Universidade Federal Fluminense Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo Disciplina: Teoria e História da Formação das Cidades
PETER HALL
CIDADES DO AMANHÃ
______________________________________________________
Capítulo 5
A CIDADE NA REGIÃO Nasce o Planejamento Regional Edimburgo, Nova York, Londres 1900 – 1940
Produzido por: Cristiana Friedmann, Marcello Saldanha e Marcelo Brasil Niterói, 02 de abril de 2007
1
Universidade Federal Fluminense Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo Disciplina: Teoria e História da Formação das Cidades
O Planejamento Regional Nasce com Patrick Geddes (1854-1932), biólogo e filosofo escocês. Considerado o pai do Planejamento Urbano, cria o conceito de Megalópole.
Geddes absorveu o credo do comunismo anarquista. Seus conceitos básicos foram extraídos da influencia dos geógrafos franceses Elisee Reclus (1830-1905) e Paul Vidal de la Blanche (18451918) e do sociólogo francês Frederic Le Play (1806-1882). Deles extraiu seu conceito de região natural. A sentença: “O Levantamento Precede o Plano” e de Geddes. O planejamento deve começar com o levantamento dos recursos de uma determinada região natural. 2
Universidade Federal Fluminense Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo Disciplina: Teoria e História da Formação das Cidades
Patrick Geddes O infatigável dobrador de papel e desenhador de diagramas realiza aqui um incompreensível experimento consigo mesmo.
Duplo direito Normal Reverso
Duplo esquerdo 3
Universidade Federal Fluminense Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo Disciplina: Teoria e História da Formação das Cidades
Na famosa Torre do Mirante, em Edimburgo, capital da Escócia, criou Geddes um modelo que pretendia ver repetido por toda parte: um centro local de levantamento. Geddes disse: Até mesmo nas maiores cidades é útil que o pesquisador restabeleça constantemente o enfoque elementar e semelhante ao do naturalista. Para Geddes, a região era mais que um objeto de levantamento, a ela cabia fornecer a base para a reconstrução total da vida social e política.
4
Universidade Federal Fluminense Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo Disciplina: Teoria e História da Formação das Cidades
A torre do Mirante Desta cumeeira encastelada, guarnecida de câmara escura, Geddes contemplava os telhados de Edimburgo e ensinava que o levantamento vem antes do plano.
Torre do mirante, Edimburgo - Escócia 5
Universidade Federal Fluminense Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo Disciplina: Teoria e História da Formação das Cidades
Para Geddes, Paleotécnicos significavam os elementos mais primevos e rudes da Era Industrial. A sociedade tinha de ser reconstruída. A Ordem Neoténica significava a criação, de cidade em cidade, de região em região, de uma Eutopia (utopia positiva). Geddes ensinava: Organizem os lares em vizinhanças cooperativas e solidárias. Unam esses lares agrupados em bairros reformados e socializados. Cada região e município podem aprender a gerir seus próprios negócios. Para ele as novas tecnologias neotécnicas – energia elétrica, motor de combustão interna – estavam fazendo com que grandes cidades se dispersassem e, conseqüentemente, se unissem. “Então há que dar-se um nome a essas regiões-município, a esses agregados-cidade, que tal conurbações”. Geddes previu um grande município na costa leste americana, cobrindo quinhentas milhas, antecipando o conceito de Megalópole. Geddes prevenia: Precisamos fazer o campo chegar perto da rua. Agora as cidades devem crescer botanicamente. 6
Universidade Federal Fluminense Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo Disciplina: Teoria e História da Formação das Cidades
A seção do Vale A essência do esquema regional de Geddes, de um documento de 1905: Povo-Trabalho-Lugar em perfeita harmonia e, no centro de tudo, a cidade.
O Processo de Conurbaçäo, Certo e Errado
Diagrama extraído do livro de Geddes, Cities in Evolution (1915), mostra o alastramento urbano e seu remédio. alastramento urbano e seu remédio 7
Universidade Federal Fluminense Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo Disciplina: Teoria e História da Formação das Cidades
Graças ao encontro que teve em junho de 1923 com Lewis Mumford (1895-1990), jornalista e sociólogo, Geddes encontrou o autor para seu evangelho. No início da década de vinte também ocorreu o nascimento da RPAA – Regional Planning Association of America. Por uma ligação casual de Mumford com Clarence Stein, arquiteto, Benton Mackaye e Charles Harris Whitaker, fundaram a RPAA no outono de 1922. Juntaram-se ao grupo: Stuart Chase, economista, Frederick Lee Sckerman e Henry Wright, arquitetos, Alexander Bing, empresário e Catherine Bauer, diretora executiva.
8
Universidade Federal Fluminense Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo Disciplina: Teoria e História da Formação das Cidades
Lewis Mumford Seu único encontro com Geddes foi um desastre, mas finalmente o professor achara seu escriba; a Regional Planning Association of América levaria a mensagem do mestre para o mundo.
