Tempo Uma vasta ilusão
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Tempo UMA VASTA ILUSÃO: o TEMPO de acordo com Um Curso em Milagres
Kenneth Wapnick, Ph.D.
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INTRODUÇÃO A questão do tempo é claramente a área mais difícil de entender no Um Curso em Milagres. Isso é assim não apenas por causa do assunto, mas porque o Curso fala relativamente pouco sobre ele. Ao estudarmos os três livros, freqüentemente veremos vislumbres da teoria do tempo, ocasionalmente um parágrafo ou dois, e raramente, uma seção inteira devotada à sua metafísica. E então, o assunto é deixado de lado e o leitor aparentemente fica sem base. No entanto, existe uma passagem no manual para professores, sobre a qual devemos falar em breve, que afirma muito especificamente que para entender o plano da Expiação, é preciso entender o conceito que o Curso estabelece sobre o tempo. Em outros trechos, entretanto, Jesus diz que o tempo é uma área que realmente não podemos entender. Nesse livro, para formular uma apresentação coerente, vou juntar em três partes, diversas passagens no Um Curso em Milagres que tratam do tempo. A primeira parte será uma discussão sobre a origem e metafísica do tempo. A segunda vai tratar do tempo e do plano de Expiação, centrando-se no papel do milagre e no colapso do tempo que ele proporciona. A terceira vai discutir o fim do tempo, e inclui os conceitos do Curso sobre o mundo real, a Segunda Vinda, o Julgamento Final e finalmente o último passo de Deus. Uma nota final, esse livro não é destinado a um leitor novo no Um Curso em Milagres, pois presume certa familiaridade com seus conceitos básicos. Os leitores interessados em aprender mais sobre o Curso e sua transcrição podem consultar Introdução básica ao Um Curso em Milagres, e Perdão e Jesus: O Ponto de Encontro entre o Um Curso em Milagres e o Cristianismo. Veja Material Relacionado no final desse livro para maiores informações.
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PARTE I
A ORIGEM E A NATUREZA DO TEMPO
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INTRODUÇÃO À PARTE I
A Parte I introduz os princípios-chave que compõem a visão do Um Curso em Milagres sobre a origem e natureza do tempo. Depois de uma discussão geral no Capítulo 1, o Capítulo 2 começa com uma análise de passagens no Curso que se referem aos princípios dos quais foram retiradas. A Parte I termina com uma análise linha-a-linha de duas seções completas do texto, que tratam diretamente da metafísica do tempo. Uma rápida observação antes de começarmos: conforme prosseguirmos com nossa discussão, é importante manter em mente que os diferentes símbolos usados para explicar o tempo são apenas isso – símbolos. Não existe, de fato, nenhum tapete real do tempo, ou biblioteca de fitas de vídeo, ou caleidoscópio. Estamos simplesmente usando símbolos para ajudarem a representar conceitos de tempo e nossa experiência dele. Em última instância, nenhum desses símbolos, metáforas, imagens ou analogias que possamos usar é totalmente satisfatório, mas, colocados lado a lado, eles realmente nos ajudam a considerar o fenômeno do tempo como somos capazes de experimentá-lo. Isso é similar aos problemas encontrados pelos físicos, envolvidos no estudo da luz. Algumas vezes, a luz parece ser uma onda, e isso explica algumas de suas propriedades. Outras vezes, parece ser uma partícula, e isso explica certas propriedades também. Mas, em nossa experiência, nunca é onda e partícula simultaneamente. Então, em um sentido, devemos estar seguindo o mesmo procedimento por apresentar modelos diferentes para explicar aspectos diferentes do fenômeno do tempo.
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Capítulo 1 A METAFÍSICA DO TEMPO Em algum outro trabalho1, discuti os dois níveis nos quais o Um Curso em Milagres é escrito, mas uma breve discussão agora seria proveitosa também. O primeiro nível trata da metafísica do Curso, falando da diferença entre a perfeita realidade do Céu, e o mundo físico imperfeito e ilusório; o segundo nível contrasta, dentro do mundo ilusório, os ensinamentos de separação e ataque do ego com as visões de união e perdão do Espírito Santo. Esses dois níveis são vistos no gráfico 12, e devemos nos referir a eles através de todo esse livro. Na Parte I, nossa ênfase será quase inteiramente na metafísica (Nível Um), enquanto a Parte II vai focalizar-se em nossa experiência do mundo do tempo do ego, e seu desfazer através do milagre (Nível Dois). A Parte III integra os dois níveis, pois trata do produto final do perdão (Nível Dois), que culmina no desfazer do mundo que nunca existiu (Nível Um). Começamos agora com o estado do Céu, que o Um Curso em Milagres descreve como: ... uma consciência da perfeita unicidade, e o conhecimento de que nada além disso existe, nada fora dessa unicidade e nada mais dentro dela (T-18.VI.1:6). Portanto, Deus e Cristo são um, ainda que Deus seja a Primeira Causa e nós, como Seu Filho, sejamos Seu Efeito. Essa descrição aparentemente dualista não deveria ser considerada literalmente, mas em vez disso, como o meio que o Curso usa para descrever algo que não pode ser compreendido por um cérebro humano: É necessário compreender que a palavra “primeiro”, quando aplicada a Ele, não é um conceito de tempo. Ele é primeiro no sentido de que é o Primeiro na própria Santíssima Trindade. Ele é o Criador Primeiro, porque criou Seus co-criadores. Como Ele o fez, o tempo não se aplica nem a Ele nem ao que Ele criou (T-7.I.7:4-7). Esse estado do Céu, portanto, é eterno, pois “A Eternidade é uma idéia de Deus” (T5.III.6:3). Em uma passagem extremamente importante, o Um Curso em Milagres afirma que “na eternidade, onde tudo é um, introduziu-se uma idéia diminuta e louca, da qual o Filho de Deus não se lembrou de rir” (T-27.VIII.6:2). Essa “diminuta e louca idéia” é a crença em que o Filho pode ser separado do seu Pai, usurpar a função do seu Pai como o Primeiro Criador e, portanto, o efeito pode parecer se tornar a Primeira Causa. Além disso, o Curso ensina: “Em seu esquecimento, esse pensamento passou a ser uma idéia séria, capaz de ser realizada e de ter efeitos reais” (T-27.VIII.6:3). 1
Veja, i.e., a seção sobre teoria em meu Índice-Glossário para o Um Curso em Milagres e Perdão e Jesus: o Ponto de Encontro do Um Curso em Milagres e o Cristianismo, sexta edição, p. 19-23. Veja Material Relacionado no final desse livro para informações adicionais. 2 Veja Apêndice para esse e outros gráficos.
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Além disso, o Um Curso em Milagres afirma claramente que o tempo é inexistente, e que sua origem aparente foi quando a diminuta e louca idéia de separação foi levada a sério. O Curso delineia os efeitos dessa seriedade: Uma intemporalidade na qual o tempo torna-se real, uma parte de Deus que pode atacar a si mesma, um irmão separado como inimigo, uma mente dentro de um corpo... (T-27.VIII.7:1). E, no entanto, apesar dessa aparente seriedade, Jesus nos diz: Juntos, nós podemos rir dessas duas coisas, fazendo-as desaparecer e podemos compreender que o tempo não pode invadir a eternidade. É uma piada pensar que o tempo pode vir a lograr a eternidade, que significa que o tempo não existe (T27.VIII.6:4-5). O Curso usa a metáfora de adormecer para descrever a separação, e seu resultante sistema de pensamento como um sonho: “Tu não habitas aqui, mas na eternidade. Viajas apenas em sonhos, enquanto estás seguro em casa” (T-13.VII.17:6-7). No entanto, quando o Filho de Deus pareceu adormecer e ter um sonho de separação, todo o mundo do tempo pareceu se desenrolar como um longo tapete (veja gráfico 2). Isso pareceu acontecer em um instante, um diminuto tique-taque do tempo. E dentro desse tique-taque estava contido todo o mundo do tempo e do espaço como nós o conhecemos, todo o escopo da evolução, dentro da qual esse mundo de ilusão se estende por bilhões de anos. Uma das dificuldades em entender esse conceito – ao qual devemos retornar de novo e de novo nesse livro – é que nossa experiência do tempo, assim como sua compreensão intelectual é linear. Portanto, bilhões de anos parecem um período de tempo interminável. Na realidade da ilusão, no entanto, todo esse escopo de bilhões de anos aconteceu em um instante. Em um ponto, Jesus comenta: “O que são cem ou mil anos para Eles [Deus e Cristo], ou dez milhões de anos?” (T-26.IX.4:1). Portanto, uma das desvantagens de usar a analogia do tapete é que ela descreve o tempo como linear. A vantagem, por outro lado, é que ela corresponde à nossa experiência do tempo. Um Curso em Milagres explica que simultaneamente ao nascimento do pensamento de tempo do ego, Deus “deu” a Correção, o Espírito Santo, Que desfez todos os equívocos que foram feitos naquele único instante. Isso está ilustrado no gráfico 2. O ápice do tapete representa o roteiro do ego, que já está escrito. A primeira metade, que em um sentido caminha de acordo com o topo porque a Correção aconteceu simultaneamente, representa o desfazer de todos esses erros. Mais especificamente, se o cerne básico do mundo da separação é definido como relacionamentos especiais, então, juntamente com esses pensamentos em nossas mentes, estão os pensamentos dos relacionamentos santos, que desfazem nossos relacionamentos especiais através do perdão. Em certo sentido, portanto, a metade final do tapete é o mundo do ego, um mundo de separação, especialismo e ataque. Na primeira metade é o mesmo roteiro, como já era, mas agora curado, de tal forma que o pensamento de perdão do Espírito Santo – o princípio de Expiação de que a separação nunca aconteceu realmente – já substituiu o pensamento do ego. Nós, portanto, estamos falando basicamente de uma “dualidade dual”, comparável aos dois níveis mencionados no início do capítulo. A primeira dualidade é entre estarmos conscientes na eternidade, e adormecidos em um mundo de tempo. O segundo é entre os dois roteiros – o do ego e o do Espírito Santo. Dentro dessa segunda dualidade, a mente dividida ou separada é dividida em três partes: a parte que o Curso descreve como a mente errada, que contém o pensamento de separação levado a sério; a mente certa, a parte que contém a memória de Deus – o Espírito Santo – que se lembra de rir diante do pensamento de separação; e a parte que escolhe entre essas duas, à qual devemos nos referir como o tomador de decisões ou observador. O roteiro do ego foi escrito e escolhido por nós como tomadores de decisões – somos nós, por assim dizer, os escritores, diretores, produtores, atores e atrizes. É tão difícil entender 7
que ambos os roteiros já aconteceram porque essa compreensão é dramaticamente oposta à nossa própria experiência individual. No entanto, esse é um elemento essencial da metafísica do Um Curso em Milagres sobre o tempo, sem a qual não se pode entender verdadeiramente os ensinamentos do Curso sobre o perdão. Em resumo, então, podemos dizer que no instante em que todo o mundo físico pareceu acontecer, no mesmo instante, a Correção para ele aconteceu também. O Curso explica, no contexto de uma seção sobre a doença: No entanto, a separação não passa de um espaço vazio, que nada engloba, que nada faz, tão sem substância quanto o vazio entre as ondas que um navio faz ao passar. E é preenchido com a mesma rapidez com que a água corre para fechar a brecha e as ondas se juntam para cobri-la. Onde está a brecha entre as ondas depois que elas se unem e cobrem o espaço que parecia mantê-las separadas por um breve momento? (T-28.III.5:2-4). Portanto, uma metáfora útil é o tomador de decisões (observador) como a parte de nossas mentes (veja o gráfico 3) que escolhe rever o filme do ego (mente errada), ou a correção do Espírito Santo (mente certa). Lembre-se de que o filme inteiro, incluindo a correção, já foi filmado, e engloba o mundo da evolução, estendendo-se por bilhões de anos. Dentro desse épico gigante está um número quase infinito de segmentos ou fitas de vídeo, cada uma correspondendo à expressão de um pensamento: “Todo pensamento produz forma em algum nível” (T-2.VI.9:14). Nós temos disponível para nós em nossas mentes um “interruptor” através do qual podemos instantaneamente trocar essas fitas menores, tanto dentro do roteiro do ego quanto do Espírito Santo, ou passar de um para outro, “sintonizandonos” tanto com o pensamento do ego quanto com o do Espírito Santo. Ambos aconteceram e já estão presentes em nossas mentes, no que chamamos de mundo do tempo. Outra forma de conceituar esse fenômeno é que quando nós nos sentamos diante da nossa tela de cinema ou de vídeo, a parte tomadora de decisões de nossas mentes está assistindo o roteiro em uma velocidade muito baixa, experimentando todos os efeitos do seu pensamento, que aconteceram em um único instante e, de fato, já desapareceram. Assim, somos como observadores sentados diante da tela, assistindo ao que já aconteceu, como se estivéssemos assistindo pela primeira vez. Nossa experiência, entretanto, é a de que nós realmente somos parte do que estamos observando. Então, na primeira parte à direita do gráfico 3, que representa a tela de televisão, o que estamos vendo também inclui todos os aspectos do roteiro que envolvem a nós. A realidade é que nós estamos realmente observando isso, escolhendo qual parte do roteiro queremos observar através da parte tomadora de decisões das nossas mentes. Esse é o significado da declaração do Um Curso em Milagres (discutida acima) de que estamos assistindo a algo de um ponto no qual já foi concluído. Agora, o truque em tudo isso, e o motivo pelo qual o Curso se refere ao tempo como um truque mágico ou “um passe de mágica” (LE-pI.158.4:1), é que parece que realmente estamos vivendo nesse momento. Na verdade, no entanto, estamos meramente re-experimentando algo que já aconteceu. Assim, não existe conexão real entre o “nós” que está sentado, observando, e o “nós” que estamos observando, exceto que nós fizemos uma conexão. E, portanto, o que fizemos se torna real para nós, como se a conexão fosse real. Quando desligamos o interruptor, o que estamos observando se vai. Nosso medo disso, é claro, é enorme, pois acreditamos que se as imagens na tela desaparecerem, nós também desapareceremos. Assim, retardamos essa escolha por muito, muito tempo, e é por isso que o mundo, incluindo a maioria das espiritualidades, tenta manter reais certos aspectos do gigantesco filme épico. Um exemplo desse fenômeno de se tornar o que observamos acontece enquanto assistimos a um filme no cinema. Embora intelectualmente entendamos que não existe realmente nada na tela exceto a projeção de um filme, passando através de um projetor atrás de nós, nossa experiência apesar disso é que estamos mesmo observando algo na tela que é real, pois sentimos as mesmas emoções que sentiríamos se estivesse acontecendo conosco. 8
Nós sentimos terror, medo, culpa, felicidade, alegria ou tristeza, e podemos começar a chorar ou rir como se algo estivesse realmente acontecendo. Portanto, para todos os propósitos e intenções, do ponto de vista psicológico, algo está acontecendo na tela. Nada disso teria um impacto sobre nós de forma alguma, se o que estivesse na tela não nos lembrasse do que acreditamos estar dentro de nós. De forma ainda mais específica, isso nos afeta porque os pensamentos subjacentes às emoções estão dentro de nós: o externo não é mais do que o reflexo do interno – nem mais, nem menos. E então, embora entendamos em um nível que o que estamos observando diante de nós é ilusório, ainda reagimos a isso como se fosse real, e estivesse, com efeito, acontecendo conosco ou com pessoas com as quais nos identificamos. Portanto, nos parece que estamos realmente atravessando nossas atividades diárias, fazendo escolhas no presente que determinam situações futuras, controladas por eventos do passado. Na realidade, para afirmar mais uma vez, estamos meramente assistindo a nós mesmos passando por essas atividades, fazendo escolhas que determinam o que virá, e sendo afetados pelo que precedeu esse momento. Isso não faz sentido quando compreendido dessa forma por uma mente que escolheu raciocinar, mas nunca devemos nos esquecer de que o ego é literalmente construído sobre a falta de senso. Portanto, não faz sentido para nós tentarmos entender o que não tem sentido. Outro exemplo de identificação psicológica é nossa resposta ao que lemos no jornal ou assistimos nas notícias na televisão. Se respondermos em termos de felicidade, alegria, raiva ou medo, só pode ser porque psicologicamente nos identificamos com o evento. De outra forma, a situação ou pessoa não iria nos afetar. Portanto, estamos apenas vendo a nós mesmos, ou melhor, uma projeção de nós mesmos, nessa situação em particular: estamos assistindo, não sendo. Um paralelo a isso é o que geralmente é citado como uma experiência fora do corpo. Aqui, o indivíduo parece estar literalmente fora da experiência física, observando o desempenho do corpo. Essa analogia útil, no entanto, não deveria ser levada longe demais, pois mesmo a experiência de estar fora do corpo é parte da biblioteca de fitas de vídeo, pois ainda experenciamos a nós mesmos como seres separados. Além disso, a mente não habita no corpo de forma alguma. Portanto, estamos observando eventos que parecem ser reais e estarem acontecendo nesse exato momento. Na realidade, estamos apenas observando o que já aconteceu – estamos passando de novo a mesma fita, no entanto, esquecendo-nos de que estamos fazendo isso. Quando nos lembramos de que escolhemos o que estamos experimentando, as correntes que aparentemente nos prendem à tela, e em última instância à própria cadeira do observador, desaparecem e estamos livres. Assim, é nossa negação do que escolhemos que nos faz acreditar que estamos no sonho, e dessa forma, ele se torna tão real para nós quanto nossos sonhos adormecidos durante o sono. Nós vivemos em uma era tecnológica de respostas instantâneas e VCRs, onde podemos passar para frente, voltar, pausar e tirar uma foto, e sabe-se lá que engenhosidade o ego vai projetar no futuro? O que é tão interessante sobre esses saltos tecnológicos é que nossa mente intangível, através do seu instrumento físico, o cérebro, está projetando um espelho dos mesmos mecanismos da mente que não apenas fizeram o cérebro, mas todo o universo físico também. Estamos meramente encenando os pensamentos da mente, tendo produzido o mundo das formas pela projeção, um mundo que nunca deixou sua fonte na mente. Realmente não deveria ser surpresa que esse mundo todo, e todas as nossas experiências aqui, sejam uma grande ilusão. O pensamento original de separação de Deus do ego era uma mentira; como, então, o que é projetado desse pensamento pode ser qualquer coisa além de uma mentira? Assim, nunca deveríamos subestimar o poder do nosso ego-corpo de mentir e iludir. Também está claro, para antecipar nossa discussão posterior no livro, que nunca poderemos despertar para a realidade desses sonhos de “realidade” sem ajuda de fora do sonho do ego. Essa ajuda é o Espírito Santo, ou Sua manifestação, Jesus. Foi o fato de acreditarmos que poderíamos viver por conta própria, sem Deus, que nos levou para o sonho para início de conversa, e então, é escolhendo a Ajuda de Deus que vamos despertar dele. 9
É esse tipo de explicação ampla que torna sensatas algumas passagens, de outra forma inexplicáveis, no Um Curso em Milagres. Por exemplo, uma linha, que vou discutir depois, afirma: “A revelação de que o Pai e o Filho são um virá com o tempo a cada mente” (LEpI.158.2). Além disso, o momento em que esse reconhecimento virá a nós já está estabelecido: o roteiro da nossa aceitação já está escrito. As implicações significativas dessa idéia serão discutidas no Capítulo 2. Voltando à nossa analogia do VCR, vamos presumir que todos nós temos controles remotos e podemos apertar qualquer número entre diferentes botões. O tomador de decisões (ou observador) em nossas mentes, então escolhe apertar o botão que ativa a fita contendo nosso despertar do sonho, que é a aceitação da Expiação. Nesse ponto, estamos escolhendo mudar para o roteiro do Espírito Santo, perdoando a todos no mundo e invocando a lembrança de que somos um com Deus. Mais uma vez, essa parte do roteiro já foi filmada e, portanto, já “aconteceu”, mas ainda estamos livres para escolhermos quando vamos revê-la. Essa escolha é a única noção de liberdade que o Curso aceita como significativa (T-in.1; LE-pI.158.2:8-9; LEpI.169.8:1-2). E, é claro, não podemos escolher não escolher outra vez; mas podemos retardar essa escolha. Como o Curso explica: Tu podes contemporizar e és capaz de enorme procrastinação, mas não podes desviar-te inteiramente do teu Criador, Que fixa os limites da tua capacidade de criar de forma equivocada (T-2.III.3:3). Esse limite, a presença do Espírito Santo em nossas mentes assegura que em algum ponto dentro do holograma do tempo, devemos escolher despertar do sonho. Um Curso em Milagres, no entanto, ensina que não despertamos abruptamente do sonho. Antes de podermos despertar totalmente, primeiro temos que mudar dos pesadelos do ego para os sonhos felizes do Espírito Santo. Essa progressão – dos pesadelos para os sonhos felizes – desfaz a crença em que Deus vai nos punir. Só então podemos aceitar a Expiação para nós mesmos. Esse passo intermediário, cujo alcance é a meta do Curso, é expressivamente descrito nessa passagem: Nada mais amedrontar do que um sonho vão aterrorizou o Filho de Deus e o fez pensar que ele perdeu a sua inocência, negou o seu Pai e fez uma guerra contra si mesmo. Tão amedrontador é o sonho, tão aparentemente real, que ele não poderia despertar para a realidade sem o suor do terror e um grito de medo mortal, a não ser que um sonho mais gentil precedesse o seu despertar e permitisse que a sua mente mais calma desse boas-vindas à Voz Que chama com amor para que ele desperte ao invés de temê-la; um sonho mais gentil, no qual o seu sofrimento foi curado e seu irmão veio a ser seu amigo. A Vontade de Deus é que ele desperte gentilmente e com alegria e deu-lhe o meio para despertar sem medo (T-27.VII.13:3-5). Existe um paralelo interessante encontrado nos ensinamentos de Basilides, um dos grandes professores gnósticos do século dois. Ele tinha uma teoria fascinante, que na primeira vez em que é lida soa totalmente absurda. Basilides afirmava que Jesus não morreu na cruz. Em vez disso, ele mudou sua forma e, em vez dele, Simão de Cyrene foi crucificado, enquanto Jesus estava em uma árvore, rindo. Basilides, que permaneceu em oposição aos ensinamentos da igreja e seus líderes, via Jesus rindo zombeteiramente de todas as pessoas (primariamente os judeus) que não podiam entender o que realmente estava acontecendo. O conteúdo da inspiração de Basilides era correto: isto é, que Jesus “se lembrou” de rir da diminuta e louca idéia do ego e não a levou a sério. Portanto, sabia que ele não estava sendo crucificado, pois ele não era seu corpo. Meramente um observador, Jesus observou a si mesmo, sabendo que o que estava vendo não era real, mas apenas um sonho. Nós, portanto, podemos concluir que a mente de Basilides não pôde englobar a magnitude do pensamento do 10
riso não-zombeteiro de Jesus. A inspiração, assim, foi filtrada através da sua limitada mente egóica, manifestando-se na forma de ataque. Relacionado ao conceito de não levar o sonho do mundo a sério está o que os psicólogos chamam de “sonho lúcido”, referindo-se ao fenômeno de pessoas, que, em meio aos seus sonhos noturnos, estão cientes de que estão sonhando. No sonho em si, elas estão cientes de que são o sonhador e o sonho. Assim, elas podem estar no meio de um pesadelo aterrorizante, e subitamente se lembram de que é um sonho. O sonho continua, mas o terror desaparece. A contraparte do Um Curso em Milagres ao sonhador lúcido é o sonhador feliz, que, enquanto está vivendo nesse mundo ilusório, subitamente entende que ele ou ela não está realmente aqui. Para continuar com a analogia do sonhador lúcido, mas agora no contexto de se sentar diante de uma tela, seria como se nós, como observadores, estivéssemos assistindo a uma fita de vídeo, e subitamente percebêssemos que estávamos assistindo a algo que já aconteceu. Nós estamos observando a nós mesmos como uma figura no sonho, no entanto, ainda dentro do sonho, mas agora estamos cientes de que tudo não é nada além de um sonho. Essa mudança em consciência está representada no gráfico 3 pelas duas linhas que emanam do observador, representando o ego e o Espírito Santo. É como se houvesse duas vozes falando conosco enquanto assistimos às nossas telas. O ego está dizendo: “Fique sintonizado com a minha estação e acredite que o drama do corpo que você está assistindo está realmente acontecendo com você”. A Voz do Espírito Santo nos lembra de que o que estamos observando não é nada além de um sonho. Antes de podermos realmente ouvir a total clareza da Sua mensagem, no entanto, primeiro temos que considerar a idéia de que existe outra forma de olhar para o sonho. Essa outra forma, mais uma vez, é o sonho feliz de perdão. A analogia do vídeo (ou filme) é uma forma um pouco simplificada de apresentar o conceito, e tem a desvantagem de ser linear. Um computador, com toda a sua complexidade, é de fato uma analogia melhor para se usar, exceto que é uma forma mais complicada de olhar para esse ponto. Imagine a nós mesmos sentados diante da tela de um computador, com uma miríade de números de programas entre os quais podemos escolher, e muitos botões diferentes que podemos apertar. Essa analogia melhor reflete a complexidade de nossas vidas individuais e nossas interações com o mundo. O computador também serve como uma analogia útil para a relação entre a mente (observador) e o cérebro (corpo), na medida em que a mente programou o cérebro, assim como o programador de computador diz ao computador o que fazer. Sem um programa e fonte de energia, o computador não pode funcionar. Da mesma forma, o cérebro (e, portanto, o corpo) é totalmente “sem vida” quando está sem “instruções” da mente. Outra analogia útil é um caleidoscópio, um pequeno tubo no qual espelhos refletem luz transmitida através dos pedaços de vidro coloridos soltos contidos em uma das pontas, fazendo com que pareçam desenhos simétricos – e com freqüência muito bonitos – quando visto da outra ponta. Na realidade, o estado da mente dividida é mais bem compreendido como um caleidoscópio dentro de um caleidoscópio, uma divisão dentro de outra, a primeira sendo a projeção para fora da mente dividida primordial, que é a peça de vidro original. A projeção é o pensamento original de separação de fragmentação de Deus. Portanto, o mundo que é projetado para fora é idêntico ao pensamento de separação que foi projetado, e assim, o vidro continua a se fragmentar. Cada pensamento projetado, da maneira que foi, se torna seu próprio caleidoscópio. O processo real é enlouquecedor, e desafia qualquer tentativa de apreensão lógica ou racional, pois a complexidade é esmagadora a partir do nosso pensamento humano tão limitado. O truque do tempo é o de que esse instante aparente de fragmentação parece ter acontecido durante uma extensão imensa de tempo; a linearidade do tempo não é nada mais do que um véu que oculta a coexistência simultânea de cada parte do vidro despedaçado. Transferindo para o caleidoscópio a idéia previamente discutida de observador e observado, podemos entender que o observador – o tomador de decisões – está fora do que ele observa. Dentro do caleidoscópio, não existe diferença entre o observador e o observado. Eles são um: a parte está no todo; o todo está em cada parte. Isso é similar a um 11
psicoterapeuta analisando um sonho, interpretando todos os seus símbolos como sendo parte do sonhador; i.e., o sonho e o sonhador são um. Nós, que sonhamos os sonhos de nossas vidas, na verdade estamos fora deles, no entanto, ainda acreditarmos estar neles. Além disso, acreditamos que somos controlados por eles. Ainda outra forma de conceitualizar o modelo da “mente dentro de uma mente” é pensar em cada fragmento como um chip de computador, carregado de informação (ou pensamentos), e cada pensamento em si mesmo é um chip, e assim por diante. O processo “começa”, na extensão em que podemos falar de um limite temporal para o que está além de todo o tempo, com um único chip com o pensamento único de separação do Filho. De lá, o chip se fragmenta continuamente – chip dentro de chip, caleidoscópio dentro de caleidoscópio. Como o Um Curso em Milagres descreve o processo: Tu que acreditas que Deus é medo, fizeste apenas uma substituição. Ela tomou muitas formas, porque foi a substituição da verdade pela ilusão, da totalidade pela fragmentação. Ela veio a ser tão partida, subdividida e de novo dividida, vezes e mais vezes, que agora é quase impossível perceber que alguma vez foi uma só e que ainda é o que era... Não reconheces a magnitude desse único erro. Ele foi tão vasto e tão completamente inacreditável que um mundo de total irrealidade tinha que emergir. Que outra coisa poderia resultar disso? Seus aspectos fragmentados são bastante amedrontadores quando começas a olhar para eles. Mas nada do que tens visto nem de leve te mostra a enormidade do erro original, que aparentemente te expulsou do Céu para estilhaçar o conhecimento em pequenas partes sem significado de percepções desunidas e para forçar-te a fazer mais substituições (T18.I.4:1-3; 5:2-6). Essa imagem de caleidoscópio também incorpora uma das idéias-chave de um holograma: o todo está contido em cada parte. O processo holográfico consiste de dividir um raio laser de luz (um raio com uma única extensão de onda em oposição aos múltiplos raios da luz comum) em dois. Um raio (chamado de raio referência) ilumina o objeto a ser fotografado, enquanto o outro (chamado de raio de trabalho) interfere com a luz que é refletida do objeto. Ambos os raios são então direcionados a uma película fotográfica, onde sua interação é registrada e forma o holograma. Quando finalmente um raio laser brilha através dessa imagem holográfica, ela é percebida por um observador como sendo tridimensional. Ainda mais direto ao ponto aqui, qualquer parte do objeto percebida na fotografia contém em si o todo. Em outras palavras, a parte define o todo e recria para o observador, da forma que é, a natureza do objeto todo. A esse respeito, a declaração no material de Seth (uma série de livros escritos por Jane Roberts, canalizados de uma entidade chamada Seth), de que todas as encarnações estão acontecendo simultaneamente, é similar ao ensinamento do Curso de que todos os eventos aconteceram em um único instante, no entanto, parecem estar se desenrolando seqüencialmente através do tempo. Assim, todas as encarnações, que nesse mundo de tempo e espaço iriam se estender por bilhões de anos, estão encapsuladas em um holograma de tempo-espaço desse único instante. Se nós pensarmos na mente da Filiação de Deus como sendo uma lâmina de vidro unificada, imaculada – o Cristo como Deus O criou -, então, a separação é o aparente despedaçamento do vidro em bilhões e bilhões de pedaços. É isso o que acontece na imagem do caleidoscópio, onde os pequenos pedaços de vidro representam as partes despedaçadas da Filiação. Assim, a parte observadora de nossas mentes se senta diante do caleidoscópio, sendo que nossa imagem anterior era a do vídeo-cassete, e pode virar o tubo e ver qualquer coisa que escolher ver, e experimentar qualquer tempo em particular. Dadas essas premissas, podemos começar a entender que em qualquer momento determinado, nossas mentes podem tomar uma decisão, por exemplo, estar vivendo no estado de Nova Iorque no final do século vinte, enquanto em outra parte de nossas mentes, experimentamos a nós mesmos em um tempo e espaço totalmente diferentes, outro período na 12
história, passado ou futuro. Mais uma vez, podemos pensar no chip dentro de uma imagem de chip, ou um caleidoscópio dentro de um caleidoscópio. Estamos inconscientes disso porque limitamos nossas mentes por inventarmos leis de tempo e espaço, que programam nossos cérebros e limitam a experiência de nós mesmos. As pessoas que fizeram regressões a vidas passadas, ou que podem ver o futuro, estão simplesmente removendo algumas das barreiras limitadoras que antes as impediram de experimentar muito mais do que realmente já está dentro de suas próprias mentes. Existe um propósito adaptativo muito importante nessas barreiras. Por exemplo, considere o mundo da percepção de um ponto de vista puramente fisiológico. Nossos cérebros são continuamente bombardeados por milhares e milhares de estímulos sensórios – visões, sons, cheiros, etc. Nós automaticamente – e é tão automático que nós não estamos conscientes disso – deixamos de fora tudo o que não é necessário naquele momento. Por exemplo, quando alguém dá um discurso que está sendo gravado, a atenção está em falar e interagir com a audiência. Quando a fita é tocada, no entanto, pode-se ouvir sons de que não se estava consciente durante a gravação: carros passando, pássaros cantando, chuva caindo, ou um motor de geladeira zumbindo, tudo o que não foi ouvido no momento da gravação porque o cérebro os tinha desligado seletivamente. Isso obviamente é um mecanismo adaptativo muito importante, porque não existiria maneira de podermos funcionar nesse mundo material se prestássemos atenção igual a todos os estímulos simultaneamente. Se formos além da dimensão fisiológica para a psicológica da mente, observamos esse mesmo processo de seleção em funcionamento. Não haveria maneira de podermos viver nesse mundo se, por exemplo, no mesmo momento em que eu estiver falando com você, estiver envolvido em falar com milhares de outras pessoas das encarnações anteriores ou futuras, todas as quais estão incluídas no roteiro que já está escrito. Assim, é uma parte adaptativa de vivermos nesse mundo, como o estabelecemos, que prestemos atenção apenas ao que está acontecendo atualmente em uma dimensão particular de tempo e espaço que nós escolhemos experienciar. E, no entanto, mais uma vez, o todo da experiência da mente é encontrado dentro de cada fragmento dessa experiência. Em resumo, então, as imagens do tapete, fita de vídeo, caleidoscópio e holograma nos ajudam de formas diferentes, a ilustrarmos algumas partes-chave do conceito de tempo do Um Curso em Milagres; isto é, que estamos observando o que já aconteceu, e que o que nos parece serem eventos distintos acontecendo em uma progressão linear de passado, presente e futuro, estão em vez disso, todos presentes simultaneamente em nossas mentes, porque o todo do tempo aconteceu em um único instante. Nós nos focalizamos diretamente apenas em segmentos da fragmentação total em qualquer momento determinado, e escolhemos se vamos ver a versão de separação, ataque, raiva e especialismo do ego, ou a correção do Espírito Santo para tudo isso através do perdão e dos relacionamentos santos. Assim, nossa única escolha verdadeira, sempre e sempre, não importando sua forma, é se vamos escolher o ego ou o Espírito Santo, permanecermos adormecidos na cadeira do observador ou despertarmos do sonho, deixarmos a cadeira inteiramente, e nos reunirmos à nossa Fonte. Vamos voltar a essas idéias centrais muitas vezes, pois as encontramos em diversas passagens do Curso. Vamos então desenvolvê-las em mais profundidade e tratar de algumas das dificuldades e paradoxos envolvidos nessas idéias. P: Antes de prosseguirmos, você poderia dizer algo sobre a freqüente compreensão errônea de em que esses princípios implicam? Essa idéia de que tudo já aconteceu parece encorajar uma atitude fatalista em relação aos eventos em nossas vidas, porque sugere que não temos escolha em uma situação em particular. Por exemplo, poderia ser interpretado como se significasse que se alguém atira em sua esposa, uma vez que o roteiro já foi escrito, não havia nenhuma forma possível de ele decidir de outra forma a não ser atirar nela. As pessoas são inclinadas a pensarem que isso realmente não importa, porque o roteiro já está escrito. Não seria mais correto pensar que não apenas nós temos uma escolha em relação a em qual vídeo vamos nos focalizar, mas também sobre qual aspecto no vídeo vamos nos focalizar? Assim, 13
não apenas aconteceu no tempo que esse homem atirou em sua esposa, mas também aconteceu no mesmo instante que ele não atirou, e que realmente escolheu uma dessas situações nas quais se focalizar. É isso o que você está dizendo? R: Sim, é útil nesse caso voltarmos aos gráficos 2 e 3, e considerarmos as versões do ego onde você ataca sua esposa, e a versão do Espírito Santo, onde você a perdoa. Poderia haver outras opções também. A linha já mencionada no Curso “Todo pensamento produz forma em algum nível” (T-2.VI.9:14) é esclarecedora a esse respeito. Aplicando isso ao seu exemplo, significa que o pensamento de atirar em sua esposa, ou baixar o revólver, ou fazer alguma outra coisa inteiramente diferente, já aconteceu. Assim, você não está realmente tendo um pensamento novo, mas meramente acessando diferentes pensamentos em sua mente. Portanto, você está re-experimentando um pensamento que já teve. Essa é uma idéia enlouquecedora, mas é a chave para compreender o que o Um Curso em Milagres diz sobre o tempo. Nós estamos re-experimentando porque estamos observando novamente na tela o que já aconteceu. É por isso que a analogia do computador é um pouco mais útil do que a da fita de vídeo. Um computador expande imensamente as possibilidades, uma vez que, como eu já falei, a fita de vídeo é limitada a um modelo linear. A idéia principal é que tudo está ali, então, não faz realmente diferença o que você está escolhendo observar nesse momento. Se você continuar a escolher o roteiro do ego, então, ficará mais envolvido com sua culpa, o que significa que seu dedo, do jeito que está, se torna quase congelado no botão do ego. Você apenas continua rodando o mesmo roteiro de culpa de novo e de novo. Muitos anos atrás, o psicólogo fisiologista Donald Hebb da McGill University propôs uma teoria de que o aprendizado acontece quanto certos caminhos neurais no cérebro se tornam fixos. Esses caminhos se tornam como um canal: quanto mais é usado através dos padrões de hábitos, mais profundo ele se torna, e então, mais difícil fica sair dele. Análogo a isso é o ciclo de culpa-ataque, no qual quanto mais atacamos as pessoas, mais culpa sentimos, o que nos faz atacar ainda mais. Então, realmente faz diferença com que freqüência escolhemos ver sonhos de vingança, assassinato, ciúmes, depressão e culpa, pois tais escolhas nos enraízam ainda mais profundamente no sistema de pensamento do ego, e então, estamos meramente escolhendo ser mais e mais miseráveis. No final, de uma perspectiva do Nível Um, isso não faz qualquer diferença, como vamos ver quando virmos o gráfico 4. Mas certamente faz diferença em termos do que estamos experimentando enquanto nos sentamos na cadeira, olhando para tudo isso. Isso é evidente na pergunta apresentada no livro de exercícios, “Por que esperar pelo Céu?” (LE-pI.188.1:1). Por que iríamos retardar o momento em que estaríamos em perfeita paz, e por que trocar a paz pela ansiedade e conflito? Em outras palavras, por que permanecermos adormecidos, torturados por pesadelos, quando podemos simplesmente despertar para a paz de Deus? P: Quando o cérebro de Einstein foi estudado, descobriu-se que ele tinha mais fissuras e caminhos mais profundos. Ele não era mais pesado ou tinha um tamanho diferente do cérebro de nenhuma outra pessoa. Isso é um exemplo do que você está dizendo? R: Sim, e isso implica em que ele usou mais seu cérebro. Acho que seria possível encontrar uma contraparte para isso em termos de pensamento da mente certa; não estamos falando sobre cérebro direito e esquerdo, a propósito, mas sobre pensamento da mente certa, i.e., perdão em oposição à culpa e ataque. É interessante notar a expressão psicológica das dinâmicas da mente, como acabamos de considerar. Uma vez que essas dinâmicas representam os pensamentos que estão em nossas mentes, encontramos essas dinâmicas da mente expressas na tecnologia atual, tal como em cinemas, fitas de vídeo, e computadores: em todos eles, encontramos uma expressão externa do que já aconteceu em nossas mentes. Voltando à pergunta original, deixe-me prevenir contra adotarmos uma abordagem laissez faire, fatalista ou passiva à nossa experiência aqui. De fato, tal abordagem é realmente uma 14
armadilha do ego para nos manter aqui. Um Curso em Milagres nos ensina que nós somos responsáveis pelo que estamos experimentando (T-21.II.2:3-5); no entanto, aquilo pelo que somos responsáveis é por escolhermos essa experiência em nossas mentes, que já aconteceu. Em outras palavras, nós somos responsáveis pelo que estamos vendo: i.e., qual fita de vídeo ou arquivos de computador vamos acessar. Ainda outro ponto relevante aqui: se alguém tentar usar os princípios metafísicos como uma justificativa para não fazer nada, então, estará compreendendo mal os diferentes níveis. No nível que diz que tudo já aconteceu, e de fato, que nada aconteceu – “tudo” sendo um pensamento – então, não existe corpo que possa jamais fazer coisa alguma, ou mesmo ter um pensamento desses. Mas, uma vez que eu acredito estar aqui, quebrando a cabeça com uma questão como essa, então já acredito que o tempo e o espaço são reais. Portanto, tentar justificar um comportamento (ou ausência de comportamento) na base de que é tudo uma ilusão não é ser honesto, uma vez que eu já escolhi acreditar que estou aqui. Portanto, precisamos permanecer fiéis ao contexto do nosso sistema de crenças subjacente, se quisermos finalmente modificá-lo. P: Seria acertado dizer que quando nossos dedos estão presos ao botão do ego no controle remoto, estamos fazendo escolhas egóicas, e então, decidindo mudar para o botão do Espírito Santo, o canal ainda iria mostrar a mesma ação, mas ela seria vista de forma diferente? E também não é verdade que se nós tivéssemos ouvido o Espírito Santo antes, não teríamos que passar por todo esse tempo extra, e não teríamos ficado presos ao botão do ego? R: Muito certo. Isso será trazido à tona quando falarmos sobre o milagre na Parte II. A lição em tudo isso é que nós não temos que nos sentar e assistir aos mesmos padrões ou temas em nossos filmes de novo por duas horas, cinco horas, cinco anos, ou por cinco vidas. Essa é uma das idéias básicas no Curso: economizar tempo. Nós não temos que nos sentar para assistir a todas essas terríveis reprises, que é o que nossa experiência nesse mundo realmente é. Todas as experiências são reprises. Isso significa que ainda que estamos nos experienciando falando sobre coisas pela primeira vez e interagindo com outras pessoas pela primeira vez, estamos realmente, em termos da analogia que estivemos usando, sentados diante de uma tela, assistindo a nós mesmos passando por essas experiências. No entanto, nós reprimimos tanto a dimensão do observador que parece que estamos sentados em uma sala falando, durante um período de tempo, e nossa experiência é a de que estamos fazendo isso pela primeira vez. Na realidade, no entanto, estamos observando algo que já aconteceu. Esse, novamente, é o aspecto enlouquecedor dessa idéia. Nossa liberdade não repousa em escolhermos o que está no roteiro, ou na fita de vídeo, programa de computador, ou peças de vidro no caleidoscópio; nossa liberdade, em vez disso, repousa em escolhermos o que vamos ver em qual momento, e com que rapidez vamos liberar a culpa por escolhermos a versão do Espírito Santo. Além disso, como um comentário adicional à sua pergunta, se tivéssemos ouvido apenas ao Espírito Santo no início, não haveria roteiros do ego a desfazer. Um Curso em Milagres enfatiza que o ego fala primeiro, está errado, e o Espírito Santo é a Resposta (T-5.VI.3:5-4:3; T6.IV.1:1-2). Se não tivesse havido equívoco, não teria havido necessidade de Resposta. Em outro contexto, o “Exultai”, um hino litúrgico da vigília de Páscoa escrito no século quatro por São Ambrósio, exclama a bênção da presença de Jesus: “Ó falta feliz, ó pecado necessário de Adão, que garantiu para nós um Redentor tão magnífico!”. Portanto, se não tivesse havido o pecado original (“falta feliz”), não teria havido Redentor. P: Voltando aos livros de Seth, há um registro interessante de Jane Roberts e seu marido sentados em um restaurante. Enquanto eles olhavam um para o outro através da mesa, ambos reconheceram que o que estavam vendo eram suas “realidades prováveis”. Em outras palavras, eles viram um aspecto do que eles poderiam ter sido, o que foi compreendido como algo negativo em suas vidas. Eles reconheceram que poderiam ter feito aquela única escolha que iria levá-los a essas experiências negativas. Eles estavam conscientes de que estavam 15
vendo o outro canal, por assim dizer, e estavam muito gratos por estarem onde estavam. Isso corresponde à idéia que você está explicando? R: Sim, esse é um bom exemplo de como esse fenômeno funciona. Existem muitos outros, como na literatura esotérica, que, se examinados desse ponto de vista, fazem muito sentido. Quando discutimos a noção de milagre, devemos ver que o poder real do Um Curso em Milagres repousa no fato de ele falar conosco de forma muito prática dentro do seu contexto metafísico, i.e., como aprendemos a apertar o botão do Espírito Santo e, em última instância, desligarmos o aparelho de televisão e deixarmos a cadeira do observador completamente. Capítulo 2 COMENTÁRIOS SOBRE TEXTOS DIVERSOS Nós agora iniciamos nosso estudo do Um Curso em Milagres que diz respeito à origem e natureza do tempo. Com pouquíssimas exceções, vamos examinar apenas uma parte das seções. Começamos com o manual para professores, a seção chamada “Quem são os seus alunos?” (MP-2), iniciando com o segundo parágrafo e indo até o quarto. Isso começa com uma idéia que mencionei logo no início: (MP-2.2:1) Para compreender o plano de ensino-aprendizado da salvação, é necessário apreender o conceito de tempo que o curso estabelece. Esse é o único trecho no material que afirma que é necessário entender a idéia de tempo que o Curso está apresentando. Em muitos outros, Jesus indica que poderíamos não entendêlo (T-25.I.7; LE-pI.169; LE-pI.194.4). Apesar disso, vamos agüentar as duras conseqüências e tentar entender o que nossos cérebros programados pelo ego nos impedem de entender: que o tempo é ilusório. Entretanto, somos capazes de entender o propósito do tempo de acordo com o ego e com o Espírito Santo, e esse será o tema principal da Parte II. Incidentalmente, encontramos uma abordagem similar à “compreensão” do sistema de pensamento do ego estabelecida como um parágrafo introdutório às cinco leis do caos. Jesus nos diz lá: As “leis” do caos podem ser trazidas à luz, embora nunca possam ser compreendidas. Leis caóticas dificilmente têm significado e estão, portanto, fora da esfera da razão. No entanto, elas parecem ser um obstáculo à razão e à verdade. Vamos, então, olhá-las calmamente para que possamos olhar para o que está além delas, compreendendo o que são e não o que elas querem manter. É essencial que se compreenda para o que servem, porque o propósito que têm é fazer com que a verdade seja sem significado e atacá-la (T-23.II.1:1-5; grifos meus). (MP-2.2:2) A Expiação corrige ilusões, não a verdade. Essa é uma idéia padrão, com a qual todos nós já estamos familiarizados a essa altura. Significa que a Expiação não tem nada a ver com a eternidade ou a verdade de Deus; tem a ver apenas com a correção do sonho de separação, no tempo, não com a unicidade da realidade. É por isso que “Expiação” não deveria ser lida de forma equivocada como “At-onement” (NT: aqui, o autor faz um jogo de palavras que não pode ser mantido em português, querendo dizer “Emuma-mente” –At-one-ment; Atonement – Expiação). O último seria correto se o termo estivesse relacionado com o Céu, o estado de unidade para o qual a correção certamente não é necessária. No gráfico 2, a Expiação se aplica apenas ao que está do lado direto da linha vertical, que separa o Céu do tapete do tempo. Como Jesus nos instrui em uma passagem importante encontrada em uma seção sobre os relacionamentos especiais: 16
A tua tarefa não é buscar o amor, mas simplesmente buscar e achar todas as barreiras que construíste dentro de ti contra ele. Não é necessário buscar o que é verdadeiro, mas é necessário buscar o que é falso (T-16.IV.6:1-2). O foco da Expiação, portanto, não está no amor, mas em remover os obstáculos à consciência da presença do amor. Amor e verdade simplesmente são, e não precisam ser buscados; simplesmente lembrados conforme as barreiras de culpa são removidas. (MP-2.2:3-8) Portanto, [a Expiação] corrige o que nunca foi. Além disso, o plano para essa correção foi estabelecido e completado simultaneamente, pois a Vontade de Deus está inteiramente à parte do tempo. Assim é toda a realidade, posto que é Sua. No instante em que a idéia de separação entrou na mente do Filho de Deus, naquele mesmo instante foi dada a Resposta de Deus. No tempo, isso aconteceu em uma época muito distante. Na realidade, nunca aconteceu absolutamente. No mesmo instante em que a idéia da separação pareceu acontecer, Deus criou o Espírito Santo, estendeu a Si Mesmo para o sonho e, portanto, no mesmo instante, todo o roteiro foi corrigido. Embora o Um Curso em Milagres fale sobre o Espírito Santo como uma pessoa a quem Deus criou em resposta à separação, de fato, isso não pode ser visto literalmente. Jesus nos lembra de que não podemos nem mesmo pensar em Deus sem um corpo (T-18.VIII.1:7), e então, o Curso fala de Deus e do Espírito Santo como se eles estivessem em corpos, para que tivéssemos meios de nos relacionarmos com eles. Além disso, como Deus poderia dar uma resposta a um equívoco que o Curso ensina que Ele nem mesmo reconhece, uma vez que nunca aconteceu? Portanto, o tratamento que o Um Curso em Milagres dá à criação do Espírito Santo deveria ser visto metaforicamente como uma maneira de descrever um processo ao qual, em nossa limitada compreensão, poderíamos nos relacionar. Devemos voltar a esse ponto importante na Parte II, quando discutirmos o “plano” do Espírito Santo. Realmente, então, seria melhor falarmos do Espírito Santo como um pensamento ou memória do Amor de Deus que nós levamos conosco para o sonho quando adormecemos. Essa memória, então – o Espírito Santo – desfez todos os erros dentro do sonho, uma vez que ela nos lembra de que nunca deixamos Deus. E, assim, somos todos pensamentos que englobam todo o escopo da evolução, que foi desfeita no mesmo instante em que acreditamos ter adormecido – o pensamento de perfeito Amor expulsando nosso pensamento de medo. Referindo-nos ao gráfico 2, quando o roteiro do ego foi escrito (a parte final do tapete), o roteiro do Espírito Santo foi escrito ao mesmo tempo (a parte inicial). A realidade está inteiramente à parte do tempo, e então, não existe reconciliação entre o mundo do tempo e o mundo da eternidade, o mundo da ilusão e o mundo da verdade. Referindo-nos ao gráfico 4, também podemos falar de dois hologramas: o holograma de ódio do ego e o holograma de correção do Espírito Santo. Portanto, dentro do mundo da ilusão, o mundo do tempo, tudo aconteceu há bilhões de anos, no exato momento do “big bang”. Na realidade, é claro, nada disso aconteceu de forma alguma; o mundo é apenas um sonho do impossível. (MP-2.3:1-2) O mundo do tempo é o mundo da ilusão. O que aconteceu há muito tempo parece estar acontecendo agora. Escolhas feitas desde há muito parecem estar em aberto, ainda por serem feitas. Nós estamos realmente vendo algo que já aconteceu. Pareceu acontecer há muito tempo, e naquele único instante, todo o roteiro estava escrito, todas as fitas de vídeo fora projetadas, e tudo dentro do caleidoscópio pareceu surgir. No entanto, em nossa experiência, parece estar acontecendo agora. Como já dissemos, nossa experiência é a de nos sentarmos nessa sala juntos, em um tempo e espaço em particular na história, passando por algo que parece novo e 17
fresco. Estou dizendo algo, um de vocês pode dizer algo, e parece estar acontecendo nesse momento; na realidade, para afirmar novamente, já aconteceu. Na realidade, a declaração muito citada de Eclesiastes, “Não existe nada de novo sob o sol” (Eclesiastes 1:9) 3, é uma declaração realmente sábia. Não estou certo do que o autor bíblico quis dizer, provavelmente nada parecido com isso, mas a idéia de que não existe literalmente nada de novo sob o sol é exatamente o que o Um Curso em Milagres está dizendo. (MP-2.3:4) O que foi aprendido e compreendido e há muito superado é considerado como um novo pensamento, uma idéia original, um enfoque diferente. Tudo o que já aprendemos e entendemos através de toda a evolução aconteceu dentro daquele único instante de tempo, dentro daquele único tique-taque. Nós obviamente não experienciamos os eventos dessa maneira, é claro; já vimos que nossas experiências – mediadas pelos nossos órgãos sensórios e cérebros programados pela mente – distorcem e ocultam a verdade. Por exemplo, eu posso subitamente ter uma idéia engenhosa: vou inventar a roda, trabalhar com uma equação química que irá revolucionar a ciência, ou dividir o átomo. Quando essas idéias acontecem, parecem ser totalmente novas. No entanto, permanecem meras repetições do que já aconteceu no holograma do tempo. (MP-2.3:5-8) Porque a tua vontade é livre, podes aceitar o que já aconteceu a qualquer momento que escolheres e somente então vais reconhecer que sempre esteve presente. Como o curso enfatiza, não és livre para escolher o currículo, nem mesmo a forma em que vais aprendê-lo. Mas estás livre, porém, para decidir quando queres aprendê-lo. E à medida em que o aceitas, já o aprendeste. Quando aceitamos a Expiação para nós mesmos, dessa forma desfazendo a culpa que limitou a consciência de quem realmente somos, nos tornamos sonhadores lúcidos, i.e., entendendo dentro do sonho, que estamos sonhando. Então, eu posso aceitar a qualquer momento o que já está no holograma de correção no gráfico 4. Deixe-me ler as linhas iniciais da introdução ao texto, à qual a segunda parte dessa passagem é uma referência: Esse é um curso em milagres. É um curso obrigatório. Só é voluntario o momento em que decides fazê-lo. Livre arbítrio não significa que podes estabelecer o currículo. Significa apenas que podes escolher o que queres aprender em determinado momento (T-in.1:1-5). Nós não podemos estabelecer o currículo agora porque ele já foi estabelecido por nós. No entanto, podemos escolher qual canal, filme, fita de vídeo ou parte do caleidoscópio vamos observar e re-experimentar em qualquer momento determinado. Mas, o que estamos observando já aconteceu. A forma na qual vamos aprender o currículo já foi escolhida também. Isso significa que nós escolhemos todos os equívocos (relacionamentos de ódio e amor especial), e podemos agora escolher aceitar todas as suas correções (relacionamentos santos). “E, à medida em que o aceitas, já o aprendeste” porque já foi aprendido. O equívoco, já tendo sido corrigido, agora espera pela nossa escolha de aceitarmos e re-experienciarmos sua correção amorosa. (MP-2.4:1-2) Então, o tempo realmente volta a um instante tão remoto que está além de toda a memória, mesmo depois da possibilidade da lembrança. Apesar disso, por que é um instante revivido muitas e muitas vezes, parece ser agora. 3
A não ser que esteja anotado, todas as citações bíblicas são de A Bíblia de Jerusalém (NY: Bantam Doubleday, Dell Publishing Group, Inc., 1966). As exceções são da Versão do Rei James, anotadas como KJV.
