A Estrutura Do Poder Conjugal.pdf

  • Uploaded by: Evenllyn Colaco
  • 0
  • 0
  • April 2020
  • PDF

This document was uploaded by user and they confirmed that they have the permission to share it. If you are author or own the copyright of this book, please report to us by using this DMCA report form. Report DMCA


Overview

Download & View A Estrutura Do Poder Conjugal.pdf as PDF for free.

More details

  • Words: 5,945
  • Pages: 12
'PSICOLOGIA SOCIALI

A estrutura do poder conjugal: uma análise de duas culturas em duas épocas* AROLDO RODRIGUES** BRENDALI BYSTRONSKI*** BERNARDO JABLONSKI**** 1. Introdução; 2. Método; 3. Resultados; 4. Discussão. Este artigo estuda a estrutura de poder em famOias, baseado nas respostas fornecidas por duas amostras de casais residentes no Rio de Janeiro. Constitui, essencialmente, uma réplica de um estudo conduzido por Centers et aI. (1971) com casais americanos residentes em Los Ange1es. Para efeitos de comparação transcultural, além dos dados de Centers et a1ii, os reportados por Blood & Wolfe (1960), obtidos com uma amostra de esposas residentes em Detroit, foram também considerados. Cento e trinta e quatro casais foram entrevistados em 1988 e 96, em 1989. O instrumento de pesquisa consistia de 12 situações de decisão na esfera familiar, às quais os respondentes deveriam dizer quem nelas tinha a áltima palavra. Perguntas relativas a autoritarismo, satisfação conjugal, idade, classe social e nível educacional foram incluídas. Os resultados indicaram uma queda do poder decis6rio do marido, quando comparados com os obtidos há mais de duas décadas por Blood & Wolfe e Centers et a1ii. A idade se correlacionou positivamente com o maior poder do marido. Satisfação conjugal e autoritarismo não mostraram associação com poder do marido, e as demais variáveis demográficas consideradas, além de idade, demonstraram associações ocasionais. Nota-se, ainda, uma preferência por uma estrutura autonômica de poder conjugaI. Estes resultados são discutidos à luz das transformações sociais decorrentes da revolução sexual, das mudanças dos papéis sexuais e da possível crise de identidade masculina.

1. Introdução

Vários autores reconhecem que poder é um conceito-chave nas ciências sociais. Embora Dorwin Cartwright tenha considerado, em 1959, poder como "uma variável negligenciada em psicologia social" e recomendado aos especialistas da área prestarem mais atenção a ele, outros autores têm salientado a importância do poder nas ciências sociais em geral e na psicologia social em particular. Bertrand Russell (1938) chegou a afirmar que "poder é o conceito fundamental em ciência social,

* Artigo apresentado à Redação em 13.7.89. ** Prof. PcSs-Graduação em Psicologia na UGF e FGV.

