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CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA LEITURA, INTERPRETAÇÃO E PRODUÇÃO DE TEXTOS I Aula 5: COMO ESCREVER ADEQUADAMENTE TEXTUALIDADE I – FRASE, ORAÇÃO, PERÍODO E PARÁGRAFO Frase Frase é todo enunciado lingüístico capaz de transmitir uma idéia. A Frase não necessariamente virá acompanhada por um sujeito, verbo, e predicado, como segue o exemplo: Cuidado! (aqui "Cuidado!", temos um prático exemplo do que viria a ser uma frase, pois nos transmitiu uma idéia, a idéia de ter cuidado, e/ou ficar atento, e não há um único verbo, ou sujeito, muito menos predicado). A frase se define pelo propósito de comunicação, e não pela sua extensão. O conceito de frase portanto, abrange desde estruturas lingüisticas muito simples até enunciados bastante complexos
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Tipos de frases Frases nominais São aquelas que não apresentam verbos que indicam ação, mas, sim, que apresentam um estado da realidade. Exemplos: Blusa da Bia. Menina feliz.
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Frases verbais Frases verbais são frases que possuem verbos. Exemplos: Corra até o carro. Pule bem alto!
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Outros tipos de frases Frase idiomática ou expressão idiomática: É a que não é traduzida literalmente para outro idioma. No caso, em cada língua a idéia da frase é expressa por palavras totalmente diferentes. Exemplo português-inglês: Ele está na pior. = He’s down and out. (Literalmente: Ele está abaixo e fora). Frase feita: É a que, a fim de expressar determinada idéia, é dita sempre de forma invariável. Exemplo: Ele foi pego com a boca na botija. Note-se que às vezes uma frase feita é, ao mesmo tempo, uma expressão idiomática. Por exemplo, a frase feita acima citada é dita em inglês como He was caught red-handed.), ou, literalmente: ele foi pego com as mãos vermelhas. Frase formal (não-coloquial, não-popular) : É a dita segundo as normas da linguagem padrão ou formal. Esta é usada formalmente por escrito, e em circunstâncias formais também oralmente, em textos não raro mais longos (em relação a textos sinônimos coloquiais), às vezes com palavras difíceis (não do conhecimento da população em geral). Frase coloquial (coloquialismo) : É a dita de forma coloquial, ou seja, usando-se uma linguagem simples, em geral oralmente, com textos resumidos e informais. Uma frase coloquial pode conter erros gramaticais (uma ou mais palavras não na linguagem padrão), mas costuma ser falada por qualquer pessoa, não importa o seu nível social. Exemplos: Formal: Está certo (concordo). Coloquial: Tá certo. Formal: Sou totalmente indiferente quanto a isto. Coloquial: Tô nem aí. Formal: Sua afirmação foi encarada com ceticismo. Coloquial: Não acreditaram no que ele disse. Formal: Paradoxalmente; Coloquial: Ao contrário do que todo mundo pensa. Formal: Ele foi flagrado. Coloquial: Ele foi pego com a boca na botija.
