Arteterapia - Possibilidade De Um Outro Olhar

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VALLADARES, A. C. A.; FUSSI, F. E. C. Arteterapia: possibilidade de um outro olhar. In: BRANCO, R. F. G. R. (Org.) A relação com o paciente: teoria, ensino e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, cap.41, p.287-293, 2003. ISBN: 85-277-0864-7.

ARTETERAPIA: Possibilidade de um outro olhar Ana Cláudia Afonso Valladares Flora Elisa de Carvalho Fussi

A arte tem um aspecto universal, evoca uma linguagem primária e pré-verbal versátil e, é ao mesmo tempo, flexível, possibilitando uma forma de expressão e comunicação humana. Ela expõe normalmente o não exprimível pela linguagem comum. Todo ser humano tem a necessidade de criar e expressar sua criação, sendo esta facilitada pelo processo arteterapêutico. Ademais, a arteterapia encoraja o desenvolvimento das partes saudáveis da personalidade, ajudando o paciente a transformar

os

sintomas

manifestados,

propiciando

um

maior

grau

de

expressividade e, assim, de satisfação imediata. Terapeuticamente o mais importante não é a técnica ou estética da obra de arte em si, mas especialmente a tentativa do paciente expressar livremente o que há de mais profundo: suas emoções, desejos, fantasias, pensamentos, e favorecer a transformação pessoal. (SILVEIRA, 1986). Assim, neste processo vai ser trabalhados a energia psíquica e o não operacional, o belo ou o mecânico. A arteterapia relaciona os produtos das imagens artísticas com seus conteúdos simbólicos específicos, ilógicas e irracionais, em uma linguagem conscientes. Conseqüentemente, auxilia o indivíduo a elaborar o significado de seu produto simbólico e ensina-o como lidar com o mesmo: O símbolo tem a função integradora e reveladora do eixo de si mesmo, entre o que é desconhecido – inconsciente individual e coletivo e a consciência. O símbolo aglutina e corporifica a energia psíquica, permitindo ao indivíduo entrar em contato com níveis mais profundos e desconhecidos do seu próprio ser e

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crescer com estas descobertas. O símbolo constelado com a ajuda dos materiais expressivos dinamiza e facilita a estruturação e transformação dos estados emocionais que lhe deram origem. (PHILIPPINI, 2000, p. 19) Existem várias linhas terapêuticas básicas, que conduzem o trabalho em arteterapia. Essas linhas indicam o caminho e seguir no processo, como a utilização de amplificação e decodificação simbólica, processo de individuação na abordagem da Psicologia Analítica; ou o uso do teatro, da ação mais que as palavras, valorização de relacionamento humano, privilegiando o tratamento em grupo, a Teoria dos papéis e da cena, dentro do Psicodrama. As linhas mais utilizadas no Brasil são: a Psicologia Analítica, a Gestalt Terapia, o Psicodrama, a Antroposofia e a Psicanálise. Mas, independentemente do referencial teórico que se está trabalhando, todas estimulam a originalidade, a individualidade e lidam com materiais plásticos, movimentos, cores, texturas, luzes, volumes, direções, tons e formas. Durante as sessões de arteterapia, os clientes são produtivos, possuindo conhecimento e experiências singulares. Assim, como esclarece VALLADARES (2001), os objetivos da arteterapia são de favorecer a criatividade e espontaneidade; explorar as idéias e sentimentos, através da liberdade de expressão; desenvolver a comunicação; facilitar o autoconhecimento e a expansão da estrutura psíquica do indivíduo; reconciliar problemas emocionais; resgatar a baixa auto-estima; valorizar as experiências atuais e passadas de vida; e trabalhar a socialização. Qualquer pessoa pode beneficiar-se do processo: crianças, adolescentes, adultos e idosos. Não existem limites ou contra-indicações específicas: doentes ou não podem se expressar artisticamente e serem criativas, mesmo isentos de conhecimento artístico prévio. Como aduz OSTROWER (1987) a criatividade é uma condição natural do ser humano e necessário à sua sobrevivência, sendo que as suas potencialidades hão de manifestar-se em graus ou áreas diferentes. Ademais, a arteterapia em muito pode auxiliar o ser humano no resgate do seu potencial mais saudável e criativo. Pois a produção de arte permite levar à

