deliberou conscientemente, ou, quem sabe, numa tradição étnica que passou de Roma a um dos seus descendentes (pelo menos, parcialmente), que é Portugal. Neste dia, em 361 e.c. (era comum ou cristã), ou 1114 A.U.C. (Ab Urbe Condita, ou Desde a Fundação da Cidade de Roma [753 a.c.]), ou, se se quiser, 399 da era de César (datação que vigorou nos documentos régios portugueses até ao reinado de D. João II), o Imperador Juliano declarou a tolerância religiosa e a restauração dos cultos pagãos, iniciando assim um curto período de florescimento pagão e diversidade religiosa. Os cristãos tinha imposto a sua religião em todo o Império, alicerçados no poder político de Constantino, e Juliano, enquanto teve de dividir o Império com o seu primo, Constâncio, ocultou a sua preferência pelo Paganismo. 10

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Em 360 e.c., os Gauleses e Germanos do exército romano na Gália, incitaram-no à revolta e ergueram-no (tinham-no em grande consideração) contra Constâncio, que mandava na parte oriental do Império. Assim que se tornou no único Imperador de Roma, proclamou a restauração da religião ancestral. Juliano morreu em combate no ano de 363, contra os Persas. Pensam uns que terá sido atingido por um dardo persa; acreditam outros que quem o assassinou foi um dos cristãos do seu próprio exército, pois que nem todos os soldados romanos eram pagãos. Juliano marchou contra a corrente. Num mundo progressivamente dominado pelo credo do crucificado, ele ousou restaurar os cultos antigos; homem de grande cultura, recebeu na sua infância os ensinamentos, quer dos cristãos, quer dos pagãos, e sempre preferiu estes últimos. Numa época em que a moda era a cara rapada, Juliano usava barba, à maneira dos antigos filósofos, como o imperador Marco Aurélio... Juliano situava-se, filosoficamente, num âmbito neo-platónico, com influências do estoicismo. Após a sua morte, os cristãos retornaram ao poder, e a força da cruz oriental só voltou a ser abalada em 394, pela revolta de Arbogast, general de origem franca que levou Eugenius ao poder, tendo ambos tentado uma restauração pagã.

11

O dia 11 de Dezembro é consagrado a Bruma, Deusa do Inverno. Por ocasião da celebração da Septimontia – o flâmine palatualis, ou de Palatua10 – não era permitido que circulassem na cidade carros puxados por bestas de carga. Este Deus, ligado aos cavalos, era celebrado por uma parada de cavaleiros cujos cavalos eram adornados com flores e eram guiados por um «Rex Equus».

12

Dia 12 de Dezembro é consagrado a Consus, celebrado, desta feita, no monte Aventino, um dos sete tradicionais de Roma.

13

O dia 13 é o do Idus, que é consagrado a Júpiter, bem como da celebração que é devida a Tellus, Deusa da Fertilidade da Terra, por quem são produzidas as plantas poderosas para os encantamentos (o termo céltico «tellamh», que designa «terra»,

deve ter a ver com este nome divino, uma vez que Celtas e Latinos estão na raiz muito próximos uns dos outros), e para o banquete – Lectisternium – em honra de Ceres, Deusa da Fertilidade Agrícola, no templo de Tellus.

10

Deusa dos Rebanhos, uma das mais antigas Divindades romanas de cujo nome deriva o termo «palácio», e que guarda o monte Palatino, raiz de Roma, que é uma das principais ancestrais de Portugal. 11

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15

O dia 15 de Dezembro é marcado pela Consuália, celebração em honra de Consus (que fora consagrado no dia 12), o Deus do Armazenamento e dos grãos guardados em silos. Alguns, consideram-no também como Deidade ligada ao tempo, chegando mesmo a dizê-lo Pai do Tempo, cuja saída se comemora com a chegada do novo ano. Segundo alguns, Consus seria o Deus do Tempo, por vezes personificado como Pai do Tempo, cuja saída é identificada com o fim do ano e o começo do ano seguinte. Neste dia, o templo de Consus era aberto à adoração pública. Em honra da Divindade, realizavam-se corridas de cavalos e de mulas no Circus Maximus. Como parte da cerimónia, o Rex Sacrorum, no seu traje completo, dirigia o seu cavalo puxado por carros, dando uma volta ao Circus. Este dia marca o início da época da serenidade, constituída pelos sete dias que antecedem o Solstício de Inverno e pelos sete dias que o sucedem.