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Nós experienciamos o que já aconteceu como se estivesse acontecendo agora, precisamente porque estamos continuamente escolhendo ver a nós mesmos como separados. Esse “instante tão remoto” é aquele segundo separado quando todo o sistema de pensamento do ego pareceu vir à existência. No entanto, esse instante tem sido tão protegido que nunca pode ser lembrado. Nem tem que ser. Mas, nossa decisão de sermos culpados agora – os efeitos daquele instante – têm que ser lembrada, e é isso o que desfazemos. P: Essas são realmente linhas difíceis de compreender. Uma compreensão intelectual é uma coisa; mas é outra totalmente diferente apreender as plenas implicações do que isso significa no nível da experiência. R: Certamente é verdadeiro que todo o sistema de pensamento do Um Curso em Milagres é construído sobre essa idéia, mas, como ele diz, e felizmente para nós também, praticar o Curso não requer a compreensão da metafísica do tempo. No entanto, essa certamente é a fundação subjacente do Curso. Isso ficará mais claro quando discutirmos a Expiação e a função do milagre na Parte II. Quando discutirmos “A pequena disponibilidade” um pouco depois, vamos encontrar a mesma idéia: o fato de revivermos de novo e de novo aquele instante antigo. E é esse reviver que enraíza o observador ou o tomador de decisões na cadeira e no botão do ego. Devemos mencionar que apesar do fato de eu antropomorfizar a parte da mente dividida como o tomador de decisões e/ou observador, eles não devem ser equacionados a uma forma ou cérebro humano, uma vez que a mente é imaterial, intangível e invisível. P: Parece haver algumas similaridades, mas também algumas diferenças entre esse ensinamento em particular do Curso e o que a lei do carma implica. Por exemplo, a tradição cármica ensina que se você for um vitimador em uma de suas vidas, poderá voltar vitimado. Um Curso em Milagres parece deixar implícito algo diferente, embora, sugira que você vai voltar no mesmo papel porque está revivendo a mesma coisa. Por outro lado, talvez a lei do carma possa ser entendida como significando que naquele instante de separação, você escolheu ser uma vítima ou um vitimador, e que você vai continuar desempenhando seu papel em uma forma diferente a cada vida. Essa interpretação parece se encaixar melhor com a idéia do Curso de que “até mesmo a forma em que tu vais aprendê-lo” [já foi escolhida]. R: Uma interpretação atual e comum da lei do carma é que você vai e vem entre seus papéis – como uma vítima e como um vitimador, como um perseguidor e um “perseguido”. Um Curso em Milagres poderia ser compreendido como dizendo que você poderia escolher um roteiro no qual é uma vítima através de todo o escopo do tempo. No entanto, eu não acho que isso iria impedir a possibilidade de trocar de papéis em alguns momentos também. Em outras palavras, embora você possa ter feito o roteiro de uma forma principal, na qual encena o drama do seu ego, como, por exemplo, de ser uma vítima, também é possível que você possa alternar: sua escolha poderia também ser a de um vitimador. Isso é baseado na dinâmica psicológica de que você realmente não poderia se ver como um vitimador, a menos que experimentasse a si mesmo como uma vítima. Se um está na sua mente, então, o outro tem que estar também: todos os vitimadores se sentem justificados em seus pensamentos ou ações porque, em sua percepção, eles também foram vitimados. Um exemplo clínico comum é o da criança espancada que é vista pelo mundo como uma vítima, e então cresce, e se torna um pai/mãe que espanca. De forma similar, uma pessoa poderia ter sido um vitimador em um campo de concentração nazista, e, no entanto, ter sido uma vítima em casa. É interessante notar que Jesus tem sido visto por algumas pessoas na tradição esotérica sempre como uma vítima em suas encarnações anteriores. Pensa-se que ele foi o José bíblico, Sócrates e outras pessoas “vitimadas”, cujos papéis sempre foram o de professor da verdade que é perseguido e em última instância morto. O problema com essa linha de pensamento é que é impossível entender como tudo isso funciona, uma vez que é 19
sempre compreendido dentro de uma moldura linear, que é ilusória para início de conversa. A essência do ensinamento do Um Curso em Milagres é a de que estamos constantemente revivendo a separação inicial. Esse princípio não pode ser perdido de vista ao tentarmos entender e aplicar seus ensinamentos. (MP-2.4:3) Assim é que professor e aluno parecem reunir-se no presente, achando um ao outro como se não tivessem se encontrado antes. Isso não significa simplesmente que nós nos encontramos antes em uma vida anterior, mas que nos encontramos antes no instante em que todo o carpete se desenrolou. Portanto, não é a experiência comum de deja vu tal como se lembrar de quando passamos algum tempo juntos na Idade Média, ou na época de Jesus, Atlântida, ou seja quando for. Isso iria implicar em uma visão linear do tempo, que iria perder de vista todo o ponto central aqui. Em vez disso, Um Curso em Milagres está falando daquele único instante original quando todos os relacionamentos aconteceram, e que nós agora trazemos de volta às nossas mentes. P: Realmente parece que só existe uma única explicação satisfatória de deja vu: i.e., esse encontro, situação ou circunstância é muito familiar para mim. Não é isso? R: Certíssimo. E o que “deja vu” significa é “já visto”. Não apenas foi visto; já foi vivenciado no nível da mente, e estamos meramente experimentando-o outra vez. É esse reviver que é a idéia crucial aqui. P: Essa abordagem ajuda a explicar por que os sensitivos prevêem que algo vai acontecer – por exemplo, que em 1986, a Califórnia vai se separar do continente – e depois não acontece? Não é acertado dizer que em um nível esse evento aconteceu e que foi a isso que o sensitivo se sintonizou? R: Sim. É importante manter isso em mente, como estivemos dizendo, que ainda que todos os eventos já tenham acontecido, não sabemos quais desses eventos as pessoas vão escolher re-experimentar, qual fita de vídeo elas vão escolher. As escolhas são uma miríade. Em acréscimo a isso, é útil considerar por que nós não trombamos com prédios que ainda terão que ser construídos no futuro, embora certamente possamos caminhar para dentro das estruturas que foram construídas no passado. Um edifício proposto ainda na mente do arquiteto não existe para nós, enquanto as pirâmides do Egito antigo são bem reais em nossa experiência. Se tudo aconteceu simultaneamente em um instante, poderíamos perguntar por que esse fenômeno acontece. A resposta reside em reconhecermos que nossos cérebros foram programados pelas nossas mentes para pensarem e experimentarem apenas o tempo linear. E, portanto, pelo fato de acreditarmos que é impossível trombarmos com algo que ainda não está lá, então, não o fazemos. Não podemos violar o que já tornamos real para nós mesmos. Mas mudando nosso sistema de crenças, nossa experiência tem que mudar de acordo. É claro, é quase impossível para nós aqui, presos à linearidade de nossas mentes, concebermos como a vida poderia continuar dessa forma. Imagine assistir a um filme no qual a seqüência temporal estivesse toda errada: que prazer ou compreensão poderiam derivar de um filme se os quadros finais aparecessem encaixados entre o início e o meio; se o filme estivesse invertido em vários trechos, virado de lado em outros? Claramente, isso não faria sentido para nós, a experiência sendo o tempo todo confusa em nossas mentes e violando todas as noções de realidade. É assim que seria se as figuras e eventos do passado ou futuro subitamente aparecessem diante de nós. (MP-2.4:48) O aluno vem ao lugar certo na hora certa. Isso é inevitável, porque ele fez a escolha certa naquele instante antigo que agora revive. O mesmo se dá com o professor, 20
que fez também uma escolha inevitável num passado remoto. A Vontade de Deus em tudo apenas parece levar tempo na realização do processo. O que poderia atrasar o poder da eternidade? A “escolha certa” se refere à primeira metade do tapete no gráfico 2 – o roteiro do Espírito Santo, a visão da mente certa. Assim, em termos do meu relacionamento especial com outra pessoa, a decisão de abordá-lo de forma diferente também é construída dentro do sistema: seu arquivo já está programado no computador, simplesmente esperando ser chamado à cena, por assim dizer. Essa escolha certa apenas parece levar tempo porque nós tornamos o tempo linear real para nós mesmos. E então, parece como se tivéssemos que encenar todo esse roteiro – o tapete do tempo – do início ao fim. O “poder da eternidade” nesse mundo é manifestado através do plano de Expiação do Espírito Santo; e, mais uma vez, esse plano já foi cumprido. No instante em que a separação pareceu acontecer, naquele mesmo instante, ela foi corrigida e desfeita – “O que poderia atrasar o poder da eternidade?”. P: O relacionamento professor-estudante poderia se referir a um relacionamento com qualquer um que escolhamos ver como nosso professor, por exemplo, as pessoas com quem estamos, que estão pedindo nosso amor ou nos ajudando a entender que o amor é nossa natureza, ou isso se refere mais a um formato formal professor-estudante? R: Não, isso não significa apenas o formato formal de professor e estudante. Um professor seria qualquer um que lhe ensine que você está perdoado. Pode haver momentos nos quais isso aconteça dentro do contexto formal professor-aluno, mas o meio principal é aquele no qual o professor é qualquer um que dê a você uma sala de aula de perdão. Isso significa, por seu lado, que aquele professor também é um aluno, porque ele ou ela está aprendendo a mesma lição com você. Por exemplo, uma vez que experimentamos a nós mesmos como separados de Deus e uns dos outros, essa sendo a causa de toda a nossa culpa e sofrimento, unir-nos a uma pessoa percebida como diferente de nós mesmos – professor e aluno – cura esse pensamento egóico. Vamos passar para o livro de exercícios e examinar partes de quatro lições. Vamos começar com a Lição 7, “Eu vejo só o passado”, o segundo parágrafo: (LE-pI.7.2:1) Idéias velhas sobre o tempo são muito difíceis de serem mudadas porque tudo aquilo em que acreditas tem as suas raízes no tempo, e depende de não aprenderes estas novas idéias sobre ele. Essa lição, assim como as outras primeiras, não fala diretamente sobre as idéias que estivemos discutindo até agora, mas realmente está relacionada a elas. O livro de exercícios começa com um nível prático e aparentemente não sofisticado, e trata das nossas experiências diárias; e um elemento primordial delas é o de que nós interpretamos tudo em termos de passado. Isso significa que nós vemos tudo em termos de uma visão linear do tempo. Pelo fato de estarmos tão enraizados nessa linearidade, e nossos cérebros terem sido tão programados, é muito difícil aceitarmos a visão diferente do tempo que estivemos discutindo. A lição então afirma, “No entanto, é precisamente por isso que precisas de novas idéias sobre o tempo”. O processo através do qual o livro de exercícios nos ensina essas “novas idéias” é diferente daquele do livro texto. O livro de exercícios nos dá exercícios muito específicos para fazermos; ele nos direciona a considerarmos as coisas comuns, uma xícara, por exemplo, e reconhecermos que o que sabemos sobre ela é baseado inteiramente no aprendizado passado. Ao praticarmos esses exercícios, nossas mentes se tornam mais abertas a verem o tempo de forma diferente. 21
A extensão lógica dessas idéias iniciais pode ser vista nas importantes passagens que vamos examinar. A primeira está na Lição 158, parágrafo dois: (LE-pI.158.2:8) A revelação de que o Pai e o Filho são um só virá a seu tempo a cada mente. Essa declaração reflete uma visão linear. E nós vamos ver depois que existem muitas passagens no Um Curso em Milagres que falam das nossas experiências como se estivessem acontecendo em uma moldura linear. Essas passagens podem ser mal compreendidas por causa disso, mas tal compreensão equivocada pode ser evitada por manter em mente que uma vez que acreditamos que estamos no tempo, e acreditamos que o tempo é linear, então, a linguagem tem que estar de acordo com essas crenças. Mas o Curso algumas vezes vai mudar subitamente seu foco para a outra visão, como faz nessas duas próximas linhas: (LE-pI.158.2:9-3:1) No entanto, esse momento é determinado pela própria mente, não é ensinado. Esse momento já está estabelecido. Aqui, encontramos a mesma idéia: o que já está estabelecido é o momento (significando a fita de vídeo) em que nós escolhemos aceitar a Expiação para nós mesmos, expresso aqui como o reconhecimento de que o Pai e o Filho são um. Esse fragmento já está construído no roteiro, em termos do tapete no gráfico 2, as peças diferentes do caleidoscópio no gráfico 3, ou o holograma de correção no gráfico 4. O desfazer já aconteceu. E aquela parte do roteiro já foi determinada pela mente, ou melhor, pelo tomador de decisões na mente. Essa aceitação da Expiação, portanto, não é determinada por algo pelo que estejamos passando agora no mundo do tempo e do espaço, uma vez que nossa “presença” no mundo do tempo e espaço é meramente o efeito da decisão da mente: nós realmente não estamos aqui de forma alguma. (LE-pI.158.3:2-4) Parece ser bastante arbitrário. Mas não há nenhum passo que alguém possa dar nesta estrada que seja apenas por acaso. Esse passo já foi dado por ele, embora ele ainda não tenha embarcado nisso. Esse é o tipo de pensamento no Curso que muitos dos seus estudantes acham difícil demais de entender. A estrada da Expiação já foi trilhada; nós já caminharmos através dessa jornada. Nossa experiência, no entanto, é a de que ainda não iniciamos a caminhada, e Um Curso em Milagres ensina que é como se fôssemos fazer a jornada pela primeira vez. No entanto, essa jornada já está completa. Uma de minhas linhas favoritas desse material, que diz que nós ainda não embarcamos em nossa jornada vem do panfleto paralelo ao Curso, Psicoterapia: Propósito, Processo e Prática. Eu geralmente leio isso para os terapeutas que participam dos meus workshops sobre psicoterapia e o Um Curso em Milagres, como uma forma de encorajar a humildade: “A maioria dos terapeutas profissionais ainda estão no próprio começo do estágio inicial da primeira jornada” (P-3.II.8:5; grifos meus). A declaração acima de que nada é arbitrário claramente significa que nada em nossas vidas é acidental. Parece que eu tenho uma escolha sobre se vou levantar meu braço direito ou esquerdo, mas já fiz ambos. A razão é, como já mencionamos, que se todo pensamento produz forma em algum nível, então, simplesmente ter o pensamento de levantar qualquer um dos braços já produziu uma resposta comportamental (uma fita de vídeo) em algum lugar no holograma da minha mente. Eu realmente tenho uma escolha, no entanto, em relação a reexperimentar o levantar do meu braço direito ou esquerdo. (LE-pI.158.3:5-7) Pois o tempo apenas parece ir em uma direção. Estamos apenas empreendendo uma jornada que já chegou ao fim. Todavia, parece reservar um futuro que ainda nos é desconhecido. 22
Nós certamente experienciamos a nós mesmos como estando em uma jornada linear através do tempo, e existem muitas, muitas passagens no Curso que falam sobre o processo do nosso aprendizado. Existem seis estágios mencionados no manual que discutem o desenvolvimento da confiança (MP-4.I.3-8), i.e., e em uma das seções no texto sobre relacionamentos especiais, Jesus diz que o único momento difícil é o inicial (T-17.V.2:5), e então, as coisas melhoram, claramente implicando um processo acontecendo através do tempo. Em outro trecho, nos é dito que estamos em uma “jornada sem distância” (T-8.VI.9:7). E aqui, no livro de exercícios, Jesus nos diz que a jornada já terminou, nós já aceitamos a Expiação, e todas as ilusões foram desfeitas. A linha final nos leva de volta à visão linear do tempo, reconhecendo nossa experiência de que não conhecemos o futuro, que parece não ter acontecido ainda. Nós agora chegamos a uma linha muito importante, que explica como o tempo parece acontecer: (LE-pI.158.4:1) O tempo é um truque, um passe de mágica, uma vasta ilusão em que figuras vem e vão como por magia. Essa é uma declaração crucial em termos de por que temos tantos problemas com esses conceitos, por que as velhas idéias do tempo estão tão profundamente enraizadas em nós. Tudo é um truque: um show de mágica. Mágicos por definição são pessoas que produzem ilusões, que fazem parecer como se eles estivessem realmente serrando uma mulher em uma caixa ao meio, ou tirando um coelho de uma cartola. Mas, como sabemos, tudo é um truque feito pelo movimento das mãos: “A mão é mais rápida do que o olho”. Essa é a analogia aqui. A mágica do ego é tão habilidosa que estamos convencidos, se estivermos na presença de um mágico experiente, de que o que percebemos está realmente aqui e aconteceu. Na verdade, no entanto, a mulher está inteira, o coelho não foi tirado de uma cartola, e não estamos realmente aqui em um corpo e no mundo. (LE-pI.158.4:2-4) Mas há um plano por trás das aparências que não muda. O roteiro está escrito. O momento em que a experiência vem para dar fim à tua dúvida já foi estabelecido. Os dois roteiros foram escritos: o roteiro da mente errada do ego e o roteiro da mente certa do Espírito Santo. Esses roteiros não mudam. Todos os eventos e experiências já foram construídos dentro do sistema, que em certo sentido, está fechado. As imagens do holograma, bibliotecas com fitas de vídeo, e caleidoscópio refletem esse sistema fechado. Portanto, não existe nada que possamos ver que seja novo, nenhuma escolha que possamos fazer que já não tenha sido feita. E isso, é claro, inclui o momento em que vamos aceitar a revelação de que o Pai e o Filho são um. Parece, dentro da nossa experiência, que poderíamos escolher. Parece que podemos escolher perdoar ou condenar uns aos outros, e que nós estamos no controle dessa escolha. Um Curso em Milagres nos ensina, no entanto, que esse não é o caso de forma alguma. O momento da decisão e da escolha são realmente coisas bem diferentes. Vamos voltar à imagem de nós mesmos como observadores: sentados aqui (em nossas mentes) diante da tela, e nossa única escolha é qual botão vamos apertar. Essa é nossa única escolha. E os botões que apertamos nos mostram o que já aconteceu, que parte do roteiro escolhemos reexperimentar. Não é diferente de estar no humor para um filme triste, e então, decidir passar essa fita de vídeo no VCR. Nós, portanto, choramos durante duas horas porque essa foi a decisão que tomamos antes de assistir o filme. Da mesma forma, estando em um humor para uma boa risada, selecionamos uma comédia. Tudo o que acreditamos estar experienciando aqui no mundo apenas reflete uma decisão tomada daquele ponto fora do tempo no qual o tomador de decisões em nossas mentes fez a escolha da qual nos esquecemos, acreditando que ela está sendo feita aqui e agora, onde acreditamos estar. 23
(LE-pI.158.4:5) Pois nós vemos a jornada apenas do ponto em que ela terminou, olhando em retrospectiva, imaginando que a empreendemos novamente, revisando mentalmente o que já se foi. Embora nossa experiência seja o contrário, tudo o que estamos fazendo é rever mentalmente o que já aconteceu. E estamos olhando para a jornada do ponto no qual ela terminou. Nós já estamos fora dela; tudo já acabou. No entanto, pela razão insana da culpa que compartilhamos, ainda estamos escolhendo punir a nós mesmos por revermos mentalmente o pesadelo das ilusões do ego. E, assim, continuamos a ver um filme que nos deixa transtornados e nos traz dor. Fazemos isso por causa da nossa identificação com o sistema de pensamento do ego, que nos ensina que já estabelecemos para nós mesmos uma vontade de sermos separados de Deus. E, uma vez acreditando que alcançamos o impossível, temos que acreditar que Deus se tornou o inimigo que exige nossa punição através da dor e da morte. Assim, é a voz do ego que exige que re-experimentemos continuamente dor, o que serve ao propósito de tornar nossa culpa e pecado reais (uma vez que são eles que exigem nossa punição). E isso por seu lado assegura a sobrevivência do ego. Como o Um Curso em Milagres explica: As alucinações desaparecem quando são reconhecidas pelo que são... [elas] servem a um propósito e quando esse propósito já não se mantém, elas desaparecem (T-20.VIII.8:1,6). E: A cura é realizada no instante em que aquele que sofre já não vê nenhum valor na dor. Quem escolheria sofrer a não ser que pensasse que a dor lhe traz algo, e algo de valor?... A doença é um método, concebido na loucura, para colocar o Filho de Deus no trono do Pai (MP-5.I.1:1-2,7). P: Você poderia falar novamente sobre isso usando um exemplo concreto? Ainda não está totalmente claro para mim. Aqui, estou em Crompond, Nova Iorque, em 1985, sentado nessa mesa. E você está dizendo que eu, como observador, tenho que fazer uma escolha nesse momento, se me focalizo em atos que perdoam ou que condenam, ambos os quais eu já fiz com respeito à mesma situação? R: Parece que o “você” que está fazendo a escolha é o “você” que está sentado aqui a essa mesa, nesse exato momento. Mas esse não é o caso. Para citar uma pergunta do texto: “Quem é o ‘tu’ que está vivendo nesse mundo?” (T-4.II.11:8). O “tu” que é o observador está fora do tempo e espaço e, portanto, fora de Crompond, Nova Iorque, 1985. Em outras palavras, o “tu” que é o observador na mente não é idêntico ao “você” que está sentado aqui, a essa mesa. Essa é uma distinção crucial. O “você” sentado aqui também poderia ser visto como uma marionete que está re-experienciando o que já foi escolhido pelo titereiro, o observador-você (mais uma vez, na mente). Realmente não parece a nós que está acontecendo dessa forma, no entanto. Em vez disso, parece que o “você” nessa mesa é o “você” real que está tomando essas decisões. Nós a experimentamos dessa forma porque pensamos que é nosso ser real. Quando essa distinção é claramente vista, podemos entender mais plenamente por que o Curso descreve o tempo como “um truque” e “um truque de magia”. É realmente um show de mágica. Para dizer de outra forma, o observador na mente é a causa, enquanto o “você” no mundo é o efeito. Ainda que causa e efeito sejam na verdade simultâneos e, portanto, permaneçam juntos, eles apesar disso não são o mesmo, assim como Deus como Causa não é idêntico a Cristo, o Efeito, embora sejam um. Isso é similar à compreensão de que as figuras percebidas 24
em uma tela de cinema são o efeito do filme passando através do projetor, que é a sua causa. Devemos retornar a uma consideração de causa e efeito no Capítulo 4. Vamos passar para a Lição 167, nono parágrafo (LE-pI.167.9). (LE-pI.167.9:1-2) O que parece ser o oposto da vida está apenas dormindo. Quando a mente opta por ser o que não é, e por assumir um poder alheio que não tem, um estado estranho no qual não pode entrar, ou uma condição falsa que não esteja dentro da Sua Fonte, ela apenas parece ir dormir um pouco. Essa é uma clara afirmação de que o ego e seu mundo são um sonho, e que nós meramente adormecemos. No sonho, acreditamos que tínhamos o poder de nos opor a Deus e derrotá-Lo, usurpando Sua autoridade, fazendo um corpo que chamamos de nosso ser para habitarmos um mundo material de dualidade e fragmentação. E, no entanto, tudo isso não é nada além de um sonho. Isso é elucidado mais profundamente no texto, em uma importante passagem que descreve o que pareceu acontecer na separação: Primeiro, acreditas que o que Deus criou pode ser mudado pela tua própria mente. Segundo, acreditas que o que é perfeito pode ser tornado imperfeito ou falho. Terceiro, acreditas que podes distorcer as criações de Deus, inclusive a ti mesmo. Quarto, acreditas que podes criar a ti mesmo e que a direção da tua própria criação depende de ti. Essas distorções interligadas representam um retrato do que de fato ocorreu na separação, ou seja, o “desvio para o medo” (T-2.I.1:9-2:1). Mais para frente no texto, uma passagem poderosa também descreve o insano conteúdo do sonho do ego que nunca poderia acontecer na realidade. Isso é o anticristo: a estranha idéia de que há um poder além da onipotência, um lugar além do infinito, um tempo que transcende o eterno. Aqui o mundo dos ídolos foi estabelecido pela idéia de que foi dada uma forma a esse poder, a esse lugar e a esse tempo e eles moldam o mundo onde o impossível aconteceu. Aqui, o que não morre vem para morrer, o que tudo abrange vem a sofrer perda, o que é sem tempo vem para se fazer escravo do tempo. Aqui o imutável muda; a paz de Deus, para sempre dada a todas as coisas vivas, dá lugar ao caos. E o Filho de Deus, tão perfeito, sem pecado e amoroso como seu pai, vem para odiar por um breve momento, para sofrer dor e finalmente morrer (T-29.VIII.6:2-6). De volta à Lição 167, parágrafo nove, no livro de exercícios: (LE-pI.167.9:3-4) Sonha [a mente] com o tempo, um intervalo em que o que parece acontecer nunca ocorreu, em que as mudanças forjadas são sem substância e em que todos os eventos não estão em parte alguma. Quando a mente desperta, apenas continua tal como sempre foi. Essas idéias são mostradas no gráfico 5, onde, como você se lembra, a linha reta intitulada “eternidade” representa o Céu, onde nós realmente estamos, e a pequena referência intitulada “tempo” representa o sonho. Quando despertamos, esse sonho desaparece e ainda estamos na linha que nunca deixamos. Como o próprio Curso diz em outro trecho: “Tu estás em casa em Deus, sonhando com o exílio...” (T-10.I.2:1). Helen Schucman, escriba do Curso, uma vez teve uma experiência que refletiu esse ensinamento. Uma manhã, enquanto penteava seu cabelo, ela viu a si mesma nessa única linha de eternidade. Nessa linha íntegra, havia uma diminuta, mínima depressão, à qual o texto 25
se refere como “diminuto tique-taque do tempo” (T-26.V.3:5). Joel Goldsmith chamou um de seus livros de Um Parêntese na Eternidade, uma frase maravilhosa que descreve a aparente amplitude do tempo de forma muito similar. A depressão é um diminuto e pequeno nada. Quando comparada com a vastidão e infinidade da eternidade, parece engraçado conceber que ela tenha qualquer significância. Para citar essa passagem importante novamente: Juntos, nós [Jesus e nós mesmos] podemos rir dessas duas coisas [a conquista e efeitos reais da diminuta e louca idéia], fazendo-as desaparecer e podemos compreender que o tempo não pode invadir a eternidade (T-27.VIII.6:4). Antes disso, o texto usa as imagens do menor dos raios do sol acreditando que é o sol, ou a mais fraca e quase imperceptível onda considerando-se o oceano (T-18.VIII.3:3-4). Dentro dessa “diminuta e louca idéia”, o mundo pareceu acontecer, o qual na realidade não é nada mais do que o sonho de uma mente adormecida, que um dia vai despertar para a eternidade que continuou como sempre foi. Vamos passar para a Lição 169, que contém outra afirmação muito clara sobre a visão do Um Curso em Milagres a respeito do tempo. Começamos com o parágrafo quatro, que se refere ao que foi dito na Lição 158 sobre já estar estabelecido o momento em que vamos aceitar a revelação de que o Pai e o Filho são um. (LE-pI.169.4) Talvez pareça que contradizemos a nossa declaração de que a revelação do Pai e do Filho como um só já foi estabelecida. Mas também dissemos que a mente determina quando será esse momento e já o determinou. Insistimos, porém, que dês testemunho do Verbo de Deus para apressar a experiência da verdade e aceitar o seu advento a todas as mentes que reconhecem os efeitos da verdade em ti. Os diferentes níveis que discutimos antes são evidentes nessas passagens. A idéia do Nível Um expressa aqui é a de que a Expiação já foi aceita. As declarações do Nível Dois refletem nossas crenças em que realmente estamos aqui, e, portanto, isso é na verdade um apelo à parte das nossas mentes que pode escolher apertar os botões (a analogia do vídeo ou computador), isto é, escolher buscar o perdão em vez da condenação. Essa é a base de Jesus: nos impelir a darmos “testemunho do Verbo de Deus” e apertarmos o botão certo, despertando do sonho, ainda que no outro nível, isso já tenha acontecido. Esse é o tipo de paradoxo que encontramos aqui. Assim, em um nível, nossa experiência é a de que ainda temos que escolher esse momento. Em outro, nós já o escolhemos, e “não há nada novo sob o sol”: o momento já aconteceu. (LE-pI.169.5:1-3) A Unicidade é simplesmente a idéia de que Deus é. E no Que Ele É, Ele abrange todas as coisas. Não há mente que contenha algo que não seja Ele. É claro, nós pensamos que mantemos todos os tipos de outras coisas. Essa é a crença transmitida na imagem do caleidoscópio, no gráfico 3. Na realidade, o caleidoscópio (a mente dividida) não é nada porque está fora de Deus, e assim também acontece com todos os seus conteúdos, representando todas as nossas experiências como seres individualizados. Elas são igualmente irreais e, portanto, não estão realmente lá. (LE-pI.169.5:4-6:2) Dizemos: “Deus é” e então deixamos de falar, pois nesse conhecimento as palavras são sem significado. Não há lábios para pronunciá-las e nenhuma parte da mente é distinta o suficiente para sentir que agora está ciente de algo que não seja ela mesma. Ela se uniu à sua Fonte. E, como a própria Fonte, meramente é. Não podemos falar, escrever ou mesmo pensar sobre isso de modo algum. Vem a cada mente quando o reconhecimento total de que a sua vontade é a Vontade de Deus tiver sido completamente dado e completamente recebido. 26
Unicidade é o estado que está além de tudo nesse mundo. De fato, o corpo foi feito especificamente para manter a consciência dessa simples verdade oculta de nós. É por isso que Jesus diz que não nós, que ainda acreditamos estar em nossos corpos, podemos falar sobre a verdade nem compreendê-la de forma alguma. Também é por isso que existem relativamente poucas passagens no Um Curso em Milagres que falam desse estado de unicidade, pois, como você pode dizer o que está além de todas as palavras? Além disso, o manual diz, no contexto de uma discussão sobre o papel das palavras na cura: Deus não entende palavras, pois elas foram feitas por mentes separadas, para mantê-las na ilusão da separação (MP-21.1:7). Sem ver que existem níveis diferentes nos quais o Um Curso em Milagres se expressa, a implicação da sentença final na passagem do livro de exercícios acima – o reconhecimento acontecerá em algum momento no futuro – pode ser confusa e até parecer contradizer outras passagens que falam da irrealidade do tempo. O Curso em si, precisamos nos lembrar, vem dentro de um mundo de ilusão; e, uma vez que nós acreditamos viver em um mundo de tempo linear, o Curso se dirige a nós dentro desse contexto. De forma similar, Um Curso em Milagres vem em um contexto cristão porque está tentando corrigir os erros do cristianismo que tiveram um efeito tão importante na história ocidental. Portanto, ele está realmente trabalhando dentro das formas nas quais acreditamos estar. Esse ponto importante será discutido novamente em passagens que devemos considerar no Capítulo 3. (LE-pI.169.6:3-7) Isso [o total reconhecimento da nossa unicidade] devolve a mente ao presente infinito, em que nem o passado nem o futuro podem ser concebidos. Está além da salvação, depois de todo pensamento de tempo, de perdão e da santa face de Cristo. O Filho de Deus meramente desapareceu em seu Pai, assim como seu Pai nele. O mundo absolutamente nunca foi. A eternidade permanece um estado constante. Esse é o momento da total aceitação da Expiação, significando que o ser e a vontade não são mais experimentados como separados do nosso Criador e Fonte. Nessa revelação, que transcende todo o tempo, nos encontramos na eternidade, onde a individualidade e a personalidade desapareceram. Essa experiência é o momento em que despertamos totalmente do sonho do tempo e voltamos para a eternidade. Tudo o que acreditávamos ser real agora se foi, e nós estamos de volta ao lar que nunca deixamos. (LE-pI.169.7:1) Isso está além da experiência que tentamos apressar. A idéia do Um Curso em Milagres é economizar ou colapsar o tempo, ou nos apressar até o momento que está “além da experiência”; no entanto, aquilo para o que estamos nos apressando está além de qualquer coisa que possamos entender. A experiência que o Curso tenta nos fazer alcançar é a de viver no sonho feliz. Isso eventualmente vai nos levar além do mundo inteiramente, e não pode ser explicado em palavras. A Lição 107 afirma isso dessa forma: Podes imaginar o que é um estado mental sem ilusões? Qual seria o sentimento? Tenta lembrar-te daquele tempo, - talvez um minuto, talvez menos – em que nada vinha interromper a tua paz, quando estavas certo de ser amado e de estar em segurança. Depois, tenta fazer um retrato em tua mente de como seria se esse momento fosse estendido até o final dos tempos e até a eternidade. E, então, deixa que a sensação de quietude que sentiste seja cem vezes multiplicada e em seguida multiplicada cem vezes mais. 27
Agora, tens uma idéia, nada mais do que um leve indício do estado em que a tua mente descansará quando a verdade vier (LE-pI.107.2:1-3:1). E então, lemos essa linda passagem que encerra a Lição 157: Entraremos agora na presença de Cristo, serenamente e sem estarmos cientes de nada, com exceção de Sua face resplandecente e do Seu Amor perfeito. A visão da Sua face ficará contigo, mas haverá um instante que transcende toda visão, até mesmo essa, a mais santa. Isso nunca ensinarás, pois não o atingiste através do aprendizado. No entanto, a visão fala da tua lembrança do que conheceste naquele instante e com certeza conhecerás novamente (LE-pI.157.9). (LE.pI.169.7:2) Entretanto, o perdão, ensinado e aprendido, traz consigo as experiências que dão testemunho de que está próximo o momento em que a própria mente determinou abandonar tudo, menos isso. Os dois níveis de que estivemos falando estão presentes aqui outra vez, em uma sentença. As fitas de vídeo nas quais a mente determinou abandonar o mundo do tempo e o ego (Nível Um) já estão presentes, e, no entanto, a experiência ainda é algo que temos que escolher através do nosso aprendizado do perdão (Nível Dois). P: Em termos da analogia do VCR, você está dizendo que quando nós, da perspectiva do observador, começamos a escolher perdoar, a nos focalizar nessa fita de vídeo em particular, eventualmente vamos nos focalizar naquele momento e moldura do espaço exatos, nos quais já decidimos nos abrir para a revelação de que o Pai e o Filho são um? E essa escolha é alcançada fora do tempo, que é o motivo pelo qual nós aparentemente podemos perder tempo para sempre? Podemos continuar olhando para essas outras fitas de vídeo, continuar olhando para nós mesmos fazendo tudo, exceto estarmos iluminados em 1985, Crompond, Nova Iorque? R: Certo. O ego nos ensinou que “o tempo exato e a moldura do espaço” – a aceitação da Expiação – significa morte certa. Significa sim, é claro, mas a “morte” é simplesmente o desaparecimento do ego, de volta à “nulidade da qual veio” (MP-13.1:2). Mas enquanto continuarmos a nos identificar com o ego, devemos temer o Amor de Deus que desfaz a escuridão de medo do ego. E essa, então, se torna a atração das fitas de medo do ego. Isso é análogo à atração pela culpa, dor e morte, que é descrita na discussão sobre os obstáculos à paz, no Capítulo 19 no texto. (LE-pI.169.7:3-8:1) Nós não o apressamos, pois o que então vais oferecer estava oculto Daquele Que ensina o que significa o perdão. Todo aprendizado já estava na Sua Mente, realizado e completo. Quando você fala de apressar algo, está deixando implícito que não o tem agora, e então, tem que ser alcançado no futuro. Apesar do fato de que parte de nós está tentando retardar a dádiva que o Espírito Santo está nos dando – nada disso faz qualquer diferença, porque já aconteceu. Isso é explicado no parágrafo seguinte dessa lição. Antes de irmos para esse parágrafo, no entanto, quero fazer mais alguns poucos comentários sobre essas linhas. Primeiro, elas são um pouco enganosas porque estão em verso, e então, duas palavras foram deixadas de fora, e iriam tornar o significado mais claro. Também é difícil entender porque os parágrafos foram feitos de forma incorreta. Quando Helen originalmente transcreveu isso, ela ainda não tinha dividido o parágrafo como está aqui. Depois, por alguma razão, provavelmente tendo feito isso com alguma preocupação estilística, ela o fez. Quando passamos por essa lição em nossa revisão, a mantivemos dessa forma; 28
mas, faria mais sentido se a próxima sentença - “Todo aprendizado já estava na Sua Mente” – fosse realmente uma continuação daquele parágrafo anterior. Com palavras acrescentadas ou modificadas, portanto, a passagem poderia ser lida dessa forma: Nós não o apressamos [o que significa o tempo no qual vamos aceitar o que é o perdão e reconhecer que somos um com Deus], como se fosse necessário fazê-lo, pois o que então vais oferecer estava oculto Daquele Que ensina o que significa o perdão. Em outras palavras, essa é realmente uma declaração subjuntiva, que é o motivo pelo qual transformei “was concealed” em “were concealed” (NT: distinção inexistente em português, nesse caso, onde ambos significariam “estava oculto”) ; seria o que os gramáticos chamariam de situação “contra factual”. Nós não apressamos o tempo como se o que vamos oferecer estivesse oculto (o que vamos oferecer ao Espírito Santo é a aceitação do perdão). E, finalmente, a Expiação não tem que ser alcançada porque ela já está feita. Todos os equívocos da mente errada, assim como as correções da mente certa, já aconteceram. Assim, nosso aprendizado é alcançado na Mente do Espírito Santo, que agora está em nossa mente. Não apenas o roteiro do ego está escrito, mas o roteiro de Expiação do Espírito Santo também. (LE-pI.169.8:2-3) Ele [o Espírito Santo] reconheceu tudo o que o tempo contém e o deu a todas as mentes para que cada uma pudesse determinar, de um ponto em que o tempo estava acabado, quando estaria liberada para a revelação e a eternidade. Já repetimos várias vezes antes que apenas fazes uma jornada que já terminou. Esse “ponto em que o tempo estava acabado” é onde o observador está, no gráfico 3. Juntando essas passagens, podemos ver a ênfase importante colocada no Um Curso em Milagres sobre o fato da jornada já ter terminado. Essa jornada é dada a nós do ponto de vista do observador, sentado diante da tela, onde vamos escolher nos sintonizar com aquela parte do roteiro. Esse então é o ponto quando já aceitamos o fim. (LE-pI.169.9:1) Pois a unicidade tem que estar aqui. Em outras palavras, a unicidade não está no passado nem no futuro. Ela não precisa ser apressada porque a unicidade é um estado constante de ser. Ela não está no futuro, mas aqui, agora. O erro de que a unicidade não existe já foi corrigido. Isso é difícil de compreender porque está “além da experiência que tentamos apressar” (dois parágrafos acima, nessa lição). Então, um nível do Um Curso em Milagres está tentando nos economizar tempo, e, no outro nível, ele nos diz que o tempo é uma ilusão. Portanto, nada tem que ser economizado, porque nada jamais foi perdido. A unicidade está sempre aqui; a unicidade é. Um dos poemas de Helen expressa essa idéia lindamente. Ele é chamado “A Dádiva do Céu”. Deixe-me lê-lo agora: Ninguém pode roubar a infinitude. Pois, quando Algo é tirado, os anjos juntam suas asas E fecham o espaço tão rapidamente, que parece Ser ilusão; não acontecido, desfeito. Ninguém pode tirar do tudo. Sua própria completude é uma garantia De que ele é completo para sempre. Não pode haver Perda que permaneça sem ser restaurada antes de vir. Ninguém pode diminuir o amor. Ele é em si mesmo 29
O Grande Restaurador. Ele só pode devolver Tudo que é tirado a si mesmo. Ele não conhece Perda, nem limite ou diminuição. O Céu só pode dar. Esse é o sinal de que A perda é impossível. Parecia que Ele tinha se ido. No entanto, os anjos rapidamente vieram E prometeram que iriam trazê-lo de volta para você. (As Dádivas de Deus, p. 80). (LE-pI.169.9:2-3) Qualquer que seja o momento que a mente tenha estabelecido para a revelação, ele é inteiramente irrelevante para o que tem que ser um estado constante, para sempre como sempre foi; permanecendo para sempre como é agora. Nós apenas aceitamos o papel há muito designado e reconhecido plenamente como já tendo sido realizado com perfeição por Aquele Que escreveu o roteiro da salvação em Nome do Seu Criador e em nome do Filho do Seu Criador. Referindo-nos ao gráfico 5, dentro do diminuto tique-taque do tempo, nós já escolhemos quando aquela revelação, que é a aceitação da Expiação, vai acontecer. Mas tudo isso ainda é irrelevante para a sólida linha que representa a eternidade, “um estado constante”. A parte que tem sido “designada” a nós é o desfazer do roteiro do ego. Esse é o caminho da Expiação, e ele já foi “realizado com perfeição” porque essa é a função do Espírito Santo e o que Ele quer já foi feito. Agora vem essa passagem maravilhosamente enfurecedora: (LE-pI.169.10) Não há mais necessidade de esclarecer o que ninguém no mundo pode compreender. Quando vem a revelação da tua unicidade, ela será conhecida e inteiramente compreendida. Agora temos um trabalho a fazer, pois aqueles que estão no tempo podem falar das coisas que estão além [que é o que estamos tentando fazer nesse livro] e escutar as palavras que explicam que aquilo que está por vir, já passou [o que estivemos discutindo]. Mas o que podem significar as palavras para aqueles que ainda contam as horas, que amanhecem e trabalham e vão dormir de acordo com elas? Jesus está nos dizendo que estamos tão enraizados na crença da linearidade do tempo, que é impossível para nós concebermos um estado que está além dessa experiência. É por isso que todos nós achamos essas passagens tão frustrantes e difíceis de entender. No entanto, elas claramente não estão aqui para nos confortar nem instigar. Apesar da nossa inabilidade de compreendermos o estado de ausência de tempo, podemos compreender que nossa experiência do tempo é ilusória, e que nos agarramos a ela como um meio de manter o Amor do Espírito Santo – o reflexo da eternidade – distante de nós. De forma similar, o Curso explica que embora o ego não entenda Deus, ele realmente entende que existe um poder maior do que ele mesmo (T-4.II.8:8). Romper nosso investimento na verdade do sistema de crenças é um dos objetivos principais do Curso: “aprender esse curso requer disponibilidade para questionar cada valor que tu manténs” (T-24.in.2:1). E então, essas passagens enlouquecedoras sobre o tempo ajudam a servir a esse propósito. A Lição 169 continua dizendo – embora não iremos revisar isso aqui – que nós realmente fazemos nossa parte, que é perdoar. O perdão não tem nada a ver com a eternidade, mas em vez disso, está enraizado no mundo do tempo e espaço, sendo o meio através do qual começamos a mudar nossas mentes e eventualmente reconhecemos que somos os sonhadores do sonho. Essas seções no texto que tratam do sonhador e do sonho, da causa e efeito (T-27.VII-VIII; T-28.II), referem-se aos princípios metafísicos de que não estamos no corpo de forma alguma, mas em vez disso, observando esse sonho, “revendo mentalmente o 30
que passou” (LE-pI.158.4:5). O perdão praticado no presente nos capacita a começar a aceitar e experienciar essa verdade. A culpa que tornamos real em nossas mentes torna o tempo real – passado, presente e futuro –, e essa ilusão, em última instância, é o que interfere com nossa aceitação do tempo como holográfico e não linear. P: Parece haver uma contradição de termos nessa lição porque no próprio início, a graça é equiparada a um sinônimo de revelação. A graça é algo que está além de todo aprendizado; pareceria aquele momento no qual escolhemos reconhecer que o Pai e o Filho são um. Então, no final da lição, a graça é citada como um passo antes disso. Ela diz que “nós pedimos pela graça, e, de experienciar isso, vem a graça. Nós damos boas-vindas à liberação que ela oferece a todos. Nós não pedimos o que não pode ser pedido”. Então, ela fala sobre isso como se fosse um passo além da graça. R: No início da lição, a graça não é realmente equacionada à revelação, ou pelo menos não com o Céu. Em certo sentido, a graça é tratada como o aspecto final do mundo real, onde Jesus está. Ainda não é a eternidade. A lição começa com as linhas: A graça é o aspecto do Amor de Deus que mais se assemelha ao estado que prevalece na unidade da verdade. É a aspiração mais elevada do mundo, pois nos conduz para além do mundo inteiramente (LE-pI.169.1:1-2). A graça, portanto, é uma região fronteiriça entre esse mundo e o Céu. Ela está bem no fim da linha, por assim dizer, além desse mundo de ilusão e culpa, pecado e ataque, mas não é a unidade do Céu. Nesse sentido, então, diríamos que alguém como Jesus está em estado de graça. P: Parece que essa seria a meta à qual o Curso aspira; no entanto, ele diz que a graça não é a meta. R: A meta do Curso é o perdão e a paz nesse mundo. A graça realmente não é discutida muito, uma vez que se refere ao fim último do mundo real, o resultado inevitável da paz, que a precede. Assim, quando aprendemos realmente a perdoar, a graça vem automaticamente, sendo como é, tendo sempre estado ali. Quando cada Filho remanescente de Deus atingir o estado de graça, então, entraremos na Segunda Vinda, o Julgamento Final e o último passo de Deus. Isso não acontece realmente assim, é claro, pois, como vamos ver na Parte III, os assim chamados estágios são apenas formas metafóricas de descrever um processo não-linear. Nós voltamos agora às duas seções do texto, “O pequeno obstáculo” (T-26.V), e “A memória presente” (T-28.I). Essas são as duas únicas seções no texto que são devotadas totalmente a uma discussão sobre o tempo. O estudo dessas duas seções vai completar a Parte I.
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Capítulo 3 COMENTÁRIO SOBRE “O PEQUENO OBSTÁCULO” Nessa primeira parte do livro, que trata da origem e natureza do tempo, estamos preocupados principalmente com passagens que apresentam a metafísica básica do Um Curso em Milagres sobre o tempo. As duas seções que vamos estudar fazem isso muito bem, mas também servem como uma ponte para a Parte II, que vai tratar mais da visão do Curso sobre o tempo, em relação ao plano de Expiação, e sua relevância direta ao ensinamento central sobre o colapso do tempo feito pelo milagre, através do perdão. Conforme prosseguimos com essa discussão sobre a metafísica do tempo, é importante manter em mente nossa declaração anterior de que o Um Curso em Milagres é escrito em dois níveis diferentes (veja gráfico1). Para afirmar brevemente outra vez, o Nível Um reflete a metafísica básica do Curso e é essencialmente o que estivemos discutindo até agora. O tratamento do tempo no Nível Um incorpora as idéias de que tudo já aconteceu, tendo acontecido em um segundo de separação, e que nós realmente não estamos experienciando coisa alguma pela primeira vez. Nós estamos, com efeito, sentados diante de uma tela de TV, um caleidoscópio ou um computador, e meramente, por escolha própria, “revendo mentalmente o que já passou”. Isso é inteligível apenas quando o tempo é considerado como não-linear, uma vez que a experiência do passado, presente e futuro é meramente parte dos truques do ego. O ponto que quero enfatizar agora, no entanto, é que o Um Curso em Milagres freqüentemente fala sobre o tempo como se ele fosse linear. Por exemplo, a Lição 194 é intitulada, “Entrego o futuro nas Mãos de Deus”. Isso claramente vê o tempo em um contexto linear. No entanto, o quarto parágrafo dessa lição começa com o que chamaríamos de uma declaração do Nível Um. Ele indica que o tempo não é seqüencial, que o passado e o presente são o mesmo: Deus mantém o teu futuro, assim como Ele mantém o teu passado e o presente. São um só para Ele e, portanto, também deveriam ser um só para ti (LE-pI.194.4:12). Mas então, existe uma mudança para o Nível Dois: No entanto, nesse mundo, o progresso temporal ainda parece real. E assim, não te é pedido que compreendas que realmente não há nenhuma seqüência no tempo. Só te é pedido que soltes o futuro e o coloques nas Mãos de Deus (LE-pI.194.4:3-5). Assim, Jesus está dizendo que embora o tempo seja uma ilusão, e não exista passado, presente e futuro, ele vai falar sobre o tempo como se fosse linear, porque é nisso que acreditamos. Uma declaração ainda mais explícita disso é encontrada no texto, vindo no contexto de uma discussão sobre a unicidade de Cristo que está dentro de nossas mentes divididas, como o Espírito Santo. Essa unicidade nos ensina a verdade, embora acreditemos estar em um lugar onde não estamos. Tudo isso leva em consideração o tempo e o espaço como se fossem distintos, pois enquanto pensas que parte de ti é separada, o conceito de uma unicidade unida 32
como um só não tem significado... [No entanto, essa Unicidade tem que] usar uma linguagem que essa mente possa compreender, na condição na qual ela pensa que está. E Ele tem que usar todo o aprendizado para transferir ilusões à verdade, tomando todas as idéias falsas quanto ao que tu és e conduzindo-te para além delas, para a verdade que está além das ilusões (T-25.I.7:1,4-5). Em uma referência que eu infelizmente não consigo localizar, o homem santo indiano, Sai Baba, mencionou como a obra de arte da espiritualidade oriental, o Bhagavad Gita, é escrito em níveis diferentes. Ele explicou isso em termos da habilidade do Gita de apelar para muitas, muitas pessoas que estão em estágios diferentes do seu próprio desenvolvimento espiritual. O mesmo é verdadeiro em relação ao Um Curso em Milagres: ao removermos nossa culpa através do perdão, devemos entender o Curso em níveis cada vez mais profundos, um dos níveis de compreensão que vão se aprofundar envolverá o tempo. Muitas frases, espalhadas através do material, iriam nos impulsionar para uma dimensão totalmente diferente de compreensão se nós realmente prestássemos atenção a elas. No entanto, a confiança maior do Curso não está na compreensão, mas em vez disso, em nos ajudar com problemas muito práticos que acreditamos ter, todos os quais envolvem nossa experiência da linearidade do tempo. Como o próprio Um Curso em Milagres diz: Esse não é um curso em especulação filosófica, nem está preocupado com terminologia precisa. Ele está preocupado apenas com a Expiação, ou a correção da percepção (ET-in.1:1-2). Finalmente, o Curso diz em outro trecho sobre o uso que o ego faz do tempo, que ele pega a culpa do passado, a projeta no medo do futuro, e assim, ignora o presente totalmente (T-13.IV.4:2-5). Portanto, uma vez que é assim que vivemos, sendo o que acreditamos, a maneira de falar do Um Curso em Milagres vai atender àquele nível de compreensão (Nível Dois). De vez em quando, no entanto, Jesus realmente pula de volta para esse outro reino (Nível Um), afirmando que o mundo do tempo já aconteceu, e que o tempo é irreal. Nós podemos ver nisso, a integração do Curso de sua abordagem muito prática ao lugar onde acreditamos estar, com a moldura metafísica mais ampla que vê o mundo de forma totalmente diferente. Nós agora voltamos ao início de “O pequeno obstáculo”, no Capítulo 26 do texto (T-26.V), depois do que, voltaremos à “A memória presente”. Ambas as seções que serão estudadas em sua totalidade. (T-26.V.1) Um pequeno obstáculo pode parecer, de fato, grande para aqueles que não compreendem que todos os milagres são o mesmo. Entretanto, esse curso existe para ensinar isso. Esse é o seu único propósito, pois isso é tudo o que existe para ser aprendido. E podes aprendê-lo de muitos modos diferentes. O “pequeno obstáculo” foi citado na seção anterior do texto, “O espaço que o pecado deixou”, que falou dele como a “diminuta mancha de pecado” que ainda nos mantém longe do Céu (T-26.IV.6:1). O pequeno obstáculo parece grande realmente enquanto acreditarmos que o pecado da separação é real, pois nossa culpa nos fez acreditar que nós realmente destruímos o Amor de Deus e fragmentamos a unidade do Céu. Assim o mundo da separação é tornado real, junto com a gama aparentemente infinita de problemas a serem resolvidos. Portanto, o primeiro princípio dos milagres – não há ordem de dificuldade em milagres – parece impossível e além do nosso alcance. É o propósito do Um Curso em Milagres nos ensinar que isso não apenas é possível, mas perfeitamente natural: “Milagres são naturais. Quando eles não acontecem, algo deu errado” (T-1.I.6). Essa declaração reflete a confiança muito prática do Curso. Não é nos ensinando simplesmente o conceito intelectual de que o tempo é uma ilusão; 33
é ensinando-nos a reconhecer que todos os nossos problemas são o mesmo. A compreensão final de por que isso é assim repousa na idéia de que o tempo é uma ilusão; mas a plena compreensão desse conceito não é necessária para praticarmos o perdão, que é a meta do Curso. Portanto, nós não temos que compreender toda a visão metafísica sobre o tempo. Em vez disso, aprendemos a necessidade de reconhecer que todos os nossos problemas são apenas formas diferentes de falta de perdão, e então, se levarmos esses problemas ao Espírito Santo, que é o que os milagres englobam, então, o problema da culpa, nosso único problema, vai desaparecer. A forma na qual nós identificamos previamente nosso problema pode não desaparecer necessariamente, mas o que vai desaparecer é o problema que criamos dentro de nós mesmos. Esse princípio pode ser aprendido de muitas formas diferentes, pois o Espírito Santo usa as diferentes formas que nós tornamos reais em nossas mentes para nos ensinar que elas são todas fundamentalmente ilusórias. Todo aprendizado é uma ajuda ou um obstáculo para chegares à porta do Céu. Não existe nenhum intermediário que seja possível. Existem dois professores apenas que apontam para caminhos diferentes. E seguirás o caminho que o professor que tiveres escolhido te apontar. Não existem senão duas direções que possas tomar enquanto o tempo permanece e a escolha tem significado. Isso reflete um dos temas prevalentes no Um Curso em Milagres, de que tudo se resume a duas escolhas básicas. Usando a analogia de estarmos sentados diante do aparelho de televisão, existem apenas dois botões que podemos escolher apertar: o do ego e o do Espírito Santo. Como o texto diz antes, e que será reiterado em breve: A cada dia, a cada hora, a cada minuto, e até mesmo a cada segundo estás te decidindo entre a crucificação e a ressurreição, entre o ego e o Espírito Santo. O ego é a escolha a favor da culpa, o Espírito Santo, a escolha pela inculpabilidade. Tudo o que é teu é o poder de decisão. Aquilo entre o que decides é fixo, porque não existem alternativas exceto verdade e ilusão. E não há nada que coincida entre elas, pois são opostos que não podem ser conciliados e não podem ser ambos verdadeiros. Tu és culpado ou sem culpa, preso ou livre, feliz ou infeliz (T-14.III.4). Pois nunca será feita uma outra estrada, exceto o caminho para o Céu. Tu apenas escolhes se deves ir na direção do Céu ou para longe dele, para lugar nenhum. Não há mais nada a escolher. Perto do final do texto, o mesmo tema é apresentado: Uma escolha real não é uma ilusão. Mas o mundo não tem nenhuma a oferecer. Todas as suas estradas só levam ao desapontamento, ao nada e à morte. Não existe nenhuma escolha entre as suas alternativas. Não busques escapar dos problemas aqui. O mundo foi feito para que não fosse possível escapar dos problemas. Não sejas enganado por todos os nomes diferentes que são dados às estradas. Elas só têm um fim. E cada uma não passa de um meio de adquirir aquele fim, pois é a isso que todas as suas estradas conduzirão, por mais que os seus inícios pareçam diferentes; por mais que os seus percursos pareçam diferentes. O seu fim é certo, pois não existe nenhuma escolha entre elas. Todas conduzirão à morte... Nenhum atalho no mundo pode conduzir a Ele e nenhuma meta mundana pode ser uma com a Sua... [No entanto] Não existe nenhuma estrada que conduza para longe Dele. Uma jornada para fora de ti não existe... Não podes escapar do que tu és. Pois Deus é misericordioso e não deixou que o Seu Filho O abandonasse... Em lugar nenhum, a não ser onde Ele está, podes tu ser 34
encontrado. Não existe nenhum atalho que não conduza a Ele (T-31.IV.2:1-11; 9:3; 10:4-5; 11:3-4,6-7). Essa escolha entre o Céu e o mundo é uma ilusão também, porque, das duas escolhas, apenas uma é verdadeira. E então, não existe realmente escolha de forma alguma. Mas, dentro da nossa experiência nesse mundo, realmente parece que temos duas escolhas. Nós escolhemos se vamos ficar zangados ou misericordiosos, se vamos nos separar dos outros ou nos unir a eles. A passagem continua: Todas as escolhas no mundo dependem disso: tu escolhes entre tu e o teu irmão e ganharás tanto quanto ele perderá, e o que perdes é o que é dado a ele. Como isso é totalmente oposto à verdade, quando todo o propósito da lição é ensinar que o que o teu irmão perde tu perdeste e o que ele ganha é o que é dado a ti (T-31.IV.8:45). (T-26.V.2) Nada jamais se perde a não ser o tempo, que no final não tem significado. Assim, apesar dos nossos egos em contrário, não podemos perder o Céu. Não podemos perder a inocência com a qual Deus nos criou. Esse é o ensinamento central da metafísica do Curso, e é o princípio da Expiação. No panfleto complementar ao Curso, Psicoterapia: Propósito, Processo e Prática, Jesus afirma: “E quem pode chorar a não ser por sua inocência?” (P-2.IV.1:7), significando que todo o nosso pesar deriva da crença de que nós jogamos fora a inocência de Cristo, nossa verdadeira Identidade, e a qual agora, o ego nos diz, nunca vamos recuperar. O Espírito Santo, por outro lado, nos lembra de que embora possamos bloquear essa inocência da nossa consciência, escolhendo permanecer adormecidos e sonhando com o tempo, isso não tem efeitos sobre a realidade de que estamos despertos em Deus. Tudo o que parecemos perder é o tempo; o tempo no qual escolhemos permanecer adormecidos e sonhar os pesadelos de ilusão do ego. O tempo todo, no entanto, nós permanecemos seguros dentro da casa do nosso Pai, despertos no Amor. O tempo no qual escolhemos despertar desse sonho é nossa escolha, mas nós não temos escolha em relação a onde realmente estamos. Pois ele [o tempo] não é senão um pequeno obstáculo à eternidade, bastante insignificante para o Professor real do mundo. No entanto, uma vez que acreditas nele, por que deverias perdê-lo dirigindo-te a lugar nenhum, quando ele pode ser usado para alcançar a meta mais elevada que o aprendizado pode realizar? Não penses que o caminho até a porta do Céu seja difícil. Nada que empreendas com propósito certo, resolução firme e alegre confiança, segurando a mão do teu irmão e marcando passo no ritmo da canção do Céu, é difícil de fazer. Mas, de fato, é duro vagar sozinho e miserável, descendo uma estrada que não leva a nada e que não tem propósito. Uma vez que nós acreditamos no tempo, o Espírito Santo vai nos ajudar a usá-lo como uma forma de, em última instância, aprendermos que não existe tempo. Existe um ditado muito citado, “É muito mais difícil franzir o cenho do que sorrir”, significando que temos que usar muito mais músculos para franzirmos o cenho. Um Curso em Milagres, assim, nos ensina que é muito mais difícil irmos contra o Espírito Santo e escolhermos o ego, do que seguir o Espírito Santo. Nossa experiência, no entanto, é bem o oposto. Pareceria a nós que agarrarmo-nos à nossa raiva é fácil, e, de fato, é o que realmente queremos, e essa é a coisa mais difícil que iríamos liberar. Esse é apenas outro exemplo de como o ego vira tudo de cabeça para baixo. (T-26.V.3) Deus deu o Seu Professor para substituir o professor que fizeste, não para entrar em conflito com ele. 35
A experiência consciente de algumas pessoas é a de que o Espírito Santo as está ameaçando de alguma maneira. Inconscientemente, qualquer um que se identifique com o sistema de pensamento do ego, e isso iria incluir a maioria das pessoas que caminham por essa terra, tem que sentir esse conflito, cujo resultado só pode ser a destruição do ser pecador: “Seu fim é inevitável, pois seu resultado tem que ser a morte” (MP-17.6:2). Um poema clássico cristão “A perseguição do Céu”, por Francis Thompson, expressa essa noção de que Jesus está lá fora para nos pegar, perseguindo-nos até voltarmos a ele. Na realidade, é claro, ele não faz nada além de gentilmente nos chamar para voltarmos ao lar que nunca realmente deixamos. E o que Ele quer substituir, foi substituído. O tempo não durou senão um instante em tua mente, sem nenhum efeito sobre a eternidade. E estamos de volta à moldura metafísica. “O que ele quer substituir” – a culpa e medo do ego, substituídos pelo Amor de Deus – já aconteceu; i.e., o holograma de ódio do ego foi substituído pelo holograma de correção do Espírito Santo. O gráfico 5 ilustra isso em termos daquela diminuta depressão na linha da eternidade. Foi assim que Helen viu o tempo, reconhecendo que ele não durou mais do que um instante infinitesimal, que nunca realmente aconteceu para início de conversa. E assim todo o tempo é o passado e todas as coisas são exatamente como eram antes que fosse feito o caminho para o nada. “Todas as coisas são exatamente como eram antes” refere-se ao estado de unidade no Céu, e “o caminho para o nada” representa o mundo, que, apesar do seu barulho e fúria ainda não simbolizam nada. Além disso, o mundo, e o sistema de pensamento do ego que se desenrolou, não tiveram poder de mudar a perfeição do Céu. Um sonho ruim, no final, continua sendo o que sempre foi: um sonho ruim. O diminuto tic-tac do tempo no qual foi feito o primeiro equívoco e todos eles dentro desse único, também continha a Correção daquele equívoco e de todos os que vieram dentro do primeiro. E naquele instante diminuto o tempo desapareceu, pois isso foi tudo o que ele jamais foi. Aquilo a que Deus deu uma resposta foi respondido e desapareceu. Não foi apenas o equívoco inicial de termos acreditado que poderíamos nos separar de Deus que aconteceu naquele único instante, mas tudo que se seguiu daquele equívoco também. A projeção do erro para fora fez o mundo, e toda fragmentação subseqüente que veio daquela projeção, aconteceu – de novo e de novo – dentro daquele diminuto tic-tac do tempo. No entanto, aquele “diminuto tic-tac do tempo” também conteve a Correção para aquele único equívoco, e, portanto, todas as expressões de perdão que vieram dentro daquele primeiro instante. Isso está representado no gráfico 2: o roteiro do ego e a correção do Espírito Santo; as projeções da nossa culpa, assim como seu desfazer através do perdão. E, no gráfico 3, o caleidoscópio, as marcas do pequeno tic-tac nos círculos de tempo e memória, todas se referem aos equívocos do ego, assim como sua correção. Tudo aconteceu dentro daquele único instante. O problema que resta é que, enquanto nos sentamos diante da tela, revendo mentalmente o que está em nossas mentes, nós acreditamos e experienciamos que coisas aconteceram, outras coisas realmente estão acontecendo agora, e vão continuar a acontecer no futuro. Todos nós caímos na armadilha do ego, por engolirmos seu truque mágico do tempo. (T-26.V.4) A ti, que ainda acreditas que vives no tempo e não sabes que ele se foi, o Espírito Santo ainda guia através do labirinto infinitamente pequeno e sem sentido que ainda percebes no tempo, embora ele tenha desaparecido há muito. 36
O Espírito Santo vai nos levar não apenas através do que acreditamos ter acontecido, mas do que acreditamos estar acontecendo agora. Esse é todo o impulso do Um Curso em Milagres. Embora o tempo seja uma ilusão e o mundo nunca tenha acontecido, a presença amorosa do Espírito Santo nos guia como se O estivéssemos ouvindo pela primeira vez, como se estivéssemos experienciando o perdão pela primeira vez, como se estivéssemos realmente aqui. Em outras palavras, Ele se une às ilusões das nossas mentes, para que possa nos ensinar o que é a realidade. Assim, mais uma vez, podemos ver que embora o tempo seja ilusório, Jesus fala conosco com se ele fosse real. Chamo a atenção para esse ponto novamente, para preveni-lo contra encarar como literalmente verdadeiras muitas das declarações no Curso, quando na verdade elas devem ser vistas metaforicamente. Pensas que vives no que é passado. Cada coisa que olhas, não viste senão por um instante, há muito tempo atrás, antes que a sua irrealidade desse lugar á verdade. Nós experienciamos a vida nesse corpo e mundo temporal porque acreditamos realmente estar aqui. É nosso pensamento que dá realidade à ilusão. A segunda sentença ecoa a idéia que discutimos antes, do manual dos professores e livro de exercícios: parece que estamos olhando e experienciando as coisas pela primeira vez, mas na realidade, estamos simplesmente, mais uma vez, “revendo mentalmente o que já se foi”. Lembre-se de que não somos nós, nossos seres físicos e psicológicos, que estamos percebendo e experienciando o corpo. Como o Um Curso em Milagres nos diz, nossos olhos não vêem e nossos ouvidos não ouvem: a percepção é uma mentira. É a mente dividida que existe fora do tempo que projeta seus pensamentos dualistas de separação no corpo, que depois então ordena, vê e ouve de acordo. Nós lemos no texto: Não deixes que os teus olhos contemplem um sonho, que os teus ouvidos testemunhem uma ilusão. Eles foram feitos para contemplar um mundo que não está presente, para ouvir vozes que não podem produzir som algum... Pois os olhos e os ouvidos são sentidos sem sentido, e o que vêem ou ouvem, eles apenas relatam... De fato, não faz sentido tornar algo que é incapaz de ver responsável pelo que é visto e culpá-lo pelos sons dos quais tu não gostas, apesar do corpo não poder ouvir (T-28.V.5:3-4,6-7; T-28.VI.2:1). Nenhuma ilusão permanece ainda sem resposta na tua mente. A incerteza foi trazida à certeza há tanto tempo que é, de fato, duro mantê-la junto ao teu coração como se ainda estivesse diante de ti. Embora essa não seja nossa experiência, é realmente um trabalho duro manter “real” a natureza ilusória do tempo, porque, na realidade, ele já foi corrigido. E é essa tensão constante de tentar negar a realidade e torná-la real que é a fonte verdadeira da tensão e fadiga que é nossa experiência de vivermos nesse corpo. (T-26.V.5) O instante diminuto que queres guardar e fazer com que seja eterno passou e sumiu no céu depressa demais para que se pudesse notar que ele tivesse vindo. O que desapareceu tão rápido que nem pôde afetar o simples conhecimento do Filho de Deus dificilmente pode ainda encontrar-se lá, para que tu o escolhas como teu professor. Só no passado – um passado remoto, por demais curto para fazer um mundo em resposta à criação – esse mundo pareceu surgir. Há tanto, tanto tempo atrás, por um intervalo de tempo tão diminuto, que nenhuma nota na canção do Céu se perdeu. Embora as palavras reais fossem sugerir que o diminuto instante de separação realmente aconteceu, Jesus certamente não quis dizer isso dessa forma. Caso contrário, suas palavras 37
iriam contradizer o princípio de Expiação do Espírito Santo. O significado da declaração, em vez disso, é que embora acreditemos que esse mundo é uma realidade monumental e uma criação magnificente, na verdade, o Céu nem mesmo sabe que ele existe. Usando a analogia do sol e do oceano (Deus), e do menor dos raios de sol e a onda quase imperceptível (o ego), o Curso afirma, em uma passagem já citada: Entretanto, nem o sol e nem o oceano estão sequer conscientes de toda essa estranha atividade sem significado. Meramente continuam, inconscientes de estarem sendo temidos e odiados por um diminuto segmento deles mesmos (T18.VIII.4:1-2). E uma passagem particularmente poética: Nada do que Deus não conhece existe. E o que Ele conhece existe para sempre, imutavelmente... E na Mente de Deus não há fim, nem um momento no qual Seus Pensamentos estejam ausentes ou possam sofrer qualquer mudança... Além de todos os ídolos está o Pensamento [nosso verdadeiro ser] que Deus mantém de ti. Completamente intocado pelo tumulto e pelo terror do mundo, os sonhos de nascimento e de morte que são aqui sonhados, as miríades de formas que o medo pode tomar; inteiramente imperturbado, o Pensamento que Deus mantém de ti permanece exatamente como sempre foi (T-30.III.6:1-2,4; 10:1-2). É por isso que a imagem de um tic-tac do tempo ou de uma ligeira depressão é útil. É particularmente útil manter isso em perspectiva quando nos vemos ficando transtornados em relação a qualquer coisa, quer seja julgada como trivial ou importante. Um Curso em Milagres não está dizendo que deveríamos ignorar ou negar o que estamos sentindo, mas, em vez disso, que existe outra maneira de olharmos para essas coisas. Como vimos, a idéia do Curso não é nos despertar subitamente dos pesadelos, mas nos fazer primeiro mudar dos pesadelos para os sonhos felizes. No entanto, em cada ato ou pensamento sem perdão, em cada julgamento e em toda a crença no pecado, esse único instante ainda é chamado de volta, como se ele pudesse ser reconstituído no tempo. Sempre que sentirmos qualquer falta de perdão em nós mesmos, tudo o que estamos fazendo é trazer à tona aquele instante antigo, que já foi desfeito. Parece que nosso transtorno é devido ao que outra pessoa fez, aqui e agora, mas, na realidade, ele é o resultado da nossa decisão, aqui e agora, de continuarmos a tornar real para nós mesmos aquele instante antigo de separação aparente, o julgamento original contra nós mesmos e contra nosso Criador. Guardas diante dos olhos uma memória antiga. E aquele que vive apenas em memórias não está ciente de onde está. (6) O perdão é o grande liberador do tempo. É a chave para se aprender que o passado se foi. A loucura não fala mais. Não há nenhum outro professor e nenhum outro caminho. Pois o que foi desfeito já não mais existe. E quem pode se encontrar em uma costa distante e sonhar consigo mesmo como se estivesse do outro lado do oceano, em um tempo e lugar que há muito já desapareceram? Em que medida esse sonho pode ser um obstáculo real para o lugar aonde ele realmente está? Pois isso é fato em não muda quaisquer que sejam os sonhos que ele tenha. Contudo, ele ainda pode imaginar que está em outro lugar e em outro tempo. Nas formas extremas, ele pode se deludir a ponto de acreditar que isso é verdadeiro e passar de mera imaginação a ser algo no qual ele acredita e depois à loucura, extremamente convencido de que está onde prefere estar. 38
(7) Isso é um obstáculo para o lugar onde ele se encontra? Qualquer eco do passado que ele possa ouvir por acaso é um fato no que existe para ser ouvido onde ele está agora? Helen recebeu uma mensagem como uma forma de ajudá-la a entender essa idéia, que discutiu o fato de termos adormecido, sonhando que estávamos do outro lado do oceano, em uma costa muito, muito distante. Nós acreditamos que era aí que realmente estávamos – da mesma forma que o Curso diz, como já citamos, que nós “estamos em casa em Deus, sonhando com o exílio” (T-10.I.2:1). Nossa verdadeira realidade, no entanto, permanece no Céu, sonhando que estamos a milhares de milhas através do oceano, em uma praia distante, e nos esquecemos de onde realmente estamos. Em “A memória presente”, que vamos discutir depois, existe uma referência a essa analogia da praia distante. Assim, o fato de que estamos sonhando estar em uma praia distante não é um obstáculo à realidade de que estamos realmente nessa praia atual – “em casa, em Deus” – tendo esse sonho ruim de que estamos no exílio; o fato de que acreditamos estar nessa diminuta depressão do tempo não muda o fato de que somos realmente um com Deus, na eternidade. Tudo o que acreditamos ter acontecido, estar acontecendo agora, ou que acontecerá no futuro – tudo isso não tem realidade de forma alguma fora da nossa mente adormecida e, portanto, não tem efeitos. Os ecos do passado, que em nossa experiência pessoal refletem algum aspecto do especialismo, não têm efeitos sobre o lugar onde realmente estamos. E em que medida podem as suas ilusões acerca do tempo e espaço efetuar uma mudança aonde ele realmente está? (8) O que não foi perdoado é uma voz que chama de um passado que se foi para sempre. E todas as coisas que apontam para ele como se fosse real não passam de um desejo de que o que passou possa tornar-se real outra vez e ser visto como aqui e agora, no lugar do que é realmente agora e aqui. Essa adorável seção no texto, “A canção esquecida” (T-21.I0, fala sobre uma melodia antiga que nós ouvimos, lembrando-nos do nosso lar real. No entanto, nós sonhamos com um lugar distante e ouvimos uma canção diferente, os gritos estridentes do ego. Mas nenhuma dessas ilusões sobre onde estamos pode ter qualquer efeito sobre o “agora e aqui”, nosso verdadeiro lar com Deus. O que vemos como “aqui e agora” é o mundo no qual acreditamos estar. Mais uma vez, é como se estivéssemos sentados diante de uma tela de televisão, acreditando que o que estamos observando está realmente acontecendo, esquecendo o fato de que estamos simplesmente assistindo isso em nossas mentes. Assim, o “aqui e agora” é o instante santo em nossas mentes, no qual experienciamos o Amor de Deus; o “aqui e agora” é a ilusão de que nós estamos em um mundo de tempo e espaço, no qual os pensamentos daquele instante aparente de separação estão sendo projetados. É isso um obstáculo à verdade de que o passado se foi e não pode voltar para ti? E queres guardar aquele instante amedrontador, quando o Céu aparentemente desapareceu e Deus foi temido e veio a ser feito como um símbolo do teu ódio? Daqui até o final dessa seção, Jesus está falando daquele único instante antigo, quando acreditamos que tínhamos atacado Deus e nos separado Dele, e então, acreditamos, com medo, que Deus estava nos atacando em troca. Esse instante de terror abriga nosso pecado, culpa e medo, subjacentes a todas as nossas experiências. Cada pensamento de medo e ódio tem sua origem aqui, enquanto cada pensamento de perdão e cura tem sua origem nesse instante também.
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P: Qual é a relação entre o observador no gráfico 3 e aquele que escolhe, dentro de uma existência, no que desejamos nos focalizar? De acordo com o texto, esse elemento de escolha aparentemente não é nem da mente certa nem da mente errada. R: O observador ou tomador de decisões (na mente dividida) não é o você que está aqui, mas em vez disso, ele existe fora do tempo. Ele não está no Céu, não é Cristo, mas em vez disso, está fora da experiência que está sendo transmitida na tela de televisão, por assim dizer. Lembre-se de que a mente não está no corpo. Em outras palavras, quando experienciamos a nós mesmos como fazendo uma escolha, quer seja viver em um lugar ou outro, pegar um emprego ou outro, atacar ou perdoar, o que está realmente acontecendo é que o observador escolheu que essa será a fita que será passada novamente. P: Então, é esse observador, de quem eu não estou consciente, que escolheu que eu esteja nesse lugar, nesse tempo. Isso é correto? R: Sim, Seu observador, por assim dizer, escolheu passar uma fita específica, na qual você tem esse corpo e personalidade em particular, vivendo no século vinte. Mas poderia haver outra parte da mente do seu observador que está sintonizada em outra existência que você teve ou terá. P: E as escolhas individuais que eu faço dentro dessa existência? O que é esse aspecto da escolha? R: O ponto é que você não está realmente escolhendo agora de forma alguma. Na verdade, o que parece ser uma escolha aqui é simplesmente uma fita de vídeo que reflete uma escolha feita no nível da mente, que está fora do tempo e espaço. O problema que temos em compreender esses conceitos é que essa não é nossa experiência. É por isso que o Um Curso em Milagres realmente é dirigido para o nós que acreditamos que somos, a estrutura corpo/personalidade em particular que está nesse mundo e que faz escolhas. Antes, mencionei a história de Basilides sobre Jesus rindo durante o processo de crucificação, sabendo que ele não era aquele corpo crucificado na cruz. Ele sabia que o que apareceu aos olhos das pessoas era um sonho; esse conhecimento ou despertar é o que o Curso quer dizer com ressurreição. P: Então, o observador é uma mente que foi curada? R: Não, de forma alguma. Quando a mente do observador é curada e a mente certa corrigiu a mente errada – os vídeos do Espírito Santo corrigiram os do ego -, então, não existe mais nada a observar ou a escolher. Em outras palavras, para usar a analogia do nosso aparelho de televisão, enquanto nos sentamos diante da tela, podemos escolher ouvir a voz do ego, e então passar por tudo que está acima da linha pontilhada no gráfico 2, que representa a miríade de formas nas quais vemos a nós mesmos como vítimas ou vitimadores; ou podemos escolher as correções para tudo isso, que estão abaixo da linha pontilhada no gráfico 2. Portanto, o observador não é da mente certa nem errada, mas escolhe se identificar ou com a mente certa (o Espírito Santo) ou com a mente errada (o ego). O que é curado é a escolha falha do observador, corrigindo a identificação original com o sistema de pensamento de separação do ego. P: Poderíamos ser o diretor ao mesmo tempo, e mudar algo de que não gostamos no filme que originalmente fizemos? R: Não podemos fazer nada novo porque tudo já aconteceu. Você não pode mudar o roteiro, mas pode escolher qual parte dele vai re-experienciar. E, basicamente, o que simplifica muito isso de certa forma, você poderia escolher atravessar uma situação com perdão ou passar por 40
uma situação com raiva e ressentimento. Não existe conceito de escolha dentro do caleidoscópio do lado direto do gráfico 2; a escolha repousa apenas no observador na mente. No contexto da sua pergunta, portanto, a mudança em um filme de que não gostamos realmente seria outro filme, que também aconteceu naquele instante original. O primeiro parágrafo nessa seção, “O pequeno obstáculo”, diz que existem apenas duas escolhas que jamais poderíamos fazer. Parece que temos escolhas nesse mundo porque foi aí que empacamos, mas a verdade disso é que a escolha está em um nível totalmente diferente. Praticar o Um Curso em Milagres e seu impulso específico de desfazer o ego vai eventualmente nos levar de volta àquele ponto de entendermos que tudo isso é um sonho; mas nosso mundo não está nem próximo dessa compreensão, que é o motivo pelo qual a mensagem tem que vir dessa forma. Em vista disso, é um equívoco de certa forma trágico, quando as pessoas que lêem o Curso caem na armadilha de negar esse mundo, dizendo “o mundo todo é uma ilusão; portanto, não importa o que eu faço”. O impulso do Um Curso em Milagres é justamente o contrário. Ainda que ele realmente diga que o mundo é uma ilusão e tudo já aconteceu, o que nós escolhemos realmente faz uma diferença aqui, pois reflete uma escolha feita pelo observador. São essas escolhas que vão nos desempacar do lugar onde estamos nesse momento, ou vão nos enraizar ainda mais profundamente no mundo. Em outros momentos, eu disse que o Um Curso em Milagres não é a palavra final de Jesus, mas que é a mensagem perfeita para o mundo como ele é agora; uma mensagem escrita em um nível que podemos entender, que, apesar disso, nos leva para níveis cada vez mais profundos de compreensão; em última instância, até além da mensagem em si mesma. O mundo é fortemente baseado no ego como todos sabemos, e é por isso que o Curso é estabelecido nesse nível. Quando o mundo aprender a lição do Curso, o que provavelmente vai levar muitos e muitos séculos, não vamos mais precisar dele. Então, acho que o amor de Jesus iria prover uma mensagem que estaria em “níveis mais elevados” no sentido de que não iríamos mais precisar de um curso que discute o sistema de pensamento do ego em tal profundidade. É por isso que seria um equívoco terrível que as pessoas tratassem o Um Curso em Milagres da forma com que a Bíblia foi tratada, como a palavra final de Deus. Se nós mudarmos de um contexto linear dos eventos que se desenrolam um após o outro para o contexto holográfico, podemos dizer que já existe uma mensagem mais elevada com a qual qualquer um pode se sintonizar. O Amor do Espírito Santo em nossas mentes é perfeito. Conforme os véus do nosso medo e culpa caem de lado, somos capazes de ouvir Sua Voz com clareza crescente. A famosa citação da Bíblia é relevante aqui: “Qualquer um que tenha ouvidos para ouvir, que ouça!” (Mateus 11:15). Nesse ponto, o mundo não está pronto para ouvir esse nível mais elevado de verdade. Voltando ao texto, o ponto importante aqui é que tudo o que fazemos em uma base egóica é uma lembrança daquele único equívoco, aquele instante antigo no qual acreditamos ter atacado Deus e ficamos convencidos de que Ele iria nos atacar de volta. (T-26.V.9) Esquece o tempo do terror que há tanto tempo foi corrigido e desfeito. É possível que o pecado enfrente a Vontade de Deus? Pode depender de ti ver o passado e colocá-lo no presente? Não podes voltar atrás. No entanto, é isso o que sempre tentamos fazer: “voltar atrás”. Esse tema é expresso de forma pungente e poderosa na Lição 182, “Eu me aquietarei por um momento e irei para casa”. Aqui encontramos descrita a busca fútil por um lar terreno que acreditamos que uma vez tivemos, defendendo-nos contra o verdadeiro lar que está dentro de nossas mentes no presente: Falamos por cada um que caminha por esse mundo, pois ele não está em casa. Vai incerto, numa busca sem fim, buscando na escuridão o que não pode achar, sem reconhecer o que é que está buscando. Constrói mil casas, mas nenhuma satisfaz a 41
sua mente inquieta. Não compreende que está construindo em vão. A casa que busca não pode ser feita por ele. Não há nenhum substituto para o Céu. O inferno foi tudo o que ele jamais fez. Talvez penses que é a tua casa de infância que queres achar novamente. A infância do teu corpo e aquele lugar que o abrigava, é agora uma memória tão distorcida que apenas seguras um retrato de um passado que nunca aconteceu. Entretanto, há uma Criança em ti Que busca a casa do Seu Pai e sabe que é uma estranha aqui. Essa infância é eterna, com uma inocência que durará para sempre. Aonde quer que essa Criança vá, a terra é santa. É a Sua santidade que ilumina o Céu e que traz à terra o puro reflexo da luz do alto, em que a terra e o Céu estão unidos como um só (LE-pI.182.3-4). Esse tema de não ser capaz de voltar para casa também é um reminiscência do famoso romance de Thomas Wolfe, Você não pode ir para casa outra vez. Nesse sentido, não podemos voltar para o lar do ego outra vez. Nós acreditamos que podemos, mas vivemos naquele lar apenas por um instante aparente, e esse equívoco foi corrigido. O que tentamos fazer nesse mundo, no entanto, é escolher re-experienciar todas aquelas dimensões do ego de nossas mentes, refletindo a declaração original de que eu não sou como Deus me criou. O tempo todo, é claro, acreditamos que estamos em dimensões fora do Céu. E todas as coisas que apontam o caminho na direção do passado apenas colocam para ti uma missão cuja realização só pode ser irreal. Tal é a justiça que o teu Pai, que é Todo Amor, garantiu que tem que vir a ti. E da tua própria falta de equidade contigo mesmo, Ele te protegeu. Não podes perder o teu caminho porque não existe caminho que não seja o Seu e nenhum lugar a que possas ir a não ser a Ele. (10) Permitiria Deus que Seu Filho perdesse o seu caminho em uma estrada muito tempo depois da memória do tempo ter passado? Essa declaração nos lembra de que nossa experiência como indivíduos separados nesse mundo apenas parece ser real; mas a crença no mundo é simplesmente um equívoco que já foi corrigido e desfeito. Apenas em ilusões parece que nós podemos ter uma vontade em oposição à Vontade de Deus. A proteção de Deus sobre nós, portanto, não vem de um mágico cavaleiro branco que olha por nós. Em vez disso, nossa proteção é simplesmente Seu Ser, e, por extensão, o Ser de Seu Filho (Cristo), o que assegura que nossa injustiça a nós mesmos não teve efeitos, uma vez que nuca aconteceu. Nada existe fora do Seu Ser; não pode haver outro caminho além de Deus, como já vimos. Assim, é impossível que uma parte de Deus possa deixar sua Fonte e “perder seu caminho”. A presença do Espírito Santo na mente do observador, que é a memória do Ser de Deus, é a proteção da verdade que não “permite” que o Filho torne o irreal real, nem que faça acontecer o que nunca poderia acontecer. Um instante terrível no passado distante, agora perfeitamente corrigido, não causa preocupação nem tem valor. Permite que os mortos que se foram sejam esquecidos em paz. A ressurreição veio para tomar o seu lugar. E agora fazes parte da ressurreição e não da morte. Isso reflete a declaração conhecida de Jesus no evangelho, “Deixe que os mortos enterrem seus mortos” (Mateus 8:22, KJV). Prestar atenção ao que nunca aconteceu e, portanto, não existe – i.e., o que está morto – simplesmente torna o erro real, impedindo-nos de reconhecer sua natureza ilusória e despertar do sonho. “Ressurreição”, mais uma vez, é o termo do Curso para o despertar do sonho da morte. Portanto, não tem nada a ver com a ressurreição do corpo. No nível da mente, nós simplesmente entendemos que o mundo é tudo um sonho e que o que estamos observando já aconteceu. Como o Espírito Santo já está presente em nossas mentes como o pensamento da Expiação que reflete o Amor de Deus, e 42
como também somos um pensamento, então, temos que ser uma parte do pensamento de Expiação ou ressurreição também. De forma similar, o Curso nos diz que nós estávamos com Jesus quando ele ascendeu: Ele [o Espírito Santo] dá graças a ti assim como a ele [Jesus], pois te ergueste com ele quando ele começou a salvar o mundo (ET-6.5:5). Assim, a ressurreição já aconteceu dentro de nós; ela simplesmente espera nossa aceitação desse fato. Nenhuma ilusão passada tem o poder de te manter em um lugar de morte, uma câmara mortuária em que o Filho de Deus penetrou por um instante para ser instantaneamente devolvido ao Amor perfeito de seu Pai. E como é possível que ele seja mantido em correntes que há muito foram removidas e desapareceram para sempre da sua mente? (11) O Filho, a quem Deus criou, é tão livre quanto era quando Deus o criou. Ele [o Filho] renasceu no instante em que escolheu morrer ao invés de viver. E tu não irás perdoá-lo agora porque ele fez um erro no passado, do qual Deus não Se lembra e que não está presente? A crença na separação é o “lugar de morte”, a “câmara mortuária”. Nesse mesmo instante no qual entramos nessa câmara, Deus nos restaurou a Ele Mesmo. Esse é um dos temaschave que reaparece de novo e de novo no Um Curso em Milagres: nós ainda estamos com Deus, como Ele nos criou. Todas as vezes em que nos pegamos atacando alguém ou a nós mesmos, é porque ainda estamos nos agarrando a essa memória antiga de que atacamos Deus e, portanto, não merecemos ser perdoados. O uso que o Curso faz da frase “nascer outra vez”, incidentalmente, não deveria ser confundido com o significado fundamentalista. Pelo fato de não existir tempo linear, cada instante aparente dentro da mente do observador oferece a oportunidade de nos libertarmos da prisão do passado. Na verdade, não existe passado; não temos história – pessoal e coletiva. E então, em cada instante, estamos escolhendo o conto do ego de um passado pecaminoso e sem misericórdia, ou a verdade do Espírito Santo, de um presente misericordioso, no qual nenhum pecado jamais aconteceu. Agora estás te deslocando para trás e para frente entre o passado e o presente. Algumas vezes o passado parece real, como se fora o presente. Vozes [ego] do passado são ouvidas e, então, se duvida. Isso soa como uma descrição em um livro de psiquiatria clínica, sobre uma pessoa psicótica, que está ouvindo vozes. O Curso usa esse paralelo com muita freqüência, e faz isso nas próximas linhas. É verdade que nós somos insanos, não clinicamente insanos como é usualmente definido, mas porque ainda estamos ouvindo uma voz do passado que já se foi. Uma pessoa psicótica, em muitos casos, pode ouvir vozes do passado. Essa pessoa poderia estar em uma situação, e subitamente ouvir uma voz cruel de um pai/mãe, professor ou amigo de quarenta ou cinqüenta anos atrás, e realmente experienciar isso acontecendo nesse exato instante. Mas em outro nível, todos nós fazemos isso, porque ainda estamos ouvindo aquela voz do instante antigo que diz que nós atacamos Deus, e que Ele vai nos atacar de volta. P: Então, o ponto aqui é que nós ouvimos essas vozes e acreditamos nelas, e depois começamos a duvidar delas, porque estamos aprendendo que existe outra Voz para ouvir? R: Isso está certo. Jesus está dizendo aqui que vamos e voltamos de um lado para outro. Mais cedo, no texto, ele repetidamente nos diz que não estamos totalmente insanos (T-16.VI.8:8; T17.V.7:9; T-17.VII.10:2), o que significa que nós ouvimos essas vozes do passado e realmente 43
começamos a duvidar delas, mas de vez em quando, elas podem soar muito reais e convincentes, como todos nós sabemos. Tu te pareces com alguém que ainda tem alucinações, mas a quem falta convicção naquilo que percebe. Um bom amigo meu, da escola de graduação, teve um surto paranóide há muitos anos, e ainda está no hospital. Sua psicose é incomum, pois ele sempre esteve ciente de que está tendo alucinações, que ele está tendo uma ideação paranóide, e, no entanto, ele não pode mudar o que está fazendo. Na verdade, isso é ainda mais doloroso do que ficar inconsciente sobre tudo. Ele sabe exatamente o que está acontecendo e quão insanos são seus pensamentos, mas se sente impotente para mudá-los. Esse é o mesmo tipo de situação na qual nos encontramos, exceto que agora não estamos falando sobre paranóia clínica. Nossa posição é diferente na extensão em que saberíamos que a voz é do ego, e que, em última instância, temos controle sobre ela. Essas passagens no texto estão nos dizendo que podemos fazer outra escolha. Estamos em uma posição para começarmos a entender os ensinamentos do Um Curso em Milagres, e entendermos que o que parece ser real não é. Conforme essa compreensão se desenvolve, nós começamos a ter um senso de que as coisas não são do jeito que parecem ser. Então, por exemplo, mesmo que fiquemos realmente zangados, existe uma parte de nós que não está tão convencida quanto esteve no passado, de que nossa raiva é justificada. Essa é a zona fronteiriça entre os mundos, a ponte entre o passado e o presente. Aqui, a sombra do passado permanece, mas ainda assim uma luz presente é vagamente reconhecida. Uma vez que é vista, essa luz não pode nunca ser esquecida. Ela não pode deixar de atrair-te do passado para o presente, onde realmente estás. Na “zona fronteiriça entre os mundos”, ainda ouvimos a voz do ego e temos reações egóicas aos eventos, mas também estamos cientes de que existe algo mais em nossas mentes; a presença amorosa do Espírito Santo. Podemos até mesmo estar prontos para entender esse ensinamento atual, não apenas em um nível conceitual, mas experimental também – entender, a partir de dentro de nós mesmos, que o mundo todo é um sonho, que estamos literalmente observando a nós mesmos atravessando o que fazemos a cada dia; despertando pela manhã, vestindo-nos, ingerindo refeições, tendo brigas, sentindo-nos felizes, pacíficos ou conflitados, e fazendo nossas pequenas tarefas diárias. Ao começarmos a experienciar a natureza ilusória desse mundo, nunca poderemos perder totalmente esse senso outra vez. Podemos tentar tão duramente quanto pudermos negar isso, mas existe uma parte de nós que, uma vez tendo visto através das sombras do ego, nunca mais será a mesma. Uma vez que a luz dessa verdade é vista, ela serve como uma âncora nos oceanos tormentosos do ego, impedindo-nos de sairmos totalmente do prumo; ou, para usar outra analogia sobre o mar, a verdade se irradia em nossas mentes como um farol, chamando-nos de volta da escuridão de culpa e medo do ego, para o perdão e Amor do Espírito Santo. (T-26.V.12) As vozes das sombras não mudam as leis do tempo nem da eternidade. Elas vêm daquilo que é passado e se foi e não obstruem a verdadeira existência do aqui e agora. O mundo real é a segunda parte da alucinação segundo a qual o tempo e a morte são reais e têm uma existência que pode ser percebida. Essa terrível ilusão foi negada em nada mais do que o tempo que Deus levou para dar a Sua Resposta à ilusão por todos os tempos e em quaisquer circunstâncias. E a partir de então ela não mais existiu para ser vivenciada como se fosse o presente. Essa é a idéia central que já vimos muitas vezes. Referindo-nos ao gráfico 5, aquele diminuto tic-tac do tempo, o diminuto instante não teve efeito de forma alguma sobre a sólida 44
linha da eternidade, cuja canção continua totalmente não-afetada pela interferência aparente dos acordes dissonantes do ego. O mundo real também é parte do mundo ilusório, mas é livre de toda a dor da ilusão: como algo que não está lá poderia causar dor, e causá-la a quem? O mundo real é livre de todas as projeções de culpa da ilusão. Portanto, a primeira parte da alucinação é o sistema de pensamento do ego, que é a crença equivocada em que o tempo e a morte são reais. A segunda parte, também dentro da moldura da ilusão, desfaz a crença na realidade do tempo e da morte. Isso é similar à discussão no Curso sobre o perdão como a única ilusão que não semeia mais ilusões. Como o manual afirma: O perdão, então, é uma ilusão, mas, por causa do seu propósito, que é o do Espírito Santo, há uma diferença. Ao contrário de todas as outras ilusões, conduz para longe do erro e não em direção a ele (ET-3.1:3-4). E então, ainda que continuemos a experienciar a nós mesmos como reais no sonho, vivendo em um mundo que acreditamos realmente estar lá fora, o sonho não é a realidade. Ainda permanece dentro de nossas mentes o feliz pensamento de despertar, que é a Resposta de Deus, e que já desfez todo o sistema de pensamento do ego. Devemos voltar na Parte III ao mundo real, cujo alcance é a meta do Curso. (T-26.V.13) A cada dia e em cada minuto de cada dia e em cada instante que cada minuto contém, tu apenas revives o único instante em que o tempo do terror tomou o lugar do amor. E assim morres a cada dia para viver outra vez, até que atravesses a brecha entre o passado e o presente, que não é absolutamente uma brecha. [E o seguinte parece ser uma declaração muito clara de reencarnação:] Assim é cada vida: um aparente intervalo do nascimento à morte e mais uma vez à vida, uma repetição de um instante que se foi há muito e que não pode ser revivido [no entanto, acreditamos que podemos revivê-lo]. E tudo o que existe do tempo não passa da crença louca segundo a qual o que passou ainda está aqui e agora. Isso expressa a mesma idéia acima mencionada; isto é, que cada instante que nós experienciamos em nossos corpos, percebendo a nós mesmos como seres separados, apenas revivemos aquele instante antigo. A primeira sentença do parágrafo que acabamos de citar, incidentalmente, está fraseada incorretamente na impressão original do Curso. Sua frase final estava originalmente impressa como “o terror substituiu o amor”. A versão correta, em impressões posteriores, é: “o terror tomou o lugar do amor”. A versão equivocada também já está corrigida, mas esse não é o ponto preciso que está sendo afirmado aqui. Realmente pareceu haver um único instante em que o terror tomou o lugar do amor e o ego substituiu o Céu, no entanto, naquele mesmo instante aparente, o terror foi substituído pelo amor, através da presença do Espírito Santo em nossas mentes. Essa passagem também contém uma referência à idéia já citada de que a cada momento, estamos escolhendo entre a crucificação e a ressurreição (T-14.III.4:1). Esse “morres” não se refere à morte física, é claro, mas em vez disso, à morte como um símbolo do ego. Nesse sentido, então, a cada vez em que escolhemos nos identificar com qualquer aspecto do sistema de pensamento do ego – seja isso raiva, culpa, especialismo ou dor – estamos, com efeito, morrendo, pois acreditamos que nessa escolha, nós mais uma vez matamos Deus e Cristo, e, portanto, merecemos ser mortos em troca. E, no entanto, em cada instante, também temos o poder de escolher a vida, por escolhermos nos identificar com a Voz pela Vida. (T-26.V.14) Perdoa o passado e deixa-o ir, pois ele já se foi. Tu já não te encontras na terra que está entre os dois mundos. Foste adiante e alcançaste o mundo que está na porta do Céu. , ,0, 45
Jesus está sendo otimista aqui, mas lembre-se de que dentro do instante santo – fora do tempo e espaço -, a Resposta já foi dada e então, nós realmente estamos diante da porta do Céu. Essa geralmente não é a experiência que temos, mas Jesus está nos lembrando de que existe outra parte de nós, outra fita de vídeo que poderíamos escolher, que realmente nos mostraria na porta do Céu. Nós já completamos essa jornada. P: Como isso se encaixa à declaração de que já está estabelecido o tempo em que cada mente vai aceitar a revelação de que o Pai e o Filho são um? R: Já existe uma fita de vídeo que podemos escolher, que nos faria re-experienciar aquele momento quando despertamos para o fato de que nunca nos separamos; nós já experienciamos aquele despertar. Mas o observador ainda tem o poder de escolher quando vai passar aquela fita. P: Qual é o propósito final de estarmos em um caminho espiritual agora se o tempo já foi estabelecido, se eu escolhi aquele quando iria aceitar essa revelação? R: O ponto do caminho espiritual é que ele provê os meios de nos levar ao momento no qual vamos escolher rever mentalmente o que já foi, re-experienciarmos aquele total estado da mente certa. É sobre isso que é o caminho espiritual. Parece que essa é uma jornada linear, mas nosso caminho nos treina para tirarmos o dedo do botão da mente errada, e colocá-lo no botão da mente certa em vez disso. Mas lembre-se também de que nós não estamos realmente em um caminho espiritual de forma alguma, uma vez que não estamos aqui. O que nós experienciamos como sendo um caminho é simplesmente o reflexo de uma decisão tomada na mente do observador. Anteriormente, aludi ao trabalho de Donald Hebb, um psicólogo fisiologista da McGill University, que ensinou que o aprendizado acontece quando as pessoas fazem as conexões sinápticas em seus cérebros. Conforme as pessoas repetem a mesma ação, um sulco é produzido em seus cérebros, e se torna cada vez mais profundo. Assim, se você fizer algo tal como amarrar seus sapatos de novo e de novo, vai se tornar bom nisso e um hábito estará formado; então, mesmo se for um mau hábito, i.e., amarrar seus sapatos de forma errada de novo e de novo, existe o que Hebb chamou de um ajuntamento de células que é construído, e que é muito difícil de romper. Essa é uma analogia útil da seguinte forma: se nós continuarmos escolhendo atacar e separar, que é o que nossas experiências atuais podem ser, então, o dedo sobre o botão da mente errada se torna mais forte e mais forte, mais preso àquele botão, o que torna mais difícil liberá-lo. Em outras palavras, fica muito mais difícil realmente despertar do sonho. Portanto, precisamos de experiências que nos capacitem a romper o padrão de hábito do dedo que está sempre no botão da mente errada, para que possamos começar a reforçar a escolha da mente certa. Isso significa que vamos escolher cada vez mais passar as fitas que envolvem o perdão e a união, em vez da separação. P: Em outras palavras, isso em última instância significa que existe uma parte de mim que escolheu aceitar plenamente a revelação em uma certa seqüência espaço-temporal, e, conforme eu escolho o perdão, as outra seqüências de tempo-espaço através das quais estou me movimentando vão terminar se dissolvendo, e então, haverá apenas aquele momento da minha aceitação da revelação? R: Sim, isso é exatamente o que está sendo dito. É uma forma de praticar o perdão, que é realmente um des-aprendizado – uma forma de desaprendermos o que ensinamos a nós mesmos. Nós fizemos sulcos muito profundos em termos da nossa experiência, sulcos de separação, ansiedade, culpa e raiva. E então, precisamos mudar isso; o que realmente 46
significa aprender como escolher fitas melhores, fitas de sonhos felizes, fitas de perdão, em vez daquelas de ataque. Não existe nenhum obstáculo para a Vontade de Deus, nem existe necessidade alguma de que mais uma vez repitas a jornada que terminou há tanto tempo atrás. Nós acreditamos que temos que repetir a jornada, mas na realidade, não temos que fazêlo. É isso o que o Um Curso em Milagres quer dizer em uma seção anterior, “Eu não preciso fazer nada” (T-18.VII). A salvação não precisa ser conquistada ou alcançada, mas meramente aceita. Também é isso que o Curso quer dizer quando descreve o perdão não como um “fazer”, mas como um “desfazer”. E, como vimos, existe uma declaração no texto: “É uma jornada sem distância para uma meta que nunca mudou” (T-8.VI.9:7). Olha gentilmente para o teu irmão e contempla o mundo no qual a percepção do teu ódio foi transformada em um mundo de amor. Esse é um daqueles momentos maravilhosos no Curso, nos quais ele subitamente muda para nossa experiência pessoal. O foco aqui é o mesmo que em “Os obstáculos à paz”, quando a discussão do obstáculo final se focaliza no perdão ao nosso parceiro de amor/ódio especial (T-19.IV-D.8-21). Aqui também, vemos que o que cura esse terrível instante que revivemos de novo e de novo, é olhar gentilmente para essa pessoa em particular que temos que perdoar. Essa é a ênfase muito poderosa e prática do Curso: nós não temos que ficar preocupados com conceitos metafísicos tais como a natureza ilusória do tempo. Tudo o que realmente precisamos fazer é perdoar. Nesse momento, nosso mundo será transformado do ódio para um mundo de amor; que é o lugar mais santo na terra, citado depois no texto (T-26.IX.6:1). Quando nós realmente perdoamos totalmente uma pessoa, toda a Filiação é curada. Mais uma vez, esse é o significado da declaração de que estávamos com Jesus quando ele ascendeu (ET6.5:5). Uma vez que mentes são unidas, um pensamento de cura dentro de qualquer parte da Filiação cura o todo. Esse também é o significado da lição do livro de exercícios, “Quando sou curado, não sou curado sozinho” (LE-pI.137).
