RICARDO LEME BOCCI DA SILVA
Apocalípticos e Integrados: lados opostos enfrentam novas realidades
OSASCO 2009
Índice
1. 2. 3. 4. 5. 5.
Introdução ..................................................................................................................... Os dois lados da moeda 2.1 Apocalípticos .......................................................................................................... 2.1 Integrados ............................................................................................................... Eco confronta as Escolas .............................................................................................. “Nem Apocalípticos, nem Integrados” ......................................................................... Conclusão ..................................................................................................................... Referências Bibliográficas ............................................................................................
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1. Introdução Na segunda metade do século XX, o mundo passava por uma bipolarização. Era a época da Guerra Fria, em que o planeta dividiu-se, basicamente, em dois blocos: capitalismo e comunismo; direita e esquerda. Com as discussões tomando esse rumo, não foi de se surpreender que, nos anos 60, o escritor italiano Umberto Eco identificou um fenômeno dessa natureza na comunicação. Foi ele quem apontou duas tendências sobre as discussões da comunicação para os grandes públicos: enquanto que um grupo chamava-a de “cultura de massa”, vendo algo otimista nesse processo, o outro chamava de “indústria cultural”, no sentido de produção alienada de cultura – adotando uma visão pessimista. Assim Eco denominou o primeiro grupo de Integrados e o segundo grupo de Apocalípticos. Entretanto, quem estava por trás de tais denominações? Para saber tal, precisamos voltar algumas décadas e conhecer as Escolas Funcionalista e de Frankfurt. Linhas de estudo que influenciam até os dias atuais e importantes para entender a construção do conhecimento sobre a comunicação. Fazendo novamente o paralelo com a Guerra Fria, fica a pergunta: quem venceu esta queda de braço no mundo das teorias da comunicação? Afinal, no fim do confronto capitalismo versus socialismo prevaleceu o primeiro, de modo que nos encontramos na era do capital globalizado, praticamente sem fronteiras comerciais. Mas, na comunicação, perdeu-se o olhar crítico ou partiu-se para novas discussões? Este trabalho irá fazer uma breve análise das duas escolas e confrontá-las, segundo a visão de Eco. Ao fim, entrará na discussão: a bipolarização entre esses lados ainda cabe à nossa época, tomada pela tecnologia da informação e pela internet?
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2. Os dois lados da moeda 2.1 Apocalípticos Instituto de Pesquisa Social, financiado por judeus, que teve início em 1923. Seus principais representantes foram Theodor Adorno e Max Horkheimer. Estamos falando da Escola de Frankfurt, coletivo de pensadores e cientistas sociais alemães que estudaram, entre diversos temas, a comunicação. Interessante notar que, assim como a maior parte dos teóricos que versaram sobre esse tema, os frankfurtianos eram provenientes de áreas outras. A Escola tinha clara inspiração marxista. Entendia a comunicação de massa como um meio de ideologia que promovia idéias das classes dominantes tirando do indivíduo a capacidade de pensar de forma critica e autônoma, conforme nos aponta Bianco (2001, p.1). Não por menos, a teoria da Escola recebeu o nome de Teoria Crítica. Se a “cultura de massa” era vista como democratizante pelos funcionalistas, Adorno não via assim, chamando-a de “indústria cultural”. Segundo Rüdiger (1999. p. 137), o frankfurtiano via que “a pretendida democratização da cultura promovida pelos meios de comunicação é motivo de embuste, porque esse processo tende a ser contido pela sua exploração com finalidades capitalísticas”. Uma das maiores contribuições da Teoria Crítica está em alertar “para os conteúdos políticos e ideológicos dos discursos que postulam o processo de constituição da sociedade, a partir dos princípios e valores do mercado” (Leite, 2001, p.6). A classificação dos frankfurtianos como Apocalípticos se dá pelo fato que apontavam à morte de um cidadão reflexivo e crítico (o cidadão iluminista) e a ascensão de um homem dotado de uma única perspectiva, dominado pelos produtos midiáticos de baixa qualidade e passivo de todas as influências. Entretanto, pesa contra os teóricos de Frankfurt a separação entre alta cultura e cultura de massa. Desse modo, ao valorizar a primeira, a escola contestava o acesso à arte através da sua reprodutibilidade. Ponto este que Walter Benjamin, teórico da escola, discordou, criando uma indisposição entre os frankfurtianos. Apesar de defender a qualidade na cultura, a Teoria Crítica apresenta um ponto de vista aristocrático, ao defender que a experiência com a obra de arte só seria possível diante da obra original. Há o fato que, mesmo com a reprodutibilidade, bons produtos poderiam chegar às massas.