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ESTRUTURA DO PARÁGRAFO 1. O parágrafo é um conjunto de enunciados que se unem em torno de um mesmo sentido. 2. Não se deve esgotar o tema no primeiro parágrafo. Este deve apenas apontar a questão que vai ser desenvolvida. 3. O parágrafo seguinte é sempre uma retomada de algo que ficou inexplorado no parágrafo anterior ou anteriores. Pode ser uma palavra ou uma idéia que mereça ser desenvolvida. 4. Um texto é constituído por parágrafos interdependentes, sempre em torno de uma mesma idéia. 5. Reconheça mentalmente o que você sabe sobre o tema. É possível fazer um plano, mas talvez seja mais prático você listar as palavras-chave com que vai trabalhar. Preocupe-se com a seqüenciação do texto, utilizando os recursos de coesão de frase para frase e de parágrafo para parágrafo, sem perder de vista a coerência. 6. O parágrafo final deve retomar todo o texto para concluí-lo. Por isso antes de escrevê-lo, releia tudo o que escreveu. A fim de fechar bem o texto, o parágrafo conclusivo deve retomar o que foi exposto no primeiro. 7. Todo texto representa o ponto de vista de quem o escreve. E quem escreve tem sempre uma proposta a ser discutida para poder chegar a uma conclusão sobre o assunto. 8. O texto deve demonstrar coerência, que resulta de um bom domínio de sua arquitetura e do conhecimento da realidade. Deve-se levar em conta a unidade de ideias, aliada a um bom domínio das regras de coesão. 9. Desde que o tema seja de seu domínio e você tenha conhecimento dos princípios de coesão e da estruturação dos parágrafos, as dificuldades de escrever serão bem menores. 10. Leia tudo o que for possível sobre o tema a ser desenvolvido para que sua posição seja firme e bem fundamentada. Como escrever bem? O ato da escrita requer um exercício constante de aperfeiçoamento, por isso é necessário sempre a reescritura do texto. Há também algumas noções importantes a serem observadas. Verifique: 1. A clareza das idéias é obtida com o uso de palavras essenciais e simples, o que torna o texto mais conciso e natural. Use também, se possível, palavras curtas. Lembre-se, portanto, de que a concisão constitui um dos princípios determinantes para escrever bem. 2. A expressividade depende da escolha de palavras específicas, de maior precisão. O emprego do substantivo concreto se impõe ao abstrato; o específico ao genérico. Os verbos de ação, na voz direta, devem ter preferência na produção de um texto, como também os adjetivos e os advérbios que acrescentem informações. 3. A simplicidade de ser uma característica marcante em qualquer texto, pois o emissor escreve para diversos tipos de interlocutores que precisam entender a mensagem. 4. A ordem direta constitui a norma essencial de quem escreve, porque ela encaminha mais facilmente o leitor à compreensão do texto. Portanto, seja objetivo e redija sem rodeios. 5. A originalidade prevalece quando se evitam formas e frases desgastadas, assim como o emprego excessivo da voz passiva (será feito, será revisto). Escreva com criatividade, escolhendo
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palavras conhecidas, sem rebuscamento, sem pedantismo vocabular e sem falsa erudição. Assim será possível produzir frases fluentes, objetivas e bem estruturadas. 6. A escolha das palavras deve seguir um critério rigoroso. Evite termos técnicos, modismos, lugares-comuns ou chavões, preciosismos e formas desgastadas pelo uso freqüente. Use uma linguagem elegante, criativa, e observe as estruturas e a pontuação do seu texto. Entretanto, somente esses critérios não asseguram a criação de um bom texto. É necessário adequar a linguagem, variando-a de acordo com o interlocutor. Deve-se observar a finalidade do texto e a intenção comunicativa para que a produção textual atinja de forma satisfatória os diversos interlocutores, tendo em vistas as variantes lingüísticas e textuais. Quanto à correção gramatical, nem sempre textos gramaticalmente perfeitos representam bons textos. Há certas situações de comunicação em que se usa a variedade padrão da linguagem, mas existem casos em que a fala do personagem exige o uso de uma expressão popular, nem sempre correta segundo a gramática normativa. Continuidade e progressão textual Como você sabe, um texto não é uma reunião de frases soltas. Como unidade de sentido que é, ele precisa apresentar textualidade. A continuidade e a progressão textual são dois dos elementos essenciais da textualidade. O texto que segue é de Jairo Bouer, médico e apresentador de programas na TV. Leia-o, observando o modo como o autor desenvolve suas idéias. Em seguida, responda às questões propostas. Por que falar sobre drogas? [...] Quem nunca ouviu um amigo, um colega de escola, ou até mesmo alguém da família falando sobre drogas? Muitos, inclusive, já viram em sua frente um comprimido, um inalante ou mesmo um cigarro de maconha. Isso sem falar nas drogas lícitas (que não têm a venda proibida para maiores de 18 anos), que são o álcool e o cigarro. Uma pesquisa realizada pelo Cebrid (Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas Psicotrópicas), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), feita com mais de 15 mil estudantes de ensino fundamental e médio de dez capitais do Brasil em 1997 revela alguns resultados impressionantes. Por exemplo: 25% dos estudantes já experimentaram alguma droga (exceto tabaco e álcool) na vida. Isso quer dizer que de cada quatro jovens que estão na escola, um já experimentou, pelo menos uma vez na vida, algum tipo de droga. Os solventes vêm em primeiro lugar, seguidos por maconha, ansiolíticos (calmantes), anfetaminas e cocaína. De 3% a 5% dos jovens fazem uso freqüente (seis ou mais vezes no mês) de alguma substância ilícita. Essa pesquisa foi feita antes da disseminação das drogas sintéticas (“club drugs”) na noite das grandes cidades. Hoje, ecstasy, quetamina, GHB, ice e outras do mesmo time também estão mais próximas dos jovens. Mas esse não é um fenômeno só daqui. Dados do CDC (Centro de Controle de Doenças) dos Institutos Nacionais de Saúde, em Atlanta (EUA) mostram que, apesar da idade legal para beber nos EUA ser 21 anos, 79% dos estudantes de ensino médio já experimentaram bebidas alcoólicas ao menos uma vez e um quarto deles relatou usar drogas com freqüência. Os adolescentes respondem por 25% de todo o álcool consumido nos EUA. O uso de drogas sempre foi marcadamente masculino. Mas, nos últimos anos, o consumo entre garotas também cresceu. Na pesquisa do Cebrid, maconha, solventes e cocaína são drogas mais usadas por garotos. Ansiolíticos e anfetamínicos (remédios para emagrecer) são mais usados
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pelas mulheres. Nos EUA, em 1999, uma Pesquisa Nacional sobre Drogas ouviu mais de 25 mil jovens de 12 a 17 anos e descobriu que 16% das garotas e 16,7% dos garotos tinham experimentado alguma droga. Fase de risco A adolescência é uma fase de mudanças. Toda mudança gera alguma angústia. Insegurança, timidez e problemas com auto-estima podem fazer com que o jovem procure algum tipo de droga. Muitas vezes, ele não consegue perceber que conversar, fazer amigos e aprender a superar seus limites podem ser caminhos muito mais criativos para lidar com as dificuldades. Nessa fase, a descoberta de possibilidades, a curiosidade, a inquietação, a pressão do grupo, tudo isso também pode trazer a ilusão de que drogas podem abrir novas portas. Mas será que é preciso mesmo experimentá-las? As pesquisas, dados e opiniões de especialistas apontam para conclusões comuns quando falam do contato dos jovens com as drogas: se você não experimentou drogas, tente manter essa postura. A maior parte dos jovens ainda não fez isso também. Não é ruim você não ter tido essa experiência. Na adolescência, o risco de alguém que experimenta drogas se tornar um usuário freqüente é maior do que na vida adulta. Quem já experimentou e continua usando eventualmente precisa prestar atenção ao impacto que a droga está produzindo em sua vida, além das complicações legais por causa do uso de substâncias proibidas. Às vezes, sem perceber, um usuário eventual de maconha, por exemplo, pode ter sua atenção e seus reflexos comprometidos e se colocar em situação de risco quando dirige um carro ou mesmo quando atravessa uma rua. No caso do álcool e das drogas, a repercussão também pode ser bem complicada na vida do adolescente. Para quem está usando com freqüência é importante buscar a ajuda de um terapeuta para entender como o padrão de consumo pode comprometer a vida. Quem está dependente não deve perder tempo e precisa de apoio imediato. [...] (Folha de São Paulo, 12/03/2004. Folhateen) 1. Um dos fatores mais importantes para que um texto apresente textualidade é a existência de marcas de continuidade, isto é, palavras ou expressões que retomam termos e idéias anteriormente expressos para, em seguida, acrescentar informações novas (progressão). Observe o primeiro parágrafo do texto, que se inicia com a frase “Quem nunca ouviu um amigo, um colega de escola, ou até mesmo alguém da família falando sobre drogas?” a. Que palavra, empregada posteriormente, retoma a idéia contida nessa frase? b. Que palavras ou expressões, empregadas posteriormente, retomam e ampliam a expressão drogas, mencionada na primeira frase? 2. Que idéias do primeiro parágrafo o segundo e o terceiro parágrafos retomam e ampliam? 3. As marcas de continuidade, além de estabelecerem relações do interior de um parágrafo, podem estabelecer também relações entre os parágrafos. Observe o quinto e o sexto parágrafos do texto. a. Identifique as palavras a que ligam esses parágrafos ao(s) anterior(es). b. Com a palavra fenômeno, o autor retoma uma situação descrita anteriormente. Qual é essa situação? 4. O sexto parágrafo se inicia com a frase “Mas esse não é um fenômeno só daqui”.
