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CONDIÇÕES PARA APLICAÇÃO E USO DO POSTPONEMENT NA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS: O CASO DA EMPRESA PROCESSADORA DE SUCO DE LARANJA Karine Araújo Ferreira (UFSCar) [email protected] Mário Otávio Batalha (UFSCar) [email protected]

Na economia global, as empresas têm procurado maneiras para reduzir seus custos de desenvolvimento de produtos, suprimento de matérias-primas e distribuição física. Uma maneira para redução de custos é obter benefícios como economia de escaala por manter o produto em um estado semi-acabado, realizando sua diferenciação no momento e local onde a demanda é mais conhecida. Assim, a adoção do postponement, que consiste em retardar a configuração final dos produtos ou sua disponibilidade até que os pedidos dos consumidores sejam recebidos, está sendo cada vez mais adotada pelas empresas, dado a convicção de que ele contribui positivamente, permitindo a customização de produtos, e possibilitando assim atingir as exigências requeridas para gerenciar a complexidade e variedade crescente dos produtos. Apesar de o conceito ter surgido há mais de 50 anos, pouco ainda se sabe sobre sua aplicação, principalmente na indústria brasileira de alimentos. Assim, o presente artigo tem como objetivo investigar quais os fatores condicionantes para a adoção e uso do postponement em empresas da indústria de alimentos. A pesquisa realizada é de natureza qualitativa, onde foi elaborada revisão bibliográfica sobre o tema postponement, seguido por estudo de caso em empresa processadora de suco de laranja. As principais contribuições deste trabalho são maior aprofundamento teórico sobre o tema e a busca de informações que forneçam subsídios para auxiliar à adoção, uso e consolidação do postponement em empresas da indústria de alimentos. Palavras-chaves: postponement, logística, indústria de alimentos, suco de laranja

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1. Introdução A fim de responder melhor e mais rapidamente as mudanças dos mercados atuais, guiados pelos consumidores, com demanda imprevisível, variedade crescente e curtos ciclos de vida dos produtos, as empresas têm modificado rapidamente seus conceitos operacionais e produtivos, buscando principalmente a agilidade e a flexibilidade. A adoção do conceito postponement (do inglês, retardo) é identificada como uma importante abordagem para facilitar a realização de conformidade às exigências do cliente devido sua contribuição para customização dos produtos e serviços (VAN HOEK, 2000a). O assunto vem sendo estudado de forma descontinuada há décadas e as primeiras experiências utilizando o postponement remontam da década de vinte (COUNCIL OF LOGISTICS MANAGEMENT, 1995, p.210). Na literatura acadêmica, o termo foi introduzido primeiramente na literatura de marketing por Alderson (1950), que afirma que em sua essência, o postponement consiste em adiar o máximo possível qualquer movimentação e/ ou configuração final de produtos e serviços no processo produtivo ou distribuição. Assim, o produto não é deslocado até que a localização da demanda (ou ponto de consumo) seja conhecida, ao mesmo tempo em que sua configuração final só acontece quando as preferências do consumidor são conhecidas. Apesar da atenção crescente ao tema, sua aplicação prática ainda é pequena e, muitos estudos se limitam a revisões teóricas ou elaboração de modelos matemáticos e de simulação relacionados ao assunto (ZINN, 1990; ERNST & KAMRAD, 2000; VAN HOEK, 2001; CHUNG & HUNG-CHENG, 2003; SU et al., 2005; BAILEY & RABINOVICH, 2005). Além disso, embora diversos autores tenham estudado a aplicação do postponement em setores onde o conceito é extensivamente aplicado, como roupas, confecções, eletrônicos e automotivo; poucos estudos foram feitos sobre a viabilidade e o uso da teoria do postponement no setor alimentício, onde o conceito ainda é pouco aplicado. Assim, neste artigo procurar-se-á investigar quais os fatores e/ou condições para aplicação do conceito postponement, bem como seu uso em uma empresa processadora de suco de laranja. A pesquisa realizada neste trabalho é de natureza qualitativa, seguido por estudo de caso exploratório em empresa processadora de suco de laranja. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semi-estruturadas realizadas com os responsáveis pelas áreas de produção e logística da empresa pesquisada. Na seção 2 apresenta-se revisão bibliográfica sobre conceitos relacionados ao tema postponement, destacando: definição e tipos de postponement, fatores que favorecem sua adoção, vantagens e resultados obtidos pela aplicação desta estratégia. O estudo de caso relatando a aplicação do postponement em empresa processadora de suco de laranja é apresentado na seção 3, assim como fatores que favorecem sua aplicação nesta empresa e principais impactos observados. Por fim, são apresentadas as considerações finais do trabalho (seção 4), seguido pelas referências bibliográficas. 2. Postponement 2.1. Definição e tipos de postponement O postponement é uma prática que está crescendo e sendo cada vez mais difundida na literatura acadêmica e em aplicações práticas. O conceito foi introduzido primeiramente na literatura de marketing por Alderson (1950), que nota que o postponement pode mudar a diferenciação dos bens (forma, identidade e posição do estoque) a um momento tão tarde quanto possível, aproximando-se ao ponto de explicitação da demanda. Postergar a

