Universidade da Beira Interior Departamento de Matem´atica
An´ alise Matem´ atica II
Apontamentos Te´ oricos Cursos: Bioqu´ımica, Eng. Qu´ımica, F´ısica e Qu´ımica (ensino de), e Qu´ımica Industrial
♦♦
Docente : Ana Catarina Santos Carapito
Ano lectivo 2005/2006
´Indice 1 S´ eries
1
1.1
S´eries Num´ericas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
1
1.1.1
Defini¸c˜ao. Convergˆencia. Propriedades . . . . . . . . . . . . .
1
1.1.2
S´eries de termos n˜ao negativos . . . . . . . . . . . . . . . . . .
5
1.1.3
S´eries alternadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
9
1.1.4
Convergˆencia absoluta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
9
1.2
S´eries de fun¸c˜oes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 1.2.1
Convergˆencia pontual e uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.2.2
S´eries de potˆencias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.2.3
Teorema de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2 Fun¸ c˜ oes de v´ arias vari´ aveis reais
19
2.1
Defini¸ca˜o. Dom´ınio e sua representa¸ca˜o geom´etrica. . . . . . . . . . . 19
2.2
Limites e continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.3
Derivadas parciais e direccionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.4
Diferenciabilidade. Plano tangente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
2.5
No¸ca˜o de diferencial. Aplica¸c˜oes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
2.6
Gradiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
2.7
Derivada da fun¸c˜ao composta. Regra da Cadeia. . . . . . . . . . . . . 52
2.8
Teorema da Fun¸c˜ao impl´ıcita
2.9
Extremos de fun¸co˜es reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
1
2.9.1
Extremos livres . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
2.9.2
Extremos condicionados. M´etodo dos Multiplicadores de Lagrange . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
2.10 Aplica¸c˜oes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 3 C´ alculo Integral em IRn 3.1
3.2
Integrais duplos
63
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
3.1.1
Defini¸c˜ao e propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
3.1.2
Mudan¸ca de vari´avel num integral duplo. Coordenadas polares 69
Integrais triplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 3.2.1
Mudan¸ca de vari´aveis num integral triplo. Coordenadas cil´ındricas e esf´ericas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
2
Cap´ıtulo 1 S´ eries 1.1 1.1.1
S´ eries Num´ ericas Defini¸c˜ ao. Convergˆ encia. Propriedades
Defini¸c˜ ao 1.1.1. Seja un uma sucess˜ ao num´erica. Chama-se s´ erie gerada por un `a sucess˜ ao Sn definida do seguinte modo: S 1 = u1 S 2 = u1 + u2 S 3 = u1 + u2 + u3 .. . S n = u1 + u2 + u3 + · · · + un .. . As somas S1 , S2 , ... chamam-se somas parciais.
Uma s´erie pode ser representada por ∞ X
un
ou por
u1 + u2 + u 3 + · · · ,
n=1
1
Cap´ıtulo 1. S´eries
2
onde os n´ umeros u1 , u2 , . . . , chamam-se termos da s´ erie; un diz-se o termo geral da s´erie.
Defini¸c˜ ao 1.1.2. A s´erie
∞ X
un diz-se convergente se existir e for finito o limite
n=1
lim Sn = lim
n→+∞
n→+∞
n X
ui .
i=1
Neste caso, ao valor do limite, S, chama-se soma da s´erie. Se aquele limite n˜ao existir ou n˜ao for finito a s´erie diz-se divergente.
Exemplos 1.1.3 (S´ eries especiais). 1. Uma s´erie gerada por uma progress˜ ao geom´etrica chama-se s´ erie Geom´ etrica e pode ser escrita como
∞ X
u1 rn−1 ,
n=1
onde u1 ´e o primeiro termo da s´erie e r ´e a raz˜ ao da progress˜ ao. • Se un ´e uma progress˜ ao geom´etrica de raz˜ ao r 6= 1 tem-se Sn = u1 + u1 r2 + u1 r3 + · · · + u1 rn = u1 .