17

Há quem afirme que o dia 17 de Dezembro e seguintes era conhecido como Angeronália, isto é, consagrado a Angerona, a Quem se oferecia um sacrifício na Acculeian Curia. Angerona é uma antiga Deusa protectora de Roma. Representada com a boca fechada e um dedo sobre os lábios, com que impondo silêncio.11 Este silêncio seria uma forma de conjurar os malefícios e sofrimentos, o que deu origem a trocadilhos de cunho popular tais como «quod angores atque sollicitudines animorum porpitiata depellat»12 e, também, «quod P.R. morbo, qui angina dicitur, praemisso voto, sit liberatus»13, num contexto em que se considera o verbo «angere» como origem do termo «angina», ao mesmo tempo em que significa «oprimir, apertar, atormentar»14. É também o início da Saturnália, ou celebração em honra de Saturno, O Deus da Semente e da Idade de Ouro, celebração esta que é marcada pelas boas relações entre as pessoas, pela convivência pacífica, harmoniosa, igualitária, e pela abundância. A Saturnalia é um festejo evocativo da plenitude: da perfeita e mítica Idade de Ouro, na qual todos os homens eram felizes, pacíficos e iguais, vivendo na abundância. É uma das celebrações mais festivas e desinibidas da Romanidade. Dura sete dias e inclui o Solstício de Inverno. Na Roma antiga, era ocasião em que os templos organizavam festins, abertos ao público, incluindo os pobres e os sem-abrigo. Senhores e escravos eram, temporariamente, dados como iguais. As regras eram anuladas. Fechavam-se as escolas. Reinava a bondade humana e suspendia-se a guerra e a punição dos criminosos. Praticava-se a troca de presentes: strenae, que eram ramos aos quais se atavam bolos, trocados entre visitantes e convidados.

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Plínio diz (3.64): «ore obligato obsignatoque simulacrum habet», ou «a Sua estátua representava-a com a boca fechadas e os lábios comprimidos». 12 «para que, propícia, afaste as angústias e preocupações das almas». 13 «para que o Povo Romano, feito um voto, seja libertado da doença que se denomina ». 14 «Dicionário Mítico-Etimológico - Mitologia e Religião Romana», de Junito Brandão. 12

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Outros dos presentes frequentemente trocados eram velas de cera (cerei)15, que se davam aos amigos, e sigillaria16. Originalmente, era um dia de festa pela comemoração de um templo dedicado a Saturno, no Monte Capitolino, fundado em 497 a.c., ou 256 AUC. Em 217 a.c., ou 436 AUC, o festival foi reorganizado e expandido17. Este dia, o melhor de todos18, era celebrado por um sacrifício público realizado no templo de Saturno, seguido por uma festa pública, tendo o convivium começado a ser realizado em 436 AUC. Os foliões deixavam o convívio gritando «Io Saturnália». Saturno relaciona-se com a semente e da semeadura, e, por extensão, ao sémen, derivando o Seu nome, provavelmente, de «Satus» («brotado de» ou «semeado»). A Sua celebração ocorria no final da última semeadura do ano. A Sua esposa é OPS19, o recurso alimentar do qual os Romanos usufruíam após a colheita do Verão. Macróbio afirma que, originalmente (antes do calendário juliano), a Saturnália e a Opália eram celebradas no mesmo dia20. O templo de Saturno continha o tesouro do Estado («Aerarium Saturni») e a estátua do Deus, que era recoberta de óleo, o que seria eventualmente uma técnica de preservação. Esta estátua era envolvida com laços de lã, que eram desfeitos no dia do Seu festival21. A Saturnália era iniciada neste templo com um grande sacrifício, no qual os senadores e os cavaleiros usavam as togas. Os sacrifícios a Saturno eram realizados sob o «Graeco Ritu», isto é, de acordo com o Rito Grego, ou seja, com a cabeça descoberta («capite aperto»)22. Tal facto pode derivar da identificação de Saturno com o grego Cronos, Rei da Idade do Ouro, que é um aspecto de Saturno especialmente importante durante a Saturnália, por motivo óbvio, como a seguir se verá. Depois do sacrifício, realizava-se um banquete23, ao qual toda a gente podia ir e que parece ter sido estabelecido em 217 b.c. ou 433 a.u.c.24. Neste dia, usavam-se roupas menos formais («synthesis») e capas leves («pilei»). 15

Isto de acordo com Estácio, em «Silvae», 1.6.98 seg.. Bonecas de argila ou barro, especialmente apreciadas pelas crianças. 17 Como se lê na «Saturnália» 1.10.3, de Macróbio, citando Nonius: «olim exspectata veniunt septem Saturnalia». 18 Optimus dierum, de acordo com Catulo, «Carmina» 14:15. 19 A Opália tem lugar a 19 de Dezembro. 20 «Saturnália», 1.10.18. 21 Macróbio diz que isto simboliza a semente que tinha estado nas entranhas e que brota no décimo mês, que era Dezembro, como o próprio nome do mês indica, isto no antigo calendário, no qual o primeiro mês do ano era Março («Saturnália», 1.8.5). 22 Segundo o que diz Plutarco em «Questões Romanas», 11. 23 «convivium publicum», ou «convivium dissolutum». Lívio diz que se realiza nesta ocasião um «lectisternium», ou seja, um banquete oferecido aos Deuses em certas cerimónias solenes ou em sinal de reconhecimento, em que as estátuas dos Deuses são colocadas em leitos junto das mesas. 24 Segundo Macróbio, «Saturnália», 1.10.18; e também segundo Tito Lívio, «Ab Urbe Condita», ou «Desde a Fundação da Cidade» 22.1.19. 16

