059

  • November 2019
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AS DIVERSAS FORMAS DE EXECUTAR O TRABALHO BANCÁRIO Nombre: Sônia Rosane Netz título de la ponencia: “As diversas formas de executar o trabalho bancário” afiliación institucional del autor: No momento pesquisadora “autonoma”, último vínculo institucional: Mestrado em Ciencias Sociais Aplicadas UNISINOS- RS- Brasil, dissertação defendida em 2002, título: “O trabalho bancário e as novas tecnologías da informação”. dirección postal: Rua Bispo Laranjeira, 54/ 106, Bairro: Santa Teresa, Cidade: Porto Alegre, Estado: Rio Grande do Sul, País: Brasil CEP: 90840-230 número telefónico: (51) 32323057 dirección de correo electrónico: [email protected] bloque temático: “Teoría, espistemología y metodología de estudios sobre el trabajo” ou “Reestructuración productiva y nuevas desigualdades en el mundo del trabajo”

“O homem não deixou de se transformar e ao mesmo tempo transformar o mundo e isso é igualmente “trabalho”, para o melhor e para o pior, no destino prometeico da humanidade. Assim, a crise contemporânea do trabalho não reside simplesmente no desemprego, ou seja, na ausência de trabalho. È preciso lê-la, em primeiro lugar, no próprio trabalho, isto é, nas novas formas de actividade técnica através das quais o homem moderno prossegue, quiçá até à sua perda, um processo de transformação do seu meio ambiente iniciado há várias dezenas de milhares de anos.” (Vatin, 2002, 24)

Introdução Este texto trata, de forma breve, as transformações ocorridas no trabalho bancário nos últimos 20 anos. O estudo do trabalho bancário reúne uma ampla gama de perspectivas. Destaca-se a sua ligação com o atual estágio de desenvolvimento capitalista, da globalização financeira. Até a utilização intensiva da tecnologia e a transformação do trabalho bancário em trabalho feito dentro e fora das instituições bancárias, por funcionários, terceirizados e clientes. O desenvolvimento do trabalho bancário Inicialmente ao se estudar o trabalho bancário precisamos definir o que seria exatamente este trabalho bancário. O trabalho bancário até bem pouco tempo era aquela atividade efetuada no interior das instituições bancárias. Consistia na contabilização e no recebimento de depósitos. Também no recolhimento de tributos diversos, pagamentos, desconto de títulos. Além de empréstimos e aplicações financeiras entre outras atividades. O trabalho bancário pedia funcionários confiáveis em sua capacidade de execução e honestidade no trato dos recursos dos outros. Também apresentava um processo de conferência baseado na redundância de contabilização. Esta consistia em várias etapas de escrituração e conferência com circulação dos lançamentos por diversos departamentos e funcionários. No início dos anos 1980 um exemplo de fluxo de serviço em uma agência bancária consistiria no recebimento pelo caixa mediante a autenticação do documento, no final do expediente os documentos eram somados pelo conferente, verificados pelo contador e remetidos para o CPD que executaria o processamento do movimento do dia. A partir da metade da década de 1990 a circulação de papéis foi sendo reduzida de forma rápida. Junto com esta redução também se processou uma grande diminuição no número de trabalhadores bancários. Conforme o Dieese, organização que congrega sindicatos de trabalhadores, ocorreu a redução de 40% da categoria bancária brasileira durante os anos 1990 (Dieese, 1998). As etapas intermediárias de escrituração e conferência dos lançamentos feitos na forma de papéis que circulavam nos diversos departamentos tornaram-se lançamentos digitais. A alimentação dos dados era feita pelos lançamentos on-line dos caixas ou dos próprios clientes nos terminais de auto atendimento. A análise do processo de implantação das novas tecnologias no setor bancário brasileiro, conforme obra de Jinkings, O mister de fazer dinheiro, cita o estudo de Larangeira sobre a automação. Conforme Larangeira, na década de 1960 surgem os computadores de grande porte. Deste início, passando pela década de 1970 até o início da década de 1980, estes computadores foram utilizados pelos bancos em grandes centros de processamento de dados. Na década de 1980 ocorreu o processo que pode ser denominado de automação de “vanguarda”. Sua principal característica é a existência de um sistema