1 − rn . 1−r
E Sn ´e convergente se, e s´o se, |r| < 1, pois neste caso lim rn = 0 n→+∞ 1 1 , isto ´e, S = u1 . . Com efeito, e, portanto, lim Sn = u1 . n→+∞ 1−r 1−r uma s´erie geom´etrica ´e convergente quando |r| < 1. Quando |r| > 1 ou r = −1, a s´erie geom´etrica ´e divergente (exo ). • Se un ´e uma progress˜ ao geom´etrica de raz˜ ao r = 1, obt´em-se uma s´erie ∞ X cujo termo geral ´e constante, isto ´e, uma s´erie da forma u1 . Neste caso, Sn = nu1 e, se u1 6= 0, a s´erie ser´a divergente.
n=1
Cap´ıtulo 1. S´eries
3
2. Uma s´erie cujo termo geral un se pode escrever na forma an −an+k , com k ∈ N chama-se s´ erie de Mengoli ou Telesc´ opica e pode ser escrita como ∞ X (an − an+k ). n=1
Se existir e for finito , lim an , n→+∞
Sn =
n X
(ai − ai+k )
i=1
=
n X
ai −
i=1
n X
ai+k
i=1
= a1 + · · · + ak + ak+1 + · · · + an − (ak+1 + · · · + an + an+1 + · · · + an+k ) = a1 + · · · + ak + ak+1 − (an+1 + · · · + an+k ).
Donde, lim Sn = a1 + · · · + ak + ak+1 − k lim an ,
n→+∞
n→+∞
pois se an ´e convergente ent˜ao lim ai+n existe e lim an = lim ai+n . n→+∞
n→+∞
n→+∞
Exerc´ıcios 1.1.4. 1. Usando a defini¸c˜ ao, determine a natureza das s´eries µ ¶ ∞ X n (a) ln n+1 n=1 (b) (c)
∞ X 1 √ n n=1 ∞ X n=1
1 n(n + 1)
2. Estude a natureza das seguintes s´eries, e no caso de existirem, calcule as respectivas somas: (a)
∞ X e2n−1 n=0
e3n+1
Cap´ıtulo 1. S´eries
(b)
4
∞ X 4 2n−1 6n+2 n=1 ∞ X
1 + 3n n=1 µ ¶ µ ¶ ∞ X 1 1 cos − cos − (d) n n+4 n=1 (c)
n2
O resultado que se segue indica uma condi¸ca˜o necess´aria mas n˜ao suficiente para que uma s´erie seja convergente. Teorema 1.1.5. Se a s´erie
∞ X
un ´e convergente ent˜ao lim un = 0. n→+∞
n=1
Exemplos 1.1.6. ∞ X n n 1. Como lim = 1 6= 0, ent˜ao a s´erie ´e divergente. n→+∞ n + 1 n+1 n=1
1 2. Como lim √ = 0, ent˜ao n˜ao podemos concluir nada sobre a natureza da n→+∞ n ∞ X 1 √ . No entanto, verifique que anteriormente mostrou que a s´erie ´e s´erie n n=1 divergente.
Teorema 1.1.7. Sejam
∞ X
un e
n=1
vn s´eries convergentes de somas A e B, respec-
n=1
tivamente, e λ ∈ IR. Ent˜ao, 1. A s´erie
∞ X
∞ X (un + vn ) tamb´em ´e convergente e a sua soma ´e A + B: n=1 ∞ X n=1
(un + vn ) =
∞ X n=1
un +
∞ X n=1
vn .
Cap´ıtulo 1. S´eries
2. A s´erie
∞ X
5
λun ´e convergente e a sua soma ´e λA:
n=1 ∞ X
λun = λ
n=1
∞ X
un .
n=1
Teorema 1.1.8. A natureza de uma s´erie n˜ao ´e alterada se lhe suprimirmos um n´ umero finito, arbitr´ario de termos.
Exemplo 1.1.9. A s´erie harm´onica porque
∞ X 1 1 , cujo primeiro termo ´e ´e divergente, n 3 n=3
∞ ∞ X 1 X1 1 = −1− n n=1 n 2 n=3
Exerc´ıcio 1.1.10. Mostre que a s´erie 73 . soma ´e igual a 1080
e
∞ X n=1
∞ X 1 ´e divergente. n n=1
1 ´e convergente e a sua n(n + 3)(n + 6)
Exemplos 1.1.11 (Outras s´ eries especiais). ∞ X 1 ´ convergente se Uma s´erie da forma chama-se S´ erie de Dirichelet. E α n n=1 α < 1; ´e divergente se α ≥ 1. ∞ X 1 Um caso particular de uma s´erie de Dirichelet ´e a s´erie , denominada por n n=1 S´ erie Harm´ onica.
1.1.2
S´ eries de termos n˜ ao negativos
Nesta sec¸ca˜o apresentam-se alguns crit´erios de convergˆencia de s´eries de termos n˜ao negativos. Estes crit´erios surgem da necessidade de estudar a natureza de uma s´erie quando n˜ao ´e poss´ıvel fazˆe-lo a partir da sucess˜ao das somas parciais.
