Projeto PERGUNTE E
RESPONDEREMOS ON-LINE
Apostolado Veritatis Spiendor com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoríam)
APRESENTAQÁO DAEDigÁOON-LINE Diz
Sao
Pedro que devenios
estar preparados para dar a razáo da nossa esperanca a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15).
Esta
necessidade
de
darmos
conta da nossa esperanga e da nossa fé
'
hoje é mais premente do que outrora, visto que somos bombardeados por numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenga católica mediante aprofundamento do nosso estudo.
um
Eis o que neste site Pergunte e
Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de vista cristáo a fim de que as dúvidas se dissipem e a vivencia católica se fortalega no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabalho assim como a equipe de Veritatis Splendor que se encarrega do respectivo site.
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003. Pe. Esteváo Bettencourt, OSB
NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos convenio com d.
Esteváo Bettencourt e
passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual conteúdo
da
revista
teológico
-
filosófica
"Pergunte
e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagao.
A d Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.
RCLKfAó 6O4JTOINA
UftUA MOOAL A Jo
ANO XIV — N» 165
SETEMBRO DE 1973
índice Pág.
EM CIRCULO DE AMIGOS
377
Experiencia lamosa:
QUE É UM "KIBBUTZ"?
'..
381
Táo importante quanto difícil: "ENFERMO, QUE SENTES? COMO TG POSSO
.
AJUDAR?"
397
Ainiia a conlissáo sacramental:
REPORTAGEM-TRAICÁO NA ITALIA A VOZ DA HISTORIA
412
COM
NO
PRÓXIMO
APROVACAO
ECLESIÁSTICA
NÚMERO:
Outra versao dos dez mandamentos? — Novas descobertas
bíblicas? — Arijos e demonios: realidade ou mito? — O chamado «Coma Joansu»
«PERGUNTE
E
(1
Jo 5, 7-8).
RESPONDEREMOS»
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Volumes encadernados de 1958 e 1959 (prego unitario)
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EM CÍRCULO DE AMIGOS... Nos últimos números de PR temos publicado urna serie de narragóes e reflexóes inspiradas pelo contato com a Térra Santa de Israel e com o ambiente de Roma. Sem dúvida, -tais lugares suscitam a meditagáo prolongada do cristáo que se abra á sua mensagem.
Prosseguindo, porém, neste número de PR o nosso bosque jo de viagem, vamo-nos dirigir agora para o Egito, onde o autor destas páginas teve a feliz oportunidade de passar quinze dias (de 4 a 18/VÜ/73) em visitas e estudos dirigidos pelo Prof. P. Richard Makowsky S. J., do Instituto Bíblico de Jerusalém. O Egito, famoso por suas pirámides e esfinges, sempre atraiu a atengáo de estudiosos e viajantes... Vamos tentar sintetizar algo do que a propósito nos ocorre, abordando os tres aspectos que caracterizam as sucessivas fases da historia do pais: a faraónica, a copta (crista) e a mugulmana. 1.
Os faraos governaram a térra do Nilo desde o chama
do «período arcaico» até o período persa, ou seja, de 3100 a 332 a.C. Distribuem-se por trinta dinastías» das quaís nos restam monumentos grandiosos, como templos sagrados, pirámi des, tumbas dos reís, das rainhas, dos nobres... Aos faraós sucederam-se os reís ptolomaicos, após a entrada de Alexan-
dre Magno da Macedónia no Egito (332-30 a. C). As pirámides nao sao senáo mansóes funerarias, ou melhor, habitagóes onde se julgava que o defunto continuava a viver. O ka ou a substancia imortal do homem, tendo deixado o corpo deste pela morte, voltava a vivificá-lo e animá-lo, preparando-o assim para a viagem do Além, como pensavam os antigos egipcios. A fim de que tal processo fosse levado tranquila mente até o fim, os faraós mandavam construir para si mansóes firmes, consideradas indevassáveis1, como sao as pirámides das regióes de Sakkara e Gizeh, perto da antiga capital Ménfis (que nao fica longe do Cairo contemporáneo); dentre todas, sobressai a pirámide de Kheops, com seus 4.500 anos de idade e sua altitude de 146 m. Diziam os antigos árabes a guisa de
proverbio: «O universo teme o tempo, mas o tempo teme as pi rámides», intencionando assim insinuar a perenidade inquebrantável das pirámides, que parecem desafiar até mesmo a agáo corrosiva dos séculos.
Na decoragáo dos templos e das tumbas dos egipcios, me
rece atengáo, pela freqüéncia com que ocorre, o símbolo hieroglífico ank ou «chave da vida» (ver imagem na 4» capa deste 1 Infelizmente, porém, desde cedo
as pirámides
foram
ladrdes, atraídos pela riqueza dos tesouros nelas contidos.
— 377 —
violadas
por
2
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»
165/1973
fascículo). É o sinal que exprime vida e que geralmente se acha na máo da Divindade ou de um faraó. Também se encontra nao poucas vezes o escaravelho, inseto tido como símbolo da ressurreigáo, porque, segundo a lenda, tira de suas próprias cinzas a sua nova vida (o que, alias, também se diz da fénix). Tais expressóes da arte egipcia manifestam quanto o anseio de imortalidade ou de vitória sobre a morte estava arraigado nos sentimentos dos antigos habitantes da térra. Verdade é que esse anseio se concretizava em concepgóes de vida postuma assaz primitivas e «materialistas»: o defunto, em sua sobrevivencia, necessitaria de alimentos, roupas, joias, artefatos, armas, servos para o proteger e afagar, barca para atravessar o Grande Rio... Como quer que seja, tais concepcóes traduzem a consciéncia que nao somente os egipcios, mas os homens em geral, sempre tiveram, de que a morte nao é fim nem ruina, mas apenas tran-
sigáo para outra vida, mais plena e feliz do que a vida presente (caso o ser humano se tenha comportado á altura da sua missáo).
Se o Egito faraónico é realmente faraónico ou rico em facetas que nao podem ser reconstituidas em poucas linhas, nao deixa de ser também altamente interessante para um visitante cristáo o Egito copta. 2. A palavra «copta» inclui as consoantes gregas k p t, que sao as do próprio vocábulo grego Ai gypt os (o k e o g, sendo guturais, se permutam freqüentemente entre si). Os coptas, portante, sao os cristáos nascidos no Egito1. Receberam o Evangelho nos primeiros séculos do Cristianismo. Todavía no
séc. V, ou seja, em 451, por ocasiáo do Concilio de Calcedonia, separaram-se da Igreja Universal por nao aceitarem a fórmu la do Concilio: «Em Cristo há duas naturezas e urna só pessoa»; preferiram afirmar em Cristo urna só natureza, embora reco-
nhecessem Jesús Cristo como verdadeiro Deus e verdadeiro
homem. Hoje em dia os coptas constituem urna comunidade de 6.000.000 de fiéis aproximadamente, residentes quase todos no Egito; tém á sua frente um Patriarca, que nos tempos atuais é Amba (Pai) Shenuda III. — Seja lícito recordar que este
pastor, com sede na cidade do Cairo, esteve em maio pp. no Va ticano, em visita a S.S. o Papa Paulo VI; desse encontró, muito cordial, resultou umaDeclaragáo conjuntamente assinada por Paulo VI e Shenuda, em que é professada a mesma fé em Jesús Cristo, Deus e Homem, nos sete sacramentos da Igreja e em va rios outros artigos do Credo cristáo. Vé-se assim que nao há gran]A lfngua copta nao é senáo o idioma dos faraós escrito com os carcteres do alfabeto grego acrescldo de poucas letras complementares.
— 378 —
EM CIRCULO DE AMIGOS
des diferencas entre o que créem os cristáos do Egito e os católi cos; o cisma ocorrido em 451 se deve explicar por circunstan cias históricas transitorias (o Egito terá procurado assim auto-
afirmar-se frente ao Imperador de Bizándo) ma's do que propriamente por divergencias essenciais na profissáo de fé dos cris táos. Em conseqüéncia, registra-se hoje em dia, entre os pastores
da comunidade copta, nítida abertura para o ecumenismo e a restauracáo da unidade incidentalmente violada no séc. V. Os cristáos coptas constituem no Egito uma grande fami lia, que, por ser minoritaria no conjunto dos 30.000.000 de ha bitantes do país, é unida entre si e fervorosa. Antigás igrejas dos primeiros sáculos atestam até hoje a vitalidade do Cristia nismo egipcio. Este aínda em nossos tempos é muito marcado pela presenga e a agáo dos monges. É conveniente lembrar que foi, sim, no Egito que no séc. IV teve inicio o monaquismo cristáos; após a grande figura de S. Antáo (t 356), o generoso
pioneiro da vida eremítica, povoaram os desertos da Cítia, da Nítria e de Fayoum S. Pacómio, S. Macario e os mosteiros suscitados pelo exemplo e a doutrina desses pais espirituais. Aínda hoje exístem nove mosteiros coptas nos desertos do Egito, sendo um deles constituido principalmente por intelectuais. É dentre os monges que sao nomeados os bispos coptas,
visto que, conforme a tradi"áo oriental, os bispos tém que ser
celibatários, ao passo que aos presbíteros diocesanos é facul tado o casamento. Nao poucos fiéis coptas recebem dos mon ges a sua orientacáo espiritual e se comprazem em ouvir falar prolongadamente de assuntos atinentes á vida com Deus. Baste mencionar que todas as sextas-feiras o Patriarca Shenuda re
cebe na nova catedral copta do Cairo cerca de 4.000 fiéis em uma assembléia compacta, que, depois de cantar o Oficio de Vésppras, se detém das 19h ás 21 h em profundo silencio a ouvir a palavra paterna e impregnada de fé do seu Pastor. Este realiza semelhante encontró aos domingos na cidade de Alexandria! O amor á cruz é uma das grandes características da piedade dessa
gente simp'es, mas ardorosamente fiel a Cristo.
Ainda no Egito, a cidade de Alexandria foi outrora, como se eré, sede do Evangelista S. Marcos; abrilhantaram-na pos
teriormente os grandes mestres cristáos Clemente, Orígenes,
Dion'sio e os doutores da Igreja S. Anastasio e S. Cirilo Ale-
xandrino. Infelizmente, porém, dos documentos desse passado
cristáo de Alexandria quase nada resta atualmente; a cidade tem aspecto moderno, que a sua posicáo de porto marítimo no delta do Nilo contribuí para acentuar.
Em suma, o contato com o Egito cristáo foi para nos, in
tegrantes do grupo, de alto valor e, em muitos pontos, uma — 379 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»
165/1973
auténtica revelagáo, dado que nos países latinos e anglo-saxónicos pouco se fala daquela porcáo de fiéis de Cristo, cuja lingua e cujas tradigóes podem parecer enigmáticas ou pouco sugestivas a um cidadáo ocidental, mas na verdade sao alta mente instrutivas.
3.
A face islámica do Egito é, como
se compreende, a
mais recente. Os árabes muculmanos entraram no Egito no séc. VII, dando nova configuragáo ao país. A cidade do Cairo data de 969, quando o General Gohar langou a pedra funda mental da mesma; na data desse lancamento o pianeta Marte
(em árabe, El-Kahir, o Vitorioso) cruzava o meridiano da nova cidade; em conseqüéncia, esta foi chamada AI-Kahira, a Vitoriosa — nome que posteriormente, por obra dos venezianos, se transformou em Cairo. As belas mesquitas, com seus minaretes (semelhantes a agulhas que apontam para o céu e nele pretendem penetrar), o bazar, com sua mulüpiicidade de tapetes, joias e objetos coloridos, o rio Nilo com suas ilhas recobertas de casas e parques, os edificios da cidade moderna (ho-
téis, sedes da rádio-televisáo egipcia e da administragáo ci vil...) constituem o Cairo mugulmano (antigo e contemporá neo).
É com tais noticias, redigidas a guisa de carta aos amigos e leitores, que abrimos mais um fascículo de PR. Em suas primeiras páginas este caderno ainda apresenta impressoes e ecos de estada na térra de Israel. Com efeito, os ldbbutzim dáo urna nota inconfundível ao país que foi bergo da Biblia. A esse artigo seguem-se dois outros, abertos para questóes de caráter teoló gico, suscitadas pela vida atual. A imagem da 4» capa ilustrará tanto esta carta quanto as refiexóes sobre a chamada «mortoi> do segundo artigo. O leitor desculpará, desta vez, a falta de um quarto artigo, habitual nos fascículos de PR, falta devida á amplidáo do material coletado ñas páginas concernentes aos ldbbutzim. Possam os dados deste fascículo servir a quantos desejam estudar e dialogar! Contribuam para alimentar a táo oportuna correspondencia entre PR e seus leitores! Observagóes e sugestóes seráo sempre benvindas na redagáo de PR. Exprimindo mais urna vez profunda gratidáo ao Senhor, Doador de todos os bens, assim como a todos os amigos e cola boradores (máxime aqueles que nos tém possibilitado melhorar e enriquecer nosso trabalho), continuamos a ser, desta vez no Brasil (c. p. 2666, GB), o irmáo dedicado no Senhor Jesús Estévao Bettencourt O.S.B.
Rio de Janeiro, 8 de agosto de 1973 — 380 —
«PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS»
Ano XIV — N' 165 — Setembro de 1973
Experiencia famosa:
que é um "kibbutz"? Em sintese: Os kibbutzim (forma plural do substantivo hebraico kib butz) sao aldelas coletivistas que, desde o inicio do século, se vém constituid do e multiplicando na térra de Israel. Ninguém ai possui algo em partlcudo e multiplicando na térra de Israel. Ningguém al possui algo em particu lar, e todos tudo possuem em comum. Ninguém ai sobressai sobre os compa-
nheiros financeiramente ou através de carrelra profissional, mas também nin guém al cal na Indigencia, porque a coletlvidade sustenta cada um de seus
membros.
