DE JOÃO DE NORONHA
No Reino Unido abriu-se um precedente perigoso e que pode ter repercussões incalculáveis a nível da integração da comunidade portuguesa no Reino Unido. O governo, a polícia e os sindicados, ao permitirem que centenas de trabalhadores espalhados por vários locais no Reino Unido se virassem pura e simplesmente contra os seus colegas, pelo facto apenas de serem estrangeiros, criaram uma barreira explosiva, que pode vir a degenerar no início de uma guerra xenófoba e sem tréguas à igualdade de oportunidades no acesso ao trabalho das comunidades imigradas no Reino Unido. Por outro lado, o facto de se ser inglês não pressupõe competência para efectuar um certo ofício, trabalho ou emprego. É por demais sabido que há falta de centenas de milhares de quadros técnicos e médios neste país, já para não falar em pessoal altamente qualificado como, por exemplo os da saúde. Mais surpreendente ainda é quando o ministro da economia britânico admite que há mais dois terços de ingleses a trabalharem na Europa, do que trabalhadores europeus contratados no Reino Unido. Vamos, pois, esperar pelos desenvolvimentos futuros neste campo, porque, a meu ver, o ódio demonstrado pelos manifestantes contra a nossa raça, as notícias na maior parte dos media e os muitos e-mails de opinião do público em geral, são elucidativos dos sentimentos dos britânicos acerca de todos nós... e em tempo de eleições ninguém vai arriscar ir contra a opinião pública. Depois, tanto a nossa diplomacia como o nosso Estado não têm força nem vontade para bater o pé e defender os interesses dos nossos emigrantes. Se já não defendem os direitos essenciais que um Estado de direito deveria dar aos seus cidadãos emigrados, quanto mais preocuparem-se com situações cuja defesa dos mesmos passaria por enfrentar os mais poderosos. Gostaria de ver a reacção da embaixada inglesa em Portugal, se acontecesse o mesmo aos seus súbditos em terras lusas. Muito se tem escrito sobre o Centro Comunitário Português de Thetford, conhecido como The European Challenge. Não só pelos disparates que se dizem, como também pela cena triste do primeiro andar onde, contra a lei, um dos inquilinos andou a vender álcool sem alvará e licenças para tal. Depois deste incidente, o TEC,
assunto e, no próximo número, muito mais haverá a publicar sobre o tema.
liderado por Susana Forte Vaz, reconverteu o projecto, falou à câmara de Breckland e propôs, tal como lhe foi solicitado pela própria edilidade, um novo pedido de licenciamento que agora veio recusado. E recusado porquê? Na base de que, na opinião do poder local, não estarem seguros de que a organização procurou devidamente o mesmo espaço dentro da cidade. Para quem conhece Thetford, com certeza que, tal como eu, deve estar a pensar que a carta de recusa foi feita certamente num escritório de correspondência na Índia, ou noutro local remoto, sem conhecimento de causa. Ou então, mesmo, uma brincadeira de mau gosto. Mas assim não é. Apesar da recusa do relações de imprensa do Breckland em aceitar que esta decisão encobre um acto de discriminação à comunidade portuguesa na área, certo é que os argumentos de recusa são tão débeis que bradam os céus! Não só toda a gente sabe não haver um prédio capaz de albergar este projecto no centro de Thetford, como em seu redor temos uma quantidade de empreendimentos similares, desde restaurantes, lojas, leiloeiros, igrejas, stands de carros e outros negócios que nada têm a ver com um complexo industrial. Mas porque é um centro português, tudo vale para deitar abaixo. Até a utilização de um facto que todos os que vivem em
Thetford sabem – não existe nenhum local no centro da cidade para alojar este tipo de centro comunitário português. Depois vem a história que o centro poderia ser um pólo para o aumento de criminalidade na área. Mas como? Depois de um ano de actividade (2008/2009) existem fundamentos para comprovar o aumento de crime na área? Não! Diz-nos o Breckland e afirma a polícia num relatório público. Contudo, noutro relatório, para deitar abaixo o centro português de Thetford, a mesma polícia levanta preocupações sobre o assunto. Mas tem a polícia provas do aumento de crime na área desde que o centro abriu? Não! Então porque escreve um documento levantando objecções? Será que os portugueses são, para a polícia, um pólo para o aumento dos problemas de crime e desordem na área? Qual é o índice de crime dos portugueses na área? Porque no Reino Unido, segundo a embaixada, é de 0,06%. Isto só demonstra como, por vias indirectas, utilizando a lei indiscriminadamente e escondendo-se por detrás dela, actuam os que inteligentemente discriminam. Abriu-se mais um precedente, que a meu ver vai acabar nos tribunais, a conhecer pela tenacidade e compromisso que conhecemos na mentora do projecto. O nosso jornal continua a investigação ao
Começa a desenhar-se um movimento de união na comunidade portuguesa liderado por António Cunha. Uma tentativa arrojada e difícil, tantas são as feridas e as mazelas entre os vários sectores da comunidade, que se têm digladiado nos passados anos e erguido barreiras difíceis de transpor. Contudo vale a pena ouvir e fazer o esforço para ajudar a criar a coesão. Na verdade é essencial que esta comunidade se organize e se prepara para um futuro próximo, cheio de desafios e dificuldades, onde as exigências vão ser enormes e sem organização, temo que se vá perder algum do pouco terreno ganho. Temos a todo o custo levar para a frente a Federação e o Congresso Nacional. Dois órgãos que sejam chamados a representar os portugueses quando for necessário intervir e exigir o respeito pelos nossos interesses e população. Tal como os polacos, em dois anos, fizeram e onde a Federação, apoiada pelo corpo diplomático polaco no Reino Unido, até já foi recebida pelo primeiro-ministro britânico para discutir princípios e apoios à comunidade polaca. Contrariamente àquilo que temos vindo a observar nos últimos anos neste território, tem de ser a comunidade portuguesa a liderar o caminho via a defender os seus interesses e não esperar e andar a reboque da embaixada e consulados, para conseguir os seus intentos. Organizada a nossa comunidade pode exigir dos nossos governantes e corpo diplomático a intervenção desejada, para que sejamos aceites e respeitados. Ultimamente tem sido uma vergonha ver a forma como os portugueses são tratados a todas as instâncias, enquanto as autoridades se quedam no silêncio e se escondem por detrás de paredes, ignorando as necessidades, expectativas e aspirações dos portugueses no Reino Unido. Nunca seremos ouvidos ou respeitados, se nunca estivermos organizados e ligados na defesa dos nosso interesses. A união éo primeiro passo para o reconhecimento institucional – sem medos e sem preconceitos. A nossa sobrevivência não se compadece da protecção cega e exagerada de certos indivíduos e instituições – é preciso primeiro defender os interesses do colectivo e, para isso, é preciso coragem e convicções fortes, para vencer a inércia de muitos e as críticas de outros. PUB.