0123706173-physical Chemistry Third Edition

  • Uploaded by: Anonymous zw7AfEW0
  • 0
  • 0
  • October 2019
  • PDF

This document was uploaded by user and they confirmed that they have the permission to share it. If you are author or own the copyright of this book, please report to us by using this DMCA report form. Report DMCA


Overview

Download & View 0123706173-physical Chemistry Third Edition as PDF for free.

More details

  • Words: 5,267
  • Pages: 15
O TRABALHO DOCENTE: OS OBJETIVOS E O PAPEL NAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS PROFESSORES Arlete Marinho Gonçalves1 - UFPA Andrea Pereira Silveira 2 - UFPA Patrícia Rodrigues de Oliveira Kimura3 - UFPA Grupo de Trabalho – Formação de professores e profissionalização docente Agência Financiadora: CNPq Resumo O objetivo deste artigo é apreender as Representações Sociais de docentes de Escolas públicas e particulares do município de Belém acerca dos objetivos e o papel do trabalho docente. Para dar sustentação teórica à temática, dialogou-se com autores que se voltam à discussão do trabalho docente, dentre os quais destacamos: Tardif; Lessard (2007), Oliveira (2004) em interlocução com a Teoria das Representações Sociais, fundamentada pelos trabalhos de Moscovici (1978). Como metodologia utilizou-se a pesquisa analítico-descritivo, de cunho qualitativo. Como técnica foi utilizada a entrevista semi-estruturada com 17 docentes. A análise foi desenvolvida a partir dos contributos de Bardin (2009) embasado no conteúdo temático ou categorial. Os resultados apontaram duas classes temáticas: objetivos e o papel docente. Para a Classe “Objetivos”, emergiu 02 (duas) categorias: Formar (35f); prática significativa (7f); e para a Classe “Papel”, 03 (três) categorias: Contribuir (14f); Ser agente de transformação (5f) e Limites da profissão (24f). O conjunto de categorias permitiu desdobrar em 8 (oito) subcategorias, que totalizou 85 frequências. Os objetivos do trabalho docente se resumem na formação homem-mundo e homem-trabalho. Ter como objetivo do trabalho docente a formação do homem-mundo, significa traduzir que a educação pode ser o caminho para a transformação da realidade. Por outro lado, o papel que o professor desenvolve na escola se encontra num emaranhado de atividades que os levam ao desgaste emocional, desanimo e frustração. Na maioria das vezes são vitimados pelo modelo neoliberal que os 1

Doutoranda em Educação: linha Educação, Cultura e Sociedade pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Professora Assistente da UFPA. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas da Educação Especial – GEPEE/UFPA. Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Juventude, Representações Sociais e Educação- UFPA. Email: [email protected]; [email protected] 2 Doutoranda em Educação: Linha Educação, Cultura e Sociedade pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Professora Assistente da UFPA. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educação de Surdos – GEPESUR/UFPA. Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Juventude, Representações Sociais e Educação- UFPA. E-mail:. E-mail: [email protected]; [email protected] 3 Mestre em Educação pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Técnica em Assuntos Educacionais da Universidade Federal do Pará (UFPA) e Professora da Educação Básica na Rede Pública Municipal de Ensino. Membro do Grupo de Estudos Sociedade, Cultura e Educação (GESCED – UFPA). Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Juventude, Representações Sociais e Educação (GEPEJURSE– UFPA). E-mail: [email protected]