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Capítulo 4 COMENTÁRIOS SOBRE “A MEMÓRIA PRESENTE” Essa seção abre o Capítulo 28 e, portanto, está entre as duas seções finais do Capítulo 27, “O sonhador do sonho” e “O ‘herói’ do sonho”, e a seção imediatamente seguinte a ela, “Revertendo efeito e causa”. As seções já mencionadas formam uma unidade de discussão sobre causa e efeito, como o ego os reverte para que a causa (a mente do sonhador) se torne o efeito, e o efeito (o sonho do mundo) se torne a causa. Assim, a função do milagre (que vamos discutir em profundidade na Parte II) é dar “de volta à causa, a função de causalidade, não de efeito” (T-28.II.9:3). Isso envolve a compreensão de que tudo está em nossa mente, e realmente não está lá fora no mundo. Por causa da importância do tema da causa e efeito para nossa discussão nessa seção, devo começar com uma breve explicação sobre isso 4. No Céu, Causa (Deus, o Criador-Pai) é totalmente unificado com Seu Efeito (Cristo e o Filho criado). Como já vimos, não existe lugar onde o Pai termina e o Filho começa. Embora exista uma distinção entre Causa e Efeito, Criador e criado, Pai e Filho, não existe consciência de dualidade no Céu para perceber isso. A unidade não-dividida de Deus e Cristo está além da capacidade de uma mente separada (e, portanto, um cérebro) de entender ou conhecer. Na separação, pareceu que o Efeito foi separado da Causa, então, agora, o efeito, o Filho de Deus, era independente da sua Causa, Deus. Esse foi o início do sonho de morte, pecado, culpa e punição do ego. O princípio de Expiação do Espírito Santo desfaz esse sonho por expressar que a Causa e Efeito nunca poderiam ser separados – uma parte de Deus nunca poderia se tornar separada Dele – e, portanto, o impossível nunca aconteceu. Mas, é claro, identificando-nos com o sistema de pensamento do ego, nós acreditamos que a separação realmente aconteceu, dessa forma colocando em movimento o truque cósmico do ego de sustentar sua própria existência ilusória. De forma sucinta, foi assim que o ego alcançou seu desígnio: o ego diz ao Filho que ele não apenas se separou de Deus, mas que cometeu um pecado hediondo, pelo qual deveria se sentir culpado, uma culpa que inevitavelmente merece punição nas mãos de um Pai vingativo. Assim, o ego primeiro estabelece o pecado e a culpa como reais, e então instrui o tolo Filho a acreditar que ele requer uma defesa contra a punição inevitável. Essa defesa é a projeção do pensamento de separação da mente, resultando em um mundo físico separado (o nascimento do universo!). Nesse mundo, o Filho acredita que pode se esconder de Deus: O mundo foi feito como um ataque a Deus. Ele simboliza o medo. E o que é o medo senão ausência de amor? Assim o mundo foi feito para ser um lugar no qual Deus não poderia entrar, e onde Seu Filho poderia estar à parte Dele (LE-pII.3.2:1-4). Finalmente, para que o artifício funcionasse, o Filho tinha que se esquecer de que fez o mundo, para que o mundo parecesse objetivamente real, fora e independente da sua mente. 4
Para uma discussão mais completa desse princípio importante, o leitor interessado pode consultar minha fita “Causa e Efeito”, que cita as seções e passagens relevantes do Um Curso em Milagres. Páginas 66-77 em Perdão e Jesus, sexta edição, também resumem esse ensinamento.
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Assim, a dinâmica da criação errônea do ego (ou feitura) é “esquecida”, negada em um golpe de mestre de estratégia tática. Agora aparece, dentro da experiência do Filho, que o mundo externo (incluindo seu próprio corpo) é a causa do seu sofrimento e dor, em vez de sua dor (i.e., sua culpa) ser a causa do mundo. Reafirmando isso agora em termos de causa e efeito, observamos que a mente separada é a causa, e o mundo físico é o efeito. Pelo fato da causa e efeito permanecerem unificados, na terra assim como no Céu, o pensamento do mundo separado nunca deixou sua fonte dentro da mente separada: o externo e o interno são um e o mesmo, assim como observador e observado. No entanto, o ego primeiro separa o efeito da causa – o mundo da mente – e depois os reverte para que o mundo agora pareça ser a causa da dor que experienciamos dentro de nós. Como devemos ver, o milagre é o artifício através do qual causa e efeito são restaurados às suas posições apropriadas. Assim, a causa da minha aflição não é externa a mim, mas em vez disso, uma decisão tomada na minha mente: minha mente é a causa da dor do meu corpo; minha aflição é o efeito inevitável da minha escolha faltosa. Para desenvolver esse princípio mais profundamente, vemos que uma causa não poderia ser o que é a menos que estivesse causando um efeito, e um efeito não poderia ser o que é a menos que estivesse sendo causado por algo. Além disso, como o tempo linear é ilusório, causa e efeito são simultâneos, como discutimos na Parte I. Assim, uma vez que causa e efeito estão intrinsecamente interligados, se uma existe, o outro tem que existir também, e, de modo oposto, se uma não existe, o outro também não existe. Os efeitos do pecado não são apenas o corpo em si, mas especificamente a dor, sofrimento e morte que experienciamos no corpo. A crença na causa (pecado) exige a crença em seu efeito (a realidade do corpo, tanto através do prazer quanto da dor), assim como a crença no efeito exige a crença na causa. Portanto, não tornar a causa (pecado) real por nos lembrarmos da nossa Identidade como Cristo remove a idéia da experiência do prazer ou da dor corporal como real. Também segue-se a isso que não tornar o efeito real (prazer ou dor do corpo) remove a crença na causa (o pecado da separação). Voltamos agora a “A memória presente”, e trazemos de volta a recordação de que o tempo não é linear. Os eventos não estão acontecendo agora nem ainda vão acontecer. Tudo já aconteceu, e o tempo é visto dentro de um modelo holográfico, em vez de linear. O uso que o Espírito Santo faz da memória, a “memória presente”, refere-se à nossa lembrança, bem aqui e agora, com a ajuda do Espírito Santo, de que nunca deixamos a Casa do nosso Pai. O uso que o ego faz da memória, por outro lado, é para nos lembrar dos nossos pecados passados, para reforçar nossa culpa, levando-nos a ter medo do futuro. Mas a faculdade da lembrança é usada pelo Espírito Santo para desfazer nossa crença no passado, para que possamos nos lembrar daquela memória antiga, “a canção esquecida”, citada na seção com o mesmo nome (veja acima, p. 59), e nos lembrarmos de que nunca deixamos Deus. Agora, começamos com “A memória presente” (T-28.I). (T-28.I.1) O milagre nada faz. Tudo o que ele faz é desfazer. E assim anula a interferência naquilo que foi feito. Ele não acrescenta, apenas retira. E o que retira já se foi há muito, mas tendo sido guardado na memória, parece ter efeitos imediatos. Esse mundo acabou há muito tempo. Os pensamentos que o fizeram já não estão mais na mente que os pensou e os amou por um breve período de tempo. O milagre apenas mostra que o passado se foi e o que se foi verdadeiramente não tem efeitos. Como o Um Curso em Milagres freqüentemente enfatiza, o milagre (assim como a Expiação, perdão ou salvação) não faz coisa alguma, uma vez que não há nada que precise ser feito. Em vez disso, ele corrige (ou desfaz) a crença do ego de que existe um problema (i.e., nossa culpa) que precisa de defesa (i.e., o mundo e o corpo), e a expiação (i.e., sacrifício e sofrimento). O ego se agarra àquela memória antiga da nossa crença em termos nos separado de Deus, e foi esse pensamento de separação que se tornou a causa do mundo do 49
corpo, sofrimento e morte. Em nossa experiência de vidas individuais, sempre que sentimos dor, ou acusamos alguém, dizemos, “Olhe para a miséria da minha vida; meu pecado contra Deus teve efeitos muito reais”. E o ego nos diz, mesmo se não estivermos conscientes disso, de que essa dor, em última instância, é nossa punição pelo que nós fizemos contra Deus. “O que retira já se foi há muito”: o milagre retira a conexão entre causa e efeito. Ele nos ajuda a entender que esses efeitos terríveis que acreditamos serem reais não o são, e, se eles não são reais – se eles não são efeitos -, não podem ter uma causa. Se algo não é uma causa, não existe, que é a maneira do Espírito Santo nos ensinar que o pecado é uma ilusão: ele nunca aconteceu realmente. É por isso que é imperativo, quando trabalhamos com o Um Curso em Milagres, reconhecermos que ele ensina que o mundo é uma ilusão. Se nós reconhecemos o mundo e, portanto, o corpo, como reais, estamos dizendo que o pecado teve efeitos. Se nós acreditarmos que o corpo é eterno, ou ressuscita e, portanto, morreu (o que, é claro, significa que uma vez viveu), estamos dizendo que o corpo tem uma realidade e, portanto, que o pecado teve um efeito e tem que ser real também. Um Curso em Milagres está nos ensinando que o corpo não é real porque o mundo não é real. Eles são ilusórios porque vieram da crença ilusória em que nós pecamos contra Deus. “Os pensamentos que o fizeram não estão mais na mente que os pensou e os amou por um breve período de tempo”: o Espírito Santo já desfez o pensamento ilusório que fez o mundo; os equívocos já foram corrigidos. (T-28.I.2) Todos os efeitos da culpa já não estão mais aqui. Pois a culpa terminou. Com a sua passagem, foram-se também as suas conseqüências, deixadas sem uma causa. Essa é outra maneira de falar o que foi discutido acima. A culpa terminou porque o pecado foi desfeito. A separação aparente de Deus, que levou à nossa culpa, foi corrigida no mesmo instante, o que significa que ele não teve quaisquer efeitos. E então, o mundo, que é o efeito da culpa, está terminado também, com todas as aparentes conseqüências de dor, sofrimento e morte. E, no entanto, nós ainda nos sentamos diante da tela, passando novamente os roteiros antigos, como se tudo estivesse acontecendo hoje, como se nosso pecado e culpa fossem reais e tivessem efeitos reais. Por que irias prender-te a ela na memória se não desejasses os seus efeitos? O pensamento expresso aqui tem implicações importantes para a teoria psicológica e a psicoterapia. O passado realmente tem um efeito sobre nós, se escolhermos no presente nos agarrarmos a ele. Estritamente falando, se eu continuar a acreditar que meus pais abusaram de mim e não me amaram, então, serei capaz de dizer: “Sim, a razão pela qual sou assim é porque fui maltratado quando era uma criança”. Tudo isso é verdadeiro dentro da natureza ilusória do mundo do ego; uma crença mantida por muitos teoristas da personalidade. A verdade real, no entanto, é que eu estou escolhendo no presente, me agarrar àquela memória. Se eu mudar minha mente no presente, então, não importando o que meus pais tenham feito ou não, isso não teria efeitos. E eu escolho me agarrar à memória amarga porque desejo seus efeitos de dor agora, porque quero negar minha responsabilidade por escolhê-los. Em vez disso, a responsabilidade é projetada no passado e em figuras específicas nele, e então, visto a “face da inocência” I(T-31.V.2:6). O mesmo é verdadeiro em um panorama mais amplo. Nós acreditamos que nosso sofrimento nesse mundo é um resultado direto do nosso pecado contra Deus, e então, nos agarramos ao passado como se ele ainda estivesse aqui. E isso é assim somente porque estamos escolhendo agora nos agarrarmos ao passado; a dor pertencente a ele é o que sustenta a existência do ego. Estamos escolhendo, como o observador, ouvir a voz do ego. Então, nós passamos as fitas do ego, que são fitas de separação, miséria, sofrimento, ansiedade, culpa, depressão, doença e morte. Além disso, estamos escolhendo passar aquelas fitas porque isso revive para nós a realidade aparente do tempo da separação. Não estamos 50
cientes de forma alguma de que o problema não é o que acreditamos estar experienciando ou observando; o problema é que estamos escolhendo, do ponto de vista do observador, tornar isso real para nós agora, embora esse “agora’ não exista mais, sendo uma defesa contra o verdadeiro agora do instante santo. Como o texto afirma: Houve um tempo no qual não tinhas consciência do que era na realidade a causa de tudo o que o mundo parecia lançar sobre ti sem o teu convite e sem a tua solicitação. De uma coisa estavas certo: entre as muitas causas que percebias como portadoras de dor e de sofrimento para ti, a tua culpa não constava (T-27.VII.7:3-4). O lembrar é tão seletivo quanto a percepção, sendo o tempo passado da percepção. É a percepção do passado como se ele estivesse ocorrendo agora e ainda estivesse presente para ser visto. Percepção, como o Curso nos ensina de novo e de novo, é uma escolha. Uma seção chamada “Percepção e escolha” (T-25.III) ensina que o que vemos vem do nosso desejo de vermos uma coisa específica, um desejo que então é projetado para fora. Conseqüentemente, vemos algo não porque ele esteja realmente ali, mas porque nós desejamos vê-lo ali. A lembrança funciona exatamente da mesma forma; a única diferença é que essa percepção, enquanto a experienciamos, acontece no presente. Estou percebendo você bem agora. Se eu me lembrar de algo que você fez ontem, então, obviamente isso está no passado. Mas o passado e o presente na mente dividida são formas diferentes da mesma ilusão. P: E sobre o tipo de situação na qual você não foi amoroso, e então, fica arrependido ou o que é chamado de “culpa saudável”? Se você então pensar que de alguma forma tem que compensar pelo que fez, essa não é também uma forma de se agarrar ao passado? R: Sim, de fato, esse é um exemplo de expiar por nossos pecados passados, e isso, é claro, torna o passado real. P: Assim também, então, é com a idéia de que a cura não pede para você fazer coisa alguma, mas, em vez disso, simplesmente para reconhecer que um equívoco foi cometido, pedir ao Espírito Santo uma percepção corrigida, e depois liberá-lo, confiando que por liberá-lo, os “males” que surgiram serão curados? R: Essa é exatamente a idéia. Se nós então nos sentirmos guiados pelo Espírito Santo a irmos falar com a pessoa, isso deveria ser feito de uma percepção correta, que iria levar a uma atitude diferente, se a cura for ocorrer. Mas, o que a maioria de nós faz é se sentir culpado por algo, e então, sentir que tem que compensar a pessoa, ou negar a culpa completamente, e continuar em frente como se nada tivesse acontecido, mas com a culpa do passado permanecendo profundamente dentro de nós. De qualquer forma, a expiação de negação do ego serve ao seu propósito de tornar o passado real. A memória, como a percepção, é uma habilidade inventada por ti para tomar o lugar do que Deus te deu na tua criação. E, como todas as coisas que fizeste, pode ser usada para servir a outro propósito e para ser um meio para alguma outra coisa. Ela pode ser usada para curar e não para ferir, se desejares que assim seja. Nós fizemos a memória porque ela obviamente implica em uma visão linear do tempo – passado e presente, e então, o tempo se torna um substituto para o presente eterno, que é o mais próximo que podemos chegar do estado da realidade. E, entretanto, apesar do seu propósito egóico de ataque, o tempo pode ser usado pelo Espírito Santo para nos ajudar. Em uma adorável declaração, Um Curso em Milagres ensina: 51
O corpo não foi feito pelo amor. No entanto, o amor não o condena e é capaz de usá-lo amorosamente, respeitando o que o Filho de Deus fez e usando-o para salválo das ilusões (T-18.VI.4:7-8). Esse ensinamento é um dos ensinamentos importantes no Curso, e é a base para nossos exemplos das fitas de vídeo do Espírito Santo ou do holograma de correção: o uso que o Espírito Santo faz do que foi feito para o propósito da separação ou ataque, como um meio de união e cura. P: Como você aplicaria essa idéia no texto ao caso de alguém que tem memórias de ter sido uma criança espancada, por exemplo? Como a memória poderia ser usada em um sentido da mente certa? R: Uma maneira poderia ser, como o Curso diz em dois lugares, pensar sobre as coisas positivas que aquela pessoa fez por você, em vez de se focalizar apenas no negativo. Por exemplo, essa declaração do texto: Tens consistentemente apreciado os esforços positivos, e deixado de ver os equívocos? Ou tua apreciação oscilou e passou a ser tênue diante do que parecia ser a luz dos seus equívocos? (T-17.V.11:7-8). Esse é um passo inicial. É como dizer, “Meus pais não eram totalmente maus”. Isso não será a cura final, mas, se tudo o que fizermos é nos focalizar no negativo, pode ser útil ver que nossos pais fizeram algumas coisas boas também. Em termos de terapia, poderia ser útil fazer a pessoa ver que ele ou ela está se focalizando apenas nas coisas ruins, mas que existiram coisas boas também. Isso seria o início de uma mudança na atitude da pessoa em relação ao passado. Uma forma mais sofisticada, no entanto, seria “lembrar” das mágoas passadas, mas dar a elas uma interpretação diferente, dizendo, por exemplo, “mas isso foi o pedido de ajuda dos meus pais, assim como o meu”. Esses passos iriam nos levar ao estágio final – a memória de Deus – que é sobre o que essa seção, “A memória presente”, está realmente falando. Devemos mencionar, entretanto, que em uma situação envolvendo uma criança espancada, existe um perigo real de pular esses passos que quase sempre são necessários no aprendizado das lições dessa sala de aula em particular. Esses passos usualmente incluem trazer à mente a memória do abuso, e permitir-se sentir a mágoa, humilhação e raiva, antes de poder então passar para uma percepção verdadeiramente misericordiosa em relação ao adulto espancador. Como uma lição do livro de exercícios termina, falando no contexto do último passo de Deus: O Próprio Deus dará o último passo. Não negues os pequenos passos que Ele te pede que dês até Ele (LE-pI.193.13:6-7). Com muita freqüência, as pessoas podem negar a dor dessas memórias que tornaram reais, mas sentir que as liberaram como parte do seu processo espiritual de perdão. Mas tudo o que realmente fizeram foi colocar uma cobertura espiritual sobre a dor, acreditando, da forma de um avestruz, que, pelo fato de não verem (ou sentirem) o problema, ele não está lá. Nas palavras que Helen Schucman, escriba do Curso, ouviu-se dizer enquanto despertava numa manhã: “Nunca subestime o poder da negação”. Em circunstâncias envolvendo eventos dolorosos tais como o abuso infantil, uma boa regra diretiva a se aplicar é que uma pessoa não teria escolhido essa fita de vídeo em particular se não houvesse lições a serem aprendidas em termos de perdoar a vitimização (em si mesmo como “vítima” e no adulto, como o “vitimador”). E, se é assim, uma lição tão dolorosa quase sempre poderia trazer à tona memórias dolorosas, 52
e, portanto, um processo doloroso de perdão. Dentro do nosso mundo de sonho, um processo assim inevitavelmente requer algum tempo. Se a “liberação” acontecer rápido demais, as chances são as de que a culpa e a raiva – já tornadas reais – não foram realmente liberadas, mas simplesmente reprimidas. Assim, elas vão subir à superfície novamente em outras formas. Como o texto diz, em relação ao pecado: Às vezes, um pecado pode ser repetido vezes e mais vezes com resultados obviamente desoladores, mas sem perder o seu apelo. E, de repente, mudas o seu status de pecado para equívoco. Agora não o repetirás, simplesmente pararás e o abandonarás a não ser que a culpa permaneça. Pois então estarás apenas mudando a forma do pecado, admitindo que ele foi um erro, mas mantendo-o incorrigível. Isso não é realmente uma mudança na tua percepção, pois é o pecado que pede punição, não o erro (T-19.III.3:3-7). (T-28.I.3) Nada do que é empregado para curar representa um esforço para fazer qualquer coisa que seja. Em outras palavras, em nossa mente certa (que é o único lugar onde a cura pode acontecer), não fazemos coisa alguma, pois nada tem que ser feito; um milagre não faz coisa alguma, simplesmente desfaz – foi assim que a seção começou. Sempre que experienciarmos a nós mesmos como empregando esforço – que é diferente dos nossos corpos se comportando de certas formas -, sabemos que nossos egos nos pegaram de jeito. Quando a Lição 155 nos diz para “dar um passo atrás e deixá-Lo indicar o caminho” (LE-pI.155), ela está afirmando o mesmo ponto que o Curso nos diz em outro trecho, sobre desfazermos as interferências que impedem o Amor e a cura do Espírito Santo de se estenderem através de nós. O amor simplesmente é; ele não faz coisa alguma. É um reconhecimento de que não tens quaisquer necessidades que signifiquem que alguma coisa tenha que ser feita. Se eu acreditar que tenho uma necessidade, então, obviamente, tenho que fazer algo sobre ela; a idéia por trás do milagre (ou cura) é que nada tem que ser feito. Isso, é claro, não significa que nossos corpos não fazem coisas no mundo, mas simplesmente que nós reconhecemos que é o Amor do Espírito Santo que está “fazendo” isso através de nós. Nossa única necessidade, portanto, é nos lembrarmos de que não temos necessidades. O Curso afirma que: ... a única oração significativa é a que pede o perdão, porque aqueles que foram perdoados têm tudo... A oração pelo perdão não é nada mais do que um pedido para que possas ser capaz de reconhecer o que já possuis (T-3.V.6:3-5). E, então, para afirmar mais uma vez, o milagre simplesmente desfaz nosso sistema de crenças falho, o que então inevitavelmente leva à memória da nossa única necessidade – o Amor de Deus. É uma memória não-seletiva, que não é usada para interferir com a verdade. Eu posso ter memórias do passado, mas não preciso julgá-las. Eu não penso “isso é uma coisa boa, ou uma coisa ruim; essa é uma boa pessoa, ou uma má pessoa”. Como uma lição inicial do livro de exercícios diz, no contexto de escolhermos os pensamentos aos quais vamos aplicar a idéia do dia de que nossos pensamentos não significam coisa alguma:
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Se já estiveres ciente de pensamentos infelizes, usa-os como sujeitos para a idéia. Todavia, não seleciones apenas os pensamentos que pensas que são “maus”. Acharás, treinando-te a olhar para os teus pensamentos, que representam uma tal mistura que, de certa forma, nenhum deles pode ser chamado de “bom” ou “mau”. É por isso que não significam nada... Nenhum deles representa os teus pensamentos reais, que estão sendo cobertos por eles. Os “bons” são apenas sombras daquilo que está além, e sombras fazem com que seja difícil ver. Os “maus” são bloqueios para a vista, e fazem com que seja impossível ver.. Não queres nenhum dos dois (LE-pI.4.1:4-7; 2:3-6). Portanto, em vez de julgar o que minha memória contém, vou entender que essas eram lições de aprendizado que eu escolhi re-experienciar, de tal forma que pudesse aprender a lição final de aceitar a Expiação. Todas as coisas que o Espírito Santo pode empregar para curar foram dadas a Ele, sem o conteúdo e os propósitos para os quais foram feitas. Elas são apenas habilidades sem uma aplicação. Elas aguardam para serem usadas. Elas não são dedicadas à coisa alguma e não têm nenhum objetivo. Agora estamos de volta ao nosso roteiro dual – tudo o que o Espírito Santo vai usar já aconteceu. Especificamente, se existir um relacionamento que realmente tenha sido terrível, ele é dado ao Espírito Santo, mas sem o propósito de especialismo do ego ao qual foi feito para servir. Assim, o relacionamento se torna um instrumento de salvação. Esse tema é reafirmado depois no texto, em uma passagem poderosa, que expressa a reinterpretação do Espírito Santo sobre o nosso especialismo: Tal é a benigna percepção do Espírito Santo do especialismo, o uso que Ele faz do que tu fizeste para curar ao invés de ferir... O especialismo que ele escolheu para feri-lo Deus designou que fosse o meio da sua salvação, a partir do mesmo instante em que a escolha foi feita (T-25.VI.4:1; 6:6). A forma permanece a mesma – o relacionamento em si -, mas o conteúdo foi mudado de um de culpa, assassinato e separação, para um santo de perdão, amor e união. Todas as coisas no mundo são neutras – “Meu corpo é uma coisa totalmente neutra” (LE-pII.294) -, esperando que um propósito seja designado a elas. Como o Curso diz: “O teste para tudo na terra é simplesmente esse; ‘Para que serve?’” (T-24.VII.6:1). As coisas ou servem ao propósito do ego ou ao do Espírito Santo, conforme a mente decidir. (T-28.I.4) O Espírito Santo, de fato, pode fazer uso da memória, pois o próprio Deus está lá. Entretanto, essa não é uma memória de eventos passados, mas apenas de um estado presente. Estás habituado há tanto tempo a acreditar que a memória guarda apenas o que é passado, que é difícil para ti compreender que ela é uma habilidade capaz de lembrar o agora. Essa é uma visão totalmente diferente da memória, e basicamente aponta para cada noção muito importante do observador, às quais estivemos nos referindo no gráfico 3. Não pode haver memória de eventos passados, pois não existem eventos passados. Existe apenas uma decisão tomada no presente pelo observador, de se agarrar à memória do pensamento de separação que não está mais lá. A memória é uma habilidade que vai nos ajudar a lembrar, em última instância, que nossa verdadeira realidade é a única que nunca deixamos. Assim, a habilidade de lembrar, que o ego fez para nos aprisionar na memória do nosso pecado de separação, agora pode ser usada pelo Espírito Santo para nos lembrar do nosso estado presente com Deus, no qual o pecado da separação nunca aconteceu. 54
As limitações que o mundo impõe à lembrança são tão grandes quanto aquelas que permitiste que o mundo te impusesse. Não existe nenhum elo da memória com o passado. Se quiseres que haja, então há. Mas apenas o teu desejo fez o elo, e só tu a prendeste a uma parte do tempo, onde a culpa ainda parece pairar. Nós estamos tão completamente identificados com a visão de tempo linear do mundo, que parece impossível para nós acreditarmos que o tempo possa ser qualquer outra coisa. Na verdade, é claro, o mundo ilusório é impotente para impor qualquer coisa a nós, pois, de fato, é simplesmente o poder de nossas mentes que coloca tais limitações sobre nós. A declaração de que não existe elo de memória ao passado refere-se ao que foi mencionado antes sobre nos agarrarmos às memórias dolorosas do passado. O que nos lembramos no presente não tem nada a ver com o passado. É realmente apenas uma escolha no presente de nos agarrarmos à nossa culpa e à crença em que a separação é real. Lembrar das coisas ruins que meus pais fizeram a mim há trinta ou quarenta anos, é apenas uma desculpa que o ego usa para alcançar seu objetivo de esconder seu pensamento básico de separação da consciência. (T-28.I.5) O uso que o Espírito Santo faz da memória está bem à parte do tempo. Ele não busca usá-la como um meio de reter o passado, mas ao invés disso, como um modo de permitir que ele se vá. A memória guarda a mensagem que recebe e faz o que lhe é dado fazer. Ela não escreve a mensagem, nem aponta para quê serve. Como o corpo, ela não tem qualquer propósito em si mesma. Essa é uma idéia importante no Um Curso em Milagres, e aparece poucas vezes. O corpo não faz coisa alguma; ele meramente executa as mensagens que a mente deu a ele. Esse tema das mensagens e mensageiros é encontrado também em “A atração da culpa” no Capítulo 19, que enfatiza que o problema são os mensageiros que nós despachamos, não as mensagens que são trazidas de volta. Os mensageiros simplesmente fazem o que nós dizemos a eles para fazerem. De forma similar, com relação ao mundo, o Curso afirma: [A paz] nega que qualquer coisa que não venha de Deus tenha a capacidade de afetar-te. Esse é o uso apropriado da negação. Não é usada para esconder nada, mas para corrigir o erro... A verdadeira negação é um instrumento de proteção poderoso. Podes e deves negar qualquer crença em que o erro possa ferir-te. Esse tipo de negação não é um encobrimento, mas uma correção... A negação do erro é uma forte defesa da verdade, mas a negação da verdade resulta em criação equivocada, que são as projeções do ego (T-2.II.1:11-13; 2:1-3,5). E se [a memória] parece servir para cultivar o ódio antigo e fazer para ti retratos das cenas de injustiças e ferimentos que estavas guardando, essa foi a mensagem que lhe pediste e assim ela é. O problema não é a forma específica das mágoas passadas que estamos trazendo de novo à mente, mas em vez disso, o fato de termos escolhido no presente, olhar apenas para aquelas mágoas passadas, aqueles ódios antigos. Assim, não é o evento ou pessoa específica que é a causa da nossa aflição, mas em vez disso, a mente dividida (ou mais apropriadamente, o tomador de decisões) que escolheu ficar transtornado para início de conversa. Uma vez que essa escolha de ficar transtornado é feita, a mente então usa as “cenas de injustiças” para justificar um sentimento pelo qual ela não quer aceitar a responsabilidade. É uma forma particularmente insidiosa e cruel de nos relacionarmos com os outros, embora nunca seja reconhecida como tal, porque nossa culpa nos impede de jamais olharmos para o que o ego nos diz ser a horrível verdade sobre nós mesmos. Na verdade, como vimos, quando finalmente somos capazes de olhar, vemos que o imperador do ego não está vestindo roupas, que sua 55
“verdade” é simplesmente inexistente. Não existem palavras que o ego mais deteste ouvir do que essa simples declaração da verdade que se seguem a uma descrição no Curso sobre a guerra do ego a Deus: “E Deus pensa de outra forma” (T-23.I.2:7). Comprometida com as cavernas da memória [do ego], a história de todo o passado do corpo lá se esconde. Todas as estranhas associações feitas para manter o passado vivo, o presente morto, estão armazenadas dentro dela, esperando pela tua ordem para que te sejam trazidas e revividas. Se nós virmos isso dentro de um contexto mais amplo, as cavernas da memória do ego são representadas pelo caleidoscópio do lado direto do gráfico 3. O passado do corpo está oculto, não no corpo ou em seu cérebro, mas na mente do tomador de decisões. Lembrando da nossa imagem sobre o observador sentado diante da tela de televisão com o controle remoto, nós apertamos um botão que é o que vemos, o que nos recordamos da nossa biblioteca de vídeo, nossos “bancos de memória”. O ego vive apenas no passado, porque é aí que ele acredita que o pecado está, enquanto o Amor do Espírito Santo, contendo a memória de Deus, vive apenas no presente, intocado pelo pecado, culpa e medo que é a “vida” do ego. Assim, esse presente não pode ser experienciado por um corpo (cérebro), mas apenas pela mente que escolheu se lembrar de Deus, no que o Um Curso em Milagres chama de instante santo. E assim os seus efeitos parecem ser aumentados pelo tempo, que levou consigo o que as causou. Nessa sentença, “efeitos” refere-se ao corpo, cujo número certamente parece aumentar conforme o tempo passa. E o mundo do tempo e espaço, com os quais estamos tão identificados, efetivamente fez seu trabalho de ocultar de nós a causa do mundo, que é o pensamento de separação, agora enterrado nas cavernas da nossa mente. Esse esquema conceitual não-linear é total e radicalmente diferente do que geralmente ouvimos apresentado. O modelo do mundo usado pelos cientistas tem sido linear em sua maior parte. Os físicos quânticos estão se afastando cada vez mais disso, embora provavelmente não fossem aceitar esse tipo de declarações que o Curso está fazendo. A teoria da relatividade de Einstein, é claro, foi uma mudança principal na maneira com que olhamos para o tempo. No entanto, não acho que esses físicos apreendam o nível de compreensão do Um Curso em Milagres de que o pensamento por trás do universo do tempo e espaço, que foi sua causa aparente, também é ilusório, sendo um pensamento de culpa. (T-28.I.6) No entanto, o tempo não é senão uma outra fase do que nada faz. Ele trabalha de mãos dadas com todos os outros atributos com os quais buscas manter oculta a verdade acerca de ti mesmo. Isso se refere ao ego, o pensamento de separação que contém a causa antiga do pecado. No entanto, esse pensamento não faz nada; ele não tem efeitos. Portanto, uma vez que o pensamento de separação não é nada, tudo o que resulta dele, tal como o tempo, também não é nada: “Idéias não deixam sua fonte”. O tempo, portanto, é só outro artifício que o ego usa – obviamente, um artifício muito poderoso, assim como o seu uso da morte, espaço e do corpo – para manter oculta a verdade sobre nós mesmos. Essa verdade, é claro, é que nós somos espírito eterno. O ego nos faria acreditar que nossa identidade é nosso corpo, preso pelo tempo e espaço. Assim, esse corpo serve como uma cortina de fumaça mais efetiva, distraindo nossa atenção da mente, onde realmente estamos.
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O tempo não leva nada embora, nem é capaz de restaurar. E, no entanto ,fazes um estranho uso dele, como se o passado tivesse causado o presente, que não é senão uma conseqüência na qual não se pode fazer mudança alguma, posto que a sua causa se foi. Esse, é claro, é o ponto de vista psicológico tradicional. Por exemplo, pegue mais uma vez alguém que acredite estar tendo problemas como um adulto porque foi abandonado enquanto era criança. Com efeito, a premissa básica aqui acaba com toda possibilidade de mudança, porque a causa se foi. Não pode existir nenhuma esperança de cura, porque o ato está feito e o passado não pode ser mudado. Dentro do sonho, o abandono de fato aconteceu. E então, uma vez que o passado não pode ser desfeito, o homem está preso: a vítima inocente e sem esperanças, como um adulto, do que foi ruim em sua infância. E então, não existe realmente nada que ele possa fazer sobre sua situação. A teoria psicanalítica é inerentemente pessimista, porque ela ensina que não existe saída: o passado não pode ser mudado. O melhor que alguém pode fazer é tentar ficar “livre” de alguns dos bloqueios (memórias prejudiciais e dolorosas). No entanto, ainda permanecemos dentro de um sistema fechado, no qual o passado realmente tem efeitos reais. Esse mesmo modelo também vale em um nível cósmico inconsciente, onde dizemos que nossos pecados contra Deus são reais, e não existe nada que possamos fazer sobre isso. Essa é a pedra fundamental na fundação do ego: não existe nada que possamos fazer sobre nossa pecaminosidade. Não podemos mudar o que o ego fez para ser a realidade; não podemos mudar nossos corpos individuais, as leis da natureza, as leis do mundo. Nós somos, para todos os propósitos e intenções, totalmente impotentes. Essa desesperança é o contexto das referências no manual à lugubridade do mundo e a exaustiva marcha do tempo (MP-1.4:4-5). Nós nos sentimos como se estivéssemos presos em uma prisão, cuja causa agora se foi, e então, não pode ser mudada. Ouvindo a voz do ego, nós acreditamos que o passado causou o presente, e que o presente agora é o efeito do passado. Então, nessa visão metafísica mais ampla, o passado antigo do nosso pecado de separação contra Deus causou todos os problemas do presente. Ele causou esse mundo, o corpo, e todos os problemas resultantes do presente. E então, esse mundo é a conseqüência ou efeito, e nenhuma mudança é jamais possível, porque a causa se foi: ela já aconteceu no passado. Finalmente, quando o Um Curso em Milagres diz que a causa ou o passado se foi, ele quer dizer algo bem diferente do que o ego diz. O passado se foi porque nunca aconteceu; ele nunca esteve lá para início de conversa. Essa é a diferença principal entre essas duas abordagens, e, dentro dela, repousa a diferença entre o Céu e o inferno. Entretanto, a mudança tem que ter uma causa que dure, ou ela não permanecerá. Nenhuma mudança pode ser feita no presente se a sua causa é o passado. Tal como usas a memória, nela tu só manténs o passado e assim ela constitui uma maneira de manter o passado contra o agora. Se algo for mudar, e, em última instância, a mente é o único lugar onde podemos fazer uma mudança verdadeira, tem que ser no nível da causa. O ego nos diz que a causa já terminou. Você não pode mudar a causa que já aconteceu, então aí fica preso às conseqüências ou aos efeitos. Por outro lado, Jesus está nos ensinando que a única maneira de podermos mudar alguma coisa é por mudarmos a causa; a crença em que nós nos separamos de Deus. Essa mudança pode acontecer apenas dentro da mente, porque é lá que a crença “reside” e é essa crença que é o problema. Um Curso em Milagres nos ajuda a fazer outra escolha por nos devolver àquele momento ancestral no qual escolhemos acreditar que poderíamos nos separar de Deus. Nós fazemos isso no contexto dos nossos relacionamentos uns com os outros, precisamente porque é dentro desse contexto que nós revivemos aquele momento ancestral de novo e de novo.
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(T-28.I.7) Não te lembres de nada do que ensinaste a ti mesmo, pois foste mal ensinado. E quem manteria uma lição sem sentido em sua mente, quando pode aprender e preservar outra melhor? Essa é outra maneira de olharmos para o propósito fundamental do Curso de nos ensinar que nós aprendemos lições sem sentido que nos fazem sofrer, e que nosso sofrimento vem, não porque simplesmente acontece a nós, mas porque nós escolhemos sofrer, para aprendermos essas lições sem sentido. Mas existe outro Professor em nossas mentes que vai nos ensinar lições diferentes. Em última instância, isso significa que existe um Professor em nossas mentes que vai nos lembrar de que deveríamos escolher Suas fitas. Esse tema de escolher outro Professor aparece freqüentemente no Um Curso em Milagres. Eu gosto de combinar uma frase dessa passagem com uma declaração anterior no texto (T-12.V.8:3), para que fique assim: “Renuncia agora como professor de ti mesmo, pois foste mal ensinado”. Quando as antigas memórias de ódio aparecem, lembra-te de que a sua causa se foi. E assim não podes compreender para que servem. Jesus agora está nos dizendo que sempre que sentirmos que estamos ficando zangados com alguém, a raiva e o ódio realmente estão vindo desse ódio ancestral, que é apenas reexperienciado de novo e de novo. Tudo o que temos que nos lembrar é que a causa se foi. A causa era o pecado de termos nos separado e esse pensamento já foi desfeito. Em termos da nossa experiência, isso se traduz em eu não ver mais você como um inimigo separado de mim: eu o vejo como meu irmão e amigo, unido a mim. Como o texto diz antes: Na separação do teu irmão teve início o primeiro ataque a ti mesmo. E é a isso que o mundo dá testemunho (T-27.VII.6:4-5). Portanto, é quando compartilhamos o interesse comum da salvação e nos unimos aos nossos irmãos, originalmente percebidos como separados de nós, que desfazemos a causa da separação. Não permitas que a causa que queres dar a elas agora seja aquilo que fez com que fossem o que eram ou pareciam ser. Fica contente porque ela se foi, pois é disso que terias que ser perdoado. A “causa” é o reviver daquele instante ancestral de ser separado e “elas” refere-se a essas memórias antigas. Em outras palavras, Jesus está nos pedindo para não tornarmos o erro da separação real. Nós seríamos absolvidos de, ou perdoados por, nosso pecado de sermos separados. Sempre que estivermos transtornados, estamos realmente trazendo á mente essa memória ancestral, que é inerentemente sem causa; sua causa foi desfeita no próprio instante em que pareceu acontecer. E vê, no seu lugar, os novos efeitos de uma causa aceita agora, com conseqüências aqui. Elas te surpreenderão com sua beleza. As novas idéias antigas que trazem consigo serão as felizes conseqüências de uma Causa tão antiga que em muito excede o alcance da memória que a tua percepção pode ver. Essa passagem foi escrita em 1967, na época em que a ênfase da psicologia de Gestalt em viver o “aqui e agora” começou a se tornar popular. A “causa aceita agora” seria o princípio de Expiação, com conseqüências de alegria e paz experienciadas agora. Isso é o que o Um Curso em Milagres chama de mundo perdoado ou real, que contém tal beleza em si:
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Tu és capaz de imaginar quão belos parecerão para ti aqueles a quem tiveres perdoado? Em nenhuma fantasia jamais viste nada tão belo. Nada do que vês aqui, dormindo ou acordado, chega perto de tamanha beleza... Pois verás o Filho de Deus. Contemplarás a beleza que o Espírito Santo ama contemplar e pela qual Ele agradece ao Pai... Essa beleza não é uma fantasia. É o mundo real, brilhante e limpo e novo, com tudo cintilando debaixo do sol aberto (T-17.II.1:1-3,6-7; 2:1-2). Ou, nas palavras de Miranda, de “A Tempestade”, de Shakespeare: Ó maravilha! Quantas criaturas adoráveis existem aqui! Quão bela é a humanidade! Ó bravo novo mundo, que tem tais pessoas em si (V,i). Essa beleza, é claro, não é qualquer coisa externa, mas em vez disso, vem da experiência interna da beleza de Cristo, nossa Identidade e a de todos os irmãos também. As “novas” idéias, tais como paz, alegria e amor, são antigas porque refletem o princípio de Expiação, que aconteceu naquele único instante. Assim, elas refletem a natureza eterna do Céu. Elas são novas apenas porque parecem ser assim em nossa experiência; novas à nossa lembrança, embora na verdade, sempre estiveram ali. (T-28.I.8) Essa é a Causa [a letra maiúscula nos diz que a causa é Deus] que o Espírito Santo tem lembrado para ti quando queres esquecer. Quando nós nos esquecemos de Deus e nos percebemos ficando transtornados, por exemplo, podemos nos lembrar de pedir ao Espírito Santo para estar presente conosco. Imediatamente, sentimos Seu toque gentil em nosso ombro, dizendo: “Meu irmão, escolhe outra vez. Não há necessidade de continuar a ver você mesmo como separado, e atacar outra pessoa; você não tem mais que proteger sua culpa, projetando-a em outra pessoa. Não existe causa para a culpa dentro de você, pois o pensamento de pecado já foi desfeito”. Assim, nós deixamos o Espírito Santo nos despertar do sonho, conforme damos boas-vindas ao Amor de Deus de volta em nossas mentes misericordiosas. A causa do nosso transtorno – a separação de Deus – foi desfeita através da nossa união com Seu Amor através do Espírito Santo, e através dessa união, todos os efeitos são desfeitos também. Ela [a Causa] não é uma causa passada porque Ele não permite que Ela deixe de ser lembrada. Ela nunca mudou, porque nunca houve um tempo em que Ele não A mantivesse a salvo em tua mente. Suas conseqüências, de fato, parecerão novas porque pensavas que não te lembravas da Causa. O estado de estar com Deus está sempre presente porque o Espírito Santo nunca permitiu que ele deixasse nossa memória, pois Ele é, na verdade, essa memória do Amor de Deus. A memória está dentro das nossas mentes, e, pelo fato de estar ali, existe uma parte de nós que realmente se lembra de que nós nunca deixamos a Casa do nosso Pai. Ainda que nossas mentes divididas possam continuar a dissociar esse Amor e transmitir apenas as fitas do ego, ainda existem as fitas do Espírito Santo dentro de nossas mentes também. Seu Amor pacientemente espera o tempo no qual aceitaremos o que Ele já aceitou por nós. Quando subitamente temos uma experiência do Amor de Deus, ela nos parece totalmente nova. No entanto, tudo o que aconteceu é que nós subitamente ficamos capazes de liberar nossos dedos do botão da mente errada do ego, e finalmente passamos uma fita na qual o Amor de Deus vai aparecer. Essa fita sempre esteve guardada para nós pelo Espírito Santo. Esse pensamento é similar a um anterior no texto, onde Jesus diz que ele tem guardado todos os 59
nossos pensamentos amorosos e benignidade e os têm mantido para nós em sua perfeita radiância (T-5.IV.8:1-4). A experiência, portanto, vai parecer nova para nós embora realmente não o seja. Nada é novo. No entanto, Ela nunca deixou de estar na tua mente, pois não foi a Vontade do teu Pai que Ele não fosse lembrado pelo Seu Filho. A Vontade do Pai vai se manifestar em nossa mente através do Espírito Santo, e esse é o elo de volta para Ele. Assim, existe sempre uma parte de nossas mentes – o tomador de decisões – que pode escolhe se lembrar do que o Espírito Santo está guardando para nós. A Vontade de Deus é simplesmente a expressão da verdade do Seu Ser, e do Ser de Cristo unido ao Dele: Pai e Filho, Deus e Cristo, nunca podem ser separados, nem esquecidos um pelo outro. (T-28.I.9) Aquilo de que tu te lembras nunca foi. Veio da ausência de causalidade, que confundiste com uma causa. Quando aprendes que te lembraste de conseqüências que não tiveram causa e jamais poderiam ter efeitos não podes deixar de rir. O “você” aqui é o tomador de decisões, ou observador em nossas mentes, que escolheu se identificar com o ego. O ego nos faria lembrar de todos os pecados do passado, que nunca aconteceram, para início de conversa. Assim, o que nos lembramos – dor, pesar e miséria – são os efeitos da sua causa: pecado. Nós agora estamos sendo ensinados, no entanto, que o pecado não teve efeitos, sendo sem causa. O pecado meramente veio de um pensamento tolo – “uma diminuta e louca idéia” – em nossas mentes, que foi desfeito no instante em que pareceu acontecer. A idéia causa-efeito, repetida de forma simples, é a de que se algo não for um efeito, não pode ter uma causa, e, se não existe causa, ele não pode existir. Nossa experiência nesse mundo consiste de tentativas contínuas de ensinarmos a nós mesmos que o pecado é real; uma causa com o efeito muito real da miséria, que prova que o pecado é assim. Mas, poderíamos com a mesma facilidade passar uma fita diferente, na qual a felicidade é o efeito em vez da miséria, mostrando-nos que o pecado não teve efeitos de forma alguma. Outra forma de dizer isso é que o mundo é sem causa. A causa aparente do pecado foi desfeita e corrigida no mesmo instante em que pareceu vir à existência. Assim, a idéia de que poderíamos realmente pecar contra nossa Fonte é tão ridícula que só poderíamos rir diante da tolice de tudo isso. Para citar essa importante passagem pela terceira vez: Juntos, nós [Jesus e nós] podemos rir dessas duas coisas [o pensamento de separação e seus efeitos aparentes], fazendo-as desaparecer e podemos compreender que o tempo não pode invadir a eternidade. É uma piada pensar que o tempo pode vir a lograr a eternidade, que significa que o tempo não existe (T27.VIII.6:4-5). Assim, finalmente, com o amor de Jesus ao nosso lado, nós nos lembramos de rir. O milagre te recorda uma Causa [Deus] para sempre presente, perfeitamente intocada pelo tempo e por qualquer interferência. Essa causa jamais foi alterada em relação ao que Ela é. E tu és o Seu efeito, tão imutável e perfeito quanto Ela. A memória dessa Causa não está no passado nem aguarda o futuro. Não é revelada nos milagres. Eles apenas te lembram que Ela não se foi. Quando tu A perdoares pelos teus pecados, Ela não será mais negada. Mais uma vez, o milagre não faz nada. Ele não nos traz o Amor de Deus, porque Seu Amor já está em nós. O milagre simplesmente nos lembra de que, na verdade, não existe 60
interferência real – i.e., pecado – ao Amor de Deus e então, nós, como extensões daquele Amor, nunca mudamos nossa realidade como Cristo. Em uma passagem anterior maravilhosa, Jesus afirma o mesmo ponto, falando do papel do Espírito Santo: A Voz do Espírito Santo não comanda, pois é incapaz de arrogância. Não exige, porque não busca o controle. Não vence, porque não ataca. Simplesmente lembra. É capaz de compelir devido apenas ao que ela te relembra (T-5.II.7:1-5). (T-28.I.10) Tu, que tens buscado fazer um julgamento a respeito do teu próprio Criador, não és capaz de compreender que não foi Ele quem julgou o Seu Filho. Essa é outra forma de dizer que pelo fato de sermos tão culpados, não podemos começar a entender que não é a Vontade de Deus que soframos. Isso é sucintamente expresso nessa declaração final de uma seção sobre o especialismo “Perdoa o teu Pai por não ser a Sua Vontade que tu fosses crucificado” (T-24.III.8:13). É impossível para nossos seres egóicos conceberem que Deus não escolheu nos crucificar ou nos punir e, é claro, é isso que nossos egos mantêm contra nosso Pai amoroso. Nossa crença em que nós pecamos contra Ele nos leva, devido à dinâmica da projeção, a acreditar que Ele tem que nos atacar em troca. Portanto, torna-se impossível para nós acreditarmos que nosso pecado, culpa e medo de punição é apenas um sonho mau que nós fizemos. Uma vez que nós julgamos contra Ele no sonho, temos que acreditar que Ele vai nos julgar também. Queres negar-Lhe os Seus Efeitos, no entanto, Eles nunca foram negados. Um Curso em Milagres afirma que Deus é a Causa Primeira e todos nós, como Cristo, somos os Efeitos dessa Primeira Causa. Além disso, como já vimos, não existe lugar algum onde Deus termina e nós começamos. No entanto, a intenção daquela diminuta e louca idéia de separação era negar que Deus foi a Causa Primeira, e que nós mesmos éramos Seus Efeitos. Assim, o Filho de Deus se tornou o ser separado da sua Fonte, sua própria origem, com causa e efeito agora o mesmo: O ego acredita estar completamente sozinho, o que é apenas uma outra forma de descrever como ele pensa que se originou... O ego é a crença da mente em estar completamente sozinha (T-4.II.8:1,4). Nunca houve um tempo no qual Seu Filho pudesse ser condenado pelo que carece de causa e é contra a Sua [de Deus] Vontade. O que a tua lembrança quer testemunhar é apenas o medo de Deus. Ele não fez o que temes. Nem tu o fizeste. E assim a tua inocência não foi perdida. Como poderia Deus nos condenar pelo pensamento de separação, que o princípio de Expiação afirma claramente que nunca aconteceu? Permanece a verdade de que ainda somos como Deus nos criou, e que Sua Vontade e a nossa são uma. Foi nossa mente dividida que inventou o drama da separação e conseguiu o impossível por nos separar da nossa Fonte. É isso o que o sistema de pensamento do ego testemunha, e, se nos identificarmos com o ego, vamos temer a retaliação de Deus. O que Jesus nos lembra aqui é que todos nós somos inocentes, o drama é faz-de-conta, e, portanto, não temos nada a temer. Não necessitas de cura para ser curado. Em quietude, vê no milagre uma lição em permitir que a Causa tenha os Seus Efeitos Próprios e em não fazer qualquer coisa que possa interferir.
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Esse ensinamento muito importante, com o qual essa seção se iniciou, e que aparece muitas outras vezes no material, é reafirmado aqui: o milagre não faz nada; a cura não faz nada; nem o perdão ou a salvação. Eles meramente corrigem a crença equivocada na separação, restaurando às nossas mentes a consciência do que sempre foi e é. Assim, nós não temos que ser curados porque nós estamos curados. Nunca houve qualquer coisa em nós que precisasse de cura. Nossa crença no pecado não era nada além de um sonho mau. Assim, “permitir que a Causa tenha os Seus Efeitos Próprios” e não interferir, significa reconhecer que o ego, em toda a sua grandiosidade, nunca usurpou, e nunca poderia usurpar Deus como a Primeira Causa. Portanto, nós ainda permanecemos como Deus nos criou – Seu Efeito para todo o sempre. Na quietude de nossas mentes, nós nos lembramos da nossa Causa – “A memória de Deus vem à mente quieta” (T-23.I.1:1). Finalmente escolhemos contra os gritos estridentes do ego, e a interferência à lembrança do nosso Criador se vai, como agora vemos: (T-28.I.11) O milagre vem em quietude à mente que pára um instante e fica quieta. Podemos ver como todo o tom da seção muda, espelhando a paz que vem quando escolhemos perdoar em vez de condenar, quando escolhemos a gentil quietude da paz do Espírito Santo em vez da cacofonia de sons da batalha do ego. Tudo o que precisamos fazer é pararmos um instante e ficarmos quietos; pararmos de passar as fitas do ego e passarmos em vez disso as fitas gentis de correção do Espírito Santo. Deixe-me apenas mencionar, mais uma vez, que ao falar sobre fitas, caleidoscópios e hologramas, estou meramente usando símbolos. Na realidade, é claro, não existem fitas, etc., mas esses símbolos são o mais próximo que podemos chegar, em termos da nossa experiência atual, de refletirmos o que parece estar acontecendo em nossas mentes. Assim, estamos falando sobre símbolos como se eles fossem reais; é sempre útil a esse respeito, nos lembrarmos da declaração no manual “palavras são apenas símbolos de símbolos. Elas são, assim, duplamente afastadas da realidade” (MP21.1:9-10) A partir daquele tempo passado em quietude e da mente que ele então curou em silêncio, o milagre alcança gentilmente outras mentes para compartilhar sua quietude. E elas unir-se-ão em nada fazer para impedir a radiante extensão deste milagre de volta à Mente Que deu origem a todas as mentes. Isso se refere à extensão do milagre, o que não é nossa responsabilidade. Nossa responsabilidade é simplesmente escolher a quietude do milagre em nossas mentes, e então, o Espírito Santo ou Jesus pega essa quietude e a estende a todas as mentes, uma vez que mentes são unidas. Como o texto declara: A única maneira de curar é ser curado. O milagre estende-se sem a tua ajuda, mas tu és necessário para que ele possa ter início. Aceita o milagre da cura e ele irá adiante devido ao que é. A sua natureza é estender-se no instante em que nasce. E ele nasce no instante em que é oferecido e recebido. Ninguém pode pedir ao outro para ser curado. Mas pode deixar-se curar e assim oferecer ao outro o que recebeu... Deixa então a transferência do teu aprendizado Àquele Que realmente compreende as leis do aprendizado e irá garantir que elas permaneçam invioladas e ilimitadas. A tua parte é apenas aplicar o que Ele te ensinou a ti mesmo e Ele fará o resto (T-27.V.1:1-7; 10:1-2). As mentes de toda a Filiação, que vão aceitar a extensão da cura de uma mente individual, então, irão se estender de volta à Mente de Deus – Criador e Causa de todas as mentes. Isso é similar à lição do livro de exercícios já citada, “Quando sou curado, não sou curado sozinho” (T-14.V). 62
Como o milagre nasceu de um ato de compartilhar [unir-se aos outros em perdão], não pode haver pausa no tempo que cause o adiamento do milagre em sua ida apressada para todas as mentes inquietas, trazendo-lhes um instante de serenidade, quando a memória de Deus retorna a elas. O que queriam lembrar está em quietude agora, e o que veio para tomar o seu lugar não será depois completamente esquecido. Em outro lugar, o texto fala sobre nossa crença em que uma enorme quantidade de tempo é necessária entre o momento em que escolhemos perdoar e quando nossas mentes finalmente são curadas (T-15.I.2:1; T-26.VIII.1:1; 3:1-2). Dessa forma, nossas mentes são finalmente curadas (T-15.I.2:1; T-26.VIII.1:1; 3:1-2). Assim, Jesus está reiterando que o milagre acontece em um instante. Ele não leva qualquer tempo porque não existe tempo, mas parece fazê-lo porque nós ainda estamos aprisionados na ilusão. Na realidade, no entanto, no instante em que perdoamos, todas as mentes são unidas e curadas conosco. Pelo fato de nossas mentes estarem realmente unidas, tudo o que temos que fazer é remover a barreira à consciência daquela realidade. É por isso que ela acontece em um instante, quando o tomador de decisões faz outra escolha. Uma vez que experienciamos o que parece ser união verdadeira com alguém, em vez de continuamente atacarmos, nunca poderemos perder essa experiência. Não importando o quanto tentemos lutar contra ela, o fato de que tivemos a experiência de paz verdadeira que vem do perdão, significa que nunca mais poderemos escolher o ego cem por cento do tempo, apesar do nosso medo de nos identificarmos com o Amor de Deus: Seu Amor nunca mais ficará “completamente esquecido”. (T-28.I.12) Ele [o Espírito Santo], a Quem o tempo é dado, agradece por cada instante de quietude que Lhe é dado. Pois nesse instante se permite à memória de Deus oferecer todos os seus tesouros ao Filho de Deus, para quem foram guardados. Como Ele os oferece alegremente àquele a quem eram destinados quando Lhe foram dados! E o Seu Criador [Deus] compartilha os Seus agradecimentos porque Ele não quer ficar privado dos Seus Efeitos. O Espírito Santo está guardando todos os tesouros (i.e., paz, alegria, amor, totalidade, eternidade) para nós, esperando pelo instante em que nós (o observador) vamos escolhê-los. Ver a face de Cristo uns nos outros é o símbolo do Curso para o perdão, e é através do perdão que todas as barreiras de culpa em nossas mentes são removidas. O que então permanece é a memória de Deus, que foi mantida no lugar pelo Espírito Santo. Isso poderia ser visto como o mais próximo que o Curso chega de uma fórmula real, sucintamente descrevendo o processo de perdão: nós vemos a face de Cristo em nosso irmão, e então, a memória de Deus alvorece em nossas mentes. A passagem se refere à alegria do Espírito Santo em nos oferecer tudo o que foi dado a Ele por Deus, Que, por seu lado, compartilha da Sua gratidão. Jesus é claro está falando de forma metafórica sobre Deus oferecendo Suas graças a nós por aceitarmos a verdade de que somos para sempre Seu Efeito: Deus não tem mente dualista que poderia oferecer graças a outro alguém. Em vez disso, a passagem se refere à gratidão que as nossas mentes divididas experienciam em aprender que Deus não está zangado por causa do que acreditamos ter feito a Ele. Sua “gratidão” é a expressão do Seu Amor, que permanece a unidade que sempre foi e sempre será, e que nós agora aceitamos. O silêncio de um instante que o Seu Filho aceite, dá boas-vindas à eternidade e a Ele [Deus] e permite que Eles entrem onde querem habitar. Pois nesse instante o Filho de Deus nada faz que o amedronte. “Eles” refere-se a Cristo (o Filho de Deus) e a Deus, que é o motivo pelo qual a palavra está em letras maiúsculas. Esse é o mesmo uso encontrado na seção no Capítulo 26, “Pois 63
Eles vieram” (T-26.IV). Portanto, na presença do Amor de Deus, todo amor automaticamente desaparece. Lembre-se da citação anterior no texto sobre a declaração bíblica “O amor perfeito expulsa o medo” (T-1.VI.5:4). O “instante” mencionado aqui é o instante santo, mas não apenas o instante santo no qual escolhemos um milagre em vez de uma ofensa. Nós achamos aqui um sentido mais cósmico para seu significado, referindo-se àquele grande instante santo no qual perdoamos totalmente, e então, a memória de Deus alvorece em nossas mentes. Isso é equivalente ao alcance do mundo real, que vem quando deixamos de escolher aqueles pensamentos que nos mantiveram com medo. (T-28.I.13) Como surge instantaneamente a memória de Deus na mente que não tem nenhum medo que a mantenha afastada! Aqui, o tempo é citado de forma diferente do seu uso mais comum no texto. O ponto principal nessa passagem é o de que todo o mundo do ego pode desaparecer em um único instante. Quando perdoarmos totalmente, todas as ilusões – nossos véus de culpa – vão desaparecer ao mesmo tempo. Nesse ponto, a memória do Amor de Deus alvorece em nossas mentes. O propósito de todo medo, é claro, é impedir que essa memória retorne a nós. Sem medo, tudo o que constitui o pensamento do ego na mente se desvanece. Uma vez que o observador em nossas mentes divididas escolhe se identificar com o Espírito Santo, não existe mais qualquer propósito em lembrar o pensamento de separação do ego, que nós agora sabemos que nunca existiu. Assim, o pensamento desaparece, como o Um Curso em Milagres diz em outro contexto, previamente citado, que ele retorna “à nulidade da qual veio” (MP13.1:2). Não há nenhum passado para manter sua [da lembrança] imagem amedrontadora impedindo o alegre despertar para a paz presente. As trombetas da eternidade ressoam através da serenidade, entretanto, não a perturbam. E o que é lembrado agora não é o medo mas a Causa e o medo foi feito para não deixar que Ela fosse lembrada e para desfazê-La. A serenidade fala em sons gentis do amor que o Filho de Deus recorda de um tempo anterior, antes que a própria lembrança se interpusesse entre o presente e o passado tornando-os inaudíveis. Quando o medo se vai, tudo o que resta em nossas mentes é a memória de Deus, mantida lá para nós pelo Espírito Santo, e, nesse ponto, começamos a ouvir as “trombetas da eternidade ressoando”. É realmente o arauto do nosso retorno para casa, agora que nosso medo foi desfeito e nós liberamos todas as memórias amargas. O que resta, mais uma vez, é a memória de Deus. Como vimos, o propósito do medo e da culpa é serem uma defesa, cortina de fumaça ou distração que nos mantém distantes da memória da nossa Causa real, Deus. O ego nos diz que nossa causa real é o ego em si, e o que nos mantém acreditando em suas mentiras é a idéia de que Deus deve ser temido. É assim que o ego usa a memória, lembrando-nos dos nossos pecados e justificando a culpa e o medo que mantêm o Amor de Deus distante de nós. Em meio a essa memória dolorosa, o Espírito Santo foi “colocado” para guardar para nós a memória dos nossos verdadeiros pensamentos do Amor de Deus: “Na crucificação, a redenção é depositada” (T-26.VII.17:1). Agora que o medo se foi, tudo o que resta é o Amor que o Espírito Santo tem guardado para nós. (T-28.I.14) Agora, o Filho de Deus está afinal ciente da Causa presente e de Seus Efeitos benignos. Isso contrasta o uso que o Espírito Santo faz da memória, que se focaliza apenas no presente, com o uso que o ego faz da memória, que está focalizada apenas no passado. A Causa, nossa Causa, está no presente. Como o Curso diz em diversos outros lugares: 64
O único aspecto do tempo que é eterno é o agora (T-5.III.6:5). A Sua ênfase, portanto, recai sobre o único aspecto do tempo que pode se estender até o infinito, pois o agora é a noção mais próxima de eternidade que esse mundo oferece (T-13.IV.7:5). Agora o único tempo que resta é o presente. É aqui, no presente, que o mundo é posto em liberdade (LE-pI.132.3:1-2). Lição 308 Esse instante é o único tempo que existe. Concebi o tempo de tal modo que derrotei o meu objetivo. Se escolho ir além do tempo para alcançar a intemporalidade, tenho que mudar a minha percepção quanto ao propósito a que ele serve. O propósito do tempo não pode ser o de fazer com que .o passado e o futuro sejam um só. O único intervalo em que posso ser salvo do tempo é agora. Pois nesse instante, o perdão veio para me libertar. O nascimento de Cristo é agora, sem passado ou futuro. Ele veio para dar ao mundo a Sua bênção presente, restituindo-o à intemporalidade e ao amor. E o amor está sempre presente, aqui e agora. Pai, agradeço-Te por esse instante. É agora que sou redimido. Esse instante é o momento que designaste para a liberação do teu Filho e para a salvação do mundo nele. O substituto para, e a defesa contra aquele instante presente são nossas memórias passadas, cujos efeitos certamente não são benignos: culpa, medo, punição, sofrimento, sacrifício e morte. Os efeitos de Deus como Causa são verdadeiramente benignos: paz, alegria, felicidade e vida eterna. Agora, ele compreende que o que fez não tem causa, não tendo quaisquer efeitos. Ele nada fez. E ao ver isso compreende que nunca teve necessidade de fazer coisa alguma e nunca fez. Essa afirmação está baseada no princípio de causa-efeito mencionado antes. Se o que eu acredito ter feito não teve efeitos, então, isso mostra que eu não poderia ter feito isso para início de conversa. Se o pecado não tem efeitos, i.e., se não existe punição, nem medo da morte, então, sua causa aparente tem que ser inexistente também. Assim, o que o ego fez é verdadeiramente nada porque os efeitos, i.e., medo e ódio foram desfeitos para nós pelo Espírito Santo. Uma vez que não existem mais efeitos, sua causa tem que ter ido também, uma vez que uma causa não pode ser uma causa, a menos que produza efeitos. Uma vez que esse princípio é aceito, nós entendemos que não temos que resolver problemas por conta própria. Deus, simbolicamente falando, já resolveu o problema por nos mostrar, através do Seu Espírito Santo, que não existe nada para ser resolvido. O ego nos diz que existe um problema, que, em última instância, é de escassez ou culpa. Esse problema, somos avisados pelo ego, tem que ser resolvido. E então, nós primeiro somos impelidos aos corpos de outras pessoas. A base dessa abordagem do ego é a crença em que o pecado, como causa, é real e, portanto, tem que ser expiado e desfeito. Jesus está apontando para nós que nada precisa ser feito, porque não existe problema que tenha que ser resolvido. Não existe pecado como causa e, portanto, nenhum efeito contra o qual precisemos nos defender.
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A sua Causa é os Seus Efeitos. Nunca houve uma outra causa além Dessa que pudesse gerar um passado ou um futuro diferentes. Os Seus Efeitos são imutavelmente eternos, além do medo e inteiramente além do mundo do pecado. A Causa do Filho de Deus é Deus, Cujos Efeitos são Seu Filho. Nós também podemos dizer que se nossa Causa (Deus) é Amor, então, o efeito do Amor seria o Amor do Filho de Deus, que é sua verdadeira Identidade. Se nós dissermos que nossa Causa é a Verdade, então, o efeito da Verdade seria nossa própria Verdade, nossa Identidade como Cristo. Em outras palavras, não pode haver nada no Efeito que não esteja na Causa. Portanto, o Filho não pode ser diferente do seu Pai em atributos, exceto que Deus é a Primeira Causa, e nós como Cristo somos Seu Efeito. Esse é o significado da frase bíblica que Jesus cita no texto: “Eu e meu Pai somos um” (T-1.II.4:7). Ouvindo nossos egos, no entanto, acreditamos que houve uma causa além de Deus, e que essa causa foi o próprio ego, o que baseia sua existência na crença no pecado, o que, por seu lado, leva à culpa. A culpa engendra tanto a preocupação em relação ao passado quanto o medo em relação ao futuro. Isso é gerado por uma única causa: a crença na separação ou no pecado. Essas passagens estão nos ensinando, no entanto, que tudo em relação ao ego desapareceu porque nunca poderia haver outra Causa além de Deus. É assim que sabemos que Deus não criou esse mundo. Nada aqui é imutável, nem eterno; e, como todos sabemos, existem elementos de medo associados a tudo nesse mundo de separação e pecado. (T-28.I.15) O que foi perdido quando se deixa de ver o que não tem causa? E onde está o sacrifício quando a memória de Deus veio para tomar o lugar da perda? Que melhor maneira de fechar a pequena brecha entre as ilusões e a realidade senão permitir que a memória de Deus flua através dela, fazendo com que venha a ser uma ponte que se atravessa em apenas um minuto para alcançar o que está além? Pois Deus a fechou com Ele Mesmo. Do ponto de vista do ego, algo realmente foi perdido – uma crença que é a origem do princípio de escassez – e nunca poderemos recuperá-lo. Na verdade, tudo o que nós perdermos é a consciência da inocência de Cristo, o que nossa pecaminosidade atesta, nós acreditamos. Nós então acreditamos que precisamos expiar, através do sacrifício, por essa perda, trazida à tona pelo nosso pecado. Assim, o sacrifício se torna uma barganha especial com Deus para ganharmos de volta Seu Amor. Quando a memória de Deus alvorece em nossas mentes, que agora está limpa através do perdão, toda dor e perda desaparecem, e nós não mais percebemos a falta de causa. A imagem de uma ponte é um símbolo proeminente no Curso, e algumas vezes se refere à ponte entre esse mundo e o mundo real. Aqui, no entanto, ela se refere à ponte entre percepção e realidade, e é o Espírito Santo que nos leva através dessa ponte. A memória do Amor de Deus – o Espírito Santo – presente nesse instante aparente de separação, fechou a brecha ilusória entre Deus e Seu Filho. Isso é discutido novamente em “Fechar a brecha” (T29.I). A Sua memória não foi embora deixando um Filho para sempre perdido em uma das margens de onde ele vislumbra a outra que nunca pode atingir. Seu Pai quer que ele seja erguido e gentilmente carregado até lá. Ele construiu a ponte [o Espírito Santo] e será Ele Quem irá transportar Seu Filho através dela. Não tenhas medo que Ele possa falhar no que é a Sua Vontade. Nem tenhas medo de ser excluído da Vontade que existe para ti. Antes, falei sobre a imagem que Helen teve de uma praia que é nosso lar – o Céu -, mas que nós sonhamos estar em uma praia distante. Essa metáfora torna claro que nosso sonho de exílio não teve efeitos sobre a verdade de onde realmente estamos. Aqui nessa passagem, a mesma imagem de uma praia é usada, mas agora, de outra forma: Deus nunca iria nos deixar 66
perdidos em uma praia, sem maneira de voltarmos para casa. No entanto, nossa crença é a de que estamos presos sem esperanças em um mundo, sem forma de voltarmos. Como o Um Curso em Milagres afirma antes: Cada um é livre para se recusar a aceitar a própria herança, mas não é livre para estabelecer o que é a sua herança (IT-3.VI.10:2). O que nos leva através da ponte são as lições que perdão que o Espírito Santo nos ensina através do milagre, o assunto principal da Parte II. Nesse ponto, tendo perdoado totalmente a todos, Deus dá o último passo e nos leva para casa. Vamos voltar ao “último passo de Deus” na Parte III.
