A Minha Experiencia

  • May 2020
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A

minha

experiência

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estrada...

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bicicleta de montanha: Durante o tórrido mês de Julho de 2007, fui desafiado para participar na etapa de ciclismo de uma prova de Triatlo por estafetas, para substituir um dos elementos de uma equipa, que por um imprevisto não ia poder estar presente. A etapa era de estrada e como eu não possuía uma bicicleta apropriada, os colegas de equipa ficaram de me emprestar uma. No caso de não haver nenhuma bicicleta disponível, emprestar-me-iam um jogo de pneus slick para eu colocar na minha bicicleta de montanha. Na noite anterior, em conversa com um dos colegas de equipa, foi-me dito que o trajecto que eu ia fazer era curto (+-25km) e que possuía algumas subidas em paralelo bastante pronunciadas. Ele achava por isso que eu até teria uma certa vantagem em relação aos outros atletas, por poder beneficiar da maior desmultiplicação da bicicleta de montanha, mas que poderia decidir na manhã seguinte pelos pneus slicks de 26", ou pelo uso da tal bike emprestada. A logística correu mal e eis que eu me vi na manhã da prova, sem bicicleta de estrada e sem pneus. Não me restou alternativa senão encher bem os meus pneus (de montanha, com algum taco), bloquear a suspensão e rezar para não apanhar um empeno muito grande.

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Eu não conhecia bem os meus dois companheiros de equipa, o nadador que me ia anteceder, nem o corredor que ir suceder. Como íamos participar na modalidade de estafetas, achei que nenhum deles, tal como eu, estaria lá com grandes ambições de resultados. Como tal, a prova iniciou-se, e eu aguardava calmamente a chegada do nadador. Na zona de transição teríamos que fazer a passagem do dorsal dele para mim, de seguida eu correria até à bicicleta, colocaria o capacete e correria até ao fim da zona de transição, onde começaria o trabalho em cima do selim. Estava eu calmamente a fotografar com o telemóvel, os primeiros atletas a chegar à margem, quando alguém me toca para me chamar: era o meu nadador, que tinha chegado no grupo da frente sem eu me aperceber... Um pouco envergonhado por me ter distraído e subestimado os objectivos da equipa, lá corri, peguei na bike e corri mais, até finalmente montar. Após uns ziguezagues iniciais, ao estranhar as diferenças dos pneus e suspensão, lá me encaminhei pela primeira subida acima, tentando inicialmente de forma muito optimista subir de pé e sendo obrigado a sentar-me e a colocar andamentos bem leves, uns metros a seguir. Nesta altura, debaixo de uma temperatura de mais de 40ºC, a progredir lentamente com a corrente próxima do carreto maior atrás, tive a ilusão momentânea de estar a beneficiar das vantagens da bicicleta de montanha. A realidade atingiu-me quando olho para trás e vejo dezenas de

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bicicletas de estrada, com os respectivos tri-atletas ainda molhados das águas do Douro, a aproximarem-se rapidamente de mim. "Obliterado" é uma palavra adequada para classificar como me senti naquele momento. Depois de nadarem 750 metros, metade dos quais contra a corrente, a diferença entre o andamento deles e o meu era abismal. Senti-me parado enquanto fui passado por eles e horrorizado quando a cor dos equipamentos se tornou vermelha e os atletas do Benfica me passaram. A subida não terminou antes de eu ser ainda passado por um miúdo montado numa velha bicicleta de estrada de aço, a pedalar com os ténis retorcidos nos pedais de plataforma. Quando alcancei o cimo, tinha sido passado por dezenas de atletas e tinha conseguido ultrapassar apenas dois infelizes como eu, que se transportavam em bicicletas de montanha (se bem que completamente rígidas e com slicks). O resto do trajecto era composto por descidas e subidas mais curtas. Procurei acelerar o mais que podia, para recuperar posições. Depois de ser pregado daquela forma na primeira subida, decidi que a minha corrida era só contra os que também estavam a fazer a prova por estafetas. Os dorsais eram mesmo dorsais, visto que estavam colocados nas costas dos atletas, por isso pela cor podia distinguir os que estavam a fazer a mesma corrida que eu. No entanto, como éramos poucos, tive