online que conecta as diversas agências de uma determinada instituição bancária em tempo real. Com esta mudança há a possibilidade de diminuir a quantidade de trabalhadores nos grandes centros de processamento de dados. A partir da metade da década de 1980 aconteceu o que denomina-se de automação de “retaguarda” com os terminais das agências bancárias conectados ao computador central, fornecendo dados, em rede, para as agências do banco. Já, no final dos anos 80, começa ocorrer a captura e a transferência de dados fora das agências bancárias, em residências, lojas, escritórios (Larangeira Apud Jinkings, 1995, 46). Jinkings, quando descreve as transformações do trabalho bancário, destaca o estudo de obras de Accorsi, Automação: Bancos e Bancários, Grun, A Produção de Uma Empresa Moderna: os Bancários e a Automação, Helena Ely, As Transformações no Sistema Financeiro Brasileiro e a Automação nos Bancos Comerciais. Nesta lista dos estudos representativos das alterações sofridas pelo trabalho bancário acrescentamos a obra de Liliana Segnini (1999), Reestruturação nos bancos no Brasil: Desemprego subcontratação e intensificação do trabalho. Em um período de tempo relativamente curto o trabalho bancário mudou de forma substancial. Modificam-se as rotinas burocráticas que foram automatizadas e ocorre a exteriorização do trabalho para pessoas contratadas de forma terceirizada, ou seja, não como trabalhadores bancários, e até mesmo os próprios clientes. A evolução das várias formas de se executar o trabalho bancário torna possível que atualmente a maioria das pessoas seja, em algum momento do dia ou em alguns dias do mês, trabalhador bancário mesmo que não remunerado. A inovação tecnológica tornou possível que um trabalho dos mais exigentes no que diz respeito ao recrutamento de pessoas honestas e confiáveis tivesse a confiabilidade passada para os modernos sistemas de processamento de dados. O trabalho bancário e a análise de Vatin do trabalho em fluxo Como considerar o trabalho bancário como sendo aquelas operações executadas pelos clientes? Os trabalhadores de empresas prestadoras de serviço para instituições financeiras, trabalhadores terceirizados, são trabalhadores bancários? Estas questões remetem ao próprio conceito do que seja trabalho bancário como do que seja trabalho de maneira geral. As teorias sociais são ricas em explicações sobre o conceito de trabalho. O trabalho, como atividade produtiva, é considerado principal forma de inserção econômica dos indivíduos. Para Vatin (2002, 16) na sociedade ocidental o termo trabalho é um conceito que não tem equivalentes em outras sociedades. Para Vatin (2002, 26) mesmo que seja do pensamento corrente aceitar que Taylor inaugurou a nova ciência do trabalho, ele apenas apresenta de uma forma simples a representação do trabalho como ação mecânica do homem que se achava no coração do pensamento industrial moderno no começo do século XIX. No século XIX a fluidez industrial e o trabalho de vigilância e controle já apareciam nas grandes indústrias químicas e em setores da indústria alimentar. Portanto a interpretação do trabalho de forma essencialmente mecanicista conforme o esquema de Taylor é considerada por Vatin como anacrônica para a sua própria época. O pensamento tayloriano iria assombrar duradouramente o imaginário das ciências sociais e, nomeadamente, o da sociologia

do trabalho, a ponto de ainda hoje não se representar o “verdadeiro” trabalho senão sob a figura do gesto tayloriano. ( Vatin, 2002, .27) Hoje, quando observamos as modernas indústrias químicas e as instituições bancárias, o trabalho mecânico, nos moldes tayloristas, é cada vez mais difícil de ser encontrado. “Com a automação, o trabalho não desaparece; oculta-se por vezes. E, sobretudo, fica cada vez menos inteligível à nossa compreensão marcada por uma longa tradição mecanicista”. (Vatin, 2002, 28) Conforme destacado anteriormente o trabalho em fluxo não pode ser considerado como algo muito recente. Vatin descreve de forma clara o que considera trabalho em fluxo: Foi seguramente naquilo que se pode designar por “indústrias de fluxo” ou “indústrias de produção em contínuo” tais como a química, o petróleo (...) onde a produção resulta de transformações internas da matéria tratada, que a função de vigilância-controlo surgiu inicialmente. Entretanto, porém, esta nova função assalariada desenvolveu-se em muitos outros campos: é suficiente pensar no tratamento informatizado de dados nos bancos ou nas seguradoras (...) (Vatin, 2002, 159-160) Em sua pesquisa em uma indústria química Vatin destaca o “trabalho” de vigilância e controle como aquele executado pelos funcionários, principalmente aqueles considerados os mais capacitados e pertencentes ao quadro de trabalhadores das indústrias químicas, portanto não subcontratados. Uma das características do trabalho de vigilância e controle não é a confecção de um produto mas a disponibilidade de estar presente em determinado horário para agir no caso de que algum processo não ocorrer da forma como foi planejada. Existe uma dificuldade crescente em medir o trabalho pela variável tempo. Também, com as tecnologias de comunicação, torna-se difícil restringir o trabalho a um local fechado e predeterminado como da oficina, do gabinete, para a toda da produção. Como exemplo, pode-se citar a “restrição”, que é a obrigação de ficar disponível para o aparelho produtivo em um enquadramento descrito com exatidão sem ter tarefa precisa a cumprir. (Vatin, 2002, 29) Sobre o trabalho de vigilância e controle nós podemos assinalar que existe em relação ao trabalho bancário uma questão bem interessante. O setor bancário dispõe de funcionários ligados ao processamento de dados que executam o controle das operações, mas uma dos principais “trabalhadores” na vigilância e controle são os próprios clientes. Quando consultam saldos, imprimem extratos, estão verificando se as operações são efetuadas de forma correta, não cobram nada pelo seu “trabalho” e na maioria das vezes até lhes é cobrada uma taxa para efetuar a operação. A confiabilidade do sistema depende desta disponibilidade de efetuar as consultas, no momento que se achar necessário. A fluidez industrial mostra que a acepção tradicional do trabalho como esforço do corpo humano tende a modificar-se. Para Vatin ainda dominam enquanto explicação teórica dois sistemas de organização do trabalho: o modelo de ofício e o da divisão tayloriana das tarefas mesmo que já se perceba um certo questionamento.