*** Prof. PcSs-Graduação em Psicologia na UFRGS. **** Prof. PcSs-Graduação em Psicologia na UGF. Arq. bras. Psic.,

Rio de Janeiro,

41(4)13-24,

set./nov. 1989

da mesma fonna que energia é o conceito fundamental na física" (apud Cx:omwell & Olson, 1975). Olson & Cromwell (1975) dizem que "poder é um dos aspectos mais fundamentais de toda interação social. Trata-se de um fenômeno tão significativo e dominante que tem sido objeto de estudo e preoqlpação na maioria das disciplinas das ciências sociais. Poder tem sido usado como explicação causal de várias coisas, desde conflit\ 's entre nações até desentendimentos entre casais, e tem sido visto como capaz de cuntribuir para a falta de credibilidade do governo e para a organização hierárquica em grupos, abrangendo desde a ordem em que as galinhas bicam até o status de indivíduos em corporações. Enquanto poder, tem constituído objeto de interesse para muitas disciplinas, tem-se revelado um dos conceitos de descrição e entendimento mais complexos e problemáticos. De fato, em todo o léxico de conceitos sociol6gicos, nenhum é mais complicado que o de poder. Sobre isso, podemos dizer apenas o que Santo Agostinho disse sobre o tempo - que todos sabemos perfeitamente o que é até que alguém nos pergunte (Biersted, 1950, p. 3). Sherif & Sherif (1964), em estudo sobre grupos de adolescentes, verificaram que "a dimensão mais importante nas suas relações é a dimensão do poder", e Blood & Wolfe (1960) dizem que "o aspecto mais importante da estrutura familiar é a posição hierárquica de seus membros". Este artigo trata da estrutura de poder na fanúlia ou, mais especificamente, em casais que vivem juntos (legalmente casados ou não). Constitui-se essencialmente de urna réplica, com poucas variações, de estudo de Centers, Raven & Rodrigues (1971) conduzido em 1964 com 410 esposas e 331 maridos selecionados de acordo com urna amostragem por cota entre os residentes da cidade de Los Angeles, USA. Raven (1965) define influência social como "uma mudança nas crenças, atitudes ou comportamentos de uma pessoa - o alvo da influência -, que resulta da ação ou presença de outra pessoa ou grupo de pessoas - o agente influenciador. Definimos poder social como o potencial para tal influência" (p. 3). Conseqüentemente, a modificação real dos comportamentos, crenças ou atitudes por alguém é fruto da influência social, que, por sua vez, é derivada de alguma base social de poder. Em sua pesquisa de levantamento de 1954, publicada em 1960, Blood & Wolfe consid~ram várias áreas importantes de decisão envolvendo a fanúlia. Como outros investigadores assinalaram (por ex., Heer, 1963; Levinger, 1964; Sharp & Mott, 1956), poder em urna área não implica necessariamente poder em outra. Em seu estudo, Blood & Wolfe (1960) tentaram obter uma amostra representativa de áreas de decisão masculinas e femininas; Centers, Raven & Rodrigues (1971) questionaram a representatividade das áreas escolhidas por estes autores. Segundo eles, as oito áreas de decisão escolhidas por Blood & Wolfe eram um pouco tendenciosas na direção do domínio do marido e, conseqüentemente, isto deveria gerar um mimero maior, porém não confiável, de fanúlias onde predomina o poder do marido e uma maior média do poder do marido em tais áreas. De fato, quando outras seis áreas de decisão foram acrescentadas por Centers, Raven & Rodrigues (1971), o poder médio do marido foi mais baixo do que quando apenas as oito propostas por Blood & Wolfe (1960) foram levadas em conta (3,02 e 3,36, respectivamente, numa escala que variava de 1 a 5 e onde, quanto maior o escore, maior o poder do marido). O aumento das áreas de decisão foi considerado mais adequado também por Gray-Little & Burks (1984), que afmnam que "Centers et alii incluíram homens e também mulheres em sua amostra e usaram urna amplitude maior de áreas de decisão e um procedimento claro e preciso de ca14

A.B.P.4/89

tegorização, eliminando assim as principais falhas do estudo de Michigan" (p. 517). As razões para tentar replicar o estudo realizado por Centers, Raven & Rodrigues, em meados da década de 60, são duas. Em primeiro lugar, acreditamos firmemente que mudanças signjficativas ocorreram nas relações entre marido e mulher nos áltimos 20 ou 25 anos; de fato, raramente (senão jamais) uma geração diferiu tanto da anterior em atitudes, crenças e valores relativos a relacionamento conjugal como a atual geração de adultos jovens. Ademais, as mudanças têm sido de tal magnitude que muitos adultos que pertencem à geração anterior, mais tradicional, têm mudado em direção à nova constelação de valores prevalentes na geração mais nova e mais liberal; uma indicação deste estado de coisas é o significativo aumento de divórcios no mundo inteiro em todos os níveis de idade (ver Jablonski, 1988, para uma revisão). A combinação de fatores, tais coma o ingresso maciço de mulheres no mercado de trabalho (desde o final dos anos 50 nos Estados Unidos e bem mais tarde no Brasil), o movimento de emancipação feminina, a desvalorização dos serviços domésticos, a diminuição do mimero de filhos para cuidar, somados a uma maior expectativa de vida, parecem ter sido os maiores responsáveis por essas mudanças. COm o advento da contracepção e a viabilização (legalização em muitos países) do aborto, a mulher abandonou a esfera doméstica e ganh<.>u o domCnio pdblico, através do acesso ao mercado de trabalho. Profissionalizou-se e ampliou seu universo para além das fronteiras do casamento, filhos e tarefas do lar. Hoje ela está no exército e nos colégios militares. O homem, com isso, deixou de ser o "sexo forte", o provedor, o "cabeça-de-casal" e, por seu turno, começou também a desempenhar importante papel no cuidado com os filhos. Até mesmo ao nível do direito vemos as mudanças institucionalizarem-se. A Assembléia Nacional Constituinte, recém-encerrada, instituiu no Brasil o direito à licença-paternidade. Vários estados americanos autorizam a divisão da guarda dos filhos em caso de divórcios, e a percentagem de pais que a detêm cresceu na áltima década. Segundo Badinter (1986), "na França, os pais que se encontram com a guarda dos fihos representam aproximadamente nove a 11 % dos casos. Este ndmero está estagnado há vários anos, notadamente por causa do peso dos estereótipos e da mentalidade dos juízes. Mas a reivindicação paterna foi suficientemente ruidosa para que os tribunais começassem a levar em consideração a igualdade das funções paternas e maternas" (p. 226). Máltiplas são as investigações científicas que, reiteradamente, constatam estas mudanças e buscam os determinantes psicossocio-afetivos que estariam operando os novos comportamentos, valores e atitudes. Por exemplo, Sherwin et alii (1978), examinando o discurso de estudantes de uma universidade americana sobre assuntos como namoro casual ("caso"), namoro fIrme e noivado, em três momentos distintos num espaço de tempo de 15 anos (1963 e 1978), demonstrou que a revolução sexual na sociedade americana neste período se refletia nas normas sexuais dentro do campus e que os alunos haviam se tomado mais liberais. No entanto, constatou que a revolução foi fundamentalmente feminina. Além do interesse em verificar as possíveis modificações na estrutura de poder na família através do tempo e em duas culturas distintas, os autores acreditam firmemente que a pesquisa de réplica, apesar de lamentavelmente negligenciada nas ciências sociais, constitui uma forma privilegiada de aquisição de conhecimento novo e estável em psicologia social. Quando uma descoberta se mantém estável através de épocas e de culturas, estamos diante daquilo que Triandis (1978) denomina "universais do comportamento social", exemplos dos quais podem ser visPoder conjugal