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evolução de um processo psíquico, que auxilia no desenvolvimento mais apropriado à resolução da problemática do paciente. (CARVALHO, 1995). A visão humanista da arteterapia compreende o homem como um ser holístico, inserido num contexto cultural e social. O ser humano durante todo o processo da arteterapia deve ser visto como ser integral, não separando seu corpo da sua alma, vislumbrando seu sofrimento psíquico e físico. A relação e o vínculo arteterapeuta-paciente se estabelece dentre a possibilidade de um outro olhar enfocando o indivíduo como um todo complexo e integrado e de forma singular e subjetiva. O atendimento se baseia nas queixas e dificuldades do paciente em lidar com as questões emocionais e afetivas. A partir da criatividade, da experiência artística, do fazer expressivo, o indivíduo pode viver a expressão mais espontânea de um fazer concreto.Quando, num espaço imaginário, criam-se formas que aparecem, aproximando-se de um real personalizado, sentido e vivido intensamente, promove-se uma viagem ao mundo interior, no qual o limite é a própria criação. Introduzem-se as sessões com atividades de aquecimento, através de atividades de relaxamento, movimentos corporais espontâneos, imaginação ativa ou de jogos e brincadeiras livres e dirigidos. Esses aspectos lúdicos das atividades iniciais tendem a relacionar arte com a possibilidade de produzir mudanças intra e interpessoais. Permitem, ainda, que se experiencie modalidades expressivas, novas possibilidades de uma relação, tornando-a mais produtiva e criativa, consigo e com o outro. Durante as sessões, são trabalhadas modalidades artísticas diversas. Cada modalidade tem propriedades terapêuticas específicas aos casos clínicos atendidos. Nesse processo observam-se as formas de linguagem: plástica e corporal, complementadas pela forma verbal. A verbalização é apenas um dos recursos auxiliares, e não a principal vertente que, neste caso, passa a ser a linguagem não-verbal. Dentre as modalidades terapêuticas freqüentemente trabalhadas em arteterapia podem ser citadas: o desenho, a pintura, a modelagem, a colagem

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e/ou recorte, a construção, a dramatização, o tabuleiro de areia, a tecelagem, a gravura, a escultura e a escrita criativa. Trabalham-se exercícios livres, semidirigidos ou dirigidos, com o suporte dos contos-de-fada, das fábulas, dos poemas, das imagens, de obras de arte de artistas renomados ou não, de canções, de mitos, de criações literárias, de contos de ensinamentos, de recursos sonoros e cênicos e de movimento para facilitar da expressão da subjetividade. Normalmente ao finalizar as sessões faz-se um fechamento e avaliação das mesmas pelos usuários, terapeutas e/ou grupo. Nesta etapa aprimora-se o olhar, o refletir e o perceber, abrindo-se possibilidades na hierarquização de valores, na construção do agir mais consciente e alinhado com a dimensão do ser humano. O processo arteterapêutico pode ser desenvolvido de maneira individual, grupal e/ou familiar; em hospitais, empresas, ateliês terapêuticos ou outras instituições. Os trabalhos vivenciados individualmente priorizam um maior enfoque nos conteúdos internos específicos. Nos trabalhos vivenciados de forma coletiva permitem o desenvolvimento mais intenso na socialização, na troca de experiências com outras pessoas que passam pelas mesmas ou diferentes frustrações, desejos e sonhos. Os grupos de atendimento podem ser formados e separados por semelhanças quanto nas faixas etárias, nos quadros clínicos, nas necessidades especiais, nos psicóticos ou nos neuróticos, nos grupos institucionais e nos grupos ou equipes específicas.

FLORA Ao observarmos as crianças podemos perceber o prazer com que pintam, ou o brilho em seus olhos quando mostram seus desenhos. Sentimos também que estão querendo despertar em nossos corações sua admiração. Através destes desenhos, pinturas ou esculturas estabelecem ordens de prioridade, sendo arte o meio para sua comunicação conosco. No Ambulatório de Cardiopediatria de um Hospital Público de Goiânia, esta expressão artística traz novas possibilidades, tanto para as crianças quanto para a

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equipe multiprofissional a cada encontro. Procuramos nestes encontros propiciar vivências que possam ajudá-las a elaborar seus conflitos, possibilitando a construção de uma nova relação com sua cardiopatia. Ao serem acolhidas no ambulatório percebemos, que pela própria cardiopatia,

