PREFÁCIO
“As Ribombuchas do Monsieur Paulin”, é um “ensaio” de Teatro onde o autor “SABÁ” mostra claramente que: nem mesmo as constantes troca de farpas, são capazes de abalar o forte laço de amizade, o carinho, o respeito, o companheirismo e a reciprocidade entre aqueles que são muitas vezes discriminados. E mostra também que eles encaram tudo com muito humor e retribui a discriminação demonstrando muita competência em suas atividades profissionais e pessoais, dedicação, carinho e respeito pelas pessoas que de seus serviços se utilizam. E mais: o autor deixa bem claro que o preconceito e o racismo se dá muito mais devido ao comportamento das pessoas do que propriamente pela cor, raça, ou! ou!. Pois todos aqueles que se dão ao respeito e respeitam, são (quase sempre), respeitados ou pelo menos tem o direito de existir: “RESPEITO”. Heloisa N. P. N. Crespo Professora Junho de 2005
...divirtam-se com...as Ribombuchas do Monsieur Paulin.
As Ribombuchas do Monsieur Paulin
AS RIBOMBUCHAS DO MONSIEUR PAULIN Começo de outono, brisa suave, clima gostoso à noite. E localizado nas proximidades do centro da cidade, em um apartamento pequeno, porém, razoavelmente grande para o numero de pessoas que nele habitavam: Um homem de aproximadamente cinqüenta anos e um outro na faixa de trinta e cinco a quarenta. Ambos aparentemente e notoriamente afeminados, porém, muito discretos, educados, extrovertidos, ótimos vizinhos, bons companheiros no trabalho onde eram profissionais de nível elevado, e bastante conceituados e sempre trabalharam no serviço público, onde tinham todo o respeito e admiração dos companheiros de trabalho e também do público com os quais tinham contatos diretos. No trabalho, embora não conseguissem esconder os seus trejeitos, vestiam-se normalmente, camisas, gravatas, sapatos lustrados, etc. O que era exigência e regra do serviço público e eles seguiam a risca, como todo bom funcionário. A noite, porém, após terem cumprido com seus deveres de cidadãos e trabalhadores, eles faziam “como se diz na gíria”...(soltavam a franga...). Mas tudo dentro dos limites toleráveis e aceitáveis, nada que pudessem denegrí-los na conduta. O mais velho, cujo nome: -Jairônes (Jajá), “para os mais íntimos”. -E o mais novo Lucienildo (Lulu) Os dois viviam juntos há muitos anos (não maritalmente) claro! Mas dividiam tudo, partilhavam tudo inclusive suas tristezas, segredos, frustrações, decepções, dores, alegrias. Aliás, muita alegria, já que eram muito extrovertidos, de bem com a vida e com as pessoas, não passavam um só dia sem se trocarem farpas, e críticas, um ao outro, mas, 3
o companheirismo, a amizade, o respeito e a solidariedade entre eles era tão grande, que levavam as farpas e as críticas na brincadeira e jamais se ofendia um com o outro. E sempre que um ficava doente e não ia trabalhar (o que era muito raro), o outro também não ia, ficando em casa, para cuidá-lo, uma prova de que “o laço de amizade pode tornar as pessoas muito mais familiar e muito mais recíprocas do que o laço de sangue. As vezes é muito mais fácil encontrar um irmão entre os amigos do que encontrar um amigo entre os irmãos”. E foi exatamente este comportamento anormal e curioso de duas pessoas do mesmo sexo que levou alguém a bisbilhotar dias e dias naquele apartamento, a vida e o comportamento de todos que ali entravam e saiam. O nome do bisbilhoteiro? -Monsieur Paulin (Polan) um francês diretor de teatro. E tudo começou exatamente por volta das dezoito horas, num começo de outono, de brisa calma, clima ameno e gostoso. Como acontecia quase todos os dias (metodicamente). Chegaram juntos do trabalho e ao entrarem em casa:.. -Lar doce lar! Disse Lulu jogando em cima de um sofá sua blusa e a bolsa tira-colo. Jajá - Você tem toda razão! Lar doce lar! Nosso pequeno paraíso. E dizendo estas palavras eles livravam-se da gravata e dos sapatos. Mas... agora vá tomar o seu banho logo porque você está uma urubunda - disse Jajá. Lulu – Urubunda não meu filho, primeiro porque sou muito macho, e segundo, porque estou sempre muito cheirozinho. 4
Jajá – Bem, primeiro: o gambá também se acha cheirozinho e chega até atrair parceiras com seu “delicioso” odor. E quanto a você dizer que é muito macho, eu diria que pronunciou a palavra de modo errado, porque na verdade você é muito mucho. E agora vá depressa tomar banho pra eu tomar o meu também e vamos preparar alguma coisa pra comer porque, euzinho aqui estou com muita fome. Lulu – Está bem, já estou indo mas, o que vamos fazer pra jantar? Porque ontem a sugestão foi minha e hoje é sua. Jajá – Bem, eu estou pensando em fazer arroz, uma sala dinha de legumes e testículos de boi com bastante cebola. Lulu – Credo, como você não tem criatividade, não usa a imaginação. Você não serve pra ser um mestre cuca e eu não agüento mais ver testículos na minha frente. Jajá – Olhe aqui ô... santa! Se você não agüenta mais ver testículos na sua frente, o que sugere então? Lulu – Bem,eu... eu... eu... sou mais assim... um salsichão com maionese. Jajá – Áh, ta vendo só! Salsichão de novo, viu como você só pensa nisso? E além do mais, você sabe muito bem que quando eu coloco o salsichão na mesa e começo a cortá-lo em rodelinhas, me dói o coração. Cada rodelinha que tiro dele, parece que estou tirando uma rodelinha do meu coração. Lulu – Áh, então é isso! Quer dizer que cada vez que você o 5
está cortando, da a impressão que esta cortando ª... Jajá – Isso mesmo! Da a impressão que estou cortando a vaca e ai me dói o coração. Me sinto... uma assassina. Lulu – Áh, agora entendi! A vaca né? Eu nunca vi uma vaca cilíndrica, mas... deixa pra lá. Agora, eu vou tomar o meu belo banho, me trocar e ficar muito chic porque daqui a pouco o pé de mesa virá aqui para ensaiarmos para a peça de teatro. Jajá – Pé de mesa? Mais, quem é esse pé de mesa? Eu nunca vi ninguém com esse nome! Ou ele... Lulu – Nada disso! É que as pessoas tem mania de interpre tar mal as palavras ou fazerem trocadilhos que resultam em besteiras ou palavrões e o nome dele não é pé de mesa, como o chamam, mas, sim: -Path Mason (Pét Mêizon), ele é americano e é ator de teatro. Jajá – Pois é! Nisso você tem toda razão! Você não vê que as pessoas trocaram as palavras “esculpido em carrára”... (mármore de carrára) por “cuspido e escarrado”? Mas essa ainda não é nada! O pior é outra: Você sabe muito bem que na França existe muitos castelos não é? Então! Á muitos tempos atrás ao sentir-se cansado da vida de nobre, um conde resolveu deixar temporaria mente o castelo, e saiu para extravasar-se, beber, conversar com pessoas comuns e até mesmo passar a noite numa casa de mulheres de vida fácil. Lulu – Vida fácil? Eu heim! Cruz credo. Bem, prossiga. 6
