A Teoria da História no Cenário da Pós-Modernidade Prof. Dr. José Antonio Vasconcelos
Pós-Modernidade ou PósModernismo? • Pós-Modernidade: indica a transição para uma nova época da História. A sociedade moderna, urbana e industrial estaria se tornando “pós-moderna”, “pós-urbana” e “pós-industrial”; • Pós-Modernismo: movimento identificável na arquitetura, arte, literatura e na cultura de modo geral, apontando para a superação do modernismo.
A Literatura como Ameaça à História • “O retorno da Literatura mergulhou os estudos históricos numa profunda crise epistemológica. [...] O resultado disso tudo tem sido a redução do conhecimento histórico a um tecido de tramas e retalhos, constituindo uma ausência essencial.” (David Harlan, 1989: 581)
A Literatura como Ameaça à História • “A Teoria Literária contemporânea desafia até mesmo os fundamentos da prática histórica profissional corrente ao negar a factualidade em que repousa a autoridade da própria História.” (Robert Berkhofer, 1998 : 139)
A Literatura como Ameaça à História • “A crítica pós-moderna ataca os próprios fundamentos do conhecimento histórico e científico.” (Joyce Appleby, Lynn Hunt, Margareth Jacob, 1995: 200)
A Literatura como Ameaça à História • “Se os historiadores permitirem que sejam estimulados a ir até o fim deste abismo teórico, eles acabarão produzindo a extinção de si mesmos e de sua disciplina.” (Keith Windshuttle, 1996: 37)
Teoria Literária e História • Mais que uma incorporação de métodos e técnicas de pesquisa, a Teoria Literária estimula uma reflexão teórica sobre o estatuto epistemológico da escrita da História; • A Teoria Literária de inspiração pósmodernista nos remete à questão da crise dos grandes modelos explicativos.
História e Pós-Modernismo •
Em 1991, na revista Past and Present, Lawrence Stone identifica três grandes ameaças pós-modernas para a História: 1. A Lingüística Pós-Estruturalista; 2. A Antropologia Cultural; 3. O Novo Historicismo.
Pós-Estruturalismo • Para o Estruturalismo nossos modos de pensar e agir são condicionados por estruturas inconscientes; • Mas, Se não há pensamento que não seja determinado por estruturas inconscientes, então a própria hipótese estruturalista, de que “não há pensamento que não seja determinado por estruturas inconscientes”, é ela própria determinada por estruturas inconscientes.
Pós-Estruturalismo • O estruturalismo, frente à crítica pósestruturalista, poderia ser deste modo comparado ao paradoxo do cretense, que jura dizer a verdade ao afirmar que todos os cretenses sempre mentem.
Antropologia Cultural • Na Antropologia Cultural destaca-se Clifford Geertz, cujo conceito de “Descrição Densa” marcou o trabalho de muitos historiadores. • O modelo interpretativo, proposto por Geertz, subverte a noção tradicional de verdade. Diante de um mesmo fenômeno, só há uma explicação correta, mas uma multiplicidade de interpretações possíveis.
Novo Historicismo • Trata-se de uma vertente da Critica Literária, na qual se destaca Stephen Greenblatt e Catherine Gallagher. • O Historicismo tradicional postulava que a interpretação do texto literário exige o conhecimento do contexto em que seu autor viveu. • O Novo Historicismo admite a tese acima enunciada, mas acrescenta a necessidade do texto para uma melhor compreensão do contexto.
O que é o Pós-Modernismo? • O pós-modernismo constitui uma sensibilidade, não uma teoria geral da sociedade e da cultura, pois as teorias fazem parte das metanarrativas, alvo da crítica pós-modernista.
O que é Teoria? • Conhecimento especulativo meramente racional. • Conjunto de princípios fundamentais duma arte ou duma ciência. • Doutrina ou sistema fundada nestes princípios (Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, 1967: 464)
Há uma “teoria” Pós-Modernista? • Existem “teóricos do pós-modernismo”, isto é, teóricos que se utilizam do aparato conceitual da modernidade para refletir sobre as questões levantadas pelo pósmodernismo, mas não teóricos pósmodernistas, já que o pós-modernismo exclui a teoria.
Teoria Contemporânea • “Uma indicação bem diferente desse esmaecimento das antigas categorias de gênero e discurso pode ser encontrada no que às vezes se denomina de teoria contemporânea. [...] Hoje, cada vez mais, vemos um tipo de texto simplesmente chamado ‘teoria’ que é todas ou nenhuma dessas coisas [as disciplinas acadêmicas] ao mesmo tempo. Esse novo tipo de discurso, geralmente associado à França e à pretensa teoria francesa, tem-se difundido muito, e assinala o fim da filosofia como tal. [...]