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movimentação do produto foi denominado de “postergação de tempo” (time postponement), enquanto a postergação na diferenciação do produto foi denominada de “postergação de forma” (form postponement). Em 1965, Bucklin agregou mais detalhes ao trabalho de Alderson, estudou limites de aplicação da estratégia e criou o conceito oposto ao de postponement, o da especulação. A especulação é o inverso do postponement e consiste em finalizar todas as operações o mais cedo possível no processo de manufatura (BUCKLIN, 1965). Depois de 1965, poucos trabalhos abordaram o assunto, e o tema foi retomado no final da década de 80 por Zinn & Bowersox (1988) que propuseram que o conceito do postponement poderia ser separado em cinco diferentes tipos, cada qual com uma estrutura de custo própria. Além do postponement de tempo, o autor destaca quatro tipos de postponement de forma: etiquetagem/rotulagem, embalagem, montagem e manufatura. No postponement de etiquetagem, a etiqueta só é afixada uma vez que o produto foi vendido numa marca dentre as diferentes oferecidas pela empresa. No postponement de embalagem, o produto só é embalado após este ter sido vendido em um tamanho, quantidade ou tipo particular de embalagem. Da mesma forma, no postponement de montagem, os componentes são montados na forma final do produto após o pedido ser recebido. Finalmente, no postponement de manufatura, somente uma fração dos componentes do produto é expedida. Uma vez próximo ao mercado, o produto é então finalizado com a adição de materiais locais. Bowersox & Closs (1996) definem dois tipos de postponement: o postponement de manufatura ou forma e o postponement logístico ou de tempo. O postponement de manufatura consiste fabricar um produto base ou padrão em quantidades suficientes para realizar economia de escala, enquanto as características de finalização, tais como cor, sejam adiadas até que os pedidos dos consumidores sejam recebidos. Já o postponement logístico consiste em manter toda linha de produtos em estoque já diferenciados e centralizados. O deslocamento dos estoques é adiado até o recebimento do pedido dos clientes. Quando a demanda ocorre, os pedidos são transportados diretamente ao varejo ou ao consumidor. Um importante conceito ao se abordar o tema postponement é o de Customer Order Decoupling Point (CODP - ponto de desacoplamento do pedido do consumidor), que é o ponto do processo de produção até onde o consumidor exerce influência direta na produção, ou ainda, é o ponto de separação entre o que é produzido para estoque e o que é produzido sob encomenda (PIRES, 2004). Além disso, o CODP especifica a posição na cadeia de suprimentos onde a customização ocorre. 2.2. Fatores que favorecem a adoção do postponement Entre os fatores operacionais que influenciam o postponement, Van Hoek (1999) destaca: intensidade de utilização de tecnologia da informação integrando os processos internos e os processos interorganizacionais; níveis de turbulência do mercado; freqüência de mudança tecnológica de produtos e processos; nível de complexidade da etapa final do processo de manufatura; grau de modularidade e padronização do produto; nível de diferenciação possível durante o estágio final do processo de manufatura e número de atividades de customização realizadas pela operação. Para Sampaio (2003), o aumento da competitividade e os avanços da tecnologia da informação são importantes fatores que influenciaram a adoção do postponement no mercado brasileiro recentemente. A questão não é querer implementar o postponement, mas sim, poder, isto é, ter a organização construída de forma consciente, consistente e sistemática as condições mínimas de estrutura, infra-estrutura e relacionamento interorganizacional necessárias para sua implementação.