Jajá – E então nessa ai ele bebeu demais e não sabia mais nem que rumo tomar. Então pela suas vestimentas e aparência as pessoas perceberam que se tratava de um conde. E num gesto de solidariedade “ou puxa saquismo” saíram carregando o cidadão e levaramno até o castelo, mais próximo e chegando lá, as pessoas olharam para aquele indivíduo totalmente bêbado, disseram: -Ele não é daqui. Então eles foram para outro castelo, mais outro e mais outro, até percorrerem todos os castelos da região e em todos eles ouviram a mesma coisa: -Ele não é daqui! E então eles já cansados e desanimados, encostaram o cidadão sentado na beira de uma muralha e o abandonaram ali. E foi ai que chegaram a triste conclusão de que “conde bêbado, não tem dono”. Quando Jajá terminou de relatar a história, o companheiro Lulu se desabou na gargalhada e falou: -Ah, então é por isso que as pessoas vivem dizendo que... Jajá – Ê ê êpa, pode parar! Eu sei muito bem o que as pessoas andam dizendo por ai que não tem dono. E você não precisa repetir. E nós ficamos aqui de papo furado até agora e não tomamos banho, não trocamos de roupas, não preparamos o jantar e eu estou com fome, e vamos nos trocar logo porque senão daqui a pouco o seu pé de mesa chega e nós... Lulu – Ê ê êpa, seu pé de mesa não! Não é meu e eu já te disse que é Path Mason! 7
Jajá – Está bem! Está bem! Não está mais aqui quem falou. Mas, enquanto nos trocamos, vamos pedir para a empregada dar uma ajeitada nas coisas aqui porque está muito bagunçado. E... como é que se chama mesmo a nova empregada que você arranjou? Lulu – É ...Kissyfonda! Jajá – Kissyfonda? Onde foi que ela arranjou este nome escalamalítico, escalímbudico escalafobético? Lulu – Bom, segundo ela, sua mãe era apaixonada pela a cantora Cátia Kissy, e o pai pela Joyce Fonda. Então começou uma briga entre os dois, porque ela queria colocar na filha o nome de Cátia Kissy, e o pai queria colocar o nome de Joyce Fonda. Então chegou a avó e apresentou uma sugestão que pudesse acabar com a confusão dizendo: -Gente, porque não colocam parte do nome de uma e parte do nome da outra? Assim pelo menos um não contraria o outro. Daí os dois pensaram um pouquinho e apertaram as mãos dizendo: -A senhora está certa! Então: ...Kissyfonda! Jajá – Eu heimm! Cada mania com seu louco! E como a gente não tem nada a ver com isso, Kissyfonda. Lulu – O que você disse? Jajá – Não, eu não disse nada! Eu disse: Então chame a Kissyfonda. Nisso, entrou a Kissyfonda toda maluca, cheia de energia, usando uma mini saia justa, segurando um 8
espanador na mão e um frasco de lustra móveis na outra. Kissy – Pois não patroinhos! Vocêis me chamaram? Jajá – Patroinhos? Mas o que é patroinhos? Kissy – Bem, patroinhos é uma mistura de... Jajá – Á, deixa pra lá! Você é sempre assim? Alegre, extro vertida e sorridente? Kissy – Ah, claro! Eu estou sempre feliz e cheia de amor para dar, inclusive para os patroinhos, se quiserem, mas, vocês parecem que não gostam disso não é? Lulu – Disso o que? O que é que você quer dizer? Kissy – Bem, parece que os patroinhos não gostam de me ver alegre e feliz. Jajá – Claro que gostamos sua burra! Que bom seria se todo mundo fosse assim. Mas agora de um jeito nestas coisas aí, enquanto nós nos arrumamos. Kissy – Sim senhor patroínhos! É pra já. Patroinhos, posso fazer uma pergunta que está me matando de curiosidade? Jajá – Vai faça! O que é? Kissy – Podem me dizer o que significa aquela cruz esquisita pregada na porta do lado de fora? Jajá – Bem, aquela cruz esquisita com aqueles sinais 9
esquisitos é para espantar tudo quanto é coisa ruim! Kissy – Mas... aquilo funciona mesmo? Lulu – Bem, pelo menos até hoje, nunca veio um político na nossa porta pedir votos e fazer falsas promessas. E agora que eu já respondi as suas perguntas, vá fazer o seu trabalho, e depois que terminar de arrumar aqui, você tire do refrigerador um bom pedaço de carne e prepare para o jantar, por favor. Porque eu mesmo ia lá preparar, mas já que você está aqui, eu mudei de idéia. Kissy – Sim senhor patroinho! Eu vou-me já! O senhor quer que eu prepare a carne bovina ou a aporquina? Jajá - Não é porquina que se fala sua abestalhada, é suína! Kissy – Mas, suína não é que vem do sul? Jajá – Á sim, na sua cabecinha é capaz de ser mesmo! O que vem do sul é suíno, do Pará é paralítico, do Peru é pirulito, da China é chinelo, mais eu já vou me acostumar com você. Kissy– Patroinho, em vez de carne, o senhor não prefere que eu prepare uma lingüiça muito boa que eu trouxe pra vocês? É cem por cento lingüiça de porco e eu trouxe da roça. Jajá – Tudo bem! Mas... como é que você tem certeza que ela é cem por cento de porco? Kissy– Bem, eu sei porque quem faz é o meu tio e ele também é porco. 10
Jajá – Á, vai cuidar do seu trabalho vai! Kissy – Sim senhor! A, a propósito eu ia me esquecendo, aquele rapaz, aquele que almoçou aqui outro dia, me disse que adorou os testículos do senhor! Jajá – Credo menina, que linguajar que você tem heim! Não são meus testículos. São os testículos de boi que eu preparo, e, modéstia à parte, muito bem! Porque eu gosto muito, por isso ele gostou também! Assim como muitos outros. E agora vá fazer o seu trabalho. Mas, antes, me satisfaça uma curiosidade: Você é descendente de que? Kissy - Bem, minha mãe é nordestina, e se chama Severina e o meu pai era português e se chamava, Joaquim do Rego Salgado. Jajá - Áh, que bela mistura! ...Enquanto eles se arrumavam, Kissyfonda espanava, passava pano, rebolava, se requebrava toda ao som da música “A mancada do cowboy (Pá de lá – Pá de cá) interpretada pela dupla Matagal e Zé do Vale, e a música “Água com Xixi” interpretada pelo Sabá. E enquanto espanava, e requebrava, ela bisbilhotava alguns livros que estavam ali numa escrivaninha. E nessa bisbilhotagem ela apanhou um dos livros com o seguinte título: “Poemas, poesias e pensamentos”, então ela desligou o rádio e começou a folhear o livro e admirar os títulos dos poemas até que um deles chamou-lhe a atenção: ...Nossa! Que engraçado, “A Cravina”. Mas... o que 11
será isso? Ah, mas eu vou ler até o fim pra saber o que é a Cravina! E começou com pose de declamadora: A CRAVINA “Desde o tempo de menino eu fui muito namorador, namorei com muitas moças, todas com nome de flor”. A primeira namorada que eu tive na minha vida Se chamava Margarida. E foi meu primeiro amor. Mas o tempo foi passando, nosso amor foi se acabando. E a minha Margarida logo se despetalou. E ai conheci a Rosa, robusta, toda cheirosa, entrou no meu coração, e logo me conquistou. Mas a Rosa era ciumenta, brava que nem uma pimenta, corajosa e sangue frio. Quando eu menos esperava a Rosa se revoltava e seu espinho me feriu. Lembrei que meu pai dizia, que todo namorador Cai do cavalo um dia, e vai sentir muita dor. E foi o que aconteceu comigo, o meu pai não se enganou, a Rosa brigou comigo, deixou meu peito ferido e depois me abandonou. Eu pra não ficar sozinho e sem mulher do meu lado comecei fazer besteiras, fui morar na rua nossa com uma mãe de sete filhos, mais, que ainda era solteira. Era muita flor pro meu vaso, dizia a cidade inteira. Não sei se por causa da altura, ou do jogo de cintura, talvez pelo seu perfume, talvez por sua maneira, eu só sei que todo mundo a chamava de trepadeira. Com essa tal de trepadeira, eu fiquei só um bocado, mas logo eu cai fora, porque fiquei preocupado; se ela arranjasse mais filhos; aí é que eu estava lascado. Mas, parece que minha vida é fazer tudo errado 12