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As pessoas enchiam as ruas gritando «Io Saturnalia!». A alegria reinava; encerravam-se lojas, tribunais, escolas, e os aedis permitiam a jogatina em público. Nas casas com servos, os donos tratavam-nos como iguais25. No seio da família, juntamente com os escravos, escolhia-se um rei momo («Saturnalicius Princeps»). Catão26 recomendava que se concedesse aos subordinados uma ração adicional de 3+1/2 de vinho («vinum familiae»). ORAÇÃO SOLAR (da antiga Roma, desta Época do ano)

Esplendor Imagem do Brilho Imortal Perene para além das Trevas Roda de Fogo sempre constante Iluminador do Ar e da Terra Está vivo Aquele que é Invicto Mesmo que Pareça a quem não vê muito Que morre todos os dias E, no entanto, Passando pelos mais profundos antros da escuridão total, Ele nunca deixa de Ser quem É O Pai da Vida, guia do Dia, Tutor do Espírito Força radiosa da Glória Celestial Avê SOL

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O segundo dia da Saturnália era celebrado com sacrifícios e festas. Os senhores davam-se com os escravos, em homenagem à memória da Idade de Ouro, quando todos os homens eram iguais.

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O dia 19 de Dezembro é consagrado a: ƒ Iuventas, a Juventude, ligada a Júpiter, guardiã, como o próprio nome indica, da juventude e das forças vitais da Nação; ƒ OPS, Deusa da Fertilidade e da Abundância. O Seu nome liga-se a «Opulência». Esta celebração integra-se naturalmente no âmbito da Saturnália, que é a grande celebração da época. É considerada por alguns como equivalente a Cybele e a Rhea, Esposa de Cronus, Mãe de Zeus; os Seus sacerdotes eram os Coribantes. Neste terceiro dia da Saturnália visitava-se a família e os amigos, para trocar presentes (velas e imagens dos Deuses).

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Na religião nórdica, o dia vinte de Dezembro marca o início do período perigoso em que Odin lidera a atroadora e aterradora Cavalgada Selvagem pelos ares da noite tempestuosa, acompanhado pelas Suas Valquírias e pelos fantasmas dos guerreiros mortos em combate. A partir deste dia, as pessoas deixavam a mesa posta depois de comerem, para o caso de Odin resolver aparecer de noite e poder deste modo servir-se Estará porventura nisto a origem da tradição de deixar a mesa posta na noite de Natal...

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Citado por Macróbio em «Saturnália», 1.7.36. Em «De Agricultura», 57. 14

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Na religião romana, o dia 21 de Dezembro é marcado pela Divália, celebração em honra de Dia, Deusa venerada pelos Arvais, espécie de sacerdotes, e também pela adoração a Angerona (ambas celebradas no altar da Deusa Volusia. Angerona, antiga Deidade benévola, era representada com a boca fechada, lábios comprimidos, e um dedo atravessando os lábios, impondo silêncio. Este silêncio era interpretado como um afastamento dos malefícios e dos sofrimentos, que podem ser trazidos por palavras perigosas. O facto da Sua festa acontecer a 21 de Dezembro pode indicar a Sua relação com o Sol. Nesta data havia também um sacrifício público, oferecido na Cúria Acculeia, à Deusa que protegia Roma e cujo nome era mantido secreto. Mais tarde, ficou conhecida como Tacita, a Deusa que mantém o silêncio para que não se fale erradamente. Macrobius parece tê-la identificado com Volúpia.

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O dia 22 de Dezembro é consagrado aos Lares Permarinis, que são os “Lares” - espíritos tutelares - guardiões das viagens marítimas.

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No dia 23, o flâmine de Quirino27 realizava o ritual da parentatio em honra de Acca Larentia28; os pontífices (sacerdotes de culto geral), realizavam sacrifícios aos Manes Serviles, na tumba de Acca, no Velabrum, sito na Nova Via, fora da Porta Romanula. Este é um dia de especial observância religiosa, e por isso permitiase um afrouxamento da moral sexual (acto sagrado). Esta celebração acontecia, a princípio, no dia 22, tendo sido adiada um dia por se considerar a data anterior como nefasta. Pensa-se que Acca Larentia foi originalmente uma Deusa da cidade de Larentium, a qual foi absorvida pelos Romanos. Para além da Laurentália, outras festividades se celebravam e outros Deuses eram consagrados neste dia, como sejam: ƒ Hércules, semi-deus, filho de Júpiter/Zeus, o mais forte dos homens e considerado, em Roma, como guardião dos limites; ƒ Brumália (em épocas ainda mais recuadas). Era a festividade da celebração em honra de Bruma, Deusa do Inverno. Ocorria no sopé do monte Palatino, entre o Circo Máximo e o rio Tibre. O dia da Brumália era considerado o mais curto do ano. ƒ Tempestas, Nume da tempestade, que se revelou aos Romanos quando os auxiliou numa batalha naval contra os Cartagineses, ajudando a devastar a frota semita norte-africana.

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Sacerdote dedicado ao culto de Quirino. É a Larentália, a celebração em honra de Acca Larentia, também chamada Lupa, devido à sua moralidade libertina (Lupa é Loba, termo com o qual se designavam mulheres de hábitos sexuais licenciosos).