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que optar por tentar ultrapassar quem quer que estivesse à frente e procurar manter-me na roda de quem me ultrapassasse, até ter a felicidade de encontrar um dorsal igual ao meu. Por isso, todo o raciocínio presente nas frases anteriores teve um efeito nulo. Na prática tinha que correr contra todos e tentar ultrapassar quem quer que fosse. Numa corrida é este o género de coisas sem sentido, pensamentos longos que retornam ao ponto de partida, que me passam pela cabeça. As pernas e os pulmões travam uma batalha dura, mas a mente corre uma corrida mais longa, pensando em tudo e mais alguma coisa, a uma velocidade incrível. Quanto maior o esforço, e maior o calor, menos sentido têm e mais delirantes são os pensamentos. Por vezes parece que revivi uma vida inteira ou situações marcantes repetidamente, enquanto percorri uma distância tão curta como 100 m. Nas descidas não parava de pedalar. Atingia velocidades pouco habituais, daquelas que costumo atingir apenas por um ou dois instantes nas saídas normais: 50-60 km/h - descia quase sempre a esta velocidade. Nas curvas sentia que ganhava algum terreno em relação ao da frente. Procurava cortar as curvas todas e por vezes, depois de invadir a faixa contrária, lamentava o facto de não ter perguntado a ninguém se o trânsito estava efectivamente cortado. Desbloqueava a suspensão no início de cada descida, voltava a bloqueá-la ao ver subidas. Com a pressão acrescida nos pneus a bicicleta parecia-me muito diferente, para pior. Bastante mais desconfortável. Sentia-me fraco e por isso não tentei mais subir de pé. Após uma subida longa, senti

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pela primeira vez na vida a sensação de dormência causada pela má posição do selim. Até aquele dia, nunca tinha achado ter o selim mal posicionado. Talvez nunca tivesse passado tanto tempo seguido, imóvel a pedalar. Após tempos que me pareciam intermináveis, os 25 kms estavam a chegar ao fim. O calor queimava mesmo. Após a primeira subida, consegui passar quatro ou cinco atletas, destes talvez um ou dois com a minha cor de dorsal. Fui passado talvez por outros tantos. Mesmo antes da linha de espuma que marcava o início da segunda zona de transição, consegui fazer a minha última ultrapassagem e travei a fundo. Ainda o eco do típico guincho do meu v-brake da frente soava, já eu tinha saltado da bike e corria (arrependido de nem os pitons dos sapatos me ter lembrado de tirar) até ao lugar onde devia pendurar a bike no corrimão. Toquei o dorsal com o corredor da minha equipa e fui beber água e descansar para uma sombra, com a sensação de ter os miolos parcialmente estorricados, preocupado pela noção de que iria ter ainda que fazer o percurso inverso, até à zona onde o carro estava estacionado. Lembro-me de estar lá com mais gente e de eles me terem chamado várias vezes, porque falavam comigo e eu não os ouvia logo e não respondia. Foram 25 km que causaram um empeno pior do que se fossem 100.

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No regresso até ao carro, o cansaço era tanto, que em parte do caminho tive que trocar de bike (a dele era de estrada) com um colega meu que tinha feito a prova inteira, e que mesmo assim estava menos empenado que eu. Umas semanas mais tarde soube que a equipa composta por eu+corredor+nadador, ficou na 4ª posição nesse Triatlo. Uma posição muito boa para a forma como me senti durante e depois da prova. A partir daí fiquei sempre com o bichinho que me diz regularmente ao ouvido: "Se eu tivesse uma boa bicicleta de estrada..." Mangelovsky

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