fui passear na capital, e já voltei acompanhado, lá eu conheci a Cravina, moça delicada, fina. Usava vestido longo e o rosto bem maquiado. Um dia eu estava passeando com a Cravina do meu lado, pelo sorriso que eu dava, a Cravina me abraçava, E todo mundo percebia que eu estava apaixonado. De repente deu uma chuva, e não deu tempo de esconder, e a sua maquiagem começou a derreter, eu olhei bem pra Cravina, pro seu rosto desbotado, percebi que tinha barba e até um bigode serrado, descobri que a Cravina, aquele anjo encantado, Não era uma Cravina, Era um cravo disfarçado Hoje quando eu fico triste, me sentindo desolado, vou ao jardim ver as flores, recordar meu bom passado, vejo a Rosa, A Margarida e a Trepadeira, do lado, mas quando eu vejo um Cravo me lembro de um amaldiçoado, que enganou sem piedade, um caboclo apaixonado”. Ao terminar de ler o poema, Kissyfonda comentou consigo mesma: Este se ferrou, bem feito! Todo namorador tem que se ferrar mesmo, essa tal de Cravina é danada mesmo heim! Pelo visto deve ser parente ou amiguinha dos patroinhos. Eu heim!... E deixou a sala. Como haviam dois banheiros no apartamento, Jajá e Lulu tomaram banho simultaneamente. Se trocando bem rápidos voltando para a sala, agora completa mente travestidos. Jajá o mais velho trajando uma calça bem solta de tecido bem leve e estampado, uma camisa preta quase transparente, um lencinho rosa no pescoço, e uma peruquinha para ocultar a sua deficiência capilar. Chic! Não? Lulu vestia uma calça jeans azul de lycra bem justa, 13
sapato sem salto “tipo mocassim”, com fivelinhas e na cabeça uma boina levemente pensa para o lado. Ao voltarem pra sala, Lulu perguntou: -E ai como estou? Estou lindo? Passei por uma metamorfose? Jajá – Áh sim! Você mudou completamente! Você esta me fazendo lembrar um sobrinho meu que mora lá em Minas Gerais, e adora criar cavalos, principalmente reprodutores, só que ele não é de ficar alisando os animais, ele solta no pasto e deixa lá à vontade. Só que um dia, apareceu lá no sítio dele, um doutor, que também adorava cavalos, e ficou encantado por um dos melhores reprodutores do meu sobrinho, e de tanto insistir e fazer propostas irresistíveis, o meu sobrinho acabou vendendo para ele o cavalo. E ao chegar na fazenda do doutor, todos admiravam a postura daquele belo reprodutor, porém sujo, sem brilho e cheio de carrapicho. E então, num instante deram nele um bom banho de shampoo, alisaram sua crina, fizeram trancinhas, podaram as crinas do rabo, pintaram o casco e passaram perfume e deixaram o cavalo irreconhecível, cheiroso, brilhante e soltaram-no dentro de um luxuoso curral. Aquele cavalo virou a atração da fazenda. Passados alguns dias, o meu sobrinho foi até a fazenda do doutor para matar a saudade, quando chegou lá, ele percebeu que o cavalo havia mudado demais não só na aparência mas também no comportamento pois ele que era rústico, grosseirão, pisava duro e chegava a arrebentar cercas no peito por causa de uma fêmea e agora estava pisando macio, se balançando todo, e ficava todo cheio perto dos outros cavalos, mas, quando uma égua chegava perto, ele metia o pé. Então o meu sobrinho olhou, 14
olhou, depois olhou para a esposa dele que deu um sorrisinho maldoso, em seguida ele olhou para o doutor e falou assim meio sem jeito, meio não que rendo falar: - Óia dotor, o sinhor me descurpe mais... o sinhor estragou o cavalo! Então o doutor num gesto de espanto perguntou. - Ué, mas estraguei como? - Óia dotor, o sinhor me descurpe mais... o cavalo do sinhor virou boióla! Nisso Lulu olhou para Jajá, com olhar de reprovação e disse. Lulu - Porque você está me dizendo isso? Por acaso euzinho aqui estou com cara de boióla? Ou você ficou com inveja do meu visual? Jajá – Claro que não! Eu falei por falar porque, na verdade eu não conheço ninguém com mais cara de macho do que você. E eu acho que queria falar pra você que meu sobrinho é criador de cavalos de raça e não sabia como. Lulu – Áh, grande coisa, o meu tio também é criador de cavalos e só cavalo puro. Jajá – Áh sim! Se você se refere aquele seu tio que nós fomos no sítio dele? Eu vi mesmo os cavalos puros dele, puro carrapato! Lulu – Pôxa, mas você hoje heim! Está me atacando de todo jeito. O tempo que você fica me criticando e duvidando da minha masculinidade, porque você não critica aquele seu primo que você chama de ... salsichão? 15
Jajá – E porque eu devo criticá-lo? Aquilo é um monumento! Você não vê o tamanho dele? Aquilo é um trator. Lulu – Hé, nisso você tem toda razão! Realmente ele é um trator! Grande e só tem tração na traseira. Jajá – Ê ê êpa! Espere ai, agora é você que está me atacando. Lulu – Áh, ta vendo só? É assim mesmo! Pimenta no zóio dos outros é refresco mesmo. Jajá - Ei, ei, corrija-se! Não é zóio que se fala, é olhos. Lulu - Eu sei muito bem! Só que não é desse “olho” que eu estou falando. Jajá – Então meu filho porque você não diz claramente, pimenta no... Lulu – Ê ê êpa, pode parar! Apelação não vale, nada de palavrão explícito. Jajá - Á, está bem! Desculpe! Mas eu não ia falar mesmo, ta! Huuumm, que cheiro horrível de cigarro heimm! De onde será que está vindo? Lulu – Pôxa, você não suporta mesmo cigarro heimm! Mas, você já fumou não é? Jajá – Sim! Já fumei, inclusive, quando eu morava na roça lá em Minas Gerais, todo mundo fumava com fumo de corda, então tinha umas pessoas que a gente chamava de “serrote” todas as vezes que queria 16
fumar, pedia fumo emprestado, e o meu pai tinha raiva disto, e antes de sairmos para o trabalho, ele já avisava o pessoal dizendo: Olha gente não se esqueçam (todo mundo que fuma tem que levar fumo). E como eu já não suportava mais ficar levando fumo, uma coisa nojenta, fedida, então decidi parar de fumar. Mas o pior de tudo que me aconteceu nessa coisa de fumar, foi quando nós fomos morar na cidade, e lá alguns “amigos”. Entre aspas não é? Começaram a fazer minha cabeça e eu comecei a fumar novamente, até que num belo dia, eu levantei muito cedo, tomei café e vi que não tinha um cigarro pra fumar, e então entrei em pânico e sai na rua para comprar, mas, não havia um bar aberto, então eu ia passando numa esquina e vi no chão um pedaço de charuto e no desespero que eu estava para fumar, peguei aquele pedaço de charuto, e coloquei na boca e mordi a ponta dele e joguei fora como fazem os fumantes de charuto e o coloquei na boca. Então eu risquei um fósforo e o charuto não acendeu, risquei mais um e não acendeu e só depois que eu gastei quase toda a caixa de fósforos e quase fiquei sem fôlego de ficar chupando aquela porcaria foi que eu vi que aquilo não era charuto, e você sabe que a partir daquele momento até hoje eu tomei ódio de cachorro! Lulu – Credo menino! Mas quando você pegou não deu pra perceber o cheiro? Jajá – Claro que deu santa! Mas, desde quando o cigarro e o charuto têm cheiro diferente dessas coisas que os cachorros fazem por aí? 17