9
Universidade Federal Fluminense Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo Disciplina: Teoria e História da Formação das Cidades
Em junho de 1923, durante a visita de Geddes a Nova York o grupo adotou um programa de cinco ítens: a) criação de cidades-jardim dentro de um esquema regional, b) desenvolvimento de relações com os planejadores britânicos, sobretudo com Geddes, c) desenvolvimento de projetos e esquemas regionais para promover a Trilha Apalachiana, d) colaboração com o comitê do AIA – American Institute of Architects – sobre Planejamento Comunitário para propagar o regionalismo, e) levantamento de áreas-chave, com especial atenção para a bacia do Vale do Tennessee. Em 1925 a RPAA teve a sua primeira grande oportunidade: publicar um número especial da revista The Survey para a reunião da Internacional Town Planning and Garden Cities Association, que foi realizado e publicado por Mumford.
10
Universidade Federal Fluminense Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo Disciplina: Teoria e História da Formação das Cidades
O Manifesto da RPAA Editado por Lewis Mumford, esse trabalho coletivo foi a afirmação definitiva da filosofia do grupo de Nova York, tornando-se um dos mais importantes documentos da historia do planejamento.
11
Universidade Federal Fluminense Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo Disciplina: Teoria e História da Formação das Cidades
Algumas frases do manifesto publicado: - Este é o número da Survey Graphic dedicado ao Plano Regional. - Falava sobre duas Américas: a da fixação e a das migrações. - O automóvel e a rodovia haviam tornado acessíveis mercados e fontes de abastecimento. - Cidades-dinossauros se esfacelando sob o peso da superpopulação, da ineficiência e do custo da escalada social e do completo colapso físico. - Quando os custos locais não podem ser administrados, e quando centros menores se mostram... aptos a fazerem valer suas vantagens industriais, ...só resta migrar ou falir. - O planejamento regional de comunidades eliminaria a comercialização nacional antieconômica, eliminaria a superpopulação urbana e os desperdícios terminais. - O planejamento regional fornece o arcabouço, a cidade-jardim prove o objetivo cívico, sede permanente de vida e cultura, urbana em suas vantagens, permanentemente rural em sua localização. - O planejamento regional e a conservação dos valores humanos de mãos dadas com os recursos naturais. 12
Universidade Federal Fluminense Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo Disciplina: Teoria e História da Formação das Cidades
RPAA VERSUS PLANO REGIONAL DE NOVA YORK No maior conflito com relação a programas a RPAA se depara com Thomas Adams, um dos fundadores do planejamento urbano britânico. Nomeado Diretor de Planos e Levantamentos para a região de Nova York em julho de 1923, Adams é considerado um planejador para homens de negócios. Principais idéias de Adams e de seu grupo: Enfatizava a importância direcionamento e o controle do crescimento urbano em curso dentro dos distritos rurais e semi-rurais onde a nova industria ia se estabelecendo; “Nenhum esquema de planejamento urbano poderá ser satisfatório se não considerar o desenvolvimento regional que circunda o município”; “O Plano Regional devia ser, não uma prescrição revolucionária, mas um conjunto de controles brandos sobre os abusos do mercado, em favor da eficiência; 13
Universidade Federal Fluminense Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo Disciplina: Teoria e História da Formação das Cidades
Principais áreas de conflito entre Thomas Adams (com o Plano Regional de Nova York) e os idealistas da RPAA Na prática a forma da região era fixa em definitivo, admitindo apenas modificações incrementais e marginais. Aceitavam um plano rodoviário preexistente, onde se acrescentavam alguns “desvios ou anéis viários”; Acreditavam no alto investimento em novas conexões ferroviárias com os subúrbios de Manhatam como solução para a dispersão da população; Preconizavam o princípio Corbusiano da construção de arranha-céus a intervalos espaçados dentro de um parque; A solução para os problemas provocados pela concentração do desenvolvimento industrial e comercial em determinada região não era descentralizar, mas sim reorientar a centralização; Pregavam a “recentralização” do comércio e da indústria em sub-centros dentro da região, a fim de aliviar a sobrecarga populacional; Rejeitavam a cidade jardim como solução geral; Rejeitavam toda e qualquer unidade governamental mais abrangente que se dispusesse a elaborar um plano para a região inteira. 14
Universidade Federal Fluminense Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo Disciplina: Teoria e História da Formação das Cidades
Críticas de Lewis Mumford Mumford condena o Plano regional de Nova York em quase todos os pormenores: “Seu arcabouço espacial era excessivamente estreito; aceitava o crescimento como fato inevitável, sem levar em conta que o planejamento poderia influenciá-lo; desconsiderava alternativas; continuava a permitir o adensamento nas áreas centrais; condenava o último trecho remanescente de área livre, perto de Manhatam a ser totalmente coberto por construções; descartava como utópicas as cidades jardim; rejeitava a casa popular; favorecia um aumento ainda maior de subsídios para as linhas centro-subúrbio dentro de Manhatam, ajudando a aumentar a superpopulação por ele condenada”. 15
Universidade Federal Fluminense Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo Disciplina: Teoria e História da Formação das Cidades
O Planejamento New Deal Série de programas implementados nos Estados Unidos entre 1933 e 1937, sob o governo do Presidente Franklin Delano Roosevelt, com o objetivo de recuperar a economia norte-americana, e assistir aos prejudicados pela Grande Depressão.