ISSN 2176-1396

39891

leva a condições precárias de trabalho e desvalorização profissional. É pertinente salientar que na contrapartida da demonstração de insatisfação diante das condições em que o trabalho docente vem se desenvolvendo, há a proclamação do potencial transformador e formativo da ação educativa por meio de práticas significativas. Palavras-chave: Trabalho Docente. Objetivos. Papel. Representações Sociais. Introdução As reflexões sobre a profissão docente no atual contexto envolvem a análise de condicionantes culturais, sociais, políticos e econômicos, articulados na composição de uma conjuntura que repercute de maneira significativa no trabalho desenvolvido por estes profissionais. Um cenário marcado por condições adversas de trabalho, onde se destacam questões que estão direta ou indiretamente relacionadas à atratividade pela carreira docente, dentre elas, a massificação do ensino; a precarização e flexibilização do trabalho, marcado por extenuantes jornadas; falta de infraestrutura; turmas com lotação muito superior ao número recomendável de alunos; baixos salários; transformações sociais; violência nas escolas e o progressivo aumento das demandas atribuídas às instituições de ensino, as quais incidem significativamente no aumento das exigências relativas à atividade docente na contemporaneidade, torna o trabalho destes profissionais cada vez mais complexo, na medida em que demanda maiores responsabilidades. De acordo com Oliveira (2004), as condições de trabalho dos professores envolvem, no atual contexto, problemas relacionados a arrocho salarial, inadequação ou mesmo inexistência de planos de cargos e salários, perda de garantias trabalhistas e previdenciárias decorrentes de reformas do Aparelho de Estado, aliadas as dificuldades existentes no contexto próprio da sala de aula. Tais questões convergem para um quadro de instabilidade e precariedade do trabalho docente, cada vez mais agudo. A autora destaca ainda que esse é um reflexo das reformas educacionais ocorridas nos países da América Latina, a partir da década de 1990, as quais privilegiam, sistematicamente, uma proposta de educação voltada a legitimar a ideologia neoliberal sob a qual se assenta a sociedade capitalista, e, cujos efeitos contribuem sobremaneira para um quadro de reestruturação do trabalho docente. Na tentativa de alcançar esse propósito, os profissionais docentes são conduzidos a um movimento de reflexão contínua, que ocorre ora no âmbito individual, ora no âmbito coletivo, e que confluem para a constituição de representações acerca de si e do trabalho que realizam.

39892

Essa dinâmica interfere na percepção e elaboração dos sentidos e significados que atribuem à profissão, e incide significativamente na postura que adotam, nas razões que os movem na direção de permanecer ou não da docência e de modo mais amplo, na construção e redefinição da própria identidade. Nesse contexto, a discussão sobre o papel do professor e os objetivos que devem nortear o trabalho docente, constitui tema muito relevante, uma vez que, diante das demandas que lhes são atribuídas pela sociedade, estes procuram meios possíveis para mediar um processo de formação em uma perspectiva que transcenda a mera exigência para o mundo do trabalho, adequado aos meios de produção vigentes, e erigido sob a lógica do sistema capitalista, para que sua ação seja caracterizada como um movimento que se volta, sobretudo, a construção do saber e da cidadania. A partir dessas considerações, o artigo ora apresentado, está voltado para a discussão dos resultados da pesquisa sobre o eixo de abordagem: “Os objetivos e papel do trabalho docente”, a luz das percepções dos docentes que atuam em escolas públicas e privadas do Município de Belém. Este estudo foi realizado pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Juventude, Representação Sociais e Educação – GEPJURSE, no período de 2013 a 2014. Tomamos como ponto de partida o olhar dos (as) professores (as) do município de Belém, sujeitos de nossa pesquisa, sobre as seguintes questões: Quais os objetivos que concorrem para a realização do trabalho docente? Qual é o papel que os professores desempenham no processo ensino e aprendizagem? Representações Sociais e Trabalho docente A Teoria das Representações Sociais é o aporte teórico que fundamenta a base deste estudo. Diante disso, se faz necessário trazer a fundamentação que a sustenta para na sequência abordarmos nosso objeto de estudo - o trabalho docente. Representações Sociais: uma teoria psicossocial Para o desenvolvimento desse estudo, definimos como aporte teórico e metodológico a Teoria das Representações Sociais (TRS), cujo conceito tem, atualmente, ampla abrangência no campo investigativo, com grandes contribuições no universo da pesquisa, onde figura como um terreno fértil para o desenvolvimento de estudos nas mais diversas áreas da ciência, destacando-se, dentre outros, nos âmbitos da Educação e Saúde.