se

cansam

facilmente,

sofrem

muitas

internações,

que

conseqüentemente atrasam seus estudos, problemas estes que levam seus pais a super protege-las. Estas crianças durante as sessões de arteterapia, são atendidas, num processo, onde procuramos fortalecer sua auto-estima, tornandoas mais seguras e independentes, possibilitando através do não verbal e do lúdico reorganizar seus sentimentos, proporcionando mais adesão ao tratamento. Durante as sessões de arteterapia cabe às crianças escolherem o material com o qual querem fazer a atividade, e ao arteterapeuta, “deixar a imaginação livre às inúmeras possibilidades criativas para decidir qual técnica necessária naquele momento percebendo a indicação da criança quando manifesta o que precisa ou do que gosta”. (FUSSI & VALLADARES, 2000, p.97) Ao lermos sobre crianças hospitalizadas, LAMOSA (1990) nos mostra estudos sobre a influencia negativa, interrupção no processo de desenvolvimento psicossocial, que a experiência com hospitalização e doenças graves, trazem para às crianças. Os medos e angústias precisam ser elaborados pela própria criança, ao encorajarmos as expressões do imaginário, as fantasias e os jogos simbólicos trazem esta possibilidade, podendo elas também, descobrirem através dos contos, que as diversidades da vida são inevitáveis, mas que é possível vencerem obstáculos e saírem vitoriosas. Estas crianças em sua maioria trazem nas suas produções o coração, sobre o qual PORTO (1998) ressalta ao expor que na medicina moderna, é preciso valorizar o indivíduo em sua totalidade, e a melhor maneira de faze-lo é compreendendo o lado simbólico do coração. Seu simbolismo não pode ser menosprezado, nos leva a compreender os aspectos emocionais e culturais presentes nas doenças cardiovasculares. O significado simbólico do coração não é uma criação de pintores, poetas ou escritores, mas sim um arquétipo – espécie de parte herdada da mente – que habita nosso inconsciente e

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flui na nossa maneira de ver os acontecimentos, principalmente doenças que põe em risco nossa vida. (Jung apud PORTO, 1998, p.3).

Fig.3 –“ Lugar dos segredos ocultos” O coração é para a criança o lugar de guardar o pai, a mãe, a vida e morte, na simbologia, segundo CHEVALIER & GHEERBRANT (1982) o coração traz a noção de centro (lugar de consciência de forças opostas, equilíbrio), sede dos sentidos, lugar dos segredos ocultos. O movimento do processo psíquico é desenvolvido através das imagens simbólicas, e o símbolo é o processo do mecanismo psicológico de transformação da energia psíquica, permitindo que suas produções artísticas tragam os sentimentos e as emoções expressados espontaneamente. Podemos observar (fig.4) como a criança elaborou seus medos e angústias, através da história da “Chapeuzinho Vermelho”, durante a sessão de arteterapia, onde trabalhamos a cirurgia do coração a qual iria se submeter, entre outros temas. A criança, em seu desenho, trouxe a cor vermelha, o princípio da vida, com sua cor de fogo e de sangue, que possui a mesma ambivalência simbólica do coração, imagem do ardor da beleza e da paixão, como o de morte, ao aparecer escondido traz a vida, espalhada é a morte. Durante a dramatização, após recortar seu desenho para montar o cenário, vivenciou a morte (com a presença do sangue) de todos os animais e personagens, restando apenas a Chapeuzinho Vermelho com vida, como podemos observar. O receio da cirurgia foi representado pelos personagens e animais da floresta, num diálogo entre o medo e a dor, perguntas foram respondidas no brincar, tornando possível a reelaboração do medo e a suavização da dor. OAKLANDER (1980) nos coloca que as crianças não demonstram todos seus medos quando o expressam abertamente, que ainda restam outros que guardam só para si.

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Fig.4 – História do “Chapeuzinho Vermelho” Uma Imagem é a expressão mental de um sentimento. Mas há também uma expressão física – as sensações. Um sentimento tem certas sensações físicas associadas a ele. Quando estamos zangados, experimentamos, com freqüência um aperto no peito. Quando estamos felizes, experimentamos com freqüência, sensações físicas associadas a ele, o mesmo acontece com a imagem, não existem imagens sem sensações que a acompanhe. (PHILIPPINI, 1998, p. ?). A criança participou de outros atendimentos, espaçados, pois ela mora no interior, e no último atendimento do qual participou, pedimos durante a sessão que contasse como foi sua cirurgia. Ela desenhou o jardim (fig.5), colocando uma flor central e, após reforçar seu caule, verbalizou ser ela. Ao procurarmos o significado da flor, encontraremos harmonia, vida. Fig.5 - “O jardim” A vivência na arteterapia que antecedeu a cirurgia permitiu que a criança estivesse mais tranqüila no momento pré e pós-cirúrgico, e que novas figuras internas surgissem, o que emergiu em seu desenho atual, sua qualidade de vida, através das flores. As crianças partindo das brincadeiras, tornam-se capazes de resolver conflitos internos, elaborando sentimentos, e nós podemos assim perceber, que a arte não é mero instrumento, é forma de comunicação, cabendo ao arteterapeuta a sensibilidade para acolher as imagens simbólicas que representam a transformação da energia liberada, criar condições para que estas imagens do inconsciente encontrem formas de expressão. As cores, as tintas, a argila, ou o giz de cera utilizados em arteterapia oferece possibilidade de harmonia, um canal para ativar a imaginação, a criatividade, o mundo interno. E cuidar é mergulharmos neste mundo interno, percebendo sua realidade mais profunda, sua espontaneidade, seu potencial de cura. O processo de cuidar nos remete rumo ao desconhecido, requer que vençamos diversos obstáculos ou mesmo nossos monstros imaginários, reflexos de nós mesmos, como tão bem ressalta TAVARES (2000). Sempre tendo como