Quem quelra entrar em
um kibbutz como
membro reconhecldo
(haver), deve fazer o estágio de um ano de experiencia, após o qual a assemblóla votará a admlssáo ou nio do candidato, é também a assembléia
quem elege o seu Comité de Direcio. O trabalho em kibbutz é preponderantemente agrícola, podando ser também o de fábrica e manufatura; as 1arefas mals penosas (limpeza, vigia...) sao distribuidas em rodizlo. A educagSo das criancas no kibbutz é feita em quartelrSo próprio, separado das
habitacSes
dos genitores;
pai e mSe sio
dispensados de se
preocupar
com cozinha, lavandería, dieta e saúde dos filhos, pois há puericultoras, psicólogas e professoras encarregadas de todo o sistema de educagáo dos pequeños e jovens. NSo obstante, os filhos passam diariamente quatro horas em casa dos genitores, depois que estes terminara o seu trabalho para a coletivldade (das 16h 30mln até as 20h 30mln aproximadamente); assim nao se dlssofve o relacionamento entre pais e filhos.
No kibbulz a religiSo
guns poucos
kibbutzim
-retigioso (o qual,
fica sendo assunto de foro
particular.
Há al-
suas concepcSes stalinlstas
depois
religiosos, como
porém, abandonou
houve um
kibbutz
marxista,
antl-
aue a Rússia Soviética passou a desenvolver política desfavorável a Isra el). Embora a maioria dos kibbutzniks (membros de kibbutz) pareca Indi
ferente á ReligiSo, deve-se dizer que a tradigSo religiosa dos antepassados está profundamente arraigada na alma de todo judeu contemporáneo. A vida moral dos jovens mista que recebem. Em
suma, os kibbutzim
em kibbutz é assaz
livre, dada a educacSo
sao urna resposta do senso
de rolidarledade
dos judeus aos seus correligionarios oprimidos; tém beneficiado grande mente a térra de Israel, do ponto de vista económico e militar. Mas pode-se dizer que pratlcam um socialismo rígido demals, o qual pode concor rer pqra despersonal Izar de certo modo os Individuos e para dissolver os vínculos da familia. Além disto, parecem exigir grande capacldade de re-
— 381 —
6
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 165/1973
núncla e abnegacáo da parte de seus membros, sem Ihes propor urna filo sofía ou urna mística suficientemente rica para sustentar tal despojamento
de si mesmos. Verdade é que os kibbulzlm estáo sujeitos a evolulr.
Comentario: Urna das realidades mais conhecidas (ao me nos, de nome) do moderno Estado de Israel é a dos kibbuteim (forma plural do substantivo hebraico kibbutz, que quer dizer «coletividade»). Sabe-se que é um empreendimento cooperati vista, coletivista, mas geralmente nao se tem nogáo exata do que representa. Visto que
o interesse e a curiosidade em torno
do assunto sao grandes, principalmente entre estudiosos de cien cias sociais, apresentaremos, a seguir, alguns dados concretos sobre os kibbutzim, dados resultantes de leituras recentes e de visitas e entrevistas feitas últimamente em kibbutziin pelo au tor destas páginas.
Existe mesmo perto de Gaza (sul de Israel) um kibbutz
chamado Bror Hayil (Selecáo do Soldado), cujos componentes
sao quase todos israelitas provenientes do Brasil (Guanabara,
Sao Paulo, Rio Grande do Sul). Esse kibbutz, fundado em 1948,
conta 300 socios ou haverim (companheiros), 260 crianzas (isto é, jovens até a idade de partirem para o servico militar, ou seja,
18 anos)1, e mais 70 andaos ou genitores de haverim (para os quais há um Estatuto próprio, menos rígido do que o dos so
cios propriamente ditos). Nesse kibbutz encontram-se nao poucas reminiscencias do Brasil, tais como o uso da língua por tuguesa (em certos casos), revistas, jomáis, correspondencia do Brasil, placas comemorativas de visitantes ilustres do Brasil... Que é um kibbutz? Como se organiza? Qual a sua filosofía de educacáo e de vida? — Eis algumas das questóes que pro curaremos abaixo elucidar.
1.
«Kibbutz»: que é? Como surgiu?
1. O kibbutz (ou também kevuzah) é urna aldeia comu nitaria em que todos os bens sao propriedade comum e o traba do servico militar em Israel ó estenslvo a rapazes e mocas, durando tres anos para aqueles e dols anos e meló para estas. As mocas em servico atrlbuem-se funcSes condizentes com sua fndole próprla, como as de enfermagem, educacfio, escritorio, etc.
— 382 —
KIBBUTZ: QUE É?
lho é organizado em quadro coletivo. Os membros do kibbutz ou haverim oferecem ¡a comunidade as suas aptidoes, o seu labor e os frutos deste, recebendo em troca habitagáo, alimentagáo, servigos diversos e assisténcia social. A assembléia geral do kibbutz elege o Comité ou Secretariado que administra a instituigáo. Essa comissáo consta de um Secretario Gera!, de um Tesoureiro, dos Chefes dos diversos setores de trabalho (po mar, horta, vacaría, leitaria, cerámica ou outra industria...), de um distribuidor da produgáo e de outros oficiáis requeridos pelo contexto do kibbutz. Em 1971 havia 229 kibbutzim em Israel, cada qual com urna populagáo que variava entre 60 e 2000 membros. Os kibbutzniks (ou habitantes de kibbutz) constituem hoje em dia cerca de 4% da populacho total do país de Israel.1 Do kibbutz
moshav).
distinguem-se
os
mosliavim
(no
singular,
Moshav simplesmente dito é urna aldeia na qual os meios de produgáo sao propriedade particular, mas a produgáo é ven dida por intermedio de urna cooperativa central, que se encarrega da distribuigáo dos lucros da coletividade segundo os prin cipios da assisténcia mutua e da solidariedade. — Em 1971 existiam 347 moshavim de tipos diversos, com urna populagáo que variava entre 100 e 1000 membros para cada moshav. No moshav shitoufi (no plural, moshavim shitoufiyim) os meios de produgáo sao propriedade comum; mas cada familia tem sua casa própria e se encarrega da educagáo dos seus filhos. O trabalho e a remuneragáo respectiva sao adaptados as condigóes individuáis. — Em 1971 contavam-se 22 moshavim shitoufiyim, com urna populacáo oscilante entre 60 e 300 mem bros para cada um.
2.
O primeiro kibbutz foi fundado em 1909 á margem
do Lago de Genesaré (ou Tiberíades) com o nome de Degania
(Trigo de Deus), por um grupo de pioneiros migrantes da Rússia czarista. Em 1914 já eram onze os kibbutzim estabelecidos 1No Inicio de 1971, a populac&o de Israel (sem contar os territorios ocupados desde 1967) era de 3.001.400 habitantes, asslm repartidos; 2.561.400 judeus, 328.600 muculmanos, 75.500 crlstSos e 35.900 drusos e outros.
Nos territorios ocupados desde
muculmanos, 32.000 cristaos
1967, há 990.000 habitantes:
e 6.000 drusos.
— 383 —
952.000
8
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 165/1973
na Palestina sob a responsabilidade da Organizagáo Sionista (entidade que lutava pelo restabelecimento dos judeus em sua térra originaría). Compreende-se que o ideal da solidariedade, do auxilio mutuo e do cooperativismo tenha rápidamente to
mado vulto entre os israelitas que se transferiam para a Pa
lestina, pois experimentavam ao vivo a necessidade de se de
fender de intemperies e surpresas num país que otomanos e árabes ocupavam havia sáculos. Os primeiros kibbutzim tinham poucos membros, os quais se inspiravam na idéia de constituir como que urna familia grande. Eis o programa que em 1911
Joseph Trumpeldor estabeleceu para o movimento de kibbutzim num Congresso realizado na Rússia, a fim de definir o que sig nificaría para os judeus o regresso á Palestina:
"A finalidade da fundacfio de instituicóes comunais na térra de Israel
é a libertado da dupla servidáo: a nacional e a social.
Os trabalhos da instituicáo comunal serao agrícolas, artesanais e in dustriáis.
A kevutzah (coletividade) de trabalho comunal deverá constar de cerca de quinze pessoas.
As vantagens da instituicáo comunal no plano nacional e social consistem em:
— favorecer o aumento da produtividade gragas á unificacio da agri cultura, da criac&o de gado e da industria; — fomentar a consciéncia de trabalharmos sem constrangimento, nao impelidos pelo medo, mas por urna vontade sincera; nSo em favor de um explorador, mas para o próprlo bem;
possibilitar a organizado do
trabalho em condicSes adaptadas á
higiene do organismo humano;
— possibllltar a
satlsfacáo
das
aspiracóes espirituais dos membros
da coletividade.
Essa forma de ¡nstltuicáo permitirá á mor parte do povo judeu (ixar-se na térra de Israel.
Menosprezando as iniciativas dos grandes e pequeños capitalistas, na
turalmente obrigados a explorar o trabalho alheio e dar preferencia á máo de obra árabe, de baixo preco, nos recusaremos, de acordó com os nossos principios, trabalhar como operarios assalariados.
Esta forma de instituicao será também a resposta única e absoluta á
penosa questao da máo de obra judaica".
Após a primeira Guerra Mundial (1914-1918), por efeito da Declaragáo Balfour (na qual a Inglaterra em 1917 se declarava favorável á criagáo de urna patria para os judeus na Palestina), as cooperativas judaicas tomaram impulso notável. — 384 —
KIBBUTZ: QUE É?
Milhares de jovens afluiram entáo para a Palestina, proveni entes da Rússia e da Europa Central; sentiam-se animados por idéias revolucionarias e aspiragóes socialistas, em grande parte inspiradas pelos acontecimentos da Rússia de 1917. Foi a par tir de entáo que os kezuvot se transformaran! em aldeias quase autárquicas, combinando agricultura e industria, sob o nome consagrado de kibbutzim. Estes aos poucos foram-se confede rando entre si, de acordó com suas tendencias sociais, políticas e religiosas, de sorte que hoje em dia existem quatro Confederagóes de kibbutzim em Israel. Estes tém desenvolvido impor tante fungáo na ocupagáo e no cultivo da térra de Israel; regióes pouco habitadas e tidas como esteréis ou inóspitas váo
sendo recuperadas e transformadas por esse tipo de povoados.
É dos kibbutzim que procedem 26% da colheita total de Israel: 54% dos cereais, 15% dos legumes, 67% das frutas, e 36%
do Ieite.
Consideremos agora um pouco mais detidamente
2.
A filosofía do «Kibbutz»
1. A vida de um kibbutz é norteada por um socialismo assaz radical. Ninguém possui algo em particular; ninguém re cebe salario propriamente dito, e todos possuem tudo em comum.
Nessa grande coletividade, o que se pede a cada um é o
trabalho segundo as suas capacidades, e o que se lhe dá sao os
meios de subsistencia segundo as suas necessidades. A própria térra habitada e cultivada pelos kibbutzniks nao pertence ao
kibbutz, mas ao Estado de Israel: é alugada pelo prazo de 49 anos, de sorte que de 49 em 49 anos deve voltar ao Estado (que naturalmente tem todo interesse em renovar imediata-
mente o contrato de aluguel com os kibbutzniks).' 'O principio de que
a térra,
de 49 em 49 anos, deve voltar ao seu
ostado original ou ao seu primeiro possuidor, encontra-se na Biblia. Pren-
de-se ao jubileu ou sábado (7 x 7 = 49 represenlam um todo completo ou
um ciclo definido e fechado em si). Cf. Lev 25,8-16. 23-31.
A Lei de Moisés estabeleceu tal principio para o povo de Israel a fim
lhe lembrar que ninguém era propriamente dono da térra prometida; todos deveriam reconhecer que esta era dom gratuito do Senhor Deus aos homens.
No kibbutz, o antiqo costume do jubileu da térra é observado sem que isto implique em conviccSes religiosas por parte dos havertm. O fato, porém, mostra quáo ligadas estao as tradic&es e as leis civis aos preceitos religiosos em Israel. O judaismo, em última análise, é indissoluvelmente urna pertinencia étnica e urna religiao.
— 385 —
10
um um tes cáo
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS* 165/1973
Se alguém ou um casal deseja incorporar-se á populacáo de kibbutz, deve fazer um período de experiencia, que dura ano. Durante esse prazo, cada candidato é submetido a tes de saúde física e psicológica, de sociabilidade e de abnegade si, que podem revelar se a pessoa ó apta ou nao a viver
a vida comunitaria de um kibbutz. Terminado o ano de expe riencia, a assembléia geral do kibbutz (constando de todos os socios do mesmo, e somente estes) vota a respeito da admissáo ou nao do candidato. Caso este seja tido como inepto, é despe dido. Se é aceito, passa a compartilhar dos direitos de socio
(ou seja, de voz ativa e passiva na coletividade). Quem tem posses pessoais (dirrheiro ou outros bens) ao iniciar sua expe riencia em kibbutz, deposita essas posses em um Banco ou algo
de semelhante; nao lhe é licito, no kibbutz, usufruir dessa pro-
priedade particular. Caso seja admitido como membro da comunidade, o candidato dá ao kibbutz as suas posses pessoais; poderá recebé-las de volta, se abandonar legalmente o kibbutz. 2. O padráo de vida é exatamente o mesmo para todos os socios do kibbutz — o que quer dizer que ninguém sobe no plano económico independentemente da coletividade. É esta que estipula, em assembléia, o tipo de casa, de mobiliario, de gela-
deira... que cada socio ou casal poderá ter. A assembléia esti pula quanto cada individuo poderá perceber para suas despe sas pessoais (cigarros, bombons ou alguns hobby, como vitrola e discos...). Se alguém quer adquirir livros ou assinar revistas em vez de comprar cigarros, pode fazé-lo dentro dos limites da
quantia que lhe toca.