PARTE II
O PLANO DA EXPIAÇÃO: O MILAGRE
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INTRODUÇÃO À PARTE II A maior parte da nossa discussão nessa parte irá refletir o segundo nível no qual o Um Curso em Milagres está escrito, e, nesse nível, como vimos, o Curso nos dá uma visão do tempo bem diferente das declarações metafísicas pertencentes ao primeiro nível. No Nível Dois, o tempo é visto como linear e devemos ver isso especialmente quando considerarmos algumas das passagens sobre o milagre. Isso não acontece, como já discutimos, porque o tempo seja linear, mas em vez disso, porque nós o experienciamos dessa maneira. Pelo fato de o fazermos, experienciamos o Espírito Santo trabalhando através de nós de forma linear também. Vamos ver esse tema através da maioria das passagens que vamos examinar, isto é, que o Espírito Santo nos encontra onde estamos para que possa nos ensinar o que é a verdade. É tentando entender essas passagens à parte do contexto do Nível Dois que os estudantes freqüentemente ficam confusos em relação ao que o Um Curso em Milagres está realmente dizendo. Assim, em muitos trechos, a implicação parece ser a de que o tempo é linear – passado, presente e futuro -, e que economizar tempo é uma preocupação principal. O Curso diz, por exemplo, no contexto de outros caminhos espirituais: Muitos passaram toda a vida em preparação e, de fato, atingiram os seus instantes de sucesso. Esse curso não pretende ensinar mais do que o que eles aprenderam no tempo, mas tem como objetivo economizar tempo... O teu caminho será diferente, não em relação ao propósito, mas ao meio. Um relacionamento santo é um meio de ganhar tempo... O tempo foi economizado para ti, porque tu e o teu irmão estão juntos. Esse é o meio especial que esse curso está usando para te fazer ganhar tempo... Ganha tempo para mim através dessa única preparação e pratica não fazendo nenhuma outra coisa. “Eu não preciso fazer nada” é uma afirmação de fidelidade, uma lealdade verdadeiramente sem divisão. Acredita nisso por apenas um instante e realizarás mais do que é dado a um século de contemplação u de luta contra a tentação (T-18.VII.4:4-5; 5:1-2; 6:3-4,6-8). Essa ênfase em economizar tempo parece contradizer a visão de que o tempo é ilusório e não-linear, que já enfatizamos na Parte I. Como devemos ver, no entanto, não é que o Um Curso em Milagres esteja contradizendo a si mesmo, Jesus está nos encontrando onde estamos, dentro da ilusão do tempo e sua dor concomitante. Devo voltar a essa passagem em breve. Na Parte II, reuni diversos trechos do Curso que refletem sua visão do tempo em relação ao milagre e à Expiação. Nós vamos estudar passagens selecionadas em vez de seções inteiras.
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Capítulo 5 O PLANO DO UM CURSO EM MILAGRES Nós começamos com os parágrafos dois e quatro da seção “Quem são os professores de Deus?”, no manual para professores (MP-1-2,4). Esses parágrafos, e outra passagem que devo ler do texto, constituem uma introdução à Parte II, na medida em que falam sobre o plano geral. (MP-1.2) Eles vêm de todas as partes do mundo. Vêm de todas as religiões e de nenhuma. “Eles” refere-se aos professores de Deus. Na verdade, é só no manual que a frase “professores de Deus” aparece, embora o termo esteja implícito no texto e livro de exercícios, referindo-se aos estudantes do Um Curso em Milagres. “Professor de Deus é qualquer um que escolha sê-lo” (MP-1.1:1), e, como o Curso freqüentemente explica, somos tanto professores quanto alunos ao mesmo tempo. Como um ponto de esclarecimento, Jesus certamente não quer dizer com “professor” alguém que esteja dando uma aula, dirigindo um workshop ou escrevendo um livro. Um “professor” pode ser qualquer um de nós, uma vez que tenhamos escolhido ensinar as lições de perdão do Espírito Santo que deveríamos aprender. É muito óbvio aqui, como em outros trechos, que, embora o Um Curso em Milagres definitivamente contenha um sistema de pensamento religioso, não é uma religião, i.e., uma instituição religiosa formalizada. Uma pessoa poderia ser verdadeiramente religiosa como o Curso indica, e não ser membro de uma religião organizada, e nem mesmo acreditar em Deus em um sentido conceitual. Como o panfleto Psicoterapia afirma em uma seção intitulada “O papel da religião na psicoterapia”: “Nem a crença em Deus é um conceito realmente significativo...” (P.2.II.4:4). Teístas e ateístas, sem falar nos agnósticos, simplesmente refletem sistemas de crenças, ou formas, que podem ou não compartilhar o amor, que é o único conteúdo da verdadeira religião. Nesse mundo, o amor é refletido pelo perdão, o qual, novamente, é definido no Curso como compartilhar com outro o interesse comum da salvação: Suas [do professor de Deus] qualificações consistem somente nisso: de algum modo, em algum lugar, ele fez uma opção deliberada na qual não viu seus interesses como se estivessem à parte dos de outra pessoa (MP-1.1:2). Eles são aqueles que responderam. O Chamado é universal. Ele acontece durante todo o tempo em toda parte. Chama professores que falem por Ele e redimam o mundo.
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Se nós pensarmos sobre nossa imagem no gráfico 3, do observador sentado diante de uma tela de televisão, observando o que já foi transmitido, o Espírito Santo representa esse Chamado (que é o motivo pelo qual está em letras maiúscula aqui). Ele está continuamente falando conosco em nossas mentes, onde Ele está presente, conforme experienciamos a nós mesmos dentro da dimensão linear do tempo e espaço. Esse Chamado é um apelo a nós para aprendermos e ensinarmos ao mundo que não existe pecado, a separação de Deus nunca aconteceu realmente, e o que nós acreditamos na realidade não é nada mais do que um sonho. Esse ensinamento claramente não tem nada a ver com forma, mas com o compartilhar do seu conteúdo através da nossa prática diária e contínua do perdão. Muitos O ouvem, mas poucos responderão. Isso, é claro, foi retirado da declaração do evangelho, “Muitos são chamados, mas poucos são escolhidos” (Mateus 22:14). Jesus corrige isso no texto, quando diz: “Todos são chamados, mas poucos escolhem escutar” (T-3.IV.7:12). Isso é importante: “poucos responderão”. É uma concepção errônea comum entre as pessoas que trabalham com o Um Curso em Milagres, ou outros caminhos espirituais a esse respeito, de que simplesmente por eles desejarem conscientemente praticar o princípio espiritual, já o fizeram. A Lição 185, “Eu quero a paz de Deus”, começa com a linha, “Dizer essas palavras não é nada. Mas dizê-las com real significado é tudo” (LE-pI.185.1:1-2). De forma similar, as pessoas poderiam acreditar que estão escolhendo ouvir o Chamado e O respondendo, mas elas realmente não estão fazendo coisa alguma. Como eu disse muitas outras vezes, esse não é um caminho fácil. É humilhante para um estudante do Um Curso em Milagres reler a declaração do manual para professores: “Muito poucos podem ouvir a Voz de Deus de qualquer maneira que seja...” (MP12.3:3). Todavia, tudo é uma questão de tempo. Todos responderão no final, contudo o final pode estar ainda distante, muito distante. É por isso que o plano dos professores foi estabelecido. A sua função é ganhar tempo. No final, todos vão responder, porque, como vimos, todos já responderam; no momento em que a separação aconteceu, naquele mesmo momento, ela foi desfeita. Mas no final, em termos da nossa experiência, pode estar ainda “distante, muito distante” e isso se refere ao tempo no qual todos que estão observando a tela de projeções do ego finalmente vão reconhecer que ela não é nada mais do que um sonho. O drama do ego é como o épico de Cecil B. DeMille, que em nossa experiência aqui, acontece de novo e de novo. Essa idéia de que o fim pode estar ainda muito distante será reiterada em uma passagem que trata do Julgamento Final, que devemos discutir na Parte III. Nós já vimos que uma das afirmações que o Um Curso em Milagres faz sobre si mesmo é que ele vai nos economizar tempo. “O plano dos professores” é que mais e mais pessoas ouçam o Chamado do Espírito Santo, e respondam a ele por se unirem umas às outras. É isso o que desfaz a crença na separação. Conforme as pessoas ensinam essa lição de perdão, ela é reforçada dentro de si mesmas. Cada um começa como uma única luz, mas com o Chamado no seu centro, é uma luz que não pode ser limitada. E cada uma economiza mil anos segundo o que o mundo julga acerca do tempo. Para o Chamado em Si mesmo, o tempo não tem nenhum significado. Esse é outro exemplo de como o Um Curso em Milagres é apresentado em dois níveis. Mil anos são economizados, dentro da nossa experiência do tempo como linear. Devemos ver um pouco depois, quando falarmos sobre o milagre, como a mesma idéia é repetida. Assim, estamos falando do tempo como o mundo o julga. Na realidade, é claro, não existe tempo que 70
tenha que ser economizado, que é o que a última linha diz. Para o Espírito Santo, Que está fora do tempo, sua economia não tem significado. No entanto, Ele fala conosco sobre o tempo – passado, presente e futuro – como o experienciamos, porque é assim que nossa mente dividida funciona. A linha anterior reconhece que parece que estamos trabalhando por conta própria, individualmente; mas a passagem continua, apontando que uma vez que nossas mentes são unidas, a luz que eu deixo brilhar em minha mente brilha para fora, para toda a Filiação. Uma vez que é o Espírito Santo que estende essa luz através de mim, ela não tem limites. Vamos pular agora para o parágrafo quatro. (MP-1:4) Esse é um manual para um currículo especial, voltado para os professores de uma forma especial do curso universal. Existem milhares de outras formas, todas com o mesmo resultado. A instrução dada aqui é muito importante, pois pode ajudar a impedir os estudantes do Um Curso em Milagres de cometerem o equívoco comum do especialismo espiritual. Está muito claro que o Curso é apenas uma forma entre milhares de outras de outros caminhos espirituais, todas as quais são parte do curso universal: o curso básico do Espírito Santo que ensina que nós somos todos um, e que a separação de Deus nunca aconteceu. Isso é ensinado de muitas formas diferentes, e o Um Curso em Milagres está apresentando uma dessas formas. Se nós sentirmos ressonância com seu ensinamento, ele se torna nosso caminho; se não, podemos encontrar outro. Elas meramente ganham tempo. Entretanto, é só o tempo que se desenrola exaustivamente e o mundo está muito cansado agora. Está velho e gasto e sem esperança. O propósito de qualquer caminho é poupar tempo. No atual contexto, isso significa poupar tempo no qual nós, como observadores, ficamos sentados diante da tela, “revendo mentalmente o que já foi” (LE-pI.158.4:5). Assim, os milhares de anos aos quais o Um Curso em Milagres se refere como sendo economizados por nós, são realmente o tempo que economizamos em revermos essas fitas antigas que uma vez acreditamos serem reais. Dentro da dimensão do tempo linear, no entanto, nosso tempo realmente se desenrola exaustivamente, apesar de nossas tentativas de disfarçarmos essa dor através dos nossos relacionamentos especiais. Essa é uma declaração muito clara sobre o que a maioria das pessoas no mundo sentiriam, se elas se abrissem para ela. As situações no mundo parecem piorar cada vez mais, os problemas se tornando mais complicados e aparentemente insolúveis. Isso certamente é verdadeiro sobre as situações política, social, econômica e ambiental, sem falar nas individuais. O mundo parece ir e ir, sem qualquer esperança de uma saída da dor. No contexto do gráfico 3, nós entendemos isso como passar continuamente velhas fitas, com uma sendo pior do que a outra. Nós persistimos nesse rever porque existe uma parte de nós que não quer despertar do sonho, e então, nós usamos a “realidade” do sonho como uma defesa contra o Amor de Deus, o que o ego nos preveniu que iria nos destruir se jamais retornássemos a ele. O resultado nunca esteve em questão, pois o que pode mudar a Vontade de Deus? Mas o tempo, com suas ilusões de mudança e morte, exaure o mundo e todas as coisas dentro dele. O tempo, porém, tem um fim e é isso que os professores de Deus são designados para trazer. Pois o tempo está em suas mãos. Tal foi a escolha que fizeram e ela lhes foi dada. Na realidade, não existe esperança real ou desespero aqui porque o mundo já terminou. Mas essa obviamente não é nossa experiência. E então, Jesus nos lembra no texto: “Sê paciente por um momento e lembra-te de que o resultado é tão certo quanto Deus” (T-4.II.5:8). Essa declaração claramente implica em um evento futuro, assim como a passagem aqui no 71
manual. Na realidade, no entanto, tudo o que será trazido à tona é nosso despertar do sonho do passado, para o presente eterno de Deus. A “escolha” que é citada é quando as pessoas vão escolher despertar do sonho. Em outras palavras, elas podem escolher quando vão apertar o botão da mente certa em vez do botão da mente errada, e finalmente escolherem assistir e experienciar apenas sonhos felizes. Citando novamente a introdução ao texto, nos lembramos de que livre-arbítrio “significa apenas que tu podes eleger o que queres aprender a cada momento determinado” (T-.in.1:5). Agora, vamos voltar ao texto, a seção “Eu não preciso fazer nada” (T-18.VII). O contexto dos segmentos que vamos examinar é a representação do próprio Curso como apenas um caminho espiritual. Em sua forma, ele é distintivo em comparação a outros caminhos que enfatizam longos períodos de contemplação e meditação. Esse não é o seu caminho, no entanto. Embora não se pretenda julgar outros caminhos, Jesus realmente afirma que o Curso vai funcionar mais rapidamente do que outros. Nosso problema básico é compreendido pelo Um Curso em Milagres como culpa inconsciente, a crença oculta no pecado, e nada traz isso à superfície mais rapidamente do que outra pessoa. É em nossos relacionamentos, como todos nós sabemos, que nossos botões são apertados mais fortemente, e nossa culpa adormecida, agora à tona, é inevitavelmente projetada em outros. Assim, nos é provida uma oportunidade de perdoá-la. Se nós virmos nossa culpa em outra pessoa, poderemos então lidar com o que estava inconsciente em nós mesmos. Essa é a base para a afirmação de que o Um Curso em Milagres economiza tempo. Nós vamos discutir outros aspectos disso conforme continuarmos. Antes de prosseguirmos, deixe-me falar poucas palavras sobre a visão do Curso sobre a meditação, uma vez que esse tópico aparece nessa seção do texto. Um Curso em Milagres certamente não é contra a meditação; de fato, o livro de exercícios pode ser visto como um programa de treinamento mental para ajudar os estudantes a meditarem, conforme partem para a jornada do primeiro ano com o Curso, “um início, não um fim” (LE-ep.1:1). Mas a meditação certamente não é o impulso básico do Curso. Em vez disso, seu processo é nos levar a ficar conscientes e sintonizados à presença do Espírito Santo para que O experienciemos durante o dia todo, especialmente quando formos tentados a ficarmos transtornados pelo que alguém mais fez ou deixou de fazer, ou por alguma situação problemática na qual nos encontremos. Certamente, começar cada dia meditando ou orando, e terminar cada dia de maneira similar, pensando em Deus com a freqüência que pudermos no intervalo – todos os quais o Curso sugere que façamos – pode nos ajudar a aquietar nossas mentes. Mas simplesmente fazer isso, sem trazer a presença do Espírito Santo ou de Jesus conosco para nosso dia, não vai nos despertar do sonho no qual nos escondemos. A diferença entre essas duas abordagens, portanto, pode ser vista em termos da compreensão do que é a meditação. Embora não necessariamente, a meditação pode reforçar uma separação entre o interno e o externo, uma vez que a meditação tradicional nos separa do mundo diário, levando-nos a nos retrair, da forma que é, em nossas mentes. O mundo, assim, é experienciado como pecaminoso na pior das hipóteses, ou distrativo na melhor, enquanto tentamos entrar em um espaço quieto para estarmos sozinhos com Deus, ou de qualquer forma que o Último seja concebido. E assim, o mundo do pecado é tornado real, como fica implícito lá pela metade do quarto parágrafo dessa seção (T-18.VII.4:6-11). O propósito do Curso, no entanto, é nos ajudar a entender que o interno e o externo não são realmente separados, e que não é preciso se retirar fisicamente do mundo para poder estar perto de Deus ou praticar Sua mensagem. A meta básica do Um Curso em Milagres, portanto, é nos fazer sentir a presença do Espírito Santo e lembrar da Sua mensagem durante o dia todo. Isso não significa, é claro, que se nós acharmos longos períodos de meditação pessoalmente úteis, deveríamos parar; isso seria tolo. A meditação não é o processo do Curso, mas nem é uma antítese a ele, desde que não forje separação entre o mundo e nossos pensamentos. Qualquer coisa que nos leve mais perto do Espírito Santo, capacitando-nos a 72
viver uma vida mais amorosa e pacífica no mundo, não pode ser deletéria. Mas, se a meditação não for nossa forma particular, não existe nada no Um Curso em Milagres que iria argumentar que deveríamos meditar regularmente, tão logo o programa de treinamento de um ano do livro de exercícios esteja completo. Assim como com tudo o mais, o currículo “altamente individualizado” (MP-29.2:6) de nossas vidas é guiado pelo Espírito Santo, e as decisões deveriam ser deixadas ao Seu Amor. Agora, vamos examinar o sexto parágrafo na seção, “Eu não preciso fazer nada” (T18.VII.6), já citado na Introdução a essa Parte. A linha anterior fala sobre a feliz compreensão de que “eu não preciso fazer nada”, e essa é a referência à primeira sentença aqui: (T-18.VII.6) Está aqui a liberação final que cada um algum dia achará em seu próprio caminho, em seu próprio momento. Não precisas desse tempo. O tempo foi economizado para ti, porque tu e o teu irmão estão juntos. Esse é o meio especial que esse curso está usando para te fazer ganhar tempo. Aqui, o Curso identifica a forma específica na qual ele vê a si mesmo se encaixando no plano de Expiação. Essa forma, além disso, é a cura dos relacionamentos através do perdão. Focalizar-nos nos relacionamentos como nossa sala de aula espiritual economiza tempo, porque, como já comentamos brevemente, e devemos discutir outra vez em relação ao milagre, as outras pessoas parecem trazer à nossa consciência muito da culpa que de outra forma levaria um período consideravelmente mais longo de tempo para ser trabalhada. Não estás fazendo uso do curso se insistes em usar meios que serviram bem a outros, negligenciando aquilo que foi feito para ti. Isso é similar à declaração de Jesus a Helen em meio a um zangado julgamento que ela uma vez estava fazendo sobre outra pessoa: “Não aceite o caminho de outra pessoa como seu, mas você também não deveria julgá-lo” 5. Em outras palavras, simplesmente pelo fato do Curso funcionar para você, isso não significa que você é melhor do que outra pessoa, ou que o Curso é melhor do que o caminho daquela pessoa. Sua preferência é simplesmente uma declaração de que esse é o caminho com o qual você sente ressonância. Outro caminho pode ser tão válido quando o seu. Jesus também está nos prevenindo aqui sobre nossa tentativa de seguirmos dois caminhos espirituais simultaneamente. Embora em princípio seja possível para uma pessoa praticar o Um Curso em Milagres e trilhar outro caminho também, geralmente seria muito difícil fazer isso sem conflito. Existem muitos caminhos espirituais diferentes porque existem necessidades diferentes, e um não é inerentemente melhor ou pior do que outro. No entanto, eles são diferentes, e muitas de suas idéias vão entrar em conflito. Por exemplo, se você estiver se dedicando assiduamente a um caminho, e depois fizer o mesmo com outro que contenha pensamentos que contradizem os do primeiro, o conflito será inevitável. O resultado final será que, para harmonizar a dissonância, você terá que reinterpretar certas idéias, não apenas do Curso, mas dos outros caminhos. Assim, é feito um desserviço aos dois caminhos espirituais. Portanto, é possível que trilhar outro caminho junto com o Curso venha de um medo inconsciente do que o Um Curso em Milagres está ensinando. Portanto, você dilui a mensagem do Curso por se focalizar em outro caminho; uma técnica sutil, embora comum do ego para se defender com seus ensinamentos. Assim, se nós sentirmos que o Um Curso em Milagres é nosso caminho, então, é isso o que deveríamos praticar; é aí que nossa dedicação deveria estar. E para reiterar um ponto anterior, se nós acreditarmos, depois de algum tempo, que o Curso não é para nós, então, deveríamos encontrar outro caminho para seguir. 5
Veja meu livro Ausência de Felicidade: a história de Helen Schucman e sua transcrição do Um Curso em Milagres, p. 430.
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Ganha tempo para mim [Jesus] através dessa única preparação e pratica não fazendo nenhuma outra coisa. Jesus está basicamente dizendo que a única preparação de que precisamos é aceitar que não existe nada que precisemos fazer. Nós não precisamos fazer quaisquer outros rituais ou práticas elaboradas. De fato, existem seções no texto, anteriores a essa, que afirmam que nós não temos que nos preparar para o instante santo (T-18.IV.1-5; T-18.V.2-3). Portanto a única preparação que Jesus pede a nós através de todo o Um Curso em Milagres é que reconheçamos que “Eu não preciso fazer nada”. Isso não significa que de forma comportamental nós não façamos nada. A declaração se refere em vez disso, ao fato de que nós não temos que fazer nada, porque o problema já foi resolvido para nós. Não apenas isso, a declaração também enfatiza que não existe problema fora de nós que requeira ação; o problema está dentro de nossas mentes. O ego estabelece um mundo no qual existem problemas contínuos, e então, nós passamos o resto do nosso tempo despendendo grande esforço na tentativa de resolver um problema que é, na realidade, um pseudo-problema. Esse é um dos meios usados pelo ego para nos impedir de entender que existe apenas um problema, e que esse problema, mais uma vez, está em nossas mentes – nossa crença na separação. “Eu não preciso fazer nada” é uma afirmação de fidelidade, uma lealdade verdadeiramente sem divisão. Acredita nisso por apenas um instante e realizarás mais do que é dado a um século de contemplação ou de luta contra a tentação. Isso é uma referência à nossa lealdade indivisa ao conteúdo do Um Curso em Milagres. Essa lealdade inclui Jesus, expressando nosso comprometimento em aceitarmos seu amor e os meios específicos que ele nos proveu para atingirmos isso. Além disso, como está explicado no parágrafo 4 dessa seção, nós não temos que lutar contra o pecado através da contemplação ou lutar contra tentações externas. Uma vez que o pecado não é nada mais do que um pensamento ilusório em nossas mentes, precisamos simplesmente mudar nossas mentes por reconhecermos que não precisamos fazer nada porque nada aconteceu que precise de correção. As duas seções que acabamos de considerar servem como uma introdução ao que o Um Curso em Milagres vê como um dos seus propósitos principais: economizar tempo através da cura dos relacionamentos. A discussão sobre essa economia de tempo é o cerne da Parte II; o milagre e seu papel no plano de Expiação.
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Capítulo 6 O MILAGRE Como uma forma de introduzir o conceito do milagre, me refiro ao gráfico 6, a espiral. Isso foi parte de uma mensagem pessoal que Helen recebeu 6; outra forma de Jesus ajudá-la a entender a relação entre tempo e eternidade. É muito similar ao gráfico 5, mas aqui a pequena depressão agora se torna uma espiral. Foi explicado a Helen que o tempo é como uma espiral descendente que parece romper a sólida linha da eternidade. Em outras palavras, a espiral representa o pensamento de separação que nós acreditamos ter despedaçado o Céu. Na realidade, essa linha sólida é inquebrantável: o Céu é imutável, assim como seu Filho; o relacionamento entre Criador e criação permanece tão unificado quanto sempre foi. A espiral representa o que nós acreditamos ter alcançado. Uma vantagem de ver o tempo como uma espiral, em vez de uma diminuta depressão, é que a imagem presta-se à nossa experiência do tempo passando continuamente. Se nós imaginarmos a nós mesmos em diferentes pontos da espiral, a linha parece diferente para nós, sugerindo que nossa visão do Céu e de Deus está continuamente mudando, baseada no que acreditamos ser; como sempre, a projeção faz a percepção. Ao longo da espiral, tudo é uma distorção do que a verdade é. Isso então representa a primeira lei do caos do ego, de que a verdade é relativa, e é diferente para todos (T-23.II.2:1-2). O “milagre”, portanto, concerne à reinterpretação do Espírito Santo sobre nossa experiência nessa espiral, para podermos corrigir as percepções equivocadas em nossas mentes. Pensar sobre algumas das formas em que nossos cérebros automaticamente corrigem as distorções do nosso corpo vai ajudar na compreensão do que um milagre faz em outro nível. Psicologicamente, nossos cérebros automaticamente corrigem as distorções no que parece ser o mundo objetivo. Por exemplo, a imagem que é captada pelas nossas retinas está realmente de cabeça para baixo, e nosso cérebro muito cedo em nossa vida terrena corrige esse erro, então, em vez de perceber o mundo de cabeça para baixo, nós o “percebemos” na posição correta. As compreensões equivocadas do corpo, portanto, são automaticamente corrigidas. Experimentos perceptuais famosos sobre fechamento provêem outros exemplos: um grupo de círculos é exibido a uma pessoa, e um dos círculos está incompleto, contendo uma diminuta brecha. A maioria das pessoas na-o percebe a brecha e vê o círculo como inteiro. Ao reler uma página em um livro, onde a última palavra é “o” e a primeira palavra na página seguinte também é “o”, a maioria das pessoas não vai perceber a palavra duplicada, automaticamente corrigindo o que viu. Tendo passado através das “agonias” de revisar o Um Curso em Milagres, eu posso atestar isso. Apenas muito recentemente, eu falei sobre um erro que nunca tinha visto: a palavra “search” tinha sido grafada sem a letra “r”, mas meu cérebro automaticamente acrescentou a letra que faltava. Esses exemplos das correções espontâneas do cérebro para as percepções equivocadas dos olhos são análogos a como o Espírito Santo nos ensina ao longo da espiral. Nós estamos 6
Para uma discussão mais completa sobre essa mensagem, veja meu Ausência de Felicidade, p. 117
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continuamente percebendo errado o Céu e Deus, porque O fazemos à imagem dos nossos egos punitivos. O Espírito Santo, portanto, nos ensina a perdoar, corrigindo nossas percepções equivocadas de Deus e uns dos outros. Nós começamos nosso estudo do milagre e o plano de Expiação com uma breve reflexão sobre o adorável resumo no livro de exercícios, definindo um milagre (LE-pII.13). Ao lermos isso, seria útil manter em mente a espiral do tempo e sua relação com a linha contínua da eternidade. (LE-pII.13:1) Um milagre é uma correção. Ele não cria e realmente não muda nada. Apenas olha para a devastação e lembra à mente que o que ela vê é falso. Essa passagem mostra que o milagre concerne ao segundo nível no qual o Um Curso em Milagres está escrito. Ela não se refere ao Céu de forma alguma, mas trata apenas da espiral. Sua função é corrigir a forma com que percebemos. Um objetivo do Curso é fazer nossas mentes corrigirem automaticamente o que o corpo parece ver. Um ponto importante aqui é que o milagre não faz coisa alguma literalmente; não existe nada que tenha que ser feito. Nós simplesmente desfazemos os equívocos que o ego fez. Daí a declaração aqui de que o milagre (que realmente significa nossas mentes unidas ao Espírito Santo) simplesmente olha para a devastação que o ego fez, lembrando-nos de que nós podemos fazer outra escolha e nos identificarmos com a verdade do Espírito Santo em vez de com a falsidade do ego. [O milagre] Desfaz o erro, mas não tenta ir além da percepção, nem superar a função do perdão. Assim, permanece nos limites do tempo. No entanto, prepara o caminho para a volta da intemporalidade e do despertar do amor, pois o medo tem que desaparecer com o gentil remédio que ele traz. Devemos ver essa idéia expressa também no texto. O milagre acontece dentro do tempo; ele não o abole, mas o faz entrar em colapso e, portanto, nos economiza tempo. Quando todo o tempo é corrigido e desfeito pelo milagre, ele desaparece, e a realidade do nosso estado eterno como Filho de Deus é restaurado à nossa consciência. O milagre, portanto, desfaz todos os erros do ego, deixando a mente dividida sem pecado, o estado que o Um Curso em Milagres chama de mundo real (sobre o qual vamos falar na Parte III). Nesse ponto, então, nosso mundo pessoal de ataque e separação do ego desaparece. (LE-pII.13:2) O milagre contém a dádiva da graça, pois é dado e recebido como um só. E assim ilustra a lei da verdade que o mundo não obedece porque falha inteiramente em compreender os seus caminhos. O milagre inverte a percepção que antes estava de cabeça para baixo, e assim acaba com as estranhas distorções ali manifestadas. O milagre muda as compreensões equivocadas em nossa mente errada, o que reflete o propósito do Um Curso em Milagres. Como ele afirma em dois trechos: Esse é um curso em treinamento mental (T-1.VII.4:1). O propósito do livro de exercícios é treinar a tua mente em uma forma sistemática para uma percepção diferente de tudo e todos no mundo (LE-in.4:1). Voltando à nossa espiral – conforme nos movemos pelos seus diferentes lados, refletindo nossas experiências diárias multifacetadas, nós continuamos a experienciar as coisas de forma diferente. A meta do Um Curso em Milagres, portanto, é endireitar nossas percepções equivocadas para que a espiral se torne uma linha reta; em outras palavras, para que percebamos tudo da mesma forma. Esse é o significado da oração de Ano Novo que vem no 76
final do Capítulo 15 no texto: “Faze com que esse ano seja diferente por fazer com que seja o mesmo” (T-15.XI.10:11). Agora a percepção está aberta para a verdade. Agora, vê-se o perdão justificado. (LE-pII.13:3) O perdão é o lar dos milagres. Os olhos de Cristo os enviam a tudo o que contemplam em misericórdia e amor. A percepção está corrigida à Sua vista e o que pretendia amaldiçoar veio para abençoar. O milagre muda nossa identificação com as percepções do ego. Em vez de ver as pessoas como nossas inimigas, que nos vitimaram, ou a quem acreditamos ter vitimado, vemos a todos como compartilhando as mesmas bênçãos do Espírito Santo. O milagre não nos desperta do sonho, mas corrige nossa crença equivocada de que já estamos despertos, embora na verdade, continuemos adormecidos. O milagre afeta e muda apenas o que está dentro da ilusão, e assim, prepara o caminho para o nosso despertar. O que está além do sonho não é nossa preocupação. O perdão, é claro, é o meio do milagre, e expressa essa mudança em termos de como percebemos uns aos outros; o especialismo que fizemos para amaldiçoar, agora se torna a sala de aula na qual aprendemos a abençoar. Em inspiradoras palavras de “Pois Eles vieram”: Onde estava uma cruz, agora está o Cristo ressurgido e antigas cicatrizes são curadas pelo que Ele vê. Um antigo milagre veio para abençoar e para substituir uma antiga inimizade que tinha vindo para matar (T-26.IX.8:4-5). Cada lírio de perdão oferece ao mundo inteiro o silencioso milagre do amor. E cada um é depositado diante do Verbo de Deus, sobre o altar universal do Criador e da criação, à luz da pureza perfeita e da alegria sem fim. Isso dificilmente precisa de comentários. A passagem é uma linda versão do papel do milagre e do perdão, o lírio, é claro, sendo o símbolo do Curso para o último. O altar refere-se ao lugar em nossas mentes onde escolhemos Deus ou o ego. Aqui está o altar da unicidade de Deus e Cristo. (LE-pII.13:4) O milagre é inicialmente aceito com base na fé, porque pedi-lo significa que a mente está preparada para conceber aquilo que não pode ver e que não compreende. O próprio fato de que poderíamos pedir um milagre, que significa pedir ajuda do Espírito Santo para mudarmos nossa percepção sobre algo ou alguém no mundo que atacamos, implica em que tem que existir uma parte da nossa mente que está escolhendo não se identificar com o ego. Essa parte é o que chamamos de tomador de decisões, aquele aspecto da mente dividida que escolhe se vai se identificar com o ego ou com o Espírito Santo. Ainda que não possamos entender plenamente o que reside além do ego, podemos, apesar disso, ficar cientes de que o conflito e a dor que experienciamos não é o que realmente queremos. Em vez disso, realmente queremos “o outro caminho” que Bill Thetford e Helen Schucman concordaram em encontrar juntos. Em termos da imagem no gráfico 3, pedir um milagre significa dizer que nós queremos olhar para um retrato diferente; estamos cansados de nos sentir vitimados, infelizes, culpados e ansiosos. Pelo menos queremos algo mais. Mas a fé trará as suas testemunhas para demonstrar que se baseou em algo que realmente existe. E, assim, o milagre justificará a tua fé nele e mostrará que se baseou num mundo mais real do que aquele que vias antes, um mundo redimido daquilo que pensavas que existisse.
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O fato de que nós escolhemos o milagre vai trazer a testemunha que vai nos mostrar que a Fonte do milagre está realmente presente. Embora ainda não entendamos ou experienciemos a paz do Céu, podemos pelo menos começar a entender que existe um estado de paz nesse mundo que é passível de ser atingido. Note também a declaração de que o milagre redime o mundo do pecado que nós pensamos que estava lá. Em outras palavras, o mundo em si não é modificado (ou redimido), mas simplesmente nosso pensamento sobre ele. Como o texto afirma: Portanto, não busques mudar o mundo, mas escolhe mudar a tua mente sobre o mundo. A percepção é um resultado e não uma causa. E é por isso que qualquer ordem de dificuldades em milagres é sem significado. Tudo que é contemplado com visão é curado e santo (T-21.in.1:7-10). (LE-pII.13:5) Os milagres caem como gotas de chuva regeneradora do Céu sobre um mundo seco e poeirento, aonde criaturas famintas e sedentas vêm para morrer. Agora, elas têm água. Agora, o mundo está verde. E, em toda parte, surgem sinais de vida para mostrar que o que nasceu nunca pode morrer, pois o que tem vida tem imortalidade. A primeira sentença faz eco à expressão no manual, já citada (p. 87 acima), da exaustiva desesperança do mundo (MP-1.4:4-5). E, no entanto, existe realmente esperança em um lugar tão lúgubre e sombrio: não que o mundo vá mudar (para reafirmar esse ponto importante), mas que nós podemos aprender como perceber o mundo de forma diferente. Não são nossos corpos que morrem de fome e sede, mas nossas mentes que anseiam pelo Amor de Deus que é a única coisa que pode nutri-las. Assim, o milagre restaura à nossa consciência nossa verdadeira vida como Cristo, uma vida que nunca morreu. A imagem do deserto, implícita aqui, é lindamente prenunciada na seguinte passagem de “O pequeno jardim’, descrevendo a mudança da mente da separação e ataque para a união e amor, usando os símbolos do deserto e do jardim: No teu reino diminuto tu tens tão pouco!... Olha para o deserto – seco e improdutivo, alquebrado e sem alegria que compõe o teu pequeno reino. E reconhece a vida e a alegria que o amor traria a ele do lugar de onde vem e para onde retornaria contigo. O Pensamento de Deus cerca o teu pequeno reino, aguardando na barreira que tu construíste para vir para dentro e brilhar sobre a terra estéril. Vê como a vida brota em toda parte! O deserto vem a ser um jardim, verde e profundo e quieto, oferecendo descanso àqueles que perderam o seu caminho e vagam no pó. Dá-lhes um local de refúgio, preparado pelo amor para eles onde antes havia um deserto... E sob a sua beneficência, o teu pequeno jardim se expandirá e alcançará a todos os que têm sede da água viva, mas estão por demais cansados para seguirem adiante sozinhos (T-18.VIII.8:4,6-7; 9:1-4,8). Passando ao texto agora, devemos examinar alguns poucos conceitos dos milagres que falam especificamente sobre a relação entre o milagre e o tempo (T-1.I) 7. Vamos começar com o princípio 13: 13. Milagres são tanto princípios como fins, e assim, alteram a ordem temporal. São sempre afirmações de renascimento que parecem retroceder, mas realmente avançam. Eles desfazem o passado no presente e assim liberam o futuro. É impossível entender esse princípio, e vários outros, sem entender os conceitos que são representados pela imagem do tapete no gráfico 2. Aqui mais uma vez, o Curso está falando 7
Para uma análise mais detalhada sobre os cinqüenta princípios dos milagres, o leitor pode consultar meu Os Cinqüenta Princípios dos Milagres do Um Curso em Milagres.
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sobre o milagre como se ele funcionasse dentro de um mundo de tempo linear. Isso não significa que o tempo realmente seja linear, mas, uma vez que é isso o que acreditamos, é aí que a correção é necessária. Em relação ao tapete do tempo no gráfico 1, estamos todos presos em algum lugar desse tapete, e o processo é voltarmos para o lado esquerdo do tapete: Céu, Deus e Cristo. Dentro do mundo do tempo, o mundo da ilusão, parece que essa é uma jornada muito longa. Portanto, quando o Curso diz que o milagre economiza tempo, ele se refere a economizar tempo dentro da ilusão dessa jornada, e dentro dessa ilusão, realmente parece que desfazer nossa culpa vai levar um tempo extremamente longo. Em uma brincadeira engraçadinha com palavras depois, Jesus afirma o mesmo ponto com relação à necessidade de vigiarmos nossos pensamentos de medo: “Podes pensar que neste ponto, seria necessário um milagre para capacitar-te a fazer isso, o que é perfeitamente verdadeiro” (T-2.VII.1:8). Vamos presumir, por exemplo, que exista uma enorme quantidade de culpa que esteja associada a um problema em particular, a uma forma particular na qual no sentimos vitimados por alguém que parece justificar nossa raiva contra essa pessoa. Vamos dizer, dentro do curso normal dos eventos nesse tapete, que levaríamos diversas vidas para trabalhar esse problema e/ou relacionamento. O milagre, se escolhermos permitir isso, nos capacita a desfazer essa massiva quantidade de culpa no contexto do relacionamento específico, e verdadeiramente perdoarmos aquela pessoa nessa vida. Perdoar aquela massa de culpa de forma bem sucedida é o que economiza tempo, por desfazer o passado e liberar o futuro. Refletida aqui, portanto, está a idéia de que a culpa existe no passado – nós nos sentimos culpados por causa de algo que acreditamos ter feito ou que deixamos de fazer, o significado do pecado. Nossa culpa é projetada no futuro, onde acreditamos que merecemos ser punidos. Nós então nos esquecemos de que fomos nós que projetamos nossa culpa, e então, agora acreditamos que as pessoas estão nos vitimando injustamente. Assim, o milagre reflete a mudança da mente que nos capacita a liberar nossa culpa, a crença em nossa pecaminosidade passada. Isso então liberta o Espírito Santo para trabalhar através de nós no sentido de que nós agora estamos permitindo que a extensão do Seu Amor aconteça. Nas palavras da Lição 194: “Eu coloco o futuro nas Mãos de Deus” (LE-pI.194). Isso não é possível enquanto nos agarrarmos à culpa do ego. E é possível, é claro, quando liberamos a culpa, e é isso o que libera o futuro. Os “princípios e os fins” que são citados podem ser compreendidos como o princípio e o fim de um relacionamento. O “princípio” seria o relacionamento especial que o ego tornou real, enquanto o “fim” é o perdão a esse relacionamento – tornando-o santo. Passamos agora para o princípio 15: 15. Cada dia deve ser devotado aos milagres. O propósito do tempo é fazer com que sejas capaz de aprender como usá-lo construtivamente. É, portanto, um instrumento de ensino e um meio para um fim. O tempo cessará quando não for mais útil para facilitar o aprendizado. O ponto aqui é que o ego fez o tempo como uma forma de nos aprisionar, reforçando nossa crença em que a separação e a culpa são reais, e então, nosso medo da punição é justificado. O Espírito Santo, no entanto, usa o tempo à sua própria maneira dentro da ilusão, então, Ele nos ensina algo mais. Como uma forma de esclarecer essa idéia, deixe-me ler uma passagem do Capítulo 2 no texto. Essa é uma idéia muito importante em termos da compreensão do motivo pelo qual, no nível um, Jesus fala sobre o tempo como uma ilusão, com o mundo já tendo terminado, e, no entanto, no outro nível, dentro do contexto da nossa experiência aqui, ele fala sobre o tempo como se fosse real. O contexto dessa passagem, e o que se segue a ela, é o uso da mágica, e especificamente suas formas médicas. Mágica, incidentalmente, é compreendida pelo Curso como qualquer coisa que tente resolver nossos problemas por se voltar para suas manifestações externas, em vez de para sua fonte (culpa) dentro de nossas mentes. Jesus está ensinando aqui que o uso da mágica não é mau ou pecaminoso; a importância da forma de ajuda reside no propósito para o qual ela é utilizada: 79
O valor da Expiação não está na maneira na qual ela é expressa. De fato, se é usada de forma verdadeira, inevitavelmente vai ser expressada do modo que for mais útil para quem recebe, seja ele qual for. Isso significa que um milagre, para atingir a sua plena eficácia, tem que ser expressado em uma linguagem que aquele que recebe possa compreender sem medo. Isso não significa necessariamente que esse é o mais elevado nível de comunicação do qual ele é capaz. Significa, contudo, que é o nível mais alto de comunicação do qual ele é capaz agora. Todo o objetivo do milagre é elevar o nível da comunicação e não descê-lo por aumentar o medo (T2.IV.5). Isso se encaixa com o que eu disse na Parte I – que o Curso está vindo para atender a uma necessidade específica que temos agora, mas que não é o mais alto nível de comunicação de que somos capazes. Claramente, no entanto, é o nível mais elevado que podemos aceitar nesse ponto na história humana, quando ainda estamos tão preocupados com o auto-centramento fundamental do ego, ganância, alcançar o prazer, e especialismo desmedido. Jesus muito especificamente nos encontra onde nós estamos, e nos provê com sua gentil correção de perdão para nos ajudar ao longo da nossa jornada para casa. Nós obviamente tornamos o tempo muito real, o que é muito aparente em nosso mundo ocidental contemporâneo, com sua quase obsessão por economizar tempo: refeições rápidas, viagens rápidas, e o anseio por soluções rápidas, seja através de drogas, sexo, ou aquisição instantânea de saúde. Assim, precisamos de um sistema de pensamento que venha dentro dessa moldura, e nos ensine que o propósito é economizar tempo através do milagre. Dessa forma, Um Curso em Milagres fala sobre o milagre como o cancelamento do passado e a liberação do futuro. Na realidade, nada disso é real, uma vez que já aconteceu e já foi desfeito. Como discutimos na Parte I, estamos sentados fora do tempo, como o observador, revivendo o que já aconteceu (gráfico 3). Mais uma vez, essa ênfase em economizar tempo não é o mais alto nível de comunicação que somos capazes de entender, mas é o mais alto nível que somos capazes de entender agora. Outra forma de dizer a mesma coisa é que uma das razões pelas quais o mundo tem sido uma armadilha tão grande é que nos esquecemos da relação entre causa e efeito, e do poder de nossas mentes que literalmente fez esse mundo. Nós acreditamos na realidade do mundo físico porque reprimimos o fato de que nós o fizemos. Um foco principal no ensinamento do Um Curso em Milagres é restaurar à mente a consciência do poder que ela tem de ser a causa de todas as ilusões. Para reafirmar a passagem já citada (p. 73 acima): O milagre é o primeiro passo na devolução à Causa [a mente] da função da causalidade, não do efeito (T-28.II.9:3). Voltando ao princípio 15: o tempo é usado pelo Espírito Santo como um “instrumento de ensino” não porque seja real, mas porque é um meio através do qual podemos aprender. Quando tivermos aprendido nossas lições, o tempo vai desaparecer. Como o tempo não foi feito por Deus, ele não é eterno, durando apenas enquanto o sonho que o fez surgir for considerado realidade. Agora, vamos examinar o princípio 48: 48. O milagre é o único instrumento à tua disposição imediata para controlar o tempo. Só a revelação o transcende, não tendo absolutamente nada a ver com o tempo. O milagre, então, é o único instrumento que controla, desfaz e economiza tempo para nós. É um instrumento muito importante à nossa disposição, como estudantes do Curso, considerando-se que a revelação encerra uma súbita mudança para a mentalidade Única, sendo uma comunicação direta de Deus a nós, transcendendo o tempo inteiramente. O milagre encerra uma mudança da mente errada para a mente certa; assim, ele nos economiza tempo, mas não o abole. O milagre corrige nossos equívocos; a revelação os transcende. 80
Voltamos agora à segunda seção do Capítulo 1, parágrafo seis (T-1.II.6), que resume muitos dos princípios dos milagres, particularmente aqueles que discutem as propriedades de economizar tempo do milagre. De fato, ele é uma elaboração do princípio 47, que cito abaixo. Conforme passarmos por esse parágrafo, será útil manter em mente a imagem do tapete no gráfico 2. Ligados à linha pontilhada no meio do gráfico, que representa a linha divisória no tapete do tempo, existem dois pontos, “A” e “B”. “A” representa o ponto em que acreditamos estar, vamos dizer, presos com um problema ou culpa em um relacionamento. Dentro do desenrolar normal do tempo, seriam necessários milhares de anos para trabalharmos essa culpa. Em outras palavras, iríamos re-experienciar o mesmo padrão que está nessa fita de vídeo de novo e de novo. O milagre nos eleva acima do tapete verticalmente, levando-nos de volta para perto do início do tempo, no ponto “B”, onde nós gentilmente descemos de volta no tapete. Essa é uma forma metafórica de descrever como o milagre nos economiza tempo. No instante em que escolhemos o milagre e perdoamos, pulamos os “milhares de anos” que seriam necessários para liberarmos nossas mágoas por termos sido injustamente tratados. Dentro do contexto do gráfico 3, “economizar tempo” pode ser entendido como a quantidade de tempo que levaríamos para apertar o botão de sonho feliz do Espírito Santo, em vez do botão do pesadelo do ego, escolhendo apenas aquelas fitas de vídeo que são curativas e misericordiosas. Finalmente, notamos que o milagre é intemporal, na medida em que não obedece às leis do tempo, no entanto, ele acontece em “um intervalo temporal fora do padrão”. Assim, o milagre realmente acontece fora do tempo, embora seja experienciado dentro dele. Essa é sua natureza paradoxal, como é visto no princípio 47: 47. O milagre é um instrumento de aprendizado que faz com que a necessidade de tempo diminua. Ele estabelece um intervalo temporal fora do padrão, que não está sujeito às leis usuais do tempo. Nesse sentido ele é intemporal. Nós começamos agora com o Capítulo 1, seção II, parágrafo 6: (T-1.II.6) O milagre minimiza a necessidade de tempo. No plano longitudinal ou horizontal [uma visão linear do tempo], o reconhecimento da igualdade dos membros da Filiação parece envolver um tempo quase sem fim. Pelo fato do propósito do Espírito Santo para o tempo ser o de desfazer a culpa, por Ele nos levar a desfazer a culpa mais rapidamente, nossa necessidade de tempo diminui. Dentro da ilusão do tempo, o reconhecimento de que o Pai e o Filho são um, e que a Filiação é uma em Si Mesma, iria parecer levar uma quantidade infinita de tempo, com o fim ainda muito distante. Como é dito depois no texto (T-2.VIII.2:5), o processo poderia levar milhares de anos. Isso parece assim para nós por causa da tremenda quantidade de culpa e medo que parecem estar presentes no mundo, sem falar em nossos relacionamentos especiais individuais. Contudo, o milagre acarreta uma passagem repentina da percepção horizontal para a vertical. Isso introduz um intervalo do qual ambos, tanto o doador como quem recebe, emergem mais adianta no tempo do que teriam estado de outra forma. O milagre tem então a propriedade única de abolir o tempo, na medida em que torna desnecessário o intervalo de tempo que atravessa. Em vez de voltarmos de uma forma linear pelo tapete do tempo, somos levantados acima do tapete pelo milagre. É isso o que quer dizer “vertical”. O doador e quem recebe (i.e., o perdão) agora vão do ponto “A” para o ponto “B”. Portanto, não é necessário experienciar esse intervalo de milhares de anos, pois uma vez que a lição é aprendida, esse tempo não é mais necessário. Seu propósito – o do Espírito Santo – de desfazer a culpa foi cumprido, e a experiência futura do tempo é desnecessária. 81
Não há relação entre o tempo que leva um milagre e o tempo que ele cobre. Um milagre leva apenas um instante, o que o Um Curso em Milagres chama de um “instante santo” e, no entanto, o tempo que ele cobre, como vemos no gráfico, poderia ser de mil anos. Isso parece desafiar todas as leis da lógica, apenas porque nossas leis de lógica lidam com uma visão linear do tempo. O funcionamento dos milagres faz muito mais sentido se nós entendermos que o tempo não é nada mais do que um “truque de mãos”, um truque de mágica que o ego fez conosco, como já discutido (veja acima, p. 10-11). O tempo, no entanto, pode ser visto de uma forma totalmente diferente – como entrando em colapso em um instante. O Curso não requer, como vimos, que nós entendamos a metafísica do tempo; ele meramente pede que entendamos a importância de escolher um milagre. O milagre substitui um aprendizado que poderia ter levado milhares de anos. Faz isso através do reconhecimento subjacente da perfeita igualdade entre quem dá e quem recebe na qual o milagre se baseia. A falta de diferença entre o doador e o receptor é uma dimensão principal subjacente ao milagre. O livro de exercícios diz “Dar e receber são o mesmo na verdade” (LE-pI.108): não existe separação entre nós; todos nós somos o mesmo. Da perspectiva da espiral, que nós consideramos no gráfico 6, parece que todos nós somos diferentes, e nossa percepção é distorcida e muda de um momento para outro. Na realidade, no entanto, todas as coisas são a mesma, uma vez que ilusões diferem apenas em forma; seu conteúdo permanece um. O milagre encurta o tempo, colapsando-o, assim eliminando certos intervalos dentro dele. Faz isso, porém dentro de uma seqüência temporal mais ampla. Os milagres removem o intervalo de tempo entre “A” e “B” no gráfico 2, e, dessa forma, colapsam o tempo. O milagre não abole o tempo, no entanto, pois ele é experienciado dentro da ilusão da sua seqüência temporal. Portanto, todo o propósito do milagre, como o próprio Um Curso em Milagres, é nos economizar tempo. P: Aquela linha que diz “o milagre substitui o aprendizado que poderia ter levado milhares de anos” parece deixar implícito que se tudo acontecesse simultaneamente em um único instante, o milagre iria eliminar a necessidade de trabalhar para corrigir os relacionamentos um a um. Dizer que “milhares de anos” seriam colapsados pelo milagre parece implicar que toda uma carga de culpa envolvendo um certo tipo de padrão de vitimação, seria colapsado através de todas as encarnações linearmente. R: Correto. De fato, se você pensar nisso em termos de um computador tendo todos esses programas de vitimação, quando você pede uma correção, está realmente apertando o botão delete, dessa forma cancelando todos os programas de vitimação. É por isso que, em certo sentido, precisamos de uma imagem de um tapete, porque ela expressa a linearidade na qual acreditamos. No entanto, para que entendamos melhor como o milagre funciona, uma imagem não-linear holográfica transmitida pela ilustração do computador é preferível. Existe uma ótima passagem no texto ilustrando essa idéia de economizar tempo através do perdão: Em primeiro lugar, o teu irmão será visto entre elas, mas milhares estarão por trás dele, e por trás de cada um deles, outros mil. Cada um pode aparentar ter um problema que é diferente do resto. No entanto, eles são solucionados juntos (T27.V.10:4-6). Vamos passar agora para a seção V do Capítulo 1, parágrafo dois (T-1.V.2): 82
(T-1.V.2) A decisão básica daquele que tem a mente voltada para o milagre é não esperar no tempo mais do que o necessário. O tempo pode desperdiçar assim como ser desperdiçado. O trabalhador de milagres, portanto, aceita com contentamento o fator de controle do tempo. Esta segunda sentença obviamente é um trocadilho. Tradutores do Curso têm tido momentos muito difíceis com essa linha, porque eles não entendem o “desperdiçar tempo” no idioma inglês, que não tem paralelo em outras línguas. O impulso básico nessa linha é que nós poderíamos usar o tempo a nosso favor por considerarmos o mundo de tempo linear como uma sala de aula na qual aprendemos que não existe tempo. A menção ao fator de “controle do tempo” é um vislumbre do próximo capítulo, onde Jesus discute nossa necessidade de entregarmos a ele tudo o que não importa, colocando nossos egos sob seu controle para que ele possa então nos guiar no que importa (T-2.VI.1:3). E então, depois, ele nos lembra de que “tempo e espaço estão sob meu controle” (T-2.VII.7:9). Isso significa que quando voltarmos nossas mentes para ele, seu amor poderá então nos direcionar dentro do mundo ilusório do tempo e do espaço para aprendermos nossas lições de perdão através do milagre. E assim, a “observação do tempo” é economizada para nós, pois Jesus agora é nosso guia de fita de vídeo em vez do ego. P: Isso implicaria em que a procrastinação é um artifício do ego – que o tempo pode desgastar nossas habilidades ou nos debilitar? R: Sim, e nessa sentença, encontramos um sujeito e predicado invertidos. Nós falamos sobre desperdiçar tempo, mas isso diz que o tempo desperdiça. Ele [o trabalhador de milagres] reconhece que cada colapso de tempo traz a todos para mais perto da liberação final do tempo, na qual o Filho e o Pai são um. Isso aponta para a Lição 158, que, como vimos, afirma que o tempo no qual a revelação de que o Pai e o Filho são um já aconteceu. A idéia principal nesse parágrafo é que todas as mentes são unidas. É por isso que a resposta à pergunta no manual, “Quantos professores de Deus são necessários para salvar o mundo?” é “um” (MP-12.1:1). Pelo fato da mente de Jesus estar totalmente curada, a mente da Filiação está curada também. O princípio de Expiação provou ser verdadeiro. Mas somos lembrados nos Curso de que o Espírito Santo guarda aquele pensamento de cura – qualquer pensamento amoroso da Filiação – para nós, até que chegue o momento em que estejamos prontos para aceitá-lo (T-6.V-C.1; T-9.II.3; T-11.VIII.2). Não podemos evitar nossa responsabilidade de aceitarmos a verdade que já está presente em nossas mentes. Assim, enquanto acreditamos estar dentro do sonho, nossas mentes ainda têm que ser curadas; mas, em outro nível, pelo fato das mentes serem unidas, se a mente de Jesus está curada, então, as mentes de todos estão curadas também. Igualdade não implica igualdade agora. Dentro da ilusão do tempo, algumas pessoas vão parecer estar mais próximas de voltar para casa no tapete do que outras. Algumas terão habilidades espirituais mais altamente desenvolvidas do que outras; esse é um fato dentro do mundo, que não pode ser negado. Nem ele é negado pelo Um Curso em Milagres. Assim, por exemplo, o manual fala dos professores, professores avançados e Professores dos professores. A última categoria, é claro, inclui Jesus, que, dentro do mundo de tempo e espaço, é mais avançado do que qualquer um de nós. Mas isso é apenas dentro da ilusão do tempo. Como ele diz:
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Não há nada em mim que tu não possas atingir. Eu nada tenho que não venha de Deus. A diferença entre nós agora é que eu não tenho nada mais. Isso me deixa em um estado que em ti é apenas potencial. “Ninguém vem ao Pai senão por mim” não significa que eu seja de qualquer modo separado ou diferente de ti exceto no tempo, e o tempo realmente não existe (T1.II.3:10-4:1). De forma similar, mais para frente no texto, Jesus nos lembra para não negarmos nossa experiência de culpa dentro do sonho do tempo: Tu não és sem culpa no tempo, mas na eternidade (T-13.I.3:2). Nossa próxima discussão nos leva à segunda seção do Capítulo 2 (T-2.II.5): (T-2.II.5) A Expiação foi construída dentro da crença no espaço-tempo de forma a estabelecer um limite para a necessidade da própria crença e, em última instância, para tornar o aprendizado completo. A Expiação é a lição final. O aprendizado em si, assim como as salas de aula em que ocorre, é temporário. Nós fizemos o espaço e o tempo no instante em que o ego pareceu acontecer, e, no mesmo instante, Deus “deu” o Espírito Santo como a Correção, e o princípio de Expiação. Isso então se torna um limite ao mundo de tempo do ego, e estabelece o fato de que o equívoco foi curado. (Mais pra frente no Capítulo 2, como já citado, Jesus fala da Expiação [ou Espírito Santo] como sendo o limite que Deus estabeleceu à habilidade de seu Filho de criar equivocadamente). Um Curso em Milagres usa metáforas como salas de aula o tempo todo – seu próprio título é pedagógico. Assim, o Curso descreve o mundo do tempo e espaço como uma sala de aula. Quando escolhemos um curso em uma universidade e o completamos, não precisamos mais dele. A situação é a mesma aqui. A Expiação é a lição final, e a aceitação total da Expiação para si mesmo é o reconhecimento final de que a separação de Deus nunca aconteceu. Quando nós finalmente tivermos aprendido essa lição, a sala de aula desaparece, assim como o próprio ego. A capacidade de aprender não tem nenhum valor quando a mudança já não é necessária. Os que são eternamente criativos não têm nada a aprender. Tu podes aprender a melhorar as tuas percepções e podes vir a ser um aprendiz cada vez melhor. Isso te levará à um acordo cada vez maior com a Filiação, mas a Filiação em si mesma é uma Criação perfeita e a perfeição não é uma questão de grau. O aprendizado só é significativo enquanto existe uma crença em diferenças. O aprendizado não pode existir no Céu, onde existe apenas perfeição. O aprendizado é requerido apenas dentro desse mundo. Em termos do gráfico 6, nós acreditamos estar na espiral, e então, temos que aprender que a espiral não é nosso verdadeiro lar. Quando, mais uma vez, finalmente aprendermos nossa lição, a espiral desaparecerá. Nosso aprendizado só pode acontecer pelo fato do Espírito Santo ter se unido a nós na espiral para nos ajudar a corrigir e endireitar nossas percepções equivocadas. “A Filiação” refere-se à unidade de Cristo, da qual somos uma parte. Na analogia do tapete no gráfico 2, a unidade de Cristo é representada do lado esquerdo. Quanto mais formos em direção ao lado esquerdo do gráfico, digamos, do ponto “A” para o ponto “B”, e ainda mais para trás, mais perto chegaremos do acordo com a Filiação. Como as linhas finais da passagem afirmam, é apenas dentro do mundo imperfeito e erroneamente criado de tempo e espaço que encontramos graus; uma crença equivocada que precisa do nosso aprendizado. Uma vez que aprendemos totalmente nossas lições, tudo o que resta em nossas mentes é a pura experiência da nossa unicidade 84
com Cristo e com Deus. Até então, no entanto, aprender é necessário para nos ajudar a desaprender o sistema de pensamento de diferenças do ego. (T-2.II.6) A evolução é um processo no qual aparentemente passas de um estádio ao seguinte. Corriges os teus passos equivocados anteriores caminhando para a frente. Essa afirmação não faz sentido quando você considera que a evolução procede de forma linear através do tempo. De forma similar, quase todas as pessoas falam sobre sua vida espiritual como uma jornada que também prossegue linearmente através do tempo. Um Curso em Milagres usa essa imagem também; embora, como já vimos, ele ensine em outro nível, que a jornada “sem distância” já foi terminada, e de fato, nunca aconteceu. Nesse sentido, então, nosso tapete do tempo no gráfico 2 não vai se aplicar. O “movimento” real da jornada é para trás, prosseguindo da direta para a esquerda, em vez da visão linear mais convencional, da esquerda para a direita. Isso implica na próxima linha do texto: Esse processo é, de fato, incompreensível em termos temporais porque retornas na medida em que avanças. Nós experienciamos a nós mesmos como evoluindo, mas estamos realmente voltando ao Céu que acreditamos ter deixado. No gráfico 6, o tempo é retratado como uma espiral descendente, e esse eixo vertical é realmente um modelo melhor do que o horizontal do tapete. Em outro lugar, Um Curso em Milagres fala sobre a separação como uma escada, onde estamos nos degraus iniciais, e o Espírito Santo nos leva a subir a escada que a separação nos fez descer (T-28.III.1:2). Assim, estamos voltando ao lugar de onde partimos, mas, novamente, que nunca realmente deixamos. Essa visão é diferente, incidentalmente, daquele do notável jesuíta francês, Teilhard de Chardin, que viu o processo da evolução biológica como estando essencialmente terminado, e que nós estamos nos movendo de forma espiralada em direção ao que ele chamou de Ponto Ômega, quando reconhecemos que somos todos um. No entanto, da sua perspectiva, como um paleontólogo, ele concebeu esse processo como um desenvolvimento evolucionário, prosseguindo através do tempo. O contraste com o Um Curso em Milagres, que diz que a cura da mente já aconteceu, é claro. O processo é de aceitação da Expiação, que já foi alcançada. A Expiação é o instrumento através do qual podes te libertar do passado na medida em que avanças. Ela desfaz os teus erros passados, assim fazendo com que seja desnecessário que tenhas que ficar revendo os teus passos sem avançar para o teu retorno. Isso fica claro quando olhamos novamente para o gráfico 2: como o milagre (nesse caso, a Expiação) nos economiza tempo por nos elevar acima do tapete do tempo verticalmente, dessa forma nos libertando do passado, conforme vamos em frente, tornando desnecessário para nós retraçarmos nossos passos conforme avançamos em nosso retorno para casa. Se pensarmos nisso sob o prisma da nossa analogia no gráfico 3, significa que não temos que passar de novo a mesma fita de vídeo ou re-experienciar o mesmo pesadelo de vitimação. A Expiação desfaz nossos erros passados, que realmente são os erros da culpa; os erros aos quais estamos nos agarrando em nossas mentes. Nesse sentido, a Expiação economiza tempo, mas como o milagre ao qual serve, não abole. Enquanto houver necessidade da Expiação há necessidade de tempo. Mas, Expiação como plano já completo, tem uma relação singular com o tempo. Até que Expiação esteja completa, suas várias fases vão prosseguir no tempo, mas toda Expiação situa-se no fim dos tempos. Naquele ponto foi construída a ponte do retorno. 85
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Se nós pensarmos na Expiação como o Espírito Santo, podemos vê-Lo parado fora do tempo conosco (o observador), esperando pela nossa decisão de despertarmos do sonho. É isso o que significa dizer que a Expiação ocorre no tempo, “mas toda a Expiação situa-se no fim dos tempos”. Existe uma passagem maravilhosa no livro de exercícios que afirma o mesmo ponto, falando do Espírito Santo: O nosso Amor nos espera quando vamos a Ele e anda ao nosso lado mostrandonos o caminho. Ele não falha em nada. Ele é o fim que buscamos e o meio pelo qual vamos a Ele (LE-pII.302.2). Nosso próximo grupo de passagens trata da distinção que o Curso faz entre tempo e eternidade, afirmando como ambos estão em nossas mentes. Se nós pensarmos no observador no gráfico 3, o ego representa o tempo e o Espírito Santo representa a eternidade. Os dois pensamentos estão em nossas mentes, e nós podemos escolher com qual vamos nos identificar. Vamos começar com a Introdução ao Capítulo 10 no texto (T-10.in.1): (T-10.in.1) Nada além de ti mesmo pode fazer com que tenhas medo ou sintas amor porque não há nada além de ti. A mente dividida contém todas as ilusões que então são projetadas da mente (o observador), e, no entanto, ainda permanecem do lado de dentro, uma vez que “idéias não deixam sua fonte”. Assim, tudo está dentro das nossas mentes, nada está do lado de fora: o interno e o externo são um e o mesmo. Um ensinamento similar é encontrado na Lição 70, “A minha salvação vem de mim”: O custo aparente de aceitar a idéia de hoje é o seguinte: significa que nada fora de ti pode salvar-te, nada fora de ti pode ferir-te, perturbar a tua paz ou transtornar-te de modo algum (LE-pI.70.2:1-2). E, no texto: Nada pode ferir-te a não ser que tu lhe dês o poder de fazê-lo (T-20.IV.1:1). Nada do que fizeste tem qualquer poder sobre ti, a não ser que ainda queiras estar à parte do teu Criador e com uma vontade oposta à Sua (T-22.II.10:2). O tempo e a eternidade estão ambos em tua mente e irão conflitar até que percebas o tempo só como um meio de reaver a eternidade. Profundamente dentro de nós, todos compartilhamos a crença em que estamos em conflito com Deus. Essa é a crença básica do ego e uma das principais idéias expressas em “As leis do caos” (T-23.II). Devemos continuar a permanecer em conflito até deixarmos que o Espírito Santo reinterprete o tempo para nós, então, ele não será mais visto como um ataque a Deus, que foi a razão pela qual ele foi feito para início de conversa. Em vez disso, o Espírito Santo pode nos ajudar a ver o tempo como um instrumento de aprendizado, que pode nos ensinar que o ataque a Deus nunca aconteceu. Nesse ponto, então, o tempo não é mais visto como estando em conflito com a eternidade; em outras palavras, a espiral se tornou uma linha reta, porque tudo é percebido como o mesmo. Essa percepção corrigida nos impulsiona de volta para casa. Tu não podes fazer isso enquanto acreditares que qualquer coisa que esteja te acontecendo é causada por fatores externos a ti. 86
Enquanto acreditarmos que somos vítimas de um mundo que Deus criou, ou que foi feito por forças fora de nossas mentes, devemos continuar a perceber o mundo do tempo e do espaço como real. Então, temos que acreditar que o ataque do ego a Deus é real, o que, por causa da dinâmica da projeção, significa que acreditamos que Deus nos atacou de volta e nos jogou para fora do Céu. Como o Um Curso em Milagres afirma sobre o sistema de pensamento do ego em relação a Deus, em duas passagens poderosas: Nem Deus porá fim à Sua vingança... pois, na Sua loucura, Ele não pode deixar de ter esse substituto para o amor e matar a ambos... (T-23.II.13:3). Se isso [pecado] fosse assim, ao Céu se oporia a própria oposição celeste, tão real quanto ele. E então a Vontade de Deus estaria partida em duas e toda a criação estaria sujeita às leis de dois poderes opostos, até que Deus se tornasse impaciente, partisse o mundo em dois e relegasse o ataque a Si Mesmo (T26.VII.7:3-4). Nesse ponto, é claro, é impossível ver o tempo como benigno, porque já estamos percebendo o mundo como cruel; i.e., como o resultado da vingança de Deus contra nós. Precisas aprender que o tempo está somente à tua disposição e que nada no mundo pode tirar essa responsabilidade de ti. Isso reflete os ensinamentos mais básicos do Um Curso em Milagres de que nós damos ao tempo, para não mencionar o mundo, poder sobre nós. Nós damos às pessoas o poder de nos ferirem e vitimarem, e isso transforma o tempo em um inimigo, em vez de em um amigo que poderia ser quando o Espírito Santo o reinterpreta para nós. De forma simultânea, o Curso nos leva a ficar cientes de que nós somos responsáveis pela forma como usamos o tempo dentro da ilusão, e ninguém mais pode ser tornado responsável por seus efeitos sobre nós – o tempo está à nossa disposição, não da outra forma que o ego nos fez acreditar. O mundo, em suas origens e por sua própria natureza, portanto, é a tentativa do ego de obscurecer a responsabilidade da mente por suas próprias projeções. É essa responsabilidade que precisa ser aceita se nossas mentes forem ser curadas e o tempo visto como nosso aliado na Expiação. Agora, vamos passar ao último parágrafo do Capítulo 10 (T-10.V.14): (T-10.V.14) A arrogância é a negação do amor, porque o amor compartilha e a arrogância recusa. Enquanto ambos te parecerem desejáveis, o conceito de escolha, que não é de Deus, permanecerá contigo. Enquanto acreditarmos que existe uma escolha no mundo, entre Deus e o ego, e que nós quereremos ambos – algumas vezes queremos a arrogância do ego, em outras, queremos o Amor de Deus -, então, vamos permanecer em conflito. Nós somos lembrados da série de três lições do livro de exercícios: “O mundo que vejo não contém nada do que eu quero” “Além desse mundo, existe um mundo que eu quero” “É impossível ver dois mundos”. (LE-pI.128,129,130). Mais uma vez, tudo termina na escolha. Escolher é ilusório, uma vez que na absoluta unidade do Céu, a escolha entre opções diferentes é impossível. No entanto, dentro da mente 87
dividida, já que a idéia da escolha entre Deus e o ego entrou no sonho, aprender a escolher entre a Expiação do Espírito Santo e a expiação do ego é significativo: O aprendizado é uma capacidade que tu fizeste e deste a ti mesmo. Ela não foi feita para fazer a Vontade de Deus... Apesar disso, tu as aprenderás, pois aprendê-las é o único propósito que o Espírito santo vê em todo o mundo para a tua capacidade de aprender (T-31.I.5:1-2,5). Embora isso não seja verdadeiro na eternidade, é verdadeiro no tempo, de tal modo que enquanto o tempo durar na tua mente haverá escolhas. Essa é outra forma na qual o Curso contrasta o mundo do tempo e o mundo da eternidade. Mais uma vez, não existe escolha no Céu. O conceito de livre-arbítrio,como normalmente pensamos nele, não tem significado no Céu, uma vez que somos uma parte de Deus e, portanto, não pode haver uma vontade à parte da Dele. Portanto, não podemos escolher estar à parte Dele. Apenas em um mundo de sonho dualista no qual Deus e Seu Filho são separados, o conceito de livre-arbítrio poderá ter significado. O Céu, entretanto, é um estado não-dualista no qual Deus e Cristo são unificados, e então, Sua Vontade é uma. Como o Um Curso em Milagres afirma: Deus compartilha a Sua Paternidade contigo, que és o Seu Filho, pois Ele não faz distinções entre o que é Ele Mesmo e o que ainda é Ele. O que Ele cria não está à parte Dele, e em lugar algum o Pai chega ao fim para dar início ao Filho como algo separado de Si Mesmo (LE-pI.132.12:3-4). Essa mesma idéia é expressa em uma lição anterior: Em seguida, fecha os teus olhos sobre o mundo que vês e na escuridão silenciosa observa as luzes que não são desse mundo iluminarem-se, uma por uma, até que o lugar onde uma começa e a outra termina perca todo o significado à medida que elas se fundem em uma só (LE-pI.129.7:5). O conceito de livre-arbítrio, no entanto, é significativo quando reformulado para significar que nossa vontade é livre. Mas isso não significa livre-arbítrio no nível da escolha, porque o Filho de Deus não pode escolher ser outra coisa além do que Deus O criou para ser. Livrearbítrio aqui, então, significa liberdade de vontade: a Vontade de Deus e de Seu Filho não podem ser aprisionadas pela ilusão do ego. Como o Curso diz: O reino é perfeitamente unido e perfeitamente protegido, e o ego não vai prevalecer contra ele. Amém (T-4.III.1:12-13). E depois: E próprio Céu não representa senão a tua vontade, onde tudo o que é criado é para ti... Como é maravilhoso fazer a tua vontade! Pois isso é liberdade. Não há nenhuma outra coisa que jamais deva ser chamada por esse nome. A não ser que faças a tua vontade, não és livre. E Deus iria deixar o Seu Filho sem aquilo que ele escolheu para si mesmo?... Deus não quer que o Seu Filho seja feito prisioneiro daquilo que ele não quer. Ele une-Se a ti na tua disponibilidade para ser livre... A tua vontade é sem limites, não é tua vontade que ela seja limitada. O que está em ti uniu-se ao próprio Deus no nascimento de toda a criação... Não penses que Ele quer limitar-te, Ele Que te fez co-criador. Ele não quer senão manter a tua vontade sem limites para todo o sempre (T-30.II.1:8; 2:1-5,8-9; 3:4-5; 4:4-5). 88
Portanto, escolha e decisão têm significado apenas dentro desse mundo que parece estar fora de Deus. Aqui, nós realmente parecemos ser capazes de escolher ou o ego ou o Espírito Santo. No mundo real, onde a escolha termina, existe apenas o reflexo do Céu: o Amor do Espírito Santo. O próprio tempo é tua escolha. Se queres te lembrar da eternidade, é preciso que olhes só para o eterno. Nesse mundo, nós olhamos para o eterno não em termos de Deus ou espírito, que não podem ser percebidos. Nós olhamos para o “eterno” como ele é traduzido para nós pelo Espírito Santo, que significa olhar para a face de Cristo, ver alguém com perdão total, ver a tudo e a todos como o mesmo. É isso o que o Um Curso em Milagres quer dizer com frases tais como “o reflexo da santidade” e “arautos da eternidade”. Como o livro de exercícios declara: Deus não tem nome. E, no entanto, o Seu Nome torna-se a lição final de que todas as coisas são uma só, e nesta lição todo o aprendizado termina. Todos os nomes são unificados, todo o espaço preenchido com o reflexo da verdade... A experiência tem que vir para suplementar o Verbo. Mas primeiro, é preciso que aceites o Nome para toda a realidade e reconheças que os muitos nomes que deste aos seus aspectos distorceram o que tu vês, mas de nenhum modo interferiram com a verdade... E embora usemos um nome diferente para cada conscientização de um aspecto do Filho de Deus, compreendemos que eles só têm um Nome, O Que Deus lhes deu (LE-pI.184.12:1-3; 13:2-3; 14:1). Se te permitires ficar preocupado com o temporal, estás vivendo no tempo. Como sempre, a tua escolha é determinada pelo que tu valorizas. O tempo e a eternidade não podem ser ambos reais, porque contradizem um ao outro. Se aceitares como real só o que é intemporal, começarás a compreender a eternidade e a fazer com que ela seja tua. Isso se refere ao uso que o ego faz do tempo, que envolve focalizar-se nos pecados do passado, que são reforçados pela nossa culpa, e depois projetados no futuro, levando-nos a acreditar que seremos punidos. Isso, é claro, é parte do plano do ego para nos aprisionar ao seu mundo, dessa forma fazendo com que nossa atenção seja distraída do mundo de perdão do Espírito Santo, que é Seu equivalente ao Amor eterno do Céu. Nesse mundo, nós realmente escolhemos o tempo porque é aí que acreditamos estar, mas é a interpretação do Espírito Santo para isso que se torna para nós um reflexo da eternidade do Céu. É tudo uma questão de escolha. Nas passagens acima, escolha é considerada como sendo entre tempo e eternidade; em outros lugares, é entre o ego e o Espírito Santo, ou um milagre e uma mágoa. Claramente, em nossa experiência nesse mundo, não podemos realmente escolher a intemporalidade, que não é cognoscível aqui. Assim, mais uma vez, Jesus está se referindo à expressão da intemporalidade nesse mundo, que pode ser vista como perdão, sendo o “reflexo do Amor de Deus na terra” (LE-pI.60.1:5). Voltamos agora à primeira seção no Capítulo 13 no texto. Essa seção contém a passagem a partir da qual delineei a idéia do tapete do tempo. É o único lugar no Um Curso em Milagres que realmente se refere ao “tapete”. Nós começamos com o terceiro parágrafo (T13.I.3). (T-13.I.3) Na medida em que olhas para ti mesmo e julgas o que fizeste com honestidade, podes ser tentado a imaginar como é possível que sejas sem culpa.