39893

A TRS está voltada para a investigação que a definiu como ciência do senso comum, e se detém ao processo pelo qual o sujeito percebe, produz, interpreta e transforma suas impressões

em

conceitos

e

ideias

sistematizadas,

constituindo-as

em

esquemas

representativos. Para Moscovici (1978), as representações sociais são traduções elaboradas acerca de pessoas, objetos ou fenômenos, e são oriundas dos saberes do senso comum, que emergem e se legitimam por meio dos diálogos interpessoais, tendo como pano de fundo, o conjunto de eventos que se desenrolam na vida cotidiana, a partir de uma realidade, que pode ser genérica ou distinta entre os sujeitos e grupos sociais, e que se acham relacionadas aos mais diversos temas presentes na sociedade. Compreende-se a representação social, como um produto das interações entre as pessoas, que traduz a maneira pela qual elas constroem significados e conceitos, considerando a realidade que as cerca, suas ocupações e os interesses e objetivos que as movem. Esses fatores são significativos na construção de uma representação e interferem de modo determinante na sua partilha. Sua análise deverá ocorrer à luz do contexto que a originou, isto é, a partir das ideologias a que se encontra vinculada e dos meios onde circula, posto que uma representação sempre estabelecerá correspondência direta com as crenças e os valores socialmente compartilhados pelos sujeitos e grupos sociais. Nesse contexto, imagens, opiniões, posicionamentos e atitudes passam a ser identificados como instrumentos de representações, que orientam posturas e comportamentos e identificam os indivíduos nos grupos sociais, subsidiando a percepções da realidade cotidiana. Podemos inferir que as representações são na verdade, as impressões dos sujeitos sobre suas realidades, relativas principalmente às questões rotineiras do dia a dia, as quais se encontram profundamente atreladas às suas práticas sociais. Trabalho docente Ao lançarmos um olhar sobre o trabalho docente, consideramos oportuno, fazê-lo sob uma matriz epistemológica crítica, capaz de dialogar com os aspectos contextuais de nosso tempo, o que implica examiná-lo em suas múltiplas nuances, isto é, articulado ao conjunto de elementos que condicionam sua natureza, o contexto de sua produção e seu desenvolvimento, pressupondo a interlocução entre suas condições subjetivas, relacionadas à formação e preparo do professor, e, as condições objetivas, ligadas a questões que se voltam às efetivas

39894

condições de trabalho e, que envolvem desde a organização das ações pedagógicas que realizam até a remuneração e valorização profissional. No atual contexto, assinalado pelas exigências de uma sociedade em constante transformação, e da necessidade de desenvolvimento e consolidação de uma consciência coletiva, que visa à promoção social e a garantia do bem comum, o professor é chamado a mediar processos formativos que transcendam a mera decodificação e acúmulo de informações, por meio da execução de tarefas mecânicas e desprovidas de sentido, constituindo-se mediador de um processo que contribua para a formação de cidadãos, incorporando o pressuposto de que, não há mais espaço para a escola que restringe o ensino a técnica e os alunos a meros espectadores, e de que ensinar significa mais que transmitir conhecimentos, é preciso refletir sobre eles e colocá-los em discussão (LIBANEO, 2004). Na perspectiva Freiriana (1996), o movimento de reflexão-ação-reflexão deve caracterizar a ação docente, com a finalidade de nortear o trabalho educativo e possibilitar o movimento de reorientação das ações formativas, fato que, dentre outros aspectos, é também interpretado como o exercício de repensar metodologias, práticas e abordagens de ensino a serem propostas, visando a superação das dificuldades apresentadas pelos alunos no percurso do ensino e da aprendizagem, e que, por extensão, favorece a qualificação e melhoria do processo formativo. No que diz respeito aos saberes docentes, Tardif (2007) os caracteriza como parte do repertório dos professores, destacando a importância desses para o êxito das ações formativas por eles empreendidas e acrescenta que, nos saberes dos professores estão impressos os traços do ser humano, posto que o objeto e o sujeito do trabalho docente são seres humanos; ao saber profissional está intrínseco um componente ético e emocional. A partir dessas reflexões, podemos inferir que esses autores assinalam que o conhecimento profissional a ser mobilizado pelo professor, é representado pelo conjunto de saberes que o torna apto ao desempenho de suas funções laborais, fornecendo-lhe instrumentos para criar e adaptar alternativas adequadas às diversas situações que poderão ocorrer no cotidiano escolar. Desse modo, o trabalho docente é impregnado de sentidos e significados, constituídos por meio de percepções e experiências dos professores na relação com seus pares e com outros sujeitos sociais. Sua importância é referendada nos discursos populares, políticos e midiáticos.