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a. Que tipo de relação a palavras mas estabelece entre o que foi dito e o que ainda vai ser dito? Indique a melhor opção. . Comparação . Condição . Oposição . Causa e consequência Leia com atenção os textos abaixo. Assuma um posicionamento e escreva um texto de três ou quatro parágrafos. TEMA: A esmola Texto A: A favor da esmola Nunca consigo deixar de dar esmola. Quando vejo uma pessoa na miséria absoluta, meto a mão no bolso e dou uma ajuda. Naquele momento em que recebe uma esmola, a pessoa excluída de um processo social injusto pode comer alguma coisa. Em tese, pode ser correta esta idéia de que "dar esmola não é bom nem para quem dá nem para quem recebe". Mas, na prática, a realidade é outra. Quem pede esmola está ou deve estar com fome. Vivo esta contradição, e acho que é a mesma que, no fundo, todo mundo vive. O ideal seria um mundo sem esmola, em que todos tivessem emprego, ganhassem seu salário, tivessem a sua dignidade, sua cidadania resguardada. Mas, infelizmente, nós vivemos em um país onde 20%. da população vive na indigência. Com tanta miséria, o que eu vou fazer no momento em que um menino, com fome. descalço, visivelmente fraco, me pede uma esmola? Vou dizer para ele: não. vá trabalhar! Não posso dizer isso. Estas campanhas como "não dê esmola" só terão validade se antes for criada urna alternativa verdadeira. Se não, tomam-se perversas. Na situação atuai, negar uma esmola a um excluído é um ato de insensibilidade. Não é difícil acabar com a miséria no Brasil. Mas não basta apenas o discurso. A comparação entre o que se faz na área social com o que se faz para salvar bancos é válida, porque para algumas coisas no Brasil somos rápidos e eficientes, mas. para outras, somos lentos e ineficientes, como no trato da questão social. A miséria é uma vergonha para todos nós, às vezes cúmplices. Em alguma medida pudemos ter responsabilidade, uns muito mais do que a maioria. A esmola não é alienante, quando é a única ação contra a miséria. Eu não posso, ao ver uma pessoa cair na rua, dizer, comodamente: um médico é que deve atender você; Acho que contemplar ou passar por cima é a pior coisa que uma pessoa pode fazer. (Herbert de Souza, Istoé, 19 jun. de 1996). Texto B: Contra a esmola Esmola é o que se dá por caridade a alguém que necessita. Deve ser evitada e utilizada em último caso, quando todas as outras alternativas falharam. A todo ser humano, qualquer que seja a situação, em que esteja vivendo, é preciso garantir dignidade. Desde o direito à privacidade, ao livre arbítrio, à educação, até o direito ao trabalho através do qual se entende que a própria pessoa possa administrar sua vida e obter o que necessita para viver. Quando uma família se desestrutura, quando enfrenta alguma tragédia, doença prolongada de seu chefe, ou alguma impossibilidade para o trabalho, deve-se entender que esta situação não é definitiva e tem que ser encarada como passageira. Neste momento, quando se recorre à esmola, leva-se junto com ela também a humilhação, o rebaixamento à condição de favor. Ou seja, junto com o aro da caridade está implícito o aro de vontade: dou porque quero, não tenho obrigação. Com a esmola o direito acaba e o necessitado perde a condição de ser humano sujeito de direitos e passa à condição de objeto que vai receber alguma coisa dependendo da vontade de quem dá ou de quem a administra. Por não se tratar de direitos, a administração da esmola também não tem critérios objetivos, ou seja, dáse sempre a quem vê, a quem está mais perto e nem sempre a quem mais necessita. Uma sociedade que conta com políticas públicas para crianças, idosos, doentes e desempregados não precisa lançar mão de esmolas. A manutenção de políticas sociais estáveis, além de garantir direitos, tem também de garantir a universalidade do atendimento, ou seja, o serviço ou o benefício tem que atingir a todos que dele necessitam. A esmola só serve paro deixar em paz a consciência de quem a dá. Ainda assim, a paz é falsa. (Alda Marco António, Istoé 19 jun. 1996).