Teoria Contemporânea • Deve a obra de Michel Foucault, por exemplo, ser chamada de filosofia, história, teoria social ou ciência política? Isso é impossível de decidir, como se diz hoje em dia; e sugiro que esse “discurso teórico” também deve figurar entre as manifestações do modernismo .” (Frederic Jameson, 1993: 26)
Metanarrativas •
Jean-François Lyotard, em O pós-moderno, identifica duas narrativas que norteiam a pesquisa científica moderna: 1. a narrativa política, entendida como o discurso emancipatório da Revolução Francesa; 2. a narrativa filosófica, com base na obra de Hegel, que situa o conhecimento dentro de uma evolução histórica.
A Ciência Pós-Moderna • Na visão da modernidade, os grandes autores seriam aqueles capazes de encerrar um debate, estabelecendo a verdade, um conhecimento objetivo e inquestionável. Para os pósmodernistas, pelo contrário, autores como Marx, Weber, Freud, são grandes não por que forneceram soluções finais aos problemas humanos, mas por que são focos a partir dos quais emergem feixes de discussões.
Pós-Modernismo e História • “O pós-modernismo é uma visão irônica, talvez desesperadora do mundo, e em suas formas mais extremas oferece pouco espaço à História como até então se conhece”. (Joyce Appleby, Lynn Hunt, Margareth Jacob, 1994: 207)
Pós-Modernismo e História • Creio que a emergência do pós-modernismo está estreitamente relacionada com a emergência desse novo capitalismo tardio, multinacional ou de consumo. [...] Só conseguirei, no entanto, demonstrar isso no tocante a um grande tema, qual seja, o desaparecimento do sentimento da história, [...]
Pós-Modernismo e História • [...] o modo como todo nosso sistema social contemporâneo começou, pouco a pouco, a perder sua capacidade de reter seu próprio passado, começou a viver num presente perpétuo e numa perpétua mudança que oblitera o tipo de tradições que todas as formações sociais anteriores, de um modo ou de outro, tiveram que preservar.” “Frederic Jameson, 1997: 43)
Pós-Modernismo e História • “A história era um mito muito forte, talvez o último grade mito, a par do inconsciente. Era um mito que subentendia ao mesmo tempo a possibilidade de um encadeamento ‘objetivo’ dos acontecimentos e das causas, e a possibilidade de um encadeamento narrativo do discurso. A era da história, se se pode dizer, é também a era do romance. É este caráter fabuloso, a energia mítica de um acontecimento ou uma narração, que parece perder-se cada vez mais”. (Jean Baudrillard, 1991: 15)
Pós-Modernismo e História • “O pós-moderno realiza dois movimentos simultâneos. Ele reinsere os contextos históricos como sendo significantes, e até determinantes, mas, ao fazê-lo, problematiza toda noção de conhecimento histórico.” (Linda Hutcheon, 1991: 122)
Pós-Modernismo e História • O que há de original no pós-modernismo, portanto, não é a suspeita do valor – moral ou epistemológico – do conhecimento histórico, mas uma incorporação crítica da História na crítica à modernidade. Em sua cruzada contra a afirmação de verdades universais e atemporais o pósmodernismo invoca a História para denunciar o caráter contingente de qualquer valor, de qualquer verdade, e para nos lembrar, uma vez mais, que toda representação é historicamente construída.
Descoberta e Invenção • Para o pós-modernismo não há no passado uma realidade primordial a ser descoberta, mas um sentido a ser inventado; • Isso, porém, não é novidade para o historiador: ainda que a História objetive o acontecido e não o puramente inventado, a ele certamente é que cabe a tarefa de selecionar os dados do passado e ordená-los de forma coerente.
O que Há de Ameaçador no PósModernismo? • O que, na verdade, assusta os historiadores são duas outras tendências pós-modernistas: a insistência em submergir a História no âmbito da Literatura, e o esmaecimento da distinção entre texto e contexto.
Teoria da História e PósModernismo • O pós-modernismo e demais tendências afins, apesar de seu aspecto ameaçador, de fato trouxeram alguma contribuição de valor para o modo como entendemos a História? Ou, pelo contrário, não passa de perda de tempo, ou ainda, pior do que isso, um mal a ser eliminado?
Teoria da História e PósModernismo • “A desestabilização teórica da História alcançada pelos modos de crítica com base na linguagem não tiveram qualquer efeito prático na prática acadêmica porque os acadêmicos não têm nada a ganhar e tudo a perder ao desmantelarem seu código visível especial de raciocínio fundamentado na evidência e se abrirem às acusações inevitáveis de fraude, desonestidade e inferioridade” (Partner, apud Evans, 2000: 4)
Teoria da História e PósModernismo • Se os historiadores põem em risco sua disciplina ao levarem a sério as acusações de fraude, desonestidade e inferioridade, será que eles devem simplesmente ignorar essas acusações, permanecendo fraudulentos, desonestos e inferiores, ou, pelo menos, sendo vistos assim por intelectuais de outras áreas?
Teoria da História e PósModernismo • De minha parte, creio que um esforço sério e decidido em responder essas questões, seja numa perspectiva de simpatia ou antagonismo ao pós-modernismo e às tendências afins, não é algo a ser evitado, mas pelo contrário, só pode alargar os horizontes do historiador e enriquecer os fundamentos teóricos de sua disciplina.