O modelo de ofício corresponde ainda à concepção smithiana da divisão do trabalho, segundo a qual o mercado de trabalho podia confundir-se com o dos produtos: vender o seu trabalho de carpinteiro é vender uma viga e o do sapateiro um artigo de couro. E uma concepção de algum modo pré-salarial (,,,) Actualmente, o ofício continua a figurar como um ideal do mercado de trabalho já sem carregar esta reivindicação da autonomia operária. É como se a competência profissional (a qualificação) fosse suficiente para definir um espaço social. ( Vatin, 2002, 239) Para o modelo taylorista Vatin acrescenta: O sistema de pensamento tayloriano constitui, por seu lado, uma metamorfose tardia da concepção emergentista do trabalho, que se baseou nos modelos mecanicistas da época clássica e encontrou uma formulação definitiva, na época do próprio Taylor, com o fisiólogo francês Jules Amar. “O papel do homem na produção é, segundo esta concepção, totalmente mecânico. É por essa razão que o seu trabalho pode ser organizado “cientificamente”, dividido em tarefas elementares que um organizador central coordenará e adicionará. Esta concepção parece cada vez menos aceitável face à automação, que permite efectivametne que um dispositivo mecânico execute tudo o que é codificável e que, por esse facto, confere ao operador humano o seu papel insubstituível de intervenção para lá do previsto e do normalizado”. ( Vatin 2002, 239) Estes dois modelos, segundo Vatin, de um lado podem parecer antagônicos mas de outro compartilham da concepção de trabalho como sendo um objeto interpretado de forma direta como mercadoria pela teoria econômica. Os textos destacados acima referentes a pesquisa de Vatin não analisam o trabalho bancário propriamente dito, apesar de apresentarem algumas referências bastante rápidas. Estudar o trabalho bancário não era o objeto de estudo de Vatin. Mas o trabalho em fluxo mostra uma outra forma de trabalho presente e que nem sempre muito destacada. Quando intitulamos nosso texto de As diversas formas de executar o trabalho bancário temos que trabalho bancário não é semelhante ao produzir um par de sapatos ou a um automóvel. A dificuldade de enquadramento do trabalho bancário naquilo que usualmente se conhece como trabalho “produtivo” nos proporcionou uma análise dos impactos das inovações tecnológicas, as chamadas novas tecnologias da informação, NTI, no trabalho bancário. Naquela época não tivemos ainda conhecimento da obra de Vatin e de sua crítica. No decorrer do texto, O trabalho bancário e as novas tecnologias da informação, tratamos do aumento da “produtividade’ do trabalho bancário. Estas referências a produtividade podem sugerir uma certa interpretação mecanicista bastante criticada por Vatin. Mas de forma geral compatilhamos com Vatin um certo “mal-estar” em aceitar a transferência direta dos estudos sobre o trabalho de concepções mecanicistas para o setor bancário, no nosso caso, e o das indústrias químicas, no caso de Vatin.

O trabalho bancário, as inovações tecnológicas e as possíveis contribuições de Marx e Braverman Em O trabalho bancário e as novas tecnologias da informação podemos salientar que as inovações tecnológicas possibilitaram um aumento da “produtividade” do trabalho bancário e isto não quer dizer mais contas, mais autenticações, mais lançamentos por pessoa, mas a racionalização e o controle que eliminam o processo anterior de duplicidade e redundância. (Netz, 2002, vii) As inovações tecnológicas, as novas tecnologias da informação, NTI, são a forma mais avançada de uma longa história de formas diferenciadas de obtenção de produtividade do trabalho. De acordo com Marx (1985) em O Capital, no começo um determinado número de trabalhadores foi reunido sob o comando de um capital individual. Trabalhado de forma mais eficiente do que isoladamente, pois estão efetuando uma atividade planejada, de forma conjunta, com processos diferenciados e conexos. Na cooperação simples podemos destacar a primeira forma de aumentar a produtividade do trabalho. Classicamente a cooperação simples ocorre na manufatura mediante a união de diferentes trabalhadores de ofício autônomos. Ou por diversos artífices que em princípio realizam todo o processo de produção da mercadoria e em outro, seu trabalho é dividido em operações parciais realizadas mediante o trabalho cooperado. Na manufatura não é somente o artesão virtuoso que existe, mas a combinação de diferentes trabalhadores, cuja qualificação é variável, mas que o trabalho se torna virtuoso na sua combinação em forma de trabalho coletivo. Assim, “na manufatura, o enriquecimento do trabalhador coletivo e, portanto, do capital em força produtiva social é condicionado pelo empobrecimento do trabalhador em forças produtivas individuais” (Marx, 1985, 284). As máquinas “superam a atividade artesanal como princípio regulador da produção social. Assim, por um lado, é removido o motivo técnico da anexação do trabalhador a uma função parcial, por toda a vida. Por outro lado, caem as barreiras que o mesmo princípio impunha ao domínio do capital” (Marx, 1985, 289). Na maquinaria, as máquinas ferramentas podem ser combinadas de forma a executarem operações impossíveis aos trabalhadores que estavam limitados a operar instrumentos não superiores a quantidade de órgãos corpóreos. Assim, “como máquina, o meio de trabalho logo se torna um concorrente do próprio trabalhador. A autovalorização do capital por meio da máquina está na razão direta do número de trabalhadores cujas condições de existência ela destrói.” (Marx, 1985 A, 48). De acordo com Braverman (1987) o controle dos trabalhadores não era possível somente através da maquinaria. Os estudos de Taylor relativos a gerência científica proporcionariam uma melhor maneira de controlar o processo de trabalho. Taylor estudou tempos e movimentos. A gerência científica assumiria o papel de reunir o conhecimento tradicional dos trabalhadores, elaborar manuais de procedimento. De conhecedor de seu ofício o trabalhador se transformou em realizador de uma tarefa previamente planejada pelo gerente. A gerência conheceria o processo de trabalho e pesquisaria as formas mais eficientes de realizá-lo, estabelecendo metas de produtividade e velocidade do trabalho.