Cap´ıtulo 1. S´eries
Teorema 1.1.12. Seja ∞ X
6 ∞ X
un uma s´erie de termos n˜ao negativos. Ent˜ao a s´erie
n=1
un ´e convergente se, e s´o se, a sucess˜ ao das suas somas parciais ´e limitada.
n=1
Teorema 1.1.13 (Crit´ erio de compara¸c˜ ao geral). Sejam
∞ X
un e
n=1
s´eries de termos n˜ao negativos tais que un ≤ vn , ∀n ∈ N. Ent˜ao, a) Se a s´erie
∞ X
vn ´e convergente ent˜ao a s´erie
n=1
b) Se a s´erie
∞ X
∞ X
∞ X
vn duas
n=1
un ´e convergente.
n=1
un ´e divergente ent˜ao a s´erie
n=1
∞ X
vn ´e divergente.
n=1
Exerc´ıcios 1.1.14. Estude a natureza das seguintes s´eries: 1.
∞ X n=1
n3
1 ln n
∞ X 1 2. n! n=1 ∞ X n+1 √ 3. 3 n n=1
4.
∞ X n=2
1 √ n− n
Corol´ ario 1.1.15. Sejam
∞ X n=1
un e
∞ X n=1
vn duas s´eries tais que un ≥ 0 e vn > 0, ∀n ∈
un = l ∈ IR+ ent˜ao as s´eries s˜ao da mesma natureza. n→+∞ vn
N. Se lim
Cap´ıtulo 1. S´eries
7
Corol´ ario 1.1.16. Sejam un N. Se lim = 0 ent˜ao n→+∞ vn a) se a s´erie
∞ X
∞ X
un e
n=1
∞ X
vn duas s´eries tais que un ≥ 0 e vn > 0, ∀n ∈
n=1
vn ´e convergente, a s´erie
n=1
b) se a s´erie
∞ X
∞ X
un tamb´em ´e convergente;
n=1
un ´e divergente, a s´erie
n=1
∞ X
vn tamb´em ´e divergente.
n=1
Corol´ ario 1.1.17. Sejam
∞ X n=1
un = +∞ ent˜ao n→+∞ vn
un e
∞ X
vn duas s´eries tais que un ≥ 0 e vn > 0, ∀n ∈
n=1
N. Se lim
a) se a s´erie
∞ X
vn ´e divergente, a s´erie
n=1
b) se a s´erie
∞ X
∞ X
un tamb´em ´e divergente;
n=1
un ´e convergente, a s´erie
n=1
∞ X
vn tamb´em ´e convergente.
n=1
Exerc´ıcios 1.1.18. Estude a natureza das seguintes s´eries: 1.
∞ X 2n2 + 1 n=1
2.
n4 + 3
∞ X 1 + (−1)n
n2
n=1
3.
∞ X ln n n=1 ∞ X
n3 µ
2 4. ln 1 + n n=1
¶
Cap´ıtulo 1. S´eries
8
Proposi¸c˜ ao 1.1.19 (Crit´ erio D’Alembert ou da Raz˜ ao). Seja
∞ X
un uma s´erie
n=1
un+1 = λ (λ ∈ IR0+ ou λ = +∞),ent˜ ao de termos positivos. Se existir lim n→+∞ un ∞ X a) se λ < 1, a s´erie un ´e convergente; n=1
b) se λ > 1, a s´erie
∞ X
un ´e divergente;
n=1
c) se λ = 1, nada se pode concluir acerca da natureza da s´erie.
Exerc´ıcios 1.1.20. Estude a natureza das seguintes s´eries: ∞ X 2n 1. n! n=1 ∞ X (n!)2 + n! 2. (4n)! + n4 n=1
∞ X
Proposi¸c˜ ao 1.1.21 (Crit´ erio de Cauchy ou da Raiz). Seja un uma s´erie n=1 √ de termos n˜ao negativos. Se existir lim n un = λ (λ ∈ IR+ ao 0 ou λ = +∞),ent˜ n→+∞
a) se λ < 1, a s´erie
∞ X
un ´e convergente;
n=1
b) se λ > 1, a s´erie
∞ X
un ´e divergente;
n=1
c) se λ = 1, nada se pode concluir acerca da natureza da s´erie.