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Em sua tese de doutorado, o mesmo autor investigou a aplicação do postponement em cinco empresas (duas automobilísticas, tintas, computadores e em uma doceria) e destacou os fatores operacionais que favoreceriam a aplicação do postponement no Brasil. Estes foram agrupados em dimensões relacionadas ao produto, processo, mercado, cadeia de suprimentos e tecnologia, conforme destacado no quadro 1: Dimensão Produto Processo

Mercado Cadeia de Suprimentos

Liderança Tecnologia

Aspectos Modularidade; Formulação específica do produto; Complexidade e customização final; Densidade Monetária Processo Modular; Processos Produtivos Sobrecarregados; Processos de Manufatura Flexíveis; Pulmão Estratégico; Economia de Escala Variação da Demanda; Volume; Estágio do Ciclo de Vida; Ciclo de vida; Tempo de Entrega; Freqüência de entrega; Adoção Relacionamento colaborativo; Resposta rápida dos fornecedores; Proximidade com os fornecedores; Sequenciamento de peças; Legislação; Treinamento; Sistema pós-venda Estratégia da Organização; Comprometimento E-commerce; Sistema de pagamento; Fornecedores de equipamentos

Quadro 1 - Fatores operacionais que favorecem a aplicação do postponement no Brasil. Fonte: SAMPAIO (2003).

Na cadeia de suprimentos da indústria de alimentos, pesquisas prévias têm projetado a viabilidade total do postponement. Morehouse & Bowersox (1995) predisseram que no futuro próximo aproximadamente 50% de todos os estoques (na agroindústria) serão mantidos em um estado semi-acabado esperando por processamento final e empacotamento baseado nos pedidos dos consumidores. Apesar destas fundamentações teóricas do conceito de postponement, as empresas alimentícias têm começado a executar sistemas de produção postergada somente recentemente e de forma lenta. 2.3 Vantagens e resultados obtidos pela aplicação do postponement O postponement tem como principal objetivo retardar a configuração final dos produtos até que os pedidos dos consumidores sejam recebidos, podendo representar uma resposta das indústrias a mercados turbulentos. Diversos autores têm apontado os possíveis benefícios do postponement (ZINN, 1990; VAN HOEK, 2000 b; VAN HOEK, 2001; YANG et al., 2004), dentre os quais se destacam menores ciclos de desenvolvimento de produtos, diminuição de custos devido à: vendas perdidas, agilidade na cadeia de suprimentos e o aumento na confiabilidade de entrega. Vantagens relacionadas à logística, como diminuição das despesas, diminuição de custos com transporte e estoques e agilidade para responder rápido às mudanças nas preferências dos consumidores são também destacadas. Estas melhorias são de suma importância, pois segundo Stalk (1988) sem otimização, os custos de manufatura normalmente aumentam a uma taxa de 25 a 35% por unidade cada vez que a variedade dobra. Além disso, na cadeia de suprimentos de alimentos processados, o custo logístico como percentual do valor agregado representa entre 30 a 40% do valor total destes produtos (LAMBERT et al, 1998). Assim, o ganho esperado é pela agilidade na configuração final dos produtos / redução de custos logísticos / aumento no nível serviço ofertado, proporcionado pelo atraso na configuração final ou postergação logística.