A atuação da gerência científica não ocorreria somente nas indústrias, nos escritórios e nos bancos também se faria presente. Os benefícios da racionalização se tornam ainda mais efetivos com o moderno sistema de processamento de dados. Esse sistema automático para processamento de dados assemelha-se aos sistemas automáticos da maquinaria de produção naquilo que reunificam o processo de trabalho, eliminando os muitos passos que eram anteriormente atribuição de trabalhadores parcelados. Mas, como na fabricação, o computador de escritório não se torna, no modo capitalista de produção, o passo gigantesco que poderia ser no sentido de desmantelar e seriar a divisão técnica do trabalho. Pelo contrário o capitalismo vai contra a natureza da tendência tecnológica e reproduz obstinadamente a velha divisão do trabalho em uma forma nova e mais perniciosa. (Braverman, 1987, 278) Uma das questões de maior interesse que abordamos em O trabalho bancário e as novas tecnologias da informação é a importância crescente da inovação tecnológica. A inovação tecnológica proporcionou a racionalização do processo de trabalho. Esta racionalização do trabalho, de forma geral, e do trabalho bancário, de forma específica, mostra que o conhecimento dos trabalhadores que foi sistematizado nos manuais, e depois nos programas de computador, já não mais pertence a eles. Não existe nenhum direito adquirido ou hereditariedade frente ao conhecimento dos trabalhadores. Os efeitos da automação sobre o trabalho de escritório ainda estão pouco identificados, segundo Castells, faltam estudos empíricos e suas interpretações estão atrasadas. A tendência está na eliminação da maior parte do trabalho administrativo mecânico e rotineiro. As tarefas intermediárias são reintegradas nas operações decisórias com boa informação, que são avaliadas e processadas por funcionários administrativos com autonomia na tomada de decisões. A automação dos escritórios não racionaliza somente a tarefa, racionaliza também o processo, pois a tecnologia possibilita a integração de dados originários de fontes diferentes, que são processados e redistribuídos para unidades de forma descentralizada. Ao contrário de automatizar tarefas como digitação, cálculos, a tecnologia racionaliza um procedimento inteiro e o integra em linhas ou mercados distintos. (Castells, 1999, 269-270) Uma análise do trabalho bancário terceirizado A diferença entre o trabalho bancário feito nas agências bancárias e o trabalho bancário feito pelos trabalhadores terceirizados mostra de forma bastante clara aquilo que Harvey (1999) já havia descrito como características da acumulação flexível. Como a acumulação flexível ocorre o surgimento de novos setores de produção, novas maneiras de fornecimento de serviços, novos mercados, intensificação na inovação comercial, tecnológica e organizacional. Os empregadores, na acumulação flexível, exercem um controle mais forte sobre a força de trabalho. O trabalho organizado foi enfraquecido pelo estabelecimento de focos de acumulação flexível em regiões até então subdesenvolvidas. O desemprego estrutural permanece alto dentro da acumulação flexível o que gera um grande contingente de mão-

de-obra excedente. A esta mão-de-obra excedente são impostos contratos flexíveis como tempo parcial, temporário ou subcontrato. Como resultado observa-se uma nova estrutura no mercado de trabalho. No centro estão os empregados em tempo integral, estes gozam de segurança no emprego, perspectivas de promoção de reciclagem, previdência social e vantagens indiretas. Na periferia encontram-se dois subgrupos. O primeiro é composto de empregados em tempo integral com habilidades disponíveis no mercado e alta rotatividade. O segundo grupo com maior flexibilidade numérica é composto por “empregados em tempo parcial, empregados casuais, pessoal com contrato por tempo determinado, temporários, subcontratação e treinados com subsídio público, tendo ainda menos segurança de emprego do que o primeiro grupo periférico” (Harvey: 1999, 144). A seguir analisaremos dois casos de trabalho terceirizado, um em uma empresa que contrata os empregados com carteira assinada e de outro que se utiliza de trabalho cooperativado. As empresas X e Y, dois exemplos de terceirização no setor bancário A empresa X1 executa terceirização do trabalho bancário como uma das suas atividades de prestação de serviço. É empresa de transporte de valores para indústrias, comércio, bancos e empresas de serviços. Além do transporte de valores também tem um setor de tesouraria que faz a contagem de cédulas para todos os seus clientes. Conta e abastece os caixas eletrônicos de diversos bancos. Confere depósitos em dinheiro dos terminais de auto-atendimento de bancos clientes. Confere o movimento de caixa de diversas instituições financeiras e providencia os depósitos legais para o Banco Central. Faz o processamento e a digitação de cheques e documentos para alguns bancos. Os seus trabalhadores são todos de carteira assinada, recebem vales alimentação, vale transporte, têm direito a férias, 13º, etc. A referência é a categoria dos empregados em empresas de transporte de valores. Tem carga horária bem maior que os trabalhadores bancários. Alguns apresentam vários anos de trabalho na mesma empresa, já outros são contratados, em tempos de maior demanda, com carteira assinada, porém são dispensados pouco antes de completarem os três meses de experiência. A empresa é bastante seletiva na contratação, exige vários documentos legais tais como ficha corrida, negativa de ações cíveis, visita na residência do futuro empregado para saber o seu padrão de vida. Nossa análise se deterá mais no chamado setor de tesouraria que faria o trabalho de contagem de numerário para bancos e outras empresas. No recrutamento do funcionário para a tesouraria, o grau de escolaridade exigido não é muito alto, apesar de não serem desprezados aqueles que possuem mais anos de estudo. Em uma observação mais geral, sem ter acesso aos dados de escolaridade de todos os funcionários, podemos constatar que o grau de escolaridade é bem mais baixo do que os dos bancários que trabalhavam em centros de processamentos de dados, de compensação de cheques e de serviços nas décadas de 1980 e 1990. Na empresa X no turno do dia, no setor de tesouraria, predomina o trabalho feminino. Sendo recrutadas algumas mulheres acima de 35 anos de idade, acima do peso, negras, em suma, pessoas que não seriam contratadas para trabalhar em alguma agência bancária, conforme os padrões atuais. O turno do dia também conta com alguns jovens que 1