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ƒ Junoni Reginae, ou Juno Rainha. Juno é a Rainha do Céu, guardiã dos casamentos e protectora das mulheres; ƒ Júpiter, Deus do Céu e do Trovão, Patrono dos Juramentos; ƒ Diana, Deusa do Bosque. O Seu nome deriva, provavelmente, da raiz latina para designar «Luz». É uma das maiores Deusas itálicas, e o Seu culto era muito praticado na Ibéria. Segundo um dos textos da Crónica Geral de Espanha, Diana deu o nome à Lusitânia, que seria, assim, a Terra dos Caçadores (ou algo parecido).

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É o momento do grande retorno da luz: do poder solar. As festas em sua honra são ao mesmo tempo uma homenagem e um chamamento, para que o Sol volte para as vidas dos homens, vivificando-as, fortalecendo-as, afortunando-as, por assim dizer. É uma celebração de esplendor, de excelência, de abundância, de comunhão familiar também, porquanto se trata aqui de uma vivificação da estirpe e dos poderes da vida. Continuava a comemorar-se as Saturnais.

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O dia 25 de Dezembro é a data da celebração do Natalis Solis Invictus, isto é, do Nascimento do Sol Invencível. O Nascimento do Sol Invencível é o momento em que o SOL inicia a Sua ascensão triunfante, representando, neste fase, a Luz que nunca morre e vence sempre. A celebração do Sol Invencível foi estabelecida em 274 e.c., pelo imperador Aureliano, depois do seu triunfo no oriente, e incluía corridas de cavalos - trinta bigas - em honra do Sol. Este Sol Invicto, Luz que nunca morre e vence sempre, é pois um reflexo da Eternidade. Festeja-se também neste dia o aniversário de Mitra, o Deus Ariano da Luz. Esta comemoração era muito importante na Índia e no Irão. Passou ao Ocidente através dos soldados das legiões imperiais romanas, que a divulgaram extraordinariamente por toda a Europa romanizada, da Itália até à Britânia29, passando pela Ibéria30. Trata-Se de uma Divindade luminosa, masculina, de aparência fortemente apolínia, tão relacionada com o Sol que alguns pensaram tratar-se do mesmo Deus. Traz ao homem uma ética de severidade, rigor e coragem, razão pela qual foi tão adorado pelos militares romanos. Estas celebrações também ocorreram na Babilónia, onde o mesmo Deus era designado por Tamuz.

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Alguns colocam mesmo a hipótese de o lendário Rei Artur ter sido um cultuador de Mitra. Há o que se pensa ser restos de um local de culto mitraico - Mithreum - na ilha de Tróia, de Setúbal, estando pelo menos uma parte, senão a totalidade deste achado na exposição “Deuses da Lusitânia”, no Museu Nacional de Arqueologia.

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Origem da Árvore de Natal Recolha do R∴Ir∴Feliciano Alves

O GRANDE ARQUITECTO

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I∴P∴Ir∴ Njörour P. Njardvik

A “New Encyclopœdia Britannica” diz: “O Culto às Árvores, acto comum entre os europeus pagãos, sobreviveu à sua conversão ao cristianismo, havendo o costume escandinavo de decorar a casa e o celeiro com «sempre-verdes» no Ano-Novo, para afugentar o diabo, e armar uma árvore para os pássaros durante a época do Natal.” Na Inglaterra, o Príncipe Alberto (um alemão) e a sua esposa, a Rainha Vitória, popularizaram a árvore de Natal por usarem uma árvore na celebração do Natal de 1841. Logo, a Weihnachtsbaum alemã tornou-se popular entre os britânicos. Posteriormente dois clérigos anglicanos sugeriram o uso duma árvore de Natal e dum presépio na Catedral de S. Paulo, em Londres. Houve oposição, mas o Rei Jorge V presenteou a Catedral com duas árvores, e desde então o presépio e as árvores têm feito parte do ornamento de Dezembro daquela e de outras igrejas protestantes. A árvore de Natal não tem a ver com a celebração cristã, mas sim com a sobrevivência dos rituais pagãos de luz e renascimento de Inverno, como bem refere o “The Boston Herald”. E a “Church Christmas Tab.” diz que “Árvores com adornos pendurados faziam parte das festividades pagãs desde há séculos.” A primeira referência à árvore de Natal, conforme a conhecemos, proveio de Estrasburgo, Alemanha, em 1531. Os colonos alemães levaram depois o costume para a América do Norte, onde foi embelezado e popularizado. A primeira árvore de Natal iluminada surgiu em 1882, na cidade de Nova Iorque, na casa de Edward Johnson, um associado, de Tomás Edison (inventor da lâmpada eléctrica]. A árvore de Natal tem as suas raízes no paganismo. A obra “The Twelve Days of Christmas”, página 33, diz: “O uso do abeto (Tannenbaum) parece ter origem nas celebrações do solstício de Inverno, das tribos pagãs germânicas da Floresta Negra”, e a obra “The Two Babylons”, de Alexander Hislop, aponta para a Roma pagã e a antiga Babilónia, a origem desta tradição.