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2.2 Integrados O outro lado da questão apresenta a Escola Funcionalista, com grande influência durkheiminiana (o indivíduo deve fazer parte de um todo). Baseava-se no positivismo, na medida em que procurava investigar para constatar os fatos, procurando manter a ordem na sociedade utilizando-se da função como um meio de participação entre os indivíduos. Outra influência é o modelo behaviorista, com seus estudos sobre estímulo e resposta, aprofundada para a questão dos usos e gratificações. Os funcionalistas viam, na “cultura de massa”, satisfação das necessidades de seu público. Entretanto tal satisfação não era vista como empobrecedora ou nefasta, assim como para os frankfutianos. Para os funcionalistas não interessavam os efeitos dos meios de comunicação de massa, mas sim suas funções sociais. Desse modo, a mass media teria mais a contribuir do que a prejudicar no funcionamento social. Esta escola surge nos Estados Unidos, nos anos 40. Seus principais teóricos foram Harold Laswell, Schramm e C. Wright. Deste grupo também eram próximo Paul Lazarsfeld. Na verdade os conceitos funcionalistas já haviam sido inicialmente abordados dentro da Teoria Hipodérmica, que apontava que o público recebia as informações sem questioná-las, no mecanismo emissor –receptor. Ao menos, os funcionalistas superavam tal modelo ao estudar os canais em que as mensagens eram transmitidas. O nome de Integrados foi conferido justamente por estes teóricos verem a comunicação de massa como mecanismo de integração e coesão social. Assim, os meios poderiam ser usados para educar e promover cultura (não é questionada a qualidade da mesma), além de poder informar aos cidadãos possíveis perigos e ameaças. Os meios também, por serem democráticos na visão dos funcionalistas (ou integrados), poderiam servir de instrumento para informar desvio nas normas sociais e infrações éticas. Como recompensa, o cidadão bem-informado se sentiria parte importante desse mecanismo social.
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3. Eco confronta as Escolas O escritor italiano Umberto Eco nasceu em 1932, na cidade italiana de Alexandria. Ensaísta de renome mundial, Eco se dedicou a diversos temas. A sua relação com o estudo da semiótica é a mais notável, na medida em que estudou a linguagem verbal e não-verbal, bem como suas relações. A sua obra mais conhecida mundialmente foi “O Nome da Rosa”, um romance que se passa na Idade Média, envolvendo religiosidade, assassinatos e acesso ao conhecimento. O livro foi lançado em 1980, e sua versão para o cinema foi sucesso na mesma década. Eco é um dos principais representantes da Teoria Culturológica, ao lado do francês Edgar Morin. O alinhamento do italiano com tal escola reside no fato que ele defendia não ser mais possível separar a cultura dos fenômenos de comunicação. Eco ia além da transmissão das mensagens, ou da qualidade dos produtos da mass culture: pensava na construção dessa mensagem, analisando o seu conteúdo – um processo anterior. Em 1964, Eco apresentou o seu ensaio “Apocalípticos e Integrados”, no qual apontou a divisão de mundos nos estudos da comunicação: os alinhados com a Escola de Frakfurt versus os membros da Escola Funcionalista. O autor buscava mostrar o conceito do “sim” ou “não”, apontando a bipolarização nos estudos da área . Para Eco, os valores dos Apocalípticos eram claramente pessimistas. A cultura de massa seria como uma “queda” nos princípios do individuo; estes, trazendo a discussão e reflexão da estética. Já os Integrados viam na mass culture um caminho de integração social; através do bom entendimento da mesma seria possível passar as mensagens necessárias para a sociedade se unificar. Conforme aponta a obra de Polistchuk & Trinta (2003, p. 125), o italiano aponta superficialidade nas duas visões. Tanto funcionalistas quanto frankfurtianos estariam partindo de ideias preconcebidas para lidar com algo tão sociologicamente complexo. A comunicação não poderia ser vista como algo binário, reduzido a democratizante ou alienante, especialmente por ser parte de todo um mecanismo social. Nas palavras do próprio Eco (apud Bianco, 2001, p. 5):
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O erro dos apologistas é afirmar que a multiplicação dos produtos da indústria seja boa em si, segundo uma ideal homeostase de livre mercado, e não deva submeter-se a uma crítica e a novas orientações. O erro dos apocalípticos aristocráticos é pensar que a cultura de massa seja radicalmente má, justamente por ser um fato industrial, e que hoje se possa ministrar uma cultura subtraída ao condicionamento industrial.
