Anorexia E Bulimia Nervosa Em Alunas Da Faculdade De Medicina

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172

ARTIGO ORIGINAL

Anorexia e bulimia nervosa em alunas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará – UFC Fábio Gomes de Matos e Souza 1 Maria Cecília Resende Martins 2 Francisco Coracy Carneiro Monteiro2 Gerardo Cristino de Menezes Neto2 Igo Barbosa Ribeiro2

Recebido: 31/7/2001 Aceito: 22/7/2002 RESUMO Os objetivos deste trabalho são: 1) Estimar a prevalência de comportamentos sugestivos de anorexia e bulimia nervosa segundo o EAT-26 e o BITE nas alunas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará; 2) Relacionar conduta alimentar com episódios depressivos anteriores; 3) Fazer uma associação entre autocrítica corpórea e os resultados do BITE e do EAT-26. A amostra constituiu-se de 199 estudantes de Medicina, todas do sexo feminino, com média de idade de 20,6 (±1,9) anos. Aplicou-se um questionário fechado e de autopreenchimento baseado nas escalas BITE e EAT-26, acrescido de perguntas sobre tabagismo, uso de drogas (álcool e outras), episódios depressivos, relacionamentos afetivos e freqüência de relações sexuais. Segundo o BITE, 46 (23,1%) alunas apresentam padrão alimentar não usual e sete (3,5%) apresentam comportamento alimentar compulsivo, sugestivo de bulimia nervosa. Segundo o EAT-26, 53 (26,6%) alunas apresentam baixo risco e 11 (5,5%) alunas apresentam alto risco de desenvolver anorexia nervosa. Observaram-se correlações entre episódios depressivos e os seguintes parâmetros: BITE-escala de sintomas (p = 0,000), BITE-escala de gravidade (p = 0,000) e EAT-26 (p = 0,001). A autocrítica corpórea também apresentou uma correlação com BITE-escala de sintomas (p = 0,000), BITE-escala de gravidade (p = 0,000) e EAT-26 (p = 0,000). Em conclusão, verifica-se uma taxa elevada de comportamentos indicativos de transtornos alimentares nessa amostra. Unitermos: Anorexia nervosa; Bulimia nervosa; Estudantes de Medicina. ABSTRACT Anorexia and bulimia nervosa in female students from the medical school of the Federal University of Ceará The objectives of this study are: (1) to estimate the prevalence of behaviors suggestive of anorexia and bulimia nervosa in female medical students of the Federal University of Ceará using EAT-26 and BITE scales; (2) to relate eating behavior with prior depressive episodes; (3) to associate body image perception with BITE and EAT-26 scores. The sample consisted of 199 female medical students with mean age of 20.6 (±1.9) years. A self-reported questionnaire based on the BITE and EAT-26 scales was administered. It also included questions about tobacco and drug use (alcohol and others), depressive episodes, affective relationships and frequency of sexual relations. According to the BITE scores, 46 (23,1%) students had non-usual eating behavior and 7 (3,5%) had compulsive eating behavior suggestive of bulimia nervosa. According to the EAT-26 scores, 53 (26.6%) students showed low risk and 11 (5,5%) showed high risk to develop anorexia nervosa. Correlations between depressive episodes and BITE-symptoms scale (p = 0.000); BITE-gravity scale (p = 0.000) and EAT-26 (p = 0.001) were found. There were also correlations

1

Professor Adjunto de Psiquiatria. Departamento de Medicina Clínica da Universidade Federal do Ceará. PhD da Universidade de Edimburgo.

2

Estudante de Medicina da Universidade Federal do Ceará. Endereço para correspondência: Fábio Gomes de Matos e Souza Universidade Federal do Ceará (UFC) Rua Manoel Jesuíno, 974 – Varjota, Ceará – CEP 60175-270 Telefax: (0xx85) 267-3867 E-mail: [email protected]

Souza, F.G.M.; Martins, M.C.R.; Monteiro, F.C.C.; Menezes Neto, G.C.; Ribeiro, I.B.

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173 between body image perception and BITE-symptoms scale (p = 0.000), BITE-gravity scale (p = 0.000) and EAT-26 scores (p = 0.000). Therefore, in this sample, there is a high number of students who present behavior suggestive of eating disorders. Keywords: Anorexia nervosa; Bulimia nervosa; Medical students.