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Isso é verdadeiro sobre todos que começam a considerar a enormidade dos seus próprios sentimentos de falta de valor e inadequação. A idéia de ser sem culpa parece absolutamente impossível. Mas, é claro, isso é exatamente o julgamento que o ego nos levaria a fazer. De fato, é seu julgamento original sobre nós. Pois é a crença em nossa culpa inerente que requereu a feitura do mundo como uma defesa contra a punição inevitável de Deus, pois a pecaminosidade nunca pode ser erradicada: o pecado que foi cometido “não pode ser desfeito. A mancha de sangue nunca pode ser removida” (MP-17.7:12-13). Agora, Jesus está nos dizendo, em uma linha à qual já me referi, que nós não temos que considerar a nós mesmos sem culpa para sermos curados: No entanto, considera isso: não és sem culpa no tempo, mas na eternidade. Essa linha extremamente importante, que já citei, é destinada àqueles estudantes que lutam para se libertarem de todos os relacionamentos especiais, mas então se sentem culpados por não terem atingido sua meta. Jesus está dizendo muito claramente que, dentro do mundo do tempo, o mundo da dualidade, nós somos culpados, e que vamos experienciar todas as coisas que vêm com a culpa – raiva, depressão ,ansiedade e doença. Foi por isso que nós viemos a esse mundo, como o texto depois explica: Concentra-te apenas nela [sua disponibilidade] e não te perturbes pelas sombras [i.e., culpa] que a cercam. É por isso que vieste. Se pudesses vir sem elas, não terias necessidade do instante santo (T-18.IV.2:4-6). E, do manual para professores: Não te desesperes, portanto, por causa das limitações [i.e., o corpo]. É a tua função escapar delas, mas não existir sem elas (MP-26.4:1-2). Portanto, na eternidade nós somos sem culpa; no tempo, onde acreditamos estar, somos culpados por definição, porque o tempo foi feito a partir da culpa. E então, não somos solicitados a sermos perfeitos aqui, mas simplesmente a termos disponibilidade de nos tornarmos perfeitos através do aprendizado de como perdoarmos a nós mesmos por, ou como escaparmos de, as limitações impostas pelo nosso sistema de pensamento de pecado, culpa e medo. Tens “pecado” no passado, mas não há nenhum passado. O sempre não tem direção. Aqui, encontramos o Nível Um e o Nível Dois expressos em duas sentenças sucintas. “Direção” obviamente implica em um contraste entre o lugar onde estamos e o lugar para o qual estamos indo, e isso tem significado apenas dentro de um mundo de formas. “Sempre”, que é sinônimo de eternidade, é não-dualista e, portanto, não tem comparação ou direção. O tempo parece se mover em uma direção, mas quando atinges o seu fim, ele se enrolará como um longo tapete estendido sobre o passado atrás de ti e desaparecerá. Enquanto acreditares que o Filho de Deus é culpado, caminharás sobre esse tapete acreditando que ele conduz à morte. E a jornada parecerá longa, cruel e sem sentido, pois assim ela é. Essa jornada é o mundo do tempo, “longo, cruel e sem sentido”. É a estrada da culpa, a fábrica do tapete. Quando aceitamos totalmente a Expiação para nós mesmo e desfazemos nossa crença na realidade da culpa, a necessidade do tempo terminou e então, o tapete se enrola de volta e desaparece. 90
Na passagem acima, Jesus está estabelecendo um silogismo que é típico da sua apresentação no Curso: Se eu sou culpado, estou no tempo. Sou culpado. Portanto, eu estou no tempo (pelo menos experiencio o tempo como real). Ele também ensina: Se eu estou no tempo, tenho que ser culpado. Eu estou no tempo (ou pelo menos acredito estar). Portanto, eu tenho que ser culpado. Para nos afastarmos da prisão do tempo, portanto, temos de desfazer a culpa por despedaçarmos nossa crença na realidade do tempo e do espaço. Esse é o papel do perdão, e nos ensinar a fazer essa escolha é o propósito do Um Curso em Milagres. (T-13.I.4) A jornada que o Filho de Deus estabeleceu para si mesmo é de fato inútil, mas a jornada na qual o Pai o embarca é de liberação e alegria. Antes no texto, Jesus diz que “a jornada à cruz deveria ser a última ‘jornada inútil’” que empreenderíamos (T-4.in.3:1). À parte das referências óbvias à sua própria crucificação, Jesus usa o termo como um símbolo para o sistema de pensamento de sofrimento, sacrifício e morte do ego. Enquanto a jornada do ego, portanto, é inútil e não vai a lugar algum, a jornada do Espírito Santo nos leva para longe do sonho da morte – simbolizada pela cruz – por nos despertar. Isso realmente não é uma jornada, porque, para dizer mais uma vez, a jornada não tem distância (T-8.VI.9:7) e realmente já terminou. No entanto, é uma jornada para nós porque nossa experiência é como seres temporais e espaciais. Portanto, a jornada é o processo de desfazer essa identidade egóica, alegremente liberando a memória de quem verdadeiramente somos. O Pai não é cruel e Seu Filho não pode ferir a si mesmo. A retaliação que ele teme e que ele vê nunca o tocará, pois embora ele acredite nela, o Espírito Santo tem o conhecimento de que ela não é verdadeira. O Espírito Santo está no fim dos tempos, onde tu não podes deixar de estar porque Ele está contigo. Existe uma Voz dentro de nossas mentes sempre nos dizendo que Deus nunca pode nos punir, que nossos medos são infundados e injustificados. Mas a voz do ego parece abafar a do Espírito Santo, e sua voz de medo grita continuamente que Deus definitivamente vai nos punir, senão imediatamente, certamente no futuro. O aparente paradoxo, de que o Espírito Santo está no fim dos tempos conosco, enquanto Ele ainda está presente conosco na jornada, é compreensível à luz da nossa discussão anterior sobre o tempo já ter terminado, embora nós experienciemos a nós mesmos como estando aqui. Isso é similar à declaração (já citada) de que nós estávamos com Jesus quando ele ascendeu (ET-6.5:5); i.e., que quando ele despertou do sonho e ficou no final do tempo, nós estávamos com ele, ao mesmo tempo em que ele permanece conosco no sonho. Uma vez que mentes são unidas, nós temos que estar com ele porque a Filiação é unificada, embora permaneça possível para nós acreditarmos que podemos nos separar daquele pensamento de unidade. Ele já desfez tudo o que era indigno do Filho de Deus, pois tal foi a Sua missão dada por Deus. E o que Deus dá nunca deixou de ser.
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Assim, mais uma vez, o Espírito Santo é o fim do tempo, refletindo a presença amorosa de Deus em nossas mentes. Nossa verdadeira realidade é Cristo, e, para reafirmar essa linha importante, nós permanecemos “em casa em Deus, sonhando com o exílio” (T-10.I.2:1). A cura da separação já foi completada, o tapete já se enrolou de volta. Resta o problema, entretanto, de que nós nos sentamos diante da tela assistindo a algo que ainda acreditamos ser real. A linha final daquele parágrafo, “e o que Deus dá nunca deixou de ser” parece ser uma declaração de doutrina em concordância com a teologia tradicional da igreja, isto é, que o Espírito Santo sempre esteve com Deus. Um Curso em Milagres ensina algo bem diferente, no entanto: o Espírito Santo foi criado e dado por Deus como a Resposta à separação: a Expiação. Isso poderia ser entendido em dois níveis, assim como a maioria das coisas no Curso. Uma vez que o Espírito Santo é parte de Deus e uma extensão do Amor de Deus, Ele sempre foi; mas, Sua função específica como Mensageiro para o Filho separado e o elo de comunicação entre Deus e Seu Filho aconteceu depois da separação, e, então, pertence ao sonho. No entanto, como já mencionado, tal discussão sobre o Espírito Santo é metafórica e não deveria ser vista literalmente como se Deus tivesse dado uma Resposta a um problema que não existe. (T-13.I.5) Tu me verás à medida que aprenderes que o Filho de Deus não tem culpa. O “eu”, é claro, é Jesus, e o que o mantém oculto de nós é a culpa. Quando ele diz, por exemplo, que ele está dentro do relacionamento santo (T-19.IV-B.5:3-4; 8:3), isso não significa que ele não esteja em um especial. Como ele está em nossas mentes, seu amor está sempre conosco. A culpa, assim, age como um véu que oculta a luz da nossa impecabilidade, mantida para nós por Jesus, fora da nossa experiência. Incidentalmente, essa declaração não deveria ser vista como sugerindo que nós iríamos literalmente “ver” Jesus. Em vez disso, deveria ser entendida como uma expressão da visão que é uma atitude na mente e não é perceptual. Na frase de Hamlet, iríamos ver Jesus com “os olhos da mente”. Ele sempre buscou a sua inculpabilidade e a achou. Pois cada um está buscando escapar da prisão que fez e o caminho para achar a liberação não lhe é negado. Estando nele, ele o achou. Quando o acha é apenas uma questão de tempo e o tempo é apenas uma ilusão. Essa idéia faz sentido quando consideramos que a separação aparente já terminou, e que a parte da mente certa na mente dividida sabe disso em um nível, embora o resto da mente dividida realmente ainda não o tenha aceitado. O que nós acreditamos ter feito já foi desfeito; nós encontramos a saída da prisão, e apenas esperamos nossa aceitação do que sempre está lá. Assim, é apenas uma questão de tempo para escolhermos o inevitável. O Espírito Santo está dentro da mente dividida, sempre nos dizendo que o sonho terminou. Nossa situação, por causa da nossa identificação com o ego, nos leva a escolher os pesadelos em vez dos sonhos felizes. Nós preferimos estar certos do que ser felizes (T29.VII.1:9). O processo de mudança de nossas mentes parece levar tempo, mas, novamente, o tempo é apenas uma ilusão. Podemos ver, incidentalmente, que passagens tais como essas não fazem sentido sem uma compreensão dos ensinamentos metafísicos subjacentes sobre a irrealidade fundamental do tempo; mais especificamente, a idéia de que o tempo terminou, e que nós meramente re-experienciamos o que já se foi. Pois o Filho de Deus não tem culpa agora e o brilho da sua pureza resplandece intocado na Mente de Deus para sempre. O Filho de Deus sempre será tal como ele foi criado. Nega o teu mundo e não o julgues, pois a sua eterna inculpabilidade está na Mente do seu Pai e o protege para sempre.
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A primeira linha obviamente parece contradizer o que acabamos de ler no parágrafo três sobre o Filho de Deus ser culpado agora. Mas o “agora’ nessa passagem refere-se ao mundo do tempo. Aqui, “agora” refere-se à eternidade presente, a parte do tempo que é a janela para a eternidade. O Filho de Deus é sem culpa agora porque o tempo já terminou; nós somos sem culpa em termos da nossa verdadeira identidade como Cristo. Como observadores diante da tela de televisão, ouvindo apenas o Espírito Santo, somos sem culpa, mas, quando escolhemos assistir aos dramas da culpa em vez disso, nós re-experienciamos aqueles eventos como se eles estivessem acontecendo a nós agora. Se a inculpabilidade está na Mente do Pai, ela tem que estar em nossas mentes também, porque o Amor do Espírito Santo é a ponte que une todas as nossas mentes em uma. Julgar outra pessoa ou a nós mesmos apaga essa inocência da nossa consciência, pois o julgamento obviamente significa separação. Assim, o medo que o nosso ego tem da união, marcando o fim do pensamento de separação, nos leva a escolher o julgamento como o meio de nos “protegermos” do Amor unificador do Espírito Santo, refletido nesse mundo pelo perdão. A grande importância de desistir do julgamento como o pré-requisito para a paz é um tema principal no Curso, como visto na seguinte declaração: Tu não tens idéia da tremenda liberação e da profunda paz que vêm de te encontrares contigo mesmo e com teus irmãos totalmente sem julgamento. Quando reconheceres o que és e o que são os teus irmãos, compreenderás que qualquer forma de julgá-los é sem significado. De fato, o seu significado está perdido para ti precisamente porque os está julgando (T-3.VI.3:1-3). Vamos pular para o parágrafo sete (T-13.I.7): (T-13.I.7) À medida em que percebes os companheiros santos que viajam contigo, reconhecerás que não há jornada, mas só um despertar. Nós podemos interpretar “companheiros santos” de formas diferentes. Eles poderiam ser vistos como nossas criações que nunca nos deixaram. No entanto, seria mais direto ao ponto aqui considerá-los como todos os nossos irmãos e irmãs que caminham ao longo do mesmo caminho que nós. Nós temos que nos lembrar novamente de que não existe jornada. É um despertar do sonho, que significa que, ao vermos a nós mesmos como observadores unidos ao Espírito Santo, vamos despertar do sonho, pois não vamos mais estar vendo separação ou dualidade. Os “companheiros santos” citados aqui são similares aos “poderosos companheiros” citados no quarto estágio do desenvolvimento da confiança (MP-4.I.6:11), que, quando estivermos prontos para continuar em nossa jornada, irão ao nosso lado. O Filho de Deus, que não dorme, tem mantido a fé em seu Pai por ti. Não há estrada pela qual viajar e não há tempo através do qual viajar. Pois Deus não espera o Seu Filho no tempo, para sempre recusando-Se a ser sem ele. E sempre tem sido assim. Permite que a santidade do Filho de Deus brilhe afastando a nuvem de culpa que escurece a tua mente e aceitando a sua pureza como tua, aprende com ele que ela é tua. O “Filho de Deus” refere-se ao Cristo em nós. Também poderíamos entender isso como Jesus, que representa para todos nós o Filho de Deus ou Cristo que realmente somos. Ou, isso poderia ser entendido como o “Filho de Deus” sendo o Espírito Santo que “percebemos” em nosso irmão, representando Cristo (ou o Filho de Deus) para nós. As limitações da analogia do tapete são bem aparentes nessa passagem, pois a analogia realmente não vale aqui. Nesse ponto, a imagem do caleidoscópio (gráfico 3) funciona melhor, pois enfatiza a não-linearidade do tempo. E então, apesar das afirmações do nosso ego sobre o tempo e a separação em contrário, nós nunca estivemos sem Deus. A dispersão da nuvem de culpa é o que o Um Curso em Milagres quer dizer com perdão. Conforme começamos a ver 93
com a visão de Cristo, a luz da santidade em nosso irmão em vez da escuridão da culpa, nós abraçamos a mesma visão para nós mesmos. Na verdade, é claro, a culpa e a santidade percebidas em outra pessoa são apenas o reflexo do que primeiro tornamos real em nós mesmos. Mas, uma vez que tornamos real para nós mesmos um mundo de dualidade, o processo de perdão também tem que aparecer para nós nessa forma dualista. (T-13.I.8) Tu és invulnerável porque não tens culpa. Essa é uma linha-chave, mas nos tira do tópico do tempo. O tema expresso aqui é o de que se eu sou sem culpa, então, não existe culpa em mim que exija punição, o que significa que eu não posso ser ferido. Meu corpo pode ser ferido, mas, sem culpa, eu me lembro da minha Identidade como espírito e não do meu corpo. A dor é inexistente, como Jesus demonstrou na cruz. Assim, podemos dizer que as duas idéias básicas no perdão são a nossa invulnerabilidade e inculpabilidade. Só através da culpa é que podes te apegar ao passado. Pois a culpa estabelece que serás punido pelo que fizeste e depende portanto, de um tempo unidimensional, procedendo do passado para o futuro. Ninguém que acredite nisso pode compreender o que “sempre” significa e, portanto, a culpa não pode deixar de privar-te da apreciação da eternidade. Tu és imortal porque és eterno e o que é “sempre” tem que ser agora. A culpa, então, é uma forma de manter o passado e o futuro em tua mente para assegurar a continuidade do ego. É a culpa que nos mantém enraizados nesse mundo. Ela nos mantém no tapete porque nos ensina que o passado pecaminoso é real; e a culpa exige que sejamos punidos no futuro. Essa dinâmica obviamente estabelece a linearidade do tempo do ego, que é unidimensional porque vai em uma direção: do passado para o presente e para o futuro; do pecado para a culpa e para a punição. Essa passagem também explica por que temos tanta dificuldade em entender o que o Um Curso em Milagres está dizendo sobre o tempo. Isso é assim pelo fato da nossa culpa nos enraizar no tempo unidimensional, impedindo nossa compreensão de que o tempo não é real, e que tudo já aconteceu e de fato já terminou – nós nem mesmo estamos aqui. Pois se o que foi será punido, a continuidade do ego está garantida. No entanto, a garantia da tua continuidade é de Deus, não do ego. E a imortalidade é o oposto do tempo, pois o tempo passa, enquanto a imortalidade é constante. (T-13.I.9) A aceitação da Expiação te ensina o que é a imortalidade, pois ao aceitar a tua inculpabilidade, aprendes que o passado nunca foi e deste modo o futuro é desnecessário e não há de ser. Um pouco depois, vamos ver como o Curso vai falar sobre continuidade novamente em termos da continuidade do ego versus a de Deus ou do Espírito Santo. Por agora podemos simplesmente notar a distinção entre a continuidade do ego através da culpa, e a continuidade de Deus através do amor, que é assegurada através da presença do Espírito Santo em nossas mentes divididas. O restante dessa passagem é outro exemplo de como o Um Curso em Milagres passa do Nível Dois de volta para o Nível Um: nós aprendemos que somos sem culpa por perdoarmos os outros. Aprendendo que eles não são culpados, nós realmente aprendemos que nós não somos culpados. Se nós não somos culpados, não existe pecado, e isso significa que não existe passado, pois o pecado apenas tem significado no passado. O pecado é o que mantém o passado em nossas mentes, e é por isso que a psicanálise, por exemplo, nunca pode curar verdadeiramente. Seu foco no passado torna o passado real, e assim, o pecado e a culpa são reais também. Como então o ego poderia ser desfeito depois de ter sido tornado real? 94
O futuro, no tempo, está sempre associado com a expiação e só a culpa poderia induzir a um senso de necessidade de expiação. Aceitar como tua a inculpabilidade do Filho de Deus é, portanto, o caminho de Deus para lembrar-te do Seu Filho e do que ele é na verdade. Pois Deus nunca condenou o Seu filho e, sendo sem culpa, ele é eterno. Essa primeira sentença é uma correção sutil ao ensinamento cristão também encontrado em outras religiões, sobre a necessidade de expiar o pecado ou expiar por ele. Uma vez que acreditamos que o pecado tem que ser expiado, nós caímos na armadilha de acreditarmos que o pecado é real. Nós então temos que corrigir no futuro o que fizemos no passado, que estabelece o tempo linear como real. A verdadeira Expiação desfaz a culpa simplesmente por ir além dela, até a inculpabilidade subjacente. É isso o que o Um Curso em Milagres quer dizer com o Espírito Santo olhar através dos erros para a verdade. Em uma passagem anterior no texto, Jesus explica a visão: Literalmente, a visão espiritual não pode ver o erro e meramente olha procurando a Expiação. Dissolvem-se todas as soluções que os olhos físicos buscam. A visão espiritual olha para dentro e reconhece imediatamente que o altar foi profanado e necessita ser reparado e protegido. Perfeitamente ciente da defesa certa, passa por cima de todas as outras olhando além do erro para a verdade (T-2.III.4:1-4). Assim, nosso perdão uns aos outros é o meio através do qual Deus nos lembra de que somos sem culpa como Suas crianças. Esse é o plano de Expiação do Espírito Santo: eu reconheço a inculpabilidade do Filho de Deus em você, e essa consciência, compartilhada com você em minha mente, me ensina que eu também sou sem culpa. Vamos passar agora para a seção VI, “Encontrar o presente”, parágrafo quatro (T13.VI.4). (T-13.VI.4) O tempo pode liberar bem como aprisionar, dependendo de quem é a interpretação que usas. Passado, presente e futuro não são contínuos, a não ser que tu lhes imponhas continuidade. Isso reitera o que estivemos dizendo: o tempo linear nas mãos do ego nos aprisiona ainda mais no pecado, culpa e medo; enquanto o tempo do Espírito Santo é uma sala de aula na qual aprendemos que a trindade profana é inexistente. Dentro do mundo da ilusão, passado, presente e futuro são contínuos. A culpa do meu passado então determina minhas ações presentes, que sempre têm que envolver algum medo do futuro. No entanto, o tempo não é contínuo, pois tudo aconteceu naquele único instante. O propósito do tempo, como vimos muitas vezes, é nos confundir sobre esse fato. Uma citação anônima na National Geographic resume isso dessa forma: O tempo é a forma da natureza impedir que tudo aconteça de uma só vez (março 1990, p. 109). Podes percebê-los [passado, presente e futuro] como contínuos e fazer com que sejam assim para ti. Mas não te enganes, para depois acreditar que é assim. No entanto, é isso o que todos nós fazemos. Nós percebemos a realidade erroneamente, e então, tentamos justificá-la. Nós instituímos inúmeros filósofos, psicólogos e teólogos para provarem que a percepção equivocada é verdadeira. Um exemplo proeminente dessa dinâmica, freqüentemente citado no próprio Um Curso em Milagres, é a teologia cristã tradicional. Ela começa com a premissa de que nossos pecados passados são reais, a culpa 95
presente é justificada e algumas vezes até saudável, e, a menos que expiemos por isso através de uma vida de sofrimento e sacrifício, devemos ser merecidamente punidos no futuro por nossos pecados. Essa teologia, que é claro, realmente é o efeito da crença subjacente no pecado, e que é aceita como divinamente ordenada e, portanto objetivamente verdadeira, então se torna a prova de que somos pecadores. A circularidade desse raciocínio, no entanto, nunca é examinada, e assim, nunca pode ser corrigida. Como o texto diz sobre esse equívoco: Se a crucificação é vista de uma perspectiva invertida, parece que Deus permitiu e até mesmo encorajou um de Seus Filhos a sofrer porque ele era bom... No entanto, o cristão real deveria fazer uma pausa e perguntar: ‘Como poderia ser assim?’... Não é sábio aceitar qualquer conceito se tens que inverter todo um quadro de referencias de modo a justificá-lo. Esse procedimento é doloroso em aplicações de menor importância e genuinamente trágico em uma escala mais ampla (T-3.I.1:5,8; 2:2-3). Pois acreditar que a realidade é aquilo que queres que ela seja, de acordo com o uso que fazes dela, é delusório. A palavra “delusório” aqui é deliberada, pois é a palavra denotando pessoas psicóticas que têm delusões sobre a realidade. Elas transformam o mundo naquilo que querem que ele seja, como todos nós fazemos em outro nível. Tornando a realidade do Céu uma ilusão, e a ilusão do mundo uma realidade, nós então nos tornamos todos insanos como o Um Curso em Milagres tão freqüentemente afirma. O ego começa com uma crença no pecado, culpa e medo, e então, inventa um mundo de tempo e espaço para reforçar essa crença e assim, de forma circular, “prova” que o pecado, culpa e medo são reais. Embora exista certamente uma diferença nesse mundo entre as delusões dos psicóticos e as delusões que todos nós nãopsicóticos compartilhamos, em sua dinâmica, as delusões permanecem as mesmas. Como trabalhadores em hospitais psiquiátricos algumas vezes gostam de comentar: a única diferença real entre pacientes e equipe é que os últimos têm as chaves do hospital. Tu queres destruir a continuidade do tempo fragmentando-o em passado, presente e futuro para os teus próprios propósitos. A realidade do tempo é que ele é holográfico, mas nós o fragmentamos em passado, presente e futuro. A única dimensão real é a ausência de tempo. O mais perto que podemos chegar disso nesse mundo seria o instante santo. Em termos do gráfico 2, isso significa que quando escolhemos um milagre,somos elevados acima do mundo unidimensional de tempo e espaço pelo Espírito Santo. P: Outro problema envolvido em nossa compreensão disso é que ninguém jamais experienciou pessoalmente o tempo como adimensional ou contínuo dessa maneira, e escreveu sobre essa experiência usando categorias científicas. Existem registros de místicos e outros que usaram drogas para induzirem estados alterados de consciência, mas parece não haver quaisquer registros de experiências pessoais, expressos em categorias estritamente científicas. Tais descrições não iriam nos ajudar a entender o que o Curso está dizendo? R: Poderiam sim, e estamos indo rapidamente em direção a uma reconstrução da nossa compreensão do tempo. Os novos físicos estão nos ajudando a chegar mais perto desse ponto por romperem com todos os nossos velhos conceitos de tempo linear. Como eu disse outras vezes, eu acredito que o Um Curso em Milagres está à frente do seu tempo, perdoando-me o trocadilho. Pois para que suas idéias sejam plenamente aceitas no mundo, assim como as idéias da bíblia têm sido, por exemplo, o Curso tem que esperar que o mundo o “alcance” em 96
termos de desenvolver suficientemente seus próprios sistemas de pensamento, para ser capaz de incorporar conceitos como os que estamos discutindo aqui. Queres antecipar o futuro com base na tua experiência passada e planejá-lo de acordo com isso. Entretanto, fazendo assim, estás alinhando passado e futuro e não estás permitindo o milagre, que poderia intervir entre eles, libertando-te para nascer de novo. Obviamente, isso não significa nascer de novo no sentido fundamentalista cristão, proclamando Jesus Cristo como o único Senhor e Salvador. Escolhendo termos um sonho feliz em vez do pesadelo do ego, desfazemos o “nascimento” do ego que substituiu o nosso nascimento como Cristo, e renascemos no mundo real. Esse “renascimento” é a pré-condição para despertarmos do sonho de separação para re-experienciarmos nosso nascimento como uma criação de Deus. O tema de planejar o futuro será discutido em profundidade depois (Capítulo 8) quando examinarmos algumas passagens no livro de exercícios. É um tema importante porque nós fazemos planos o tempo todo, e esse planejamento está sempre baseado em nossa experiência passada, que é outra maneira sutil de tornar seu mundo de passado, presente e futuro muito real para nós. As primeiras lições do livro de exercícios apontam para nós quanta ênfase colocamos no passado. O tempo todo, o Um Curso em Milagres afirma que tudo o que realmente vemos são projeções do passado. Nós então fazemos o futuro para duplicar o passado, dessa forma ignorando o presente. O milagre iria nos libertar da prisão de tempo do ego, e nos faria viver apenas no momento presente. Em nossa experiência, isso significa que vemos os outros como são, irmãos ou irmãs em Cristo, não como gostaríamos que fossem. (T-13.VI.5) O milagre te capacita a ver o teu irmão sem passado e assim percebê-lo como tendo nascido de novo. Os erros do teu irmão são todos do passado e por percebê-lo sem erros, tu o estás liberando. É isso o que o Curso quer dizer com “ver a face de Cristo”, i.e., não ver os pecados do passado de outra pessoa. Qualquer coisa de que possamos acusar a nós mesmos de fazer, ou que podemos acusar outro de fazer no passado, nós agora alegremente vemos como um pedido de amor. Esse pedido apenas acontece no presente, e reflete nosso pedido de amor também. “Os erros do teu irmão são todos do passado” significa que são inexistentes, pois vendo outros sem esses erros, estamos atestando que eles não tiveram efeitos. Como já vimos, se os erros de outro (i.e., pecados) não têm efeitos, então, não podem ser uma causa e, portanto, não existem. Por demonstrar a outros esse fato da Expiação, demonstramos que seus pecados estão corrigidos e desfeitos, “expiados”. Assim, nós os libertamos da sua carga terrível de culpa, uma vez que estamos libertando a nós mesmos, como a próxima sentença diz: E como o passado do teu irmão é o teu, compartilhas dessa liberação. Não deixes que nenhuma nuvem escura do teu passado o obscureça separando-o de ti, pois a verdade está apenas no presente e tu a acharás se a buscares lá. Tu a tens procurado onde ela não está e, portanto, não a achaste. A imagem de uma nuvem é freqüentemente usada no Curso, e geralmente representa nossa culpa. E, é claro, é minha própria nuvem escura de culpa que eu projeto em você, acreditando que ela está realmente ali. Assim, eu não vejo você como você é: eu não posso ver a luz brilhando em você porque a minha nuvem escura de culpa a obscureceu. Essa passagem também expressa o importante tema que percorre todo o Curso: buscar e encontrar. Se a culpa for o que eu estiver procurando, então, é isso o que devo ver. Se eu olhar para a verdade sobre você no passado e, portanto, concluir que você é uma pessoa pecadora porque feriu a mim e a outros, nunca poderei conhecer a verdade real sobre você. De fato, eu 97
estou verdadeiramente negando sua realidade por acreditar que sua verdade reside no passado. E isso, é claro, é todo o propósito do ego; isto é, confundir-nos em relação a onde a verdade é encontrada. Por projetar o problema para fora de nossas mentes, sobre outra pessoa, a solução tem que ser encontrada fora de nossas mentes também. Nós então continuamente buscamos a verdade, mas nunca a encontramos porque estamos procurando no lugar errado. É o milagre que nos capacita a buscar e encontrar, como agora vemos: Aprende, então, a buscá-la onde ela está e despontará em olhos que vêem. O teu passado foi feito na raiva e se o usares para atacar o presente, não verás a liberdade que o presente contém. Essa então é a função do milagre: ver o pecado, não no passado do nosso irmão, nem no nosso próprio, mas em vez disso, no momento presente quando nos decidimos torná-lo real. Nesse momento de escolha o passado e todo o tempo foram tornados reais também, tornandose uma prisão da qual nunca poderíamos escapar. O milagre contém a chave que abre nossa cela de prisão e nos liberta para a liberdade do presente. É o olhar para nossa decisão de sermos pecadores no presente que nos capacita, afinal, a reconhecer a natureza ilusória do que nós escolhemos. Isso nos permite escolher outra vez – “nascer outra vez” – e aceitar a verdade do Amor de Deus que também está presente em nossas mentes. (T-13.VI.6) O julgamento e a condenação ficaram para trás e a não ser que os tragas contigo, verás que estás livre deles. Olha com amor para o presente, pois ele guarda as únicas coisas que são verdadeiras para sempre. Toda a cura está dentro dele porque a sua continuidade é real. A luz que brilha em cada um de nós é o que podemos contemplar amorosamente no presente, quando nós, através do milagre do perdão, destrancarmos as cadeias do julgamento e condenação. Nessa passagem, também encontramos Jesus justapondo a visão do Espírito Santo sobre a continuidade do tempo à visão do ego. O Espírito Santo vê o único tempo contínuo como o presente, o “agora” que todos nós compartilhamos porque somos todos uma única mente. O ego, no entanto, quebra o presente em passado, presente e futuro, dessa forma cumprindo sua meta de nos manter separados. Assim, a versão de continuidade do ego é uma de suas principais defesas contra a cura do Espírito Santo, que repousa apenas no presente. Ela [a cura] se estende a todos os aspectos da Filiação ao mesmo tempo e assim os capacita a alcançarem uns aos outros. O presente é antes do tempo ser e será quando o tempo não mais for. Nele estão todas as coisas que são eternas e elas são uma só. A sua continuidade é sem tempo e a sua comunicação não se quebra, pois não estão separadas pelo passado. Só o passado pode separar e ele não está em lugar nenhum. É isso o que quer dizer “Quando sou curado, não sou curado sozinho” (Le-pI.137). Todas as mentes são uma no presente, que é a janela para a eternidade: o único tempo real. O presente, que contém o Amor de Deus, existiu antes do erro, e sempre existirá. O gráfico 5 tenta ilustrar isso: a sólida linha representa o eterno que existiu antes da pequena depressão parecer surgir, e também estará lá quando a depressão se for. É o tempo – passado, presente e futuro – que manifesta a crença do ego na separação e na fragmentação resultante da Filiação. Assim, o tempo é uma ilusão, um sonho em nossas mentes, que não tem realidade. A realidade é totalmente não afetada pelo sonho de tempo do ego. Na verdade, o passado pode separar, mas apenas em um sonho. A continuidade da eternidade permanece como sempre foi.
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Vamos agora passar ao Capítulo 15 no texto (T-15.I). A primeira seção, “Os dois usos do tempo”, é primariamente sobre como o ego usa o tempo. Vamos estudar apenas os dois primeiros parágrafos. (T-15.I.1) Podes imaginar o que significa não ter cuidados, preocupação, ansiedades, mas apenas ser perfeitamente calmo e sereno o tempo todo? No entanto, é para isso que serve o tempo, para aprender só isso e nenhuma outra coisa. O Professor de Deus não pode ficar satisfeito com o Seu ensinamento até que esse ensinamento constitua todo o teu aprendizado. Ele não terá cumprido a Sua função de ensino, enquanto não fores um aprendiz tão consistente que aprendas só com Ele. Quando isso tiver acontecido, não mais terás necessidade de um professor ou de tempo para aprenderes. Em outras palavras, pensando em nós mesmos como os observadores, sentados diante da tela de televisão, quando ouvirmos apenas a Voz do Espírito Santo e escolhemos assistir apenas Suas fitas, não vamos mais precisar do tempo também. Essa primeira sentença faz eco à meta afirmada do Um Curso em Milagres, que é alcançar a paz; não o conhecimento ou o Céu, mas o mundo real. Nesse ponto, o aprendizado cessa e o Espírito Santo cumpriu Sua função. Todas as fitas de vídeo se vão, pois o Espírito Santo corrigiu e desfez as fitas do ego. Apenas o Amor de Deus existe agora na mente do Filho, e todos os seus pensamentos e ações apenas refletem esse Amor. A escolha é feita, pois ele fez a única escolha que jamais houve, dessa forma cancelando todas as outras. (T-15.I.2) Uma fonte de possível desencorajamento da qual poderás sofrer é a tua crença em que isso leva tempo e que os resultados do ensino do Espírito Santo estão em um futuro distante. Isso não é assim. Existem diversos outros lugares no Curso que mencionam isso. Por exemplo, no texto, Jesus diz em uma passagem já mencionada, “deixe-me lembrar-te de que o tempo e o espaço estão sob meu controle” (T-2.VII.7:9). Ele quer dizer com isso que o tempo não é linear, o espaço não é real, e que se nós o deixássemos nos ensinar sua lição, poderíamos aprendê-la muito rapidamente. Então, o tempo entraria em colapso, uma noção que já discutimos com relação ao milagre; um conceito incompreensível para qualquer um que esteja vivendo em um estado de consciência de dualidade, de consciência temporal. Se nós olharmos para o problema da culpa e do tempo do ponto de vista do ego, vai parecer que o processo de desfazer nossa culpa é interminável, porque nossa culpa parece tão enorme; mas essa forma de pensar é outra armadilha sutil do ego. Como vimos na Parte I, o livro de exercícios faz a pergunta retórica: “Por que esperar pelo Céu?” (LE-pI.188.1:1). Isso é muito útil de se manter em mente quando estivermos escolhendo o inferno. Quando estamos zangados, transtornados ou culpados, é muito útil entender que isso é meramente uma escolha; tudo o que temos que fazer, portanto, é fazer outra escolha. O processo soa simples, mas certamente não é fácil. O que temos que lembrar é que existe outra Voz dentro de nós que continuamente nos chama e diz, “Meu irmão, escolhe outra vez”. Pois o Espírito Santo usa o tempo à Sua própria maneira e não é limitado por ele. O tempo é Seu amigo no ensino. O tempo não O desgasta, assim como desgasta a ti. E todo o desgaste que o tempo parece trazer consigo, não se deve a outra coisa senão à tua identificação com o ego, que usa o tempo para dar suporte à própria crença na destruição. O ego, como o Espírito Santo, usa o tempo para convencer-te da inevitabilidade da meta e do fim do ensinamento. Para o ego, a meta é a morte, que é o seu fim. Mas, para o Espírito Santo, a meta é a vida, que não tem fim. O ego nos ensina que nós somos culpados, separados, vitimados, que o corpo e a morte são reais, o mundo é real, e assim, a existência aqui é absolutamente infrutífera, sem sentido e 99
impossível. Tanto o Espírito Santo quanto o ego usam o tempo para cumprir suas próprias metas de aprendizado. Uma vez que as metas são diametralmente opostas, os meios usados diferem também; o meio do ego é o ataque, e o do Espírito Santo é o perdão. P: Você poderia elaborar melhor “a morte é o fim do ego”? R: No sistema de pensamento do ego, o resultado final da culpa ou auto-ódio é para que alguém seja morto ou morra. Ainda mais direto ao ponto, a frase significa que se a culpa exige punição, a punição final para o corpo, que é o símbolo do nosso pecado, seria a morte. Assim, a meta do ego é claramente a morte, que permanece a testemunha mais poderosa para a realidade do ego. A idéia é ecoada no mito de Adão e Eva, onde os dois pecadores são condenados por Deus a uma vida de dor e sofrimento, culminando na morte: “Pois pó sois e ao pó devereis retornar” (Genesis 3:19). Um Curso em Milagres, no entanto, descreve a versão do Espírito Santo para a morte, na qual: ... quando sua [do corpo] utilidade finda, ele é deixado de lado e isso é tudo. A mente toma essa decisão assim como toma todas as decisões que são responsáveis pela condição do corpo (MP-12.5:6-7). E no panfleto A Canção da Oração8 vem essa linda descrição da morte: Mas existe um tipo de morte aparente que tem uma fonte diferente. Ela não vem devido a pensamentos que magoam e a uma raiva furiosa contra o universo. Meramente significa que chegou o fim da utilidade do funcionamento do corpo. E assim ele é descartado como uma escolha, do mesmo modo como alguém joga fora uma roupa que já não usa mais. Isso é o que a morte deveria ser: uma escolha quieta feita com alegria e com uma sensação de paz porque o corpo foi usado de forma benigna para ajudar o Filho de Deus ao longo do caminho que ele segue para Deus. Nós, então, agradecemos ao corpo por todo o serviço que ele nos prestou (C-3.II.1:8-2:2). Agora, passamos ao último parágrafo dessa seção, que afirma o mesmo ponto que já estivemos considerando (T-15.I.15). (T-15.I.15) O tempo é teu amigo se deixares que o Espírito Santo o use. Ele precisa de muito pouco tempo para restaurar em ti todo o poder de Deus. Nós estamos muito acostumados a ver o tempo como um inimigo. Certamente em termos da vida humana, o tempo é nosso inimigo: nós envelhecemos, ficamos mais fracos e em última instância morremos. De fato, Freud ensinou que desde o momento em que nascemos, estamos no processo de morrer. Do ponto de vista do ego, isso é claro, é absolutamente correto. Nossa vida do nascimento à morte é uma jornada inevitável para a morte. P: Isso é como a idéia de que as coisas estão constantemente em um estado de decadência, no processo de desmoronar? R: Sim, e é assim que o universo é visto também. O tempo, assim, tem que ser visto como um inimigo porque traz a morte do corpo, que nós acreditamos que é o nosso ser. Como o livro de exercícios ensina: O corpo é uma cerca que o Filho de Deus imagina ter construído para separar partes do seu Ser de outras partes. É dentro dessa cerca que ele pensa viver, para 8
Foundation for Inner Peace (Fundação para a Paz Interior), Glen Ellen, CA, 1978.
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morrer quando ela decair e desmoronar. Pois no interior dessa cerca, ele pensa estar a salvo do amor. Identificando-se com a própria segurança, ele considera ser aquilo que é a sua segurança (LE-pII.5.1:1-4). O tempo, mais uma vez, cumprindo o propósito do ego, se torna nosso inimigo indômito, nossa única esperança sendo de alguma forma protelarmos a derrota inevitável por algum tempo. No entanto, se dado ao Espírito Santo, o tempo se torna nosso amigo, cumprindo Seu propósito santo de se tornar a sala de aula na qual aprendemos a lição de que não existe tempo. Ele, que transcende o tempo para ti, compreende para que serve o tempo. A santidade não está no tempo, mas na eternidade. Nunca houve um instante em que o Filho de Deus pudesse perder a sua pureza. Seu estado imutável está além do tempo, pois a sua pureza permanece para sempre além de qualquer ataque e sem variação. O tempo está parado em sua santidade e não muda. E assim o tempo já não existe em absoluto. Pois, tomado no instante único da santidade eterna da criação de Deus, ele é transformado em eternidade. Assim como a culpa reside no tempo, a santidade reside na eternidade. Quando cumpre seu propósito de nos levar até lá, o tempo se torna santo, servindo ao propósito de perdão do Espírito Santo. A união com esse propósito acontece dentro do instante santo, o intervalo fora do tempo, no qual escolhemos usar o tempo para despertar do sonho, em vez de permanecermos dentro dele. Assim, existe uma linha no texto que diz, “Em nenhum único instante, o corpo existe de forma alguma” (T-18.VII.3:11). Isso é uma referência ao instante santo, que reflete a ausência de tempo da eternidade. Nesse instante, onde não existe tempo, não pode haver corpo, pecado nem morte. O ataque é impossível, pois não existem corpos com os quais atacar, ou pelos quais ser atacado. E a mudança é impossível, pois a Identidade do Filho de Deus como o Cristo imutável é mantida para ele em toda a sua pureza pelo Amor do Espírito Santo. O gráfico 5 ilustra que a diminuta depressão ou o tique-taque do tempo não têm efeitos sobre a eternidade, na qual habita nosso Ser como Cristo. O título do capítulo no qual essa seção vem é “O instante santo”, e é o primeiro lugar no Curso que apresenta totalmente os ensinamentos de Jesus sobre o instante santo. Dito de outra forma, o instante santo é quando nós escolhemos o milagre, que, como vimos, nos eleva acima do tempo. Assim, ele se torna um arauto da eternidade, uma janela para a eternidade, um reflexo da nossa santidade no Céu. O propósito do tempo, portanto, foi transformado de um agente aprisionador para um libertador, e nossas mentes estão finalmente libertas para se fundirem em Deus. Dá o instante eterno, para que a eternidade possa ser lembrada para ti naquele instante brilhante de perfeita liberação. Oferece o milagre do instante santo através do Espírito Santo e deixa que Ele o dê a ti. Jesus está nos impelindo a pedirmos ajuda ao Espírito Santo para escolhermos um milagre em vez de uma mágoa, a união em vez do ataque, olhar para o sonho feliz em nossas fitas de vídeo em vez de para os pesadelos. Somos solicitados, de fato, a deixarmos tudo para Ele. Nosso trabalho é simplesmente pedirmos o milagre. A extensão do milagre através de nós, como já mostramos, é Sua responsabilidade. Como Jesus diz no texto com relação ao perdão: A extensão do perdão é a função do Espírito Santo. Deixa isso a Ele. Permite que a tua preocupação seja apenas a de dar a Ele o que pode ser estendido. Não guardes segredos escuros que Ele não possa usar, mas oferece-Lhe as dádivas diminutas que Ele pode estender para sempre (T-22.VI.9:2-5). 101
Agora, vamos passar para o Capítulo 22, seção “A impecabilidade do teu irmão”, parágrafo oito, sentença cinco (T-22.II.8:5-6): (T-22.II.8:5-6) Aquele, cuja função é salvar, salvará. Como Ele o fará, está além da tua compreensão, mas quando tem que ser escolha tua. Isso é uma extensão direta do que acabamos de falar. Nossa única responsabilidade é escolher o milagre. Como o Espírito Santo vai estender Seu milagre através de nós não é nossa preocupação. Nossa única preocupação é escolhê-lo. Com já vimos, a expressão do milagre já aconteceu, pois essa fita de vídeo em particular já foi filmada e está no banco de memória do computador das nossas mentes. O que resta é nós aprendermos a escolhê-lo. Assim, quando vamos aprender a apertar aquele botão é a nossa escolha. Pois o tempo tu fizeste e o tempo podes comandar. Não és mais escravo do tempo do que do mundo que fizeste. A delusão do mundo é que nós estamos sujeitos a forças além do nosso controle: não podemos controlar a devastação do tempo sobre nossos corpos, não podemos controlar o que as pessoas nos dizem. Essa crença nos leva a nos identificar com uma imagem de vítima perfeitamente inocente que todos acreditamos ser. Ao nos aproximarmos do véu final da falta de perdão que nos separa do Amor de Deus, descrito em “Os obstáculos à paz”, somos solicitados a olharmos verdadeiramente para o sistema de pensamento do ego pela primeira vez: Parece-te que o mundo te abandonará completamente se apenas ergueres os teus olhos. No entanto, tudo o que vai ocorrer é que deixarás o mundo para sempre. Esse é o restabelecimento da tua vontade. Olha para isso de olhos abertos e nunca mais acreditarás que estás à mercê de coisas além de ti, de forças que não podes controlar e de pensamentos que vêm a ti contra a tua vontade (T-19.IV-D.7:1-4). Jesus, assim, está nos dizendo que podemos escolher mudar nossas mentes e escolher um tipo diferente de experiência, reconhecendo que nossas decisões são as determinantes da nossa aflição e as causas das nossas experiências de vitimação. Nós somos escravos apenas das nossas próprias escolhas. P: Esta é uma linha muito pesada: “Pois o tempo tu fizeste, e o tempo podes comandar”. Quantas pessoas nesse mundo jamais tiveram uma experiência de comandar o tempo? R: Muito, muito poucas. Esse é o propósito por trás de passagens como essas: nos ensinar a verdade que é desvirtuada pela nossa experiência. Nós podemos ver novamente o ensinamento revolucionário do Um Curso em Milagres, que literalmente diz que o mundo todo é uma ilusão. Nossa experiência de tempo e espaço existe apenas em nossas mentes e, portanto, tem o poder de mudar a experiência. Assim, existe uma idéia metafísica profunda envolvida aqui também, pois isso significa que podemos literalmente mudar o tempo. A forma de aprendermos como fazer isso é escolhendo o que parecem ser os pequenos milagres na vida diária. Vamos agora passar ao Capítulo 25, seção III, parágrafo seis (T-25.III.6): (T-25.III.6) Cada um aqui entrou na escuridão, no entanto, ninguém entrou sozinho. Nem precisa ficar mais do que um instante. Pois veio com a Ajuda do Céu [o Espírito Santo] dentro de si, pronta para conduzi-lo para fora da escuridão rumo à luz a qualquer momento. 102
O contexto dessas declarações é uma visão linear do tempo. Quando nós nascemos nesse mundo, que é um mundo de escuridão, não estamos sozinhos, embora nosso ser físico tenha sido subitamente empurrado para fora do seu lar, no útero materno. O Espírito Santo permanece dentro de nossas mentes. Assim, enquanto nossa experiência física é a de que nós nascemos nesse mundo sozinhos, separados da nossa mãe e cada vez mais forçados a prover a própria subsistência, a verdade é que nós não estamos sozinhos, pois a presença amorosa do Espírito Santo está dentro de nossas mentes também. O momento que ele escolhe [ser conduzido para fora da escuridão] pode ser qualquer momento, pois a ajuda está lá, apenas esperando pela sua escolha. E quando ele escolhe usar o que lhe é dado, então verá cada situação que antes imaginava como um meio para justificar a sua raiva se transformar em um evento que justifica o seu amor. Nós encontramos a mesma idéia expressa de novo e de novo: nós não temos que esperar pela felicidade futura, pois ela pode acontecer bem agora. Isso é uma expressão muito prática e específica da idéia básica do Curso de que em qualquer momento determinado, podemos escolher o Espírito Santo em vez do ego. Nós então podemos ver que o que o ego interpretou como uma situação envolvendo uma vítima e um vitimador, agora pode ser modificado para experienciarmos duas crianças iguais de Deus, cada uma pedindo o amor que negou. Apesar da forma do que parece estar acontecendo, isso continua sendo a verdade. E essa verdade espera o reconhecimento de nossas mentes de que nós estamos fazendo isso a nós mesmos. Isso é expresso muito poderosamente na seguinte passagem: O segredo da salvação é apenas esse: tu estás fazendo isso a ti mesmo. Seja qual for a forma do ataque, isso ainda é verdadeiro. Seja quem for que se coloque no papel do inimigo e do agressor, isso ainda é a verdade. Seja o que for que pareça ser a causa de qualquer dor ou sofrimento que sintas, isso ainda é verdadeiro. Pois não reagirias de forma alguma a figuras de um sonho que soubesses que estavas sonhando. Que elas sejam tão odientas e más quanto puderem, não poderiam ter nenhum efeito sobre ti, a não ser que tenhas fracassado em reconhecer que esse é o teu sonho (T-27.VIII.10). Voltamos agora à seção VI, “A função especial”, a metade do parágrafo cinco (T-25.VI.5): (T-25.VI.5:3-11) O perdão é a única função que tem significado no tempo. É o meio que o Espírito Santo usa para traduzir o especialismo, de pecado em salvação. O perdão é para todos. Mas quando ele está em todos, está completo e todas as funções desse mundo estão completas com ele. Então, o tempo não mais existe. Entretanto, enquanto ainda se está no tempo, há muito a se fazer. E cada um tem que fazer o que lhe cabe, pois todo o plano depende da parte de cada um. Isso, é claro, refere-se ao fim do tempo, quando todos completaram sua parte de perdão no plano da Expiação. Nós devemos considerar esse tema em profundidade na Parte III. O tema de termos muito o que fazer nesse mundo é expresso na Lição 169, já discutida, onde Jesus está falando sobre as dimensões metafísicas do tempo. Ele então subitamente rompe com isso, dizendo que não existe maneira de podermos entender essas idéias, e que deveríamos em vez disso, falar do que podemos entender: perdão. Ainda resta muito que temos que fazer, o que, é claro, é perdoarmos nossos parceiros especiais. Todos nós precisamos completar nossa parte, de outra forma, o plano fica incompleto. Esse é o significado da Lição 186: “A salvação do mundo depende de mim”. Cada um [cada Filho] tem uma parte especial no tempo, pois escolheu assim e escolhendo assim, ele a fez para si mesmo. O seu desejo não foi negado, mas mudado 103
em sua forma, de modo que pudesse servir ao seu irmão e a ele próprio e assim vir a ser um meio de salvar em vez de perder. Quando o tapete foi desenrolado e nós escolhemos aquele único instante no qual o terror tomou o lugar do amor, naquele mesmo instante, escolhemos todos os nossos parceiros de amor e ódio especial, e todas as maneiras nas quais iríamos experiênciar os roteiros de vítima e vitimador do ego. Assim, conteúdo e forma aconteceram simultaneamente, uma vez que o tempo seqüencial é ilusório. Dentro do mesmo instante ilusório, o Espírito Santo desfez o equívoco – conteúdo e forma. Assim, esses relacionamentos especiais agora se tornam nossa função. Dito de outra forma, junto com a coleção de fitas de ódio, crueldade, separação e morte do ego existem sua contraparte: uma forma diferente de olhar para o mundo. Nossos egos desejaram ser especiais, e esse desejo original agora se manifesta em nossos relacionamentos especiais. Quando escolhemos nos identificar com o Espírito Santo, esse mesmo desejo de ser especial assume o conteúdo do nosso pedido de ajuda, e assim, a forma agora serve à resposta amorosa de perdão do Espírito Santo a nós. Incidentalmente, a palavra “forma” na última sentença da passagem acima tem o significado de “conteúdo” ainda outro exemplo do uso inconsistente que Jesus faz da linguagem (forma), no entanto, permanecendo consistente com o significado (conteúdo). As passagens finais no texto, que vamos examinar estão no Capítulo 26, a seção “A iminência da salvação” (T-26.VIII.1). Nós começamos com o primeiro parágrafo dessa seção: (T-26.VIII.1) O único problema que permanece para ti é o fato de veres um intervalo entre o momento em que perdoas e o momento em que vais receber os benefícios de confiar em teu irmão. Nós encontramos a mesma idéia mencionada antes: ainda acreditamos na realidade do tempo e na enormidade da tarefa de liberar a nossa culpa. Nós acreditamos que existe uma tremenda quantidade de tempo necessária entre o momento em que escolhemos o perdão e o momento em que recebemos os benefícios do Espírito Santo, significando os benefícios de liberarmos nossa culpa e experienciarmos a paz que vem de realmente confiarmos uns nos outros. Para reiterar a linha já citada: Tu não tens idéia do tremendo alívio e paz profunda que vêm de encontrares a ti mesmo e a teus irmãos totalmente sem julgamento (T-3.VI.3:1). Nós acreditamos que temos que sacrificar nossa felicidade presente para expiarmos pelos nossos pecados, a fim de assegurarmos nossa felicidade futura; uma crença que deriva, em última instância, da dinâmica de que a culpa exige punição. Isso não nos permite entender que podemos ser felizes agora. E, embora esse processo pareça levar tempo, na verdade, leva apenas um instante, o instante santo no qual escolhemos o Amor e o perdão do Espírito Santo como nosso guia, em vez da culpa e medo do ego. O instante santo, é claro, não leva tempo algum, e acontece na dimensão da eternidade. Isso apenas reflete o pouco que tu queres manter entre tu e o teu irmão, de maneira que tu e ele possam ser um pouco separados [aquela pequena brecha de separação sobre a qual essa parte do texto fala]. Pois o tempo e o espaço são uma ilusão única, que toma formas diferentes. Nós nos agarramos à idéia de que somos separados uns dos outros, e, ao fazê-lo, nos agarramos à idéia de que o mundo separado de tempo e espaço é real. O tempo e espaço consistem de uma única ilusão de sermos separados, e são, de fato, diferentes apenas em 104
formas desse mesmo pensamento. Jesus agora continua falando sobre essas duas formas diferentes de ilusão; a fábrica básica da nossa existência aqui. Se foi projetada além da tua mente, pensas nela como tempo. Quanto mais é trazida para perto de onde está a tua mente, tanto mais pensas nela em termos de espaço. O “nela” se refere à ilusão de separação, então, a linha pode ser lida como: “Se a separação foi projetada além da tua mente, pensas nela como tempo”. Isso é a ilusão da linearidade do passado, presente e futuro, levando a uma visão do que aconteceu há mil anos como diferente do que está acontecendo agora, diferente também do que vai acontecer daqui a mil anos. Assim, nós manifestamos a ilusão da separação por quebrarmos o tempo e tornarmos seus segmentos separados, distorcendo a verdadeira continuidade do tempo, revelada a nós pelo instante santo. Quanto mais é [a separação] trazida para perto de onde está a tua mente, tanto mais pensas nela em termos de espaço. Isso significa que nós agora pensamos que você e eu estamos habitando a mesma dimensão de tempo, mas que ainda somos separados porque estamos habitando espaços diferentes. Assim, encontramos variações diferentes da mesma idéia básica de sermos separados. Uma variação é a de que somos separados no tempo, então, eu sou separado dos gregos antigos, as pessoas pré-históricas e os dinossauros, e sou separado de qualquer forma que eu acreditar que vá envolver o futuro. Outra variação é dizer que nós compartilhamos a mesma dimensão de tempo, mas ainda somos separados porque somos separados fisicamente. Jesus está nos ensinando aqui que não existe diferença entre dizer que você e eu somos fisicamente separados, e dizer que eu sou separado das pessoas que vivem em diferentes períodos da história. Essas são simplesmente formas diferentes da mesma idéia. E assim é que nosso enraizamento na separação torna impossível para nós acreditarmos que podemos ser curados agora, como lemos, pulando um parágrafo: (T-26.VIII.3) A salvação é imediata. A não ser que a percebas assim, terás medo da salvação, acreditando que o risco de perda é grande entre o momento em que o seu propósito passa a ser o teu e o momento em que os seus efeitos virão a ti. A menos que escolhamos aceitar o instante santo agora, vamos continuar a sustentar sistema de pensamento ilusório do ego, que nos ensina a temer a punição vingativa do Amor de Deus. Portanto, nossa única salvação é sofrer dor e nos sacrificarmos agora, para podermos apaziguar Sua ira e esperançosamente ser salvos em algum momento no futuro. Pulando algumas poucas linhas, lemos: O tempo é tão neutro quanto o corpo, exceto em termos da função que vês para ele. E então, novamente, vemos que uma vez que o ego fez o tempo para servir ao seu propósito de atacar a eternidade, ele se torna neutro em nossa experiência dentro do sonho de estarmos aqui. Assim, o tempo pode ou continuar a servir ao propósito do ego de manter a ilusão do nosso passado pecaminoso, presente culpado e futuro amedrontador, ou ao propósito do Espírito Santo, de desfazer essa crença insana através do perdão. O propósito é o único critério para avaliarmos significativamente qualquer aspecto do mundo físico. Vamos agora passar ao parágrafo seis (T-26.VIII.6:1-2): (T-26.VIII.6:1-2) A realização de toda correção não toma tempo algum. Entretanto, a aceitação disso pode parecer durar para sempre. 105
Mais uma vez, vemos os níveis metafísico e experiencial expressos juntos. Para trabalharmos na correção, da nossa posição de fora do tempo como o observador (gráfico 3), precisamos apenas mudar os botões que vamos apertar, dessa forma decidindo que o tempo é uma ilusão e nós não o desejamos mais. Isso não leva tempo algum, porque já aconteceu. Nós só precisamos de um único instante ilusório no qual acreditamos no ego, e agora precisamos apenas do instante santo ilusório para desfazermos essa escolha equivocada. No entanto, parece que é necessário um tempo tremendamente longo dentro do mundo da ilusão. Dentro da ilusão do tempo, a Expiação parece ser um processo tremendamente longo, e o final muito, muito distante. No entanto, na realidade, para afirmar de novo, a salvação aconteceu em apenas um instante, porque ela já foi alcançada em um instante. Vamos passar agora para o livro de exercícios e examinar duas passagens que vão dizer essencialmente a mesma coisa que estivemos discutindo. Começamos com os parágrafos treze e quatorze da Lição 136, “A doença é uma defesa contra a verdade” (LE-pI.136.13-14). A linha anterior afirma que o que Deus quer para nós tem que ser recebido. Isso expressa a idéia de que dar e receber são o mesmo e assim, o que Deus nos deu, nós já recebemos e não podemos perder. Esse é o contexto das passagens que vamos examinar agora. (LE-pI.136.13) É esse fato que demonstra que o tempo é uma ilusão. Pois o tempo permite que penses que o que Deus tem te dado não é a verdade agora, como tem que ser. Se Deus nos deu a criação, e nos deu a Si Mesmo, então, somos essa criação, a extensão daquele Ser, e assim, não podemos ser separados Dele. O tempo, no entanto, nos diz que nós somos separados. Mesmo que em nossos melhores momentos nós acreditemos que realmente somos separados agora, mas que seremos recompensando no Céu quando morrermos, nós ainda trabalhamos sob a mesma ilusão – de que existe uma brecha entre onde estamos e onde Deus ou o Céu estão. A realidade é que o mundo do tempo é um sonho, e nós permanecemos despertos com Deus e em unidade com Ele. Os Pensamentos de Deus estão bem à parte do tempo, pois o tempo não passa de mais uma defesa sem sentido que fizeste contra a verdade. No entanto, o que é a Sua Vontade está aqui e tu permaneces tal como Ele te criou. Lembre-se de que o contexto dessa lição é o de que a doença é uma defesa contra a verdade. Nós inventamos o tempo como uma defesa contra a verdade da eternidade, e então, essa linha é outra afirmação muito clara sobre o ensinamento do Curso de que nem Deus nem o Espírito Santo fizeram o tempo. O Espírito Santo simplesmente reinterpretou o tempo para nós. A verdade é que nós não somos separados de Deus no tempo ou espaço, pois permanecemos em unidade com Ele, como Ele nos criou. (LE-pI.136.14) A verdade tem um poder que vai muito além das defesas, pois nenhuma ilusão pode permanecer onde foi permitido à verdade entrar. E ela vem a cada mente que queira abaixar as armas e parar de brincar com a loucura. A verdade entrou em nossas mentes através do Espírito Santo, e então, tudo o que precisamos fazer é aceitar Sua presença e nos identificarmos com Ela, em cujo ponto toda a ilusão do tempo desaparece. Nós, então, somos solicitados a “deixar de brincar” com o que em outro trecho é descrito como os infantis brinquedos do pecado (T-29.IX.6:2-3; T-30.IV.4:6-11; LE-pII.4.5:2). O pecado, a pedra fundamental do sistema de pensamento do ego, parece muito sério para nós. No entanto, na verdade, o pecado é tão tolo quanto qualquer jogo que uma criança jogue, sem mais realidade do que o mundo de faz-de-conta dos brinquedos das crianças ou dos nossos sonhos adormecidos. Assim, lemos por exemplo: 106
Os exaustivos e insatisfatórios deuses que fizeste são brinquedos inflados de criança. Uma criança se assusta quando uma cabeça de madeira salta de uma caixa fechada que é repentinamente aberta, ou quando um urso de pelúcia macio e silencioso começa a rosnar no momento em que ela o segura... Mas tu não estás em perigo. Podes rir das cabeças que pulam e dos brinquedos que rosnam, assim como a criança que aprende que eles não são uma ameaça para ela... Todas as ilusões a respeito de ti mesmo, nas quais acreditas, não obedecem a lei alguma. Elas parecem dançar por algum tempo de acordo com as regras que estabeleceste para elas. Mas então caem e não conseguem reerguer-se. Elas são apenas brinquedos, minha criança, portanto, não te lamentes por elas (T-30.IV.2:1-2; 3:5-6; 4:3-6). Como poderia um exército atuar em sonhos? Atuaria de qualquer maneira. Poderia ser visto atacando qualquer pessoa com qualquer coisa. Sonhos não têm razão em si mesmos. Uma flor torna-se uma lança envenenada, uma criança torna-se um gigante e um camundongo ruge como um leão. E o amor torna-se ódio com a mesma facilidade. Isso não é um exército, mas uma casa de loucos. O que parece ser um ataque planejado é um hospício (T-21.VII.3:7-14). Ela [a verdade] pode ser encontrada em qualquer momento, hoje, se escolheres praticar dar boas-vindas à verdade. A verdade da presença eterna de Deus em nós, e da nossa eterna presença interna como Cristo, pode vir a qualquer instante. Tudo o que é necessário é que, como observadores desses sonhos insanos, nós mudemos o que queremos experienciar. No momento em que mudamos aquele desejo, ele já aconteceu. Como a maravilhosa linha no livro de exercícios diz: “Estamos preocupados apenas em dar boas-vindas à verdade” (LE-pII.14.3:7). Mudar nossas mentes e dar boas-vindas ao que já está lá é, portanto, nosso único desejo verdadeiro. Agora, vamos passar ao primeiro parágrafo da Lição 138, “O Céu é a decisão que eu tenho que tomar” (LE-pI.138.7:1-2). Essa lição afirma a idéia de que o Céu é uma escolha. Mas é uma escolha de aceitarmos o que já temos, não o que ainda temos que atingir: o Céu já está em nós. (LE-pI.138.7:1-2) Assim, hoje começamos considerando a escolha para a qual o tempo foi feito a fim de nos ajudar a fazê-la. Tal é o seu [do tempo] propósito santo, agora transformado, pois não tem mais a intenção que tu lhe deste... Claramente, isso não significa que o Espírito Santo fez o tempo, mas simplesmente que Ele reinterpreta o que nós fizemos. Nós fizemos o tempo para atacar Deus, refletindo nossa escolha pelo inferno, enquanto o Espírito Santo reinterpreta o tempo como uma ajuda para escolhermos o Céu. De forma similar, o Curso em outro trecho descreve a “feitura” do Espírito Santo em relação ao mundo: Há um outro Fazedor do mundo, Aquele Que simultaneamente corrige a crença louca em que alguma coisa possa ser estabelecida e mantida sem algum elo que a retenha dentro das leis de Deus; não como a lei em si mesma mantém o universo como Deus o criou, mas de alguma forma adaptada à necessidade de que o Filho de Deus acredita que tem... Há um outro propósito no mundo feito pelo erro, porque ele tem outro Fazedor, Que é capaz de conciliar a sua meta com o propósito do Seu Criador (T-25.III.4:1; 5:1).
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Estou enfatizando esse ponto porque os estudantes do curso freqüentemente pegam essas linhas assim como outras fora de contexto, para afirmarem que Jesus está nos ensinando que Deus ou o Espírito Santo fizeram o tempo. Isso seria uma leitura erroneamente grosseira do que o curso realmente quer dizer, que é que o tempo é “transformado pela intenção que tu lhe deste”; uma intenção de assassinato e inferno. Dado ao Espírito Santo, o tempo é reinterpretado e transformado como uma saída do inferno. Assim, estamos mais uma vez falando de propósito, e essa mudança do propósito do ego para o do Espírito Santo. A sentença do livro de exercícios realmente seria mais inteligível se houvesse dois pontos em vez de um ponto-e-vírgula depois de “lhe deste” (NT: o original, em inglês, realmente aparece com um ponto-e-vírgula depois de “gave it”, mas, na tradução em português, já optou-se pelos dois pontos de que fala Kenneth Wapnick). Vamos lê-lo pontuado dessa forma:
Tal é o seu propósito santo, agora transformado, pois não tem mais a intenção que tu lhe deste: de que fosse um meio para demonstrar que o inferno é real, que a esperança vem a ser desespero e que a própria vida, no fim, não pode deixar de ser vencida pela morte. Esse, então, é o significado que nós demos ao tempo. Se nós mudarmos nossas mentes, o Espírito Santo será capaz de nos ensinar que o tempo é irreal. O tempo, portanto, se torna uma sala de aula na qual aprendemos que o Céu é o que nós realmente queremos. De fato, o Céu é o que nós verdadeiramente somos; e o inferno, desespero e morte são as ilusões. Vamos passar à lição 194, “Entrego o futuro nas Mãos de Deus” (LE-pI.194.4). Já li brevemente essa passagem em outro contexto, mas devo repeti-la agora e então continuar. Começo com o quarto parágrafo, outra clara expressão de como o Espírito Santo e o Um Curso em Milagres usam nossas ilusões do tempo para nos ensinar que não existe tempo. (LE-pI.194.4) Deus mantém o teu futuro, assim como Ele mantém o teu passado e o presente. São um só para ele e, portanto, também deveriam ser um só para ti. Isso reflete a verdadeira continuidade do tempo, que é totalmente um. Toda a extensão do tempo, desenrolando-se por bilhões de anos, não é nada mais do que um único instante ilusório. No entanto, nesse mundo, o progresso temporal ainda parece real. E assim, não te é pedido que compreendas que realmente não há nenhuma seqüência no tempo. Só te é pedido que soltes o futuro e o coloques nas Mãos de Deus. E verás por experiência própria que também puseste o passado e o presente nas Suas Mãos, pois o passado deixará de punir-te e o medo do futuro será agora sem significado. Se nós levarmos nossa culpa ao Espírito Santo – nossas ilusões à verdade, nossa escuridão à luz – Ele pode tirá-las de nós. Mais uma vez, podemos ver que o Um Curso em Milagres está nos pedindo para entregarmos a culpa do passado, que não apenas nos liberta da crença em nossa pecaminosidade, mas correspondentemente, também nos liberta do nosso medo de que o futuro vá nos punir. Temores futuros, assim, se tornam sem significado. É por isso que se não tivermos culpa em nossas mentes, não poderemos ter medo. O medo vem apenas da crença inconsciente de que nós merecemos ser punidos pelos pecados do passado. (LE-pI.194.5) Libera o futuro. Pois o passado se foi e o que é presente, livre do seu legado de pesar e miséria, de dor e de perda, vem a ser o instante em que o tempo escapa da sujeição às ilusões, onde ele segue o seu curso impiedoso e inevitável. Então, cada instante que era antes escravo do tempo transforma-se num instante santo, em que a luz até agora oculta no Filho de Deus é libertada para abençoar o mundo. 108
A luz de Cristo era mantida oculta pelas nuvens de culpa, nas quais nós nos amortalhamos, e nas quais também projetamos nossos pecados, vendo-os em outros, em vez de em nós mesmos. A frase “seu curso impiedoso e inevitável” reflete a já mencionada descrição do manual sobre o mundo como exaurido, sem esperança e em desespero (MP1.4:4-5). P: Isso também poderia ser ligado a causa e efeito, ou ação e reação, porque diz que é um curso inevitável? R: Sim, uma vez que escolhemos o pecado e a culpa do passado, inevitavelmente temos que ver o mundo como uma prisão hostil e sombria, da qual não existe escapatória. O desespero é o efeito inevitável do pecado. A aceitação da causa como verdadeira automaticamente torna o efeito verdadeiro também. Essa passagem também reflete a ênfase muito importante colocada no Curso sobre não termos que buscar a luz, mas em vez disso, termos que remover as interferências à extensão natural dessa luz através de nós. No contexto do amor que esteve enterrado dentro de nossas mentes, o Curso afirma, como já vimos (veja p. 26 acima): A tua tarefa não é buscar o amor, mas simplesmente buscar e achar todas as barreiras que construíste dentro de ti contra ele. Não é necessário buscar o que é verdadeiro, mas é necessário buscar o que é falso (T-16.IV.6:1-2). E então, em outra passagem: O curso não tem por objetivo ensinar o significado do amor, pois isso está além do que pode ser ensinado. Ele objetiva, contudo, remover os bloqueios à consciência da presença do amor... (T-in.1:6-7). Agora ele é livre e toda a sua glória brilha sobre um mundo libertado junto com ele, para compartilhar a sua santidade. Essa sentença resume a mensagem básica do Um Curso em Milagres: conforme perdoamos uns aos outros, somos libertados. Uma vez que nós, como Filhos separados de Deus, somos todos, em última instância, parte da única mente egóica, uma mente de nãoperdão ou culpa, o perdão verdadeiro desfaz essa culpa como uma, e então, somos todos libertados e curados juntos. O próximo capítulo trata especificamente dessa questão.