Eco, crítico da cultura, buscava mostrar que ela poderia ser transformada e que a sociedade não deixaria os homens serem transformados em peças midiáticas. O homem havia feito a cultura, e não a cultura que fizera o homem. Os paradigmas de conhecimento foram constantemente quebrados durante a História, mostrando discernimento do homem em relação ao meio social. Desse modo, o italiano estudava esses fenômenos (mass culture e “indústria cultural”) não em contextos separados, mas de modo a se completarem. Não havia como negar a função social da comunicação de massa, mas também não era possível negar a industrialização da cultura e da informação. As críticas mútuas entre Apocalípticos e Integrados terminavam em um círculo que só poderia ser completado pela corrente oposta, visto que apresentavam visões parciais.
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4. “Nem Apocalípticos, nem Integrados” O debate entre Apocalípticos e Integrados apresenta clara conotação ideológica. Entretanto, autores recentes apontam necessidade de ir além dessa dualidade. Dois textos nos ajudam a ampliar a visão sobre o tema. O primeiro é de Leite (2008), com o título sugestivo “Comunicação e Mercado: nem Apocalípticos, nem Integrados”. O outro é de Bianco (2001), intitulado “Elementos para pensar as tecnologias da informação na era da globalização”. Lembremos que o tempo da Guerra Fria findou em 1989, com a queda do Muro de Berlim. Desde então passamos por intensas transformações econômicas e tecnológicas. A economia de mercado, a globalização e a comunicação quase que instantânea entre as pessoas, através da internet, necessitam de visões além de dualidades. Afinal, nem mesmo tal direção única respondeu a todas as questões. Segundo Leite (p. 3), “na concepção apocalíptica, a globalização trouxe consequências nefastas, tanto para os meios, como para os processos comunicacionais”, ainda mais que as empresas de comunicação estão mais preocupadas com lucratividade e rentabilidade, ao invés de exercer o tão falado historicamente “Quarto Poder”. Parece que os frankfurtianos estavam certos: a cultura virou mera mercadoria. Estaríamos então vivendo simplesmente o triunfo da “indústria cultural”? Parece que a morte do cidadão iluminista, reflexivo, de fato, aconteceu, e os Integrados estariam com a razão. Cedo demais para os Integrados comemorarem. Leite (p. 9) mostra que a interpretação destes permanece superficial, pois “não discute, em geral, as consequências da emergência da globalização sobre os processos comunicacionais”. Enquanto celebram uma suposta ampliação e democratização da informatização (especialmente em função das novas tecnologias), caem numa perigosa armadilha: a de considerar o mercado como “uma instituição natural e a única fonte legítima e segura de regulamentação do sistema social”. Nesse ponto o mercado passa a funcionar como mecanismo ideológico, legitimando o discurso de competência, efetividade e eficiência. E, sabemos bem, o aspecto democrático esbarra nisso, pois nem todos conseguem atingir os níveis de sucesso propagados, e que não dependem apenas do esforço único do indivíduo. Bianco (p. 3) constata que a que a análise dos Integrados, em relação ao atual momento tecnológico informacional, “traz uma certa necessidade atávica de prever o futuro, de indicar uma direção”, ao passo que estaríamos passando por um processo inevitável, 8
irreversível e de longa duração, mas dotado de grande transparência. Já os Apocalípticos enxergam nas tecnologias da informação, um olhar totalizante e autoritário. O “Big Brother” que vemos na televisão não passaria de uma materialização do Grande Irmão apontado por George Orwell, no livro “1984”. Em ambos os casos, a resposta continua a ser única, caindo na mesma antiga falha apontada por Eco sobre as duas correntes: partir de ideias preconcebidas para mostrar o seu ponto de vista como válido. Bianco (p. 9), afirma que “um pensamento teórico único, com categorias de totalidade, de validação geral e consensual, tendem a fracassar diante da complexidade do real”. É fato que a internet e outras tecnologias podem ser controlada facilmente, mas não há como negar que o cidadão comum, sem ser proprietário de meios de comunicação de massa, pode também colocar o seu conteúdo para o público. A interatividade não foi respondida com tanta facilidade, nem por Apocalípticos, nem por Integrados. Dando lugar ao conflito entre os conceitos de mass culture e “indústria cultural” surgem outras necessidades. Nas palavras de Leite (p. 14) o foco muda para as “experiências mais pontuais, baseadas em pesquisas empíricas e voltadas para a resolução direta de conflitos latentes entre as organizações e os consumidores-cidadãos”. Questões como insegurança, individualismo sem limite e consequências frente ao aquecimento