Exerc´ıcios 1.1.22. Estude a natureza das seguintes s´eries: ¶ n2 ∞ µ X n+1 1. n n=1 2.
∞ X n=1
2n nn (3 + 9n)n
Cap´ıtulo 1. S´eries
1.1.3
9
S´ eries alternadas
Defini¸c˜ ao 1.1.23. Uma s´erie diz-se alternada se os seus termos s˜ao alterna∞ X damente positivos e negativos, podendo escrever-se da forma (−1)n−1 un , com n=1
un > 0.
Para estudar a natureza de uma s´erie alternada ´e u ´til o seguinte crit´erio de convergˆencia:
Proposi¸c˜ ao 1.1.24 (Crit´ erio de Leibnitz). Se un ´e uma sucess˜ ao decrescente de ∞ X (−1)n−1 un ´e convergente. termos positivos e lim un = 0, ent˜ao a s´erie n→+∞
n=1
Exerc´ıcios 1.1.25. Estude a natureza das seguintes s´eries: 1.
∞ X (−1)n n=1
2.
n+1
∞ X cos(nπ) n=1
3n + 1
∞ X 1 3. (−1)n α n n=1
µ ¶ ∞ X (−1)n (−1)n √ 1+ √ 4. n n n=1
1.1.4
Convergˆ encia absoluta
Defini¸c˜ ao 1.1.26. Uma s´erie s´erie
∞ X n=1
∞ X n=1
|un | for convergente.
un diz-se absolutamente convergente se a
Cap´ıtulo 1. S´eries
10
Observa¸ c˜ ao 1.1.27. A s´erie m´odulos,
∞ X
∞ X
un pode ser convergente sem que a s´erie dos
n=1
|un | , o seja. Por exemplo,
n=1
convergente e a s´erie
∞ X
(−1)n
n=1
dos m´odulos) ´e divergente.
Defini¸c˜ ao 1.1.28. Uma s´erie
∞ X
∞ X
∞ X 1 1 ´e convergente, e (s´erie n n n=1
un diz-se simplesmente convergente se for
n=1
|un | for divergente.
n=1
Proposi¸c˜ ao 1.1.29. Se a s´erie
∞ X
|un | for convergente, ent˜ao a s´erie
n=1
´e convergente.
∞ X
un tamb´em
n=1
Exerc´ıcios 1.1.30. Determine se s˜ao absolutamente convergentes, simplesmente convergentes ou divergentes as seguintes s´eries: ¶n ∞ µ X −5 1. n+2 n=0 2.
∞ X n=1
sen
³ nπ ´
4 3n2 + n
∞ X 1 3. (−1)n n n=1
Cap´ıtulo 1. S´eries
1.2
11
S´ eries de fun¸c˜ oes
1.2.1
Convergˆ encia pontual e uniforme
Nesta sec¸c˜ao, ao contr´ario das anteriores, consideraremos sucess˜oes de fun¸co˜es e, em consequˆencia, s´erie de fun¸c˜oes, relativamente `as quais abordaremos a sua convergˆencia. Defini¸c˜ ao 1.2.1. Seja fn uma sucess˜ ao de fun¸c˜ oes, fn : D ⊂ IR → IR. Diz-se que fn converge num ponto a ∈ D se a sucess˜ ao num´erica fn (a) ´e convergente. Se a sucess˜ ao fn converge em todos os pontos de D, pode definir-se uma fun¸c˜ ao f : D → IR por f (x) = lim fn (x), a qual se diz limite de fn em D. Diz-se n→+∞
tamb´em que fn converge pontualmente para f em D. ³ x ´n , definidas em IR, converge qualExemplo 1.2.2. A sucess˜ ao de fun¸c˜ oes 1 + n quer que seja x ∈ IR. A fun¸c˜ ao limite ´e a fun¸c˜ ao f (x) = ex : ³ x ´n lim 1 + = ex , ∀x ∈ IR. n→+∞ n
Defini¸c˜ ao 1.2.3. Seja fn uma sucess˜ ao de fun¸c˜ oes, fn : X ⊂ IR → IR. Chama-se a sucess˜ ao de fun¸c˜ oes Sn definida por s´ erie de termo geral fn ` Sn (x) = f1 (x) + f2 (x) + · · · + fn (x), ∀x ∈ X; representa-se por
∞ X
fn .
n=1
Defini¸c˜ ao 1.2.4. Diz-se que a s´erie num´erica
∞ X n=1
∞ X n=1
fn (a) for convergente.