É também a assembléia que estipula se e quando os socios podem viajar para o estrangeiro (há muitos kibbutzniks que
vém da Europa Ocidental, no Norte da África ou da América e que tém prazer ou necessidade de rever sua térra de origem, onde deixaram familiares). Se algum membro do kibbutz dese ja dedicar-se ao estudo em alguma Universidade, proponha seu intento á assembléia que, caso o aprove, lhe custeará os estudos. Em geral, os lucros excedentes de um kibbutz sao aplica dos á assimilacáo de novos membros, que reforcaráo o vigor do conjunto, ou á fundacáo de novo kibbutz, ou ainda (o que vai apenas até certo grau, para evitar o
aspecto
de
aburguesa-
mento) á melhora das condicóes de vida da comunidade. Os membros efetivos de um kibbutz sao livres para se re tirar do mesmo, desde que o queiram. Segundo a boa ética, pe-
— 386 —
KIBBUTZ: QUE É?
11
de-se-lhes que comuniquem a sua decisáo com um mes de an tecedencia, a fim de que a coletividade nao seja bruscamente privada de um colaborador seu. Ao deixar o kibbutz, o socio re cebe urna ajuda de custo correspondente ao número de anos que passou na comunidade (o que geralmente nao representa gran de quantia); nao leva consigo senáo seus pertences estritamente pessoais e os bens que tenha doado ao kibbutz por ocasiáo de sua admissáo.
3. Vé-se que, para ingressar e ficar em um kibbutz, o candidato deve dispor-se á renuncia radical a qualquer ambicáo pessoal, mesmo legitima; nao poderá pensar em «fazer carreira». Mesmo o Secretario Geral e os demais responsáveis do Se
cretariado do kibbutz percebem exatamente o mesmo
trata-
mento que o mais modesto dos membros da coletividade; o filho do Secretario Geral recebe educagáo idéntica á de qual quer outro filho do povoado. Dos kibbutzim procedem atuais Mi nistros de Estado de Israel, como o da Defesa, o da Educagáo, o da Informagáo, o da Absorcáo de Imigrantes... O Primeiro Ministro Sra. Golda Meir e seu antecessor David Ben-Gourion viveram em kibbutz. Mesmo na alta magistratura tais figuras públicas continuam como membros do kibbutz e voltam a sua modesta habitacáo campestre em fins de semana, compartiIhando entáo os trabalhos manuais e a vida da coletividade.
Cada residencia no kibbutz consta de um quarto, urna sala de estar e um banheiro, de paredes geralmente pré-fabricadas. O respectivo mobiliario é padronizado; a ornamentagáo fica a gosto de cada casal ou cada individuo (no kibbutz também há celibatários e viúvos), dentro das possibilidades financeiras que a coletividade lhe reconhece. Nos kibbutzim mais ántigos, que sao os mais desenvolvidos, há geralmente um refeitório comum (do qual cada memoro é encarregado periódicamente), urna sala de estar comum
(nao raro, com tclcvisáo), um cen
tro cultural com sua biblioteca, urna sala de música... Regu larmente sao exibidos no kibbutz filmes cinematográficos; ar tistas, cantores, companhias de orquestra ou teatro podem ser
contratados pela assembléia para recrear a populagáo de um ou mais kibbutzim da mesma regiáo em ocasióes oportunas (as
vezes, o conjunto de kibbutzim de urna regiáo tem seu anfitea
tro para uso comum, como também pode ter sua escola secun daria e outras dependencias a servigo de toda a populacáo de tais kibbutzim).
— 387 —
12
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 1G5/1973
No kibbutz se dá grande valor ao trabalho pessoal; sao igualmente estimados todos os tipos de tarefa. No decorrer dos tempos, o kibbutznik fica mais ou menos permanente em deter minado setor de trabalho; mas há sempre mudanzas ou rodízio na distribuicáo de certos afazeres, principalmente dos mais penosos (limpeza, vigilancia noturna...). Em suma, dizem os kibbutzniks que no kibbutz ninguém sobe ou se promove sozinho, sobressaindo sobre os companheiros, mas também nin guém cai no kibbutz, pois a coletividade se prontifica a ajudar a cada um de seus socios posto em especial necessidade.
Se alguém se evidencia aos poucos como elemento ocioso, parasitario no kibbutz, pode-se-lhe mover um processo de expulsáo. Geralmente, porém, evita-se isto; o próprio individuo
se pune ao sübtrair-se á coletividade ou ao abusar déla, pois no kibbutz tudo 6 táo comum que ou o individuo aceita inte gralmente a vida comunitaria e pode ser feliz, ou se condena a marginalizacáo e passa a levar um tipo de vida doentia ou desumana.
4. Além da populagáo media de um kibbutz, que é a dos adultos responsáveis pelo trabalho e a producáo, há dois outros tipos de moradores em um kibbutz: as chamadas criancas (até os 18 anos de idade) e os anciáos. Daqueles tratará o pró ximo subtitulo deste artigo, ao passo que a respeito destes se segué urna palavra.
Todo socio de um kibbutz tem o direito de levar para jun to de si os seus genitores, como todo filho tem o direito de le var para sua casa os respectivos pais. Muitas vezes os genito
res dos kibbutzniks sao anciáos que saem do estrangeiro (onde nasceram) para ir morar em Israel. A esses anciáos no kibbutz nao se impóe o mesmo regime socializante dos mais jovens. Moram em quarteiráo próprio; cada um dá a contribuigáo de tra balho que pode (se nada pode dar, é sustentado gratuitamen
te) ; recebe o tratamento de que necessita; tem direito a pecu lio, a televisáo própria e outras pequeninas regalías. Muítas vezes, porém, os anciáos constituem colunas vivas e fortes do kibbutz, dedicando-se ao cultivo de jardins, ao concertó de sapatos, roupas, á cozinha, etc. Passemos agora á consideragáo do que sejam — 388 —
KIBBUTZ: QUE É?
3.
13
Familia e educa;áo no «klbbutz»
A vida da familia no kibbutz é muito marcada por crite
rios de trabalho e eficiencia.
Em todos os kibbutzim (com excegáo de doze aproximada mente), as criangas até os 18 anos de idade vivem no seu quar-
teiráo próprio, também chamado «kibbutz das criangas», onde dormem, brincam e estudam, sob os cuidados de puericultores ou educadores formados. Desde os seus primeiros anos, sao ha
bituadas á vida comunitaria — o que muito se reflete poste riormente na personalidade do jovem adulto. Assumem
desde cedo as responsabilidades que lhes sejam compatíveis; as
educadoras váo despertando nos pequeños o senso da organi-
zagáo e da administragáo. As criangas formam entre si grupos-mirins da. mesma idade (... até um ano, de um a dois anos, de dois a tres anos, etc.); cada grupo tem sua casa própria, onde há um dormitorio com quatro, cinco camas, banheiro, sala de recreio, etc. A noite, urna ou duas puericulturas ficam de plantáo no quarteiráo das criangas e sao avisadas de qualquer
ruido extraordinario ocorrente num ou noutro dormitorio, me
diante instalagáo eletrdnica de alta sensibilidade. Os dormito rios sao comuns a meninos e meninas até os treze anos de idade; é entáo que se faz a separagáo dos sexos.
Quanto aos genitores, vivem no quarteiráo residencial do kibbutz. As máes estáo dispensadas dos afazeres domésticos mais pesados (nao cozinham, nem lavam a roupa; nao se levantam á noite para atender ao choro dos filhos...), a fim de poder trabalhar sete horas por dia no campo ou numa oficina,
enquanto os maridos trabalham oito horas em setor análogo.
Os genitores levantam-se muito cedo e saem logo para a labuta; durante o dia poderáo encontrar-se no refeitório comum (onde ás vezes os filhos os iráo ver). Pai e máe, quando pas-
sam pelo quarteiráo das criangas durante o trabalho diurno, podem saudar seus filhos, caso os encontrem. As 16h ou 16h 30min, cessa normalmente o trabalho. Entáo pai e máe voltam para seus aposentos, onde encontram seus filhos até as 20h ou 20h 30min, quando os pequeños se retiram para seu
quarteiráo próprio; há entáo o convivio e o lazer da familia.
Após o jantar, cada kibbutznik pode fazer o que queira, ou no grande saláo de estar (com televisáo, jogos, jomáis...) — 389 —
14
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 165/1973
ou em alguma residencia. Em certas datas do ano, principal mente aniversarios, pai e máe poderáo desejar que seus filhos passem a noite na casa dos genitores. Geralmente, porém, os filhos nao o aceitam, ou porque se acostumaram ao dormito rio das criancas (onde o ambiente é mais variado e distraído do que o da casa paterna) ou porque a educacáo do kibbutz os leva a recusar excegóes ou procedimentos singulares. A quem objete que a familia no kibbutz é esfacelada, respondem os apologistas que, em parte alguma na sociedade con
temporánea, a vida de familia é táo cultivada como no kibbutz;
difícilmente, dizem, um casal moderno tem quatro horas por día ou mais para estar com seus filhos, pois nao raro o pai (as vezes também a genitora) sai de manhá cedo para o trabalho, quando os filhos ainda estáo dormindo, e só volta á noite, quando os encontra já deitados; se o casal tem posses, pai e máe se levantam quando as criancas já foram para a escola, e a noite fazem seus programas próprios e sua vida social. Á genitora, após o parto, sao dados seis meses de ferias, a fim de que possa amamentar regularmente seu filho no
quarteiráo das criangas e dedicar-se um pouco aos afazeres da maternidade (que as puericultoras compartilham em larga es cala). Após ós seis meses, volta ao trabalho, que ela vai reassumindo gradativamente.
Os pesquisadores tém examinado os efeitos
psicológicos
de tal sistema educacional. Embora hajam registrado em va rios adolescentes lacunas de comportamento decorrentes da ausencia da genitora, julgam que tais lacunas sao supridas e superadas posteriormente pela pujante influencia do ambiente coletivista em que vivem os jovens.
É mesmo voz corrente nos kibbutzim que a familia do kibbutz é a familia mais familia da sociedade israelita. Com efei-
to, os cónjuges ai nao tém preocupacóes económicas (as quais por vezes irritam e causam mal-estar no lar); há certa igual-
dade entre marido e mulher porque ambos trabalham, susten tando a vida comum; das 16h ás 20h aproximadamente sao
obrigados a estar com os filhos em casa, mesmo que os pais nao o queiram.. .
A educagáo das criangas é assessorada por testes psicoló
gicos, regimes nutricionistas, técnicas montessorianas, etc. Cada kibbutz tem geralmente o seu jardim de infancia e a es— 390 —
KIBBUTZ: QUE É?
15
cola primaria. Os graus seguintes de ensino sao ministrados em escolas regionais, que servem aos diversos kibbutzim de deter
minado territorio; os jovens váo diariamente
á escola em
transporte da coletividade. Alias, ninguém tem carro próprio no ldbbutz, embora possa ter sua bicicleta pessoal. Entre os 12 e 15 anos os jovens comegam a trabalhar no campo, num esta bulo ou numa oficina, sob a orientacáo de um adulto.
Como se compreende, a escola é obrigatória para todo cidadáo israeliano. Em alguns territorios ela oferece o currículo normal científico-humano, o currículo agro-mecánico, como também cursos especializados para favorecer alunos que precisem de mais intenso atendimento (em matemática, em físi ca, em línguas...). Número crescente de jovens de ldbbutz passa para a Universida.de (em Tel-Aviv, Haifa...), sem dei-
xar de ser membro da" coletividade. Já registramos que nao
poucas personalidades públicas em Israel sao filhos de ldbbutz:
80^ do pilotos tém origem ai; o exército recruta seus oficiáis ñas populares de kibbutz. Tem-se verificado também que 75% dos que nasceram em kibbutz, permanecem na coletivi
dade, apesar de todos os atrativos que a vida urbana oferece ao cidadáo contemporáneo.
Impóe-se agora a importante questáo concernente aos
4.
Valores moráis no «kibbutz»
1. Antes do mais, pergunta-se: qual a posicáo que a Religiáo e suas observancias ocupam num kibbutz? — A filosofía do kibbutz é indiferente ou neutra frente
aos valores religiosos. Ela se define independentemente da Religiáo. Se algum ldbbutznik quer ter fé e praticar atos de piedade, pode fazé-lo. A grande maioria dos kibbutzim nao tem
sinagoga; caso, porém, a assembléia de um kibbutz o decida, ela construirá sua sinagoga. Um ou outro kibbutz se professa religioso, observando, entáo, oficialmente as prescricóes religio sas do judaismo. Alias, em todos os kibbutzim (como no país de Israel inteiro) observa-se o sábado. Houve também forte influencia do comunismo materia
lista sobre certos kibbutzim, que apregoaram mesmo
a filoso
fía atéia de Marx, procurando dar sentido leigo ou arreligioso á festa de Páscoa, ao casamento, aos funerais, etc. Todavía — 391 —
16
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 165/1973
essa propensáo para o marxismo, devida á influencia soviéti ca, cessou quase totalmente após a Guerra dos Seis Dias (1967) e a tomada de posigáo antiisraeliana que tem caracterizado a política soviética.
Nota-se que a maioria dos kibbutzniks, constituida de gen te voltada para o trabalho e a producáo numa ardua luta de sobrevivencia, nao se preocupa muito com as práticas religio sas. A conduta dos chamados «judeus ortodoxos», que se revestem de casacos longos, usam barbas, trangas, franjas de ora-
gáo, repudiam a carne de porco, o tráfego pelas rúas e estra das ao sábado, etc., provoca reagáo negativa da parte de nu merosos jovens israelianos, que se entregam á vida de traba lho nos moldes modernos. Dai a aversáo de muitos kibbutzniks e cidadáos as observancias do judaismo; conseqüentemente, falam lingua e tomam atitudes laicistas. 2. Todavía verifica-se que os valores religiosos estáo profundamente arraigados em todo judeu, saiba-o ou nao o saiba. Com efeito, as origens e as tradigóes todas do povo de Israel estáo inseparavelmente vinculadas á Religiáo; a experi
encia, principalmente a que se vive cotidianamente no Estado
de Israel, confirma cada vez mais que o judaismo é simultá neamente urna pertinencia étnica e urna religiáo. Por conseguinte, a autoafirmagáo de Israel há de ser necessariamente urna reafirmagáo de valores religiosos. Para um judeu, negar esses valores e tradigóes equivale, de certo modo, a negar sua identidade ou a deixar-se assimilar e absorver por outros povos. Para ilustrar esta assergáo, seja citado o depoimento seguinte:
Dizia recentemente um Secretario Geral de kibbutz, pessoa graduada na Universidade de Tel-Aviv, que, se se fizesse
um inquérito entre os judeus de Israel sobre a orientagáo geral do Estado, 30 ou 40% dos judeus responderiam em tese que desejam um Estado de Israel leigo, sem vinculagáo religiosa, visto que,
para muitos,
a Religiáo
(principalmente
como a
professam os «ortodoxos») é um fardo retrógrado. Mas, se o
inquérito descesse a perguntas concretas e minuciosas, 90%
optariam por atitudes religiosas: desejariam o casamento re
ligioso (casamento nao religioso poderia ser casamento misto entre judeu e nao-judeu), o enterro religioso com sepultamen-
to em cemitério israelita, a cerimónia do Bar-mizvah (ou de consagragáo do menino de 13 anos ao servigo da Lei de
Moisés)... Nestas respostas concretas, despontariam, intima— 392 —
KIBBUTZ: QUE É?