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Capítulo 7 CULPA: O USO QUE O EGO FAZ DO TEMPO Antes de seguirmos para o próximo grupo de passagens, deixe-me primeiro comentar mais sobre o uso que o ego faz do tempo. Nós estivemos discutindo o tempo no Nível Dois, que não é a visão metafísica que consideramos na Parte I. O contexto aqui é que tudo que o ego fez, e continua a usar, é uma defesa contra Deus. Talvez a mais poderosa dessas defesas seja o tempo, que foi feito pelo ego como uma forma de proteger a si mesmo da sua ameaça percebida de eternidade. Nessa conexão, a culpa é o instrumento mais efetivo do ego para assegurar que acreditemos no tempo, porque, como vamos ver em algumas passagens que vamos estudar, é a culpa que nos diz que os pecados do nosso passado aconteceram e são reais. Isso então significa que a punição que a culpa nos diz que merecemos deve ser temida no futuro. Dessa forma, o ego torna tanto o passado quanto o futuro reais, o que seguramente ancora sua versão de tempo, pois ela obscurece o presente, a janela para a eternidade. Uma das idéias proeminentes que encontramos em muitas, senão em todas, as espiritualidades do mundo, tanto no oriente quanto no ocidente, é que, pelo fato do tempo ser real, a salvação tem que aderir às leis do tempo. Assim, no ocidente, e particularmente no cristianismo, as pessoas são ensinadas que a maneira de expiar pelos pecados do passado é se sacrificar e sofrer agora, no presente, para que as recompensas do Céu estejam asseguradas no futuro. Isso claramente reforça a defesa da linearidade do tempo do ego. O paralelo oriental a essa noção é a lei do carma, também amplamente baseada na idéia de que o tempo é linear. Essa visão oriental sustenta que nós temos que trabalhar nossos pecados do passado através de reencarnações sucessivas, o que é outra forma de dizer que nossa salvação repousa no futuro. Claramente, uma das ênfases principais que encontramos através do Um Curso em Milagres, como já discutimos, é a de que a salvação é agora. É o agora que está representado pelo observador no gráfico 3. Nós não temos que trabalhar a nossa salvação através dos eventos dentro do caleidoscópio, o lado direito do gráfico. Nós a trabalhamos por escolher, além do tempo, liberar tudo o que parece estar no tempo. O Curso não está falando sobre os mesmos tipos de coisas que encontramos, por exemplo, na terapia Gestalt, que também enfatiza o aqui e agora. O “aqui e agora” do Curso está em um nível muito mais profundo. Ele não está primariamente preocupado em simplesmente viver no presente e liberar o passado; um processo que ainda é focalizado no corpo, embora essa seja uma parte significativa do processo. Sua meta última é liberar inteiramente nossa noção de tempo. É por isso que o Curso continuamente coloca ênfase na salvação sendo agora, dentro do instante santo, que nos leva diretamente para fora da linearidade do tempo. Nesse ponto, toda a natureza defensiva do tempo entra em colapso e o próprio ego desaparece, “na nulidade da qual ele veio” (MP-13.1:2). A passagem que vamos examinar agora reflete essa forma distintiva de considerar o tempo. Nós começamos com o parágrafo quatro de “A função do tempo”, no Capítulo 13 (T13.IV.4): 110
(T-13.IV.4) O ego tem uma estranha noção de tempo e é com essa noção que poderias começar o teu questionamento. Como Jesus faz em muitos outros trechos no Curso, ele está nos pedindo para olharmos para o sistema de pensamento do ego com ele. Dois outros exemplos proeminentes se seguem, incluindo um que já citamos na Parte I: Não tenhas medo de olhar para o relacionamento especial de ódio, pois a liberdade está em olhar para ele... Ao olhar para o relacionamento especial é necessário em primeiro lugar reconhecer que nele está envolvida uma grande quantidade de dor (T16.IV.1:1; T-16.V.1:1). As “leis” do caos podem ser trazidas à luz, embora nunca possam ser compreendidas... Vamos, então, olhá-las calmamente para que possamos olhar para o que está além delas, compreendendo o que são e não o que elas querem manter. É essencial que se compreenda para o que servem, porque o propósito que têm é fazer com que a verdade seja sem significado e atacá-la. Aqui estão as leis que regem o mundo que fizeste. E, no entanto, nada governam e não é preciso quebrá-las, simplesmente olhar para elas e ir além (T-23.II.1:1,4-7). Nesse conjunto de passagens em particular, Jesus está nos pedindo para examinarmos o uso manipulativo que o ego faz do tempo, através da culpa e do medo. Uma vez que entendemos essas dinâmicas e percebemos o propósito da culpa, podemos dar um passo atrás e entender que não somos culpados pelas razões que pensamos. Tudo o que aconteceu é que nós passamos a fita do ego em vez da fita do Espírito Santo, tendo nos enraizado em uma crença de que a culpa e o medo são reais e justificados. O problema nunca é aquilo pelo que pensamos ser culpados ou de que temos medo, mas em vez disso, é o fato de termos escolhido permanecer escravos da culpa e do medo do tempo. Assim, entender o uso que o ego faz do tempo nos permite fazer outra escolha, e isso então nos permite dar um passo principal em direção a nos libertarmos da natureza aprisionadora do sistema de pensamento do ego. Voltando agora ao Capítulo 13, no texto (T-13.IV.4:2): O ego investe maciçamente no passado e no final acredita que o passado é o único aspecto do tempo que é significativo. Lembra-te que a ênfase que ele coloca na culpa lhe permite assegurar a própria continuidade, fazendo com que o futuro seja como o passado e assim evitando o presente. Através da noção de pagar pelo passado no futuro, o passado vem a ser o determinante do futuro, fazendo com que ambos sejam contínuos sem a intervenção do presente. Pois o ego considera o presente apenas como uma breve transição para o futuro, na qual ele traz o passado ao futuro interpretando o presente em termos passados. Nós discutimos a continuidade do ego suficientemente, então, não temos que rever suas dinâmicas em grandes detalhes. “Continuidade” de acordo com o ego é o elo do passado e do futuro, o que se torna uma defesa contra a “verdadeira” continuidade do presente, que leva continuamente ao Céu. A continuidade do ego, por outro lado, é o seu céu, que é meramente inferno. As teorias psicológicas mais proeminentes, quase todas em última instância derivadas de Freud, são exemplos disso. Tais teorias tipicamente sustentam, de uma forma ou de outra, que a criança é o pai do homem; i.e., o que acontece no passado nos aprisiona e determina o que o futuro será. É como se nossas experiências passadas gravassem nosso futuro em pedra, 111
cujo cerne nunca pode ser modificado, mas simplesmente abordado de forma diferente. Tudo então é percebido através do filtro do nosso passado culpado. (T-13.IV.5) O “agora” não tem qualquer significado para o ego. O presente apenas lembra a ele feridas passadas e ele reage ao presente como se fosse o passado. O ego não pode tolerar a liberação do passado e, embora o passado já esteja acabado, o ego tenta preservar sua imagem respondendo como se ele estivesse presente. Obviamente, a razão pela qual o “agora” não tem significado é que no instante santo, que é agora, nós liberamos a culpa do passado e o medo do futuro que obscureceram a presença contínua do Espírito Santo. Assim, dizer que o ego não é capaz de tolerar a liberação do passado não é diferente de dizer que o ego tem medo do amor, ou que o ego tem medo do perdão. A atração da culpa, então, se torna a maneira pela qual o ego protege a si mesmo do Amor do Espírito Santo, pois nossa aceitação desse Amor realmente significa o fim do seu sistema de pensamento. Ele [o ego] dita as tuas reações àqueles que encontras no presente a partir de um ponto de referência passado, obscurecendo a sua realidade presente para ti. Com efeito, se seguires os ditames do ego, reagirás ao teu irmão como se ele fosse outra pessoa e isso, com certeza, te impedirá de reconhecê-lo como ele é. A declaração inicial prenuncia as discussões posteriores sobre o especialismo, e principalmente a seção “Sombras do passado”, no Capítulo 17. Uma vez que vemos através do filtro do passado, não podemos ver a luz de Cristo que brilha em outros. Em vez disso, vamos ver ao redor deles apenas uma, a sombra da culpa que nós colocamos lá. Nós a colocamos lá porque a projetamos de nossas mentes, como uma tentativa mágica de escapar da culpa do nosso passado. Um exemplo disso são as pessoas que têm problemas não resolvidos com seus pais, e com figuras de autoridade em geral, que então vêem qualquer figura de autoridade como se aquela pessoa fosse seu pai. A origem última do problema de autoridade, é claro, é nossa crença na separação de Deus, a única Autoridade. Veja, por exemplo, as duas últimas seções do Capítulo 3, no texto, para uma discussão sobre esse tópico importante (T-3.VI, VII). E receberás mensagens do teu irmão saídas do teu próprio passado, porque ao fazer com que ele seja real no presente, estás te proibindo de deixar que ele se vá. Assim, negas a ti mesmo a mensagem de liberação que todo irmão te oferece agora. A “mensagem de liberação, que é a mensagem de perdão, é a de que não existe passado porque não existe pecado nem culpa. Esse é o fator crucial, porque é a culpa que mantém junto o sistema de tempo do ego. Portanto, em minha escolha de ver outra pessoa, está minha escolha de ver a mim mesmo: culpado ou inocente, aprisionado ou livre. P: O cérebro provavelmente foi programado através dos eons da evolução para constantemente reagir ao passado. De fato, todo pensamento parece lidar com isso. Qual método poderíamos usar para ultrapassar esse padrão de ação-reação? R: Krishnamurti freqüentemente falou sobre isso. O primeiro passo é reconhecer, pelo menos intelectualmente, exatamente qual é o propósito do tempo do ponto de vista do ego. Em um nível prático, quando começamos a ficar zangados, o que significa que já ficamos presos no meio do sistema de pensamento do ego, deveríamos dar um passo atrás tão rapidamente quanto pudermos e olhar para nós mesmos caindo na armadilha. É isso o que quer dizer “pequena disponibilidade”; não existe realmente outra saída. A idéia é tentar e parar a reação do ego tão perto do seu ponto de partida quanto possível. 112
Esse processo, incidentalmente, é similar à prática budista de darmos um passo atrás e observarmos nossos pensamentos, e é extremamente útil como um exercício. Não estamos tentando parar os pensamentos, mas simplesmente dar um passo atrás e observá-los. Conseqüentemente, o poder desses pensamentos é diminuído porque seu poder reside em não olharmos para eles. Se nós dermos um passo atrás e nos observarmos ficando transtornados, a parte de nós que está observando não pode ser a parte que fica transtornada. Isso inicia o processo de enfraquecer nossa identificação com o ego. Um Curso em Milagres explica que não temos escolha além de escolher ou o ego ou o Espírito Santo como nosso guia. Não existem outras alternativas, e não podemos não escolher. Como o texto explica: ... não és capaz de tomar decisões por ti mesmo. A única questão realmente é: com que ajuda escolhes tomá-las. Isso é tudo na realidade... Não tomarás decisões por conta própria seja o que for que venhas a decidir. Pois elas são tomadas com ídolos ou com Deus. E pedes ajuda ao anticristo ou ao Cristo, e aquele que escolheres unir-se-á a ti e te dirá o que fazer (T-30.I.14:3-5,7-9). O ego tenta nos ensinar que uma vez que a raiva começa, ela é uma reação em cadeia, que tem que seguir seu curso até o fim, e só então, em algum ponto futuro – poucas horas, um dia ou dois depois, etc. – ela termina e estamos de volta à normalidade outra vez. Em certo sentido, é claro, ainda somos um prisioneiro, porque permanecemos vitimados pela raiva até que em algum momento no futuro, possamos estar pacíficos outra vez. E então, essa abordagem ainda está enraizada em uma visão linear do tempo, afirmando a idéia de que nós somos prisioneiros do nosso aprendizado passado. A saída dessa prisão, mais uma vez, é simplesmente determos a reação tão rapidamente quanto possível. Reconhecidamente, é muito difícil fazer isso, pelo menos de início. Mas, se fosse fácil, Jesus não iria falar sobre a dificuldade com a freqüência que faz. Dar um passo atrás e observar a nós mesmos atravessando o processo é útil mesmo se não pudermos detêlo. É melhor observar a si mesmo indo em frente do que estar cem por cento dentro do processo. Isso é realmente um progresso. E, quando podemos olhar para os ataques de nosso ego calma e gentilmente, i.e., com o amor gentil de Jesus ou do Espírito Santo ao nosso lado, com efeito, completamos nossa parte no processo do perdão. É o olhar com esse amor ao nosso lado que constitui os três passos do perdão que discuti em outro trabalho 9. Continuamos agora com o meio do parágrafo seis em “A função do tempo” (T-13.IV.6:6): (T-13.IV.6:6) O ego quer preservar os teus pesadelos e impedir-te de despertar e compreender que eles são o passado. Isso poderia ser visto em termos de nos sentarmos diante da tela, tendo dois botões para apertar; o botão do pesadelo e o do sonho feliz. O ego continuamente reforça a idéia de que nosso mundo de pesadelo é a realidade: o pecado e a culpa são os fatos, e nossa punição é merecida. Como já vimos, isso é a base das dimensões de passado e futuro do sistema do tempo do ego, o que o ego nos faria escolher em vez do botão do Espírito Santo, que ensina que o único momento é o agora. Seu ensinamento é o de que o perdão, não o medo, é nossa realidade nesse mundo. No ponto da escolha certa, nós entramos no sonho feliz, que eventualmente levará ao nosso despertar. P: Algumas vezes, as pessoas que se sentem solitárias em sua situação atual, passam muito de seu tempo tendo reminiscências sobre sua infância, ou a infância de seus filhos, etc. Essa seria uma maneira de usar seu passado para manter seus sonhos do ego intactos?
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Veja, por exemplo, Perdão e Jesus, sexta edição, p. 57-64.
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R: Plenamente. É isso o que o Curso quer dizer com fantasias, e fantasias são sempre uma defesa contra uma realidade com a qual não queremos lidar. Nós, então, recuamos por voltarmos às memórias do passado – tanto às memórias dolorosas que então nos capacitam a dizer: “Eu fui uma vítima e é por isso que sou tão infeliz”, quanto às agradáveis que levam a: “As coisas eram maravilhosas naquela época”, o que, é claro, nunca realmente o foram. Mas, acreditar que nosso passado era feliz nos capacita a nos sentir tão miseráveis como quando nosso passado foi terrível, pois nos tornamos justificados em nossa experiência atual de vitimação, pelo contraste com nosso passado maravilhoso. O ego vai nos aprisionar não importando a forma do sonho. Vamos pular para o próximo parágrafo: (T-13.IV.7) É evidente que a percepção que o Espírito Santo tem do tempo é exatamente oposta à do ego. A razão disso está igualmente clara, pois eles percebem a meta do tempo de maneiras diametralmente opostas. O Espírito Santo interpreta o propósito do tempo como o de tornar a necessidade do tempo desnecessária. Ele considera a função do tempo como temporária, servindo apenas à Sua função de ensinar, que é temporária por definição. Essa é uma estrutura comum a muitas seções do texto, onde a visão do ego é justaposta à do Espírito Santo. O propósito do ego é nos ensinar que o tempo é real, enquanto o propósito do Espírito Santo é nos ensinar exatamente o oposto. A sentença final é realmente um jogo de palavras. A função do tempo é temporária porque ela não vai durar. Ele também é temporário porque acontece dentro do tempo, por definição. O propósito do tempo, que é o perdão, foi dado ao Espírito Santo em resposta ao propósito do ego para o tempo, que é a culpa. Nós continuamos com uma passagem já parcialmente citada. A Sua ênfase, portanto, recai sobre o único aspecto do tempo que pode se estender até o infinito, pois o agora é a noção mais próxima de eternidade que esse mundo oferece. É na realidade do “agora” sem passado ou futuro, que está o começo da apreciação da eternidade. Pois só o “agora” está aqui e só o “agora” apresenta as oportunidades de encontros santos nos quais se pode achar a salvação. Nós ainda estamos funcionando dentro do segundo nível, dentro da natureza ilusória desse mundo, onde o tempo é visto como linear – passado, presente e futuro. Mas o Espírito Santo nos ajuda a usar essa linearidade para perdoar o passado, liberar o medo do futuro, e então reter o presente. Assim, nós claramente não estamos falando sobre eternidade, que é independente do tempo, mas em vez disso, dos passos dentro do sonho que vão nos levar ao Céu. Um outro ponto: como já mencionei, isso não deveria ser confundido com a ênfase da Gestalt no presente, o “aqui e agora’, porque isso é visto apenas dentro de um contexto linear, “desse mundo”. Um Curso em Milagres, por outro lado, fala sobre usar o “agora” para nos levar além do tempo inteiramente. Em acréscimo a isso, a abordagem puramente psicológica de avaliar o presente enfatiza nossos sentimentos: nós vivemos com nossos sentimentos no presente. A compreensão do Curso é de que os sentimentos não são o fator-chave, mas, em vez disso, são os efeitos dos pensamentos que fizeram surgir aqueles sentimentos. P: Na realidade, não é correto dizer que os sentimentos que estamos experienciando supostamente no agora, de acordo com terapeutas da Gestalt, realmente são o passado de acordo com o Curso? Eles não estão realmente acontecendo no presente, pois o “agora” real é apenas o momento no qual nos unimos a alguém. R: Certo. A visão Gestalt ainda é inerentemente localizada nesse mundo, porque os sentimentos que ela enfatiza acontecem dentro do corpo, o que automaticamente torna o passado real. A visão do Curso é radicalmente diferente, é claro. No entanto, deveria ser dito 114
que a ênfase da Gestalt no “aqui e agora” foi uma correção útil à compreensão freudiana sobre o presente estando aprisionado pelo passado. P: Em outras palavras, você está dizendo que o primeiro passo de ser capaz de recuar e observar a si mesmo fazendo algo está mais em linha com o modelo psicológico, mas que o verdadeiro perdão vai capacitá-lo a dar o próximo passo de reconhecer que os pensamentos e sentimentos expressos não são realmente você de forma alguma? R: Sim, isso é exatamente o que estou dizendo. É o olhar gentil para o ego, com o Amor do Espírito Santo ao nosso lado, que nos leva a pular do mundo do ego para o mundo de Deus, dessa forma nos libertando da tirania dos sentimentos – bons e maus – todos juntos. (T-13.IV.8) O ego, por outro lado, considera a função do tempo como a de estender a si mesmo no lugar da eternidade, pois assim como o Espírito Santo, o ego interpreta a meta do tempo como a sua própria. Mais para frente, o Capítulo 15 discute o uso que o ego faz do inferno, que é realmente a continuação de si mesmo (T-15.I.3-7). O uso da palavra “estender” aqui é interessante de se notar por causa da sua aplicação ao ego. Quase sempre, Um Curso em Milagres usa “estender” para o Espírito Santo. Essa passagem é uma exceção, e ela provê um ótimo exemplo de como Jesus não é rigidamente consistente em termos de forma, embora seja estritamente consistente em termos de conteúdo. A continuidade do passado e do futuro, sob a sua direção, é o único propósito que o ego percebe no tempo e ele abole o presente de tal forma que nenhuma brecha em sua própria continuidade possa ocorrer. A sua continuidade, portanto, iria manter-te no tempo, enquanto o Espírito Santo iria libertar-te do tempo. É a Sua interpretação do meio da salvação que tens que aprender a aceitar, se quiseres compartilhar da Sua meta de salvação para ti. O Espírito Santo usa o tempo, assim como o ego, mas o propósito do Espírito Santo ao usar o tempo é nos libertar dele, enquanto o do ego é nos enraizar ainda mais profundamente em seu mundo. Todos nós iríamos querer compartilhar a meta de salvação do Espírito Santo porque existe uma parte de nós que se sente miserável no mundo que fizemos. No entanto, nós primeiro temos que desaprender as lições do ego de que o tempo vai nos proteger da vingança da eternidade. Assim, nossas mentes primeiro têm que escolher aceitar a verdade do Espírito Santo sobre Sua gentileza. Praticar o perdão é o meio através do qual desaprendemos os ensinamentos do ego de que a salvação é separação, e então, nos unimos ao Espírito Santo e uns aos outros conforme viajamos juntos através do tempo até nossa meta: primeiro o instante santo, e então, nosso lar na eternidade. (T-13.IV.9) Tu também irás interpretar a função do tempo do mesmo modo como interpretas a tua. Se nós decidirmos que nossa função é atacar, separar e manter o ego, então, é claro, veremos o tempo como um meio de alcançar esses fins. Se, por outro lado, dissermos que nossa função aqui é perdoar, então, o tempo será visto como um meio de cumprir essa função. Mais uma vez, nós decidimos primeiro em nossas mentes o que queremos, e depois pensamos e nos comportamos de acordo: a projeção faz a percepção (T-13.V.3:5; T-21.in.1:1). Se aceitas a cura como tua função no mundo do tempo, enfatizarás somente o aspecto do tempo no qual a cura pode ocorrer. A cura não pode ser realizada no passado. Ela tem que ser realizada no presente para liberar o futuro. 115
Na tradição psicanalítica, assim como em outros sistemas psicológicos, a cura é sempre direcionada ao passado. Nós voltamos às mágoas e frustrações do passado para liberá-las, e é isso o que nos cura no presente. É claro, tudo o que aconteceu é que o passado foi tornado real e foi estabelecido como a causa dos nossos problemas atuais. A mente, que apenas existe no presente, portanto, tem seu poder negado. Tendo sido tornada impotente, a mente é incapaz de escolher a cura e paz verdadeiras. A cura e a paz que podem resultar são espúrias, no sentido de que não vão durar; a causa real da aflição – a culpa na mente – permaneceu nãoexaminada e, portanto, não-curada. Em outro nível, é claro, a cura é facilitada em qualquer momento em que duas pessoas se unem em um desejo de ajudar e ser ajudada. Essa cura, no entanto, não tem nada a ver com a forma da ajuda – nesse caso, alguma aplicação da teoria psicanalítica -, mas, em vez disso, com a união da mente do terapeuta e do paciente. O panfleto complementar do Curso sobre Psicoterapia discute isso: A cura é limitada pelas limitações do psicoterapeuta, assim como do paciente. O objetivo do processo, portanto, é transcender esses limites. Nenhum dos dois pode fazer isso sozinho, mas quando se unem, a potencialidade de transcender todas as limitações lhes foi dada. Agora, a extensão do seu sucesso dependerá de quanto dessa potencialidade eles estão dispostos a usar... O progresso vem a ser uma questão de decisão... Mas no fim não pode deixar de haver algum êxito. Um pede ajuda, um outro ouve e tenta responder na forma de ajuda. Essa é a fórmula para a salvação e não pode deixar de curar (P-2.III.2:1-4,6; 3:3-5). Essa interpretação liga o futuro ao presente e estende o presente ao invés do passado. Mas se interpretas a tua função como destruição, perderás de vista o presente e apegarte-ás ao passado para assegurar um futuro destrutivo. E o tempo será como tu o interpretas, pois por si mesmo, ele não é nada. A primeira sentença, é claro, refere-se à interpretação do Espírito Santo a respeito do que a cura verdadeira faz. Nosso futuro agora se torna uma extensão da cura do presente, que desfaz a crença no pecado passado. A paz resultante agora se estende através de nós, tanto nas dimensões do tempo (do presente para o futuro) quanto do espaço (uns aos outros). Se eu acreditar, no entanto, que minha função é destruir, vou sentir culpa. Focalizando-me nos pecados do meu passado, eu agora os projeto no futuro. Inevitavelmente, seguindo a lei do ego, essas projeções da minha mente vão voltar para me atacar. Como o texto afirma: É por isso que aqueles que projetam são vigilantes em favor de sua própria segurança. Eles têm medo de que suas projeções retornem e os firam. Acreditando que apagaram as suas projeções de suas próprias mentes, acreditam também que as suas projeções estão tentando voltar a introduzirem-se nelas de modo furtivo (T7.VIII.3:9-11). Portanto, minha culpa em relação aos pensamentos de destruir o mundo exige que o mundo depois tente me destruir. Essas projeções de culpa, em vez de um mundo externo “objetivo”, portanto, são a base de todo medo. O Curso continuamente enfatiza que o impulso básico do ego é destruir: o Céu, Deus e Cristo. E essa destruição se originou e vai terminar apenas na mente, apesar de seus aspectos aparentes no mundo. E o tempo será como tu o interpretas, pois por si mesmo, ele não é nada. Como tudo o mais no mundo, o tempo é neutro. Embora o ego o tenha feito como um ataque, o tempo se torna neutro na medida em que temos uma escolha se vamos continuar a 116
usar as coisas do mundo para o propósito do ataque, ou usá-las com um meio de perdoar o ataque. P: E se você for alguém orientado para a carreira, vendo sua função como a de jardineiro ou carteiro, em vez de entender a associação entre uma carreira e os dois propósitos de que o Curso fala aqui? R: Para você, então, o tempo poderia ser um meio para afastá-lo do terrível presente no qual você sente estar. Você, portanto, pode ansiar pelo dia no qual vai se aposentar e ficar livre do que percebe como o trabalho difícil de ser um carteiro, jardineiro ou seja o que for. O tempo então é experienciado como uma prisão no presente, da qual você tem alguma esperança futura de escapar, e, obviamente, o tempo foi tornado muito real, sendo o meio usado pelo ego para “escapar” do “presente” doloroso. Mesmo se você adorar sua carreira pelo seu próprio bem, ainda terá o mesmo medo, embora em forma diferente: “Eu adoro meu trabalho, mas o que acontece se eu o perder por causa de uma injustiça, por ser demitido, ou através da aposentadoria? O que vou fazer então?”. O prazer que está associado à forma, experienciado no presente aparente, é vulnerável à mudança no futuro, e agora, o tempo é tornado real por se tornar o inimigo. Nesses exemplos, o tempo não é visto conscientemente como destrutivo, mas podemos ver que seu conteúdo subjacente certamente não é amoroso. P: Em última instância, viver no tempo é um aprisionamento, porque suas limitações restringem nossa verdadeira liberdade de vivermos no presente com o Espírito Santo. No entanto, existem muitas formas nas quais ficamos enraizados nesse mundo. Nós ficamos presos muito facilmente na exigência do mundo de que nos tornemos alguém, de que façamos algo, que aperfeiçoemos nossos conhecimentos, etc. É possível realmente vivermos no mundo do tempo, e não ficarmos presos nele por nos sentirmos como um prisioneiro ou um forasteiro? R: Sem dúvida. Jesus o fez, e ele se tornou o modelo que buscamos emular em nossa jornada através do tempo. Em muitos de seus escritos, os gnósticos usaram as palavras exatas que encontramos no Um Curso em Milagres em termos de vermos a nós mesmos como estrangeiros, alienígenas, e forasteiros nesse mundo. Esses gnósticos mal podiam esperar até escaparem do mundo. Mas veja, eles também ficaram presos na ilusão de tornar o mundo do tempo e espaço real. É por isso que acabaram cometendo os mesmos tipos de equívocos que encontramos em outros movimentos religiosos. A idéia certa, no entanto, é reconhecer que embora nós sejamos forasteiros aqui, ainda podemos nos identificar com o propósito do Espírito Santo para o mundo. Assim, nossa atitude muda, e se torna possível estar nesse mundo e não sofrer, não porque os aparentes sofrimentos do mundo são negados, mas em vez disso, porque entendemos que o corpo tem um propósito e significado diferentes. Desnecessário dizer, essa mudança não é fácil. É preciso imensa disponibilidade e aprendizado para primeiro estarmos presos ao corpo, e depois entendermos que ele pode ser visto de forma diferente. Nós todos nos permitirmos estar sujeitos a um tremendo super-aprendizado, que nos ensinou que o corpo deve ser usado para o ataque e separação, e que, em troca, ele será atacado, sofrerá, se sacrificará e morrerá. Nós estamos falando sobre uma mudança maciça em como pensamos. Sobre esse aprendizado, Jesus escreve: Ninguém... poderia jamais duvidar do poder da tua capacidade de aprender. Não existe no mundo poder maior. O mundo foi feito por ele e mesmo agora não depende de nenhuma outra coisa. As lições que ensinaste a ti mesmo foram tão super aprendidas e fixadas, que elas se erguem como cortinas pesadas para obscurecer o simples e o óbvio... Continuaste dando cada passo por mais difícil que fosse, sem reclamar, até que foi construído um mundo que se adequava a ti. E cada 117
lição que constitui o mundo surgiu da primeira realização do aprendizado: uma enormidade tal que a Voz do Espírito Santo parece suave e quieta diante da magnitude desse feito. O mundo começou com uma lição estranha, suficientemente poderosa para fazer com que Deus fosse esquecido e Seu Filho alienado de si mesmo, exilado da casa onde o Próprio Deus o estabeleceu (T-31.I.3:1-4; 4:3-5). Esse processo de re-focalizarmos nosso pensamento pode ser especialmente enganoso porque o ego vai sutilmente esconder-se em qualquer coisa, como uma quinta coluna. Seu ditame então seria: “Se você não pode vencê-los, una-se a eles”. Assim, o ego pega um livro como o Um Curso em Milagres, tão sem ego quanto qualquer livro poderia ser, e ainda o usa para os seus próprios propósitos. Como Jesus disse sobre o cuidado com o qual o Curso foi escrito: Tenho feito todo o esforço para usar palavras que quase não têm possibilidade de serem distorcidas, mas é sempre possível distorcer símbolos, se tu o desejas (T3.I.3:11). O ego é bem sutil em seu trabalho, para dizer o mínimo. P: Você está realmente falando da mudança necessária para nos libertarmos, que nem mesmo pode ser descrita em palavras. Quase parece ser um processo misterioso, algum tipo de clique, insight, ou reconhecimento que vai nos tirar direto de nossos egos. R: Sim, e isso é assim porque a mudança acontece além da nossa experiência consciente. Lembre-se de que a questão, se você voltar ao gráfico 3, não é o que acontece no círculo do lado direito, mas em vez disso, está relacionado ao tempo e espaço. O observador, mais uma vez, está fora do tempo e ele não é os nossos seres como os experienciamos de forma consciente. Como todos nós já experienciamos e notamos, esse processo não é fácil. É relativamente simples praticar esse Curso, acreditando que realmente estamos fazendo o que ele diz, quando de fato, nem mesmo começamos a perscrutar suas profundezas. Não é simplesmente um processo de amar a todos, embora tal amor seja o que Jesus, em última instância, está ensinando. Aprender a amar como ele fez envolve uma massiva reversão de pensamento. Quando essa tarefa começa a parecer esmagadora para nós, é sempre útil nos lembrarmos da garantia de Jesus, como já citado, de que “o resultado é tão certo quanto Deus” (T-4.II.5:8). Vamos agora passar ao Capítulo 6 do texto, a seção, “A alternativa para a projeção”, parágrafo dez (T-6.II.10). Aqui, mais uma vez, o Curso descreve a diferença entre o uso que o Espírito Santo faz do tempo e o uso que o ego faz dele, mas agora, a diferença é apresentada de outra forma. (T-6.II.10) O Espírito Santo usa o tempo, mas não acredita nele. Essa declaração é baseada na idéia bíblica familiar de estar no mundo, mas não ser dele: viver em um mundo de formas e símbolos, aderindo a eles, e, no entanto, reconhecendo sua irrealidade básica. Talvez a expressão mais clara desse tema seja encontrada na Lição 184: Seria, de fato, estranho se te fosse pedido para ir além de todos os símbolos do mundo, esquecendo-os para sempre, e que ainda assim te fosse pedido que aceitasses a função de ensinar. Tu precisas usar os símbolos do mundo por algum tempo. Mas não te deixes também ser enganado por eles. Não representam nada em absoluto... Usa todos os pequenos nomes e símbolos que delineiam o mundo da escuridão. Mas não os aceites como tua realidade (LE-pI.184.9:1-4; 11:1-2). 118
Quando, no próximo capítulo, discutirmos as passagens no Um Curso em Milagres que se referem ao plano do Espírito Santo para nós, assim como Sua solução de problemas no mundo, vamos reconhecer que passagens tais como a acima, do texto, são um exemplo de como Jesus fala conosco no Curso da forma que podemos entender. Assim, o Espírito Santo é citado como uma pessoa Que, aqui, usa o tempo, mas não acredita nele. E então, o que o ego fez para servir ao seu propósito, o Espírito Santo agora pode usar de forma diferente. Como Ele [o Espírito Santo] veio de Deus, usa todas as coisas para o bem e não acredita no que não é verdadeiro. Como o Espírito Santo está na tua mente, a tua mente também só pode acreditar no que é verdadeiro. Mais uma vez, o Espírito Santo usa tudo nesse mundo para nos ensinar o que verdade e ilusão são, mas Ele não acredita em qualquer coisa nesse mundo porque esse não é o reino da verdade. O mundo é ou totalmente verdadeiro ou totalmente falso, e o que ele é, portanto, tem que ser oposto ao Céu. Assim, se Deus é verdade, o mundo tem que ser completamente falso. A parte da nossa mente (chamada de mente certa nos primeiros capítulos do texto), na qual o Espírito Santo reside, é a parte que compartilha Seu reconhecimento do que é verdadeiro e do que é falso. Nesse mundo, no Nível Um, nada é verdadeiro. No entanto, no Nível Dois, qualquer coisa que reflita o perdão ou a cura é verdadeira; falsidade é qualquer coisa que reforce a separação e o ataque. O reconhecimento dessa distinção vem da nossa mente certa. O Espírito Santo só pode falar em favor disso, porque fala por Deus. Ele te diz para voltar toda a tua mente para Deus, porque ela nunca O deixou. Se a mente nunca O deixou, só precisas percebê-la como é e já terás retornado. Assim sendo, a consciência plena da Expiação é o reconhecimento de que a separação nunca ocorreu. O ego não pode prevalecer contra isso porque é uma declaração explícita de que o ego nunca ocorreu. Não poderíamos pedir uma declaração mais clara sobre a Expiação, e o que a aceitação da Expiação envolve. Nós acreditamos que deixamos Deus, mas na realidade, o impossível não aconteceu. O fato da palavra “percepção” ser usada (“só precisas percebê-la como é e já terás retornado”) nos diz que Jesus está falando sobre esse mundo. A percepção da verdadeira realidade da mente é o que o Curso chama de percepção verdadeira ou mundo real. É desse ponto que o fim do tempo procede, culminando no último passo de Deus. Assim, a aceitação da Expiação é a negação do “fato” do ego de que a separação realmente aconteceu. A sentença final dessa passagem é tirada da declaração no evangelho de Mateus, n a qual Jesus diz a Pedro: “E eu digo também a ti, que tu és Pedro, e sobre essa rocha, vou construir minha igreja; e os portões do inferno não prevalecerão contra ela” (Mateus 16:18, KJV). A causa da verdade já está presente em nossas mentes através do Espírito Santo. Essa verdade, é claro, carrega consigo a verdade de que o ego nunca aconteceu. Essa alusão ao evangelho, a propósito, aparece freqüentemente no Curso, como nessa primeira referência no texto, já citada: O Reino é perfeitamente unido e perfeitamente protegido e o ego não prevalecerá contra ele. Amém. Isso está escrito em forma de uma oração porque é útil em momentos de tentação. É uma declaração de independência (T-4.III.1:12-2:2). (T-6.II.11) O ego pode aceitar a idéia de que o retorno é necessário porque pode muito facilmente fazer com que a idéia pareça difícil.
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Assim, uma das técnicas básicas do ego é exposta aqui. Em um nível, todos iríamos reconhecer que o que o Um Curso em Milagres está nos pedindo para fazer é difícil. Mas, dizer isso e permitir que essa “realidade” influencie nossa aceitação da Expiação no presente é cair na armadilha de tornar o tempo real; o propósito final do ego. P: Essa manobra do ego nos coloca direto em um estado de vir-a-ser, bloqueando o instante santo, não é mesmo? R: Certo. É por isso que, como já disse, o Curso enfatiza que a salvação é agora, o que significa que podemos desligar essa terrível fita do ego que estamos assistindo na tela da televisão. O foco, portanto, está sempre no observador que está além do tempo, não ainda na eternidade, mas além do tempo. Dessa posição em nossas mentes, podemos escolher quais aspectos do tempo vamos observar. Os aspectos do tempo que o Espírito Santo nos aconselha a observar seriam aqueles dos sonhos felizes. Entretanto, o Espírito santo te diz que mesmo o retorno é desnecessário, porque o que nunca aconteceu não pode ser difícil. É aí que o Um Curso em Milagres difere das outras espiritualidades do mundo (quase todas elas), que operam dentro da moldura do tempo linear, na qual desfazemos os pecados do passado através das ações atuais, preparando-nos para o futuro – tudo o que torna o tempo real. Como o Curso diz em “Eu não preciso fazer nada’ (T-18.VII.4:10-11), isso não significa que os outros caminhos não vão funcionar, o que eles farão, se sua meta for Deus. Mas, eles levarão um período de tempo muito mais longo por causa da realidade dada aos truques temporais do ego. Apesar disso, podes fazer com que a idéia do retorno seja tão necessária quanto difícil. Porém, certamente está claro que o perfeito não necessita de nada e tu não podes experimentar a perfeição como uma realização difícil, porque isso é o que tu és. Mesmo quando usamos a analogia do tapete, como fazemos no segundo gráfico, estamos dentro da moldura do sistema do ego, porque o tapete reflete um processo linear; isto é, que nós nos afastamos de Deus no início, e agora temos que retornar. É por isso que, embora fale sobre uma jornada, o Um Curso em Milagres freqüentemente nos lembra de que a jornada já acabou e nós somos perfeitos em Deus. Como mencionado (veja acima, p. 125128), o primeiro capítulo do texto discute esse “retorno” em termos da moldura horizontal que está enraizada no tempo, e a vertical que transcende o tempo e existe apenas no presente (o instante santo)(T-1.II.6:1-3). O milagre, portanto, é a mudança súbita do plano horizontal para o vertical. É deste modo que tens que perceber as criações de Deus, trazendo toda as tuas percepções para a única linha que o Espírito Santo vê. Essa linha é a linha direta de comunicação com Deus que permite à tua mente convergir com a Sua. Esse seria um exemplo da espiral no gráfico 6, que nós já consideramos. A espiral com todas as sua curvas, representa as diferentes formas nas quais percebemos, os padrões mutáveis e intercambiáveis do nosso mundo perceptual. Quando nossas percepções estão alinhadas através do perdão do Espírito Santo para que tudo e todos sejam vistos como servindo ao mesmo propósito, a espiral é esticada e não existem diferenças: todos são vistos como um irmão ou irmã em Cristo, pedindo amor ou expressando-o. Todas as situações, portanto, são vistas com oportunidades que nos ajudam a aprender essa lição. A espiral, portanto, representa a visão linear do tempo: passado, presente e futuro. Seu endireitamento completo simboliza viver apenas no momento presente, no agora que é o único instante santo 120
e mundo real. Nesse ponto, temos uma “linha direta” com Deus, uma vez que todas as interferências à Sua memória foram removidas. Não há conflito em nenhum ponto dessa percepção, porque ela significa que toda percepção é guiada pelo Espírito Santo, Cuja Mente está fixa em Deus. No ditado original, havia alguma discussão entre Jesus e Helen sobre a noção freudiana da fixação, que resultou em vários trocadilhos. Brevemente, a fixação acontece quando um problema não resolvido na infância se torna fixo na psique, e então, tudo o mais que é experienciado por aquela pessoa no futuro remete de volta àquilo. A idéia nessa passagem é que nossas mentes não deveriam estar fixas no passado, mas apenas em Deus. E então, todas as nossas experiências aqui seriam entendidas sob a luz de Deus, e nosso comportamento automaticamente seria guiado por Sua Voz. Só o Espírito Santo pode resolver conflitos, porque só o Espírito Santo está livre do conflito. Ele percebe apenas o que é verdadeiro em tua mente e o estende apenas para o que é verdadeiro em outras mentes. Essa é outra das claras declarações do Curso indicando que nós não podemos fazer isso por conta própria. Qualquer pensamento amoroso que tenhamos não vem de nós, mas do Espírito Santo em nossas mentes. Apenas essa presença de Amor é sem conflito. Essa é outra forma de dizer que o amor sem ambivalência é impossível nesse mundo (T-4.III.4:6). Todo o nosso amor terá algum aspecto de conflito em si porque nós não estaríamos nesse mundo se já não tivéssemos tornado o conflito do ego real. De fato, do ponto de vista do Espírito Santo, é por isso que nós estamos aqui: para desfazer esse conflito. No entanto, embora o puro amor não possa ser expresso nesse mundo, ele pode ser expresso pelo Espírito Santo através de nós, tão logo escolhemos perdoar. Mais uma vez, é por isso que estamos aqui: para aprender como perdoar. E então, estarmos no mundo e escolhermos nosso caminho espiritual já reflete uma decisão tomada na mente para voltarmos ao Espírito Santo como nosso Professor. A idéia básica do Um Curso em Milagres, portanto, é a de que nós aprendemos a desfazer a culpa em nossas mentes, o que permite que a percepção do Espírito Santo se estenda através de nós. Nesse ponto, nós percebemos como real apenas a luz de Cristo em nós mesmos, e, portanto, nos outros também. Passando agora para “Tempo e eternidade”, no texto (T-5.VI.1). (T-5.VI.1) Deus em Seu conhecimento não está esperando, mas Seu Reino fica destituído enquanto tu esperas. Todos os Filhos de Deus estão esperando pelo teu retorno, assim como estás esperando pelo deles. O atraso não importa na eternidade, mas é trágico no tempo. Pelo fato de acreditarmos que nos afastamos do Reino, somos nós que nos sentimos privados e esperamos pelo nosso retorno; dificilmente Deus, Que sabe que nunca realmente partimos. Assim, no nível da verdade, estamos todos no Céu, no entanto, dentro do sonho, esperamos que nossas identidades aparentemente separadas voltem para casa. O atraso em nosso retorno é “trágico” por causa de toda dor que isso está nos causando. Se você olhar para o gráfico 3 e pensar em nós sentados diante da tela de televisão, continuamente escolhendo assistir a filmes horríveis de sacrifício e sofrimento, morte e dor, isso realmente é trágico. Não é trágico do ponto de vista da eternidade, porque nós já estamos em casa na eternidade, mas é trágico por causa dos pesadelos aos quais estamos continuamente sujeitando a nós mesmos.
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Tens optado por estar no tempo ao invés de estar na eternidade e por conseguinte, acreditas que estás no tempo. Porém, a tua opção tanto é livre quanto pode ser alterada. Aqui estamos, assistindo a esses filmes que descrevem uma visão linear do tempo, acreditando que estamos realmente em corpos que observamos nesses filmes. No entanto, acreditamos estar o tempo porque nós escolhemos que assim seja. Portanto, podemos com a mesma facilidade mudar nossas mentes, o propósito fundamental do Um Curso em Milagres sendo o de nos ajudar a fazer exatamente isso. Tu não pertences ao tempo. O teu lugar é só na eternidade, onde o próprio Deus te colocou para sempre. (T-5.VI.2) Os sentimentos de culpa são os preservadores do tempo. Esse é um dos primeiros lugares no texto que realmente falam sobre a culpa, que é tratada com muito mais profundidade depois, começando com o Capítulo 13. A culpa, mais uma vez, preserva o tempo por nos ensinar que nós pecamos no passado, e, portanto, no presente, temos que ter medo da punição que o nosso ego nos diz que está vindo. A culpa, assim, nos ensina que nós realmente pertencemos ao tempo, pois não merecemos estar com Deus na eternidade. Eles [sentimentos de culpa] induzem o medo da retaliação ou abandono, e assim, asseguram que o futuro será como o passado. Essa é a continuidade do ego. Isso dá ao ego um senso falso de segurança, por acreditar que não podes escapar disso. Essa é a continuidade do sistema do ego, com o qual já estamos familiarizados. E então, ainda temos outra ilustração de como o Curso se repete de novo e de novo, utilizando os mesmos temas o tempo todo. O “senso falso de segurança” é a idéia de que dentro desse sistema, não existe escapatória. Assim, o ego acredita que está para sempre seguro, desde que, é claro, permaneçamos dentro do seu sistema de pensamento, o que nos sentir culpados certamente nos leva a fazer. Mas podes e tens que fazê-lo [escapar]. Deus oferece em troca a continuidade da eternidade. Quando escolhes fazer essa troca, simultaneamente trocarás culpa por alegria, perversidade por amor e dor por paz. Meu papel [Jesus] é apenas desacorrentar a tua vontade e libertá-la. A “continuidade da eternidade” vem a nós através da nossa escolha do instante santo que, como vimos, se torna a janela para a eternidade. Essa é a continuidade do Amor de Deus, do Céu brilhando através de nossas mentes, agora curadas pela aceitação de Jesus como nosso professor. Através da nossa “pequena disponibilidade” de entregarmos nossas vontades à dele, nós desfazemos a decisão de ser separados, que era o problema original. Ele não pode conseguir isso para nós sem que escolhamos nos unir a ele. Como ele escreve, logo no início do texto: A correção do medo é tua responsabilidade. Quando pedes a liberação do medo, estás deduzindo que não é. Deverias pedir ao invés disso, ajuda nas condições que trouxeram o medo. Essas condições sempre acarretam uma disponibilidade para estar separado (T-2.VI.4:1-4). Teu ego não pode aceitar essa liberdade e vai se opor a ela em todos os momentos possíveis e de todos os modos possíveis. E como tu és aquele que o [ego] fez, reconheces o que ele pode fazer porque lhe deste o poder de fazê-lo. 122
Isso reflete a crueldade da última trincheira do ego, quando ficamos cada vez mais comprometidos com a liberdade que o perdão do Espírito Santo traz, em vez da tirania e de culpa e ataque do ego. Como o texto afirma sobre o ego quando nós “respondemos ao Espírito Santo”: O ego, portanto, é particularmente capaz de atacar-te quando reages amorosamente, porque te avaliou como não sendo amoroso e tu estás indo contra o seu julgamento... é aí que ele vai se deslocar abruptamente da suspeita para a perversidade, uma vez que a sua incerteza terá aumentado... Ele permanece suspeitando enquanto tu te desesperas. E passa para a maldade quando decides não tolerar o auto-abatimento e procurar alívio... O ego fará todos os esforços para recuperar e mobilizar as suas energias contra a tua liberação (T-9.VII.4:5,7; T9.VIII.2:8-9; 4:5). Essa crueldade é análoga à “noite escura da alma” descrita por São João da Cruz, o grande místico espanhol do século dezesseis. (T-5.VI.3) Lembra-te sempre do Reino e lembra-te que tu, que és parte do Reino, não podes estar perdido. A Mente que estava em mim está em ti, pois Deus cria com perfeita equidade. Permite que o Espírito Santo sempre te lembre a Sua equidade e deixa que eu te ensine como compartilhá-la com os teus irmãos. De que outro modo pode te ser dada a chance de reivindicá-la para ti? A segunda sentença da passagem acima é similar à declaração de São João da Cruz: “Permita que esteja em ti a mesma mente que esteve em Cristo Jesus” (Filipenses 2:5, KJV). Jesus, portanto, está dizendo aqui que a Mente do Espírito Santo que estava nele e que representa o total desfazer do especialismo – i.e., que Deus não tem exceções e não escolhe favoritos: tem “perfeita justiça” – está em cada um de nós também. Nesse sentido, não existem diferenças entre nós mesmos e Jesus. O que ele vivenciou em tal perfeição, nós podemos aprender com o Espírito Santo. O que nós estamos discutindo aqui pode ser visto muito claramente nos gráficos 2 e 3. Como já afirmamos, naquele único instante no qual o ego fez o mundo do tempo e do espaço (o tapete com o roteiro desenrolado), no mesmo instante o Espírito Santo deu Sua correção. Essa correção foi dada a cada um e a cada circunstância, relacionamento e situação que o ego fez. Pois a cada vez em que eu tive um pensamento zangado em relação a alguém, também havia uma correção na minha mente em relação àquele mesmo instante. Fundindo os símbolos, podemos dizer que nesse tapete do tempo, existe uma cura de filme quadro-aquadro, contendo todos os equívocos do ego. Nós então podemos colocar o gráfico 2 no gráfico 3, e em vez de vermos esse processo como linear, o entendemos holograficamente, com tudo tendo acontecido naquele único instante. Então, enquanto estamos sentados na cadeira do observador, duas vozes falam conosco: o ego, nos dizendo para continuarmos a ver a nós mesmos como uma vítima; ao mesmo tempo, o Espírito Santo está nos impelindo a voltar à mesma situação como experienciada através da visão do perdão. Em vez de atacarmos essa pessoa e/ou vermos a nós mesmos como vítimas de ataque, vemos essa pessoa como nosso irmão ou irmã em Cristo, em vez de usarmos as fitas de julgamento e ataque, agora escolhemos re-experienciar as fitas do perdão. A situação em geral é a mesma na forma, mas com um conteúdo ou propósito diferente: equidade em vez de especialismo. Esse é o significado de nos voltarmos para Jesus em busca de ajuda: nós nos lembramos da “perfeita equidade” de Deus que já está presente em nós, e permitimos que Jesus nos ensine o fim do especialismo através do perdão. Por compartilharmos esses ensinamentos com os outros, acabamos aprendendo-o para nós mesmos. 123
As duas vozes falam em nome de diferentes interpretações da mesma coisa simultaneamente ou quase simultaneamente, pois o ego sempre fala primeiro. Interpretações alternadas eram desnecessárias até que foi feita a primeira. Assim, embora toda essa coisa tenha acontecido em um instante, não poderia ter havido a correção do Espírito Santo se primeiro não acontecesse o equívoco do ego. E nós vemos novamente que o roteiro de correção do Espírito Santo é essencialmente o primeiro roteiro do ego – de culpa e ódio -, perdoado e visto de forma diferente. Portanto, quando Jesus fala do roteiro já tendo sido escrito, ele está se referindo ao roteiro do ego que veio primeiro. Apenas depois que o equívoco foi cometido, a correção do Espírito Santo poderia se aplicar. P: Acho que a idéia de que o ego sempre fala primeiro pode com freqüência ser mal interpretada. Isso não significa que sem o ego, não haveria necessidade de correção? R: Sim, isso está certo. Mas isso não significa que se você se medicar ou rezar, a primeira voz que ouvirá será sempre a do ego. Nós não poderíamos nem mesmo meditar ou rezar se primeiro não acreditássemos que estávamos aqui, no corpo, o que, é claro, é a crença do ego. E então, nosso desejo de rezar é realmente uma resposta à crença equivocada anterior de que nós nos separamos de Deus e estamos realmente aqui, no mundo. Essas sentenças, portanto, estão se referindo ao processo mais amplo de correção de que estivemos falando. Agora, vamos pular para o último parágrafo da seção (T-5.VI.12). O parágrafo anterior fala da paciência infinita que foi ensinada a Jesus pelo Espírito Santo; aquela paciência é o contexto das passagens que vamos ler agora: (T-5.VI.12) Agora precisas aprender que só paciência infinita produz efeitos imediatos. Os “efeitos imediatos” acontecem quando trocamos a fita de vídeo do ego pela do Espírito Santo. Essa mudança pode acontecer imediatamente, e seu efeito ser experienciado imediatamente. Minha paciência em entender que você tem um ego no qual está trabalhando, que eu tenho um ego no qual estou trabalhando, e que nenhum dos dois é real, me capacita a não levar nada a sério e não ficar aprisionado, acreditando na visão que o ego tem do tempo. No instante santo, quando essa mudança acontece, eu experiencio os “efeitos imediatos”: onde antes eu estava inquieto, zangado e transtornado, agora estou em paz. Também, minha insistência em uma moldura de tempo na qual a salvação tem que ser trabalhada é sempre uma armadilha do ego, pois torna o tempo real. Portanto, eu não posso ditar quando a mudança do instante santo vai acontecer; o que é a função do Espírito Santo. Esse é o caminho no qual o tempo é trocado pela eternidade. A paciência infinita invoca amor infinito e ao produzir resultados agora, torna o tempo desnecessário. Dissemos muitas vezes que o tempo é um instrumento de aprendizado a ser abolido quando não mais for útil. Vendo a nós mesmos fora do contexto do gráfico 3, podemos subitamente mudar da crença na realidade das fitas de tempo do ego, entendendo finalmente que é tudo uma ilusão, nada mais do que um frágil véu que tentou ocultar a eternidade. Esse véu é o que Jesus rompeu por sua demonstração do poder do amor na presença do ataque aparente. O tempo não tem poder sobre a eternidade. Aprender a lição, portanto, é o único propósito do tempo para nós. Quando a lição for aprendida, poderemos ficar sentados diante da tela de televisão dizendo “Eu não quero mais isso”, o tempo deixará de ter significado e, portanto, vai deixar de existir.
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O Espírito Santo, que fala por Deus no tempo, também sabe que o tempo é sem significado. Ele te lembra disso a cada momento que passa, porque a Sua função especial é devolver-te à eternidade e lá permanecer para abençoar as tuas criações. Dentro de uma visão linear do tempo, o Espírito Santo não pode completar Sua função até que cada Filho remanescente de Deus tenha despertado do sonho. A declaração sobre o Espírito Santo retornando à eternidade e abençoando nossas criações refere-se a essa passagem inicial no texto: Quando a Expiação for completa e toda a Filiação estiver curada, não haverá nenhum chamado para retornar. Mas o que Deus cria é eterno. O Espírito Santo vai permanecer com os Filhos de Deus para abençoar suas criações e mantê-los na luz da alegria (T-5.I.5:5-7). Como tantas outras declarações que discutimos, essa não deveria ser vista literalmente no nível da forma. Em vez disso, sua mensagem é o conteúdo da natureza eterna do amor.
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Capítulo 8 O PLANO DO ESPÍRITO SANTO O próximo grupo de passagens que vamos considerar trata da idéia de que o Espírito Santo tem um plano para nós. Se essas seções forem vistas fora de contexto, certamente se presumirá que elas significam que o Espírito Santo faz coisas para nós no mundo. Eu gostaria de explicar essa questão brevemente agora, e então usar passagens específicas para discuti-la mais profundamente. Como já vimos, o Um Curso em Milagres usa os diversos símbolos do mundo, mas nos ensina algo bem diferente do que esses símbolos usualmente representam. A Lição 99, o primeiro conjunto de passagens que devemos examinar, fala sobre o plano de Deus. Antes, quando discutimos a noção do futuro como é apresentado na Lição 194 (“Eu coloco o futuro nas Mãos de Deus”), nós vimos que o curso ensina que não existe passado, presente e futuro na Mente de Deus; pois eles são todos um. Mas, pelo fato de ainda acreditarmos na progressão temporal do tempo, Jesus nos aborda em termos dessa crença. É isso o que vamos encontrar na Lição 99 também. Como já vimos em muitos, muitos lugares, o Curso objetiva corrigir o pensamento errôneo do mundo em geral, e o mundo teológico cristão especificamente. Um dos pontos principais da teologia de salvação cristã é o de que Deus nos permite sofrer no presente como uma forma de atingirmos a salvação futura. Eu ouvi uma das mais espantosas descrições contemporâneas desse princípio de Madre Teresa, quando ela falou sobre o sofrimento como sendo um beijo de Deus. Se você realmente pensar nessa posição, suas implicações são amedrontadoras. Em uma passagem surpreendente do texto, Jesus descreve nosso mundo de sofrimento: “O mundo que vês é o sistema delusório daqueles a quem a culpa enlouqueceu. Olha com cuidado para esse mundo e vais reconhecer que é assim” (T-13.in.2:2-3). No entanto, dentro do sistema de pensamento que Madre Teresa representa, aquele da igreja católica romana, a noção de que Deus nos permite sofrer por Seu Amor é muito reconfortante. Uma vez que todos nós sofremos, acreditar que essa é a Vontade de Deus – de fato, é um beijo de Deus – pode realmente, em um nível, prover uma medida de consolação. Mas, observando mais de perto, essa crença em que Deus nos permite sofrer agora para que possamos ser felizes no futuro se encaixa muito bem com a visão do ego de que o sacrifício é sua parte de um amor especial de barganha com Deus: nós vamos sofrer e nos sacrificar agora para que Deus nos receba de volta em Seu Reino depois. É muito evidente que a maioria das pessoas, mesmo aquelas que não foram criadas em uma atmosfera religiosa, implicitamente aceitam a idéia de que nós sofremos agora para termos paz futura. O código de ética protestante – dificilmente restrito a protestantes, obviamente – é um claro exemplo desse tipo de pensamento. Outra crença comum de acordo com essas linhas, que está aparentemente refletida em uma passagem que logo devemos examinar, é a de que Deus vai colocar pedras em nosso caminho para que tropecemos, caiamos e soframos, apenas para que possamos aprender Suas lições e sejamos liberados da dor mais tarde. Um Curso em Milagres, em certo sentido, 126
diz a mesma coisa, mas deixa claro que esse não é o plano de Deus. Jesus fala sobre como as coisas serão difíceis, mas isso é parte da vontade do ego, não de Deus. Se nós deixarmos o Espírito Santo se unir a nós em nossas dificuldades, Ele poderá então nos ensinar a lição que mais vai nos ajudar: “Todas as coisas são lições que Deus quer que eu aprenda” (LE-pI.193). É essencial lembrar, no entanto, que não é Deus que escreve o roteiro. Deus não nos faz ser punidos; Ele não coloca pedras em nosso caminho, nem o nosso sofrimento é um beijo Seu. Portanto, é nesse contexto que essas passagens deveriam ser entendidas: elas representam uma tentativa de corrigir a idéia de que Deus nos pune no presente ou no futuro. É por isso que a mensagem assume a forma que assume. Basicamente, vamos considerar o plano, como ele é apresentado nas seguintes passagens, como estando em dois níveis. O primeiro é o plano geral da Expiação que desfaz a separação; o segundo expressa o plano dentro do contexto de corrigir nossas percepções equivocadas de que Deus nos pune e nos faz sofrer. Vamos começar com a Lição 99 do livro de exercícios, iniciando com o parágrafo quatro (LE-pI.99.4:1-6:1). Daqui por diante, incidentalmente, todo o livro de exercícios é escrito em versos brancos. (LE-pI.99.4) O que une a mente e os pensamentos separados com a Mente e o Pensamento que são para sempre unos? Que plano poderia manter a verdade inviolada e ainda assim reconhecer as necessidades que as ilusões trazem e oferecer os meios para desfazê-las sem ataque e sem nenhum toque de dor? Os dois níveis – o metafísico e o prático – estão refletidos nessa passagem. O conceito do plano que contém a verdade inviolada reflete a verdade do Céu, significando que tudo nesse mundo é uma ilusão: Nível Um. A mudança para o Nível Dois acontece na segunda parte da sentença acima, que afirma que o plano ao mesmo tempo reconhece a “necessidade que as ilusões trazem”. Em outras palavras, a verdade do Céu tem que ser traduzida para nós em símbolos e formas desse mundo de ilusões. De fato, o Espírito Santo é descrito em um ponto como um tradutor: As leis têm que ser comunicadas se é que serão úteis. Com efeito, elas têm que ser traduzidas para aqueles que falam línguas diferentes. No entanto, um bom tradutor, embora tenha que alterar a forma do que traduz, nunca muda o significado. De fato, todo o seu propósito é mudar a forma de tal modo que se mantenha o significado original. O Espírito Santo é o tradutor das leis de Deus para aqueles que não as compreendem (T-7.II.4:1-5). O próprio fato de Jesus estar falando sobre desfazer ilusões está mostrando que esse nível, onde experienciamos as ilusões como reais, é onde elas têm que ser desfeitas. Então, nós funcionamos dentro desse mundo de ilusões, exceto que o que fazemos com elas não é atacá-las, mas perdoá-las. O que mais poderia ser esse plano senão o Pensamento de Deus, pelo qual o que nunca foi feito deixa de ser visto e os pecados que nunca foram reais são esquecidos? (LE-pI.99.5) O Espírito Santo mantém esse plano de Deus exatamente como foi recebido, dentro da Mente de Deus e da tua. O “plano de Deus”, mais uma vez, é a Expiação, cuja aceitação é o reconhecimento de que a separação nunca aconteceu. Sem pecado, culpa e medo da punição, nenhuma defesa é necessária, e então, a base para o sacrifício e os relacionamentos especiais se vai. O plano não é nada mais do que a presença do perfeito Amor de Deus em nossas mentes, que, sendo de Deus, nunca pode mudar e permanece como sempre foi. Como um facho de luz na 127
escuridão de nossas mentes divididas, ele nos chama incessantemente para retornarmos a essa luz, que reflete a luz da nossa Fonte. O Espírito Santo é a presença do Amor de Deus, que faz uma ponte entre a mente dividida e a Mente de Deus. Essa ponte, automaticamente desfazendo a brecha entre Deus e Seu Filho, é a Expiação. Nós encontramos aqui, incidentalmente, a idéia familiar do Espírito Santo sendo “o elo entre Deus e Seus Filhos separados” (T-8.VII.2:2; veja também T-6.I.19:1; T-10.III.2:6; T-13.XI.8:1). Ele [o plano] está à parte do tempo, porque a sua Fonte é intemporal. No entanto, ele opera no tempo devido à tua crença segundo a qual o tempo é real. Mais uma vez, encontramos os dois níveis expressos. A primeira sentença é uma declaração típica do Nível Um, refletindo a idéia de que o Espírito Santo (o plano da Expiação) é parte de Deus (nossa Fonte eterna), e, portanto, separado da ilusão. A segunda sentença reflete apenas a ilusão, a função perceptual do Espírito Santo estar dentro de nossas mentes certas, corrigindo nosso pensamento da mente errada. O que é importante aqui é o reconhecimento de que Ele é percebido como trabalhando dentro da moldura desse mundo, unindo-se a nós no sistema de pensamento do ego, que afirma que o tempo e o espaço são reais. Ele se une a nós para nos ensinar, em última instância, que o tempo e o espaço são ilusórios. O ensinamento do Espírito Santo é alcançado por Seu dissolver da “cola” que nos enraíza nesse mundo de tempo e espaço. Essa “cola” é nossa culpa e nosso medo da punição de Deus. Na realidade, é claro, o Espírito Santo não “faz” coisa alguma. Em vez disso, Ele é simplesmente um Pensamento em nossas mentes divididas, a memória do Amor de Deus que nós levamos conosco para o sonho quando adormecemos e começamos a sonhar com a separação. Assim, a Sua presença é a presença de Amor e luz que “chama” nossa atenção de volta para o ponto em nossas mentes no qual escolhemos o ego, dando-nos a oportunidade agora de escolher outra vez. Nossa experiência, no entanto, pode ser a de que Ele é uma presença ativa, que realmente faz coisas por nós. Assim, o Espírito Santo trabalha dentro dessa moldura temporal, embora Ele saiba que o tempo e o espaço não são reais. No entanto, Ele não oblitera a crença no tempo e no espaço, o que iria nos despertar do sonho rápido demais, precipitando o pânico. Em vez disso, o Espírito Santo transforma nossos pesadelos em sonhos felizes. Isso resulta na experiência de permanecermos na mente dividida, vivendo dentro do mundo do tempo e do espaço, mas vivendo apenas no presente, não no passado ou no futuro. O que, portanto, é desfeito não é o sonho em si, mas simplesmente aquela parte do sonho que contém nossa culpa e a crença em que Deus vai nos punir. Como o texto diz sobre o milagre: O Espírito Santo percebe a causa rindo gentilmente e não olha os efeitos. De que outra maneira poderia ele corrigir o teu erro, já que absolutamente não olhaste para a causa? Ele pede que tu Lhe tragas cada efeito terrível para que possam olhar juntos para a sua causa tola e possas rir um pouco com Ele. Tu julgas os efeitos, mas Ele julgou a causa. E através do julgamento do Espírito Santo os efeitos são removidos (T-27.VIII.9:1-5). Antes, no texto, somos impelidos, sempre que formos tentados a ficar transtornados por qualquer aspecto do mundo separado, a nos lembrarmos dessas linhas: Quando pareces ver alguma forma distorcida do erro original surgindo para amedrontar-te, apenas digas: “Deus não é medo, mas Amor” e ela desaparecerá (T18.I.7:1).
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Depois, no livro de exercícios, essa idéia se torna parte da quinta lição de revisão que diz “Deus é só Amor, e, portanto, eu também”. Essa passagem que estamos considerando, da Lição 99, também aponta para a Lição 187, que diz: E não pode deixar de reconhecer as muitas formas que o sacrifício pode tomar. Ele também ri da dor e da perda, da doença e do sofrimento, da pobreza, da fome e da morte (LE-pI.187.6:3-4). O “ele” nessa passagem refere-se ao Filho de Deus de mente certa, a cujas percepções todos nós aspiramos. O riso, é claro, não é o riso zombeteiro do ego, mas o riso gentil do Espírito Santo, nascido da consciência da natureza inerentemente ilusória do mundo e de todo o seu sofrimento. Nós julgamos os efeitos terríveis da nossa crença no pecado e separação, mas a presença do Amor de Deus no Espírito Santo “julga” a causa do pecado como meramente impossível. O medo é a base para todos os problemas do mundo, e o medo já foi desfeito pelo Amor do Espírito Santo. Alinhando nossas mentes com o Espírito Santo, Sua percepção se torna a nossa própria. Assim, nós não negamos o que os olhos do nosso corpo vêem, mas em vez disso, damos ao que vemos uma interpretação diferente. Como já observamos, Jesus é o exemplo brilhante desse princípio. Seu riso gentil como uma resposta à realidade aparente do mundo perceptual é a idéia da Expiação. Nós levamos as ilusões do ego – nossa culpa, medo e crença na separação – à verdade de que somos todos unidos; e olhamos além das aparências, da escuridão do ego para a luz de Cristo que brilha em nós. O manual descreve essa mudança em percepção: Os olhos do corpo continuarão a ver diferenças. Mas a mente que se deixou curar não vai mais tomar conhecimento delas. Haverá pessoas que parecerão “mais doentes” do que outras, e os olhos do corpo registrarão suas aparências mudadas como antes. Mas a mente curada vai colocá-las todas em uma única categoria: elas são irreais (MP-8.6:1-4). Ao continuarmos nossa discussão sobre o plano do Espírito Santo para nós, vamos voltar ao livro de exercícios, Lição 135, “Se eu me defendo, sou atacado”, parágrafo onze (LEpI.135.11): (LE-pI.135.11) A mente curada não faz planos. Executa os planos que recebe ouvindo a Sabedoria que não lhe é própria. Essas, é claro, são as idéias mais freqüentemente mal interpretadas e mal aplicadas no Curso, porque muitos estudantes param na primeira sentença e não continuam até a segunda. Eles então concluem que pelo fato de uma mente curada não fazer planos, eles, portanto, deveriam jogar fora suas agendas e calendários, desistir dos seus seguros pessoais, e simplesmente não planejar coisa alguma – apenas viver no momento presente. No entanto, eles deixaram de ler a próxima sentença, que claramente não nos diz para não planejarmos. Em vez disso, nos é dito para planejarmos, mas não por conta própria. A Sabedoria que consultamos é a do Espírito Santo, e então, nós executamos os planos que são dados a nós por Ele. Espera [a mente curada] até que lhe seja ensinado o que deve ser feito e, então, começa a fazê-lo. Não depende de si mesma para coisa alguma, a não ser para a sua adequação em cumprir os planos que foram designados para ela. É segura na certeza de que obstáculos não podem impedir o seu progresso em realizar qualquer uma das metas que servem ao plano maior estabelecido para o bem de todos. 129
Não estamos sendo solicitados a não sermos ativos no mundo, mas simplesmente a não agirmos por conta própria. O “plano maior” é o plano da Expiação, no qual ninguém perde e todos ganham. Os obstáculos citados consistem de qualquer coisa nesse mundo que acreditemos ser um problema. A forma mais antiga e mais tradicional de considerar obstáculos é que eles são dádivas de Deus, como já vimos. Através do sofrimento e fazendo nosso caminho através desses obstáculos e problemas, as maneiras em que Deus nos mostra Seu Amor, acabaremos conhecendo Sua Vontade. O Livro bíblico de Jó é uma expressão muito poderosa desse tipo de pensamento. Assim, o Curso está nos ensinando aqui que quaisquer obstáculos que acreditemos estarem presentes podem ser vencidos mudando nossas mentes em relação a eles. O significado do perdão não é que nós mudemos outras pessoas ou o mundo, mas que reconheçamos que o que nos aborrece não está fora de nós. É a forma com que percebemos as outras pessoas e o mundo que causa nossa inquietação. Removendo os obstáculos em nossas mentes, que são expressões diferentes da nossa própria culpa, nossas mentes são curadas; e, uma vez que mentes são unidas, a cura das nossas mentes também cura toda a Filiação. Esse é o “plano maior” estabelecido pelo bem de todos. Cada um de nós cumpre a função especial de perdão aos nossos relacionamentos especiais (T-25.VI.5). Como o Curso explica com relação ao “segredo da salvação”, estamos levando toda dor e sofrimento a nós mesmos: Essa única lição aprendida te libertará do sofrimento, qualquer que seja a forma que ele tome. O Espírito Santo repetirá essa única lição abrangente de libertação até que ela tenha sido aprendida, independentemente da forma do sofrimento que te traz dor. Seja qual for o ferimento que tragas a Ele, Ele fará uma resposta com essa verdade muito simples. Pois essa única resposta elimina a causa de qualquer forma de pesar e dor. A forma não afeta em nada a Sua resposta, pois Ele quer te ensinar apenas a causa única de todas as formas, não importa quais sejam. E compreenderás que os milagres refletem a simples declaração: “Eu mesmo fiz isso e é isso que quero desfazer” (T-27.VIII.11). Vamos pular agora para a Lição 135, parágrafo dezessete (LE-pI.135.17): (LE-pI.135.17) Defesas são os planos que empreendes contra a verdade. Essa lição trata das defesas, assim como a próxima, estabelecida no contexto da doença. O ego começa primeiro tornando o pecado real, por nos dizer que “nós temos um problema”, e depois, prossegue erigindo uma defesa (o mundo e o corpo) para nos proteger desse problema inventado pelo ego e, portanto, inexistente. Enquanto isso, o ego nos enganou para acreditarmos que todas as nossas energias deveriam ser direcionadas para resolver os reflexos desse problema, que, incidentalmente, poderiam se manifestar tanto internamente (psicologicamente) quanto externamente. E o tempo todo, o problema do pecado e da culpa (ele mesmo uma defesa contra o Amor de Deus) é mantido oculto e protegido em nossas mentes. Por exemplo, vamos dizer que eu tenha uma fobia específica. Eu começo dizendo que esse é um problema real, e que eu vou achar uma forma de me proteger contra isso. Poderia ser tanto por evitar o objeto da fobia, ou através de dinâmicas de contra-fobia – indo contra a fobia, dessa forma tentando provar que não tenho medo dela. A idéia crucial é a de que nós estabelecemos toda a situação. Nós definimos o problema e depois decidimos o que a resposta é. Como já vimos, a seção “Eu não preciso fazer nada” ensina que eu não devo fazer coisa alguma por conta própria (pelo menos, se realmente quiser ser feliz). Eu não defino primeiro um problema e depois digo que tenho que fazer algo sobre ele. Em vez disso, deixo o Espírito Santo me guiar, permitindo que Ele me ajude a entender que o problema não é como eu o percebo de forma alguma. Meu único problema é acreditar que sou separado. Assim, em 130
termos de fobia, enquanto por um lado eu possa buscar remover os sintomas fóbicos através de alguma forma do que o Curso chamaria de magia – i.e., psicoterapia, modificação comportamental ou medicação -, por outro, eu busco remover a causa da fobia, que é a culpa em minha mente, derivada da minha decisão de ser separado. O seu [defesas] é o de selecionar o que aprovas, e de ignorar o que consideras incompatível com as tuas crenças a respeito da tua realidade. Mas, o que fica é, de fato, sem significado. Pois a tua realidade é a “ameaça” que as tuas defesas querem atacar, obscurecer, fragmentar e crucificar. Nós não entendemos que nossa auto-imagem egóica, que em suas origens é pecaminosa, culpada e enfraquecida, requerendo defesa contínua, é em si mesma uma defesa. A ameaça real não está do mundo externo, nem em quaisquer pensamentos que sintamos serem potencialmente danosos para nós; a ameaça real para o ego é a verdade de quem nós somos. Esse tema também será trazido à tona novamente na próxima lição, que fala sobre a doença como uma defesa contra a verdade. Se nós pensássemos em nós mesmos de volta à cadeira do observador (gráfico 3), iríamos entender que as fitas de pesadelo que repetidamente passamos de novo e de novo, são fitas que contêm algum aspecto da nossa culpa, o ódio a nós mesmos contra o qual temos que nos defender. Algumas vezes, a forma da defesa é atacar outras pessoas, levando-nos a nos tornarmos sórdidos e cruéis. Em outros momentos, a defesa vem na forma de tornarmos a nós mesmos doentes. E, algumas vezes, nossas defesas não parecem funcionar de forma alguma, e nós ficamos inundados de ansiedade e depressão, a idéia de que somos egos culpados sendo reforçada. Assim, mesmo quando as defesas do ego não parecem estar funcionando, elas realmente estão, pelo menos do ponto de vista do ego. Nós sempre tentamos selecionar aquelas defesas que acreditamos que vá funcionar melhor do que outras. Na realidade, no entanto, nenhuma delas pode realmente funcionar para nos trazer paz. O próprio fato de precisarmos escolher certos aspectos do nosso mundo com os quais nos relacionarmos reflete nossa crença de que existe algo enfraquecido dentro de nós, que tem que ser protegido. Isso obviamente torna todo o sistema do ego real. (LE-pI.135.18) O que deixarias de aceitar se apenas soubesses que tudo o que acontece, todos os eventos, passados, presentes e por vir, são gentilmente planejados por Aquele Cujo único propósito é o teu bem? Isso pode ser visto como significando que o Espírito Santo age nesse mundo e planeja nossas vidas externas para nós. Se nós nos lembrarmos do que discutimos antes sobre a metafísica do tempo, podemos ver que esse obviamente não pode ser o caso, porque, nesse nível, não existe passado, presente e futuro. Em outras palavras, tudo já aconteceu. Em acréscimo, como acabamos de ver, o Espírito Santo não trata do mundo da forma ou dos efeitos (os problemas do mundo), mas apenas do conteúdo ou causa (a crença da mente na realidade do pecado). Vamos considerar novamente a nós mesmos como os observadores sentados diante de uma tela. Nós temos uma coleção de fitas de pesadelo do ego, e então, uma contraparte, a coleção contendo a correção do Espírito Santo para todos os equívocos. Tanto o problema como a resposta aconteceram simultaneamente nesse instante separado. Essa passagem, portanto, está nos dizendo que nós nos sentamos na cadeira do observador, e o Espírito Santo está dentro de nossas mentes sussurrando, “Você vai se sentir melhor se passar Minhas fitas de união, perdão e cura, em vez das fitas de condenação e julgamento do ego”. Esse pensamento de perdão constitui o plano do Espírito Santo. As palavras parecem sugerir que o Espírito Santo funciona no tempo, mas isso é para corrigir a noção de que Deus ou o Espírito Santo vão agir para nos punir, fazendo-nos sofrer tanto a partir do amor, para que no final 131
possamos atingir o Reino, quanto como uma expressão da Sua ira vingativa, justificada por causa dos nossos pecados contra o Céu. Outra analogia é a de sentar-se em um cinema, assistindo as imagens irem e virem na tela. Cai poeira sobre o projetor e pousa no filme, enquanto ele passa, o que deixa uma imagem escura na tela, desfigurando a cena. Nós não tentamos consertar, mudar ou limpar a tela, porque não existe nada lá a ser consertado. Em vez disso, vamos à fonte do problema, a poeira no filme. De forma similar, como vimos, o Espírito Santo não trata dos efeitos, a projeção na tela de nossas vidas, mas em vez disso, Seu Amor desfaz a causa, a culpa em nossas mentes. Conforme nossas mentes são limpas, nossa percepção é limpa também, e toda dor e sofrimento – nada mais do que uma projeção do que está dentro de nossas mentes – é desfeita conforme desaparecem de volta na nulidade do pecado e culpa que são sua origem. Para que um estudante do Curso não fique confuso em relação ao “plano” do Espírito Santo, pensando que ele poderia incluir eventos dolorosos, as seguintes linhas são oferecidas: Talvez tenhas entendido o Seu plano de forma equivocada, pois Ele nunca te ofereceria dor. Mas as tuas defesas não te deixaram ver a Sua bênção amorosa brilhando em cada passo que jamais deste. Isso significa que o Espírito Santo pegou o roteiro antigo de dor e sofrimento e o modificou totalmente; não em forma, mas em conteúdo. Nossa única escolha é qual fita vamos assistir. Portanto, a razão pela qual Jesus enfatiza que as coisas são gentilmente planejadas não é que o Espírito Santo planeje as coisas para nós – isso não poderia ser assim porque tudo já aconteceu, sem falar no fato de que o Espírito Santo olha apenas para a causa, e não vê os efeitos que não estão lá. O propósito de enfatizar o planejamento gentil do Espírito Santo é corrigir quaisquer percepções equivocadas de que Ele não planeja gentilmente, mas com raiva e julgamento. P: Existe uma parte do manual para professores que soa similar a isso. Jesus diz, “O passado, do mesmo modo, não conteve nenhum equívoco; nada que não tenha servido para beneficiar o mundo, assim como a ele e a quem as coisas pareciam acontecer” (MP-4.VIII.1:6). R: Isso está expressando a mesma idéia. Mas, ao interpretar essa passagem, é útil manter em mente o símbolo da auto-estrada dual no gráfico 2: o roteiro antigo, cheio de dor, sofrimento e morte, etc., e sob ele, a correção. Ambos aconteceram simultaneamente. P: Se você não tiver esse insight em sua mente, pode realmente interpretar isso mal e acabar pensando: “Ah, isso é assim no Céu! Veja os eventos que Ele planejou para hoje”. R: Infelizmente, é isso o que as pessoas fazem, terminando com a idéia de que o plano do Espírito Santo para mim pediu que eu fosse estuprado ou perdesse o meu lar, posses e seres amados, tudo para me ensinar que eu não sou um corpo. Como diz o ditado: “Com amigos como esse, quem precisaria de inimigos?”. Não parece importar que existam tantos outros trechos nos três livros que refutem categoricamente essa idéia. Lembre-se de que o plano do ego pede que o Espírito Santo seja transformado em um monstro cruel e vingativo. P: Isso é similar ao que algumas pessoas fazem com as linhas da Bíblia, tal como aquelas que dizem que para seguirmos Jesus, temos que odiar nossa mãe e nosso pai. R: Infelizmente, é verdade que linhas como essas têm sido tirada de seu contexto e usadas para justificarem todas as formas de pensamentos egóicos, o oposto exato do seu verdadeiro significado. Uma passagem já citada merece ser recordada nesse ponto. Referindo-se à tradicional crença cristã de que Deus exigiu o sofrimento e sacrifício do Seu próprio Filho, 132
Jesus diz: “Entretanto, o cristão real deveria fazer uma pausa e perguntar, ‘Como isso poderia ser assim?’” (T-3.I.1:8). Essa próxima linha é linda. Enquanto fazias planos para a morte, Ele te conduzia gentilmente para a vida eterna. O roteiro do ego, que contém nossos planos para a morte, é virado de ponta cabeça pelo Espírito Santo. Nossos planos para a morte, que pensamos serem realmente planos para a vida, são as defesas que nossos egos estabeleceram para nos protegermos da punição de Deus. Em meio a isso tudo, quer as defesas assumam a forma de problemas externos, ou estejam associadas à nossa aflição mental ou física, a presença amorosa do Espírito Santo gentilmente nos leva para casa. Uma sentença já citada no texto diz: “Na crucificação está depositada a redenção” (T-26.VII.17:1). No cerne da dor da culpa em nossas mentes, a redenção está presente também, se apenas tomarmos a decisão de tirarmos o dedo do botão do ego e o colocarmos no botão do Espírito Santo, dessa forma mudando das fitas de vídeo de pesadelos para aquelas de sonhos felizes. A escolha é sempre nossa. (LE-pI.135.19) A tua atual confiança Nele é a defesa que promete um futuro imperturbado, sem nenhum traço de pesar e com uma alegria que cresce, constantemente, enquanto essa vida vem a ser um instante santo, estabelecido no tempo, mas ocupado apenas com a imortalidade. Apesar de toda a miséria “objetiva” desse mundo, ou do que parece ser a miséria de ser um prisioneiro nesse mundo, existe outra forma de olhar para ele: através do instante santo, que nos leva além das percepções do ego. O mundo em si não muda, como já vimos, mas conforme nossas percepções mudam, assim também o fazem nossas atitudes sobre o mundo, pois elas são uma. Com esse novo significado estendido de nossas mentes, o mundo mudou também: causa e efeito, fonte e idéia, permanecem não-separados. P: Qual é a definição de “imperturbado” nesse contexto? R: Significa imperturbado pelos pensamentos do ego. Isso é importante. Mesmo as situações mais perturbadoras no mundo, como por exemplo ser um prisioneiro em Auschwitz, podem não ter efeitos sobre nossa paz interior, estabelecendo que estamos vendo a situação através do Espírito Santo. A causa de toda a nossa aflição e perturbação não está fora de nós, mas em vez disso, nas escolhas da nossa mente. Lembre-se dessa importante passagem do livro de exercícios, já citada: O custo aparente de aceitar a idéia de hoje é o seguinte: significa que nada fora de ti pode salvar-te, nada fora de ti pode dar-te a paz. Mas também significa que nada fora de ti pode ferir-te, perturbar a tua paz ou transtornar-te de modo algum (LEpI.70.2:1-2). Portanto, embora ainda estejamos vivendo no mundo do tempo e espaço, através da escolha da paz do instante santo, estamos obedecendo à lei amorosa da eternidade, refletida aqui em nosso perdão uns aos outros e a nós mesmos. Não deixes que outras defesas senão a tua atual confiança [a ênfase está em atual confiança, que é repetida do início do parágrafo] dirija o futuro, e essa vida vem a ser um encontro significativo com a verdade que só as tuas defesas poderiam querer ocultar.