15

tos em Rodrigues (1988); se, entretanto, a réplica em outra cultura não ratifica o encontrado no estudo original, novo conhecimento pode ser adquirido, quer pela indicação de idiossincrasias culturais, quer pela verificação da transitoriedade do fenômeno, ou seja, a sua não-suscetibilidade ao efeito de ocorrências históricas (ver Rodrigues, 1988, para uma discussão mais aprofundada deste ponto). Face a tudo isso, julgamos oportuno obter dados sobre estrutura do poder na farnflia em casais brasileiros, moradores na cidade do Rio de Janeiro. Para este fim, dois grupos de casais que viviam juntos foram entrevistados, como será descrito na proxima seção. Além disso, dados coletados por Jablonski (1988) em 1987, com 400 sujeitos de classe média, residentes no Rio de Janeiro, divididos em quatro grupos de 100 (50% de cada sexo), constituídos por solteiros, casados jovens, casados idosos e separados, serão também aqui considerados para efeito de comparação entre as duas culturas (americana e brasileira) e através de momentos distintos no tempo (1954,1964, 1987, 1988 e 1989).

2. Método 2.1 Sujeitos Duas' amostras oportunistas de casais residentes na cidade do Rio de Janeiro foram entrevistadas. Uma delas era integrada por 134 adultos que viviam em estado conjugal; a outra foi composta por 96 casais na mesma situação. Ambas as amostras eram predominantemente de classe média e média-alta ou alta, embora uma percentagem menor se tenha identificado com a classe baixa. Sexo foi, evidentemente, igualmente representado, umà vez que todos os entrevistados eram casais; as amostras eram também tendenciosas em direção ao riível de educação superior (completo ou tendo apenas iniciado a universidade); a média dos entrevistados foi de 38,95 anos na amostra de 134 pessoas e de 37,73 anos na de 96 indivíduos. A maioria dos casais havia se casado apenas uma vez, mas alguns se casaram duas vezes e uns poucos,. até três vezes; o tempo de casamento variou de 1 a 29 anos na amostra de 134 entrevistados; para a outra amostra, este dado não foi obtido. 2.2 Procedimento Para ambas as amostras, 16 áreas de decisão foram apresentadas. Seguindo o trabalho original de Centers, Raven & Rodrigues (1971), a apresentação destas áreas era precedida das seguintes instruções: "Em toda famOia elguém tem que decidir certas coisas, tais como onde a farnllia vai morar e coisas assim. Muitos casais discutem o problema, porém, a decisão final tem que ser tomada pelo marido ou pela esposa. Por exemplo, quem toma a decisão tmal acerca. •• ?" Uma lista de 16 decisões era então apresentada aos sujeitos, que deveriam indicar uma de cinco alternativas, a saber: marido sempre, marido mais do que a mulher, marido e mulher igualmente, mulher mais do que o marido e mulher sempre. As 16 áreas de decisão podem ser vistas na tabela 1 da seção de resultados. Destas 16, quatro eram exatamente fraseadas como no estudo de Centers, Raven & Rodrigues e outras quatro eram áreas não consideradas nos estudos americanos, mas incluídas por Jablonski em sua tese de doutorado em 1988. 16

A.B.P.4/89

2.3 Varidveis psico16gicas e demogrdficas Como no estudo original de Centers, Raven & Rodrigues (1971), uma breve escala F desenvolvida por Sanford & Older (1950), consistindo de sete itens, foi utilizada coin a primeira amostra de 96 respondentes. Nos questionários utilizados com ambas as amostras foram incluídos itens sobre satisfação conjugal (grau de abertura na relação, satisfação sexual, freqüência de desacordos e discussão entre os cônjuges e grau de satisfação por estarem vivendo juntos). As respostas a estes itens foram combinadas de forma a ser criado um "índice de satisfação" de cada membro do casal com a sua vida conjugal. Finalmente, coletaram-se dados demográficos usualmente olltidos, tais como idade, sexo, nível educacional, identificação com classe social, e ainda informações tais como tempo de casado (apenas com a amostra de 134 sujeitos) e mimero de vezes que haviam casado. A filiação religiosa foi indagada na primeira amostra de 134 pessoas, porém não na segunda, pois a esmagadora maioria (87%) da primeira era constituída de cat6licos ou de pessoas sem filiação religiosa.

