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  • November 2019
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Etiquetas Inteligentes: a Cadeia de Suprimentos e o Varejo Marcos Roberto Luppe Mestrando em Administração de Empresas na FEA/USP Professor e Pesquisador do PROVAR-FIA/USP Consultor da Canal Varejo

1) Introdução Os elos comerciais entre os diversos parceiros na Cadeia de Suprimentos têm evoluído muito nos últimos anos. O gerenciamento adequado dos canais de distribuição pode fazer a diferença nos negócios e o bom relacionamento entre varejistas, fabricantes e, eventualmente distribuidores, agrega valor na prestação de serviços ao consumidor final. Além disso, a realidade econômica brasileira, aliada ao avanço tecnológico, à globalização e ao surgimento de novos formatos, alterou significativamente a forma de o varejo operar, abrindo espaço para questionamentos e aprimoramentos do gerenciamento. A tecnologia tem proporcionado melhores métodos de gestão, redução de custos, e um melhor atendimento às necessidades dos consumidores. Assim, um melhor gerenciamento do fluxo físico de produtos e do fluxo de informações merecem cada vez mais a atenção das empresas e as novas tecnologias trazem uma visão que melhores e maiores benefícios podem ser obtidos em toda a Cadeia de Suprimentos. Neste contexto, diante de tantas opções tecnológicas que prometem auxiliar as organizações a alcançarem seus objetivos, a utilização das etiquetas inteligentes (RFID ou smart tags) despontou no cenário empresarial como uma forma de garantir inicialmente ganhos de produtividade para a logística, desde a linha de produção até a entrega do produto na loja, como também futuramente, no rastreamento de cada produto na gôndola de uma loja (SOUSA, 2004). O início da padronização de identificação de produtos foi através do código de barras e sua adoção em produtos teve início a mais de 30 anos, com um pacote de goma de mascar sendo lido em um terminal no ponto de venda de um supermercado nos Estados Unidos. Assim, foi inaugurado o código de barras de leitura ótica, cujo objetivo inicial era diminuir o erro dos funcionários, que marcavam manualmente o preço das etiquetas. Apesar do código de barras ter causado uma revolução no varejo a apenas três décadas, uma nova tecnologia começa a se mostrar capaz de se firmar como um padrão da indústria – etiqueta de identificação por rádio freqüência (RFID) – cujas raízes estão embasadas na tecnologia dos anos 60 chamada de Vigilância Eletrônica de Artigos (EAS). Assim, com a implantação desta nova tecnologia, a ampliação de informações disponíveis e sua redução de custo vêm convencendo varejistas como Wal-Mart nos Estados Unidos, Metro na Alemanha e Carrefour e Casino na França de que sua adoção em pallets e em embalagens propiciará visibilidade instantânea sobre as informações da cadeia de suprimentos,

reduzindo substancialmente seus custos e melhorando a eficiência de entrega de seus fornecedores. Nos Estados Unidos, desde janeiro de 2005, o Wal-Mart exigiu que 137 grandes fornecedores começassem a etiquetar os pallets e caixas enviados ao centro de distribuição no Texas e este número será ampliado para 200 até o início de 2006. Nas suas operações brasileiras, o Wal-Mart também iniciará a implantação de RFID nos centros de distribuição e selecionou oito fabricantes para esta primeira fase: Gilette, HP, Johnson&Johnson, Kimberly-Clark, Kraft Foods, Nestlé Purina Petcare, Procter&Gamble e Unilever. (FLORENCE,2005) No Brasil, além do setor varejista, existem outros projetos de RFID como o sistema de pedágio “sem-parar” em algumas rodovias, controle de frotas (entrada e saída com o tag no vidro), controle de acesso, identificação de contêineres e ainda em aeroportos, na identificação de bagagens.