Introdução A prevalência de anorexia nervosa (AN) e bulimia nervosa (BN) tem alcançado altas proporções na população geral (Warheit et al.,1993). A maioria dos estudos estabeleceu uma prevalência de AN de 1 caso entre 100 garotas adolescentes, sendo as mulheres de classe social mais alta as que têm o maior risco (Yates, 1989). Fairburn e Beglin (1990) fizeram uma média dos resultados de 37 estudos sobre prevalência de BN segundo os critérios do DSM-III e do DSM-III-R. A taxa média de BN nos 33 estudos que utilizaram os critérios diagnósticos do DSM-III variou de 2,8% a 9% e foi de 2,6% nos outros quatro estudos que utilizaram critérios do DSM-III-R. Cooper e Fairburn (1983), com base em uma amostra da comunidade, estimaram que 1,9% das mulheres sofria de BN. Clarke e Palmer (1983) não detectaram casos de AN entre 156 alunas universitárias da Grã-Bretanha, enquanto Button e Whitehouse (1981) detectaram apenas 1 caso de AN entre 446 alunas de uma outra universidade britânica. A prevalência de BN clinicamente significativa em estudantes universitárias é muito maior que a da comunidade, correspondendo a aproximadamente 4% (Pyle et al., 1983; Katzman et al.,1984; Drewnowski et al.,1988). Halmi et al. (1981) observaram que 13% de 539 estudantes universitárias tinham sintomas de BN com os critérios do DSM-III, enquanto Hart e Ollendick (1985) verificaram que 5% de outras 234 estudantes universitárias apresentavam BN e que a incidência de BN nesse grupo era cinco vezes maior que a de mulheres empregadas. Herzog et al. (1985) observaram que 15% de estudantes de Medicina já tinham apresentado história de distúrbios alimentares. Este é o primeiro artigo de nosso conhecimento que analisa a prevalência de comportamentos sugestivos de transtornos alimentares em estudantes de Medicina do Ceará. Os objetivos deste artigo são: 1. Estimar a prevalência de comportamentos sugestivos de anorexia e bulimia nervosa segundo o EAT-26 e o BITE nas alunas da Faculdade de Medicina da UFC; 2. Relacionar conduta alimentar com episódios depressivos; e

3. Fazer uma associação entre autocrítica corpórea e os resultados do BITE e do EAT-26. Metodologia Amostra Foram pesquisadas 199 estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, sendo todas do sexo feminino, cursando do primeiro ao nono semestre, perfazendo um percentual de 71,8% das 277 estudantes matriculadas no segundo semestre de 1999. Para evitar viés, as estudantes do décimo ao décimo segundo semestre que estavam cursando o internato não foram incluídas em razão da dispersão dos locais de estudo, incluindo serviços em outros Estados brasileiros e no Exterior. A escolha pelo sexo feminino deveu-se à maior prevalência de distúrbios alimentares nesse grupo, como foi observado por Connors e Johnson (1987), que, ao revisarem 17 estudos anteriores sobre BN, verificaram que as taxas de BN segundo os critérios de diagnóstico do DSM-III variaram de 5% a 20% para as mulheres e de 0% a 5% para os homens. Procedimentos O período de aplicação dos questionários ocorreu durante os meses de setembro a outubro de 1999. Os pesquisadores apresentavam-se ao professor que estivesse na sala de aula e solicitavam quinze minutos de aula para a aplicação do questionário (Anexo 1). Este era respondido individualmente, após breve explicação sobre o trabalho, em que foram expostos os objetivos da pesquisa. Os questionários eram depositados em uma urna colocada à frente da sala, garantindo-se, dessa forma, o anonimato. No intuito de obter uma amostra representativa, foram escolhidas as aulas de maior freqüência de estudantes em cada semestre. Ressaltava-se que o preenchimento não era obrigatório, portanto alguns questionários não foram entregues de volta e outros não foram preenchidos ou o foram de forma parcial em virtude da recusa da estudante. Foi realizado controle sobre o número de alunas matriculadas (n = 277), número de questionários entregues (n = 209) e número de questionários recebidos (n = 199).