Lulu – Hé, nisso você tem toda razão! Olhe, estão tocando a campainha, deve ser o Path Mason, atenda-o e mande-o entrar, enquanto eu dou um retoque no meu visual. Enquanto Lulu ficava na frente do espelho se balançando e ajeitando a boina na cabeça e a roupa no corpo, Jajá abriu a porta. E quem apareceu? Uma senhora, e Jajá imaginou que fosse um travesti, já que ele não conhecia o Path Mason. E com uma das mãos segurando a porta, e a outra na cintura, mandou que a senhora entrasse e falou para Lulu: - O seu pé de mesa chegou! Então a senhora olhou firme para ele e perguntou: - Do que você me chamou? Nisso, Lulu percebendo a tremenda gafe do companheiro, veio correndo e interviu dizendo: - Não senhora, não é nada! É que ele esteve agora pouco no oftalmologista e precisou dilatar a vista e não está enxergando nada. - Este é meu amigo e quase irmão Jaja! E... Jajá esta é a senhora Égula! Égula –Jajá? Mas isso é nome de homem? Jajá – Não senhora! Meu nome de verdade é Jairônes! E por acaso Égua é nome de gente? Ou da fêmea do cavalo? Égula – Olhe aqui moço, me parece que o remédio do oftalmologista não te deixou só cego, mas surdo também! Porque meu nome não é Égua, mas sim É-gu-la! Égula Rodellas, com dois eles! Lulu – Gente por favor, nós somos pessoas civilizadas e não 18
vamos ficar trocando farpas o tempo todo porque a senhora Égula pelo que sei é uma pessoa de estirpe, uma pessoa nobre, e eu embora vocês não saibam, nasci em berço esplendido, e minha mãe era uma rainha. (Jajá ...Com ar de deboche) -Á claro! Com certeza! A rainha das biscates. Apesar de eu não tê-la conhecido, eu só tive o desprazer de conhecer o seu pai, e ainda me lembro muito bem que ele era um touro. Lulu – Bem, nisso você tem toda razão! Ele era grande e forte. Jajá – Hé, mas não é disso que estou falando! Eu estou falando touro por causa do tamanho do chifre que ele carregava. Égula – Credo Lulu, como é que você agüenta essa bicha velha mau humorada? Jajá – Ê ê êpa, bicha não! Ai a senhora já está me ofendendo, eu sou é muito homem! E não uso calcinhas como umas pessoas por ai, que eu conheço, eu uso cuecas mesmo! Tudo bem que tem umas florzinhas, rendinhas, porque eu acho muito chic mas, são cuecas. Égula - Ah muito bem! Quer dizer que o senhor usa cuecas cor de rosa, com florzinhas, rendinhas, coraçãozinhos bordados, e fica batendo no peito dizendo que é homem! Jajá - Bom, digamos que, eu não sou assim... Fanático, mas sou homem! E posso provar a hora que 19
a senhora quiser... Quer ver a minha certidão de nascimento? Égula - Não, eu não estou interessada. E não vim aqui para isso, eu só vim aqui porque um “amiguinho” (ou amiguinha) de vocês lá do teatro me pediu para dar a vocês umas aulas de dança, já que vocês vão dançar e cantar na peça. E eu sou teatróloga e coreógrafa. Nisso, Jajá todo entusiasmado, pegou no braço da senhora Égula e... -Pôxa, que prazer imenso! Quer dizer que é a senhora que vai nos ensaiar para a peça? Que maravilha! Sente-se aqui, é um prazer muito grande conhecê-la. E por favo queira perdoar as nossas grosserias. Égula – Áh, não se preocupe com isso, eu já estou acostumada. Meu pai era um criador de cavalos e quem cuidava deles era eu. Jajá - Mas o que a senhora quer dizer com isso? Está nos comparando aos cavalos? Égula - Claro que não! Porque, os cavalos normalmente só dão coices antes de serem domesticados, ou seja; quando são ainda selvagens. Lulu - Bem, disso eu já sabia! Jajá - É claro que você não sabia, porque, você não sabe nem distinguir qual é o macho ou a fêmea. Lulu - Claro que sei, porque a primeira coisa que aprendi lá na roça que era; levantar o rabo do animal e olhar, se tivesse só um ponto, era macho! E se tivesse ponto e virgula era fêmea. 20
Égula – Gente, nos estamos parecendo um bando de brucutus, trocando farpas e falando uma besteira atrás da outra. Quando eu vim para cá, o pessoal do teatro me pediu para não me deixar contaminar por vocês duas. Que são duas ribombuchas! Jajá – Ê ê êpa, espere ai, ribombuchas não! Ai a senhora está nos ofendendo de novo. Mas... o que é ribombuchas? Égula – Bem, ribombuchas, são um bando de bichas disfarçadas que ficam o tempo todo trocando farpas. Assim como vocês. Lulu – Quem inventou isso? Égula – Bem, pelo que sei foi o Monsieur Paulin (Polan) um grande escritor, ator e diretor de teatro. Afinal, vocês nunca ouviram falar da peça “Monsieur Paulin e suas ribombuchas”? Jajá – É claro que sim! Mas, afinal de contas, senhora “sabe tudo” a senhora ainda não nos disse quem a mandou aqui para nos ensaiar, Égula – Bem, ele está trabalhando na peça também, e o nome dele é Gleisson Cravo! Mais conhecido como “Cravina”. Lulu e Jajá – A Cravina!!! Lulu – Não acredito! Ai que gloria! Quer dizer que nós vamos atuar junto com ela? Já estamos consagrados! Essa Cravina tem muita historia, e muito talento. 21
Jajá – E quem mais de destaque vai estar atuando na peça? Égula – Bem, nós teremos em destaque, dançando junto com vocês a “tão, ou, mais consagrada que a Cravina” a (Luciferina). Jajá – Luciferina? Mas o que significa isso? Uma coisa ruim? Uma pessoa ferina? Ou a mulher de lúcifer? Égula – Nada disso, Luciferina é uma coisa muito linda da natureza, é uma substância contida no abdômen do vagalume, que quando em contato com o oxigênio que entra pelo tubo (traquéia abdominal) misturamse causando uma reação química que emite a luminescência amarelada e esverdeada, e como as células que produzem as luminicencia contem cristais de acido úrico, este ajuda a luz a refletir fora do abdômen do inseto. Deu para entender? Jajá – Claro que deu alias, muito obrigado pela belíssima aula de ciência, mas, o que tem a ver a tal Luciferina bicha com a Luciferina do vagalume? Égula – Acontece que os nomes quase coincidem porque o nome dele é Lucifênio Mascotte Minélio, e desde pequeno as pessoas já observando suas tendências bichônicas e o chamavam, de Lucí-Fêmea em vez de Lucifênio. Lulu – Me desculpe senhora dona Égula! Mas, eu conheço parte da historia, e se a senhora me permite eu vou conclui-las. ...Acontece meu querido Jajá, que Lucifênio, quando saía a noite na rua, chamava a atenção de todos por onde passava, por isso concluiu que brilhava, e então 22
adotou este pseudônimo. Jajá – Mas, brilhava como? Por acaso ela é uma bicha tão linda assim? Lulu - Nada disso! O brilho dela está exatamente onde está o brilho do vagalume, ou seja: na bunda!!! Jajá – Na bunda? Lulu – Exatamente! Na bunda! Carnuda, arredondada, bem modelada, e que ela faz questão de andar rebolando pra chamar atenção. Há! Quem dera eu fosse igual a ela, ou igual ao vagalume. Jajá – Mas de que jeito! Com essa magreza sua? Só se você instalar uma lâmpada na bunda. Gente, sabem que vocês estão me fazendo lembrar uma vez, lá no sul de minas, quando caiu um avião no meio da mata e destroçou-se de tal forma que não dava pra saber se era um avião ou um disco voador. Mas apesar de tudo, uma moça conseguiu sobreviver ao acidente, apesar de gravemente ferida. Então chamaram uma senhora que morava ali por perto, e que estava acostumada a aplicar injeção ali nos camponeses, para aplicar uma injeção de primeiros socorros na moça. Quando ela acabou de injetar o remédio e retirou a agulha, começou a sair um liquido transparente e gelatinoso em vez de sangue. Logo todos ficaram assustados porque concluíram que aquela moça só podia ser um extra-terrestre. Assim a notícia se espalhou pelas cidades vizinhas, inclusive o povo da cidade de Bebúns e São Gedeaô do Cafungá, que eram as mais próximas, ficaram apavorados com a notícia. 23
