A respeito do Realismo e do Naturalismo É muito comum o emprego dos termos Realismo e Naturalismo associados. Algumas vezes, são termos sinônimos; outras vezes, aparecem como duas estéticas literárias muito próximas uma da outra. No entanto, existe uma fronteira entre uma coisa e outra: é possível perceber algumas diferenças entre a prosa realista e a naturalista, apesar do grande número de pontos em comum. Alguns preferem ver o Naturalismo como uma espécie de prolongamento mais forte do Realismo. Sob esse ponto de vista, o Naturalismo seria um Realismo exacerbado. Seria uma forma mais aprofundada de encarar o homem. Os naturalistas sempre estariam vendo o lado patológico do homem, o seu envolvimento com um destino que ele não consegue modificar; as situações de desequilíbrio muito fortes; o homem que se comporta como um animal, obedecendo a instintos; o homem condicionado ao meio em que vive, subjugado pelo fator da hereditariedade física e patológica, que determina o comportamento dos personagens
Neste trabalho procuro demonstrar algumas características das personagens Aurélia de “Senhora” e Rita Baiana de “O Cortiço” a partir se suas semelhanças e diferenças - semelhança entre as personagens Os personagens de romances realistas e naturalistas são retirados da vida diária e são sempre representativos de uma categoria - seja a um empregado, seja um patrão; seja um proprietário, seja um subalterno; seja um senhor, seja um escravo, e daí por diante. Os personagens típicos permitem estabelecer relações críticas entre o texto e a realidade histórica em que ele se insere: isto é, embora os personagens sejam seres ficcionais, individuais, passam a representar comportamentos e a ter reações típicas de uma determinada realidade Aurélia - “Esqueces que desses dezenove anos, dezoito os vivi na extrema pobreza e um no seio da riqueza pra onde fui transportada de repente. Tenho as duas grandes lições do mundo: a da miséria e a da opulência. Conheci outrora o dinheiro como um tirano; hoje o conheço como um cativo submisso. Por conseguinte devo ser mais velha d que o senhor que nunca foi nem tão pobre, como eu fui, nem tão rico, como eu sou.” Rita Baiana - “Casar?Protestou a Rita. Nessa não cai a filha de meu pai!Casar? Livra! Pra quê? Para arranjar cativeiro? Um marido é pior que o diabo; pensa logo que a gente é escrava! Nada! Qual! Deus te livre!Não há como viver cada um senhor e dono do que é seu!” - diferença entre as personagens Embora esteja colocando o escritor realista ao lado do naturalista, há algumas diferenças fundamentais entre ambos. Enquanto o primeiro procura ter uma visão global do narrado, perscrutando mesmo a vida psicológica de suas personagens, o segundo atém-se à vida biológica das personagens, isto para comprovar as teorias determinista e darwinista que equiparam o homem, excluída sua capacidade de raciocínio, a um animal. Aurélia - Volta-se para a psicologia, para o indivíduo. “... a característica que consideramos a mais importante, que pode ser a explicação de seu sucesso no domínio das pessoas: a sua frieza” Rita Baiana - Prefere a biologia, a patologia (evolucionismo – zoomorfismo). “os meneios da mestiça melhor se acentuam, cheios de uma graça irresistível, simples, primitiva, feita toda de pecado, toda de paraíso , com muito de serpente e muito de mulher”
Características Realistas encontradas na personagem Aurélia de “Senhora” Aurélia Percebe-se nela uma mistura de Bela e Fera, Anjo e Demônio, boa e má – é essa dualidade comportamental que a faz fugir do maniqueísmo romântico e lhe dá densidade humana, uma certa profundidade psicológica, ou seja, traços comportamentais de personagens realistas. Uma característica de extrema importância na formação do caráter de Aurélia é a sua determinação, e a sua capacidade de dominação, o modo como impõe seus desejos às pessoas. Trechos que demonstram essas suas características encontram-se em várias situações decisivas no livro, como nas discussões entre ela e Lemos sobre assuntos diversos como sua tutela. "Opôs-se formalmente Aurélia; e declarou que era sua intenção viver em casa própria, na companhia e D. Firmina Mascarenhas.” Algumas características marcantes: Valorização da racionalidade, Inteligência: “mais superficialmente , ela era educada, delicada, corajosa, elegante, informada, inteligente, experiente...” Retrata e critica as classes dominantes, a alta burguesia urbana: “e no seu jeito de querer opor-se a algumas regras determinadas pela sociedade...” Seleciona os temas, tem aspirações estéticas, busca o belo: “era como uma estrela, das mais bonitas e mais brilhantes, não julgada pela intensidade com que sua luz brilha mas, pelo modo com que esta o faz” Acumula documentos, “fotografa” a realidade, para dar a impressão de vida real: “Aurélia era aquele tipo de mulher que a todos pode dominar e que tem tudo o que quer ter, possuindo uma lábia, um jeito seu que domina as pessoas que rodeiam-lhe” Volta-se para a psicologia, para o indivíduo: “... a característica que consideramos a mais importante, que pode ser a explicação de seu sucesso no domínio das pessoas: a sua frieza”
Características Naturalistas encontradas na personagem Rita Baiana de “O Cortiço” Rita baiana
Contrária ao retrato da mulher idealizada romântica, Rita é a mulher independente e rebelde. Rita Baiana critica até mesmo a instituição casamento vai contra toda uma ordem estabelecida.
Ainda é possível observar que, o desenho da mulata tornou-se um dos símbolos da brasilidade mal disfarçado, por trás do estereótipo de beleza e alegria, uma imagem feminina sexualizada e racializada, essa figura torna-se ainda mais estereotipada quando ela é também baiana , por si só símbolo sexual. Pode-se ver que Rita Baiana é mulata, ela é mulata, a mulata, ela é caracterizada como bela, sensual perfeita e perfumada .A sensualidade, como uma característica ligada a uma identidade, é uma propriedade e uma marca da mulata de O cortiço, pois a sexualização costuma ser uma figura de controle ou dominação, pois a caracterizando como mulata ela se distancia um pouco da condição de negra, escrava e inferior. Precisa-se falar ainda da forma como Rita Baiana é representada fisicamente, essa mulata na obra de Aloísio Azevedo, é marcada por muitos adjetivos, utilizando a sinestesia como figura de linguagem para descrever as sensações provocadas pelos gostos, cheiros e imagens emanados pela mulata. Algumas características marcantes: Valorização do instinto; Atitudes animalescas, brutas: “era a cobra verde e traiçoeira” Detém-se nos aspectos mais torpes e degradantes: “ela era a luz ardente do meio-dia, era o calor vermelho das sestas de fazenda” Imagina experiências que remetem a conclusões a que não se chegaria apenas pela observação: “O chorado arrastava-os a todos, despoticamente, desesperando aos que não sabiam dançar. Mas , ninguém com Rita ; só ela, só aquele demônio , tinha o mágico segredo daqueles movimentos...” Prefere a biologia, a patologia (evolucionismo – zoomorfismo): “os meneios da mestiça melhor se acentuam, cheios de uma graça irresistível, simples, primitiva, feita toda de pecado, toda de paraíso , com muito de serpente e muito de mulher”