fn converge no ponto a ∈ X se a s´erie
Cap´ıtulo 1. S´eries
12
Se a s´erie for convergente em todos os pontos de D ⊂ X, pode definir-se uma fun¸c˜ ao f : D → IR que a cada ponto x ∈ D faz corresponder a soma da s´erie ∞ X fn (x); `a fun¸c˜ ao f chama-se fun¸c˜ ao soma da s´ erie . n=1
Exemplo 1.2.5. Consideremos a s´erie
∞ X n=1
x2 . (1 + x2 )n
Se x = 0 a s´erie dada ´e a s´erie nula, e por isso convergente. Se x 6= 0,
∞ X n=1
∞ X 1 x2 2 = x . 2 )n (1 + x2 )n (1 + x n=1
∞ X
1 1 A s´erie x2 ´e uma s´erie geom´etrica, de raz˜ ao r = , convergente 2 n (1 + x ) 1 + x2 n=1 ¯ ¯ ¯ 1 ¯ ¯ ¯ < 1. Logo, pois ¯ 1 + x2 ¯ ∞ X n=1
x2 = x2 . (1 + x2 )n
1 1 1− 1 + x2
= 1 + x2 ,
isto ´e, a fun¸c˜ ao soma ´e 1 + x2 , se x 6= 0; f (x) = 0, se x = 0.
Defini¸c˜ ao 1.2.6. Diz-se que a s´erie fun¸c˜ ao f em D ⊂ IR (D 6= ∅) se
∞ X
fn (x) converge uniformemente para
n=1
lim sup |f (x) − Sn (x)| = 0.
n→+∞
Cap´ıtulo 1. S´eries
13
Teorema 1.2.7 (Weierstrass). Se existir uma s´erie num´erica convergente, de ∞ X un , tal que termos positivos, n=1
|fn (x)| ≤ un , ∀x ∈ D, ∀n ∈ N ent˜ao a s´erie
∞ X
fn ´e uniformemente convergente em D.
n=1
¯ ¯ ∞ X ¯ sen (nx) ¯ 1 1 ¯ ¯ Exemplo 1.2.8. Como ¯ ≤ 2 , ∀x ∈ IR, e a s´erie ´e convergente, ¯ 2 n n n2 n=1 ∞ X sen (nx) a s´erie ´e uniformemente convergente em qualquer subconjunto de IR. 2 n n=1
Exerc´ıcio 1.2.9. Prove que a s´erie de fun¸c˜ oes em [−a, a], sendo a < 25.
1.2.2
∞ X xn ´e uniformemente convergente 2n 5 n=1
S´ eries de potˆ encias
Aqui, consideraremos um caso particular das s´eries de fun¸co˜es, as s´eries de potˆencias. Defini¸c˜ ao 1.2.10. Seja a ∈ IR. Chama-se s´ erie de potˆ encias em x − a a uma ∞ X s´erie da forma un (x − a)n , com un ∈ IR, ∀n ∈ N. n=1
Observa¸ c˜ ao 1.2.11. Se a = 0 a s´erie de potˆencias toma a forma
∞ X
un x n .
n=1
Na s´erie de potˆencias
∞ X n=1
un (x − a)n , x ´e considerada uma vari´avel, tal que a
s´erie ´e convergente para alguns dos seus valores e divergente para outros.
Cap´ıtulo 1. S´eries
∞ X
14
O conjunto I de todos os valores de x para os quais uma s´erie de potˆencias un (x − a)n ´e convergente chama-se intervalo de convergˆ encia e pode ser:
n=1
1. um intervalo com extremos a − r e a + r com r > 0, que podem pertencer ou n˜ao a I; 2. um intervalo [a, a] = {a}; 3. IR. A r chama-se raio de convergˆ encia, que nos casos 2. e 3. ´e 0 e +∞, respectivamente.
Especificamente, Teorema 1.2.12. A s´erie de potˆencias
∞ X
un (x − a)n ´e
n=1
1. absolutamente convergente em ]a − r, a + r[; 2. divergente em ] − ∞, a − r[∪]a + r, +∞[; 3. nos pontos a − r e a + r pode ser divergente, absolutamente convergente ou simplesmente convergente, sendo r=
Corol´ ario 1.2.13. Seja vergˆencia r, ent˜ao
se existir o limite.