3. Resultados 3.1 Estrutura do poder na jamflia

A primeira análise feita referiu-se no cálculo do poder médio do marido. Seguindo os trabalhos originais de Blood & Wolfe (1960) e os de Centers, Raven & Rodrigues (1971), as respostas às perguntas relativas às áreas de decisão foram mapeadas numa escala de 1 a 5 da seguinte forma: marido sempre (5); marido mais do que a mulher (4); ambos igualmente (3); mulher mais do que o marido ~2); e mulher sempre (1). A tabela 1 mostra os resultados obtidos, em termos de média do poder do marido para cada área de decisão e da média global encontradas nos estudos americanos e nos brasileiros, separando-se os itens que foram comuns a l0dos os estudos, os que foram repetidos em três deles e, finalmente, o conjunto utilizado apenas nos estudos brasileiros. Para facilitar a comparação transcultural e transitória, as quatro áreas de decisão utilizadas por Blood & Wolfe e repetidas nos estudos posteriores são apresentadas em primeiro lugar na tabela 1. Em seguida, são apresentadas as oito áreas de decisão comuns aos estudos de Centers, Raven & Rodrigues e às amostras brasileiras de 1988 e 1989; finalmente, seguem-se as quatro áreas de decisão exploradas somente com as amostras bmsileiras. Após a apresentação d8s inédias de poder do marido para cada área de decisão, seguem-se, no final da tabela 1, as médias globais de poder do marido para os quatro itens comuns a todos os estudos, os oito constantes dos estudos de Centers, Raven & Rodrigues e das duas amostras brasileiras e, finalmente, as relativas às quatro áreas de decisão introduzidas por Jablonski (1988) e repetidas com as duas .amostras deste estudo. Como os dados bnitos do estudo de Centers, Raven & Rodrigues (1971) não estavam acessíveis aos autores no momento destas análises, e era sua intenção comparar as médias de poder do marido encontradas na pesquisa americana e nas amostras das pesquisas conduzidas no Brasil em 1988 e 1989, decidimos tratar como dados ordinais as médias relativas ao poder do marido nas 12 áreas de decisão comuns aos três estudos e utilizar o método não-paramétrioo de KruskalWallis (Siegel, 1956). Essa análise revelou que a hipótese nula de igualdade entre Poder conjugal

17

Tabela 1 Média do poder do marido para cada área de decisão em quatro estudos Áreas de decisão Carro a ser comprado Onde ir nas férias A que médico ir Quanto gastar em comida

EUA B&W (1954) C, R&R (1964) 4,18 3,12 2,53 2,26

Quem convidar para casa . Decoração da casa Programa de rádio ou TV Cardápio para o jantar Vestimenta da mulher Vestimenta do marido Investimentos financeiros Trabalho da mulher

(1989)

4,16 3,17 2,65 2,33

2,84 3,30 2,95 3,22

2,64 2,95 2,57 3,41

2,92 1;97 3,23 1,66 1,67 3,96 3,96 2,74

3,04 2,88 2,95 2,53 2,00 2,88 3,65 2,64

2,82 2,10 3,19 2,04 2,15 2,07 3,71 3,58

2,80 3,16 3,33 2,84

2,50 2,77 3,40 2,00

3,08 2,91 2,94

2,89 2,77 2,74

Uso de contraceptivos Educação dos fIlhos Emprego a ser buscado Administração da casa Médias globais 4 itens 12 itens 16 itens

3,02

Brasil (1988)

3,08 3,08

as médias globais de poder do marido nestas três pesquisas foi rejeitada (H= 6,18, p < 0,05). O teste U de Mann-Whitney (Siegel, 1956), realizado para testar a diferença entre os valores médios de poder dos maridos nas duas amostras brasileiras, mostrou que não há diferença significativa entre estes valores (z= 1,65,p= n.s.). Conseqüentemente, em termos de poder médio do marido, as amostras brasileiras de 25 anos depois mostraram uma diminuição deste poder quando comparados com a amostra americana. Ainda relacionado com a estrutura do poder nas famílias é o tipo de autoridade nelas dominante. De acordo com o relatório de Wolfe (1959), também baseado nos dados coletados em 1954 e reportados por Blood & Wolfe em 1960, utilizamos as respostas dadas aos itens relativos às áreas de decisão para classificar as famílias em quatro tipos: marido-dominante, sincrática, autonômica e mulher-dominante. Wolfe (1959) detme estas quatro categorias da seguinte maneira; a) Tipo marido-dominante, onde a amplitude do poder do marido é consideravelmente maior do que a da mulher; b) Tipo sincrdtica, consistindo de casais entre os quais existe praticamente um equilíbrio de autoridade relativa e a amplitude do domínio compartilhado entre o marido e a mulher é igual ou maior do que o domínio específico do marido e do que o da mulher; c) Tipo autonômica, onde existe um equilíbrio aproximado de autoridade relativa, mas a amplitude dos domínios do marido e da mulher juntos é maior que o domínio em que compartilham o poder; e 18