17
mente vinculados entre si, o senso religioso e o senso étnico ou nacional de todo judeu. O povo de Israel se cindiria, isto é, se condenaría a fraqueza e á ruina, se o Estado adotasse leis que contradissessem as exigencias da Halaká ou das normas tradicionais, interpretadas para o nosso tempo pelo Gráo-Rabinato de Jerusalém; os «ortodoxos» e outros muitos judeus repudia rían! tal Estado. Precisamente, Baruch Spinoza foi excomungado pelos rabinos do seu tempo (séc. XVH) porque propos a separagáo de Religiáo e Estado, colocando o Estado ácima das instituigóes religiosas. O ser cidadáo normal em Israel nunca será a mesma coisa que ser cidadáo normal no Brasil, na Alemanha ou na Franga...; ficará sempre algo da marca religio sa no judeu normal.
Mais: acontece que Israel é um país que vive em pé de guerra, cercado como está, por todos os lados, de vizinhos que o ameagam. Ora esse estado de pé de guerra incita constante
mente os jovens de Israel a pensar nos valores fundamentáis de sua nacionalidade; servindo no exército, muitos tém sua fé despertada, propensa mesmo a exprimir-se em observancias con cretas e minutas.
3. Quanto á vida sexual, observa-se o seguinte: a educagáo mista desde os primeiros dias da crianga faz que meninos e meninas, rapazes e mogas nao hesitem em usar cedo do sexo, contraindo relagóes sexuais mesmo antes do matrimonio. Este comportamento é facilitado pelo fato de rapazes e mogas trabalharem conjuntamente no exército e em servigos públicos de Israel.
Todavía o problema das drogas nao é cruciante entre os jovens do país.
O observador que se tenha informado, aínda que suma riamente, a respeito» da vida de um kibbutz, é espontáneamen
te impelido a procurar formular um juízo de valores sobre tal
instituigáo, singular como é. — Tal será o propósito das reflexóes seguintes.
5.
Que pensar? Que dizer?
Há os grandes entusiastas do kibbutz, como também há os que lhe fazem restrigóes e propóem emendas para as posigóes mais radicáis de tal instituigáo.
— 393 —
18
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 165/1973
Abaixo sugeriremos alguns pontos
de reflexáo sobre o
assunto.
5.7.
Procurando
entender
A filosofía e a psicología dos kibbutzim se explicam bem desde que se leve em conta a origem de tal instituigáo. O solidarismo, o coletivismo, o senso de autarquía e de autodefesa, constituem urna resposta á situagáo de instabilidade e inseguranga a que estavam sujeitos os fiíhos de Israel no século passado e no inicio do século XX. Finalmente, tendo entrado na térra do Israel, os judeus trataram de se afirmar nos moldes da solidariedade de um kibbutz; o senso da fraternidade, o amor e o apoio ao irmáo lomaram assim novas e espontáneas formas entre os israelitas.
Mais: a carencia de produgáo agrícola e a necessidade de lutar por desenvolver a agricultura no país de Israel, tido co mo árido e inóspito cm militas de suas regioes, exigiram o esforgo do cooperativismo concretizado nos kibbutzim. Estes real mente tém transformado o país, que luta contra a falta de térra arável e a falta de agua. Até a agua de esgoto é aproveitada (depois de devidamente filtrada) para a irrigacáo de certas culturas. A dessalinizacáo da agua do mar só se faz em Eilat (Mar Vermelho) e em alguns portos marítimos da pe nínsula do Sinai; mas resulta carissima, e só serve para prover a quartéis, acampamentos, notéis, restaurantes..., e nao á lavoura. Verdade é que se tém descoberto pogos de agua no subsolo israeliano; todavía nem sempre de agua potável...
Ora inegavelrnente em tal meio geográfico o cooperati vismo é esteio e forca, permitindo a realizagáo de facanhas que o pequeño camponés jamáis poderia realizar a sos: há má quinas de ceifar, descarocar, desidratar legumes, há frigorí ficos, abatedores de galinhas, garagens mecánicas, etc., que ser-
vem aos kibbutzim de urna regiáo inteira, proporcionando rendimento notávcl aos trabalhos de lavoura, criacáo e exportacáo.
É por isto também que o número de kibbutzim tende
a
crescer no Estado de Israel. No plano de povoamento do país, fez-se a escolha de lugares adequados para a fundagáo de novos núcleos; os postos de fronteiras sao especialmente visados,
pois a populacáo de um kibbutz colabora também na defesa do territorio de Israel. — 394 —
KIBBUTZ: QUE É? 5.2.
19
Falando concretamente...
Nao é sem fundamento que os estudiosos discutem um ou outro elemento da existencia em kibbutz. a) Trata-se de um tipo de vida em que o socialismo, com seus propósitos de eficacia e rendimento, pode sufocar a personalidade de seus membros. O marido-pai e a mulher-máe pareccin ser, antes do mais no kibbutz, colocados na categoría de trabalhadores, aos quais se deve garantir primeiramente a possibilidade de produzirem algo. A isencáo de preocupacóes dos pais com as criangas, a transferencia dos cuidados paternos e maternos para pessoas técnicamente formadas seráo realmen te pontos positivos e irreformáveis? Nao raro no pais de Israel véem-se mogas que possuem atitudes masculinas, tendo per dido a sensibilidade (que nao quer dizer necessariamente moieza e adocicamento) característica da jovem e da mulher. Pode-sc dizer realmente que a psicología dos filhos nao se ressente dessa forma de tecnicizagáo do sistema educacional? Podem a ciencia e a técnica suprir o instinto materno? — Sao estas perguntas que deixamos aqui abertas e que nos parecem me recer atenta consideracáo; nao se lhes pode dar resposta po
sitiva sem que se examinem prolongadamente os
efeitos
da
educagáo em kibbutz.
b) A vida em kibbutz, com seu ideal de pobreza pessoal, despojamento, identificagáo de cada um com todos e de todos com cada um, lembra muito a vida comunitaria das Ordens e Congregagóes Religiosas do Catolicismo. É sedutora; com razáo atrai muitos jovens que, afluindo do estrangeiro, se dispóem a fazer estágio voluntario em kibbutzim, compartilhando integralmente o género de vida dos companheiros ou haverim.
Parece, porém, que tal vida só pode ser realmente fecunda para quem a abraga, caso se Ihe dé urna fundamentado ou urna inspiragáo pujante, capaz de enriquecer espiritualmente a pobreza ou o despojamento materiais do ser humano. Ora c Catolicismo tem sua mística profunda, apta a dinamizar a re
nuncia e a abnegagáo, fazendo-as motivos de santificagáo e he roísmo. Mas — pergunta-se — será que os kibbutzim tém urna m'stica suficientemente rica e forte para encher os coragóes dos seus membros e justificar sua opgáo? É certo que os kibbutzniks professam o amor ao irmáo, a autoafirmacáo do — 395 —
20
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 165/1973
povo de Israel e de seus valores tradicionais, os direitos que
tocam a todos os homens de ter um lugar ao sol... Será, porém, que tais valores, sem profissáo explícita de fé em Deus e de um mundo transcendental, sao o bastante para permitir que urna personalidade humana se desabroche e realize dentro de moldes táo exigentes como sao os do kibbutz?
c) Em íntima relagáo com estas observagóes está a que se refere ao nivel cultural do kibbutz. O trabalho agrícola e a manufatura absorvem o melhor das energías da populacáo res
pectiva; esta fica geralmente confinada dentro do ambiente do kibbutz e das suas adjacéncias; as excursóes culturáis, a parti-
cipagáo em cursos, conferencias, seminarios tornam-se algo de
longínquo, cujo acesso é, por mais de um motivo, difícil (dis tancias geográficas, falta de condugáo própria, certo nivelamento da cultura...).
d)
Resta ainda levantar a questáo da educagáo mista e da
liberdade sexual dos jovens que crescem em kibbutz. Embora se registre atualmente, no mundo inteiro, forte tendencia a nao fazer grande caso do uso (que é propriamente abuso) do sexo antes do matrimonio, nao se pode, nem do ponto de vista da ética natural nem numa perspectiva crista, equiparar continen cia e vida sexual pré-matrimonial; aquela é o padrao normal, higiénico; esta é abusiva e deletéria.
A experiencia dos kibbutzim em Israel já tem decenios e parece que durará ainda por muito tempo. É para desejar, pois, que, aproveitando-se da experiencia do passado, os haverim se interessem por rever os pontos discutidos de sua instituicáo, a
fim de que esta possa realmente propiciar ao país de Israel e á humanidade as reservas moráis e materiais
que se esperam
para se ter urna sociedade feliz. A propósito, podor-se-iam citar os verbetes da nova e documentada "Encyclopaedia Judaica" atinentes a kibbutz: tomo 10. Jerusalém 1971, cois. 959-973.
Interessante também é a pequeña publlcacáo poliglota:
"Israel.
Falts
et chlffres 1972". Jerusalém 1973.
Um dos últimos livros sobre a educacSo em "kibbutz" é o de Bruno Bettelheim: "Trie chlldren of the Dream" — London 1969, livro comentado por Phillppe Julien na revista "Etudes", avrll 1973, pp. 561-566.
— 396
Táo importante quanto difícil:
"enfermo, que sentes?
(orno te posso ajudar"
Em síntese: A assisténcia aos enfermos, principalmente aos mals pró
ximos do desenlace final, é dever que se impde á consciéncla crista. Deus quer servír-se dos homens para salvar os homens; embora possa ali viar e consolar diretamente a cada um, Ele quer precisar de ministros para tanto. Todavía a abordagem de um enfermo grave ou desengañado é algo de delicado e difícil, pois o paciente está sujeito a emocSes varias, que podem perturbar um diálogo sereno e construtivo. Por Isto a sabedorla dos peritos sugere aos sacerdotes e cristáos engajados no apostolado algumas medidas que facilitem a tarefa: 1) Antes do mals, criem entre si e o paciente um clima de bom relacionamento humano, de confianca mutua e amor sincero. 2) Procurem ter o autodominio de suas emocdes. NSo poderá tran quilizar um enfermo afllto pela perspectiva da morte, quem nao tlver aceito serenamente, na fé crista, a perspectiva de sua própria morte. Tal aceltacáo so será posslvel se o cristSo cultivar a oracáo e urna vida de fé profunda.
3) Com tais dlsposic5es e estabelectdo o clima de amlzade, o crist&o apostólo poderá manifestar paulatinamente ao enfermo que sua moles tia nao é algo de vazio e inútil, mas é participacáo na palxñode Cristo, penhor de ressurreicáo e de corredencáo. Poderá mostrar-lhe que ele nao está so, mas existe concretamente na comunháo da Igreja. Estará também apto a sanar a angustia da culpabilidade que acomete mullos enfer mos; se estes tomam conscléncia de haver falhado contra Deus (ás vezes tal consciéncla é fundamentada; outras vezes, é inspirada principalmente por escrúpulos), lembrem-se de que Deus é Pal e perdoa sempre a quem se volte para Ele com o coragáo arrependido; o Cristianismo tem urna mensagem de paz para todos os homens.
NSo se poderla delxar de mencionar também a oracáo em prol do alivio ou da recuperacáo do enfermo. A Sagrada Escritura e a Iradicao crista atestam que Deus a ouve. NIo há, porém, preces de efelto mágico ou infalfvel.
Por último, leve-se em conta que o Cristianismo oferece mals do que
consolacao ou paliativo para a aflicto dos enfermos; ele propde a esperan
za da vltórla sobre a dor e a morte, esperanca decorrente do batlsmo mesmo de cada cristáo. •
*
•
Comentario: A perspectiva do encontró com a enfermidade e a morte é algo que provoca natura-mente reacáo contra ria da parte do ser humano, ainda que este professe e viva urna — 397 —
22
«PERGUNTEJí RESPONDEREMOS»_16_5/1973
religiáo de esperanga e confianga. Todavía deve-se reconhecer que a morte é o que de mais certo existe. Eis por que importa nao por de lado a reflexáo sobre a morte e os seus anteceden tes, mas, ao contrario, cultivá-la em espirito isento de paixóes e emotividade, com otimismo e confianca.
Nao tencionamos propor reflexóes sobre a morte para uso
pessoal do leitor, mas, sim, algumas reflexóes sobre a situagáo psicológica em que se encontra um paciente gravemente enfer mo e sobre as maneiras como lhe pode ser útil um sacerdote, um párente ou um amigo de boa formagáo crista.
Mais precisamente: encontramos as vezes enfermos para os
quais nao há mais cura; «é questáo de tempo», diz o médico. A
este o enfermo incurável pode suscitar compaixáo e afeto, mas, do ponto de vista estritamente médico, nao é um caso interes-
sante, pois coloca ao vivo o problema dos limites da ciencia.