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Deve-se também ressaltar que pesquisas envolvendo o tema postponement têm crescido nos últimos anos e alguns autores têm apontado resultados obtidos nos diferentes setores. Em pesquisa entre 3700 companhias, o Council of Logistics Management (apud Van Hoek et al., 1999) concluiu que mais de 40% dos entrevistados norte-americanos e quase 50% dos europeus empregam estratégias de postponement mais frequentemente do que nos cinco anos atrás. Em pesquisa realizada pela Oracle/ Cap Gemini Ernest & Young, Matthews & Syed (2004) verificaram que os líderes na implementação bem sucedida de postponement têm custo total de estoque reduzido em mais que 40%. Resultados semelhantes foram encontrados na aplicação deste conceito em uma empresa de software, onde o postponement permitiu a redução dos custos operacionais da empresa em mais que 30%, basicamente devido a melhor gestão de estoques e custos de transporte reduzidos (VAN HOEK et al., 1999). No setor automobilístico, Hamzagic (2003) investigou o retardamento da montagem final em uma montadora. Os ganhos para a montadora abrangem: reduções do estoque da referida matériaprima, atendimento personalizado das necessidades de produção, proximidade do fornecedor, promovendo um relacionamento mais estreito e transparente. Resultados da aplicação do postponement no setor têxtil são também destacados por Cunha (2002) que investigou o tema na malharia Henring. De acordo com a mesma autora, apesar de deficiências observadas na implantação do postponement, a aplicação desse conceito permitiu a redução de lead time na produção da empresa. Baseado nestas pesquisas é possível destacar os benefícios da aplicação do postponement em diferentes setores como o automobilístico, computadores e têxtil. Este estudo busca identificar o uso e os fatores que condicionam a aplicação deste tema em empresas do setor alimentício, onde o conceito é ainda pouco difundido. 3. Estudo de Caso: Empresa Processadora de Suco de Laranja (Empresa X) A seguir são apresentados os resultados do estudo realizado em empresa processadora de suco de laranja, destacando: o perfil da empresa pesquisada, o processo de definição e produção do suco de laranja, o uso do postponement, seus principais facilitadores e impactos proporcionados pela aplicação desta estratégia na empresa investigada. Por motivo de sigilo, a empresa estudada foi denominada Empresa X. 3.1. Caracterização da Empresa A Empresa X foi fundada em 1963 no estado de São Paulo e é uma das maiores produtoras de suco concentrado e congelado no país, possuindo cerca de 30% de market share brasileiro. Dentre os seus principais produtos estão o suco concentrado e congelado e o suco natural. Além destes, são produzidos alguns sub-produtos como: óleo de laranja, essências e polpa cítrica, que tem aplicação na fabricação de produtos químicos e solventes, aromas e fragrâncias, tintas, cosméticos, complemento nutricional para ração animal, entre outros. Aproximadamente 99% da sua produção de suco é exportada para os diversos países, atingindo todos os continentes. Somente uma pequena parcela é vendida no Brasil. A empresa possui 4 unidades produtivas, sendo três localizadas no Brasil, nas cidades de: Bebedouro, Limeira e Matão, e uma no exterior, nos EUA. Emprega aproximadamente 1700 funcionários no Brasil. 3.2. O processo de definição do suco Na empresa X são produzidos basicamente dois tipos de sucos: o suco concentrado e congelado e o suco natural. Aproximadamente 60% da sua produção destina-se a fabricação do suco concentrado e congelado, e os 40% restantes, o natural.