Lulu – Mas e ai? Ela era mesmo um E.T.? Jajá – Claro que não né, sua besta! E aquele sangue transparente e gelatinoso, foi porque quando ela injetou a agulha na moça, furou a bolsa de silicone que ela tinha na bunda. Égula – Credo gente, mas vocês só falam em bunda, bunda, bunda, como se a bunda fosse uma abóbada gigante e cheia de estrelas, ou seja: uma coisa mais linda do mundo. Jajá – Bom, pode não ser a coisa mais linda do mundo, mas você nunca vai ouvir dizer que alguém tem um corpo escultural, lindo, perfeito se esta pessoa não tiver a região glútea carnuda, arredondada, bem acentuada o que chamamos popularmente de (bunda)! E uma pessoa sem bunda, é uma pessoa desbundada! Estou errado? Égula – Afinal, vocês vivem juntos a quanto tempo? Lulu – Êpa, espere ai! Nós não vivemos juntos porque pelo menos euzinho aqui, sou muito macho! Jajá –Hei, você pronunciou errado as palavras, porque, eu acho que você quer dizer “muito murcho”, porque este seu jeitão não engana ninguém, está ouvindo! Lulu – É, mas, é ai que você se engana viu! Porque eu dou uma de defunto, pra comer o coveiro! Égula –Lulu, você esta me fazendo lembrar o Ebrônio, um rapaz de uns trinta e cinco anos, que trabalhava com a gente na peça e que também vivia dizendo que era 24
muito macho, e acabou saindo porque preferiu ir servir o exercito. Jajá (numa expressão de espanto:..) servir o exército? com trinta e cinco anos de idade? Égula – Exatamente! Quando chega a noite e apagam-se todas as luzes, ele pula o muro e vai servir os soldadinhos. Lulu – Credo gente, que mal gosto! E pelo que sei, esse tal de Ebrônio é um ótimo ator mas, é feio que dói... Como é que ele ainda consegue alguma coisa? Égula – Bem, como eu já disse a vocês; primeiro, ele espera as luzes se apagarem. Segundo, no escuro todos os gatos são pardos e finalmente, o rato com fome come até sabão. Lulu – E quem entrou no lugar dele na peça? Égula - Áh, entrou um rapazinho que vocês vão adorar porque é uma graça, uma simpatia. Inclusive no dia que ele fez o teste, lá no teatro onde teve que cantar e dançar na frente de todo o elenco, ele deu um show, e todos nós ficamos encantados, e o nosso diretor todo entusiasmado e em tom de brincadeira, perguntou: - Nossa, meu filho, de onde você veio com todo esse talento, essa energia e garra? - Ele respondeu com mais entusiasmo ainda! - Eu vim lá de Minas Gerais! Então o diretor disse a ele: Pôxa, e eu pensava que em Minas Gerais só tem queijo. - E ele sorridente respondeu. 25
- Não, claro que não! Tem requeijão também! Lulu - Olha gente, vocês estão falando de Minas Gerais, me bateu uma saudade de tanta gente, inclusive de uma tia que eu amo de paixão. Talvez por ela ser uma pessoa muito simples, acanhada e essa minha tia era tão pobre e não tinha dinheiro pra comprar tecidos e fazer roupas para ela e os filhos. Então os fazendeiros davam a ela sacos de farelo, de ração e outros que esvaziavam e não tinha nenhuma utilidade para eles. E ela lavava-os bem lavadinhos e fazia roupas para os filhos e pra ela também. Certo dia, ela não estava se sentindo muito bem e precisava ir ao médico. Então ela se vestiu a maneira dela, com simplicidade e foi, chegando lá, o medico reparou que ela era bem gordinha e muito acanhada, e quis poupá-la do constrangimento de ficar totalmente nua, e mandou que tirasse somente a saia para ser examinada. Mas quando ela tirou a saia, o medico não conseguiu evitar a risada, e foi ai que a coitada da minha tia olhou para a calcinha dela e viu que havia um baita carimbo escrito: “...ração para pinto”. Jajá – Coitada da sua tia! Eu imagino a situação que ela ficou, porque essas pessoas muito puras, ingênuas, sofrem muito. Vocês imaginem só, eu tenho um primo que sempre viveu na roça, e sonhava em arranjar uma namorada. Mas ele além de não ter assunto, só falava besteira, quando abria a boca. Mas, não era por maldade, era simplicidade mesmo. Quando foi um belo dia, ele foi numa festa, e alguém tentando ajuda-lo, apresentou a ele uma menina que também não tinha namorado, e talvez pelo mesmo motivo. Então os dois ficaram andando pra lá e pra cá, pra lá e pra cá feito dois coió sem sorte sem falar nada, só 26
olhavam um para o outro e dava uma risadinha sem graça. Ele usando botina, terno amarelo, com calça quase no meio da canela e o paletó também meio curto que o pessoal chamava de “paletó de cagar em pé” e balançando pra lá e pra cá um guarda chuva daqueles bem antigos que o pano já estava até marrom. E ela trajando um vestido comprido, estampado e por acaso com um lápis na mão. E quando ela viu que ele não falava nada mesmo, resolveu fazer brincadeirinha para que ele soltasse a língua. Então ela pegou o lápis e sorrindo falou: - Eu vou riscar o seu terno! Então ele respondeu: - Risca que eu te enfio este guarda-chuva na bunda. Lulu – Mas vocês sabem que eu também tenho um primo que é muito simples, e por causa disso nunca conseguiu uma namorada, e acabou ficando solteirão. Só que ele chegou num ponto que a família toda começou a cobrar, dizendo que ele tinha que arrumar uma namorada e se casar, porque sua mãe (com quem ele morava), já estava muito velhinha e não ia poder cuidar dele a vida toda. Então, arranjaram para ele uma moça já experiente, viúva e se casaram. Só que eles foram passar a lua de mel num hotelzinho na cidade, pago pelos padrinhos. E quando os dois estavam sozinhos no quarto, ela começou a tirar a roupa e quando ela tirou a blusa e botou pra fora aqueles seios grandes, carnudos, ele olhou e começou a chorar, então ela preocupada perguntou: - Porque você está chorando amor? E ele responde enxugando as lágrimas: Saudades da mãe! Égula – Gente por favor, vamos fazer o que eu vim fazer ou 27
seja; Ensaiar vocês no teste para a peça, aliás, quando me designaram para cá, já me avisaram para não me deixar contaminar por vocês, que são duas ribombuchas da língua afiada e tem respostas e farpas pra tudo. Lulu – Espere ai, a senhora foi enviada aqui para nos ensaiar ou para nos ofender? Égula – Bem, eu acho que quando me disseram que era para ensaiá-los, eles queriam dizer que era para eu colocar saia em vocês. Só que eu só entendi isto na hora que cheguei aqui. Jajá – Tá vendo só! A senhora nos critica, mas, tem mais farpas e peçonha do que nós duas juntas. Égula – Como foi que você disse? Nós duas? Juntas? Jajá – Bem,... eu... eu... quis dizer nós duas, pessoas! Lulu - Á, Jaja, pare com isso vai, admita que você cometeu uma gafe, um deslize ou teve uma recaída Jajá – Está bem! Eu admito! Mas fiquem sabendo que eu sou muito macho viu! Égula – Credo gente, parem com essa mania de ficarem repetindo toda hora que são machos, porque, se isso for parar no ouvido das pessoas lá fora, e elas começarem a esparramar que neste apartamento mora dois machos, vai formar uma fila de mulheres ai na porta porque, com essa modernidade ai, a escassez de macho está muito grande, vocês não concordam? Lulu – Sim! Concordamos plenamente! 28