2) O que é RFID RFID é a abreviação de Radio Frequency Identification – Identificação por radiofreqüência. Diferentemente do feixe de luz utilizado no sistema de código de barras para a captura de dados, essa tecnologia utiliza a freqüência de rádio. O RFID que utiliza um chip que armazena informações e se comunica por meio de ondas de rádio com um aparelho leitor é originário do transponder – criado pelos ingleses durante a II Guerra Mundial para distinguir seus aviões dos caças utilizados pelos inimigos. A invenção saltou do campo militar para o industrial na década de 90, quando o Auto ID Center, a partir de um projeto de pesquisa acadêmica do MIT, aperfeiçoou a ferramenta com foco na identificação de itens (BORGES, 2005). Desse estudo nasceu o Código Eletrônico de Produtos – EPC (Eletronic Product Code). Este código definiu uma arquitetura de identificação de produtos que utilizava os recursos proporcionados pelos sinais de radiofreqüência, chamada posteriormente de RFID. O EPC é uma identificação única para cada unidade de produto que identifica o item por tipo e número de série. Ela permanece armazenada na tag do RFID. Uma grande quantidade de dados pode ser associada ao mesmo EPC e disponibilizada por meio do acesso ao banco de dados no qual são guardadas informações suplementares. Diferente dos códigos de barra convencionais que exigem um contato direto entre o código impresso e o leitor (scanner), o sistema via sinais eletromagnéticos possibilita a identificação a distância. Há dois tipos de etiquetas: as ativas e as passivas. As ativas possuem uma bateria cuja energia permite que ela se comunique com o receptor, enquanto que as passivas obtêm energia através do campo eletromagnético criado pela antena. As passivas possuem um raio de funcionamento menor do que as ativas, porém, por não precisarem de bateria, possuem uma vida praticamente infinita (MULLER & HOFFMANN,2005). Atualmente, a maior utilização desta tecnologia é no controle do fluxo de produtos por toda a cadeia de suprimentos de uma empresa, permitindo o seu rastreamento desde a fabricação até o ponto final de distribuição.

Esta tecnologia desencadeia uma revolução que no futuro será a base para uma nova realidade na identificação de produtos, com impacto direto nos processos logísticos de toda a cadeia de abastecimento, seja na fabricação, no controle de estoque ou no processo de comercialização dos produtos. A figura abaixo mostra basicamente como ocorrerá a evolução do uso do RFID na cadeia de abastecimento. Figura 1 – Evolução do RFID

Fonte: Gartner Group / G2 apud Almeida (2004).

Apesar do início da adoção desta nova tecnologia na identificação de produtos, um estudo da Venture Development Corporation (VDC) com executivos de tecnologia da informação que atuam no varejo mostra que os sistemas de código de barras estão longe do fim. Como mostrado na figura da evolução do RFID, a pesquisa sinaliza que a solução de identificação de radiofreqüência está sendo adotada em centros de distribuição que prestam serviços ao varejo e ainda faltam algumas décadas para que sejam usadas para localizar produtos nas prateleiras. Assim, a RFID não é uma substituta do código de barras, mas é uma tecnologia de transformação que pode ajudar a reduzir desperdício, limitar roubos, gerir inventários, simplificar a logística e até aumentar a produtividade. (SANTANA, 2005). Portanto, como citado na figura acima, o RFID será uma evolução do código de barras e estes dois processos de identificação de produtos conviverão conjuntamente por um longo período. 3) Aplicação da tecnologia RFID nos negócios A princípio as etiquetas inteligentes que armazenam uma pequena quantidade de dados deverão identificar pallets. Ao passar por docas de desembarque num centro de distribuição, por exemplo, os dados serão lidos por antenas que acionarão as etiquetas por radiofreqüência. Em um outro nível,

as caixas serão etiquetadas e, aí sim, num futuro mais distante, cada produto (SOUSA, 2004). Assim, o mercado prevê que a utilização da tecnologia RFID será ampla no curto prazo, especialmente na área de logística e retaguarda. Como citado na introdução, algumas empresas varejistas como Wal-Mart, Metro, Carrefour, etc já estão utilizando o RFID nas operações de retaguarda e os resultados iniciais foram bem satisfatórios, o que justifica o avanço da sua implementação. Essas mesmas empresas consideram que, no momento, os processos relativos à operação de frente de caixa estão equacionados com o código de barras. Portanto, a princípio, os maiores ganhos estão em como manter essa operação sempre abastecida, ao menor custo e com controle de processos, como por exemplo, o vencimento da validade das mercadorias (BPSolutions, 2005). A figura 2 mostra ilustrativamente como será no futuro todo processo de identificação de mercadorias na cadeia de suprimentos varejista com a adoção do RFID pelos diversos parceiros que compõem esta estrutura. Figura 2 – Futuro da Cadeia de Abastecimento com o RFID

Fonte: Almeida (2004).