Empresas analisadas mediante participação do pesquisador como trabalhador terceirizado.

estariam tendo seu primeiro emprego, para estes a cobrança de produtividade é um pouco menor. No turno da noite o número de homens aumenta. Também existem muitos trabalhadores com muitos anos de empresa. São trabalhadores que já não seriam contratados para uma agência bancária. Além de certa idade, alem do peso, e negros. Esta separação entre aqueles funcionários visíveis e aqueles invisíveis pode ser um dos efeitos chamados “perversos” da inovação. As tecnologias informacionais controlam de forma tão eficiente o trabalho que não é preciso mais aqueles funcionários muito experientes. Tanto no trabalho terceirizado como naquele feito nas agências bancárias. É só se observar lojas, supermercados, bancos, a grande maioria de seus funcionários são jovens, com boa aparência. Para aqueles que não estão adequados com o perfil sobram os empregos escondidos, nestes a aparência não conta muito. E o fato de ser a última alternativa de trabalho faz com que sejam muito mais produtivos. Na empresa X os funcionários devem utilizar vestiário coletivo para vestirem-se com o uniforme da empresa. Existe um vestiário masculino e um feminino. No vestiário feminino não tem banheiro, portanto a troca de roupa deve ser feita na frente das outras funcionárias. Seria uma medida de segurança. O uniforme teve duas versões, inicialmente era uma espécie de macacão com fechamento nas costas sem nenhum bolso. Na nova versão é um conjunto de camisa e calça também sem bolsos. As mulheres devem trabalhar com os cabelos presos ou curtos. É interessante de se fazer um paralelo entre o trabalho nos bancos, pelo menos nas décadas de 1980 e 1990, em que o uniforme não era uma exigência, sendo pouco usado, seja nas agências ou nos centros de processamento de dados. O trabalho bancário executado nos centros de processamento e compensação, nas décadas passadas, era considerado como repetitivo, parcelado e monótono. Exigia conhecimento que ficaria muito aquém das possibilidades que os profissionais bancários poderiam executar o que geraria formas de descontentamento. Mas mesmo assim as pessoas tinham sua forma de sem portar, sua forma de vestir, sua forma de apresentação pessoal que não era das mais exigentes. O trabalho que foi terceirizado continua repetitivo e ainda os funcionários devem perder sua individualidade que poderia estar presente na maneira de vestir. A atividade não é um trabalho sujo que exigisse o uniforme para preservar as roupas, no máximo um avental, e as câmeras poderiam reconhecer muito melhor o funcionário pela roupa. Depois de estarem todos uniformizados os funcionários da tesouraria podem acessar ao setor portando somente com caneta, óculos, um creme para as mãos e o lanche. As bolsas, sacolas, celulares, ficam em armários no vestiário. Devem passar por várias portas que são liberadas por seguranças localizados em uma central monitorando as portas através de câmeras. O trabalho na tesouraria é monitorado com diversas câmeras localizadas acima de cada mesa. Cada malote aberto deve ser identificado e cada diferença informada ao chefe. Esta terceirização, em termos de segurança, não deixa nada a dever ao trabalho feito por bancários. Seja pelo aparato tecnológico, seja pela capacidade de trabalho dos funcionários. As falhas são mais visíveis no tratamento aos empregados. Apesar destes serem contratados com carteira assinada, estão submetidos a jornadas de trabalho de, no mínimo, oito horas diárias e trabalho em fins de semana, pelo menos uma vez ao mês. Como existem épocas de pico a empresa faz os empregados trabalharem além da carga horária, nem sempre paga hora-extra e prefere dispensar os trabalhadores em dias em que não tem muito serviço. A princípio esta dispensa não seria problemática, mas muitos empregados ao