global ganharam importância no século atual. Já não é mais tão importante discutir a barbárie cultural diante de temas mais palpáveis, assim como é nítido que as mensagens dos meios de comunicação não tornaram a sociedade tão coesa e ética quanto se pensava. A era da tecnologia da informação mostra que alta ou baixa cultura estão disponíveis sim, mas há a escolha do cidadão. Mostra também que os valores éticos e de coesão social, que os Integrados postulavam ser função dos meios transmiti-los, atingem outros limites, com mais fluidez. São necessárias outras ferramentas para fazê-los valer, além da simples transmissão de mensagens – que, agora, podem ser deletadas pelo público com facilidade. Visto que infrações sociais e éticas são constantemente cometidas no mundo da internet , e não houve meio eficiente de controlá-las. Os dois lados apresentados neste trabalho respondiam, a partir de suas visões de mundo, as influências da cultura de massa. Agora que estamos em um outro momento histórico, como poderíamos observar os fenômenos comunicacionais com maior complexidade, sem cair nos dualismos ou numa visão única e totalitária? Bianco (p. 5) apresenta como possível resposta o modelo apontado por Manuel Castells com o nome de “informacionalismo”, que foi
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moldado historicamente pela reestruturação do modo capitalista de produção no final do século XX. A era do informacionalismo baseia-se nas tecnologias de conhecimento e informação, e tem íntima ligação entre cultura e forças produtivas, entre espírito e matéria. Evidentemente que na base desse processo está a comunicação mediada por computadores, pelo seu potencial integrador em redes globais. E a rede, na visão de Castells, é um espaço de reprodução do capital de tipo diferente, ou seja, de abrangência global.
Não que o modelo acima colocado seja a resposta que procuramos (se é que há tal resposta), até porque a comunicação sofreu intensas mudanças na última década do século XX, assim como a economia e a política. Mas as teorias que surgirem a partir de então necessitam considerar essa nova dimensão criada pela interatividade. Os mecanismos de manipulação ideológica e bipolarização não se mostram mais tão eficientes. Mesmo se há dois lados para uma questão, cada lado apresenta subdivisões que não são mais facilmente coesas. Apesar da aparência de massa – uniforme, amorfa, sem características específicas – o que há são conceitos e ideais diversos, encontrando cada qual seu nicho de discussões, e não precisando das grandes redes comunicacionais para ser difundido. Obviamente que há, ainda, a parcela significativa do público que recebe a informação sem contestá-la, mas não é a única possibilidade. Críticos, céticos, indiferentes – vivemos numa era de multidimensionalidade. E, segundo Bianco (p. 5), este é o maior mérito da teoria de Castells: Fica evidente o esforço de Castells em construir uma análise multidimensional que coloca em jogo um outro modo de construção do pensamento. A busca da multidimensionalidade – contra a fórmula clássica do pensamento que não permite pensar a unidade na diversidade ou a diversidade na unidade – é o grande desafio dos estudos sobre as transformações em curso, em especial no campo da comunicação. Afinal, a comunicação é um espaço onde se partilham relações, associações, mediações e diversas abordagens.
Se
exemplificarmos
com
a
realidade
que
nos
cerca,
a
respeito
dessa
multidimensionalidade, basta pensarmos na própria internet. Recentemente, na rede social Orkut uma comunidade denominada “Discografias”, que continha um grande acervo de músicas protegidas por direitos autorais, foi excluida pela empresa que administra tal rede, o Google, um gigante da rede mundial de computadores.
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Pensemos como os Integrados. Tal comunidade seria uma afronta à sociedade e à economia de mercado, por lesar os direitos autorais e o Google, exercendo sua função de gatekeeper, estaria correto em deletar a página. Se pensarmos nos Apocalípticos, o ato do gigante da internet mostra que a “indústria da cultura” mais uma vez triunfou, pois conseguiu tornar a música de acesso universal uma mera mercadoria, protegida por direitos não dos autores, mas sim econômicos e das grandes gravadoras. A resposta dada, em 2009, foi diferente e não-abarcada por nenhuma das teorias. Não foi necessário transformar tal assunto em questão política, nem incriminar judicialmente os responsáveis pela comunidade. Simplesmente, os usuários da antiga comunidade abriram outra com o mesmo tema, e distribuindo as mesmas músicas. Sem dúvida, uma resposta democrática à totalização do sistema. Algo com mais de uma dimensão, e não limitado à “unidade na diversidade ou a diversidade na unidade”.