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meta conhecer a realidade do cliente, sua espontaneidade, seus movimentos, características próprias, e seu potencial de cura. Precisamos sentir o que a criança ou o adulto conta sobre sua vida, suas histórias despertando sua emoções e sensibilidade, valor fundamental no processo de cuidar, mesmo tendo consciência que estamos indo rumo ao desconhecido. O arteterapeuta encontra através das brincadeiras, pois na brincadeira não é preciso levar as coisas a sério, e assim são revelados profundas verdades, oportunidades para entrar em contato com o cliente, rompendo o medo e a ansiedade, porque brincar é como uma folga nos momentos de sofrimento. Tanto a criança quanto o adulto são remetidos a ingenuidade e felicidade da infância. Brincar é tão importante, nos traz BRANCO (1998) que chega ao consultório médico, humanizando o atendimento, tranqüilizando e possibilitando o exame físico, na maioria das vezes sem choro, trazendo conforto físico e emocional para a criança. Foi

possível

percebermos

que

ao

encontrarem

oportunidade

para

expressarem seus sentimentos, as crianças sentiram-se aliviadas, tornando-se mais calmas, entendendo melhor seus sentimentos, respeitando mais os profissionais que a atendem e aderindo melhor ao tratamento, conseqüentemente permitindo um exame físico mais tranqüilo, melhorando a qualidade da relação entre a criança, sua família e a equipe de atendimento. Nas suas expressões plásticas, as crianças ao materializarem seus conflitos, dimensionam as condições para que as equipes, ao se depararem com antigos padrões estabeleçam novas formas de sentir e atuar, , considerando-se como aprendizado da equipe, as condições de articularem e reorganizarem as relações. As injeções, os exames invasivos, ou mesmo as internações, ao serem representadas por desenhos ou pinturas permitem, no presente, que a energia do medo e da raiva presas possam ser liberadas, trazendo conseqüentemente melhor qualidade para o momento atual, recuperando assim a possibilidade da alegria, dos prazeres imaginários do brincar, tornando o mundo novamente colorido. A arteterapia assegura a vivência da vida infantil dentro do hospital.

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Referências Bibliográficas: CARVALHO, M.M.M.J. et al. A arte cura? São Paulo, Psy II, São Paulo, 1995. CHEVALIER, J.; GHEERBRANT, A. Dicionário de símbolos. 10. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1996. BRANCO, R.F.G. y R. Atendimento odontológico em crianças e adolescentes cardiopatas: uma estratégia na profilaxia da endocardite. Goiás, 1998. (apostila). FUSSI, F:E.C.; VALLADARES, A.C.A. Crianças cardiopatas. A criatividade frente ao trauma psicológico. Anais do IV Congresso Brasileiro de Arteterapia e II Fórum Goiano de Arte, Educação e Saúde, set. Goiânia: UFG, 2000. 1p. LAMOSA, B.W.R. Psicologia aplicada à cardiologia. São Paulo: Fundo editorial BKY, 1990. OAKLANDER, V. Descobrindo crianças. A abordagem gestáltica com crianças e adolescentes. 11ed. São Paulo: Summus, 1980. OSTROWER, F. Criatividade e processos de criação. 6. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1987. PHILIPPINI, A. Cadernos da arteterapia, Rio de Janeiro: Clinica Pomar, 1998. v.4. ___________ Cartografias da coragem,. Rotas em arteterapia. Rio de Janeiro: Clinica Pomar, 2000. PORTO, C.C. Doenças do coração. Prevenção e tratamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998. SILVEIRA, N. Casa das Palmeiras. A emoção de lidar. Uma experiência em psiquiatria. Rio de Janeiro: Alhambra. 1986. TAVARES, C.M.M. A poética do cuidar na enfermagem psiquiátrica. Rio de Janeiro: URFJ, 2000. VALLADARES, A.C.A. Arteterapia: Cores da saúde. In: Anais da I Jornada Goiana de Arteterapia. Goiânia: FEN/UFG/ABCA, 2001. p. 11-17.

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