Principais medidas do New Deal: Controle, pelo governo, da produção e dos preços de grande parte dos produtos industriais e agrícolas; Concessão de empréstimos a empresários rurais e urbanos que haviam falido; Construção de grandes obras públicas como usinas hidrelétricas, estradas e barragens, a fim de diminuir o desemprego e aumentar o consumo; Elevação dos salários, diminuição da jornada de trabalho, legalização dos sindicatos e fixação de salários mínimos; Criação do salário desemprego e da assistência aos velhos e inválidos. No que concerne ao planejamento urbano Roosevelt estava comprometido com um programa que corria emparelhado com as linhas do RPAA. Dentre as autarquias criadas destaca-se a TVA – Tennessee Valley Authority. 16
Universidade Federal Fluminense Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo Disciplina: Teoria e História da Formação das Cidades
A TVA – Tennessee Valley Authority Foi o mais importante empreendimento do planejamento New Deal e a concretização das idéias mais radicais tanto da RPAA quanto dos regionalistas sulinos. Apoiava-se em linhas diversas: Melhoria da navegação em Muscle Shoals, no Alabama e ali desenvolver um programa energético; A geografia assegurava para a TVA a certeza de constituir-se num exemplo incomum de planejamento regional para bacia hidrográfica; Tinha a intenção de melhorar as condições de vida da população pobre dos Apalaches, mediante a construção de um conjunto de barragens, em torno das quais uma série de programas desenvolveria os recursos naturais da região. Barragem no Alabama 17
Universidade Federal Fluminense Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo Disciplina: Teoria e História da Formação das Cidades
A Cidade de Norris Norris, cidade construída próxima à grande barragem do Tennessee, foi planejada por um membro da RPAA (Tracy Augur). Barragens e represas causavam boa impressão ao turista no Vale do Tennessee em fins da década de 30, mas do planejamento regional divulgado pela RPAA não ficara mais do que a urbanização comunitária, serviços de saúde e educação, recebendo uma fatia minúscula do orçamento total. Norris, projetada por um membro da RPAA (Tracy Argur) caracaterizou-se como um primeiro passo em urbanização comunitária regional. Mas os verdadeiros ideais da RPAA jamais se concretizaram. O fato é que a América não estava, ainda, politicamente preparada para essa visão. 18
Universidade Federal Fluminense Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo Disciplina: Teoria e História da Formação das Cidades
A visão faz-se realidade: Londres O verdadeiro impacto de Mumford, Stein, Chase e Msckaye não se fariam sentir em seu próprio país, nada simpático às idéias deles, mas nas capitais da Europa (...) um pequeno grupo e planejadores já estava aplicando idéias norte americanas a uma grande variedade de contextos britânicos.
19
Universidade Federal Fluminense Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo Disciplina: Teoria e História da Formação das Cidades
Um dos mais bem-sucedidos, ironicamente, foi a bête noire (animal escuro) da RPAA (Regional Planning Association of America). Durante os anos em que dirigiu o Plano Regional de Nova York, Thomas Adams continuara como sócio na atividade de planejamento exercida pela Adams, Thompson e Fry, que, entre 1924 e 1932, produziu oito dos doze exercícios desenvolvidos no campo emergente dos planos consultivos regionais para a periferia de Londres.
Os quatro planos restantes nascem da sociedade entre Davidge, Abercrombie e Archibald.
20
Universidade Federal Fluminense Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo Disciplina: Teoria e História da Formação das Cidades
O Comitê de Planejamento Regional para a Grande Londres Em 1927, Neville Chamberlain usou de sua posição como ministro da Saúde para incentivar o planejamento regional mediante a criação de um Comitê de Planejamento Regional para a Grande Londres
21
Universidade Federal Fluminense Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo Disciplina: Teoria e História da Formação das Cidades
O Conceito da Nova Cidade, de Howard a Abercrombie O Conceito de uma multidão de cidades-satélite ao redor de uma metrópole, de Howard (1898), passando po Purdom (1921) e Uwin (1929-1933), até o definitivo Plano da Grande Londres, e Abercrombie (1944)
Ao passar do Plano do Condado para o Plano da Grande Londres, Abercrombie retém a mesma estrutura orgânica.
22
Universidade Federal Fluminense Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo Disciplina: Teoria e História da Formação das Cidades
A região de Londres é um dos poucos lugares do mundo onde se pode encontrar, concretizada, a visão do mundo segundo Howard-Geddes-Mumford.
23
Universidade Federal Fluminense Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo Disciplina: Teoria e História da Formação das Cidades
FIM
Produzido por: Cristiana Friedmann, Marcello Saldanha e Marcelo Brasil Niterói, 02 de abril de 2007
24