— Quanto aos sacerdotes e agentes de pastoral, compete-lhes pro
videnciar para que os enfermos recebam os subsidios da fé e a
graga de Cristo, que vem pelos sacramentos; urna vez adminis trados estes, poderia o sacerdote pensar que nada mais há a fazer e que mais útil é dedicar o seu tempo (sempre muito so licitado) aos doentes que, tendo esperanga de cura, poderáo um dia reassumir sua tarefa de cidadáo e de cristáo. Ora o aban dono, consciente ou inconsciente, de um enfermo grave, entre
gue doravante aos paliativos da enfermagem, nao é compativel com os nobres sentimentos de um cristáo; este deve procurar
encontrar os meios de aliviar, ao menos moralmente, a situacáo do paciente enquanto conserva lucidez, e ajudá-lo a carregar a cruz com ánimo forte para que possa morrer e ressuscitar com Cristo.
A experiencia ensina que a abordagem de um enfermo que
nao tenha cura, é delicada e difícil. Procuremos reconstituir
concretamente um dos aspectos do problema, concebendo o seguinte quadro:
Já há muito um paciente sofre dores em seu corpo. Toma
consciéncia de que o sofrimento só tende a se agravar, tornan
do a situagáo cada vez mais difícil, apesar dos subsidios da me dicina. A morte se lhe apresenta cada vez mais próxima. —Essc enfermo sempre foi cristáo; orou e freqüentou regularmente os sacramentos. Eis, porém, que em sua fase de angustia nao consegue entender o designio do Senhor, desse Senhor que ele — 398 —
«ENFERMO. COMO TE AJUDAR?»
23
julgava conhecer táo bem em seus dias mais rotineiros. Nao poucos, em tais circunstancias, sao propensos a dizer: «Se Deus
fosse bom, Ele nao permitiría que eu sofra assim!» Caso o sa cerdote ou o amigo responda: «Se vocé sofre tanto, é porque Deus muito o ama», arrisca-se a ouvir urna réplica pungente: «Peca, pois, a Deus que me ame um pouco menos!» — Tais palavras, urna vez proferidas, fecham as portas a um diálogo frutuoso entre o sacerdote (ou o cristáo amigo) e o enfermo. O insucesso entáo dever-se-á, em grande parte, á inepcia. Sim; haveria sido necessário estabelecer previamente um relacionamento de confianga entre pessoa e pessoa, a fim de que a Palavra de Deus pudesse encontrar acolhida positiva.
Em vista, pois, de facilitar a criacáo de um clima propicio
para que os cristáos possam ajudar o enfermo, procuraremos,
ñas páginas que se seguem, examinar de perto a situagáo psi cológica do enfermo. Essa análise permitirá descobrir alguns dos obstáculos a receptividade da Palavra de Deus e possibilitará sugestóes de Índole pastoral.
1.
«Enfermo, que sentes ?»
Esforcemo-nos por penetrar no íntimo do coragáo de um paciente gravemente enfermo. Tal penetracáo há de se fazer na base da experiencia que já tenhamos tido do sofrimento como também por inspiracao de sincero amor fraterno.
Proporemos urna tentativa de análise do "que se dá no pla
no psicológico e natural de todo homem. É certo que a fé tem algo mais a dizer no caso; todavía mesmo ñas pessoas de fé se
verificam expressóes espontaneas da natureza diante dos fenó menos «sofrimento» e «morte». 1.1.
A morte em geral...
E a «minha» morte
A tomada de consciéncia de que a molestia é grave e a
morte ameaga seriamente ou está próxima, constituí muitas.
vezes urna surpresa,... e urna surpresa brutal. Por muito pre parado que alguém julgue estar para enfrentar o seu desenlace, este, em numerosos casos, vem desconcertar o paciente. Ima
ginemos a situagáo de alguém que tenha ouvido falar de cán ceres
dolorosos, de
pacientes
que aos
poucos se tornaram
cegos, de enfermos que experimentaram diariamente a chegada
cada vez mais concreta da morte... Em todos esses casos, tra-
— 399 —
24
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 165/1973
tava-se do cáncer,
da cegueira, da morte de outrem... Eis,
porém, que a morte toma um sentido muito diferente quando já nao é a morte dos outros, mas é a minha morte.
A averiguacáo de que a morte me aguarda ás portas (e nao apenas aguarda todos os homens em gera!) pode sacudir profundamente alguém; tira-lhe os seus habituáis pontos de
referencia — o tempo, os projetos, o amanhá, as esperanzas
terrestres; os horizontes mudam por completo; os olhos físicos se obnubilam; o paciente deve fazer a aprendizagem de urna nova forma de existencia (verdade é que o enfermo cristáo sabe
que nao perecerá, mas terá a vida eterna; todavía ser-lhe-á necessário concretizar esta perspectiva e vivé-la com todo o realismo que ela exige). Em geral, as noticias de desastres e hecatombes que ocor-
rem no mundo, impressionam o público distante; mas nao o impressionam sempre até o fundo da alma (talvez mesmo nao o
possam impressionar tanto). Um mecanismo de defesa psicoló gica e as exigencias da vida que vai correndo, fazem que, rela tivamente sem grande demora, os sobreviventes distantes desviem sua atengáo do desastre para a realidade (menos trágica ou até feliz) em que estáo concretamente mergulhados. Marcel Proust, escritor francés (1871-1922), assim se refe
re á psicose da guerra de 1914-1918 em Paris:
"Eles (os cidadaos) pensavam, sim, ñas hecatombes de exércitos ani quilados, de pedestres tragados... Mas urna operagáo inversa multiplica a tal ponto o que concerne ao nosso bem-estar e divide por um número táo formidável o que nSo Ihe concerne, que a morte de milhóes de ho mens apenas chega a nos fazer cócegas, e cócegas quase menos desa-
gradáveis do que as que produz urna corrente de ar" ("A la recherche du temps perdu". Éd. de la Pléiade, t. III, p. 772).
O terremoto que abalou Managua em dezembro de 1972, o cataclismo que matou 500.000 pessoas no Paquistáo em 1970 atingiram os sentimentos do público no mundo inteiro, provocaram movimentos de solidariedade e socorro; mas é preciso
confessar (sem acusar ninguém) que o abalo da opiniáo pú blica ainda foi bastante superficial.
A literatura mundial ilustrou essa tendencia instintiva que o homem tem a fugir do espectro da morte, mediante alguns textos célebres.
Assim, por exemplo, escrevia Blaise Pascal (f 1662): — 400 —
«ENFERMO, COMO TE AJUDAR?»
25
"Como é posslvel que esse homem que perdeu, há poucos meses, o seu fllho único e que, acabrunhado por processos e querelas, estava hoje de manhfi tSo perturbado, agora nao pense mais nos seus problemas? — Nao se surpreenda o amigo: ele está totalmente ocupado em ver por onde passará o javall que os seus cSes perseguem com tanto ardor desde as seis horas. NSo é necessário mais do que isto. O homem, mesmo o mais visitado pela tristeza, se alguém consegue fazé-lo entrar em algum dlvertlmento, torna-se feliz enquanto o desfruta..." ("Pensóos: Le divertíssement". Éd. Tourmer-Anzieu I, pp. S9s).
Montaigne, filósofo do séc. XVI (fl592), comentava: "O fim do nosso currículo é a morte. Esta constituí o objetivo neces sário do nosso horizonte. Como é posslvel darmos um passo sem febre? O remedio do vulgo consiste em nao pensar... Mas qual a brutal estu pidez que Ihe causa urna tal cegueira?" ("Essais" I p. 20).
O poeta La Fontaine (fl695), na sua fábula «La mort et le bücheron» (A morte e o lenhador), imagina com fino sar casmo o episodio seguinte: "O lenhador chama a
morte...
Ela vem sem demora e pergunta-lhe o que deve |fazer. 'Desejo, diz ele, que me ajudes a recolocar este |fagote sobre os ombros. Tu nao has de tardar1".
("Fables" I 15)
Quando, pois, a perspectiva da morte pessoal e mais ou me nos certeira sobrevém a quem tenha evitado encará-la, ela nao pode deixar de excitar a sensibilidade e as emogóes. Hoje em dia a facilidade relativa com que se debelam as doengas, mesmo as que outrora pareciam incuráveis, pode concorrer para quo o
prognóstico de morte próxima e inevitável seja ainda mais per turbador e desconcertante: «A ciencia e a técnica, que dáo a
impressáo de resolver todos os problemas e eliminar todos os obstáculos, nao teriam remedio para este meu caso concreto?
Amanhá deverei eu realmente — e irremediavelmente — encontrar-me cegó, mutilado e agonizante?» Diz-se que os europeus mais angustiados em tais casos sao os suecos; e isto, precisa mente porque as suas clínicas sao as mais aperfeigoadas e promissoras.
A angustia que assim se instaura em muitos pacientes, pode assumir tres aspectos: a angustia do vazio, a da solidáo e a
da
culpabilidade.
— 401 —
TJ¿K JKESPONDEUEMÜS.» 1(55/1 !>73
Vejamos de per si cada uma destas tres situacocs de ánimo. 1.2.
Angustia do vazio
Imaginemos alguém que passa por uma crise cardíaca e, uní conseqüéncia, se torna hemiplcgico ou paral tico de um lado. Outro paciente perde a vista. A um terceiro as pernas sao amputadas.. . Tais pessoas poderáo reagir com certa gaihardia a esse depauperamento físico. Mas em muitos casos a torca de vontade nao basta; o paciente fica impossibilitado de realizar os atos mais elementares da vida; deverá de entáo por diante depender de outra pessoa como uma crianga depen de... Em tais situacóes, a sensagáo de ser inútil, do levar uma vida vazia, ou mesmo onerosa para outros, pode tornar-so mo tivo de dolorosa angustia. A pessoa que se ocupava de seus negocios e assumia as suas responsabilidades em casa ou fora de casa, vé-se manietada e destituida... Muitos sao entáo ten tados a crer que a sua vida carece de significagáo.
Essa angustia talvez venha a se intensificar quando, com
o decorrer do tempo, o paciente se vé na contingencia de um
despojamento aínda maior: nao somente a locomocáo ou a visáo lhe vém a faltar, mas até mesmo o contato e o relacionamento com o mundo sensível; entra a chamada «morte»... A morte faz perder pé, por completo, na realidade cotidiana; ela toca as raias mesmas do composto humano... Ora um
dos anseios mais profundos da pessoa, desde a infancia, é o de
sobreviver; por isto a cessagáo do único modo de existir que conhegamos — o existir no corpo — causa sempre horror e repugnancia; diante da previsáo de náo-existéncia, a pessoa é propensa a sentir-se frustrada. — Verdade é que o cristáo tem certeza de que nao morrerá propriamente, mas apenas tro
cará seu modo de existir; como quer que seja, a natureza ins tintivamente repudia a cessacáo da existencia corpórea, onde ela estabeleceu seus pontos cardeais. A fé tem que progredir muito para poder acalmar esse repudio instintivo; ela o consegue, sem dúvida, pois nao poucos cristáos através dos sáculos tém encarado a morte como encontró com Cristo e consumagáo das nupcias espirituais. 1.3.
Angustia da solidáo
As relagóes do enfermo com o seu ambiente
costumam
mudar. Em tempo de saúde e prosperidade nao é difícil ter — 402 —
«ENFERMO, COMO TE AJUDAR?*
27
amigos. Mas, quando a molestia sobrevém e torna o paciente menos interessante (do ponto de vista da colaboragáo ou do prazer), o quadro se altera... Enquanto algumas pessoas se desdobram em carinho e desvelo para com os seus pacientes, outras se tornam mais raras, e outras esquecem ou mesmo
menosprezam o enfermo. Quando a molestia é grave, o paciente passa a ser tratado mais e mais á semelhanca de urna crianca. O médico, a enfermeira, os visitantes se tornam sempre mais lacónicos; furtam-se a dar explicagóes ao paciente. Este senté progressivamente que entra na solidáo ou no abandono. Ora é preciso nao esquecer que a existencia e o desabrochar de urna pessoa incluem relacionamento; tem-se dito que a vida huma na é urna rede de relagóes.
O paciente experimenta algo da solidáo de Jó, solidáo na qual sentimentos, afetos e emogóes podem borbulhar sem o controle de urna razáo lúcida e firme. Tal é a angustia da solidáo, á qual pode sobrevir ainda a
1.4.
Angustia da
culpabilidade
Em casos de doenga, tem-se visto freqüentemente o sentimento de culpa tomar vulto na consciéncia e ñas expressóes do enfermo. Muitos sao inclinados a associar as idéias de mo lestia grave e castigo de Deus, como se o Senhor se vingasse
do pecador enviando-lhe a molestia (tal Deus seria um deus
tirano, de mitología, nao, porém, o único Deus, que se revelou no Evangelho). O sentimento de culpa nao é necessariamente mórbido; ao contrario, é auténtico em toda pessoa humana, quem quer que
seja, pois, «se alguém disser que nao tem pecado, é mentiroso» (1 Jo 1,8). Acontece, porém, que a consciéncia do pecado está adormecida em muitas pessoas afagadas pela vida ou embria gadas pela futilidade de seu ambiente. As vezes, é preciso urna sacudidela da parte do Senhor para que a consciéncia desperté. Ora a molestia pode ser tal sacudidela: dissipa a embriaguez
da mente e desilude o individuo. Todavia essa desilusáo, nao raro, é violenta e crucial, provocando urna atitude extremista, ou seja, um sentimento de culpa depressivo. desesperado ou atordoado (o que, por certo, nao é cristáo). — O sentimento
de culpa unido a confianga e á esperanga do Senhor é elemen to normal, ou mesmo necessário, numa personalidade crista — 403 —
28
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 165/1973
betn formada; ele assume aspectos patológicos, guando leva ao masoquismo e á prostracáa.