Égula – Concordam porque? Está faltando homens pra vocês também? Lulu – Não! Não foi isso que eu quis dizer! Égula – Não? Então não está faltando? Jaja – Á, vamos parar com essa conversa porque a senhora está confundindo a nossa cabeça, e eu acho melhor ensaiarmos, vamos lá? Nisso, interrompendo os ensaios, entrou a maluca da Kissyfonda andando de lado, trajando um vestido longo e muito chic. E no pescoço um punhado de bijouterias que a deixava mais parecendo uma mãe de santo, e disse: Com licença, com licença. Gente desculpem a intromissão mas, eu preciso da opinião de vocês a respeito deste vestido que eu estou fazendo para participar da peça, o que vocês acham? Então as opiniões foram unânimes: Está lindo! Muito chic! Você teve um bom gosto!, etc Ah, que bom que vocês gostaram! Quer dizer então que eu posso terminá-lo? Égula - Mas, como termina-lo? Ele já não está pronto? Kissy - Não! Não está! É que com o grande salário que eu ganho aqui com os patroinhos, eu estou comendo o diabo que amassou o pão e só deu pra comprar a metade do tecido, e eu só fiz a frente do vestido. E virando-se de costas, kissy mostrou que realmente na parte de trás ela estava trajando apenas um shortinho muito curto, a presilha do sutiã e um par de meia alta toda furada. Que figura! 29
Jajá - Gente, mas essa senhora Kissyfonda do Rego Salgado é mais maluca do que parece! Vá cuidar do seu trabalho e deixe a gente ensaiar. Kissy - Sim senhor! Fui! Jajá - Então ... Vamos lá dona Égula! Aos ensaios! Égula – Muito bem, então vamos lá! Vamos começar pela dança! Coloquem uma música bem agitada e de ritmo dançante para que eu possa avaliar o jogo de cintura, noção rítmica, e o desempenho de vocês como dançarinos. Nisso, Jajá apanhou um disco e colocou pra tocar, mas Lulu não aprovou e contestou dizendo: - Esta musica não! Nós precisamos de algo mais agitado para que possamos mostrar a nossa garra, o nosso talento, vamos colocar esta musica aqui ó! “De tanto socar” com Matagal e Zé do Vale. Égula - Ótimo! Vamos lá então soltem a franga. Enquanto os dois dançavam, dona Égula só ria, e não interrompeu, enquanto não chegou até meio da musica. Mas quando chegou ela gritou: - pare, pare tudo! Gente!!! A música é muito engraçada, o ritmo é contagiante, mas voceis dançando é um horror. O jajá mais parece uma cobra mal matada, aquelas cobras que a gente esmaga a cabeça, e ela fica se retorcendo toda. Outra hora dava a impressão que estava recebendo um espírito zombeteiro. O Lulu querendo dar uma de Luciferina, só balançava a bunda se é que se pode chamar isso ai de bunda. Lulu – Hei, espere ai dona sargento! Nós demos o máximo 30
pra mostrarmos o nosso talento e a senhora só nos critica? Égula – Muito bem! Seus ... viadinhos disfarçados! Vocês realmente lembram muito as ribombuchas do Monsieur Paulin! Mas, talento? Falta muito porém tem tudo pra chegar lá, se vocês aceitarem as minhas imposições e sugestões. Estão de acordo? Porque se não tiverem, estou indo embora, agora mesmo! Lulu – Não, não vá! Por favor! Nós precisamos muito da senhora e tenho certeza que vai nos transformar em grandes estrelas de teatro, a senhora acha que um dia eu poderei ser como a Luciferina? Égula – Bom, a Lucíferina conseguiu um empresário que investiu milhões nela, mudando a cor dos olhos, dos cabelos e outras coisas, e aí você sabe não é? Se você lambuzar um burro no mel, até a bunda fica doce! Jajá – E a senhora acha que nós estamos muito despreparados para subir no palco? Égula – Não! De jeito nenhum! Vocês estão em perfeita forma não só pra subir no palco, mas para descer também, tem bons braços, boas pernas, bom preparo físico. Bem entendido: ...Só pra subir no palco! Mas atuar não. Principalmente nessa peça que exige muito dos atores. Lulu – Dona Égula, eu não gostei da piada, e a senhora entendeu perfeitamente a pergunta que lhe foi feita, nós queremos saber se é perigoso subirmos no palco para atuarmos sem estarmos preparados. 31
Égula – Muito bem, eu tenho um amigo, que quando era bem jovem, trabalhava como toureiro e peão de rodeios e o seu nome era “tiririca” ele estava com o circo montado lá na cidade de Delfim Moreira, em Minas Gerais, e lá perguntaram pra ele: ... Não é perigoso a gente montar num touro? E ele num tom de brincadeira respondeu: - Não! Não há nenhum perigo em montar num touro! O perigo só há quando você cai e ele resolve montar em você, ou enfiar o chifre onde não deve. Se bem que no caso de vocês, eu acho que... Lulu – Ê ê êpa!! Espere ai! Primeiro, nós não somos assim como a senhora pensa. Segundo, chegou aqui nos criticando por trocarmos farpas, e agora está ai roubando a cena. Égula – Ah, me desculpem! É que vocês conseguiram me contaminar com o veneno de vocês que não passam de duas surucucus. Jajá – Calma ai, minha senhora rodela! Cucús até podemos ser, porque somos dois, mas, surú jamais. E afinal, nós vamos ou não ensaiar? Égula – Bem gente, acho que perdemos muito tempo trocando farpas. Agora vamos ensaiar mesmo porque senão vai chegar o dia da apresentação e vocês duas não vão estar preparadas. Jajá – Espere ai! Agora foi a senhora que falou errado! Quando disse: Vocês duas! Não esqueça que somos espadas. 32
Égula – Eu sei que vocês são espadas! Ou seja: Cortam dos dois lados. Lulu – Gente, por favor! Farpas de novo? Vamos dar uma trégua? Égula - Está certo! Muito bem Jajá! Você não disse que fez uma música para cantar no encerramento da peça? Posso vê-la? Jajá – Sim! Claro! Vou apanhá-la na gaveta, eu a coloquei em algum lugar, por aqui ... deixe ver... á, aqui está! Égula – Muito bem! Deixe-me ver! Hummm.... Bom, o título é bastante sugestivo, “Le petit vampire” ou seja! “O vampirinho”. Só tem um problema: A letra é bem simples, porem acaba sendo engraçada, só que a maioria das pessoas não entende o francês, e vão achar que você está falando palavrão. Jajá – Não, isto na vai acontecer porque, primeiro eu vou dizer ao público que essa é a historia de um vampirinho francês que era apaixonado por uma linda donzela, e queria que ela se transformasse numa vampirinha também. E ai, eu canto primeiro em português para que as pessoas conheçam a letra, e só depois então eu vou cantá-la integralmente em francês, para que não haja nenhum mal entendido. ...Nisso, toca a campainha e o ensaio é interrompido. Lulu prontamente se propõe a atender a porta, e nisso quem chega? Décio! Um colega de trabalho com quem Lulu e Jajá vivem trocando farpas, mas, como são amigos há muito tempo, entendem-se perfeitamente. Bem. 33
