UFSJ, Universidade Federal de São João del Rei – 3 de setembro de 2009 Curso de Letras – Módulo: Teorias da Comunicação Professor: Luiz Ademir de Oliveira Alunas: Iara Rodrigues e Francine Oliveira O PAPEL DA MÍDIA E SUAS ESPECIFICIDADES: Análise de uma publicação informativa Introdução A base teórica deste trabalho encontra-se fundamentada, principalmente, no texto “Delimitação, natureza e funções do discurso midiático”, do professor Adriano Duarte Rodrigues. A partir dele, propõe-se uma análise de jornal impresso e, neste caso, foi usada, como referência, a edição 753 do jornal Super Notícia, publicado em 18 de agosto de 2009, terça-feira. Uma primeira olhada Na
primeira
destaques
página
estão
os
voltados
para as notícias policiais, que ocupam a maior parte da página em questão e para o apelo sexual, uma vez que a maior foto na mesma página traz a Miss Brasil durante o desfile, em trajes de banho. Na linha onde é colocado o nome do jornal há destaque para o preço baixo do mesmo (25
centavos)
e
para
a
chamada de uma promoção baseada na coleção de selos que vem em cada edição. Em um
segundo
plano,
lê-se
ainda notícias sobre o campo
da saúde e mais fragmentos de notícias de crimes. Na parte inferior estão ainda outras promoções e a propaganda de uma coleção de livros lançados juntamente com cada volume do jornal. Por estas referências percebe-se o cunho popular da publicação, voltada para a classe média, média baixa e baixa (classes C, D e E). A partir dessa observação inicial é possível determinar os principais discursos, os quais a publicação pretende mediar. O primeiro deles é, sem dúvida, o discurso policial, que recebe um tratamento sensacionalista e ampla dramatização, perceptível pela força das chamadas, contendo palavras como “tragédia”, “executado”, “assalto”, “jogado”, “bate” e até mesmo “travestis” (uma vez que representa um grupo social altamente marginalizado), todas em negrito. O caráter de cada discurso Pela leitura das notícias em si, vê-se que, sem exceção, elas focalizam uma única pessoa, normalmente, uma vítima, a ser tratada como protagonista da história. Após introduzirem nome, idade e profissão deste (demonstrando que se trata de uma pessoa normal, ordinária e, possivelmente, mediana, como todos os que lêem o jornal), os fatos passam a ser apresentados em relação a ele, uma técnica textual que visa a identificação do leitor com o “personagem da vida real”, no sentido de que qualquer um pode se tornar vítima da violência, por exemplo, dos travestis que assassinaram o taxista. A mediação do discurso médico ocorre, principalmente, numa notícia a respeito da “gripe suína” (denominação já considerada pejorativa), também alarmante, além de aparecer em meio às notícias violentas, recebendo um enfoque negativo ainda mais reforçado na expressão “mais três mortes”, representando uma continuação sem aparentes perspectivas de que a epidemia se torne mais amena. Seguindo o método de redação utilizado para as notícias policiais, aqui também é escolhido um personagem principal, uma pessoa comum, sem agravantes clínicos (como seria o caso de uma mulher grávida, quadro que vem configurando a maioria das mortes, devido ao sistema imunológico debilitado), vitimada pela doença. No caso, o rapaz de 26 anos que estava internado “assume” este papel, e a menção de que seu caso seria, ainda, uma
suspeita de contaminação é feita sutilmente, entre inúmeros dados a respeito da doença. Segundo o próprio jornal, todas as mortes citadas foram causadas por insuficiência respiratória, dando-se a entender que seria este o principal sintoma da gripe. O tratamento que o Super Notícia dá à epidemia exemplifica bem a reação da mídia como um todo frente a um surto de contaminação. Além de esclarecer dados médicos, ela se torna responsável pelo alarme social gerado pela incerteza; como este alarme seria uma forma de recepção individual recorrente a um comunicado médico, a transposição desta reação