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174 Instrumentos O questionário era de autopreenchimento e não continha a identificação pessoal da aluna. Baseava-se em perguntas pertencentes às escalas validadas mais utilizadas nos estudos sobre transtornos alimentares, em suas respectivas versões em língua portuguesa. São elas: 1. BITE – Teste de Investigação Bulímica de Edimburgo (Henderson e Freeman, 1987) – tradução de Cordás & Hochgraf (1993), que permite identificar comedores compulsivos e obter dados sobre aspectos cognitivos e comportamentais da bulimia nervosa. 2. EAT-26 – Teste de Atitudes Alimentares resumido (Gross et al., 1986) – tradução de Nunes et al. (1994), que avalia os riscos de se desenvolver comportamento e atitudes típicos de pacientes com anorexia nervosa. Além de tais escalas, foram aplicadas, anexo ao questionário, perguntas sobre tabagismo, uso de drogas (álcool e outras), episódios depressivos, relacionamentos afetivos e freqüência de relações sexuais. O objetivo da aplicação de tais perguntas juntamente ao BITE e ao EAT-26 foi possibilitar melhor caracterização da amostra e poder relacionar dados adicionais com a prevalência de comportamento alimentar sugestivo de anorexia e bulimia nervosa na amostra, visto que na literatura estão descritas associações entre transtornos alimentares e alguns desses tópicos, como por exemplo episódios depressivos. O resultado do BITE foi obtido pela escala de sintomas e pela escala de gravidade, que mede a gravidade do comportamento compulsivo pela freqüência. A classificação das alunas segundo o BITE foi a seguinte: Escala de sintomas 1. Escore maior ou igual a 20: presença de comportamento alimentar compulsivo com grande possibilidade de preencher critérios diagnósticos para bulimia pelo DSM-III-R (APA, 1987). 2. Escore entre 10 e 19: sugestivo de padrão alimentar não usual. Em geral, não estão presentes todos os critérios para bulimia. Deve ser seguido de entrevista clínica. Escores de 15 a 19 devem ser obrigatoriamente seguidos de entrevista. Podem representar um grupo subclínico de indivíduos com alimentação compulsiva, bulímicos em estágio inicial ou bulímicos em recuperação. 3. Escore abaixo de 10: normalidade.

Escala de gravidade 1. Escore maior ou igual a 10: indica alto grau de gravidade. 2. Escore maior que 5: indica estado clínico comprometido. Escores clinicamente significativos devem ser seguidos de entrevista diagnóstica. A classificação das alunas segundo o EAT-26 foi: 1. Escore maior ou igual a 20: alto risco. 2. Escore de 10 a 19: baixo risco. 3. Escore de 0 a 9: fora de risco. Foi atribuído valor positivo (EAT+) para EAT > 20 e valor negativo (EAT -) para EAT < 20. Análise dos dados A análise estatística para variáveis dicotômicas foi realizada por meio de testes não-paramétricos (x2). As correlações foram feitas com base no teste de Spearman. O nível de significância aceito foi p < 0,05. Nos casos em que o resultado apresentado não atinge 100%, a diferença é explicada pelas respostas em branco. Os dados foram avaliados pelo SPSS – Statistical Package for the Social Sciences (Norusis,1993). Resultados BITE Os resultados do BITE foram os seguintes: segundo a escala de sintomas, sete (3,5%) alunas tiveram escores maiores ou iguais a 20, 46 (23,1%) alunas tiveram escores entre 10 e 19 e 144 (72,4%) alunas tiveram escores abaixo de 10. Em relação à escala de gravidade do BITE, quatro (2%) alunas tiveram escores maiores ou iguais a 10 e quatro (2%) alunas apresentaram escores de 5 a 9. EAT-26 Os resultados do EAT-26 foram os seguintes: 11 (5,5%) alunas apresentaram escore maior ou igual a 20, 53 (26,6%) alunas apresentaram escores de 10 a 19 e 135 (67,8%) alunas apresentaram escores de 0 a 9. Autocrítica corpórea De acordo com o IMC, verificou-se que seis alunas (3 %) estavam com peso acima do considerado normal, 181 (91%) estavam no peso normal e oito (4%) estavam com o peso abaixo do normal. A distorção da imagem corporal, um dos critérios diagnósticos da anorexia nervosa, pôde ser observada em 56 estudantes (28,1%) que, apesar de estarem com o peso normal, sentiam-se gordas segundo a autocrítica corpórea.