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O suco natural, como o próprio nome diz, é um suco extraído naturalmente da laranja, sem diluição ou adição de componentes, pronto para ser consumido. Já o suco concentrado e congelado é obtido por meio do processo de extração e concentração da polpa da laranja, sendo, após este processo, congelado a baixas temperaturas para preservar suas propriedades naturais. Neste caso, a customização final do suco, como sua diluição, adição de açúcar, essência, embalagem, rótulo e outros componentes, é realizada pelos clientes de acordo com as características de cada mercado. O suco concentrado e congelado ainda é sub-dividido em duas categorias que caracterizam sua forma de processamento e venda. São elas: o suco denominado standard (ou padrão) e o suco especial. O suco standard constitui-se de uma preparação padrão (ou base), para que o processamento final do suco seja realizada posteriormente. Dentro desta categoria são produzidas duas a três bases, separadas de acordo com as características dos mercados a que se destinam. Já o suco especial é mais customizado, produzido dentro de características prédeterminadas pelos clientes. Neste caso, embora a configuração final também seja realizada pelos clientes (responsáveis pela diluição, embalagem e distribuição do suco), algumas vezes, suas características já devem ser definidas desde o momento do plantio e separação da laranja, que forneça um suco com as propriedades e sabor exigidos pelos clientes. Após o processamento e transformação da laranja em suco concentrado e natural, este é estocado nas unidades produtivas da empresa X até ser transportado aos clientes. Das unidades produzidas localizadas no Brasil, o suco é levado até o centro de distribuição da empresa localizado no porto de Santos por caminhões termicamente isolados. No porto de Santos, o suco é transportado em tambores (mercado menor) ou a granel (mercado maior) para os países onde estão localizados os clientes, sob condições de temperatura controlada. 3.3. Visão geral do postponement na empresa X O tipo de postponement empregado pela empresa X é o postponement de forma (ou manufatura), que foi verificado em diferentes atividades, conforme será detalhado a seguir. O postponement de tempo (ou postponement logístico) não é adotado pela empresa. Antes de descrever como ocorre o postponement na empresa X, é importante ressaltar que conforme já mencionado, os clientes da empresa na compra do suco (concentrado e congelado ou natural) são as empresas responsáveis pela customização final do suco (diluição, embalagem e distribuição). O suco que chega aos atacadistas e varejistas e que posteriormente são adquiridos pelo consumidor final, não é fornecido pela empresa X, ou seja, não existe no mercado final um produto com a marca da Empresa X. A intensidade da personalização e aplicação do postponement na empresa X depende do tipo do suco a ser fabricado. No caso do suco natural, por exemplo, ocorre principalmente o postponement de forma nas atividades de embalagem e rotulagem, onde o suco natural, em 90% dos casos, é enviado praticamente pronto ao cliente, sendo necessária apenas o processo de adição de embalagem e rótulo. Já para o suco congelado e concentrado (principalmente o standart), a aplicação de postponement de forma e customização é mais intensa. Neste caso, ocorre a postergação de forma na manufatura e nas atividades de embalagem e rotulagem. Toda etapa de abastecimento e de produção é feita pela empresa X para estoque e em formulação praticamente única do suco concentrado. Este é então transportado até o país do cliente, onde após a chegada ao destino, pode então ser customizado (geralmente por empresa independente e parceira no processo de distribuição), de acordo com a embalagem, volume, diluição, adição de essência, etc., requeridos pelo mercado local. Dessa forma o ponto de

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desacoplamento na cadeia de suco é deslocado para mais próximo do mercado consumidor, onde estão localizadas as empresas re-processadoras e distribuidoras. 3.4. Fatores para aplicação e principais impactos do postponement na empresa X Para identificar os fatores que condicionam/favorecem a aplicação do postponement de forma na empresa de suco de laranja investigada, utilizou-se como referência as características operacionais para implementação do postponement em empresas brasileiras identificadas por SAMPAIO (2003) em pesquisas em outros setores (no quadro 1). Para tanto, os fatores que facilitam a adoção do postponement encontrados na revisão bibliográfica foram confrontados com os obtidos na pesquisa empírica. No quadro 2 são apresentados os fatores comuns entre literatura e prática, e os fatores adicionados pelos entrevistados da empresa X, classificados nas dimensões produto, processo, mercado, gestão da cadeia de suprimentos e tecnologia. Dimensão

Produto

Processo

Mercado

Gestão da Cadeia de Suprimento

Tecnologia

Aspectos Modularidade Variação do peso do produto Variação do volume do produto Variação no tamanho da embalagem Densidade Monetária (preço do produto) Intensidade da Personalização Complexidade e customização final Processo Modular Processos de Manufatura Flexíveis Economia de Escala Variação da Demanda Volume de vendas Estágio do Ciclo de Vida Ciclo de vida Tempo de Entrega Freqüência de entrega Relacionamento colaborativo Resposta rápida dos fornecedores Proximidade com os fornecedores Treinamento Uso de tecnologias para simulação Troca eletrônica de informações Fornecedores de equipamentos