A.B.P.4/89

d) Tipo mulher-dominante, onde a amplitude de poder da mulher é consideravel.mente maior do que a do marido. Ainda de acordo com Wplfe (1959), computamos os valores que permitiriam classificar as famílias em um destes quatro tipos de estrutura de poder. Para esse fim, levamos em conta os valores estabelecidos por Wolfe com base nas respostas às oito áreas de decisão constantes de seu estudo de 1954 e, por extrapolação, obtivemos os valores correspondentes quando 12 áreas de decisão são utilizadas, tal como em nossos eStudos com amostras brasileirBs. Os valores assim obtidos (as escalas utiliUldas nas respostas às áreas de decisão eram as mesmas em ambas as culturas isto é, 1 para mulher sempre, 2 para mulher mais do que o marido, 3 para ambos igualmente, 4 para marido mais do que a mulher e 5 para marido sempre) foram: até 29, mulher-dominante; 44 ou maior, marido-dominante; entre 30 e 43, se o námero de respostas "ambos igualmente" fosse sete ou mais, a família seria considerada sincrática; se fosse seis ou menos, autonômica. Embora achemos que a forma de classificação em tipos de estrutura de poder na família proposta por Wolfe seja sujeita a críticas, pareceu-nos apropriado, para efeito de comparação entre culturas, mantê-Ia inalterada. A tabela 'l. mostra a distribuição das famílias de acordo com o tipo de autoridade dominante para as duas amostras brasileiras e para as amostras americanas de 25 e 35 anos atrás. A tabela 3 mostra os dados da tabela 2 de acordo com o sexo d~ respondentes.

Tabela 2 Percentagens de cada tipo de autoridade dominante na famflia em amostras americanas e brasileiras

Tipo de Autoridade Marido-dominante Sincrática Autonômica Mulher-dominante N

Detroit (1954)

LA (1964)

25 31 41 3 656

10 18 68 4 747

RI

RI

RI

(1988)

(1989)

(1988, 1989)

14 17 64

5 124

2 25 59 8 83

11 21 67 6 207

Nota: Os dados para Detroit sio baseados em oito úeas de decisão; para Los Angeles, em 14; e, para o Rio de Janeiro, em 12 das 14 utilizadas na pesquisa de Los Angeles. O N para as amostras do Rio de Janeiro diminuiu porque alguns sujeitos não responderam a algumas das úeas de decisio, impedindo, assim, a obtenção do escore total e da classificação segundo os quatro tipos de autoridade dominante na família.

Quando tomamos as quatro áreas de decisão comuns aos quatro estudos considerados neste artigo (OS dois americanos e os dois brasileiros) e ordenamos os valores encontrados para poder médio do marido, verificamos que aqueles domínios, ou seja, "carro comprar", "onde passar as férias", "médico a consultar" e "quanto gastar em comida", foram ordenados, nas amostras americanas, como I, 2, 3 e 4, respectivamente; nas amostras brasileiras, as ordenações obtidas para estes mesmos domínios foram: 4, 1,2 e 3 para o estudo de 1988 e 3, 2, 4 e 1 para o de 1989. O coeficiente de concordância (W) de Kendall (Siegel, 1956) foi calcu-

a

Poder conjugal

19

Tabela 3 Percentagens para cada tipo de autoridade dominante na família para uma amostra americana e duas brasileiras separadas de acordo com o sexo do respondente

Tipo de autoridade Marido-dominante Sincrática Autonômica Mulher-dominante N

Los Angeles (64) F. M. 10 16 70 4 337

9 20 67 4 410

(Rio (89)

Rio (88) M. 10 19 63 1 63

F.

M.

F.

13

2 23 70 4 47

11 31 44 14 36

15 64

8 61

Nota: Testando a diferença entre as percentagens para pessoas do sexo masculino e feminino, em cada tipo

de autoridade familiar e em cada estudo, apenas 44'* e 70'* são significativamente diferentes para as fanúlias autonômicas na amostra do Rio de Janeiro de 1989 (z= 2,36, P < 0,02).