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175 Anexo 1 Teste de Investigação Bulímica de Edimburgo – BITE

1. Qual é a sua altura? __________________________________________________ 2. Qual é o seu peso atual? __________________________________________________ 3. Qual é o peso máximo que você já apresentou? __________________________________________________ 4. Qual é o peso mínimo que você já apresentou? __________________________________________________ 5. Qual é, no seu entender, seu peso ideal? __________________________________________________ 6. Você se sente em relação ao seu peso: ( ) muito gorda ( ) abaixo do peso ( ) gorda ( ) muito abaixo do peso ( ) médio 7. Você tem períodos menstruais regulares? ( ) sim ( ) não 8. Com que freqüência você, em média, faz as seguintes refeições? todos 5 dias/ 3 dias/ 1 dia/ nunca os dias sem. sem. sem. café da manhã 1 2 3 4 5 almoço 1 2 3 4 5 jantar 1 2 3 4 5 lanches entre 1 2 3 4 5 as refeições 9. Você alguma vez teve uma orientação profissional com a finalidade de fazer regime ou ser orientada quanto à sua alimentação? ( ) sim ( ) não 10. Você foi alguma vez foi membro de alguma sociedade ou clube para emagrecimento? ( ) sim ( ) não 11. Você alguma vez teve algum tipo de problema alimentar? ( ) sim ( ) não 12. Caso, sim, descreva com detalhes: 1. Você tem um padrão de alimentação diário regular? ( ) sim ( ) não 2. Você segue uma dieta rígida? ( ) sim ( ) não 3. Você se sente fracassando quando quebra sua dieta uma vez? ( ) sim ( ) não 4. Você conta as calorias de tudo o que come, mesmo quando não está de dieta? ( ) sim ( ) não 5. Você já jejuou por um dia inteiro? ( ) sim ( ) não 6. Se sim, qual a freqüência? ( ) dias alternados ( ) de vez em quando ( ) 2 a 3 vezes por semana ( ) somente 1 vez ( ) 1 vez por semana 7. Você usa uma das seguintes estratégias para auxiliar na sua perda de peso?

nunca de vez 1x/ 2 a 3x/ diariamente 2 a 3x/ 5 ou + quando sem. sem. dia x/dia tomar compri- 0 2 3 4 5 6 7 midos tomar 0 2 3 4 5 6 7 diuréticos tomar 0 2 3 4 5 6 7 laxantes vômitos 0 2 3 4 5 6 7 8. O seu padrão de alimentação prejudica severamente sua vida? ( ) sim ( ) não 9. Você poderia dizer que a comida dominou a sua vida? ( ) sim ( ) não 10. Você come sem parar até ser obrigada a parar por sentir-se mal fisicamente? ( ) sim ( ) não 11. Há momentos em que você só consegue pensar em comida? ( ) sim ( ) não 12. Você come moderadamente na frente dos outros e depois exagera em particular? ( ) sim ( ) não 13. Você sempre pode parar de comer quando quer? ( ) sim ( ) não 14. Você já sentiu incontrolável desejo para comer e comer sem parar? ( ) sim ( ) não 15. Quando você se sente ansiosa, você tende a comer muito? ( ) sim ( ) não 16. O pensamento de tornar-se gorda a apavora? ( ) sim ( ) não 17. Você já comeu grandes quantidades de comida muito rapidamente (não uma refeição)? ( ) sim ( ) não 18. Você se envergonha de seus hábitos alimentares? ( ) sim ( ) não 19. Você se preocupa com o fato de não ter controle sobre o quanto você come? ( ) sim ( ) não 20. Você se volta para a comida para aliviar algum tipo de desconforto? ( ) sim ( ) não 21. Você é capaz de deixar comida no prato ao final de uma refeição? ( ) sim ( ) não 22. Você engana os outros sobre quanto come? ( ) sim ( ) não 23. O quanto você come é determinado pela fome que você sente? ( ) sim ( ) não