Postponement de forma Sim Sim Sim Sim Sim Média- Elevada Baixa Sim Sim Sim Média Elevado Maturação 45 dias a 36 meses 30 a 40 dias Elevada Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim

Quadro 2 - Fatores operacionais que favorecem a aplicação do postponement na Empresa X Fonte: ENTREVISTAS

Cabe ressaltar que no quadro 2 foram apresentados apenas os fatores avaliados positivamente, ou seja, os fatores que condicionam e contribuem para a prática do postponement pela empresa X. A legislação que foi considerada facilitadora na revisão bibliográfica, não foi considerada condicionante da prática do postponement na empresa X, e por isso não foi inserida no quadro 2. Alguns fatores como variação do peso, volume e embalagem foram considerados facilitadores e impulsionadores do uso do postponement nesta empresa. Embora estes não sejam identificados como condicionantes a adoção do postponement em empresas brasileiras de outros setores estudadas por SAMPAIO (2003), também aforam apontados por alguns autores na literatura internacional como facilitadores.

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Embora todos os fatores destacados no quadro 2 sejam considerados significantes para aplicação do postponement, alguns necessitam maior explicação, sendo destacados a seguir. O aspecto ciclo de vida foi considerado um fator que influência na aplicação do postponement, podendo variar na empresa X de 45 dias (considerando que o produto seja fabricado e entregue diretamente ao cliente) a 36 meses, que é o prazo máximo de validade do produto. Em geral, este fica armazenado na Empresa X no máximo 14 meses. Outro fator a ser destacado é o tempo de entrega, que pode variar de 30 a 40 dias na empresa X (transporte ferroviário até o porto de Santos, mais transporte hidroviário até os países de destino, e finalmente transporte rodoviário até as empresas re-processadoras e distribuidoras do suco de laranja). Este tempo é relativamente longo e para atender rapidamente os clientes, a empresa X mantém estoque do seu produto em diversos continentes. Este fator contribui a aplicação do postponement, pois com o estoque do suco concentrado em bases padrão, a empresa pode atender seus clientes mais rapidamente. Em relação aos impactos proporcionados pelo uso do postponement, estes foram significativos na empresa investigada. O primeiro deles foi a possibilidade de maior customização do produto e melhor atendimento ao cliente. A utilização de bases de suco concentrado e congelado separadas de acordo com os grupos de clientes possibilitou maior flexibilidade na fabricação do produto e atendimento do cliente, permitindo realizar a configuração final do produto de acordo com as necessidades de cada mercado consumidor. Além das vantagens nas operações produtivas, o uso do postponement possibilitou ganhos logísticos na gestão de estoques e transportes. Nas atividades de estoque, o uso do postponement permitiu reduzir e otimizar o espaço para armazenagem de produtos, uma vez que com as bases de suco concentrado não é mais necessário ter um espaço reservado para o estoque de determinado tipo de suco para cada cliente especifico. Na gestão de transportes, o uso do postponement permitiu melhorias no planejamento e gestão dos meios de transporte, possibilitando a movimentação de maior quantidade de produtos, reduzindo o número de viagens e evitando a necessidade de fretes adicionais. Além disso, uma das grandes vantagens proporcionadas pelo postponement é a armazenagem e transporte do suco com menor peso e volume em relação ao suco já pronto para beber. Conforme já mencionado o suco concentrado, possui em geral, apenas 34% de água em relação ao produto final. Finalmente, pode-se afirmar que todas essas vantagens proporcionadas pela prática do postponement no processo de obtenção do suco de laranja permitem a empresa X a redução significativa de seus custos operacionais e logísticos. 4. Considerações Finais Este trabalho investigou o uso do postponement de forma em empresa processadora de suco de laranja concentrado e congelado. Baseado na revisão bibliográfica foi possível notar que existem poucos trabalhos que investigam aplicação do conceito postponement em empresas da indústria de alimentos brasileira. Porém, esta prática vem crescendo nestas empresas. O postponement é usado na empresa X na produção do suco natural e concentrado e congelado. No caso do suco natural, adotou-se o postponement de forma nas atividades de embalagem e rotulagem, que é realizado pelas empresas clientes da empresa X. Já para o suco concentrado e congelado, o postponement de forma foi encontrado também na atividade de fabricação e customização final do produto, além das atividades de embalagem e rótulo. Os fatores que facilitam a aplicação do postponement na empresa processadora de suco de laranja investigada foram destacados neste trabalho de acordo com as respostas dos entrevistados e classificados nas dimensões do produto, processo, mercado, gestão da cadeia