(Gr∴M∴ da Or∴Maç∴ "Le Droit Humaín”) P∴ de Arq∴ Apresentada na A∴R∴L∴S∴ “Le passeurs de Gué Nº. 1669” Or∴de Lyon, em 02.Set.2002 “A sabedoria está ligada à apreensão intelectual das coisas eternas; o conhecimento à apreensão racional das coisas temporais¨ Santo Agostinho (354-430) Começo com a citação de Santo Agostinho, porque ela contém integralmente a questão maçónica quanto à verdade, que requer tanto conhecimento quanto sabedoria, e lida com as coisas tanto temporais quanto eternas. A palavra chave é apreensão, a necessidade e a boa vontade para a compreensão. Pode-se encontrar aqui a base para a tendência lamentável à divisão, no seio da nossa Ordem; a tendência de privilegiar um aspecto da procura pela verdade, e mais ou menos ignorar o outro. Esta infeliz divisão ocorre entre aqueles que, numa grande generalização, são chamados crentes ou não-crentes, ou, se se preferir, numa generalização ainda maior, divisão entre religião e ateísmo. Como todos os membros sabem – assim espero –, as nossas lojas são livres para trabalhar “À Glória do Grande Arquitecto do Universo e/ou à perfeição da humanidade”. O Supremo Conselho, órgão dirigente da nossa Ordem, ao qual "é confiada a conservação dos princípios da Ordem" (Constituição Internacional art. 15), usa os dois termos na cerimónia de consagração ao 33° grau. Parece que algumas Lojas, que escolheram trabalhar apenas “à perfeição da humanidade”, o fazem por ter a noção de que o termo “Grande Arquitecto do Universo” está directamente relacionado com Deus e, por inerência, indica uma tendência religiosa, a qual não estão prontos para aceitar. É claro que têm todo o direito a isso, mas deveriam ser mais tolerantes em relação àqueles que pensam de maneira diferente. A mesma atitude se aplica aos que escolheram trabalhar “À Glória do Grande Arquitecto do Universo”. Ficamos por vezes com a noção de que na

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Adaptado do texto do Ir∴ Paulo Silva, publicado no grupo “Maçonaria Brasil” em 23-Dez-2007. 17

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Devido a toda esta antiga história, devemos interrogar-nos sobre o que hoje significa, para nós, o trabalho na Loja e o esforço para viver o espírito maçónico e os seus ideais. “Le Droit Humain” não é nem pró nem contra a religião. Temos rituais onde não há menção ao Grande Arquitecto do Universo, e temos rituais onde não apenas aparece esse termo, mas também a palavra Deus. Ao mesmo tempo, o ritual diz que na Loja tudo é simbólico. Isto significa que a palavra "Deus" também pode ser considerada um símbolo, e, consequentemente, está sujeita à livre interpretação. Para mim, pessoalmente, ser maçom requer ter uma mente aberta. A nossa Constituição Internacional estipula que o nosso propósito é buscar a Verdade – Verdade com letra maiúscula –, que entendo como a verdade em si mesma, a verdade suprema. Também é uma declaração que indica que ainda não a encontrámos. Eu não sou religioso e não acredito em nenhuma organização religiosa. Porém, interesso-me pelas religiões (insisto na forma plural). Não creio que as religiões possam aproximar-me da Verdade que procuro, mas creio que as religiões me podem dizer muito sobre o pensamento humano, tanto como o homem tem tentado compreender o que talvez não possa ser compreendido, quanto como os ideais sagrados foram desviados para controlar o pensamento e o comportamento humanos. O escritor grego Nicos Kazantzakis escreveu no seu célebre romance “Zorba, o Grego”: “Nas religiões que perderam a sua centelha criativa, os deuses tornaram-se nada mais do que motivos poéticos ou ornamentos para decorar a solidão humana – e as suas paredes”. Nesta ordem de ideias, o conceito de Deus tem pouco significado para muitos dos que evocam o seu nome. Isto hoje é percebido pelo público em geral, que já não está particularmente preocupado com a religião. Por isso, não há razão para ficarmos tão assustados com a palavra Deus. No entanto, uma religião organizada (com a excepção, talvez, do Budismo), a meu ver, tem dois problemas, que de certa forma, são apenas um e o mesmo. Numa organização religiosa tudo está decidido, até certo ponto,