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176 24. Você já teve episódios exagerados de alimentação? ( ) sim ( ) não 25. Se sim, esses episódios deixaram você sentindo-se mal? ( ) sim ( ) não 26. Se você tem esses episódios, eles só ocorrem quando você está sozinha? ( ) sim ( ) não 27. Se você tem esses episódios, qual a freqüência? ( ) quase nunca ( ) 1 vez por mês ( ) 1 vez por semana ( ) 2 a 3 vezes por semana ( ) diariamente ( ) 2 a 3 vezes por dia 28. Você iria até as últimas conseqüências para satisfazer um desejo de alimentação exagerado? ( ) sim ( ) não

29. Se você come demais, você se sente muito culpada? ( ) sim ( ) não 30. Você já comeu escondida? ( ) sim ( ) não 31. Seus hábitos alimentares são os que você poderia considerar normais? ( ) sim ( ) não 32. Você se considera alguém que come compulsivamente? ( ) sim ( ) não 33. Seu peso flutua mais que 2,5 quilogramas em uma semana? ( ) sim ( ) não

Teste de Atitudes Alimentares Resumido – EAT-26 S – sempre / MF – muito freqüentemente / F – freqüentemente / AV – às vezes / R – raramente / N – nunca S( ) MF( ) F( ) AV( ) R( ) N( ) 1. Costumo fazer dieta. 14. Tenho vontade de vomitar após as refeições. ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 2. Como alimentos dietéticos. 15. Vomito depois de comer. ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 3. Sinto-me mal após comer doces. 16. Já passei por situações em que comi demais achando que não ia conseguir parar. ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 4. Gosto de experimentar novas comidas engordantes. 17. Passo muito tempo pensando em comida. ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 5. Evito alimentos que contenham açúcar. 18. Considero-me uma pessoa preocupada com a comida. ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 6. Evito particularmente alimentos com alto teor de carboidratos (pão, batata, arroz etc.). 19. Sinto que a comida controla a minha vida. ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 7. Estou preocupada com o desejo de ser mais magra. 20. Corto minha comida em pedaços pequenos. ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 8. Gosto de estar com o estômago vazio. 21. Levo mais tempo que os outros para comer. ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 9. Quando faço exercícios penso em queimar calorias. 22. As outras pessoas acham que sou magra demais. ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 10. Sinto-me extremamente culpada depois de comer. 23. Sinto que os outros prefeririam que eu comesse mais. ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 11. Fico apavorada com o excesso de peso 24. Sinto que os outros me pressionam a comer. ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 12. Preocupa-me a possibilidade de ter gordura no meu corpo. 25. Evito comer quando estou com fome. ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 13. Sei quantas calorias têm os alimentos que como. 26. Demonstro autocontrole em relação à comida. ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Questões anexas 1. Qual é a sua idade? __________________________________________________ 2. Você fuma? ( ) sim ( ) não 3. Você faz uso de drogas (álcool e outras)? ( ) sim ( ) não 4. Você já apresentou algum episódio depressivo? Caso sim, toma (ou tomou) algum antidepressivo? Qual? __________________________________________________

5. Você tem um relacionamento afetivo do tipo: ( ) não me relaciono ( ) namoro ( ) “fico” raramente ( ) vivo junto ( ) “fico” constantemente 6. Com que freqüência você se relaciona sexualmente? __________________________________________________

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177 O gráfico 1 mostra a freqüência de EAT < 20 (EAT -) e EAT > 20 (EAT +) em relação à autocrítica da massa corpórea.

* O valor de “n” representa o número de estudantes pertencentes a cada um dos grupos da autocrítica da massa corpórea (muito abaixo e abaixo do peso, normal, gorda e muito gorda) que responderam ao EAT

Gráfico 1 Freqüência de EAT < 20 (EAT -) e EAT > 20 (EAT +) em relação à autocrítica da massa corpórea das alunas da Faculdade de Medicina da UFC em 1999