lado para verificar o grau de correspondência entre as hierarquizações obtidas nas quatro amostras, e o valor encontrado fc;>i de 0,55. Verificado o grau de correlação entre as ordenações de cada um dos seis possíveis pares de ordenações através da estatística rho de Spearman (Siegel, 1956), verificamos que há perfeita correlação entre as amostras americanas (1,00) e que, entre elas e a brasileira de 1988, a correlação é de 0,77 e de 0,80 com a de 1989; a correlação entre as amostras brasileiras é de 0,88. Uma dItima análise foi feita com os dados reportados na tabela 1 e diz respeito à estrutura do poder familiar nas amostras estudadas. Computamos a diferença entre 3,00 (valor que, na escala usada, correspondia a "marido e mulher igualmente") e cada valor médio de poder do marido nas 12 áreas de decisão comuns aos estudos de Centers, Raven & Rodrigues e aos brasileiros. Quanto mais positiva a distância em relação a 3,00, mais este afastamento indica poder do marido e~ quanto mais negativa, mais poder da mulher. Os dados de Centers, Raven & Rodrigues revelam afastamentos de +3,48 e -5,06, o que denota um afastamento médio de -0,13 e indica que a divisão de poder na família se aproxima bastante do ponto médio da escala que varia de 1 (mulher sempre) e 5 (marido sempre). As distâncias médias para a amostra brasileira de 1988 foram de + 1,21 e -2,23, o que revela um afastamento médio de -0,09. Finalmente, os dados para a amostra de 1989 em termos de afastamento em relação ao valor 3,00 foram + 1,89 e -4,66, o que fornece um afastamento médio de -0,23. Esta análise, que foi inspirada pelo trabalho de Jablonski (1988), mostra também uma queda do poder médio do marido através do tempo ou entre culturas. Interessantes a este respeito são os dados obtidos por Jablonski (1988). Calculando-se distanciamentos médios, tal como fizemos acima, obtemos os seguintes valores para seus quatro tipos de amostras, integradas por 100 pessoas cada uma, metade de cada sexo: solteiros, -0,23; separados, 1,91; casados jovens, -0,36; e casados idosos, +2,67. Estes dados mostram claramente que "separados" e "casados idosos" fornecem respostas às áreas de decisão na família muito mais indicativas de poder do marido, enquanto os solteiros e os casados jovens se aproximam bastante de uma estrutura de poder mais igualitária. 20

A.B.P.4/89

3.2 Estrutura de poder na famllia e sua relação com varidveis psicológicas e demogrf1ficas

No que tange aos possíveis efeitos de autoritarismo, satisfação conjugal e variáveis demográficas na estrutura de poder na famfiia, poucas associações foram verificadas. É provável que a escala de autoritarismo utilizada esteja inadequada à realidade atual, de vez que foi construída em 1950 e possui um conteódo suscetível a influências históricas. Encontramos alguma influência ocasional de sexo, idade, classe social e nível educacional na magnitude do poder do marido em certas áreas de decisão (por ex.: no que conceme a "pessoas a serem convidadas", quanto menor a idade, menor o poder do marido; quanto a "que médico ir", maridos com grau universitário têm maior poder do que aqueles com apenas curso secundário; em relação à "decoração da casa", quanto mais alta a classe social, maior o poder do marido; no que tange à "escolha de roupas do cÔnjuge" , os homens têm menos poder do que as mulheres; relativamente ao uso de anticoncepcionais, quanto maior o nível educacional, menor o poder do marido). Para estas áreas, encontramos F s significativos nas análises de variância efetuadas. Finalmente, idade tende a ter alguma influência no que diz respeito ao poder do marido; os maridos mais moços têm menos poder do que os mais velhos (F (2,93)= 2,53, p < 0,10). Este dado replica o que Jablonski (1988) encontrou, como aludimos acima.

4. Discussão

o

resultado mais evidente das pesquisas aqui reportadas é, em ndssa opinião, a diminuição do poder do marido ao longo dos anos. Embora não disponhamos de dados brasileiros de 25 e 35 anos atrás (como são os dados das amostras americanas), pensamos que a sociedade brasileira levou mais tempo do que a americana para liberalizar suas tradições, crenças e.atitudes. Isto pode ser visto, por exemplo, na maior liberalização da religião cat6lica nos Estados Unidos, se comparada ao Brasil nos aQ.os 50 e 60. Da mesma forma, o div6rcio s6 recentemente foi incorporado pelas leis brasileiras, em contraste com o que aconteceu nos Estados Unidos; o mesmo ocorreu com a censura sobre produções artísticas no Brasil, que há muito foi abolida nos Estados Unidos. A estrutura familiar tradicional, com os maridos trabalhando e as mulheres cuidando da casa e dos filhos, durou mais no Brasil do que nos Estados Unidos. O movimento feminista liderado por Betty Friedman iniciou-se nos Estados Unidos e s6 vários anos depois chegou ao Brasil, etc••• Por tudo isso,. poderíamos esperar que a estrutura de poder da família americana fosse pelo menos tão baixa em média de poder do marido nos anos 60 quanto a das famfiias brasileiras de hoje, porquanto muitas indicações de mudanças nos papéis sexuais eram visíveis naquela cultura já naquela época. No entanto, a atual estrutura de poder da famfiia brasileira mostra ainda menor média de poder do marido do que a das famfiias americanas dos anos 60. É admissível esperar que na sociedade americana contemporânea os maridos tenham ainda menor poder, talvez menos do que os brasileiros. Por exemplo, Madden (1987) verificou que percepção assimétrica de controle entre os CÔnjuges é claramente inaceitável para uma amostra de 37 casais, moradores da cidade de Amherst, Massachussets. Poder conjugal