Trata-se,

incontestavelmente,

desenvolvimento da nação.

de

um

profissional

indispensável

ao

39895

Aspectos Metodológicos O estudo apresentado neste artigo está centrado na investigação das representações sociais de docentes sobre o “Os objetivos e o papel do trabalho docente”, cujo caminho, foi voltado para a identificação dos sentidos e significados que tem esses aspectos para o grupo de professores entrevistados. O instrumento utilizado para o levantamento dos dados foi a entrevista semiestruturada. Os sujeitos desse estudo foram 17 (dezessete) professores do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental da rede pública e particular de ensino da região metropolitana de Belém, capital do Estado do Pará, município do nordeste paraense. Esses professores deveriam ter no mínimo 5 (cinco) anos de exercício na docência, para que as representações pudessem ser validadas. A coleta dos dados foi realizada no período de abril a setembro de 2014. As escolas participantes foram escolhidas de forma aleatória, utilizando-se como critérios, o nível de ensino, a natureza institucional (pública e particular) e adesão à pesquisa a partir da aceitação assinada num termo de consentimento livre. Os dados foram analisados, utilizando-se como técnica a análise de conteúdo temático ou categorial a partir dos seus principais caminhos: 1) a leitura flutuante; 2) os recortes temáticos; 3) construção de categorias temáticas; 4) a validação das categorias; 5) a constituição de possíveis subcategorias e 6) Análise das categorias levantadas e validadas (BARDIN, 2009). Os Objetivos e o Papel do trabalho docente Os resultados deste estudo foram organizados em duas categorias temáticas, ancoradas nos “Objetivos do trabalho docente” e o “Papel do trabalho docente”. Os objetivos do trabalho docente Os objetivos do trabalho docente apontam dois debates a partir dos recortes resultantes das falas dos professores. O primeiro revela que um dos seus objetivos leva ao caminho da formação do aluno com três subcategorias: formar para a vida, formar para a cidadania e formar para o mercado de trabalho. O segundo, à realização de uma prática significativa, que se desdobram em ações diferenciadas na sala de aula. A prática significativa se traça

39896

como uma das razões dos discursos se voltarem para a preocupação em formar o aluno para o mundo. Objetivo 1: Formar o aluno Formar para a vida e para a cidadania nas representações sociais dos professores significa mudar o comportamento social dos alunos. Significa dizer que o sujeito, necessita de uma formação que o emancipe para os obstáculos da vida, os transformando em pessoas mais críticas, inovadoras, igualitárias e altruístas. Segundo Arco-Verde (2011) o trabalho pedagógico precisa se efetivar no sentido de possibilitar que a escola cumpra sua função social, promova a transformação da prática social e as condições concretas para a emancipação humana, relações essas, muito presente no processo ensino-aprendizagem. Essa relação é evidenciada nos recortes temáticos oriundos das falas dos docentes, como podemos ver na tabela 1: Tabela 1 – Categoria “Caminhos da Formação do Aluno” Recortes temáticos Formar para a vida: “Transformar o aluno (2); Formar para a vida (2); Formar mentalidades críticas (3); Tornar o aluno um ser pensante (3); Ter esperança na mudança; Formar o Leitor.” Formar para a cidadania: “Ser um membro ativo na sociedade (1); Formar pessoas com valores éticos e morais (5); Formar para os aspectos político e social; Ser justo e igualitário; Respeitar as diferenças (2); Saber ter limites” Formar para o mercado de trabalho: “Preparar para o vestibular (1); Preparar para o PRISE; Qualificar o aluno; Dar asas para o profissional voar” TOTAL DAS UNIDADES TEMÁTICAS Fonte: Recortes das falas dos docentes entrevistados.

Freq. 16

14

05 35

Algumas frases-chaves das subcategorias formar para a vida e para a cidadania nos chamaram a atenção pela quantidade de repetições no discurso, tais como: “formar mentalidade críticas”, “pensantes”, “formar pessoas com valores éticos e morais” e “respeitar as diferenças”. São frases que demonstram, que há professores que se preocupam em ajudar na formação de seres humanos com olhares mais críticos e éticos. Assim, “ser cidadão e respeitar as diferenças” nas representações dos professores está para além de repassar conteúdo programático e seguir o currículo, essa prática se insere na formação humana e, se cumpre na sala de aula a partir dos conteúdos transversais. De acordo com Bentes (2011), o saber docente é um saber social. Para a autora, o professor “vivencia em