maçonaria não há espaço para os não-crentes, mas é facto sabido que há obediências maçónicas que praticam esta tolerância. Sabemos que a Franco-Maçonaria nasceu da tradição judaico-cristã da Europa Ocidental, e que numerosos símbolos maçónicos estão directamente relacionados com várias partes da Bíblia, particularmente o Antigo Testamento. Também sabemos que, originalmente, o termo “Grande Arquitecto do Universo” se refere a Deus. Então, por que não usar simplesmente a palavra Deus? Há mais do que uma razão para isso. Temos uma ilustração, na Bíblia de 1250, que mostra Deus como um homem a segurar um compasso. Há também a célebre pintura de William Blake com o mesmo motivo. Isto não indica necessariamente um arquitecto, podendo significar um geómetra. A geometria tem um papel importante no simbolismo maçónico, originado talvez da antiga crença de que os símbolos geométricos têm efeitos mágicos. A geometria é também a base da arquitectura, e todos nós já percebemos que a beleza das proporções harmónicas e perfeitas pode ser quase hipnótica. Há uma antiga crença de que tais proporções podem invocar a presença de Deus. Durante séculos, o pensamento liberal encontrou refúgio nas Lojas Maçónicas, contra a tirania da doutrina imposta. A ideia era unir homens de tendências diferentes num fórum de diálogo e compreensão mútua. Com o termo “Grande Arquitecto”, o conceito de Deus foi prontamente retirado do contexto de uma religião dogmática e deixado à interpretação individual, o que, de certa maneira, foi uma iniciativa extraordinária, revolucionária até, para o pensamento geral da época. O abandono à crença obrigatória em Deus na Maçonaria não foi avante até à convenção do "Grande Oriente de França", em 1877, o que, como é bem sabido, causou grande tumulto no mundo maçónico. É interessante notar que atrás dessa proposta estava o irmão Frédéric Desmons, que era pastor protestante, e, pela esmagadora votação nesta mudança, os irmãos acreditaram que estavam retomando ao espírito liberal da Constituição de Anderson (a original de 1723), antes de ser modificada em 1738. 18

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pedra por alguma razão. A pedra não pára no vidro, mas atravessa para dentro do quarto. Dentro do quarto, bate nalguma coisa, talvez numa pessoa. Há uma determinada reacção por parte da pessoa atingida (se for o caso), a qual pode afectar outra pessoa…, e assim por diante. Este é o significado fundamental da palavra karma, a lei de causa e efeito. O conceito de determinismo relaciona-se com a Lei da Relação Causal. Segundo ele, uma situação que ocorra no mundo, num dado instante, é suficiente para originar consequências num instante futuro; é o mesmo que dizer que tudo o que acontece no universo, no futuro, está determinado pelo momento presente. De acordo com a Lei da Mecânica de Newton, a posição e a velocidade dos planetas no sistema solar, num dado momento, pode determinar os seus movimentos no futuro. Isto quer dizer que todos os eventos estão presos a uma matriz de causa e efeito. Ilya Prigogine, no seu livro: "The Rediscovery of Time" (A Redescoberta do Tempo), diz que “sendo assim, Deus fica reduzido a um arquivista que vira as páginas de um livro já escrito, da história cósmica”. Diante de tudo isto uma questão se levanta: a questão da origem do universo. A doutrina judaico-cristã conta-nos que o universo tem uma origem, um começo, e foi criado por um Deus personificado e eterno, que está totalmente separado e independente de sua criação. Assim, ele fica fora do tempo e fora da matéria, e mantém e sustenta a criação continuamente. Aos olhos de Deus não há distinção entre a criação e a preservação. Este é um Deus activo que se ocupa directamente da marcha do mundo. Isto é chamado teísmo. Em muitas mitologias, o caos é criado do caos primordial (cosmos significa literalmente “ordem” e “beleza”), o que quer dizer que a matéria precede e é ordenada por um acto criador sobrenatural. Isto assemelha-se à doutrina Gnóstica Cristã, que considera a matéria impura. O conceito deísta, ao contrário do teísmo, vê um criador que começa o universo, mas que não toma parte nos seus problemas subsequentes. De certa forma, o símbolo maçónico do Grande Arquitecto do

tanto na definição de Deus e no modo de o servir, como nas regras de comportamento humano. De certa forma, o tempo e a evolução ficam estáticos. Devo concordar com Jiddu Krisnamurti quando diz que: “A religião é o pensamento congelado dos homens, e por isso eles constroem templos. (Observer, 22 de Abril de 1928)”. Também concordo com ele quando declara que: “A verdade é um reino sem caminhos, e não se pode aproximar dele por nenhum caminho; por nenhuma religião, por nenhuma seita". Discurso feito na Holanda, a 03 de Agosto de 1929. Agora, lembremo-nos, como maçons de mentes abertas que somos, que o conceito de Deus, ou, se desejarem, de um tipo de criador, é uma coisa, e religião é outra coisa. Uma religião organizada não começa com o conceito de Deus, mas quando define Deus, fá-lo pela criação de um credo - ou dogmas. Então, por um momento, consideremos alguns aspectos da concepção de Deus. Tomo a liberdade para fazer uma livre referência ao livro “Mind of God” (O espírito de Deus) de Paul Davis, professor de física e matemática da Universidade de Adelaide, Austrália, que, em minha opinião, escreveu sobre a matéria com mais sensibilidade do que a maioria dos escritores contemporâneos. Ele afirma, no seu prefácio, que não é adepto de nenhuma religião tradicional, mas nega que o universo advenha de um mero acidente sem nenhum propósito. Com uma espantosa simplicidade ele mostra que deve haver uma explicação profunda. E conclui dizendo: “Se alguém quiser dar nome a este nível mais profundo de Deus, isso será uma questão de gosto e definição”. Falamos do universo e de nosso mundo como se ele fosse racional, querendo dizer que ele tem ordem, que não é um Caos, e que é regido por leis. Algumas delas já conhecemos, outras ainda não compreendemos. No entanto, algumas pessoas dizem-se sabedoras de todas as respostas. Uma das leis tem o nome de "Lei da Relação Causal". O vidro de uma janela parte-se porque atiram uma pedra. Alguém agarrou na 19