Observou-se ainda que tanto o BITE-escala de sintomas (Spearman = 0,490; p = 0,000) como o BITEescala de gravidade (Spearman = 0,312, p = 0,000) e o EAT-26 (Spearman = 0,306; p = 0,000) estavam correlacionados com a autocrítica corpórea. Havia diferença estatisticamente significativa do IMC com a

progressão dos semestres (Spearman = 0,194; p = 0,007). Portanto, as alunas tendem a ganhar peso à medida que avançam de semestre. A tabela 1 mostra o nível de correlação e significância existente entre as principais variáveis do questionário e o BITE-escala de sintomas, o EAT-26 e a autocrítica corpórea. Principais variáveis que não estavam correlacionadas estatisticamente com BITE-escala de sintomas, EAT-26 e autocrítica corpórea: idade, freqüência de relações sexuais, relacionamentos afetivos e semestre. Episódios depressivos versus BITE versus EAT-26 Foi relatado por 40 alunas (20,1%) ocorrência de episódios depressivos anteriores. O aparecimento de episódios depressivos estava significativamente relacionado com as seguintes variáveis: BITE-escala de sintomas (Spearman = 0,277; p = 0,000), BITEescala de gravidade (Spearman = 0,268; p = 0,000) e EAT-26 (Spearman = 0,253; p = 0,001). No entanto, não havia associação de tais episódios com autocrítica corpórea, relacionamentos afetivos e freqüência de relações sexuais. O gráfico 2 mostra a freqüência de episódios depressivos de acordo com dois grupos: alunas com EAT < 20 (EAT -) e alunas com EAT > 20 (EAT +). O gráfico 3 representa a freqüência de episódios depressivos em cada um dos quatro grupos do BITE: BITE < 10, BITE de 10 a 14, BITE de 15 a 19 e BITE > 19. Não houve diferença estatisticamente significativa do BITE-escala de sintomas e gravidade, EAT-26, episódios depressivos e autocrítica corpórea no decorrer dos semestres letivos da faculdade. Portanto, a predominância de alunas que são ou possuem tendência a ser portadoras de transtornos alimentares não aumenta com o avançar dos semestres.

Tabela 1 Nível de correlação (Spearman = S) e significância estatística (p) entre as principais variáveis do questionário aplicado às estudantes de Medicina da UFC – 1999

BITE-escala de sintomas BITE-escala de gravidade EAT-26 Autocrítica corpórea IMC Episódios depressivos Uso de drogas

BITE-escala de sintomas S p 1,000 0,630 0,000 0,591 0,000 0,490 0,000 0,404 0,000 0,277 0,000 0,072 0,320

EAT-26 S 0,591 0,544 1,000 0,306 0,184 0,253 0,048

Souza, F.G.M.; Martins, M.C.R.; Monteiro, F.C.C.; Menezes Neto, G.C.; Ribeiro, I.B.

p 0,000 0,000 0,000 0,010 0,001 0,504

Autocrítica Corpórea S p 0,490 0,000 0,312 0,000 0,306 0,000 1,000 0,627 0,000 0,147 0,053 0,158 0,029

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* O valor de “n” representa o número de estudantes pertencentes aos grupos EAT - e EAT + que responderam ao item sobre episódios depressivos.

Gráfico 2 Freqüência de episódios depressivos em relação a EAT < 20 (EAT -) e a EAT > 20 (EAT +) nas alunas da Faculdade de Medicina da UFC em 1999

* O valor de “n” representa o número de estudantes pertencentes a cada um dos grupos do BITE que responderam ao item sobre episódios depressivos.

Gráfico 3 Freqüência de episódios depressivos em relação ao BITE nas alunas da Faculdade de Medicina da UFC em 1999

Discussão A prevalência de alunas com alto risco para desenvolver AN nesta amostra (5,5%) foi maior que as obtidas por Crisp (1976) e Szmukler (1983), respectivamente 0,18% e 0,14% , em estudos com alunas de escolas públicas, e por Button e Whitehouse (1981) em estudo