39897

sua vida objetos e fenômenos criados por gerações que o precederam e vai se apropriar deles ao se relacionar socialmente, ao participar das atividades e práticas culturais” (p.136). Afirma Tardif (2007) que o saber-ensinar e ainda o que ensina o professor, é fruto da história de sua profissionalização docente. Nesse sentido, a escolha de como deve formar seus alunos, depende também de sua formação docente, pelas quais perpassam a construção de seus saberes e sua identidade. Como vimos também, na tabela1, os professores também trazem representações arraigadas ao objetivo de preparar o aluno para o mercado de trabalho, discurso muito comum entre os docentes e, também por ser considerado um objetivo muito presente desde as primeiras legislações educacionais. Essas representações levantadas significam que continuam presentes como um marcador da preocupação do professor no que diz respeito a um dos objetivos de seu trabalho, a formação para o mercado. Quanto a esse objetivo nas representações dos professores, foram comuns as frases: “Preparar para o vestibular, PRISE e qualificação do aluno”. É relevante também considerar que o formato atual de ingresso no Ensino Superior apenas por meio do ENEM, leva os professores a buscarem alternativas de preparação dos para o acesso ao ensino superior desde os anos iniciais. Nesse sentido, a preocupação pelo conteúdo, se torna mais evidente em suas práticas pedagógicas. Essa forma de trabalhar implica também negativamente em obter espaços dentro do currículo para tratar de outras temáticas que podem ajudar o aluno em outros aspectos da vida. Objetivo 2: Realizar uma prática significativa Segundo os professores, ter uma prática significativa, perpassa por um projeto de ação pedagógica diferenciada que requer garantir aos seus alunos um leque de possibilidades para que o docente possa buscar novos conhecimentos e novos horizontes, no sentido de fazer o aluno estar sempre em busca de novos referenciais e, acima de tudo, dessa relação pedagógica. Nessa direção,

a principal preocupação

reside em alcançar

a dimensão

comportamental e emocional do educando a fim de possibilitar que o conteúdo faça parte de vida deles. Os principais recortes desse debate constam na tabela 2:

39898 Tabela 2 – Categoria “Prática Significativa” Recortes temáticos Ação pedagógica diferenciada: “Ampliar possibilidades; fomentar conhecimento (1); alcançar a parte comportamental; alcançar o emocional (2)” TOTAL DE UNIDADES TEMÁTICAS Fonte: Recortes das falas dos docentes entrevistados.

Freq. 07 07

Vejamos que alcançar a dimensão emocional é uma das metas dos professores preocupados com o ensino-aprendizagem. Para Ausubel (1963), a aprendizagem significativa é o mecanismo humano, por excelência, que serve para adquirir e armazenar a grande quantidade de ideias e informações representadas em qualquer área do conhecimento. Então, a forma como o professor desenrola esse conhecimento perpassa pelo modelo de prática pedagógica que ele escolhe para subsidiar essa aprendizagem. É nesse processo que se encaixa a prática significativa, ou seja, quando cada conteúdo precisa ser uma ação que faça sentido para o aluno. A aprendizagem significativa, nesse sentido, envolve aquisição e construção de significados. “É no curso da aprendizagem significativa que o significado lógico dos materiais de aprendizagem se transforma em significado psicológico para o aprendiz” (AUSUBEL, 1963, p. 58). Assim, o mecanismo de aprender de um aluno é sua capacidade de reestruturarse mentalmente buscando novo equilíbrio (novos esquemas de assimilação para adaptar-se à nova situação), como já afirmava a teoria piagetiana. O papel do trabalho docente O reconhecimento do papel do trabalho docente é apontado nas Representações dos professores em três dimensões, a considerar: ser agente de transformação; organizar o trabalho pedagógico e os Limites da profissão. Esta configuração abrange, desde ações docentes de organizar e participar da construção significativo de uma escola, à retratos de grande insatisfação dos professores no que concerne aos limites da profissão, e que merecem destaque neste debate. Papel 1: Ser agente de transformação Freire (1997) assevera a importância da educação para a transformação da realidade, na medida em que os homens se educam no processo de desvelamento do mundo. Nessa via, o autor aponta que:

39899

O que nos parece indiscutível é que, se pretendemos a libertação dos homens, não podemos começar por aliená-los ou mantê-los alienados. A libertação autêntica, que é a humanização em processo, não é uma coisa que se deposita nos homens. Não é uma palavra a mais, oca, mitificante. É práxis, que implica a ação e a reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo (FREIRE, 1997, p. 93, grifo nosso).