Dentre vários projetos em desenvolvimento da utilização do RFID no mercado brasileiro, pode-se citar o caso da Unilever Brasil, que em uma iniciativa pioneira na América Latina, lançou no ano passado o projeto Smart Tags. O estudo foi desenvolvido na fábrica do sabão em pó Omo e em dois centros de distribuição, localizados no interior de São Paulo. Num dos testes, foram instalados EPCs em 1,5 mil pallets. As antenas e sensores de identificação responsáveis pela leitura das informações contidas nas etiquetas foram acopladas nas empilhadeiras. No piloto do projeto, os pallets com o chip foram rastreados em tempo real, desde a sua saída na esteira da fábrica até a doca em que os caminhões eram carregados. Três meses depois de iniciar os testes, a empresa já havia confirmado as estimativas iniciais de atingir 80% da

meta de aumentar em 12% a produtividade nesses processos no centro de distribuição (BORGES, 2005). 4) Benefícios e os desafios para a adoção do RFID O RFID em se tratando de uma tecnologia relativamente nova no mercado, gera muitas incertezas sobre quais serão os reais benefícios da sua utilização nos processos operacionais das empresas. Além disso, existem algumas barreiras tecnológicas e de custo para sua ampla adoção na identificação de produtos. Quanto aos potenciais benefícios, pode-se citar: ¾ aumentar a produtividade dos centros de distribuição e reduzir seus custos de gerenciamento como: inventário, transporte e distribuição; ¾ precisão nas informações de armazenamento e velocidade de expedição; ¾ detecção sem necessidade da proximidade da leitora para o reconhecimento dos dados, o que permite, por exemplo, a contagem instantânea do estoque; ¾ armazenar quantidades substanciais de dados que podem ser atualizados e alterados de forma dinâmica; ¾ melhoria das práticas de reabastecimento com a eliminação de itens faltantes e itens com validade vencida; ¾ prevenção de roubos e outras possibilidades ilimitadas de melhoria. Assim, no ponto de venda, a adoção do RFID pelos diversos parceiros da cadeia de suprimentos varejista promete reduzir significativamente o tempo das compras, controlar prazos de validade, identificar preço, fornecer informações sobre localização de produtos na loja, etc. Uma análise dos potenciais benefícios apresentados condiz com as expectativas dos varejistas quanto as possíveis áreas para a utilização desta tecnologia. Em uma pesquisa realizada pelo ECR Brasil em 2003, os varejistas apontaram as três áreas de aplicação prioritária para o uso do RFID: quebra/roubo, gerenciamento do centro de distribuição/depósito e gerenciamento de estoques (SCHERER, DIDONET, LARA; 2004). Como existem benefícios, também existem desafios para a utilização do RFID e dentre estes estão o alto custo das etiquetas, a falta de padrão da faixa de freqüência a ser utilizada e o desempenho dos leitores de RFID. O custo das etiquetas é um dos maiores empecilhos para as empresas adotarem esta nova tecnologia. As etiquetas passivas de RFID custam atualmente entre US$ 0,20 e US$10 contra o preço praticamente nulo dos códigos de barras que está inserida em muitas embalagens. Uma etiqueta composta por um chip e uma antena, custa aproximadamente R$ 1,00, assim, atualmente sua utilização em produtos de baixo valor unitário como uma caixa de sabão em pó que custa R$ 5,00, não é viável. Porém, se pensarmos em um pallet deste produto que vem do fabricante com 1000 caixas, este valor é irrisório. Entretanto, diversas empresas estão trabalhando em pesquisa e desenvolvimento buscando um menor custo para as novas etiquetas, e a empresa InkSure divulgou em junho de 2005, que acaba de patentear duas novas tecnologias de etiquetas de radiofreqüência sem chip que podem ser

impressas em produtos por um custo de US$ 0,01 (MULLER & HOFFMANN,2005). Outro desafio que se impõe é quanto ao estabelecimento de um padrão de freqüência global que precisa ser estabelecido país a país pelos governos. Como existem quatro freqüências para a solução, sendo que em alguns casos como no Japão, as freqüências comumente utilizadas nos outros países são usadas em outras aplicações, a EPC Global prega uma definição que possa ser usada globalmente. Além disso, os leitores de RFID podem falhar na leitura das etiquetas por alguns motivos como: a distância e a orientação das etiquetas em relação ao leitor, certos materiais como metais ou líquidos podem distorcer ou absorver o sinal da etiqueta de RFID e a velocidade que as etiquetas se movimentam através dos leitores.