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(LE-pI.135.20) Sem defesas, tu vens a ser uma luz que o Céu, com gratidão, reconhece como a sua própria luz. Ela te conduzirá pelos caminhos designados para a tua felicidade de acordo com o antigo plano, que começou com o início dos tempos. Nós poderíamos pensar nas defesas nesse contexto como nuvens de culpa; uma metáfora que é proeminente no início das lições do livro de exercícios, assim como no texto. Quando essas nuvens de culpa são retiradas, a luz de Cristo que já está em nós é libertada para brilhar. E então, no instante em que o tempo nasceu e o roteiro do ego emergiu, o plano antigo do Espírito Santo nasceu também. Ele parece ter acontecido no tempo, mas na realidade está além do tempo. O “plano” pede que reconheçamos em cada situação uma oportunidade de perdoar e curar nossas mentes. Assim, somos lembrados no texto: Quanto te encontras com qualquer um, lembra-te de que é um encontro santo. Assim como tu o vires, verás a ti mesmo. Assim como o tratares, tratarás a ti mesmo. Assim como pensares dele, pensarás de ti mesmo. Nunca te esqueças disso, pois nele acharás a ti mesmo ou te perderás. Sempre que dois Filhos de Deus se encontram, lhes é dada mais uma chance de salvação. Não deixes ninguém sem lhe dar a salvação e sem recebê-la tu mesmo (T-8.III.4:1-7). Identificando-nos com esse plano, então, nossas vidas se tornam “encontros significativos com a verdade”. É o medo que o ego tem dessa verdade que o seu arsenal de defesas ilusório serve para manter. Os teus seguidores unirão as suas luzes à tua e ela aumentará até que o mundo seja iluminado com alegria. E os nossos irmãos, com contentamento, deixarão de lado as suas incômodas defesas, que em nada lhes foram úteis e só podiam aterrorizar. Conforme escolhemos perdoar e liberar as nuvens de culpa que obscureceram a luz de Cristo em nossas mentes, essa luz brilha através de nossas mentes para todos, assim como a deles brilha através deles também. Assim, o círculo da Expiação cresce (T-14.V). Talvez a expressão final dessa visão esteja no próprio fim do texto, no contexto da oração de Jesus ao nosso Pai: Eu Te dou graças pelo que são os meus irmãos. E à medida em que cada um elege unir-se a mim, a canção de agradecimento da terra para o Céu cresce e os diminutos fios dispersos de melodia vêm a ser um único coro que abrange todo um mundo redimido do inferno, que dá graças a Ti (T-31.VIII.11:4-5). Existe uma passagem similar no texto, no final da seção “Entrar na arca” (T-20.IV.8). Ela diz basicamente a mesma coisa, mas de uma forma diferente. Passaremos a ela agora: (T-20.IV.8) Podes perguntar a ti mesmo como podes estar em paz quando, já que estás no tempo, há tanto para ser feito antes que o caminho para a paz esteja aberto. Isso expressa o sentimento inevitável já mencionado dos estudantes do Curso quando começam a considerar a enormidade do sistema do ego, tendendo a dizer, “Meu Deus, como isso jamais poderia ser desfeito?”. Existe outra passagem no texto, já parcialmente citada, que transmite a mesma mensagem: A prontidão é só o começo da confiança. Podes pensar que isso implique na necessidade de uma enorme quantidade de tempo entre a prontidão e a maestria, mas permita-me lembrar-te que o tempo e o espaço estão sob o meu [Jesus] controle (T-2.VII.7:8-9). 134
A idéia já mencionada é importante aqui: nós não temos que ser perfeitos, e não precisamos ter dominado algo para estarmos prontos para desempenhá-lo. A prontidão não significa mestria. Muito, muito poucos dominaram esse sistema de pensamento, mas isso não significa que as pessoas não estejam prontas para praticá-lo. No entanto, se pensarmos que desfazer nossa culpa é impossível, ou se nos sentirmos sobrecarregados por essa tarefa e pensarmos que iria requerer uma tremenda quantidade de tempo para aprendermos a perdoar, Jesus se apresenta nesse ponto para nos lembrar que o tempo e o espaço estão sob seu controle e, portanto, o milagre tem o poder de encurtar o tempo. Em outras palavras, o milagre pode nos ajudar a mudar subitamente do pesadelo do ego para o sonho feliz do Espírito Santo. Mais uma vez, parece que essa é uma tarefa enorme e impossível, mas isso é assim porque acreditamos que o tempo é real. Talvez isso pareça impossível para ti. Mas pergunta a ti mesmo se é possível que Deus tenha um plano para a tua salvação que não funcione. Uma vez que tiveres aceito o Seu plano como a única função que queres cumprir, nada mais haverá que o Espírito Santo não arranje para ti sem o teu esforço. Ele irá diante de ti endireitando as tuas veredas e não deixando em teu caminho nenhuma pedra em que possas tropeçar, nenhum obstáculo para impedir o teu passo. Nós podemos reconhecer nessa passagem a significância do uso que o Curso faz das palavras, a repetição de certas palavras como “obstáculos”. O risco de interpretação errônea é consideravelmente diminuído se reconhecemos que a mensagem aqui é uma correção de outra forma de pensar. Nós já consideramos isso antes. A visão tradicional era a de que Deus colocou pedras em nosso caminho e, através do processo de vencer esses obstáculos, encontramos Seu Amor. Jesus está nos dizendo aqui que a situação é inversa. A frase “endireitando as tuas veredas” é bíblica, palavras de João Batista, tiradas de Isaías (Isaías 40:3; João 1:23). Isso poderia ser visto em termos do gráfico 6, que retrata o caminho acidentado do ego na forma de uma espiral. O caminho do Espírito Santo é uma linha reta que ultrapassa todas as barreiras de separação do ego. Agora, mais uma vez, isso parece sugerir que o Espírito Santo acerta as coisas para nós, que Ele trabalha o futuro. Esse não poderia ser o caso, no entanto, se o tempo é uma ilusão. Para afirmar novamente, essas passagens são apresentadas a nós precisamente porque nós realmente acreditamos que o tempo é real, e, portanto, assim como somos solicitados a “colocar o futuro nas Mãos de Deus” (LE-pI.194), também somos solicitados aqui a confiarmos em que o Espírito Santo vai cuidar das coisas para nós. Portanto, a forma de Ele nos ajudar é por nos lembrar de que podemos mudar nossas mentes, mudar nosso canal de visão para reexperienciarmos os sonhos felizes de perdão em vez dos pesadelos. Isso não significa que Ele faça coisas no mundo, porque, como o Curso afirma de novo e de novo, não há mundo, assim como não há futuro, mas apenas os roteiros que já foram concluídos. Assim, o Espírito Santo funciona em nossas mentes dentro da ilusão de que existe tempo, de que existem coisas que têm que ser feitas e obstáculos a serem vencidos. Mas isso só é assim porque é aí que acreditamos estar. Antes, no texto, como vimos, Jesus nos pede para ponderarmos a questão, “Quem é o ‘tu’ que está vivendo nesse mundo?” (T-4.II.11:8). Ele está nos ensinando que esse “tu” não é nosso Ser real de forma alguma, e que nós temos que estar vigilantes para reconhecer como o ego mascara nossa verdadeira Identidade, que é mantida para nós pelo Espírito Santo. Nada do que necessites te será negado. Nenhuma dificuldade aparente deixará de se desvanecer antes que a alcances. Não precisas pensar em nada, descuidado de todas as coisas, exceto do único propósito que queres realizar.
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Isso é uma referência à parte do Sermão da Montanha no evangelho de Mateus (t:28-29) que nos pede para considerarmos os lírios do campo como os pássaros do céu, cujas necessidades são atendidas por Deus. Isso parece sugerir que Deus satisfaz nossas necessidades corporais como as experienciamos no mundo material, mas, mais uma vez, Jesus não poderia estar dizendo literalmente isso porque em outro trecho no Curso, ele explica que Deus nem mesmo sabe nada sobre esse sonho (i.e., T-4.II.8:6; T-18.VIII.4:1-2). Além disso, nós já discutimos que o Espírito Santo não trata dos efeitos, mas apenas de sua causa em nossas mentes. É por isso que é essencial manter em mente o contexto no qual o Um Curso em Milagres se apresenta. As passagens não deveriam ser tiradas do contexto para que significassem o que nós queremos que signifiquem, violando o sistema de pensamento global. Dizer que nada do que precisarmos nos será negado, que nenhuma dificuldade deixará de se dissolver, parece sugerir também que o futuro é real e que nós estamos em uma jornada temporal. Como já vimos, o Curso usa uma linguagem como essa por causa da nossa crença firmemente enraizada em que o tempo é um processo linear. Em outros trechos, Jesus diz que a jornada já terminou. Conseqüentemente, o Espírito Santo não muda coisa alguma no mundo porque “não há mundo” (LE-pI.132.6:2); não estamos passando pelas coisas pela primeira vez. No entanto, Sua presença amorosa realmente parece “falar” às nossas mentes adormecidas para mudarmos o que estamos experienciando. A armadilha é que nós nos esquecemos de que não somos as pessoas na tela, mas simplesmente os observadores. P: Você poderia falar mais sobre isso? Mais uma vez, como devemos encarar essa passagem? R: Essa passagem deveria ser vista como uma correção para a idéia de que o Espírito Santo pune, que Ele torna as coisas difíceis e nos traz sofrimento. Essa é a idéia principal; mas a linguagem usada para transmitir essa idéia é a linguagem que pode ser compreendida por mentes imbuídas com a crença em que o tempo é linear. A lição do livro de exercícios sobre colocarmos nosso futuro nas Mãos de Deus, como vimos, usa a linguagem que reflete a crença e que o tempo é linear, para transmitir a mensagem de que o Espírito Santo está sentado conosco na cadeira do observador, impelindo-nos a escolher passar novamente as fitas dos relacionamentos que Ele já curou para nós. Nossa experiência nesse mundo pode ser a de que Ele fez isso para nós – que Ele endireitou nosso caminho e removeu os obstáculos. Na verdade, no entanto, nós meramente aceitamos a correção que já está presente em nossas mentes através do Espírito Santo. A idéia de que não precisamos pensar em nada exceto no único propósito que queremos realizar, refere-se ao perdão. É importante reconhecer que uma passagem como essa poderia ser usada para justificar falarmos sobre os truques mágicos do Espírito Santo – ele dá vagas de estacionamento, cura o câncer, provê dinheiro quando necessário, e, em geral, faz tudo para que todas as nossas necessidades sejam atendidas. Se esse fosse realmente o caso, iria confirma a crença e que o mundo do tempo e do espaço é real, por virtude da intervenção do Espírito Santo nele. Um Curso em Milagres usa uma linguagem como essa, ainda mais uma vez, porque nós acreditamos estar nesse mundo, mas tal uso não deveria ser lido erroneamente para justificar a “mágica” (o termo que o Curso usa, como vimos, para a tentativa de resolver um problema na mente através de medidas físicas). As “intervenções” do Espírito Santo são simplesmente os lembretes em nossas mentes de que nós temos apenas um único problema, e Seu Amor já o resolveu para nós. P: A idéia de que “tu não precisas fazer nada” poderia ser entendida como dizendo que, em última instância, nós não temos que nos preocupar com os problemas básicos diários da vida, o que deveríamos usar e o que deveríamos comer, por exemplo? Isso significa que pelo fato de não termos necessidade de trazer sofrimento a nós mesmos, nós inevitavelmente teremos o que precisamos? Nós não teremos que nos focalizar em qualquer coisa como um fim em si mesma? 136
R: Sim, isso é o que está implícito. A palavra crucial em sua pergunta é “preocupado”. Não é que não prestemos atenção à conta de energia elétrica, ou não tenhamos que prover aos nossos seres amados ou a nós mesmos. É simplesmente que não vamos interpretar tais necessidades materiais através dos olhos da culpa e privação. Essa projeção é a fonte de todas as nossas preocupações e problemas percebidos, que se tornam artifícios de distração muito efetivos, como todos nós sabemos. Um Curso em Milagres é uma mistura do ideal com o prático, princípios metafísicos com nossa experiência diária. A confusão entra nas mentes dos estudantes quando eles confundem os dois níveis. Assim, mais uma vez, as pessoas poderiam dizer: “O Espírito Santo me disse para deixar meu emprego; eu não tenho qualquer dinheiro, mas sei que o Senhor vai me prover”. Isso claramente não é o que Jesus quer dizer com isso. Ele está nos dizendo, em vez disso, que não vamos mais ficar preocupados com coisas que não são problemas reais, mas em vez disso, vamos reconhecer quais são nossos problemas reais. O propósito do Curso é nos ajudar gradualmente a reconhecer que nossa única função é curarmos nossas próprias mentes, e só isso é importante: “A única responsabilidade do trabalhador de milagres é aceitar a Expiação para si mesmo” (T-2.V,5:1). Jesus certamente não está sugerindo que nós façamos isso à parte da forma e símbolos do mundo; seu Curso não defende a idéia de nos afastarmos do mundo, mas em vez disso, que mudemos a forma com que percebemos o mundo: Esse curso permanece dentro da estrutura do ego, onde ele é necessário. Não se ocupa do que está além de todo erro, porque está planejado somente para estabelecer a direção nesse sentido. Por conseguinte, usa palavras que são simbólicas e não podem expressar o que está além dos símbolos (ET-in.3:1-3). E antes, no manual, com relação à questão da mudança na situação de vida de alguém: São necessárias mudanças nas mentes dos professores de Deus. Isso pode ou não envolver mudanças na situação externa... É muito improvável que mudanças de atitudes não constituam o primeiro passo no treinamento... (MP-9.1:1-2,4). O Espírito Santo, portanto, interpreta nossas palavras e símbolos de forma diferente, no entanto, faz isso dentro do seu contexto. Em outro trecho, Jesus explica como o Espírito Santo não tira nossos relacionamentos especiais de nós, mas os transforma (T-17.IV.2:3); a forma ou símbolo permanece, mas o conteúdo é modificado da culpa para o perdão. P: Existem quaisquer outras razões para esse tipo de compreensão equivocada? As pessoas ficam envolvidas em algumas situações muito terríveis e então concluem que o Espírito Santo estabeleceu aquelas situações para ensinar Suas lições. Por exemplo, como você já disse, uma mulher que foi brutalmente estuprada e acreditou sinceramente que o Espírito Santo enviou esse estuprador a ela para que ela pudesse perdoá-lo. R: A compreensão equivocada vem porque as pessoas lêem o que seus egos querem que elas leiam, de tal forma que elas falham em entender o contexto mais amplo no qual essas passagens aparecem. É por isso que eu falei dessas passagens no contexto maior do tempo. Talvez a maior preparação para trabalhar com o Um Curso em Milagres seja o bom senso. Bom senso, sem falar na teoria do Curso, iria nos dizer que o estupro nunca poderia ter sido a vontade do Espírito Santo, que subitamente deixar nossos empregos, abandonar uma família sem meios visíveis de sustento, não foi a vontade do Espírito Santo. Na verdade, Ele poderia nos guiar a deixar um emprego. No entanto, em situações nas quais a negação esteja envolvida, levando-nos a usar outras pessoas para evitarmos assumir a responsabilidade pelos nossos próprios roteiros, será claramente a orientação do ego que estaremos seguindo. Mais uma vez, não existe questionamento sobre uma pessoa poder ser guiada, como parte do seu caminho de Expiação, a deixar uma situação em particular. Mas, se assim for, a paz seria o 137
resultado, não o sacrifício. O Espírito Santo não é o pássaro mágico que cuida dos nossos problemas. É por isso que eu estive prefaciando essas passagens por enfatizar como é essencial entender que os ensinamentos do Curso são uma correção. Uma vez que seu propósito é compreendido, sem interpretação ou aplicação errônea, os ensinamentos são totalmente consistentes e fazem muito mais sentido. Como ele [propósito] te foi dado, assim também será a sua realização. A garantia de Deus se manterá contra todos os obstáculos, pois ela descansa na certeza e não na contingência. Ela descansa em ti. E o que pode ser mais certo do que um Filho de Deus? O perdão é o propósito dado a nós pelo Espírito Santo, o que então permite que nossas mentes sejam curadas. E, uma vez que ele foi dado a nós, cumpri-lo é garantido também, requerendo apenas nossa decisão inevitável de aceitação. O roteiro antigo do ego aconteceu dentro do sonho, mas o roteiro antigo do perdão aconteceu também. O “você” que certamente descansa é o Ser real, o Cristo em nós, e Seu Amor meramente espera pelo nosso retorno certo ao lar que nunca verdadeiramente deixamos.
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PARTE III
O FIM DO TEMPO
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INTRODUÇÃO À PARTE III Nessa Parte final, vamos considerar as idéias do Curso sobre o mundo real, a Segunda Vinda, o Julgamento Final, e então o último passo de Deus, que, dentro da apresentação do Curso, aparece seqüencialmente. De forma clara, portanto, a seqüência é ilusória, pois esses “passos” finais corrigem e desfazem uma crença em um tempo que nunca existiu. Esses estágios, apesar disso, são úteis para nós que ainda acreditamos estar no tempo, pois servem para reverter os passos do ego na descida para seu inferno. Iniciaremos com o mundo real, cujo alcance é a meta de aprendizado do Um Curso em Milagres.
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Capítulo 9 O MUNDO REAL Começamos com o lindo resumo de “o mundo real” encontrado no livro de exercícios (LEpII.8.1). Nós realmente poderíamos devotar todo um livro a esse tópico, pois o Um Curso em Milagres contém muitas referências a ele. Mas vamos nos limitar a apenas três, uma de cada livro do Curso. Mas, antes de começarmos, alguns comentários adicionais. Para afirmar novamente, o Céu não é a meta do Curso; o mundo real é. Dentro do contexto da nossa discussão relacionada ao gráfico 3, o mundo real é atingido quando percebemos apenas fitas de perdão e união, depois do que, todas as fitas desaparecem. Nossas percepções no mundo real não são mais distorcidas pelas projeções da nossa própria culpa ou crença no pecado, mas em vez disso, agora são extensões do Amor do Espírito Santo. Esse Amor é a meta do Curso, e nos coloca no final do caminho da Expiação. É importante entender que o mundo real continua sendo parte do mundo da ilusão e, portanto, não é o Céu. Quando o Um Curso em Milagres fala sobre realidade, ele está falando sobre o Céu, que usualmente é justaposto ao mundo ilusório. Mas a frase “mundo real” referese a esse mundo, embora a um mundo perdoado. Como o livro de exercícios diz no início da passagem que agora devemos examinar, “O mundo real é um símbolo”, o que significa que não é um fato. O único fato que é verdadeiro é escrito com um “F” maiúsculo, o Fato de Deus. Então, embora o mundo real seja um símbolo, não é um símbolo de pecado ou separação. Ele é o puro reflexo, dentro da mente separada, da realidade e unidade do Céu. Como tal, o mundo real não é uma referência ao mundo físico, mas em vez disso, à atitude de perdão que agora está dentro da mente que reconheceu sua impecabilidade. Agora, o livro de exercícios: (LE-pII.8.1) O mundo real é um símbolo, como o resto do que a percepção oferece. Mas representa o oposto daquilo que fizeste. O gráfico 2 retratou os roteiros do ego e do Espírito Santo como uma auto-estrada dupla, a parte final pertencendo ao ego, enquanto a inicial é a correção do Espírito Santo, o oposto exato do que o ego fez. Portanto, viver no mundo real pode ser assemelhado a dirigir apenas na pista da auto-estrada do Espírito Santo, onde não existe mais qualquer roteiro de forma alguma. Para dizer mais uma vez, tão logo a correção do Espírito Santo foi aceita, os equívocos do ego desapareceram, tornando as correções desnecessárias. Como Jesus explica, em relação ao seu próprio papel como professor: Eu vou ensinar contigo e viver contigo se pensares comigo, mas minha meta sempre será finalmente absolver-te da necessidade de um professor (T-4.I.6:3). Assim, tão logo a culpa que fizemos é substituída por seu oposto – o perdão – ambos desaparecem: 141
Esse é o deslocamento que a percepção verdadeira traz: o que foi projetado para fora é visto no interior, e aí o perdão permite que desapareça... vistos dentro da tua mente, culpa e perdão por um instante estão juntos, lado a lado, sobre um único altar. Lá finalmente a doença e o seu único remédio estão unidos em uma luz que cura. Deus veio para reivindicar o que é Dele. O perdão está completo (ET-4.6:1,710). O teu mundo é visto através dos olhos do medo e traz à tua mente os testemunhos do terror. O mundo real não pode ser percebido exceto através de olhos que o perdão abençoa, de modo que vejam um mundo onde o terror é impossível e onde testemunhos do medo não podem ser achados. (LE-pII.8.2) O mundo real possui uma contrapartida para cada pensamento infeliz refletido no teu mundo; uma correção certa para as cenas de medo e para os sons de batalha que o teu mundo contém. Cada instante em que escolhemos ser separados já foi curado através de uma decisão de união. Pois a cada vez em que atacamos e guardamos mágoas contras as pessoas, tem havido uma correção na qual as perdoamos. Essa é a contraparte de cada pensamento infeliz que tivemos. A idéia de que cada pensamento infeliz está refletido no mundo é uma expressão da dinâmica de projeção. E cada pensamento infeliz tem o medo como sua fonte, inevitavelmente levando a uma experiência do mundo como aterrorizante, e a nós mesmos como vulneráveis à sua maldade. Por outro lado, aceitar a correção do Espírito Santo permite que Seu Amor se estenda através de nossas mentes, em última instância tornando-se refletido na percepção do mundo real. O mundo real mostra um mundo visto de modo diferente, através de olhos serenos e com a mente em paz. Nele só há descanso. Nele não se ouvem gritos de dor e de pesar, pois nada mais resta fora do perdão. E o que vês é gentil. Apenas cenas e sons felizes podem alcançar a mente que perdoou a si mesma. O que é importante aqui é entender que o mundo real não é uma negação do mundo. Nós ainda vivemos em um mundo separado de ilusão, mas, embora os olhos do corpo “vejam” as mesmas coisas que antes, a interpretação colocada no que é “visto” é inteiramente diferente. Em outras palavras, nossa percepção foi inteiramente corrigida e então, nós simplesmente vemos através dos olhos do amor. P: Essa linha, então, “Nele não se ouvem gritos de dor e de pesar”, não deveria ser vista literalmente? R: Está certo. Isso não significa que todas as pessoas não estejam chorando em dor, mas em vez disso, que não vamos ouvir nada dessa forma. P: Então, isso é literal em um sentido e no outro não? R: Correto. Depende de qual nível estamos falando. O ponto principal é nos certificarmos de que não estamos engajados na negação: negar a fome no mundo, a situação difícil em um país oprimido, as pessoas no holocausto, ou seja o que for. Essa passagem, portanto, não deveria ser vista como significando que essas coisas não estão acontecendo. Significa que vamos olhar para essas coisas de forma diferente, sem darmos a elas o poder de perturbarem nossa paz interior.
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P: Também não seria um equívoco pensar que o mundo real é algum tipo de lugar diferente desse mundo? R: Sim, sem dúvida. O mundo real, mais uma vez, é uma atitude, um estado mental. Uma pessoa pode estar fisicamente em Auschwitz, ou pendurada em uma cruz, mas a mente estará totalmente em paz. E então, a situação aparentemente externa é percebida através de olhos quietos e gentis. Apenas a benignidade é experienciada, pois apenas os pensamentos benignos permanecem na mente. (LE-pII.8.3) Que necessidade tem essa mente [perdoada] de pensamentos de morte, ataque e assassinato? Essa é uma declaração importante, pois Jesus está nos dizendo que nosso ser egóico tem uma necessidade por pensamentos de morte, ataque e assassinato, o que significa que eles resultam de uma decisão que tomamos. Essa certamente não é a forma do mundo olhar para o ataque, que, em qualquer uma de suas formas, parece tão real. Mas essa passagem está nos ensinando que o problema é que nós temos um investimento em acreditar na realidade do ataque. Nós escolhemos torná-lo real – o que, é claro, nos enraíza no corpo e em um mundo de separação, culpa e medo – porque é isso o que o ego quer. Escolher pensamentos de ataque realmente vem de uma decisão de permanecer no tempo, “seguramente” dentro do mundo do ego. O que pode [a mente perdoada] perceber ao seu redor, senão a segurança, o amor e a alegria? O que pode existir que escolhesse condenar e o que quereria julgar desfavoravelmente? Mais uma vez, isso não significa que negamos o que acontece no mundo. Nós simplesmente entendemos que o que acontece no mundo não pode afetar Quem realmente somos. O que Jesus nos ensinou é que, apesar do que pareceu estar acontecendo a ele, ele estava rodeado pela segurança, amor e alegria. Portanto, ele não poderia estar em dor, nem perceber qualquer parte da Filiação como separada dele. Nada aconteceu a ele, porque não havia nada em sua mente que exigisse que algo acontecesse a ele. A seção “O espaço que o pecado deixou” (T-26.IV) é uma linda homenagem ao mundo perdoado ou real. Existe uma ausência de pecado, e, se não houver pecado, não pode haver culpa. E então, não há necessidade de ver a si mesmo ou aos outros como condenados. Sem a culpa, o julgamento é impossível e a separação inexistente. Um breve excerto dessa seção se segue: O perdão é o equivalente que existe nesse mundo para a justiça no Céu. Ele traduz o mundo do pecado em uma simples palavra, onde se pode ver o reflexo da justiça que vem de além da porta atrás da qual está a ausência total de limites... O perdão faz com que o mundo do pecado venha a ser um mundo de glória, maravilhoso de se ver... Não existe tristeza e não existe separação aqui, pois todas as coisas são totalmente perdoadas. E o que foi perdoado tem que se unir, pois nada se interpõe entre eles para mantê-los separados e à parte. Os que não têm pecado não podem deixar de perceber que são um só, pois nada existe entre eles que empurre o outro para longe (T-26.IV.1:1-2; 2:1,3-5). O mundo que ela [a mente perdoada] vê surge de uma mente em paz consigo mesma. Não há perigos à espreita em nada do que é visto por ela, pois é benigna e só contempla a benignidade. Em muitos trechos no livro de exercícios, especialmente nessas páginas únicas de resumo, uma tremenda quantidade de coisas é expressa em cada sentença, diretamente ou 143
por implicação. Encontramos isso aqui também. O mundo que vemos surge de uma mente conflitada, que inevitavelmente projeta seu conflito. E foi assim que o mundo foi feito. O perdão corrige esse erro, curando o conflito de acreditar que nós atacamos Deus. A paz substitui o conflito, e outro mundo surge desse pensamento amoroso. Em outras palavras, mais uma vez, no mundo real vemos e experienciamos o sonho de forma diferente. Além disso, se eu for benigno e puder olhar apenas para a benignidade, não devo mais perceber o perigo. A segunda sentença é uma declaração causal: “Não há perigos à espreita em nada que é visto por ela”, porque “é benigna”. Portanto, se existe apenas a benignidade dentro de mim – não existe pecado e nem julgamento -, não importando o que aconteça, saberei que não estou em perigo. Se o perigo vier, ele será o efeito de um pensamento nãobenigno. Um pensamento não-benigno resulta de uma crença no pecado e na culpa, que exige que eu seja punido. Eu tenho, então, que acreditar que o mundo é um lugar perigoso. No mundo real, não importando o que aconteça no nível da forma, eu permaneço em paz. Nós vimos muitos exemplos da Segunda Guerra Mundial, mais uma vez, de pessoas que sobreviveram aos campos de concentração em um estado de paz, apesar dos óbvios perigos físicos que estavam ao redor delas. Sua paz resultou de sua escolha de se identificarem com o amor em vez de com o ataque. Nesse mundo, nós nem sempre temos controle sobre o que é externo a nós, mas sempre temos controle sobre nossos pensamentos e percepções. Isso nós podemos mudar. (LE-pII.8.4) O mundo real é o símbolo de que o sonho do pecado e da culpa terminou e o Filho de Deus não está mais dormindo. Seus olhos despertos percebem o reflexo seguro do Amor de seu Pai, a promessa certa de que foi redimido. O mundo real significa o fim do tempo, pois percebê-lo faz com que o tempo não tenha nenhum propósito. Então, agora estamos começando a despertar desse pesadelo. O propósito do tempo, do ponto de vista do Espírito Santo, é desfazer o pecado. Uma vez que o pecado é desfeito, não existe mais necessidade de tempo. Assim, podemos dizer que atingir o mundo real é o passo necessário em direção a terminar com nossa crença na realidade do tempo. Embora o Amor de Deus não seja possível nesse mundo, como já visto na declaração citada “Nenhum amor nesse mundo é sem... ambivalência” (T-4.III.5:6), o reflexo do Amor é possível através da percepção do Espírito Santo. (LE-pII.8.5) O Espírito Santo não tem necessidade de tempo, uma vez que esse já tenha servido ao Seu propósito. Agora, Ele só espera por aquele único instante a mais para que Deus dê o Seu passo final e o tempo desapareça, levando consigo a percepção e deixando apenas a verdade para ser ela mesma. Esse instante é a nossa meta, pois contém a memória de Deus. E, ao olharmos para um mundo perdoado, é Ele Que nos chama e vem para nos levar para casa [o passo final de Deus], lembrando-nos da nossa identidade Que o nosso perdão restituiu a nós. O “passo final” é o que o Curso em outro trecho chama de último passo de Deus, e devemos tratar desse estágio depois. Conforme o tempo desaparece, assim também acontece com a percepção, e o conhecimento então alvorece em nossas mentes, restaurado finalmente à consciência da unicidade do Céu. Esse é o instante no qual nossas mentes estão totalmente curadas, porque é aí que aceitamos totalmente a Expiação para nós mesmos: nós desfizemos nossa crença na realidade da culpa. O mundo real representa a conclusão dos nossos caminhos individuais. Os estágios finais – a Segunda Vinda, o Julgamento Final, e o último passo – como vamos ver, são realmente passos coletivos. Em outras palavras, quando cada fragmento separado da Filiação tiver curado sua mente, nesse ponto, a Filiação é despertada como uma. O mundo real expressa a conclusão individual daquele caminho. Aquele instante de cura é nossa meta. Conforme virmos a face de Cristo nos outros, a memória de Deus 144
alvorecerá em nossas mentes, e nós estaremos em casa, na consciência da nossa perfeita unicidade com Deus e toda a criação. Agora, vamos passar para o manual, a seção chamada “Como será o fim do mundo?” (MP-14). O tema central que estivemos considerando é que o perdão total e o alcance do mundo real marcam o fim desse mundo. Esse é o tema dessa seção também. (MP-14.1) É possível que o que não tem começo realmente tenha fim? O mundo terminará em uma ilusão, como começou. Porém, seu fim será uma ilusão de misericórdia. Se nós falarmos sobre o fim do mundo, então, estamos deixando implícito que tem que ter havido um início. Portanto, estaríamos dizendo que o mundo realmente existe. Essa é uma das formas sutis que o ego usa para tornar o mundo, e, portanto, a si mesmo, real. É a mesma idéia de quando as pessoas falam sobre a ressurreição do corpo de Jesus. Se você disser que seu corpo ressuscitou, então, estará dizendo que seu corpo morreu, e aí tem que estar dizendo que seu corpo viveu, o que é outro exemplo da inteligente armadilha que o ego estabelece para nos fazer acreditar na realidade desse mundo. É a mesma coisa aqui: falar sobre o fim do mundo é dizer que o mundo teve um início e, portanto, que ele, e todo o sistema de pensamento do ego, são reais. “Porém, seu fim será uma ilusão de misericórdia”. Isso está destinado a ser uma correção para a visão tradicional cristã de que o mundo vai terminar em julgamento, e, claramente, esse julgamento não será bom se você estiver no time errado. P: O Livro das Revelações não diz que o mundo vai terminar em fogo, a batalha do Armagedom? R: Sim; a Bíblia afirma que o mundo vai terminar em uma imensa conflagração e que haverá muito sofrimento. Se você estiver no “time bom”, então, vai ficar bem. O Curso aqui está afirmando que o mundo vai terminar de forma muito diferente; i.e., em “uma ilusão de misericórdia”. A ilusão do perdão, completo, sem excluir ninguém, sem limites em gentileza, cobrirá o mundo, escondendo todo o mal, ocultando todo o pecado e pondo fim à culpa para sempre. Assim termina o mundo que foi feito pela culpa, pois agora ele não tem nenhum propósito e se foi. Aqui está outra clara declaração no Curso de que o perdão também é uma ilusão. O produto final do processo de perdão é que ninguém é excluído, e então, a culpa é desfeita. Esse mundo, no entanto, é mantido pela culpa. A culpa fez o mundo – uma declaração muito clara desse importante ensinamento do Curso – e é mantido por ela. Portanto, quando a culpa se vai e o perdão é completo, o mundo tem que desaparecer, porque sua causa se foi. O mundo é o efeito, e a culpa ou pecado é a causa. Vamos pular para o segundo parágrafo, oitava sentença: (MP-14.2:8-12) O mundo terminará quando todas as coisas nele tiverem sido corretamente julgadas pelo Seu julgamento. O mundo terminará com a bênção da santidade sobre si. Quando não permanecer nenhum pensamento de pecado, o mundo acaba. Ele não será destruído, nem atacado, nem mesmo tocado. Meramente deixará de parecer que existe. Essa então é a visão de Cristo, a percepção verdadeira do Espírito Santo, e o mundo real. Além disso, essa declaração é uma correção para a visão cristã tradicional do Armagedom. As 145
palavras aqui obviamente são cuidadosamente escolhidas. Não é que o mundo vá meramente deixar de existir; “meramente deixará de parecer que existe”, porque sua existência é ilusória. O mundo não existe; ele apenas parece existir. Além disso, como consideramos no fim da Parte II quando falamos sobre o plano do Espírito Santo, o Um Curso em Milagres deixa muito claro em muitas passagens, assim como essa, que não existe mundo. No entanto, Jesus não fala constantemente nesse nível. Se o fizesse, o Curso seria extremamente frustrante para nós, que acreditamos que o mundo é real. Existem passagens suficientes no Curso que nos mostram exatamente o que é sua visão metafórica. Mas existem muitas outras passagens que falam do mundo como se ele fosse real, porque, mais uma vez, temos um investimento em acreditar na realidade do mundo do tempo. Também é importante notar que o mundo não é destruído ou atacado, nem nada se opõe a ele de forma alguma, uma vez que como poderia haver oposição ao nada e como ele poderia ser destruído? O mundo é simplesmente visto através dos olhos de Cristo, e depois, sua nulidade é compreendida e ele desaparece. Como o Curso diz com relação a transcender o corpo: Não através da destruição, nem através de uma ruptura, mas meramente através de uma serena fusão (T-18.VI.14:6). (MP-14.3) Certamente isso parece estar muito, muito distante. “Quando não permanecer nenhum pensamento de pecado” parece ser, de fato, um objetivo a muito longo prazo. Mas o tempo pára e aguarda a meta dos professores de Deus. Nenhum pensamento de pecado permanecerá no instante em que qualquer um deles aceitar a Expiação para si mesmo. Obviamente, dentro do nosso sonho de tempo, parece que vai levar uma quantidade tremenda de tempo para que o pecado seja desfeito e nossas mentes curadas. E então, essa passagem não faz sentido dentro de uma visão linear do tempo. Quando consideramos nossos egos individuais e o quanto vai custar para sermos totalmente livres naquele nível, e depois a multiplicidade de bilhões em termos do mundo mais amplo, o fim do ego parece estar muito distante. No entanto, essa abordagem, como já notamos, meramente reforça a ilusão do tempo. O que é útil ao entender a visão metafísica do Curso, especialmente em conexão com o gráfico 3, é que ela aponta para quão diferente é o processo real de Expiação. Tudo o que precisamos fazer é apertar um botão diferente e toda a nossa experiência muda. É como se você estivesse assistindo a um filme de terror no vídeo, e depois subitamente decidisse que já teve o suficiente disso. Você, portanto, mudou sua mente e então, passa para uma comédia musical em vez daquilo. Não parece que seja tão fácil assim em nossas vidas diárias porque ainda estamos tão enraizados em acreditar que merecemos estar amedrontados, castigados, infelizes e conflitados. Mas esse é o problema: nossa crença de que merecemos dor. Alguns outros sistemas metafísicos ensinam que a dor é o que nós atraímos para nós. No entanto, essa abordagem meramente torna o mundo real. Não é que nós atraiamos a dor para nós. Em vez disso, nós simplesmente escolhemos re-experienciar aquela fita de miséria de novo e de novo. Tudo o que é necessário para o mundo do tempo desaparecer para nós como realidade é mudarmos nossas mentes, “mudarmos de canal”. Quando considerarmos o Julgamento Final no Capítulo 11, devemos voltar à idéia da conclusão da Expiação estando “muito, muito distante”. P: Essa única sentença, “Nenhum pensamento de pecado permanecerá no instante em que qualquer um deles aceitar a Expiação para si mesmo”, aplica-se a Jesus, não é? R: Certamente poderia. Ele nos mostrou que todo esse mundo de experiência, como mostrado no gráfico 3, é uma ilusão. Mas isso certamente não significa que não temos que aceitar a Expiação para nós mesmos. Aquela mente curada individual de Jesus demonstrou que o mundo é um sonho, e agora ela permanece conosco para aceitarmos aquela verdade. 146
Vamos pular para as sentenças iniciais do parágrafo quatro: (MP-14.4) O mundo chegará ao fim quando o seu sistema de pensamento for completamente revertido. Até lá, pedaços e restos desse pensamento ainda parecerão fazer sentido. A lição final, que traz o fim do mundo,não pode ser apreendida por aqueles que ainda não estão preparados para deixar o mundo e ir além do seu diminuto alcance. Jesus está afirmando aqui que dentro do mundo do tempo, o fim do sistema de pensamento do ego acontece como um processo. A “lição final” é o total desfazer da crença no tempo, morte, ou qualquer forma na qual o pensamento de separação seja expresso. Mas é impossível para nós entendermos como isso é alcançado enquanto permanecermos grudados à nossas telas, assistindo filmes de horror. Mais uma vez, o ponto crucial é que uma escolha está envolvida: eu escolho re-experienciar essa forma particular de pesadelo e, portanto, posso com a mesma facilidade mudar a minha mente. E então, se nós continuarmos assistindo a um filme terrível na televisão, ninguém está nos forçando a continuar com ele. Nós podemos sempre mudar de canal (ou até mesmo desligar o aparelho inteiramente). Essa é exatamente a situação com as nossas próprias experiências. Nós sempre somos livres para mudar a forma como estamos olhando para algo. Na linguagem do Um Curso em Milagres, a mudança acontece quando nós escolhemos um milagre em vez de uma mágoa. Nas imagens que estivemos usando aqui, nós mudamos os botões. Nós aceleramos nosso processo de Expiação, conforme continuamos a escolher os vídeos do Espírito Santo em vez dos do ego. Agora, voltamos ao texto, a seção intitulada “O perdão e o fim do tempo”, parágrafo dois (T-29.VI.2:1). Essa é uma visão mais poética do fim do mundo. (T-29.VI.2) Não jures morrer, tu, o Filho santo de Deus! A pontuação dessa linha é muito importante. Se você colocar uma vírgula depois da palavra “jure” [NT: a frase em inglês “Swear (jure) not to die, you holy Son of God!”] (“Jure, não morras, tu, o Filho santo de Deus!”), a sentença iria significar que nós não temos que morrer, uma interpretação que muitos estudantes do Curso têm feito. Nós estaríamos jurando não morrer, significando que iríamos continuar vivos em um corpo físico, prometendo nunca morrer nesse corpo. Assim, essa compreensão pressupõe que o corpo vive, ou melhor, que nós vivemos no corpo, e, portanto, juramos nos tornar imortais no corpo. No entanto, antes disso, Jesus afirma claramente que não existe vida no corpo: Não há vida fora do Céu. Onde Deus criou a vida, lá ela tem que estar. Em qualquer estado à parte do Céu [i.e., no corpo] a vida é ilusão. Na melhor das hipóteses, parece vida; na pior, parece morte. No entanto, os dois são julgamentos sobre o que não é vida, são iguais na sua falta de acuidade e de significado. A vida fora do Céu é impossível e o que não está no Céu não está em lugar nenhum (T-23.II.19:1-6). Se a sentença estivesse pontuada com uma vírgula depois de “jures”, então, a interpretação que acabei de dar seria justificada. Claramente, essa interpretação não é o significado aqui. “Não jures morrer” está falando sobre nossa decisão de negarmos a realidade da morte como parte do sistema de pensamento do ego. Quando essa passagem é compreendida como está escrita – “Não jures morrer, tu, o Filho santo de Deus!” – vemos claramente que somos exortados a escolher não morrer, não tornar a morte real, e não transformá-la em uma punição pelo nosso pecado. Nós, portanto, somos solicitados a escolher contra nossa promessa original ao ego de manter seu sistema de pensamento insano e assassino. Em uma passagem 147
maravilhosamente evocativa, esse juramento de fidelidade ao ego é relembrado, conforme ficamos parados diante do obstáculo final à paz: E agora estás aterrorizado diante daquilo que juraste nunca olhar. Baixas os olhos, lembrando da tua promessa aos teus “amigos”. A “beleza” do pecado, o delicado apelo da culpa, a “santa” imagem de cera da morte e o medo da vingança do ego que juraste com sangue não desertar, tudo isso vem à tona e ordena que não ergas os teus olhos (T-19.IV-D.6:1-3). Portanto, em vez de continuarmos a manter a fidelidade à imagem esfarrapada e nãosanta do ego sobre nós, podemos jurar aliança à avaliação do Espírito Santo: “tu, o Filho santo de Deus!”. Tu fizeste uma barganha que não podes manter. O Filho da Vida não pode ser morto. Ele é imortal como o seu Pai. O que ele é não pode ser mudado. Ele é a única coisa em todo o universo que tem que ser una. A barganha que não podemos manter, mais uma vez, é a barganha que fizemos com o ego, a barganha expressa pelas leis do caos de que temos que ser mortos por causa dos nossos pecados. Essa é a insanidade do sistema do ego. No entanto, as boas novas é que nós não somos o filho do ego, mas o Filho da Vida (o “V” maiúsculo, é claro, significa Deus). Nós não podemos ser mortos, mas permanecemos tão imutáveis e imortais quanto nossa Fonte e Criador. Aqui agora está a linda homenagem ao fim do mundo do ego: O que parece ser eterno, tudo isso terá um fim. As estrelas desaparecerão e a noite e o dia não mais existirão. Todas as coisas que vêm e vão, as marés, as estações e as vidas dos homens; todas as coisas que mudam com o tempo, que florescem e murcham, não retornarão. Essa é uma declaração muito prática e poética de que tudo nesse universo físico vai desaparecer. Tudo terá um fim, que é o argumento lógico do Curso em relação a por que o Deus eterno não poderia tê-lo criado. Na antiguidade, os gregos, por exemplo, adoravam a beleza das estrelas, planetas, sol e os movimentos ordenados das esferas celestes. Sua atitude foi citada como uma “devoção cósmica”. Para os gregos, essas formas celestes eram eternas e, portanto, um reflexo da perfeição de Deus e, de fato, esses “corpos celestes” eram chamados de deuses vivos. No entanto, estamos aprendendo aqui que todos os objetos físicos vão desaparecer. Sendo forma, eles mudam; e, se qualquer coisa muda, não pode ser de Deus. Onde o tempo estabeleceu um fim, não é onde o eterno pode ser encontrado. O Filho de Deus nunca pode mudar em função daquilo que os homens fizeram dele. “Onde o tempo estabeleceu um fim” refere-se à morte, porque esse é o fim do nosso tempo individual na terra. Note que o Um Curso em Milagres, em outro trecho, não diz que o mundo vai morrer, mas simplesmente, como já vimos, que ele vai desaparecer de volta na “nulidade da qual veio” (ET-4.4:5). Portanto, nunca poderemos encontrar o eterno em qualquer coisa que seja efêmera e vá morrer, quer estejamos falando sobre uma vida individual ou sobre o cosmos físico. “O Filho de Deus nunca pode mudar em função daquilo que os homens fizeram dele”: o que fizemos de nós mesmos e do mundo não tem impacto em quem realmente somos. No manual, Jesus nos exorta:
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Professor de Deus, tua única atribuição poderia ser colocada assim: não aceites nenhuma transigência na qual a morte desempenhe um papel. Não acredites na crueldade, nem permitas que o ataque esconda de ti a verdade. O que parece morrer foi apenas percebido equivocadamente e levado à ilusão. Agora vem a ser tarefa tua fazer com que a ilusão seja levada à verdade. Sê firme apenas nisso: não te enganes com a “realidade” de nenhuma forma em mutação (MP-27.7:1-5). Ele será o mesmo, ontem e hoje, pois o tempo não designou o seu destino, nem estabeleceu a hora do seu nascimento e da sua morte. O perdão não o mudará. Entretanto, o tempo aguarda o perdão para que as coisas do tempo possam desaparecer porque não têm nenhuma utilidade. Apesar do fato de tudo isso ser uma ilusão, o tempo ainda vai esperar pela ilusão final: o perdão. Quando aquele propósito de atingir o mundo real estiver cumprido, então, o tempo e seu mundo vão desaparecer. Isso conclui nossa discussão sobre o mundo real, e vamos passar agora para a próxima fase, a Segunda Vinda, o despertar coletivo do sonho pela Filiação.
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Capítulo 10 A SEGUNDA VINDA Quando o Um Curso em Milagres fala sobre a Segunda Vinda e o Julgamento Final, é importante lembrar da origem desses termos no cristianismo tradicional. Eu, portanto, vou prefaciar os dois capítulos por ler passagens dos evangelhos que estabelece o palco para vermos como o cristianismo entendeu esses conceitos. Vou começar com o evangelho de Mateus, que contém uma das referências mais importantes no Novo Testamento, à Segunda Vinda, tradicionalmente vista como o retorno de Jesus à terra, depois de sua ascensão ao Céu. As imagens usadas por Mateus, incidentalmente, são baseadas na visão do profeta Ezequiel, do Velho Testamento. Portanto, se vos disserem [esse é Jesus falando sobre si mesmo]: Eis que ele está no deserto, não saiais. Eis que ele está no interior da casa; não acrediteis. Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até ao ocidente, assim será também a vinda do Filho do homem [i.e., Jesus]. Pois onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão as águias. E, logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória. E ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus (Mateus 24:26-31). Essa é uma clara declaração da visão tradicional sobre a Segunda Vinda, que, através dos séculos, evocou grande medo. Obviamente, o retorno de Jesus não é visto como um evento muito pacífico, e certamente nada misericordioso. A igreja inicial realmente acreditava que Jesus iria voltar muito rapidamente. Foi somente depois de décadas que eles entenderam que ele não iria, e então, a teologia escatológica (referindo-se ao fim dos tempos) teve que ser modificada. Se você ler as primeiras cartas de Paulo, por exemplo, terá um senso definido da vinda iminente de Jesus, o que muda nas últimas cartas. Realmente foi um período de grande desilusão na igreja inicial. Voltando ao Um Curso em Milagres, já vimos que Jesus usa a frase “Filho de Deus” para expressar a todos nós como um Cristo, corrigindo a compreensão tradicional de que só ele era o Filho de Deus. Jesus agora faz algo similar com a frase “Segunda Vinda”, que, como devemos ver em breve, expressa o retorno ao senso de toda a Filiação. Assim, de forma similar à sua ressurreição, a Segunda Vinda é explicada por Jesus no Curso como um evento mental, não tendo absolutamente nada a ver com o mundo físico, sem falar em seu retorno corporal. Além disso, o uso que o Curso faz da “Segunda Vinda” não contém nada do medo, julgamento 150
e ameaça de punição que são encontrados na compreensão bíblica. E essa correção é a idéia central por trás do uso que Jesus faz dela aqui. Começamos com o Capítulo 4 do texto, parágrafo dez, na seção “Isso não precisa ser assim”: (T-4.IV.10) A Primeira Vinda de Cristo é apenas um outro nome para a criação, pois Cristo é o Filho de Deus. A Segunda Vinda de Cristo não significa nada mais do que o fim do domínio do ego e a cura da mente. Fui criado como tu na primeira e tenho te chamado para te unires a mim na segunda. Essas são declarações muito claras do fim do ego, assim como a afirmação de Jesus de que ele não é diferente de nós. A Primeira Vinda de Cristo não é o nascimento de Jesus, mas em vez disso, é a criação da Filiação, da qual ele é uma parte. Foi aí que o sonho do ego pareceu nascer, requerendo a correção da Expiação. Quando a Expiação estiver completa e a Filiação tiver despertado do sonho, a Segunda Vinda de Cristo vai se manifestar. E Jesus está nos pedindo para nos unirmos a ele nesse processo, que ele “empreendeu começar” (T1.III.1:1). A Segunda Vinda está a meu encargo e o meu julgamento, que é usado só para a proteção, não pode estar errado porque jamais ataca. Além disso, Jesus diz que ele está a cargo da Expiação (T-1.III.1:1), e o manual dos professores afirma que o Espírito Santo estabeleceu Jesus como o líder do plano da Expiação (ET-6.2:2). O significado aqui é o mesmo. Além disso, mais uma vez, seu julgamento claramente não tem a implicação da punição ou ataque que é central para a visão tradicional. O julgamento de Jesus é simplesmente o de que a separação nunca aconteceu, e então, nossa dor e sofrimento não apenas não têm fundamento, mas são inerentemente inexistentes, uma vez que sua causa de pecado foi desfeita. Assim, somos “protegidos” do sistema de pensamento do ego pela verdade da Expiação. Devemos voltar à noção da ausência do julgamento de Deus no próximo capítulo, sobre o Julgamento Final. Vamos agora passar ao Capítulo 9, seção IV, parágrafo nove: (T-9.IV.9:3-5) Essa [o Julgamento Final] [NT: em inglês “this” não é masculino nem feminino, daí a possibilidade de Kenneth incluir aqui o termo “Julgamento Final”, que, em português, precisaria ser antecedido por “esse”, e não “essa”, como aparece na tradução da edição brasileira] é a Segunda Vinda, que foi feita
para ti assim como a Primeira foi criada. A Segunda Vinda é meramente o retorno do sentido. É possível que isso seja amedrontador? A Segunda Vinda não foi feita por Deus no sentido usual, uma vez que é a correção para o sistema de pensamento do ego de que a Primeira Vinda (nossa criação por Deus) nunca realmente aconteceu. Esse Deus separativo, vindo de um processo de correção que tem que ser ilusório, é indicado pelo uso da palavra “feita”, em justaposição a “criada”, na mesma sentença. A Segunda Vinda, portanto, é a correção do Espírito Santo para o plano do ego. Parte do mundo da ilusão, a Segunda Vinda, no entanto, significa o fim do mundo da ilusão. Assim, a Segunda Vinda foi feita para nós pelo Espírito Santo como a correção para a crença do ego na separação, sua defesa contra a Primeira Vinda, que foi nossa criação como Cristo. Essa correção se torna muito mais significativa quando nos lembramos da passagem de Mateus que acabamos de ler, que expressa uma grande quantidade de medo. Para o ego insensato, a Segunda Vinda e o Julgamento Final podem realmente ser amedrontadores, e, do ponto de vista do ego, de forma justificada. O “retorno do sentido” é a compreensão da verdade do princípio de Expiação, isto é, que a separação não aconteceu, esse mundo é irreal, e o ataque e o julgamento não são justificados. 151
Vamos voltar agora ao livro de exercícios para outras declarações de resumo, “O que é a Segunda Vinda?”: (LE-pII.9.1) A Segunda Vinda de Cristo, que é tão certa quanto Deus, é apenas a correção de erros e a volta da sanidade. Jesus está nos dizendo para não termos medo da Segunda Vinda. Não vamos ver chamas no céu, com o majestoso, embora julgador, Filho do Homem pairando no alto em seu retorno. A Segunda Vinda é meramente o desfazer do que nunca foi. A idéia de que ela é “tão certa quanto Deus” reflete o mesmo conteúdo já citado na declaração: “... o resultado é tão certo quanto Deus” (T-4.II.5:8). O retorno à sanidade é um paralelo à idéia de que a Segunda Vinda é o retorno do sentido, como acabamos de ver no texto. É parte da condição que restitui o que nunca foi perdido e restabelece o que é para sempre e eternamente verdadeiro. É o convite para que o Verbo de Deus tome o lugar das ilusões; a disponibilidade para deixar que o perdão repouse sobre todas as coisas, sem exceção e sem reserva. Quando o Curso fala sobre o Verbo de Deus, como faz aqui e em outros trechos, o termo tem um significado diferente do seu uso no cristianismo tradicional. Tradicionalmente, o Verbo de Deus tem sido equacionado a Jesus, como no famoso “Logos” no prólogo ao evangelho de João: No início era o Verbo [Logos]; e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus (João 1:1). Se nós entendermos o Verbo de Deus como o Cristo único, então, todos nós temos que ser parte de Cristo e, portanto, nada diferentes de Jesus. No entanto, no Curso, “Verbo de Deus” não tem a conotação nem de Jesus nem de Cristo, mas, em vez disso, representa a resposta de Deus que corrige a crença na separação. Assim, “Verbo” pode ser visto em momentos diversos como refletindo o plano da Expiação, perdão, ou o Espírito Santo. É o Verbo curativo de Deus, dentro de nossas mentes divididas, que corrige o verbo de separação do ego. Nós, portanto, podemos pensar no Espírito Santo como a Voz por Deus que fala conosco dentro do sonho da separação, e Ele “fala” o Verbo de Deus que corrige nossos pensamentos equivocados. P: O cristianismo tradicional também afirma que a Bíblia é o Verbo de Deus. E, os católicos não dizem, depois de lerem o evangelho, “Esse é o Verbo do Senhor”? R: Sim, dizem. Em um sentido de certa forma similar e mais amplo, Um Curso em Milagres também pode ser visto como o Verbo de Deus, embora nunca realmente afirme isso. No entanto, isso está implícito na idéia de que o Curso expõe a mensagem de Expiação do perdão, e, portanto, incorpora na forma o princípio da Expiação do Espírito Santo, assim como Jesus fez em sua vida na terra. A passagem anterior que li sobre a Segunda Vinda restaurando o que nunca foi perdido, e restabelecendo o que é para sempre verdadeiro, afirma a idéia de que a Segunda Vinda não faz nada além de corrigir o equívoco. Como devemos ver depois, ela é realmente o despertar do sonho. (LE-pII.9.2) É a natureza toda abrangente da Segunda Vinda de Cristo que lhe permite abraçar o mundo e manter-te a salvo no interior do seu gentil Advento, que encerra todas as coisas vivas junto contigo. Não há fim para a liberação que a Segunda Vinda 152
traz, assim como a criação de Deus tem que ser sem limites. O perdão ilumina o caminho da Segunda Vinda, pois brilha sobre tudo como um só. E assim a unicidade é enfim reconhecida. A frase “todas as coisas vivas” aparece freqüentemente no Curso, e parece sugerir que a Filiação de Cristo abraça não apenas a humanidade, mas tudo a que nos referimos como coisas vivas: animais, plantas, etc. Não pode haver exceções; todas as pessoas, todas as coisas vivas, são uma. Em um nível, no entanto, como já comentamos, nada está vivo aqui no mundo da forma. E então, temos novamente que entender que Jesus está usando termos que falam conosco dentro do mundo ilusório que acreditamos ser real. Dentro do nosso nível de compreensão experiencial, portanto, ele está nos pedindo para não excluirmos ninguém (nem coisa) do nosso perdão. Na verdade, é claro, não existe nada fora de nossas mentes – vivo ou morto, animado ou inanimado – mas simplesmente as projeções dos pensamentos dentro de nós mesmos. São essas projeções externas que têm que ser perdoadas, pois refletem o que não está perdoado do lado de dentro. Todos os nossos pensamentos têm que ser curados e reunidos. Só então, o sistema de pensamento do ego pode ser desfeito, a Expiação completada, e a Segunda Vinda prenunciada. (LE-pII.9.3) A Segunda Vinda põe fim às lições que o Espírito Santo ensina, abrindo caminho para o Julgamento Final no qual o aprendizado termina num último sumário que se estenderá além de si mesmo e alcançará a Deus. A Segunda Vinda é o momento em que todas as mentes são entregues nas mãos de Cristo para serem devolvidas ao espírito em nome da verdadeira criação e da Vontade de Deus. O processo descrito nessa passagem permanece dentro do mundo da ilusão. No contexto da nossa imagem do tapete, as mentes de toda a Filiação estão curadas e aceitaram a Expiação, dessa forma atingindo o fim do tapete. Todos os pensamentos do ego foram desfeitos e nós estamos a um segundo de distância de estarmos em casa. Assim, a seqüência é a de que a Filiação coletiva aceita o mundo real (a consumação do perdão), e se seguirá a Segunda Vinda (a cura coletiva – “todas as mentes são entregues nas mãos de Cristo”), o que abre espaço para o Julgamento Final, depois do qual Deus dá o último passo. (LE-pII.9.4) A Segunda Vinda é o único evento no tempo que o próprio tempo não pode afetar. Pois cada um daqueles que um dia veio para morrer, ou que ainda está por vir, ou que está presente agora, é igualmente liberado do que fez. A Segunda Vinda acontece dentro do tempo, mas também além dele, uma vez que permanece no final do tempo, refletindo a idéia de que o tempo não é linear. A cura acontece de uma vez e, portanto, abraça todos os aspectos do holograma, estejam eles no passado, no presente ou no futuro. P: Essa passagem não está se referindo à Segunda Vinda como uma experiência pessoal, individual, em vez de uma liberação coletiva? R: Não, não está, pois se refere a “cada um” sendo “igualmente liberado” do mundo ilusório que foi feito. P: A idéia da Segunda Vinda e do Julgamento Final é uma experiência coletiva, algo que não vai acontecer a qualquer um de nós até que todos tenham atingido o mundo real, nega a declaração no manual que diz que todo o relacionamento entre o Pai e o Filho repousa em Jesus?
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R: A idéia de que o relacionamento do Pai e do Filho está em Jesus significa que ele não tem ego, porque aquele relacionamento é sem as barreiras do ego. A própria Segunda Vinda é um evento coletivo. Jesus transcendeu seu ego e o caminho individual, e, em termos da nossa imagem do tapete, isso significa que ele está parado no final do tapete, “na linha final” da mesma forma. Nesse sentido, ele guarda a chave para completarmos o caminho da Expiação porque ele nos mostrou que não existe morte e, portanto, nem separação. Ele se torna o modelo que nos ajuda a fazer a mesma escolha. P: Nessa visão do tempo que estamos aprendendo, Jesus é compreendido como estando no lugar onde já estamos com ele, e já fizemos a escolha pela Segunda Vinda e pelo Julgamento Final. Essas idéias da Segunda Vinda e do Julgamento final poderiam ter dois níveis de significado? Cada um de nós tem sua própria segunda vinda individual, ou julgamento final individual, mas eles também são coletivos no sentido de que, conforme atingirmos o ponto onde Jesus está, estaremos em contato com aquele reservatório coletivo no qual todos fizemos aquela escolha. É isso o que você está dizendo? R: Sim, por exemplo, Jesus não está sofrendo por causa das nossas escolhas. Mais uma vez, as frases “Segunda Vinda” e “Julgamento Final” referem-se a um nível coletivo, no qual todos aceitaram a expiação: essa é a Segunda Vinda, o despertar coletivo. Na Bíblia, a Segunda Vinda é entendida como significando o fim do mundo, e Um Curso em Milagres usa esse termo da mesma forma. No entanto, o Curso está dizendo que o mundo vai terminar de forma diferente; com misericórdia em vez de punição. A próxima linha reflete essa reunião coletiva: Nesta igualdade, Cristo é restabelecido como uma só Identidade, na Qual os Filhos de Deus reconhecem que são um só. E Deus Pai sorri a Seu Filho, Sua única criação e Sua única alegria. Na seção inicial do Capítulo 18, “A realidade substituta”, encontramos uma discussão (já citada: veja acima, p.16) sobre a fragmentação da Filiação, na qual a unidade de Cristo pareceu se despedaçar. Aqueles fragmentos aparentes precisam ser reunidos de novo, e a consumação da reunião é a Segunda Vinda. O que, portanto, foi separado é agora unificado. Em um nível individual, aqueles desfazer do ego já foi alcançado em Jesus e em outros mestres ascensionados, qualquer um que tenha completado seu caminho. Mas a idéia da separação permanece na mente dividida. Do ponto de vista de Jesus, não existe separação, mas a Filiação, ainda dentro do sonho do tempo e do espaço, ainda não aceitou essa verdade. P: O fim da regra do ego e a cura da mente ainda é parte do tempo. Existe um ponto no tempo no qual todos estamos naquele lugar. Todos já tomamos aquela decisão. Acho que conforme nós individualmente fizermos aquela escolha, entraremos naquele lugar. É assim que vejo isso. R: Isso é verdadeiro. Nesse sentido, assim como a revelação de que o Pai e o Filho são um já aconteceu, a Segunda Vinda já aconteceu também. Parte do problema é que nós estamos lidando com um sistema ilusório nesse ponto. Mas, dentro do modelo do gráfico 3, a Segunda Vinda acontece quando todos, que são um único observador, subitamente se levantam e desligam o aparelho de televisão. Pessoas individuais já fizeram isso. Mas, no ponto em que todos completarem a Expiação, a cura coletiva, a que o Curso se refere como Segunda Vinda, acontecerá. Agora, vem uma passagem linda: (LE-pII.9.5) Ora para que a Segunda Vinda seja logo, mas não descanses com isso. Ela precisa dos teus olhos, ouvidos, mãos e pés. Ela precisa de tua voz. E, acima de tudo, da tua disponibilidade. 154
Esse tema do uso santo do corpo aparece muitas, muitas vezes – existe mais de dez referências assim no Curso – e talvez, a mais adorável delas seja a que Jesus diz a mesma coisa sobre si mesmo: Pois é só disso que preciso, que ouças as palavras que digo e as dês ao mundo. Tu és a minha voz, os meus olhos, os meus pés, as minhas mãos, através das quais eu salvo o mundo (LE-pI.rV.in.9:2-3). A Segunda Vinda, portanto, precisa de nós, que é realmente outra forma de dizer que o plano da Expiação precisa de nós. Como duas lições do livro de exercícios afirmam: “Minha parte é essencial ao plano de Deus para a salvação” e “A salvação do mundo depende de mim” (LE-pI.100; LE-pI.186). Todos nós temos que fazer nossa parte, uma vez que a Segunda Vinda não pode ser completada até que cada derradeiro fragmento aparentemente separado da Filiação tenha curado sua mente. Assim, nossos corpos se tornam os instrumentos que o Espírito Santo usa para estender Seu perdão. Embora ilusórios, nossos olhos, ouvidos, mãos, pés e vozes ainda podem servir a esse propósito santo. Acima de tudo, o Espírito Santo precisa da nossa pequena disponibilidade para nos unirmos ao Seu grande Amor, para que possamos aceitar Sua Expiação finalmente, e escolhermos de acordo com Ele em vez de com o ego. Vamos nos regozijar porque podemos fazer a Vontade de Deus e nos unir sob a sua luz santa. Olha para isso: o Filho de Deus é um só em nós e através Dele podemos alcançar o Amor de nosso Pai. Atingir o Amor do nosso Pai é o passo final, e a forma de passarmos através do véu final é por reunirmos a Filiação separada. O perdão, em última análise, é tudo o que precisamos alcançar e aceitar, pois, por reconhecermos o Filho de Deus uns nos outros, acabamos reconhecendo a face de Cristo brilhando em nós mesmos e em toda a Filiação como uma. Essa visão da face de Cristo permite que a memória do Amor do nosso Pai fique clara em nossas mentes, completando a Expiação. A Segunda Vinda agora está aqui, abrindo caminho para o Julgamento Final.