pessoal comum para o âmbito de toda uma sociedade garante um caráter humano aos meios de comunicação. O discurso político é mediado de forma rápida e objetiva, normalmente a fim de sanar dúvidas, por exemplo, sobre como resgatar o dinheiro pago ao Imposto de Renda. Juntamente com o “retrato” da realidade, a publicação enfoca o entretenimento: a foto da Miss Brasil desfilando em trajes de banho é a maior da primeira página, sendo que um recorte digital do braço da mulher sobrepõe a imagem referente à notícia intitulada “Na mira dos travestis”. Uma grande parte do jornal é dedicada a resumos de programas televisivos como os reality shows e as novelas, a notícias sobre os famosos e, também, ao resultado de concursos de beleza promovidos pelo próprio jornal, seção tipicamente destinada ao público feminino. Misturada a esta seção, decorrem-se os destaques de algumas revistas (normalmente masculinas) contendo ensaios fotográficos sensuais de celebridades instantâneas (como participantes recém eliminadas dos próprios reality shows). Uma página é reservada às palavras cruzadas e ao horóscopo do dia, seguidos pela seção “Panelaço”, um espaço para protestos do público, geralmente envolvendo reclamações locais, que, de certa forma, juntam-se aos classificados, que também se tratam de “relações” locais, com destaque para indivíduos procurando emprego. Ao público masculino destinam-se duas ou mais páginas tratando de esportes, mais especificamente, com notícias a respeito de futebol e resultados de partidas anteriores, além da programação dos próximos jogos.
Em
todas
as
páginas
dedicadas
ao
entretenimento,
são
colocadas
propagandas e chamadas de promoções, geralmente em caixas de texto na parte inferior ou no canto direito. É o uso destas caixas, para preencher espaços onde não se tem notícias, que imprime, ao jornal, uma aparência completa, sem espaços vazios que suscitem questionamentos. Os textos dos colunistas estão estrategicamente distribuídos entre as notícias de mais destaque, de acordo com seu tema: um jornalista contando sobre sua relação com o pai cumpre a homenagem ao dia dos pais; em meio aos primeiros fragmentos de crimes, um pastor, em sua coluna, decorre sobre o sentimento de culpa e natureza pecaminosa do homem; mais adiante, um advogado escreve sobre Direito de Família, sanando dúvidas mais comuns a respeito de separação e divórcio; ao final das notícias esportivas, uma coluna é dedicada aos acontecimentos futebolísticos, analisados por um comentarista. Considerações finais Em seu artigo, Rodrigues chama a atenção para o uso predominante da terceira pessoa, ou seja, da “não-pessoa”, como forma verbal que confere credibilidade à informação. Indo além, o jornal Super Notícia atribui uma identidade a essa terceira pessoa, o que acaba por conferir proximidade entre publicação e leitor, levando a um envolvimento excessivo por parte do destinatário. A referida atitude é encontrada de maneira corriqueira nos meios de comunicação destinados a classes mais populares. Alguns desses meios se utilizam, inclusive, da primeira pessoa, o que dá ao espectador uma sensação, mais que de envolvimento, de inclusão efetiva. Tais atitudes garantem a fidelidade do público para com o jornal, revista ou programa televisivo. Apesar de clamarem para si uma imparcialidade como a de qualquer outra publicação
midiática,
diários
como
o
“Super”
se
caracterizam
pelo
sensacionalismo em detrimento da “imparcialidade” – na verdade, uma parcialidade velada, bastante implícita, que deixa de estar tão mascarada no discurso de cunho mais dramático, que por vezes escolhe, abertamente, um lado para defender.
Referências bibliográficas ------------. Super Notícia. Belo Horizonte, 18 de agosto de 2009. 2ª ed. Ano 8, n.2656. RODRIGUES, Adriano Duarte. Delimitação, natureza e funções do discurso midiático. In: PORTO, S. Dayrell (org). O jornal: da forma ao sentido. Brasília: Editora UnB, 2002. 2ª ed., pp. 217-233.