chegarem na empresa são comunicados que podem ir para casa, nesta altura já gastaram tempo e dinheiro. Já nos dias de pico não podem sair enquanto a chefia não liberar. Pelas análises feitas constata-se que a empresa X adota o banco de horas2. O banco de horas é o mecanismo que torna possível que horas de trabalho em excesso em um dia sejam compensadas com a diminuição em outro dia, fazendo com que o pagamento de horas extras não seja necessário. No setor de tesouraria periodicamente são feitas reuniões quando os funcionários mais produtivos ganham prêmios como tíquetes refeição além daqueles recebidos por todos. A produtividade é cobrada de forma bastante confusa pois os malotes não são todos iguais, alguns devem ser contados manualmente e outros em máquinas . Alguns são feitos por duplas, outros individualmente, outros por duplas em máquinas. São atribuídos pesos conforme os malotes para tentar estabelecer uma certa homogeneização na produtividade, mas na prática as mesmas pessoas acabam executando o mesmo serviço e aquelas que trabalham nas máquinas conseguem ter uma produção bem maior. O trabalhador da empresa X executa tarefas que há algum tempo atrás eram exclusivas de bancários. A empresa terceirizadora está conectada via tecnologias da informação de forma a atuar como se fosse parte das instituições financeiras que contratam seu serviço. Não existe muita diferença entre a comunicação da instituição bancária com a transportadora de valores e tesouraria daquele que existia internamente entre setores do banco tais como tesouraria e processamento de dados. As contribuições sociais usam como base o salário da categoria de transporte de valores que é bem menor do que o da categoria bancária. As conquistas bancárias como abonos e participação nos lucros não são estendidas para os trabalhadores terceirizados. Quanto ao número de trabalhadores que estas empresas contratam fica bastante difícil de se analisar se ocorre uma ampliação de empregos. Para os bancários certamente não. Para os transportadores de valores as vagas abertas não conseguem ser todas contabilizadas como de serviço de terceirização bancária. A empresa atua na segurança e no transporte de valores para outras empresas que não são bancárias. A outra empresa que realiza terceirização bancária é a empresa Y. Esta seria um pouco mais fácil de ser enquadrada como executora de serviço de terceirização bancária e seus trabalhadores como executores de serviço bancário. Ela é contratada por grandes bancos, que já foram nacionais e atualmente apresentam o controle acionário de grandes bancos de outros países. Inicialmente, em um local bastante amplo, a empresa executava o processamento de dados de três grandes bancos, um ainda era basicamente de controle acionário nacional. Este desligou-se e resolveu contratar os serviços de outra empresa terceirizadora. Pelo observado, no tempo aproximado de um ano, existe rotatividade na contratação destas empresas que fazem a terceirização do processamento. Os bancos efetuam contratos e, conforme o serviço apresentado, estes contratos não são renovados e outras empresas novas, de outros estados ou com maior tradição são contratadas. O interessante é que alguns funcionários acabam migrando, indo de uma empresa para outra. Na empresa analisada, quando o banco que tinha participação nacional resolveu não mais utilizar os serviços de terceirização levou muitos funcionários que já dominavam o serviço para a nova empresa. Para muitos estava a dúvida se ficariam ou seriam usados até o momento que novos funcionários soubessem o serviço. Muitos destes funcionários já haviam sido bancários, 2

intr oduzido pela Lei nº 9.601/98 com a alter ação do § 2º e ins tituição do § 3º do ar t. 59 da CLT .

foram demitidos, contratados pela primeira terceirizadora, e com a saída do banco, contratados pela segunda empresa terceirizadora. Esta segunda empresa terceirizadora optou por contratar todos os funcionários com carteira assinada, mas com salários mais baixos. Mas, voltando para a empresa Y nesta ocorre a coexistência de várias formas de contratação de mão-de-obra. Como é executado o processamento de documentos dos bancos clientes, existem funcionários dos bancos fazendo a supervisão do serviço. Num segundo nível existem os funcionários da empresa Y, com carteira assinada. Muitos já foram bancários e exercem atividades de chefia, conferência e postos chave. Num nível mais baixo estão os cooperados que fazem as tarefas mais repetitivas e rotineiras como digitação, abertura de envelopes, autenticação de pagamentos feitos por auto-atendimento. Nestes trabalhadores cooperados ainda existem dois tipos. Aqueles que trabalham todos os dias, são os chamados “fixos” e aqueles que trabalham somente nos dias de pico (chamaremos “não-fixos”) tais como inícios de mês, finais de mês, quinzenas e segundasfeiras. Para os cooperados a remuneração é por hora sem pagamento de vale refeição, vale transporte. Somente desconto de INSS, principalmente daqueles cooperados “fixos”. A empresa Y contrata os serviços de uma cooperativa que faz os contratos com os trabalhadores. A cooperativa precisa de grande quantidade de pessoas para trabalhar nos dias de pico. A contratação ocorre mediante um teste de digitação e a assinatura da adesão do cooperado à cooperativa, além da inscrição do cooperado como trabalhador autônomo. São verificados os dados no SPC dos cooperados, seu endereço e empregos anteriores. Para os cooperados iniciantes é feita uma palestra salientando que sua remuneração será bem maior que um trabalhador de carteira assinada, por exemplo, os cooperados que trabalham na empresa Y ganhariam aproximadamente 700,00 reais enquanto que os assalariados chegariam perto de 500,00 reais. Explica-se que inicialmente os cooperados trabalhariam nos dias de pico para fazerem seu treinamento e posteriormente poderiam trabalhar todos os dias. As informações sobre o que seria uma cooperativa são feitas em uma palestra antes dos futuros cooperados assinarem sua adesão e concordarem com o desconto de 10,00 reais por mês que seria a sua contribuição. É informado o endereço do site da cooperativa e feita a distribuição de um jornal das diversas atividades da cooperativa nos diversos estados em que atua. Maiores informações sobre direitos dos cooperativados e histórico do movimento cooperativista não são apresentadas. A seleção, principalmente daqueles que trabalham nos dias de pico, tal qual na empresa X, recai nas pessoas que teriam maior dificuldade em ter empregos: com maior idade, ex-bancários, negros e homens (talvez por não terem tanta dificuldade com o horário). A expectativa de vir a se tornar um cooperado “fixo” é utilizada para motivar todos os novos cooperados. Muitos trabalham um único dia e desistem, outros ficam quase um ano, sendo chamados nos horários de pico, esperando se tornarem cooperados “fixos”. Estas formas de contratação flexíveis dependem muito de um componente psicológico. Na empresa X , a carteira assinada com contrato de experiência, mesmo que já fosse o plano demitir antes dos três meses, exigia uma dedicação total, se fosse assinada como temporário talvez o esforço fosse bem menor. Já na empresa Y a motivação era tornar-se um cooperado “fixo”, as chamadas esporádicas não poderiam ser negadas para que o mais cedo possível se tornassem cooperados “fixos”. Na empresa Y, em certo sentido, como a remuneração é por hora, não há nenhuma obrigação de freqüência dos cooperados, afinal, se não comparecerem não recebem. Mas na