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Universo pode ser considerado como tendo uma característica deísta, uma vez que o arquitecto planeia, mas não constrói. Um criador deísta deixa a sua própria criação construir-se e desenvolver-se por si mesma. Para mim, isto é uma analogia com o nosso simbolismo da pedra, que cortamos, polimos e esculpimos. Assim, somos ao mesmo tempo os construtores e o material da construção, erguendo o Templo da Humanidade, planeado por um arquitecto desconhecido de nós. Temos ainda a concepção panteísta, que não faz separação entre Deus e o Universo Físico. Isto equivale a dizer que Deus está identificado com a natureza, que tudo é parte de Deus e Deus é parte de tudo. Numa etapa posterior está o paneteísmo, que vê tudo como parte de Deus, e usa a metáfora de que o universo é o corpo de Deus e o espírito de Deus a sua essência. Passamos assim do conceito de um Deus personificado para um que é percebido de forma mística. Indica uma ligação entre todas as coisas e requer uma viagem interior, através de emoções e pensamentos, para o lugar tranquilo onde se possa encontrar o centro mais profundo da própria existência, e assim, contactar com a essência da vida. Em tal estágio, a questão de Deus toma-se irrelevante, e, como sabemos, numa religião como o Budismo não há necessidade de uma concepção de Deus. Finalmente, há cientistas que propuseram a teoria de um Deus que evolui dentro do universo, onde: “. . . a vida inteligente torna-se gradualmente mais evoluída, e espalha-se através do cosmos, ganhando controlo cada vez maior e em maiores proporções, até que a manipulação da matéria e da energia seja tão perfeita que esta inteligência seja indistinta da própria natureza” “The Mind of God” Espero que agora pareça evidente que uma pessoa com a mente aberta não tira conclusões simplicistas quando ouve ou lê a palavra Deus. Deus não é uma propriedade da Igreja Católica Romana nem de qualquer outra instituição. Ninguém tem o direito de definir DEUS e ninguém sabe se existe tal fenómeno. Não pode ser afirmada a existência de Deus, como também não pode ser afirmada a sua não

existência. Pode-se escolher acreditar, ou não. Mas o que nós acreditamos é totalmente irrelevante. Somente é relevante aquilo que é. Como não sabemos o que realmente é, a nossa procura pela verdade continua. Mas não deixemos que os nossos preconceitos limitem as possibilidades da busca. Temos espaço para ambos, para os que crêem e para os que não crêem. Na língua inglesa há uma distinção entre crença e fé. E de acordo com o teólogo alemão Paul Tillich: “A fé é um modo de ser que concerne apenas ao próprio”. Isto é o que realmente importa na FrancoMaçonaria: ser concernente apenas ao próprio; manter-se atento e alerta, para poder continuar a questionar. Pessoalmente, a questão fundamental não é realmente sobre Deus, apesar de o ter exposto assim, ou, pelo menos, não é sobre um Deus personificado. A palavra Deus não me ofende de modo algum. A questão deve relacionar-se com a energia, energia como a essência da matéria. O filósofo grego Heráclito disse (num dos seus Fragmentos que foram conservados): “Todas as coisas se transformam em fogo, e o fogo, exaurido, retorna sobre todas as coisas”. E Einstein concordou. Para ele tudo se transforma num fluxo de energia, em relatividade. Foi-nos dito que o universo começou com a Grande Explosão (Big Bang). Mas nunca foi explicado de onde veio a energia aplicada para gerar esta gigantesca explosão. A grande pergunta deve ser acerca desta poderosa fonte de energia. Termino estas reflexões citando a frase de conclusão do livro “Uma Breve História do Tempo”, do famoso astrónomo Stephen Hawking: “Se descobrirmos a teoria inteira, o seu grande princípio deve ser entendido por todos nós, e não apenas por uns poucos cientistas. Então devemos todos, filósofos, cientistas e pessoas comuns, ser capazes de tomar parte na discussão: Porque existimos? Porque existe o universo? Se encontrarmos a resposta para estas perguntas, teremos o grande triunfo da razão humana – e então iremos verdadeiramente conhecer o espírito de Deus”. ____________________________________________ 20

Athanor – Boletim Esotérico Mensal – Edição n.º 22 – Dezembro de 2007

A “ C A R T A A O S A M I G O S ” 32 ( q u e N Ã O T E R Á S I D O E S C R I T A p o r G. G, Márquez)

Se por um instante Deus se esquecesse de que sou uma marionete de trapo e me presenteasse um fragmento de vida, possivelmente não diria tudo o que penso, mas em definitivo pensaria tudo o que digo. Daria valor às coisas, não pelo que valem, senão pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, entendo que por cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os demais se detêm; despertaria quando os demais dormem. Escutaria quando os demais falam, e como desfrutaria um bom sorvete de chocolate! Se Deus me obsequiasse um fragmento de vida, vestiria simples, atirar-me-ia de bruços ao sol, deixando descoberto, não somente o meu corpo senão a minha alma. Deus meu, se eu tivesse um coração, escreveria o meu ódio sobre o gelo; esperaria que saísse o sol. Pintaria um sonho de Van Gogh sobre as estrelas e um poema de Benedetti, e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à lua. Regaria com as minhas lágrimas as rosas, para sentir a dor dos seus espinhos, e o encarnado beijo das suas pétalas... Deus meu, se eu tivesse um fragmento de vida... Não deixaria passar um só dia sem dizer às pessoas que quero, que as quero. Convenceria cada mulher ou homem de que são meus favoritos, e viveria enamorado do amor.