Pois bem; aos pacientes sujeitos a um ou mais tipos de
angustia, acarretados pela molestia grave, é necessárío levar alivio. O cristáo, por ser cristáo, há de sentir esta necessidade de maneira especial. Embora o doente esteja desengañado e nao naja mais esperanca de fazer dele um colaborador para a cidade terrestre ou a Igreja militante, o senso cristáo diz que nao se pode abandonar o irmáo enfermo, principalmente o gra vemente enfermo. É o Apostólo quem o lembra: «Alegrai-vos com os que se alegram, e chorai com os que choram» (Rom 12,15) ou ainda: «Carregai os fardos uns dos outros» (Gal 6,2).
Passamos, pois a considerar qual possa ser o papel do
cristáo em relacáo ao doente desengañado, mas ainda lúcido e suscetível de ser contactado.
2.
«Enfermo, como te posso ajudar?»
A explanacáo se desenvolverá em quatro etapas. 2.1.
Para os homens mediante os homens
Antes do mais, parece necessário lembrar que, embora Deus se possa dirigir diretamente a qualquer de seus filhos a fim de socorré-lo e salvá-lo, há certas funcóes que Ele quer confiar aos homens como seus instrumentos ou colaboradores; Ele quis precisar da diakonía ou do ministerio das criaturas, principalmente para levar os frutos da Redengáo a toda a humanidade.
Esse servico prestado pelos ministros de Cristo em nome do amor a Deus e aos homens torna ainda mais acreditável o Evangelho ou a mensagem de Páscoa. Cristo venceu a dor e a morte para fazer urna humanidade nova; ora é preciso que esta bela mensagem nao seja apenas algo de académico, mas que ela seja apregoada por homens renovados ou penetrados pela vida nova ou pelo amor de Cristo. A realidade — táo rara, mas táo apreciada — de um amor fraterno sincero e ab negado servirá para comprovar a surpreendente e desafiadora mensagem da vitória de Cristo sobre a morte. — 404 —
«ENFERMO, COMO TE AJUDAR?»
29
Essa caridade genuinamente crista será tanto mais signi
ficativa quanto mais o enfermo sendo abandonado pelos homens.
tiver
a impressáo de estar
Eis por que convém insistir em que o cristáo, como cristáo, exerga sua assisténcia solícita junto aos enfermos; o Senhor assim quer dar colorido vivo e calor á incrível mensagem de Páscoa. 2.2.
Olhando em torno
do enfermo
Seja licito ainda fazer algumas observagóes sobre os diver sos tipos de pessoas que acompanham o enfermo grave.
a) Em primeiro lugar, voltemo-nos para a figura do mé dico. Este tem seu saber, sua competencia e também seu zelo para curar ou aliviar o paciente. É um profissional da medi cina. Há médicos que ultrapassam o setor profissional e, além de se comportarem como dentistas, fazem também as vezes de amigos dos seus pacientes: dedicam-lhes mais tempo do que o exigido pelo exercício da profissáo; deixam-nos falar á vontade, interessam-se por questóes particulares apresentadas pelos clientes, etc.
Todavía este papel suplementar, que vai além do profissio nal, talvez nao seja fácil a um médico. Com efeito; este muitas vezes é solicitado urgentemente por diversos pacientes que o requerem ao mesmo tempo.
Mais ainda: os estudos de psicología póem em relevo o seguinte:1 O médico nao está imunizado contra o contagio emocional
que a vista de um paciente, mormente de enfermo grave, desfigu rado, gemebundo, suscita em toda pessoa humana. Para poder
entáo realizar satisfatoriamente seu papel de médico, é preciso que se contenha, fale pouco e evite prolongar as visitas. Além disto, outro tipo de angustia, mais profunda, pode apoderar-se do íntimo do médico. Como efeito; todos os dias indo visitar, por exemplo, um canceroso que toma consciéncia de estar desengañado, ou um paralítico que vé o seu mal proiValemo-nos aquí das conclusoes de Liliane Boisseau: "De la vocatlon medícale ou la mort dans l'átne. Essai d'introductlon á la psychologie me dícale pratlque", 124 pp. dact. (Tese universitaria, París 1960).
— 405 —
30
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS». 1G5/1973
gredir, o médico pode conceber (sem razáo, por certo) a impressáo de ser alguém que falhou em sua vida; alguns médicos chegam a se perguntar por que escolheram esse mister táo sujeito a decepgóes. Defrontam o paciente, que nao lhes faz censura alguma, mas cujo semblante traz as marcas de interrogacáo ansiosa; a tal interrogagáo nao lhes é possível dar a táo almejada resposta, ou seja, a esperanza de melhora ou cura; daí as atitudes lacónicas e as rcspostas monossilábicas do profissional. O médico aspirou a ser o servidor da vida; ei-lo, porém, nao raro manietado diante da molestia que progride!
O médico raramente assiste á agonía prolongada de um paciente; nao é esta propriamente a sua fungáo; toca á enfermeira fazé-lo. Todavía o médico imagina e compreende essa agonia, o, talvez melhor do que outra pessoa, nela vé a imagem de seu próprio desenlace. Pois bem; se o médico nao aceitou, no fundo de si mesmo, a sua própria morte, se ainda nao Ihe
atribuiu um significado positivo, compreende-se que se sinta impelido a evitar todo doente que Ihe faca ver a sua futura imagem como que num espelho. Se estas observagóes sao verídicas, conclui-se que, em muitos casos, angustia manifesta no enfermo e angustia vela
da
(ou contida) no médico impedem um relacionamento hu
mano profundo e franco entre o médico e seu paciente grave mente enfermo. b)
Em segundo lugar, vem ao caso os enfermeiros e en-
fermeiras que acompanham diuturnamente o paciente. Sao, muitas vezes, pessoas que se educaram nao só no setor técnico e profissional, mas também no cultivo da paciencia e da habilidade humana; dáo provas, nao raras, de abneRagáo o carinho, que podem ser tomadas como exemplo. Todavía acontece que de certo modo também estáo comprometidas com a medicina, a semelhanca do médico; fazem parte da equipe ou do «staff» deste. Podc-se crer conseqüentom«nte r;uc compartilham, ñas
devidas proporcóes, a problemática íntima do chofe da equipe.
c) É agora o momento de considerar o papel do sacer dote ou — mais amplamente — do cristáo que se queira com portar cristámente (como Igreja) junto ao enfermo gravemen te aflito.1
■Esse cristáo pode ser um memoro da comunidade paroquial ou ecleslal, ligado ou nao por vínculos de sangue ou familia com o enfermo.
— 406 —
«ENFERMO, COMO TE AJUDAR?>
31
Ao invés do médico, tais personagens nao aparecem como
comprometidos com a medicina; nao sao pessoas de quem se espere o que a situacáo de grave enfermidade nao permite dar, ou seja, a saúde. O sacerdote nao ensina que haja oracóes ou receitas mágicas para curar certeiramente casos desesperados.
Se, porém, o sacerdote nao tem compromisso com a medi cina e, por isto, nada pode prometer em nome desta, ele tem compromisso especial com os valores espirituais do paciente, valores que ainda sao mais estimáveis do que os da saúde fí sica (pois esses valores perduram, ainda que a saúde física pere-
ca). Por isto é que ao sacerdote, de modo particular, compe te exercer solicitude pastoral para com os enfermos; caso nao haja número suficiente de sacerdotes para atender a todos os casos de enfermidade de determinada paróquia ou clínica, to
cará aos agentes de pastoral (diáconos, ministros da S. Eu caristía, leigos qualificados) assumir este papel importante.
Diga-se mesmo: muitos cristáos (e até nao cristáos) esperam precisamente do padre um alivio espiritual nos seus mo
mentos de enfermidade. Sabem que é justamente para fazer o que o médico nao pode fazer (isto é, o ministerio da gra;a) que o padre existe na sociedade. É por isto que a visita de um homem de Deus é, as vezes, muito desejada em casa de um en fermo.1
Em vista, porém, da delicadeza de tal mister e das dificul-
dades que fácilmente possam ocorrer na abordagem de um enfermo semidesesperado, pergunta-se: que sugestóes se poderiam propor em vista do bom éxito da tarefa? 2.3.
Como fazer?
a) Antes do mais, é recomendável que se estabelega um reiacionamento humano, amigo, entre o visitante cristáo e o enfermo. As vczes, nao é oportuno comegar a abordagem com comentarios muito transcendentais e elevados. O que importa desde o inicio, é dar o testemunho do amor de Cristo vivo, que se fez tudo a todos, adaptando-se a cada um segundo as suas >é claro que a énfasc aqui colocada sobre o papel do sacerdote e dos agentes de pastoral nao incluí a solicitude crista e sobrenatural dos médicos e enférmeteos no tratamentc dos doentes; ao contrario, tcdos os cristáos sao incitados a viver 24 horas por dia o seu Cristianismo, qualquer que seja a sua profissao.
__ 407 —
32
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 165/1973
capacidades e necessidades. Ora o bom senso, as circunstancias,
o quadro da familia ou do hospital do paciente sugeriráo exatamente como encetar o relacionamento amigo e fraterno.
b) O sacerdote, enquanto ser humano, nao está menos sujeito do que o médico e os enfermeiros a sofrer angustias e conflitos em presenga do enfermo gravemente aflito. Este é, também
para o sacerdote, o espelho do seu próprio sofrimento e da sua
futura morte. É preciso, pois, que o ministro de Deus tenha em si o hábito do autodominio e da equanimidade que a fé viva suscita e corrobora em todo bom cristáo; o padre, o agente de pastoral nao improvisam seus ministerios, nem sao meros fun cionarios burocráticos. Ora, em verdade, a morte nao é um imprevisto nem um desastre para quem possui urna fé bem estruturada; o ministro de Cristo deve cuidar de que esta fé o pe
netre todos os dias cada vez mais, no decorrer normal da sua
vida; a fé lhe faiá ver no sofrimento a configuragáo a Cristo e na chamada «morte» a consumagáo de um processo de regeneragáo iniciado no dia do batismo. A meditagáo e a oragáo devem ser os grandes instrumentos capazes de amortecer a an
gustia e os conflitos que a perspectiva da morte pode suscitar emtodo homem. 0 padre e o cristáo que cultivem a oragáo, estaráo em condigóes de levar ao enfermo o alivio e a forga que Cristo nao deixa de dar a quem o procura na intimidade do si
lencio orante: «O homem bom tira do seu bom tesouro coisas boas», diz Jesús em Mt 12,35.
c) Urna vez estabelecido um clima de franqueza e amizade entre o sacerdote e o paciente, este naturalmente mani festará sua afligáo e angustia. Ora o cristáo tem no rico depó sito da fé a Palavra capaz de esclarecer o sentido do sofrimen to e da morte, como Deus os vé:
— a angustia da inutilidade há de ser vista á luz da apa rente inutilidade de Cristo pregado á cruz e reduzido á inercia. Foi entáo que Ele remiu o mundo; será unindo-se a Jesús cru cificado que o cristáo se poderá tornar corredentor com Cristo. Entre outros, os textos do Profeta Isaías concernentes ao Ser vidor de Javé poderáo ilustrar o valor da entrega incondicio nal do plano de Deus (cf. Is 42,1-8; 49,1-6; 50,4-9; 52,13-53,12). O sofrimento de Cristo nao foi vazio, mas se consumou na ressurreigáo depois de urna passagem através da morte. A mesma sorte há de tocar ao discípulo de Cristo que aceite em uniáo com o Mestre o seu sofrimento e a sua morte pessoais. Sao participagáo do que tocou a Cristo, de modo que o cristáo — 408 —
«ENFERMO, COMO TE AJUDAR?»
33
pode dier com Sao Paulo: «Vivo eu, nao eu; é Cristo que vive em mim» (Gal 2,20) e «Completo em minha carne o que falta á paixáo de Cristo em favor do seu corpo, que é a Igreja» (Col 1,24).
— A angustia da culpabilidade, que pode acometer certas
enfermos no fim de sua existencia terrestre, há de ser modelada pela apresentagáo da genuina mensagem do Evangelho. O Cris tianismo apregoa a dialética da paz formulada no binomio: culpabilidade-pcrdáio. O ministro de Cristo nao fala de pecado sem falar também de perdáo, como fez o Senhor Jesús em
Le 15, relatando as parábolas da ovelha perdida, da moeda perdida e do filho perdido (ou pródigo), mas recuperados. O Evangelho pode realmente acalmar o doente aflito pela remi niscencia de faltas (reais ou presumidas) do passado; mesmo nos casos de angustia patológica, a Palavra de Deus será re medio eficaz. 2.4.
Ora$Qt> em pro I
da cura
Até aqui falamos de algumas formas de assisténcia aos enfermos, principalmente aos próximos á morte. Nao men cionamos, porém, a oracáo pela recuperagáo da saúde ou, ao menos, pelo alivio físico do paciente. Será a prece inútil, nao mais recomendável? — Seria erróneo assim pensar. A Escri tura está cheia de casos em que a oragáo obteve saúde mesmo em situagdes, humanamente falando, desesperadas. O mais no torio é o do rei Ezequias: tendo caído gravemente enfermo, o
profeta Isaías convidou-o a tomar as providencias necessárias, pois iria morrer em breve; Ezequias, porém, orou ao Senhor com fervor e lágrimas, e obteve quinze anos de vida a mais (cf. Is 38). Os Evangelhos e os Atos dos Apostólos referem nao poucos casos de pacientes que, tendo orado, recuperaram a saúde após extremo perigo de morte. Mais: toda a tradicáo crista recomenda o recurso a oracáo até mesmo quando os médicos nao véem mais possibilidade de cura; Lourdes, Fátima e outros grandes santuarios tém sido teatro de curas fla grantes obtidas pela oracáo perseverante e humilde dos en fermos e de seus acompanhantes. A oragáo será sempre o primeiro e o último dos recursos aplicados pelo cristáo em qualquer situagáo da vida; as vezes, as graves tribulagóes vém a ser o impulso salutar que desperta
o homem indiferente e auto-suficiente para que se dirija ao — 409 —
34
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Pai do céu; a tribulagáo pode ser, para o cristáo, o momento de refazer a sua escala de valores e colocar em primeiro plano alguns deles que estejam esquecidos. Todavía nao Se deve confundir a oragáo crista com pas-
ses, encantamentos ou trabalhos mágicos. O cristáo nao tem
fórmulas para dobrar em seu favor o poder de Deus ou a agáo de espíritos superiores. O que lhe compete fazer, é dirigir-se como filho ao Pai, e exprimir-lhe confiantemente o que o coragáo lhe sugere; nenhuma prece, feita segundo esse espirito, ó perdida ou inútil; o Pai lhe dá sempre a resposta que real mente mais convenha ao bem do orante.