prática quem se nega a comparecer muitas vezes não é mais chamado ou é colocado na “geladeira”, fica algum tempo sem ser chamado. Uma vez sendo solicitado o serviço o cooperado comparece. Permanece trabalhando até que o serviço acabe, isto é, muitas vezes, acaba prejudicando o seu retorno ao lar, no caso do trabalho noturno. Nem a empresa Y, nem a cooperativa, tenta alternativas para compatibilizar os horários possíveis para os cooperados ou, até mesmo, transporte para a sua residência. Nos cooperados que trabalham somente nos dias de pico há alta rotatividade, grande parte nem chega a receber a remuneração próxima ao valor de um salário mínimo pelas horas de serviço prestadas. Os cooperados “não-fixos”, caso não executem o trabalho em outras empresas, apresentam dificuldade em ter grande produção, principalmente na digitação, pois esta requer o treinamento constante. Algumas atividades que precisam de maior velocidade acabam sendo feitas por aqueles melhor treinados. Não são estabelecidos dias alternativos para que os cooperados possam aprender o serviço. A contratação em dias de pico acaba mantendo somente aqueles que já possuem outra fonte de renda, sendo essa uma espécie de hora extra. Ou aquelas pessoas que trabalhariam somente por satisfação pessoal ou por futura perspectiva de inserção no mercado. Na empresa Y não se utiliza uniforme, os pertences ficam nas mesas de trabalho dos funcionários e cooperados. O acesso a área de trabalho é feito mediante a passagem em várias portas de segurança liberadas pelos vigilantes. No local de trabalho existem várias câmeras que fiscalizam o trabalho e chamam a atenção de alguém que faça algum movimento suspeito. Apesar da precariedade na contratação quem estava acostumado com o trabalho de centros de processamento de dados, digitação e conferência não apresenta dificuldades em trabalhar na empresa Y. Os bancários que supervisionam e os funcionários de carteira assinada apresentam-se bastante prestativos no tratamento aos cooperados. As tarefas de exigência de produção e coordenação dos cooperados ficam a cargo de um cooperado “chefe”. O ambiente de trabalho não se apresenta dos mais desfavoráveis. O serviço tem horários, precisa que todos colaborem, sejam cooperados, funcionários ou bancários. As reclamações dos cooperados estão nos poucos dias trabalhados, na dificuldade de transporte, na baixa remuneração, mas não, especificamente, no tipo de trabalho executado. Ou quanto à Previdência, em muitos casos a remuneração é tão baixa que não sobrará nada. se forem feitos os descontos legais. Somente aqueles que são “fixos” acabam conseguindo descontar o INSS e até futuramente utilizar para aposentadoria. Tanto de parte dos bancos que contratam a empresa Y, da empresa Y, e da cooperativa, não existe nenhuma iniciativa de pelo menos se comprometer com o pagamento da contribuição sobre o salário mínimo, independentemente do número de horas trabalhadas pelo cooperado. Esta poderia ser um incentivo para aqueles que trabalham de forma esporádica, pelo menos estariam contando tempo para a aposentadoria. A inovação proporcionou um aparato que, em conjunto, permite que estas formas alternativas de contratação sejam possíveis sem prejudicar a qualidade e confiabilidade do serviço. O trabalhador cooperativado sabe que está sendo vigiado por câmeras, que o cheque digitado faz parte de um envelope que teve seu total já informado para o sistema. As antigas rotinas bancárias, anteriormente burocráticas, foram automatizadas. Aqueles que as faziam tiveram que se “requalificar” ou são a mão-de-obra excedente que procura trabalho mesmo em condições desfavoráveis.