E sem perda de tempo, Lulu o apresentou para a senhora Égula, dizendo: - Este aqui é Décio, nosso amigo e colega de trabalho! Égula – Áh, muito prazer! É... Décio do que? Décio – É Décio Pinto, senhora! Égula – Nossa, que nome mais indiscreto não? Você faz parte do time deles também? Décio – O que a senhora está querendo dizer com isso? Lulu – Nada Décio! Ela não está querendo dizer nada. Olhe aqui dona Égula, o Décio é nosso amigo, nosso companheiro de trabalho e é casado. Tudo bem que ele andou tendo uns probleminhas com a esposa dele, mas já está tudo superado. Égula – Ah, muito bem! E que tipo de problemas? Décio - Bem, ela andou dando uns pulinhos de cerca. Mas, ela já me pediu perdão e disse que foi uns momentos de fraqueza. Jajá – É verdade dona Égula! Só que por fraqueza dele que não está dando no couro. E alem do mais, ele não gosta quando eu falo, mas, na verdade a esposa dele não pode tomar banho na água quente, senão vira canja. Décio – Espere ai! Não vem chamando a minha esposa de galinha não. E não vem dizendo que eu tenho chifre porque não tenho. 34
Jajá – É claro! Você só não tem chifre porque está com falta de cálcio no organismo, senão já estaria parecendo um alce. E além do mais dona Égula, a família dele é toda problemática, tem uma irmã que é casada e o marido colocou o apelido nela de “flor de maio”. Égula – Ué, porque isso? Ela é tão bonita assim? Jajá - Não! É porque a flor de maio só dá uma vez por ano! E Nada mais! E tem também um irmão que não tem nenhum defeito físico, mas, viciou em andar com o corpo curvado. E como ele é pintor todos os conhecem por “pintorto” Égula – Pintorto? Mas, será que é isso mesmo? Ou ... Jajá – Áh, eu não sei e nem quero saber se é isso mesmo ou não é e sem falar que ele tem um irmão com excesso de hormônio feminino. Égula – Já sei! Vive correndo atrás de homem! Jajá – Não! Ele só não faz isso porque o lado feminino dele é sapatão. Décio – Hei, esperem ai gente, eu não vim aqui pra vocês ficarem me ofendendo e pondo em dúvida a minha masculinidade, porque eu sou é muito macho. Égula – Xiii, falou que é macho, entregou o ouro! Desde a hora que cheguei aqui, eu já escutei esta frase um monte de vezes, parece até vício vocês ficarem dizendo toda a hora que é macho. Lulu – Não dona Égula! Na verdade, ele já entregou o ouro 35
uma vez no colégio onde estudávamos, que ele subiu no palco e recitou assim: “... joguei o limão para cair na janela do meu bem, o limão caiu na rua, ai que ódio que eu fiquei...”. E daí pra cá todos passaram a chamá-lo de “limãozinho”, e depois que todo mundo começou a duvidar da sua masculinidade, ele resolveu arranjar uma namorada, pra tampar o sol com a peneira e foi ai que ele se aproximou de uma das meninas mais bonita da classe, e que todos chamavam de bengalinha. Égula - Bengalinha? Mas porque isso? Ela era muito magra? Lulu - Não senhora! Isso era só um disfarce porque na verdade, ela era bem galinha mesmo! Mas a coisa se complicou mesmo, no dia que ela foi recitar, e quis homenageá-lo já que estavam namorando. Então ela recitou assim: “...batatinha quando nasce, se esparrama pelo chão, limãozinho quando dorme poê a mão nas batatinhas”. Égula – E foi com essa... Bengalinha que ele se casou? -Não! Não foi com essa bengalinha! Mas com essa bem galinha que de vez em quando tem uma recaída, e diz pra ele que são momentos de fraqueza. Mas, que nos sabemos exatamente de quem é a fraqueza! Não sabemos? Todos – Sabemos!!! Égula – Gente, mas vocês formam mesmo uma grande família heimm? Décio – Sim!!! Com certeza! Senhora Rodela Ribombucha. 36
Égula – Esperem ai, acho que vocês estão confundindo as coisas meu nome é Rodella, sou coreógrafa, teatróloga e vim aqui ensaiar vocês, o que quero terminar logo e ir para minha casa tomar um banho de descarrego pra me descontaminar do veneno e da influência de vocês e vamos retomar logo os ensaios de onde paramos porque já perdemos tempo demais, E vocês sabem muito bem que em estréia normalmente ficam todos tensos, nervosos, fazendo xixi toda hora, tanto os atores diretores, enfim todos que de alguma forma faz parte do evento. Portanto se não estiver muito bem ensaiados, acabam ficando mais nervosos ainda, e trocam palavras, esquecem, tremem a voz, e cometem gafes que, numa comedia às vezes passa a ser até engraçado, mas em um drama, já fica muito ruim. Inclusive, uma vez, nós estávamos estreando numa peça, e tratava-se de uma historia trágica,e que realmente causava comoção. E o público logicamente estava em silêncio abissoluto e bastante comovidos, e um dos mossos atores iniciantes estava tão nervoso que, ele tinha que dizer assim: ...Quando eu vi o bandido fugir eu puxei da pistola e atirei pela janela. Mas ele com os lábios trêmulos disse: ...Quando eu vi o bandido fugir eu puxei da pistéla e atirei pela janóla. E com isso gente, o público deixou a emoção e as lágrimas de lado e caiu na gargalhada. E nós tivemos que fazer um intervalo forçado no meio da peça e substituir o ator que desapareceu depois disso. Entenderam agora porque é que temos que ensaiar bastante e com seriedade? Então!!! Muito bem, vamos lá, vamos recomeçar os ensaios, de onde paramos. 37
Jajá – Mas... como paramos? Nos nem chegamos a começar! Égula – Como, não começamos? Você não disse que ia cantar? Jajá – Áh, é verdade! E como vai ser então? Égula – Muito bem, você fica de frente pra lá, e faz de conta que tem um grande público na sua frente, e aí você fala o que está escrito no seu texto, e canta em seguida, certo? E depois que acabar de cantar, você inclina levemente o corpo para frente, agradece o público pelos aplausos. E agora vá! Lulu – Se houver aplauso né! Égula – Credo Lulu deixe de ser negativo, pessimista, claro que vai haver aplauso e muito. Nisso Jajá, se colocou bem no meio do palco e bem na frente como se fosse conversar com o público. Dona Égula como diretora aprovou sua postura inicial dizendo: - Muito bem! Agora você faz de conta que há um grande público a sua frente, e você começa. Nisso Jajá, esticou o pescoço para frente, olhou bem e virou-se para dona Égula dizendo: - Parece que tem mesmo! Égula – Tem o que Jajá? Jajá – Um grande público na minha frente! Égula – Áh, deixa de besteira, é claro que não tem ninguém! Jajá- (A parte), imagine se tivesse então!....Bem gente, eu 38
vou cantar pra vocês falando de um vampirinho que vivia num castelo na França, e era apaixonado por uma linda donzela “coisa que existia na época”. E ela apesar de temerosa, correspondia ao seu amor, porém, com certa reserva. E ele cada dia mais ansioso para torná-la uma vampirinha, e sua eterna companheira, cantava para ela com as seguintes palavras, que eu vou solfejar pra vocês em português, para que não haja mal entendido, já que alguns ou a maioria não entendem o francês. E depois eu vou cantá-la na versão original cujo titulo é “Le petit vampire” ou (o vampirinho) certo?