Neste prisma, a concepção de Freire (1997) dialoga com os enunciados dos sujeitos deste estudo que apontaram enquanto papel do trabalho docente a categoria ser agente de transformação. Destacamos que esta categoria emerge pautada em duas subcategorias: (a) contribuir e (b) fazer a diferença, conforme a tabela 3: Tabela 3 – Categoria “Ser Agente de Transformação” Recortes temáticos Contribuir: [...] contribuir com a sociedade; contribuir para a vida das pessoas; contribuir na formação do aluno; contribuir para transformar o mundo; educar as pessoas (1); despertar o gosto pelo estudo; ter responsabilidade (2) [...]. Fazer a diferença: “Marcar a vida do aluno (2); ampliar um mundo de possibilidades [...]” TOTAL DE UNIDADES TEMÁTICAS Fonte: Recortes das falas dos docentes entrevistados.

Freq. 10

04 14

Os recortes da subcategoria “contribuir”, apontam para a compreensão de que faz parte do papel do trabalho docente, colaborar para a melhoria da vida dos alunos não apenas no âmbito escolar, mas em uma dimensão social quando esta contribuição está voltada para a transformação da vida das pessoas e do mundo. Semelhantemente, na subcategoria fazer a diferença, encontramos frases-chaves, pautadas na relação homem-mundo estabelecidas de modo dialógico. Na perspectiva freiriana, os homens se educam em comunhão na medida em que exercitam o processo de desvelamento por meio da problematização da realidade social, e, isto implica em ampliar a leitura de mundo dos educandos, bem como as possibilidades de relações socioculturais. No que tange à assertiva “marcar a vida do aluno”, compreendemos como uma ação que possibilita a aproximação entre docente e discente, na qual ambos estabelecem uma relação dialógica por meio da qual possam problematizar a realidade para assim procurar transformá-la. Neste sentido, ambas, subcategorias confluem para a perspectiva de que transformar a realidade social que integra o papel do trabalho docente na visão dos sujeitos deste estudo. Essa transformação perpassa por relação de processo dialógico na qual quem ensina aprende e quem aprende, também ensina. É desse modo que um dos papéis mais significativo na função docente, é o de ser o agente de transformação.

39900

Papel 2: Organização do trabalho escolar Dentre as responsabilidades do trabalho do professor está a participação na organização do trabalho pedagógico. Destacamos que participar da organização da escola não se resume ao planejamento específico de sua disciplina. Participar, nesse sentido, atende aquilo que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação nacional 9394/96 em seus artigos 12, 13 e 14 quando determinam que os professores participem da elaboração e execução da proposta pedagógica da escola, assim como cumprir com seu plano de trabalho que deverá estar em conformidade com o que foi decidido conjuntamente. Então, organizar o trabalho escolar ou pedagógico dentro do espaço educacional é dar possibilidades para a Instituição construir caminhos sólidos direcionados a uma determinada meta. Nesse sentido, participar da construção do planejamento global da escola, conhecido como Projeto pedagógico, possibilita fazer com que a gestão, possa assim dizer, democrática, uma vez que abre espaços de debates para a reflexão-ação-reflexão das ações defendidas pela comunidade escolar. Por ser uma incumbência direcionada também aos professores, a necessidade de participar de momentos de planejamentos, projetos e reuniões é peculiar nas instituições escolares como uma ação docente, portanto, um de seus papéis. Ressaltamos que é a partir da organização do trabalho pedagógico que os planos de ensino e de aula se materializam na ponta, ou seja, no dia-a-dia da sala de aula. Nessa via, os sujeitos anunciam como um de seus papéis na escola, os aspectos de participação nas reuniões e planejamentos, bem como a transmissão e socialização de conhecimentos como elementos pertinentes as ações desempenhadas pelos docentes. Vejamos a tabela 4: Tabela 4 – Categoria Organização do Trabalho escolar Recortes temáticos Ação docente: [...] participação nas reuniões da escola; participação do planejamento (1); transmitir conhecimento; socializar conhecimentos [...] TOTAL DE UNIDADES TEMÁTICAS Fonte: Recortes das falas dos docentes entrevistados.