21

Ein relação à diminuição do poder do marido, várias transformações recentes indicam que este fenômeno era de se esperar. Com o advento da assim chamada revolução sexual dos anos 60-80, gradualmente as tarefas foram perdendo sua especificidade sexual. Badinter (1986) assinala que "o maquinismo do século XIX tinha começado a desvalorizar a força do homem. O século XX acabou por tornála inl1ti.l, assim como aproveitar todo o interesse das destrezas, da minl1cia e dos jeitos femininos. Na era do computador, ninguém mais se preocupa em distinguir as tarefas femininas" (p. 194). As questões acerca do masculino e do feminino assumiram então uma nova face, sem precedentes históricos. Elas não trazem mais em seu bojo somente comportamentos e valores, mas mexem com o que há de mais íntimo em n6s: nossa identidade, identidade de homem e de mulher. Homens e mulheres têm atualmente acesso aos planos econômico, político, cultural da organização social. Já não é mais o homem sozinho que detém o poder decis6rio nas relações; a 16gica mesma deste poder subverteu-se de tal fOnDa que atingimos finalmente a igualdade, e o modelo dominante passou a ser o da semelhança entre os sexos (sobre a questão da semelhança entre os sexos e suas conseqüências sobre a base de poder social utilizada por casais modernos, ver Rodrigues & Bystronski, no prelo). De acordo corri hip6tese sustentada pela segunda autora deste artigo (e a ser testada em sua dissertação de mestrado), a diferenciação entre os sexos parece ser feita cada vez com maior dificuldade, pois os pontos de referência começam a faltar. As mulheres, com o direito adquirido de não mais serem mães contra a vontade, destr6em a equação mãe-mulher e encontram novas vias de identidade social. Entretanto, à mulher restou esta diferença fundamental que lhe .marca enquanto tal, a maternidade. Mas e a.o homem, o que lhe dá especificidade? A identidade masculina parece ter-se constituído, através da hist6ria, por vias virtualmente vicárias "- tais como a suposta superioridade do "sexo forte" em relação à mulher, a suposta maior habilidade natural dos homens para tarefas ditas masculinas, seu controle moral e econômico de instituições sociais como a famfiia, etc. Ora, a nova condição e identidade social que vem assumindo a mulher podem estar solapando visceralmente muitos destes emblemas de masculinidade, esvaziando-os assim enquanto p610 de identificação. O maior poder" do marido entre casais compunha mais um destes emblemas minados pela redefmição do domínio feminino. Sua diminuição constitui-se não s6 como conseqüência do aumento do poder feminino, mas também, com o passar dos anos e a inscrição na cultura das novas crenças e atitudes, como uma causa, na medida que, com sua identidade um tanto enfraquecida e ainda não totalmente redefmida, os homens recuariam nestas relações de pod~r, cedendo mais espaço à mulher. hnportante salientar, entretanto, que tal alteração na estrutura de poder não conduziu a uma inversão de lugares, isto é, as famfiias não estão passando de ma,rido-dominante a mulher-dominante. Em vez disso, parece que se encontrou uma forma alternativa de divisão de poder, na qual este está diretamente vinculado à área de decisão: algumas pertencem ao domínio do marido, outras, ao domínio da esposa. A predominância atual deste tipo de composição se manifesta na maior percentagem encontrada de famfiias autonômicas (ver tabela 2). Até mesmo em culturas mais tradicionais, como o hindu, confmna-se esta tendência. Por exemplo, Shukla (19~7), ao levar a cabo uma análise da estrutura de poder em famfiias hindus, utilizando o mesmo procedimento de Centers, Raven & Rodrigues (1971), chegou a conclusões que também apontam para uma tendência igualitária na divisão do poder, mormente em lares onde a mulher trabalha fora.