Eis por que nao poderíamos deixar de mencionar aqui o recurso á oragáo em prol da saúde ou do alivio de qualquer en fermo. Tal atitude nunca será inútil, mas, ao contrario, se tor nará sempre benéfica.
3.
Reflexáo final
Diante da perspectiva da morte, a mensagem crista propóe consolábalo... Mas muito mais ainda: ela suscita esperanza.
Consolagáo é remedio para o momento, é o lenitivo da dor. Deus envia a quem está aflito; e geralmente a envía median
te seus servidores. Sao Paulo experimentou a
consolagáo do
Senhor em sua vida laboriosa, como ele mesmo refere:
"Bendito seja... o Pai das misericordias e o Deus de toda consola gáo, o qual nos consola em todas as nossas tribulagóes, a fim de podermos consolar, com a mesma consolagáo com que somos consolados, aque les que estáo atribulados. Pois, asslm como crescem em nos os padecimentos de Cristo, crescem também por Cristo as nossas consolacSes" (2 Cor 1,3-5).
A esperanga, sem excluir a consolagáo, é algo de muito mais profundo do que esta. É o fruto do batismo e a atitude básica da vida decorrente deste. Ela prepara o cristáo a tomar parte diariamente, até o momento fina!, na Paixáo, Morte e
Ressurreigáo de Cristo. A esperanga é a espinha dorsal e o dí
namo de toda a labuta do cristáo. Para este, nao ha morte propriamente, mas apenas troca de género de vida. É mais urna vez Sao Paulo quem ensina: "Pelo batismo fomos sepultados juntamente com
Cristo, para que, as-
sim como Cristo ressuscltou dos morios mediante a gloria do Pai, assim
— 410 —
«ENFERMO, COMO TE AJUDAR?>
35
caminhemos nos também numa vida nova. Urna vez que nos tornamos com Ele num mesmo ser por urna morte semelhante á sua, também o seremos por urna ressurreicáo semelhante... Se morremos em Cristo, com Ele
havemos de viver" (Rom 6,3-5.8).
"Todos nos sabemos que, quando fdr destruida esta tenda em que vi vemos na térra, temos no céu urna mansáo que é obra de Deus, urna habllagáo eterna, nao felta por máos humanas" (2 Cor 5,111.
É consciente destas verdades que o cristáo encara diaria mente a sua realidade de vida e morte. A morte deve-se-lhe
tornar cada vez mais familiar, pois ela nao é um fenómeno re moto e pálido (como espontáneamente seríamos levados a conceber); ela é a troca cotidiana do velho homem, sujeito ao pe
cado, pelo novo homem, o Cristo Jesús, que já comega a viver nos seus fiéis desde o batismo. A chamada «morte» nao será senáo o termo final e a consumacáo desse processo diario de troca; entáo o cristáo deixará os últimos residuos da existen cia sujeita ao pecado para entrar na posse indiscutida da vida de Cristo; ele acabará de renascer... Na confeccáo destas páginas, fomos devedores ao artigo de Charles Robert: "Le prétre et son grand malade", publicado em "Esprlt et Vie", 83e. année, n? 8, 23/11/1973, pp. 113-118.
iSob as metáforas de "casa terrestre" e "habltacSo celeste", SSo Pauto tem em vtsta o corpo mortal e o corpo ¡mortal (que o crlstao terá após a ressurreic&o dos mortos).
Ainda a confissao sacramental:
reportagem-traicáo na itália a voz da historia
Em sinlese: O recente procedimento de dois repórteles da Rádio-televisáo italiana em relacáo ao sacramento da Penitencia provocou, da parte
da Santa Sé, a deciaracáo de excomunháo para todas as pessoas que tomas-
sem parte em tal tipo de sacrilegio ou outro congénere. Esta medida, severa como é, mostra como a S. Igreja está empenhada em preservar a seriedade e dignidade da Confissao sacramental.
O caso recém-verificado na Itália pos de novo em foco certas medidas de cautela com que a S. Igreja, baseada em sua experiencia multissecular, cercou o sacramento da Penitencia. Foi finalmente no séc. XVI, em conseqüéncia da Reforma tridentina, que S. Carlos Borromeu deu inicio á praxe do confessionárlo como hoje existe. O Código de Direito Canónico em 1917 sancionou tal praxe, principalmente em se tratando de confissóes de mulheres; admite, porém, a dispensa do confessionário em casos de doenca ou de verdadeira necessidade. Cf. C. D. C, can. 910, §1? Hoje em dia é lícito ao sacerdote admitir casos em que realmente nao é posslvel nem recomendável insistir no confessionário para a administragao do sacramento da Penitencia; há pessoas que se sentem inibidas por determinados ambientes.
Em
sá
consciéncia, porém,
ó
preciso acrescen-
tar: nao se deveriam generalizar as dispensas das normas do Direito Ca nónico aínda vigentes, pois nao somente o espirito de fidelidade á Igreja
recomenda a observancia dessas normas, mas também o bom senso e a prudencia. Na sociedade de hoje nao sao menos freqüentes do que outrora os abusos moráis; tenha-se em vista o rumoroso caso recentemente ocorrido na Itália.
Comentario: O tema «confissao sacramental» voltou mais urna vez á baila através do noticiario internacional, que tornou público um «furo» sacrilego da Rádio-televisáo italiana. Em vista dos comentarios e das questóes que o estrondoso caso suscitou, dedicaremos as páginas seguintes á exposicáo do ru moroso assunto.
O escándalo recém-ocorrido na Itália leva a pensar em
urna serie de cautelas que a Igreja teve que tomar através dos séculos a fim de preservar a santidade da Penitencia sacra mental, defendendo-a de violacóes e abusos. Vamos, pois, na — 412 —
REPORTAGEM-TRAIQAO NA ITALIA
37
segunda parte deste artigo reproduzir algumas dessas normas de prudencia. Infelizmente a fraqueza humana sempre exigíu a formulagáo de leis que garantam o bem comum da sociedade (civil e eclesiástica). A Igreja, em conseqüéncia, tem hoje o seu Direito Canónico e recorre, quando necessário, a medidas
legislativas. A lei nao é fim em si mesma, mas está a servigo do amor (cf. 1 Tim 1,5). Todavía é elemento indispensável em toda sociedade existente neste mundo, onde ainda há expressóes do pecado. É á luz destas reflexóes que deveráo ser lidos os dados apresentados no presente artigo.
1.
Um «furo» sacrilego
1. Noticiou a imprensa em margo pp. que dois repórte res da Rádio-televisáo italiana — Norberto Valentina e Chiara di Meglio — estavam para publicar em breve um livro inti tulado «O sexo no confessionário». Esse escrito deveria conter diálogos entre sacerdotes e os dois repórteres, que haviam si mulado 632 confissñes sacramentáis; nestas tinham os dois pseudo-penitentes abordado principalmente assuntos referen tes ao sexo, em torno dos quais haviam formulado diversas perguntas aos sacerdotes. Estas e as respectivas respostas foram sendo gravadas em fita magnética com todas as caute las da dissimulagáo, de modo a poderem ser publicadas num livro que, conforme a expectativa dos repórteres, deveria constituir algo de altamente sensacional.
Alguns excertos do futuro livro chegaram a ser antecipadamente divulgados pelo semanario «L'Espresso» de Miláo, provocando na Italia nítida reacáo de repugnancia perante a
baixeza do procedimento. Segundo o jornal católico «L'Awe-
nire», nem mesmo a sanha anticristá do nacional-socialismo de Hitler atingiu tal grau de vileza. Quanto a imprensa italia na náo-católica, tomou, com poucas excegóes, posigáo con traria a tal abuso dos valores da pessoa humana e da técnica. 2.
Perante o ocorrido e o que ainda pudesse ocorrer nesse
setor, a S. Congregacáo para a Doutrina da Fé publicou aos 23/IH/73 a seguinte Declaragáo: "A fim de salvaguardar, de maneira absoluta, o respelto devldo ao sa
cramento da Penitencia e ao sigilo da confissSo sacramental, a Igreja foi levada, no decorrer dos tempos, a proferir sáneles, até mesmo multo gra ves, contra quem quer que profanasse tal sacramento ou vlolasse tal sigilo.
— 413 —
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«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 165/1973
Diante da noticia da publicado próxima de um volume portador do texto de confissóes sacramentáis, auténticas ou simuladas, a S. Congrega rlo para a Doutrina da Fé, em virtude dos poderes que Ihe foram confe ridos pela suprema autoridade da Igreja, notifica o segulnte: Quem quer que venha a cometer urna profanacáo do sacramento da Penitencia, gravando confissóes (sejam auténticas, sejam simuladas), assim como toda pessoa que participe formalmente em tais publicacoes ou em outras semelhantes,
na quaüdade de autor ou
colaborador, se coloca
por
seu próprio procedimento, fora da comunháo da Igreja, isto é, incorre, por seu comportamento mesmo, em excomunháo. Desta sancio a pessoa atingida poderá ser absolvida, se
estiver devi-
damente disposta, por todo e qualquer sacerdote legítimamente autorizado a ouvir confissóes.
Aos 23 de
marco de 1973
Fr. Jerónimo Hamer O.P. Secretarlo"
No dia seguinte ao desta Declaragáo, o mesmo Secretario publicava a interpretado auténtica do texto em questáo: "Em vista de perguntas que Ihe foram apresentadas a respeito da aplicacáo da Declaracáo de 23 de marco de 1973, a S. Congregacáo para
a Doutrina da Fé comunica os seguintes esclaiecimentos: 1.
Ficando firme o juízo moral de total reprovacáo a qualquer pro
fanacáo da índole sagrada da confissáo e a qualquer viola9§o do sigilo devido á administracáo desse sacramento — juízo de reprovacáo que se
aplica a todos aqueles que tenham colaborado em tais iniciativas, mesmo
antes da mencionada Declaracáo —, a excomunháo prevista pela referida Declaracáo so comeca a vigorar a partir da publicacao da referida Declaracáo.
2.
Incorrem na mesma censura de excomunháo, além dos autores e
dos editores (caso nao retirem de clrculacáo ou do comercio a sua publicacao), também aqueles que propaguem ou difundam tal tipo de publicacao. Roma, aos 24 de marco de 1973 Fr. Jerónimo Hamer O.P. Secretario"
Os autores de «O sexo no confessionário» afirmaram aos 24/HI/73 que nada fariam para impedir a venda do lívro, acrescentando mesmo que a excomunháo é condenaeáo me
dieval, que nao pode ser usada por urna Igreja moderna, aberta aos problemas da vida atual. Cf. «O Estado de Sao Paulo», ed.
3.
de 25/111/73.
Os dois documentos da Santa Sé aqui transcritos, se
veros como sao, evidenciam mais urna vez a seriedade com que a S. Igreja considera e estima o sacramento da Penitencia;
tém por fim preservar e fomentar algo de santo e salutar na Igreja. Com efeito; o sacramento da Confissáo nao foi abolido — 414 —
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nem poderá vir a ser supresso por autoridade humana, pois é de instituicáo divina (cf. Jo 20,22s). Verdafle é que nos úl timos tempos a Igreja tem procurado renovar o recurso á con-
fissáo sacramental, tornando-o mais consciente e significativo
para os fiéis. Em conseqüéncia, os mestres tém procurado es clarecer as nocóes de pecado, culpabilidade. responsabilidad de..., de modo a ajudar os fiéis a formar sua consciéncia de maneira adulta e lúcida. Por sua vez, os pastores de almas tém praticado a confissáo dita «comunitaria»: esta só é sa cramento se inclui a acusagáo específica e explícita dos peca dos do penitente a um sacerdote legítimamente autorizado. Todavía vém-se registrando casos de depreciacáo do sa cramento da Penitencia, tendentes a provocar o abandono do mesmo por parte dos fiéis. Certamente o mais ousado é o que acaba de se verificar na Italia. Tal conduta é hedionda aos olhos da consciéncia crista... Mas nao somente aos olhos desta...: o senso de brío, dignidade, lealdade que caracteriza o ser humano como tal, abstragáo feita de suas crencas reli giosas, repudia o jogo de simulacáo e traigáo a que assim foi submetido o sacramento da Confissáo. Um dos aspectos mais requintados do abuso consistiu precisamente no emprego de um dos meios técnicos mais modernos (a fita magnética), que a inteligencia dos inventores concebeu a fim de tornar a pessoa humana no sáculo XX mais rica em qualidades dignifican tes. A inteligencia posta a servigo do avKtamento dos valores
da consciéncia — eis o que nao pode deixar de feiir nao somente o cristáo, mas também todo e qualquer cidadáo hones to do séc. XX. Passamos agora a percorrer a historia das cautelas le
gislativas da Igreja referentes ao sacramento da Penitencia. Essas normas, concebidas na Idade Media ou depois, talvez
parecam estranhas ao leitor moderno. Por certo, a Igreja nao as repetiría tais quais hoje em dia. Prestaram seu servico na
sua época; quando publicadas, correspondían!. ao que de mais correto os homens podiam conceber. Hoje a Igreja, portado ra do Espirito de santidade que sempre a animou, exprime (e nao pode deixar de exprimir) esse Espirito em termos legisla tivos condizentes com a realidade contemporánea. 2.
Um pouco de 'historia
A resenha.de normas comecará no séc. IX, quando se en-
contram os primeiros textos que legislem com certa minucio— 415 —
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■■cPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 165/1973
sidade sobre a maneira de se administrar o sacramenta da Pe nitencia.