O problema é que o setor bancário é um dos setores mais ricos, que mais condições favoráveis vêm obtendo ao longo dos anos e, mesmo assim, é o que menos se preocupa com uma forma de contratação de pessoal que esteja de acordo com a riqueza gerada pelo setor. Se o setor mais rico da economia contrata desta maneira o que podemos deixar para os assalariados que contratam seus empregados domésticos ou para as pequenas empresas familiares que mal conseguem sobreviver. Como a inovação tecnológica possibilitou este tipo de contratação, o setor bancário utilizou a “via baixa”, conforme Castells (1999) analisa, onde ocorre a integração do processo de trabalho e a desintegração da força de trabalho. Esta seria uma opção do setor bancário brasileiro, opção que valoriza o aumento da produtividade e da lucratividade a curto prazo, e não contribui para a Sociedade com o peso proporcional a sua pujança econômica. No caso a afirmação de Castells poderia ser acrescentada não somente como determinada sociedade implanta, mas como determinado segmento econômico, como no caso o bancário faz a sua reestruturação produtiva. A título de exemplo podemos citar que no ano de 1989 a categoria bancária contava com 824 mil trabalhadores, e em 1996 contava com 497 mil. (Dieese 1998). Estes trabalhadores terceirizados não estão nas estatísticas nem mesmo do balanço social dos bancos. Conforme a Febraban em 2003 eram atendidos 384 mil colaboradores. Outro aspecto a analisar sobre os trabalhadores temporários, sejam cooperados ou de carteira assinada, é o fato de não terem uma constante fonte de renda. Assim, se perguntaria quem os sustenta? Com carteira assinada, na possibilidade de trabalharem em certo número de meses, mesmo que em empresas diferentes, ainda poderão solicitar seguro desemprego. Já os cooperados, no caso de não serem trabalhadores em outras empresas, o seu sustento se dará por meio de familiares e não pelo trabalho. Indiretamente as empresas não só exploram os trabalhadores mas exploram os familiares dos trabalhadores temporários pois estes é que definitivamente os sustentam. Conclusão No espaço disponível tentamos analisar a problemática teórica do trabalho e o trabalho bancário. As transformações ocorridas no trabalho bancário são emblemáticas das transformações ocorridas no trabalho de forma geral. A última parte de nosso estudo tento mostrar de forma mais concreta as dificuldades dos trabalhadores terceirizados. O trabalho flexível presente no setor bancário na sua forma mais radical nos remete a constatação assinalada por Vatin: A automatização do sistema produtivo apenas pode acelerar este processo não só ao reduzir a necessidade global de mão-de-obra com também ao transformar radicalmente a própria natureza dessa necessidade, que deixa de estar necessariamente ligada à necessidade de executar um “trabalho” propriamente dito. (...) A questão é fundamental; é social, mas também econômica. Com efeito, o que está em jogo são as próprias condições de partilha do rendimento social. Até hoje, parecia evidente que aquele devia fazer-se principalmente com base do trabalho. (Vatin, 2002, 244245)

Referências Bibliográficas BRAVERMAN, Harry. Trabalho e Capital Monopolista. A Degradação do Trabalho no Século XX. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987. CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede: A era da informação: Economia, Sociedade e Cultura, Volume I. São Paulo: Paz e Terra, 1999. DIEESE. EVOLUÇÃO RECENTE DO EMPREGO BANCÁRIO NO BRASIL. TEXTO N° 02/98, DIEESE - Subseção SEEB-BH /DIEESE - Subseção SEEB-SP, Belo Horizonte, 1998. FEBRABAN, Balanço Social. , <23/09/2005>. HARVEY, David. Condição Pós-Moderna: Uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. São Paulo: Loyola, 1999. JINKINGS, Nise. O mister de fazer dinheiro: Automatização e Subjetividade no Trabalho Bancário. São Paulo, Boitempo/ Sindicato dos Bancários-SP, 1995. MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. São Paulo: Nova Cultural, 1985 (Os Economistas: Marx Vol I) MARX, Karl.. O Capital: crítica da economia política. São Paulo: Nova Cultural, 1985A (Os Economistas: Marx Vol II ). NETZ, Sonia R. Novas Tecnologias Da Informação: Suas influências no trabalho bancário. Disponível em: acesso. 18/01/2007 NETZ, Sônia Rosane. O trabalho bancário e as novas tecnologias da informação Dissertação (mestrado) — Universidade do Vale do Rio dos Sinos. São Leopoldo-RS, 2002. SEGNINI, Liliana Rolfsen Petrilli. Reestruturação nos bancos no Brasil: Desemprego, subcontratação e intensificação do trabalho. In: Educação & Sociedade. Campinas (SP): CEDES, 1999, ano XX, nº 67, agosto99, p. 185-211. VATIN, François. Epistemologia e Sociologia do Trabalho. Lisboa: Instituto Piaget, 2002.

Anexo 1 Comparativo empresa X e Y Empresa X

Empresa Y

Forma de Contratação

Carteira Assinada

Rotatividade Baixa

Funcionários com estabilidade. Conferência e contagem de valores.

Rotatividade Alta

Funcionários no contrato de experiência. Responsáveis pela conferência e contagem de valores. Conforme a categoria de transporte de valores

Carteira Assinada Trabalho Terceirizado Cooperado Responsáveis pela coordenação e controle do serviço. (De carteira assinada) Cooperados “Fixos” digitação, autenticação de documentos e serviços diversos. Cooperados chamados nos dias de pico. Responsáveis pela digitação e serviços diversos. Pela categoria bancária para os bancários que controlam a execução do serviço, pago pelos bancos. Pela categoria de prestadoras de serviços para os funcionários da empresa. Por hora para os cooperados sejam fixos ou não-fixos. Monitoramento por Câmeras Cadastramento de valores Conferências dos malotes por funcionários da empresa.

Remuneração

Segurança Uso das novas tecnologia da informação

Monitoramento por Câmeras Uso de uniforme Acesso restrito de utensílios pessoais aos locais de trabalho. Uso de vestiário coletivo.

Raça, gênero e idade (trabalhadores visíveis invisíveis)

Grande parte dos Funcionários com carteira assinada e temporários são mulheres (principalmente no dia) e homens (no turno da noite). Homens negros e mulheres negras contratados em número maior do que nos bancos. Sem restrição a idade. Exige

Mais homens bancários, Maior número de homens, e boa parte negros, nos cooperativados. Seleção dos cooperativados nãofixos sem exigência de aparência ou idade.

No Mínimo de 8 horas por dia. Trabalhos além das 8 horas compensados com saídas mais cedo.

Nos bancários jornadas de até 8 horas, nos funcionários também. Nos cooperativados fixos 6 a 8 horas e nos não-fixos conforme o fluxo. Não trabalham todo o dia nem um número mínimo de horas.

Uso de Uniforme (perda da individualidade) Jornadas de Trabalho

e

Não Exige

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