22

A.B.P.4/89

Embora seja prematuro pretender chegar a conclusões estáveis com base nos dados aqui reportados (as amostras brasileiras foram oportunísticas, viesadas em direção à classe média e alta e a pessoas com grau universitário ou, pelo menos, com alguns anos de universidade), parece que o perfil dos casais brasileiros de hoje corresponde à observação quotidiana e está de acordo com o revelado pelos dados de Jablonski (1988) em sua tese de doutorado sobre A crise do casamento contempordneo. Os casais de nossas amostras parecem mais dispostos a dividir entre si a responsabilidade pelas áreas de decisão e, principalmente os mais jovens, a evidenciarem menor nível de poder do marido, se comparados com o comportamento relatado em vários romances e ensaios Qrasileiros de décadas anteriores (ver, por exemplo, alguns dos mais destacados trabalhos de romancistas, ensaístas e soci610gos brasileiros como Erico Verissimo, Jorge Amado"Gilberto Freyre, Vianna Moog e outros). Apesar de necessitarem ser aprofundados, os vários aspectos da estrutura do poder conjugal levantados por este artigo parecem ter revelado alguns pontos interessantes acerca da estrutura do poder em famílias brasileiras. Abstract This paper deals with power structure in families, based on responses provided by two samples of couples living in Rio de Janeiro. It constitutes essentially a replication of a study carried out with couples uving in Los Angeles by Centers et alii (1971). For cross-cultural purposes, in addition to the data of Centers et alii, those reported by Blood & Wolfe (1960), with a sample of Detroit housewives, were also considered. 134 couples were interviewed in 1988 and 96, in 1989. The research instrument consisted of 12 decision making questions relating to family atIairs, to which the responders should answer who usually makes the f"mal decision. Questions related to authoritarianism, marital satisfaction, and demographic data were also included in the instrumento The results indicated a drop in husband's decision power, when compared with data obtained more than two decades ago by Blood & Wolfe and by Centers et alii. Age correlated positively with greater husband power. Marital satisfaction and authontarianism did not show any association, and the remaining demographic variables, besides age, showed on1y ocasional associations with husband decision power. Preference for an autonomic structure of conjugal power was also noted. These results are discussed in the light of the social changes followed the sexual revolution, the modification of traditional sex roles, and the possible male identity crisis.

Referências bibliográficas Badinter, E. Um é o outro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. BloOO, R. O. & Wolfe, D. M. Husbands and wives: dynomics ofmarried living. Glencoe, 111., The FreePress, 1960. Cartwright, D. Power: a neglected variable in social psychology. In: ed. Studies in social power. Ann Arbor, The University of Michigan Press, 1959. Centers, R.; Raven, B. H. & Rodrigues, A. Conjugal power structure: a re-examination. American Sociological Review, 36, 264-78, 1971. Cromwell, R. E.& Olson,D. H.Powerinfami/ies. NewYork,John Wiley& Sons, 1975. Gray-Little, B. & Burks, N. Power and satisfaction in marriage: a review and critique. PsychologicalBuQetin, 138 (3): 513-38, 1984. Hacker, A. Mulheres no trabalho. Düflogo, 20 (4): 2-7,1987.

Poder conjugal'

23

Heer, D. M. Tbe measurement and bases offamily power: an overview. Marriages and FamiIy Living, 25 (5): 133-9, 1963. Jablonski, B. A crise de casamento contempordneo: um estu(Ú} psicossociaL Rio de Janeiro, FGV, 1988. Tese de doutorado. Levinger, G. Task and social behavior in marriage. Sociometry, 27 (12): 433-48, 1964. Madden, M. E. Perceived control and power in marriage: a study oi marital decision making and task performance. Personality and Social Psyclwlogy BuJJelin. 13 (1): 73-82, 1987. Raven, B. H. Social influences and power. In: Steiner, Ivan & Fishbein, Martin. eds. Current studies in social JJS!Clwlogy. New York; Holt, Rinehart and Winston. 1965. Rodrigues, A. Sobre a transcuJturaJidade e tran.sistoricidade de teorias e fenômenos psicossociais, UFRJ, 1988. Tese apresentada para concurso de professor titular. Rodrigues, A. & Bystronski, B. Bases of conjugal power in Brazilian families. Revista de P~logill SociaL (no prelo). Russel, B.Power:anewsocialanalysis. NewYork, W. W.,Norton, 1938. Sanford, F. H. & Older, H. J. A short authoritarian scale. Progress Report No. 6, Series A. Philadelphia, Institute for Research in Human Relations, 1950. Sharp, H. & Mott, P. Consumer decisions in the metropolitan family. Journal of Marketing, lO, 149-54, 1956. Sherif, M.& Sherii, C.Reference groups. New York, Harper& Row,1964. Sherwin, R. & Corbertt, S. Campus sexual norms and dating relationships: a trend analysis. Journal ofSex Research, 21 (3): 258-74, 1985. Shukla. A. Decision making in families in India. Journal ofMarriage and the FámiIy, 49 (3),621-30, 1987. Siegel, S. Non-parametric statisticsfor the behavioral sciences. New York, McGraw-Hill, 1956. Triandis, H. C. Some universais oi social behavior. Personality and Social Psychology BuJJetin, 4 (1), 1-16, 1978. Wolfe, D. M. Power and authority in the fami1y. In: Cartwrlght, ed. Studies in Social Power. Ann Arbor, The University ofMichigan Press, 1959.

24

A.B.P.4/89

Related Documents


More Documents from ""