O Vampirinho Eu irei, eu irei, eu irei, eu irei a sua casa Eu quero, eu quero, eu quero ficar com você Eu irei, eu irei, eu irei, eu irei a sua casa Eu quero, eu quero, eu quero ficar com você Eu vou beijar sua mão Eu vou comer seu pão Eu vou tomar o seu chá Eu vou lhe dizer: Saúde! Eu vou cantar e dançar E lhe falar de amor Mas depois eu vou morder o seu pescoço. Muito bem! Agora que vocês já conhecem a letra em português, vamos ao original “Lé petit vampire”, som na caixa maestro J'irai, J'irai, J'irai, J'irai chez vous Je veux, Je veux, Je veux, restér avéc vous 39
J'irai, J'irai, J'irai, J'irai chez vous Je veux, Je veux, Je veux, restér avéc vous Je vais baiser sa main Je vais manger son pain Je vais prendre son thé Je vais vous dire: santé Je vais chanter et dancer Et vous parler d'amour... Mais puis je vais mordre son cou “Le petit Vampire”
Égula – Muito bem Jajá! Meus parabéns! Você interpretou muito bem a música expressou-se divinamente bem, e eu tenho certeza que vai agradar ao público. Se bem que o seu francês é bem fajuto! Ainda bem que a Edith Piaf e a Bibi Ferreira não estão aqui para ouvir você. Mas valeu o esforço. Jajá – Muito obrigado dona Égula, eu estou até emocionado com seus elogios porque tenho certeza que são sinceros. Nisso Décio veio e abraçou bem apertado o amigo 40
Jajá dizendo: - Meus parabéns meu amigo! Égula – Tem toda razão! Você foi divino, e vai arrasar, com certeza. Nisso veio o Lulu! Lulu – Ô amigo, que glória! Eu estou orgulhoso e emocionado. Égula - Gente, por favor, estamos todos felizes sim! Concordo! Concordo, mas... parem com essa viadagem, vocês estão soltando a franga discaradamente. Se estivéssemos aqui um grande público nos assistindo agora, o que não iam pensar de vocês? Décio - Ê ê êpa espere ai dona Égula, a senhora não se esqueça que euzinho aqui sou inclusive casado e minha esposa me ama. Égula - Ah sim! Me desculpe, eu esqueci que você é casado com a bengalinha, ou..., bem galinha mesmo. E aliás ela deve ser uma pessoa tão ingênua e tão sem maldade, que nunca notou as suas tendências bichônicas ou viadônicas. Décio - E além do mais minha senhora, eu sou e muito macho. Égula - De novo! Essa história! Você está me fazendo lembrar um rapaz que trabalhava com a gente e vivia batendo no peito e dizendo que na terra dele só tinha macho, só que uma vez precisei ir a cidade dele e constatei que em parte ele dizia a verdade, porque, quando cheguei lá vi que não havia uma mulher sequer somente homens andando de mãos dadas e abraçados pra lá e pra cá “tudo macho”. 41
Lulu – Bem dona Égula, já que a senhora nos critica tanto, a hora que a senhora quiser passar uns momentos agradáveis com um homem macho de verdade, é só falar comigo está bem? Égula – Falar com você? Porque com você? Lulu – Porque comigo? Porque eu vou apresentar pra senhora o meu primo Pepino, ele é lindo, gostosão e é muito macho! Égula – Á, já vem você falando besteira de novo! Mas... deixa pra lá. Porque agora chegou o momento mais importante do ensaio. Nisso todos olharam para Dona Égula sem saber do que se tratava e ela prosseguiu: Bem meus amigos Jajá, Lulu e Décio! Eu quero nesse momento, até com uma certa emoção, dizer que foi um prazer muito grande conhecer vocês, estar aqui com vocês e ensaiar vocês. E dou os ensaios de hoje por encerrado, mas... antes eu vou chamar aqui uma pessoa muito querida e admirada por todos, além de ser uma grande estrela do teatro, e que tem uma noticia muito importante para dar pra vocês. E então vamos receber com muito carinho e aplauso ela “A Cravina”. Nisso, para surpresa de todo elenco, a Cravina entra com todo seu charme, brilho e euforia, abraça e beija o rosto de cada um, depois abraça, aperta a senhora Égula e diz: Meus queridos! Vocês nem imaginem o tamanho da minha alegria estar aqui nesse momento com vocês e principalmente com a senhora Égula que já é minha companheira de trabalho no teatro há muito tempo. E se estou aqui, é porque sou portadora de duas noticias pra vocês, 42
Jajá, Lulu, Décio e... Kissyfonda... É esse mesmo o seu nome, Não é? Kissy - Sim senhora. É esse mesmo! Cravina - Obrigado pela senhora! - Bem, então... Kissyfonda! É como eu ia dizendo ...Uma notícia é boa, e a outra ruim, qual delas vocês querem primeiro? Em coro - A ruím primeiro! Cravina - Muito bem! A ruím, é que vocês vem sendo observados á um bom tempo aqui no apartamento de vocês! E fora também. Jajá - Nós? Observados? E Bisbilhotados? Lulu - E no nosso cafofo? Por quem? Por onde? E porque? Cravina - Por onde? Por aquele quadradinho ali na parede! E por quem? Pelo grande mestre do teatro “Monsieur Paulin” Em coro - Monsieur Paulin? Cravina - Exatamente! E a notícia boa é que eu vim entregar a vocês este envelope com apenas uma linha. Leiam! Então, eles abriram juntamente o envelope, arregalaram os olhos e ficaram boquiabertos quase não acreditando que fosse verdade. Cravina - É isso mesmo que vocês estão vendo meninos. A partir de agora vocês passam a fazer parte de... 43
“As ribombuchas do Monsieur Paulin”! E Vamos trabalhar juntos! E agora vamos, comemorar esta vitória cantando todos juntos. “Le Petit Vampire” Encerram cantando.
FIM “SABA”
Esta obra é fictícia, assim como os nomes dos personagens inclusive “Monsieur Paulin” (Polan). Que são criações do próprio autor (Sabá). Qualquer semelhança será mera coincidência. Exceto, a dupla Matagal e Zé do Vale que é verdadeira e de altíssima qualidade, daí o motivo da honrosa menção. E as músicas “A Mancada do Cowboy” (Pá de Lá e Pá de Cá).de tanto socar “Água com Xixi” e “Le Petit Vampire” e o poema “A Cravina” são de autoria também do autor (Sabá).
Obs: Obra sujeita a correção e alteração que não venha a descaracterizá-la. 44
Biografia resumida SEBASTIÃO PAULINO DOS SANTOS (SABÁ) Nasceu em 09 de maio de 1.949 em Olímpio Noronha, ex-distrito de Cristina, Minas Gerais. Filho de Joaquim Paulino dos Santos (Jáque), comerciante e de Conceição Guedes dos Santos (lavradora). Aos 10 anos de idade perdeu o pai e atirou-se de cabeça na vida, sozinho, sem contar com ninguém, mas, sempre com dignidade e honestidade. Foi lavrador, carreiro, tropeiro, leiteiro, locutor de parque de diversão, palhaço de circo de variedades, toureiro (Tiririca) peão de rodeio (Tiririca), garçom, barman, atuou em peças teatrais, vendedor, camelô, caldeireiro, operador de ponte rolante, segurança de banco, técnico em eletrônica, fotógrafo, taxista, caminhoneiro, motorista de ônibus e cabeleireiro. E hoje com única intenção de mostrar o seu trabalho, vem dando uma de declamador para mostrar os seus poemas e poesias gravando-os em cd's e fitas cassetes vendendo-as ao público. E para mostrar suas letras e músicas, viuse obrigado a dar uma de cantor (ou cantador) interpretando-as ele próprio, gravando-as em cd's fazendo um trabalho independente, vendendo ao público e entregando alguns exemplares em algumas emissoras de rádio contando com a colaboração e boa vontade dos radialistas e programadores para ajudar na divulgação o que é muito difícil, quando se está por baixo. Sabá, sem dúvida é um iluminado.
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Conheças outras obras literárias do Sabá • Um coração, Duas Paixões • Manezão E a maldita Fortuna • A Vaquinha Feia • Poemas, Poesias e Pensamentos • As Ribombuchas do Monsieur Paulin (comédia) • A Vingança Silenciosa JOTHAIÁ, a esperança de um mundo melhor
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