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Capítulo 11 O JULGAMENTO FINAL Nossa discussão sobre o Julgamento Final vai seguir ao longo das mesmas linhas da nossa discussão sobre a Segunda Vinda. Antes de nos voltarmos para as passagens no Curso que tratam do Julgamento Final, vamos começar com duas passagens da Bíblia que estabelecem o palco para vermos como o Um Curso em Milagres reinterpreta esse conceitos significativos. No pensamento tradicional cristão, o Julgamento Final tem sido uma idéia muito amedrontadora: as pessoas que seguissem os caminhos de Jesus e de Deus seriam salvas, enquanto aqueles que não o fizessem iriam queimar na danação eterna. A primeira seção que devo ler é talvez a mais famosa de todas, a parábola do Julgamento Final do evangelho de Mateus: Quando vier o Filho do Homem [Jesus] na sua majestade e todos os anjos com ele, então, se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros, como o pastor separa dos cabritos as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos, à esquerda; então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: “Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo”. Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me. Então, perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar? O Rei, respondendo, lhes dirá: “Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”. Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; sendo forasteiro, não me hospedastes; estando nu, não me vestistes; achando-me enfermo e preso, não fostes ver-me”. E eles lhe perguntarão: Senhor, quando foi que te vimos com fome, com sede, forasteiro, nu, enfermo ou preso e não te assistimos? Então, lhes responderá: “Em verdade vos digo que, sempre que o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a mim o deixastes de fazer. E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna” (Mateus 25:31-46). Claramente, aqueles que sentem até mesmo o mínimo de culpa, o que inclui a todos nós, terão que sentir, ao lerem essa passagem, que eles são aqueles que serão enviados para a punição eterna. Não importando o quanto tentem seguir os mandamentos da igreja e seguir os 156
ensinamentos de Jesus apresentados na Bíblia, sua própria culpa inconsciente lhes dirá que apesar de tudo o que fizerem, ainda vão se ver condenados por Deus por não terem feito o suficiente. Psicologicamente isso significa que os cristãos que ouvem essas passagens deveriam sentir um pavor real de que seus próprios pecados sejam punidos, e que eles inevitavelmente serão condenados ao inferno. Contemplando a estrada principal que chega a um conhecido monastério está um crucifixo, onde o Jesus assassinado e sofredor diz a todos os que vêm pelo caminho: “Foi isso o que eu fiz por você. O que você fez por mim?”. Seria necessário um cristão cuja mente esteja curada de todos os pensamentos de pecado e culpa para ler essas palavras e ser capaz de sorrir diante da idéia de que Jesus iria realmente falar com seus amados irmãos e irmãs nesse tom. A segunda apresentação do Julgamento Final é do evangelho de João. Essa não é uma parábola, mas Jesus falando diretamente: Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão. Porque, como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo; E deu-lhe o poder de exercer o juízo, porque é o Filho do homem. Não vos maravilheis disto; porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação (João 5:25-29). Talvez a mais assustadora de todas as passagens na Bíblia esteja no Livro da Revelação, que não vamos ler agora. As duas seleções anteriores são suficientes para dar a idéia do que o Curso está tentando corrigir. O Julgamento Final, como tem ido retratado para nós, expressa o pensamento aterrorizante que é a pedra fundamental do sistema de pensamento do ego: Deus vai nos punir pelos nossos pecados. O manual elabora esse tipo de pensamento: Quem usurpa o lugar de Deus e o toma para si tem agora um “inimigo” mortal. E tem que ficar sozinho para proteger-se e fazer um escudo para si mesmo para guardarse de uma fúria que nunca pode ser abatida e de uma vingança que nunca pode ser satisfeita (MP-17.5:8-9). Aqui, no Um Curso em Milagres, Jesus pega os mesmos termos e mostra para nós, como fez com muitos outros termos tradicionais cristãos, uma forma totalmente diferente de olhar para o Juízo Final. Vamos começar com “O significado do Juízo Final”, a última seção do Capítulo 2 (T2.VIII). (T-2.VIII.1) Um dos caminhos pelo qual podes corrigir a confusão entre mágica e milagre [uma já mencionada distinção no texto entre os meios do ego e os do Espírito Santo para desfazer o pecado] é lembrar-te que não criaste a ti mesmo. Estás apto a esquecer disso quando vens a ser egocêntrico e isso te coloca em uma posição na qual a crença na mágica é virtualmente inevitável. A tua vontade de criar te foi dada pelo teu Criador, Que estava expressando a mesma Vontade na Sua criação. Como a capacidade criativa reside na mente, tudo o que crias não pode deixar de ser uma questão de vontade. Daí também decorre que qualquer coisa que faças sozinho é real no teu modo próprio de ver, embora não na Mente de Deus. É importante notar aqui, mais uma vez, a distinção do Curso entre fazer e criar: fazer é da mente separada, e criar é do espírito. Crucial para nossa compreensão da discussão do Curso sobre o Juízo Final, que será citada na próxima sentença, é reconhecer que nós acreditamos 157
que o corpo e o universo material que fizemos são reais. Pelo fato de acreditarmos que o fizemos, e, como o Curso ensina em outro trecho (LE-pII.3.2:1; LE-pII.5.4:5), nós acreditamos que os fizemos como um ataque a Deus e ao amor, então, o corpo e o mundo se tornam os grandes símbolos da nossa culpa. Além disso, uma vez que a culpa exige punição, enquanto acreditarmos que o que fizemos é real, também temos que acreditar que nosso ataque a Deus é real. Assim, o contra-ataque vingativo de Deus é inevitável. Isso nos leva à próxima idéia: Essa distinção básica conduz diretamente ao real significado do Juízo Final. Portanto, embora o significado tradicional do Juízo Final seja o de que Deus vai nos punir por causa da nossa pecaminosidade, Um Curso em Milagres nos ensina que o que acreditamos que fizemos não é real. O mundo e nossas experiências aqui são apenas parte de um sonho, cuja aceitação é o significado do perdão: nosso pecado aparente contra Deus nunca aconteceu. Se nunca aconteceu, então, Deus não vai nos punir. Portanto, o verdadeiro significado do Juízo Final é que Deus não é vingativo. Seu Juízo Final, como devemos ver, é o de que Ele simplesmente nos ama como sempre fez. Nada mudou: Deus não está com raiva. Ele meramente não poderia deixar que isso acontecesse [o triunfo do ego sobre o Amor de Deus]. Não podes mudar a Mente de Deus (T16.V.12:7-9). A imutabilidade do Amor de Deus por Suas crianças é a reinterpretação do Curso para o Juízo Final. (T-2.VIII.2) O Juízo Final é uma das idéias mais ameaçadoras no teu pensamento. Isso é assim porque não a compreendes. O julgamento não é um atributo de Deus. Veio a ser só depois da separação, quando tornou-se um dos muitos instrumentos de aprendizado a ser anexado ao plano geral. Claramente, julgamento envolve julgar entre diferenças percebidas. Quer estejamos julgando entre ações “certas” e “erradas”, ou entre pessoas “boas” e “más”, estamos refletindo a mente dividida ou separada. A mentalidade Única de Deus ou Cristo não pode julgar, e assim, o único julgamento de Deus não é um julgamento de forma alguma. Ele não discrimina entre Suas crianças, pois é totalmente inclusivo. O julgamento de Deus é simplesmente o fato do Seu Amor total por Seus amados Filhos. O julgamento veio a existir apenas quando a separação aconteceu. O uso que o ego faz do julgamento, obviamente, é separar e atacar. Dentro de nossas mentes divididas, o único julgamento que o Espírito Santo reconhece como real é julgar entre expressões do Amor de Deus ou pedidos por ele (T-12.I; T-14.X.7:1). Em Seu julgamento, não existe necessidade de punição, simplesmente de correção. Assim, a forma do julgamento do Espírito Santo é simplesmente uma forma de reunificar a Filiação aparentemente separada. Esse é o “instrumento de aprendizado” que foi anexado ao plano geral. A culminação desse julgamento da mente certa é o Juízo Final, que é, como vamos ver, o reconhecimento final de que “o que é falso é falso, e o que é verdadeiro nunca mudou” (LE-pII.10.1:1). Assim como a separação ocorreu no decurso de milhões de anos, o Juízo Final vai se estender por um período similarmente longo e talvez até mais longo. Ninguém gosta dessa sentença. Incidentalmente, nesse contexto em particular, “o Juízo Final” é o termo do Curso para o passo final da Expiação. Nessa passagem em particular, no entanto, Jesus está falando sobre o processo geral. Essa sentença é uma muito boa para se manter em mente quando encontramos aqueles estudantes do Um Curso em Milagres que afirmam que dentro do sonho ilusório, a Expiação pode terminar em um instante, o que, falando 158
no Nível Um, Jesus realmente diz em muitos trechos. Essa passagem, no entanto, deixa muito claro que dentro da ilusão do tempo, desfazer a crença na separação vai realmente demorar bastante. A tremenda quantidade de medo que está presente em nossas mentes parece assegurar que esse é o caso. No entanto, existe esperança também: A sua duração, porém pode ser muito reduzida pelos milagres, o instrumento que encurta, mas não abole o tempo. Se um número suficiente de pessoas vêm a ter, na verdade, a mentalidade milagrosa, esse processo de encurtamento pode ser praticamente imensurável. Contudo, é essencial que tu te libertes do medo com rapidez, porque tens que emergir do conflito se vais trazer paz à outras mentes. Isso está relacionado à função do milagre, que consideramos na Parte II. Nessa passagem, Jesus está nos impelindo a escolhermos o milagre em vez de nossas mágoas. Quanto mais rapidamente pudermos fazer essa escolha, mais rapidamente nossas mentes poderão ser curadas; assim, mais rapidamente Jesus poderá curar outras mentes através da nossa própria. Essa, é claro, é a idéia por trás do plano da Expiação. Agora, Jesus se dirige ao Juízo Final. (T-2.VIII.3) Em geral se considera o Juízo Final como um procedimento empreendido por Deus. [Isso fica evidente nas passagens do evangelho que já lemos] De fato, será empreendido por meus irmãos com a minha ajuda. Mais uma vez, Deus não pode estar envolvido no Juízo Final porque ele é uma correção para um erro sobre o qual Ele nem mesmo sabe nada. O livro de exercícios nos diz duas vezes que “Deus não perdoa porque nunca condenou” (LE-pI.46.1:1; LE-pI.60.1:2). Fomos nós que fizemos o julgamento errado inicialmente, por nos afastarmos do princípio de Expiação do Espírito Santo e nos identificarmos com o conceito insano de expiação com sacrifício do ego. Portanto, nós somos os únicos que podemos corrigir esse equívoco, por agora nos re-unirmos àquele princípio, manifestado no sonho por Jesus. Essa é a razão por trás da ênfase de Jesus no Curso para nos unirmos a ele. É uma cura final ao invés de um acerto punitivo, por mais que possas pensar que a punição é merecida. A punição é um conceito totalmente oposto à mentalidade certa e o objetivo do Juízo Final é restaurar em ti essa mesma mentalidade. O Juízo Final poderia ser chamado de um processo de avaliação certa. Simplesmente significa que todas as pessoas finalmente virão a compreender o que tem valor e o que não tem. Com o advento da Segunda Vida, a Filiação finalmente desperta do sonho. Nesse despertar final, ficamos parados no limiar do Céu e olhamos de volta para todas as coisas que pensamos serem reais, toda a extensão do tempo e espaço. Nós entendemos finalmente que tudo o que fizemos é falso, e que tudo o que resta é a verdade como Deus a criou. Esse é o Juízo Final. Em certo sentido, é o sumário de todos os pequenos julgamentos que o Curso nos pede para fazermos continuamente – julgar entre a verdade do Espírito Santo e as ilusões do ego. Mais uma vez, como vimos no capítulo anterior, quando toda a Filiação se reunir, a Segunda Vinda acontecerá. Assim, também, o Juízo Final é completado pelo Filho único. Depois disso, a capacidade de escolher pode ser dirigida racionalmente. Até que essa distinção seja feita, porém, as oscilações entre a vontade livre e a vontade aprisionada não podem senão continuar. Essa passagem implica, distintamente do que acabamos de dizer, que o Juízo Final é um processo. Assim, nós mais uma vez vemos o quanto Jesus é flexível com seus termos: em uma passagem, Juízo Final é visto como a culminação do processo de Expiação de aprender a 159
julgar corretamente; em outro, como aqui, é o processo em si mesmo; e ainda em outro lugar, é equacionado à Expiação. O conteúdo por trás de todas essas referências permanece o mesmo, no entanto, e isso reflete a lição de ensino final de que nós prestamos atenção ao contexto – o significado de qualquer passagem em particular – sem nos agarrarmos rigidamente à forma específica na qual ele é expresso. O processo individual de aprendizado dos julgamentos da mente certa é o que é citado aqui. Conforme isso é aprendido e aceitamos a Expiação para nós mesmos, a vacilação entre o ego e o Espírito Santo cessa, pois nossos julgamentos são apenas do Espírito Santo. Isso, é claro, assegura que nós somos “dirigidos racionalmente”; a condição de viver no mundo real. Quando todos nós tivermos atingido esse estado, a Segunda Vinda e o real Juízo Final serão anunciados. P: Isso apresenta uma visão muito diferente da racionalidade, não é? R: Certamente. É similar à discussão posterior no texto sobre o assunto da razão, que é análoga ao pensamento da mente certa do Espírito Santo. Isso naturalmente não tem nada a ver com racionalidade ou raciocínio como o mundo os julga. Incidentalmente, a distinção do Curso entre a mente certa e a mente errada não tem nada a ver com a classificação popular atual de cérebro direito e esquerdo. O processo racional versus intuitivo refletido nessa última tipologia pode ser refletido tanto pelo pensamento da mente certa quanto da errada, dependendo se essas habilidades estão sendo dirigidas pelo Espírito Santo ou pelo ego. (T-2.VIII.4) O primeiro passo para a liberdade envolve uma seleção entre falso e verdadeiro. Esse é um processo de separação no sentido construtivo e reflete o verdadeiro significado do Apocalipse. A referência aqui é a Revelação, o último livro da Bíblia. Ele algumas vezes é chamado de “Apocalipse”, um termo que significa “escritos secretos ou revelados”. Jesus aqui reinterpreta a seleção final não como a separação entre as ovelhas e os bodes, o bem e o mal, mas em vez disso, a distinção entre o verdadeiro e o falso – a falsidade dos ensinamentos do ego, separados da verdade de Deus. Em última instância, todos olharão para as suas próprias criações e escolherão preservar somente o que é bom, assim como o próprio Deus olhou para o que Ele criou e soube que era bom. Nesse ponto, a mente pode começar a olhar com amor para as suas próprias criações devido ao seu valor. Ao mesmo tempo, a mente irá inevitavelmente repudiar suas criações equivocadas, as quais, sem crença, não mais existirão. Essa primeira sentença é baseada na declaração em Genesis (1:31) de que Deus olhou para Sua criação e viu que era boa. Jesus obviamente está comparando o que deveríamos fazer com nossas criações – a extensão da nossa Identidade como Cristo – com o que o Deus bíblico fez com as Dele. Essas criações, portanto, são apenas do espírito, e não têm referência no mundo material. Sua realidade, no entanto, está refletida por nossa união uns aos outros no perdão, o que estende a verdade do Espírito Santo em nossas mentes divididas. Nossas “criações equivocadas” refere-se a tudo no mundo do ego, tanto pensamentos quanto projeções desses pensamentos na forma. Eles incluem tudo o que está relacionado ao mundo físico, ao corpo, e a todos os aspectos do sistema de pensamento do ego: culpa, medo, especialismo, ataque, morte, etc. Nós, portanto, somos solicitados mais uma vez a julgar entre a verdade de Deus e a realidade de Cristo como espírito, e o mundo ilusório de materialidade do ego. (T-2.VIII.5) A expressão “Juízo Final” é assustadora, não só porque foi projetada para Deus, mas também por causa da associação entre “final” e morte. Esse é um exemplo claro da percepção invertida. 160
O “Juízo Final” é amedrontador não apenas porque acreditamos que Deus vai nos punir, mas também porque associamos a palavra “final” com morte. Uma vez que nos identificamos com nossos corpos físicos, então, o fim de nossas vidas, nossa existência física e psicológica, também tem que significar o nosso fim. Para o ego, nossa morte física está diretamente equacionada à punição por Deus. Esse pensamento encontrou sua expressão mais clara no mito de Adão e Eva, onde os dois “pecadores” são punidos por Deus por sua desobediência, por começarem suas “vidas” em dor, e depois sofrerem durante toda a extensão de seus dias, e morrerem: “Pois pó vós sois, e ao pó devereis retornar” (Genesis 3:16-19). Se o significado do Juízo Final é objetivamente examinado, fica bastante evidente que é, na realidade, o umbral da vida. A compreensão do Curso sobre o Juízo Final é a de que ele é o instante no qual fazemos aquele juízo final, separando as ilusões do ego da verdade de Deus, portanto, não restando nada mais para impedir nosso retorno para casa. O “umbral da vida” está aberto e nós simplesmente deixamos Deus dar Seu passo final. P: Nesse sentido, alguém como Jesus já completou esse processo, certo? No entanto, isso acontece para todos no mesmo momento; isso também está correto? R: Certo. Jesus, tendo completado o processo, conhece entre o falso e o verdadeiro, e fica na fronteira – o mundo real – entre esse mundo e o Céu, segurando a porta do Céu aberta para nós. Como ele diz nessa passagem motivadora: Cristo está no altar de Deus, esperando para dar as boas-vindas ao Seu Filho. Mas venhas totalmente sem condenação, pois de outro modo acreditarás que a porta está bloqueada e não poderás entrar. A porta não está bloqueada e é impossível que não possas entrar no lugar onde Deus quer que estejas. Mas ama a ti mesmo com o Amor de Cristo, pois é assim que o teu Pai te ama. Tu podes recusar-te a entrar, mas não podes bloquear a porta que Cristo mantém aberta. Vem a mim, que a mantenho aberta para ti, pois enquanto eu viver, ela não pode ser fechada, e eu vivo para sempre (T-11.IV.6:1-6). Dentro do instante santo, todos nós já aceitamos a Expiação e estamos com ele na porta do Céu. No tempo, no entanto, ainda temos que fazer, e, portanto, aceitar, aquela escolha. P: Voltando à passagem anterior, ela é uma sentença interessante porque diz “objetivamente examinado”. Como as pessoas poderiam examinar objetivamente essa idéia se foram criadas para acreditarem na teologia, que enfatiza a condenação e um duro juízo final? É um passo muito difícil para fora desse contexto mental, se você realmente acreditar nisso, e então objetivamente examinar qualquer tipo de evidência. R: Isso, é claro, é o que Jesus está realmente dizendo aqui. De fato, a próxima linha se dirige a esse ponto: Ninguém que viva no medo está realmente vivo. Viver no medo é equivalente a se identificar com o sistema de pensamento do ego que é, obviamente, a negação da vida. Portanto, ninguém que esteja com medo está realmente vivo, pois o Amor que é a Fonte da nossa vida foi negado. De forma similar, como a passagem acima sobre Jesus segurando a porta aberta para nós afirma, a raiva (ou condenação) serve ao mesmo propósito do ego de nos “proteger” do Amor e da vida de Deus. Portanto, podemos 161
afirmar que o Curso está realmente nos ensinando a ser objetivos, o que significa nos libertarmos de todas as distorções de pensamento e percepção que inevitavelmente vêm quando escolhemos as defesas de medo e raiva do ego. Nós escolhemos outra vez, e somos curados por liberarmos a culpa no contexto dos relacionamentos especiais. A diminuição dessa culpa automaticamente diminui nosso medo da punição de Deus. Não podes submeter a ti mesmo ao teu próprio juízo final, porque tu não és criação tua. Podes, todavia, aplicá-lo de modo significativo e a qualquer momento a tudo o que fizeste e reter na tua memória apenas o que é criativo e bom. Essa passagem reflete a idéia de que não podemos realmente curar nossos próprios egos. Como o texto ensina, com relação às nossas tentativas de desfazermos a culpa por nós mesmos: Lembra-te de que fizeste a culpa e que o teu plano para escapar da culpa tem sido o de trazer a ela a Expiação e fazer com que a salvação seja amedrontadora. E é apenas medo o que adicionarás ao preparar-te para o amor. A preparação para o instante santo pertence Àquele Que o dá... Nunca te aproximes do instante santo depois que tiveres tentado remover todo o medo e o ódio da tua mente. Essa é a sua função. Nunca tentes não ver a tua culpa antes de pedir ajuda ao Espírito Santo. Essa é a função Dele. A tua parte consiste apenas em oferecer a Ele um pouco de boa vontade para deixar que Ele remova todo medo e todo ódio, e para seres perdoado (T-18.IV.6:3-5; T-18.V.2:1-5). O julgamento real sobre nós mesmos é o julgamento de Deus, como devemos ver. Em outras palavras, realmente não podemos olhar para nós mesmos e fazer aquele julgamento amoroso de quem somos como o Filho de Deus. Nosso medo reprimido do Amor de Deus é tão poderoso que nos impede de examinar objetivamente a verdade. Mas, quando projetamos essa culpa e medo inconsciente nas outras pessoas, e temos a pequena disponibilidade de reconsiderar nossa decisão, podemos ouvir o Espírito Santo nos ensinando a perdoar. Não podemos perdoar nossa culpa por conta própria, mas, através do perdão aos outros, com a ajuda do Espírito Santo, nossa própria culpa é desfeita. P: O que eu entendi dessa passagem é que o juízo final não pode ser direcionado a nós mesmos porque não pode haver juízo final sobre quem nós realmente somos. O que podemos julgar, no entanto, são os egos que fizemos. Quem realmente somos está completamente à parte do julgamento. Essa é uma forma válida de interpretar essa passagem? R: Sim, é. Estritamente falando, o “Ser” em “ti mesmo” poderia estar em letras maiúsculas porque Deus nos criou e não nós mesmos. Então, o juízo final está direcionado ao mundo do ego, onde ele é necessário. Para citar novamente a introdução ao texto: O curso não tem por objetivo ensinar o significado do amor, pois isso está além do que pode ser ensinado. Ele objetiva, contudo, remover os bloqueios à consciência da presença do amor, que é a tua herança natural (T-in.1:6-7). Nosso verdadeiro Ser não precisa ser julgado, mas nosso ser egóico ilusório precisa ser julgado como falso, dessa forma limpando o caminho para que a memória da nossa Identidade como Cristo possa retornar a nós. Isso é o que a mentalidade certa não pode deixar de ditar-te. O propósito do tempo é unicamente “dar-te tempo” para conseguir esse julgamento. É o teu próprio julgamento 162
perfeito das tuas próprias criações perfeitas. Quando tudo o que reténs é amável, não há razão para o medo permanecer contigo. Essa é a tua parte na Expiação. Em outro trecho no Curso, somos ensinados que o propósito do mundo é corrigir nossa crença sobre a realidade do espaço e do tempo (T-1.VI.3:5-4:1). De forma similar, o propósito do tempo é “nos dar o tempo” para fazermos esse juízo final. Aqui, “perfeito julgamento” não se refere ao Juízo Final, que corrige o julgamento do ego, mas em vez disso, é similar ao julgamento de amor de Deus. Finalmente, quando perdoarmos tudo nesse mundo, dessa forma perdoando a nós mesmos, não haverá medo. A culpa que exige o medo da punição de Deus terá ido embora: sem sua causa (culpa), o efeito (medo) tem que desaparecer. E esse desfazer da culpa e do medo através do perdão constitui nosso papel na Expiação. Vamos voltar ao quarto parágrafo na seção IV do Capítulo 9: (T-9.IV.9:2) Não tenhas medo do Julgamento Final, mas dá boas-vindas a ele e não o esperes, pois o tempo do ego é “tomado de empréstimo” da tua eternidade. Jesus está nos dizendo novamente que não devemos ter medo do Juízo Final, mas simplesmente temos que dar boas-vindas ao amor que é o seu verdadeiro significado. Além disso, não há necessidade de esperarmos pelo Juízo Final, uma vez que nossa espera no tempo foi a escolha do nosso ego, retirada da natureza eterna da nossa realidade como o Filho amoroso de Deus. É apenas esse julgamento do amor que precisamos aceitar. Agora, vamos passar para a seção chamada “A zona da fronteira”, parágrafo quatro, no Capítulo 26: (T-26.III.4) Nada daquilo em que o Filho de Deus acredita pode ser destruído. Mas, o que é verdade para ele tem que ser trazido à última comparação que ele jamais fará, à última avaliação possível, ao julgamento final a respeito desse mundo. É o julgamento da ilusão pela verdade, da percepção pelo conhecimento: “Isso não tem significado e não existe”. A verdade para nós é o sistema de pensamento ilusório e insano do ego, baseado na nossa crença de que o que não existe está realmente aqui, e que o Céu, que está verdadeiramente aqui, não existe: Quando tornaste visível o que não é verdadeiro, o que é verdadeiro tornou-se invisível para ti (T-12.VIII.3:1). Portanto, é esse sistema de pensamento do ego que, em última instância, deveremos examinar com a ajuda do Espírito Santo e contra o qual devemos fazer um julgamento. Seu julgamento – percepção ilusória não tem significado e, portanto, não existe – é uma aplicação do primeiro princípio dos milagres de que não há ordem de dificuldade em milagres. Cada ilusão é exatamente a mesma que qualquer outra. Cada uma não existe e, portanto, não tem significado. Nós damos a ela qualquer significado que tenha, e nosso significado projetado é sempre baseado no passado, como o livro de exercícios nos diz nas lições iniciais. P: O Curso algumas vezes refere-se à “visão espiritual’. Isso seria um exemplo disso? R: Sim, esse julgamento final é baseado na vista espiritual, ou o que o Curso mais usualmente chama de “visão”.
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Essa não é a tua decisão [sobre o Juízo Final]. É apenas uma simples afirmação de um fato simples. Mas nesse mundo não existem fatos simples, porque o que é o mesmo e o que é diferente ainda não é claro. A verdade sobre esse juízo final não repousa sobre nossa decisão. Nosso livre-arbítrio, como já vimos, não pode decidir o que é real e o que não é. Nós somos livres apenas para escolhermos entre o que acreditamos ser ou não ser real. Como Jesus freqüentemente nos lembra, o que pode ser mais simples? Assim, perto do fim do texto: Como é simples a salvação! Tudo o que ela diz é que o que nunca foi verdadeiro não é verdadeiro agora e nunca o será. O impossível não ocorreu e não pode ter efeitos. E isso é tudo. Pode ser difícil aprender isso para qualquer pessoa que queira que isso seja verdadeiro?... Qual a dificuldade de se ver que o que é falso não pode ser verdadeiro, e o que é verdadeiro não pode ser falso? (T-31.I.1:1-5,7). “A complexidade é do ego” (T-15.IV.6:2), e assim, foi o ego que fez um mundo complexo, com um corpo complexo e um conjunto de leis complexas cujo único propósito é obscurecer a simplicidade da lei da verdade. O ego tenta combinar verdade e ilusão, espírito e corpo, céu e esse mundo, de tal forma que não podemos mais diferenciar o que é verdadeiro do que é falso. Agora, fica a cargo do Espírito Santo nos ensinar essa distinção para que, em última instância, possamos alcançar o ponto no qual seremos capazes de fazer esse julgamento final. A única coisa essencial para se fazer qualquer escolha é essa distinção. E nisso está a diferença entre os mundos. Nesse, a escolha se fez impossível. No mundo real, escolher é simplificado. Nesse mundo, a escolha se torna impossível porque não entendemos realmente entre o que estamos escolhendo. Nós pensamos que realmente estamos fazendo uma escolha quando escolhemos entre ilusões diferentes. No mundo real, que é o arauto do Juízo Final, entendemos que aquilo entre o que estamos escolhendo é tudo o que o ego fez, que é falso, em oposição a tudo o que Deus criou, o que está refletido para nós através do ensino do Espírito Santo. Portanto, dentro do sistema do ego, estamos realmente escolhendo entre o nada e o nada, o que, é claro, torna todo o processo sem significado. Reconhecer e aceitar essa ausência de significado da escolha do ego é o processo de alcançar o mundo real. Assim, mais uma vez, aprendemos finalmente a escolher contra o pensamento de separação do ego em relação aos outros, através do ataque, doença, dor ou culpa. Nós agora transcendemos essas barreiras do ego e nos unimos aos outros através da compreensão de que somos todos um e o mesmo. Uma vez que tenhamos feito essa única escolha, a única coisa verdadeiramente possível nesse mundo – i.e., uma vez que nós respondemos a última pergunta sem resposta (T-21.VII) –, toda escolha cessa, pois as fitas de correção do Espírito Santo apagaram as do ego. Nada agora permanece para ser corrigido, ou entre o que escolher. Nossas mentes agora simplesmente seguem a orientação do Amor. Mais uma vez: o que poderia ser mais simples? Agora, vamos voltar ao livro de exercícios, o resumo “O que é o Julgamento Final”: (LEpII.10): (LE-pII.10.1) A Segunda Vinda de Cristo dá ao Filho de Deus essa dádiva: ouvir a Voz por Deus proclamar que aquilo que é falso é falso e o que é verdadeiro jamais mudou. E é esse o julgamento no qual a percepção chega ao fim. Claramente, Jesus está nos dizendo aqui que quando fizermos esse julgamento final – “aquilo que é falso é falso” (tudo do ego) e “o que é verdadeiro jamais mudou” (a verdade de Deus e Cristo) – naquele momento todo o mundo da percepção terminará. É o despertar e 164
reunião do Filho de Deus aparentemente sonhador e fragmentado, na Segunda Vinda, que coloca esse próximo “passo” em movimento: Em primeiro lugar, vês um mundo que aceitou isso como verdadeiro, projetado a partir de uma mente agora corrigida. E com essa vista santa, a percepção dá uma bênção silenciosa e em seguida desaparece com a sua meta realizada e a sua missão cumprida. (2) O Julgamento Final do mundo não contém nenhuma condenação. Pois vê o mundo totalmente perdoado, sem pecado e inteiramente sem propósito. Sem causa, e agora sem função na visão de Cristo, ele simplesmente se desvanece no nada. “Em primeiro lugar” refere-se ao alcance do mundo real, quando nossas mentes tiverem sido curadas. Quando todos nós tivermos alcançado esse passo, a Segunda Vinda, a mente unificada da Filiação – repleta apenas com o Amor do Espírito Santo – se projetará para fora e perceberá através da visão de Cristo. (O uso da palavra “projetado” aqui é outro exemplo de como o Curso não é estritamente consistente em sua linguagem, uma vez que, tipicamente, a palavra “projeção” é reservada para o ego e “extensão” para o espírito). Se a causa do mundo, que é a crença no pecado, se vai, então, o mundo tem que desaparecer. Isso é assim porque o único propósito do mundo é manter o pecado real. Portanto, quando liberamos nosso investimento no pecado, o que é o significado do perdão, então, o mundo “simplesmente se desvanece no nada”. Ali [naquela nulidade] [o mundo] nasceu e ali também termina. E todas as figuras do sonho em que o mundo começou se vão junto com ele. Os corpos agora são inúteis e, portanto, se desvanecem porque o Filho de Deus é sem limites.
As “figuras do sonho” refere-se aos corpos e formas no mundo físico. Seções como “O sonhador do sonho” e “O herói do sonho” no Capítulo 27, discutem o papel do corpo nos diversos sonhos que fizemos, todos os quais têm a ver com manter a crença na realidade do mundo da forma, mudança e morte. O mundo do corpo é de limitação, o que é uma defesa contra nossa verdadeira realidade como o Filho ilimitado de Deus. Assim, mais uma vez, entendemos o ensinamento metafísico do Curso de que todo o mundo do tempo e espaço existe apenas para reforçar a crença do ego em que a separação de Deus é real. Quando a crença não está mais lá, o mundo não tem mais um propósito e tem que desaparecer. O mundo físico não existe além de nossas mentes, como discutimos na Parte I. Então, se aquela mente muda sua crença – do pecado para o perdão -, o mundo também muda correspondentemente. (LE-pII.10.3) Tu, que acreditaste que o Julgamento Final de Deus condenaria o mundo ao inferno junto contigo, aceita essa verdade santa: o Julgamento de Deus é a dádiva da correção que Ele concedeu a todos os teus erros, libertando-te deles e de todos os efeitos que algum dia pareceram ter.
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A “dádiva” é o Espírito Santo, e sua expressão específica é o princípio da Expiação. Essa é a “Correção”, citada aqui. Se você pensar de novo no diagrama no gráfico 2, a correção do Espírito Santo está representada pela parte inicial da estrada de mão-dupla. Assim, a cada passo ao longo do caminho – todos os quais aconteceram naquele único instante no qual o ego escolheu seus erros e os repetiu de novo e de novo – cada um desses erros específicos foi corrigido pelo Espírito Santo. Esses erros constituem os efeitos dolorosos da causa, a crença original em que o pecado da separação aconteceu e a “diminuta e louca idéia” foi levada a sério. Ter medo da graça salvadora de Deus não é senão ter medo da liberação completa do sofrimento, da volta à paz, à segurança e à felicidade e à união com a tua própria Identidade. Enquanto nós acreditarmos no pecado e na culpa, teremos que acreditar que Deus vai nos punir. Assim, a única maneira de podermos atingir a felicidade e a paz é aceitarmos Deus de volta em nossas mentes como nosso Criador amoroso. Uma vez que o ego nos ensina que aceitar Deus de volta às nossas mentes é nossa destruição, ficamos com medo de aceitar Seu Amor. Qualquer coisa, portanto, que fale de “paz, segurança e felicidade” tem que ser amedrontadora para o ego. Essa é a base de nosso medo do amor e da “graça salvadora de Deus”. (LE-pII.10.4) O Julgamento Final de Deus é tão misericordioso quanto cada passo no plano que Ele designou para abençoar o Seu Filho e chamá-lo de volta à paz eterna que compartilha com ele. Não tenhas medo do amor. Pois só ele pode curar toda a tristeza, enxugar todas as lágrimas e despertar gentilmente do seu sonho de dor o Filho que Deus reconhece como Seu.
O ego nos ensinou, mais uma vez, que deveríamos ter medo do Amor de Deus, porque se chegarmos muito perto dele, seremos destruídos. Nossa culpa exige nosso sofrimento e sacrifício, o que significa que dentro da estranha religião do ego, é um pecado estar sem sofrimento. É um pecado ser feliz, e é um pecado estar em paz: Para o ego, os que não têm culpa são culpados. Aqueles que não atacam são os seus “inimigos” porque, ao não valorizarem a sua interpretação da salvação, estão em excelente posição para abandoná-la... Eu [Jesus] tenho dito que a crucificação é o símbolo do ego. Quando ele foi confrontado com a real inculpabilidade do Filho de Deus, tentou matá-lo e a razão que deu foi a de que a inculpabilidade é uma blasfêmia para com Deus. Para o ego, o ego é Deus e a inculpabilidade tem que ser interpretada como a culpa máxima que justifica inteiramente o assassinato (T-13.II.4:2-3; 6:1-3). A referência do livro de exercícios “enxugar todas as lágrimas” vem da Bíblia (Isaias 25:8; Revelação 7:17, 21:4ª), e Jesus está nos pedindo, enquanto acreditarmos que ainda somos culpados, para considerarmos a crença em um Deus amoroso que vai enxugar nossas 166
lágrimas de sofrimento e sacrifício. Isso é alcançado por liberarmos a culpa que exige nossa punição por um Pai vingativo. Então, de novo e de novo, voltamos ao ensinamento básico do Curso de que o caminho para voltarmos ao Céu e ao Amor de Deus é através do perdão, pois só então a causa dos nossos problemas poderá ser desfeita.
Não tenhas medo disso. A salvação pede que lhes dês as boas-vindas. E o mundo aguarda que aceites isso com contentamento, pois isso o libertará. (LE-pII.10.5) Esse é o Julgamento Final de Deus: “Tu ainda és o Meu Filho santo, para sempre inocente, para sempre amoroso e para sempre amado, tão ilimitado quanto o teu Criador, completamente imutável e para sempre puro. Portanto, desperta e volta para Mim. Sou o teu Pai e tu és o Meu Filho”. Essa é uma das passagens mais adoráveis no Um Curso em Milagres, e precisa de poucos comentários, exceto a menção de que ela reflete uma mudança total de tudo o que o ego acredita sobre Deus e Seu Filho. Essa verdade adorável espera pacientemente por nós até sermos capazes de dar-lhe as boas-vindas.
Capítulo 12 O ÚLTIMO PASSO DE DEUS Agora, vamos passar para o passo final no plano da Expiação, o que o Um Curso em Milagres chama de “último passo de Deus”. Para iniciar, como devemos ver agora, Jesus explica que na verdade Deus não dá quaisquer passos. Além disso, Seu ato de dar passos implica que estamos em uma jornada. No entanto, nós já observamos várias vezes que tal jornada é ilusória, uma vez que nunca deixamos o lar. Como já citamos, estamos em uma “jornada sem distância a uma meta que nunca mudou” (T-8.VI.9:7). Na realidade, portanto, o termo “último passo de Deus” é meramente uma figura de linguagem ou uma metáfora que se segue à metáfora básica de uma jornada. Pelo fato da nossa experiência do tempo ser linear, e de nós realmente estarmos voltando para casa, Jesus fala conosco no nível que podemos entender. Assim, nos é dito que a jornada, em última instância, termina com Deus dando o último passo por nós. 167
Basicamente, então, o “último passo” é uma forma de falar sobre o fim do nosso sonho, a culminação da Segunda Vinda de Cristo e o Julgamento Final. Quando nós finalmente curamos nossas mentes e fazemos aquela última escolha entre verdade e ilusão, o mundo desaparece, e nós “retornamos” ao Deus que nunca verdadeiramente deixamos. Esse é o último passo de Deus, uma versão do nosso completo despertar. Começamos com o último parágrafo da seção no Capítulo 7, chamada “O último passo”: (T-7.I.7) Deus não dá passos, porque as Suas realizações não são graduais. Ele não ensina, porque as Suas criações são imutáveis. Ele não faz nada por último, porque criou em primeiro lugar e para sempre. Esse é o único lugar no Um Curso em Milagres onde esse conceito é afirmado tão claramente. Jesus está falando sobre o “último passo”, mas, para reafirmar, ele não quer dizer isso literalmente. Não existem gradações em Deus, e então, não pode haver nenhuma em Seu Filho. Nada precisa ser ensinado a Cristo porque Ele é tão perfeito e completo quanto Seu Pai e, portanto, não tem mente dividida que possa ou precise aprender. No entanto, dentro do sonho da separação, o Filho de Deus acredita que está em uma jornada de tempo, e, portanto, ele tem que aprender dentro desse contexto. Esse uso da linguagem do sonho é um exemplo, como muitos outros, que já consideramos, para nos lembrarmos de não virmos certas declarações do Curso literalmente. Por exemplo, como já vimos, quando Jesus fala de Deus chorando por Seus Filhos separados, ou de Sua solidão, ele realmente está usando metáforas poéticas para expressar o Amor de Deus para nós. De forma similar, a frase “último passo de Deus” refere-se ao produto final de uma jornada ilusória de despertar. Ela não está se referindo a algo que realmente acontece. Considerado dentro do contexto do gráfico 3, o último passo é o despertar do sonho que parecemos estar vivenciando em nossas próprias fitas de vídeo. É necessário compreender que a palavra “primeiro”, quando aplicada a Ele, não é um conceito de tempo. Ele é primeiro no sentido de que é o Primeiro na própria Santíssima Trindade. Ele é o criador Primeiro, porque criou Seus co-criadores [nossos verdadeiros Seres]. Como Ele o fez, o tempo não se aplica nem a Ele nem ao que Ele criou. Como discutido no início do Capítulo 1 (veja acima, p. 7), esse é um exemplo muito claro do uso que o Curso faz das palavras dentro de um contexto temporal e espacial, ainda que esse contexto seja ilusório. Essas palavras, portanto, são usadas para ajudarem a nós, que acreditamos que a realidade é temporal e espacial. Mas, novamente, as palavras em si não são vistas como verdades literais. Por exemplo, como podemos ver aqui, a palavra “primeiro” obviamente implica em um segundo, terceiro, etc., que virá no futuro. Mas, uma vez que Deus está além do tempo, um termo como “primeiro” não pode realmente se aplicar a Ele.
O “último passo” que Deus dará era, portanto, verdadeiro no início, é verdadeiro agora e será verdadeiro para sempre. O que é intemporal está sempre presente, porque tudo o que é é eternamente imutável. Não muda por aumentar, porque foi para sempre criado para aumentar. Se tu o percebes como se não estivesse aumentando, não conheces o que é isso. Também não conheces Quem o criou. O que é “imutável” e “não muda por aumentar” é o espírito, embora a palavra “espírito” realmente não apareça nessa seção. O espírito de Deus criou Cristo, Cujo espírito, por seu lado, criou as criações de Cristo. O aumento não muda o espírito; certamente uma 168
compreensão diferente do senso que o mundo tem sobre aumento, que claramente implica em uma mudança quantitativa. Quando aumentamos qualquer coisa do mundo material, existe mais dela: nós acrescentamos à nossa conta no banco, a quantidade de comida que ingerimos, o número de livros que possuímos, etc. Claramente, então, “aumento’ aqui não implica em mudança quantitativa, um fenômeno que não é compreensível nesse mundo. A falta de mudança do aumento é descrita nessa linda passagem do livro de exercícios: Assim como a paz e a alegria do Céu se intensificam quando tu as aceitas como dádivas de Deus para ti, assim também a alegria do teu Criador cresce quando aceitas a Sua alegria e a Sua paz como tuas. Dar verdadeiramente é criação. Estende o que é sem limite ao ilimitado, a eternidade à intemporalidade e o amor a si próprio. Acrescenta a tudo o que já é completo, não simplesmente em termos de acrescentar mais, pois isso implicaria que antes era menos. Acrescenta permitindo que aquilo que não pode se conter cumpra o seu objetivo de dar tudo o que tem, assegurando tudo o que tem para si mesmo eternamente (LE-pI.105.4). P: Isso estaria relacionado a esse mundo a dar: se você não vê o que está ganhando por dar, então, não está entendendo o processo? R: Sim. O paralelo aqui é que quando você “dá” amor nesse mundo, está aumentando de forma não quantificável o amor que você “tem”, e nada realmente muda. O amor é qualitativo, não quantitativo. Assim, não pode haver perda quando estendemos amor aos outros. Por exemplo, se nós acreditamos no aumento ou diminuição em termos da quantidade material, e aí tentamos aplicar essa compreensão ao espírito, certamente vamos nos confundir e bloquear efetivamente nossa compreensão do Céu. Nós, assim, nunca vamos conhecer Deus, mas vamos conhecer o ego. O mundo de materialidade do ego é quantitativo, onde tudo, incluindo o amor, é medido como um quilo de batatas. A crença na realidade desse mundo, portanto, com todas as suas mudanças – perda e acréscimo – se torna uma defesa muito poderosa contra Deus. Deus não te revela isso porque isso nunca foi escondido. Essa é uma correção sutil para a idéia mais tradicional de que Deus dá revelações, e que Ele só as dá algumas vezes e para algumas pessoas. A crença do mundo é que aqueles que receberam revelações da verdade foram escolhidos por Deus, claramente implicando em que Deus tem um ego que julga quem é merecedor de uma revelação e quem não é. Os ensinamentos de Jesus no Um Curso em Milagres são totalmente diferentes. Deus está sempre estendendo Sua verdade a todos. O problema – nosso problema – é que usualmente nós não aceitamos a contínua revelação de Deus sobre Si Mesmo. Aqueles que o fazem – que tiraram as barreiras do ego à verdade – são aqueles que têm experiências de visão ou revelação. Assim, “revelação” não é algo que Deus faça, assim como o “último passo” não é algo que Ele faça. A experiência da revelação é o efeito de uma decisão que nós tomamos. O Amor de Deus, como um farol brilhando sobre o mar escurecido; é passivo, na medida em que simplesmente brilha sua luz, no entanto, não faz nada ativamente. Nós, portanto, somos como os barcos que navegaram para longe da luz, e que agora têm que escolher voltar para seu lar de luz em nossas mentes. Assim, o Amor de Deus não nos chama no sentido usual da palavra, mas em vez disso, brilha como um raio de verdade que estende suas boas-vindas amorosas, pacientemente “esperando” nosso retorno. Em resumo, então, Deus não esconde Sua verdade, mais do que Ele a revela a nós. Seu Amor simplesmente é. P: Bem no início do texto, Jesus fala sobre como ele está em sintonia com a prontidão para a revelação por parte de seus irmãos, e que ele pode trazer para cá mais do que podemos. 169
Então, Deus não faz coisa alguma. Ele simplesmente é. Mas Jesus pode nos ajudar a nos abrirmos para aquela experiência? R: Sim, essa é a idéia, o papel de Jesus não é nos dar a revelação, porque isso está sempre aqui; mas ele nos ajuda a removermos as interferências a ela. A coisa crucial é que Deus não faz isso, da mesma forma que acabamos de ver sobre o Julgamento Final não ser algo feito por Deus. Jesus, na verdade, sendo uma expressão do Amor de Deus, realmente também não faz nada. Como o Espírito Santo é a memória do Amor de Deus em nossos sonhos, está simplesmente lá, assim como Jesus também está simplesmente lá, como manifestação desse Amor na forma. Nós experienciamos seu amor como se estivesse nos chamando, nos ajudando aqui, mas na realidade, ele permanece quietamente dentro de nossas mentes. Como o farol, mais uma vez, sua presença repleta de luz “passivamente” serve como o lembrete de quem verdadeiramente somos como crianças da Luz. Uma analogia útil é considerar o sol se levantando e estabelecendo cada dia. Nenhuma pessoa deixa de experienciar esse fenômeno, e com freqüência, com espanto e grande prazer. No entanto, quase todos nós entendemos que é realmente a terra que se move, enquanto o sol é estacionário. Esse é um claro exemplo de como nosso aparato sensório prega peças em nós, distorcendo os fatos do nosso mundo físico. De forma similar, nossa experiência da atividade do Espírito Santo ou de Jesus distorce a verdade de que seu amor permanece “estacionário”, enquanto foram nossas mentes que vagaram para longe, e, portanto, têm que retornar. A Sua luz nunca foi obscurecida, porque é Sua Vontade compartilhá-la. Como é possível que o que é inteiramente compartilhado possa ser negado e então revelado? O mesmo ponto é reiterado. Tradicionalmente, tem ido ensinado que Deus algumas vezes nega Seu Amor, espalhando-o sobre certas pessoas, em determinados momentos. Jesus está nos ensinando aqui muito claramente que Deus não “pensa” dessa forma: Ele não obscureceu Sua luz, nem negou a Si Mesmo, como muitos místicos experienciaram. O que realmente aconteceu foi que nós retiramos a nós mesmos em um mundo de sombras. Portanto, o propósito do Curso é nos ensinar a remover essas sombras. Tudo o que Deus fez foi “estender a Si Mesmo” para o sonho através da nossa memória do Seu Amor. Essa extensão é o Espírito Santo, e é a função do Espírito Santo nos ajudar a remover aquelas sombras para que possamos ver a luz que sempre esteve lá. Ainda que, para reafirmar novamente, estejamos falando sobre o último passo de Deus, ele realmente não é um passo que Deus dá. O “passo” é na verdade um que nós damos. Vamos passar agora ao Capítulo 13 do texto, terceiro parágrafo da seção “Da percepção ao conhecimento” (T-13.VIII.3). É nesse terreno intermediário entre a percepção e o conhecimento que encontramos o mundo real, a Segunda Vinda, o Juízo Final e, finalmente, o último passo de Deus. No início do parágrafo, o termo “percepção perfeita” é usado. Essa é outra versão do termo mais comumente usado no Curso, “percepção verdadeira”, que é a percepção desse mundo totalmente limpo de culpa e pecado. (T-13.VIII.3) Assim sendo, a percepção perfeita tem muitos elementos em comum com o conhecimento, tornando possível sua transferência para ele. A percepção verdadeira não contém barreiras do ego, e tem muitos elementos em comum com o Céu, tal como o fato de que ela não exclui ninguém. No Céu, não existe exclusão; uma vez que não existe separação, todos são um. Cristo é unificado Consigo Mesmo e com Seu Pai. Dentro do sonho do mundo, essa unidade é parcialmente refletida naqueles que têm percepções verdadeiras e vivem no mundo real. Isso é viver através da visão de Cristo, sem culpa separando-os de ninguém mais. O amor que essas pessoas experienciam vem do Espírito Santo e abraça a todos os outros, que não são mais percebidos como diferentes. 170
Antes de continuarmos, vamos examinar o último parágrafo na seção I, no Capítulo 5 (T5.I.7). Ela é a referência específica para o que eu acabei de mencionar. Ele descreve as semelhanças entre a percepção verdadeira (embora esse termo não seja usado aqui) e o estado do Reino. Basicamente, três características são citadas. A primeira é que na percepção verdadeira, mais uma vez, tudo é universal; não existem exclusões, todos são incluídos. Isso é o oposto exato do especialismo, e reflete o estado de unidade no Céu onde não pode haver exclusão. Em segundo lugar, no estado da percepção verdadeira – viver no mundo real – não existe ataque. Uma vez que não existe mais pecado ou culpa restantes, não existe nada dentro da mente que possa ser projetado na forma de ataque. O estado do Céu é amor, o oposto completo do ataque. A terceira característica, que se segue, fala da percepção verdadeira: Finalmente, ela indica o caminho além da cura que ela traz, e conduz a mente além da sua própria integração rumo aos caminhos da criação (T-5.I.7:5). Esse é o caminho que leva à completa reintegração da Filiação, similar à unidade da Filiação no Céu. A percepção verdadeira, assim, representa o fim do processo de desfazer as interferências à nossa lembrança dessa unidade, apontando além da correção, para a experiência da unidade de Cristo dentro de Si Mesmo, Suas criações e com Seu Criador. Voltamos agora a onde estávamos no Capítulo 13 (T-13.VIII.3). No entanto, o último passo tem que ser dado por Deus porque o último passo na tua redenção, que parece estar no futuro, foi realizado por Deus na tua criação. Basicamente, Jesus está dizendo que apesar da aparente linearidade do tempo, expressa através do uso das palavras “primeiro” e “último’, o início e o fim são realmente o mesmo. O assim chamado “último passo” que Deus dá é meramente nosso total desfazer dos passos aparentes que colocamos entre a Primeira e a Segunda Vinda. Esse é outro exemplo de como o Um Curso em Milagres vem dentro do mundo da ilusão e, no entanto, fala conosco sobre a verdade além das ilusões. Essa referência é similar à declaração bíblica de Jesus de que ele é o Alfa e o Ômega, o início e o fim, o primeiro e o último (Revelação 1:8,21:6,22:13). A separação não o interrompeu. A criação não pode ser interrompida. A separação é meramente uma formulação falha da realidade, sem nenhum efeito. Isso é um reflexo do princípio da Expiação, que diz que a separação nunca aconteceu realmente, o que é retratado nos gráficos 5 e 6, onde parece que a depressão e a espiral romperam a linha. Na realidade, a linha da eternidade não foi afetada de forma alguma. A mesma idéia é expressa nessa passagem: nosso pecado aparente contra a unidade da criação não teve efeitos. O amor da Criação não foi mudado pelas nossas percepções distorcidas de sua realidade aparentemente fragmentada. O milagre, sem nenhuma função no Céu, é necessário aqui. Aspectos da realidade ainda podem ser vistos e eles substituirão os aspectos da irrealidade. Aspectos da realidade podem ser vistos em todas as coisas e em todos os lugares. O milagre não tem lugar no mundo do Céu, porque não existe nada no Céu que tenha que ser corrigido. É aqui no mundo da separação que o milagre tem sua função. Existem diversos trechos no Curso que falam das partes separadas da Filiação como “aspectos” (T-3.IV.3:7; T13.VI.6:4; T-15.V.2:3). Em outros momentos, Jesus se refere a elas como “partes” (i.e., T2.VII.6:2-7; T-12.IV.6:8; T-15.V.2:2; 3:1). Ambas são palavras objetivas ou neutras para descreverem a individualidade aparentemente pessoal da Filiação de Deus. Os aspectos da realidade que ainda podemos ver aqui são a face de Cristo que vemos uns nos outros, as centelhas da luz de Cristo que refletem nossa inocência inerente: 171
Em muitos, só a centelha permanece, porque os Grandes Raios são obscurecidos. Entretanto, Deus tem mantido viva a centelha de modo que os Raios nunca possam ser completamente esquecidos. Se apenas vires a pequena centelha, aprenderás sobre a luz maior, pois lá estão os Raios que não são vistos. Perceber a centelha curará, mas conhecer a luz criará. No entanto, ao retornar, a pequena luz tem que ser reconhecida em primeiro lugar, pois a separação foi uma descida da magnitude à pequenez. Mas a centelha é ainda assim tão pura quanto a grande luz, pois é o chamado remanescente da criação. Deposita nela toda a tua fé e o próprio Deus te responderá (T-10.IV.8). Esses “aspectos da realidade” substituem os aspectos da irrealidade, ou as faces de culpa e pecado que nós projetamos de dentro de nós sobre os outros. A face de Cristo pode ser vista em todos, em tudo e em todos os lugares, porque a inocência da nossa identidade como Cristo permanece dentro de nossas mentes. Isso reflete o princípio que encontramos no livro de exercícios: “Deus está em tudo o que eu vejo, porque Deus está na minha mente” (LEpI.30). Se nós nos identificamos com a imagem de Cristo que é nossa verdadeira Identidade, essa realidade irá se estender através de nós e, portanto, será o que veremos ao nosso redor. Entretanto, só Deus pode reuni-los [os aspecto da realidade] todos, coroando-os como um só com a dádiva final da eternidade. Aqui, vemos novamente o “passo final’ de Deus, que é realmente o re-despertar na mente do Filho separado para sua unicidade como Cristo. Não é realmente a coroação de tudo por Deus, mas em vez disso, uma conquista que conseguimos com a ajuda do Espírito Santo: a aceitação da eternidade de Deus como a realidade. Agora, vamos passar ao Capítulo 30, seção V, parágrafo três (T-30.V.3). O título dessa seção é “O único propósito”, e trata do único propósito que esse mundo tem: perdão. Uma boa parte dessa seção trata do mundo real, mas, na passagem que devemos ler agora, o passo final de Deus é o foco. (T-30.V.3) O Céu ainda não é inteiramente lembrado, pois o propósito do perdão ainda permanece. No entanto, cada um está certo de que irá além do perdão e permanece somente enquanto o perdão se aperfeiçoa nele. Ele não tem nenhum desejo a não ser esse. Enquanto ainda estivermos aqui, no mundo do corpo, estamos dizendo que não perdoamos totalmente a nós mesmos, ao mundo ou a Deus. Portanto, a memória de Deus ainda é indistinta e Sua Voz é obscura. No entanto, dentro de nós, está o anseio para voltarmos para casa, e assim, apesar dos gritos estridentes do ego, o tomador de decisões em nossas mentes ainda vai se afastar dessa voz e fazer “uma coisa perfeita e uma escolha perfeita” (T-25.VI.5:1). Fazermos essa escolha é certo, e em nossas mentes certas, isso é tudo o que desejamos. E o medo sumiu, porque ele está unido consigo mesmo em seu propósito. Há nele uma esperança de felicidade tão segura e tão constante, que ele mal pode ficar esperando por mais algum tempo, com os pés ainda tocando a terra. No entanto, está contente por esperar até que todas as mãos se unam e todos os corações estejam prontos para elevarem-se e seguirem com ele. Pois assim ele é aprontado para o passo no qual todo o perdão é deixado lá atrás.
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Eu me lembro aqui de algo que Jesus disse a Helen nas primeiras semanas da transcrição do Curso. Ele se referiu a uma declaração do famoso médium Jeanne Dixon sobre estar com seus pés tocando o solo e suas mãos estendidas para o Céu, representando seu papel de fazer uma ponte sobre a brecha entre nossos egos e o Céu. No texto, aparece dessa forma: Tu estás abaixo de mim e eu estou abaixo de Deus. No processo de “subida”, eu estou mais acima, porque sem mim a distância entre Deus e o homem seria grande demais para abrangeres. Eu faço a ponte sobre essa distância como teu irmão mais velho de um lado e como um Filho de Deus do outro (T-1.II.4:3-5). Portanto, nosso papel nesse mundo, como o de Jesus, é manifestarmos a função do Espírito Santo de fazer uma ponte entre o tempo e a eternidade, permanecendo no mundo real como Ele nos direciona, com nossos pés na terra enquanto nossas mãos alcançam o Céu. Nós, portanto, devemos nos tornar como Jesus, ou como aqueles mestres ascensionados que completaram suas lições particulares. Esses professores permanecem apenas um pouquinho distantes do Céu, embora tenham consciência dele, para que possam ajudar a todos os outros a atingirem o que eles aprenderam. “No entanto, está contente por esperar até que todas as mãos se unam’ refere-se à Segunda Vinda e ao Juízo final, que é o que nos apronta “para o passo no qual todo o perdão é deixado para trás”. O que é um pequeno truque em tudo isso é que o Curso está falando sobre algo que realmente não existe. Mais uma vez, Jesus está segmentando fases diferentes de um processo inerentemente irreal. Esses termos, portanto, são simplesmente um meio poético de atingir nossas mentes separadas muito literais e concretas. E então, Jesus fala da visão de Cristo, da percepção verdadeira, do mundo real, da Segunda Vinda, do Julgamento Final, e do último passo. Essa passagem, portanto, é uma descrição tocante e poética da idéia de que aquelas partes da Filiação que aceitaram a Expiação para si mesmas mal podem esperar para voltar para casa, mas, no entanto, ainda escolhem permanecer e ajudar a todos os outros. (T-30.V.4) O passo final é de Deus, porque apenas Deus poderia criar um Filho perfeito e compartilhar Sua paternidade com ele. Ninguém fora do Céu sabe como pode ser assim, pois a compreensão disso é o próprio Céu. Assim, o passo final é realmente o primeiro, porque só Deus poderia criar um Filho perfeito, que é para sempre um com Ele. E, assim, o primeiro e o último são um, sem passos intermediários de separação e re-união. Então, Jesus continua, com efeito, dizendo que embora ele esteja fazendo o seu melhor para explicar esse fato do Céu para você, você não vai realmente ser capaz de entender de qualquer forma. Como poderia ser que o primeiro passo seja o último, e o último seja o primeiro? Com relação a Jesus, uma vez que ele é a manifestação do Espírito Santo, a Voz de Deus, nesse sentido, ele compartilha das verdades incognoscíveis do Céu e realmente as compreende. Apenas uma mente que tenha transcendido o sistema de pensamento do ego pode conhecer a realidade que repousa além da mente dividida. Mesmo o mundo real tem um propósito que ainda se encontra abaixo da criação e da eternidade. Mas o medo se foi porque seu propósito é o perdão, não a idolatria. E assim, o Filho do Céu é preparado para ser ele próprio e para se lembrar que o Filho de Deus conhece tudo o que o seu Pai compreende, e o compreende perfeitamente com Ele. (5) O mundo real ainda está aquém disso, pois esse é o propósito do próprio Deus; só Seu e, no entanto, completamente compartilhado e perfeitamente realizado. O propósito do mundo real, é claro, é o perdão, e sua extensão através da mente da Filiação. Essa passagem, portanto, nos diz algo sobre o mundo real. Não é o Céu, pois seu 173
propósito não é a criação, que é a função de Deus e de Cristo. No entanto, ele pavimenta o caminho para o retorno dessa função da mente que escolheu o medo em vez do amor. Assim, a percepção do ego é trocada pelo conhecimento do Céu. Mais uma vez, a meta do Um Curso em Milagres não é o Céu e o retorno da nossa função de criação. Em vez disso, seu propósito é o mundo real, atingido através do cumprimento da nossa função de perdão. O mundo real é um estado no qual a mente aprendeu como é fácil abandonar ídolos quando eles ainda são percebidos, mas não são mais queridos. Com que disposição a mente os deixa partir quando compreendeu que os ídolos não são nada, não estão em parte alguma e não têm propósito. Pois só então a culpa e o pecado podem ser vistos sem nenhum propósito e sem significado. Os capítulos finais do texto falam sobre os ídolos, outro termo para o especialismo que é o deus do ego. Um ídolo é definido como um substituto para Deus, uma falsa imagem para a Sua realidade, e obviamente, essa substituição de Deus é o propósito de todos os relacionamentos especiais. Quando os ídolos se vão, o que resta é o verdadeiro Amor de Deus que sempre esteve ali, mas não era experienciado. Mas para alcançar essa mudança, precisamos primeiro reconhecer os ídolos do especialismo que escolhemos em nossa insanidade, para servir ao propósito do ego de nos “proteger” do Amor de Deus. A culpa e o pecado são os principais aliados do ego nesse estranho plano, e, conforme reconhecemos a insanidade desse plano, o propósito desses aliados cai de lado e nós somos capazes de finalmente compartilhar da inocência e amor do mundo real. (T-30.V.6) Assim é o propósito do mundo real gentilmente trazido à consciência para substituir a meta do pecado e da culpa. E tudo o que se interpôs entre a tua imagem de ti mesmo e aquilo que és, o perdão limpa alegremente e faz desaparecer. Entretanto, Deus não precisa criar o Seu Filho outra vez para que o que é dele seja devolvido a ele. A brecha entre o seu irmão e ti mesmo nunca existiu. E o que o Filho de Deus conheceu na criação, ele tem que conhecer de novo. Então, mais uma vez, vemos que Deus não faz coisa alguma (Ele “não precisa criar Seu Filho outra vez”). O último passo ou passo final no caminho da Expiação é realmente o mesmo que o primeiro. O pecado e a culpa que pareciam intervir são gentilmente dissipados através do perdão, e então, essa brecha desaparece de volta em sua própria nulidade. Incidentalmente, “brecha” também é um termo que aparece primariamente nos capítulos finais do texto, e é outra palavra para a crença na separação. Agora, vamos pular para o parágrafo oito: (T-30.V.8) Como é leve e fácil o passo que atravessa as estreitas fronteiras do mundo do medo, quando reconheceste de Quem é a mão que seguras! Dentro da tua mão está tudo o que necessitas para caminhares em perfeita confiança para longe do medo para sempre e para seguires adiante e rapidamente alcançares a porta do Céu. “O passo que atravessa as estreitas fronteiras do mundo do medo” pode ser compreendido como o alcance do mundo real. A mão que seguramos é a mão do nosso parceiro de amor ou ódio especial, que representa Cristo, uma vez que na verdade, somos todos um. É a mão de Cristo que é encontrada na mão daqueles que perdoamos. “Alcançar a porta do Céu” é a conclusão do processo de Expiação, a culminação do mundo real que leva ao passo final, erguendo-nos para o Céu que nunca verdadeiramente deixamos. Pois Ele, Cuja mão seguras, apenas esperava que te unisses a Ele. Agora que vieste, iria Ele atrasar-Se em mostrar-te o caminho que Ele tem que seguir ao teu lado? As Suas bênçãos estão contigo com tanta certeza quanto o Amor do Seu Pai repousa sobre Ele. A 174
Sua gratidão para contigo está além da tua compreensão, pois permitiste que Ele Se erguesse do cativeiro e partisse junto contigo rumo à casa do Seu Pai. Isso reflete a idéia bíblica de ascender e ir para a casa do Pai. O que é importante aqui, como sempre acontece no Um Curso em Milagres, é nos lembrarmos de que o que nos capacita a voltarmos para a casa do nosso Pai é o perdão. Nosso perdão uns aos outros desfaz as barreiras de culpa e ataque que pareciam nos separar, não apenas uns dos outros, mas do nosso verdadeiro Ser Que reside em Deus. Nós nos lembramos de Cristo que é nossa verdadeira Identidade por não excluirmos aquele Ser uns dos outros. Assim, nossas correntes de culpa que nos prendem ao mundo de separação do ego são desfeitas através da compreensão de que somos um. Segurar as mãos uns dos outros simboliza esse reconhecimento e aceitação. (T-30.V.9) Um antigo ódio está desaparecendo do mundo. E com ele toda a raiva e todo medo se vão. Não olhes mais para trás, pois o que está diante de ti é tudo o que jamais quiseste em teu coração. O “antigo ódio [que] está desaparecendo do mundo” é nosso auto-ódio e culpa, e ele desaparece conforme aprendemos a perdoar. “Olhar para trás” é uma referência à história no Velho Testamento na qual a esposa de Ló desobedeceu a proibição de Deus, olhando para trás e, dessa forma, foi transformada em um pilar de sal (Genesis 19:26). Assim, podemos dizer que se olharmos para trás, para o passado, tornando o mundo de separação do ego real, nós inevitavelmente vamos terminar acreditando que somos realmente pilares do ego: seres pecadores, culpados e amedrontados. Abre mão do mundo! Mas não para o sacrifício. Tu nunca o quiseste. Que felicidade buscaste aqui que não tenha te trazido dor? Que momento de contentamento não foi comprado ao preço amedrontador de moedas de sofrimento? A alegria não tem nenhum custo. Ela é o teu direito sagrado, e aquilo que tu pagas não é felicidade. Adianta-te no teu caminho através da honestidade, e não permitas que as tuas experiências aqui enganem em retrospectiva. Elas não estavam livres do amargo custo e de conseqüências sem alegria. A forma tradicional de abrir mão do mundo era negar a si mesmo os assim chamados prazeres da carne. Como vimos em muitos outros lugares, esse tipo de negação não afrouxa nosso apego ao mundo. Pelo contrário, ele nos prende ainda mais profundamente ao mundo. Para escaparmos da dor que experienciamos aqui, precisamos apenas entender que a forma de abrirmos mão do mundo é nos lembrarmos de que ele não é nosso verdadeiro lar. As “moedas de sofrimento” são uma referência às trinta peças de prata, que foram o preço da traição registrada de Judas a Jesus (Mateus 26:15). Jesus está nos ensinando aqui que nos voltarmos para as poucas migalhas que o mundo mantém para nós como salvação é trairmos o Cristo em nós. Não somos solicitados a sacrificar os prazeres do mundo – o mundo não contém prazeres -, mas em vez disso, somos solicitados a entender que por abraçarmos o mundo como o ídolo que iria substituir o Amor de Deus, estamos de fato sacrificando a paz e a alegria que só podem vir por aceitarmos nossa realidade como criança de Deus. É essa aceitação que desfaz a crença do ego no sacrifício, pois só então podemos atingir a verdadeira felicidade, alegria e paz. Se realmente olhássemos para qualquer coisa nesse mundo, iríamos entender que o que pensávamos que nos deu felicidade e alegria foi realmente cheio de dor. Como Jesus nos lembra logo no início do texto: Todo prazer real vem de fazer a Vontade de Deus. Isso é assim porque não fazê-La é uma negação do Ser (T-1.VII.1:4-5). 175
Agora, vamos voltar ao livro de exercícios, Lição 168, terceiro parágrafo: (LE-pI.168.3) Hoje, pedimos a Deus a dádiva que Ele preservou como o maior cuidado em nossos corações, esperando para ser reconhecida. É a dádiva pela qual Deus Se inclina para nós e nos eleva, dando Ele próprio o passo final da salvação. Instruídos pela Sua Voz, aprendemos todos os passos, exceto esse. Mas Ele próprio finalmente vem, nos toma em Seus Braços e varre as teias de aranha do nosso sono. Essa dádiva é o último passo. Como já vimos (veja acima, p. 42), a Lição 157, “Quero entrar na Sua Presença agora” (LE-pI.157), expressa a mesma idéia: a visão final, logo antes de sermos elevados por Deus, não é aprendida. Nosso aprendizado, através do Espírito Santo, engloba a remoção dos obstáculos que permitem que essa visão emirja e o “último passo” aconteça. O perdão, o único aprendizado que o mundo pode nos oferecer, remove esses obstáculos. Essa passagem também reforça a idéia de que o Filho de Deus meramente adormeceu e sonhou com sua separação de Deus. Esse sonho é o intervalo entre a Primeira Vinda, e a criação de Cristo por Deus, e a Segunda Vinda, que é o re-despertar daquele sono. Essa passagem, portanto, refere-se ao ponto no processo no qual somos re-despertados do pesadelo com apenas poucas teias de aranha remanescentes. Então, Deus as remove. Nas palavras da Bíblia, ocasionalmente citadas no Curso e citadas acima (veja p. 252), Deus enxuga nossas lágrimas, e depois, somos gentilmente elevados de volta até Ele. A dádiva da Sua graça é mais do que uma simples resposta. Ela restaura todas as memórias que a mente adormecida esqueceu, toda a certeza a respeito de qual é o significado do Amor. A graça de Deus, Seu Amor que é experienciado conforme despertamos do sonho, é “dada a nós” conforme liberamos todos os resíduos remanescentes desse sonho. Esse é o estágio final, que é realmente a experiência desaprendida que se segue ao perdão. P: Esta passagem, assim como outras no Curso, é similar a parte da literatura mística. Obviamente, alguns daqueles homens e mulheres tiveram experiência genuína de Deus e, no entanto, falavam como se Deus desse a eles a graça de uma experiência Dele, e que Ele então a pegava de volta como um meio de ajudá-los a aprenderem o que ainda tinham que aprender. Como então, embora as experiências parecessem genuínas, eles usariam aquele tipo de expressão, “Deus tirou isso de mim?”. Por que eles diriam que Deus iria “privá-los” da alegria da Sua Presença? R: Isso a que você está se referindo é outro exemplo da importante distinção que o Um Curso em Milagres faz entre forma e conteúdo. Esses grandes místicos da igreja, estou certo, tiveram experiências de Deus e do amor de Jesus. É a isso que o Curso se refere como o “conteúdo”. É uma experiência, similar às experiências que podemos ter nesse século, às quais podemos dar uma interpretação inteiramente diferente. As interpretações diferentes são o que chamamos de “forma” e, é claro, é isso o que a teologia é: a tentativa da mente racional de explicar algo que não pode realmente ser compreendido. Existe um famoso exemplo de São Tomás de Aquino, que escreveu os tratados teológicos definitivos da igreja. Perto do fim da sua vida, ele teve uma experiência mística na qual disse, “Tudo o que escrevi me parece sem valor comparado ao que agora foi revelado a mim” 10. Ele acreditava naquele momento, que seu trabalho teológico era uma ninharia sem valor, porque uma vez que alguém tem uma verdadeira e autêntica experiência do Amor de Deus, então, não 10
Weisheipl, James A., O.P. Friar Thomas D’Aquino: His Life, Thought and Works (Washington: The Catholic Univ. of America Press, 1983). Para uma discussão mais ampla, veja meu O Amor não condena, p. 11-12. Consulte material relacionado no final desse livro para informações adicionais.
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tem necessidade de fazer teologias sobre isso. Logo em seguida a isso, enquanto estava montado em seu cavalo, ele bateu a cabeça em um galho de árvore, uma pancada da qual acabou morrendo. Sua vida evidentemente tinha se tornado completa com sua experiência. Portanto, as experiências desses santos e místicos podem muito bem ter sido autênticas (conteúdo), mas a forma com que eles a interpretaram foi através da teologia do seu tempo (forma); essa teologia da igreja, como sabemos, ensinou que Deus nos leva de volta até Ele através da nossa aceitação de uma vida de sofrimento e sacrifício. E certamente, Um Curso em Milagres entra em grandes detalhes para nos ajudar a entender que um Deus amoroso nunca iria pensar dessa forma. Mas era assim que a igreja tradicional pensava, e então, faz sentido perfeito para elas que a noite escura da alma – a frase evocativa de São João da Cruz, descrevendo o período de escuridão que precede a iluminação mística – expressasse a atividade amorosa de Deus que retira Seu Amor de nós como o passo final em nossa purificação. E então, subitamente, Ele volta a nós em uma luz cegante, e nós experienciamos a união com Seu Amor. Mas, claramente, o ensinamento básico da igreja era o de que Deus permitia que essa dor viesse às nossas vidas como prova do Seu Amor, e como um meio de nos levar de volta a Ele. P: Você pensa que essa era uma forma sutil de nossos egos virem e dizerem, “Eu realmente não quero ter que dar os passos dolorosos de liberar meus relacionamentos especiais”? R: Essa é uma maneira tentadora de olhar para isso, e acho que o ensinamento básico do Curso iria sugerir isso. No entanto, é importante não se esquecer de que do ponto de vista da teologia mística da igreja, o ensinamento do Curso estaria equivocado. Eles representam caminhos diferentes. Mas, novamente, não há dúvida de que o Um Curso em Milagres iria ensinar que aquelas experiências seriam formas de reforçar a crença em que a culpa exige punição através do sofrimento e sacrifício. (LE-pI.168.4) Deus ama Seu Filho. Pede-Lhe agora que Ele te dê os meios pelos quais esse mundo desaparecerá; primeiro virá a visão e apenas um instante mais tarde o conhecimento. Pois na graça vês uma luz que cobre o mundo todo de amor e observas o medo desaparecer de cada rosto à medida que os corações se erguem e reivindicam a luz como o que lhes pertence. O que permanece agora que poderia atrasar a vinda do Céu ainda que por um instante? O que ainda está por fazer, quando o teu perdão descansa em todas as coisas? Esse é um retrato lindo do que acontece no final. O “meio” citado é o perdão, nossa expressão da “pequena disponibilidade” de perdoar. Isso torna possível a visão que “vem” a nós, depois da qual está o último passo de Deus e o conhecimento do Céu. (LE-pI.168.5) Esse é um dia novo e santo, pois recebemos o que nos tem sido dado. A nossa fé está no Doador e não na nossa própria aceitação. Admitimos os nossos equívocos, mas Aquele que desconhece o erro ainda é Aquele Que responde aos nossos equívocos, dando-nos os meios para deixarmos de carregá-los e para nos erguermos até Ele em gratidão e amor. O “Aquele” e o “Que” referem-se a Deus. É esse tipo de passagem que poderia, penso eu, realmente confundir as pessoas, levando-as à idéia equivocada de que tudo o que precisam fazer é essa lição em particular, e estarão a um passo de distância do Céu e do último passo de Deus. Claramente, esse não pode ser o caso uma vez que é apenas a Lição 168, com todas as lições maravilhosas que ainda estão por vir. É importante entender outra explicação para passagens como essa; isto é, que Jesus está fazendo o que freqüentemente faz no Curso: subitamente mudando da dimensão do tempo para uma visão do que vai acontecer no final. E, uma vez que no ponto de vista do Um Curso em Milagres o tempo é uma 177
ilusão de qualquer forma, essa mudança meramente reflete a mudança súbita das fitas de tempo do ego para aquelas do Espírito Santo, que refletem a eternidade. Assim, seria um equívoco para as pessoas terem a expectativa de que, de repente, serão capazes de liberar todo o investimento no sistema de pensamento do ego, e adotarem completamente o do Espírito Santo. Nós todos sabemos, a partir de nossas jornadas pessoais, e de tudo o que estivemos falando até agora, que o desfazer do ego exige muito trabalho duro, durante um longo período de tempo. (LE-pI.168) E Ele desce para nos encontrar quando vamos a Ele. Pois o que Ele preparou para nós, Ele nos dá e nós recebemos. Assim é a Sua Vontade porque Ele ama Seu Filho. Hoje oramos a Ele, apenas devolvendo a palavra que nos foi dada por Ele através da Sua própria Voz, Seu Verbo, Seu Amor: A Tua graça me é dada. Eu a reivindico agora. Pai, venho a Ti. E Tu virás a mim que peço. Eu sou o Filho que Tu amas.
A idéia básica do curso é a de que nós fazemos nosso trabalho por perdoarmos. Deus não pode fazê-lo por nós; como fomos nós que repudiamos o Amor de Deus, somos nós que temos que agora reclamá-lo. Desfazer nossa culpa remove as barreiras que nos mantiveram separados de Deus, e assim, vamos a Ele conforme Ele completa o processo por nos encontrar. ********** Assim, agora estamos no último passo: os Filhos de Deus todos já despertaram do sonho, fizeram esse julgamento final sobre a natureza ilusória do mundo, e Deus nos ergueu até Ele, ou bem próximo. Como é um lindo resumo da jornada e sua culminação, deixando-nos a um breve passo do Céu, devo ler o Epílogo do “Esclarecimento de termos”, no final do manual para professores. Devo ler essa adorável seção diretamente, como a conclusão ao nosso estudo sobre o tempo. No entanto, primeiro, eu gostaria de fazer alguns poucos comentários sobre o que vamos ouvir. A maioria das seções no manual não contém referências bíblicas. Aqui, subitamente, mais ou menos por uma página, existem pelo menos cinco delas. Parte da razão para isso é que essa seção foi escrita em dezembro, durante o Advento, a época litúrgica de preparação para o Natal. Assim, existem várias referências ao Natal, assim como a Jesus falando sobre si mesmo. A frase “não tenha medo” que aparece no terceiro parágrafo é tirada de Isaías (i.e., 40:9), e também é encontrada em vários lugares nos evangelhos, onde Jesus tenta confortar seus seguidores (i.e., João 6:20). Nós já comentamos sobre parte delas antes. Uma referência óbvia ao Natal aparece no início da página, que fala sobre o “mundo recémnascido” e Cristo sendo um “recém-nascido”. A frase “estrela da manhã”, tirada do Livro da revelação (22:16), tem sido usada tradicionalmente como uma referência a Jesus: a estrela da manhã que brilha, dissipando a escuridão da noite. Finalmente, através de todo o Um Curso em Milagres, existem muitas referências ao gnosticismo, onde é usada uma linguagem gnóstica específica. Nós encontramos um claro exemplo aqui, no início do segundo parágrafo “Tu és um forasteiro aqui”. A idéia de que esse é um mundo estranho, ao qual não pertencemos, é muito gnóstica. A Lição 160 – “Estou em casa. O medo é o estranho aqui”. – provavelmente é a referência mais clara a esse pensamento gnóstico de que nós, que somos os estrangeiros nesse mundo estranho, nunca poderemos encontrar a paz aqui. Outra frase gnóstica comum é “encontrar descanso”, que aparece freqüentemente no Curso, como a linda lição 109, por exemplo, “Eu descanso em Deus”. O fim do Epílogo não usa realmente a palavra “descanso”, mas realmente expressa a 178
mesma idéia: “O Filho está quieto e, na quietude que Deus lhe deu, entra em sua casa e está enfim em paz”. Assim, a jornada exaustiva termina. Incidentalmente, as conclusões de todos os livros – texto, livro de exercícios e manual para professores, e agora o “Esclarecimento de termos” – são poeticamente escritas e muito, muito tocantes. Esse Epílogo certamente está no mesmo nível da beleza e inspiração dos outros. Não te esqueças de que uma vez iniciada essa jornada, o fim é certo. A dúvida ao longo do caminho vai e vem, e vai para vir de novo. No entanto, o fim é certo. Ninguém pode deixar de fazer o que Deus lhe indicou que fizesse. Quando esqueceres, lembra-te de que caminha com Ele e com o Seu Verbo no teu coração. Quem poderia se desesperar quando tem uma Esperança como essa? Ilusões de desespero podem parece vir, mas aprende como não te deixares enganar por elas. Atrás de cada uma delas está a realidade e está Deus. Por que esperarias por isso e o trocarias por ilusões, quando o Seu Amor está há apenas um instante a mais na estrada onde todas as ilusões chegam ao fim? O fim é certo e garantido por Deus. Quem fica diante de uma imagem sem vida quando a um passo de distancia o Santo dos Santos abre uma porta antiga que conduz para além do mundo? Tu és um estranho aqui. Mas pertences a Ele Que te ama como ama a Si Mesmo. Basta pedir a minha ajuda para rolar a pedra para longe e isso é feito de acordo com a Sua Vontade. Nós já começamos a jornada. Há muito tempo o fim estava escrito nas estrelas e firmado nos Céus com um raio brilhante que o manteve a salvo na eternidade assim como ao longo de todo o tempo. E ainda o mantém; sem que nada tenha sido mudado, sem que nada esteja sendo mudado e para todo o sempre imutável. Não tenhas medo. Apenas começamos de novo uma antiga jornada há muito iniciada, mas que parece nova. Começamos de novo por uma estrada na qual já viajamos antes e da qual nos perdemos por pouco tempo. E agora tentamos de novo. Nosso novo começo tem a certeza que faltava ao nosso percurso até agora. Olha para cima e vê o Seu Verbo entre as estrelas, onde Ele firmou o teu nome junto com o Seu. Olha para cima e acha o teu destino certo, que o mundo quer esconder, mas Deus quer que vejas. Vamos esperar aqui em silêncio, e ajoelhar um instante em gratidão a Ele Que nos chamou e nos ajudou a ouvir o Seu Chamado. E então, vamos nos erguer e seguir com fé ao longo do caminho até Ele. Agora estamos certos de que não caminhamos sozinhos. Pois Deus está aqui, e com Ele todos os nossos irmãos. Agora nós sabemos que nunca mais vamos perder o caminho outra vez. Começa de novo a canção que havia parado por apenas um instante, embora nos pareça que ela tenha ficado sem ser cantada por uma eternidade. O que aqui se iniciou vai crescer em vida, força e esperança, até que o mundo se aquiete um instante e esqueça tudo o que o sonho do pecado havia feito dele. Vamos sair e encontrar o mundo recém-nascido, sabendo que Cristo renasceu nele e que a santidade deste renascimento vai durar para sempre. Nós tínhamos perdido nosso caminho, mas Ele o achou para nós. Vamos, vamos dar boas-vindas a Ele Que retorna a nós para celebrar a salvação e o fim de tudo o que pensávamos ter feito. A estrela da manhã deste novo dia olha para um mundo diferente, onde Deus é bem-vindo e Seu Filho com Ele. Nós que O completamos oferecemos a nossa gratidão a Ele assim como Ele nos dá graças. O Filho está quieto e, na quietude que Deus lhe deu, entra em sua casa e está enfim em paz (ET-ep).
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Gráfico NÍVEL UM Deus Espírito Mente ---------------------------------------------------------------------------------- mente
Vontade Ser-Cristo conhecimento-Céu espírito unicidade realidade eternidade amor vida Mente Única
Espírito Santo
180
desejo-decisão ser-ego percepção-mundo corpo separação sonho tempo medo morte mente dividida
extensão (I) – criação (verdade)
projeção (I) – confecção (ilusões)
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
NÍVEL DOIS
mente errada ego
Mente certa Espírito Santo
pecado
Expiação milagre perdão
culpa
relacionamento santo instante santo
medo
cura negação projeção (II) (relacionamentos especiais) ódio
amor
salvação extensão (II) sonho feliz percepção verdadeira mundo real
culpa
Gráfico 2: O tapete do tempo
Céu ________________________________________________________ eternidade
ego -1000B A __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ Espírito Santo _____________________________________________ 181
Gráfico 3: TV – Caleidoscópio - Holograma
tempo - memórias ego /-\//\\/\// - \ - \ / / / \ \ - -/ / \ \ -\-//\\//\\ //\\ //\\ // \//\\//\\ //z /
observador
Espírito Santo
Gráfico 4: Os dois hologramas
ego
Espírito Santo
//\\//\\//\\ //\\//\\//\\//\ \//\\//\\//\\\\ //\ //\\//\\ //\\//\\ //
//\\//\\//\ \ / / z //\\//\\//\\ / \// / / \ \ / / \ \ / / \ \ / // / / / \ \ / / \ \ / / \\\\\\//\\//\\ / 182
Gráfico 5: O diminuto tique-taque do tempo
eternidade ______________________________________________________ tempo
Gráfico 6: Espiral
eternidade ______________________________________________________ tempo
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