Em 829 um Sínodo de Paris estipulava em seu canon 46 que a confissáo das Religiosas nao se fizesse senáo «na igreja diante do santo altar, em presenga de testemunhas colocadas a nao grande distancia» (Mansi, «Conciliorum amplissima collectio», t. XIV, p. 565).
De modo geral, os Livros Penitenciarios da época falam de confissáo «diante do altar, diante' do santo altar, ante teu santo altar». Estas expressóes atestam o costume de se fazer a confissáo sacramental (auricular) em lugar público e sagra do, e nao ñas casas particulares ou de familia.
Em 1198, por exemplo, Eudes de Sully, bispo ¡de Paris, exigia que a confissáo se fizesse na igreja, em lugar onde- sa cerdote e penitente pudessem ser vistos por todos. A mesma prescrigáo se encontra ñas Constituigóes de Richard Poore (1217). O arcebispo de Cantuária, John Peckam, em 1279 chegou a declarar inválidas as absolvicóes sacramentáis ministra das em lugar nao público da igreja. Ainda>em Cantuária, no ano de 1235, encontra-se a prescrigáo de uso de um véu entre o confessor e a mulher penitente: «Velum quidem quantum ad visum, non quantum ad auditum! — Um véu para cobrir a visáo, nao, porém, para impedir a audicáo». Julgam
os
estudiosos que
foi
no século XIV em Pisa
(Italia) que se introduziu o confessionário ou móvel junto á parede de urna igreja, a fim de se administrar mento da Penitencia. Tal colocagáo^ do confessionário sido sugerida pelo fato de que as igrejas medievais,
colocado o sacra deve ter além da
sua nave central, tinham suas cápelas laterais, onde era obvio que se encontrassem confessor e penitente. Todavía parece que o confessionário, tal como ficou em uso ñas igrejas até nossos tempos, data de meados do séc. XVI; com efeito, em 1565,
S. Carlos Borromeu, arcebispo de Miláo, proibiu que se ouvisse a confissáo de mulheres fora de um confessionário mu nido de grades. Tal determinagáo permite supor que o confes sionário fixo e fechado era instituicáo recente na praxe da Igreja1. 'Sabe-se que um Sínodo de Sevilha (Espanha) em 1512 prescrevia um assento fixo e fechado á guisa de confessionário. — Sobreveio o Con cilio de Trento (1543-1565), que renovou a disciplina da Igreja. Ora S. Carlos Borromeu, arcebispo de Mllao desde 12 de maio de 1564, era notavelmente zeloso peta apllcagáo das medidas de reforma trldentlnas.
— 416 —
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Observe-se o comentario de E. Jombart, no artigo «Confessionnal» do «Dictionnaire de Droit Canonique», t. IV, col. 64: "O IV Concilio de Miláo em 1576 quis que houvesse em cada Igreja tantos confessionárlos quantos confessores. O 'Liber Instructionum' conlinha minu ciosa descricio do conlessionárlo tal como o quería S. Carlos: móvel de madeira, fechado em tres de seus lados e munido de grade, isto ó, de urna lámina de ferro perfurada por grande número de orificios do diámetro de urna ervilha. As normas do santo arcebispo so atlnglam a provincia eclesiástica de Miláo, mas a obrigagao do confesslonário em breve se estendeu a outras dioceses, principalmente na Franca. Em 1585 o Concilio de Aix-en-Provence promulgou as mesmas delerminacóes que o de Miláo e estipulou sanc6es para os reitores de igrejas que nao tivessem providenciado a instalacao de confessionárlos nos próximos seis meses. Idénticas dlsposlcóes emanaram do Concilio de Tolosa em 1590".
A' praxe foi-se alastrando de tal sorte que o «Ritual Ro mano», aprovado pelo Papa Paulo V aos 20 de junho de 1614, incluiu a prescrigáo do confessionário. Este entáo foi adotado sem excegáo em todas as igrejas católicas até mesmo na Eu ropa Setentrional. Arquitetos e escultores esmeraram-se por dar-lhe a forma mais prática e estética possível; conseqüentemente, hoje em dia se véem confessionários de estilo barroco ou rococó que lembram «o trono da misericordia divina» ou «a cátedra do juízo de Deus», exuberantemente trabalhados e
cinzelados, aptos a garantir o sigilo e a discrigáo na administragáo do sacramento da Penitencia. Imp5e-se agora um breve exame da atual legislacáo da Igreja sobre o assunto.
3.
O Direito Canónico e a praxe contemporánea
1. Em 1917 foi promulgado, na base de leis e determinagóes anteriormente editadas pela S. Igreja, o Código de Di
reito Canónico, que vigora até noaeos dias, embora esteja passando por fase de. revisáo e atualizagáo.
Nesse catálogo de cánones da Igreja, encontram-se alguns concernentes ao sacramento da Penitencia, dos quais váo ex traídas aqui as seguintes disposigóes: 1)
O lugar próprio para as confissóes sacramentáis é a
igreja ou algum oratorio público ou semipúblico (can.908).
2) Em tais recintos deve-se encontrar normalmente o confessionário para uso das mulheres; há de ser colocado em lugar acessivel e visível (can. 909, §1). — 417 —
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3) O confessionário deve ter urna grade fixa rada (can. 909, §2"). 4)
e perfu-
Só é lícito ouvir confissóes de mulheres fora do con
fessionário, quando há razóes de doenga ou de auténtica ne" cessidade; observar-se-áo entáo as prescrigóes vigentes na diocese para tais casos (can. 910, §1''). 5)
Aos homens será licito confessar-se em casas particu
lares (can. 910, §2"). Caso, porém, se confessem na igreja, fagam-no no confessionário. (Comissáo de interpretagáo do Có digo, ao 24 de novembro de 1920). Estas determinacóes, minuciosas como sao, surpreenderáo o leitor. A mentalidade contemporánea tende a nao se prender muito a pormenores legislativos e encontra dificuldades para compreender que o Direito Canónico tenha sancionado as disposigóes ácima. Ora, a fim de ajudar o estudioso, projetando luz sobre os porqués e o significado dos cánones citados,
o próprio texto do Direito Canónico menciona as «Fontes», que
estáo na origem dos cánones sancionados em 1917. Tais fontes
sao normas e leis que emanaram da Santa Sé em vista de situacóes oriundas em tal ou tal regiáo no decorrer dos últi mos sáculos; atendiam a problemas que realmente surgiram n¡a fyraxe pastoral-.
2. Perguntamo-nos agora: como entender essas normas do Direito Canónico hoje em dia?
e
aplicar
— Embora a resposta seja delicada, nao nos podemos furtar. a propor a'gumas reflexóes concernentes ao assunto, levando em conta tanto as leis da Igreja quanto a realidade pasto ral, principalmente no Brasil.
Distinguiremos dois tempos na teoiogia dos últimos dece nios: antes e depois do Concilio do Vaticano II. 1)
Antes do Concilio, os manuais de Moral e os comen
tarios de Direito Canónico propunham os seguintes tópicos:
— É licito confessar os homens fora de um recinto sagra do. Em igreja ou. cápela, a S. Sé, aos 24 de novembro de 1920, pediu (sub levi) que se usasse o confessionário mesmo para
os homens. Tal obrigacáo sendo explícitamente dita leve, ad— 418 —
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mite-se que, por motivos razoáveis, o sacerdote recorra a um genuflexório sem grade ou mesmo o dispense por completo. — Ouvir confissóes de mulheres fora do confessionário sem motivo suficiente constituí por si (per se) urna falta grave. — Ouvir confissóes de mulhoros in loco non patenti (em lugar nao visivel), mas sem risco de escándalo, nao é senáo falta leve.
Cf. Cappello, «Tractatus canonico-moralis de sacramentis: de Paenitentia» n. 940s; P. Chrétien, «De Paenitentia», 2» ed., Metz 1935, p. 157; E. Jombart, «Confessionnal», em
«Dictionnaire de Droit Canonique» vol. ÍV, p. 64.
2) Após o Concilio do Vaticano II, as distingóes e sentengas minuciosas dos moralistas vém sendo repensadas e adaptadas a urna realidade cada vez mais exigente e hetero génea. Os teólogos insistem principalmente no espirito que
moveu ou inspirou os legisladores ao escreverem suas leis. O cristáo hoje é incitado a assimilar o espirito, o dinamismo, o
ideal dos antigos mestres e procurar fazer atualmente o que os mestres teriam feitos se hoje vivessem. É a este processo que se chama «aggiornamento» ou «atualizagáo».
Todavia, em se tratando dos sacramentos (como emTmuitos outros setores), que sao algo de muito serio e vital para os
fiéis, nao se pode por de lado a fidelidade as normas baixadas pela Igreja; foi a Esta como tal, e nao ao cristáo indivi dual (sacerdote ou leigo), que Cristo confiou a determinagáo dos ritos sacramentáis. Consciente de que há realmente no Có digo de Direito Canónico normas que exigem reformulacáo, a S. Igreja iniciou atenta revisáo do seu Direito, levando em conta a longa escala de situagóes em que se possam encon
trar os fiéis hoje em dia. As normas atinentes ao modo de se administrar o sacramento da Confissáo deveráo sofrer alteragóes em vista da evolugao dos costumes e das mentalidades. — Por ora, na expectativa de novas determinagóes sobre o assunto, podem-se sugerir aos confessores as seguintes proposicóes:
a) Caso se evidencie que o recurso ao confessionário nao tem aplicagáo positiva, tornando-se mesmo motivo para
que os fiéis deixem de freqüentar o sacramento da Penitencia, há razáo mais do que suficiente para dispensar o confessioná— 419 —
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rio e ouvir os penitentes (homens e mulherees) da maneira mais razoável, dentro, porém, das normas da modestia e do respeito sagrado que os sacramentos exigem. Há, sem dúvida, pessoas que preferem confessar-se dentro de urna conversa in formal e espontánea, pois se sentem inibidas por normas muito minuciosas e rígidas no caso. O sacerdote-confessor pode satisfazer-lhes em consciéncia tranquila, valendo-se da cláusula do
canon 910, §1', que admite excecóes para o uso do confessionário: «causa infirmitatis aliave verae necessitatis» (enfermidade ou outra auténtica necessidade). b)
tencia,
Na celebracáo comunitaria do sacramento da Peni
as circunstancias
mostram
muitas
vezes que nao se
podem ouvir no confessionário as confissóes auriculares (necessárias para que haja sacramento). Procede-se entáo da maneira mais digna possível.
c) Embora os casos de dispensa legítima do confessio nário sejam numerosos e tendam a se multiplicar, é preciso, porém, que essa dispensa nao se torne um costume geral, in discriminadamente aplicado. E isto, por dois motivos: A fidelidade do cristáo (especialmente do sacerdote) á S. Igreja exige que nao menospreze, nem faga como se igno-
rasse, urna norma até hoje vigente. As improvisac.5es, os procedimentos arbitrarios e individualistas nao constroem a S. Igreja nem edificam os fiéis; causam desorientagáo em quem os considera, e constituem mau exemplo dos pastores para os fiéis. Como poderá ser respeitado e acatado o pastor que nao
souber dar o exemplo de respeito e acatamento á legitima autoridade e as suas determinacóes?
"Podemos Imaginar o risco de anarquía — neste como em outros se-
tores — que serla acarretado fatalmente pela multlplleacao e a proliferacSo dos alvitres fantaslstas pessoals. Se uns se deixam arrastar por seu espirito de InvencSo e criatividade, como os outros nio serSo tidos como
atrasados ou retrógrados, caso julguem em consciéncia nSo poder seguir seus colegas? Nem a unidade, nem a carldade, nem o auténtico trabalho pastoral, nem o bem das almas serlam levados em devlda conta" (M. Desdonits, art. citado na bibliografía, p. 232).
A legislagáo minuciosa do Código de Direito Canónico e das suas Fontes no tocante ao modo de se ouvir a confissáo sacramental procede da experiencia multissecular da Igreja; nao foi inventada por espirito de masoquismo ou de menos-
prezo do bom senso. Registraram-se abusos, que exigiram — 420 —
cautelas. Ora aínda nos nossos dias o caso dos repórteres ita lianos veio mostrar como o sacramento da Penitencia pode ser exposto a sacrilegios. d)
Urna vez colocados estes principios, note-se que mui-
to se poderia existentes em personalizem saber se está
fazer para melhorar o estilo dos confessionários certas igrejas. É para desejar que estes nao deso sacramento da Penitencia; o sacerdote deve falando a um jovem, a um adulto maduro ou a
um anciáo, a um homem ou a urna mulher...
Em conclusáo: A um auténtico pastor de almas compe
te fazer todo o possível para que o sacramento da Penitencia seja devidamente estimado e freqüentado em nossos dias. A S.Igreja, longe de o abolir ou remover para plano secundario, tem recomendado o recurso ao mesmo, nao somente para ca
sos de pecados graves, mas também a titulo de maior purificagáo da consciéncia e fortalecimento da vida crista. É, pois, para desejar que os sacerdotes comuniquam esta
mensagem
aos fiéis e se empenhem por tornar exeqüível o pensamento da S. Igreja dentro das linhas de dignidade e respeito que o sa cramento exige e que lhe poderiam faltar caso nao se aplicassem certas medidas de cautela.
Bibliografía:
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"Pénltenee et Onctlon
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París
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wlcklung". Innsbruck 192.
L. por J.
Eisenhofer, "Grundrlss der üturglk des roemlschen Rltus", 5? ed. Lechner, 1950.
E. Jombart, "Confesslonnal", em vol.
IV, p.
M.
"Dletionnalre
de Drolt Canonique",
64.
Desdonlts, "Le
confesslonnat est-il encoré actuel?",
et Vle", 83e. année, 12/IV/1973, pp.
Max Thurlan,
229-232.
"La Confesslon". Neuchatel-Paris 1953.
em
"Esprlt
A N K
símbolo egipcio da VIDA, em forma de chave. Os cristáos viram nesse sinal a representacáo da CRUZ... da CRUZ que se tornou chave ou árvore da vida mediante a crucifixcto do Salvador, que, ressuscitando, venceu a morte.
(ver pp. 2 e 34s deste fascículo)