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5. Conclusão Assim sendo, Apocalípticos e Integrados podem, talvez, descansar. Sem atingirem seus objetivos. Sem, de fato, vencerem ou perderem. Sem descansarem em paz. Afinal as concepções dualistas não conseguiram explicar a atualidade de modo satisfatório. Momento este em que grandes corporações de mídia mantêm seus canais e manipulam suas mensagens. Momento também em que mídias alternativas prosperam sem se preocupar com a ilegalidade. Se ter um canal de televisão ou rádio pirata é crime, ter um site, um blog, uma web TV ou uma web rádio não o é. Nunca foi tão fácil se atingir tantos espectadores, mas nunca foi tão difícil mantê-los fiéis, passivos e não-interativos. Nunca foi tão fácil construir um sistema político, mas nunca foi tão fácil criticá-lo abertamente – e tão trabalhoso de controlar tais críticas (vide o exemplo chinês, que tem dificuldades em controlar o que é acessado pela internet). São aspectos que não foram abarcados pelas visões dualistas, e que são limitados nas respostas que dão à era da tecnologia da informação. Lembremos que, nos anos 70, a novela “Selva de Pedra”, da Rede Globo de Televisão, teve 100% de audiência, ou seja, todos os televisores do Brasil estavam sintonizados no mesmo canal, na mesma hora. Hoje isto é algo impensável, visto que os programas de maior audiência (como o “Big Brother”, já citado neste trabalho) podem ter um público gigantesco, mas não total. Ainda há a “Folha de São Paulo”, da família Frias, e a “Veja” dos Civitas, mas há também jornais como “Transição Socialista” (que circula em São Paulo e é distribuído pelo Movimento Negação da Negação1) e revistas como a “Caros Amigos”. Não estamos falando apenas de democracia, mas de algo maior, que é a pluralidade. Como Bianco (2001, p.7) escreveu: “o conhecimento tende a ser plural, multidimensional e não dualista”. Todos têm seu público, embora ainda se careça de uma análise mais crítica dos produtos e seus usos. Afinal, mesmo na pluralidade encontramos persistência de monopólios nas comunicações (o maior exemplo é a norte-americana Microsoft e o seu sistema operacional Windows), mesmo existindo opções. Fato é que o público ainda pensa na facilidade da integração, no produto de uso comum, em detrimento daquilo tenha acesso mais trabalhoso. Bianco (p. 7) conclui seu texto colocando que “as tecnologias não salvam, mas não conduzem necessariamente ao inferno”. Essa afirmação mostra exatamente o tempo em que 1
Para maiores informações, acessar: www.movimentonn.org 12
vivemos, nesta primeira década do século XXI. Não encontramos as respostas que queríamos – e talvez nem as encontremos. Persiste a produção da “indústria cultural”, mas os produtos comprados pelo consumidor tendem a ser os alternativos, haja vista a diminuição do lucro das gravadoras de música. As mensagens manipuladoras de governos e empresas, com o objetivo de manter o funcionamento social, não são mais aceitas prontamente. Falta agora digerir esse novo modo de se fazer cultura de massa para, a partir daí, ter uma visão crítica e transformadora. Se é que podemos chamar de massa algo que se torna plural e incontrolável dia após dia...
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6. Referências Bibliográficas 1. BIANCO, Nelia R.D. “Elementos para pensar as tecnologias da informação na era da globalização”. Intercom - Revista Brasileira de Ciências da Comunicação. V. 24, nº 2, 2001. 2. LEITE, Sydnei F. Comunicação e Mercado: nem Apocalípticos, nem Integrados. Disponível em: http://www.rp-bahia.com.br/biblioteca/pdf/SidneyFerreiraLeite.pdf Arquivo capturado em 12/04/2009. 3. POLISTCHUK, Ilana & TRINTA, Aluisio Ramos. Teorias da Comunicação: o pensamento e a prática da Comunicação Social. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. 4. RÜDIGER, F. “A Escola de Frankfurt”. In: HOHFELDT, Antonio; FRANÇA, Vera & MARTINO, Luis (orgs.). Teorias da comunicação. Petrópolis: Vozes, 2001, v. 1, p. 131-150.
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