Freq. 05 05

É pertinente pontuar que a subcategoria “ação docente” apresenta 5 frequências de unidades temáticas a ela relacionadas citados pelos sujeitos. Apesar de pouco evidenciado como papel docente, não podemos deixar de registrar a importância desse componente que compreendem as ações na escola, principalmente quando estas se voltam para a organização do fazer docente.

39901

As atividades acima citadas nas falas dos professores são rotineiras na escola, e infelizmente, muitas vezes se caracterizam como atividades técnicas e burocráticas, que levam o participante a representa-las como enfadonhas, sem dinamismo e direcionamentos, assim, deixam de ser prazerosas e importantes como uma representação do seu trabalho. Talvez, até mesmo os docentes, desconheçam essa importância de participar dessas atividades. Mas, não podemos deixar de registrar o quão é eficaz na organização do trabalho escolar, pois direciona os rumos de uma escola, ou seja, ela demarca a sua identidade enquanto espaço político e social. Nesse sentido, a participação dos docentes é fundamental para dinamizar essa construção. Sobre essa questão, Nóvoa (1999) afirma que a dinâmica das mudanças que se realizam na organização do trabalho escolar se encontram legitimadas nas bases conceituais e pressupostos invisíveis que se encontram na cultura organizacional das escolas. Para ele, esse conjunto de fatores é dinamizado pelos valores, crenças e ideologias, que os que dela participam e partilham, dão sentidos e significados às praticas educacionais vigentes. Papel 3: Limites da profissão Na categoria o papel do trabalho docente a maior frequência (24) foi encontrada na subcategoria superação. Isto posto, revela por parte dos docentes entrevistados uma insatisfação com as condições materiais e acumulo de tarefas que repercutem a precarização do trabalho docente, o que se configura como um descontentamento e um desafio a ser superado. Corroborando com isso, Maués (2015), problematiza que: A profissão professor [...] vive uma crise que se manifesta pela “penúria” ou pela falta do profissional em diferentes disciplinas[...] em relação às condições de trabalho, o que se constata é a intensificação e precarização que tem ocasionado doenças, desgastes e abandono da profissão. (MAUÉS, 2015, p. 17-18, grifo nosso).

Nessa via, destacamos as assertivas dos docentes que compreendem como desafio imposto pelo trabalho docente a superação dos desafios que estão assim listados nos recortes dispostos na tabela 5. Estes apontamentos indicam o caráter de denúncia da precarização de tal modo que os sujeitos compreendem como papel docente superar tais limites cotidianamente, o que revela o desafio enfrentado em condições de trabalho aquém do desejável.

39902 Tabela 5 – Categoria Limites da Profissão Recortes temáticos Superação dos desafios: [...] cansaço (6); adoecimento (1); desvalorização (3); é um desafio (3); dificuldades; precarização; excesso de trabalho (3); reclamações; [...] TOTAL DE UNIDADES TEMÁTICAS Fonte: Recortes das falas dos docentes entrevistados.

Freq. 24 24

Dentre todos, a evidência maior está no cansaço, que na maioria das vezes é resultante do excesso de trabalho. Em conformidade, Tardif e Lessard (2011) asseveram que o contexto escolar, corriqueiramente, não dispõe de condições de trabalho propícias ao desenvolvimento do trabalho dos professores, e isto se configura em uma contingência que pesa consideravelmente com a “falta de recursos, de tempo e a escassez dos instrumentos pedagógicos” (p.55-56), os quais são fatores “materiais” usualmente mencionados pelos professores como uma de suas maiores dificuldades na profissão docente. Diante disso, compreendemos que a denúncia das condições de trabalho que geram descontentamento e adoecimento docente devem estar articuladas à mobilização da categoria a fim de buscar a superação destes limites. Esta mobilização é pertinente a partir do engajamento docente na busca da transformação e melhoria das condições de trabalho e valorização do ofício de professor. Considerações Finais Os resultados desta investigação revelam que as Representações Sociais de professores acerca do trabalho docente são orientadas pelos objetivos de promover a formação ética dos discentes, assim como desenvolver uma prática pedagógica significativa. No que tange as imagens atribuídas ao papel do trabalho docente, estas estão delineadas na figura do professor contributivo, pois este é configurado como um agente de transformação social que se depara com a necessidade de superar limites no cotidiano da ação docente. Com base na recorrência das unidades temáticas apreendidas, a dimensão da formação do aluno é destacada como a maior frequência de unidades neste estudo. E o objetivo de mediar essa formação se desdobra na ênfase de formar na relação homem-mundo e homemtrabalho. A segunda maior frequência consiste no papel docente de superar limites da profissão, seguido do papel de agente de transformação. Nessa conjuntura, é pertinente pontuar que a prática significativa, enquanto objetivo, e a organização do trabalho escolar, enquanto papel docente apresentaram pequena expressividade nas frequências apresentadas.