com alunas universitárias (0,2%). Em comparação, aos estudos de prevalência de AN em escolas particulares, os resultados desse estudo foram mais próximos aos obtidos por Crisp (1976) e Szmukler (1983), respectivamente 1% e 1,1%. Deve-se considerar que, apesar de freqüentarem uma universidade pública, a maioria das estudantes dessa amostra teve condições financeiras de custear seus estudos em escolas particulares antes de ingressar na faculdade. Portanto, pertencem a classes socioeconômicas mais favorecidas, apresentando, dessa forma, mais um fator de risco importante para o desenvolvimento de distúrbios alimentares, como sugere Szmukler et al. (1986). A prevalência de alunas com comportamento sugestivo de BN nesse estudo (3,5%) é semelhante à descrita por Pyle et al. (1983); Katzman et al. (1984) e Drewnowski et al. (1988) que foi de aproximadamente 4% entre estudantes universitárias. O alto nível de estresse dos estudantes de Medicina em virtude de exagerada carga horária, atividades curriculares e extracurriculares e autocobrança possivelmente contribui também para a maior taxa de prevalência de distúrbios alimentares nesse estudo, quando comparado a outros. Esses resultados se assemelham mais aos descritos por Herzog et al. (1985), os quais verificaram que 15% das estudantes de Medicina já tinham apresentado história de distúrbios alimentares, o que foi relacionado com a intensa pressão psicológica a que estava submetido esse grupo. A correlação entre autocrítica corpórea e BITEescala de sintomas, BITE-escala de gravidade e EAT-26 estava de acordo com o estudo de Fairburn e Cooper (1984), o qual ressalta que anoréxicos e bulímicos são consumidos por medo mórbido de gordura. Neste estudo, apesar de seis alunas (3%) estarem acima do peso normal, 61 (30,6%) se sentiam gordas. Esses resultados foram semelhantes aos de Davies e Furnham (1986), que verificaram em um estudo que menos de 4% das adolescentes estavam acima do peso normal, e o número de garotas que se achavam gordas correspondia a 10 vezes essa porcentagem. A influência da mídia em perpetuar preferências por formas corporais magras, a pressão a que estão submetidas pela sociedade em relação ao peso e o fato de morarem em região litorânea de clima quente, onde a exposição do corpo (vestes mais sumárias, idas a praia e piscinas etc) é maior, podem representar fatores responsáveis pelo alto número de estudantes que se sentiam gordas nessa amostra. O aumento do IMC no decorrer dos anos letivos possivelmente é um reflexo das características do curso de Medicina, uma vez que, à medida que os anos passam, aumentam as responsabilidades médicas, a

Souza, F.G.M.; Martins, M.C.R.; Monteiro, F.C.C.; Menezes Neto, G.C.; Ribeiro, I.B.

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179 carga horária em decorrência dos plantões e o contato com os pacientes, restando menos oportunidade para a prática de esportes e o controle de peso com uma dieta saudável. Nesse estudo não foi possível relacionar a influência étnica com a prevalência dos distúrbios alimentares, uma vez que a amostra é bastante miscigenada na população cearense, dificultando assim uma classificação precisa quanto à cor. Como em outros distúrbios orgânicos, geralmente as pessoas mais acometidas por distúrbios alimentares são provenientes de famílias problemáticas e que têm relações afetivas comprometidas (Morgan et al.,1983). Observa-se nesse estudo que os resultados do EAT-26, do BITE-escala de sintomas e do BITE-escala de gravidade estavam correlacionados significativamente com os episódios depressivos. Portanto, quanto maior a tendência de se ter um distúrbio alimentar, maior era a tendência de se desenvolver um distúrbio depressivo. Limitações Algumas limitações poderiam ser mencionadas na realização deste trabalho: 1. O método utilizado para detecção de casos se baseou exclusivamente em questionários de autopreenchimento. Esse procedimento não se mostra suficiente para se estabelecer um diagnóstico de anorexia nervosa ou bulimia nervosa, uma vez que várias perguntas podem ter sido interpretadas de forma equivocada pelas respondentes. 2. Algumas alunas que preencheram o BITE e o EAT-26 deixaram de responder aos itens sobre autocrítica da massa corpórea e episódios depressivos, portanto os “n” dos gráficos representam as alunas que responderam a ambas escalas e aos itens supracitados. 3. Este estudo não é longitudinal, mas o rastreamento no decorrer dos diferentes anos do curso médico torna-se uma alternativa viável de avaliação dos distúrbios alimentares. 4. Apesar da garantia do anonimato pela nãoidentificação da estudante e da devolução do questionário em uma urna, é possível que algumas informações tenham sido sonegadas. Referências bibliográficas AMERICAN P SYCHIATRIC ASSOCIATION – Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 3 a ed. Washington, D.C. 1980.

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