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de suprimentos e tecnologia. O uso de postponement na fabricação do suco concentrado e congelado trouxe resultados significativos para empresa X, onde é possível destacar a redução de: custos operacionais e logísticos, níveis e giro de estoque, fretes adicionais; otimização e redução dos locais de armazenagem, maior flexibilidade e rapidez no atendimento ao cliente; e maior customização do produto final, entre outros. Por fim, cabe ressaltar que a aplicação deste conceito têm crescido nas empresas alimentícias. Novas pesquisas sobre a aplicação do postponement em outros segmentos da indústria de alimentos podem corroborar para maior entendimento e aplicação deste conceito no setor. 5. Referências ALDERSON, W. Marketing efficiency and the principle of postponement. Cost and profit outlook, n.3 p. 1518, 1950. BAILEY, J.P; RABINOVICH, E. Internet book retailing and supply chain management: an analytical study of inventory location speculation and postponement. Transportation Research Part E: Logistics and Transportation Review, v. 41, n. 3, p.159-177, 2005 BOWERSOX, D. J., CLOSS, D J. Logistical Management: The Integreted Supply Chain Process. New York, NY: McGraw-Hill, 1996. BOWERSOX, D. J., CLOSS, D J. Logística empresarial: o processo de integração da cadeia de suprimento. São Paulo: Atlas, 2001. BUCKLIN, L.P. Postponement, speculation and the structure of distribution channels. Journal of Marketing Research, v.2, p. 26-31, 1965. CHUNG, Y.; HUNG-CHENG, Y. A cost model for determining dyeing postponement in garment supply chain. International Journal of Advanced Manufacturing Technology, v. 22, p.134-140, 2003. COUNCIL OF LOGISTICS MANAGEMENT. World Class Logistics: The challenge of Managing Continuous Change. United State of America: Oak Book, 1995, 423p. CUNHA, D.C. Avaliação dos resultados da aplicação de postponement em uma grande malharia e confecção de Santa Catarina. 2002. 173 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) - Departamento de Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2002. ERNST, R.; KAMRAD, B. Evaluation of supply chain structures through modularization and postponement. European Journal of Operational Research, v.124, p.495-510, 2000. HAMZAGIC, M. Flexibilidade de entrega na montadora e postpoponement. 2003. 166p. Dissertação (Mestrado em Administração) - Departamento de Economia, Contabilidade e Administração da Universidade de Taubaté, Taubaté, 2003. LAMBERT, D.M; STOCK, J.R.; VANTINE,J.G. Administração estratégica da logística. São Paulo: Vantine Consultoria, 1998. MATTHEWS, P. ; SYED, N. The Power of postponement. Supply Chain Management, abril, 2004. Disponível em: < http://www2.isye.gatech.edu/~pinar/teaching/isye3104-fall2004/postponement.pdf>. Acesso em: fev.2006. MOREHOUSE, J.E.; BOWERSOX, D.J. Supply Chain Management. Logistics for the Future. Food Marketing Institute, Washington, D.C., 1995. PIRES, S.R.I. Gestão da cadeia de suprimentos: conceitos, estratégias, práticas e casos - supply chain management. São Paulo: Atlas, 2004. VAN HOEK, R.I. Postponement and the reconfiguration challenge for food supply chains. Supply Chain Management, v. 4, n.1, p.18-34, 1999. _______. The thesis of leagility revisited. International Journal of Agile Management Systems, v.2, n.3, p.196-201, 2000a. _______. Role of third party logistic services in customization through postponement. International Journal of Service Industry Management, v.11, n.12, p.374-387, 2000b.

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