39903

Isto posto, constatamos a ênfase na problematização das dimensões formativas e de perspectiva de transformação social atreladas à resistência aos limites apontados na realização da prática pedagógica e na organização do trabalho escolar, aspectos estes que fazem parte da ação docente e são afetados diretamente pelas condições de trabalho inadequadas, acúmulos de trabalho e desvalorização. Diante deste panorama, podemos apreender que os docentes apontam como principal papel do trabalho docente o enfrentamento dos limites apresentados no contexto escolar que corroboram para o adoecimento, desvalorização, cansaço e excesso de trabalho, dentre outros fatores que geram insatisfação. Destacamos ainda que diante dessa denúncia da precarização do trabalho docente como um desafio a ser enfrentado, emerge o papel de agente de transformação, o qual, por sua vez, conflui para a o objetivo de apontar caminhos para a formação - para a vida, a cidadania e o mercado de trabalho. Desse modo, apesar dos limites enfrentados no exercício profissional há o reconhecimento da potência do trabalho docente quanto à possibilidade de transformação da realidade e a dimensão formativa e crítica dessa ação. E isto exprime uma força relevante, haja vista que os aspectos de formação e transformação da realidade social estão imbricados enquanto ações que se retroalimentam. Portanto, é pertinente percebermos que na contrapartida da demonstração de insatisfação diante das condições em que o trabalho docente é desenvolvido, há a proclamação do potencial transformador e formativo da ação educativa por meio de práticas significativas. Consideramos que para a superação dos limites ora apontados faz-se pertinente o engajamento na busca da valorização do trabalho docente e isto, só é possível, por meio da luta da categoria. REFERÊNCIAS ARCO-VERDE, Yvelise Freitas de Souza. A Escola para aprender: A experiência do Estado do Paraná. In.: ENS, Romilda Teodora; BEHRENS, Marilda Aparecida. Caminhos de formação do professor: Caminhos e percursos. Curitiba: Champagnat, 2011. AUSUBEL, D.P. The psychology of meaningful verbal learning. New York, Grune and Stratton, 1963. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2009.

39904

BENTES, Nilda de Oliveira. O professor e sua profissão: uma aproximação Vygotskiana. In. TAVORA, Maria Josefa; BENTES, Nilda de Oliveira. Estudos sobre formação de professores. Belém:EDUEPA, 2011. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, n. 9394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília: MEC, 1996. FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1997. LIBANEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 2004 MAUÉS, Olgaíses. Regulação educacional, formação e trabalho docente. Disponível em: . Acesso em 27 de junho de 2015. MOSCOVICI, Serge. Representação Social da Psicanálise. Rio de janeiro: Zahar Editores, 1978 NÓVOA, Antonio. Para uma análise das instituições escolares. In.:______ As organizações escolares em análise.3. ed. Lisboa: dom Quixote, 1999. OLIVEIRA, Dalila Andrade. A reestruturação do trabalho docente: precarização e flexibilização. Educação e Sociedade, Campinas, v. 25, n. 89, p. 1127-1144, set./dez. 2004. Disponvel em . Acesso: 03 out. 2014. TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 8 ed. Petrópolis, RJ: vozes, 2007. TARDIF, Maurice; LASSARD, Claude. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. 6 ed. Petrópolis, RJ: vozes, 2011.

Related Documents


More Documents from "Anonymous Tvpppp"