5) Conclusão De acordo com o que foi exposto, com a crescente utilização da tecnologia de RFID tanto pelos grandes players do mercado varejista, como em outros segmentos, o RFID deverá em um futuro próximo, atuar em conjunto com o código de barras ou até mesmo substituí-lo em algumas situações que permitam e justifiquem a sua aplicação. Por enquanto, a grande tendência é a de privilegiar a aplicação em logística, na identificação de caixas e pallets, visando agilizar os processos internos e de retaguarda, porém com avanços na resolução dos problemas que foram citados e com os benefícios que as empresas varejistas podem obter em suas operações e em suas cadeias de suprimentos, os consumidores em um futuro não muito longínquo se beneficiarão desta nova tecnologia. Assim, a etiqueta inteligente ou RFID passa a ser analisada como uma solução de médio e longo prazo pela indústria e pelo comércio, possibilitando a identificação de produtos à distância e a troca de informações por meio de ondas de rádio, com ganhos inquestionáveis em agilidade na transmissão e também, na qualidade dos dados que trafegam no sistema (SANTANA, 2005). Um aspecto que vem sendo muito discutido no exterior, mas praticamente negligenciado no Brasil, é quanto à privacidade dos consumidores. A preocupação com a invasão de privacidade está vinculada à possibilidade de rastreamento dos produtos após a sua venda na residência dos consumidores. Os administradores atualmente não se importam muito com esta questão, pois a maioria das etiquetas utilizadas somente pode ser lida em um raio de 3 metros, porém como o desenvolvimento de novas tecnologias evolui muito rapidamente nos dias atuais, está é uma questão que terá que ser muito bem analisada, considerando-se até a adoção de leis que regulem o setor. De maneira geral, em um cenário onde a integração, as parcerias e os desenvolvimentos conjuntos entre organizações parecem ser a palavra da ordem, o RFID pode ser uma forma de garantir êxito nestas negociações, desde que os resultados sejam satisfatórios (SCHERER, DIDONET, LARA; 2004). Deste modo, o uso do RFID é uma realidade, porém ainda existe um longo caminho a ser percorrido para que esta tecnologia mostre todos os

potenciais benefícios a que propõe e para que possamos ver sua aplicação em uma simples compra de supermercado. Referências Bibliográficas: ALMEIDA, B.M. Etiqueta Inteligente (RFID) – a nova fronteira na cadeia de distribuição. Disponível em: www.fgvsp.br/cev/eiAplicacoesnoVarejoPlastrom Sensormatic.pdf. Acesso em 03 de novembro de 2005. BORGES, C. Projetos-pilotos vão definir as normas e padrões para a etiqueta inteligente. Disponível em: www.ecrbrasil.com.br/noticias1.asp?ID=138. Acesso em 03 de novembro de 2005. BPSOLUTIONS. De olho em todo o processo. Disponível em: www.bpsolutions.com.br/ bpmaga/edicao11/18_19_NOVIDADE.pdf. Acesso em 06 de novembro de 2005. FLORENCE, R. Vantagens competitivas no varejo – a revolução do RFID. Disponível em: www.florenceenashiro.com.br/cases/VANTAGENS %20COMPETITIVAS%20 NO%20VAREJO%20 Parte1.pdf. Acesso em 03 de novembro de 2005. MULLER, A.R.; HOFFMANN, M. R. O advento de uma nova tecnologia: identificação por radiofreqüência. Disponível em: www.logweb.com.br/artigos/arquivo/art0008411.htm. Acesso em 03 de novembro de 2005. SANTANA, S.R.M. RFID – Identificação por Radiofreqüência. Disponível em: www.wirelessbrasil.org/wirelessbr/colaboradores/sandra_santana/rfid_01.html. Acesso em 06 de novembro de 2005. SCHERER, F.L.; DIDONET, S.R.; LARA, J.E. Considerações sobre a utilização de etiquetas inteligentes no varejo. In: Anais do 7º SEMEAD – FEA/USP. São Paulo, SP: 2004. SOUZA, W. Varejo acelera projetos de etiquetas inteligentes. SuperHiper, mar/2004. Disponível em: www.ecrbrasil.com.br/files/SHmar04.pdf. Acesso em 03 de novembro de 2005.

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