∞ X
lim
1 p n
|un |
.
un (x − a)n uma s´erie de potˆencias com raio de con-
n=1
¯ ¯ ¯ un ¯ ¯, r = lim ¯¯ n→+∞ un+1 ¯
Cap´ıtulo 1. S´eries
15
Exerc´ıcios 1.2.14. 1. Determine o raio de convergˆencia da s´erie
∞ X
(3 + (−1)n )n xn .
n=1
2. Indique, justificando, os valores reais de x para os quais as s´eries s˜ao absolutamente convergentes, simplesmente convergentes e divergentes: (a) (b) (c) (d)
∞ X xn n=1 ∞ X n=1 ∞ X n=1 ∞ X n=1
nn n!xn xn n (−1)n
(x + 1)n 2n
Proposi¸c˜ ao 1.2.15. Toda a s´erie de potˆencias
∞ X
un xn ´e uniformemente conver-
n=1
gente em qualquer intervalo fechado [a, b] contido no seu intervalo de convergˆencia e, nesse intervalo ´e integr´ avel termo a termo, isto ´e, Z bX ∞ a n=1
n
un x dx =
∞ X n=1
Z
b
un
n
x dx = a
∞ X n=1
un
bn+1 − an+1 . n+1
Proposi¸c˜ ao 1.2.16. A soma de uma s´erie de potˆencias
∞ X n=1
cont´ınua em qualquer ponto do seu intervalo de convergˆencia.
un xn ´e uma fun¸c˜ ao
Cap´ıtulo 1. S´eries
16
Proposi¸c˜ ao 1.2.17. Toda a s´erie de potˆencias
∞ X
un xn de raio de convergˆencia
n=1
r > 0 e com soma f (x) em ] − r, r[, ´e deriv´avel termo a termo no intervalo de convergˆencia, isto ´e,
̰ X
!0 un x n
n=1
=
∞ X
n un xn−1 .
n=1
Esta s´erie tem o mesmo intervalo de convergˆencia e tem soma f 0 (x).
Exerc´ıcios 1.2.18. Z
1
1. Calcule
f (x) dx sendo f (x) = 0
∞ X x2n (−1)n . (2n)! n=1
∞ X (x − 5)n 2. Seja f (x) = (−1)n+1 . Indique, justificando, os valores reais de x n5n n=1 para os quais f 0 (x) ´e absolutamente convergentes, simplesmente convergente e
divergente.
1.2.3
Teorema de Taylor
Teorema 1.2.19. Sejam I um intervalo aberto e f : I ⊂ IR → IR uma fun¸c˜ ao de classe C n em I. Seja a ∈ I. Ent˜ao, existe c ∈ I tal que
f (x) = f (a) + f 0 (a)(x − a) +
f 00 (a) f (n) (a) (x − a)2 + · · · + (x − a)n + Rn+1 (x), 2! n!
f (n+1) (c) (x − a)n+1 e ´e designado por resto de Lagrange da (n + 1)! f´ormula de Taylor de f em torno do ponto a. onde Rn+1 (x) =
Cap´ıtulo 1. S´eries
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Defini¸c˜ ao 1.2.20. Dada uma fun¸c˜ ao f : D ⊂ IR → IR infinitamente diferenci´ avel numa vizinhan¸ca do ponto a ∈ Int(D), chama-se s´ erie de Taylor de f em a, ´a s´erie de potˆencias
∞ X f (n) (a)
n!
n=1
(x − a)n .
Se a = 0, a s´erie de Taylor designa-se por s´ erie de MacLaurin e escreve-se ∞ X f (n) (0) n=1
n!
xn .
Teorema 1.2.21. Sejam I um intervalo aberto que cont´em a, f : I ⊂ IR → IR uma fun¸c˜ ao de classe C ∞ em I. Se lim Rn+1 (x) = 0 para qualquer x ∈ I, ent˜ao f pode n→+∞
ser desenvolvida numa s´erie de Taylor, isto ´e, f (x) =
∞ X f (n) (a) n=1
n!
(x − a)n .
Teorema 1.2.22. Toda a s´erie de potˆencias de x − a ´e a s´erie de Taylor (em torno de a) da fun¸c˜ ao por ela definida. Em particular, o desenvolvimento em s´erie de potˆencias de x − a ´e u ´nico.
Exerc´ıcio 1.2.23. Determine a s´erie de Taylor para as seguintes fun¸c˜ oes nos pontos indicados: 1. f (x) = ex ; a = 0; 2. f (x) = sen x; a = 0; 3. f (x) =
1 ; a = 0; 1−x
4. f (x) = ln x; a = 1.
Cap´ıtulo 1. S´eries
5. f (x) =
1 ; a = 0; 2 + 3x
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