Aos homens provaria quão equivocados estão ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de se apaixonar! À criança daria asas; porém, deixá-la-ia aprender a voar sozinha. Aos velhos ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas com o esquecimento. Tantas coisas tenho aprendido com vocês, os homens... Tenho aprendido que todo o mundo quer viver no topo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a escarpa. Tenho aprendido que quando um recémnascido aperta pela primeira vez o dedo do pai, com o seu pequeno punho, o tem apanhado para sempre. Tenho aprendido que um homem só tem o direito de olhar outro com o olhar baixo quando deve ajudá-lo a levantar-se. São muitas as coisas que tenho podido aprender com vocês; porém, na realidade, de muito não irão servir, porque quando me guardarem dentro dessa mala, infelizmente estarei morrendo.

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A autoria deste texto foi atribuída a Gabriel García Márquez. Foi considerado como uma "carta de despedida" e justificado com a alegação de que o autor se havia retirado da vida pública e estaria prestes a falecer de cancro. Contudo, esclarece Orlando Maretti: "Gabriel García Márquez, ou Gabo, para os amigos, ... não apenas negou, pela imprensa, que estivesse em estado terminal, como também espinafrou a pieguice do texto e do seu autor, identificando-o como um sub literato latinoamericano. Em recente entrevista ao jornal espanhol El País, o escritor colombiano lamenta a repercussão do texto." Orlando Maretti acrescenta: "...a primeira pista para duvidar da autoria é a insistência na citação vocativa de Deus. Pelo que se sabe, García Márquez é um escritor de esquerda, simpatizante do marxismo, amigo de Fidel Castro, militante de causas sociais. Enfim, um humanista engajado, mas nem de longe o seu perfil lembra um religioso." 21

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PPaallaavvrraass SSáábbiiaass ddee Mark Twain Recolha do R∴Ir∴Teixeira Cabral

"Nunca deixes que os que sonham te façam mudar." "A verdade é o mais valioso que temos. Economizemo-la." "Para Adão, o paraíso era onde estava Eva." "Deixar de fumar é fácil. Eu já o deixei umas cem vezes." "Não te queixes do mundo; estava aqui antes de ti." "Um homem não pode sentir-se bem sem a sua própria aprovação." "A raça humana tem uma arma verdadeiramente eficaz: o riso." "O homem é uma invenção; o tempo demonstrará se valeu a pena." "É melhor ter a boca fechada e parecer estúpido, do que abri-la e dissipar a dúvida." "Para tirar o maior partido de uma alegria há que ter com quem a repartir." "Há duas ocasiões em que o homem não devia jogar: quando não tem dinheiro e quando o tem." "A mim não me importa a que raça pertence: se é branco, negro ou amarelo. É um homem, e não pode haver nada pior." "Ninguém se liberta de um hábito ou de um vício atirando-o de uma vez pela janela; há que atirá-lo pela escada, de pontapé a pontapé." "Todo o homem é como a Lua: tem um lado negro que não mostra a ninguém." "Um homem com uma ideia nova é um louco até que a ideia triunfe." "Aos generosos dá felicidade ver os outros felizes; os avaros não procedem assim, porque podem conseguir uma felicidade mil vezes maior não o fazendo. Não existe outra razão." "Quando eu tinha catorze anos, o meu pai era tão ignorante que eu não o podia suportar. Mas quando completei os vinte e um, pareceu-me incrível o quanto o meu pai aprendeu em sete anos." "Cada vez que nos encontremos do lado da maioria, é altura de fazer uma pausa e reflectir." "Cumpramos a tarefa de viver de tal modo que quando morramos, até o da funerário o sinta." "Por que nos alegramos nas bodas e choramos nos funerais? Porque não somos a pessoa envolvida." "O banqueiro é um senhor que nos empresta o chapéu-de-chuva quando faz sol e o exige quando começa a chover." "A melhor forma de te alegrares é tentar alegrar alguém." "Recolhes um cão que anda morto de fome, cuidas dele e não te morderá. Essa é a diferença mais notável entre um cão e um homem." "Há três classes de mentiras: as coisas incorrectas, as mentiras declaradas e as estatísticas." "O homem é a criatura que Deus fez no final de uma semana de trabalho, quando já estava cansado."

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Os Números Já Publicados Estão Disponíveis Em:

http://www.esnips.com/web/Athanor “ A V erdade E terna, que C risto P regou,

F ugiu E spavorida dos E splêndidos P aços E piscopais, para se A ninhar S ob as M odestas A bóbadas dos T emplos M açónicos” (Citação extraída do Boletim Oficial do GOLU, n.º 2, 3.ª Série, p. 32) 23

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